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Máquinas Hidráulicas Demétrio Baracat

Turbinas Hidráulicas

Introdução
São máquinas voltadas à extração de energia da água a qual é obtida através de
quedas d’água.
Muitas destas máquinas foram concebidas e instaladas na antiguidade, com o
objetivo de atender ao funcionamento de pequenas oficinas, moinhos de cereais e até
mesmo lojas de artesanato.
O grande desenvolvimento na concepção e no uso das referidas máquinas
aconteceu durante o século XVIII.
Abaixo se apresenta uma figura que ilustra a aplicação de uma das turbinas
rudimentares em processo de moagem de grãos.

Figura 1 – Primeiras Rodas d’água para acionamento de moinhos

Figura 2 – Exemplo de uma instalação de Roda d’água utilizada na moagem de grãos.

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Neste tópico estuda-se turbinas hidráulicas com o propósito de extrair energia de


uma queda de água de forma que o equipamento opere com elevado desempenho.
Interessa o cenário em que o engenheiro se preocupe em analisar e saber especificar um
determinado tipo de turbina, e que saiba analisar as grandezas que interferem no
fenômeno.
Há necessidade de se compreender os princípios básicos de funcionamento de
pequenas centrais hidrelétricas, na busca do conhecimento da base de funcionamento das
turbinas hidráulicas e ao mesmo tempo na aquisição de desenvoltura para o diálogo com
os fornecedores dos referidos equipamentos.
Analisam-se as condições de operação, e eventuais problemas operacionais como
o da cavitação.

A Estrutura dos Tópicos

No primeiro tópico analisa-se os principais parâmetros de uma pequena central


hidrelétrica; as leis que regem as condições operacionais de uma turbina hidráulica assim,
como as leis de similaridade que permitem dimensionar o respectivo equipamento a partir
do ensaio de modelos já existentes, ou com relação às máquinas já produzidas.
No segundo tópico descreve-se os princípios de funcionamento e detalhes
construtivos das turbinas de ação sem entrar em considerações teóricas complexos, como
os que permitem dimensionar cada um de seus elementos.
Procede-se igualmente no terceiro tópico, porém voltado à análise de turbinas de
reação.
A partir das considerações destes dois últimos tópicos pode-se estimar a maioria
dos parâmetros que permitem especificar uma turbina e analisar os fatores que influem
na sua implantação.
No quarto tópico analisam-se ábacos, diagramas e figuras que auxiliarão na
escolha da melhor condição de operação de uma turbina hidráulica. Neste caso analisam-
se as condições ótimas de operação, ou como torná-las o mais eficiente possível.
No quinto e último tópico apresenta-se um exemplo de aplicação. O capítulo se
encerra com uma lista de exercícios que serão resolvidos em aula.

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Tópico I – Análise da Linha de Energia numa Pequena Central


Hidroelétrica

Considere-se inicialmente o esquema da Figura 1.1 que apresenta em corte a


instalação de uma pequena central hidroelétrica com as várias informações importantes
que auxiliam na compreensão dos fatores que interferem na especificação de uma turbina.
Neste mesmo esquema são apresentadas as linhas de energia (cor vinho) e de pressão (cor
vermelha).

Figura 1.1 Componentes ao longo de uma pequena central Hidroelétrica

Para uma condição mais clara de análise, definem-se novamente os elementos na


figura 1.2 abaixo.

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Figura 1.2 Parâmetros para o Cálculo da Potência Hidráulica de uma Turbina.

Definições Básicas
Os componentes de uma pequena central hidrelétrica são os seguintes:
Vazão Q é o volume de água por unidade de tempo que alimentará a turbina [m3/s]
Queda Bruta ou Queda Total Hb é a diferença de altitude entre o nível da represa
(ponto de referência 3) e o nível de água após a saída da turbina (ponto 4). É também
denominado de altura geodésica Zg. [m].
Queda Líquida H representa a energia hidráulica disponibilizada para a turbina.
Ela é igual à altura bruta menos as perdas de carga (HL) desde o represamento da água
(ponto 1) e o ponto de descarga da turbina (ponto 2).
As perdas de carga correspondem à energia necessária para fazer a água passar
através das grelhas de alimentação, válvulas, irregularidades e dutos até a entrada da
turbina, mais a energia necessária para chegar ao vertedouro (saída da turbina).
As perdas de carga podem ser representadas por

H L = AQ 2

onde A é uma constante que considera os vários aspectos de dissipam a energia total que
o fluído tem na saída da represa. Isto que nos possibilita escrever:

H = H b − AQ 2

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Energia Hidráulica Mássica E é a energia que segundo a equação de Bernoulli


é representado pela soma da energia de pressão mais a energia geodésica e mais a energia
cinética. [J/kg].
p
❖ Energia de pressão é dada pela pressão manométrica registrada através

de uma coluna de água dividida pela respectiva massa específica do
líquido. [J/kg].
❖ Energia Geodésica gz é a energia potencial dada pela altura geodésica z
de um manômetro [J/kg].
v2
❖ Energia Cinética E c = é a energia que cada unidade de massa tem
2
com relação a sua velocidade [J/kg].

Assim a energia hidráulica num ponto X da tubulação de alimentação é dada por:

Px v2x
Ex = gHx = + + gzx
 2

Define-se a relação entre a energia hidráulica mássica e a altura da água como a


carga dada por:

Ex
Hx = ou E x = gH x
g

Energia Hidráulica Mássica absorvida pela Turbina E=gH é a diferença entre


a energia mássica E1 = gH1 na entrada da turbina e a energia mássica E 2 = gH 2 na saída
da turbina [J/kg] e dada por :

 P1 v12   P2 v22 
gH = gH1 − gH2 = E1 − E2 =  + gz1 +  −  + gz2 + 
 2  2

Potência Hidráulica Phidr é a potência fornecida pela água que a movimenta [W].
É dada por:

EP mgH  Vol  gH
Phidr = = = = QgH
t t t

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As normas Suíça ASE 3055.1974 e a internacional da Comunidade Europeia CEI


41 fornecem definições claras dos pontos de referência 1 e 2 da turbina para condições de
ensaio de recebimento das turbinas hidráulicas.

Torque T é a tradução da energia da água que permite a turbina executar um


movimento de rotação e cujo eixo fica submetido a um esforço denominado de torque ou
de momento torsor. [Nm]. Vide figura 1.3.

