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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE


CAMARGO”
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO AMBIENTAL
Licença Ambiental e Licenciamento Ambiental

Trabalho apresentado ao Departamento de Ciências


Jurídicas, do Curso de Graduação em Direito, da
Universidade de Ribeirão Preto, como requisito
obrigatório de Avaliação de Exame Final da Disciplina
de Direito Ambiental.

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 9º SALA: 32B PERÍODO: Noturno

Ribeirão Preto
Julho/2020
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Resumo
O presente texto tem o objetivo de esclarecer o que é a licença ambiental e o procedimento
para obtê-la, denominado licenciamento ambiental. Tendo em vista que existem muitos tipos
de empreendimentos, verificar-se-á os tipos de licença, suas fases, seus requisitos, as normas
jurídicas que as regulamenta, assim como os órgãos competentes para a concessão das
licenças. Para a consecução desse fim, a doutrina e a jurisprudência serão os fundamentos
desse trabalho.

Introdução

O licenciamento ambiental é o procedimento administrativo que, a partir de


atos coordenados e articulados decidem pela concessão da licença ambiental. O procedimento
vai muito além de mera formalidade, porque leva em conta, de modo detalhado, fatores como
os impactos ambientais, tais como a agressão à fauna, à flora, aos recursos naturais e à
qualidade do meio ambiente, não se limitando apenas aos aspectos ecológicos e ao nível de
suporte dos bens ambientais, como também ao meio ambiente humano, isto é, cultural,
artificial e social.
O motivo de estabelecer um processo com fases detalhadas do licenciamento,
exigindo estudo de impacto e emissão de relatórios dos impactos ao meio ambiente, bem
como a concessão temporária demonstram que a aprovação de um empreendimento ou uma
atividade vão muito além de uma questão econômica, mas, acima de tudo, consideram o
interesse público, o meio ambiente e o bem-estar social, elementos que, quando degradados
são imensuráveis e irreparáveis, pois nunca retornam à condição anterior, por isso a
fiscalização e o preenchimento dos requisitos são de grande importância.
A partir de um sistema de competências da União, dos Estados e dos
Municípios, o licenciamento ambiental, assim como sua renovação estão sujeitos aos órgãos
que, pela extensão dos impactos da atividade ou empreendimento podem variar. No entanto,
de um modo geral, o não é da esfera do CONAMA, no caso de efeitos regionais, é da
competência do IBAMA, quando os impactos são de proporção nacional. No caso dos
municípios, na ausência de órgão de competência local, os órgãos anteriores respondem
supletiva e subsidiariamente. Sem mais, em seguida, serão apresentados os detalhes do
licenciamento ambiental.

1. Conceito de Licença e Licenciamento Ambiental.


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O licenciamento ambiental é o procedimento ordenado de atos administrativos


articulados pelos quais é autorizada a localização, instalação, ampliação e operação destes
empreendimentos e/ou atividades a fim de se obter a licença ambiental que, por sua vez, é
uma exigência legal a que estão sujeitos todos os empreendimentos ou atividades que
empregam recursos naturais ou que possam causar algum tipo de poluição, degradação ou
danos ao meio ambiente. Nesse sentido, a licença ambiental, por meio do órgão competente
estabelece as condições, restrições e medidas de controle que deverão ser obedecidas pelo
realizador das atividades.
O licenciamento ambiental, por sua vez, é o complexo de etapas que compõe o
procedimento administrativo, o qual objetiva a concessão de licença ambiental. Dessa
forma, não é possível identificar isoladamente a licença ambiental, porquanto esta é uma
das fases do procedimento (FIORILLO, 2013, p. 221).

