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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO”


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 7º SALA: 16B PERÍODO: Diurno

Ribeirão Preto

2/2020
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Princípio da Proteção Após a Reforma Trabalhista


Resumo
O presente texto tem a finalidade de esclarecer as transformações nas relações processuais
trabalhistas sob o prisma do Princípio da Proteção após a Reforma trabalhista, introduzida
pela Lei 13467/2017. Desse modo, a apresentação de elementos como honorários periciais,
sucumbenciais, homologação de acordo extrajudicial, assistência jurídica gratuita, prescrição
intercorrente e prazos processuais, são imprescindíveis para a abordagem frutífera do tema.

Introdução
O princípio da proteção também conhecido como princípio protetivo, protetor ou
tutelar é o mais importante dos princípios do direito do trabalho, do qual todos os demais
princípios decorrem, pois visa proteger a parte considerada como mais frágil na relação
jurídica que é o trabalhador. O princípio protetivo enuncia uma ideia que vai além da simples
igualdade entre as pessoas, porque almeja estabelecer um nivelamento das desigualdades que
se manifestam entre elas. A finalidade do princípio da proteção está relacionada com a ideia
de compensar o trabalhador no plano jurídico, haja vista que o empregado está prejudicado no
campo econômico.
Com a Reforma Trabalhista muito se subtraiu de tal noção, não somente no que se
refere ao direito material, mas também nas relações processuais, em virtude de certas
transformações implementadas que, sem dúvida, subverteram juridicamente princípios há
muito tempo consolidados pelo direito do trabalho e, em alguns casos, assegurados pela
Constituição Federal de 1988. Fatores como assistência jurídica gratuita, regulamentação de
honorários periciais e honorários sucumbenciais, por exemplo, trouxeram a onerosidade para
o trabalhador. Em contrapartida, Depósito recursal, revelia do reclamado, contagem dos
prazos em dias úteis, inegavelmente, trouxeram benefícios aos empregadores.
A partir da fundamentação em doutrinas processuais trabalhistas e na
jurisprudência atual, pretende-se abordar como a Reforma trabalhista, especificamente nas
relações processuais, sem quaisquer juízos de valor, alteraram, subverteram e minoraram o
Princípio da Proteção, um dos elementos que amenizavam as discrepâncias nas relações
trabalhistas, que refletia a isonomia constitucional.

Princípio da Proteção Após a Reforma Trabalhista


É possível conceituar o princípio protetivo como aquele que traz um mínimo de
garantias à parte mais fraca da relação, mediante a edição pelo poder público de normas
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impositivas que visam garantir o mínimo necessário ao trabalhador e diminuir as


desigualdades existentes na relação entre empregado e empregador. Tal princípio se
fundamenta na existência de uma desigualdade econômica entre os sujeitos da relação de
trabalho.
Compondo o princípio da proteção temos a expressão in dubio pro operario,
segundo o qual, face a possibilidade de diversas interpretações de uma mesma norma, o
magistrado deve fazê-la em benefício do trabalhador de modo a proteger a parte mais frágil da
relação. A aplicação da norma mais favorável parte da ideia de que, havendo normas versando
sobre o mesmo tema, mas com interpretações antagônicas, aplicar-se-á a mais vantajosa ao
empregado, sem levar em conta a hierarquia existente entre elas. Por sua vez, o princípio da
condição mais benéfica se difere do anterior por fazer alusão à existência de disposições
contratuais distintas e não mais de previsões normativas, sua aplicação pode ser observado
frente à súmula 51 do Tribunal Superior do Trabalho, conforme a qual “as cláusulas
regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os
trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento”.
Quando se afirmam que as alterações provadas pela Reforma Trabalhista, Lei
13.467/2017 relativizaram as relações de trabalho, isso não demonstra a profundidade de
certas mudanças, ao passo que o termo “relativizaram” poderia ser facilmente substituído por
“transformaram”, já que muitas proteções e amparos que estavam, até então, consolidados,
simplesmente, deixaram de existir e não é exagero considerar que tais transformações
prejudicaram muito os trabalhadores, ao passo que não seria viável dizer o mesmo, em relação
aos empregadores. Contudo, doutrinas atuais conceituam tal princípio nos seguintes termos:
Não nos parece aplicável o princípio da proteção no âmbito das relações processuais do
trabalho, porquanto a relação processual encontra-se estruturada a partir da noção de
igualdade entre as partes. Assim, não parece haver um valor atinente à proteção de uma
parte, em detrimento da outra (FILHO & SOUZA, 2020, p. 99).

