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Nº113 / MAIO 2020 / 3,40 EUROS (CONT.

CADERNOS ESPECIAIS
EMPLOYER BRANDING
GESTÃO DE TALENTO
RECRUTAMENTO E SELECÇÃO
INTERNACIONAL
COVID-19: Um cisne negro
ou o novo normal?

COMO A VIDA,
OS NEGÓCIOS
E A LIDERANÇA
MUDARAM – E AINDA
VÃO MUDAR – COMO
CONSEQUÊNCIA DA
PANDEMIA COVID-19.

EM DIRECTO GESTORA DE PESSOAS COMUNICAÇÃO EXCLUSIVO

JOÃO GÜNTHER AMARAL PATRÍCIA CALVÁRIO RUI RIJO FERREIRA XXX BARÓMETRO
Administrador e Chief Directora de Recursos Director de Marketing O impacto da pandemia
Development Officer na Sonae Humanos na Essilor na Jaba Recordati nas empresas em Portugal
Decidimos manter o plano de contratar
o total das 700 pessoas previstas para
o Grupo, sendo 300 só para Portugal,
até ao final do ano 2020.

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Índice
73 95 105

Cadernos Especiais 6 Conselheiro


120
Em Casa
8
122 Conselho
Editorial
Opinião

EMPLOYER GESTÃO DE RECRUTAMENTO 10 Radar


BRANDING TALENTO E SELECÇÃO

24 Em Directo
JOÃO GÜNTHER
AMARAL
70 Case Study Administrador e Chief
Development Officer
ZURICH na Sonae
TODOS (AINDA 32
MAIS) LIGADOS
TEMA DE CAPA

O GRANDE
68 Emprego
PEOPLE + WORK
CONNECT

64 Boas Práticas
CONTINENTAL
RESET
ADVANCED
ANTENNA Como a vida, os negócios e
a liderança mudaram – e ainda vão
mudar – como consequência
da pandemia COVID-19.
58 Internacional
O SURTO DE COVID-19
É UM CISNE NEGRO
OU O NOVO NORMAL?
40 Exclusivo
O IMPACTO DA
PANDEMIA
NAS EMPRESAS
EM PORTUGAL

52 Estudo
HÁ UMA CRISE DE
54 Comunicação CONFIANÇA NAS
na Gestão de Pessoas NOSSAS LIDERANÇAS. 48 Gestora de Pessoas
PORQUÊ?
RUI RIJO FERREIRA PATRÍCIA CALVÁRIO
Director de Marketing Directora de Recursos
na Jaba Recordati Humanos na Essilor

«QUANDO ESCRITA EM CHINÊS, A PALAVRA CRISE COMPÕE-SE DE DOIS


CARACTERES: UM REPRESENTA PERIGO E O OUTRO OPORTUNIDADE.»
JOHN F. KENNEDY

Human Resources Portugal 3


Editorial

Conselho Editorial
Ana Porfírio · Anabela Silva · António Henriques · Carla Gouveia · Catarina Horta
Catarina Tendeiro · Clara Trindade · Diogo Alarcão · Elsa Carvalho · Felipa Oliveira Serrão
Gonçalo Rebelo de Almeida · Fernando Neves de Almeida · Inês Simões
Isabel Barros · Isabel Borgas · Isabel Heitor · João Antunes · Joana Queiroz Ribeiro
João Zúquete da Silva · Maria João Martins · Nuno Ferreira Morgado · Nuno Troni
por: Paula Carneiro · Paulo Pisano · Pedro Fontes Falcão · Pedro Ramos · Pedro Raposo
Pedro Ribeiro · Sofia Castro · Sofia Tenreiro · Teresa Cópio · Teresa Nascimento
Tiago Brandão · Vanda Jesus
Ricardo Florêncio Director
Ricardo Florêncio · ricardo.florencio@hrportugal.pt
ricardo.florencio@multipublicacoes.pt Directora de Redacção
Ana Leonor Martins · leonor.martins@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 454
Redacção e Online
Ana Alves (tradução e revisão) · Ana Rita Rebelo · Margarida Lopes · Rita Paz
Sandra M. Pinto
Colaboradores
Conceição Zagalo · Luís Sítima/Maria João Gomes/Pedro Meda · Luísa Cardoso
Paula Ferreira Borges · Pedro Ramos · Pedro Rocha e Silva · Rute Diniz
Acordos Internacionais e Exclusivos
Human Resources UK · Management Today · MIT Sloan Management Review

Isto não é
Arte
Projecto Gráfico DesignGlow · Editor de Arte Joana Carvalho
Fotografia
NC Produções · Getty Images

teletrabalho!
Assinaturas
assinaturas@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444
1 Ano (Portugal) – 36,70 Euros
Nº Registo ERC 125841 · Depósito Legal 312131/10 · ISSN 1647-7472
Tiragem média 15 mil exemplares · Periodicidade Mensal
Impressão e Acabamento Lidergraf Sustainable Printing
Distribuição VASP – Distribuidora de Publicações Lda. MLP Media Logistics Park,
Quinta do Grajal – Venda Seca, 2739-511 Agualva Cacém

N
Estatuto Editorial
https://hrportugal.pt/estatuto-editorial/
os últimos meses, temos ouvido muitas vezes que os portu-
gueses se encontram, na sua larga maioria, em teletrabalho.
Completamente errado! Isto não é teletrabalho! O teletra-
balho é um sistema, um método de trabalho, que pressupõe Rua Cidade de Rabat, n.º 41 - B - 1500-159 Lisboa
um planeamento, munir o colaborador dos instrumentos Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444 · geral@multipublicacoes.pt
NIPC: 506 012 905 · CRCL: 11061
necessários para que desenvolva a sua actividade nas melhores condições,
pressupõe um acordo entre o colaborador e a entidade empregadora, que Conselho de Administração
tem como objectivo melhorar o bem-estar do colaborador e, assim, au- Ricardo Florêncio - CEO

mentar a produtividade do mesmo. Comercial e Publicidade


Tel. 210 123 413 · Fax. 210 123 444 · publicidade@multipublicacoes.pt
O teletrabalho também permite que o colaborador se dirija à empresa Margarida Sousa (Directora de Publicidade)
margarida.sousa@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 413
quando necessita ou sempre que o deseje, para reunir ou falar com outros Gestores de Conta
colegas, que se desloque presencialmente a outras empresas, e que tenha Francisco Jacobetty · francisco.jacobetty@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 140
Mário Serra · mario.serra@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 450
livre acesso e deslocação, para além de mais uma série de pressupostos e Tânia Rodrigues · tania.rodrigues@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 441
prerrogativas. Foi isso que aconteceu? Não! Nada disso! De um dia para Marketing e Comunicação
o outro, foram todos para casa, com todo o respectivo agregado familiar, marketing@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 441
Filipa Pereira (Communications Manager) · filipa.pereira@multipublicacoes.pt
onde os filhos pululam à sua volta, onde alguns estão em telescola e/ou Tel. 210 123 412
Paula Rodrigues (Events Manager) · paula.rodrigues@multipublicacoes.pt
outros, mais pequenos, a necessitar de constante atenção. Com a agra- Tel. 210 123 441
vante de não poderem (ou deverem) sair de casa, deslocar-se, e, muitos Sónia Almeida (Marketing Assistant) · sonia.almeida@multipublicacoes.pt
Tel. 210 123 418
deles, sem as mínimas condições para desenvolverem o tal teletrabalho Joana Lagarto (Marketing Assistant) · joana.lagarto@multipublicacoes.pt
Tel. 210 123 432
nas condições adequadas.
Departamento Administrativo e Assinaturas
Obviamente que foi obrigatório, uma necessidade, uma imposição, e Teresa Vultos · teresa.vultos@multipublicacoes.pt (Manager)
não é isso que está em causa. Mas também não é surpresa nenhuma que a Carla Barbosa · carla.barbosa@multipublicacoes.pt
Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444
produtividade, os resultados do trabalho, não são os mesmos. Muito se vai
discutir nos próximos tempos se o teletrabalho vai crescer e transformar-
-se num sistema com cada vez mais colaboradores a aderir. Não tenho
dúvidas disso, e brevemente havemos de analisar e discutir essa situação.
Mas o que temos hoje não é teletrabalho. Chamem-lhe o que desejarem,
mas não se confunda com teletrabalho.

4 Human Resources Portugal Maio 2020


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Conselheiro

DE “DIGITAL LEADER”
A “POWER SKILLS”
Bem-vindos ao novo mundo da gestão pós-pandémica!

emergir novos “digital leaders” nas nos- de horário de trabalho. Ou seja, estão a
Pedro Ramos sas empresas; líderes que começaram emergir novas formas e regimes contra-
Director de Recursos
a olhar para si e para os seus liderados tuais, onde um autêntico reset às car-
Humanos da TAP numa perspectiva de influência digital reiras profissionais tradicionais e aos
Air Portugal e sempre com intervenção multicanal. descritivos funcionais terá de ser efec-

M
As pessoas, por sua vez, foram obriga- tuado, pela necessidade das partes – em-
uito já se disse e es- das (eu diria, ainda bem!) a fazer a pas- pregador e empregado – exactamente
creveu sobre este sagem de uma visão de “training” para fruto nesta nova realidade de relações
“novo normal”. O uma nova visão de “learning” no que às de trabalho centradas nos resultados
nosso desafio, en- suas aprendizagens “em emergência” e competências evidenciadas em pro-
quanto gestores de Pessoas, passa ago- diz respeito. Isto mudou e vai reforçar- cessos de flexibilidade total e emergên-
ra por tentar traduzir esse léxico para -se certamente ainda mais nesta ges- cia de respostas.
um “novo pós-normal”. Em relação aos tão pós-pandémica. 4ª. Planeamento: Acabaram definitiva-
contextos pós-pandemia, diria que este Foram descobertas formas e modos mente os processos de planeamento de
agora “novo pós-normal” é caracterizado diferentes de gestão dos próprios com- longo e médio prazo. As empresas terão
por grandes alterações em cinco grandes portamentos dentro das nossas organi- sobretudo de evidenciar grande flexi-
dimensões no que respeita à Gestão de zações. Aqui cabe também uma neces- bilidade de gerir planos de curto e cur-
Pessoas e à gestão de uma forma geral. sidade concreta, sentida pelas empre- tíssimo prazos, que incluam dimensões
1ª. Organização do trabalho: Os proces- sas e que nunca tinha sido verdadeira- ou áreas de gestão desses planos em con-
sos de gestão do trabalho mudaram defi- mente implementada, que é a nova ne- textos de emergência. Também medi-
nitivamente, seja os tempos de trabalho, cessidade emergente de ter mapeados das de prevenção e gestão de riscos as-
a organização dos processos de equipas e em dia todos os riscos psicossociais sumirão uma acuidade especial nesta
e das funções, o teletrabalho (que veio dentro das nossas empresas, destacan- nova dimensão.
definitivamente para ficar em algumas do-se temas como o stress organizacio- 5ª. Predomínio das soft skills (gosto es-
áreas das nossas empresas) e uma maior nal e o burnout. pecialmente desta dimensão): Algu-
orientação para os resultados do que para Por último, nesta dimensão, subli- mas destas competências, mais do que
as formas e os modos de os obter. E, já nho o facto de esta experiência “violenta” críticas do ponto de vista das pessoas
agora, nesta dimensão, tudo o que tem a do durante a pandemia ter assumida- e das organizações, passaram a assu-
ver com os processos de alteração e re- mente desmitificado a importância da mir uma lógica nova de “power skills”.
invenção dos próprios negócios em si, de tecnologia na sua relação directa alta- Refiro-me a competências como coo-
forma absolutamente flexível. Esta foi, mente positiva com acréscimos de hu- peração, resiliência, gestão de equipas
aliás, uma das grandes aprendizagens manização nas nossas empresas. em stress, gestão de riscos, liderança
do período “durante a COVID”. 3ª. Relação contratual e salarial: O pe- em emergência, o agile thinking e duas
2ª. Relação com as pessoas: A forma ríodo de pandemia veio definitivamente que o Fórum Económico Mundial já
como as empresas e os seus líderes transformar a relação entre emprega- em 2017 dizia que todos nós tínhamos
se relacionam com as pessoas mudou dor e empregado numa lógica de “con- de ter em 2020 (recordam-se?), que são
radicalmente. Refiro-me não só aos co- tratualização” pelas competências crí- as minhas favoritas: inteligência emo-
laboradores e equipas de trabalho, mas ticas detidas, pelo resultado obtido e con- cional e… flexibilidade cognitiva, para
também à relação com os clientes. O pro- seguido, em vez de uma contratualiza- mim a “rainha” de todas as actuais “po-
cesso de gestão durante a pandemia fez ção ou pagamento salarial numa lógica wer skills”.

6 Human Resources Portugal Maio 2020


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Empresas que mudam o mundo


Conselho
Editorial

De olhos postos
no “novo normal”
«O grande desafio agora é aproveitar o momento e não voltar à normalidade anterior;
dar um passo em frente.» E isto não só em relação a alguns processos e formas de
trabalho, mas também no recentrar da extrema importância e imprescindibilidade
da Gestão de Pessoas nas organizações.

C
om a exigência de confinamento e distancia- zer onboarding online. Revelaram também como está a ser
mento físico, não foi ainda possível retomar preparado o regresso ao “novo normal” e como estão as es-
os almoços do Conselho Editorial da Human tratégias para 2020 a ser adaptadas.
Resources, mas nem por isso deixámos de reu- Participaram na reunião virtual os conselheiros: Ana Porfírio
nir para partilhar experiências e ideias. O foco, (Jaba Recordati); Carla Gouveia (Korn Ferry); Catarina Horta
inevitavelmente, foi na resposta à pandemia COVID-19, sen- (Novo Banco); Catarina Tendeiro (Grupo Ageas); Clara Trin-
do possível perceber diferentes realidade e exigências, desde dade (L’ Oréal); Gonçalo Rebelo de Almeida (Vila Galé); Isabel
logo pelas especificidades dos sectores em que actuam. Uns Heitor (ANA Aeroportos); Joana Queiroz Ribeiro (Fidelidade);
com actividade (e facturação) reduzida a quase 0 e outros com João Zúquete da Silva (Altice); Nuno Troni (Randstad); Pedro
picos de actividade, em comum destacaram a importância da Fontes Falcão (ISCTE Executive Education); Pedro Ramos
comunicação e transparência, sendo a gestão emocional o maior (TAP Air Portugal); Pedro Ribeiro (Super Bock Group); So-
desafio no que respeita às pessoas. Partilharam como estão a fia Castro (Sonae MC); Teresa Nascimento (DefinedCrowd);
assegurar a proximidade (à distância) ou, por exemplo, a fa- Tiago Brandão (The Browers) e Vanda de Jesus (Microsoft).

8 Human Resources Portugal Maio 2020


Ana Porfírio Carla Gouveia Catarina Horta Catarina Tendeiro Clara Trindade

Gonçalo Rebelo de Almeida Isabel Heitor Joana Queiroz Ribeiro João Zúquete da Silva

Nuno Troni Pedro Fontes Falcão Pedro Ramos Pedro Ribeiro

Sofia Castro Teresa Nascimento Tiago Brandão Vanda de Jesus

Human Resources Portugal 9


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Human Resources Portugal

Radar

ESTUDO
19 RECOMENDAÇÕES
(OFICIAIS) PARA O
REGRESSO AO TRABALHO
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
(MTSSS), em articulação com a Autoridade para as Condições
no Trabalho (ACT) e a Direcção-Geral da Saúde (DGS),
disponibilizaram um documento com “19 Recomendações para
Adaptar os Locais de Trabalho e Proteger os Trabalhadores”.

O
documento integra “19 Re- didas de prevenção para trabalhadores transportes colectivos e no acesso aos
comendações para Adaptar e clientes e/ou fornecedores. locais de trabalho.
os Locais de Trabalho e Pro- 6. Fornecer água e sabão ou desinfectan-
teger os Trabalhadores”, di- te para as mãos em locais convenientes. R Adaptação ao teletrabalho
vididas em cinco áreas. São elas: 7. Assegurar uma boa ventilação e lim- 15. O empregador deve garantir que es-
peza dos locais de trabalho. tão reunidas as condições de prestação
R Precauções antes do regresso 8. Reduzir os contactos entre trabalha- de trabalho em regime de teletrabalho.
ao trabalho presencial dores, e entre trabalhadores e clientes 16. O empregador deve minimizar os
1. Se tiver algum sintoma associado à e/ou fornecedores. riscos físicos, assim como psicossociais,
COVID-19 não deve regressar ao seu lo- 9. Reduzir os contactos entre trabalha- para os trabalhadores que estão em re-
cal de trabalho sem antes confirmar que dores e outras pessoas nos intervalos, gime de teletrabalho.
não existe risco para si nem para os ou- pausas e espaços comuns. 17. O teletrabalho, em particular no qua-
tros, devendo contactar a Linha SNS 24 10. Nas empresas ou estabelecimentos dro da actual pandemia, deve atender
(808 24 24 24) e ter essa confirmação. abertos ao público, eliminar ou limitar à necessidade de alguma flexibilidade
2. Se manteve contacto próximo com ca- a interacção física entre trabalhadores sem deixar de se assegurar uma organi-
sos confirmados ou suspeitos de COVID- e clientes e/ou fornecedores. zação eficaz do trabalho
-19, não deve regressar ao seu local de 11. Garantir o acesso de todos os traba-
trabalho sem antes contactar a Linha SNS lhadores aos equipamentos de protecção R Deveres e direitos dos
24 (808 24 24 24) para obter as orienta- individual (EPI) adequados. empregadores e trabalhadores
ções adequadas à sua situação concreta. 12. Reforçar as práticas de higieniza- e diálogo social na prevenção
3. Se pertencer ao grupo de pessoas su- ção dos equipamentos de protecção in- da pandemia COVID-19
jeitas a um dever especial de protecção, dividual (EPI) e roupas de trabalho. 18. Empregadores e trabalhadores têm
deve, preferencialmente, realizar as suas responsabilidades partilhadas na pre-
tarefas remotamente (teletrabalho). R Viagens de trabalho prestado venção e mitigação da pandemia CO-
em veículos e deslocações VID-19 nos locais de trabalho.
R Segurança e saúde no local de e para o trabalho 19. O diálogo social permanente e a to-
de trabalho 13. Viagens de trabalho e trabalho pres- dos os níveis é de particular importância
4. O regresso dos trabalhadores deve ser tado em veículos devem ser objecto de es- neste contexto, pelo que é considerada
faseado, avaliando se é possível optar peciais precauções. uma boa prática o reforço da informa-
pelo teletrabalho. 14. Nas deslocações de e para o trabalho, ção e também consulta dos trabalhado-
5. Assegurar o planeamento, monitoriza- deve evitar-se sempre que possível o ajun- res e, sempre que existam, das suas es-
ção e reforço da informação sobre as me- tamento de pessoas, nomeadamente nos truturas representativas.

10 Human Resources Portugal Maio 2020


Radar

RANKING
TRÊS ESCOLAS
PORTUGUESAS
ENTRE AS MELHORES
DO MUNDO
COMPETÊNCIAS
9 SOFT SKILLS
Portugal tem três escolas de
negócios entre as melhores do
mundo, no que diz respeito à
formação para executivos, de
acordo com o “Ranking Global do
Financial Times Executive Educa-
FUNDAMENTAIS NO ACTUAL
tion 2020”.

A Nova School of Business and


MERCADO DE TRABALHO
Economics (Nova SBE) ocupa o
44.º lugar no ranking global, tendo
subido uma posição comparati- Toda esta digitalização e “remotização” estão associadas
vamente com o ano passado. E o a um maior isolamento social, o que, a médio prazo,
54.º lugar da tabela, dos progra-
mas customizados para empre-
acaba por causar um grande défice nas soft skills.
sas, tendo descido duas posições

F
em relação ao ano anterior. Porém,
nos programas de inscrição aber- rancisco Paquete, assistente de res e, consequentemente, para o seu de-
ta, a escola de negócios subiu 10
posições, ocupando agora a po- Marketing do Grupo RHmais, sempenho e para a sua produtividade.
sição 47.ª. Assim, é, pelo segun- faz notar que, se por um lado o R Resiliência: Saber lidar com adversi-
do ano consecutivo, a business desenvolvimento tecnológico dades, mantendo o foco e a determina-
school nacional mais bem classi- trouxe uma maior eficácia aos merca- ção, é essencial para o alcance de objec-
ficada em Formação de Executi- dos, por outro, está associado a um maior tivos a longo prazo.
vos, consolidando também a 23.ª
posição ao nível europeu. Já a Ca- isolamento social, o que, a médio prazo, R Flexibilidade: Com as transforma-
tólica Lisbon School of Business & acaba por causar um grande défice nas ções tecnológicas, estruturais e situa-
Economics ocupa o 50.º lugar no soft skills, que são fundamentais nas ções inesperadas como a actual pande-
ranking geral, tendo descido duas organizações. E identifica nove que de- mia, adaptação é a palavra de ordem no
posições no ranking. No entanto, vem ser fomentadas: mercado de trabalho, actual e futuro.
subiu 15 posições nos progra-
mas customizados para empre- R Comunicação: Envolve linguagem R Criatividade: É um dos maiores fac-
sas, ocupando este ano a 39.ª po- verbal, não verbal e escrita e implica não tores de diferenciação dos quais as or-
sição a nível mundial e a liderança só saber expressar/debater ideias, mas ganizações se podem valer, quando os
em Portugal. Nos programas de também ser um bom ouvinte. meios e até as ferramentas disponíveis
inscrição aberta, a Católica-Lis- R Trabalho em equipa: Seja presencial são as mesmas.
bon ocupa a 72.ª posição, tendo
descido nove posições. A Porto ou remotamente, potencia a eficácia e a R Gestão de tempo: Essencial para ga-
Business School, que também faz produtividade, e contribui para o bom rantir uma boa produtividade e também
parte do ranking, viu a sua classi- ambiente interno. o cumprimento de objectivos, assim como
ficação subir seis posições na ca- R Análise: Capacidade de compreender, de deadlines.
tegoria de programas customiza- decifrar ou analisar informação, e tor- R Curiosidade: Pró-actividade na procu-
dos para empresas (de 64.º lugar
para o 58.º) e de uma posição nos mar decisões com base nessa análise. ra constante de conhecimento demons-
programas de inscrição aberta (de R Atitude positiva: Contribui para o au- tra entrega e contribui para nos tornar
76.º para 75.º lugar). mento do ânimo de todos colaborado- melhores profissionais.

Human Resources Portugal 11


NOTÍCIAS DIÁRIAS EM
www.hrportugal.pt

Radar

de Trabalho ou até mediante parecer


favorável da comissão de trabalhado-
res; por um período superior a 15 dias
consecutivos, entre 1 de Maio e 31 de Ou-
tubro, quando a natureza da actividade
assim o exigir.

R Após a elaboração do Mapa de Férias


(que deve ter ficado aprovado até 12
de Maio), o empregador pode alterar
unilateralmente o período de férias
LEGISLAÇÃO LABORAL dos trabalhadores?
Sim, o empregador pode alterar o perío-
E AS FÉRIAS? AS REGRAS do de férias já marcado ou interromper
as férias já iniciadas, desde que o faça
MUDARAM COM A COVID-19? devido a exigências imperiosas do fun-
cionamento da empresa.

Palavras como lay-off, redução e suspensão de contrato estão R E o trabalhador, pode marcar unilate-
ralmente as férias?
na ordem do dia. O teletrabalho passou de excepção a regra. E,
Geralmente não, mas, a título excepcio-
surpresa ou talvez não, as dúvidas em torno das férias passaram nal, permite-se a marcação de férias, sem
a ser presença assídua nas nossas conversas. Assim, Gonçalo necessidade de acordo com o emprega-
Pinto Ferreira, partner da Telles Advogados, esclarece as dúvidas. dor, em substituição do recurso ao regi-
me excepcional de faltas justificadas,

S
com o propósito de assistência à família.
ão estas algumas das princi- R De que modo são marcadas as férias?
pais dúvidas dos profissionais Pode o empregador impor a marcação R Os trabalhadores de serviços essen-
relacionadas com o gozo de fé- de férias? ciais, também podem optar pela marca-
rias, na sequência da situação Em regra, o período de férias é marcado ção unilateral de férias?
de excepção que a pandemia COVID-19 por acordo entre o empregador e o tra- Não. A possibilidade de marcação de fé-
provocou, com um impacto intenso e diá- balhador. Contudo, na falta de acordo, o rias não é aplicável aos trabalhadores de
rio nas relações laborais: empregador pode marcar unilateralmen- serviços essenciais como profissionais
te as férias (sem consentimento do tra- de saúde, das forças e serviços de segu-
R Quantos dias de férias tenho? balhador), mas apenas no período entre rança e de socorro.
Nos termos da lei geral, os trabalhado- 1 de Maio e 31 de Outubro.
res têm direito a 22 dias de férias. R Como é que funcionam as férias no
R A lei prevê outras alternativas que lay-off simplificado?
R Dentro de que períodos devem os permitam impor o gozo de férias? A redução ou suspensão não prejudica
trabalhadores gozar férias? Sim, sempre que seja compatível com a marcação e o gozo de férias, nos termos
As férias devem ser gozadas no ano civil a natureza da actividade, o empregador gerais, tendo o trabalhador direito ao pa-
em que se vencem, sem prejuízo de po- pode proceder ao encerramento da em- gamento pelo empregador do subsídio
derem ser gozadas até 30 de Abril do ano presa ou do estabelecimento, total ou de férias devido em condições normais
civil seguinte, sempre que haja acordo parcialmente, para férias dos trabalha- de trabalho.
entre o empregador e o trabalhador ou dores, desde que o faça nos seguintes Durante o período de férias, o traba-
sempre que o trabalhador pretenda gozar termos: até 15 dias consecutivos entre lhador tem direito ao valor da compen-
com familiar residente no estrangeiro. 1 de Maio e 31 de Outubro; por período sação retributiva (2/3 da sua remune-
Os trabalhadores podem ainda gozar superior a 15 dias consecutivos ou fora ração ilíquida) acrescida do subsídio de
metade das férias do ano anterior com o do período enunciado no ponto anterior, férias, total ou proporcional, que lhe se-
vencido no ano em causa, mediante acor- quando assim estiver fixado em Instru- ria devido em condições normais de tra-
do entre o empregador e o trabalhador. mento de Regulamentação Colectiva balho, ou seja sem qualquer redução.

12 Human Resources Portugal Maio 2020


Um gesto
muda tudo
Faça o seu

Hoje é preciso sorrir mais. Sorrir para fazer rir


e substituir o calor dos beijos e abraços.
É preciso ouvir mais. Ouvir os desabafos,
as histórias e todas as perguntas.
É preciso partilhar mais. Partilhar alegrias do
passado, receios do presente e certezas do futuro.
É preciso ter mais tempo. Para estarmos mais
disponíveis, mais atentos e mais próximos.
Hoje é preciso fazermos mais, porque todos os gestos
contam e basta um para fazer toda a diferença.

HÁ INICIATIVAS SOLIDÁRIAS PARA TODOS OS GESTOS.


JUNTE-SE A NÓS E SEJA VOLUNTÁRIO.

Descubra como pode ajudar em galp.com/umgestomudatudo


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Human Resources Portugal

Radar

ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS
O QUE MUDOU DEPOIS DE 16 DE MARÇO
Hoje, decorridos que estão quase 50 dias, estamos ainda um tanto perplexos com a rapidez com
que nos adaptámos a este(s) novo(s) formato(s) de trabalho e um tanto rendidos à eficiência dos
novos procedimentos adoptados. POR Paula Ferreira Borges

N
o dia 13 de Março, às 15h, a a situação e, no dia 27 de Março, infor- Na segunda-feira seguinte (16 de Mar-
direcção-geral da SRS co- maremos se retomamos ou não a acti- ço) às 9h, desde o estagiário ao mana-
municou o seguinte a to- vidade presencial.» ging partner, passando pela equipa de
dos os seus colaboradores: E a 27 de Março comunicámos que Business Services, todos estavam onli-
«Na sequência da informação transmi- nos manteríamos em teletrabalho en- ne, a aceder remotamente às aplicações/
tida ontem à noite pelo nosso primeiro- quanto fossem essas as orientações. plataformas necessárias para desenvol-
-ministro, António Costa, e cientes da Desde o início de Março que já ví- ver a sua actividade.
responsabilidade que temos, priorita- nhamos reduzindo a presença física no Não obstante, em paralelo, manti-
riamente, para com todos vós e vossas escritório dos colaboradores de grupos vemos sempre o escritório operacional,
famílias, decidimos que a partir de hoje, de risco e a preparar todas as condições com medidas de higienização refor-
e por um período que se estenderá até para que os 130 colaboradores da SRS çadas e a presença física de uma equi-
ao dia 27 de Março (inclusive), a SRS pudessem, a qualquer momento, traba- pa de três a quatro pessoas para asse-
Advogados manterá todos os seus ser- lhar integralmente a partir de casa, mas gurar a recepção e encaminhamento do
viços activos em regime de trabalho re- não previmos que a mudança fosse tão correio e chamadas recebidas pela li-
moto. Até lá, avaliaremos diariamente radical... nem tão bem-sucedida. nha geral, os serviços externos, e outros

14 Human Resources Portugal Maio 2020


Radar

pedidos específicos dos nossos advoga-


dos e/ou clientes.
e) Flexibilidade: Mais do que nunca, a
nossa flexibilidade enquanto prestador Retiraremos
Mas, em concreto, o que mudou?
de serviços é posta à prova, na forma
como teremos de nos adaptar (definiti-
lições valiosas de
a) Tomada de consciência: antes de vamente) a novos e múltiplos formatos toda esta loucura
mais, sentimo-nos conscientes e gratos
pelo facto de podermos continuar a tra-
de trabalho e no relacionamento com
todos os nossos stakeholders, que estão e sairemos desta
balhar a partir de casa (nem todos tive-
ram essa sorte).
a viver exactamente o mesmo que nós,
nas suas organizações.
crise mais focados
no que realmente
b) Novas ferramentas/hábitos: a adop-
ção ultra-rápida de ferramentas que po-
f) Optimização financeira e de rentabi-
lidade: é o desafio de sobrevivência/ con-
importa.
tenciam o trabalho à distância e o con- tinuidade das organizações no pós-pan-
tacto remoto (Teams, Zoom, entre ou- demia, reduzir o rácio cost-to-income,
tros) e que todos afirmamos que “já não agilizar as cobranças, optimizar a tesou-
deixaremos de usar”. raria... Serão as prioridades para todas balho, com a menor disrupção possível
as organizações nos próximos tempos. e a máxima segurança.
c) Gestão do Tempo: uma exigência ainda Enquanto directora-geral da SRS, e Não posso também deixar de referir
maior à nossa capacidade de gestão do sempre em equipa com os meus excelen- que fez toda a diferença poder contar
tempo; estar em casa, sempre “conecta- tes directores de área (Financeira, Re- sempre com a disponibilidade total do
do” ao trabalho e ao mesmo tempo sem- cursos Humanos, Marketing/Comuni- Conselho de Administração da Socieda-
pre conectado às exigências familiares, cação, Logística, Tecnologias de Infor- de e, em particular, do Pedro Rebelo de
não é nada fácil e exige muita capacida- mação e Gestão do Conhecimento) as Sousa, fundador e managing partner,
de de organização. Uns terão mais faci- prioridades foram: para ouvir e discutir com total abertura
lidade que outros. É uma aprendizagem. i. Assegurar de imediato o reforço da as propostas que fui apresentando.
segurança sanitária no escritório ne-
d) Comunicação: Mais e melhor. Tomá- cessário à contenção do contágio pelo Então quer dizer que correu tudo
mos consciência da importância de man- novo vírus e, em simultâneo; bem? Não há nada a melhorar?
ter contacto próximo e regular com os ii. Implementar todas as alterações ne- Claro que não corre tudo bem e claro que
clientes e as nossas equipas, e tem sido en- cessárias nos nossos processos para que, há sempre coisas a melhorar. O contexto
graçado ouvir muitos advogados referir de um dia para o outro, o escritório con- que vivemos é único e (esperemos) irre-
que “falam mais agora uns com os outros tinuasse a funcionar em modo teletra- petível. E coloca-nos desafios em tan-
e de forma organizada” (como reuniões tas frentes que é impossível que corra
de departamento diárias de meia hora). tudo bem: enquanto organização, esta-
Mas com o “mais” veio também o mos preocupados com a saúde dos nos-
“melhor”. O desafio de maior objectivi- sos colaboradores e clientes, com a nos-
dade na comunicação. Somos hoje bom- sa capacidade e habilidade para gerir
bardeados com centenas de artigos de pessoas à distância, monitorizar a sua
opinião, newsletters, WhatsApp, sms, produtividade e manter a sua motiva-
emails... e é impossível ler tudo. Mais ção em alta, com o impacto no volume de
que nunca é fundamental saber comu- negócio, a rentabilidade, a tesouraria...
nicar, para dentro da organização e para E, acima de tudo, com a incerteza do que
os clientes. o futuro próximo nos trará.
Acredito que um dos factores deter- Todavia, e já numa nota final opti-
minantes do sucesso da rápida adapta- mista, estou convicta de que retirare-
ção da SRS ao contexto COVID-19 foi a mos lições valiosas de toda esta loucu-
comunicação clara e assídua que temos ra e sairemos desta crise mais foca-
mantido com todo o escritório. dos no que realmente importa: mais
atentos ao bem comum, mais ecológi-
Paula Ferreira Borges cos, mais solidários, mais eficientes e
Directora-geral da SRS Advogados mais gratos.

Human Resources Portugal 15


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Human Resources Portugal

Radar

DICAS
COMO FAZER O TELETRABALHO
FLUIR DE FORMA POSITIVA?
Com a certeza de que as limitações à circulação continuarão a ser o “novo normal” nos próximos tempos,
com consequências também no dia-a-dia laboral, é importante analisar os pontos positivos e negativos
desta experiência e rever a nossa postura de teletrabalho, de forma a obtermos os melhores benefícios.

À
medida que o trabalho re- R Garanta que tem acesso seguro a des sociais. Tentem fazer pausas vir-
moto se torna cada vez mais uma rede de banda larga e à rede e fer- tuais para descanso e socializar entre o
comum e nos vamos habi- ramentas de trabalho. O seu escritó- trabalho, torna-se divertido tomar um
tuando à nova rotina, exis- rio é agora na sua casa, através do seu café em equipa dessa forma.
tem riscos diversos que é preciso ter em smartphone, tablet ou laptop, comple-
conta. A dificuldade em separar os horá- mentados com boas ligações de banda R Não se esqueça de cuidar de si, é im-
rios entre a vida profissional e a vida pes- larga fixa e móvel. Não devemos esque- portante dedicar algum tempo diaria-
soal, em manter a disciplina e demasia- cer que poderá haver uma sobrecarga mente a actividades que o ajudem, se-
do stress podem provocar problemas de de rede, pois poderá estar a usar a mes- jam de exercício físico ou meditação, de-
saúde mental. Neste momento, o objec- ma entre várias pessoas em simultâ- pendendo das necessidades que tiver.
tivo passa por tentarmos permanecer neo, e se calhar até mesmo os seus filhos
saudáveis e​​ produtivos, para que também em telescola. Sempre que for possível, R Sabendo que é um grande desafio,
possamos ajudar a manter a produção da considere usar ferramentas de video- tente manter-se focado ao longo do dia.
nossa empresa e, consequentemente, da conferência, pois essas reuniões trarão Dois adultos em teletrabalho, com crian-
nossa economia. de volta um pouco das interações pes- ças pequenas, e até mesmo em telescola,
Assim, recordamos alguns procedi- soais que se perderam. é um cenário completamente novo e mui-
mentos e reforçamos mensagens impor- to complexo. Se possível, tentem fazer
tantes nesta fase de quarentena, para R Identifique prioridades e reveja a lis- turnos para dar apoio às actividades es-
continuarmos a manter o equilíbrio pes- ta dos to do’s logo pela manhã. Tenha colares e todos tentarem obter uma ro-
soal e profissional: bem definidas as suas intenções para o tina de trabalho.
dia de trabalho e não se esqueça de fa-
R Siga uma rotina, vista uma roupa di- zer pausas. Os pequenos intervalos per- R Procure melhorar as suas compe-
ferente da que usa para descansar em mitem repensar o seu trabalho e carre- tências digitais. Nesta altura, é preciso
casa. Experimente até mesmo fazer uma gar baterias, extremamente importan- ter reuniões em videoconferência, or-
breve caminhada matinal antes de ligar te a nível mental. A pausa para almoço ganizar webinars ou apresentações em
o computador, nem que seja para ir dei- é igualmente vital. Aproveite para uma diversas plataformas. É uma excelen-
xar o lixo à rua e respirar o ar matinal. breve leitura ou uma curta caminhada te oportunidade para transformar lacu-
no seu quarteirão. nas em vantagens, experimentar novas
R Estabeleça um local exacto para tra- ferramentas e de se aperfeiçoar em no-
balhar, evitando trabalhar no quarto. R Além do contacto com as chefias, man- vas áreas digitais.
Não se esqueça do apoio ao pescoço e de tenha a comunicação com os seus cole-
se levantar diversas vezes, é muito im- gas. Normalmente, passamos a maior R Se tem um cargo de gestão, lembre-se
portante para manter uma boa postura e parte do tempo perto dos colegas, o que que é mais importante que nunca tratar
evitar mazelas. Desmonte o local de tra- facilita a relação do dia-a-dia, sem gran- os colaboradores com empatia e huma-
balho ao final do dia, ou pelo menos ao fi- de esforço. Mas hoje também existem nidade. Muitas pessoas necessitam de
nal da semana, principalmente se vive em inúmeras ferramentas disponíveis para apoio e orientação, e é importante ser mais
família. É uma ajuda para separar os ho- nos ajudar a manter o contacto, seja com flexível em relação ao tempo, pois to-
rários entre a vida profissional e pessoal. chamadas de vídeo, chats digitais ou re- dos tentam encontrar um ritmo nesta

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Radar

recente normalidade. Deve definir ex- R Esteja sempre bem informado. O des- mundial, mas que é apenas temporária. É
pectativas claras sobre o horário de tra- conhecimento e a especulação podem ser essencial que os colaboradores percebam
balho e agendar as reuniões. Dentro des- muito prejudiciais em tempos de crise que estamos juntos no mesmo barco e
sa organização, exerça o máximo de fle- e a sua equipa conta consigo para obter a remar para o mesmo lado. E só assim
xibilidade possível pois com crianças em clareza e orientação. Esteja informa- conseguiremos sair juntos desta situa-
casa e outras interrupções para lidar, as do sobre tópicos importantes para o ne- ção e retomar a economia.
pessoas precisarão de mais espaço e fle- gócio da empresa e não apenas sobre a
xibilidade para tudo funcionar. situação pandémica e partilhe-os com R Efectuar um questionário a todos
a sua equipa. os colaboradores com o propósito de
R Ajude a sua equipa a estabelecer li- recolher feedback sobre o seu bem-
mites no tempo de trabalho. Criar li- R Não se esqueça de disponibilizar tam- -estar. Desta forma estará a recolher
mites firmes no horário de trabalho é bém todo o material e ferramentas de que informação que irá ajudar a empresa
um truque bem conhecido para os vete- a sua equipa necessita. Ter o material cer- a gerir a sua estratégia de comunica-
ranos de trabalho remoto, mas os novos to pode fazer uma enorme diferença na ção e apoio aos colaboradores, ajus-
colaboradores, que se vêem subitamente produtividade, qualidade do trabalho tando actuações perante um proble-
teletransportados para as operações em- final e qualidade de vida. ma novo para todos. Permite igualmen-
brionárias de escritórios domésticos, te o agrupamento de respostas por uni-
geralmente acabam a trabalhar mais R A transparência deve ser uma das dades, ajudando as chefias a ter uma ac-
horas do que se estivessem no escritório. principais prioridades. Seja claro sobre tuação mais adequada perante os reais
o que faz e aquilo que sabe ou não sabe. problemas e dificuldades vivenciados
R Tente “normalizar” esta nova forma de E quando tiver conhecimento sobre al- pelos colaboradores. Algumas pergun-
trabalho. Nem todos têm as mesmas con- guma política ou medida que será altera- tas do questionário que fizemos na Erics-
dições. Qualquer canto da casa pode ter da, informe a sua equipa de que algumas son foram: nível de apoio sentido, inte-
sido transformado em escritório domésti- mudanças poderão chegar em breve, mas resse genuíno da empresa no bem-estar,
co improvisado e as distrações e impacto que ainda não conhece os detalhes. Essa capacidade de priorização, produtividade
na produtividade podem ser expectáveis; transparência será apreciada e criará no teletrabalho, gestão do stress e apoio
mais confiança junto da equipa. ao cliente.
R Tranquilize a sua equipa, não neces-
sitam de se “vestir a rigor” para video- R Tente manter uma atitude positiva.
chamadas, e é bem provável que o espa- É muito importante passar mensagens Rute Diniz
ço de trabalho mostre sinais de uma casa construtivas. Estamos a passar uma fase Head of People
mais confusa. por que nunca ninguém passou a nível da Ericsson Portugal

Human Resources Portugal 17


Em trânsito

Auto Regulação da Dynabook SAP Portugal tem novo


Publicidade tem novo Iberia tem nova director de Negócio
vice-presidente de Cloud
direcção-geral
Rodrigo Silva Joaquim Freire
Gomes é o novo será responsável
vice-presidente da pela liderança da
Auto Regulação da estratégia de Cloud
Publicidade (ARP), em Portugal. Com
em representação cerca de 20 anos de
da APAP – Asso- experiência no sector
ciação Portuguesa das Tecnologias de
das Agências de Informação, ingressou
Publicidade. O fundador e CEO da Lola na SAP em 2011 como gestor de contas
Normajean substitui João Carlos Oliveira para o mercado dos serviços financeiros.
no cargo. Com o consumo a ser um dos Em 2014, passou a exercer funções no sec-
grandes temas a sofrer alterações que se Maite Ramos assumiu tor de Energia e Recursos Naturais. Antes
prevêem profundas, também a publici- a direcção-geral da Dynabook de ingressar na SAP, foi senior manager na
dade se vê a braços com novos desafios. (anteriormente Toshiba) em Por- Indra, responsável pela área de Serviços
«Os pareceres prévios a que as agências tugal e Espanha. Sucede a Emilio Financeiros, e Business Developer na
e anunciantes tem acesso a partir da ARP Dumas, que depois de 19 anos na CGI. Começou a sua carreira na Hewlett-
são ajudas preciosas para que não vão Toshiba decidiu iniciar uma nova -Packard, na área de Marketing e Vendas.
por água abaixo grandes investimentos trajectória profissional. Licen- Joaquim Freire é licenciado em Economia
e se abram muitas vezes espaço a novas ciada em Ciências Económicas pela Universidade de Coimbra, tem uma
soluções criativas. Vejo os pareceres pela Universidade de Valladolid pós-graduação em Digital Enterprise
prévios como uma ferramenta preciosa e com um mestrado em Gestão Management pela NOVA IMS e concretizou
do lado das agências», refere Rodrigo de Empresas pela IESE Business o Programa Avançado de Gestão Bancária
Silva Gomes. School, a nova directora-geral da
pela Universidade Católica Portuguesa.
Dynabook Iberia tem uma vasta
experiência em planificação estra-
Banco Montepio tem novo tégica nos mercados profissional Grupo Ageas Portugal tem
e de consumo, e liderou diver-
director de Compliance sos projectos nos mercados de
novo Chief Future Officer
Miguel Oliveira retalho, e-commerce e canais Pedro António
é o novo director de de distribuição ao longo da sua é o novo chief future
carreira profissional. Antes da sua
Compliance do Banco officer do Grupo
incorporação na Dynabook, Maite
Montepio. Licenciado Ageas Portugal, fun-
Ramos teve a responsabilidade
em Economia pelo ção que vai acumular
de implementar a divisão de
Instituto Superior de com as de membro
consumo da Lenovo para a Penín-
Economia e Gestão do Conselho de
sula Ibérica, Na mesma empresa,
e com uma pós-gra- também foi nomeada como Administração e da
duação em Mercados directora-geral de produto para o Comissão Executiva
Financeiros e outra em Direito Bancário, mercado ibérico. Posteriormente de todas as sociedades que compõem o
o responsável desenvolveu toda a sua passou pela HP como directora Grupo Ageas Portugal. O responsável foi
carreira profissional no sector financeiro. de Marketing. A responsável in- sócio-gerente da BearingPoint Portugal
Na Comissão do Mercado de Valores tegrou a Dynabook em Fevereiro e conta com 26 anos de experiência (17
Mobiliários (CMVM), onde esteve cerca de deste ano, e agora como nova como consultor de Negócios e nove no
oito anos, passou pelo departamento de directora-geral para o mercado sector bancário). Iniciou a sua carreira na
Supervisão de Intermediários Financeiros Ibérico definiu como objectivo Accenture. Ao longo da sua carreira, de-
e pelo departamento Internacional e de consolidar e fazer crescer o negó- sempenhou diversas funções, foi sócio
Política Regulatória. Mais tarde transitou cio baseando-se na alta qualida- na PwC, chief information officer e res-
para a direcção de Compliance do Banif, de e vanguarda tecnológica dos ponsável de Transformação no Barclays
onde esteve cerca de sete anos. Em 2015, seus produtos e soluções, bem Iberia, tendo também liderado a agenda
abraçou um novo desafio profissional e fez como na excelente qualidade do digital ao nível da Europa continental.
parte da equipa fundadora do Banco CTT, serviço de suporte da Dynabook. Foi ainda director de Processos &
enquanto director de Compliance. Reengenharia no Millenniumbcp.

