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1. Introdução
O estudo sobre salário e remuneração é um dos mais interessantes no Direito do Trabalho, não só por ser a principal
obrigação do empregador e o principal direito do empregado no contrato de trabalho, mas também em razão das
inúmeras conseqüências e reflexos que trazem ao contrato de trabalho, além do que é absolutamente incompatível com
esse contrato a gratuidade da prestação de serviços.1
Este trabalho tem por finalidade discutir os principais institutos que envolvem o tema, abordando-os no aspecto
doutrinário e jurisprudencial.
3.1. Gorjetas
As gorjetas estão previstas tanto no caput do artigo 457 da CLT quanto no § 3º do mesmo dispositivo.
Elas são classificadas em duas espécies: gorjetas próprias ou diretas e gorjetas impróprias ou compulsórias. A primeira
seria a gorjeta paga ao empregado diretamente pelo cliente, sem a intervenção ou intermediação do empregador,
enquanto a segunda seria aquela que o cliente paga ao empregador para somente a posteriori ser repassada ao
empregado, como é a conhecida taxa de serviço de 10% cobrada freqüentemente em restaurantes, bares e similares.
Embora muitas vezes seja difícil ao empregador controlar os valores recebidos pelo empregado a título de gorjetas
diretas, prevê nossa CLT que tanto uma quanto outra integram a remuneração do empregado, devendo inclusive ser
anotada na CTPS, ainda que por estimativa, conforme preceitua o artigo 29, § 1º, embora se exclua tal incidência de
algumas parcelas, tais como aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado, conforme
Enunciado nº 354 do TST. Portanto teríamos a integração das gorjetas para fins de 13º salários, férias + 1/3
constitucional, depósitos de FGTS, recolhimentos de INSS, etc.
A integração prevista pela Lei é de suma importância no contrato de trabalho, visto que o empregador poderia utilizar tal
artifício para pagar salário disfarçado ao empregado. Assim, por exemplo, quando da contratação, poderia alegar que o
empregado receberia por mês um valor “x”, sem mencionar que a parte fixa seria a metade daquele valor e a parte
variável seria composta pelas gorjetas.
Nesse sentido, José Martins Catharino faz excelente explanação quanto à situação narrada acima dizendo que o
trabalhador quando se emprega tem certeza de sua remuneração, pouco lhe importando que seja paga pelos clientes do
estabelecimento. Ainda mais: sabe que o valor das gorjetas que irá receber estará em função da classe do
estabelecimento de seu empregador; que dependerá da freguesia e dos preços cobrados. Por outro lado, a empresa
levando em conta tais fatores ao admitir o trabalhador, com ele estipula condições menos dispendiosas. (...) Alguns
autores, partindo da existência de onerosidade, procuram demonstrar que o empregador delega ao cliente a obrigação de
pagar o salário. Seria, como diz Botija, delegante o empresário, delegado o cliente e o empregado delegatário. A gorjeta
seria substitutiva em relação à remuneração direta que a empresa não paga.6 Portanto a integração de tal parcela na
remuneração visa à proteção do empregado, ressaltando a principal característica do salário que é o caráter alimentar.
3.2. Comissões
Nossa legislação trabalhista prevê o pagamento de comissões ao empregado em duas situações distintas: no artigo 457,
§ 1º, da CLT e na Lei 3.207/57, que trata dos vendedores viajantes ou pracistas.
Quanto aos empregados comissionistas regidos pela CLT, temos duas espécies: o comissionista puro e o comissionista
misto.
Na primeira situação, o empregado é contratado para receber exclusivamente comissões, sendo importante ressaltar
que, caso não atinja o mínimo previsto em lei (piso da categoria ou salário mínimo no caso de inexistência daquele), o
pagamento mínimo ser-lhe-á assegurado, conforme dispõem os artigos 78, da CLT, e 7º, VII, da CF.
No que tange às horas extras, também existe entendimento diferenciado quanto ao comissionista puro, que está inserido
no Enunciado nº 340, do TST, o qual prevê que, caso o empregado trabalhe além do seu horário normal, terá direito
apenas ao adicional de horas extras e não da hora acrescida de tal adicional.
Já o comissionista misto é aquele que recebe salário fixo acrescido das comissões, ou seja, independente do valor das
comissões que terá direito a receber, sempre fará jus à parte fixa pactuada.