Podemos dizer que o princípio da proteção o tutelar é peculiar tanto ao direito do trabalho
quanto ao direito processual do trabalho. Por meio dele, busca-se compensar a desigualdade
existente na realidade socioeconômica (entre empregado, geralmente o reclamante e
empregador, via de regra o reclamado) com uma desigualdade jurídica em sentido oposto
(LEITE, 2019, p. 107).

Os Honorários periciais e sucumbenciais sofreram alterações em relação ao modo


como estavam disciplinados. No caso dos honorários periciais que são geralmente requeridos
em virtude da insalubridade e da periculosidade. Antes da Lei 13467/17, os honorários
periciais eram responsabilidade da parte sucumbente, exceto se esta fosse beneficiária da
justiça gratuita. Assim, se o empregador perdesse, este era responsável pelo pagamento dos
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honorários periciais, por outro lado, se o empregado perdesse e fosse beneficiário da justiça
gratuita, os custos eram arcados pela União. No entanto, com o advento da reforma
Trabalhista, o empregado beneficiário da justiça gratuita estará sujeito ao pagamento de
honorários periciais, e os créditos obtidos em outros processos suportarão as despesas. Apenas
se tiver créditos a receber, nem receber nos próximos 2 (dois) anos, é que a União irá arcar
com a despesa. Por exemplo, se o empregado postular horas extras e adicional de
insalubridade, sendo vencido neste e vencedor naquele, poderá não receber nada, porque os
honorários periciais poderão ser pagos com esse saldo.
Essa alteração certamente intimida ao empregado, já que pode ingressar com a
reclamação trabalhista para receber adicional por insalubridade e obter resultado oneroso. Ou
ainda, sabendo do risco de não obter o adicional, caso busque seu direito no judiciário, os
empregados podem estar condenados a condições progressivamente mais injustas e
deploráveis em relação ao meio ambiente do trabalho, constitucionalmente tutelados em favor
da integridade física e psíquica. Além do mais, o mesmo raciocínio se aplica nas ações de
indenização por adoecimento e acidente de trabalho, que dependem da prova técnica para
serem concedidos.
Vale questionar se o empregado beneficiário da assistência jurídica gratuita é
beneficiário, de fato, dessa assistência, já que uma das principais finalidades dessa assistência
tem como requisito a comprovação de hipossuficiência que, subjacentemente, quer dizer que
o empregado não tem condições de suportar os custos processuais. O resultado disso não é tão
difícil de entender nem de se constatar, ou seja, é a diminuição de demandas postuladas por
empregados, já que, ao pleitear os seus direitos, sem dúvida, estará ameaçado pela
onerosidade processual. O que foi feito do Princípio da Proteção? Antes da reforma, o juiz
poderia conceder a justiça gratuita a quem recebesse até dois salários mínimos ou declarasse
estado de miserabilidade. A Reforma estabeleceu que o benefício da justiça gratuita será
concedido àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social
Na Justiça do Trabalho, a necessidade de se promover uma ação judicial tem
como causa, na maioria dos casos, o descumprimento da legislação trabalhista por parte do
empregador. Nesse sentido, incumbir o empregado da tarefa de arcar com as despesas
processuais é uma forma de transmitir a ele um ônus que deveria ser suportado pela parte
reclamada ou, até mesmo, ao próprio Estado. Em relação aos Honorários de sucumbência,
antes da Reforma Trabalhista eram incabíveis em razão da mera sucumbência.
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O princípio protetor fazia com que o empregador fosse sucumbente na maioria das
causas trabalhistas. O objetivo da reforma em linhas gerais é flexibilizar as normas, propiciar
que o trabalhador e o empregado possam ajustar diretamente suas questões contratuais,
fenômeno denominado de hiperssuficiência do trabalhador, de forma a não mais considerá-lo
parte hipossuficiente na relação jurídica.
Porém, após a Lei 13467/17, são cabíveis honorários, tanto para o reclamante
quanto para o reclamado. Os honorários variam entre 5% e 10%, e a compensação é vedada.
Os honorários são devidos aos advogados da parte vencedora, sendo que a parte vencedora
receberá tanto do seu cliente que contratou seus serviços, quanto da parte que, além de pagar
os honorários de seu advogado, mesmo não obtendo êxito na causa, deverá pagar os
honorários dos advogados da parte que venceu, isto é, os honorários de sucumbência, que
serão fixados em juízo. Além disso, o beneficiário da justiça gratuita terá de pagar essa
remuneração, caso ele tenha créditos a receber de outros processos, estes serão usados para
pagar os honorários advocatícios do que perder. Contudo, se não tiver, a cobrança ficará
suspensa pelo período de 2 anos, após esse intervalo, a obrigação de pagar será extinta. Será
que ainda é possível falar em assistência judiciária gratuita no processo trabalhista? Em caso
de sucumbência recíproca, os honorários respectivos deverão ser pagos, mas não em caso de
sucumbência parcial, tal como disciplina a seguinte jurisprudência do TRT:
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. SUCUMBÊNCIA PARCIAL. O empregado
somente pode ser condenado ao pagamento de honorários no caso de pedidos totalmente
rejeitados, porque a lei "não estabeleceu o pagamento de honorários em razão da
sucumbência parcial, mas tão somente em virtude de sucumbência recíproca" (RORSum-
0010650-57.2019.5.18.0053, Rel. Des. Silene Aparecida Coelho, j. 18/10/2019). Ressalva
de entendimento do relator. (TRT18, ROT - 0011092-40.2019.5.18.0015, Rel. MARIO
SERGIO BOTTAZZO, 3ª TURMA, 11/05/2020)
(TRT-18 - ROT: 00110924020195180015 GO 0011092-40.2019.5.18.0015, Relator:
MARIO SERGIO BOTTAZZO, Data de Julgamento: 11/05/2020, 3ª TURMA).