As atividades que estão submetidas ao licenciamento ambiental dependem de


algum potencial degradador. Logo, ou a atividade vai utilizar do recurso ambiental, ou que
traga um potencial degradador, ou seja, a atividade pode efetivamente ou potencialmente
causar algum dano ao meio ambiente, devendo ser tomada medidas de prevenção para
minimizar o risco.
Tendo em vista que as externalidades ambientais passam a ser reguladas pelo
ordenamento jurídico, com efeito, faz-se necessário a elaboração de um mecanismo, de um
sistema, de órgão de controle administrativo e de gestão pública. A avaliação de impacto
ambiental é um dos elementos deste órgão, que deve ser composto não, não só de juristas,
técnicos administrativos e economistas, mas de especialistas em geografia, geologia, botânica,
biólogos, antropólogos e de outros profissionais que podem contribuir cientificamente para o
exame detalhado dos projetos que lhes serão submetidos.
O EIA/RIMA deve ser realizado por uma equipe técnica multidisciplinar, que contará com
profissionais das mais diferentes áreas, como, por exemplo, geólogos, físicos, biólogos,
psicólogos, sociólogos, entre outros, os quais avaliarão os impactos ambientais positivos e
negativos do empreendimento pretendido. Objetiva-se com isso a elaboração de um estudo
completo e profundo a respeito da pretensa atividade (FIORILLO, 2013, p. 229).

Após o levantamento e averiguação das externalidades negativas ambientais e


como meio de controle do bem ambiental, considerando se a atividade a ser desenvolvida
produzirá efeitos ecológicos suportáveis pelo meio ambiente, o Poder Público decide sobre a
expedição ou não de licenças ou autorizações concedidas e obrigatórias a determinadas
atividades econômicas, sempre por tempo determinado, na medida em que são atos precários,
isto é, autorizativos, mantidos enquanto for conveniente mantê-los. A obrigatoriedade a
respeito das concessões da Administração Pública ocorre somente se os requisitos são
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preenchidos, de modo que, em alguns casos, a licença administrativa se torna definitiva, por
exemplo, no caso de licença para a construção de uma casa, que só poderá ser revogada
mediante indenização. No caso das Licenças ambientais, estas são autorizações
administrativas sempre temporárias, enquanto for conveniente e se forem viáveis.
Com isso, podemos afirmar que o licenciamento ambiental será regido pelo princípio da
moralidade ambiental, legalidade ambiental, publicidade, finalidade ambiental, princípio da
supremacia do interesse difuso sobre o privado, princípio da indisponibilidade do interesse
público, entre outros (FIORILLO, 2013, p. 223).

Assim, o licenciado terá o direito de exercer a atividade no tempo autorizado. A licença, nesse
caso, durante o período de autorização não pode ser revogada. No entanto, pode ser anulada a
qualquer tempo, quando os requisitos e os princípios estão enredados em vício, não cabendo
reivindicação de direito adquirido, já que não existe direito subjetivo para a utilização de
recursos ambientais para fins econômicos.
A responsabilidade pela concessão fica a cargo dos órgãos ambientais estaduais
e, a depender do caso, também do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), quando se tratar de grandes projetos, com o potencial de afetar
mais de um estado, como é o caso dos empreendimentos de geração de energia, e nas
atividades do setor de petróleo e gás na plataforma continental. O Superior Tribunal de Justiça
já se pronunciou a respeito de questões ambientais de interesse nacional, de modo que
ultrapassa a esfera das competências dos municípios e dos Estados, restando, nesse caso, a
competência do IBAMA para a apreciação do licenciamento ambiental:
AMBIENTAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. VIOLAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA
284/STF. RESOLUÇÃO 237/97 DO CONAMA. ATO NORMATIVO QUE NÃO SE
ENQUADRA NO CONCEITO DE "TRATADO OU LEI FEDERAL".
LICENCIAMENTO AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DO IBAMA. IMPACTO
REGIONAL E NACIONAL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. É deficiente a fundamentação do recurso
especial em que a alegação de ofensa ao art. 535 do CPC se faz de forma genérica, sem a
demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se fez omisso, contraditório ou
obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF. 2. Além disso, o recurso
especial não pode ser conhecido no tocante à alegada ofensa à Resolução nº 237/97 do
CONAMA. Isso porque o referido ato normativo não se enquadra no conceito de "tratado
ou lei federal" de que cuida o art. 105, III, a, da CF. 3. A Corte local, com base nos
elementos probatórios da demanda, consignou estar evidenciado o interesse nacional e
regional do empreendimento apto a justificar a competência do IBAMA para o
licenciamento ambiental em discussão nos autos, de maneira que a alteração das
conclusões adotadas no acórdão recorrido, tal como colocada a questão nas razões
recursais, demandaria, necessariamente, o reexame de matéria fática, providência vedada
em recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento.
(STJ - AgRg no REsp: 1375651 SC 2013/0078529-8, Relator: Ministro SÉRGIO
KUKINA, Data de Julgamento: 27/10/2015, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 09/11/2015).
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Reconhecer que a atividade econômica já não mais se encontra livre para


