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AULA 101

Nesta apostila, iniciaremos o estudo sobre remuneração e salário,


lembrando que da aula 8 nós saltamos para a aula 11 uma vez que as aulas 9
e 10 foram destinadas às provas.

10- REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

Nesta primeira parte sobre remuneração e salário, vamos abordar os


seguintes temas: os conceitos de remuneração e salário; o processo de
formação do salário e salário “in natura”.

10.1- Conceitos de remuneração e salário:

Remuneração é a contraprestação paga diretamente pelo


empregador e por terceiros ao empregado.

O montante pago pelo empregador ao empregado compreende o


salário, enquanto que o montante pago por terceiros é composto de gorjetas
concedidas diretamente ao empregado ou cobradas pelo empregador na nota
de serviço (art. 457, § 3º, da CLT).

Em síntese, remuneração é igual a salário mais gorjetas.

Salário é a contraprestação paga diretamente pelo empregador ao


empregado, que não poderá ser inferior ao salário mínimo (art. 76, da CLT).

O salário mínimo é a contraprestação mínima que qualquer


empregado deve receber de seu empregador, considerando-se o valor da hora
de trabalho e não o valor nominal mensal, uma vez que o empregado pode ser
contratado sob o regime de tempo parcial ou para trabalho intermitente.

O salário mínimo é estipulado por lei ordinária federal, nacionalmente


unificado, ficando proibida a remuneração de qualquer espécie de serviço por
valor abaixo do legalmente estabelecido (art. 7º, IV, da CF/88).
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Texto elaborado com base no livro: Direito do Trabalho para o Exame de Ordem, 2ª ed. Kindle. 2018, de autoria do
professor.
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Assim, via de regra, se alguém é contratado para trabalhar, por


exemplo, 03 horas por dia, de segunda-feira a sábado, e, se o salário pago for
o mínimo, o empregado receberá o equivalente a 03 horas por dia do valor do
salário mínimo e não o valor integral do salário mínimo ao final do mês.

Além do salário mínimo nacionalmente unificado, há a possibilidade


de os Estados instituírem o salário mínimo estadual, também chamado de
piso salarial estadual, em valor superior ao salário mínimo nacionalmente
unificado e que será aplicado apenas às categorias não organizadas em
sindicatos, nos termos da LC n. 103, de 2000.

10.2- Formação do salário: o salário compreende um conjunto de parcelas,


previstas em lei, em norma coletiva, norma de empresa e no contrato individual
de trabalho, que deve integrar o valor final a ser pago ao empregado, formando
o denominado complexo salarial.

O complexo salarial forma-se pela integração das seguintes


parcelas:

1ª) Salário base: o salário base representará o valor básico sobre o


qual todas as demais verbas deverão incidir para o cálculo do salário a ser
pago ao empregado. Esse salário base será o equivalente ao salário contratual;
ao salário normativo, também denominado de piso salarial; ao salário
profissional, como no caso dos médicos (Lei n. 3.999/61 e Súmula 143, do
TST), engenheiros (Lei n. 4.950-A), radiologistas (Lei n.º 7.394/85 e Súmula
358, do TST) etc. ou, na falta de qualquer destes, ao salário mínimo.

2ª) Adicional: é o pagamento efetuado pelo empregador ao


empregado em virtude do trabalho exercido em condições especiais (art. 457,
caput, da CLT). Os principais adicionais são os seguintes:

• Insalubridade – 10%, 20% ou 40%, dependendo do grau de


exposição do empregado ao agente nocivo à sua saúde, a ser calculado sobre
o salário mínimo;

• Periculosidade – 30% calculado sobre o salário base, sem os


acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da
empresa;
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• Transferência – 25% calculado sobre o salário base;

• Noturno – 20% calculado sobre o valor da hora diurna, que é


calculada sobre o salário base e

• Horas extras - 50% sobre o valor da hora normal.

3ª) Comissão: é a contraprestação mensal referente à produção do


empregado. A produção do empregado poderá ser estipulada em percentagem
sobre o valor de cada produto ou de um valor fixo em relação a cada produto
vendido ou produzido. Portanto, é normalmente estipulada para quem trabalha
com vendas ou recebe por peça ou tarefa (art. 457, § 1º, da CLT).

Existem dois sistemas de comissionamento: o comissionamento puro


e o comissionamento misto.

No comissionamento puro, o salário do empregado é constituído


integralmente dos valores decorrentes das comissões que receber pelo total
das vendas efetuadas em um mês ou da quantidade de peças ou tarefas
produzidas no mesmo período.

Já no comissionamento misto, o empregador arca com uma parte


fixa e a outra será composta pelos valores decorrentes das comissões que o
empregado receber em virtude das vendas efetuadas em um mês ou da
quantidade de peças ou tarefas produzidas no mesmo período.

Os empregados que recebem salário à base de comissionamento


puro ou misto jamais poderão receber salário inferior ao mínimo, sendo, ainda,
vedado ao empregador efetuar descontos compensatórios nos meses
subsequentes.

