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BREVE HISTÓRICO

A palavra “salário” provém do grego hals e do latim sal, salis, de que derivou
salarium. Antigamente, a retribuição do trabalho dos domésticos e dos soldados
romanos era feita mediante troca de determinada quantidade de sal.

Com o advento do Tratado de Versalhes é que o salário deixa de ser simples


componente do custo final da produção dos bens e dos serviços, passando a ser
disciplinado internacionalmente como forma de socialização, de valorização e de
retribuição do trabalho humano, bem como de subsistência do trabalhador e de
sua família.

CLASSIFICAÇÃO DO SALÁRIO

Métodos de classificação:

- salário por unidade de tempo (hora, dia, semana, quinzena, mês);

- salário por unidade de obra (resultado do trabalho, pouco importando o tempo


gasto na sua produção);

- salário por tarefa (combinação dos dois tipos anteriores);

- salário-utilidade ou salário in natura;

- salário simples e o salário composto. O primeiro é aquele pago exclusivamente


em dinheiro (moeda). O segundo é o pago em dinheiro e utilidades.

Salário complessivo

Os trabalhadores têm direito de saber exatamente todas as verbas que teve


direito ao longo do mês, que devem vir expressas no holerite.
Exemplo: um funcionário deve receber ao final do mês os seguintes benefícios:
R$1.000,00 de salário; R$250,00 de horas-extras; R$500,00 de diárias de
viagens; e R$200,00 de adicional noturno.

A empresa deve especificar a qual delas cada valor se refere.

Por mais que a definição de cada verba seja obrigatório por lei, algumas
empresas podem não expressar essas diferenças, e somente informar o valor
total do que será recebido pelo funcionário.

Quando isso acontece, dá-se a essa prática o nome de salário complessivo.

Ao emitir um holerite dessa forma, a empresa está negando o direito do


trabalhador de saber exatamente o que está recebendo e se sua contratante está
cumprindo suas obrigações legais.

A Súmula 91 do TST considera ilegal o salário complessivo, nos seguintes


termos: “Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou
percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou contratuais
do trabalhador”.

Salário mínimo

Art. 7º, IV, CF - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de
atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
Art. 76 - Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente
pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção
de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época
e região do País, as suas necessidades normais de alimentação, habitação,
vestuário, higiene e transporte.

Salário profissional

Salário profissional é o piso remuneratório mínimo previsto em lei para alguns


profissionais diplomados em medicina e odontologia (Lei 3.999/ 61), engenharia,
química, arquitetura, agronomia e veterinária (Lei 4.950-A/ 66) e radiologia (Lei
7.394/ 85).

Piso salarial

Art. 7º, V, CF - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do


trabalho;

Exemplo: a Lei 11.738, de 16.07.2008 regulamentou o “piso salarial profissional


nacional” para os profissionais do magistério público da educação básica, a que
se refere a alínea e do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.

REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

“Remuneração é um gênero do qual salário é uma espécie. A remuneração é a


totalidade dos pagamentos habitualmente efetuados ao empregado
periodicamente, incluindo as atribuições econômicas emanadas diretamente do
empregador, como comissões, gratificações, adicionais, prêmios etc. Salário é,
no seu sentido próprio e restrito, o pagamento também periódico e habitual, mas
diferenciado porque se baseia no critério tempo, obra ou em ambos
combinadamente (Amauri Mascaro Nascimento)”.

Principal consequência dessa diferenciação: incidência de encargos


trabalhistas e previdenciários.

Salariais:

1) O salário base.

2) Art. 457, § 1o Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações


legais e as comissões pagas pelo empregador.

3) Os adicionais (insalubridade, hora extraordinária, periculosidade, por tempo


de serviço etc.).

Não salariais:

Art. 457, § 2o As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de


custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para
viagem, prêmios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se
incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de
qualquer encargo trabalhista e previdenciário.

2) Participação nos lucros e resultados.

3) Gorjetas e gueltas.
PARCELAS SALARIAIS

1) Comissões

Produção alcançada pelo empregado.