Figura 1.3 Esquema de aproveitamento energético da queda de água numa


turbina com a consequente transformação em energia mecânica (Torque) e potência
mecânica,

2n
Velocidade de Rotação  = é a velocidade angular do movimento de
60
rotação do eixo da turbina [rad/s]. Pode ser relacionado com o número de rotações/minuto
n segundo a fórmula apresentada acima.
Potência Mecânica Pmec é dado pela multiplicação da velocidade angular e o
torque [W].

Pmec = T

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Rendimento  é a relação entre a potência mecânica extraída no eixo da turbina


com relação á potência hidráulica fornecida pela água que a atravessa.

Pmec
=
Phidr

Figura 1.4 Forças, acoplamentos, velocidade de rotação e potência de uma


turbina.

Condições de Operação
Uma turbina opera a uma velocidade de rotação constante e isto se torna tão mais
crítico quando aciona um gerador, pois a frequência da corrente elétrica diretamente
proporcional à velocidade angular. Assim uma turbina possui dispositivos que asseguram
a manutenção da velocidade de rotação.
Consideremos a figura 1.5 a seguir:

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Figura 1.5 Condição operacional de uma turbina hidráulica

Regimes Transitórios

Ocorrem na partida (figura 1.6) e na parada normal (figura 1.7).

Figura 1.6 Variação da velocidade angular e da vazão de uma turbina no


processo de partida até a condição de acoplamento com o gerador.

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Figura 1.7 Evolução das rotações por minuto e da vazão de água com o tempo
quando ocorre a parada de uma turbina.

Em ambos os casos a operação é efetuada ou pela abertura ou pelo fechamento de


uma válvula ou agente de regulagem da vazão da turbina.
A velocidade de manobra do agente de regulagem é função das componentes e
das características de instalação para evitar danos à tubulação de alimentação e à turbina.
Assim dizemos que a turbina opera sob controle.

Condição de Interrupção brusca no grupo Turbogerador

No caso de pane na malha elétrica, ou curto-circuito nas bobinas do gerador, o


grupo turbina-gerador deve interromper imediatamente a condição de operação. Neste
caso a alimentação elétrica e o acoplamento turbina e gerador é interrompido
imediatamente, porém a vazão de água não pode ser interrompida bruscamente devido ao
golpe de aríete. Desta forma a velocidade rotacional aumenta (figura 1.8) até um máximo
denominado de sobre velocidade, enquanto paralelamente a vazão através da turbina é
reduzida de forma a evitar danos à turbina e à tubulação.

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Inicialmente a sobre velocidade pode atingir um padrão de 1,5 a 3,5 a velocidade


normal de operação. Esta faixa de operação é limitada pelos dispositivos de segurança da
turbina.

Figura 1.8 Parada emergencial de uma turbina. Evolução da rotação e da vazão


com o tempo.

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Figura 1.9 Dispositivos de regulagem de vazão à entrada de uma turbina Francis

.
Figura 1.10 Dispositivos de regulagem de vazão à entrada de uma turbina
Francis

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Figura 1.11 Dispositivos de regulagem de vazão à entrada de uma turbina


Francis

2ª aula
Curvas Características de uma Turbina

Para auxiliar na previsão do comportamento operacional de uma turbina segundo


as diferentes condições operacionais anteriormente descritas, os fabricantes apresentam
curvas características de operação de turbinas obtidas a partir de ensaios de modelos.
Estes ensaios são conduzidos em laboratórios especializados dos próprios fabricantes.
Isto possibilita estimar o comportamento de turbinas semelhantes, onde apenas
dimensões serão alteradas, a partir de um modelo padrão. Este estudo é feito a partir da
similaridade.
A figura 1.12 apresenta um banco de ensaio de turbinas de forma esquemática

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Figura 1.12 Esquema de um banco de ensaio de turbinas hidráulicas

Curvas Características de Turbinas a Rotação Constante

A condição de operação normal de uma turbina é a operação com velocidade


constante. Por este motivo é natural se apresentar as curvas características de operação à
velocidade constante.
Para a avaliação a turbina trabalhará com o distribuidor a uma abertura fixa ou no
ponto de regulagem da vazão como o ponto de vazão nominal. A partir desta condição a
altura da queda é alterada ou através de um conceito geométrico ou com o uso de uma
bomba e neste caso são construídas as curvas altura-vazão, rendimento-vazão e potência-
vazão conforme ilustrado na figura 1.13.

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Figura 1.13 Curvas características de operação de uma turbina hidráulica à


rotação constante e abertura constante. A letra A significa a posição de regulagem da
vazão

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As curvas anteriores podem ser agrupadas em um único gráfico tendo em vista


que o eixo horizontal é sempre vazão.
Realizando-se um conjunto de ensaios com diferentes aberturas do distribuidor é possível
construir a curva de rendimento em função da altura da queda e da vazão, como ilustrado
na figura 1.14. Cada curva no diagrama -Q significa um nível de rendimento constante.

Figura 1.14 Curvas características de operação de uma turbina hidráulica à


rotação constante e diferentes aberturas geométricas de seu distribuidor.

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Curvas Características de Turbinas sob Rotação Variável

Para se conhecer o comportamento de uma turbina hidráulica no regime transitório


são utilizadas as curvas características em regime variável.
Neste caso o ensaio é realizado sob uma queda constante, uma abertura do difusor
constante e uma vazão e rotações variáveis.
Os parâmetros obtidos em função da velocidade de rotação n são os seguintes:
• Vazão Q (importante para o cálculo do golpe de aríete)
• Rendimento 
• Torque sobre o eixo árvore da turbina (importante para calcular a aceleração do
conjunto turbina e gerador e dimensionar o volante de inércia).

Figura 1.15 Curvas características de operação de uma turbina sob altura de


alimentação e abertura geométrica do distribuidor constantes e rotação variável

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Leis de Similaridade

Considere-se conhecidas as seguintes grandezas vazão Q1(m3/s), rotação n1 (rpm),


Torque T1 (Nm) potência P1(W). Considere-se agora que a mesma turbina trabalhe em
condições de altura de queda diferente denominada de H2 e então obtém-se as seguintes
relações:
H2 H2
Q 2 = Q1 n 2 = n1
H1 H1
1, 5
H H 
T2 = T1 2 P2 = P1  2 
H1  H1 
Com a ajuda destas fórmulas é possível calcular as novas características de uma
turbina já fabricada para uma condição de queda diferente.

