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DIREITO DO TRABALHO II

MÓDULO 1
RETRIBUIÇÃO

1. Introdução

- Retribuição significa uma contraprestação pela energia de trabalho posta pelo


empregado.
- Esse retorno pecuniário, de uma forma geral, atende por salário (que é
apenas uma componente, sendo a principal).
- Salário vem de sal, porque no Império Romano o pagamento aos soldados
era com sal através do escambo.
- Salário não atende a todo tipo de trabalhador, visto que depende do
destinatário:

a) Militar recebe: soldos


b) Agentes públicos recebem: vencimentos
c) Profissionais liberais recebem: honorários
d) Empregado via CLT recebe: salário

- Vale lembrar que “salário-família”, “salário-maternidade” e afins não são


salários, apenas benefícios.

2. Parcelas oriundas do trabalho

- Parcelas de natureza retributiva:

i. Salarial: Parcelas que são formas de retribuição pela energia de


trabalho posta ao empregador, seja ela paga pelo empregador ou por
terceiros
ii. Não salarial: Prestam-se a três outras finalidades, em regra:

(a) Ressarcir gastos;


(b) Indenizar prejuízos;
(c) Multas

iii. Não trabalhistas (considerada por parte da doutrina): São alheias ao


contrato:
(a) Direito de uso de imagem
(b) Stock Option

2.1 Parcela de natureza salarial

2.1.1 Salário

2.1.1.1 Unidade básica de retribuição – retribuição às horas


trabalhadas (energia de trabalho)

- O salário pode ser aferido por alguns procedimentos:

a) Trabalho por unidade de tempo: Sujeito contratado para receber por


hora trabalhada (horista); por dia trabalhado (diarista); por semana
trabalhada (semanalista ou quinzenalista, caso seja chamado a cada
duas semanas); por fim o mais comum que é o pagamento por mês
trabalhado (mensalista). Vale lembrar que dentro do salário mensal já
estão contidas as horas trabalhadas juntamente com os dias de repouso
(repouso semanal remunerado).
b) Trabalho por unidade de produção: Exemplo do vendedor que é pago
por comissão de vendas. A remuneração deve respeitar o salário
mínimo legal e o tempo de descanso.
Um segundo exemplo é o trabalhador contratado por m² de terra arado.
O terceiro exemplo é um trabalhador que ganha por linha telefônica
instalada.
Em todos os casos é DEVIDO o repouso semanal remunerado
obrigatório, visto que não está embutido nesse pagamento, por isso
deve ser calculado de forma separada.
Súmula nº 27 do TST
COMISSIONISTA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
É devida a remuneração do repouso semanal e dos dias feriados ao empregado
comissionista, ainda que pracista.

Súmula nº 340 do TST


COMISSIONISTA. HORAS EXTRAS (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
O empregado, sujeito a controle de horário, remunerado à base de comissões, tem
direito ao adicional de, no mínimo, 50% (cinqüenta por cento) pelo trabalho em horas
extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês, considerando-se
como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas.

Art. 7º/CF São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável;

c) Critério misto – Trabalho por unidade de tarefa: é a unidade de


produção dentro de determinado tempo.
O exemplo é a obrigatoriedade de vender, no mínimo, 100 camas dentro
de um mês.

* Há um tipo de contrato que possui unidade de tempo e unidade de produção,


entretanto eles se mantem autônomos entre si, o que é muito comum.
Exemplo: Remuneração de R$ 1.000,00 + 3% das vendas.

2.1.1.2 Piso

a) Salário mínimo: Fixado por lei, unificado nacionalmente e pela CF se


destina a atender necessidades básicas do cidadão (moradia,
alimentação, saúde, ...).
A Constituição define o reajuste para que se preserve o seu valor, não
podendo ser reajustado em uma porcentagem maior que o índice
inflacionário do ano anterior.
A Constituição também impossibilita a vinculação do salário mínimo para
a base de cálculo salarial

Súmula Vinculante 4/STF: Salvo nos casos previstos na Constituição, o


salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo
de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído
por decisão judicial.