A reforma também provocou alterações na Exceção de incompetência que, se


apresentada, o processo é suspenso até o julgamento da exceção. Certas formalidades, tais
como os requisitos da Petição Inicial também foram alterados, ou seja, na maneira de
formulação dos Pedidos. Antes da Reforma, apenas no procedimento sumaríssimo era
necessário apresentar os pedidos líquidos. Hoje, a petição inicial tem que trazer o pedido
líquido e certo, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito.
O não comparecimento do reclamante em audiência importa em arquivamento do
processo e, por conseguinte, a condenação em pagamento das custas processuais, mesmo que
beneficiário da justiça gratuita. O depósito referente às custas processuais, é condição para a
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propositura de nova reclamação, salvo se restar comprovar que a ausência ocorreu por motivo
legalmente justificável. Nesse sentido, vejamos a jurisprudência do TRT:
RECURSO ORDINÁRIO. REFORMA TRABALHISTA. NÃO COMPARECIMENTO
DO RECLAMANTE À AUDIÊNCIA INAUGURAL. ARQUIVAMENTO DO
PROCESSO. CUSTAS JUDICIAIS DEVIDAS PELO AUTOR (ART. 844, § 2º DA
CLT). Extraindo-se dos autos o não comparecimento do autor à audiência inaugural, deve
o autor suportar o arquivamento do processo, bem como a obrigação quanto ao
pagamento das custas processuais (art. 844, § 2º da CLT), ainda que beneficiário da
justiça gratuita. Recurso a que se nega provimento. (Processo: ROT - 0000988-
26.2019.5.06.0143, Redator: Gisane Barbosa de Araujo, Data de julgamento: 16/04/2020,
Quarta Turma, Data da assinatura: 16/04/2020)
(TRT-6 - RO: 00009882620195060143, Data de Julgamento: 16/04/2020, Quarta
Turma).