Mudança das Características Dimensionais de uma Turbina

As leis de similaridade da hidrodinâmica permitem demonstrar que as turbinas


podem ser classificadas em função de sua forma geométrica, independentemente de sua
dimensão.
Existem vários tipos de turbinas, mas, se está interessados em somente três tipos:
a saber, Pelton, Kaplan e Francis. A primeira é denominada turbina que opera sob ação
da água (turbina de ação), enquanto as outras duas são denominadas de turbinas à reação,
pois estarão sujeitas à ação da velocidade e pressão da água. Analisam-se com maiores
detalhes cada um dos tipos de turbinas nos tópicos subsequentes.
Em realidade, a partir de um modelo reduzido, é possível conhecer a performance
de todas as turbinas hidráulicas de forma geométrica semelhantes ao modelo.
As características de funcionamento são diretamente dependentes de um diâmetro
de referência medido sobre a turbina hidráulica.

Consideremos que são conhecidos:


Dm diâmetro de referência
Hm queda de referência
Qm vazão de referência
Tm Torque de referência
Pm Potência de referência

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Deseja-se determinar as seguintes características de uma turbina semelhante ao


modelo em referência, porém com dimensão D, ou seja, pretende-se estimar:
H queda de um novo modelo
Q vazão de um novo modelo
T Torque de um novo modelo
P Potência de um novo modelo

Das relações anteriormente vistas, pode-se escrever:

2 2 3
 n   D   n  D 
H = H m     Q = Q m   
 nm   Dm   nm  D m 
2 5 3 5
 n   D   n   D 
T = Tm     P = Pm    
 nm   Dm   nm   Dm 

O rendimento de uma turbina não é expresso por uma relação semelhante às acima
apresentadas, pois seu valor é influenciado pelas variações dimensionais entre a
referência e o modelo, pela qualidade de fabricação (aqui entendido como acabamento
superficial, formas e precisão) e as condições de operação (queda líquida, vazão, e
velocidade angular).

Classificação das Turbinas – Rotação Específica

A necessidade de identificar claramente as máquinas hidráulicas fez com que


Rudolf Camerer em 1914 propusesse um parâmetro de referência para este propósito.
Desta padronização nasceu o conceito de rotação específica referida à potência e, com
ele, identificaram-se as características dimensionais e operacionais de uma família de
máquinas.
Como as máquinas tinham condições de operação cada vez mais distintas, optou-
se por utilizar uma variante desta fórmula que era a rotação específica associada à vazão.
Desta forma hoje se utiliza muito pouco a rotação específica referida à potência.
Os diferentes tipos de turbinas são classificados em função da velocidade
específica. A partir deste parâmetro se derivam as fórmulas de similaridade. Como na
literatura encontram-se três definições de rotação específica, aqui a definiremos
igualmente; uma primeira que é definida a partir da potência da turbina (Ns), uma outra
que é definida a partir da vazão (Nq) e uma terceira que é definida a partir da rotação
específica adimensional da turbina ().

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P1 2
Rotação específica Ns = n
H5 4
que é a velocidade angular ou rotação (rpm) de uma turbina que trabalha sob uma
queda líquida de 1m e que fornece uma potência de 1kW.

Esta fórmula tem um inconveniente que é englobar o rendimento da turbina dentro


da potência P.

Obs: Num passado recente o mesmo conceito era apresentado para a potência expressa em CV através da
12
P
N =n
fórmula: s
CV
54
= 1,166N s
CV
H

Q1 2
Rotação específica Nq = n
H3 4

que representa a velocidade angular ou rotação (rpm) de uma turbina que trabalha
sob uma queda líquida de 1m e sob uma vazão de 1m3/s.

Obs: Ns = 3,13 Nq  3Nq

12
Q
  1

 2
Rotação específica  = wn   3 4 = 3 (adimensional)
(2gH ) 4

Obs:  = 0,00634Nq

Nestas expressões consideram-se:


H queda líquida (m)
w velocidade angular (rad/s).
P potência (W)
n velocidade de rotação (rpm)

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Principais Tipos de Turbinas e seu Domínio de Aplicação

Analisam-se os 3 tipos principais de turbinas. Uma de ação e duas de reação.

Figura 1.16 Turbina a ação – Turbina Pelton

Figura 1.17 Turbina a reação – Turbina Francis

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Figura 1.18 Turbina a reação – Turbina Kaplan

Figura 1.19 Limite de aplicação das turbinas Pelton, Kaplan e Francis em função
da velocidade específica (Ns).

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Figura 1.20 Curvas de rendimento de cada um dos tipos de turbinas em função


da vazão expressa percentualmente.

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Figura 1.21 Diagrama H Nq para seleção de Turbinas

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3ª aula Capítulo 2 – Turbina Pelton

As turbinas de ação, da qual fazem parte as turbinas Pelton, tem a particularidade


de trabalhar sob a ação exclusiva da energia cinética, não existindo gradiente de pressão
entre a entrada e a saída da turbina.
O jato d’água que incide sobre as pás da turbina exerce uma força que provoca
um movimento de rotação sobre o eixo da turbina o qual se transforma em potência
mecânica.
A figura 2.1 ilustra de forma esquemática uma turbina de ação e seus parâmetros
de funcionamento.

Figura 2.1 Esquema de uma turbina de ação com seus parâmetros de


funcionamento

A figura 2.2 apresenta os três casos possíveis de funcionamento deste tipo de


turbina e que são:
Roda bloqueada, Torque o dobro do Torque nominal.

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Roda em funcionamento sob regime normal, velocidade periférica da roda com


50% da velocidade do jato (segundo a teoria). Na prática esta velocidade varia de 45 a
48% da velocidade do jato.
Roda operando livremente com velocidade de rotação o dobro da velocidade
nominal (segundo a teoria). Na prática é 1,8 vezes a velocidade nominal).

Considerações:
A velocidade do jato de água depende da queda.
A vazão é calculada a partir da secção do jato e da velocidade da água.
A vazão é independente da velocidade de rotação da turbina. Ele depende do
injetor. No caso de rotação livre ele permanece constante.