18 Human Resources Portugal Maio 2020


ESTÁGIOS CREDIBOM

FAZ LOADING
À TUA
CARREIRA.
O Banco Credibom tem um programa interno de estágios
para jovens talentos. O Loading pode ser a porta de entrada
e o começo de uma carreira profissional numa empresa
de sucesso e em crescimento. Aqui, damos crédito ao talento
e damos também uma oportunidade para que possas
aprender e mostrar o teu valor.
Porque nós, acreditamos que o futuro das empresas
também está naqueles que têm o futuro pela frente.
tendências 360

O P I N I ÃO

O PROPÓSITO
DE CADA UM
Luísa Cardoso
Business unit manager | Staffing, da Randstad Portugal

N
o final de cada dia, que o que queremos é que se destaquem e que
valor acrescentamos? façam diferente?
O que de diferente faze- Defendemos hoje a inclusão, o olhar
mos? Qual é, de facto, o para o outro, o sermos empáticos, solidá-
nosso contributo? Mer- rios e disponíveis; ao mesmo tempo que se
gulhados na velocidade do nosso tempo torna incontornável a capacidade de nos bedores de que os nossos não estarão sem-
e na urgência dos nossos dias, muitos mantermos focados na carreira e famí- pre protegidos e que terão de “enfrentar”
são aqueles para quem a resposta não lia, não nos esquecendo de nós próprios. o mundo com coragem (mas com medos
é óbvia e, quando é, fica aquém daquilo Pensando bem, é um tremendo mala- conscientes). Não podemos assumir que
que gostaríamos. barismo, digno das pinturas dos túmulos “quando for, será” e que na altura eles se-
Hoje, dá-se mais valor aos números do antigo Egipto. O que me leva a pensar que rão capazes. Somos parte integrante, com
nas pautas dos nossos jovens do que às malabarismos já se fazem há um punhado responsabilidades bem vincadas, na so-
atitudes que tomam. Valorizam-se “qua- de anos, pelo que se calhar precisamos ciedade do futuro. Há que procurar aliar
dros de honra” quando o foco deveriam ser somente de ajustar e aperfeiçoar técnicas, essa responsabilidade à assunção da ne-
tantos outros “quadros” que reconhecem face àquilo que tentamos equilibrar. cessidade de nos questionarmos e de-
valores maiores. “A educação vem do berço” é uma fra- safiarmos constantemente, e ao dever
O que queremos ou esperamos das no- se que já todos nós ouvimos ou lemos. que temos de continuar o legado deixado
vas gerações? Mais e melhor do que te- Que responsabilidade temos nós no por aqueles que nos antecederam.
mos hoje nas nossas empresas, nas es- contrapeso daquilo que a actualidade nos Temos de ter feito o exercício de não
colas, em cada uma das pessoas com que exige em temas como a igualdade de gé- deixarmos cair no esquecimento que,
nos cruzamos. Na realidade, queremos neros, a equidade nas oportunidades, li- mesmo numa sociedade deficitária em
aquilo em que tanto procuramos inves- deranças conscientes entre outros cha- alguns temas acutilantes, temos também
tir pessoal e profissionalmente: um ca- vões com que lidamos diariamente? uma história de conquistas: da liberdade
pital humano com conhecimento, ambi- Temos a obrigação moral e social de in- de expressão que me dá acesso a este es-
ção, focado nos objectivos, com o coração vestir nas nossas pessoas, e cada vez mais paço; à igualdade de direitos que me per-
no sítio certo e um propósito. E é aqui que isso se vê no seio das empresas, mas este é mite, enquanto mãe e mulher, traçar e tri-
se calhar o desalinho começa: no pro- um caminho que começa no “tal” berço, lhar uma progressão de carreira, à pos-
pósito, ou na falta dele. numa busca de que o propósito seja o bem sibilidade de educar um filho segundo os
Cada vez mais o foco deve estar no todo comum. E aqui o resultado pode bem ser meus ideais, com uma visão no futuro e
e não só na parte que somos cada um de a soma das partes (Aristóteles que me des- na liberdade que sei que irá respeitar,
nós, ou nos nossos resultados, nas nossas culpe a ousadia). O propósito de cada um deixando, à passagem, a sua impressão
conquistas, nas nossas batalhas. Temos a pode e deve ser algo com que nos identi- digital, o seu cunho pessoal.
obrigação de orientar as novas gerações ficamos e complementares entre si, seja Termino este “desabafo” com uma
para um propósito comum. Permitir-lhes ele a inclusão, a defesa das minorias, a frase na qual já tropecei diversas vezes
serem criativos, conscientes do que os igualdade, o equilíbrio entre vida familiar nos últimos anos, e que diz “There is no
rodeia, ambiciosos e crentes, e focados e profissional. Cada um de nós, investindo greater agony than bearing an untold
nas suas capacidades, mas com um olhar no mundo que existe para além de nós pró- story inside you”.
longe do seu umbigo. prios, pode fazer desalinhar o que temos Não podemos deixar de fazer histó-
Porque preparamos os nossos jovens hoje, criando algo melhor e maior. ria com a nossa passagem por aqui. Co-
para encaixarem em moldes, em ideologias, No final de cada dia devemos ter con- meça com os nossos, e transpõem-se ra-
em grupos, em formas de pensar, quando seguido ser educadores ambiciosos e sa- pidamente para o mundo.

20 Human Resources Portugal Maio 2020


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F E R RA M EN TA
UM KIT DIGITAL PARA GERIR O TALENTO
Para responder aos desafios do actual contexto e ajudar a diminuir o impacto da
pandemia, a Randstad disponibiliza às empresas um “kit digital”, que integra um
conjunto de ferramentas que alia as suas soluções tecnológicas à experiência dos seus
consultores, para garantir a melhor experiência nos processos de gestão de talento.

A
conjuntura COVID-19 O valor das soluções varia consoan- Inês Veloso, directora de Marketing
trouxe vários desafios te as necessidades das empresas, sen- e Comunicação da Randstad. «É por
para as empresas, prin- do que, numa primeira fase, algumas isso que estamos a disponibilizar es-
cipalmente para aquelas poderão contar com etapas isentas te kit digital. Esta medida é focada na
que não estavam familiarizadas com de custos. Estas são ofertas prontas nossa missão em garantir que este ví-
o trabalho à distância ou com o digital a entregar às empresas, com valores rus também não mata o emprego e que
a 100%. Mantendo o foco na Gestão de muito mais baixos e sempre com o su- contribuímos com as melhores prá-
Pessoas, a Randstad apresenta agora porte dos consultores. ticas para as empresas.»
uma nova oferta comercial, disponibi- «Nesta fase, é muito importante as Para as empresas que procuram an-
lizando às empresas a possibilidade empresas não esquecerem as pessoas tecipar cenários e definir estratégias
de usufruírem de algumas das solu- e fazerem a gestão do talento em todos para a retoma, o kit digital também tem
ções digitais já utilizadas internamen- os momentos do ciclo de vida. Ao mes- soluções para garantir o engagement
te com os seus clientes. mo tempo, compreendemos que po- no regresso dos colaboradores em re-
As cinco grandes áreas que com- dem não ter soluções tecnológicas que gime de lay-off, apoiar o regresso dos
põem este kit digital – ao qual se pode garantam a melhor experiência e que, colaboradores para a retoma ou ace-
aceder a partir do site – são recruta- em muitos casos, não possam inves- der a dados do mercado que permitam
mento, selecção, formação, gestão de tir em grandes projectos», faz notar traçar os próximos passos.
pessoas e planeamento do futuro. As-
sim, as empresas vão poder encontrar
as soluções que melhor correspondem
ao seu perfil, desde recrutar e receber
colaboradores de forma 100% digital;
utilizar uma estratégia de “gamifica-
tion” na selecção de talento, formar
colaboradores através de e-learning
ou fazer sessões de live training.
Na área de Gestão de Pessoas, a
Randstad dá acesso a ferramentas que
permitem avaliar a performance das
equipas, comunicar e gerir horários,
bem como aumentar o engagement
através de uma estratégia de reco-
nhecimento e feedback. Em cada uma
das cinco áreas, é possível encontrar
respostas – e tudo a partir de tecno-
logia já testada e do know-how dos
seus profissionais.

Human Resources Portugal 21


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TR ÊS I N ICIAT I VAS e em que se quer garantir a segurança


das pessoas no regresso ao trabalho.

ACELERAR A RETOMA E porque este é também um dos


objectivos da Randstad, a empresa jun-

EM SEGURANÇA tou os seus dois principais concorren-


tes, Adecco e Manpower, para elaborar
um documento de posicionamento.
Este documento identifica países
A Randstad Portugal lançou diversas iniciativas para apoiar as e sectores onde estão a ser aplicadas
empresas e acelerar a retoma depois da crise da COVID-19. medidas para garantir a segurança dos
trabalhadores no regresso ao trabalho.

I
Essas medidas serão acompanhadas e
dentificar as pessoas certas 2. randstad buzz – acompanhar avaliadas por estas empresas de Recur-
antes de serem precisas, dis- gestores de pessoas por whatsapp sos Humanos, que vão partilhar entre si
ponibilizar acompanhamen- Os gestores de Pessoas, sejam ou não as melhores práticas, especialmente
to gratuito aos gestores de Pes- de Recursos Humanos, têm um papel onde o teletrabalho não é possível.
soas e o esforço conjunto do sector para fundamental na retoma. E dimensões Os sectores abrangidos nesta me-
um regresso à normalidade (possível) ligadas ao talento, workplace, desen- dida são: transportes e logística; au-
foram as apostas: volvimento individual e de equipas vão tomóvel; indústria; ciências da vida;
ser críticas para acelerar a retoma. construção; alimentação. E, nesta pri-
1. identificar perfis críticos Para responder a este desafio, a meira fase, os países em análise são:
em tempos de crise equipa de consultores especializados R Espanha, Alemanha, Bélgica e Paí-
O objectivo é identificar os perfis da Randstad desenvolveu um conjun- ses Baixos: liderado pela Randstad;
críticos das empresas ainda antes de to de áudios que acompanham estes R Itália, França e Reino Unido: lide-
estes serem necessários. Actualmen- profissionais via WhatsApp, assegu- rado pela Adecco;
te, qualquer trabalhador pode, repen- rando um acompanhamento persona- R Países Nórdicos, Japão e EUA: li-
tinamente, ficar privado de traba- lizado e gratuito, com a perspectiva derado pela Manpower.
lhar, seja por estar contaminado, em de especialistas em Pessoas. O objectivo é que estas medidas
quarentena, assistência à família ou «Este é um modelo novo, em que possam ser escaladas rapidamente
até de luto. criamos um canal de partilha e outro para outras indústrias e países.
Esta incerteza, num cenário em que de interacção com os profissionais», Seguindo este compromisso global,
as empresas lutam pela sua sobrevi- explica Inês Veloso. «Além dos temas a Randstad Portugal quer também
vência, precisa de ter garantias; ga- principais, temos ainda áudios do que contribuir para o momento decisivo de
rantia de que um perfil validado está a Randstad recomenda. O que vai ser o regresso à normalidade no nosso país,
pronto para essa integração e substi- novo normal? Como garantir a energia assumindo um papel activo na parti-
tuição temporária, assegurando que das equipas e o seu acompanhamento? lha do conhecimento e reforçando a
o negócio não pára. Em momentos curtos, pouco intrusi- sua disponibilidade para colaborar
Inês Veloso, directora de Marke- vos, mas juntos, vamos oferecer gra- com as diversas entidades competen-
ting e Comunicação da Randstad Por- tuitamente a nossa experiência e vi- tes.Isto para garantir que, em conjun-
tugal, destaca: «Queremos garantir são para que consigamos mesmo ace- to, são tomadas medidas concretas.
que os negócios não páram por falta de lerar esta retoma.» «Mais eficaz do que legislar e fis-
pessoas e que têm os perfis adequados. calizar, é estarmos juntos nesta pre-
Esta é e sempre foi a nossa missão e 3. aliança para o regresso paração, assumindo não apenas com-
por isso, sem qualquer compromisso ao trabalho em segurança promissos, mas também acções con-
de utilização ou custos, queremos des- Numa crise sem precedentes exige-se cretas, porque a vida humana é o bem
de já identificar essas pessoas. As em- colaboração, para que se consiga mini- mais importante da economia e preci-
presas podem nunca precisar, mas em mizar o impacto da mesma, não ape- sa de trabalho para a sua própria feli-
caso de urgência vamos conseguir res- nas no combate, mas também neste cidade», afirma José Miguel Leonar-
ponder de imediato.» momento em que se prepara a retoma do, CEO da Randstad Portugal.

22 Human Resources Portugal Maio 2020


Em Directo

JOÃO GÜNTHER AMARAL


ADMINISTRADOR E CHIEF DEVELOPMENT OFFICER NA SONAE

Um acelerador
chamado sentido
de propósito
Sabendo que estamos a viver uma situação sem precedentes e que é preciso
garantir os níveis de energia, resiliência e determinação, a Sonae acredita
dispor de um acelerador para ajudar todas as empresas do grupo a ultrapassar
circunstâncias desafiantes: o sentido de propósito. POR Ana Leonor Martins

oão Günther Amaral, adminis- no que à gestão de talento diz respeito, tal danças nas nossas vidas pessoais e pro-
trador e Chief Development Of- como o engagement dos colaboradores, fissionais. Naturalmente, dada a diver-
ficer (CDO) da Sonae, garante: a diversidade e inclusão, e o desenvol- sidade de negócios que temos no grupo,
«Todos participamos. Todos vimento pessoal contínuo e reskilling. a realidade que se vive em cada um deles
ajudamos. E a coragem e o em- é bastante distinta e cada uma das em-
penho de todas as equipas num Como é que a actual situação de excep- presas está a implementar as medidas
momento como este é mesmo impres- ção tem sido vivida – e gerida – na Sonae, de gestão adequadas ao seu contexto.
sionante e comovente.» Com mais de 50 o maior empregador privado do País? Ainda assim, há dois eixos transver-
mil colaboradores e um portefólio muito A Sonae tem estado a acompanhar em sais a todos os negócios. Por um lado, to-
diversificado de negócios, que passa pelas permanência a actual situação de pan- dos estão focados em assegurar o acesso
áreas do retalho, serviços financeiros, tec- demia que vivemos, seguindo as reco- aos serviços e produtos essenciais, sejam
nologia, centros comerciais e telecomu- mendações das autoridades competen- eles alimentares ou comunicações, em
nicações, a resposta teve obviamente de tes e adoptando sempre as melhores prá- canais físicos ou digitais. E claro que
ser distinta e adaptada a cada realidade, ticas, com o intuito de garantir a segu- esta preocupação não se coloca apenas
mas foi rápida. E para isso também con- rança, saúde e bem-estar dos colabora- na relação com os clientes, mas abran-
tribuiu o facto de há cerca de um ano ter dores, clientes e comunidade. ge toda a comunidade, pois existem gru-
sido implementada na Sonae uma políti- Estamos a viver uma situação sem pos específicos na população em situa-
ca de trabalho flexível. As novas formas precedentes, em que, de um dia para o ções muito fragilizadas que merecem a
de trabalho eram já uma área prioritária outro, todos fomos obrigados a fazer mu- nossa atenção especial.

24 Human Resources Portugal Maio 2020


Os nossos
valores e sentido
de propósito
favorecem-nos para
sair deste momento
mais fortes, mais
determinados,
mais inovadores e
melhor sucedidos.

Por outro lado, temos a consciência


de que não podemos apenas reagir às
questões que se nos colocam de imedia-
to, sendo necessário antecipar cenários
futuros e preparar as nossas pessoas e as
nossas empresas para um novo normal
que se avizinha.

Como referiu, o universo Sonae tem um por-


tefólio muito diversificado de negócios,
tendo actividade nas áreas do retalho,
serviços financeiros, tecnologia, centros
comerciais e telecomunicações, o que
implica que não tenham podido gerir a cri-
se de uma só forma. Quais as diferenças
mais significativas?
Todas as empresas estão a ser fortemen-
te impactadas na sua actividade, e as nos-
sas não são excepção. Enquanto umas
se viram mesmo obrigadas a suspender,
totalmente ou em parte, a sua activida-
de – como as lojas de moda e desporto,
restaurantes, cafetarias –, outras estão
a viver dias muito diferentes do habitual:
com novas sazonalidades, alterações no
comportamento de compra dos clientes,
novas regras e condicionalismos nas lo-
jas físicas, cadeias de abastecimento im-
pactadas, comércio eletrónico sob imen-
sa pressão, milhares de colaboradores
em teletrabalho, etc.
Cada uma das nossas empresas gere
as suas próprias especificidades, tendo

Human Resources Portugal 25


Em Directo JOÃO GÜNTHER AMARAL

sempre a possibilidade de recorrer às Acredita que, nesta fase, o pensamento es-


sinergias de grupo em processos de na- teja na retoma da “normalidade” (a pos-
PERCURSO
tureza transversal. Nessas situações, sível). O que é para a Sonae prioritário as-
formámos equipas de trabalho trans- segurar? E como o pretendem fazer?
versais, partilhámos informação, estu- João Günther A retoma à normalidade será um proces-
dámos e preparámos cenários futuros Amaral so gradual. É fundamental relançar a
em conjunto. economia, para o bem de todos, mas te-
Uma das vantagens de sermos um Com um percurso de 19 anos
mos de o fazer com um enorme sentido
grupo tão diverso e exposto a diferentes na Sonae, João Günther Amaral de responsabilidade. Com o levantamen-
realidades é, desde logo, a riqueza de co- começou como analista de to do Estado de Emergência, teremos
nhecimento, pontos de vista e entreaju- sistemas, passando por várias áreas um aumento relevante do risco de con-
da, fundamentais em momentos como da organização (Sistemas, Inovação, tágio. Temos de saber proteger-nos da
Melhoria Contínua, Logística e
o que estamos a viver. Cadeia de Abastecimento). A
melhor forma.
experiência acumulada nesse Concretamente, e pensando nos nos-
De forma genérica, quais diria que têm sido percurso, liderando equipas de sos colaboradores, a regra base é a do dis-
os principais desafios na gestão desta crise? diferentes naturezas (pequenas tanciamento social e, sempre que possí-
A imprevisibilidade desta pandemia veio e grandes, operacionais e vel, a manutenção do trabalho remoto,
estratégicas), levou-o a assumir
trazer enormes desafios, literalmente de hoje funções transversais no Grupo
pois esta é a forma mais segura de nos
um dia para o outro. Assim que vislum- Sonae, na gestão de talento, digital, protegermos. Mas também não podemos
brámos os primeiros sinais da pandemia comunicação, sustentabilidade e morrer da cura. Somos seres sociais que
na China, foi reunido o Comité de Crise, public affairs. É Chief Development necessitam de sair de casa, estar com os
que começou a desenhar possíveis ce- Officer e adjunto da Comissão colegas de trabalho, sentir o ambiente de
Executiva da Sonae desde Abril de
nários para a chegada do SARS-COV-2 2019. Licenciado em Engenharia
trabalho, aprendendo a conviver dentro
aos países em que operamos. Electrotécnica e de Computadores das novas restrições que a actual situa-
Estamos perante um evento novo, e com um MBA Executivo em ção nos coloca. Faseadamente, faremos
que implica que tenhamos capacidade Gestão, antes de ingressar na Sonae o regresso ao escritório, e para tal está a
de leitura de contexto, de estudo e, so- passou pela Agência de Inovação ser feito o reajuste dos espaços. Teremos
(1994-1997) e pela Leica Camera
bretudo, rapidez na tomada de decisões. AG (1997-2001).
novas regras de conduta, equipamentos
Paralelamente, temos de garantir os ní- de protecção, etc.
veis de energia, a resiliência e a deter- A mesma segurança foi estudada e
minação para continuarmos a agir com está agora a ser preparada para os nos-
confiança. Dito isto, também é certo que moto para todas as funções em que tal sos clientes, em lojas ou centros comer-
temos um acelerador que nos ajuda a é possível, e à adopção de equipamento ciais. As pessoas têm de se sentir seguras
ultrapassar circunstâncias desafiantes: e regras de segurança para todas as res- nestes espaços – e é com esse foco que
o nosso sentido de propósito. Todos par- tantes funções. estamos a trabalhar.
ticipamos. Todos ajudamos. E a coragem No que respeita às operações pro- A retoma da economia também vai
e o empenho de todas as equipas num priamente ditas, o objectivo foi manter depender da nossa capacidade de adap-
momento como este é mesmo impressio- os níveis de serviço ao cliente, o que im- tação a esta nova realidade. Teremos de
nante e comovente. plicou alterações profundas nas ope- reinventar alguns dos nossos negócios,
rações de loja, no aprovisionamento e ser inovadores e antecipar as necessi-
Concretizando nos diferentes tipos de ne- nas operações online. Ninguém estava dades futuras dos clientes.
gócio, o que destacaria? preparado para uma mudança radical
Do ponto de vista imediato, a nossa preo- do comportamento do consumidor, e as Actualmente, a crise que vivemos ainda
cupação foi, e continua a ser, a protecção cadeias precisam de algum tempo para é, sobretudo, de saúde pública. Avizinha-
de todos. Temos de fazer tudo o que es- se ajustarem a esta nova realidade. -se uma crise económica. Sendo a Sonae o
tá ao nosso alcance para garantir am- Nas operações que viram a neces- maior empregador privado do nosso país,
bientes seguros, para que possamos con- sidade de suspender o funcionamento como estão a encarar este tema, pensando
tinuar a cumprir a nossa missão. das suas lojas, foram feitas transforma- em termos mais macro?
De forma transversal, a salvaguar- ções nos negócios de forma a continuar- Na Sonae vivemos de acordo com um con-
da da saúde dos colaboradores levou à mos a chegar aos clientes por outras vias, junto de valores que nos preparam para
implementação rápida do trabalho re- nomeadamente a via digital. ultrapassar momentos difíceis com am-

26 Human Resources Portugal Maio 2020


Em Directo

bição, criatividade e determinação. Sem-


pre dissemos que as pessoas estão no
centro do nosso sucesso. E estão mesmo.
Trata-se de garantir que temos as com-
petências, as atitudes e os comportamen-
tos para fazer face aos mais diversos e,
neste caso, adversos contextos. Temos
a certeza absoluta de que os nossos va-
lores e o nosso sentido de propósito nos
favorecem para sair deste momento ain-
da mais fortes, mais determinados, mais
inovadores e melhor sucedidos.

Mas será que estamos preparados, empre-


sa e profissionais, para o que se segue?
Hoje estamos todos, enquanto sociedade,
perante um momento difícil, mas vamos
ultrapassá-lo. Todos os negócios vão ser
afectados, mas cá estaremos para os re-
cuperar. E, acima de tudo, na Sonae, sa- siderada tão relevante que está presente são apenas alguns dos exemplos do que
bemos que podemos contar uns com os nos nossos indicadores de desempenho. temos vindo a distribuir por dezenas de
outros, em todos os momentos. É esse entidades onde se incluem hospitais, au-
o nosso espírito. Para que riscos teremos sobretudo que tarquias e instituições de solidariedade.
No futuro, vamos estar a operar num estar atentos? Estamos a colaborar de forma concer-
mundo diferente: mais digital, mais preo- Neste momento concreto temos de estar tada e contínua com o governo portu-
cupado com a saúde, com a educação e muito atentos aos riscos provocados pelo guês, operacionalizando as actividades
mais atento ao planeta. Mas nenhum vírus que actualmente nos está a atacar. de sourcing, logística, transporte e dis-
destes temas é novo para a Sonae. Desde Temos de garantir que seguimos todas as tribuição de equipamentos médicos.
cedo começámos os processos da digi- recomendações, evitando novas vagas de E não nos podemos esquecer do ris-
talização que nos permitem hoje respon- confinamento social e os impactos de enor- co económico em que se encontram al-
der às necessidades dos clientes por essa mes dimensões que um retrocesso teria. gumas das empresas do nosso tecido em-
via. A saúde foi, há muitos anos, consi- Mas, de facto, os riscos não ficam presarial. Por isso mesmo, foram várias
derada por nós uma das áreas de desen- por aqui. Temos de estar especialmente as situações em que alterámos as con-
volvimento estratégico, dando origem à atentos às desigualdades e necessidades dições contratuais, nomeadamente an-
Wells, e mais recentemente à Dr. Wells. A que infelizmente existem e que tendem a tecipando pagamentos de forma a au-
preocupação com a educação esteve sem- agudizar-se nestas alturas. Este é o mo- mentarmos a sua liquidez imediata.
pre presente e é materializada nos pro- mento de unirmos esforços com todos os
gramas de formação internos, bem como que tentam mitigar estes riscos. Bens ali- Muito se tem falado e escrito sobre uma mu-
no apoio à comunidade que fazemos es- mentares, electrodomésticos, espaços dança de paradigma, um novo normal. A
pecificamente junto da população mais físicos, telecomunicações, serviços e co- adaptação a novos modelos de organização
jovem. Por fim, a sustentabilidade é con- nhecimento dos nossos colaboradores, do trabalho já há algum tempo vinha a ser
uma aposta na Sonae, promovendo-se uma

Não há uma gestão de uma massa humana.


maior flexibilidade. Acha que isso vos dei-
xou melhor preparados para responder a

Há uma gestão de pessoas, de indivíduos esta pandemia?


Sem dúvida nenhuma. Temos falado mui-
com personalidade, competências, to sobre isso na Sonae. O facto de já ter-
mos definidas as políticas em matéria
desejos e ambições específicas. de flexibilidade no trabalho contribuiu
para que esta transição do escritório para
casa tenha acontecido de forma imediata.

Human Resources Portugal 27


Em Directo JOÃO GÜNTHER AMARAL

Já tínhamos a tecnologia, as ferra-


mentas e os equipamentos necessários
preparados para esta mudança, sem os
quais o trabalho remoto não seria pos-
sível. Mas mais importante do que tudo
isso, tínhamos as pessoas e as lideran-
ças já familiarizadas com estas novas
formas de trabalhar, que vão, sem som-
bra de dúvida, tornar-se cada vez mais
habituais nas empresas.
Houve naturalmente ajustes que fo-
mos fazendo, mas, de uma forma geral,
sentimos que estávamos bastante bem
preparados para esta realidade que nos
apanhou de surpresa, mas à qual rapi-
damente nos adaptamos.

Em que consiste essa política de flexibi-


lidade laboral?
Com a missão de contribuir de forma contrar alternativas que façam sentido.
activa para a integração entre a vida pes- Precisamos de soluções diferentes para
soal e a vida profissional dos colabora- tipologias de trabalho diferentes.
dores e, consequentemente, para o seu
bem-estar e realização profissional, as Qual a percentagem de colaboradores
diferentes empresas do universo Sonae que pode beneficiar?
começaram a implementar, há cerca de Foram mais de três mil os colaborado-
um ano, uma política de trabalho flexí- res abrangidos pela primeira fase de im-
vel, que contempla diferentes formatos, plementação desta política, sendo que a
com vista a adaptar-se às necessidades taxa de adesão ultrapassou os 40% dos
de cada um: trabalho remoto, horário colaboradores elegíveis para as medi-
flexível, redução de horário de trabalho das implementadas.
– com redução proporcional do venci-
mento –, licença sem vencimento, e até Que medidas têm tido maior adesão?
cinco dias livres extra, não remunerados. Os modelos mais populares são o traba-
lho remoto e os horários flexíveis, sem tiva e da motivação que está a provocar,
Mas essa flexibilidade não é possível em implicações salariais. São adaptações que, por seu turno, se correlaciona com
todas as vossas áreas de negócio... Como simples, mas que têm um enorme impac- a produtividade das nossas pessoas. No
têm feito essa gestão? to na integração da vida profissional e fundo, tudo se resume a confiança e a
A política de trabalho flexível aplica-se pessoal. O primeiro balanço, realizado responsabilidade, valores que estão na
aos colaboradores cujas funções são com- no final de 2019, contava já com 23 mil base da relação que temos uns com os
patíveis com os requisitos de cada uma horas só na adesão ao trabalho remoto. outros. O que este programa permite é
das iniciativas, e oferece flexibilidade na Também já tivemos casos de colabora- que cada um adapte o seu horário e lo-
personalização do formato de trabalho, dores que pediam a licença para viajar cal de trabalho de acordo com o seu esti-
conforme o perfil e necessidades de cada ou para fazer acções de voluntariado. lo de vida e mesmo de acordo com o seu
colaborador, permitindo a concretização ciclo de produtividade.
dos objectivos pessoais e profissionais Já conseguem perceber resultados prá- Claro que, ao longo do tempo, a aná-
de cada um. ticos dessa política de flexibilidade, no- lise dos parâmetros que definimos vai
Por exemplo, quando a presença fí- meadamente em termos de motivação permitir-nos medir o impacto do pro-
sica do colaborador e a interação com o e produtividade? grama nos seus vários eixos, e fazer as
cliente é essencial, o trabalho remoto A taxa de crescimento da adesão é o adaptações a novas necessidades que
não é viável. Nesses casos, temos de en- melhor indicador de sucesso da inicia- possam surgir.

28 Human Resources Portugal Maio 2020


Em Directo

Dada a realidade actual, pretendem refor- nosso talento de topo. Por isso mesmo, es- E este exemplo leva-me ao último pon-
çar a vossa aposta nesse âmbito? tudamos e escolhemos as metodologias to: as novas formas de trabalho e o res-
Actualmente, o desafio de estar em casa de auscultação dos colaboradores que killing. Bem sei que é uma frase feita, mas
encerra em si uma multiplicidade de res- mais e melhor informação nos possam efectivamente o mundo está em cons-
ponsabilidades e tarefas que os colabo- dar a este respeito. O eNPS (employee Net tante mudança. Há uma grande quanti-
radores se vêem obrigados a gerir no seu Promoter Score) foi uma das métricas dade de profissões que será parcialmente
dia-a-dia, e que vão muito para além da escolhidas e que já está em aplicação em automatizada ou desaparecerá ao longo
componente profissional. Num mesmo algumas das nossas empresas. dos próximos anos. Num mundo em mu-
dia, a par da sua actividade profissional, De seguida, a diversidade e inclusão. dança, o que é pedido a cada profissional
são chamados a prestar assistência à fa- A inovação e o progresso fazem-se da também mudará. Também nós temos
mília, a acompanhar os estudos dos fi- combinação de competências e de dife- de estar em constante mudança, ten-
lhos e a gerir a casa, entre tantas outras rentes pontos de vista. Temos de con- do a capacidade de adquirir novas com-
requisições que vão surgindo. tinuar a garantir a diversidade das equi- petências que nos abram novos hori-
Sem dúvida, o actual contexto veio pas e, sempre que necessário, acelerar zontes de desenvolvimento, ou mesmo
acelerar e generalizar – ainda que de alguns destes movimentos. Concretizan- reinventando-nos através da formação
forma forçada – a adopção de práticas para uma nova ocupação, com caracte-
de trabalho flexível, nomeadamente no rísticas totalmente diferentes.
que diz respeito ao trabalho remoto e Num mundo
horário flexível. Com o levantamento do
em mudança, o
O que acredita que distingue a vossa
confinamento é certo que vamos poder cultura e a vossa marca de empregador?
voltar aos escritórios, mas será, como
disse, de forma faseada. O trabalho re-
que é pedido a As pessoas que trabalham na Sonae têm
uma ligação de enorme profundidade
moto veio para ficar e será muito mais cada profissional com o seu propósito, a sua missão. Re-
utilizado do que era no final de 2019.
também mudará. pare: neste momento temos lojas aber-
tas com colaboradores a garantir que há
Que outras políticas, ou áreas, conside-
ram estratégicas em termos de Gestão de
Também nós produto na prateleira, que tudo funcio-
na respeitando as novas regras; temos
Pessoas? E qual a relevância que assumem temos de estar colaboradores a criar lojas online para

em constante continuar a servir os clientes, de um dia


para o negócio?
A Sonae possui uma estratégia integrada para o outro; temos colaboradores em
de gestão de talento, que acompanha os
diferentes estádios do ciclo de vida dos
mudança. casa a analisar e a reinventar o seu ne-
gócio para estarem preparados para um
colaboradores, desde a atracção e recru- novo normal no momento de reaber-
tamento, passando pelo onboarding e in- tura; temos colaboradores totalmente
tegração, a aprendizagem e desenvolvi- dedicados a encontrar a melhor forma
mento, a gestão de desempenho, a car- do, temos por exemplo como objectivo de apoiar a comunidade e os grupos de
reira e liderança, o reconhecimento e a o aumento do número de mulheres em risco... isto só é possível quando existe
retenção. Cada uma destas etapas con- funções de liderança. uma ligação profunda a uma missão.
templa um conjunto de políticas, que O desenvolvimento pessoal contínuo Todos nós queremos levar o nosso
garantem a coerência e o alinhamento é outra prioridade constante. Sabemos melhor à comunidade. Todos nós acre-
com os padrões definidos e partilhados que somos reconhecidos como uma es- ditamos na criação do valor social a par
entre todos os negócios do Grupo. cola de líderes, que é algo que muito nos da criação do valor económico, e lutamos
orgulha e que continuaremos a perse- por isso todos os dias. E isto é transversal
Quer destacar algumas...? guir. Aproveitamos todas as oportuni- a negócios, hierarquias ou competências.
Fazendo uma leitura sobre as priorida- dades para reforçar o desenvolvimento
des para o futuro, vale a pena realçar das nossas pessoas. Veja-se o exemplo ac- Serem um grupo tão diversificado, com
quatro áreas distintas. Em primeiro lu- tual. Fruto do confinamento e encerra- inúmeras oportunidades de evolução de
gar, é necessário garantirmos que co- mento de muitas das nossas lojas, os cola- carreira também contribuirá para a vossa
nhecemos os níveis de engagement dos boradores tiveram oportunidade de apos- atractividade enquanto empregador...
colaboradores e que, em particular, me- tar na sua formação através de cursos on- Sim, depois vem tudo o resto: diversi-
lhoramos continuamente a retenção do line direccionados às suas necessidades. dade de negócios – em diferentes geo-

Human Resources Portugal 29


Em Directo JOÃO GÜNTHER AMARAL

gitalizar e virtualizar todo o processo de


recrutamento e selecção de candidatos.
Para além disto, tivemos de adaptar o
calendário, de modo a assegurar o ali-
nhamento com as alterações anunciadas
pelas instituições de ensino superior.

Olhando para o futuro, de forma global,


que outras preocupações têm na agenda?
De forma resumida, há três grandes te-
mas a ter em consideração. No que res-
peita à criação de valor económico, te-
mos de fomentar a pró-actividade e o
dinamismo. Temos de ter uma atitude
de inconformismo, procurando conti-
nuamente a inovação nos processos e
modelos de negócio que nos permitam
adaptar-nos rapidamente a novos con-
textos. A agilidade da análise e da to-
mada de decisão vão ser, cada vez mais,
grafias – e perfis; a aposta na formação O que vai acontecer aos planos estraté- fundamentais na gestão do negócio.
e desenvolvimento; a promoção da mo- gicos e objectivos que tinham traçado Temos de promover a solidariedade.
bilidade interna, pois acreditamos na para 2020, quer em termos da Gestão de Não nos podemos esquecer da importân-
riqueza que decorre da diversificação Pessoas, quer de negócio? cia da geração de valor social. Temos de
dos percursos de carreira e crescimen- Cada negócio tem os seus cenários de fu- continuar a combater as desigualdades
to dos nossos colaboradores; a já fala- turo definidos e fará os ajustes necessá- sociais e apostar fortemente na educa-
da Escola de Líderes; e o facto de viver- rios. Não diria que haverá uma mudança ção, em particular na educação digital,
mos uma cultura de meritocracia, onde da estratégia de fundo, mas pode haver logo desde o ensino primário. O mundo
a diferenciação do desempenho e con- a necessidade de fazer ajustes tácticos cada vez mais digital não pode passar
tributo dos colaboradores e equipas é durante este ano em alguns negócios. apenas por fazermos mais compras on-
sustentado por processos e ferramen- Existem muitos estudos, mas poucas line e por usarmos mais aplicações no
tas de reconhecimento. Queremos ter certezas do que será a evolução da doença telemóvel ou nas videoconferências. Te-
e reter o melhor talento. e da retoma da economia. As próximas mos de aproveitar esta oportunidade
semanas serão essenciais, por exemplo, para desenvolver a educação digital dos
Ao todo, quantas pessoas emprega o para percebermos o impacto do final do nossos filhos. Um mundo cada vez mais
Grupo Sonae? confinamento no número de pessoas digital pode aprofundar as desigualda-
Actualmente, o Grupo Sonae conta com infectadas. A existência ou não de uma des já hoje existentes e que não podem
mais de 50 mil colaboradores. segunda vaga da pandemia fará toda a continuar a crescer. É muito importante
diferença nos planos deste ano. garantirmos que no novo normal que
Quais diria que são os principais desa- Estaremos muito atentos a todo o vai surgir haja maior igualdade de opor-
fios na gestão dessa “massa humana”, desenvolver da situação actual e, com tunidades e que reduziremos as assi-
digamos assim? serenidade e responsabilidade, faremos metrias actualmente existentes.
Não há uma gestão de uma massa hu- os ajustes necessários aos planos. Por fim, a defesa do planeta. De nada
mana. Há uma gestão de pessoas, de in- Um exemplo disso mesmo é o Pro- nos serve ter saúde e economias fortes
divíduos com personalidade, competên- grama Contacto. Tendo sido nossa fir- se não continuarmos a aposta forte de
cias, desejos e ambições específicas. me convicção de que a edição deste ano protecção do nosso planeta. Não pode-
Paralelamente, há de facto um con- não deveria ser cancelada, pelo papel mos usar as dificuldades que esta cri-
junto de princípios, valores e políticas estratégico que o programa tem tido ao se nos coloca como desculpas para re-
transversais que garante que a cultura longo dos anos na injecção de talento laxarmos relativamente aos diferentes
Sonae está presente em todos os negó- jovem de elevado potencial na Sonae, compromissos ambientais que já esta-
cios e em cada um de nós. tivemos necessidade de redesenhar, di- vam assumidos.

