Você está na página 1de 39

CONTABILIDADE

DA FOLHA DE
PAGAMENTO

Ronaldo Akiyoshi Nagai

Identificação interna do documento


Cálculo da folha
de pagamento
Ronaldo Akiyoshi Nagai

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Calcular os proventos da folha de pagamento.


> Identificar os descontos previstos na folha de pagamento.
> Apontar os encargos sociais e patronais sobre a folha de pagamento.

Introdução
Neste capítulo, você vai aprender quais são os elementos que compõem a
folha de pagamento, os proventos, os descontos e os encargos, a sua forma
de cálculo e as variantes que podem surgir nas diversas situações práticas
das organizações. As empresas têm por obrigação a preparação e o registro
da folha de pagamento, justificando a pertinência do estudo deste tema.

Principais cálculos da folha de pagamento


A folha de pagamento é uma relação de informações dos funcionários, na
qual são registradas as informações sobre os proventos e descontos dos
empregados. O documento é de preparação obrigatória pelo empregador, por
força do art. 225 do Decreto nº. 3.048, de 6 de maio de 1999 (BRASIL, 1999),
devendo ficar à disposição dos órgãos de fiscalização e auditorias interna
e externa. Não há um formato padrão ou oficial, sendo facultada a cada
em- presa a proposta do documento que melhor se adeque às suas
necessidades. A folha de pagamento é dividida em proventos e descontos.

Identificação interna do documento


2 Cálculo da folha de pagamento

 Proventos: salário, horas extras, adicionais (insalubridade,


periculo- sidade, noturno), outros previstos em lei.
 Descontos: imposto de renda retido na fonte, contribuições para a
previdência social, faltas, atrasos e penalidades, seguros, outros pre-
vistos em lei.

Antes de avançarmos nos proventos e descontos em espécie, é importante


diferenciarmos os conceitos de salário e remuneração. Remuneração tem
a sua origem no latim remuneratio, que significa re (reciprocidade) e
muneratio (recompensa). Já o termo salário deriva do latim salarium,
fazendo referência ao sal (salis), o principal meio de pagamento dos
romanos. Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 2017a), a
remuneração é tratada no “Capítulo II – Da Remuneração”, dos arts. 457 a
467. O termo “remuneração”, apresen- tado pelo art. 457 da CLT, constitui
um conjunto de vantagens observadas pelo trabalhador, o que envolve
tanto o montante pago diretamente pelo empregador ao empregado
(salário), quando as outras formas indiretas, feita por terceiros, como as
gorjetas (BRASIL, 2017a).
Dessa forma, remuneração: “[…] é o conjunto de prestações recebidas ha-
bitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou
em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes
do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas
e de sua família” (MARTINS, 2020, p. 376).
Ainda, segundo Martins (2020), os elementos da remuneração são a
habitu- alidade, a periodicidade, a quantificação, a essencialidade e a
reciprocidade. Veremos, nas próximas sessões, os fundamentos e o cálculo
de cada uma das prestações recebidas pelo empregado.

Salário
Salário é o valor econômico pago diretamente pelo empregador ao
empregado em razão da prestação de serviços, destinado à satisfação das
necessidades pessoais e familiares (MARTINS, 2020), e possui caráter familiar
– este último podendo ser observado no § 1º do art. 100 da Constituição:
“[…] § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles
decorrentes de salários” (BRA- SIL, [2016], documento on-line). O salário
corresponde, então, ao pagamento feito pelo empregador, e não por terceiros
(diferente da remuneração, engloba a parcela paga por terceiros).
A classificação do salário poderá ser diversa. Por exemplo, em relação
à forma de aferição, poderá ser fixo, variável e misto. Fixo, quando
estipulado

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 3

em quantia certa, sem variação, podendo ser calculado com base na unidade
de tempo (hora, dia, mês, semana); variável, quando aferido conforme
desem- penho do trabalhador e mensurado por um parâmetro acordado (por
unidade produzida, por percentual da venda concretizada, por tarefa
cumprida, etc.); e, por fim, misto quando há a parte fixa e a variável.
Em relação à base de cálculo, poderá ser fixada por unidade de tempo
ou por unidade de obra. Na concepção de unidade de tempo, é irrelevante
o tempo do serviço ou da obra realizada, levando em conta o tempo
disponibi- lizado pelo empregado à empresa, tempo esse medido em
qualquer unidade temporal. Vale ressaltar que o critério de remuneração por
unidade de tempo não deve ser confundido com os intervalos de
pagamento: um funcionário horista poderá receber em bases quinzenais ou
semanais.
Plá Rodriguez (2015) destaca algumas desvantagens do salário por
unidade de tempo, como a sua imprecisão (remunera-se igualmente os
trabalhadores sendo irrelevante o seu grau de atividade ou habilidade).
Pode ser injusto (pois não há compensação equivalente por esforços
extras) e não funciona como um mecanismo estimulador (pois ao
empregado pouco lhe importa o resultado do trabalho).
A concepção de unidade de obra leva em consideração a produção
apre- sentada pelo trabalhador, independentemente do tempo
utilizado pelo profissional. Veja, por exemplo, este belíssimo material da
Sagah: o autor é remunerado pela (literalmente) unidade de obra produzida,
não importando se ele demandou 20 horas ou 2 horas para preparar a
entrega final. Esta forma de remunerar o trabalho encontra previsão na CLT,
como observado na alínea g do art. 483: “Art. 483 - O empregado poderá
considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:
[…] g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou
tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários” (BRASIL,
2017a, p. 80).
O dispositivo legal cita, inclusive, a hipótese de remuneração por
tarefa. Trata-se de uma forma mista de salário, na qual o trabalhador deve
cumprir certa “meta” dentro de uma jornada de trabalho determinada. Por
exemplo: preparar 50 bolos em uma jornada de seis horas. Caso os 50
bolos sejam concluídos em, digamos, quatro horas, o trabalhador estaria
liberado de seus deveres.
Em relação à forma de pagamento, pode o salário ser em dinheiro ou em
utilidades. O salário em dinheiro está disposto no art. 463 da CLT
(BRASIL, 2017a, p. 76): “[…] prestação, em espécie, do salário será paga em
moeda cor- rente do País […]” e dessa forma são nulos de pleno direito os
contratos que estipulem pagamento em outro, em moeda estrangeira, ou