Figura 2.2 Situações de funcionamento de uma turbina de ação

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A Turbina Pelton é constituída por uma roda com as respectivas pás as quais ao
receberem o jato de água impelem a roda para efetuar um movimento de rotação em torno
de seu eixo.
As pás têm um perfil de concha com o objetivo de obter um rendimento máximo
ao mesmo tempo que permitem a saída da água pela sua lateral.
O injetor produz um jato cilíndrico e homogêneo com mínima dispersão.
A turbina Pelton pode possuir mais de um injetor, sendo que, no entanto, o número
máximo de injetores é seis.
A vazão é regulada através de um sistema de avanço/retrocesso de uma agulha
situada no interior do injetor. O deslocamento desta agulha é dado por um motor servo
hidráulico ou elétrico. A turbina Pelton ainda possui um defletor situado entre o injetor e
a roda para evitar que a turbina opere em vazio no caso de pane no gerador e no caso de
seu desacoplamento da turbina.

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Figura 2.3 Vista esquemática de uma Turbina Pelton com dois jatos e seus
parâmetros principais

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Figura 2.4 Turbina Pelton Horizontal de um único jato

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Figura 2.5Turbina Pelton Vertical com cinco jatos

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Figura 2.6 Turbina Pelton Vertical com dois Jatos e a vista do freio hidráulico

Fig. 2.7 Turbina Pelton

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Fig. 2-8 Turbinas Pelton acopladas ao eixo de um gerador

Fig. 2-9 – Tipo de turbina em função da queda e vazão

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3ª aula
Capítulo 3 – Turbinas à Reação

Turbina à Reação é uma máquina fechada que utiliza ao mesmo tempo a energia
cinética da água e uma diferença de pressão.
Sua base de funcionamento segue dois princípios:
• A criação de um turbilhão por meio de uma caixa espiral ou dos
direcionadores do escoamento do fluído na entrada da roda, ou até mesmo
os dois.
• A recuperação do movimento circular de turbilhonamento pelo
posicionamento das pás da roda em rotação os quais imprimem um sentido
de escoamento paralelo ao eixo de rotação.
Estes direcionadores se comportam como uma asa de avião, o descolamento da
água provoca sobre o perfil da palheta da roda uma força hidrodinâmica que induz um
torque sobre o eixo da turbina.
Assim como na asa de avião a força resultante é proveniente de uma diferença de
pressão entre as duas faces da palheta (intradorso e extradorso).
A figura 3.1 ilustra sob a forma esquemática, o funcionamento de uma turbina de
reação:

Figura 3.1 Ilustração de uma turbina de reação.

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A equação fundamental que rege o funcionamento de uma turbina à reação é a


equação de Euler que define a relação entre as velocidades de entrada e de saída e a
energia mássica à disposição do equipamento (Figura 3.2)

E = gH = U 1Cu1 − U 2 Cu 2

Figura 3.2 Vista em corte evidenciando os perfis das palhetas no distribuidor e


na roda da turbina evidenciando as velocidades ao longo das palhetas.

Na fórmula anterior consideremos:


U1 = wR 1 velocidade periférica (velocidade tangencial) na entrada da turbina
C u1 velocidade absoluta da água na entrada da turbina

U 2 = wR 2 velocidade periférica (velocidade tangencial) na saída da turbina


Cu2 velocidade absoluta da água na saída da turbina

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U 1 C u1 energia de turbilhonamento na entrada da turbina criada pelo canal


espiral ou pelas palhetas do distribuidor.
U 2Cu2 energia de turbilhonamento na saída da turbina. No ponto ótimo de
funcionamento de uma turbina esta energia é nula.
C é a velocidade absoluta da água na turbina.

Da Física sabemos que a soma das velocidades tangencial e relativa é igual à


velocidade absoluta.
A componente meridiana (radial) da velocidade é indicada por Cm (vide figura
3.2).
A velocidade W é a velocidade relativa da água que é tangente à palheta. Sua
direção é calculada através das velocidades: Cu, Cm e U, fixado o ângulo da palheta com
relação ao escoamento.

A Figura 3.3 apresenta uma vista esquemática de uma turbina de reação do tipo
Kaplan com suas componentes de velocidade.

Figura 3.3 Vista esquemática de uma turbina de reação axial Kaplan com os
respectivos triângulos de velocidade

Idem Figura 3.4 para uma turbina Francis:

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Figura 3.4 Vista esquemática de uma turbina de reação axial Francis.

Nestes tipos de turbina, o turbilhonamento é criado por um canal espiral, sendo


que o ângulo final de saída da turbina é definido pelo distribuidor.

Figura 3.5 Diagrama de velocidades visto em perspectiva.

Relações Importantes:

E = gH = U 1Cu1 − U 2 Cu 2 (J/kg)

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Vazão Q = Cm S (m3/s) com Cm velocidade absoluta radial (m/s) e S área de


passagem ortogonal à Cm (m2)
2gH
Coeficiente de energia:  =
U2
Cm
Coeficiente de Vazão  =
U

Altura de Aspiração

A altura de aspiração Hs de uma turbina de reação conforme ilustrado na figura


3.6 é a medida entre a superfície da água à saída da turbina e o eixo da roda da turbina. O
valor Hs é positivo se o eixo da turbina se encontra acima do nível de água à saída, e
negativo em caso contrário.

2024 1° bimestre 36
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Figura 3.6 Altura de aspiração Hs para diferentes tipos de turbinas onde:


a Turbina Francis Lenta (Nq pequeno)
b Turbina Francis Rápida (Nq grande)
c Turbina Kaplan

Altura de aspiração e cavitação

2024 1° bimestre 37
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Sempre que possível uma turbina à reação será instalada com Hs o maior possível.
Em contrapartida a pressão à saída da turbina deve ser a mais baixa possível inclusive
trabalhando com depressão.
Se a depressão estática se iguala à altura de aspiração, se introduz uma depressão
dinâmica devido ao descolamento da camada de água sobre o perfil da palheta. Desta
forma se produz sobre uma das faces da palheta (intradorso) uma sobre-pressão e na outra
face (extradorso) uma zona de depressão.
São estas diferenças de pressão que criam a força hidrodinâmica sobre o perfil e
que movimenta a turbina. A Figura 3.7 ilustra a distribuição de pressões sobre a palheta
de uma turbina.