Art. 466 - O pagamento de comissões e percentagens só é exigível depois de


ultimada a transação a que se referem.

§ 1º - Nas transações realizadas por prestações sucessivas, é exigível o


pagamento das percentagens e comissões que lhes disserem respeito
proporcionalmente à respectiva liquidação.

§ 2º - A cessação das relações de trabalho não prejudica a percepção das


comissões e percentagens devidas na forma estabelecida por este artigo.

2) Adicionais

a) Hora extra

Art. 7º, CF São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: XVI - remuneração do serviço
extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

Art. 71, § 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada


mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o
pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora
normal de trabalho.
Discussões acerca da incorporação ao salário das horas extras
habitualmente prestadas e sua repercussão no cálculo de outras parcelas
salariais:

A remuneração do serviço suplementar, habitualmente prestado, integra o


cálculo da gratificação natalina prevista na Lei n. 4.090/ 62 (TST – Súmula 45).

O valor das horas extras habituais integra a remuneração do trabalhador para o


cálculo das gratificações semestrais (TST – Súmula 115).

Computam-se no cálculo do repouso remunerado as horas extras habitualmente


prestadas (TST – Súmula 172).

Horas extras. Habitualidade. Supressão. Indenização. A supressão total ou


parcial, pelo empregador, de serviço suplementar prestado com habitualidade,
durante pelo menos 1 (um) ano, assegura ao empregado o direito à indenização
correspondente ao valor de 1 (um) mês das horas suprimidas, total ou
parcialmente, para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de
prestação de serviço acima da jornada normal. O cálculo observará a média das
horas suplementares nos últimos 12 (doze) meses anteriores à mudança,
multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão (TST – Súmula 291).

b) Insalubridade

Art. 7º, CF São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: XXIII - adicional de remuneração para
as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

Norma Regulamentadora 15 do MTE


Art.. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e
operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da
insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de
proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes.

O trabalho em condições insalubres gera, para o empregado, o direito à


percepção do adicional de insalubridade, em percentuais de 40%, 20% ou 10%,
caso a insalubridade constatada seja em grau máximo, médio ou mínimo,
respectivamente.

c) Periculosidade

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da


regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que,
por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude
de exposição permanente do trabalhador a:

I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de


segurança pessoal ou patrimonial.

§ 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um


adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes
de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.

§ 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura


lhe seja devido. Não há possibilidade de acumulação dos adicionais.

§ 3º Serão descontados ou compensados do adicional outros da mesma


natureza eventualmente já concedidos ao vigilante por meio de acordo coletivo.

§ 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em


motocicleta.
Súmula 364 do TST: Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado
exposto permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições
de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim
considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente
reduzido.

d) Transferência

Art. 469, § 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá


transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não
obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um
pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos
salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa
situação.

Art. 470 - As despesas resultantes da transferência correrão por conta do


empregador. Trata-se de uma ajuda de custo e, por esse motivo, não integra
o complexo salarial.

e) Noturno

Art. 73. Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho


noturno terá remuneração superior a do diurno e, para esse efeito, sua
remuneração terá um acréscimo de 20 % (vinte por cento), pelo menos, sobre a
hora diurna.

§ 1º A hora do trabalho noturno será computada como de 52 minutos e 30


segundos.

§ 2º Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado


entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte.
Art. 7º, Lei 5.889/73 - Para os efeitos desta Lei, considera-se trabalho noturno o
executado entre as vinte e uma horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte,
na lavoura, e entre as vinte horas de um dia e as quatro horas do dia seguinte,
na atividade pecuária.

Parágrafo único. Todo trabalho noturno será acrescido de 25% (vinte e cinco por
cento) sobre a remuneração normal.

3) Gratificações

Em regra, as gratificações são pagas aos empregados ocupantes de funções ou


cargos de confiança.

Gratificação natalina

Art. 1º, Lei 4.090/1962 - No mês de dezembro de cada ano, a todo empregado
será paga, pelo empregador, uma gratificação salarial, independentemente da
remuneração a que fizer jus.