Identificação interna do documento


qualquer outro ativo que não seja “reais brasileiros”. O salário em
utilidades está previsto

Identificação interna do documento


4 Cálculo da folha de pagamento

no art. 458 da CLT (BRASIL, 2017a, p. 74–75): “Art. 458 - Além do pagamento em
dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimenta-
ção, habitação, vestuário ou outras prestações ‘in natura’ que a empresa, por
força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado”, e
dois critérios precisam ser atendidos: a habitualidade (a utilidade
fornecida não pode ser eventual ou esporádica) e a gratuidade (a
utilidade fornecida não pode ser cobrada do empregado).
O conceito do salário em utilidades é de extrema importância, pois não
são raras as situações em que há confusão sobre o que é considerada uma
utilidade. Além do aspecto da gratuidade e da habitualidade abordados
anteriormente, devemos observar uma regra fundamental disposta no § 2º do
art. 458 da CLT (BRASIL, 2017a). Nesse dispositivo há uma distinção clara
entre uma prestação disponibilizada ao trabalhador pela ou para a prestação
dos serviços.

Salário Utilidade: distinção fundamental

Uma forma de conseguirmos identificar quando uma prestação é


considerada utilidade, é analisamos se esta prestação é PELA ou PARA a pres-
tação dos serviços:
 PELA: recebo pelo que entreguei.
 PARA: recebo para entregar o trabalho.
Importante: Se algo é entregue para o trabalho, mas o trabalhador faz o uso
fora do trabalho, poderá ser considerado utilidade (p. ex., um carro).

Não consideramos, também, a alimentação fornecida no âmbito do


Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e do vale-transporte
como utilidades, quando há o desconto de parcelas do valor dos
trabalhadores. No caso da habitação e de veículos fornecidos pela
empresa, vale a mesma lógica da análise da finalidade. Se a habitação
(ex. um caseiro de uma fa- zenda) e o veículo (ex. um motorista
profissional) são indispensáveis para a realização do trabalho, estamos
diante de uma prestação para o trabalho. Por fim, elencamos outras
utilidades concedidas pelo empregador que não são consideradas salário.

 Educação: seja dentro da companhia, com a utilização da estrutura


corporativa (as chamadas Universidades Corporativas), ou externa.
 Assistência médica, hospitalar, odontológica, bem como os
seguros diversos (de vida, acidente, etc.).

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 5

 Planos de previdência privada.


 Vales e incentivos diversos como vale-cultura, vale-academia.

Vistas algumas conceitualizações, veremos como os cálculos são realizados.

Exemplo de cálculo da jornada de trabalho e salário


mensal, diário e por hora
Inicialmente vamos considerar duas variáveis: a jornada mensal (Jm), que
é a quantidade de horas trabalhadas por mês pelo empregado (que varia
conforme o regime de cada classe e profissão), e a jornada diária (Jd). Temos
então uma primeira relação:

Jd = Jm ÷ 30

ou seja, a jornada diária do trabalhador é equivalente à jornada


mensal dividida por 30 dias. Tomando como exemplo uma jornada
mensal de 220 horas, muito frequente nos regimes de trabalho, teríamos o
seguinte:

Jd = 220 ÷ 30 = 7,33333

A jornada diária para um regime mensal de 220 horas seria de 7.33333 horas.
Referente ao salário, tomando como base um salário de R$ 2.000,00,
temos o seguinte:

Sm (salário mensal) = R$ 2.000,00


Sd (salário diário) = Sm ÷ 30 dias = R$ 66,67
Sh (salário-hora) = Sm ÷ jornada mensal em horas

Considerando uma jornada de 220 horas (muito comum nos


contratos), temos:

Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 ÷ 220 = R$ 9,09

Você encontra a legislação relativa à jornada de trabalho na Cons-


tituição Federal, art. 7º, XIII, XIV (BRASIL, [2016]). Na CLT, leia os art.
58, art. 58-A (BRASIL, 2017a).

Identificação interna do documento


6 Cálculo da folha de pagamento

Horas extras
Conforme disposto no inciso XIII do art. 7º da Constituição Federal (BRASIL,
[2016]), a duração normal do trabalho dos empregados não será superior a
oito horas diárias e 44 semanais. Em algumas categorias profissionais, por conta
de legislação ou acordo específico, a jornada poderá ser inferior (como nos
casos dos trabalha- dores do telemarketing, considerados de turno
ininterrupto). A jornada poderá ser ampliada em no máximo duas horas e a
remuneração será, no mínimo, 50% superior à hora normal e integrará a
remuneração do trabalhador. Vale ressaltar que o documento coletivo de
trabalho (acordo coletivo de trabalho [ACT] ou con- venção coletiva de
trabalho [CCT]) poderá prever outros percentuais e regras de hora extra,
desde que respeitado o mínimo de 50% fixado constitucionalmente.

Exemplos de cálculo das horas extras


Considerando os mesmos dados do exemplo de cálculo da jornada de
trabalho e salário mensal, diário e por hora:

Sm (salário mensal) = R$ 2.000,00


Sd (salário diário) = Sm / 30 dias = R$ 66,67
Sh (salário-hora) = Sm / jornada mensal em horas

Considerando uma jornada de 220 horas temos o seguinte salário-hora:

Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora


normal) SHe (salário-hora extra 50%) = R$ 9,09  1,50 = R$ 13,63

Caso o trabalhador tenha realizado 15 horas extras no mês teríamos o


seguinte valor a pagar:

SHe (total) = SHe  horas extras trabalhadas = R$ 13,63  15 = R$ 204,55

Vamos considerar agora uma situação em que o documento coletivo ga-


rante o adicional mínimo de 50% para as 10 primeiras horas trabalhadas
e 70% para as horas que ultrapassarem as 10 horas iniciais. Teremos o
seguinte cálculo considerando os valores de salário-hora do exemplo
anterior:

Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora


normal) SHe1 (salário-hora extra 50%) = R$ 9,09  1,50 = R$ 13,63
SHe2 (salário-hora extra 70%) = R$ 9,09  1,70 = R$ 15,45
Identificação interna do documento
Cálculo da folha de pagamento 7

Caso o trabalhador tenha realizado 15 horas extras no mês teríamos o


seguinte valor a pagar:

SHe1 (total) = SHe1  horas extras trabalhadas = R$ 13,63  10 = R$ 136,36


SHe2 (total) = SHe2  horas extras trabalhadas = R$ 15,45  5 = R$ 77,27
Total de horas extras = R$ 136,36 + R$ 77,27 = R$ 213,63

Em relação às vedações, a prorrogação da duração normal diária do


menor de 18 anos de idade não é permitida, salvo a existência de previsão
em ACT ou CCT e desde que as horas extras incorridas, no limite de duas
horas diárias, seja compensado pela diminuição em um outro dia.