Existem algumas regras especiais para os comissionistas, sendo uma delas a prevista no artigo 466, da CLT que dispõe
sobre o direito às comissões a partir da data da ultimação do negócio. Segundo Maurício Godinho Delgado, por
ultimação, considera-se a aceitação do negócio pelo comprador, nos termos em que lhe foi apresentado. Considera-se,
desse modo, ultimada a transação quando aceita pelo comprador nos termos em que lhe foi proposta.7
Há também a possibilidade de pagamento parcelado das comissões pelo empregador ao empregado quando a venda for
realizada sob esta modalidade. Nada mais justo, visto que o empregador não estaria obrigado a pagar comissão de uma
só vez sobre uma venda que receberia de forma parcelada. Porém o § 1º, do artigo 466, da CLT não se refere ao
recebimento da prestação para que, somente após, o empregado faça jus a sua parte da comissão, pois, ao se entender
de tal forma, estariam sendo transferidos ao empregado os riscos do empreendimento, o que é inadmissível no Direito do
Trabalho.
No mesmo sentido dispõe o § 2º, do artigo 466, da CLT, garantindo ao empregado o direito de receber as comissões
pelas vendas concluídas, ainda que haja a rescisão do contrato de trabalho, independente do motivo de tal ruptura.
Quanto aos vendedores viajantes ou pracista, vale observar as regras constantes da Lei nº 3207/57, sendo que o artigo
2º trata a respeito da área de atuação e das vendas, ou seja, se outro vendedor efetuar vendas numa área delimitada,
quem fará jus à comissão é o vendedor destinado àquela área; no artigo 3º existe a previsão do que seria a conclusão do
negócio, a dar ensejo ao vendedor o recebimento de comissões; no artigo 4º temos uma variante do pagamento das
comissões, que, no artigo 459 da CLT, é previsto como sendo pelo lapso temporal máximo de um mês, enquanto na
legislação específica pode ser pago por lapsos de até três meses após a aceitação do negócio, desde que tal ajuste seja
feito por escrito; conforme artigo 5º, as comissões das vendas a prazo podem ser pagas também de forma parcelada; no
caso de rescisão contratual as comissões serão devidas caso a venda tenha sido concretizada, conforme dispõe o artigo
6º.
5. Conclusão
Há grande importância na distinção entre os termos salário e remuneração, principalmente quando se verifica a
incidência de outras parcelas sobre estas, como é o caso de determinados adicionais que ora terão como base de
cálculo somente o salário e ora incidirão sobre a remuneração.
A CLT traz, de forma exemplificativa, as verbas que possuem natureza salarial ou não em seu artigo 457 e parágrafos.
Cada uma das parcelas citadas possui características próprias que as diferencia das demais, sendo imprescindível a
análise de cada uma delas e de sua natureza jurídica, a fim de se observar a possibilidade de sua integração e seus
reflexos em outras parcelas.
BIBLIOGRAFIA:
CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Salário. Edição fac-similada. 2a tiragem. São Paulo: LTr, 1994.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002.
MACHADO JUNIOR, César Pereira da Silva. Direito do Trabalho. São Paulo: LTr., 1999.
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 4ª ed., São Paulo: Atlas, 1995.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 20. ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Atlas, 2004.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro Nascimento. Teoria Jurídica do Salário. 2ª ed., São Paulo: Ltr, 1997.
___________ Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997.
SUSSEKIND, Arnaldo. MARANHÃO, Délio. VIANNA, Segadas, TEIXEIRA, Lima. Instituições de direito do trabalho. 20. ed.
atual., 1º vol., São Paulo: Ltr, 2002.
________________________________________________________
1. MACHADO JUNIOR, César Pereira da Silva. Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 324.
2. MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 4ª ed., São Paulo: Atlas, 1995, pp. 96-98; NASCIMENTO, Amauri Mascaro Nascimento. Teoria Jurídica do
Salário. 2ª ed., São Paulo: Ltr, 1997, pp. 70-73.
3. Id, ibidem.
4. Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997, p. 569.
5. Direito do Trabalho. 20ª ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 241.
6. Tratado Jurídico do Salário. Edição fac-similada. 2a tiragem. São Paulo: LTr, 1994, pp. 554/555.
7. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 722.
8. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 716.
9. Instituições de Direito do Trabalho. 20ª ed., 1º vol. São Paulo: LTr, 2002, p. 372.
10. TRT 2ª Região. Acórdão da 4ª Turma num: 20040338562, decisão: 29-6-2004. RO num: 02906/2003. Número único proc: RO01 – 02906-2001-066-02-00.
Fonte: DOE-SP de 13-7-2004.
11. DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit., p. 726.
12. Op. cit., p. 275.