explorar os recursos naturais e que o desenvolvimento somente será admitido se for
sustentável. A legislação brasileira impõe um sistema de licenciamento ambiental trifásico
que se traduz em autorizações de planejamento prévio, instalação e operação, com base nas
melhores práticas ambientais disponíveis. Como as melhores práticas ambientais estão
intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento científico e tecnológico, a circunstâncias de fato,
tempo e modo, as licenças ambientais são provisórias, devendo passar por procedimento de
renovação periodicamente.
O licenciamento pode ainda requerer diferentes licenças, de acordo com o
tamanho do empreendimento. Quando se trata de um empreendimento de grandes dimensões,
como uma hidrelétrica, são necessárias as licenças prévia, de instalação e de operação, que
autorizam respectivamente a concepção do projeto, a sua instauração e o exercício de suas
atividades. Dessa forma, é possível entender que o licenciamento ambiental é fundamental
para a manutenção do bem-estar ambiental, e por isso é fator obrigatório para uma empresa
perante o seu órgão público responsável.
Outro motivo para a obrigatoriedade do licenciamento ambiental é a
necessidade do governo, seja de no âmbito municipal, estadual ou federal ter controle acerca
das empresas instaladas em seus territórios e de suas atividades exercidas. Por isso, obrigar
tais empreendimentos a reportar suas atividades e determinar medidas também obrigatórias
quando estas vão contra a manutenção do meio ambiente é questão de sobrevivência do bem-
estar político, social e também ambiental. Nesse sentido, se o empreendimento ameaça o meio
ambiente, ele pode ser impedido:
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSE DE AGIR
DO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPEDIMENTO DE PROSSEGUIMENTO DE
LICENCIAMENTO AMBIENTAL. POSSIBILIDADE. MATÉRIA QUE NÃO
RECLAMA O EXAME DE FATOS. PREQUESTIONAMENTO CONFIGURADO. 1. A
declaração de interesse processual, em casos como o presente, não reclama o reexame de
fatos ou provas. Com efeito, o juízo que se impõe se restringe à análise de fatos e provas
que, tal como delineados pelas instâncias ordinárias, darão suporte (ou não) à
determinação de conhecimento da demanda originária. 2. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça admite o chamado prequestionamento implícito, o qual se caracteriza
pela manifestação expressa do Tribunal de origem sobre a tese trazida no recurso
especial, a despeito da não indicação explícita dos dispositivos legais em que se fundou a
decisão recorrida, o que, como visto, ocorreu na espécie. 3. "O interesse de agir do
Parquet e de outros legitimados da Ação Civil Pública independe de finalização do
licenciamento e da expedição da respectiva licença ambiental" (REsp 1.616.027/SP, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 14/3/2017, DJe 5/5/2017).
Assim, considerando-se que um dos objetivos da presente demanda é impedir a
realização de obras que supostamente causarão dano ambiental, não se pode
condicionar o interesse processual do Parquet à prévia emissão do licenciamento pelos
órgãos administrativos de controle e fiscalização, pois a atuação do Ministério Público
Federal pode dar-se no âmbito preventivo. 3. Agravo interno a que se nega provimento.
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(STJ - AgInt no REsp: 1426007 MG 2013/0412313-0, Relator: Ministro SÉRGIO


KUKINA, Data de Julgamento: 15/06/2020, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 18/06/2020)

Para contemplar os motivos abordados acima e outros, houve a necessidade de


se exigir legalmente o licenciamento ambiental para os estabelecimentos potencialmente
poluidores. Por isso, alguns dos constituintes da previsão legal do licenciamento consistem
na Lei 6.803/80, na Lei 6.938/81, Lei Complementar nº 140/2011, Decreto 99.274/90 e as
Resoluções CONAMA 001/86 e 237/97.