A legislação trata das horas extras nos seguintes documentos:


Constituição Federal: art. 7º, XVI (BRASIL, [2016]) e CLT: art. 59, 59-A,
59-B (BRASIL, 2017a).
A reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017) (BRASIL, 2017b) acrescentou o art.
611-B à CLT, que dentre diversos aspectos permitiu que os documentos coletivos
de trabalho possam tratar da redução ou supressão da remuneração da hora
extraordinária superior, no mínimo, em 50% à hora normal.

Adicional noturno
Por força de ordem econômica e social, alguns trabalhos devem ser realizados
no período noturno. É o caso de trabalhadores da área de saúde atendendo em
seus plantões, docentes que ministram cursos no período noturno ou fábricas
que operam em mais de um turno. O trabalho noturno exige um esforço maior
do trabalhador, e, do ponto de vista do Direito do Trabalho, demanda-se uma
tutela especial: a legislação garante regras especiais em relação à
remuneração.
É considerado noturno o trabalho prestado entre as 22h00min de um dia
até as 5h00min do dia seguinte, sendo que a legislação criou o conceito de
“hora noturna reduzida” para o trabalhador urbano e o doméstico (Lei
Complementar nº. 150, de 1 de junho de 2015) (BRASIL, 2015). A “hora”
noturna é computada como 52 minutos e 30 segundos. Na prática, o
empregado que trabalhar das 22h00min até as 5h00min prestará sete horas,
mas será remunerado por oito horas. No caso dos trabalhadores rurais,
considera-se hora noturna a jornada das 21h00min de um dia até as
5h00min do dia seguinte na lavoura, e das 20h00min de um dia até as
4h00min do dia seguinte na pecuária, em ambos os casos não se aplicando a
“hora noturna reduzida”.

Identificação interna do documento


8 Cálculo da folha de pagamento

Em relação aos adicionais, aos empregados urbanos o acréscimo é de 20%


no mínimo sobre a hora diurna e aos trabalhadores rurais é garantido um
adicional de no mínimo 25%. Assim como nas horas extras, acordos ou con-
venções coletivas que estabeleçam adicionais superiores ao mínimo legal são
permitidos, privilegiando o princípio da norma mais benéfica ao trabalhador.

Jornada noturna: critérios distintos para cada categoria de


trabalhador.

Contagem Adicional
Trabalhador Jornada noturna da hora noturno

Urbano e doméstico 22h00min–5h00min 52min30s 20%

Rural – Lavoura 21h00min–5h00min 60min 25%

Rural – Pecuária 20h00min–4h00min 60min 25%

Exemplo de cálculo do adicional noturno


Vejamos a seguir alguns exemplos de cálculos considerando os mesmos
valores dos exemplos anteriores (salário-base mensal de R$ 2.000,00 e
jornada de 220 horas mensais).

a) Empregado urbano, trabalhando das 22h00min às 5h00min


Total de horas (hora reduzida) = 8 horas
Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora
normal) SHn (salário-hora noturna 20%) = R$ 9,09  1,20 = R$ 10,90
Total = SHn  horas trabalhadas = R$ 10,90  8 horas = R$ 87,27
b) Empregado urbano, trabalhando das 22h00min às 1h30min
Total de horas (hora reduzida) = 4 horas
Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora
normal) SHn (salário-hora noturna 20%) = R$ 9,09  1,20 = R$ 10,90
Total = SHn  horas trabalhadas = R$ 10,90  4 horas = R$ 43,63
c) Empregado rural, pecuária, trabalhando das 22h00min às 4h00min
Total de horas (hora reduzida) = 6 horas
Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora
normal) SHn (salário-hora noturna 25%) = R$ 9,09  1,20 = R$ 11,36
Total = SHn  horas trabalhadas = R$ 11,36  6 horas = R$ 68,18

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 9

Por fim, cabe citar que o empregado que realizar serviço


extraordinário em período noturno poderá cumular os dois cálculos.

A legislação que trata do adicional noturno está nos seguintes docu-


mentos: Constituição Federal: art. 7º, IX; CLT: art. 73 (BRASIL, [2016]);
Lei Complementar nº 150/2015: art. 14, § 1º (BRASIL, 2015).

Repouso semanal remunerado


O repouso semanal remunerado (RSR) é também encontrado na prática como
descanso semanal remunerado (DSR) ou folga semanal. A Constituição, no
art. 7º (BRASIL, [2016]), faz menção ao “repouso”, motivo pelo qual adota-
remos essa denominação. O RSR é o período em que o empregado deixa de
prestar serviços ao empregador uma vez por semana, preferencialmente
aos domingos, sem prejuízo da remuneração. O período de descanso é
de 24 horas.
São três fundamentos que sustentam o repouso semanal (MARTINS,
2020):

1. biológico, para preservar a integridade física do trabalhador;


2. social, para que o trabalhador tenha um tempo para se dedicar
à família, amigos e as suas demais atividades;
3. econômico, envolvendo a possibilidade de o empregador contratar
outro trabalhado caso ocorra uma demanda de serviço.