30 Human Resources Portugal Maio 2020


41a EDIÇÃO • PORTUGAL

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Tema de Capa

Como a vida, os negócios e a liderança


mudaram – e ainda vão mudar – como
consequência da pandemia COVID-19.
POR Josh Bersin

32 Human Resources Portugal Maio 2020


Human Resources Portugal 33
Tema de Capa

A
vida mudou num ápi- CINCO VERTENTES uma das décadas de maior crescimen-
ce. Entre o medo, a cri- to de PIB [Produto Interno Bruto] da
se económica e o distan- “GRANDE RESET” história. Após a crise de 2008, passá-
ciamento social, surge mos por 11 anos de crescimento do PIB
uma noção maior de e uma década a falar sobre transforma-
proximidade. O vírus não discrimina, TRABALHO ção digital, competências e empregos
pode apanhar qualquer um de nós: os Fazer com que o trabalho do futuro, e sobre como prosperar num
digital tenha sucesso. Em vez de
nossos pais, os nossos filhos, os nossos simplesmente oferecer ferramentas
mundo com baixos níveis de desempre-
vizinhos, os nossos amigos. E isso acaba aos colaboradores, vamos tornar go. A bolsa e o mercado laboral explodi-
por nos unir. o trabalho remoto positivo, ram, os CEO ficaram ricos e as empre-
produtivo e satisfatório.
E o paradoxo acontece nos negócios. sas geraram tantas acções que devolve-
Falei com dezenas de líderes e todos es- ram algumas aos accionistas.
tão em modo de crise. Mas à medida que Durante este hipercrescimento, po-
lidam com a sua própria crise no traba- rém, os problemas começaram a apare-
lho, estão também a aproximar-se mais cer. A desigualdade salarial tornou-se
ORÇAMENTOS
das suas pessoas. Como debati recen- Simplificar, fazer melhor com
maior; as pessoas começaram a mos-
temente (em “Pessoas Primeiro, Eco- menos, tornar o trabalho mais fácil. trar sinais de stress. A produtividade
nomia Segundo”), a única forma de so- Ou seja, aplicar cuidadosamente global arrastou-se atrás do PIB duran-
o princípio de Marie Kondo nos
breviver a este vírus é a ter a certeza que negócios. Dizer “adeus e obrigado” te uma década e problemas como ansie-
os colaboradores estão a salvo. E todos a todos os processos, comités, dade, depressão e suicídio aumentaram.
reuniões, chamadas de conferência
os executivos compreendem: eles pró- e emails que não são necessários.
E talvez o indicador mais assustador
prios podem apanhar o vírus. de problemas sociais seja a taxa de fer-
Ainda estamos a meio da crise, por tilidade: as famílias dos países desen-
tanto o futuro não é claro. Será que isto volvidos não têm crianças suficientes
irá arrastar-se mais uns meses ou tere- para nos substituírem.
mos uma disrupção médica e económi- Nas minhas viagens, vi um cresci-
LIDERANÇA
ca que durará anos? Independentemen- Um novo enfoque na empatia e
mento económico drástico na Índia e
te do seu fim, para mim é claro que esta- na compreensão. A empatia está China, uma explosão empresarial no Mé-
mos a meio de um “Grande Reset”, uma em alta. Ouvir as pessoas está dio Oriente e o aumento do crescimento
em alta. Pressionar as pessoas,
nova forma de pensar sobre o trabalho, criar competição e forçar o económico na Europa de Leste. Tinha
a vida, os negócios e a liderança. Passo crescimento – está em baixa. esperança na minha viagem a África es-
a explicar. te ano. Todos os líderes que conheci que-
riam falar sobre o futuro do trabalho, so-
Como chegámos aqui bre a requalificação das suas pessoas,
Primeiro, é importante colocar a situa- sobre a forma mais adequada de melho-
ção no seu contexto. Terminámos agora CONFIANÇA rar a vida dos seus colaboradores nesta
Levem-na a sério e aprendam a fase de crescimento contínuo.
viver com ela. A confiança é uma
No mercado das tecnologias de Recur-
À medida que
coisa complicada e é constituída
por três coisas fundamentais: sos Humanos, foi o período mais expan-
ética, competência e voz.
sivo da minha carreira. Nasceram mais
os líderes lidam de quatro mil novas empresas de tecno-
com a sua própria logias de Recursos Humanos; abundava
capital de investimento; e muitas novas
crise no trabalho, ideias foram desenvolvidas. A promessa
da inteligência artificial (IA) deu origem
estão também a
GESTORES DE PESSOAS
Juntem-se e trabalhem como os
heróis que precisamos que sejam.
a uma sensação de maravilha e de rein-
aproximar-se mais O grande reset é que os RH agora
“são realmente o negócio”. Já
venção, e muitas pessoas fora da área
de Recursos Humanos saltaram para
das suas pessoas. não “servimos o negócio” ou nos
“sentamos à mesa”. Somos centrais
e essenciais para a sobrevivência.
o mercado.
Tudo isso está prestes a mudar. Cha-
mo a isso o “Grande Reset”: Reiniciar as

34 Human Resources Portugal Maio 2020


Independentemente do seu fim, estamos lhões de empregos podiam ser feitos a
partir de casa. Actualmente, esse número
a meio de um “Grande Reset”, uma é quase duas vezes mais alto, calcula-se
que perto dos 50 milhões. Enquanto mui-
nova forma de pensar sobre o trabalho, tos colaboradores (restaurantes, produ-
a vida, os negócios e a liderança. ção, cuidados médicos, logística) nun-
ca poderão trabalhar a partir de casa, a
taxa de crescimento continua a ser enor-
me. E ainda está por ver o grande impac-
to que isto terá no mercado do imobiliá-
nossas expectativas. Reiniciar as nossas trainer, uma lição de piano digital, uma rio comercial.
prioridades. E reiniciar a forma como aula virtual de ioga (ensinada pela minha As ferramentas estão a ficar cada vez
gastamos o nosso tempo. Deixem-me filha) e dois “lanches” digitais. Tive de- melhores: agora está na hora de fazermos
tentar explicar. zenas de videochamadas com clientes e com que o futuro do trabalho tenha su-
fizemos um workshop de dois dias com cesso. Em vez de simplesmente oferecer
um cliente global, que incluiu pessoas ferramentas aos colaboradores, vamos
de sete países, com sessões de pausa e tornar o trabalho remoto positivo, produ-
discussões sobre estratégia. Foi um enor- tivo e satisfatório para todos os colabo-
me sucesso. radores. E vamos também juntar as pes-
Trabalhar em casa está a conseguir soas nesse processo.
levar-nos ao limite. Estamos a chegar ao
“estado final” da transformação digital:
tornar os empregos e os cargos indivi-
duais relevantes, produtivos e interes-
santes online. E estamos todos a apren-
dê-lo depressa.
Durante o tempo em que viajei e co-
#1. Reiniciar o trabalho: Fazer com nheci muitas empresas, sempre senti
que o trabalho digital tenha sucesso que estávamos apenas a experimentar o
O primeiro “grande reset” é que vamos básico do trabalho remoto. As empresas
fazer com que o trabalho digital e remo- reformulavam os escritórios, criavam es-
to seja um sucesso... e vamos fazê-lo da paços de trabalho conjunto, compravam
forma mais humana. ferramentas de objectivos e métricas e
Ao longo da última década, todos pas- montavam quadros brancos. E depois #2. Reiniciar os orçamentos:
sámos por transformações digitais – mas, celebravam “Somos ágeis!” e assumiam Simplificar, fazer melhor com
de certa forma, a nossa vida profissio- que a transformação estava completa. menos, tornar o trabalho mais fácil
nal não melhorou. Esforçávamos-nos Mas não era bem assim. O segundo reset é também claro: a eco-
para chegar ao escritório, depois passá- Como agora compreendemos bem, o nomia está a cair a pique. O nosso orça-
vamos o dia “de roda” de emails, reuniões, trabalho remoto é mais do que ter uma mento vai levar um corte. E isto pode
chamadas em conferência e projectos. licença do Zoom ou criar um open space. significar uma equipa mais pequena,
Nunca sabíamos quando parar, por isso Temos de criar um conjunto de regras, mas significa definitivamente redefinir
a nossa produtividade, saúde e bem-estar práticas e normas culturais que permi- o que fazemos.
foram afectados. tam que os profissionais trabalhem re- O que dá origem a muitas questões
Bem, agora vamos fazer com que o motamente. Quando as pessoas são in- importantes. A primeira é que os lay-
trabalho digital tenha sucesso: não te- terrompidas em casa, podem ignorar -offs, embora possam ser necessários
mos outra escolha. Serão estabelecidas uma reunião? Quando é que as câmaras para a sobrevivência, podem ser fatais.
novas ferramentas, regras e normas, que estão ligadas e desligadas? Que vestuá- Os “sobreviventes” de um lay-off perdem
serão usadas durante décadas. rio devem usar? 20% da sua produtividade, mas não vou
Na semana de confinamento da mi- A propósito, o mercado de “home offi- aprofundar esse tópico agora. (O Institu-
nha família, a minha mulher teve treinos ce” é enorme. Em 1997, a Agência de Es- to Brookings calcula que estão em peri-
de exercício virtuais com o seu personal tatísticas Laborais acreditava que 37 mi- go de se perderem 24 milhões de empre-

Human Resources Portugal 35


Tema de Capa

Se os enfermeiros estão na linha pios de liderança que promoveu nos anos


70 e 80 agora também morreram. Lem-
da frente dos hospitais, os gestores bram-se das classificações forçadas, dos
objectivos em cascata e da avaliação com-
de Pessoas estão na linha da frente petitiva? Estes princípios de liderança
da empresa. Há uma ascenção e recuaram, sendo substituídos agora por
ouvir, capacitar, mentalidade de cresci-
reinvenção dos Recursos Humanos. mento e uma forte dose de curiosidade.
Os actuais líderes de alta performance
são diferentes. Sentem empatia, pensam
nas pessoas e na sociedade, e ouvem com
atenção. Haverá sempre executivos esti-
gos, cerca de 16% da mão-de-obra norte- o seu crescimento viria a criar “perce- mulados pelos resultados financeiros, mas
-americana. Um grande número.) bes”. Muitos e muitos sistemas que não esses estão a ser esmagados e não serão
A segunda questão – muito maior – se conseguem remover e até que fazem eficazes hoje (a Boeing e a Wells Fargo
é a simplificação. Temos agora a opor- “abrandar o barco”. Pensei que a analogia são os principais exemplos).
tunidade de pôr a casa em ordem. Eu ex- era perfeita. Porquê? Esta crise está a ensinar-nos
plico: Durante os últimos 10 anos de cres- Uma grande empresa farmacêutica uma importante lição humana. É uma cri-
cimento, criámos burocracia, comple- com quem falei revelou-me que as suas se médica e de segurança em primeiro lugar,
xidade e muitas sobreposições. Sempre pessoas de queixavam de falta de “cola- e um problema económico e empresarial
que contratamos um novo gestor, lança- boração”. Mas quando fomos mais fundo em segundo lugar. É como se estivéssemos
mos um novo produto ou chegamos a uma e explorámos, descobrimos que o verda- a gerir uma empresa que passou por uma
nova geografia, acrescentamos mais “coi- deiro problema era a burocracia. Havia enorme explosão que destruiu metade das
sas”. Ninguém remove nada. tantos comités que as pessoas simples- instalações. Não podemos pensar na cons-
Na minha pesquisa sobre a experiên- mente deixavam de aparecer. Agora têm trução do edifício, temos de primeiro co-
cia dos colaboradores, descobri empre- uma desculpa para limpar tudo isto. locar as pessoas em segurança.
sas com 52 passos para pedir um cartão Comecem a remodelação do zero. Usem Sabiam que empresas como a Chevron
de crédito, 22 milhões de euros desperdi- o design thinking para tudo o que fazem. e a Exxon têm a segurança como o seu
çados em análises ao talento e dezenas de E não acrescentem novos programas a principal objectivo? Fazem-no porque
líderes a dizerem-me: “É muito compli- não ser que mandem outra coisa fora. compreendem que o seu negócio não irá
cado fazer as coisas.” funcionar se as pessoas não se sentirem
Temos agora o direito (e a obriga- em segurança (para além disso, é óbvio
ção) de remediar tudo isto. Gosto de que os custos económicos dos acidentes
lhe chamar “fazer melhor com menos”. são enormes).
E isto não significa simplesmente cor- Empresas como Amazon, Wal-Mart,
tar nas pessoas. Significa aplicar cuida- Kaiser Permanente, Starbucks, South-
dosamente o princípio de Marie Kondo west Airlines – estão todas sob uma enor-
nos negócios. Dizer “adeus e obrigado” me pressão. Algumas estão a contratar;
a todos os processos, comités, reuniões, outras estão a dispensar temporariamen-
chamadas de conferência, assim como te. Mas a maior questão que enfrentam
emails que não são necessários. E deve- é o medo nas caras dos seus colaborado-
mos ser implacáveis. res. Adoro que a Workday esteja a dar às
Escrevi muito sobre o “Processo Tri- pessoas remuneração e ferramentas ex-
turador”, que se trata de uma aplicação #3. Reiniciar a liderança: Um novo tra para ajudar as mães a ensinarem as
interessante que a Pepsi desenvolveu e foco na empatia e compreensão suas crianças em casa. Todas as empre-
que permite que qualquer empresa esco- O terceiro reset é uma mudança radi- sas podem pensar desta forma.
lha os processos a serem obliterados. De- cal na cultura de gestão. Uma mudança Chamo a isto “pessoas primeiro, eco-
vem lançar um “triturador de processos” para uma maior empatia, maior compai- nomia segundo”. Veremos algumas his-
em cada departamento. xão e maior compreensão. tórias incríveis de liderança nas próxi-
Uma das empresas tecnológicas mais Penso que o recente falecimento de mas semanas e, acreditem, algumas de-
famosas de Silicon Valley disse-me que Jack Welch foi contundente – os princí- las farão chegar as lágrimas aos olhos. A

36 Human Resources Portugal Maio 2020


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Tema de Capa

empatia está em alta. Ouvir as pessoas Cuidem de pessoas, clientes, sociedade estão na linha da frente dos hospitais,
está em alta. Pressionar as pessoas, criar e ambiente. Não mintam. nós estamos na da empresa. Precisamos
competição, assim como forçar o cresci- R Competência: Não aceitem a medio- de nos juntar, alinhar e entusiasmar, al-
mento – está em baixa. cridade. Solucionem os problemas à me- terando as prioridades do nosso tempo.
dida que estes surgem. Aprendam a ser Os programas a longo prazo (requa-
“excelentes” naquilo que fazem. Sejam lificação, experiência de colaboradores,
responsáveis pela excelência. Dêem às plataformas Human Capital Manage-
pessoas uma ideia de que “esta empresa ment, entre outros) não desapareceram.
preocupa-se mesmo”. Na verdade, são agora mais importantes
R Voz: Ouçam todas as pessoas. Apos- do que nunca. Mas neste momento, temos
tem na estratégia de dar ouvidos aos co- de alterar as prioridades desses progra-
laboradores. Criem equipas que procu- mas, torná-los mais simples e relevantes,
ram histórias. Partilhem o que apren- e certificarmos-nos de que os usamos
dem. E aproveitem todos os conselhos para ajudar as pessoas imediatamente.
para agirem. Quase todos os departamentos de
Estas três coisas constituem a natu- Recursos Humanos com que tenho falado
reza complexa da confiança. Neste reset, estão num processo de transformação.
#4. Reiniciar a confiança: Levem-na entramos num mundo novo de negócios Agora está na altura de “avançar – e rapi-
a sério e aprendam a viver com ela centrados na confiança. Esperemos que damente”. Temos de eliminar a nossa nar-
Este tópico é importante. A última déca- esta reinicialização se mantenha. rativa de gestão; automatizar-nos mais
da criou uma quebra na sensação de con- depressa; requalificar as próprias equi-
fiança. A pesquisa de Edelman mostra que pas internas; e reorganizarmos-nos para
não confiamos nos políticos, não confia- sermos um conjunto mais ágil de peritos.
mos nos media, e pouco confiamos no Estou a completar um novo modelo
capitalismo (56% das pessoas acreditam operacional para os Recursos Humanos,
que o capitalismo não resolve os proble- e mostrá-lo-ei a qualquer pessoa que este-
mas do mundo). ja interessada – mas o grande reset é que os
Bolas. As nossas empresas são “as ins- Recursos Humanos agora “são realmente
tituições fiáveis” nas vidas das pessoas. o negócio”. Já não “servimos o negócio” ou
Por isso temos de estar ao nível desta nos “sentamos à mesa”. Somos centrais e
confiança. Neste preciso momento. essenciais para a sobrevivência, respos-
A confiança é uma coisa complicada, ta e sucesso a longo prazo da empresa.
mas acredito que seja constituída por três
coisas fundamentais: ética, competência #5. Reiniciar os Recursos Humanos: Este reset é uma coisa boa
e voz. Três palavras simples. Mas três Juntem-se e trabalhem como os O “Grande Reset” foi uma surpresa, mas
ideias muito complexas: heróis que precisamos que sejam a longo prazo é uma coisa boa. Estáva-
R Ética: digam a verdade. Dêem às pes- O quinto reset é a ascensão e a reinvenção mos a sentir o desgaste das nossas em-
soas as boas e as más notícias. Tomem dos Recursos Humanos. Agora somos real- presas, e agora temos de agir. Está na
decisões que serão benéficas para todos. mente os heróis. Tal como os enfermeiros altura de facilitar o trabalho, de aproxi-
mar as pessoas de uma forma digital,
de focar de novo as prioridades na con-
Estávamos a sentir o desgaste das fiança, na compaixão e na acção. Sei que
estamos à altura do desafio.
nossas empresas, e agora temos de
agir. Está na altura de facilitar o Josh Bersin
Especialista em HR empresarial, gestão

trabalho, de aproximar as pessoas e


de talento e liderança. O artigo foi
publicado no blog “Josh Bersin, Insights

de focar as prioridades na confiança.


on Corporate Talent, Learning, and
HR Technology”. É também fundador
da Josh Bersin Academy, uma academia global de
desenvolvimento profissional para profissionais de
Recursos Humanos (https://bersinacademy.com/)

38 Human Resources Portugal Maio 2020


XXX Barómetro Human Resources

O impacto da pandemia
nas empresas em Portugal
Dado o actual contexto, a 30.ª edição do Barómero Human Resources é
dedicada em exclusivo ao impacto da pandemia COVID-19 nas empresas, não
só na vertente económico-financeira, mas também na vertente humana.
POR Ana Leonor Martins

40 Human Resources Portugal Maio 2020


D
epois de termos dado
conta da reacção e ges-
Apesar de 72% dos uma quase unanimidade entre os espe-
cialistas (86%) em considerar que o “apoio
tão – inicial – da crise,
através do testemunho
inquiridos preverem extraordinário à manutenção de postos
de trabalho (lay-off simplificado)” foi
de responsáveis de em- um impacto fundamental, seguindo-se as linhas de
presas de destaque no tecido empresa-
rial, e representativas de diversos secto-
económico crédito criadas para as empresas (37%)
e a isenção de pagamentos à Segurança
res (que publicámos na edição de Abril),
consultámos agora o painel do Baróme-
significativo na Social (24%).
Apesar de os especialistas do pai-
tro, composto por cerca de 200 especia- sua empresa, nel do Barómetro Human Resources
listas – maioritariamente directores de
Pessoas (75%), mas também presiden- nenhum acredita mostrarem preocupação quer com
o impacto económico-financeiro,
tes executivos e directores de Marca/
Comunicação e/ ou Marketing (15%),
que poderá por quer com o impacto humano que
esta crise irá ter na sua empresa (41%),
para perceber as consequências, que já em causa a sua 40% destacam a preocupação com o im-
se fazem sentir e que se perspectivam.
Começámos por aferir o grau de sobrevivência. pacto económico-financeiro, quando ape-
nas 16% enfatizam a preocupação com
preparação das empresas. A maioria o impacto humano. De referir, no entan-
dos especialistas (39%) afirmou que a sua to, que nenhum dos inquiridos acredita
empresa estava “moderadamente pre- que a sua empresa dificilmente sobrevi-
parada”, mas 33% assumiram que não, condições de higiene e segurança” de verá à crise.
com 14% a considerarem que “estava quem teve de ir para o posto de trabalho Concretizando na vertente eco-
mal preparada”, 3% “muito mal prepa- o maior desafio. Assegurar os meios nómico-financeira, os números são
rada”, mas com 16% a acreditarem que tecnológicos para o teletrabalho ou “en- evidentes: 72% não escondem que esti-
“nenhuma estava preparada”. Não obs- contrar a informação necessária por mam que o impacto na sua empresa seja
tante, 27% garantem que a sua empresa parte das autoridades competentes” “significativo” (43%) ou até “muito sig-
estava “preparada” e 1% diz mesmo que foi referido por igual percentagem de nificativo” (29%), sendo que nenhum es-
estava “completamente preparada”. profissionais – 7%. pecialista acredita que o impacto será
Não obstante um em cada três dos O teletrabalho foi adoptado – até “nulo”. Sobre a vertente dos recursos
especialistas ter reconhecido que a sua porque teve carácter obrigatório – por humanos, 63% admitem que, ao contrá-
empresa não estava preparada para a grande parte das empresas, e 68% dos rio do que tinha previsto antes da pan-
realidade trazida pela COVID-19, a es- especialistas acreditam que esta mudan- demia, a sua empresa não irá recrutar
magadora maioria (67%) afirma que ça “veio para ficar, para a maioria das em 2020, sendo que só 7% dizem ir man-
conseguiu “conceber e implementar um empresas (ou áreas da empresa) onde ter os recrutamentos previstos. De desta-
plano de emergência eficaz”, enquanto isso é possível”. Já 29% perspectivam que car ainda que 30% dos especialistas re-
16% desenvolverem apenas acções não essa prática se mantenha só para uma conhecem ter de despedir pessoas.
planeadas, 13% foram “implementan- minoria das empresas, onde já existia Já quando questionados sobre por
do acções na sequência do que outros fo- essa cultura, e só 3% acham que vai fi- quanto tempo antecipam que se ma-
ram fazendo” e só 3% dos inquiridos car tudo igual. nifestarão os impactos da pandemia
se ficaram pelas “medidas decretadas No que respeita aos apoios criados COVID-19 na sua empresa, 39% dos
pelo Governo”. pelo Governo para fazer face à crise inquiridos perspectivam que seja por
Sobre o que tem sido mais difícil gerada pela pandemia COVID-19, 59% “mais de um ano” e 29% “até um ano”.
gerir, para a maioria (37%) não houve reconhecem que têm sido “os possíveis”, Só 4% acreditam que três meses serão
dúvidas de que foi “a gestão emocional mas 24% afirma que são insuficientes. suficientes, enquanto, ao contrário, 14%
dos colaboradores”. Mas para 28% dos es- No entanto, 10% defendem que estão “aci- afirmam que “nunca mais será a mes-
pecialistas foi o “desenvolvimento das ma das expectativas”, e 7% defendem que ma coisa”.
competências pessoais necessárias para são “suficientes”. Partilhamos agora os comentários –
trabalhar com os condicionalismos ac- Sobre o tipo de medidas mais im- na primeira pessoa – dos especialistas
tuais”. E uma percentagem ainda sig- portantes (e sendo que cada inquirido sobre os resultados do XXX Barómetro
nificativa – 17% –, teve no “assegurar as pode escolher até duas opções), houve Human Resources.

Human Resources Portugal 41


XXX Barómetro Human Resources

1. Perante a crise provocada 2. Antes de ter sido declarada 3. O que tem sido mais difícil
pela pandemia COVID-19, diria pandemia, mas perante os de gerir?
que a sua empresa estava: acontecimentos na Ásia e
na Europa, a sua empresa:
1,43%
5,71% 7,14%
1,43%
7,14%
2,86%

2,86% 15,71% 17,14%

27,14%
12,86%
25,71%

14,29%

15,71%
37,14%

38,57% 67,14%

Encontrar os meios técnicos/tecnológicos



Completamente preparada para ter as pessoas a trabalhar em casa
Assegurar as condições de higiene e segurança
Preparada Conseguiu conceber e implementar 
 dos que têm que vir para o posto de trabalho
um Plano de Emergência eficaz
Medianamente preparada
Não teve tempo para conceber o Plano de Emergência A gestão emocional dos colaboradores

Mal preparada e foi desenvolvendo acções não planeadas
Desenvolver as competências pessoais necessárias
Implementando acções na sequência 
 para trabalhar com os condicionalismos actuais
Muito mal preparada do que outros foram fazendo
Encontrar a informação necessária por
Só implementou as medidas decretadas pelo Governo 
Nenhuma empresa estava preparada parte das autoridades competentes

Não sabe/não responde Não sabe/não responde Não sabe/não responde

4. Acredita que o mundo


OPINIÃO do trabalho vai mudar e que
o teletrabalho veio para ficar?
Reforçar a prioridade da comunicação
1,43%
2,86%
Elsa Carvalho
Directora central de Recursos Humanos na Caixa Geral de Depósitos

R «A situação excepcional no mundo e no nosso país provo-


cada pela pandemia COVID-19 confrontou as empresas e a
Gestão de Pessoas com cenários que se reconfiguram a cada 28,57%
momento, e para os quais nenhum modelo ou processo exis-
tente se considera suficientemente adequado. Ainda assim,
e com a tenacidade e resiliência próprias dos portugueses, o 67,14%
barómetro revela que a maioria das empresas conseguiu con-
ceber e implementar planos de emergência e dar resposta à
tomada de medidas, num enquadramento do qual não há memória em tempos recentes.
A continuidade do negócio e do serviço aos clientes, a protecção dos colaboradores e
dos seus postos de trabalho e a sustentabilidade a longo prazo ficaram subitamente de-
pendentes da capacidade das empresas em mobilizarem-se na adopção de novas for-
mas de trabalho à distância e na utilização dos suportes digitais nas suas actividades de
Sim, para a maioria das empresas (ou áreas
colaboração, formação e comunicação. Por outro lado, e conforme mostram as estatísti- 
da empresa) onde isso é possível
cas do barómetro, a gestão do clima social e emocional é fundamental em momentos de Sim, mas só para uma minoria de

incerteza. Deve para tal ser reforçada a prioridade e relevância da comunicação a colabo- empresas, que já tinham essa cultura
radores e a outros stakeholders, bem como definidas boas práticas para a gestão eficaz Não, vai manter-se tudo igual
de equipas em trabalho remoto. Com estas alterações tão impactantes, parece natural
reconhecer que o mundo do trabalho pós-COVID-19 vai mesmo mudar, e que o trabalho Não sabe/não responde
à distância passará a assumir um papel muito mais preponderante na Gestão de Pessoas,
com vantagens evidentes para colaboradores, empresas, comunidade e ambiente.»

42 Human Resources Portugal Maio 2020


XXIX Barómetro Human Resources

5. Como encara os apoios que foram


criados pelo Governo para fazer face OPINIÃO
a esta crise?
«Muito também se perde no teletrabalho»

10%
Fernando Neves de Almeida
7,14% Managing Partner na Boyden Portugal
24,29%
R «O que me chama a atenção neste barómetro é o nú-
mero de pessoas que considera que o teletrabalho veio
para ficar de uma forma mais generalizada. Como já tive
oportunidade de manifestar em artigo de opinião ante-
riormente escrito, esta pandemia veio, em minha opinião,
58,57% acelerar algumas mudanças que já estavam a ocorrer na
nossa sociedade. Uma delas, o recurso ao teletrabalho. A
tecnologia já está madura e as vantagens que pode trazer
para as empresas e para os indivíduos é clara em alguns
casos: menos custos com espaço, menos tempo com deslocações e maior flexibilidade
de organização do trabalho. No entanto, chamo a atenção que muito também se perde:
Acima das expectativas aprendizagem com colegas no local de trabalho e entreajuda, uma liderança mais com-
Suficientes
plexa de exercer, uma diminuição do espírito de pertença e engagement e uma maior
dificuldade em aculturar novos membros. Assim, eu não seria tão taxativo na resposta
Os possíveis a esta questão. Não creio que o teletrabalho tenha vindo para ficar, em maior dimensão
do que a evolução normal da cultura organizacional o tornaria uma realidade. Acelera
Insuficientes
um pouco o processo, quanto mais não seja porque a legislação a isso obriga, mas
Não sabe/não responde evoluirá naturalmente. Quer queiramos quer não, somos animais sociais que buscamos
prazer na interacção pessoal, coisa que muitos de nós extraímos da presença física nos
locais de trabalho. É um “plus”, mesmo para quem gosta muito do que faz.»

OPINIÃO
«O momento actual recentrou o papel das pessoas nas organizações»

Luís Moura
Director de Recursos Humanos na NOS

R «O final do primeiro trimestre deste ano foi marcado por uma situação praticamente nunca vivida por ne-
nhum profissional, a crise COVID 19. Se tivéssemos de fazer um paralelo com um fenómeno físico, diria que
esta crise se assemelhou muito a um tufão. Foi anunciada com antecedência, durante algum tempo acre-
ditámos que não nos atingiria, quando se tornou irreversível a sua trajectória preparámo-nos rapidamente
para os impactos, foi imposto o recolher das pessoas e, no entretanto, assistimos a alguma destruição. Con-
tinuando na metáfora acima, poderemos dizer que o olho do tufão já passou, mas os ventos fortes ainda se
sentem, e por isso é ainda muito cedo para concluir sobre todos os impactos desta pandemia vivida à escala
global. É quase consensual que o governo e as empresas responderam (até agora) adequadamente à situa-
ção. O governo tomando as medidas possíveis para preservar o tecido produtivo e a manutenção dos postos
de trabalho e as empresas adaptando (quando possível) o modo de trabalho e as respectivas funções em
tempo recorde. Os impactos económicos e financeiros futuros, ainda que dependendo muito da forma como a Europa como um todo vier
a reagir, serão bastante profundos e motivo de grande preocupação para todos os profissionais. Apesar de não ter sido abordado directa-
mente no Barómetro, deixaria uma nota para a forma como gerimos as nossas pessoas nesta crise. As crises geram oportunidades, e esta
não foi excepção em várias empresas. O momento que vivemos recentrou o papel das pessoas nas organizações. A saúde e segurança dos
colaboradores passaram a primeira prioridade. O acompanhamento mais próximo dos colaboradores, ainda que à distância, ganhou uma
importância acrescida na gestão das equipas. O confinamento e o trabalho remoto parecem ter trazido uma nova visão em temas associados
à equidade das tarefas familiares. E até as diferentes sensibilidades antes existentes sobre o que seria o ponto de equilíbrio entre o trabalho
presencial e remoto esbateram-se. Os próximos tempos trarão grandes desafios, pois em poucas semanas deram-se saltos para os quais se
julgava precisar de anos. E todas as disrupções geram ondas de choque para as quais nos teremos de preparar de imediato. A digitalização
da sociedade e as novas formas de trabalho são “estórias” cujos capítulos vamos começar a escrever já, de uma forma muito rápida.»

Human Resources Portugal 43


XXX Barómetro Human Resources

6. Quais as medidas de apoio


OPINIÃO anunciadas pelo Governo que
considera mais importantes?
«Muito ainda temos a fazer no que
respeita aos resultados financeiros» 85,71%

Nuno Troni
Director – Professionals, Outplacement, Human Consulting, R.P.O. na
Randstad Portugal

R «A análise do XXX Barómetro da Human Resources revela al-


guns dados particularmente preocupantes para o futuro da nossa 37,14%

economia, especialmente ao nível do emprego. Uma percenta-


gem significativa das empresas afirma estar preparada (27%) para 24,29%

lidar com a crise provocada pela COVID-19, mas estimam que o 20%

15,71%

impacto provocado não só vai ser muito significativo, como perdu-


rará por um período alargado. Afirmam que conseguiram conceber planos de emergência 2,86%
1,43%
para lidar com a crise, mas o que a realidade nos tem mostrado é que, sendo verdade que
se conseguiu gerir e garantir a saúde e segurança dos trabalhadores, muito ainda temos a
fazer no que respeita a produtividade e resultados financeiros. Já no que respeita à gestão Apoio extraordinário à manutenção de postos

de trabalho (lay-off simplificado)
da workforce, os números são assustadores, com 82,8% das empresas a manifestarem
Flexibilidade de pagamento de impostos
intenção de desistir dos processos de contratação que estavam em curso ou a diminuir
o número de colaboradores. Pela análise destes resultados, vamos ter de nos habituar a Isenção de pagamentos à Segurança Social
lidar com um cenário totalmente novo, com pontos positivos e negativos. Pela positiva, o
Linha de crédito às empresas
teletrabalho, com ganhos evidentes de qualidade de vida, de produtividade, de tempo,
de custos e até ambientais. Pelo lado negativo, um impacto no PIB sem precedentes, com Moratória de crédito e juros
empresas com pouca capacidade de investimento, diminuição dos índices de confiança Linha de apoio para formação profissional
e, acima de tudo, um desemprego galopante que poderá atingir níveis recorde.»
Não sabe/não responde

7. Está preocupado com o


OPINIÃO impacto económico-financeiro
e humano que esta crise vai ter
«Esta crise institucionalizou uma na sua empresa?
nova forma de trabalhar»
2,86%
Pedro Raposo
Director de Recursos Humanos no Banco de Portugal

R «Muito do que se tem lido e ouvido nestes tempos mais recen-


tes aponta para o facto de que ninguém estava preparado para
esta crise pandémica. A sua globalidade, rapidez e profundidade 40%
não estavam por certo nos planos de ninguém, mesmo os mais 41,43%
pessimistas. No entanto, este barómetro revela alguns dados ex-
tremamente importantes e promissores para o futuro, sabendo
porém que os custos e tempo de recuperação desta crise serão
grandes e exigirão muito de nós todos. O primeiro é o facto de que, num país culturalmen-
te menos organizado e disciplinado quando comparado com o norte da Europa, vermos 15,71%
que as empresas portuguesas estavam medianamente preparadas para esta crise, o que
prova a existência por certo de planos de contingência, gabinetes de crise e equipas de
continuidade de negócio em larga escala e prontos para lidar com algo desta magnitude.
O segundo, e incontestável, é de que, como dizia o anúncio, o teletrabalho veio para ficar.
Sim, sobretudo o impacto financeiro
Estou certo de que este é o acontecimento mais relevante para o futuro pós-crise e que
irá alterar positivamente as relações de trabalho e a forma como o trabalho é percebido. Sim, sobretudo o impacto humano
Mais responsabilidade e foco no resultado e menos na presença física, a necessidade de
Sim, com ambos
acautelar no teletrabalho questões diversas como os seguros de acidentes de trabalho, a
capacidade de novos líderes saberem e poderem gerir equipas parte presenciais e parte Dificilmente a minha empresa sobreviverá à crise
virtuais, serão desafios fantásticos para os Recursos Humanos. Esta crise institucionalizou Não
verdadeiramente uma nova forma de trabalhar e teremos todos de aprender como.»
Não sabe/não responde

44 Human Resources Portugal Maio 2020


XXIX Barómetro Human Resources

8. Qual estima ser o impacto 9. Qual o impacto que antecipa 10. Por quanto tempo antecipa
económico da pandemia que a pandemia COVID-19 causará que se irão manifestar os impactos
COVID-19 na sua empresa? em termos de activos humanos? causados pela pandemia COVID-19
na sua empresa?
2,86%
4,29%
62,86%

14,29%
14,29%
25,71% 28,57%

30%

24,29% 28,57%
38,57%
42,86%

7,14%
5,71%

Muito significativo Menos de 3 meses


Vamos ter que despedir pessoas
Significativo Entre 3 e 6 meses
Não vamos recrutar as pessoas que tínhamos

Moderado previsto recrutar Até 1 ano

Pouco significativo Não tem impacto, vamos manter a equipa Mais de 1 ano
Não tem impacto, vamos fazer
Nulo  Nunca mais será a mesma coisa
os recrutamentos previstos

Não sabe/não responde Não sabe/não responde Não sabe/não responde

OPINIÃO
Só sabemos... que nada sabemos

Ricardo Nunes
Director de Pessoas e Organização na Novabase

R «No dia 31 de Dezembro de 2019, quando soaram as badaladas da meia-noite, em todo o mundo
foi desejado amor, saúde, dinheiro e outros para 2020. No entanto, se alguém no dia seguinte à última
passagem de ano projectasse o que estamos a viver hoje, seguramente pensaríamos estar perante
um novo “filme catástrofe”, ou, simplesmente, perante a visão absurda de um lunático. Desde que
estou confinado e a trabalhar a partir de casa (seis semanas), tenho assistido a vários webcast sobre
os possíveis impactos da pandemia. Como actuar, consequências, mudanças, o futuro, entre outros.
Obviamente que são teorias, mas, mais do nunca, são todas, e agora ainda mais, falíveis. Nunca o
mundo viveu uma situação assim e, por isso, prever o futuro, mesmo para os mais racionais, é uma
tarefa impossível. Há, no entanto, algumas características que esta crise tem evidenciado. O mundo
tem conhecido exemplos de grande resiliência, coragem, altruísmo e responsabilidade vindos do
ser humano. Temos casos nos quatro cantos do planeta de classes profissionais que se dedicam a
combater e ajudar outros sem medo. Populações que obedecem ordeiramente às ordens de con-
finamento, governos que disponibilizam milhões para ajudar populações e comunidade, empresas
que passam a trabalhar só remotamente, ou outras que convertem o negócio para sobreviver, ou simplesmente para ajudar a combater a
pandemia. Claro que tudo isto não apaga o lado negro nem a devastação que esta pandemia vai deixar, mas o mais importante é conse-
guir olhar, mesmo com incerteza, para o lado positivo que vai chegar depois disto. Aquele que vai mostrar a parte melhor do ser humano
que, depois de privado da sua liberdade e de ter vivido tão perto da morte e do medo, anseia agora poder ter um “novo normal”. Uma
coisa é muito clara: vamos estar todos no mesmo ponto de partida para o futuro. Só sabemos que nada sabemos sobre o que aí vem, mas
podemos contribuir e, em união, delinearmos uma sociedade muito melhor do que aquela que existia. Na verdade, o mundo já mudou... a
questão é se estaremos preparados para mudar com ele.»

Human Resources Portugal 45


XXX Barómetro Human Resources

OPINIÃO
«Medidas de emergência romperam processos que demorariam
a ser mudados»

Sara Fonseca
Directora de Recursos Humanos no Santander Portugal

R «O “hoje” forçou-nos ao distanciamento social e o trabalho remoto deixou de ser uma escolha.
Passou, de facto, a ser a norma. Rapidamente, vimo-nos num cenário distópico tendo de mudar mo-
dos de trabalhar, interagir, comunicar e liderar. Fomos também simultaneamente expostos às três
maiores dimensões da incerteza – percepção da mortalidade; relacionamentos; ameaças ambien-
tais – e a nossa condição humana, assente na segurança e previsibilidade dos acontecimentos, foi
muito abalada. Um desafio maior foi colocado aos líderes corporativos: conectar as pessoas e criar
uma comunidade virtual que promova confiança junto de todos os actores. Um desafio enorme por
dois motivos conflituantes: a) não sabemos ainda como promover e suportar de forma total as men-
cionadas comunidades; b) sabemos que a liderança depende da confiança e que esta emerge da
qualidade das trocas de opinião, dos argumentos e dos consensos. O que foi feito durante décadas
presencialmente passou a ter de ser conseguido remotamente. Esperamos dos líderes mais coor-
denação em torno de propósitos comuns, acessibilidade, relevância na informação partilhada, feed-
back, participação na tomada de decisão e, acima de tudo, mais responsabilidade. A necessidade
de trabalho remoto tornou obsoletas, senão mesmo inexequíveis, lideranças assentes no excesso de controlo, negligência das emo-
ções, inflexibilidade, exclusão e gestão deficiente do virtual. Há lições e saberes de liderança que se perpetuarão. Porém, medidas
de emergência romperam processos e políticas que demorariam a ser mudados. Por imposição sanitária, ou porque as organizações
perceberam que é do melhor interesse de todos os seus stakeholders, a próxima fase dos dias que vivemos fará história. Exigirá das
organizações uma nova liderança para o contexto remoto, com a substituição das estruturas mais hierarquizadas por formatos mais as-
simétricos, com suporte na identificação e difusão dos propósitos que conectam as distintas partes da organização. Organizações que
se questionarão de forma contínua, não esperando que as respostas venham somente de uma das partes, mesmo que sejam as áreas
responsáveis pelas mesmas. Organizações que irão mais longe e mais depressa, derrubando mitos com inovação, adaptabilidade e in-
teligência, humana ou artificial. O equilíbrio entre controlo e incerteza emergirá da aceitação de não temos todas as respostas, mas que
temos as pessoas, os meios e a vontade de encontrar realidades mais prósperas. O novo normal não é uma transformação das nossas
vidas, mas a sua elevação.»

OPINIÃO
Um acelerador de mudança
Susana Silva
Directora de Recursos Humanos no El Corte Inglés Portugal

R «A pandemia COVID-19 acabou por ser um acelerador da mudança, pois em pouco tempo tivemos
de munir as nossas pessoas de equipamentos, acessos remotos e formações rápidas para utilização
destas tecnologias, não novas, pois já existiam, mas que não eram geradoras de suficiente confiança
para serem utilizadas em grande escala. Existiu uma mudança cultural nas organizações em que, de
um momento para o outro, foi necessário facilitar a tão falada conciliação da vida pessoal e profissional.
Apesar de agora estarmos num contexto diferente, pois as famílias estão forçadas a estar em casa, e
gerir os horários de trabalho com a flexibilidade necessária para dar assistência à família, o teletrabalho
veio para ficar. Será necessário, no futuro, criar regras claras de utilização, existir uma disciplina indivi-
dual e basear estas novas práticas na confiança e na autonomia dada às equipas, o foco estará nos re-
sultados e não na forma de atingir esses objectivos. Por outro lado, temos de gerir a vertente emocional
dos nossos colaboradores, pois, neste momento, existe uma grande pressão emocional e económica,
e existe acesso a muitas informações negativas e que provocam inércia. Assim, é essencial o papel do
líder neste momento, que tem de manter um contacto próximo com as suas equipas e motivá-las.»