Vale deixar consignado aqui que essa forma de pagamento dos


salários do empregado não se confunde com a remuneração paga aos
empregados que recebem gorjetas, que também são pagos por uma parte fixa
(diretamente pelo empregador – salário) e outra variável (por terceiros –
gorjetas). A diferença consiste na espécie remuneratória, ou seja, quem recebe
por comissão, recebe salário (do empregador); quem recebe gorjetas, recebe
remuneração (de terceiros e do empregador).

4ª) Gratificação: segundo Delgado (2007, p. 740),


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As gratificações consistem em parcelas contraprestativas pagas


pelo empregador ao empregado em decorrência de um evento ou
circunstância tida como relevante pelo empregador (gratificações
convencionais) ou por norma jurídica (gratificações normativas).

Portanto, as gratificações são desvinculadas da conduta pessoal do


empregado ou coletiva dos trabalhadores da empresa ou estabelecimento.
Exemplos: gratificação de fim de ano; gratificação de aniversário da empresa;
gratificação natalina etc.

Contudo, atualmente, com as atuais redações dos §§ 1º e 2º, do art.


457, da CLT, pensamos que as gratificações que integram o salário do
empregado são apenas as gratificações legais, as contratuais e as decorrentes
de negociação coletiva, uma vez que o § 2º do art. 457, da CLT, inseriu a figura
do abono, ao lado da figura do prêmio, como espécies remuneratórias que não
integram o salário do empregado. Assim, as gratificações concedidas por mera
liberalidade do empregador devem ser consideradas como abonos e não mais
gratificações.

10.3- Salário-utilidade ou “in natura”: é o pagamento de parte do salário em


utilidades, que são bens concedidos ao empregado pelo trabalho e não para o
trabalho (art. 458 da CLT). Para a configuração do salário utilidade faz-se
necessária a observância dos seguintes requisitos:

1º) habitualidade do fornecimento. Não será o fornecimento ocasional


que ensejará a incorporação ao salário da prestação in natura. O fornecimento
tem de ser habitual, não podendo ser efetuado com bebidas alcoólicas e/ou
drogas nocivas à saúde do empregado, nos termos da parte final do caput, do
art. 458, da CLT e Súmula 367, do TST, que preceituam:

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no


salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação,
vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por força
do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado.
Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas
ou drogas nocivas.
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SÚMULA 241 - SALÁRIO-UTILIDADE. ALIMENTAÇÃO - O


vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem
caráter salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos
os efeitos legais.

2º) Fornecimento pelo trabalho executado. O bem dado ao


empregado deve ter a finalidade de incentivo por ter aceitado trabalhar para
aquele empregador (art. 458, I, parte final, do art. 458, da CLT). Nesse sentido,

SÚMULA 367 - UTILIDADES "IN NATURA". HABITAÇÃO.


ENERGIA ELÉTRICA. VEÍCULO. CIGARRO. NÃO
INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. I - A habitação, a energia elétrica
e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando
indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza
salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo
empregado também em atividades particulares. II - O cigarro não se
considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde.

3º) Ausência de lei ou norma coletiva que autorize seu pagamento,


sem a respectiva integração ao salário do empregado: a lei, a convenção
coletiva ou o acordo coletivo de trabalho podem excluir que determinado bem
seja integralizado ao salário do empregado. Nesse caso, o fornecimento desse
bem pelo empregador não será considerado salário in natura.

Assim, nos termos do art. 458, § 2º, da CLT, não integram o salário do
empregado:

I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos


empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;
cabendo ao empregador definir o padrão de vestimenta no meio ambiente
laboral, sendo lícita a inclusão no uniforme de logomarcas da própria empresa
ou de empresas parceiras e de outros itens de identificação relacionados à
atividade desempenhada (art. 456-A, da CLT). Nesse caso, A higienização do
uniforme é de responsabilidade do trabalhador, salvo nas hipóteses em que
forem necessários procedimentos ou produtos diferentes dos utilizados para a
higienização das vestimentas de uso comum (art. 456-A, parágrafo único, da
CLT).
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II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,


compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros
e material didático;

III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno,


em percurso servido ou não por transporte público;

IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada


diretamente ou mediante seguro-saúde, sendo que o valor relativo à
assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio ou não,
inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos
ortopédicos, próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras
similares, mesmo quando concedido em diferentes modalidades de planos e
coberturas, não integram o salário do empregado para qualquer efeito nem o
salário de contribuição, para efeitos do previsto na alínea q do § 9o do art. 28
da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991 (art. 458, § 5º, da CLT).

V – seguros de vida e de acidentes pessoais;

VI – previdência privada, e

VIII – o valor correspondente ao vale-cultura.

Ou seja, os bens citados e concedidos pelo empregador ao


empregado não serão considerados parte do salário por exclusão legal.