2. Etapas do Licenciamento Ambiental

A licença é um ato vinculado, temporário que visa apurar em certo período


previamente estabelecido na própria licença, além de estabelecer todas as medidas de controle
ambiental. De um modo geral, antes de considerar as fases do licenciamento ambiental, ou
seja, a Licença prévia, a Licença de instalação e a Licença de operação, é importante observar
que o processo de licenciamento ambiental obedece as seguintes etapas: 1) definição pelo
órgão ambiental competente dos documentos, projetos e estudos ambientais necessários ao
início do processo; 2) requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado
dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes; 3) análise pelo órgão ambiental
competente dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados; 4) solicitação de
esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente; 5) audiência pública,
quando couber; 6) solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental
competente, decorrentes de audiências públicas; 7) emissão de parecer técnico conclusivo e,
quando couber, parecer jurídico; 8) deferimento ou indeferimento do pedido de licença,
dando-se a devida publicidade. Porém, o procedimento poderá ser simplificado nos casos de
atividades com pequeno potencial de impacto ambiental, por exemplo, no caso de licença para
pesca.
As licenças ambientais podem ser concedidas de forma isolada ou sucessiva.
Assim, é comum que o mesmo empreendimento acumule mais de um tipo de licença no
decorrer da sua atividade. Dependendo das características e peculiaridades da atividade, o
CONAMA poderá definir licenças ambientais específicas, além de adequar as etapas do
processo de licenciamento ambiental. Tal é o caso da Licença de Pesquisa Sísmica (LPS),
prevista na Resolução nº. 350 do CONAMA, que autoriza pesquisas sísmicas marítimas e em
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zonas de transição, estabelecendo todas as condições a serem observadas pelo realizador da


atividade.

2.1. Licença prévia

A licença prévia tem por conteúdo a verificação da viabilidade ambiental do


projeto e sua concepção, bem como a verificação das condições para a licença ambiental, que
é a licença de instalação. É nesta fase que deve ser solicitada no momento de planejamento da
implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Esta licença apenas aprova a
viabilidade ambiental e estabelece as exigências técnicas, ou seja, as condicionantes para o
desenvolvimento do projeto, mas não autoriza sua instalação.
Nesta fase, caberá ao empreendedor atender ao art. 225, §1º, IV da
Constituição Federal e da Resolução 001/86 do Conama, elaborando os estudos ambientais
que serão entregues ao órgão ambiental para análise e deferimento. No caso de uma obra de
significativo impacto ambiental, na fase da licença prévia o responsável deve providenciar o
Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).
O documento técnico-científico traz um diagnóstico ambiental, analisa
impactos e suas medidas compensatórias. Tais estudos endereçados, respectivamente, para a
Administração Pública e para a sociedade, abordam necessariamente as condições da biota,
isto é, o conjunto de seres vivos, flora e fauna, que habitam ou habitavam um determinado
ambiente geológico, bem como dos recursos ambientais, as questões paisagísticas, as questões
sanitárias e o desenvolvimento socioeconômico da região dando publicidade e transparência
ao projeto.
No entanto é importante observar que, segundo Machado (2013) sem prévia
inclusão em lei ou em regulamento, a Administração Pública não pode exigir que a pessoa
física ou a pessoa jurídica sejam licenciadas ou autorizadas. O tempo da licença prévia é de
duração máxima de 5 anos, que deve estar fixada na própria licença.