O caput do art. 844 da CLT, mantido pela reforma, estabelece que o não comparecimento do
reclamante à audiência importa o arquivamento da reclamação, ao passo que o não
comparecimento do reclamado importa revelia, além de confissão quanto a matéria de fato. O
caput do art. 844, da CLT, consistia num dos principais exemplos da manifestação do
princípio da proteção no processo do trabalho, visto que foram acrescentados novos
parágrafos a esse artigo, que subverteram a situação de tal forma que a ausência à audiência
inicial acarretará muito mais transtornos ao trabalhador.
Na nova redação do art. 844 e seus novos parágrafos, considere-se o §2º, na
hipótese de ausência do reclamante, o empregado será condenado ao pagamento das custas
calculadas na forma do art. 789 da CLT, mesmo que seja beneficiário da justiça gratuita. Tal
condenação só será desconsiderada se, no prazo de 15 dias, o reclamante comprovar que a
ausência se deu por motivo legalmente justificável, o que não é tão simples, ou fácil, já que
uma interpretação restritiva, por exemplo, tal como dispõe a Súmula n. 122 do Tribunal
Superior do Trabalho, a ausência deveria ser comprovada somente com a apresentação de
atestado médico, que deverá declarar, expressamente, a impossibilidade de locomoção da
parte.
A condenação às custas será aplicada, mesmo que o reclamante seja beneficiário
da assistência jurídica gratuita e, ainda que não tenha condições de pagá-la, deverá pagar. Se
objetarem, por ventura, o que foi feito do o art. 5º, inciso LXXIV, da CFR/1988? Não
prestaria o Estado assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos? A reposta poderia ser o §3º, do mesmo art. 844, isto é, o pagamento das custas é
condição para nova propositura de demanda. Muito bem. Qual empregado em sua sã
consciência condenado nos termos do §2º proporia nova demanda? Além disso, para a
condenação nos termos do §2º, estaria presumida má-fé do empregado? Contudo, o inciso
XXXV, do art. 5º da CFR/1988 determina que a lei não excluirá da apreciação do Poder
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Judiciário lesão ou ameaça a direito. Não se pode negar a flagrante inconstitucionalidade do


