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OS NOVOS TRABALHADORES DA REFORMA TRABALHISTA

Por Marcelo Maciel Martins1

Foi sancionada no dia 13 de julho de 2017 a Lei nº 13.467, que instituiu a


Reforma Trabalhista com normas que passaram a valer para todos os contratos a
partir de 120 dias da publicação da Lei, ou seja, a partir de 11 de novembro de
2017.

Iremos demonstrar neste pequeno arrazoado as novas figuras trazidas por essa
reforma, ainda que algumas delas já estivessem presentes em nosso cotidiano,
mas que somente após a Lei passaram a ser efetivamente regulamentadas pela
CLT.

O TRABALHADOR INTERMITENTE

Esta nova modalidade de contrato de trabalho, permite uma jornada de trabalho


móvel e variável. Nota-se que esse tipo de trabalho já era muito utilizado, de
maneira informal, por bares e restaurantes na contratação de garçons eventuais
em dias e horários de maior movimento. A lei trabalhista buscou regulamentar
essa prática, trazendo a para a formalidade.

O trabalhador admitido nesta modalidade de contrato, deverá ficar aguardando a


convocação de seu empregador para a prestação do serviço, a qual deverá
ocorrer com três dias corridos de antecedência, tendo o empregado o prazo
de um dia útil para responder. Se o empregado aceitar a convocação e, sem
justo motivo, deixar de comparecer, pagará multa de 50% da remuneração que
lhe seria devida.

Veja, nesse contrato não haverá garantia mínima de salário ou de número


de horas trabalhadas no mês. Será assegurado ao trabalhador somente que o
valor pago não poderá ser inferior ao valor hora do salário-mínimo ou daquele
devido aos demais empregados (com vínculo, p.ex.) que exerçam a mesma
função na empresa.

No final de cada período de prestação de serviço, haverá o pagamento imediato


da remuneração, de férias e 13º salário proporcionais, DSR, entre outros
adicionais que sejam eventualmente devidos (adicional noturno, insalubridade,
etc.). O FGTS e o INSS serão recolhidos com base nos valores pagos no
período mensal, se houver.

1
Advogado e professor pela Polícia Militar do Rio de Janeiro (CFSD), Exército Brasileiro (CGAEM) e
UFRRJ/UAB/CEDERJ.
Em suma, o empregado intermitente fará jus a todos os direitos trabalhistas,
inclusive registro na Carteira de Trabalho, mas não terá qualquer garantia quanto
ao recebimento de salário ou qualquer outro valor, pois, isto dependerá tão-
somente da convocação do empregador para a prestação de serviços, conforme a
necessidade do seu empregador.

Assim, este novo personagem (trabalhador intermitente), nos leva a concluir que
o desejo do legislador nesse caso foi de reduzir, tão-somente, o emprego
informal, legitimando essa prática de maneira que também pudesse ser tributada
e contabilizada para a redução dos números do governo relativos à taxa de
desemprego, contudo, com um olhar mais crítico, não vejo benefícios diretos ao
trabalhador, mas ao Governo Federal que passará a recolher com este tipo de
trabalhador, o que não acontecia antes.

O TRABALHADOR AUTÔNOMO EXCLUSIVO

Diz a lei que: “A contratação do autônomo, cumpridas por este todas as


formalidades legais, com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não,
afasta a qualidade de empregado.”

O trabalhador autônomo é tido como aquele que exerce a sua atividade


profissional por contra própria e com assunção dos próprios riscos. É o
próprio trabalhador que define quando, onde e de que forma irá desenvolver as
suas atividades.

A Relação desse trabalhador com o tomador de serviços é meramente de


natureza civil e não trabalhista, pois nesta relação não está presente o principal
requisito, qual seja, o da relação de emprego, isto é, a subordinação jurídica.

O trabalhador empregado se sujeita ao poder de direção do empregador, além de


aguardar e seguir as suas ordens na prestação dos serviços, sendo, portanto, um
trabalhador subordinado. Nota-se aqui que o desejo do legislador foi deixar clara
a possibilidade de existência de um trabalho autônomo de natureza exclusiva, o
que sempre foi rejeitado pela jurisprudência trabalhista.

Assim, essa nova previsão legal teve por objetivo enfraquecer, quiçá, derrubar o
forte posicionamento da Justiça do Trabalho que sempre atribuiu o vínculo
empregatício àquele trabalhador que presta serviços a uma única empresa,
subentendendo, apenas com base nesse fato, a subordinação jurídica própria do
vinculo de emprego.

Na verdade, a nova lei não trouxe uma novidade, apenas deixou mais claro o
ponto que trata a possibilidade de um trabalhador autônomo dedicar-se com
exclusividade a uma empresa, sem que isso viesse significar necessariamente a
subordinação própria do trabalhador empregado.