2.2. Licença de instalação

A Licença de instalação tem um duplo conteúdo, que envolve dois aspectos.


Em primeiro lugar, se verifica a aprovação da infraestrutura, ou seja, a estrutura física para
receber a atividade ou o empreendimento. Em segundo lugar, as condicionantes ambientais,
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incluindo medidas de controle ambiental, que terão que ser cumpridas para o empreendedor
para chegar a terceira licença.
Caso a atividade ou o empreendimento sofra alguma alteração, a empresa deve
comunicar formalmente o órgão licenciador para uma nova estimativa. O tempo da licença
varia de acordo com o cronograma, porém sua duração máxima é de 6 anos.

2.3. Licença de operação

Por sua vez, a Licença de Operação é a última licença e concedida na última


fase do licenciamento ambiental. Aqui autoriza o funcionamento, ou seja, o inicio das
atividades ou do empreendimento. Tempo da licença: mínimo de 4 anos e máxima de 10 anos.
Essas licenças são prorrogáveis, desde que o empreendedor requeira em até 120 dias antes do
término de seu prazo.

3. Competência para Concessão de Licenciamento Ambiental

No Brasil, a competência para proceder ao licenciamento ambiental varia de


acordo com o interesse e o tamanho do empreendimento, assim como a magnitude dos
impactos e seus efeitos de acordo com a sua extensão. Em outras palavras, se os efeitos do
empreendimento transcendem aos territórios dos Estados-membros, portanto de extensão
nacional, compete à União. Assim, o órgão competente para a apreciação dos licenciamentos
é o IBAMA, nos casos de empreendimentos e atividades de âmbito nacional ou regional, tais
como, as localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar
territorial; na plataforma continental, na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em
unidades de conservação de domínio da União; empreendimentos e atividades localizadas ou
desenvolvidas em dois ou mais Estados; empreendimentos e atividades cujos impactos
ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;
empreendimentos e atividades destinadas a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear
em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia
Nuclear, o CNEN; bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a
legislação específica.
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O IBAMA, ressalvada a sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados


o licenciamento de atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional,
uniformizando, quando possível, as exigências.
A Resolução 237/97 do CONAMA, precisamente em seu art. 4º, I a V e § 2º,
determina que compete ao órgão ambiental dos Estados e do Distrito Federal o licenciamento
ambiental dos empreendimentos e atividades que estão localizados ou desenvolvidos em mais
de um Município ou em unidade de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal;
aqueles que estão localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação
natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei 4771 de 15 de setembro
de l965, e em todas as que assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou
municipais; as atividades e empreendimentos cujos impactos ambientais diretos ultrapassem
os limites territoriais de um ou mais Municípios; aqueles que foram delegados pela União aos
Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio
Ainda na Resolução 237/97 do CONAMA, notadamente, em seu art. 5º I a IV,
são disciplinadas as competências do órgão ambiental municipal, o licenciamento ambiental
de empreendimentos ou atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem
delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio.
Todos os órgãos do SISNAMA e integrantes podem licenciar, sejam da União,
dos Estados e dos Municípios e DF, pois constituem casos de competência comum. Ou seja,
tendo atribuição de execução, de controle, de poder de polícia, que tem competência para o
licenciamento ambiental e todos podem licenciar. NO entanto, a Lei Complementar nº.
140/11, determina em seu art. 13 que “o licenciamento ambiental é único, todos podem
licenciar, mas nem todos podem atuar no licenciamento a depender da atividade”.
Além da competência atribuída à União, aos Estados e aos Municípios, vale
destacar a Competência Ordinária e a Competência Subsidiária ou Supletiva, já que, em certos
casos, na falta de pronunciamento do órgão encarregado ou competente originariamente, o
órgão de outra esfera pode se pronunciar subsidiariamente, por exemplo, em caso de
apreciação por órgão representante da União, o órgão competente dos Estados pode realizar a
apreciação ou pronunciamento subsidiariamente.
A Competência Ordinária estabelece qual órgão ambiental, dentro do
SISNAMA, que atuará no processo do licenciamento ambiental. Sempre que a atividade tiver
repercussão nacional ou reflexos em mais de um Estado a competência será da União, como
estabelece o art. 7º, XIV, CF e, o órgão, como mencionado anteriormente é o IBAMA.
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Em relação às atividades que não extrapolam nos seus reflexos o Município, a