46 Human Resources Portugal Maio 2020


BARÓMETRO
Painel

Adriana Rodrigues, Uniplaces Filipa Figueira, MSD Miguel Salema Garção, CTT
Afonso Carvalho, Egor Gonçalo Barral, Essilor Miguel Teixeira, Everis
Alda Pereira, Boehringer Ingelheim Gonçalo Rebelo de Almeida, Grupo Vila Galé Nélson Brito, Luz Saúde
Alexandra Brandão, Santander Helena Moreno, LeasePlan Nuno Fernandes, Católica-Lisbon
Alexandra Líbano Monteiro, Outsystems Henrique Pulido, Brisa Nuno Ferreira Morgado, PLJM
Alexandra Sequeira Carvalho, SPORT TV Humberto Gonçalves, SIBS Nuno Ferreira, Efacec
Amândio da Fonseca, Egor Inês Caldeira, L’Oréal Nuno Gonçalo Simões, PwC
Ana Bernardes, Accenture Inês Lima, McDonald’s Portugal Nuno Rodrigues, Roca
Ana Caiola, BP Inês Veloso, Randstad Portugal Patrícia Calvário, Essilor
Ana Cardeira, Hilton Worldwide Portugal Isabel Barros, Sonae MC Patrícia Fernandes, Montepio
Ana Cardoso, ANA – Aeroportos de Portugal Isabel Borgas, NOS Patrícia Pereira, Renault
Ana Côrte-Real, Católica Porto Business School Isabel Dinis, Esegur Patrícia Valente, Grupo ANF
Ana Herrero, Leroy Merlin Isabel Ferreira, Medinfar Paula Arriscado, Salvador Caetano
Ana Porfírio, Jaba Recordati Isabel Heitor, ANA – Aeroportos de Portugal Paula Carneiro, EDP
Ana Portela, Neves de Almeida Isabel Viegas, Católica Lisbon Business & Economics Paula Castelão, The Navigator Company
Ana Rita Lopes, Grupo Nabeiro – Delta Cafés Jaime Morais Sarmento, United Investments Portugal Paula Lourenço, GSK
Ana Salomé Martins, Nors Joana Ferreira, Onyria Golf Resorts Paula Sequeiros, Novartis
Ana Serafim, Grupo Vila Galé Joana Queiroz Ribeiro, Fidelidade Paula Vasconcelos, Inditex
Ana Sousa, Farfetch Joana Rabaça Gíria, CITE Paulo Barreto, Crédito Agrícola
Ana Torres, Pfizer João Antunes, TIMwe Paulo Bastos, Simoldes
Anabela Silva, BP João José Ferreira, Bosch Paulo Pisano, Booking.com
Anabela Ventura, LEE Hecht Harrison João Ulrich, Grupo Azinor / Sana Hotels Paulo Santos, Renova
André Borralho, Grupo Constant João Vieira, Corinthia Hotel Lisbon Pedro Almeida e Silva, Banco BIC
André Ribeiro Pires, Grupo Multipessoal Jorge Duro, CGD Pedro Fontes Falcão, ISCTE Executive Education
Antónia Cadillon, Lactogal Jorge Figueiredo, Delta Cafés Pedro Henriques, Siemens Portugal
António Augusto Marques, CTT Jorge Filipe, Auchan Pedro Lacerda, Kelly Services
António Henriques, Grupo CH José Bancaleiro, Stanton Chase Pedro Pessoa, Kelly Services
António Morgado Fernandes, Robbialac José Côrte-Real, Sonae Pedro Pessoa, Leaseplan
António Saraiva, PyXis Global Business Solutions José Rocha, PSA Pedro Ramos, TAP Air Portugal
Arménio Rego, Católica Porto José Veríssimo, ISEG Pedro Raposo, Banco de Portugal
Beatriz Perez, FOX Luís Antunes, PHC Software Pedro Ribeiro, Super Bock Group
Carla Cristina Caracol, Grupo Renascença Multimedia Luís Araújo, Turismo de Portugal Pedro Rocha de Matos, Korn Ferry
Carla Gomes, Pousadas de Portugal Luís Correia Nunes, CEPSA Pedro Rocha Pires, Fujitsu
Carla Gouveia, Korn Ferry Luís Ferreira, Allianz Pedro Soveral Rodrigues, Sonae Sierra
Carla Rebelo, Adecco Luís Moura, NOS Ricardo Martins, Cegoc
Carla Teixeira, Ibersol Luís Rodrigues, Nova BSE Ricardo Nunes, Novabase
Carlos Rodrigues, Samsung Luís Sítima, Odgers Berndtson Ricardo Parreira, PHC Software
Catarina Fernandes, Sonae Luísa Pestana, Vodafone Ricardo Santos, Hilti
Catarina Graça, Sumol+Compal Madalena Rei Sá, JP Sá Couto Rita Alarcão Júdice, PLMJ
Catarina Horta, Novo Banco Manuel Lacasta, CCAM Rita Baptista, OGMA
Catarina Tendeiro, Grupo Ageas Portugal Manuel Oliveira, Sanitana Rita Cadillon, Primavera BSS
Catarina Zagalo, Grupo I Love Nicolau Marco Costa, Talkdesk Rosário Frias, José de Mello Saúde
Cátia Baptista, Feedzai Margarida Dias, E&Y Rosário Rocio, Infraestruturas de Portugal
Cátia Martins, L’Oréal Portugal Margarida Manaia, Jerónimo Martins Rui Alves, Johnson & Johnson
Célia Carrasqueiro, Verallia Portugal Margarida Pena, Cofidis Rui Fiolhais, Segurança Social
Clara Raposo, ISEG Maria Alexandra Martins, Univ. do Porto Rui Moita, LG Electronics Portugal
Clara Trindade, L’Oréal Maria Antónia Cadilhe, Universidade do Porto Rui Paiva, WeDo Tecnhologies
Cláudia Dias Gomes, Inoweiser Maria Bandeira da Palma, INDEG-ISCTE Rui Sales Rodrigues, Accenture
Cláudia Teixeira, Roff Maria da Glória Ribeiro, Amrop Sandra Campos Costa, ACP
Cláudio Valente, IKEA Maria de Fátima Gonçalves, Cork Supply Portugal Sara da Fonseca, Santander
Conceição Martins, Angelini Maria do Rosário Vilhena, Nestlé Serafim Gonçalves, Leya
Conceição Zagalo, Grace Maria Emília Galego, CM Porto Sofia Mendoça, McDonald’s Portugal
Cristina Campos, Novartis Maria Helena Pereira, RTP Sofia Miranda, Casais
Cristina Carvalho, BMW Maria João Gouveia, BNP Paribas Sofia Tenreiro, Galp
Dalila Martins, TAP Air Portugal Maria João Lourenço, Bayer Sónia Nunes, Jason Associates
Délia Gonçalves, Tecnovia Maria João Martins, My Change Sónia Santos, Hovione
Diogo Alarcão, Mercer Maria Pimentel, Hays Susana Ferreira, Philips
Eduardo Mendes, Pernod Ricard Maria Roman, Lidl Portugal Susana Gomes, Santander
Elisa Bernardo, Pfizer Maria Teresa Caiado, PwC Teresa Cópio, Dom Pedro
Elsa Carvalho, CGD Mariana Canto e Castro, Randstad Teresa Paula Nascimento, DefinedCrowd
Elsa Cruz, Turismo de Portugal Mário Ceitil, APG Tiago Brandão, The Browers Company
Esmeralda Tavares, Lojas Francas Portuguesas Marisa Garrido, CTT Vanda Brito, Kelly Services
Estela Rocha, Danone Marta Amador, Fresenius Medical Care Vanda Jesus, Microsoft
Eunice Antunes, Sanofi Marta Costa, Multidevelopment Vanessa Lindeza, Abreu Viagens
Fátima Silva, Montepio Marta Ferreira, Faurecia Vasco Falcão, Konica Minolta
Felipa Oliveira, Korn Ferry Marta Maia, Jerónimo Martins Vera Baptista, TAP Air Portugal
Fernanda Barata de Carvalho, Accenture Marta Pinto, Central de Cervejas Vítor Gonçalves, ISEG
Fernanda Correia, Norauto Marta Rocha, Makro
Fernando Neves de Almeida, Boyden Miguel Pina e Cunha, Nova BSE

Human Resources Portugal 47


Gestora de Pessoas

PAT R Í C I A C A LVÁ R I O
DIRECTORA DE RECURSOS HUMANOS NA ESSILOR

A proximidade
como condição
sine qua non
Não tendo dúvidas de que a gestão emocional das equipas está a ser o seu maior desafio nesta
crise, Patrícia Calvário acredita que a resposta está na proximidade às pessoas, proximidade essa
que tem de ser traduzida em confiança, transparência e positivismo. POR Ana Leonor Martins

N
a Essilor não se es- de Pessoas num lugar de destaque, em Que prioridades definiram?
perou que fosse de- todas as empresas. Segurança, protecção, planeamento, an-
cretado Estado de tecipação e adaptabilidade têm sido os
Emergência, nem O tema é incontornável, por isso vamos vectores principais na nossa gestão para
sequer que houvesse começar por aí. Como tem a Essilor gerido enfrentar este momento. Acredito que o
o primeiro caso de COVID-19 confirma- a crise provocada pela pandemia COVID- mundo que, de alguma forma, “deixámos”
do em Portugal para agir preventivamen- -19? Como afectou a vossa actividade? em Fevereiro não vai de todo ser o que
te. Em Fevereiro, foi criado um Comité A Essilor tem, acima de tudo, procurado vamos encontrar quando voltarmos a
de Crise, que antecipou diferentes ní- gerir toda esta situação com a máxima alguma normalidade.
veis de alerta, detalhando todas as me- atenção à segurança dos colaboradores Acredito que a forma de gerir toda
didas de protecção a adoptar, as novas e com a maior antecipação possível. So- esta situação sem antecedentes conti-
formas de organização de trabalho e as mos aproximadamente 400 colabora- nuará a passar por anteciparmos vários
ferramentas necessárias. «Segurança, dores, temos uma unidade industrial cenários possíveis e agirmos com rapi-
protecção, planeamento, antecipação em Rio de Mouro – crítica para todo o dez e segurança aos dados reais que te-
e adaptabilidade têm sido os vectores grupo, na medida em que somos o segun- mos disponíveis.
principais na gestão para enfrentar este do maior Server Lab para toda Europa
momento», revela Patrícia Calvário, di- –, de modo que todos os mecanismos de Referiu a adaptabilidade... Como adapta-
rectora de Recursos Humanos da empre- análise de risco e respectivo plano de ram a vossa forma de gerir Pessoas?
sa especialista em lentes de prescrição, contingência que visasse a protecção dos Acima de tudo, acredito que, neste mo-
que, cerca de seis meses depois de ter as- colaboradores, clientes e fornecedores, mento, a forma de gerir as pessoas tem
sumido este desafio, se vê na circuns- mitigando ao máximo qualquer possi- uma condição sine qua non: a proximi-
tância de ter de redefinir o plano estra- bilidade de contágio, foram activados dade. E esta proximidade tem de ser tra-
tégico concebido para 2020. Mas ga- numa fase muito inicial, ainda no fim duzida em confiança, transparência e
rante que esta crise colocou a Gestão de Fevereiro (ver caixa). positivismo. As nossas equipas precisam

48 Human Resources Portugal Maio 2020


Os planos
de Recursos
Humanos terão
de ser certamente
revistos à luz de
dois princípios:
simplificação
e priorização.

implementar e ter uma resposta quase


imediata a todas as necessidades. Em
meados de Março, quando a Essilor acti-
vou o seu nível de alerta 2, o teletrabalho
para todos os colaboradores, excluindo
a produção, aconteceu de um dia para o
outro, sem qualquer incidência.

O que diria que foi mais difícil gerir?


Sem qualquer dúvida, a gestão emocional
das equipas. Por mais complexa que possa
de confiar em nós, precisam de saber que passámos a fazer reuniões mensais ge- ser a parte técnica, na Essilor temos uma
estamos ao serviço da sua segurança, rais com toda a equipa por webinar, re- equipa de profissionais altamente qua-
da sua protecção e do seu bem-estar. forçámos canais como um novo email lificados para dar resposta a estas áreas
Estes momentos de incerteza, de in- “COVID19” e criámos um live chat “HR e contamos ainda com todo o suporte
segurança e de ansiedade têm certa- Directo” para responder a todas as ques- que um grupo com a dimensão da Essilor
mente impactos profundos na vida dos tões que os colaboradores possam ter. Internacional nos oferece. Já na gestão
colaboradores. Há que voltar aos “bási- emocional das equipas, tudo é mais com-
cos” e perceber, em primeira instância, a E estavam preparados para dar uma respos- plexo, mais diferenciado e mais volátil.
razão e o propósito das nossas funções: ta célere à necessidade de ter as pessoas Felizmente, não existem pessoas
as equipas de liderança e os Recursos – possíveis – a trabalhar em casa? iguais. Cabe às equipas de liderança per-
Humanos devem, antes de mais, servir Diria que, excluindo as empresas de Tec- ceberem qual o timing certo para fazerem
os colaboradores – assegurar condições nologia e de serviços de Consultoria, que as suas comunicações com segurança,
de trabalho e promover o seu desenvol- pela sua natureza já teriam um rácio de te- muita transparência – fundamental – e
vimento –, e não só a sustentabilidade letrabalho mais elevado, ninguém estava com confiança e positivismo no futuro. A
e sucesso do negócio. preparado para adoptar de forma plena, partir daqui, é estar próximo, ouvir, dar
Com esta nova realidade, as neces- transversal e imediata este formato de espaço a que todos se possam expressar
sidades das pessoas alteraram-se por teletrabalho para todos os colaboradores. livremente, com sentido crítico, constru-
completo e há que estar próximo para Somos uma empresa industrial e, tivo e unidos num bem comum: o sucesso
poder responder às mesmas. Na Essilor, como se pode entender, o teletrabalho da empresa que todos representamos.
esta gestão passou a ser muito mais te- não é opção para todos os postos de tra-
lefónica e digital, mas procuramos man- balho. Valeu-nos o planeamento do Co- Como se motivam as pessoas num con-
ter o contacto permanente e reforça- mité COVID19, que permitiu que, ainda texto assim?
do. As reuniões de equipas continuam em Fevereiro, apurássemos todas as fer- Nos momentos de proximidade procu-
a acontecer na sua frequência regular, ramentas necessárias, permitindo ramos fazer “transpirar” o nosso ADN

Human Resources Portugal 49


Gestora de Pessoas PATRÍCIA CALVÁRIO

No que respeita às lideranças, que com-


petências são essas?
Além das competências que já mencio-
nei, destaco três: coragem – para tomar
decisões num momento incerto, e para
as mudar, se preciso for –, integridade –
que implica transparência e verdade –, e
vulnerabilidade – reconhecendo que po-
demos não ter todas as respostas certas.
É impossível criar uma relação de con-
fiança com alguém sem que estas com-
petências estejam presentes. São elas
que marcam a diferença entre ser líder
e ter um lugar de liderança.

Também será preciso coragem e transpa-


rência para adaptar os planos estratégi-
cos e objectivos traçados para 2020, no-
meadamente no que à Gestão de Pessoas
diz respeito. O que planeiam fazer?
Os planos estratégicos de Recursos Hu-
manos terão de ser certamente revistos
organizacional, o espírito de equipa, mo- Esta necessidade é imediata, não há à luz de dois princípios: simplificação e
tivando assim os colaboradores a enfren- como perder muito tempo. Não pode- priorização. Esta crise colocou a Gestão
tarem estes novos desafios como uma mos dar-nos ao luxo de analisar tudo de Pessoas num lugar de destaque, num
fase de aprendizagem. É nos momentos ao milímetro. É mais importante agir, lugar de dianteira na estratégia das em-
de maior desconforto e desafiantes que aprender com os erros – se for o caso, e presas, num incremento abismal e com-
retiramos as melhores lições e que nos inevitavelmente será – e ter alternativa pletamente imprevisto de volume de tra-
adaptamos. A partilha destas aprendi- rápida aos desafios que enfrentamos. balho e sobrecarga nas nossas agendas.
zagens é extremamente importante e Estas são as mensagens que procura- Portanto, a equação parece-me simples,
promovida nas reuniões de equipa, de mos transmitir aos colaboradores. Para há que fazer menos com mais. Rever-
forma a que possamos alavancar este que possam desenvolver estas competên- mos e definirmos menos objectivos es-
processo e beneficiar a todos. cias, a direcção identificou algumas te- tratégicos, limitando os prioritários, com
máticas estratégicas e críticas para o mo- muito mais foco na implementação, na
As competências exigidas para trabalhar mento actual e, para uma, foram consti- execução e na entrega. Simplificar e re-
neste contexto também serão algo dife- tuídos grupos multifuncionais, incorpo- gressar, possivelmente, ao “básico”. Per-
rentes. Como preparam – ou que apoio rando elementos de todas as áreas da em- ceber exactamente o que tem de ser fei-
estão a dar – às vossas pessoas? presa e um elemento da direcção. Estas to, não desvirtuando a estratégia glo-
Acredito que a capacidade de adaptação, a equipas serão responsáveis por criar al- bal de Recursos Humanos, e mantermo-
agilidade, a acutilância na tomada de de- ternativas e novas soluções, desenvolven- -nos agressivamente concentrados na
cisão e, principalmente, a curiosidade e a do assim as competências necessárias. sua implementação.
aceitação do erro passam a ter um lugar
de destaque. É preciso adaptarmo-nos
a novas formas de trabalhar, novas for- Esta crise ensinou-nos que a nossa
mas de relacionamento, novas formas
de servir os clientes e de apoiar os forne-
resistência à mudança não é assim
cedores. Há que ser criativo, ser curioso
e procurar novas soluções que acrescen-
tão difícil de gerir, porque quando é
tem valor, que acrescentem segurança na mesmo preciso, fazemos acontecer.
retoma, que acrescentem credibilidade
na sustentabilidade da empresa.

50 Human Resources Portugal Maio 2020


Gestor de Pessoas

Antes de tudo isto acontecer, que priorida- líder mundial em lentes de prescrição
des tinha definido para a área que lidera? e, pessoalmente, é sempre mais de-
PERCURSO
Transformar a área de Recursos Hu- safiante estar numa empresa líder, e
manos numa área mais estratégica da ajudar a mantê-la nessa posição. Em
empresa, menos administrativa e pro- Patrícia terceiro, a já referida estratégia focada
cessual, mais decisora, mais próxima e Calvário primeiramente nas pessoas.
parceira do negócio, revitalizando as
funções de business partners. Diria que o momento actual é o maior de-
Também redesenhar a agenda de Com cerca de 20 anos de safio da sua carreira até à data? Que “li-
experiência em Gestão de Pessoas,
Gestão de Talento, reforçando mecanis- ções” ou ensinamentos espera que se
Patrícia Calvário assumiu a direcção
mos que mais facilmente nos permitam de Recursos Humanos da Essilor
possam tirar desta crise?
identificar o potencial dos colaborado- Portugal em Junho do ano passado. Sem dúvida que sim, e acredito que o é
res, alavancando o seu desenvolvimento Iniciou o percurso profissional também para a maioria dos directores
e performance, além de uma gestão de no Grupo Inditex, em Portugal, de Recursos Humanos. Este momento
passou pela Diageo Portugal como
carreira mais transparente e acessível. colocou em risco uma condição tão bá-
directora de Recursos Humanos,
vindo a acumular a função de sica como a protecção e segurança dos
Referiu a Gestão do Talento e, o ano pas- talent development manager para nossos colaboradores, das nossas famí-
sado, o director-geral da Essilor, Gonçalo a Diageo Ibéria e, mais tarde, para lias. Obrigou-nos a adoptar de imedia-
Barral, afirmou, em entrevista à Human a Diageo Brasil. Em 2011, ingressou to toda uma nova organização pessoal
na HP Portugal para liderar a área
Resources, que o crescimento futuro da e profissional.
de Recursos Humanos da empresa,
empresa tem por base a aposta na inova-
tendo sido talent manager para Mas não podemos desvalorizar as
ção mas, antes de mais, no talento. Como a região EMEA entre Agosto de coisas boas: esta crise ensinou-nos a dar
é que isso se concretiza? 2015 e Julho de 2017. Em Agosto mais valor ao que tínhamos como garan-
Concretiza-se através de uma direc- desse ano assumiu a direcção tido, a ser mais solidários, mais huma-
de Recursos Humanos e
ção estratégica da empresa, focada, em nos. Acima de tudo, ensinou-nos que a
Comunicação Interna da
primeiríssimo lugar, nas pessoas. Não SIVA, até ao actual desafio. nossa resistência à mudança não é assim
adianta os Recursos Humanos terem tão difícil de gerir, porque quando é
uma estratégia brilhante se a direcção mesmo preciso, fazemos acontecer. So-
da empresa não a tem como prioritária. mos muito mais flexíveis e adaptáveis do
Felizmente, tenho o privilégio de tra- os colaboradores têm para dizer, é a cha- que poderíamos imaginar. E apreende-
balhar com o Gonçalo Barral, um líder ve para se concretizar uma estratégia mos muito mais rapidamente. Veja-se o
que acredita e imprime no seu dia-a-dia, focada no desenvolvimento das pessoas caso da literacia informática nas nossas
na importância de apostar nas pessoas, e, consequentemente, da empresa. equipas que evoluiu em semanas o que
que acredita que ajudar as pessoas a evo- eventualmente não evoluiu em meses
luir fará consequentemente evoluir a O que diria que distingue a Essilor, en- ou anos.
empresa e, consequentemente, promo- quanto local de trabalho? Perguntando Mais importante, acho que apreen-
verá também a felicidade e o bem-estar na primeira pessoa, a si, o que a fez acei- demos a gerir toda a questão de con-
dos colaboradores. tar o desafio de ir liderar a área de Ges- ciliação entre vida pessoal e profissio-
O desafio de uma empresa focada pri- tão de Pessoas na Essilor? nal de uma outra forma. Hoje, ouvir uma
mariamente nas suas pessoas implica O que me fez ter uma ligação imediata criança no meio de uma conference call
uma agenda cheia, uma análise detalha- à Essilor foi a sua missão. É um privi- passou a ser normal e perfeitamente acei-
da a todos os possíveis desenvolvimen- légio trabalhar para uma empresa com tável. Passámos realmente a permitir,
tos de carreiras, potenciais de cresci- uma missão tão nobre, tão humana, tão e a aceitar, que estas esferas da nossa
mento, mecanismos de identificação, simples: “Melhorar Vidas, melhorando vida não são, nem nunca vão ser, total-
canais de comunicação, agentes de re- a visão”. E é curioso – e impressionante mente independentes.
tenção, acolhimentos e afins, nada pas- – como está presente tão no dia-a-dia Esta consciencialização, esta parti-
sa despercebido. E tudo é discutido nu- das equipas, não porque esteja escrito lha e esta aceitação colectiva é, na mi-
ma parceria muito desafiante com a di- nas paredes do escritório, mas porque nha opinião, das mais maravilhosas de
recção, managers e elementos das equi- sentem que de facto estamos a servir se ver, e representa certamente um avan-
pas. “Escutar e desenvolver”, não deixar a sociedade. Em segundo, inevitavel- ço que nunca aconteceria se esta crise
nada ao acaso e dar prioridade ao que mente, a Essilor distingue-se por ser não tivesse acontecido.

Human Resources Portugal 51


Estudo

HÁ UMA CRISE DE CONFIANÇA


NAS NOSSAS LIDERANÇAS.
PORQUÊ?
O mundo está a atravessar uma fase de disrupção acelerada. Se isto é uma verdade
conhecida há algum tempo, os acontecimentos das passadas semanas tornaram esta
realidade ainda mais clara. E os chief people officers têm de assumir um papel crítico na
preparação das organizações para estes desafios. POR Luís Sítima, Maria João Gomes e Pedro Meda

D
e acordo com um estudo de confiança nas suas lideranças para escala global, incluindo Portugal –, iden-
que a Odgers conduziu a navegar um futuro cada vez mais incerto. tifica que os principais factores que le-
nível internacional com Só 15% das organizações estão confian- vam à desconfiança nos líderes são mind-
a Harvard Business Re- tes de que as suas lideranças têm “what it sets e skills desadequados. Os partici-
view Analytic Services, takes” para navegar disrupções futuras pantes do estudo reportam uma elevada
95% dos executivos a nível global acre- que vão, invariavelmente, enfrentar. resistência das suas lideranças em reco-
ditam que gerir a disrupção é um factor O Odgers Berndtson Leadership Con- nhecer os impactos das disrupções nas
crítico de sucesso para as suas organiza- fidence Index – no qual participaram suas indústrias e modelos de negócio.
ções. No entanto, 85% assumem a falta aproximadamente dois mil executivos à Esta “limitação” de mindset e um skill

52 Human Resources Portugal Maio 2020


set desactualizado constituem as barrei- disrupção, é crítico desenvolver líderes parceiros: o chief technology officer (CTO)
ras ao desenvolvimento de uma visão de que promovam a inovação. Assim, não e o CPO. A importância do CTO é clara. O
futuro flexível para a organização, que é surpreendente que qualidades como CPO tem de assumir o papel de knowled-
seja a base para enfrentar as transfor- pensamento estratégico, resiliência, adap- ge expert e de agente de transformação.
mações do contexto que as rodeia. tabilidade, curiosidade, coragem e in- Especificamente, existem três áreas
teligência emocional tenham sido iden- em que o CPO tem de assumir a liderança:
Adaptar ou morrer tificadas no estudo como críticas. O novo  Desenvolvimento de uma “Leadership
R A importância de abraçar a disrupção. paradigma de liderança estará focado no and Talent Agenda”, directamente ligada
Existe uma verdade desconfortável para potencial, na identificação de mudanças à estratégia competitiva da organização.
os chief executive officers (CEO) – as estruturais e na procura de novas opor-  Desenho de uma employee journey que
experiências e skills que formaram a tunidades no seio da disrupção, mes- sirva uma alavanca para atrair, desenvol-
base do sucesso no passado não são for- mo que estas gerem desconforto. ver e reter talento de topo.
çosamente as mesmas que garantem a R Priorizar talento. Uma área de foco cha-  O CPO tem de ser o agente de trans-
capacidade de enfrentar disrupções. No ve para as organizações prende-se com formação que apoia o CEO a colocar a
entanto, o principal factor diferenciador a escassez deste tipo de talento. O Lea- “Leadership and Talent Agenda” entre
de 15% das organizações que olham para dership Confidence Index demonstra as prioridades da organização.
o futuro com confiança é a forma como que encontrar e reter talento é dos maio- Para avançar nestas três áreas, os
estas enfrentam esse mesmo futuro. Os res desafios para todas as organizações, departamentos de Recursos Humanos
líderes destas empresas acreditam nas independentemente do seu nível de pre- terão de adquirir novas experiências e
oportunidades que a disrupção repre- paração para a disrupção. competências e, assim, evoluírem para
senta e, por consequência, abraçam a
mudança de forma pró-activa.
R A estratégia como exercício contínuo e O chief people officer tem de
flexível. Os resultados do Odgers Berndt-
son Leadership Confidence Index ilus-
assumir o papel de knowledge
tram que o plano estratégico a três/cin- expert e de agente de transformação.
co anos tornou-se restritivo. As organi-
zações mais confiantes apostam numa
estratégia fluída, em contínua evolução.
Estando ancorada numa visão de futuro As lideranças terão de assumir um advisors estratégicos. Experiência de
clara, a adaptação rápida da estratégia à papel cada vez mais central neste desa- gestão de P&L (Profit and Loss), visão es-
envolvente permite acompanhar as dis- fio. Os high-potentials sentem-se atraí- tratégica, capacidades analíticas e chan-
rupções em curso, sem perder o norte. dos por organizações com um purpose ge management serão o novo normal.
R Humildade e tomadas de decisão in- e uma estratégia claras. As equipas de Em síntese, o sucesso das organiza-
clusivas. Um estilo de liderança focado liderança com falta de visão não serão ções depende de abraçar as disrupções.
na evolução contínua da estratégia re- capazes de atrair talento de topo. Depende, igualmente, da condução da es-
quer um envolvimento mais alargado No entanto, a tarefa não acaba com o tratégia como um exercício contínuo e
da equipa de gestão e da organização. recrutamento. O desenvolvimento tem de uma abordagem inclusiva na tomada
Os líderes que apresentam melhores re- de se transformar numa prioridade para de decisão. Estas alterações requerem
sultados são mais colaborativos e inves- os conselhos de administração e as co- uma redefinição do conceito de lideran-
tem tempo a debater temas com um con- missões executivas. As organizações com ça, o envolvimento dos gestores de topo
junto mais amplo de colaboradores. Em confiança no futuro investem pró-activa- no desenvolvimento de uma agenda de
contrapartida, as organizações com vi- mente em processos de gestão de talento Leadership and Talent e o CPO como
sões mais restritivas têm evidenciado que promovem o desenvolvimento do advisor do CEO e agente de mudança
uma menor capacidade de inovação e potencial dos colaboradores, mindsets da organização.
adaptação ao novo normal. flexíveis e a capacidade de crescimento. A actual crise da COVID-19 é uma
R O chief people officer (CPO) como bra- oportunidade clara para assumir estes
O caminho da mudança ço direito do CEO. 85% dos executivos desígnios e abraçar a disrupção.
R Reinventar a liderança: mindsets e com- acreditam que o CEO tem o papel central
petências do futuro. Para as organizações na gestão da disrupção. Mas o nosso es- Luís Sítima, managing partner; Maria João Gomes,
competirem num futuro em constante tudo ilustra que o CEO necessita de dois partner; Pedro Meda, partner da Odgers Berndtson.

Human Resources Portugal 53


Comunicação na Gestão de Pessoas

RUI RIJO FERREIRA


DIRECTOR DE MARKETING NA JABA RECORDATI

Uma comunicação
transparente
e contínua
Perante a pandemia que motivou que todos os colaboradores da Jaba Recordati
ficassem em teletrabalho, mudaram as circunstâncias mas não a essência da
comunicação interna: ser transparente, contínua e chegar a todos de forma eficiente.
POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho

R
ui Rijo Ferreira, di- ção, quando confrontada com a actual si- com o objectivo de lhe fazer sentir que
rector de Marketing tuação de pandemia? nós estamos na retaguarda a assegurar
na Jaba Recordati e O modelo de negócio seguido pela gene- que o mercado não terá roturas de me-
responsável pela Co- ralidade das companhias farmacêuticas dicamentos, e que lhe daremos todo o
municação, reconhe- é muito assente na comunicação “face to apoio possível.
ce que nem mesmo na indústria farma- face”. O medicamento é, em si, um pro-
cêutica se estava preparado para uma duto de elevada complexidade técnica E em concreto na Comunicação Interna,
situação de pandemia com as repercus- e científica, e o mercado farmacêutico quais foram as prioridades?
sões globais da actual. Por isso, o impac- é fortemente regulamentado. Penso que o mais importante foi conse-
to emocional nos colaboradores não foi A pandemia COVID-19 obrigou-nos guir que todos os colaboradores sentis-
menos sentido. Mas a resposta foi rápi- a enviar para casa toda a equipa comer- sem que a companhia não está parada.
da e a Comunicação teve um papel fun- cial, a rever todas as nossas actividades Sabem que estão em casa, mas que cada
damental para assegurar a necessária e toda a nossa forma de comunicar. Su- um deles continua a desempenhar um
adaptação ao contexto, mantendo a ac- bitamente, o nosso principal cliente, o papel importante na organização. A si-
tividade intacta e a tranquilidade e con- profissional de saúde, está na primeira tuação alterou-se radicalmente e a com-
fiança dos colaboradores. E o timing do linha da COVID-19 e, por isso, focado panhia também se adaptou rapidamente.
Estado de Emergência trouxe um desa- nesse combate. A nossa comunicação E todos, sem excepção, têm um papel im-
fio acrescido, uma vez que a farmacêu- teve de se adaptar a esta realidade. portante nessa transformação.
tica estava em pleno processo de mu- Deixámos de o contactar presencial-
dança de instalações. mente e passámos a fazê-lo remotamen- Que ferramentas têm usado na “comuni-
te. O conteúdo e o objectivo deixou de ser cação à distância”?
O que é que para a Jaba Recordati assu- a promoção dos nossos produtos e passou Com as equipas comerciais em casa e
miu prioridade em termos de comunica- a ser o suporte e apoio à sua actividade espalhadas pelo território nacional, sen-

54 Human Resources Portugal Maio 2020


A comunicação
tem um papel
central. Os
colaboradores
têm de sentir que
a dinâmica da
companhia não
pára e têm de
sentir confiança.

eventualmente tenha sido um pouco


mais rápida.

Quais as vossas principais preocupações,


neste âmbito?
Em primeiro lugar foi proteger os co-
laboradores e suas famílias, adoptan-
do todas as medidas necessárias. Em
concreto, criando todas as condições
para que trabalhassem a partir de casa
e reforçando o seguro de saúde para que
sentissem que, na infelicidade de even-
tualmente contraírem a COVID-19, te-
rão acesso a testes de diagnóstico e aos
cuidados médicos necessários.
Criámos também um stock de emer-
gência de alguns medicamentos nossos
utilizados nos diferentes protocolos de
timos a necessidade de desenvolver fer- Actuando na indústria farmacêutica, na combate ou prevenção à infecção provo-
ramentas que nos permitissem uma co- área da Saúde portanto, acredita que os cada pelo vírus. Com isto, todos os nos-
municação estreita e imediata com todos vossos colaboradores estariam eventual- sos colaboradores sabem que, se neces-
estes comerciais. Neste âmbito, recor- mente mais bem preparados para gerir, sário, a companhia lhes fará chegar mui-
remos às redes sociais, criando diversos nomeadamente a nível emocional, uma tos dos medicamentos necessários.
grupos no WhatsApp. Desenvolvemos situação desta natureza?
e implementámos um programa de e- Penso que ninguém estava preparado E como estão a preparar as vossas pessoas
-learning e, em paralelo, os Recursos Hu- para esta situação. Na nossa área, todos para a retoma da normalidade possível,
manos desenvolveram uma acção de temos uma noção do que é, e do que im- sendo que vão continuar a existir riscos
distribuição de equipamento básico de plica, uma epidemia, mas estamos habi- e será compreensível que as pessoas
protecção por todos os colaboradores. tuados a que isso seja um acontecimen- tenham receios?
Isto a somar aos restantes meios utili- to que ocorre em locais distantes. Desta Todos estamos activos e a companhia
zados na comunicação interna e que, no vez, não foi assim. Por isso, o impacto mantêm a sua operacionalidade, até
presente, têm ainda mais peso, como a emocional foi idêntico. Talvez a cons- porque temos de garantir que os nos-
nossa intranet. ciencialização do real problema é que sos produtos estão nos hospitais, nas

Human Resources Portugal 55


Comunicação na Gestão de Pessoas RUI RIJO FERREIRA

farmácias e parafarmácias. Faz parte notícias sombrias sobre a crise econó-


da nossa missão. PERCURSO mica e suas implicações. Externamen-
Face a um aliviar previsível das me- te, os nossos fornecedores têm de saber
didas de confinamento, no caso dos co- Rui Rijo Ferreira que estamos activos e que todas as áreas
laboradores internos, iremos aumentar da empresa estão operacionais, e que o
a presença no escritório, mas num regi- Iniciou o seu percurso profissional
mesmo esperamos da parte deles. Aos
me de turnos. Ainda não definimos exac- numa área completamente diferente clientes queremos dizer-lhes que pode-
tamente a dimensão de cada turno nem da actual – o Exército. Depois, rão continuar a contar com os nossos
a sua duração, mas será sempre com o licenciou-se em Relações Públicas e produtos no seu quotidiano e que es-
objectivo de manter a operacionalida- Publicidade, tendo complementado tamos com eles para os apoiar no que
esta formação com pós-graduações
de sem nunca colocar em risco a saúde em Marketing e Negócios
nos for possível.
dos colaboradores. Internacionais, em Management e em
Desde ainda antes de decretado o Es- Marketing Digital. Profissionalmente, Como se interligou com outros departa-
tado de Emergência, tomámos um con- escolheu a Indústria Farmacêutica, mentos, nomeadamente com o da Ges-
junto de medidas nesse sentido. Na equi- passando por diversas companhias tão de Pessoas?
multinacionais, contando actualmente
pa externa, todos os colaboradores têm com uma já longa carreira no
Na Jaba Recordati, o grupo de gestão é
presente as normas de protecção indi- Marketing farmacêutico. Em termos bastante unido. Embora com um con-
vidual e a companhia assegura que têm de aprendizagens, Rui Rijo Ferreira tacto físico muito limitado, reunimos
todo o equipamento necessário para de- destaca que, «mesmo após 30 anos remotamente duas vezes por semana
senvolverem a sua actividade dentro da de experiência», continua a aprender. o “board” e partilhamos os diferentes
«O mercado é dinâmico e um
maior segurança possível. marketeer tem de saber acompanhar
problemas e projectos. Desta forma, todo
esse dinamismo, é a essência da nossa o grupo de primeira linha sabe o que se
A situação de pandemia coincidiu com a profissão. A experiência adquirida passa em cada departamento e pode con-
vossa mudança de instalações. Tiveram dá-nos a confiança necessária tribuir com ideias e sugestões para os di-
de adaptar os planos de comunicação aquando da tomada de decisão, ferentes problemas e projectos em curso.
mas a curiosidade e a desacomodação
pensados para esta “nova fase” na vida
têm de ser permanentes.»
da empresa? Possivelmente as pessoas Em que premissas fundamentais assenta
saíram de um sítio, quase de um dia para o a vossa Comunicação Interna?
outro, e agora vão voltar para outro... Como Ser transparente, contínua e chegar a
geriram/ estão a gerir esta situação? Andámos todos de máscara e luvas todos de forma eficiente.
De facto, esse foi um grande desafio. Uma a arrumar à pressa as coisas nas novas
mudança de instalações é sempre um instalações para, de imediato, irmos Quais as ferramentas e formas de comu-
processo complexo. Temos de o planear para o teletrabalho. Mas porque tudo nicação que privilegiam?
com bastante antecedência. Tínhamos nos traz oportunidades, esta mudança Temos vindo a recorrer a reuniões gerais
duas datas fundamentais, dia 20 de Mar- também nos permitiu ter conteúdo para para a equipa interna com periodicida-
ço deveríamos ter o novo escritório pron- comunicar com os colaboradores inter- de mensal e a reuniões gerais para a equi-
to para podermos efectuar a mudança nos e externos, assim como com os clien- pa externa numa base trimestral. Para
e no dia 30 de Março entregávamos as tes e fornecedores. Através das redes além destes momentos, mantemos em
instalações antigas. sociais, fomos partilhando esta verda- permanência uma intranet onde publi-
Todo o processo estava a decorrer deira aventura. Noutra situação, uma camos todas as notícias relevantes
dentro do planeado, quando nos come- mudança de instalações resumir-se-ia relacionadas com a vida da companhia
çámos a aperceber do que iria ocorrer. provavelmente à comunicação formal e comunicamos pelas redes sociais atra-
De imediato, começámos a pressionar da nova morada. vés de grupos formais geridos pela ges-
todos os intervenientes no processo para tão da empresa.
a eventual necessidade de antecipar a Qual o papel que a Comunicação tem as-
mudança. Mudámos a 18 de Março, na sumido na gestão desta crise? Adoptaram alguma iniciativa nova nes-
véspera de ser decretado o Estado de Tem um papel central. Internamente, te período de crise e que pensem manter
Emergência. Foi uma corrida contra- os colaboradores têm de sentir que a di- no futuro?
-relógio, liderada pela minha colega dos nâmica da companhia não pára e têm Os grupos de WhatsApp, onde a parti-
Recursos Humanos, que fez um exce- de sentir confiança. Queremos que se lha é biunívoca, permitindo obter um
lente trabalho. sintam tranquilos quando escutam as rápido feedback.

56 Human Resources Portugal Maio 2020


Comunicação na Gestão de Pessoas

Sendo director de Marketing, como enca-


ra a interligação entre o cliente interno e
externo na forma de comunicar? Existem
pontos de contacto?
Muitos. Acredito que todo o colaborador
deverá ser um marketeer da companhia.
Desde a direcção-geral até à recepção,
todos devemos, pelo nosso desempenho,
promover a companhia e os seus produ-
tos. Sempre que o cliente contacta um
qualquer nosso colaborador tem de sen-
tir nele profissionalismo, simpatia, efi-
ciência e “engagement”.

O que acha que define uma boa estraté-


gia de Comunicação?
Como qualquer estratégia, terá de ter ob-
jectivos de longo, médio e curto prazos,
métricas claramente definidas que per-
mitam uma avaliação periódica da sua país e que a maioria das pessoas nunca quilidade e a confiança nos nossos cola-
implementação e deverá ser simples. Um chegará a conhecer pessoalmente. boradores. Para isso, vamos mantendo
antigo professor de Estratégia ensinou- Por outro lado, interna e externa- uma comunicação permanente e transpa-
-me que uma boa estratégia é aquela que mente havia a necessidade de comuni- rente com as pessoas, informando sobre
até uma criança deverá compreender. car um novo paradigma de negócio. A as medidas que estamos a tomar para
Jaba Farmacêutica, ao tornar-se Jaba compensar as previsíveis perdas e ga-
Assumiu a direcção de Marketing na Jaba Recordati, passou a privilegiar os pro- rantir a boa saúde da companhia.
há quase 10 anos e meio. Ainda se lembra dutos de investigação da casa-mãe. Era
dos principais desafios de então? importante que o cliente externo pas- Que tendências perspectiva para a área?
Quando cheguei à Jaba, eramos uma com- sasse a ver-nos como uma companhia Tradicionalmente, a indústria farma-
panhia farmacêutica nacional privada. Tí- de investigação, e não mais como uma cêutica tende a comunicar muito pouco
nhamos um elevado nível de notoriedade companhia local de representações. para o exterior do universo dos profis-
e os nossos colaboradores, na sua maioria, Também internamente foi necessá- sionais de saúde. Com o aumento da lite-
tinham uma relação laboral com a com- rio explicar as novas prioridades e novos racia em saúde e com o crescimento do
panhia de muitos anos. Quase de imedia- modelos de trabalho. Foram tempos mui- mercado de venda livre, esta situação vai
to após a minha chegada, a companhia é to estimulantes. Hoje, somos uma filial e está a evoluir. O cidadão está a aban-
vendida. Numa primeira fase a um em- de uma multinacional, mas com mui- donar o papel tradicionalmente passivo
presário português e, um ano e meio mais to orgulho na nossa história nacional. que desempenhava no processo de com-
tarde, é comprada pela Recordati. pra de produtos farmacêuticos.
Foi um período muito conturbado. As E agora, esquecendo um pouco a situa- A indústria farmacêutica tem acom-
pessoas, de um momento para o outro, ção de excepção que vivemos, quais são panhado, e deve fazê-lo, esta nova rea-
sentiram-se um pouco desprotegidas e in- os principais desafios de Comunicação? lidade. Na Jaba Recordati assumimos
seguras. Foi fundamental focá-las no ne- Estamos perante um momento de re- já há alguns anos a cvomunicação com
gócio para que a companhia mantivesse novação do nosso portefólio. Algumas consumidor final como uma prioridade.
a sua performance. Houve necessidade das nossas principais marcas em 2020 A nossa presença multicanal tem vindo
de adaptar a companhia aos procedimen- perdem a protecção de patente e pas- a ser crescente. Sempre enquadrada
tos do grupo e à sua filosofia. Não foi uma sam a ter concorrência de numerosos dentro da regulamentação do sector.
tarefa fácil. Passámos de uma realida- genéricos, sendo por isso previsível for-
de onde as pessoas tinham uma relação tes quebras de vendas nessas marcas. O que o mantém motivado no dia-a-dia?
diária com a entidade patronal e, de re- A consciência desta realidade cria uma Desenhar novos projectos e conseguir
pente, esta desaparece para dar lugar a certa ansiedade nas pessoas face ao fu- ajudar a equipa a concretizá-los é uma
uma outra entidade, localizada noutro turo. O nosso desafio é manter a tran- paixão permanente.