Tais fundamentos justificam a impossibilidade de o RSR ser suprimido ou


reduzido. Essa previsão está, inclusive, prevista no art. 611-B da CLT (BRASIL,
2017a), que elenca os direitos que não são passíveis de supressão ou
redução por meio de convenção ou acordo coletivo de trabalho. Importante
destacar que a proibição de trabalho nos dias de repouso
(preferencialmente aos domingos) é regra, contudo há a possibilidade da
atividade laboral nos dias de descanso nos casos em que a atividade é de
interesse público (por exemplo, o motorista de transporte coletivo) ou
quando na atividade da empresa ou do setor é indispensável a prestação
continuada do trabalho (imagine aqui uma praça de alimentação de um
shopping center funcionando aos domingos).

Identificação interna do documento


10 Cálculo da folha de pagamento

Vejamos a seguir os exemplos de cálculo do RSR.

Exemplo de cálculo do repouso semanal remunerado


(regime semanal, diário ou horista)
A remuneração do repouso corresponde a um dia normal de trabalho na
semana. Dessa forma, deve-se apurar o total de horas trabalhadas na semana
e aplicar a razão de 1/6. Utilizando os valores dos exemplos anteriores, um
salário mensal de R$ 2.000,00 e jornada mensal de 220 horas por mês
(44 horas por semana), temos o seguinte:

Jd (Jornada Diária) = 44 horas semanais / 6 dias = 7,3333 ou 7h20min


Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09
RSR = R$ 9,09  7,3333 = R$ 66,66

O cálculo acima é aplicável ao empregado com regime semanal, diário ou


por hora (horista), sendo que para o mensalista (e quinzenalista), considera-
-se que o RSR está contemplado no salário. Outros aspectos importantes se
referem ao RSR sobre os comissionados (trabalhadores remunerados por
comissão sobre seus resultados), efeitos do RSR sobre as horas extras e
sobre o adicional noturno. Vejamos a seguir o tratamento nesses casos.

Exemplo de cálculo do repouso semanal remunerado:


comissionados
Tanto para os comissionados em regime semanal como mensal dividimos a
comissão percebida no período pela quantidade de dias úteis. No cálculo
mensal, multiplicamos posteriormente pelo número de folgas do mês:

Comissões totais na semana = R$ 1.200,00


DUs (dias úteis na semana) = 6 dias
RSR = R$ 1.200,00 / 6 = R$ 200,00
Comissões totais no mês = R$ 2.500,00
DUm (dias úteis no mês) = 25 dias
DFm (dias de folga no mês) = 6 dias (domingos e feriados)
RSR = R$ 2.500,00 / 25  6 = R$ 600,00

Nos casos das horas extras e adicional noturno, quando prestadas de


forma habitual são integradas no salário do trabalhador e dessa forma
computadas no cálculo do RSR.

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 11

Exemplo de cálculo do repouso semanal remunerado:


efeitos nas horas extras e adicional noturno
Confira o cálculo para horas extras e adicional noturno.

d) Horas extras: vamos considerar os mesmos dados dos exemplos an-


teriores. Salário mensal de R$ 2.000,00, 220 horas de jornada mensal,
em um mês com 25 dias úteis e seis folgas. O trabalhador realizou 30
horas extras.
Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora normal)
SHe (salário-hora extra 50%) = R$ 9,09  1,50 = R$ 13,63
Total de horas extras do mês = 30 horas  R$ 13,63 = R$ 408,90
Média de horas extras no mês = total de horas extras
no mês / dias úteis = R$ 408,90 / 25 = R$ 16,36
Efeitos das horas extras no RSR = média de horas
extras x dias de folga = R$ 16,36  6 = R$ 98,14
e) Adicional noturno: vamos considerar os mesmos dados dos exemplos
anteriores. Salário mensal de R$ 2.000,00, 220 horas de jornada men-
sal, em um mês com 25 dias úteis e 6 folgas. O trabalhador
realizou 30 horas noturnas.
Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09 (valor da hora normal)
SHn (salário-hora noturna 20%) = R$ 9,09  1,20 = R$ 10,91
Total de horas noturnas do mês = 30 horas  R$ 10,91 = R$ 327,27
Média de horas extras no mês = total de horas noturnas
no mês / dias úteis = R$ 327,27 / 25 = R$ 13,09
Efeitos das horas extras no RSR = média de horas
extras x dias de folga = R$ 13,09  6 = R$ 78,55

A legislação que trata do RSR consta nos seguintes documentos:


Constituição Federal: art. 7º, XV (BRASIL, [2016]); Lei nº 605 de 5 de
janeiro de 1949 (BRASIL, 1949).

Adicional de insalubridade
O art. 189 da CLT (BRASIL, 2017a) dispõe que são consideradas atividades ou
operações insalubres aquelas que por sua natureza, condições ou
métodos de trabalho exponham os empregados a agentes nocivos à saúde,
acima dos

Identificação interna do documento


12 Cálculo da folha de pagamento

limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente


e do tempo de exposição a seus efeitos.
São calculados conforme o grau de insalubridade, à razão de 10% (mínimo
grau), 20% (grau médio) e 40% (máximo grau) sobre o salário-mínimo
(salário-
-mínimo nacional, unificado, apesar do texto da CLT dispor sobre “salário-
mínimo da região”). Sobre a adoção do salário-mínimo como base de cálculo do
adicional, há divergências doutrinárias e muitas empresas estabelecem as
bases nos do- cumentos coletivos. Os tribunais superiores mantêm a
orientação de utilização do salário-mínimo como base, sendo essa a prática
mais comum nas empresas.
O adicional de insalubridade não será acumulado com o de periculosidade
e caberá ao empregado a opção por um dos dois adicionais. Ademais, no
caso da existência de um ou mais elementos insalubres, toma-se como base
aquele com o maior grau de risco. O principal referencial utilizado para a
aferição das condições de insalubridade é a NR 15 (Norma Regulamentadora
15 – atividades e operações insalubres) e seus diversos anexos versando
sobre diversas condições (BRASIL, 2019a).