competência do Município tem que ser autorizada pelo CONAMA sobre as hipóteses de sua
atuação dentro dessa esfera. Na ausência de tal órgão no município, o Estado fará o
licenciamento.
Aos Estados cabe a competência residual desde que tenham o seu Conselho
Estadual do Meio Ambiente e tenha criado por lei o seu órgão de execução ambiental, ou seja,
aquele que vai controlar o meio ambiente, assim como a competência de poder de polícia
ambiental. Na impossibilidade do Estado, cabe a União licenciar o que o Estado não o faz à
título de competência suplementar ou extraordinária. No caso do Distrito Federal, aquilo que
cabe aos Municípios e residualmente ao Estado.
A Competência subsidiária é reservada aquela unidade de federação que não
tem a competência ordinária para atuar dentro do licenciamento ambiental e subsidiando o
órgão licenciador, com elementos técnicos e científicos de seu interesse. Talvez o motivo
mais importante da obrigatoriedade da licença ambiental seja a própria preservação ambiental
que ela assegura. Isso porque, os impactos sobre o meio ambiente de um empreendimento
podem ser inúmeros e variam também conforme o tipo de atividade exercida e o seu processo
produtivo.
Na elaboração do licenciamento são apresentadas inúmeras informações acerca
das atividades a serem exercidas pelo seu estabelecimento, e para algumas em específico que
possam causar danos ambientais, é obrigatório apresentar medidas que garantam que estes
danos não acontecerão.

4. Fundamentos Legais e Estudos Técnicos do Licenciamento Ambiental

A legislação brasileira relacionada ao meio ambiente é distribuída em diversas


leis e resoluções, entre os principais diplomas legais de alcance nacional estão: a Constituição
Federal de 1988; a Lei n°6.938/81, que define Política Nacional do Meio Ambiente; a Lei
Complementar n° 140/11, que estabelece as regras de competência para processar o
licenciamento ambiental; a Lei n°12.651/12, que disciplina o Código Florestal; a Resolução
n° 237/97, que determina quais atividades requerem o licenciamento ambiental, entre outras
regras gerais; a Resolução n° 001/86, que define quais atividades precisam apresentar Estudo
de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) no licenciamento; a
Resolução n° 009/87, que regulamenta os casos em que deve ser realizada audiência pública
no licenciamento ambiental e a Resolução n° 006/86, que delibera sobre as formas de dar
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publicidade ao licenciamento ambiental. Assim, o ordenamento jurídico brasileiro estabelece


os mecanismos necessários para o desenvolvimento econômico e observa a sustentabilidade,
como se observa nas normas supracitadas, os verbos demonstram tal preocupação, muito bem
observadas pela doutrina de Paulo Afonso Leme Machado, em sua obra “Direito ambiental
brasileiro”, na qual afirma:
A legislação brasileira, como a maioria das legislações de outros países, criou um sistema
de licenciamento ambiental, visando a controlar as atividades privadas e públicas que
possam causar dano ao meio ambiente. No Brasil, a intervenção do Poder Público em
relação ao meio ambiente tem seus fundamentos na própria Constituição, em seu art. 225,
especialmente o § lº., onde está indicada a forma de intervenção, podendo-se ver a sua força
nos verbos “preservar”, “restaurar”, “definir", “exigir”, “controlar”, “promover” e
“proteger”. (MACHADO, 2013, p. 334).