Human Resources Portugal 57


Internacional
O SURTO DE COVID-19
É UM CISNE NEGRO OU
O NOVO NORMAL?
A escala do que está a acontecer é difícil de compreender e é lógico questionar se a
COVID-19 é o chamado cisne negro que sociedade e negócios há muito temem. A resposta
é: claro que sim. Mas pode também ser o tipo de desafio que agora enfrentaremos
frequentemente – um novo normal. POR Andrew Winston, MIT Sloan Management Review

58 Human Resources Portugal Maio 2020


E
ntre o tempo que passou linear. O crescimento de emissões está mites, arriscamos-nos a tornar o planeta
desde que escrevi isto e vo- agora a diminuir, felizmente. Em parte irreconhecível. Todas as economias e
cês o estão a ler, qualquer por ter sido difícil prever como seria o negócios terão de encontrar uma for-
coisa que eu diga sobre a crescimento exponencial das emissões, ma de trabalhar dentro destes limites
COVID-19 estará prova- reagimos demasiado tarde para evitar- de velocidade básicos.
velmente ultrapassado. É a natureza mos impactos significativos nas pessoas Provavelmente, a ascensão de vírus
de algo que se move a uma velocidade e no planeta. O mesmo está a acontecer como este que causa a COVID-19 é um
exponencial na sociedade. agora com a COVID-19, já que as pes- derivado de alguns destes limites. Os
É demasiado cedo para falar das “li- soas demoram a cortar drasticamente cientistas ainda não compreenderam
ções aprendidas” enquanto se desenrola o contacto com os outros, portanto es- totalmente a origem do novo coronaví-
uma tragédia humana em grande escala. pera-nos uma quantidade desconhecida rus, mas sabe-se que possivelmente en-
Mas é difícil pensar noutra coisa neste de sofrimento. volveu morcegos, assim como outras es-
momento, e o cérebro procura algo útil Por outro lado, e porque precisamos pécies. As primeiras pessoas infectadas
a que se agarrar. Por isso, farei algumas de boas notícias, algumas coisas positi- trabalhavam num mercado de animais
observações sobre este desafio global e vas moveram-se de forma não linear nas vivos invulgares, como o pangolim, uma
a sua relação com outras questões im- recentes décadas: a diminuição da pobre- espécie de papa-formigas, outra fonte
portantes como as alterações climáticas. suspeita do surto.
Mas porque é que as pessoas comem
Pensar o quadro geral Os custos estes animais? Talvez eu esteja a sim-
plificar demais, mas é uma espécie de
humanos dos
R Temos de compreender e reagir melhor
ao crescimento exponencial. A 11 de Feve- combinação de pura sobrevivência com
reiro, o número de casos de COVID-19 fora
da China estava abaixo dos 400. Enquanto
abrandamentos uma atitude de que “os animais vivem
para o Homem”. Quando quase oito mil
escrevo isto, cinco semanas depois, che-
gou a mais de 90 mil – com um crescimen-
económicos milhões de pessoas habitam um único
planeta, fazendo pressão na natureza, e
to de mais de 18% num único dia. acrescentam um milhares de milhões não têm o suficien-
Os professores há muito que usam
este paralelo para explicar o crescimen-
problema real te para sobreviverem, comerão o que
for preciso. E quando vemos a natureza
to exponencial: imaginem um lago com
um único nenúfar. Todos os dias o núme-
aos resultados já como algo que foi simplesmente feito
para ser usado, exploramos-la demais.
ro de nenúfares duplica, e em 30 dias o devastadores de
lago está coberto (e sufocado). Em que
dia considerariam que estava meio co-
uma pandemia. Um pau de dois bicos
R Temos de compreender que estamos
berto? E 1% coberto? As respostas são dia todos ligados. O pêndulo tem virado
29 e dia 24. Mesmo que se use uma taxa nos últimos anos para o lema “cada um
de crescimento de 50% em vez de 100%, por si”. O nacionalismo puro é franca-
é dia 28 e dia 19. za infantil, a redução de algumas doen- mente perigoso perante questões uni-
No contexto da COVID-19, isto sig- ças (algumas até zero) e a queda do custo versais como as alterações climáticas, a
nifica que se não “atenuarmos a curva das energias renováveis. Estas tendên- utilização excessiva de recursos e, sim,
do crescimento”, veremos rapidamente cias positivas estimulam alterações po- as pandemias. De certo modo, somos tão
grandes números de doentes e mortos. O sitivas na sociedade e exigem igualmen- fortes como os nossos sistemas imunitá-
nosso sistema de saúde e a nossa econo- te preparação. rios mais fracos.
mia correm o risco de ruir sob esse peso. Neste sentido, questões aparente-
Temos alguma experiência (e suces- R Os limites planetários moldarão o mente políticas como “Devem todos ter
so ocasional) na gestão do crescimen- nosso mundo num futuro previsível. O acesso a cuidados médicos básicos?” tor-
to exponencial que estimula os nossos planeta tem os seus limites – só aguenta nam-se questões de prosperidade hu-
maiores desafios globais, incluindo po- determinadas minas produtivas, deter- mana e económica. Em suma, se as pes-
pulação, utilização de recursos e emis- minados peixes no oceano, determinada soas não têm cobertura e não conseguem
sões de gases de estufa. terra cultivável, determinado CO2 que parar de trabalhar quando estão doentes
Da Revolução Industrial à década oceanos e atmosfera conseguem absor- (porque não têm acesso a subsídios ou
de 2010, tudo isto cresceu de forma não ver, entre outros. Ao testarmos estes li- benefícios), então vão trabalhar. Vão tra-

Human Resources Portugal 59


Internacional

Imagens do espaço mostram a qualidade


do ar à volta de Wuhan, na China

pessoas param de fazer o que quer que


seja. Não é assim que queremos lá che-
gar, mas esta crise permite-nos imaginar
um mundo em que as marcas da nossa
tar e preparar alimentos. Vão vender- demos reconhecer que mais pessoas em economia são muito menores e as pes-
-nos produtos alimentares. Vão conduzir movimento com pouco apoio institucio- soas conseguem literalmente respirar
as ambulâncias. nal não são benéficas para a saúde geral. melhor. Cerca de oito milhões de pessoas
Não podemos esconder-nos atrás de E, de uma forma perversa, os abran- morrem prematuramente por causa da
muros físicos e económicos. Se não existe damentos económicos criados pelas que- má qualidade do ar. Não seria agradável
um acesso básico a energia, água, alimen- das nos mercados ou pelas pandemias se encontrássemos um modo de desen-
tos e cuidados médicos para todos, todos abrandam as emissões. Como Christiana volvermos uma economia para todos
estaremos em risco. Se não prosperar- Figueres, antiga directora climática da que reduzisse consideravelmente o risco
mos todos, ninguém prosperará. Organização das Nações Unidas (ONU) das pandemias e diminuísse as mortes
afirmou recentemente, a desaceleração e doenças provocadas pela poluição e
R As alterações climáticas e as doenças do crescimento económico graças ao co- alterações climáticas?
estão ligadas. Existem sobreposições ronavírus «pode ser boa para o ambien-
e dependências entre todas as nossas te... porque há menos negócios, menos Algumas considerações
grandes questões. Com o aquecimento viagens, menos comércio». Isto é obvia- para as empresas
do planeta, as estações serão mais lon- mente uma consequência que cria um mis- No meio de uma crise desta magnitu-
gas e as distâncias geográficas expan- to de emoções: menos poluição é bom, mas de, é difícil dar um passo atrás e ver o
dir-se-ão para muitas doenças perigo- os custos humanos dos abrandamentos que as empresas podem aprender com
sas, como a malária, a febre de dengue, económicos acrescentam um problema aquilo que estão a experimentar hoje,
o vírus chikungunya e o vírus do Nilo real aos resultados já devastadores de mas vamos tentar. Alguns temas:
Ocidental. Precisamos de pensar no nos- uma pandemia.
so sistema de saúde com todas estas ten- Podemos ver do espaço que a quali- R Em caso de dúvida, devemos pôr as
dências em mente. dade do ar à volta de Wuhan, na China, pessoas em primeiro lugar. A primeira
Ao mesmo tempo, à medida que o ní- fica drasticamente melhor quando as reacção ao vírus, principalmente nos
vel do mar sobe e algumas áreas tornam-
-se inabitáveis, teremos mais refugiados.
Provavelmente terão pouco apoio econó- A resiliência económica perante um
mico e médico. Não estou a dizer que os
refugiados transportam consigo doenças
cisne negro exige que as empresas
exóticas – os nossos próprios cidadãos que
viajam em aviões e barcos importaram e
façam as coisas de forma diferente.
propagaram mais a COVID-19. Mas po-

60 Human Resources Portugal Maio 2020


EUA, pareceu ter sido mitigar o seu efei- cantes automóveis. Eram os únicos locais
to na bolsa e na economia. Muitas em- onde algumas peças eram produzidas.
presas publicaram declarações sobre o Nada pode prever as reduções na pro-
impacto nas cadeias de abastecimento cura causadas pelo distanciamento so-
e na procura. Tudo isso é importante, cial e pelos cortes severos nas viagens
mas a sério, estamos a passar por uma e em todos os serviços. Mas, de uma for-
emergência médica humana. Empre- ma mais generalizada, há coisas que as
sas e governos podem fazer mais do que organizações podem fazer para reduzi-
falar sobre lucros e mercados. rem os riscos das operações. Podem in-
Tendo em conta a tragédia no centro cutir nas suas cadeias de valor alguma
disto, os líderes empresariais devem per- duplicação e diversidade – princípios
guntar: “Qual a melhor coisa que pode- fundamentais de resiliência na nature-
mos fazer pelos nossos colaboradores?” za (temos dois rins por alguma razão) –
Tornar tudo virtual é a via mais fácil para na produção e nos fornecedores.
certas organizações, mas a questão com- A curto prazo, várias vias na cadeia
plica-se para empregos que não podem de abastecimento e produção pode pare-
ser feitos remotamente. Será que as em- cer menos eficiente, mas são úteis numa
presas podem oferecer alguma compen- emergência. Os negócios devem valorizar
sação de emergência para os colaborado- a resiliência e redução de riscos nos seus
res à medida que a economia abranda – ou planos e cálculo de investimentos, e não
pelo menos pedir créditos ou emprésti- Christiana Figueres, antiga directora pensar só no custo mais baixo possível.
climática da ONU
mos ao governo para tal? As empresas devem também prepa-
Muitas empresas experimentaram rar-se para tendências exponenciais po-
também colocar as comunidades em pri- Comunidades, governos e colabora- sitivas, que deitam por terra alguns mo-
meiro lugar numa situação de emergên- dores irão lembrar-se destas acções. Es- delos de negócios e criam novos. A econo-
cia. Um dos momentos mais importan- tas empresas, ao ajudarem as pessoas e mia limpa, por exemplo, está a substituir
tes da sustentabilidade empresarial ocor- fazerem o que está certo, criam confiança os combustíveis fósseis a uma velocidade
reu em 2005 quando os líderes da Wal- e melhoram a sua licença para funcionar. que parece lenta mas que, tal como aconte-
mart compreenderam que a empresa ce com os nenúfares, acabará por se tor-
fazia um trabalho muito mais adequado R A resiliência económica perante um nar rapidamente a maioria.
do que o governo a levar mantimentos às cisne negro exige que as empresas fa-
pessoas retidas pelo Furacão Katrina. çam as coisas de forma diferente. O nos- R Podemos descobrir algo útil na for-
Isto levou a alguma ponderação e ao so modelo económico actual baseia-se ma como interagimos e viajamos. Quer
próprio CEO a perguntar o que poderia na eficiência: encontrar o modo mais rá- gostemos ou não, estamos a embarcar
a empresa fazer pela sociedade. Recente- pido e barato de fazer ou criar algo pro- numa enorme experiência com o traba-
mente, a Budweiser mudou a sua produ- vavelmente cria vantagem temporal ou lho remoto e a tecnologia. Como Chris-
ção para produzir meio milhão de latas financeira. Mas as cadeias de abasteci- tiana Figueres, a antiga funcionária da
de água para vítimas de furacões. E mui- mento globais que optimizam para a cen- ONU, explicou em Fevereiro, «podemos
tas empresas trabalharam com a ONU tralização e redução de custos têm pon- compreender que não precisamos de via-
para oferecerem ajuda durante pande- tos fracos potencialmente graves. jar tanto. E tenho a certeza que o mer-
mias – a Unilever forneceu 750 mil sabo- Uma análise às cadeias de abasteci- cado vai aproveitar a oportunidade, até
netes durante um surto de Ébola. mento globais feita no início deste mês aperfeiçoar ainda mais as tecnologias
Enquanto escrevo isto, as empresas calculou que as mil maiores empresas do para que possamos comunicar e parti-
estão a começar a reagir e a tomar acções mundo e seus fornecedores têm mais de cipar nas reuniões, quase como se esti-
drásticas para ajudar o mundo a ultra- 12 mil instalações nas áreas de quaren- véssemos fisicamente presentes. Isso se-
passar a pandemia. A LVMH, líder fran- tena na China, Coreia e Itália. Já vimos ria um contributo sistémico para [a re-
cesa de produtos de luxo, anunciou que algo assim antes. As enormes cheias que dução das] alterações climáticas».
está a alterar três fábricas para criar an- assolaram a Tailândia em 2011 fecha-
tisséptico para as mãos, e oferecerá gra- ram fábricas que produziam peças funda- R Os negócios precisam de abandonar
tuitamente toneladas do gel ao governo mentais para o sector dos discos rígidos as directrizes e indicações políticas. É
francês e aos sistemas hospitalares. e componentes para as principais fabri- essencial que as empresas façam o que

Human Resources Portugal 61


Internacional

Numa crise, é essencial que as empresas transparência constante sobre todos os


acontecimentos. Se a administração fe-
façam o que está correcto para os seus deral de um país está a ficar para trás, as
empresas precisam de aplicar mais pres-
colaboradores e para a comunidade. são rapidamente.
Para mim, tudo isto nos leva ao ponto
onde comecei: a COVID-19 e as altera-
ções climáticas são, obviamente, cisnes
está correcto para os seus colaboradores zações como as universidades e todas as negros, um movendo-se mais depressa
e alguns membros da comunidade numa ligas de desporto profissional nos EUA que o outro. Mas ambos apontam para
crise. Mas durante emergências sistémi- – estão a tornar-se virtuais ou a fechar mudanças mais permanentes que todos
cas e desafios, precisamos de mais. Os ne- rapidamente. É o que deve ser feito para temos de fazer nas nossas vidas e na ma-
gócios têm de usar a sua influência políti- nivelar a taxa de infecções. neira como fazemos negócios.
ca para estimular mudanças no governo. Mas será suficiente que façamos o Esperemos que sejamos capazes de
A maioria das multinacionais fora do que está directamente dentro do nosso nos juntarmos a tempo de lidarmos com
sector da energia evitou pressões signi- controlo? Já não. Os negócios têm obvia- todos estes desafios e aproveitarmos a
ficativas ou comunicações com líderes mente muitas vantagem em terem uma oportunidade para desenvolver um mun-
políticos sobre políticas climáticas. As- economia em funcionamento e, claro, do mais humano, solidário e sustentá-
sinam declarações a favor da acção, mas colaboradores saudáveis. Por isso, abran- vel. Por favor, fiquem por agora em casa e
não aparecem em Washington D.C., Bru- dar o vírus deve ser uma prioridade de mantenham-se em segurança.
xelas ou nas capitais de região ou estado topo. Isso significa pressionar os gover-
para apoiarem a pressão sobre o carbono nos para que tenham a coragem de fechar Andrew Winston
ou investimento em tecnologias limpas. escolas, banir ajuntamentos em público, Fundador da Winston Eco-Strategies e
O mesmo pode acontecer com a CO- desenvolver instalações de testes muito consultor de multinacionais sobre a melhor
forma de enfrentar os maiores desafios da
VID-19. As empresas – e grandes organi- mais depressa, assim como oferecer uma humanidade e lucrar com a sua resolução.

62 Human Resources Portugal Maio 2020


Boas Práticas

E
m entrevista à Human Re-
sources, Patrícia Olivei-
ra, Human Relations and
Communication manager
da Continental Advanced
Antenna, em Vila Real, explica não só
como estão a gerir esta crise, asseguran-
do os postos de trabalho dos seus mais
de 560 colaboradores (é o maior empre-
gador privado do distrito), mas também
o caminho que vinham traçando na Ges-
tão de Pessoas, nomeadamente após a
integração no grupo Continental.

Numa primeira fase, como é que a Conti-


nental Advanced Antenna (CAA) reagiu e
geriu a situação de crise criada pela pan-
demia COVID-19?
A CAA adoptou medidas de prevenção
desde muito cedo, mesmo antes de ter
sido decretado o Estado de Emergência
pelo Governo. A nossa prioridade foi sem-
pre manter a segurança dos colabora-
dores. Na gestão desta crise, o primeiro
passo foi criar uma equipa de Contin-
gência Interna que se dedicou à criação
do plano e à sua gestão desde então. E
fomos das poucas empresas no nosso
sector a manter as portas abertas ao lon-
go de todo o Estado de Emergência, mes-
mo que tenhamos tido redução de pes-
soas e actividade.

E que medidas em concreto adoptaram?


CONTINE NTAL ADVANCE D A N T EN N A Posso referir algumas das mais impor-

UM EXERCÍCIO DE tantes e que garantem, de uma forma


directa, a segurança dos nossos colabora-
dores. Limitámos de imediato a entrada
GESTÃO “SEM REDE” de visitas externas na empresa, sendo
que quem entra é alvo de um controlo
apertado. Promovemos o teletrabalho e
as reuniões à distância. Optámos por so-
A Continental Advanced Antenna foi das poucas empresas licitar os serviços de um enfermeiro, que
do seu sector a manter as “portas abertas” durante o Estado está na empresa durante 40 horas por
semana, de forma a dar apoio exclusivo
de Emergência. Tem sido um exercício de gestão “sem rede” nesta área. Oferecemos a cada colabo-
e se alguma certeza têm é a de que nunca como hoje rador uma solução desinfectante indivi-
o valor corporativo “Uns pelos Outros” fez tanto sentido. dual, para garantirem a desinfecção re-
POR Ana Leonor Martins gular das mãos. Para além disso, a utili-
zação de máscara passou a ser obrigató-
ria nas instalações.

64 Human Resources Portugal Maio 2020


Nas áreas sociais implementámos num mundo VUCA, o que acresce desa-
medidas de distanciamento físico, bem fios para a Gestão de Pessoas. Prova disso
como a desinfecção regular de todos os es- é, exactamente, o cenário actual, que nos
paços comuns e espaços de trabalho. Pro- traz uma constante imprevisibilidade
cedemos ao controlo de temperatura na sobre o dia de amanhã.
entrada das instalações e criámos uma É, justamente, por esta razão que
linha interna de apoio, de forma a garantir considero que a manutenção do engage-
que as nossas pessoas têm resposta às ment e motivação das nossas pessoas
suas questões de uma forma adequada. tem de assentar numa estratégia coe-
rente, consistente e continuada, e que
Quais têm sido as vossas prioridades na só é possível manter esta motivação e
gestão desta crise, para além de garantir envolvimento, em cenário de teletraba-
a segurança e saúde das vossas pessoas? lho, lay-off e redução de trabalho, por-
Estando conscientes da nossa dimen- Patrícia Oliveira que já existia uma genuína preocupa-
Human Relations and Communication
são e respectivo impacto na região, em ção com as pessoas em toda a estratégia
Manager da Continental Advanced Antenna
paralelo estivemos também focados em de gestão da organização.
assegurar a sustentabilidade económi- Nesta fase em particular, a gestão
ca e social da empresa. Enquanto maior didas de maior abrangência e impacto, da comunicação tem assumido um pa-
empregador privado do distrito, consi- nomeadamente o recurso ao teletrabalho pel de relevo. Procuramos, mais do que
deramos fundamental esta preocupa- nas funções em que foi possível, o gozo nunca, que a mensagem chegue a todos
ção, já que dela depende a manutenção de férias ou a assistência à família. os colegas de forma cuidada, rigorosa
dos postos de trabalho a médio prazo, e transparente, e reforçámos a frequên-
e porque prezamos o bem-estar e esta- E como conseguiram gerir essa situação cia de comunicação.
bilidade das famílias que fazem parte juntos das pessoas?
da nossa equipa. A nossa cultura de abertura e proximida Mas sendo que o teletrabalho não deveria
A combinação destes vários factores de com as nossas pessoas levou a que estas ser prática regular no vosso dia-a-dia, tive-
sustentou a decisão de manter a labo- medidas tenham sido entendidas como ne- ram de adaptar as formas de comunicar...
ração em turnos reduzidos, e equipas a cessárias para a manutenção da equipa Sim... Antecipando que o teletrabalho
laborar em “espelho”, evitando o total en- a longo prazo. Cada decisão foi pensa- poderia trazer algum desconforto e, até,
cerramento, sem comprometer postos da por forma a impactar o mínimo possí- insegurança, dada a repentina privação
de trabalho nem a qualidade do serviço vel o dia-a-dia dos colaboradores e, uma da rotina habitual de trabalho, para este
prestado ao cliente. vez que nos focámos numa comunica- grupo de colegas tivemos uma especial
ção próxima e transparente, considera- atenção na promoção de canais de co-
Mantiveram em actividade só cerca de mos realmente que houve um grande res- municação digitais que aproximassem e
60% dos colaboradores... Recorreram ao peito e aceitação por parte de todos. facilitassem a interacção entre as equi-
regime de lay-off? pas e os seus líderes, fomentando o sen-
Tendo em conta a grande diminuição do Que iniciativas estão a promover, nomea- timento de pertença.
volume de encomendas dos clientes, tam- damente com as pessoas que têm em te- Já no que diz respeito aos colabora-
bém eles afectados pelo cenário de afas- letrabalho? Como se mantém o engage- dores da produção, que não têm acesso
tamento e recolhimento social, tivemos, ment e motivação das equipas numa si- à maior parte das ferramentas digitais,
sim, de recorrer ao lay-off simplificado. tuação como esta? a CAA apostou recentemente na utiliza-
Este recurso aconteceu numa percenta- Actualmente, e já há alguns anos, é de co- ção de uma aplicação de envio de sms,
gem muito reduzida face a outras me- nhecimento generalizado que vivemos especialmente para dar resposta às ne-
cessidades inerentes a esta pandemia.

«Não sei se sairemos melhores A título de exemplo, e apesar de ter


sido um projecto calendarizado apenas
gestores, mas sairemos certamente para o 2.º semestre de 2020, decidimos
antecipá-lo, e lançámos a nossa televi-
gestores diferentes.» são corporativa. Este é um dos meios de
comunicação interna por excelência, pelo
dinamismo que aporta à organização.

Human Resources Portugal 65


Boas Práticas

O desenvolvimento de pessoas acontece


ao longo de um processo que visa a
SABIA QUE
Continental
Advanced Antenna manutenção e desenvolvimento de
Patrícia Oliveira explica:
uma cultura organizacional forte.
«Iniciámos em 2013, como
Kathrein Automotive com cerca
de 160 pessoas. E durante seis
anos tivemos um crescimento
Como sabemos que em cada situação este processo, passar uma mensagem
exponencial. Quando fomos
comprados pelo grupo Continental, negativa devemos sempre retirar algo de de esperança e motivação.
em Fevereiro de 2019, eramos positivo, lançámos também uma news- Este é um exercício de gestão “sem
cerca de 560 colaboradores. Neste letter semanal – “Virar a Página” –, foca- rede” e por isso um desafio enorme que não
momento, a CAA é parte integrante da apenas em boas notícias ou boas prá- podemos, de todo, menosprezar. Não sei
da área de negócio Vehicle
ticas nacionais ou internacionais que se sairemos melhores gestores, mas sai-
Networking and Information,
do grupo Continental, onde se esta pandemia trouxe. Incluímos ainda remos certamente gestores diferentes!
encontra inserida a Unidade sugestões e actividades que todos nós Torna-se assim mandatória a vivên-
de Negócio Connected Car podemos fazer a partir de casa. cia dos nossos valores corporativos, par-
Networking, à qual pertencemos. A A comemoração de dias temáticos ticularmente do nosso valor “Uns pelos
Continental tem uma longa história
sempre fez parte da nossa estratégia de Outros”, que nunca fez tanto sentido como
em Portugal, com várias empresas
implementadas há já vários anos promoção de engagement nos colabo- nos dias de hoje. Não só dentro da com-
no País. No entanto, somos a única radores, por isso, pela altura da Páscoa, panhia, como na sociedade global em
que pertence a esta unidade de oferecemos a cada colaborador um mi- que vivemos. Através dele, podemos es-
negócio específica. A empresa minho com uma mensagem de agrade- pelhar a união, o trabalho em equipa, a
está situada em Vila Real e produz
cimento e motivação. Foi um pequeno cooperação e respeito pelo bem comum.
cerca de 17 milhões de antenas
por ano, que são exportadas para gesto, mas com muito significado, que
todo o mundo. Trabalhamos com foi recebido com muito carinho por to- Antes de esta situação surgir, quais eram
o segmento premium de marcas dos os colegas. as vossas prioridades em termos de Ges-
automóveis num negócio de Neste momento, encontramo-nos a tão de Pessoas?
conectividade que, sendo uma
preparar uma surpresa para reconhecer- Temos duas grandes áreas em termos
tendência da indústria automóvel,
promete ser um mercado com mos e agradecermos aos colaboradores de Gestão de Pessoas: a primeira incide
um potencial de crescimento.» que permaneceram na linha da frente sobre a gestão laboral e administrativa, e
ao longo deste processo desde o primei- visa o maior respeito pelo cumprimento
ro momento, mas não posso dizer mais de prazos de pagamentos de salários e
caso contrário iria estragar a surpresa. outro tipo de bonificações, bem como o
E que outras iniciativas promoveram? atendimento e esclarecimento dos cola-
Paralelamente ao desenvolvimento de O que diria que tem sido mais difícil gerir boradores em matérias administrativas
ferramentas de comunicação inovado- nesta crise? e legais, assegurando sempre o seu con-
ras, procuramos promover o desenvol- A imprevisibilidade e a incerteza, aliada forto e confiança para com a organiza-
vimento e crescimento pessoal dos cola- ao impacto global que esta pandemia tem ção; a segunda área é a de desenvolvi-
boradores, através da divulgação de con- tido. Nenhum de nós, enquanto gestores mento de relações humanas, sejam in-
teúdos comportamentais em diferentes de Pessoas, estudou ou foi preparado dividuais sejam intra e inter-equipas.
formatos, como acções de formação, we- para um contexto adverso como o que Desafios como a globalização, a digi-
binares, masterclasses, reuniões temá- estamos todos a viver. Fazer uma gestão talização, a constante gestão num mun-
ticas, assessments, etc. Neste âmbito, onde as pessoas estão com uma carga do VUCA, as relações intra-geracionais e
posso partilhar que, em finais de Mar- emocional tremenda e ter de, muitas ve- evolução tecnológica, entre outros, têm
ço, lançámos a primeira masterclasse zes, tomar decisões mais racionais, tendo tornado os cidadãos cada vez mais exi-
online – “Mindset positivo em tempos por base o incerto e o imprevisível, é um gentes no que respeita às suas escolhas
incertos” –, cuja adesão superou larga- exercício diário desafiante, ainda para pessoais e profissionais, enfatizando a
mente as nossas expectativas. mais quando procuramos, durante todo necessidade do desenvolvimento de re-

66 Human Resources Portugal Maio 2020


Boas Práticas

cursos humanos na Continental. Na CAA, programa de “Embaixadores Internos”,


o desenvolvimento de pessoas acontece lançado no ano passado e que faz dos
ao longo de um processo que visa a ma- colaboradores os principais embaixa-
nutenção e desenvolvimento de uma cul- dores da marca. Este grupo tem sido ful-
tura organizacional forte, totalmente cral na aculturação da organização.
alinhada com os valores corporativos.
Diria que a vossa área de actuação é atrac-
Quais têm sido os principais desafios? tiva para trabalhar? O que torna a CCA, em
Este é um projecto que me tem acompa- particular, atractiva para trabalhar?
nhado ao longo de toda a minha carreira, A nossa área de negócio – a conectividade
e que reflecte o meu modelo de Gestão de – é uma tendência na indústria automó-
Pessoas, mas pelo qual tenho um espe- vel, situação que por si só nos torna uma
cial carinho nesta fase. A verdade é que continua e que irá continuar por mais al- empresa atractiva para trabalhar. Além
quando agarrei este projecto, ainda na gum tempo, sobretudo se incluirmos no disso, temos uma grande preocupação
Kathrein Automotive, tive em mãos o processo de integração a “aculturação” com as nossas pessoas, sendo elas o cen-
enorme desafio de construir um departa- de todos os colaboradores. tro da nossa actuação. Procuramos dar
mento orientado pela gestão estratégica a quem trabalha connosco muito mais
de Recursos Humanos que, até à data, O facto de estarem integrados no grupo do que uma simples experiência profis-
não existia, privilegiando apenas a Continental ajuda-vos, por exemplo, em sional. Preocupamo-nos para que exista
área administrativa, embora de forma termos de employer branding? Como es- um equilíbrio entre a vida pessoal e pro-
igualmente responsável e respeitando tão a trabalhar esta área? fissional. Nesse sentido, promovemos
sempre os direitos dos trabalhadores. O facto de estarmos integrados no grupo muitas vezes a participação da família
Assegurada essa componente, o meu ob- Continental é, sem dúvida, uma vanta- dos nossos colaboradores nos eventos
jectivo foi tornar-nos um empregador gem em termos de employer branding, e iniciativas da empresa. Oferecemos
mais competitivo no mercado futurista, uma vez que o grupo tem uma estratégia vouchers de educação aos filhos dos co-
na perspectiva de desenvolvimento pes- definida a nível global. O maior desafio laboradores, presenteamos os colabora-
soal e profissional. que temos nesta área talvez seja a per- dores que são pais, através de um kit de
Este tem sido um projecto de sucesso, cepção acerca da marca. A indústria au- nascimento, onde constam vários pro-
do qual me orgulho bastante, e que se tomóvel está a passar por uma enorme dutos essenciais para o bebé. Todos os co-
reflecte no bem-estar dos colaboradores. transformação e as competências ne- laboradores da CAA têm direito a um se-
Com a chegada do grupo Continental, cessárias para competir estão a mudar. guro de saúde, temos disponíveis vários
esta abordagem ganhou ainda mais im- A Continental é muito conhecida como protocolos com diferentes entidades,
portância e ferramentas, sobretudo por fabricante de pneus, mas o negócio do entre outros benefícios. A nossa preo-
se tratar de um grupo que valoriza bas- grupo não se esgota nesta área, e a CAA cupação é sempre o bem-estar das nos-
tante a diversidade, a criatividade e o é um exemplo disso mesmo. sas pessoas, e é nesse sentido que vamos
desenvolvimento de competências hu- A Continental tem apostado numa continuar a trabalhar.
manas como factor diferenciador e de forte presença digital, nomeadamente
vantagem competitiva. com diferentes canais nas redes sociais Qual o vosso principal desafio agora?
como o Facebook, o Instagram, o Linked- Pensando numa época pós COVID-19, o
A CAA resultou da aquisição da Kathrein In, conseguindo assim, aproximar a mar- principal desafio é retomar a nossa ac-
Automotive. Sendo um processo recente, ca a potenciais candidatos. tividade ou até podermos crescer, even-
calculo que ainda estivessem em fase de Como estratégia de captação de po- tualmente apostando em novos produtos
integração. Como estava/está a ser geri- tenciais candidatos, ao longo do último que sejam âncoras e estratégicos para o
do esse processo? ano, temos marcado presença nas feiras nosso negócio. Claro que tendo sempre
O processo de integração tem sido feito de emprego e temos apostado na realiza- a consciência de que continuaremos no
de uma forma “smooth”. Existiram de- ção de workshops temáticos nas nossas processo de integração na nova cultura
partamentos que, pela sua natureza, ti- instalações, onde convidamos diferentes organizacional e dando a conhecer ao
veram prioridade no processo de inte- escolas, instituições e universidades. mercado nacional o propósito da Con-
gração, nomeadamente a Direcção Fi- No nosso plano de comunicação anual tinental Advanced Antenna enquanto
nanceira e a Direcção de Relações Hu- temos previstas várias acções de em- empresa inserida no grupo Continental
manas, mas é um processo que ainda ployer branding, com destaque para o em Portugal.

Human Resources Portugal 67


Emprego

PEOPLE + WORK CONNECT

UMA LUTA CONCERTADA PARA


MANTER A EMPREGABILIDADE
São muitas as questões que têm surgido em consequência da pandemia causada pela
COVID-19. Uma das mais importantes e que importa debater é a empregabilidade. Assim,
um grupo de empresas criou uma plataforma para ajudar a reduzir o ciclo de desemprego.
POR Sandra M. Pinto

C
om a perspectiva de uma desenvolvida para reduzir, de forma prá- «O nosso objectivo era criar, colec-
taxa de desemprego sem tica e eficaz, o complexo e, muitas vezes, tivamente, uma solução que permitisse
precedentes, com máximos longo ciclo de desemprego. integrar novamente as pessoas no mer-
históricos devido à pande- A People + Work Connect é alimen- cado de trabalho, em velocidade e em
mia COVID-19, um grupo tada por uma plataforma analytics-dri- escala», afirma fonte oficial da Accentu-
de empresas líderes de vários sectores ven desenvolvida pela Accenture, que re. A People + Work Connect permite me-
formou a People + Work Connect, uma reúne informações relevantes dos tra- lhorar as redes de networking existentes,
iniciativa colaborativa online que reúne balhadores por categorias, como locali- para além de ajudar a construir novas,
empresas cujos trabalhadores ficaram zação e experiência. Fornecendo às or- fornecendo, de uma forma transparen-
desempregados ou tiveram que suspen- ganizações que têm posições abertas te e imediatada, a possibilidade de per-
der as actividades dos mesmos, com ou- uma visão dos trabalhadores disponí- ceber quais as forças de trabalho dis-
tras entidades que precisem urgente- veis para preencher essas vagas, permi- poníveis, avaliando de acordo com as
mente de contratar trabalhadores. Com te que as empresas que têm funcioná- necessidades. «Desta forma, pode-se
custo zero para as empresas que se jun- rios disponíveis os ajudem a encontrar reduzir significativamente o tempo que
tam e que participam, a iniciativa foi novas funções. um determinado grupo de pessoas está

68 Human Resources Portugal Maio 2020


sem trabalho e também ajudar a dimi-
nuir a frustração ao lidar com informa-
A epidemia é um cargos e visualizar contactos, de forma
a garantir uma maior facilidade e uma
ções desactualizadas», assegura-se. desafio global transição mais simples entre as forças
de trabalho».
Uma luta concertada e a resposta Atendendo à gravidade da situação
Criada para abranger vários sectores
e regiões geográficas, a People + Work
não poderá ser actual e ao seu impacto na economia, a
Accenture acredita que as empresas sen-
Connect é uma iniciativa global, pensa-
da e desenvolvida pelos executivos das
outra que não a tem uma enorme pressão para manter
os seus trabalhadores, evitando, sempre
áreas de Recursos Humanos da Accen- união entre os que possível, colocar estas pessoas no
ture, Lincoln Financial Group, Service-
Now e Verizon. E integra já várias em-
vários sectores. desemprego ou suspender as suas acti-
vidades, de forma a proteger a equipa.
presas líderes de mercado como: ADM, «Esta plataforma surge da necessidade
Baxter, Blue Apron, Cargill, Frito-Lay, de “estarmos presentes”, numa altura em
Marriott, aMondelēz International, Nor- que a economia e a sociedade precisam
dstrom, Walmart ou Zenefits. forma se continua a expandir, mas tere- de nós. Uma das formas de contribuir-
O porjecto conta também com a par- mos uma imagem mais completa confor- mos foi através da criação de oportuni-
ticipação de organizações de referên- me avançarmos», assegura a mesma fonte. dades de exposição de talentos, assegu-
cia como a Business Roundtable, o Cen- Neste momento, a plataforma estará rando a realocação dos colaboradores
tro de Estudos Avançados em Recur- disponível para empresas comerciais, noutros postos de trabalho, minimizan-
sos Humanos da ILR School da Cornell afirmando a Accenture que existem pla- do as consequências das tomadas de de-
University, o Center for Executive Suc- nos para as que as principais autorida- cisão de topo.»
cession da Darla Moore School of Busi- des e stakeholders públicos, a vários ní- Na visão da Accenture, agora mais do
ness, Gallup e CHRO Roundtable, HR Po- veis, possam participar, estando, neste que nunca, importa apoiar para ter um
licy Association, Institute for Corporate momento, a ser consideradas possíveis impacto significativo junto de quem mais
Productivity, National Academy of Hu- vias de envolvimento. precisa. «A epidemia é um desafio glo-
man Resources, Society for Human Re- bal e a resposta não poderá ser outra que
source Management e a World50. A união como resposta não a união entre os vários sectores, nu-
«O processo de entrada na platafor- A plataforma tem como principais des- ma luta concertada para salvar a econo-
ma é simples e gratuito», sublinha fonte tinatários as empresas que tiveram que mia mundial e evitar, tanto quanto pos-
da Accenture, esclarecendo que cada em- suspender as actividades dos seus cola- sível, a instabilidade dos cidadãos», afir-
presa tem de submeter a quatro etapas: boradores e as que precisam de admitir ma fonte oficial, «e, foi nessa perspecti-
confirmação do envolvimento e função trabalhadores com urgência, para aten- va que criámos a People + Work Connect,
da empresa (trabalhadores necessários, der às actuais necessidades de contrata- num momento de distanciamento neces-
trabalhadores disponíveis e embaixado- ção sem precedentes. sário, é imperativo que nos mantenha-
res People + Work Connect), confirma- «A People + Work Connect agrupa mos perto e unidos, mesmo que de ou-
ção de um ponto de contacto para fins de informações relevantes de trabalhado- tras formas».
inscrição, contacto para inscrição dos res por categorias como localização e Embora a pandemia actual tenha si-
trabalhadores e envio de arquivos de da- experiência, mas não inclui dados de- do o ímpeto do People + Work Connect,
dos para a ferramenta da plataforma. mográficos como o género», esclarece- a plataforma continuará activa enquan-
Actualmente, aproximadamente 800 -se. Tendo sido projectada para permitir to se perceber que acrescenta valor à co-
empresas participaram no processo, es- que as empresas tenham acesso às neces- munidade empresarial. «É esse o objec-
tando a ser desenvolvido um trabalho sidades de talentos no país, a People + Work tivo», reforça a Accenture, «o aumento da
conjunto de modo a integrar rapidamen- Connect fornece uma visão geográfica colaboração pode promover o desenvol-
te mais empresas e organizações oriun- detalhada da procura pelos mesmos, por vimento de uma força de trabalho mais
das de todos os sectores. «Recentemente exemplo, o que as empresas que estão a resiliente, e uma economia com um pro-
fizemos o lançamento global da platafor- contratar procuram e que tipos de empre- pósito de servir a todos». Com o tempo,
ma e, em breve, iremos incluir empregos do gos existem disponíveis e quando. a Accenture considera adicionar mais
sector da administração pública. Desta De acordo com a Accenture, «os em- funcionalidades e aperfeiçoar progressi-
forma, esperamos ver um forte e contínuo pregadores também podem aplicar fil- vamente a plataforma, de acordo com as
fluxo de trabalho, à medida que a plata- tros por sectores, anos de experiência, necessidades do mercado de trabalho.

Human Resources Portugal 69


Case Study

ZURICH

TODOS (AINDA MAIS) LIGADOS


Os programas de engagement que a Zurich Portugal tínha implementados eram
maioritariamente a pensar nos espaços físicos da empresa. Tudo mudou com o teletrabalho.
Os modelos foram adaptados e dessa adaptação surgiu o programa #BeConnected.
POR Sandra M. Pinto

C
om a declaração do Estado to de elevada exigência», afirma Nuno gal tinha parte das suas equipas a tra-
de Emergência, foram mui- Oliveira, director de Recursos Huma- balhar a partir de casa. «Assim que as
tas as empresas que se vi- nos da seguradora. E esse facto tem sido autoridades de saúde recomendaram
ram na contingência de co- reconhecido «diariamente, tanto pelos que as pessoas e famílias ficassem em
locar os seus colaborado- parceiros de negócio como pelos clien- casa, demorámos dois a três dias a ter
res, ou grande parte deles, em teletra- tes. Todos nos felicitam pela nossa en- toda a equipa neste regime», revela Nu-
balho. Assim foi com a Zurich Portugal, trega e pela paixão acrescida com que no Oliveira. «Apesar de o flexwork não
que tem praticamente 100% dos seus estamos a lidar com este período tão atí- ser uma novidade para a Zurich, foi a
500 colaboradores a trabalhar a partir pico», congratula-se. primeira vez que o fizemos com a tota-
de casa, no Continente e nas ilhas. Ainda antes de a COVID-19 ser decla- lidade da equipa.» E não esconde que,
«Todas as nossas equipas têm tido um rada pandemia pela Organização Mun- perante a situação, foram alguns os de-
desempenho exemplar neste momen- dial da Saúde (OMS), já a Zurich Portu- safios que se colocaram à empresa. «Ti-

70 Human Resources Portugal Maio 2020


vemos alguns desafios tecnológicos pró-
prios da circunstância de colocar 500
O #BeConnected
colaboradores a trabalhar a partir de
casa em tempo recorde, mas que foram
suporta-se numa
rapidamente ultrapassados e que não comunicação
afectaram a continuidade da qualidade
do serviço que prestamos.»
interna humana,
Programa #BeConnected
emotiva e eficaz.
Numa situação de teletrabalho, uma dú- E esta é uma
vida que se pode instalar é perceber de
que forma se consegue manter o foco no
das fórmulas
propósito da empresa. Ou será que esta
é uma não questão, pois a responsabili-
do sucesso do
dade que é passada ao colaborador em engagement.
teletrabalho assegura a manutenção
desse propósito? O director de Recursos
Humanos da Zurich Portugal sublinha
que, independentemente do local onde «Nesta comunicação à distância, temos
as pessoas estão a trabalhar, o propósito conseguido chegar de forma eficaz aos
empresa é sempre o mesmo: proteger as nossos colaboradores, o que se deve, em
pessoas, famílias, empresas e respecti- parte, à aposta tecnológica que temos Nuno Oliveira
Director de Recursos Humanos
vos patrimónios. «Enquanto empresa vindo a fazer na comunicação interna», da Zurich Portugal
de serviços financeiros, esta protecção acredita. «O Workplace by Facebook, o
está à distância de um telefonema, de um nosso canal de comunicação digital in-
email ou através de outras plataformas terno mais estratégico, teve nestas úl- ma arrancou com a acção “Be Connec-
tecnológicas que temos à disposição dos timas semanas um aumento exponencial ted: Conversas com CEO”, que, na sua
nossos colaboradores, parceiros de ne- de conteúdos e de interacções, com mais primeira vaga, reuniu mais de 160 cola-
gócio e clientes. Não é pelo facto de o co- posts, comentários e likes vindos pró- boradores, em 13 sessões dirigidas a dis-
laborador da Zurich estar a trabalhar a -activamente dos colaboradores.» tintos departamentos. «Nestas conver-
partir de casa que deixa de estar focado O projecto #BeConnected foi criado sas, altamente intimistas e com mensa-
no nosso propósito.» pelo departamento de Recursos Huma- gens de negócio adequadas a cada uma
Não obstante, e promovendo desde nos em parceria com o departamento de das audiências, estivemos, eu e o CEO
sempre o engagement dos seus colabo- Marketing e Comunicação da Zurich e da Zurich Portugal, António Bico, muito
radores, percebeu-se que era preciso ino- tem o propósito de fomentar as relações próximos dos colaboradores, ouvindo-
var nas acções implementadas, pois «os pessoais e profissionais entre os colabora- -os, esclarecendo as suas dúvidas e par-
programas de engagement que tínhamos dores da empresa, «demonstrando que, tilhando as medidas que vamos imple-
implementados eram maioritariamente mesmo a trabalhar remotamente a partir mentando para manter o elevado nível
a pensar nos espaços físicos da empresa, de casa, e com a família, mantemos as for- de qualidade prestado aos parceiros de
onde, com fortes planos de comunicação tes ligações pessoais e profissionais que negócio e clientes.»
interna, as acções aconteciam», constata nos caracterizam», faz notar o responsável. Apesar de o plano anual de formação
Nuno Oliveira, revelando que num mo- Este projecto apresenta três objecti- da empresa já contemplar um número sig-
delo de trabalho a partir de casa, foi preci- vos principais: reforçar a cultura orga- nificativo de horas em regime de e-lear-
so fazer adaptações. E dessa necessida- nizacional da empresa, desenvolver as ning, dado o actual contexto, a Zurich
de surgiu o programa #BeConnected. competências dos colaboradores e garan- está a trabalhar num conjunto de outras
Mais do que um conjunto estrutu- tir e fomentar o equilíbrio emocional e acções específicas que serão lançadas em
rado de acções de Recursos Humanos, o a vida saudável neste período. «Embora breve. «No âmbito do #BeConnected, es-
#BeConnected está dependente de uma o #BeConnected tenha sido lançado há tamos a realizar um conjunto de sessões
comunicação interna humana, emotiva pouco mais de duas semanas, já realizá- para colaboradores que lideram equipas,
e eficaz. Para Nuno Oliveira, esta é uma mos várias actividades», partilha Nuno denominadas “Be Connected – Love Your
das fórmulas do sucesso do engagement. Oliveira, pormenorizando que o progra- Team”, uma formação que tem como foco os

Human Resources Portugal 71


Case Study

desafios da gestão das equipas à distân-


cia.» Já decorreu um webinar de “Mind-
fulness” e outro de “Estratégias de auto-
motivação em tempos de contingência”.
Sobre o feedback dos colaboradores,
revela o director de Recursos Humanos
da Zurich Portugal que tem sido muito
positivo. «Sentimos isso nas conversas
diárias que temos e através dos diver-
sos tipos de feedback que vamos receben-
do. Consideramos importante continuar
a ver as caras e a ouvir as vozes uns dos
outros, partilhando as nossas opiniões e
experiências, mantendo a ligação neste
período particularmente desafiante e
novo para todos.»