dispositivo que viola a garantia de inafastabilidade da jurisdição, prevista no art. 5º, XXXV,
da Constituição.
Em caso de revelia e apresentação de defesa e documentos, ou seja, a ausência da
parte reclamada em audiência, antes da Lei 13467/17 implicava em revelia e confissão no que
tange aos fatos. A partir da Reforma, ainda que a parte reclamada não tenha comparecido em
audiência, caso o advogado esteja presente, este poderá entregar a contestação e os
documentos. Vale lembrar aqui o prejuízo em relação ao Princípio da Proteção. Geralmente,
nos processos trabalhistas, a parte reclamada, na grande maioria das demandas eram os
empregadores.
No que se refere à Homologação de acordo extrajudicial, que possibilita ao
empregador e ao empregado celebrarem por meio de um acordo, o pagamento das verbas
trabalhistas poderá ser homologado judicialmente. O processo de homologação de acordo
extrajudicial será iniciado por uma petição conjunta das partes, estas devem estar
acompanhadas por advogados diferentes. O juiz apreciará o acordo no prazo de 15 dias a
contar da distribuição da petição, que poderá designar audiência. É importante destacar que a
petição de homologação suspende o prazo prescricional para reclamação trabalhista, no que
referente aos direitos nela especificados. Mais uma modificação introduzida pela reforma por
meio do art. 855-B.
O referido dispositivo tem duas consequências lesivas ao trabalhador e, é claro, ao
Princípio da Proteção. De um lado prejudica o acesso dos trabalhadores à Justiça do Trabalho.
Por outro lado, pode estimular os empregadores a descumprir a lei trabalhista. O resultado
disso é fácil de prever, a saber, ao final do contrato, por meio de uma oferta de valor irrisório,
o empregador poderá buscar no “acordo extrajudicial” quitação de tudo que inadimpliu, e
nesse sentido a Justiça do Trabalho, a partir da homologação judicial que, nesse caso, não
significa nada mais que a anuência do juiz à subtração dos direitos trabalhistas distorce seu
próprio nome enquanto Justiça do Trabalho, compromete sua finalidade institucional.
É certo que o juiz não fará isso voluntariamente ou de má-fé, mas é preciso se
atentar a natureza desse acordo extrajudicial, pois é encaminhado por meio de petição
conjunta, assim o juiz não terá parâmetros para avaliar se o acordo é justo, prejudicial,
favorável, condizente ou não ao trabalhador que, nessa circunstância, o acordo representa a
verdade dos fatos, diferentemente da rotina das conciliações da Justiça do Trabalho, momento
em que o juiz analisa os fatos narrados na petição inicial e formula seu livre convencimento,
verifica se o valor oferecido está em conformidade com os direitos que seriam devidos ao
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empregado. Soma-se a tal aspecto que a homologação pode ser feita sem audiência e sem
oitiva das partes, dando ensejo a coação, restrição de direitos e, inclusive, fraude, pois quem
garante que os dois advogados que assinam a petição não sejam associados e prestadores de
serviço da empresa?
Outra mudança significativa é a extinção da Execução de ofício. Antes da Lei
13467/17, o cumprimento de sentença podia ser promovido de ofício pelo Poder Judiciário.
Após a Reforma, a Execução de ofício cede lugar à Execução iniciada pelas partes que, em
regra, será promovida pelas partes. Haverá execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do
Tribunal quando as partes não estiverem representadas por advogados.
Em relação aos indicadores de transcendência para o Recurso de Revista foram
regulamentados no art. 896-A, CLT, ou seja, para que suba para o TST, o relator deverá
analisar a presença dos indicadores objetivos para se reconhecer a transcendência dos
recursos, são eles: transcendência jurídica sobre matéria nova, transcendência política sobre
matéria velha que contrarie súmula ou orientação jurisprudencial do TST ou STF,
transcendência econômica, se o valor da causa for elevado e transcendência social, caso a
pretensão do empregado tratar de direito social constitucionalmente garantido.
O entendimento e o procedimento em torno do Depósito recursal também mudou.
Antes da reforma, a parte que era beneficiária da justiça gratuita, era isenta de custas,
entretanto, era necessário recolher depósito recursal. Após a Reforma, a parte beneficiária da
justiça gratuita é isenta de recolher depósito recursal. No entanto, quem realizava tal depósito?
De um modo geral, os empregadores, já que constituem a maioria dos reclamados em
processo trabalhista.
Os prazos processuais serão contados em dias úteis. No entendimento em relação
ao preposto. O preposto não precisa mais ser empregado da parte reclamada. O preposto em
audiência representa a empresa e o que ele disser ou não disser, quando deveria fazê-lo
caracteriza confissão, ou seja, as declarações do preposto comprometem e responsabilizam a
empresa. Quem será que foi beneficiado com isso, o empregador ou o empregado?
E ainda, a prescrição intercorrente passou a ser admitida no processo do trabalho.
Por prescrição intercorrente entende-se a perda da pretensão a direito no curso do processo,
em razão da inércia do titular dessa pretensão durante determinado prazo. Ela ocorre após a
citação do réu e há paralisação do processo por inércia do exequente. Essa prescrição inicia
novo curso e com o mesmo prazo, relativo à pretensão condenatória, a contar da data da
paralisação do processo. Assim, o empregado terá dois anos (bienal) para ingressar com ação,
a contar da cessação do contrato de trabalho. Já a prescrição quinquenal refere-se ao prazo em
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que o empregado pode reclamar as verbas trabalhistas que fizeram parte do seu contrato de
trabalho, a contar do ajuizamento da ação . A interrupção da prescrição intercorrente, incidente
na fase da execução judicial trabalhista, pode se dar por meio de protesto interruptivo, uma
vez que esta medida judicial (artigo 202 , II , do Código Civil ) é compatível com o Processo
do Trabalho, a teor do artigo 769 da CLT .
Distribuição do ônus da prova seguirá o mesmo procedimento do Código de
Processo Civil, ou seja, consiste em retirar o peso da carga da prova de quem se encontra em
evidente debilidade de suportá-lo, impondo-o sobre quem se encontra em melhores condições
de produzir a prova essencial para a solução do litígio. A edição de Súmulas pelo TST deverá
observar alguns requisitos para a sua edição efetiva, tais como, o voto de dois terços (2/3) de
seus membros, caso a matéria já tenha sido decidida de forma idêntica por unanimidade em,
no mínimo, 2/3 das turmas em pelo menos dez sessões diferentes.
Uma série de mudanças ocorreram, mas é evidente que o assunto não se esgota e,
certamente, o debate entre os doutrinadores que se debruçam sobre o tema ainda renderá
muitas páginas, assim como muita dor de cabeça aos advogados, e muito trabalho aos
Tribunais para uniformização da jurisprudência.