Não somente de caráter administrativo, o licenciamento ambiental é um instrumento de


política ambiental, formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o
início do programa, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação
proposta e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao
público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados.
Os procedimentos devem garantir a adoção das medidas de proteção do meio
ambiente determinadas, no caso de decisão sobre a implantação do projeto. A AIA, isto é,
avaliação de impacto ambiental são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos
ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou
empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida tais como:
relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,
diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise
preliminar de risco.
O EIA, ou seja, os Estudos de Impactos Ambientais subsidiam a Avaliação de
Impacto Ambiental. O RIMA, Relatório de Impacto Ambiental é um estudo das prováveis
modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que
podem resultar de um projeto proposto. Tais estudos, relatórios e avaliações se debruçam a
respeito da execução, por equipe multidisciplinar, das tarefas técnicas e científicas destinadas
a analisar, sistematicamente, as consequências da implantação de um projeto no meio
ambiente. O estudo se realiza sob a orientação da autoridade ambiental responsável pelo
licenciamento do projeto em questão, por meio de instruções técnicas específicas, ou termos
de referência, indica a abrangência do estudo e os fatores ambientais a serem considerados
detalhadamente.
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O objetivo do EIA é evitar que um projeto, justificável do ponto de vista


econômico ou em relação aos interesses imediatos do seu proponente, se revele
posteriormente prejudicial ou catastrófico para o meio ambiente. Por isso, o EIA exige
transparência administrativa, a consulta aos interessados, a previsão constitucional e
infraconstitucional Art. 225, § lº, IV Resolução 00 1/86 Do CONAMA; Resolução 006/86 do
CONAMA; Resolução 23 7/97 do CONAMA. Tal estudo deve ser anterior à autorização da
obra e/ou autorização da atividade. O Estudo não deve ser concomitante nem posterior à obra
ou atividade. A cada licenciamento da atividade poderá ser exigido um novo estudo.

Considerações Finais

Como se observou, o licenciamento ambiental assegura fases de acordo a


proporção do empreendimento ou atividade, bem como é organizado por órgãos
competentes que avaliam a viabilidade e conveniência da licença, já que, por ser temporária,
não garante direito vitalício ao empreendedor. A partir do AIA, do EIA e do REIA, é
possível prever as circunstâncias que a atividade ou empreendimento será desenvolvido,
bem como sua operação. Órgãos municipais, estaduais e federais fiscaliza, avaliam e, nos
casos de descumprimento da norma podem negar a renovação, como também anular a
licença, no caso de vício dos procedimentos de preenchimento dos requisitos ou de violação
dos princípios.
As fases do licenciamento procuram, por meios dos estudos mencionados
assegurar que o meio ambiente não seja prejudicado por mera razão econômica, de modo
que o aprofundamento dos estudos e a emissão de relatórios são elementos indispensáveis
para a avaliação da viabilidade e conveniência do projeto. No entanto, mesmo assim,
impactos e desastres acontecem, como em todos os lugares que estão sujeitos às ações
humanas. Por isso, nas questões ambientais, toda cautela é pouco, já que os danos são
irreparáveis e imensuráveis.
Mecanismos, órgãos, normas, equipes multidisciplinares se empenham não só
pela regulamentação das atividades, mas pela preservação do meio ambiente, pelo
desenvolvimento sustentável e pelo cuidado dos recursos naturais, da fauna, da flora e dos
seres humanos. Por isso, mesmo que o processo para a obtenção pareça demorado e
desgastante, tal desgaste não recai sobre a natureza e todos ganham com isso, já que na fase
de operação, os requisitos, preenchidos adequadamente, oferecerão um serviço pelo qual os
órgão, os empreendedores, os cidadãos e a natureza agradecem.
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Referências

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14ª. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21ª. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2013.

(STJ - AgRg no REsp: 1375651 SC 2013/0078529-8, Relator: Ministro SÉRGIO KUKINA,


Data de Julgamento: 27/10/2015, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
09/11/2015)

(STJ - AgInt no REsp: 1426007 MG 2013/0412313-0, Relator: Ministro SÉRGIO


KUKINA, Data de Julgamento: 15/06/2020, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJe 18/06/2020)

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