A norma regulamentadora 15 – atividades e operações insalubres


(BRASIL, 2019a) foi originalmente editada pela Portaria MTb nº 3.214,
de 8 de junho de 1978, estabelecendo as “Atividades e Operações Insalubres”, de
forma a regulamentar os arts. 189 a 196 da CLT (BRASIL, 2017a). Define os limites
de tolerância para agentes físicos, químicos e biológicos. A seguir, o exemplo
de alguns dos anexos (BRASIL, 2019a):
 Anexo 1: ruídos
 Anexo 3: calor
 Anexo 5: radiações ionizantes
 Anexo 13: agentes químicos
 Anexo 14: agentes biológicos

Cessa a insalubridade, e dessa forma a obrigatoriedade do


pagamento, quando a empresa adota as medidas para conservar o
ambiente de traba- lho nos limites de tolerância indicados pelas normas
de segurança e/ou no fornecimento e utilização dos equipamentos de
proteção individual – EPIs de forma a diminuir a exposição do empregado.

Exemplo de cálculo do adicional de insalubridade


Considerando o grau máximo de insalubridade (40%) e o salário-mínimo,
supostamente, de R$ 1.045,00 e os dados salariais dos exemplos anteriores:
Identificação interna do documento
Cálculo da folha de pagamento 13

AI (Adicional de insalubridade) = salário-mínimo × percentual


do adicional = R$ 1.045,00 × 40% = R$ 418,00
Remuneração = salário + adicional de insalubridade
= R$ 2.000,00 + R$ 418,00 = R$ 2.418,00

A legislação sobre adicional de insalubridade consta em: Constituição


Federal: art. 7º, XXIII (BRASIL, [2016]); CLT: art. 189 a 197 (BRASIL, 2017a);
NR 15 (BRASIL, 2019a).

Adicional de periculosidade
As atividades ou operações perigosas são aquelas que implicam em
riscos acentuados em virtude de exposição permanente do trabalhador a
inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; roubos ou outras espécies de
violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial.
Periculosidade:

 risco de morte do trabalhador;


 30% de adicional sobre salário contratual;
 NR 16 (BRASIL, 2019b).

Insalubridade:

 riscos à saúde;
 10%, 20% ou 40% de adicional sobre o salário-mínimo;
 NR 15 (BRASIL, 2019a).

Na periculosidade não há o fator contínuo da exposição ao risco como


verificado na insalubridade, mas tão somente a existência do risco, que
caso ocorra poderá trazer resultados desastrosos ao empregado (como a
morte, perda de capacidade motora, etc.). Outra diferença fundamental, no
que tange aos cálculos, se refere à base de cálculo da periculosidade, que
leva em consideração o salário contratual do empregado, sem os adicionais.
O adicional de insalubridade não será acumulado com o de periculosi-
dade e caberá ao empregado a opção por um dos dois adicionais. Em geral,
o empregado faz a opção pelo adicional de periculosidade, pois como vimos

Identificação interna do documento


14 Cálculo da folha de pagamento

anteriormente o adicional de insalubridade incide sobre o salário-mínimo


vigente, ao passo que o de periculosidade é calculado com base no
salário contratual do trabalhador. O adicional pago de forma habitual
integrará a remuneração do empregado. Por fim, da mesma forma que no
adicional de insalubridade, caso cesse o risco à saúde ou à integridade física
do empregado, o adicional não será mais devido.
O principal referencial utilizado para a aferição das condições de insa-
lubridade é a NR 16 (Norma Regulamentadora 16 – atividades e
operações perigosas) (BRASIL, 2019b) e os anexos em que são detalhadas as
atividades que estão no escopo da norma.

A norma regulamentadora 16 – atividades e operações perigosas


(BRASIL, 2019b) foi originalmente editada pela Portaria MTb nº 3.214,
de 08 de junho de 1978, de maneira a regulamentar os arts. 193 a 196 da CLT
(BRASIL, 2017a). Possui cinco anexos (BRASIL, 2019b):
 Anexo 1: Atividades e operações perigosas com explosivos
 Anexo 2: Atividades e operações perigosas com inflamáveis
 Anexo 3: Atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou subs-
tâncias radioativas
 Anexo 4: Atividades e operações perigosas com energia elétrica
 Anexo 5: Atividades Perigosas em motocicleta

Exemplo de cálculo do adicional de periculosidade


Considerando o grau máximo de insalubridade (30%) e os dados salariais dos
exemplos anteriores:

AP (Adicional de periculosidade) = salário-base × percentual


do adicional = R$ 2.000,00 × 30% = R$ 600,00
Remuneração = salário + adicional de periculosidade
= R$ 2.000,00 + R$ 600,00 = R$ 2.600,00

A legislação para adicional de periculosidade consta em: Constituição


Federal: art. 7º, XXIII (BRASIL, [2016]); CLT: arts. 193 a 197 (BRASIL,
2017a); NR 16 (BRASIL, 2019b).

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 15

Gratificação natalina (13º salário)


Formalmente instituída como gratificação natalina (ou gratificação de Na-
tal), é, na prática, conhecida como 13º salário. Trata-se de um
pagamento obrigatório por parte das empresas e, portanto, possui
natureza salarial. A remuneração base para pagamento é a do mês de
dezembro do ano corres- pondente ao pagamento, remuneração esta que
considera, além do salário, gorjetas, comissões, gratificações legais, os
adicionais de insalubridade ou periculosidade vistos anteriormente, e as
utilidades.
O cálculo é de 1/12 por mês de serviços, e dessa forma é necessária a
apuração mensal das faltas, pois são considerados como meses trabalhados
somente aqueles em que o empregado trabalhou pelo menos 15 dias. Faltas
justificadas e legais (licenças maternidade, paternidade, por questões de
saúde) não são descontadas na apuração dos dias trabalhados.
O pagamento da gratificação é feito em duas parcelas: a primeira, equiva-
lente à metade do valor do salário recebido pelo empregado no mês
anterior ao pagamento, deverá ser paga ao empregado entre 1 de
fevereiro e 30 de novembro; e a segunda parcela deverá ser quitada até o
dia 20 de dezembro, descontando o adiantamento realizado no curso do ano.