Bem-estar dos colaboradores


No que diz respeito ao bem-estar dos
colaboradores, Nuno Oliveira afirma que
não há uma maior preocupação com esse
tema, há sim uma perspectiva diferente.
«O estado de emergência obrigou, de al- ção de resultados do negócio através das Oliveira acredita que o sector e o mundo
guma forma, a que assim fosse. Tivemos pessoas. «O sucesso da adaptação das vão ser diferentes, «uma vez que estas
todos de reagir rapidamente e criar as nossas equipas ao contexto de pandemia situações extraordinárias trazem sem-
condições necessárias de protecção e que estamos a viver evidencia que temos pre mudanças a vários níveis e esta vai
bem-estar para que as nossas pessoas pu- as pessoas e equipas certas a implemen- trazer, de certeza, uma evolução da era
dessem assegurar a mesma qualidade de tar, liderar e gerir todos os processos de digital e dos formatos de trabalho».
serviço desde casa.» inovação e mudança que nos têm sido Na opinião do director de Recursos
Outras acções disponibilizadas pela exigidos por nós, pelo mercado, pelos par- Humanos, o sector vai ser ainda mais
Zurich passam pelas teleconsultas de ceiros de negócio, pelos clientes e pelo digital. «No caso da Zurich, em apenas
medicina, pela entrega de medicamen- País», assegura o responsável. dois ou três dias, adaptámo-nos às reco-
tos em casa dos colaboradores e o aces- mendações das autoridades da saúde,
so a um conjunto de clínicas com o ser- O pós-pandemia protegemos os nossos colaboradores nas
viço de medicina dentária, «benefícios Presente há mais de 100 anos em Portu- suas casas e continuámos a responder
extensíveis ao agregado familiar dos nos- gal, onde tem 19 escritórios próprios e aos parceiros de negócio e clientes com
sos colaboradores». uma rede de mais de 2500 agentes de se- prontidão e máxima qualidade. Isto sig-
Totalmente alinhado com tudo o que guros que servem mais de 620 mil clien- nifica que a empresa possui as platafor-
tem sido feito na Zurich ao nível das po- tes, a Zurich Portugal, membro do Gru- mas tecnológicas adequadas para conti-
líticas de Recursos Humanos, o #BeCon- po Zurich, olha com alguma apreensão nuar a garantir o trabalho, à distância,
nected também contribui para a obten- para o pós-pandemia COVID-19. Nuno sem perturbações. E este é o grande salto
evolutivo da era digital que vai continuar
a marcar a disrupção no sector», defende.
Alinhado com as políticas de Recursos Com o programa #BeConnected, a

Humanos da Zurich, o #BeConnected Zurich está a perceber ao detalhe como é


que as suas pessoas se sentem nestas se-
contribui para a obtenção de resultados manas de trabalho a partir de casa, sendo
certo que «o flexwork e o worklife balan-
do negócio, através das pessoas. ce terão força capital nos benefícios para
colaboradores que vierem a ser repensa-
dos e desenhados no futuro», conclui.

72 Human Resources Portugal Maio 2020


EMPLOYER
BRANDING

74 ENQUADRAMENTO
CASOS
76 ALTICE PORTUGAL
80 DELOITTE
84 RANDSTAD
88 SONAE MC
92 EDP
Employer Branding

ENQUADRAMENTO

COMO PROTEGER O EMPLOYER


BRAND E A CULTURA DURANTE
A COVID-19
É importante não esquecer que, em alturas conturbadas, a cultura e o employer brand
das empresas podem vir a ficar vulneráveis.

N
o rescaldo da COVID-
-19, nós, como comuni-
dade global, temos hoje
mais perguntas do que
respostas. A verdade é
que continuamos a seguir por territó-
rio desconhecido, com informações li-
mitadas e sem um ponto de referência
histórico com o qual possamos aprender.
Contudo, temos de trabalhar com o que
sabemos, aproveitar as ferramentas à
nossa disposição e lidar com um obs-
táculo de cada vez.
Organizações de todo o mundo estão
a trabalhar diligentemente para salva-
guardarem empresas, colaboradores e
comunidades; a saúde, a segurança e a
gestão de crise no dia-a-dia são tão im-
portantes como deveriam ser. Mas é im-
portante não descurar a cultura e o em-
ployer brand. e empenhadas na missão da empresa? clientes? Como ultrapassamos esta tem-
Embora ninguém goste da adversi- Reunimos algumas dicas, truques e me- pestade e asseguramos a sobrevivência
dade, esta muitas vezes revela o carácter, lhores práticas que o vão ajudar a seguir do negócio? São perguntas válidas, desde
e isto é tão certo para as organizações em frente. que exista um plano para apoiar igualmen-
como o é para indivíduos. Um grande nú- te as pessoas. Embora as organizações se-
mero de organizações, as que têm sorte jam únicas e as soluções não sejam iguais
de o fazer rapidamente, obrigaram, su- para todos, resumimos algumas formas
geriram ou permitiram trabalho remoto, CONCENTREM-SE NAS através das quais empregadores de todo
mas a transição para esse trabalho é, para VOSSAS PESSOAS o mundo demonstraram o seu empenho
a maior parte das pessoas, exactamente Numa crise, os negócios tendem a focar a para com as suas pessoas perante os de-
isso – uma transição. sua atenção nos clientes e no público ex- safios da COVID-19.
Como asseguramos que as pessoas terno. Como podemos controlar a percep- R O Twitter está a implementar o #Flock-
se sentem apoiadas, ligadas, envolvidas ção pública? Como podemos manter os Talk, um programa virtual de apoio aos

74 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

colaboradores para debater o impacto


da COVID-19 nas pessoas.
Embora ceiros externos irão notar se as acções es-
tão alinhadas com a mensagem. E irão no-
R A Walmart permite que os colaborado-
res nos EUA permaneçam em casa sem
ninguém goste tar se as acções não estiverem alinhadas
com a mensagem.
penalizações caso temam a propagação da adversidade,
do coronavírus.
R A Starbucks decidiu oferecer até 14
esta muitas
dias de “Remuneração de Catástrofe”
aos baristas expostos ao coronavírus.
vezes revela o CERTIFIQUEM-SE DE QUE AS ACÇÕES

carácter, e isto
ESTÃO ALINHADAS COM A VISÃO,
R A Shopify implementou uma política OS VALORES E A EVP
de trabalho remoto para os seus colabo-
radores de todo o mundo e ofereceu-lhes
é tão certo para Todas as interacções podem moldar o
modo como os colaboradores vêem a
uma bolsa de mil euros para adaptarem
os seus lares ao trabalho remoto.
as organizações vossa empresa, cultura e marca. Vejam
estes “momentos importantes” como
Quer tenham ou não meios para in- como o é para oportunidades para sublinhar quem são
vestir hoje na gestão de employer brand
em grande escala ou procurem um im-
indivíduos. como organização, para fortalecerem
a cultura, para estimularem a lealdade
pacto modesto mas significativo, não é e para se alinharem com aquilo que os
importante. Qual a principal mensa- colaboradores mais valorizam (a vosso
gem aqui? Tratar os colaboradores com Employee Value Proposition).
compaixão e torná-los uma prioridade; cipais mensagens e devem ser o mais Sempre que possível, procurem uma
afinal de contas, precisam deles para transparente possível. ligação importante entre as acções que
que a organização tenha sucesso hoje Depois, desenvolvam um plano de estão a levar a cabo para lidarem com a
e no futuro. comunicação claro para partilharem in- crise e o possível impacto positivo que
formações com possíveis talentos, assim essas acções terão nas vossas pessoas e
como com colaboradores actuais, princi- na vossa organização. Sim, podem ter de
palmente se os esforços de recrutamento tomar decisões difíceis, algumas quais
COMUNICAR – DE FORMA PRÓ- forem afectados. Usem uma abordagem passíveis de causar desconforto (até
-ACTIVA, CONSISTENTE E SOLÍCITA ponderada – decidam quem precisa de provação) a curto prazo, mas abordar o
Na ausência de informações credíveis estar informado do quê e quando. Evi- porquê contribuirá muito para ganhar a
e oportunas, os rumores tendem a ganhar tem os rumores, comuniquem pró-acti- confiança e o respeito das pessoas.
vida própria. Isto não só causa confusão vamente, controlem a mensagem. Certi- Como é que as vossas acções salva-
e enfraquece a cultura, como também fiquem-se de que as equipas e os líderes guardam a organização, as pessoas e a
pode estimular o medo e prejudicar os es- internos que apoiam esta transição estão cultura a longo prazo? Respondam a essa
forços de controlo de crise. Comuniquem alinhados e munidos das principais men- pergunta e as pessoas agradecerão por
aberta e frequentemente com as pessoas sagens e respostas às perguntas frequen- fazerem parte da viagem.
sobre as notícias que mais impacto nelas tes que já definiram. Providenciem orien-
têm. A vossa transparência e pró-activida- tação a quem está a disseminar a mensa-
de será muito apreciada. gem. O tom é importante. A informação
Primeiro, definam as principais men- deve ser partilhada de uma forma que PLANEIEM PARA AMANHÃ, HOJE
sagens que querem partilhar e respon- inspire confiança e esteja alinhada com o Manter o employer brand e a cultura dá
dam às perguntas mais frequentes. Como estado de espírito que querem promover. trabalho, principalmente em termos de
é que a COVID-19 vai afectar o nosso Por fim, assegurem que a comunica- crise. Ouçam, comuniquem de forma
negócio? Qual será o impacto nos nossos ção é bidireccional e concentrem-se na transparente, partilhem a visão para o
empregos? O que está a ser feito para tarefa em mãos. Linhas de comunicação futuro e assegurem os colaboradores de
estarmos seguros no trabalho? Quais claras e abertas em toda a organização que os objectivos deles e os vossos es-
as perspectivas futuras da empresa? To- ajudarão a mitigar os níveis altos de stress tão alinhados. Se conseguirem fazê-
das as comunicações, de reuniões pes- e a impedir as notícias falsas que se es- -lo, criarão uma employer brand sólida
soais a emails em grupo ou campanhas palham quando as pessoas não estão em e uma cultura que aguentará tempos
de relações públicas e nas redes sociais, posse de todos os factos. Colaboradores, mais difíceis.
devem estar alinhadas com estas prin- possíveis candidatos, fornecedores e par- FONTE: bluivygroup.com

Human Resources Portugal 75


Employer Branding

ALTICE PORTUGAL

AGORA, COMO SEMPRE, O


EMPLOYER BRANDING É ESSENCIAL
Nos tempos conturbados em que vivemos, um employer branding forte é essencial.
Consciente disso, a Altice Portugal tem promovido novas formas de o trabalhar,
fortalecendo a imagem da empresa junto dos colaboradores e do mercado.

N
uma óptica de employer
branding, os colabora-
dores são um importan-
te agente de marketing
de uma empresa, sen-
do, por excelência, os principais embai-
xadores dos seus valores e das suas mar-
cas junto do público. Perante o actual
contexto, desde o início que a principal
prioridade da Altice Portugal foram as
suas pessoas. «Com cerca de 20 mil co-
laboradores, dos quais 7700 com vínculo
directo, a nossa preocupação tem sido a
segurança de todos e a manutenção do
posto de trabalho destes 7700 colabora-
dores», afirma João Zúquete da Silva,
chief corporate officer (CCO) da empresa.
Este cuidado com o bem-estar das
pessoas, aliado ao facto de a Altice Por-
tugal ter sido uma das primeiras empre-
sas no País a implementar um plano de
contingência, fez com que a percepção
de “bom cidadão empresarial” saísse
reforçada junto dos colaboradores, in-
fluenciando o employer branding da or-
ganização, que tem nas novas gerações
um dos pilares identificados como prio-
ritários. Assim, e sendo «o recrutamento
de jovens nas universidades portugue-
sas uma forma de rejuvenescimento da
empresa», é «através da captação deste
talento, contando com a sua ambição e
conhecimento, que a Altice Portugal e

76 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

as suas marcas reforçam a sua liderança


nos segmentos onde actuam, pelo que
um employer branding forte é essencial»,
afirma o responsável.
Há mais de um mês que o país tem
vindo a deparar-se com uma realidade
desconhecida e com desafios de vária or-
dem. Perante esta realidade, João Zúque-
te da Silva defende que não é para já pos-
sível aferir de forma fiável as consequên-
cias humanas, sociais, económicas e fi-
nanceiras que esta pandemia vai causar
em Portugal e no mundo. Mas assegura
que «garantir as condições de protecção
e de segurança dos colaboradores tem
sido a principal prioridade. Assim, «é
evidente que as iniciativas, sobretudo
as presenciais ou as que dependiam de
dinâmicas de aglomeração de pessoas,
estão neste momento suspensas». Mas
foram criadas «novas formas de traba-
lhar o employer branding, através de
acções que a empresa tem vindo a levar lacionadas com várias temáticas actuais; çados durante o período de férias da Pás-
a cabo na gestão da pandemia, transmi- o vídeo institucional “Por Portugal” tri- coa, e a promoção da saúde e do bem-es-
tindo uma postura de tranquilidade e buto a todos os colaboradores; as várias tar, através de sessões online de medi-
de confiança no futuro aos seus cola- comunicações da gestão de topo sobre o tação e ioga.
boradores e ao mercado». plano de contingência; a divulgação do Na opinião de João Zúquete da Silva,
plano através de uma área específica na «todas estas iniciativas têm vindo a con-
CIMENTAR A CULTURA intranet e na app; a divulgação de boas tribuir para a sedimentação de uma cul-
No actual contexto, e em que foi fomen- práticas de cibersegurança; partilha de tura muito própria e de proximidade com
tado o trabalho a partir de casa, é funda- vídeos de apoio às equipas da linha da os colaboradores».
mental manter o espírito de proximidade frente, com mensagens às equipas técni-
entre os colaboradores e a empresa, ten- cas e equipas de call centers que se man- UMA APOSTA PARA CONTINUAR
do sido disponibilizadas todas as ferra- tiveram na linha da frente; a partilha de Uma das grandes apostas da Altice Portu-
mentas necessárias para o efeito. Neste vídeo com testemunhos de colaborado- gal é a esfera da academia, através do es-
sentido, a Altice Portugal lançou um con- res da Altice Portugal, essencial no con- tabelecimento de parcerias com universi-
junto de acções e iniciativas que visam texto em que as comunicações assumem dades e politécnicos, instalando em algu-
dar resposta a esta necessidade. um papel ainda mais importante na vida mas instituições laboratórios colaborati-
Entre outras, o @Home, espaço cria- dos portugueses e das empresas nacio- vos da Altice Labs. «Esta ligação é fun-
do e desenvolvido para os colaboradores nais; realização de passatempos desti- damental, não apenas para recrutar pes-
da Altice, onde se reúnem propostas re- nados aos filhos dos colaboradores lan- soas com uma vertente mais ambiciosa
no campo de projectos inovadores, mas

Gerir à distância é, também, um desafio também para possibilitar o início da vida


profissional numa empresa considerada
para os líderes, pelo que num sistema como tendo a melhor tecnologia em tele-
comunicações», sublinha o responsável.
de teletrabalho é essencial a confiança Desta forma, a Altice Portugal tem

entre a gestão e as equipas. vindo a apoiar e a desenvolver acções jun-


to das academias, tendo em mente que as
empresas precisam do conhecimento das
universidades para transformar ideias em

Human Resources Portugal 77


Employer Branding

produtos, assim como as universidades


precisam dos casos práticos e aplicações
A estratégia da Estes estagiários têm a oportunidade
de conhecer uma área da empresa à sua
concretas para dar corpo às suas ideias.
João Zúquete da Silva afirma: «Por isso,
empresa mantém- escolha, fazer visitas a locais emblemá-
ticos da empresa, receber formação de
estamos continuamente à procura de pes- -se focada no preparação para inserção na vida acti-
soas dotadas de um espírito empreende-
dor, dinâmico e ágil, profissionais jovens rejuvenescimento va, proporcionando momentos de refle-
xão e autoanálise e participar em acções
e com formação superior, que venham
dar resposta à constante evolução do
do capital humano, de voluntariado.»
O programa de estágios da empresa
mercado das telecomunicações, das tec- na aposta nas oferece a possibilidade de iniciar um per-
nologias de informação e da inovação.»
A verdade é que a aposta que a Altice novas gerações e a curso profissional partilhando experiên-
cias com outros estagiários de diferen-
Portugal está a realizar nas novas gera-
ções é também uma forma de rejuvenes-
na preparação dos tes áreas e/ou zonas geográficas. «Esta
abordagem ao primeiro contacto com o
cimento da empresa, através da captação futuros líderes. mercado de trabalho possibilita o de-
de jovens, contando com a sua ambição, ta- senvolvimento de uma interessante rede
lento e conhecimento para ajudar a Altice de contactos, além de garantir um am-
Portugal e as suas marcas a reforçar a sua biente dinâmico e totalmente voltado
liderança nos segmentos onde actuam. para a prática», reforça.
No âmbito do Employer Branding, a redes, energia, robótica, automação, pro- Adicionalmente, e para além desta
Altice Portugal tem neste momento dois gramação ou informática. formação on job, os trainees (Darwins)
programas de estágios direccionados ao Para além dos programas de está- da Altice Portugal têm acesso a um tool-
segmento jovem: o Programa Darwin, es- gios profissionais, a Altice proporciona kit de formação técnica e comportamen-
tágios profissionais para recém-gradua- vários estágios curriculares e estágios tal, assim como visitas a várias áreas e
dos (mestrados ou licenciandos), com de Verão. «A empresa proporciona um eventos de interesse da empresa. «Este
duração de 12 meses em que os partici- programa de estágios de Verão de um processo tem um acompanhamento pró-
pantes têm a possibilidade de conhecer mês aos filhos de colaboradores – o Altice ximo proporcionado pelo orientador de
a Altice de forma única, passando da teo- Summer Experience, que, mais que um estágio na área de acolhimento, assim
ria à prática, através de formação especí- programa de estágio, proporciona uma como reuniões de acompanhamento de
fica e on job, acompanhamento indivi- autêntica experiência de colaborador», estágio com a Direcção de Recursos Hu-
dual e desafios, e o Programa de Acade- garante o CCO. «Literalmente, levamos manos», explica. «Paralelamente, temos
mia Técnica, estágios com duração de 12 a praia até à Altice e aos seus diversos desenvolvido iniciativas como Open Days,
meses para alunos do 12.º ano das áreas de locais de trabalho, incluindo as Ilhas. Workshops, participação em desenho de

78 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

planos curriculares, colaboração em te- possam revezar num sistema de rotati- João Zúquete da Silva
ses de licenciatura, mestrado e douto- vidade, são mecanismos que demons- Chief corporate officer da Altice Portugal
ramento, participação em eventos das tram a sua viabilidade, não só fruto da
universidades, assim como pitch boot- qualidade das nossas redes, mas tam- no papel que desempenham.» As empre-
camps virtuais.» bém fruto da tecnologia que temos dis- sas viram-se confrontadas com a neces-
ponível no teletrabalho.» sidade de tomar medidas drásticas, como
A RETOMA NO HORIZONTE colocar mais de 90% das suas pessoas em
Há cerca de duas semanas que a Altice REPENSAR O PAPEL teletrabalho em menos de duas ou três se-
Portugal começou a trabalhar num pla- DAS EMPRESAS manas, «não havendo tempo para pensar
no de retoma da actividade, que está a Gerir à distância é, também, um desafio de forma estruturada e com profundida-
ser liderado pelas equipas de Recursos para os líderes, pelo que num sistema de os diferentes temas de Recursos Hu-
Humanos, Património e Altice Cuidados de teletrabalho é essencial a confiança manos, e outros, dentro das empresas»,
de Saúde, e que aponta para que assim entre a gestão e as equipas. «É preciso relembra João Zúquete da Silva.
que seja dada indicação por parte do Go- confiar que caminhamos para atingir A pandemia veio mostrar que existem
verno, possam ser retomadas algumas uma meta comum», faz notar. «Para isso, outras formas não só de trabalhar o Em-
actividades nos seus escritórios. é fundamental definir objectivos con- ployer Branding, mas também, e, sobre-
«O regresso não será feito de uma vez cretos, acompanhar os colaboradores e tudo, das pessoas terem outra percepção
só, mas de uma forma gradual», salienta estabelecer momentos de comunicação, acerca do mesmo. «Uma coisa é certa:
o CCO. «Preocupamo-nos com os nossos que garantam um feedback contínuo.» um dos desafios que nos é hoje apresen-
colaboradores, com a sua qualidade de E João Zúquete da Silva não tem dú- tado é o de repensar o papel das empre-
vida e das suas famílias, bem como em fa- vidas de que é preciso compreender que as sas no panorama actual.»
vorecer um equilíbrio entre a vida profis- pessoas são, efectivamente, o maior acti- Quanto à Altice Portugal, a estratégia
sional e a vida pessoal e familiar, alian- vo de uma empresa, onde os conceitos de mantém-se focada no rejuvenescimento
do a desafios profissionais aliciantes que proximidade e motivação são essenciais: do capital humano, na aposta nas novas
proporcionem crescimento pessoal.» «Dar aos colaboradores um sentimento gerações e na preparação dos futuros lí-
João Zúquete da Silva defende que há de pertença e de orgulho em fazer parte deres, mas também a retenção de talento.
ensinamentos que é preciso tirar deste do projecto Altice Portugal, um projec- «Face à realidade do mercado de traba-
período. «Em algumas funções, a ma- to ambicioso e que é uma referência de lho nacional e internacional, acredita-
nutenção de um regime controlado de desenvolvimento económico e social de mos que uma empresa é feita de pessoas,
teletrabalho, vai ser algo que vai ficar», qualquer país, dotando-os de oportuni- do seu empenho e know-how. E a Altice
acredita. «As hipotéticas acções de se- dades de desenvolvimento, crescimento e Portugal valoriza os seus colaboradores,
manas de quatro dias no escritório e um valorização profissional, para que se sin- elegendo a estabilidade das suas pessoas
dia em teletrabalho, e equipas que se tam confiantes, motivados e respeitados como uma prioridade», conclui.

Human Resources Portugal 79


Employer Branding

DELOITTE

O MESMO PROPÓSITO,
ADAPTADO AOS NOVOS TEMPOS
São tempos diferentes aqueles que vivemos. Com grande parte dos colaboradores em
teletrabalho, as empresas questionam-se como devem promover o employer branding.
Na Deloitte, optou-se por um processo cimentado na adaptação à nova realidade.

80 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

P
ara combater os efeitos da
nova pandemia COVID-19,
As iniciativas de Employer Branding
a Deloitte adaptou a sua
estratégia de Employer
mantiveram-se na sua génese, mas
Branding com o objectivo ajustaram-se aos novos tempos e
de apoiar os seus cerca de três mil pro-
fissionais em regime de teletrabalho em
amplificaram-se nos suportes digitais.
Portugal. Gonçalo Simões, Talent part-
ner da consultora, afirma que esta adap-
tação à nova realidade que vivemos «im-
plicou um reforço da missão corpora- trição adequada – an energized body». a desenvolver de e para as nossas pes-
tiva e dos valores da marca, através do Esta iniciativa interna da Deloitte soas», sublinha.
estabelecimento de uma comunicação contempla diversas acções digitais de
regular e bidireccional, suportada nos aprendizagem e bem-estar físico e psí- EMPLOYER BRANDING:
canais digitais». E não esconde que co- quico, como ciclo de webinares no âm- O VALOR
municar com todos os profissionais em bito do planeamento, produtividade e Mas qual será o valor do employer bran-
teletrabalho trouxe à organização «no- criatividade, sessões de coaching em- ding no tempo que vivemos? Gonçalo
vos desafios e novas oportunidades ao presarial, sessões de mindfulness, work- Simões não tem dúvidas: «Apesar de ser
nível corporativo, motivacional e emo- shops de nutrição, aulas de exercício fí- uma área em que a Deloitte investe há
cional». Nesse mesmo sentido, adapta- sico, entre outras. vários anos assume, actualmente, uma
ram «de forma muito rápida», as suas Adicionalmente, a empresa disponi- importância crucial na gestão empresa-
campanhas internas. bilizou aos seus profissionais o acesso rial.» Na Deloitte acredita-se que o actual
Como exemplo, refere a campanha a cuidados de saúde extra, ao abrigo do momento vem reforçar a importância
de well-being que consistia na activa- seguro de saúde, podendo os seus profis- da comunicação com as suas pessoas.
ção de várias iniciativas de bem-estar nos sionais realizar testes de despiste CO- «Sabemos que o teletrabalho em regime
seus escritórios e no “mundo físico”, e VID-19, mediante a prescrição médi-
que este ano foi totalmente redesenhada ca. «Estes são apenas alguns dos exem- Gonçalo Simões
para o online. «Este ano, e devido ao novo plos das muitas iniciativas que estamos Talent partner da Deloitte
contexto pandémico que vivemos, decidi-
mos promover esta campanha interna
ao longo de um maior período de tempo,
iniciando-se em Março e estendendo-se
pelos meses de Abril, Maio e Junho, cen-
trando a sua activação em três grandes
eixos de comunicação: Purpose, Mind
e Body», explica Gonçalo Simões, es-
clarecendo que estas três dimensões da
campanha nascem para ajudar quem
está a trabalhar a partir de casa, ou seja,
«para ajudar os profissionais a manterem
o foco no compromisso de criar um im-
pacto relevante no mundo, na sua rede
profissional, na sua rede familiar e co-
munitária – a sense of purpose; a man-
terem a sua resiliência emocional, atra-
vés de acções que promovem uma maior
criatividade e um sentimento de posi-
tivismo e optimismo no futuro – an en-
gaged mind; e, por último, ajudar a con-
servar um estilo de vida saudável, atra-
vés do exercício físico, descanso e nu-

Human Resources Portugal 81


Employer
Comunicação
Branding
Interna

de pandemia exige diferentes desafios a maior proximidade entre as diferentes


cada um dos nossos profissionais, e esta- equipas da organização. Para Gonçalo
mos a procurar apoiar as novas necessi- Simões, a consequência natural desta
dades que emergem deste novo dia-a-dia, maior proximidade profissional e huma-
considerando também os diferentes mo- na reflecte-se em diversos domínios da
delos familiares existentes – famílias tra- sociedade e nos projectos internos e ex-
dicionais, monoparentais, unipessoais, ternos em que a empresa está a colocar
etc.», refere o responsável, que acredita a sua energia, com o intuito de apoiar
que este novo contexto implica a criação instituições sociais, entidades públicas
de um novo método de work/life balance. e outras associações empresariais por
«Estamos a dialogar com os nossos pro- todo o país.
fissionais no sentido de desenhar novas E destaca: «A cultura da nossa orga-
respostas a este ‘novo normal’», garante. nização – criar um impacto relevante –
Importa também olhar para o dia se- tem-se manifestado em diferentes ges-
guinte, e aqui entra a resiliência, «parte tos, como a doação de 12 toneladas de
da história da Deloitte e que integra o nidades locais e priorizando o bem-estar alimentos que os profissionais da De-
ADN da marca», afirma o Talent part- dos nossos profissionais. Estou certo de loitte fizeram ao Banco Alimentar Con-
ner. «Com 175 anos de existência global que juntos iremos superar esse desafio.» tra a Fome, convidando outras empresas
e com presença há 51 no mercado portu- a juntarem-se a esta causa.»
guês, a Deloitte conta com a experiên- UMA TRANSFORMAÇÃO Depois de termos sido todos postos à
cia de outros momentos de dificuldade, TRANSVERSAL prova com uma situação extrema e ines-
nos quais ajudou os clientes, a comuni- Com a reabertura da economia e perante perada, a liderança das organizações
dade e as suas pessoas a ultrapassar as um “novo normal”, a Deloitte está a adop- está a deparar-se com inúmeros desafios
adversidades das diferentes conjuntu- tar como modelo três etapas de evolução impostos pelos efeitos do novo coronaví-
ras. Enquanto marca, vivemos a primeira no combate aos efeitos da COVID-19: rus. «Em face disso – faz notar –, o maior
e a segunda guerras mundiais. Em Por- respond (resposta), recover (recupera- desafio que se coloca a todos os líderes
tugal, vivemos também o 25 de Abril e, ção), thrive (crescimento). Gonçalo Simões é o da resiliência e capacidade de toma-
num exemplo mais recente, estivemos ao esclarece: «O nosso plano de contingên- da de decisão, num cenário de alteração
lado dos nossos principais stakeholders cia está a ser progressivamente desen- constante do contexto que vivemos.»
na última crise financeira», recorda, as- volvido em cada uma destas etapas e de Com a pandemia, assistimos a uma
segurando que «não será diferente neste acordo com a evolução pandémica no país aceleração na transformação nas orga-
novo contexto pandémico de COVID-19», e no mundo. Preparamo-nos para entrar nizações. Na opinião de Gonçalo Simões,
um combate no qual acreditam «ter um na etapa de recuperação e, com a abertura esta transformação de processos é trans-
papel importante na resposta, recupera- da economia portuguesa prevista para versal a todos os sectores e marca efecti-
ção e crescimento económico do país». Maio, iremos continuar a acompanhar vamente o início de uma economia mais
Nestes tempos de incerteza, «a Deloitte os principais desafios dos nossos profis- digitalizada, «o que terá uma tradução
está uma vez mais conectada ao que im- sionais e da nossa organização.» automática na gestão de pessoas, com o
porta – continua –, tal como temos feito Com todos os seus profissionais em employer branding a assumir uma im-
ao longo dos nossos 175 anos de história, teletrabalho, a Deloitte acredita que esta portância tendencialmente crescente
concentrando-nos nas necessidades dos nova realidade tem vindo a reforçar a sua daqui para a frente».
clientes, intensificando o apoio às comu- cultura organizacional e a fomentar uma No caso da Deloitte, havia o senti-
mento de que a organização tinha de se

O maior desafio que se coloca aos líderes adaptar muito rapidamente a esta nova
realidade, estabelecendo uma aborda-
é o da resiliência e capacidade de tomada gem mais holística nos projectos de em-
ployer branding, privilegiando um estilo
de decisão num cenário de alteração de comunicação mais claro, confiante e

constante do contexto que vivemos. humano. Assim, «as iniciativas mantive-


ram-se na sua génese, mas ajustaram-se
aos novos tempos e amplificaram-se nos
suportes digitais», conclui.

82 Human Resources Portugal Maio 2020


Employer Branding

RANDSTAD

I
sto mesmo defende Inês Ve-

UM “ACID TEST” AO loso, directora de Marketing


e Comunicação da Randstad

EMPLOYER BRAND Portugal, que não tem dúvidas


de que «em momento de ansie-
dade e de crise, o employer brand é ain-
da mais importante, seja para criar se-
Considerar que, face à crise, as únicas dimensões que gurança nos colaboradores seja para
atrair talento». É a altura de mostrar a
devem ser acauteladas são financeiras e de gestão, sua verdadeira identidade. Na Randstad,
esquecendo a dimensão das pessoas, é aumentar o risco, a sua essência esteve sempre focada
não apenas de reputação, mas também de sustentabilidade nas pessoas, e isso «não vai mudar
do negócio. Por isso, o employer brand é mais importante nunca. Se os conteúdos são novos, assim
como o contexto, o posicionamento e a
do que nunca. identidade da nossa marca é o mesmo»,
afirma a responsável.

84 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

O employer face à crise, as únicas dimensões que de-


vem ser acauteladas são financeiras e
brand não é uma de gestão, esquecendo a dimensão das
pessoas é aumentar o risco não apenas
campanha mas de reputação, mas também de susten-
sim um trabalho tabilidade do negócio.
É importante recordar que o employer
contínuo, com branding está relacionado com dois con-
ceitos: o de proposta de valor – EVP – e o
resultados a médio propósito da organização. Se na reacção à
e longo prazo. crise e no novo normal a empresa deixa de
trabalhar sobre estas dimensões, criando
afastamento na sua relação com os cola-
boradores e retirando o seu papel na socie-
dade, ela torna-se dispensável, colocan-
“acid test” em momentos como este, em do em risco não apenas o seu employer
que tem não só de fazer campanha so- brand mas toda  a sua reputação. Isto por-
bre si, mas mais ainda mostrar a sua ver- que apesar do employer brand ser dife-
dadeira identidade. rente do consumer brand, a verdade é
  que se influenciam, e as tendências ge-
Mas como se promove e incute a marca de racionais que cada vez mais dão valor ao
empregador num contexto como o actual? propósito das marcas vêm nos mostrar
O employer branding vive com a empresa, isso mesmo.
porque em todas as acções – e até mesmo  
a inércia da empresa – contribuem para a Como é que perspectiva que venha a ser
sua identidade enquanto empregador. Na “o dia seguinte”?
situação actual, foram vários os momen- A pergunta que se impõe não é como será,
tos que contribuíram para reforçar ou des- mas sim quando será o dia seguinte. Por-
truir o employer brand das organizações. que a retoma está no dia de hoje, vivida
A forma como a possível crise foi abordada com um vírus ameaçador e medidas que
antes da declaração do Estado de Emer- não são naturais na relação humana. Esta
gência, a gestão do período de Estado de vai ser a nossa realidade ainda durante
Emergência, a preparação para a retoma algum, ou mesmo muito, tempo.
e toda a experiência do colaborador e dos Não sou pessimista, mas enquanto
candidatos durantes estas fases. A empre- não houver uma cura ou uma vacina não
Qual a importância do employer branding sa reforçou a sua proposta de valor (EVP podemos voltar atrás no tempo, e por isso
no tempo que vivemos? – employee value proposition)? Ou, pelo
O employer branding não é uma tática contrário, contrariou?
para atrair e reter talentos, é sim uma di- Porque a sensibilidade dos colabora-
mensão de todas as empresas (marcas) dores e dos vários stakeholders é mui-
que pode (deve) ser trabalhada. Quer isto to elevada em período de crise, considera-
dizer que, em momento de ansiedade e de mos que é mesmo  um “acid test” ao em-
crise, o employer brand é ainda mais im- ployer brand das marcas, porque o que
portante, seja para criar segurança nos corre muito bem não será esquecido e o
colaboradores seja para atrair talento, que corre mal é claramente amplificado.
que, sendo mais pontual, é completamen-  
te cirúrgico para as organizações. Será que, “no meio” da crise, este tema não
Assim como a marca, no sentido cor- acabou por passar para segundo plano?
porativo ou de produto, não pode parar e Se passou para segundo plano, é um erro
tem até uma responsabilidade para com que as organizações vão ter depois de
a sociedade, o employer brand tem o seu pagar e vai sair caro. Considerar que,

Human Resources Portugal 85


Employer Branding

temos de viver um dia a seguir ao outro,


com a  nossa proposta de valor e propó-
sito muito sólidos em todos os nossos
processos de decisão, com um foco ain-
da maior nas pessoas, seja porque estas
são o maior acelerador da retoma como
também passaram a ser o maior risco
para a continuidade do negócio.
No outro dia lia que não podemos per-
der o medo para que não nos desleixemos
e vivamos com a sensação que tudo aca-
bou, porque essa não é a realidade. Não
sei se é medo ou se é consciência, bom
senso, uma competência que vai preva-
lecer face a todas as outras, até que che- rança, ao mesmo tempo que desenvol- campanha #EstamosAqui, que nos apro-
gue o dia seguinte. vemos localmente um plano de acom- ximou aos nossos clientes e candidatos e
  panhamento das nossas pessoas para aumentou a união da equipa que, apesar
Como trabalharam – e como vão trabalhar o regresso ao trabalho. de distante fisicamente, nunca esteve
agora o employer branding? Se os conteúdos são novos, assim tão próxima. Exemplo foi o vídeo que pe-
O employer brand não é uma campanha como o contexto, o posicionamento e a dimos apenas a dizer estamos aqui e que
mas sim um trabalho contínuo, com re- identidade da nossa marca, esta sempre recebemos tantas participações que ti-
sultados a médio e longo prazo. Na crise foi a nossa identidade, o propósito das vemos de o dividir em vários vídeos. Estes
tivemos uma prova da identidade da mar- nossas pessoas, que é fazer com que o são momentos simples de interacção mas
ca e da empresa na sua relação com can- trabalho tenha significado. que reforçam o propósito da marca e o
didatos, colaboradores e stakeholders. engagement com os trabalhadores.
Em algumas empresas foi mesmo preci- Como promovem esse trabalho contínuo  
so, num momento de crise, comunicar – através de que acções – no âmbito do Com grande parte dos colaboradores em
más notícias, perceber quando se podia employer branding? teletrabalho, como se mantém ou cimenta
voltar para o mercado, encontrar opor- As nossas acções de employer branding a cultura da empresa?
tunidades sem ser oportunista. trabalham tanto a componente de colabo- O teletrabalho nas equipas internas não
No nosso caso, fomos actuando de radores como candidatos (para as nossas é novidade, pois já tínhamos um progra-
acordo com o propósito da nossa marca, vagas e clientes), assim como a imagem da ma de “work from anywhere”, em que, me-
reforçando a ligação aos nossos clien- marca como entidade empregadora. Es- diante aprovação da chefia e consoante
tes, garantindo que o mercado tinha as tas dimensões são trabalhadas em con- a função era possível, trabalhar uma vez
ferramentas para valorizar as pessoas, junto e a uma única vez pelo marketing, por semana de qualquer lugar. Quando
criando condições para o trabalho remo- comunicação e recursos humanos. esta possibilidade foi implementada, a
to e, ao mesmo tempo, para as funções Alguns dos programas são desenvolvi- transformação não foi apenas nos equi-
de rua com condições de segurança, fa- dos a longo prazo, outros são mesmo cam- pamentos e no acesso a ferramentas, mas
zendo uma aliança com os nossos prin- panhas de engagement ou de comuni- foi já um processo cultural, em que um dia
cipais concorrentes para contribuir glo- cação do nosso employer brand. Um dos à distância era considerado normal, ga-
balmente para este regresso em segu- exemplos recentes que podemos dar é o da rantindo a ligação entre as pessoas.
Com esta nova realidade foi mais fá-

O que exigimos aos líderes são lideranças cil nestas equipas garantir essa aproxi-
mação, sendo que nas operações de con-
autênticas, o walk the talk, a capacidade tact centers conseguimos passar parte
dessa experiência, e também do facto de
de decidir e marcar o caminho, mesmo já termos operações em que algumas pes-

quando reina a incerteza. soas trabalhavam remotas.


Mas a cultura é um processo constan-
te e por isso fomos criando programas de
engagement mais focados no contexto e

86 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

Inês Veloso mo sob outro chapéu, desenvolveram e rada, mas a nossa essência focada nas
Directora de Marketing e Comunicação implementaram acções alinhadas com a pessoas não vai mudar nunca, assim como
da Randstad Portugal
sua identidade de marca enquanto em- a preocupação com a segurança das mes-
pregadores, reforçando a sua humanida- mas e com o emprego.
do impacto do mesmo nas pessoas, como de e focando-se nas suas pessoas. Acre-
seja a criação de um diário em que as pes- ditamos que este é um momento críti- Depois de termos sido todos postos à prova
soas podiam partilhar o que quisessem, co para esta valorização, não apenas pelo com uma situação extrema e inesperada,
podiam desabafar, as sextas-feiras que risco que as pessoas representam, mas qual é hoje o papel exigido aos líderes e
mostram o lado B dos nossos trabalha- mais ainda porque percebemos a im- às lideranças?
dores, um café virtual sempre aberto en- portância que têm para garantir a con- O que exigimos aos líderes são lideranças
tre as equipas. As iniciativas multipli- tinuidade do negócio, a agilidade para autênticas, o walk the talk, a capacidade
caram-se, mas sempre assentes na mes- novos contextos, a criatividade para res- de decidir e marcar o caminho, mesmo
ma marca, na nossa identidade e proposta ponder a cenários nunca sonhados. quando reina a incerteza e a imprevisi-
de valor. Resultado disso é o nosso ques- Esta humanização é mais fundamen- bilidade. Mas esta exigência não é nova,
tionário interno de engagement neste tal do que nunca, e vai ser decisiva para já existia, já a tínhamos, apenas éramos
período, além de aumentar o número de que tudo fique efectivamente bem. mais tolerantes quando alegados líderes
respostas, reflecte maior engagement.   se esqueciam do seu papel.
  E na Randstad mudou alguma coisa na es- A pandemia veio aumentar a sen-
O que é que mudou com a pandemia na tratégia de employer branding previa- sibilidade e a exigência com as lideran-
forma de as empresas olharem para o mente pensada? ças. Agora não dá para fingir ou não ser,
tema do employer branding? Não, a nossa estratégia está definida a temos de assumir a nossa liderança in-
Acredito que algumas colocaram em se- nível global e está alinhada com a nossa dividual e colectiva para que tudo fique
gundo plano e vão ter as consequências missão e os nossos valores. O que mu- bem, para a retoma em segurança, para
deste esquecimento, outras fizeram ac- dou foram as acções que tínhamos pre- nos protegermos uns aos outros, uns
ções de forma exímia e outras ainda, mes- vistas para uma realidade que foi alte- dos outros.

Human Resources Portugal 87


Employer Branding

SONAE MC

POTENCIAR A PLURALIDADE
Na Sonae MC – onde chegam a conviver quatro egerações – tem-se vindo a trabalhar
num princípio único e abrangente de comunicação, que visa promover a união entre
todos. «Somos todos diferentes, mas somos todos Sonae MC.» E nunca como agora
se viveu com tanto empenho e dedicação o propósito da empresa.