Figura 3.7 Fenômeno da Cavitação sobre a palheta de uma turbina

Se a altura de aspiração é aumentada, a depressão extradorso provocará a


vaporização da água. Haverá então a formação de bolhas de vapor quer se destacarão da
superfície. Àquelas que atingirem uma zona de pressão mais elevada, sofrerão uma
implosão criando fortes zonas de pressão dinâmicas.

2024 1° bimestre 38
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As implosões das bolhas de vapor provocarão o efeito da cavitação que provoca


a erosão ou destacamento de partículas da superfície de metal que compõe a palheta da
turbina. As Figuras que se seguem ilustram o caso de cavitação em palhetas de turbina:

Figura 3.8 Exemplos de Cavitação em Turbina Francis.

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Figura 3.9 Exemplos de Cavitação em Turbina Kaplan

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Fig. 3.10 O Efeito da Cavitação sobre o metal de uma turbina

A formação de Vapor (Cavitação)

O escoamento numa turbina de reação é composto de um turbilhão na região de


entrada da turbina e um outro na região de saída. Este conjunto não desaparece mesmo
que se esteja trabalhando no ponto ótimo da turbina.
Verifica-se que para vazões inferiores à vazão nominal (cerca de 40 a 60% desta),
o turbilhão de saída é mais intenso provocando instabilidades violentas.
Estas instabilidades são provocadas pelo turbilhão de saída em cujo núcleo
ocorrem pressões extremamente baixas formando assim uma zona de nucleação de
vapor de água.
Na região do aspirador, a região assim criada implode violentamente, e seguida
de choques a baixa frequência que provocam a degradação do sistema:
Provocando uma solicitação dinâmica elevada sobre a máquina e sobre a
fundação.
Induzindo pulsações de pressão no duto de alimentação que por sua vez propicia
oscilações na vazão e na potência do equipamento.

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Este fenômeno é difícil de prever; e uma das alternativas é injetar ar na região do


aspirador. Isto permite amortecer os choques e eventualmente modificar a frequência de
pulsação, mas com certeza o rendimento da turbina será afetado com uma queda de 1 a
2%.
É extremamente importante se fornecer, ou se conhecer o intervalo de
funcionamento previsto para a turbina. Isto significa assegurar que o equipamento não
estará sujeito à ação da cavitação, e ao mesmo tempo se permite monitorar o desempenho
do equipamento de forma a evitar sua ocorrência. (Figura 3.11).

Figura 3.11. Representação da região de nucleação da cavitação à saída de uma


turbina Francis.

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Cálculo da Altura Limite de Aspiração de uma Turbina à


Reação

Sem se considerar os efeitos dinâmicos devido à velocidade da água, a pressão de


descolamento do vapor, podemos escrever:
Hsth = Ha − Hv

com Hsth= altura de aspiração teoricamente possível (m)


Ha = altura da água equivalente à pressão atmosférica (m)
Hv = altura da água equivalente à pressão de vaporização (m)

As sobre velocidades e depressões locais sobre as palhetas da turbina fazem com


que a pressão de vapor atinja um valor inferior ao vapor teórico Hs acima mencionado.
Para considerar esta variação, os estudiosos introduziram uma altura de aspiração
complementar H induzida pelo descolamento, com H a queda líquida (vide definição à
pág. 5) da turbina, e , um coeficiente adimensional denominado de coeficiente de
Thoma.
Então Hs = Hsth − H
Com Hs altura de aspiração limite onde abaixo deste valor aparece cavitação capaz
de danificar o equipamento.
Os valores limites de  são estabelecidos sobre uma base estatística. É função da
velocidade específica da máquina considerada. Esta curva será vista no próximo tópico.

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Figura 3.12. Escalas de pressão para o cálculo da altura limite de aspiração

Ha pressão atmosférica (m)


Hs altura limite de aspiração da turbina (início da cavitação) (m)
H altura para a compensação da depressão dinâmica de descolamento da palheta
(m)
Hv pressão de vaporização (m)

Variação da pressão atmosférica:


Altitude (m) 0 500 1000 2000
Ha (m) 10 9,42 8,87 7,84

Variação da pressão de vaporização


Temperatura (ºC) 8 10 15 20 25 30
Hv (m) 0,105 0,125 0,155 0,240 0,325 0,435

As alturas são expressas em metros de coluna de água.

Os valores aqui apresentados são indicativos e necessitam da confirmação do


fabricante.
Assim para o cálculo da altura de aspiração utiliza-se a seguinte fórmula:

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H s = H a − H v − H

Na fase de projeto deve-se observar que a pressão atmosférica varia com altitude
e com a temperatura do ar, e que a pressão de vaporização depende da temperatura da
água.

Velocidade e Vazão de Cavitação de uma turbina de Reação

Se o escoamento do fluído numa turbina à reação acontece no sentido radial, isto


provoca um efeito de bombeamento acarretado pela força centrífuga que limita a
velocidade de escoamento e portanto limita a vazão.
Uma turbina Axial oferecerá apenas uma pequena resistência à água quando da
ocorrência da cavitação. A cavitação será visível na região do turbilhão acarretado pelo
distribuidor. Por consequência as turbinas axiais terão velocidades mais elevadas para
início de cavitação, cerca de três vezes a velocidade nominal a qual afetará a concepção
geométrica da geratriz da turbina.
É extremamente importante que o fornecedor do equipamento indique claramente
para uma queda líquida a velocidade e vazão de início de cavitação.
A título indicativo pode-se adotar os seguintes valores:

velocidade para cavitação n e


=
Tipo de Turbina velocidade nominal nn
Francis Nq =40...80 1,7...2,0
Francis Nq =80...120 2,0...2,2
Kaplan com pás reguláveis e distribuidor fixo 2,4...2,8
Kaplan com pás e distribuidor reguláveis 2,4...3,2

Rotação Específica Nq vazão para cavitação


vazão nominal
<100 Qe  Qn
=100 Q e = Q n
>100 Qe  Qn

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4ª aula

Turbina Francis

Os componentes principais de uma turbina Francis são apresentados na Figura


3.13 para uma máquina sem canal espiral instalada dentro de um canal de água aberta.
A parte fixa da turbina compreende o anel acionado por um tirante, destinado a
receber o distribuidor e o suporte das palhetas da turbina e que diretamente possui
aspirador.
O distribuidor que regulará a vazão, é constituído por uma série de palhetas
rotativas, conectadas por um sistema de bielas ligadas a um sistema de articulação. Este
sistema de articulação pode ser acionado por um sistema manual (nas instalações mais
antigas), ou por um motor elétrico ou motor hidráulico.
A roda da turbina é instalada no interior do distribuidor. Seu eixo é conectado ao
gerador ou a um sistema multiplicador que acionará o gerador.