Exemplo de cálculo da gratificação natalina (13º salário)


O empregado foi admitido em 14 de janeiro de X0, ou seja, para fins de
cálculo da gratificação, o mês de janeiro será considerado integralmente
como mês trabalhado.
Supondo que o empregado opte pelo pagamento da primeira parcela
do 13º salário em maio (adiantamento), e que em abril tenha recebido R$
2.000,00 de salários. O adiantamento será de:

1a parcela da gratificação = R$ 2.000,00 × 50% = R$ 1.000,00

Em novembro o empregado já tinha incorporado ao seu salário uma pro-


gressão de carreira, passando a receber R$ 2.500,00. Dessa forma, a 2a
parcela será de:

2a parcela da gratificação = R$ 2.500,00 – 1a parcela


= R$ 2.500,00 – R$ 1.000,00 = R$ 1.500,00

Vamos imaginar agora o cálculo para o empregado admitido em 15 de fe-


vereiro de X0. Nesse caso, como ele não fará jus ao 13º integral,
precisaremos
Identificação interna do documento
16 Cálculo da folha de pagamento

realizar o cálculo proporcional a 1/12 e equivalente aos meses trabalhados.


Vamos utilizar os mesmos valores de salário para facilitarmos o exemplo:

1/12 do salário-base de R$ 2.000,00 = R$ 2.000,00 / 12 = R$ 166,67


Meses trabalhados até o pagamento em maio = 3 (fev, mar, abr)
1a parcela da gratificação = R$ 166,67 × 3 = R$ 500,00

A segunda parcela da gratificação será calculada da mesma maneira, le-


vando em consideração o salário com a progressão de carreira de R$
2.500,00, mas agora com um desconto menor referente à 1a parcela do
adiantamento:

2a parcela da gratificação = R$ 2.500,00 – 1a parcela


= R$ 2.500,00 – R$ 500,00 = R$ 2.000,00

No caso dos comissionados, o cálculo levará em conta a média das


co- missões recebidas acrescidas dos efeitos do RSR (lembre-se que nos
casos dos mensalistas, o RSR já é considerado no valor do salário):
Supondo que a 1a parcela será paga em julho, levanta-se o histórico das
co- missões dos meses anteriores, bem como o efeito do RSR sobre as
comissões.

Mês Comissão (R$) Dias úteis Folgas RSR (R$)

jan 2.000,00 25 6 480,00

fev 2.100,00 22 7 668,18

mar 2.300,00 26 5 442,31

abr 1.800,00 26 4 276,92

mai 1.900,00 25 6 456,00

jun 2.400,00 25 5 480,00

Totais 12.500,00 2.803,41

Temos então uma média mensal de (R$ 12.500,00 + R$ 2.803,41) / 6 =


R$ 2.550,57. A primeira parcela será de:

1a parcela da gratificação = R$ 2.550,57 / 2 = R$ 1.275,28

Ao final do ano, quando realizará o cálculo da segunda parcela, teremos


o seguinte cenário de comissões e RSR:

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 17

Mês Comissão (R$) Dias úteis Folgas RSR (R$)

jan 2.000,00 25 6 480,00

fev 2.100,00 22 7 668,18

mar 2.300,00 26 5 442,31

abr 1.800,00 26 4 276,92

mai 1.900,00 25 6 456,00

jun 2.400,00 25 5 480,00

jul 3.000,00 24 7 875,00

ago 1.100,00 25 6 264,00

set 1.600,00 26 4 246,15

out 1.800,00 26 5 346,15

nov 2.200,00 24 6 550,00

Totais 22.200,00 5.084,72

Temos então uma média mensal de (R$ 22.000,00 + R$ 5.084,72) / 12 = R$


2.273,73. A segunda parcela será de:

2a parcela da gratificação = R$ 2.273,73 – 1a parcela


= R$ 2.273,73 – R$ 1.275,28 = R$ 998,44

A legislação para gratificação natalina (13º salário) consta em: Cons-


tituição Federal: art. 7º, VIII (BRASIL, [2016]); Lei 4.749 de 12 de agosto
de 1965 (BRASIL, 1965).

Estudamos os proventos mais frequentes nos cálculos que envolvem a


folha de pagamento. Daremos continuidade com a apresentação do conteúdo
relacionado aos descontos na folha de pagamento.

Descontos previstos na folha de pagamento


Por força do art. 462 da CLT (BRASIL, 2017a, p. 76), ao empregador é “[…] vedado
efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este

Identificação interna do documento


18 Cálculo da folha de pagamento

resultar de adiantamentos, de dispositivo de lei ou de contrato coletivo”.


O referido dispositivo consagra o princípio da intangibilidade salarial: o
salário possui natureza alimentar e por esse motivo a lei garante o seu
recebimento de forma estável, independente das oscilações que possam
ocorrer em um ramo da atividade econômica explorada pelo empregador ou
até mesmo por sua mera vontade. A lei proporciona, dessa forma,
mecanismos para proteger o salário, seja vedando a sua redução, seja
impedindo que o empregador realize descontos indevidos e arbitrários.

Vedação aos descontos e exceções ao princípio

Adiantamentos

Exceção Dispositivo de lei


Vedação
aos
Contrato coletivo

Adiantamentos não são descontos por excelência, mas somente um des-


locamento da remuneração dentro do espaço temporal entre a prestação
do trabalho e o seu pagamento. Contudo, tratamos neste tópico de
descontos em decorrência do impacto na operacionalização do cálculo da
folha de pagamento. Em termos concretos, uma prática comum adotada
pelas em- presas é o pagamento de 40% ou 50% do valor do salário
nominal a título de adiantamento, valor que posteriormente será
descontado do saldo de salário a pagar.

Exemplo de cálculo de adiantamento


Considerando um salário de R$ 2.000,00, a política de adiantar, todo dia 15
do mês, 40% do valor aos empregados, e um valor hipotético de R$
200,00 referente aos outros descontos por lei, temos o seguinte:

Salário nominal  adiantamento = R$ 2.000,00 × 40% = R$ 800,00


Saldo de salário = salário-base – adiantamentos – outros
descontos = R$ 2.000,00 – R$ 800,00 – R$ 200,00 = R$ 1.000,00

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 19

Descontos autorizados por lei envolvem, por exemplo, as


contribuições sindicais autorizadas pelo empregado, pagamento de pensão
alimentícia, con- tribuição previdenciária (contribuição ao INSS), imposto de
renda retido na fonte (IRRF), vale-transporte até 6% do salário e as faltas e
atrasos do empregado.