Considerações finais
O trabalhador move ação judicial após ter se desligado do emprego, de modo que
a imposição do pagamento das custas se dá, justamente quando o empregado não está
recebendo salário e, se ingressou com a ação trabalhista, provavelmente foi lesado em suas
verbas rescisórias ou, até mesmo, nem as recebeu. Então a penalidade é imposta para inibir o
não comparecimento. Se a sua ausência não consta em atestado médico que expressamente
especifique a impossibilidade de locomoção, incorrerá nos termos do §2º, do art. 844. Mas, e
sua mãe, esposa ou filho se acidentarem gravemente, forem brutalmente violentados ou
morrerem? Isso não é motivo para justificar a sua ausência?
O empregador, claro, terá um final de semana tranquilo, sem se preocupar com os
empregados que lutam pelos seus direitos, sem se preocupar em apressar-se para adimplir
suas obrigações, podendo até desfrutar de um feriado prolongado, caso coincida à época da
demanda, já que a nova contagem do prazo processual lhe favorece e, se faltar à audiência
inicial, seu advogado resolve. E nem o Depósito recursal ele precisa fazer.
O acordo extrajudicial é totalmente lesivo aos trabalhadores que poderão se
sujeitar a condições ainda piores do que a realidade atual, chancelado pelo Poder Judiciário
sem ouvir as partes envolvidas. A assistência jurídica gratuita é quase um fantasma que
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assombra o sonho do empregado que pretende receber o que é de seu direito. O art. 5º,
XXXV, LXXIV, da CF, são ignorados, e nenhuma ADI é postulada contra a Reforma.
Ainda chamam o empregado de hiperssuficiente, afirmando que atribuíram a ele
autonomia, quando, na verdade, retiraram de todas as formas o Princípio da Proteção, ou
consideram autonomia a assunção de toda onerosidade possível. Enfim, após a Reforma
trabalhista o Princípio da Proteção é a sombra de um passado que não mais existe, que projeta
um futuro obscuro, arraigada no presente da subtração dos direitos e da desigualdade social.
Referências

FILHO, Rodolfo Pamplona; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de direito processual do
trabalho. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
TRT-6 -RO: 00009882620195060143, Data de Julgamento: 16/04/2020, 4ª TURMA.

TRT-18-ROT: 00110924020195180015, Data de Julgamento: 11/05/2020, 3ª TURMA.

Vade Mecum OAB e concursos/obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a

colaboração de Lívia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

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