Figura 3.13 Componentes principais de uma turbina Francis

2024 1° bimestre 46
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A figura 3.14 permite estimar as grandezas mais importantes de uma turbina


Francis. Ela também mostra a evolução da forma da turbina em função da velocidade
específica Nq. As máquinas com Nq pequeno tem escoamento radial, enquanto máquinas
com Nq alto tem escoamento semiaxial.

Figura 3.14 Dimensões principais de uma turbina Francis em função das


velocidades específicas

2024 1° bimestre 47
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Turbina Kaplan

As turbinas Kaplan são as turbinas mais indicadas para pequenas quedas de água.
Estas máquinas são classificadas em função de:
Existência de regulagem das palhetas e ou distribuidores. Assim as pás e
distribuidores serão fixos para o caso de vazões fixas e, portanto, potências fixas; as pás
serão fixas e distribuidores reguláveis para vazões elevadas e pouco variáveis; pás
variáveis e distribuidores fixos para o caso de acomodação de vazões variando de 30 a
100% da vazão nominal e assim mesmo assegurando um bom rendimento. Na prática o
órgão regulador das pás e do distribuidor é um agente que busca automaticamente a
condição de melhor ponto de operação, através de uma programação eletrônica.
Tipo de escoamento: A turbina Kaplan pode ser instalada dentro de um
distribuidor clássico como o caso das turbinas Francis e neste caso o escoamento é radial
no distribuidor e axial na turbina; a turbina é instalada dentro de um canal espiral; o
distribuidor pode ser cônico, ou axial e assim o escoamento fica sujeito a uma mínima
variação na direção. Esta distribuição permite obter uma construção compacta, pois a
turbina pode ser incorporada dentro do duto de alimentação o que facilita a obra de
engenharia civil. E isto nos fornece uma variedade significativa que é a turbina dentro de
um tubo em formato de sifão; turbina em S dentro do duto; ou turbina submersa.
A figura que se segue apresenta as dimensões principais de uma turbina Kaplan
com distribuidor radial, com as indicações para estimativa do diâmetro da roda.

Figura 3.15 Componentes principais de uma turbina Kaplan

2024 1° bimestre 48
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H
De = 84,6Cue
n

H = queda líquida (m)


n = rotações por minuto (rpm)
Cue = coeficiente de velocidade e que é função da velocidade específica Nq

Cue 1,20 1,40 1,51 1,65 1,75 1,85 1,95


Nq 100 125 150 175 200 225 250

De diâmetro das pás da turbina


Di diâmetro da turbina sem pás
z0 número de palhetas no distribuidor
zr número de pás na turbina

2024 1° bimestre 49
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4ª aula
Capítulo IV Seleção de uma turbina

A seleção de um tipo de turbina não é só função da queda d’água e da vazão, mas


também do local/região em que será instalada.
A altura bruta e líquida (pág 5 desta nota de aula) variará em função da vazão
(perdas de carga); das condições hidrológicas extremas (elevação do nível d’água na
época das cheias); e função das condições de armazenamento d’água (reservatório de
acumulação).
É claro que é importante se estabelecer o mais precisamente possível as condições
de funcionamento da turbina que melhor se adapte às condições operacionais.
O gráfico 4.1 permite pré-selecionar o tipo de turbina em função da queda e da
vazão.

Figura 4.1 Domínio de utilização dos diferentes tipos de turbinas

A Curva de Rendimento de Turbinas em Função da Vazão

2024 1° bimestre 50
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A vazão ao longo do período de operação da turbina influencia na escolha do tipo


da turbina.
Vazão constante: Turbina com abertura fixa; turbina Kaplan, ou Pelton com
injetor fixo.
Vazão pouco variável: A turbina funcionará poucas horas durante o ano com
pequena carga; neste caso uma turbina Francis, ou uma Kaplan com distribuidor fixo terão
um excelente rendimento com a vazão nominal, e um desempenho moderado com queda
de até 40% no rendimento ao se trabalhar com vazões menores.
Vazão muito variável: A turbina funcionará com uma vazão diminuta; nestes
casos recomenda-se uma turbina Pelton com jatos múltiplos, ou uma turbina Kaplan com
dupla regulagem.
Em alguns casos a instalação de duas turbinas pode se constituir na solução
energética e economicamente viável (duas turbinas acopladas a um gerador ou a um par
de geradores). As formas das curvas de rendimento assim como os valores máximos
indicados na figura abaixo permitem uma primeira comparação entre os diversos tipos de
turbinas.

Figura 4.2 Forma das curvas de rendimento para os diferentes tipos de turbina
1- Turbina Pelton máx 84-90%
2- Turbina Kaplan máx 84-90%
3- Turbina Francis máx 84-90%

2024 1° bimestre 51
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Velocidade de Rotação num grupo Turbina - Gerador

A velocidade de rotação de um gerador está ligado à frequência de alimentação


da rede elétrica que em nosso país é de 60Hz.
Os geradores síncronos são máquinas de corrente alternada excitados por uma
corrente elétrica direta onde há uma relação entre a frequência da corrente e a velocidade
de rotação da máquina dada por:
60 freqüência 3600
pares de polos = =
rpm rpm
e assim teremos:

Pares de polos Rotação


1 3600
2 1800
3 1200
4 900
5 720
6 600
8 450
9 400
10 360

As velocidades de rotação dos geradores assíncronos serão superiores em 1 a 2%


dos valores indicados, por necessidade de criar um campo magnético dentro da máquina.
A velocidade máxima é limitada à 1800 rpm, devido ao problema acarretado pela
rotação elevada aos mancais. Em contrapartida a rotação mínima é 600 rpm, pois a partir
de um número de polos mais elevado aumenta o custo do equipamento, e em contrapartida
há uma diminuição do rendimento inclusive com aumento das perdas eletromagnéticas
no gerador.
A figura 4.3 permite a seleção e a comparação dos diversos tipos de turbinas
considerando a sua velocidade angular. Este gráfico evidencia os tipos de turbinas
aplicáveis a quedas médias e a quedas pequenas.