Contribuição previdenciária (INSS)


Referente ao cálculo da contribuição previdenciária, trata-se de uma obriga-
ção no caso dos trabalhadores com registro na carteira e facultativa no
caso dos trabalhadores informais. A contribuição previdenciária, apesar de
ser de responsabilidade do empregado, é calculada e recolhida pelo
empregador e descontada no salário do empregado. O cálculo leva em
consideração o salário do empregado (denominado de salário de
contribuição), que será adequado às “faixas de alíquotas para
contribuição”.
Importante definirmos o conceito de salário de contribuição. Trata-se de
um conceito mais amplo do que o salário-base do empregado, pois engloba a
remuneração percebida. Ou seja, pagamentos indiretos como as gorjetas,
utili- dades, gratificações, adicionais, verbas eventuais, desde que não
tenham caráter indenizatório, compõem a base de cálculo para cálculo da
contribuição do INSS. Em relação às alíquotas, aplica-se a tabela
informada pelo Instituto Na- cional do Seguro Social (INSS) (atenção, pois
os valores são reajustados com frequência, para que possam refletir os
efeitos inflacionários dos salários). Ademais, a partir de 2020 passa a valer
uma nova tabela progressiva com a criação de novas faixas de contribuição.
Seguimos com um exemplo de cálculo
para consolidarmos o entendimento:

Exemplo de cálculo da contribuição previdenciária


Vamos considerar as seguintes premissas:

1. Salário-base: R$ 2.000,00
2. Comissões recebidas no mês: R$ 200,00
3. Outras verbas não indenizatórias: R$ 500,00
Salário de contribuição (1 + 2 + 3) = R$ 2.700,00

Com posse do salário de contribuição, verificaremos qual a faixa de


alíquota aplicável na tabela abaixo para empregado, empregado doméstico e
trabalha- dor avulso. Como as informações da tabela são atualizadas
constantemente, é importante sempre buscar as atualizações nos canais
Identificação interna do documento
oficiais do governo.

Identificação interna do documento


20 Cálculo da folha de pagamento

Salário de contribuição Alíquota Parcela a Deduzir

até R$ 1.320,00 7,5% –

de R$ 1.320,01 até R$ 2.571,29 9% 19,8

de R$ 2.571,30 até R$ 3.856,94 12% 96,94

de R$ 3.856,95 até R$ 7.507,49 14% 174,08

Fonte: Ministério da Previdência Social (maio/2023).

O salário de contribuição de R$ 2.700,00 se enquadraria na faixa de


alíquota de 12%. Contudo, há a necessidade de aplicação dessa alíquota
somente sobre a parte que excede as demais faixas de contribuição, para
evitarmos um des- conto acima do legalmente exigido. Veja a seguir a ideia
por trás desse ponto.
O salário de contribuição é de R$ 2.700,00, logo:

Primeira faixa: R$ 1.320,00 × 7,5% = R$ 99,00


Diferença entre a segunda faixa e a primeira faixa: R$ 1.251,29 × 9,0% = R$ 112,62

Temos então nas duas faixas R$ 2.571,29 (R$ 1.320,00 + R$ 1.251,29).


A diferença de R$ 128,71 (R$ 2.700,00 – R$ 2.571,29) será a parcela em que
efetivamente teremos a aplicação da contribuição de 12%:

Terceira faixa: R$ 128,71 × 12,0% = R$ 15,45

A total da contribuição devida pelo empregado e que o empregador des-


contará da folha totalizará 99,00+ 112,62 + 15,45 = 227,07. Ou se utilizando da
tabela com descontos, temos: 2700 * 12% - 96,94 = 227,07.

Imposto de renda retido na fonte


A remuneração paga ao empregado sofre a incidência do Imposto de Renda
Retido na Fonte (IRRF). A ideia é semelhante ao desconto da contribuição
previdenciária vista anteriormente. É um valor devido pelo empregado, mas
para que o proce- dimento de recolhimento e auditoria seja mais fácil a
Administração Tributária impõe à fonte pagadora (o empregador) o dever de
recolhimento. Dessa forma, o imposto devido pelo empregado será descontado
no cálculo da folha de pagamento.

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 21

A base de cálculo do IRRF é a remuneração total do empregado, sendo


possível a dedução da parcela da contribuição previdenciária, dos valores
pagos a título de pensão alimentícia e de uma parcela mensal de R$ 189,59
por dependente (R$ 2.275,08 por ano).
O conceito de dependente não é definido pelo próprio empregado ou
empregador, sendo que a legislação é taxativa. São considerados
dependentes para fins de cálculo do IRPF:

a) cônjuge;
b) o companheiro ou companheira que comprove vida em comum por
mais de 5 anos, ou por período menor, se da união resultou filho;
c) a filha ou filho, enteado ou enteada, até 21 anos de idade ou até 24
anos de idade se estiver cursando o ensino superior ou escola técnica
de 2º grau, ou de qualquer idade quando incapacitado física ou
mentalmente para o trabalho;
d) o menor pobre, até 21 anos de idade, que o contribuinte crie ou
eduque e do qual detenha a guarda judicial;
e) o irmão, o neto ou o bisneto, sem arrimo dos pais até 21 ou 24 anos
de idade se estiver cursando o ensino superior ou escola técnica de
2º grau, desde que o contribuinte detenha a guarda judicial, ou de
qualquer idade quando incapacitado física ou mentalmente para o
trabalho;
f) os pais, os avós ou bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tri-
butáveis ou não, superior ao limite de isenção mensal (atualmente
R$ 1.903,98);
g) o absolutamente incapaz, nos termos da lei, do qual o contribuinte
seja tutor ou curador.

Em relação às alíquotas, aplica-se a tabela informada pela Receita Federal,


seguindo o mesmo raciocínio visto nas contribuições previdenciárias. Por
meio de uma tabela progressiva são aplicadas alíquotas diferenciadas
para cada faixa salarial. A seguir, para consolidarmos o conhecimento,
vamos verificar na prática como é feito o cálculo do imposto de renda do
empregado.