§ 1º - A gratificação corresponderá a 1/12 avos da remuneração devida em


dezembro, por mês de serviço, do ano correspondente.

§ 2º - A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias de trabalho será havida como


mês integral para os efeitos do parágrafo anterior.

PARCELAS NÃO SALARIAIS

1) Prêmio

Art. 457, § 4o Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo


empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a
grupo de empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente
esperado no exercício de suas atividades.
Princípio da verdade real: Se o juiz constatar fraude na instituição das diárias
(CLT, art. 9º) poderá descaracterizar a sua natureza indenizatória.

2) Participação nos lucros ou resultados

LEI No 10.101, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000

Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre


a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir
descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo:

I - comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um


representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria;

II - convenção ou acordo coletivo.

É uma ótima ideia:

“A técnica da participação nasceu para incentivar o trabalhador a trabalhar mais


e melhor, comportando-se como se fosse dominus e não como servus e, nestas
condições, a não paralisar o trabalho (José Cretella Júnior)”

Mas a realidade é um pouco diferente:

“o elevado índice de desemprego e a recessão por que passa o nosso país (...)
fazem com que o esforço do Estado em regulamentar a participação nos lucros
tenha se tornado em vão, mormente pelo fato de que o empresariado brasileiro,
em regra, nunca teve o ‘costume’ de abrir a ‘contabilidade real’ da empresa para
os seus empregados (Carlos Henrique Bezerra Leite)”.
Princípio da verdade real: Se o juiz constatar fraude na instituição das diárias
(CLT, art. 9º) poderá descaracterizar a sua natureza indenizatória.

3) Diárias

As diárias visam à cobertura de despesas efetivamente realizadas pelo


empregado quando este viaja a serviço da empresa.

Princípio da verdade real: Se o juiz constatar fraude na instituição das diárias


(CLT, art. 9º) poderá descaracterizar a sua natureza indenizatória.

4) Ajuda de custo

É parcela de natureza indenizatória e corresponde ao valor pago ao empregado


pelo empregador para ressarcir suas despesas de movimentação em serviço,
tais como transporte, alimentação, representação etc.

Princípio da verdade real: Se o juiz constatar fraude na instituição das diárias


(CLT, art. 9º) poderá descaracterizar a sua natureza indenizatória.

5) “Bicho”

É uma parcela paga aos jogadores profissionais de futebol como retribuição pela
atuação exitosa da equipe, geralmente pela vitória de uma partida ou conquista
de um campeonato ou torneio.
6) Luvas

São quantias pagas pelo empregador, geralmente a atleta profissional, com o


objetivo de tornar mais atraentes o ingresso do empregado em seu quadro
funcional e a respectiva formalização do contrato de trabalho. Por isso, as luvas
são pagas previamente à assinatura do contrato de trabalho.

7) Gueltas

São retribuições ofertadas por terceiro estranho à relação empregatícia com o


objetivo de incentivar as vendas de seus produtos ou serviços. Assim, as gueltas
são pagas geralmente por fabricantes e fornecedores de medicamentos, com o
fim de estimular as vendas desses produtos.

8) Gorjetas

Art. 457, § 3º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada


pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como
serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos
empregados.

A gorjeta compulsória é aquela estipulada pelo próprio empregador na nota, isto


é, na conta cobrada ao consumidor. A espontânea é a quantia espontaneamente
entregue pelo próprio cliente/ consumidor. E a proibida é aquela recebida pelo
empregado, ainda que o empregador tenha proibido o recebimento de gorjetas
no estabelecimento.

A proibição do recebimento de gorjetas pelos trabalhadores é possível em


decorrência do poder diretivo do empregador.
Art. 29, § 1º As anotações concernentes à remuneração devem especificar o
salário, qualquer que seja sua forma de pagamento, seja ele em dinheiro ou em
utilidades, bem como a estimativa da gorjeta.

Caso o empregador retiver total ou parcialmente os valores pagos pelos clientes


a título de gorjetas, estará cometendo ato ilícito civil, na forma do art. 186 do CC,
ou até mesmo um ilícito penal, conforme o art. 186 do CP (apropriação indébita).

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