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Figura 4.3 Ábaco para a seleção dos diversos tipos de turbinas

Para as grandes e moderadas quedas, a turbina deverá ser alimentada por um duto
forçado e instalado acima do nível da água à saída da turbina.
Segundo o tipo da turbina escolhida, a energia disponível à saída (altura entre o
nível da água no canal e o eixo da turbina) poderá ser uma energia perdida
Para turbinas Pelton a energia é perdida
Para turbinas a Reação a energia disponível pode ser totalmente recuperada. A
altura de aspiração será definida pela altura de cavitação da turbina. (Figura 4.4) a qual
permite definir de antemão a altura de implementação da máquina.

2024 1° bimestre 53
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Figura 4.4 Queda líquida e altura de aspiração para diferentes tipos de turbina

Para quedas pequenas podemos utilizar as turbinas Francis ou Kaplan em canal


de água aberto com o eixo da máquina na horizontal ou na vertical; podemos também
utilizar a tipo Kaplan em duto, ou Kaplan em sistema sifão.
O preço da turbina neste contexto, não é um critério determinante, mas a escolha
poderá trazer economias significativas nas fundações para sua instalação.
A figura a seguir permite analisar o coeficiente de cavitação para as turbinas à
reação:

Figura 4.5 Coeficiente de Cavitação das Turbinas à Reação

2024 1° bimestre 54
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Onde H s = H a − H v − H
Ha pressão atmosférica (m)
Hs altura limite de aspiração da turbina (início da cavitação) (m)
H altura para a compensação da depressão dinâmica de descolamento da palheta
(m)
Hv pressão de vaporização (m)

Variação da pressão atmosférica:


Altitude (m) 0 500 1000 2000
Ha (m) 10 9,42 8,87 7,84

Variação da pressão de vaporização


Temperatura (ºC) 8 10 15 20 25 30
Hv(m) 0,105 0,125 0,155 0,240 0,325 0,435

As alturas são expressas em metros de coluna de água.

Os valores aqui apresentados são indicativos e necessitam da confirmação do


fabricante.

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Figura 4.6 Exemplo de turbinas para pequenas quedas.

Há três possibilidades de montagem:


Roda da turbina montada sobre o eixo do gerador a qual pode estar na
configuração vertical ou horizontal. Esta configuração é a mais onerosa, porém a mais
compacta. Ela requer grandes precisões de montagem, e dimensionamento mais preciso
das palhetas e da geratriz da turbina, pois elas são muito solicitadas.
Turbina e Gerador não acoplados num mesmo eixo, mas através de um agente
mecânico externo, por exemplo correias. Esta é a configuração tradicional a qual separa
os componentes mecânicos dos componentes elétricos. Permite uma padronização maior
permitindo que a turbina opere em rotações diferentes das rotações síncronas.
Turbina que opera com rotação baixa e necessitando de um multiplicador de
velocidades para acionar o gerador. Este multiplicador pode ser correias ou uma caixa de
engrenagens. Normalmente se prefere a primeira pois é mais simples e menos onerosa,
enquanto que a outra é silenciosa, durável e não produz perdas no acoplamento mecânico.
A figura abaixo apresenta as várias configurações possíveis.

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Figura 4.7 Disposições possíveis do conjunto turbina-gerador

Etapas para Seleção de uma Turbina

1- Definir as características hidráulicas do local da instalação a saber:


queda bruta, vazão e condições de operação da turbina (vide figura
1.5.).
2- Selecionar dois ou três tipos de turbina inicialmente (figura 4.1)
3- Selecionar dois ou três tipos de turbina tendo em consideração a
condição de operação (rpm), procurando obter uma rotação próxima

2024 1° bimestre 57
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da rotação síncrona a qual permite acoplar diretamente a turbina ao


gerador. (vide figura 4.3 e 4.7).
4- Eliminar um ou dois tipos escolhidos em função da curva de
rendimento desejado (vide figura 4.2); ou em função da rotação que
determina a interrupção de funcionamento do grupo; ou da forma de
instalação da turbina (se será com ou sem duto de aspiração) – (vide
figuras 4.4 e 4.6).
5- Analisar as condições de operação para evitar o efeito da cavitação.

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Exercício completo
de PCH. Não é
assunto de avaliação.
É estudo de caso.
Capítulo 5 - Exemplo de Cálculo
Uma central hidroelétrica de potência deve ser instalada às margens de um rio.
São conhecidas as seguintes informações;
• A vazão média lateral destinada a mover a turbina é de 2,000m3/s.
• Tendo em consideração que a tomada d’água para acionar a turbina será
desviada de um rio piscoso, e a mesma água uma vez utilizada retornará ao
leito do rio, é necessário aumentar a vazão de descarga através de um segundo
canal lateral para evitar que peixes possam nadar na época da desova e atingir
a turbina. Este leito lateral terá uma vazão de 0,70 m3/s.
• Esta energia hidráulica da vazão auxiliar também acionará uma outra turbina
numa pequena central hidroelétrica.
O sistema idealizado é apresentado esquematicamente na figura 5.1.

Figura 5.1 Ilustração de instalação de uma turbina

59
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Dados do Projeto

Queda Bruta Hb = 21,0m (máxima); 20,0m (média); 18,0m (mínima)


O nível a montante é constante (regulado pela barragem)
Vazão de entrada na turbina 2,0m3/s para Hb médio.
 extensãoL = 200m
Duto forçado 
Diâmetro D = 1000mm
Implantação da turbina 0,5m máximo acima do nível da água
Temperatura da água 20ºC máxima
Altitude do local 500m
K = coeficiente de rugosidade = 75m1/3/s
Rendimento do gerador = 95%.
v 2L
Para o Cálculo da Perda de Carga utilizar a fórmula de Strickler: H L = 4

K 2 R h3

Perguntas
Determinar o tipo e as características principais da turbina que melhor se adapta às
condições dadas.
Qual será aproximadamente a produção anual de energia elétrica.