A lei fixa percentual máximo de desconto para o oferecimento de


habitação e alimentação, dispondo que a habitação e a alimentação fornecidas
como salário-utilidade deverão atender aos fins a que se destinam e não
poderão exceder, respectivamente, a 25% (vinte e cinco por cento) e 20%
(vinte por cento) do salário-contratual (art. 458, § 3º, da CLT), sendo que,
tratando-se de habitação coletiva, o valor do salário-utilidade a ela
correspondente será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo
número de ocupantes, vedada, em qualquer hipótese, a utilização da mesma
unidade residencial por mais de uma família (art. 458, § 4º, da CLT).

Os bens que forem fornecidos aos empregados que recebem salário


mínimo não poderão suplantar 70% (setenta por cento) do valor do salário
mínimo, nos termos do art. 82, parágrafo único, da CLT. Ou seja, pelo menos
30% do salário mínimo deve ser pago ao empregado em dinheiro (art. 82,
parágrafo único, da CLT).
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Esses percentuais previstos em lei para o salário mínimo não se


aplicam ao empregado que não recebe salário mínimo.

SÚMULA 258 - SALÁRIO-UTILIDADE. PERCENTUAIS. Os


percentuais fixados em lei relativos ao salário "in natura" apenas se
referem às hipóteses em que o empregado percebe salário mínimo,
apurando-se, nas demais, o real valor da utilidade.

Há de se ressaltar que todas as parcelas de natureza salarial deverão


ser discriminadas no contracheque do empregado, tendo em vista que não se
admite o salário complessivo, nos termos da Súmula n. 91 e do Precedente
Normativo n. 93, do TST.

Exercício 61 - Advogado – Prefeitura de Gravatá – PE – 2020 - Analise as


afirmativas a seguir:
I. O salário-mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo
empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo,
por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do país,
as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte,
de acordo com o artigo 76, do decreto-lei nº 5.452, de 1943.
II. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais
ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por
equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do
trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre
de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
público, conforme dispõe o artigo 8º, do decreto-lei nº 5.452, de 1943.
Marque a alternativa CORRETA:
A) As duas afirmativas são verdadeiras.
B) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
D) As duas afirmativas são falsas.

Exercício 62 - Advogado – Prefeitura de São Roque – SP – 2020 - Adaptado -


Quanto às gorjetas e comissões, é correto afirmar que
A) ambas integram a remuneração do empregado e podem compor o salário-mínimo
legalmente previsto.
B) apenas as comissões podem compor o salário-mínimo legalmente previsto.
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C) ambas possuem natureza indenizatória e não se sujeitam aos descontos


previdenciários.
D) apenas as comissões e gorjetas compulsórias integram a remuneração.

Exercício 63 - Advogado – Prefeitura de Andradas – MG – 2019 - Joaquina trabalha


como garçonete na lanchonete “Hamburgueria Ltda”. No fim do último mês, recebe um
total de R$ 3.500,00, sendo R$ 2.000,00 referente ao pagamento feito diretamente pelo
empregador e R$ 1.500,00 pago pelos clientes como doação ante o atendimento
gracioso e atencioso por ela prestado. Diante dessa situação, é correto afirmar que:
A) R$ 3.500,00 é o salário de Joaquina.
B) R$ 2.000,00 é o salário de Joaquina.
C) R$ 1.500,00 é a remuneração de Joaquina.
D) R$ 2.000,00 é a remuneração de Joaquina.

Exercício 64 - TRT20 – 2016 – ANALISTA JUDICIÁRIO – QUESTÃO 38 – Juno


trabalhou por oito meses como vigilante bancário, exercendo atividades que, por sua
natureza ou métodos de trabalho, implicavam risco acentuado pela exposição
permanente a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais
de segurança patrimonial. Nessa situação, Juno fará jus a adicional de
(A) insalubridade no valor de 30% da remuneração global, incluindo os acréscimos
decorrentes de gratificações e prêmios.
(B) periculosidade no importe de 10%, 20% ou 40% do salário mínimo, conforme o
grau de risco da exposição verificado em perícia de engenheiro ou médico do trabalho.
(C) penosidade no importe de 10%, 20% ou 40% do salário básico, conforme o grau de
risco da exposição verificado em perícia de engenheiro ou médico do trabalho.
(D) periculosidade no importe de 30% sobre o salário básico, mas sem descontar ou
compensar deste adicional outros da mesma natureza eventualmente já concedidos ao
vigilante por meio de acordo coletivo.
(E) periculosidade no valor de 30% sobre o salário sem os acréscimos resultantes de
gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.

Exercício 65 - Procurador – Prefeitura da Estância Turística de Guaratinguetá –


SP – 2019 - Para efeitos legais, serão consideradas como salário as seguintes utilidades
concedidas pelo empregador:
A) vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados
no local de trabalho, para a prestação do serviço.
B) educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os
valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático.
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C) a alimentação, habitação, vestuário que a empresa, por força do contrato ou do


costume, fornecer habitualmente ao empregado.
D) seguros de vida e de acidentes pessoais.
E) previdência privada.

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