Contudo, há que se ressaltar que, se além da dedicação exclusiva, o trabalho


desse profissional também é controlado pela empresa tal qual o trabalho dos
demais empregados, restará descaracterizada a autonomia, configurando-se
o vínculo de emprego.

O EMPREGADO AUTOSSUFICIENTE

O empregado, por sua natureza jurídica, é considerado hipossuficiente, o que


significa, por depender economicamente do seu trabalho, não está em pé de
igualdade em caso de negociação com o empregador.

Com a entrada em vigor da Lei, qualquer tipo de negociação que implique em


prejuízo ao trabalhador, e que não esteja prevista por lei, somente pode ser por
meio de convenção ou acordo coletivo elaborado por sindicato de classe e, ainda
assim, desde que haja alguma contrapartida em benefício trabalhador.

Porém, com a vigência da Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467), passa a existir a


figura do Empregado Autosuficiente, que é aquele empregado que possui
curso superior e salário superior a duas vezes o teto da previdência, que hoje
seria um salário maior que R$ 11.062,62.

Segundo a redação do art. 444 da CLT, as cláusulas do contrato, deste tipo de


empregado, terão a mesma força que uma convenção ou acordo coletivo
firmado por sindicato, e ainda poderão prevalecer sobre a lei. Vale dizer que,
para o legislador reformador, o trabalhador mais esclarecido culturalmente e com
uma remuneração maior se encontraria em pé de igualdade com o empregador
para negociar suas cláusulas contratuais.

Por óbvio que isso não é verdade, pois ainda que o empregado receba uma renda
mais elevada, a subordinação sempre estará presente, sendo inclusive maior
nesse patamar, pois, tais empregados possuem um padrão salarial mais difícil de
ser encontrado no mercado de trabalho e, para mantê-lo, sujeitam-se às
imposições do empregador, ainda que não lhes sejam favoráveis, por temerem
um desligamento e não ter outro empregador que esteja em condições de cobrir
as oferta de trabalho anterior.

Desta forma, com o alto índice de desemprego e a crise econômica que assola o
país, seria impossível imaginar que um alto empregado pudesse negociar as
cláusulas de seu contrato de trabalho em pé de igualdade com o seu empregador,
exceto raríssimas exceções que jamais poderiam ser tomadas como regra.
Portanto, trata-se de uma nova categoria de empregado criada pela Reforma
Trabalhista.

Por fim, essas são as novas figuras trazidas pela Reforma Trabalhista que, em
alguns pontos, criou uma nova situação jurídica, como nas figuras do empregado
autossuficiente e do empregado intermitente, já em outros buscou apenas
regulamentar situações já bastante difundidas, como a do empregado em regime
de teletrabalho e o prestador de serviço autônomo com dita exclusividade.

O TRABALHADOR EM REGIME DE TELETRABALHO

Com o aumento do uso da tecnologia e dos meios de comunicação, tem-se


tornado, cada vez mais comum a contratação de trabalhadores em regime de
teletrabalho. É altamente vantajoso para as empresas, pois, podem manter a sua
estrutura mais enxuta e com menos empregados presenciais, sendo também
vantajoso ao este empregado, já que se que evita o transtorno de deslocar-se até
o trabalho, prestando os serviços na comodidade do seu lar e em total conforto.

Este tipo de trabalho, sempre foi largamente executado, sendo uma prática
muito comum, pois, não havia uma regulamentação para essa modalidade de
prestação de serviço, motivo pela qual se gerava certa insegurança jurídica às
empresas quando neste tipo de contratação. Logo, a novidade legislativa veio em
boa hora.

Desta forma, a nova lei, estabeleceu que o teletrabalho é “a prestação de serviços


preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de
informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.”

Vale lembrar que a lei deixa ainda claro que o comparecimento do empregado na
empresa para a realização de atividades específicas não descaracteriza o regime
de teletrabalho. No contrato de trabalho desta modalidade deverá prever o tipo
de prestação de serviço, bem como a atividades que serão realizadas.

Já o trabalhador em regime presencial, poderá ser posto para atuar em regime de


teletrabalho, desde que haja acordo mútuo entre as partes, devidamente
registrado em aditivo contratual. No entanto, já a alteração de regime de
teletrabalho para regime presencial poderá ser feita unilateralmente pela empresa,
independentemente da concordância do empregado, garantido o prazo de
transição mínimo de quinze dias.

Destaca-se que a principal novidade em relação a esse trabalhador diz respeito à


sua jornada de trabalho. A nova lei excluiu esse trabalhador do controle de
jornada, ou seja, não terá direito à horas extras ou hora noturna.
Portanto, ainda que seja possível ao empregador controlar por meios telemáticos
o tempo que o empregado ficou à sua disposição, esse trabalhador não fará jus às
horas extraordinárias que eventualmente realizar, pois não se sujeita ao controle
de jornada.

Espero que todos tenham ótima percepção quanto as alterações.


Bons estudos e abraços a todos.

Prof. Marcelo Martins

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