N
a Sonae MC acredita- curando assegurar sempre o respeito pela de trabalho em que chegam a conviver
Por: Sofia Castro, head of Talent & Employer Brand da Sonae MC

mos que o Employer singularidade de cada um. quatro gerações, este programa foi criado
Branding começa inter- Por isso, procuramos desenvolver um para aproximá-las e potenciar sinergias
namente, na constru- conjunto de iniciativas que garantam a que resultem em maior agilidade digital e
ção de um ambiente de valorização de todos, permitindo que en- inovação. Queremos aproximar os nossos
trabalho onde as pessoas se sintam bem e contrem significado no seu trabalho. Que- líderes e jovens talentos, promover a troca
possam crescer pessoal e profissionalmen- remos estimular o desenvolvimento dos de experiências e partilha de conhecimen-
te. Acreditamos que só desta forma con- colaboradores da Sonae MC, dotando-os tos e desenvolver competências, de modo
seguimos reter talento, algo tão impor- de ferramentas que ajudem a aumentar a a tirar partido desta diversidade. Trata-se
tante neste mercado cada vez mais com- sua eficácia pessoal, potenciando forças de um programa de mentoria onde os mais
petitivo. Mas vai para além disso: pessoas e desenvolvendo os seus limites. Esta é novos ensinam aos mais experientes as no-
felizes e realizadas trabalham melhor, uma proposta de valor desafiante, mas vidades do novo século, e em troca têm uma
e isso é uma mais valia para a empresa. no nosso entendimento fulcral para o oportunidade única para desenvolverem
A atracção externa vem, naturalmente, sucesso desta organização com realida- novas competências e aprofundarem co-
por acréscimo, porque os colaboradores des tão distintas. nhecimento e visão do negócio.
são os nossos maiores embaixadores. Temos também internamente o pro-
Tudo começa pela definição de uma APOSTA NO DESENVOLVIMENTO grama Qualifica, que se foca no aumento
Employee Value Proposition (EVP) O “Reverse Mentoring” nasce exactamente dos níveis de educação, contribuindo para
clara, que garanta o foco na construção dessa vontade de potenciar a pluralidade a melhoria dos níveis de qualificação e
de uma cultura que dê resposta às aspi- de que falávamos há pouco. Num contexto empregabilidade. Uma aposta no reco-
rações dos nossos colaboradores e a con- nhecimento, validação e certificação de
sistência entre as múltiplas iniciativas competências escolares – de nível básico e
que desenvolvemos. secundário – e profissionais, tendo como
Obviamente que isto é especialmente foco as operações de logística e de lojas.
desafiante numa empresa com uma he- Estes são apenas alguns exemplos do
terogeneidade de perfis, funções e negó- trabalho que temos vindo a desenvolver,
cios como a Sonae MC. Garantir que há es- que ajudam a promover o desenvolvimento
paço para que todos se sintam bem e valo- pessoal e profissional dos nossos colabo-
rizados cá dentro é um constante desa- radores, procurando garantir que os perfis
fio. Mas se, por um lado, esta pluralidade são incluídos nestas acções de valorização.
torna a nossa tarefa mais difícil, por outro
permite-nos oferecer uma diversidade de APOSTA NO BEM-ESTAR
experiências e oportunidades que poucas Para que todos se possam desenvolver e
empresas conseguem igualar. A chave dar o seu melhor, é muito importante criar
está em “potenciar esta pluralidade”, pro- condições para que isso aconteça. Por isso

88 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

Conhecer a experiência do nosso Sofia Castro


Head of Talent & Employer Brand

colaborador é um desafio constante, da Sonae MC

pois essa experiência é dinâmica, e está tocar numa imensa amplitude de temas
muito distintos entre si e isso traz imensa
em constante evolução e actualização. riqueza ao processo.
A criação das novas fardas do Conti-
nente foi fruto deste princípio base de ou-
vir os colaboradores. Assim nasceu este
projecto, que teve como principal objec-
o tema do bem-estar é tão relevante para damos às nossas pessoas a autonomia tivo desenhar uma colecção a pensar no
nós na Sonae MC. Para podermos falar de necessária para poderem aceder a dife- bem-estar e conforto das nossas pessoas,
bem-estar, temos de conhecer em pro- rentes soluções de trabalho flexível, per- criando um conjunto de peças modernas
fundidade a experiência dos nossos cola- mitindo-lhes gerir de forma mais ade- que, conjugadas de diferentes modos, per-
boradores, ouvi-los e construirmos solu- quada os seus períodos de tempo de au- mitem respeitar a identidade e singula-
ções em conjunto. Temos feito um traba- sência e/ou permanência nos respecti- ridade de cada um, dando resposta às suas
lho nesse sentido do qual nos orgulhamos. vos locais de trabalho e garantindo as- diferentes necessidades. Foi um inves-
O programa Flex it up é assim o re- sim que contribuímos para uma melhor timento feito nas nossas pessoas, no seu
sultado desse exercício de auscultação conciliação das diferentes esferas da sua conforto diário e na valorização da sua
interna que temos vindo a promover e vida , contribuindo para maiores níveis de imagem profissional e pessoal.
através do qual percebemos claramente satisfação, bem-estar e compromisso. O
que as nossas pessoas valorizariam a feedback tem sido muito positivo e já está APOSTA NA LIDERANÇA
possibilidade de poderem ter acesso a bem enraizado na nossa cultura. Acreditamos que esta cultura de desen-
iniciativas que permitissem melhorar Conhecer a experiência do nosso cola- volvimento e bem-estar só é possível se
a integração das dimensões da sua vida borador é um desafio constante, pois essa for impulsionada e alavancada pelas nos-
pessoal e profissional. O Flex it Up assen- experiência é dinâmica, e está em constan- sas lideranças. Somos reconhecidos por
ta numa filosofia de confiança, na qual te evolução e actualização. Permite-nos sermos uma escola e, particularmente,

Human Resources Portugal 89


Employer Branding

uma escola de líderes. E esse é um capital nos permite dar resposta ao mundo em aqueles que estão connosco, impactando
que todos os dias procuramos respeitar constante mudança em que hoje vivemos. cada vez mais a comunidade à nossa volta.
e nutrir, garantindo que desenvolvemos Trabalhamos todos os dias para pro-
lideranças cada vez mais ágeis e humanas. mover um ambiente colaborativo, saudá- APOSTA NA COMUNICAÇÃO
Queremos líderes focados nas equipas e vel e inclusivo, com líderes humanos e Fazemo-lo conscientes de que não basta
no desenvolvimento das pessoas, que pro- inspiradores. A nossa ambição é construir fazer, é preciso comunicar. Sabemos a
movam uma cultura de optimismo, con- equipas bem-sucedidas, que procuram importância que a comunicação, interna
fiança e autonomia. Líderes inspiradores, sempre ir mais longe, inseridas numa cul- e externa, tem na percepção da nossa pro-
que influenciam e desenvolvem. O líder tura de bem-estar, que promove um bom posta de valor. É uma ferramenta essen-
coach, que mobiliza a sua equipa e, em con- equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Va- cial na construção da marca emprega-
junto, constroem o melhor resultado. Acre- lorizamos a melhoria contínua da forma dora e também esta deve começar a ser
ditamos que esta visão de liderança é a que como trabalhamos e desenvolvemos todos trabalhada internamente.

90 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

Naturalmente, também na comunica-


ção a nossa dimensão e heterogeneidade
constitui um desafio adicional. Por um
lado, garantir que chegamos a todos –
diferentes negócios e perfis distribuídos
pelo país – por outro, fazer com que negó-
cios que vão desde o retalho alimentar, a
parafarmácias, cafetarias entre outros, se
identifiquem e se revejam numa só iden-
tidade, na marca Sonae MC.
Para além da multiplicidade de men-
sagens a veicular: desde negócio aos te-
mas de desenvolvimento, do impacto na
comunidade, à importância do bem-estar
no trabalho e na vida. Nesse sentido te-
mos vindo a trabalhar num princípio úni-
co e abrangente de comunicação que visa

Na Sonae MC trabalha-se todos os


dias para promover um ambiente
colaborativo, saudável e inclusivo,
com líderes humanos e inspiradores.

promover essa união. Somos todos dife- trabalham, todos os dias, para garantir
rentes, mas somos todos Sonae MC. que os portugueses tenham acesso a ali-
É em situações de crise, como esta que mentação e outros bens essenciais, para o
estamos a viver, que as marcas são de- bem-estar e manutenção de algum senti-
safiadas. O tema da Employer Brand as- do de normalidade num momento tão
sume hoje ainda maior importância. Não difícil como o que vivemos. nossa economia, os atributos da seguran-
é algo que se promova ou se incuta nestas Os estudos dizem-nos que os atribu- ça e estabilidade financeira saiam reforça-
alturas, mas sim que é posto à prova. Mais tos mais valorizados pelos portugueses na dos, com alterações a médio e longo prazo.
do que nunca, a nossa proposta de valor escolha de um empregador, independen- Hoje, mais do que nunca, ter colabora-
está a ser testada. Nunca como agora se temente da geração, género ou níveis de dores confiantes e seguros no seu traba-
viveu com tanto empenho e dedicação educação, são a remuneração e benefícios, lho é essencial, bem como garantir o equi-
o nosso propósito. Estamos a viver este o worklife balance e a segurança. E aquilo líbrio pessoal e profissional, face aos de-
desafio de forma muito positiva, com uma que mais pesa na retenção, ou seja, na de- safios que a pandemia e o isolamento so-
empresa unida e comprometida, o que cisão de ficar, é a segurança, localização cial nos impõem.
veio fortalecer a nossa convicção de que geográfica e estabilidade financeira. É No entanto, nunca nos podemos es-
temos a estratégia certa. focados no que é importante para as pes- quecer que as pessoas continuam a querer
soas que temos vindo a trabalhar, e acredi- sentir-se bem, respeitadas na sua singula-
SENTIDO DE MISSÃO tamos que a crise de saúde pública que vi- ridade e integradas numa cultura onde se
Estamos conscientes do papel da Sonae vemos actualmente só vem reforçar a nece- promove o bem-estar dos colaboradores.
MC no momento que vivemos e orgulho- ssidade de continuar a fazer este caminho. É com esta filosofia que nos identifica-
sos pelo profissionalismo e sentido de É natural que com a chegada da CO- mos, pelo que continuaremos a apostar
missão com que os nossos colaboradores VID-19 e o impacto que certamente terá na no caminho que temos vindo a traçar!

Human Resources Portugal 91


Employer Branding

EDP

UMA APOSTA QUE NÃO


FICOU EM PAUSA
Na EDP, acredita-se que as empresas que se conseguirem destacar neste momento,
conseguirão no futuro recolher os frutos junto dos diferentes públicos enquanto
empregadores de referência no mercado. Por isso, a empresa continua a investir
na sua estratégia de Employer Branding.

92 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

N
os tempos em que Que iniciativas ou programas estão a ser ticipando ou desenvolvendo iniciativas
vivemos, e apesar de implementados pela EDP, neste âmbito? exclusivamente no formato online, no-
muitas empresas esta- A EDP continua a investir na sua estra- meadamente na aproximação aos jovens
rem a adiar processos tégia de employer branding no contexto através de iniciativas de proximidade
selectivos, a estratégia em que nos encontramos. O desafio es- totalmente virtuais.
de Employer Branding não deve parar. tá, “apenas”, em fazer um exercício di- A título de exemplo, desenvolvemos
Trata-se não só de atrair, mas também de ferente, repensando e reformulando a um novo programa denominado EDP
reter talento e gerar engagement. Hoje, implementação desta estratégia, actuan- Digital Open Days, que pretende “abrir
mais do que nunca, a forma como as or- do nas duas vertentes: a vertente inter- portas” ao Grupo EDP através de um
ganizações se relacionam com os seus na e a externa. conjunto de sessões online e interacti-
colaboradores é de extrema importância. Internamente, temos procurado fo- vas, com uma agenda diversificada de
É natural que o que as pessoas valorizam mentar ainda mais o engagement das temas relacionados com o nosso negó-
se “ajuste” de acordo com os condicio- nossas pessoas, reforçando a comunica- cio, divulgados à escala global a toda
nalismos que todos vivemos, e que ava- ção e ajustando os processos de gestão a população universitária, através dos
liem se a proposta de valor da sua em- de pessoas para o formato online.
presa está ou não a ser colocada em prá- Externamente, temos procurado dar Paula Carneiro
tica. Não se duvide que a forma como continuidade às nossas actividades, par- Directora de Recursos Humanos da EDP
a organização agiu neste cenário ficará
no mindset de muitos dos seus talentos.
Ciente desta importância, a EDP tem
vindo a reforçar a sua estratégia de Em-
ployer Branding, cimentando a sua cul-
tura junto dos colaboradores. Disso mes-
mo nos dá conta Paula Carneiro, direc-
tora de Recursos Humanos da empresa.

Qual é a importância que o Employer


Branding tem em concreto, nos tempos
de crise em que vivemos?
O contexto actual é uma óptima opor-
tunidade para o Employer Branding ga-
rantir uma expressão ainda mais refor-
çada, repensando e ajustando a sua es-
tratégia e abordagem.
Qualquer acção ou notícia sobre uma
empresa pode impactar o valor da sua
marca, e isso tem sido bastante visível
nesta crise: a forma como lidamos com
os nossos colaboradores, clientes e até
com a sociedade, no geral. São inúmeras
as notícias lançadas, todos os dias.
É importante, nesta fase, alimentar
uma imagem ainda mais forte, de res-
peito, de valorização da vida humana, O contexto actual é uma oportunidade
de apoio e protecção.
As empresas que se conseguirem des-
para o Employer Branding garantir
tacar neste momento, conseguirão no uma expressão ainda mais reforçada,
futuro recolher os frutos junto dos dife-
rentes públicos – jovens, profissionais, repensando e ajustando a sua estratégia.
consumidores, entre outros – enquanto
empregadores de referência no mercado.

Human Resources Portugal 93


Employer
Comunicação
Branding
Interna

das grandes prioridades da organiza-


ção é criar e manter uma “relação” com
os seus colaboradores que estão isola-
dos nas suas casas.
Para isso, foram já implementadas
medidas com o objectivo de não deixar
que as nossas pessoas se sintam isola-
É importante, das ou “desligadas” da empresa, ao mes-
mo tempo que mantêm a sua motiva-
nesta fase, ção e produtividade.
alimentar uma Houve também necessidade de di-
fundir um conjunto de guidelines e boas
imagem ainda práticas, principalmente direccionadas
aos gestores de equipas, com o objectivo
mais forte, de de reforçar a importância da conciliação
respeito, de entre o teletrabalho e o confinamento
domiciliário que estamos a viver.
valorização da Também os líderes tiveram de olhar
nossos canais digitais e redes sociais. para todos os processos mais core e pen-
Esta iniciativa, para além da elevada ade- vida humana, de sar como poderiam ser adaptados a um
são, tem recebido feedback muito posi-
tivo e já estamos a preparar o segundo
apoio e protecção. formato completamente remoto, adap-
tação que exigiu “alguma criatividade
ciclo de sessões. e improvisação”.

Com grande parte dos colaboradores em De que forma vão trabalhar o Employer
teletrabalho como se mantém ou cimenta partilha entre equipas, como partilhas Branding, quando se começar a (re)abrir
a cultura da empresa? de best practices de trabalho remoto ou a economia?
O contexto actual obrigou a maioria dos liderança à distância; e outro aspecto Iremos continuar a trabalhar sobre a
colaboradores a incluírem o teletrabalho essencial, a atenção ao bem-estar físico nossa estratégia de Employer Branding,
nas suas rotinas e, no meio da avalanche, e emocional dos colaboradores, através repensando continuamente as actividades
é imprescindível continuar a fomentar de uma relação ainda mais próxima en- desenvolvidas de forma a proporcionar
a cultura organizacional, fortalecer la- tre as equipas de recursos humanos, as a melhor experiência a todos os agentes
ços e fomentar rotinas de trabalho equi- chefias e as nossas pessoas. que interagem connosco diariamente.
libradas e flexíveis. Estamos perante o que será um “novo
Nesta altura desafiante, é importante Depois de termos todos sido postos à pro- normal” e, por isso mesmo, teremos to-
que as organizações se foquem em três va com uma situação extrema e inespera- dos que nos adaptar e reinventar face a
pontos essenciais: os canais de comu- da, qual é hoje o papel exigido aos líderes uma nova realidade, que passará cada
nicação que fomentam a comunicação e às lideranças? vez mais por formatos digitais e flexí-
entre os colaboradores, apesar da dis- Numa altura em que os relacionamentos veis, como os que temos vindo a testar
tância física; a entreajuda e o sentido de de proximidade estão suspensos, uma neste período.

94 Human Resources Portugal Maio 2020


GESTÃO
DE TALENTO

96 ENQUADRAMENTO
CASOS
98 CONSULTING HOUSE
102 NOESIS
Gestão de Talento

ENQUADRAMENTO

GESTÃO DE TALENTO: O QUE


É E COMO SE CONCRETIZA?
Uma boa Gestão de Talentos é muito importante para o cumprimento dos objectivos
estratégicos de uma organização. POR Pedro Rocha e Silva

A
expressão Gestão de sume características de gestão de um nível da formação, aplicável a todos os
Talento é dita, ouvida, universo particular, seja ele a geração Y, colaboradores por igual. Não é estraté-
escrita e lida tantas ve- os designados quadros estratégicos ou gica, uma vez que não oferece qualquer
zes sem fim, nomeada- críticos, os high-flyers, high-potentials orientação para o direccionamento e a
mente no universo mais ou JEP (jovens de elevado potencial). alocação de recursos.
ligado às áreas de Gestão de Pessoas. Existe, no entanto, unanimidade No mundo corporativo, o conceito de
Sendo uma expressão comum, será que num ponto: uma boa Gestão de Talen- talento (associado à Gestão de Talentos)
o entendimento do que representa é tos é muito importante para o cumpri- foi tendo algumas evoluções, mas que
assim tão comum? mento dos objectivos estratégicos de tiveram sempre como base algo de-
Apesar de ser um tema emergente e uma organização. terminante: a diferenciação. E aí, o con-
presente em muitos debates mundiais Vários estudos publicados nos últi- ceito de talento tornou-se mais maleável,
que abordam a temática da Gestão de mos anos colocam recorrentemente a pois passou a incorporar dimensões adi-
Pessoas, observa-se ainda muita confu- Gestão de Talentos como uma das prio- cionais como resultados, experiências,
são nas definições existentes sobre os ridades essenciais no que diz respeito à potencial ou ambições.
termos “talento” e “gestão de talentos”, e Gestão de Pessoas. A denominada “guer- A diferenciação procura naturalmen-
nomeadamente na sua materialização ra pelos talentos” é algo que ouvimos te chegar aos “melhores” e tem como ra-
em práticas e processos. Desde logo, ta- constantemente, e que nem a actual pan- zão de ser o facto de as organizações se-
lentos são todos ou só alguns. demia irá fazer sair de cena. rem incapazes de assegurar uma ges-
Analisei um conjunto de empresas a A multiplicidade de conceitos e fun- tão ideal de todos os seus colaboradores,
operar em Portugal e que integram na sua damentalmente da forma como são seja por limitações financeiras, de recur-
estrutura orgânica uma área de Gestão operacionalizados, marca a ausência sos ou de tempo. Daí, em organizações
de Talento, e o âmbito de intervenção de clareza e evidencia a necessidade de mais pequenas, se confundir mais vezes
difere bastante. Nuns casos (tipicamente uma visão mais focalizada e pragmáti- o conceito Gestão de Talentos com o de
em organizações de menor dimensão), ca. Para tal, é crítico percebermos o que Gestão de Pessoas, pois não se torna tão
assume uma responsabilidade pratica- é Gestão de Talentos e qual a sua im- crítica a diferenciação.
mente equiparada à de uma direcção de portância. Comecemos primeiro pelo
Recursos Humanos típica, represen- conceito de Talento. R Quais os benefícios de uma
tando fundamentalmente uma questão Talento é uma inclinação natural, efectiva Gestão de Talentos?
de terminologia e de posicionamento. E uma habilidade, uma competência R Motivação e reconhecimento de
que, na maioria dos casos, é sinónimo para fazer algo bem. Gerir o “talento” quem evidenciou atributos para fazer
de uma abordagem mais moderna e con- inerente a cada pessoa, que todos têm parte do programa;
temporânea à Gestão de Pessoas. naturalmente, faz todo o sentido, mas R Motivação para a melhoria/supera-
Noutros casos, assume um âmbito de diria que é uma gestão mais micro, da ção por parte de quem não faz parte do
intervenção muito focado nas áreas de responsabilidade da sua chefia directa programa e tem essa ambição;
desenvolvimento (avaliação, formação, e que está intimamente ligada ao pro- R Focalização dos recursos disponí-
sucessão), mas sem segmentação da po- cesso de avaliação de desempenho, e veis (após estarem garantidos níveis
pulação abrangida. Noutros ainda, as- suas consequências, nomeadamente ao de investimento mínimos para toda a

96 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

organização) naqueles que poderão, em importa abordar agora o que pode/deve


princípio, gerar maior retorno; ser feito. Sendo uma população de algu-
R Acompanhamento e desenvolvimento ma forma diferenciada, o tratamento
mais personalizados e customizados;
Potencial também será diferenciado. Isto não quer
R Aceleração dos processos de evolu- dizer que relativamente a todos os
ção na carreira; outros não se faça nada.
R Preparação e suporte a pla- Considerando que ninguém
nos de sucessão; Disponibilidade entra directamente para a
R Promoção da retenção; Performance pool de talento, antes de se
e Ambições
R Melhoria de resultados or- poderem avaliar consistente-
ganizacionais. mente as quatro dimensões (míni-
mo de seis meses), iremos considerar
R Como deve ser toda a componente de recrutamento e
seleccionada a pool de talento? Background onboarding como fora do programa de
Na Neves de Almeida HR Consulting, Gestão de Talento. Assim, as principais
desenvolvemos um modelo que en- acções que dele devem constar são:
globa quatro dimensões que, no seu con- R Acesso a acções de desenvolvimento/
junto, ajudam a compreender o “valor” formação diferenciadas e preferencial-
da pessoa para a organização, logo a sua mente customizadas;
elegibilidade para puder ser considera- R Acesso de forma privilegiada a planos
do um “Talento”: geralmente através da análise do CV de sucessão;
R Potencial: Significa uma forte valo- da pessoa. R Exposição crescente a projectos trans-
rização de um conjunto de atributos e R Disponibilidade e ambições: Pode- versais na organização;
competências que façam prever o su- mos estar perante colaboradores com R Promoção de mobilidade funcional
cesso futuro no exercício de funções de elevado potencial, excelente performance, e mobilidade geográfica;
maior responsabilidade. Normalmente um background altamente robusto, mas R Criação de momentos para uma ex-
estas competências estão alinhadas que pura e simplesmente não revelam a posição crescente à gestão de topo.
com o ADN da empresa. A avaliação de disponibilidade, seja do ponto de vista Muito se discute se esta população
potencial deve, sempre que possível, ser de amplitude funcional ou geográfica, deverá igualmente ter acesso a condi-
realizada, ou pelo menos complementa- seja falta de ambição em poder assumir ções de remuneração diferenciadas. Na
da, com uma análise externa. responsabilidades mais elevadas e evo- minha opinião, não. A remuneração
R Performance: Potencial sem concre- luir na carreira. Esta dimensão é mui- deverá ser determinada fundamental-
tização de pouco valerá, tem de se reve- tíssimo importante e não poucas vezes mente pela responsabilidade (função
lar em capacidade de entrega. Importa é por aqui que se falha. que se exerce) na sua componente fixa,
aferir quais os principais indicadores Não revelar essa disponibilidade e pela performance na componente va-
de performance do colaborador, sejam ou ambição pode ser aceitável pela or- riável. As mesmas regras deverão apli-
eles qualitativos ou quantitativos. Esta ganização, apenas deverá ser tido em car-se a toda a estrutura, estejam ou não
informação deriva geralmente dos re- conta se valerá a pena investir mais no na pool de talento.
sultados dos processos internos de desenvolvimento dessa pessoa. Esta in- Dito tudo isto, os programas de Ges-
avaliação de desempenho. formação consegue-se normalmente tão de Talento, bem implementados e
R Background: Perante colaboradores por solicitação directa ao colaborador, fundamentalmente bem comunicados,
com elevado potencial e que revelam fazendo frequentemente parte do pro- poderão ter um impacto brutal nos re-
uma performance acima da média, cesso de avaliação de desempenho, no- sultados das organizações. O ideal é
podemos ainda diferenciá-los pelo seu meadamente da reunião de feedback ou que os programas deixem de o ser, para
background profissional e académi- do processo de auto-avaliação. se tornar uma cultura e uma forma de
co. Sempre trabalhou na mesma área? estar da organização.
Teve exposição a contextos de lideran- R Que acções devem constar
ça? Experiência internacional? Vá- de um programa de Gestão
rios sectores de actividade? Tem for- de Talento?
Pedro Rocha e Silva
mação avançada? Especializações? Depois de criada a pool de talento e ten- CEO na Neves de Almeida
Esta informação consegue obter-se do em conta os benefícios esperados, HR Consulting

Human Resources Portugal 97


Gestão de Talento

CONSULTING HOUSE

LIÇÕES DA
PANDEMIA
PARA EQUIPAS
EXECUTIVAS
Muitas decisões de
gestão são ineficazes,
ou produzem resultados
opostos, porque o modelo
em que se baseiam é
preto e branco, enquanto
a realidade é a cores.

O
departamento de Saúde
Por: Ricardo Vargas, CEO da Consulting House

do Estado de Nova Iorque


emitiu um comunicado
no fim de Março, levando
o isolamento social à úl-
tima consequência. Sob o mote “tu és o
teu parceiro sexual mais seguro”, in-
centiva a masturbação como prática se-
gura em tempos de Covid-19, desde que
nos desinfectemos antes e depois, bem
como quaisquer brinquedos ou objectos
utilizados. Se menos de dois metros de
distância de outro ser humano são um
risco, as consequências eróticas são ób-
vias: sexo com outras pessoas, não.
Quando ligo a TV ou abro os sites e
jornais online nestes dias de pandemia,
encontro um padrão na narrativa de co-
mentadores, políticos e aprendizes de vi-
dente: “nada será como antes”. Dá a im-
pressão que não restará pedra sobre pe-
dra da nossa organização social depois
©Catarina Zimbarra

desta fase: o capitalismo vai soçobrar,


os regimes autoritários e populistas vão
vencer, a globalização vai sofrer, o Estado

98 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

sobrepor-se-á ao mercado, o teletrabalho não preparamos o país para o embate. Se cado de um novo concorrente? Como li-
será a única forma de produzir, a polui- não passa de uma gripezinha, apostamos dar com tecnologia potencialmente dis-
ção desaparecerá; tudo e o seu contrário. na imunidade de grupo. Se são 15 casos que ruptiva? Como assimilar o crescimento
Gostaria de pensar que alguns aspec- desaparecerão por si, não fazemos nada. de quota num mercado em diminuição
tos fundamentais da forma como abor- No caso das empresas os pressupos- constante? Até que ponto é importante o
damos e resolvemos os nossos problemas tos podem ser menos evidentes, porque engagement dos nossos colaboradores?
mudarão. Mas tenho pouca esperança. a ideologia é menos importante, mas O que significa adquirir outra empresa?
Sobretudo porque, como psicólogo, co- estão lá em todas as decisões tomadas. Qual o impacto de uma pandemia?
nheço a mente humana e vejo na aborda- E do mesmo modo limitam a eficácia de Qualquer decisão de gestão é basea-
gem a este problema as reduções cogni- uma empresa para lidar com os desafios da em valores, pressupostos, défices de
tivas que encontro em todas a situações internos ou de mercado. Qual o signifi- informação e, consequentemente, mo-
normais, com consequências piores. delos mentais mais ou menos ajustados
A maior parte do meu trabalho é fo-
cado no desenvolvimento da eficácia de O desajuste à realidade. O desajuste entre a forma
como achamos que a realidade funciona
equipas de gestão. As equipas executi-
vas das multinacionais, ou grandes em-
entre a forma e a forma como ela realmente funciona é
a maior fonte de erros na tomada de de-
presas portuguesas, são constituídas por como achamos cisão em gestão. Não é por falta de infor-
pessoas competentes, inteligentes, sen-
satas e bem-intencionadas. No entanto, que a realidade mação que mais se erra, é por ter concei-
tos errados sobre a forma como o merca-
quando as juntamos em equipa, muitas
vezes o resultado não é maior do que a
funciona e como do ou os nossos colaboradores reagirão
às nossas decisões.
soma das partes. E as razões são sim- ela realmente É natural que isto aconteça. Todos
ples: os modelos mentais que as pessoas
desenham para lidar com os desafios funciona é a maior temos enviesamentos cognitivos que nos
impedem de ver a realidade tal como é, e
limitam a eficácia da sua intervenção.
fonte de erros na nos forçam a ver a realidade tal como a
queremos. Trata-se de mecanismos au-
MODELOS MENTAIS tomada de decisão tomáticos de processamento inconscien-
Um modelo mental é uma representação
da situação real, que nos permite realizar em gestão. te que cumprem funções adaptativas do
ponto de vista da espécie. Comprovados
simulações de causalidade e de impacto à saciedade pela investigação em Psico-
de diferentes soluções possíveis. O mo- logia. Mas do ponto de vista de tomada
delo mental é construído com base em
informação existente, aplicando sobre
ela processos de pensamento aceites. E
é aqui que começam os problemas. Os
processos de pensamento aceites por
um grupo contêm sempre pressupostos
valorativos que determinam a qualidade
e quantidade de informação necessária
para entender o problema, bem como o
tipo de solução a adoptar.
No caso da Covid-19, a fonte dos pres-
supostos é fácil de identificar: a ideologia
e interesses dos governantes que tomam
decisões. O impacto nos diferentes tipos
de soluções geradas também. Se a nova
infecção por coronavírus é vista como
uma ameaça à credibilidade do Estado,
©Carlos Porfírio

silenciamos o médico que identificou a


doença e manipulamos números da epi-
demia. Se é um problema de outro estado,

Human Resources Portugal 99


Gestão de Talento

de decisão o seu efeito é claro: diminuem e valores por vezes antagónicos. Lidar propriedade emergente dos sistemas hu-
a capacidade de entender e lidar com a com a realidade de forma eficaz exige manos que justifica fenómenos de mas-
realidade de forma eficaz. entendê-la e aceitá-la. O sistema de en- sas aparentemente incompreensíveis.
Nenhum modelo mental é perfeito, mas sino da maioria dos países, não prepara Como as empresas são grupos huma-
há uns mais errados que outros. E é res- profissionais para entenderem a reali- nos menores e o seu tempo de acção mais
ponsabilidade da equipa executiva garantir dade dos sistemas humanos. Continua curto, a eficácia das decisões pode ser
que a empresa não sofre as consequências preso a uma visão mecanicista do real, em medida mais rápido. Mas o resultado
de uma modelação deficitária da realidade. que para cada efeito há uma causa e para pode ser igualmente trágico. A decisão
cada causa há um efeito. A causalidade de não abortar o lançamento do vaivém
LIDAR COM A REALIDADE nos sistemas humanos (leia-se comple- Challenger, 24 horas depois de a NASA
A realidade não é de esquerda nem de xos) é circular e múltipla. Existem mui- ter sido avisada que a anilha vedante do
direita, não é crente nem agnóstica, não tas causas para cada efeito, muitos efei- combustível podia esfarelar-se em circuns-
é conservadora nem liberal, não é rápi- tos para cada causa, e causa e efeito não tâncias similares ao lançamento, foi de-
da nem lenta, não é boa nem má. A rea- são lineares no tempo. terminada por pressupostos errados no
lidade não tem qualidade inerente, não A ordem de confinamento territorial modelo mental dos decisores. Os livros de
se engana, nem faz o favor de se adaptar na Lombardia provocou a debandada ge- gestão estão cheios de exemplos destes.
aos nossos modelos. neralizada que pretendia evitar e pro- Muitas decisões de gestão são inefi-
A realidade simplesmente ‘é’, e a maior pagou a Covid-19 a toda a Itália. Os deci- cazes, ou produzem resultados opostos,
parte das vezes ‘é’ complexa. Tem ca- sores não anteciparam que ‘o efeito viria porque o modelo em que se baseiam é preto
racterísticas que a tornam imprevisível, antes da causa’, porque isso não consta e branco, enquanto a realidade é a cores.
porque quase tudo o que é humano foi dos seus manuais de saúde pública ou ges-
criado ou existe hoje num sistema com- tão regional. Seria cómico, se não fosse É O SISTEMA, PÁ
plexo, globalizado e com vários tipos de trágico, ver como a maioria dos governantes Um sistema humano tem característi-
relação entre elementos locais e globais, aplica um pensamento linear de coman- cas específicas que, uma vez entendidas,
com benefícios materiais ou simbólicos do e controlo quando as comunidades se permitem a tomada de decisões mais efi-
de diferentes tipos, redes e canais de movem por dinâmicas colectivas basea- cazes. A resolução de um problema com-
comunicação que se intersectam, mas das em percepção de eficácia pessoal na plexo não requer necessariamente deci-
funcionam com linguagens diferentes protecção dos seus interesses. Esta é uma sões ou acções complexas. Por vezes bas-

100 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

ta a conjugação de várias acções simples. ma em que tudo ocorre; são quatro ac- dade das decisões empresariais é menor
Mas estas devem ser baseadas no enten- ções simples que permitem modelar o im- que a gestão de uma pandemia.
dimento da complexidade do contexto pacto de cada medida, testar em peque-
que deu origem ao problema, e interrom- na escala, aprender com o feedback e O PROGRAMA SEGUE DENTRO
per a causalidade circular que o mantém. ajustar progressivamente as medidas de DE MOMENTOS
De outra forma podem produzir mais re- intervenção ao problema. É assim que se Uma das características principais de
sultados negativos que positivos. inova com sucesso, tanto na Covid-19 como um sistema é a homeostase. A capacida-
A acção simples de confinar toda a em desafios empresariais quotidianos. de de regular o seu ambiente interno, e
população em casa não resolve o proble- influenciar o externo, para manter um
ma da pandemia, por várias razões. A ISTO É SOBRE EQUIPAS equilíbrio dinâmico de funcionamento
primeira das quais porque a pandemia EXECUTIVAS que garanta a sobrevivência. Seres vivos
é um problema complexo com várias di- A consequência mais positiva desta pan- e sistemas humanos têm-na.
mensões: sanitária, económica, de saú- demia é demonstrar que os modelos tradi- A homeostase é a razão pela qual os
de mental, política, entre outras. E cada cionais de tomada de decisão são fraqui- sistemas preferem voltar ao equilíbrio
agente vê apenas a sua parte do sistema, nhos para lidar com problemas complexos. inicial depois de um choque exógeno,
preconizando soluções que agravam as Tudo o que se baseie em causa-efeito li- em vez de morrer ou transformar-se em
outras dimensões do problema. Negli- near, sequencial no tempo, isolado no espa- coisa desconhecida.
genciar a dimensão económica agrava ço, ignorante dos processos e contextos de Vem isto ao caso porque é por não en-
a sanitária. Negligenciar o número de ocorrência, vai falhar, porque as dinâmi- tender o papel da homeostase no funcio-
mortos hoje desmantela a economia ama- cas de interacção humana são complexas. namento do sistema que os videntes pre-
nhã. Desproteger a saúde mental piora
a saúde futura e reduz a produtividade.
Mover uma variável afecta todas as ou- A consequência mais positiva desta
tras. Esta é a natureza dos sistemas com-
plexos. É assim em todos os problemas pandemia é demonstrar que os modelos
humanos, mesmo que não queiramos
vê-lo quando não há mortes em causa.
tradicionais de tomada de decisão são fracos
Para ser eficaz, uma equipa de gestão para lidar com problemas complexos.
deve modelar adequadamente o sistema
que gere – a empresa – e o contexto em
que opera – o mercado.
Uma das ferramentas mais eficazes
para o fazer é o pensamento sistémico. A única razão para o estado de emer- conizam mudanças absolutas em proces-
Modelar o funcionamento do sistema gência é a vontade de reduzir a comple- sos produtivos no mundo inteiro. É verda-
como um todo permite antecipar dife- xidade da decisão, através da elimina- de que mesmo depois de se encontrar
rentes cenários, resultados e impacto ção da vontade individual e da possibili- uma vacina algumas coisas não voltarão
de acções em todo o sistema, não apenas dade de acontecimentos sociais espon- ao mesmo. Os agentes vão querer manter
num indicador. tâneos. Confina-se para manipular a in- algumas vantagens adquiridas durante a
Isto exige o conhecimento e aplica- teracção humana e suspender tempora- pandemia. Mas estou em condições de ga-
ção de conceitos simples à tomada de de- riamente algumas variáveis. Simplifi- rantir que a maioria dos cidadãos de Nova
cisão em gestão: causalidade circular, re- ca-se a tomada de decisão anulando ar- Iorque retomará a actividade sexual da
lações fortes vs fracas, perspectivas, flu- tificialmente a complexidade e adiando sua preferência assim que a vacina vier.
xos, informação, delay de interacção, es- as consequências. Felizmente, a maioria das coisas volta-
truturas de reforço e equilíbrio, envie- Excepto em monopólio ou manipula- rá a ser o que era antes da Covid-19, embo-
samentos cognitivos, modelos mentais, ção ilegal, as empresas não têm o poder ra com alterações. Infelizmente, a forma
propriedades emergentes, entre outros. de determinar o que acontece ao seu mer- de modelar problemas será uma delas.
Distinguir criticamente variáveis, cado. Devem por isso ser muito melhores Mas é isso que dá sentido ao desenvolvi-
grupos-alvo, geografias ou territórios; que os governos a entender como funcio- mento de equipas executivas: melhorar
qualificar relações entre indivíduos, gru- nam os ambientes internos e externos. a qualidade do pensamento e a eficácia
pos e variáveis; mapear perspectivas dos Uma equipa executiva tem esta tare- das decisões. E, se tudo correr bem, esse
agentes; e entender o contexto do siste- fa facilitada porque o grau de complexi- trabalho também continuará.

Human Resources Portugal 101


Gestão de Talento

Teresa Lopes Gândara


Human Capital director da Noesis

NOESIS
de esta ser uma área de “pleno emprego”,
as organizações são, cada vez mais, exi-

UMA CULTURA gentes nos perfis que recrutam, procuran-


do, sobretudo recursos capazes de serem

ORIENTADA PARA
ágeis e de se adaptarem de forma rápida
às constantes inovações do sector. «Não
é fácil para a Noesis reter os melhores ta-

AS PESSOAS lentos num mercado de pleno emprego e,


por isso, apostamos muito numa cultura
orientada para as pessoas, promovendo a
proximidade, fomentando o conhecimen-
Conscientes da dificuldade de reter os melhores talentos to e o desenvolvimento das suas compe-
num mercado de pleno emprego, a Noesis aposta tências únicas», sublinha a responsável.
numa «cultura orientada para as pessoas, promovendo Actualmente, os candidatos procu-
ram e valorizam a relevância do projecto,
a proximidade, e fomentando o conhecimento e o a posição e o impacto que poderão ter na
desenvolvimento das suas competências únicas». organização, a diversidade de oportuni-
dades, um ambiente saudável e a possi-

O
bilidade de progressão de carreira e de
mundo das tecnologias tecnologia e negócio, sendo que encoraja- desenvolvimento de competências.
de informação vive tem- mos as nossas equipas a inovar com solu- Esta evidência leva a Noesis a valori-
pos de enorme transfor- ções diferenciadoras, procurando sem- zar candidatos dedicados, que mostrem
mação. A mudança é par- pre criar valor sustentável», afirma Tere- um forte espírito de equipa. «Procuramos
te integrante do merca- sa Lopes Gândara, Human Capital direc- talentos flexíveis, curiosos e audazes, que
do e todos têm de se adaptar de forma rá- tor da Noesis, consultora tecnológica in- sejam movidos pela inovação», afirma,
pida. Paralelamente, surgem modifica- ternacional cuja actividade se sustenta acrescentando: «Valorizamos também
ções nas áreas do recrutamento e da gestão em quatro pilares: infra-estrutura, soft- pessoas dispostas a aceitar desafios in-
de talentos, que obrigam a um maior es- ware, qualidade e pessoas. ternacionais, para integrarem tempora-
forço por parte das organizações e neces- Olhando para Portugal, observa-se riamente os nossos projectos em países
sidade de desenvolver novas estratégias. uma grande dinâmica no que diz respeito como a Irlanda, a Holanda e os EUA.»
«Na Noesis somos reconhecidos pela à captação de talento, o que provoca cres- Maioritariamente, a Noesis procura
nossa experiência e conhecimento em centes desafios no recrutamento. Apesar talentos nas tecnologias de informação,

102 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

como developers, data scientists, testers, dispõe de uma avaliação de desempenho porte interno, que têm sido incansáveis
e outros perfis técnicos, bem como gesto- anual, baseada em três pilares: avaliação a responder a todos os requisitos».
res de projecto, produto e delivery, com de soft skills, de competências técnicas Para a responsável, a base para um
diferentes níveis de experiência. específicas e de objectivos. «O processo melhor desempenho e sucesso das equipas
A responsável pelos Recursos Huma- desenrola-se numa aplicação da Noe- passa por apoiar o desenvolvimento indi-
nos da Noesis acredita que deve existir sis, o WeValU, e permite ainda solicitar vidual fomentando a produtividade, a mo-
uma aposta na estratégia de Employer a avaliação a terceiros – sejam clientes, tivação e, consequentemente, a probabili-
Brand, a qual deverá incluir formação e pares ou qualquer outro colaborador –, dade de sucesso da organização. «Pessoas
qualificação contínua. «Uma estrutura de determinar os objectivos para o ano e as com formação especializada requerem
formação eficiente, conjugando a apren- necessidades de formação», revela Te- um menor investimento em supervisão e,
dizagem on-the-job e academias internas resa Lopes Gândara, assegurando que o com formação regular, torna-se mais fácil
de formação, em que o conhecimento é processo passa sempre por uma (ou mais) identificar oportunidades, tanto a nível
partilhado entre talentos, com meios onli- reuniões presenciais entre avaliador e interno como no contexto do mercado.»
ne e desenvolvimento autónomo, assegu- avaliado, sendo que este é um passo fun- Desta forma, corresponder às expec-
ra diversas vantagens para qualquer or- damental para a organização. tativas de formação dos talentos, incen-
ganização e para os seus colaboradores.» Na opinião da responsável, «o WeValU tivando o desenvolvimento das suas car-
Ao nivel da avaliação de desempenho é um suporte essencial ao processo» e, reiras é para a Noesis a possibilidade de
dos colaboradores, para além de avaliações como tal, «tem vindo a ser alvo de me- contribuir directamente para a sua satis-
informais ao longo do ano, a organização lhorias frequentes pelas equipas de su- fação e realização profissional.
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RECRUTAMENTO
E SELECÇÃO

106 ENQUADRAMENTO
CASOS
108 FIND
112 NOS
116 RANDSTAD
Recrutamento e Selecção

ENQUADRAMENTO

A COVID-19 E OS DESAFIOS
DO RECRUTAMENTO PARA 2020
Como o recrutamento se deve adaptar à pandemia do coronavírus.