Norma coletiva pode estabelecer o parâmetro INICIAL igual a, por


exemplo, dois salários mínimos. Só não pode vincular o reajuste salarial
com o reajuste salarial do salário mínimo.
71. AÇÃO RESCISÓRIA. SALÁRIO PROFISSIONAL. FIXAÇÃO.
MÚLTIPLO DE SALÁRIO MÍNIMO. ART. 7º, IV, DA CF/88 (nova
redação) - DJ 22.11.2004
A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não afronta
o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em
vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática
do salário pelo reajuste do salário mínimo.

O TST entende que na contratação de trabalho com jornada reduzida pode haver
a remuneração proporcional a carga horária trabalhada de acordo com o salário
mínimo (por exemplo, se uma pessoa trabalha 4 horas/dia, receberá meio
salário-mínimo).
358. SALÁRIO MÍNIMO E PISO SALARIAL PROPORCIONAL À
JORNADA REDUZIDA. EMPREGADO. SERVIDOR PÚBLICO (redação
alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.02.2016) - Res.
202/2016, DEJT divulgado em 19, 22 e 23.02.2016
I - Havendo contratação para cumprimento de jornada reduzida, inferior à previsão
constitucional de oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais, é lícito o pagamento
do piso salarial ou do salário mínimo proporcional ao tempo trabalhado.
II – Na Administração Pública direta, autárquica e fundacional não é válida
remuneração de empregado público inferior ao salário mínimo, ainda que cumpra
jornada de trabalho reduzida. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
b) Salário Mínimo Específico Federal: Sempre igual ou superior ao
mínimo legal.
Especial por categoria. Exemplo: Técnico em radiologia ganha dois
salários mínimos profissionais aplicados no estado.

c) Salário Mínimo Especifico Legal Estadual: Respeitado o patamar


mínimo constitucional.
Lei Complementar 103/2000
Art. 7º, V / CF: piso salarial proporcional à extensão e à complexidade
do trabalho;

d) Convencional
e) Contratual

2.1.1.3 Teto

Iniciativa Privada: Não há teto salarial


Iniciativa Pública: O teto são os subsídios dos ministros do Supremo Tribunal
Federal
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e
dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo,
o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público,
aos Procuradores e aos Defensores Públicos;

*Em nossos estudos só nos interessa o teto dos empregados público, por
serem celetistas.

Obs.: Regra Específica aos empregados públicos, por concorrerem com a


iniciativa privada:
Art. 37, § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades de
economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
geral.

Dessa forma, o vínculo com o teto só será possível para empresas que
recebem repasse de dinheiro da União, dos estados ou dos municípios.
Entretanto, o TST ignorou a OJ 339 SDI 1 e com isso o teto passou a servir a
todos os empregados públicos.

339. TETO REMUNERATÓRIO. EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. ART.


37, XI, DA CF/88 (ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 19/98) (nova redação) - Res.
129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
As empresas públicas e as sociedades de economia mista estão submetidas à observância do
teto remuneratório previsto no inciso XI do art. 37 da CF/88, sendo aplicável, inclusive, ao
período anterior à alteração introduzida pela Emenda Constitucional nº 19/98.

2.1.1.4 Formas de pagamento

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário,


para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras
prestações "in natura" que a empresa, por força do contrato ou do
costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será
permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.

§ 1º Os valores atribuídos às prestações "in natura" deverão ser justos e razoáveis, não
podendo exceder, em cada caso, os dos percentuais das parcelas componentes do salário-
mínimo (arts. 81 e 82).
§ 2o Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como
salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:

I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e


utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;

II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,


compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e
material didático;

III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em


percurso servido ou não por transporte público;

IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou


mediante seguro-saúde;

V – seguros de vida e de acidentes pessoais

VI – previdência privada

VIII - o valor correspondente ao vale-cultura

§ 3º - A habitação e a alimentação fornecidas como salário-utilidade


deverão atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder,
respectivamente, a 25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento)
do salário-contratual.