v 2L
Cálculo das perdas de Carga segundo a fórmula de Strickler: H L = 4
2 3
K R h
Onde
v é a velocidade de escoamento (m/s)
L comprimento do duto (m)
K = coeficiente de rugosidade = 75m1/3/s
Rh=D/4 = diâmetro hidráulico (m)

4Q
v= = 2,55m / s
D 2
perda de carga H L = 1,47m
Condição Máximo Médio Mínimo
Queda Bruta (m) 21,0 20,0 18,0
Perda de Carga (m) 1,47 1,47 1,47
Queda Líquida (m) 19,53 18,53 16,53

Potência Hidráulica Phid = gQH = 9,81 * 2 * 18,53 = 364kW (página 5)

Tipo de Turbina (figura 4.1- página 42)


Francis com rendimento provável (figura 4.2 página 43) =90%

60
Máquinas Hidráulicas Demétrio Baracat

Altura de aspiração mínima Hb=0,5m (dado)


Altura de aspiração média Hbmédio =0,5+Hbmédio-Hbmínimo=2,5m
Altura de aspiração média Hbmáximo =0,5+Hbmáximo-Hbmínimo=2,5m

Como a Central Hidroelétrica trabalha com vazão constante, seu rendimento máximo
é importante e por isso a turbina recomendada é a Francis com diretrizes fixas.

Velocidade de rotação da turbina Francis


H − H v − Hs
Coeficiente de cavitação== a (páginas 36 e 37).
H

Ha=9,50m (altitude 500m)


Hv=0,24m (temperatura 20ºC)

9,5 − 0,24 − 3,5


Para Hmáximo e Hsmáximo  = = 0,30
19,53
Na figura 4.5 =0,3→velocidade específica Nq=100
Q
O diagrama da página 44 fornece H=18,53; Q=2,0m3/s Nq=100= n 3
4
H
3
4
H
Velocidade de rotação n = Nq = 631rpm
Q
Esta velocidade é muito baixa para ser adotada (Nq e  são muito pequenos o que nos
fornece Hs elevado).
A velocidade síncrona mais próxima que permite a acoplagem direta da turbina ao
gerador é n=600rpm.
Produção de energia
Potência no eixo da turbina: Pmec=0,9*364kW=328kW
Potência Elétrica Pel=gPmec=0,95*328=311kW
Produção anual =311*8761horas/ano=2725000kWh.

61
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5ª aula
Exercícios de Aplicação de fórmulas

Você acaba de ser encarregado em especificar uma turbina Pelton para uma queda de 400m.
Sabe-se que a vazão da queda é de 60m3/s. Pede-se o diâmetro D1 de referência da turbina, a
rotação n1, a potência P1, o diâmetro Djato do jato sabendo que haverá dois injetores.
Para sua análise você pesquisou turbinas Pelton já instaladas e encontrou uma como
referência que opera sob uma queda H= 290m; vazão Q= 40 m3/s; e rotação n=450 rpm. Esta
turbina tem uma potência P=113,7 kW, e diâmetro D= 2,7m.

Faça os cálculos considerando as seguintes fórmulas:


2 2 3 2 5
 n   D   n  D   n   D 
H = H m     Q = Q m    T = Tm    
 n m   Dm   n m  D m   nm   Dm 
3 5
 n   D  
P = Pm    
Q1 = 0,97 D 2jato 2gH Q = zQ 1
 nm   Dm  4
𝟔𝟎 ∗ 𝟎, 𝟗𝟒
𝐃𝟏 = √𝟐𝐠𝐇
𝟐𝛑𝐧

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Máquinas Hidráulicas Demétrio Baracat

Considere o seguinte conjunto de informações:


2 2 3
 n   D   n  D 
H = Hm    
 D   Q = Q m
  
 m  m
n  nm  D m 
2 5 3 5
 n 
 D   n   D 
T = Tm  
  P = Pm    
 nm 
 Dm   nm   Dm 
60freqüência 3600
polos = =
rpm rpm
Q = z 1Q1  = 0,00634N q

2) Pede-se determinar o tipo de turbina, a potência efetiva, o número de pares de


polos, a rotação mais próxima do gerador, a taxa de redução entre o eixo do gerador e o
da turbina, sabendo-se que: H=300,0m; Q=25m3/s; n=365rpm e =90%.

63
Máquinas Hidráulicas Demétrio Baracat

3) Num empreendimento deseja-se instalar turbinas Pelton com 4 jatos cada uma.
São dadas as seguintes informações para o conjunto turbina gerador: rotação do gerador
é de 600 rpm, rendimento efetivo 90%; Qqueda= 84,0m3/s; Hqueda=645,0m. A rotação
específica para a hidroelétrica é de =2,5. Determinar o número de turbinas, a potência
da água e a potência útil ou efetiva da turbina.

4) Num projeto hidroelétrico tem-se os seguintes valores Q=1680,0m3/s e


H=63m. As turbinas trabalham no ponto de máximo rendimento. Pretende-se instalar
turbinas Francis de eixo vertical com rotação específica de 80rpm, e rotação síncrona
(turbina-gerador) 300rpm e rendimento =92%. Determinar a potência do fluído, a
potência da turbina, o número de pares de polos do gerador, e o número de turbinas a
serem instaladas.

64
Máquinas Hidráulicas Demétrio Baracat

5) Uma fábrica de turbinas recebeu uma encomenda de uma máquina para


H=650,0m e para tanto construiu um modelo na escala 1:100. Este modelo sob uma queda
de 6,5m forneceu uma potência de 1,0kW trabalhando a uma rotação de 950rpm.
Admitindo que o rendimento do modelo e da máquina seja o mesmo = 90%, pede-se
determinar a vazão da turbina, a vazão o tipo da turbina e sua rotação.

6) As turbinas hidráulicas da Usina Saint Lawrence, no Canadá, operam no ponto


de ótimo rendimento sob H=25,0m; P=57,6Mw, rotação 94,7rpm; ciclagem 50 Hz;
D=6100,0mm (diâmetro do rotor). No laboratório testa-se um modelo em escala reduzida
com d= 315,0mm de diâmetro no rotor sob a queda de 2,5m. Determinar a rotação, a
potência e vazão do modelo.
Obs. A decisão de quem é o modelo e quem ´real é do analista. Aqui inverteremos
o modelo com o real. Se fosse resolvido como anteriormente obter-se-ia mesma resposta.

65

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