C
ontudo, o coronavírus pas- Em vez de entrarem em pânico ou de  Temos os meios para preparar e pro-
sou de um surto para uma verem o recrutamento e o emprego como teger as pessoas no local de trabalho.
pandemia global genera- algo destinado ao fracasso, os emprega-  Podem facilmente fazer com que o
lizada. O público em geral dores devem pensar em formas de asse- trabalho e o fluxo de recrutamento se-
está a confinar-se nas suas gurar que os seus escritórios e possíveis jam digitais.
casas e isto significa dificuldades para ne- colaboradores estão a salvo da ameaça
gócios e instituições de todos os sectores. da COVID-19. R Tornar o recrutamento digital
A taxa de emprego (que atingiu má- Existem três pontos que empregado- É verdade que uma pandemia global é
ximos históricos no final de 2019) deve res e colaboradores devem ter em conta: uma razão suficientemente boa para hesi-
cair nos próximos meses. Algumas em-  A ameaça do coronavírus não signifi- tar. Contudo, compreender como a amea-
presas estão a pensar em suspender os ca que ninguém está a contratar ou que ça se propaga e como as pessoas contraem
seus processos de contratação até que os candidatos não estão activamente à o vírus pode ajudar a preparar melhor o
a situação melhore. procura de vagas. processo de recrutamento.

106 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

É possível que estejam à procura de


candidatos online. Quer usem redes so-
Tornem o recrutamento digital,
ciais, portais de emprego, software avan-
çado de recrutamento e selecção ou outro
aproveitem as reuniões virtuais,
qualquer software, esta fase do proces- estabeleçam ligações online e mantenham
so não tem de mudar. Há pouco contac-
to com o candidato para lá de chamadas
diálogos com talentos promissores.
telefónicas e emails.

R A entrevista
As entrevistas digitais são uma vitória semelhantes aos nossos colegas. É esta ajudar-vos a criar a equipa que sempre de-
absoluta nesta situação. Não só se prote- a principal razão por que os empregado- sejaram; o talento certo para a vaga certa.
gem a vocês, aos vossos colaboradores e res evitam o modelo de trabalho remoto. Quando os computadores foram de-
aos candidatos, como também demons- Por outro lado, se estão a contratar senvolvidos pela primeira vez e a internet
tram aos possíveis colaboradores um durante uma pandemia de COVID-19, faz começou a dar os primeiros passos, todos
procedimento de flexibilidade. sentido adoptar este modelo, tanto para previram o trabalho remoto como resul-
Pedir aos candidatos para que a entre- novos colaboradores como para os ac- tado final. Agora, temos um mundo to-
vista seja feita remotamente, a partir de tuais. Na verdade, visto que este surto talmente digital à nossa disposição. De-
uma localização pessoal ou familiar, é um tem sido perturbador, o melhor é ofere- pendendo do cargo, é possível estarmos
conceito naturalmente bem recebido. Na cer trabalho remoto aos candidatos e ausentes do escritório para cumprirmos
verdade, com a situação da COVID-19, o colaboradores, sempre que possível. todas as nossas tarefas.
gesto por si só fará com que queiram ain- Este modelo é uma opção perfeita-
da mais trabalhar para a vossa empresa. mente válida para manter as operações R A preparação é essencial
a funcionar durante esta crise. Conside- Quer mais situações em que há traba-
R O candidato rem talvez um software com funções lho remoto, quer não, é importante lem-
Depois da fase da entrevista, o contacto de boas-vindas e recepção para ajudar a brar que o surto global não é tão assus-
com o candidato pode ir para lá do mun- monitorizar e avaliar o desempenho do tador para umas pessoas como é para
do digital. Nesta altura, os empregado- candidato durante o processo de traba- outras. Criem uma cultura de práticas hi-
res devem temer que a doença atinja o lho remoto. giénicas no trabalho onde os colaborado-
candidato no primeiro dia de trabalho. res mantêm o seu bem-estar (através do
Mas as perguntas na entrevista po- R As lacunas no talento uso regular de antisséptico para as mãos,
dem ser aqui a solução. Perguntem ao can- As lacunas no talento são um desafio contacto físico limitado como apertos de
didato se se tem mantido resguardado. É global recorrente há anos. Os emprega- mão, ter noção do seu bem-estar físico,
importante notar que o que descrevemos dores têm lidado com esta questão de entre outros).
aqui é válido desde que não viole ou vá melhor forma que podem, contratando Mesmo que não queiram arriscar
contra as leis e regulações locais. Se há a e formando colaboradores que ainda não uma contratação até tudo estar termi-
suspeita de que um candidato foi expos- têm conhecimentos ou competências nado, podem ainda assim preparar-se
to à COVID-19, uma quarentena voluntá- para a posição. para tal. Tornem o recrutamento digi-
ria é altamente recomendada. A própria solução é admirável, apesar tal, aproveitem as reuniões virtuais, es-
A situação é diferente para as agên- de exigir bastante mais tempo e esfor- tabeleçam ligações online e mantenham
cias de recrutamento. Como normalmen- ço para que estes candidatos estejam diálogos com talentos promissores para
te gerem grandes bases de dados de can- actualizados. Embora a pandemia vá futuras colocações.
didatos, devem pensar em usar um siste- provavelmente dificultar um pouco a A pandemia de COVID-19 acabará
ma de monitorização. pesquisa pelo talento certo, também nos por passar, embora não saibamos quan-
dá a possibilidade de considerar um re- do. Mas sabemos que o recrutamento não
R O modelo crutamento global. tem de ficar suspenso até esta crise pas-
O modo como os colaboradores se moti- A maioria das pessoas evitará viajar sar. Na verdade, quando este surto termi-
vam mutuamente num escritório é um num futuro próximo, e o talento de que nar, os empregadores terão pouco tempo
factor importante para a produtividade. precisam pode estar do outro lado do para contratar e para se posicionarem
É um facto psicológico simples – adop- mundo. Estar abertos a um modelo de para a próxima fase de crescimento.
tamos e demonstramos características trabalho remoto a longa distância pode FONTE: manatal.com

Human Resources Portugal 107


Recrutamento e Selecção

FIND

FLEXIBILIDADE E AGILIDADE
COMO PALAVRAS DE ORDEM
A actual pandemia trouxe desafios a todos os sectores, e o do Recrutamento
não é excepção. Há princípios base que é preciso manter, mas também é preciso
uma adaptação às novas necessidades. E algumas mudanças vieram para ficar.

108 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

C
om 15 anos de experiência dam a gerar mais situações de integração dade para refrescar a sua forma de tra-
no recrutamento e consul- e/ou fusão de equipas e até de socieda- balhar, mostrando-se mais ágil na adap-
toria no universo do Direi- des de advogados e de algum reforço dos tação e na resposta às necessidades dos
to, a FIND trabalha diaria- departamentos jurídicos. seus clientes.
mente «com sentido cria-
tivo e espírito de melhoria contínua na Em termos de recrutamento, quais os as- Percebem se há, por parte das empresas, a
prestação de serviços». Fazendo uso do pectos essenciais que devem ser levados preocupação de se tornarem mais digitais?
seu «conhecimento específico e apro- em conta, neste contexto de excepção? Claramente. Mesmo no mundo do Di-
fundado», investe no contacto com os Sempre colocámos uma atenção muito reito – mais conservador por natureza
candidatos, realidade que lhe permite especial na percepção da necessidade do – há a percepção da necessidade de dar
a necessária agilidade de resposta para cliente e no aconselhamento do recru- lugar, em certos temas, às tecnologias
continuar a fazer face às necessidades tamento, quando e se o mesmo fizesse enquanto ferramentas importantes na
dos clientes. Em entrevista à Human efectivamente sentido, de acordo com as melhoria da eficiência e produtividade.
Resources, Filipa Mendes Pinto, funda- linhas de negócio decididas pelo cliente.
dora e partner da FIND destaca também Nesta fase, aconselharia, mais do que No pós-pandemia, de que forma podem as
como está o sector do Recrutamento a nunca, total transparência no processo, empresas fazer uma melhor triagem das
responder à crise actual. de forma a serem explicitadas as expec- pessoas perante o volume da oferta, que
tativas e capacidades de um lado e do vai certamente crescer?
A FIND é a única empresa portuguesa de outro, elevaria a exigência da avaliação O foco deverá continuar a ser o de saber
recrutamento e consultoria com especia- de determinadas competências, como muito bem qual a necessidade senti-
lização e exclusividade para o mundo do sejam as relativas à capacidade de adap- da, para melhor identificar o perfil que
Direito. Sendo uma actividade tão espe- tação, flexibilidade e sentido de compro- se pretende recrutar e, desta forma,
cífica, qual o impacto imediato que sen- misso, e não penalizava o tempo con- mais facilmente seleccionar quem se
tiram no recrutamento deste sector, como cedido a cada processo, pois o recruta- ajusta ao perfil.
consequência da actual pandemia? mento e a filosofia que o norteia devem
Como impacto imediato tivemos a sus- continuar a ser uma bandeira diferen- E como é que isso se vai processar?
pensão de alguns processos, mas simul- ciadora de cada organização. Aqui assumirá especial importância a
taneamente, a continuidade e a conclu- fluidez da comunicação dentro da em-
são com o desejado sucesso de outros. Digitalização é, hoje mais do que nunca, a presa, evitando-se uma atitude muito tí-
palavra de ordem, nomeadamente no re- pica portuguesa que é a de assumir que
O novo coronavírus também está a criar crutamento, dadas as restrições às deslo- o outro – o que vai ficar responsável por
oportunidades de emprego, nomeada- cações. Acha que vai mudar irreversivel- conduzir o processo de recrutamento
mente nos sectores de bens essenciais. No mente a forma de recrutar? – sabe qual é a necessidade.
sector onde actuam, como se reflecte esta Esta crise e o confinamento a que obri- Por outro lado, a empresa deve re-
realidade, sendo que as sociedades de ad- gou vieram potenciar as capacidades de visitar os critérios de avaliação de for-
vogados têm estado também particular- relacionamento por via digital, confe- ma a estar segura que os métodos e pro-
mente, dadas as novidades de legislação rindo uma naturalidade ao contacto por cedimentos que aplica – seja em con-
que quase diariamente sai relacionada essa via, até para as gerações mais “se- texto de entrevista, seja em contexto de
com as medidas para fazer face à crise? niores”. E veio para ficar. complementos de avaliação, podendo
O mundo do Direito sente, por norma, O recrutamento é um sector que deve estes ser de vária ordem – continuam
as situações de crise num tempo ligei- ver neste momento uma clara oportuni- ajustados ao propósito da empresa e ao
ramente mais tardio que os demais sec-
tores. Em 2008, o grande impacto de-
morou cerca de dois anos, agora o maior O recrutamento é um sector que
impacto sentir-se-á em meses, dada a
transversalidade desta pandemia, em
deve ver neste momento uma clara
termos sectoriais, e dada também a sua oportunidade para refrescar a sua forma
dimensão mundial. Neste âmbito, ante-
cipo que as oportunidades surjam, não de trabalhar, mostrando-se mais ágil.
tanto no imediato, mas mais a partir do
quarto trimestre, e que as mesmas ten-

Human Resources Portugal 109


Recrutamento
Comunicação Interna
e Selecção

caminho que esta fase, nova para to-


dos, irá ditar.

De que forma está a FIND preparada para


responder à procura no pós-COVID-19?
A forma como temos sempre pautado a
nossa actuação, por um lado, e o inves-
timento que colocamos nos contactos
com os nossos candidatos, por outro, per-
mitem-nos ter a necessária agilidade
de resposta para continuarmos a fazer
face às necessidades dos nossos clientes.

Que novos desafios enfrentam as empre-


sas da área ao nível da gestão e valoriza-
ção dos seus recursos humanos?
Esta vivência a que todos fomos forçados
nos últimos dois meses trouxe o bene- Quais é que são os principais pilares da Filipa Mendes Pinto
fício de desmistificar a importância da vossa actuaçao? Fundadora e partner da FIND
presença física, no local de trabalho, à Diria conhecimento do mercado e das
qual as sociedades de advogados eram suas necessidades, proximidade e leal- aumento da produtividade pela necessi-
especialmente sensíveis, sem que tal dade na relação com os clientes, rigor e dade de maior foco durante a realização
afecte, necessariamente, a capacidade sigilo na condução dos processos. das tarefas e, ainda, a capacidade de va-
de produção e entrega. lorizar o curto prazo em detrimento da
Neste sentido, será muito provável Qual a missão e a filosofia de trabalho ansiedade com o longo prazo.
que não apenas o teletrabalho mas tam- da FIND?
bém a gestão mais flexível dos tempos Trabalhar todos os dias com sentido A agilidade representa aqui um factor
alocados à vida profissional ganhem um criativo e espírito de melhoria contínua muito importante?
espaço de reconhecimento que até ago- na prestação de serviços cada vez mais Sem dúvida. Flexibilidade e agilidade
ra se tinha mostrado difícil. estratégicos e cirúrgicos, fazendo uso do serão palavras de ordem estruturantes
nosso conhecimento específico e apro- dos próximos tempos.
De que forma a vossa empresa actua junto fundado e da nossa experiência de 15
dos seus clientes? anos neste ramo. Quando for possível retomar a normali-
A FIND comemora em 2020 os 15 anos dade, como acha que o panorama do re-
de actividade e, se há um denominador Quais as mudanças significativas que po- crutamento se vai comportar e que ensi-
comum na opinião dos nossos clientes, dem surgir perante as novas formas de namentos retiram desta situação?
arriscaria dizer que é a proximidade da trabalho implementadas, como é o caso Todas as situações de crise são geradoras
relação e a confidencialidade na gestão do teletrabalho? de oportunidades e, neste âmbito, o sec-
da informação e condução dos proces- Uma das principais será o reconhecimen- tor do recrutamento vai continuar a de-
sos. E isto para nós é, sem dúvida, muito to da qualidade do trabalho prestado em senvolver um papel fundamental na iden-
esclarecedor da forma como actuamos. local diferente do habitual, bem como do tificação e avaliação do talento, o qual
será, como o foi e é, determinante para

A vivência actual veio desmistificar a o sucesso das empresas. No entanto, es-


tes momentos são igualmente esclare-
importância da presença física no local cedores para aqueles que norteiam a sua
conduta por valores menos robustos e
de trabalho, à qual as sociedades de por uma atitude menos consistente e

advogados eram especialmente sensíveis. rigorosa, em busca de um sucesso mais


rápido. São momentos que mostram a
enorme importância da auto avaliação,
pessoal e institucional.

110 Human Resources Portugal Maio 2020


Recrutamento e Selecção

A
NOS, consciente do seu
papel social no apoio às
famílias, empresas e ins-
tituições, mantém a co-
municação permanen-
te com os seus colaboradores e reinven-
tou-se nos processos de recrutamento e
selecção. Mónica Fernandes, responsável
pela área de Talent Acquistion da NOS,
fala-nos destes novos desafios.

Qual a estratégia da NOS ao nível do re-


crutamento e selecção?
A equipa de Talent Acquisition procura
recrutar perfis diversificados, adapta-
dos às necessidades específicas do ne-
gócio e à transformação que estamos a
levar a cabo na empresa. Isso implica
uma triagem muito criteriosa dos can-
didatos que convidamos para integrar
a nossa empresa.
Recorremos a uma pool interna e
diversa de entrevistadores para obtermos
validações, sob diferentes perspectivas,
dos perfis dos candidatos. Esta é uma
grande mais-valia, em particular para
minimizar um erro frequente nos proces-
sos de recrutamento: uma validação pu-
ramente técnica para a função em causa.
É fundamental ter pessoas com as
skills certas para a posição para a qual es-
tamos a recrutar, mas também é impor-
NOS tante encontrar talento com potencial de
evolução e de adaptação à mudança, ou

A NECESSIDADE DE
seja, têm de ter potencial de crescimento
para, a médio prazo, exercerem outras
funções, sobretudo em empresas como

REINVENÇÃO E OS a nossa, que está num sector altamente


competitivo e susceptível a alterações.

NOVOS DESAFIOS Essa aposta na capacidade de adaptação


deu-vos “vantagem” no actual contexto?
Sim, sem dúvida, deu-nos uma vantagem
grande na adaptação às mudanças que im-
A situação de pandemia provocada pelo surto de COVID-19 plementámos para responder aos desafios
veio mudar a dinâmica das empresas mas, simultaneamente, que a pandemia nos colocou. Consegui-
veio dar vida a novas oportunidades de trabalho e a novas mos, por exemplo, num curtíssimo espa-
formas de trabalhar. Atenta a novos desafios, a NOS está ço de tempo, accionar o trabalho remoto,
mantendo o funcionamento da empresa
a reinventar-se. e das actividades essenciais, em resposta
ao contexto do País, empresas e famílias.

112 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

Além disso, permitiu-nos também recrutamento, optámos por utilizar ape-


ter colaboradores que continuam a exer- nas como rede social o LinkedIn.
cer, a partir de casa, as suas habituais O site da NOS é tem também um pa-
funções, mas temos outros que estão a pel importante na estratégia de recru-
desempenhar funções completamente tamento. Na área “Carreiras” apresen-
diferentes, para endereçar com sucesso tamos as nossas oportunidades e teste-
os desafios que nos permitiram conti- munhos dos nossos colaboradores, e há
nuar a operar de forma eficaz e eficiente. muitas candidaturas que nos chegam
por essa via. Mas também consideramos
Em concreto no que respeita ao recruta- que a “melhor rede social” são os nossos
mento e selecção, que medidas e even- colaboradores. Ninguém melhor que as
tualmente novos processos adoptaram? nossas pessoas para promover a NOS,
Nada parou na NOS. Fizemos as adapta- mostrar o sentimento de pertença, di-
ções necessárias e estamos a utilizar as namismo, ousadia e orientação ao clien-
ferramentas digitais para que os processos te que impera na organização. O orgu-
de selecção em curso e os novos continuem lho de fazer parte de uma empresa que
a ter lugar. Estamos a realizar entrevistas é muito presente na vida dos portugue-
digitais aos nossos trainees, fazemos en- Mónica Fernandes ses é uma ferramenta humana valiosa.
Responsável pela área de Talent
trevistas aos candidatos através de plata-
Acquistion da NOS
formas online, continuamos a ter os nos- Como é que se realiza agora o onboarding
sos anúncios publicados e a receber can- dos colaboradores?
didaturas. Para o nosso programa de está- Há abordagens que já mudámos e ou- Estamos a fazer tudo o que fazíamos an-
gios, o NOS Alfa, vamos manter a realiza- tras que obrigatoriamente iremos mu- teriormente, mas essencialmente atra-
ção de open days, só que desta vez online. dar, pois o mundo mudou! Vamos adap- vés de vídeo. O contacto inicial continua
A equipa de recrutamento continua a tar-nos à mudança, como sempre fize- a ser presencial, com todas as medidas
trabalhar a 100%, mas em modo remoto. mos, tendo a protecção e o bem-estar de segurança e higiene recomendadas.
E com sucesso. Fazemos reuniões digi- nos nossos colaboradores como priori- Temos um elemento da equipa de Re-
tais de equipa e até criámos espaço para dade e procurando assegurar a excelên- cursos Humanos que está fisicamente
um “café virtual” diário, onde partilha- cia da prestação dos nossos serviços às nos edifícios da NOS e que, na semana
mos experiências profissionais e, sobre- famílias, empresas e instituições, agora anterior à entrada efectiva, recebe o novo
tudo, pessoais. É sempre um momento e no futuro. colaborador e partilha todos os elemen-
muito agradável neste contexto e uma tos necessários a que a sua integração
forma de manter a equipa ligada e unida. De que forma estão a evoluir os processos se faça de forma natural. Depois, reali-
de recrutamento com a transformação zamos uma sessão de welcome online,
Que mudanças significativas podem sur- digital? As redes sociais, nomeadamen- onde é dada uma visão geral sobre o gru-
gir perante as novas formas de trabalho te o LinkedIn, são ferramentas eficazes, po. O passo a seguir é ser integrado pela
implementadas, como o teletrabalho? sobretudo agora?  sua nova liderança na equipa.
As empresas estão agora perante um du- A transformação digital é uma aposta No contexto actual esta integração
plo desafio: adaptar a forma de traba- da NOS há já muito tempo, que agora se é um desafio gigante, mas as lideranças
lhar no seu core business e, simultanea- tem revelado crucial para o dia-a-dia da e as equipas têm demonstrado que são
mente, planear e implementar planos empresa. Estrategicamente, ao nível do capazes de fazer a diferença para con-
de continuidade como resposta ao con-
texto que vivemos. A história já nos en-
sinou que as épocas de crise são também Nada parou na NOS. Fizemos as
oportunidades únicas para nos reinven-
tarmos na proximidade e no estilo de li-
adaptações necessárias e estamos a
derança. A NOS já se estava a preparar utilizar as ferramentas digitais para que
para novos formatos de colaboração antes
desta pandemia. Nunca o pensámos nes- os processos de recrutamento continuem.
ta magnitude, mas o facto é que os con-
seguimos implementar em poucos dias.

Human Resources Portugal 113


Recrutamento
Comunicação Interna
e Selecção

seguir que esta integração seja feita da


melhor forma. Acreditamos que é pos-
sível. E que estamos a fazê-lo na NOS.

Que tipo de perfil mais procuram?


Além dos conhecimentos académicos, é
essencial que sejam pessoas motivadas
e ousadas, que desejem fazer a diferença
num mercado tão competitivo e dinâ-
mico como o das telecomunicações, e
numa empresa visionária como a NOS.
Procuramos também cruzar áreas de for-
mação –Engenharias, Gestão, TI, Ana-
lytics, Marketing – com áreas de actua-
ção –Advanced Analytics, Big Data, Cy-
A história já nos
bersecurity, Software Development, Sys- ensinou que as
épocas de crise
tem Engineering, Robotics, Multime-
dia, Digital, Marketing, Produto, Audito-
ria, Financeira, Logística, Comunicação,
Consultoria e Comercial.
são oportunidades de advanced analytics através do NOS
Alfa Tech, programa que lançámos este
únicas para nos ano e que esperamos fazer crescer na

reinventarmos na
Para além dessas competências mais téc- próxima edição.
nicas, que qualidades/ características  
deve um candidato ter para trabalhar no
Grupo NOS?
proximidade e no Quais são os maiores desafios no que diz
respeito ao recrutamento?
Temos um modelo de competências pelo estilo de liderança. Existe continuamente a necessidade de
qual todos os nossos colaboradores são encontrar novos colaborares que deem
avaliados, pelo que procuramos pessoas resposta à evolução da NOS e das suas
com capacidade de liderança, ousadia, equipas. A selecção dos candidatos não
muito talento, sentimento de orgulho, é feita apenas pelas suas competências
adaptação à mudança, fortes a traba- ganham alguma sensibilidade para as ou especialização na função, vai muito
lhar em equipa, resilientes, focadas no diferentes áreas e funções que possam para além destas capacidades técnicas.
sucesso e com uma incessante orienta- existir, ou estágios curriculares numa É crucial hoje a procura da combi-
ção ao cliente. Acima de tudo, pessoas equipa específica onde podem aplicar os nação entre valores, atitudes e energia
capazes de contribuir no processo de conhecimentos adquiridos na univer- do candidato com a nossa missão e va-
transformação da NOS. sidade até ingressarem no nosso pro- lores. Desta forma é possível recrutar as
grama de trainees – o NOS Alfa. pessoas certas para integrar as diversas
Que tipos de programas de estágios pos- É um programa de 12 meses que visa equipas e connosco darem continuidade
suem. Continuam a funcionar? o desenvolvimento dos trainees através ao caminho que queremos seguir. Con-
Sim, continuam a funcionar, ainda que de rotação por duas áreas de negócio, tem tinuamos a fazer este trabalho, agora
de forma diferente, com todas as adapta- um programa de mentoring e acompa- de forma mais digital.
ções necessárias. Estamos a capitalizar nhamento muito fortes, aliados a uma
os vários programas e parcerias que a formação específica e desenhada à me- Diria que trabalhar na NOS é...
NOS mantém com diversas instituições dida. Com o NOS Alfa, pretendemos que É ser parte integrante de uma equipa
de ensino. A aposta na relação com os os trainees adquiram as ferramentas fantástica, que cria oportunidades e de-
estudantes universitários é muito im- essenciais para o seu desenvolvimento senvolve os seus colaboradores e que pro-
portante para a organização. pessoal e construção das suas carreiras cura incessantemente a inovação, trans-
Existe a possibilidade de realizarem na NOS. O programa destina-se a finalis- formação, novos serviços que respondam
um estágio nos meses de verão onde ini- tas de mestrado de diversas áreas, exis- às necessidades dos portugueses. É com
ciam, muitas vezes, os seus primeiros tindo também a possibilidade de uma enorme orgulho que faço parte desta em-
contactos com o mundo empresarial e especialização nas áreas tecnológicas e presa! #VamosFicarLigados.

114 Human Resources Portugal Maio 2020


Melhor Empresa
Gestão de Talento
Gestão de Seniores
Envelhecimento Activo
e Preparação para a Reforma
Espírito de Equipa
Equilíbrio Empresa
Vida Pessoal e Flexibilidade
Diversidade e Inclusão
Comunicação Interna
Inovação em Gestão de Pessoas
Employer Branding
Responsabilidade Social
Responsabilidade Social – PME
Promoção de Saúde,
A Revista Human Resources Portugal premeia Bem-Estar e Felicidade

AS EMPRESAS MAIS Mobilidade na Carreira


Estabelecimento de Ensino

EM PORTUGAL Empresa Pública e SPE


Tecnologia
e Transformação Digital
Votações em hrportugal.pt
Academias
Meritocracia
Eventos Internos
Onboarding e Integração
Prestação de Serviços
Formação
Prestação de Serviços
Recrutamento e Selecção
Prestação de Serviços
Consultoria
Prestação de Serviços
Portuguesa
Prestação de Serviços
Global
Director de Recursos Humanos
Ceo

Para mais informações: joana.lagarto@multipublicacoes.pt ou 210 123 432


Recrutamento e Selecção

RANDSTAD

NOVAS SOLUÇÕES, MANTENDO


O FOCO NO ESSENCIAL
Com a pandemia COVID-19, a esmagadora maioria das empresas decidiu congelar
os processos de recrutamento em curso. Mas nem todas. E isso obrigou a mudanças
significativas nas formas tradicionais de contratação. Para a retoma que começa
a dar os primeiros passos, avizinham-se grandes desafios.

116 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

Só empresas ágeis, com liderança


exercida a todos os níveis da organização,
e com processos simples, conseguirão
vingar neste novo cenário económico.

modo a tornar o processo cada vez mais com esta urgência, como se assegura que
inteligente e estratégico. seja feita a escolha mais acertada para
Sendo que a digitalização não era já a empresa?
nada de novo no Recrutamento e Selec- A esmagadora maioria do recrutamento
ção, a actual pandemia veio trazer alte- que foi feito por empresas de distribui-
rações muito significativas, porque «fo- ção foi de perfis operacionais e pouco
mos todos, de forma repentina, obrigados qualificados, pelo que os principais cri-
a trabalhar de forma 100% digital», e térios foram disponibilidade e experiên-
isso sim é completamemente novo, faz cia na função, não tendo feito avaliações
notar Nuno Troni, director das áreas de de competências ou de potencial.
Professionals, Outplacement, Human
Consulting, R.P.O. da Randstad Portugal. E o novo coronavírus não está também a criar
E explica em que é que isso se traduziu outras oportunidades de emprego. Como
na prática, bem como as perspectivas se reflecte esta realidade em números?
que se adivinham para esta área. Parece Ainda é cedo para termos certezas e da-
certo que «o mercado voltará a ser client dos concretos, mas o que conseguimos
driven, embora por um período de tempo antever é que o saldo entre empregos
relativamente curto». criados e perdidos é francamente desfa-
vorável, especialmente se tivermos em
Qual o impacto imediato da actual pan- conta que a maioria dos recrutamentos
demia no recrutamento? feitos são por um prazo específico e para
O impacto foi enorme e abrupto, com responder a um pico de procura que di-
a esmagadora maioria das empresas a ficilmente se vai manter.
decidir congelar os processos de recru- Nos perfis qualificados, notamos que
tamento em curso, optando por aguardar as Tecnologias de Informação continuam
pelo fim da pandemia e por uma esta- em alta, com os perfis ligados a transfor-

E
bilização da economia para tomarem a mação e marketing digital a registarem
nquanto disciplina de Re- decisão de continuarem ou não com os maioria procura.
cursos Humanos respon- processos de recrutamento. Os dados de
sável pela atracção dos me- que dispomos indicam que, não só gran-
lhores candidatos para a de parte dos processos não vão ser reto-
ocupação das vagas de em- mados, como há intenção de diminuir
prego numa empresa, o Recrutamento e o número de colaboradores, em sentido
Selecção avalia o candidato para perceber contrário ao pré COVID-19. Alguns sec-
as suas competências técnicas e compor- tores foram menos atingidos pela pan-
tamentais, bem como a compatibilida- demia e continuaram com os processos
de com a cultura organizacional. Com a em curso, sendo a Banca o mais evidente.
transformação do mercado de trabalho
pela tecnologia, esta área precisou de se O sector da Distribuição também teve
actualizar e evoluir, sempre com recurso necessidade de recrutar, para responder
a novas ferramentas e tecnologias, de ao aumento da procura. Em processos

Human Resources Portugal 117


Recrutamento e Selecção

Nuno Troni um conjunto de ferramentas que alia as através de e-learning ou fazer sessões
Director das áreas de Professionals, suas soluções tecnológicas à experiên- de live training.
Outplacement, Human Consulting, R.P.O.
cia dos seus consultores, para garantir
da Randstad Portugal
a melhor experiência nos processos de No pós pandemia, de que forma podem
gestão de talento. as empresas fazer uma melhor selecção
Digitalização é a palavra de ordem em tem- A conjuntura COVID-19 trouxe vá- das pessoas, perante o volume da oferta
pos de pandemia. De que forma se adapta rios desafios para as empresas, princi- que vai certamente crescer?
às necessidades do recrutamento actual? palmente para aquelas que não estavam Um processo de recrutamento e selec-
A digitalização do processo de recruta- familiarizadas com o trabalho à distân- ção deve ser célere, eficaz, criterioso e
mento não é um fenómeno novo. Já antes cia ou com o digital a 100%. Mantendo garantir uma boa experiência a todos
da pandemia tinhamos a capacidade e o foco na gestão de pessoas, a Randstad os candidatos. Uma das nossas plata-
experiência de conduzir o processo de disponibiliza agora às empresas a pos- formas permite agendar entrevistas di-
forma totalmente virtual, e com bons sibilidade de usufruírem de algumas das rectamente com o candidato, oferecendo
resultados. O que é novo é que fomos soluções digitais já utilizadas interna- várias hipóteses de dia e hora de forma
todos, de forma repentina, obrigados a mente com os seus clientes. automática, assisti-las na hora marca-
trabalhar de forma 100% digital, o que Trata-se de uma nova oferta comer- da ou quando lhe for mais convenien-
causou alguma apreensão numa fase ini- cial, acessível a partir do site. Recruta- te, convidar colegas para se juntar ao
cial, mas creio que hoje já estamos ha- mento, selecção, formação, gestão de processo de selecção e até partilhar os
bituados a trabalhar desta forma. pessoas e planeamento do futuro são resultados com quem necessita deles.
as cinco grandes áreas que compõem o Para a avaliação, podemos recorrer
A Randstad lançou um kit digital. Como kit digital da Randstad, no qual as em- a assessments 100% digitais, gamifica-
é que surgiu, em que consiste e qual é a presas vão poder encontrar as soluções tion e pedidos de referências de forma
sua finalidade? que melhor correspondem ao seu perfil, 100% digitais. Desta forma, garantimos
Para responder aos desafios do actual desde recrutar e receber colaborado- o máximo de informação sobre um de-
contexto e ajudar a diminuir o impacto res de forma 100% digital; utilizar uma terminado candidato, de forma célere e
da pandemia, a Randstad disponibilizou estratégia de “gamification” na selec- cómoda para o cliente, candidato e con-
às empresas um “kit digital”, que integra ção de talento, formar colaboradores sultor. Nenhuma destas valências é nova,

118 Human Resources Portugal Maio 2020


CADERNO ESPECIAL

apenas a forma como o fazemos – 100% gatoriedade de irmos diariamente ao


digital – é que se alterou. escritório representa um ganho de tem-
po enorme, aliado a uma necessária
Como se realiza o onboarding dos colabo- maior autonomia e consequente respon-
radores recrutados sem a presença física? sabilidade. Vamos também continuar
Esse é o grande desafio com que nos depa- a assistir à transição de foco na tarefa
ramos. Não sendo novo termos colabo- para foco no resultado, não sendo rele-
radores 100% remotos, receber um cola- vante as horas que trabalho e quando
borador novo num escritório vazio e com trabalho mas sim os resultados que ob-
uma ínfima parte da ocupação que tinha tenho. Os desafios para quem gere equi-
anteriormente constitui uma das grandes pas são enormes, porque implica uma
preocupações por parte de quem recruta. transição que nem todos estarão capa-
Acredito que será uma questão de citados para fazer.
adaptação e que rapidamente estare-
mos acostumados a depender muito mais A agilidade acaba por representar aqui
de interacções online do que hoje, mas o um factor importante?
processo de mudança oferece algumas Um factor fundamental mesmo. Só em-
questões. A contínua e crescente adop- presas ágeis, com liderança exercida
ção de ferramentas digitais, como o e- a todos os níveis da organização, com
-learning, será chave nesta transição. processos simples, eficazes e constante-
mente melhorados, com foco no cliente
Já conseguem perceber se há de facto, é que conseguirão vingar neste novo
por parte das empresas, a preocupação cenário económico.
de se tornarem mais digitais?
Mais do que preocupação, houve obriga- Como está a Randstad a preparar-se para
ção de o fazer. Era um tema muito fala- dar resposta a todas as necessidades que
do mas pouco implementado e quando, surgirão no pós confinamento, nomeada-
de repente, fomos obrigados a trabalhar mente no que ao Recrutamento e Selecção
a partir de casa de um dia para o outro, diz respeito?
muitas empresas tomaram consciência Nesta fase, em que o recrutamento caiu
do quão longe estavam de o conseguir a pique, dedicámo-nos a acompanhar
fazer. E digitalizar não é apenas termos ainda mais de perto os nossos candida-
computadores portáteis e podermos fa- tos e clientes, realizando vários surveys
zer reuniões à distância, significa mudar e partilhando informação de mercado,
processos e optimizar resultados. de forma a saber quais as empresas que
vão retomar e quando vão retomar.
Que mudanças significativas acredita Temos, neste momento, um conjun-
que podem surgir – ou ficar – na forma to alargado de candidatos, tanto a nível
como trabalhamos? operacional como de management, dis-
Acredito que vamos melhorar muito poníveis para abraçar novos projectos
a nossa qualidade de vida. A não obri- que podemos apresentar aos clientes
de forma imediata.

Digitalizar não é apenas termos Que realidade espera para a área do Re-

computadores portáteis e podermos crutamento e Selecção?


Vamos voltar à realidade de 2009/2012.
fazer reuniões à distância, significa O mercado voltará a ser client driven,

mudar processos e optimizar resultados. embora por um período de tempo rela-


tivamente curto, com poucas oportu-
nidades e com maior resistência à mu-
dança por parte dos candidatos.

Human Resources Portugal 119


Em Casa

MÚSICA

Guitarras ao Alto
Em 2020, perante o actual contexto
mundial associado ao surto de COVID-19
e num cenário em constante mudança
que implica restrições impostas pelas
autoridades à celebração de espectáculos
públicos, o evento, que celebra a sua
6.ª edição, irá realizar-se online. A
programação inclui os concertos de Bruno
Pernadas e Mário Delgado, a 14 de Maio;
Peixe e Frankie Chavez a 21; e O Gajo e
Gwenifer Raymond a 28. Serão transmitidos
em directo a partir do YouTube da Antena 3.

TEATRO MÚSICA

Noites de Teatro
Durante o mês de Maio, o Teatro
Experimental de Cascais dá continuidade
à iniciativa “Noites de Teatro”, com a qual
disponibiliza, através do seu canal de
YouTube, um conjunto de gravações
de criações teatrais suas. No dia 18
de Maio pode assistir-se a “Woyzeck”,
de Georg Büchner.

Wash Your Hands Say Yeah:


Festival Online
Com todos em casa a cumprir as indicações dos profissionais de saúde e com
os concertos cancelados ou adiados, são muitos os músicos que se juntam
para, através da internet, manterem contacto com o público. Wash Your
Hands Say Yeah – Festival Online é um desses eventos que junta músicos em
actuações quinzenais online através da sua página de Facebook.

120 Human Resources Portugal Maio 2020


EXPOSIÇÃO MÚSICA

Música da Casa
A plataforma de melómanos Música da
Casa está a organizar concertos pagos,
sendo o valor angariado através de uma
subscrição mensal. A iniciativa, que
começou em Abril, prossegue em Maio
com os concertos de LaBaq a 16, Daniel
Catarino a 24 e Birds are Indie a 29. Os
concertos são exclusivos para membros,
e visionados através de um grupo
fechado no Facebook.

O Museu em Casa
O Museu Calouste Gulbenkian propõe novas formas interactivas de descobrir e
explorar as suas colecções. Através do seu website, a instituição convida todos
a ver ou a rever, a partir de sua casa, os vários conteúdos que o museu tem
para oferecer, como a visita virtual que permite percorrer as várias galerias do
museu; os vídeos “Arte Num Minuto”, que apresentam 30 obras da Colecção do
Fundador e 30 obras da Colecção Moderna; ou Novas Leituras, Novos Olhares,
onde o museu convida conservadores, curadores, artistas e investigadores a
apresentarem novas leituras e novos olhares sobre as obras das suas colecções.

CONFERÊNCIA

Reflectir sobre
a longevidade
Em parceria com a Fidelidade, a Culturgest promove
um ciclo de três conferências transmitidas em live
streaming no seu Facebook e YouTube nos dias 20 de
Maio, 03 e 23 de Junho. Com o objectivo de reflectir
e debater sobre “Longevidade: Precisão, Implicações
Sociais, Regeneração”, o ciclo de conferências
percorre as biociências, as bioengenharias, a
demografia e a economia, para dar a conhecer as
mais recentes evoluções da medicina e tendências
da investigação sobre a longevidade, bem como as
interrogações e escolhas sociais e pessoais que se
nos colocam perante uma vida humana mais longa.

Human Resources Portugal 121


Opinião

ONDE HÁ PESSOAS HÁ
VIDA E HÁ ESPERANÇA
Sabemos que, por vezes, é preciso bater no fundo para aprendermos a reconhecer que cada dificuldade
encerra novas oportunidades e que as contrariedades não pagam dívidas na hora de recuperar, de progredir.

sim se explica que, em fases de teste à nos- venta na forma de gerir recursos, se re-
sa fragilidade ou procrastinação, esco- cusa a dar o flanco e a baixar braços pe-
Conceição lhamos erguer a cabeça e seguir em fren- rante a adversidade. Temos sabido apren-
Zagalo te no sentido de contrariar tudo o que der que a capacidade produtiva do nosso
Empreendedora social possa constituir obstáculo à sobrevivên- país, essa não está confinada. E que temos

P
cia física e anímica, e darmos passos fir- as melhores competências do mundo e
ertenço ao clube dos defen- mes rumo ao sucesso. empresas fabulosas capazes de nos fa-
sores de que no pós-2020 Instalada a calamidade a nível mun- zerem exportar cortiça, pasta de papel,
nada vai ser como dantes e dial, nem por isso o mundo parou. Mudou tomate, têxteis, calçado, vinho, cerveja,
que as pessoas e o mundo se- de hábitos, isso sim. Nunca como agora café. Até porque somos argutos e bons ne-
rão inevitavelmente diferentes. vi resultados tão rápidos da transforma- gociadores e sabemos fazer sempre mais
Se há uns meses nos dissessem que es- ção a que fomos obrigados. Novas me- e melhor e marcar pontos extra na nos-
taríamos hoje no estado em que estamos, todologias, novas ferramentas, novos sa economia. E sabem porquê? Porque os
muitos considerariam tratar-se de pura protocolos sociais, novas formas de tra- portugueses são fantásticos e as nossas
ficção. Se nos adiantassem que teríamos balho virtual, novos hábitos de comércio pessoas sabem que não podem deitar a
de nos fechar em casa e ficar meses a fio electrónico, alteração dos hábitos de con- perder a força e experiência colhidas de
fisicamente afastados de filhos, netos, sumo, de higiene, das rotinas de convi- novas janelas de oportunidade e de mo-
pais, amigos, colegas, acharíamos que vência, da aproximação a familiares, ami- delos de negócio aprendidos e desenvol-
estávamos a ver filmes. Se nos dessem a gos, vizinhos… Nunca como agora se par- vidos em tempos de emergência social.
possibilidade de trabalharmos comple- ticipou em tantos webinars, se assistiu Nos tempos que correm,v valorizamos
tamente à distância numa gestão par- a tamanhas demonstrações de solida- a nossa velha saudade de forma bem dis-
tilhada de responsabilidades profissio- riedade, se deu tanto ouvidos aos apelos tinta, é certo. À conta de muita privação
nais, tarefas domésticas e assistentes lançados por quem tem a responsabili- e de enormes sacrifícios. Mas também
académicos, consideraríamos muito pro- dade de conter a proliferação de um ví- de lições muito sérias sobre a conquista
vavelmente tratar-se de um cenário im- rus que teima em não nos dar tréguas. de metas inovadoras em matéria de cria-
provável e seguramente ingerível. Temos vivido tempos muito duros, tividade e de conjugação de empenhos
Mas, na verdade, sem que tenhamos é verdade. De privação, de dor, de mu- entre pessoas que não deixam créditos
tido tempo para digerir estes diferentes danças de paradigma. Choramos a per- por mãos alheias na hora de se supera-
capítulos do impossível, surpreendemo- da de tantos que partem sós, acompanha- rem em termos de propósito, de desem-
-nos todos os dias com a nossa própria mos o sofrimento de quem adoece de for- penho, de relevância.
capacidade de resiliência e de adaptação ma inusitada, de quem, em idade mais O futuro não vai ser fácil, não nos en-
à inevitabilidade dos factos, dando a volta madura, se encontra isolado “sine die”. ganemos. Nem vai ser igual. Mas vamos,
por cima e superando-nos em disciplina, Acompanhamos os que entram em lay- não duvidemos, dar a volta por cima e
autodeterminação, capacidade de con- -off, os que perdem o seu posto de traba- beber da grande constatação de que em
cretização com padrões de desempenho lho, os que vêem o seu futuro alterado. todas as transformações as pessoas se
e até de produtividade nunca vistos. Mas assistimos também a todo um sem- aprimoram na arte de enfrentar maiores
O homem é um animal de hábitos, é -número de novas frentes, de quem desafios e de conquistar novos avanços.
bem sabido. E também não é novidade reconverteu o seu modelo de negócio, an- Porque, nunca se duvide também,
que a dificuldade aguça o engenho. As- tecipa uma década de evolução, se rein- onde há pessoas há vida e há esperança.

122 Human Resources Portugal Maio 2020


kit digital
um conjunto de soluções

para dar resposta


a este momento desafiante
Às nossas soluções tecnológicas juntámos a experiência dos nossos
consultores e criámos um kit digital para as empresas responderem
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