§ 4º - Tratando-se de habitação coletiva, o valor do salário-utilidade a ela correspondente


será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo número de coabitantes, vedada,
em qualquer hipótese, a utilização da mesma unidade residencial por mais de uma
família.

§ 5o O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio


ou não, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos,
próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras similares, mesmo quando concedido
em diferentes modalidades de planos e coberturas, não integram o salário do empregado para
qualquer efeito nem o salário de contribuição, para efeitos do previsto na alínea q do § 9o do
art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991.

Súmula nº 367 do TST


UTILIDADES "IN NATURA". HABITAÇÃO. ENERGIA ELÉTRICA. VEÍCULO.
CIGARRO. NÃO INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO (conversão das Orientações
Jurisprudenciais nºs 24, 131 e 246 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando
indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de
veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares
II - O cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde.

A Lei do Rural – Lei nº 5.889 – inverte os valores:


a) Não pode exceder 20% do salário para moradia
b) Não pode exceder 25% do salário par alimentação

 Utilidades não salariais:


Listagem no §2º do artigo 458/CLT
 Exceção à alimentação decorrente da Lei nº 6.321/76, conhecida como
PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador):

- A ajuda alimentação deixa de integrar o salário se a empresa estiver


vinculada à PAT

Súmula nº 241 do TST


SALÁRIO-UTILIDADE. ALIMENTAÇÃO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
O vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem caráter salarial,
integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos legais.

OJ SDI 1 - 133. AJUDA ALIMENTAÇÃO. PAT. LEI Nº 6.321/76. NÃO


INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO (inserida em 27.11.1998)
A ajuda alimentação fornecida por empresa participante do programa de alimentação ao
trabalhador, instituído pela Lei nº 6.321/76, não tem caráter salarial. Portanto, não
integra o salário para nenhum efeito legal.

2.1.2 Complementos salariais

- Não são salários, são parcelas que complementam o salário por fatos
geradores específicos;

 Próprios: Desaparecem se o fato gerador deixar de existir.


 Impróprios: Continuam se o fato gerador deixar de existir.

Tipos de Próprios:
a) Adicionais: Compensações por situação desvantajosa (Ex.
Insalubridade)
b) Gratificações: Verbas pegas normalmente por reconhecimento/gratidão
do empregador (Ex. Por função de confiança)
c) Prêmios: São estímulos para condutas positivas (Ex. Atingimento de
metas de vendas) – §4º, Art. 467/CLT
d) Percentagens: Vinculado a ideia de prêmio calculada por porcentagem
e) Quebra de caixa: Verba comum a ambiente bancário e também de
vendas. É o pagamento de uma compensação das diferenças por conta
do fechamento de caixas
f) Luvas: Verbas atribuídas ao atleta como incentivo para assinar o
contrato – Lei nº 6.354/76

Tipos de Impróprios:

a) Abono Salarial: Adiantamento de um reajuste previsto


b) ATS (Adicional por tempo de serviço): Previsão de que galgado um
tempo de serviço na função, você receberá um adicional – a cada ano;
três anos ou cinco anos, a depender do acordo coletivo ou contratual.
c) Gratificação Natalina (13º Salário): Previsto na Lei nº 4.090/72

2.1.3 Suplemento Salarial

- São pagas por terceiros, mas tem natureza salarial

Terceiros:
a) Clientes: pagam gorjetas (Art. 457/CLT)
b) Fornecedor: paga guelta. O pagamento ocorre, para que, por exemplo,
seus produtos sejam colocados em um local favorável às vendas.

Súmula nº 354 do TST


GORJETAS. NATUREZA JURÍDICA. REPERCUSSÕES (mantida) - Res.
121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas
espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não
servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional
noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.

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