Exemplo de cálculo do Imposto de Renda Retido na Fonte


Vamos considerar as seguintes premissas:

1. Salário-base: R$ 2.000,00
2. Comissões recebidas no mês: R$ 200,00

Identificação interna do documento


22 Cálculo da folha de pagamento

3. Outras verbas não indenizatórias: R$ 500,00


Salário de contribuição (1 + 2 + 3) = R$ 2.700,00
 Contribuição previdenciária: R$ 227,07
 Pensão alimentícia: R$ 100,00
 Número de dependentes: 2

A base de cálculo do imposto de renda será o salário de contribuição,


descontada a contribuição previdenciária oficial, a pensão alimentícia e o
número de dependentes multiplicado por R$ 189,59:

Salário de contribuição R$ 2.700,00

(–) Contribuição previdenciária - R$ 227,07

(–) Pensão alimentícia -R$ 100,00

(–) Desconto dependentes -R$ 379,18

(=) Base de cálculo IRPF R$ 1.993,75

Aplica-se, em seguida, a tabela progressiva vigente:

Parcela a deduzir
Base de cálculo (R$) Alíquota (%) do IRPF (R$)

Até 2.112,00 – –

De 2.112,01 até 2.826,65 7,5 158,40

De 2.826,66 até 3.751,05 15 370,40

De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 651,73

Acima de 4.664,68 27,5 884,96

Fonte: Brasil (2020b, documento on-line).

Com base na tabela, verifica-se que a base de cálculo de R$ 1.993,75 se


adequa à faixa em que a alíquota é de 7,5%. Dessa forma temos o
seguinte cálculo do imposto:

Imposto de Renda PF = R$ 1.975,18 × 7,5% = R$ 148,14


Imposto de Renda PF = R$ 1.975,18 × 7,5% = R$ 148,14 – R$ 142,80 = R$ 5,34

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 23

Veja que, na prática, a parcela a deduzir nada mais é do que 7,5% aplicado
à parcela isenta de R$ 1.903,98.

Outros descontos
Como discutido anteriormente, descontos autorizados por lei envolvem as
con- tribuições sindicais autorizadas pelo empregado, a contribuição
previdenciária (contribuição ao INSS), o imposto de renda retido na fonte, o
vale-transporte e as faltas e atrasos do empregado. Já tratamos dos
cálculos da contribuição previdenciária e do imposto de renda retido na
fonte. Abordaremos em seguida o desconto autorizado do vale-transporte.
Apesar do transporte ser um direito do empregado, a legislação não veda
ao empregador descontar parte do benefício concedido. Nos termos do art.
9º, I, do Decreto nº. 95.247/87 (BRASIL, 1987), poderá ser descontado do
em- pregado até 6% do salário-base.
Note que se trata de uma faculdade do empregado e que o princípio
da norma mais benéfica ao empregado é aplicável ao desconto (ex. caso
um documento coletivo tenha a previsão de um desconto menor,
prevalecerá a condição mais favorável ao empregado). Um outro ponto de
destaque se refere à base de cálculo do desconto para o empregado que
recebe salário fixo e variável. Não há dispositivo expresso que determine a
inclusão ou não da parte variável no cálculo do desconto do vale-
transporte, de modo que se recomenda uma consulta prévia à Secretaria
Especial de Trabalho e/ou sindicato da categoria.

Exemplo de desconto do vale-transporte


Empregado com salário mensal de R$ 2.000,00 utiliza por mês R$ 380,00 de
condução (ônibus e metrô). O valor máximo que poderá ser descontado será
de:

R$ 2.000,00 × 6% = R$ 160,00

As faltas e atrasos serão descontadas considerando os valores do salário-


-base, podendo ainda impactar os cálculos do RSR. Vejamos um exemplo:

Exemplo de desconto dos atrasos/faltas injustificadas e


reflexos no repouso semanal remunerado
Vamos considerar os seguintes dados:

Identificação interna do documento


24 Cálculo da folha de pagamento

 Salário-base: R$ 2.000,00
 Jornada de trabalho: 220 horas / mês
 Sh (salário-hora) = R$ 2.000,00 / 220 = R$ 9,09
 Atrasos e faltas na semana: 8 horas – 1 dia
Valor do desconto de horas = R$ 9,09 × 8 horas = R$ 72,73

Via de regra, como o mensalista já possui a remuneração do RSR contem-


plado no salário mensal, entende-se que o desconto deve ocorrer na mesma
base salarial, proporcional ao descanso semanal que foi remunerado, no
caso, um dia de trabalho.

Valor do desconto de DSR = R$ 2.000,00 / 30 dias = R$ 66,66

Em seguida, vale reforçarmos que por força da reforma trabalhista –


Lei nº. 13.467, de 13 de julho de 2017 (BRASIL, 2017b), o desconto da
contribuição sindical só será permitido mediante prévia autorização do
empregado. A parcela a ser descontada, quando autorizada, será realizada
no mês de março, ou no mês seguinte à admissão.
Por fim, a legislação abre a possibilidade de o empregador suprimir par-
celas do salário caso o empregado cause danos ao empregador (no limite de
70% do salário-base). O desconto pode ocorrer de duas formas: se verificado
dolo, sem a necessidade de autorização do empregado, e no caso de culpa,
com prévia autorização dele.

Os descontos previstos na folha de pagamento estão nos seguintes


documentos: CLT: art. 462, § 1º; art. 487, § 2º; art. 545; art. 548; art.
582 (BRASIL, 2017a); Lei nº. 8.212, de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 1991a); Lei nº.
7.713, de 22 de dezembro de 1988, art. 7º, § 1º (BRASIL, 1988); Decreto nº. 95.247,
de 17 de novembro de 1987, art. 9º, I (BRASIL, 1987); Decreto nº. 5, de 14 de janeiro
de 1991, art. 2º, I (BRASIL, 1991b).

Encargos sociais e patronais sobre a folha


Tratamos até agora os proventos e descontos que impactam o
empregado. Nesta seção apresentaremos os encargos sociais sobre a
folha, os quais impactarão o empregador.

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 25

Contribuição previdenciária patronal


O custeio da previdência é feito pelo tripé empregados, empregadores e
governo. Empregados e empregadores são financiadores da previdência
social de forma direta por meio de suas contribuições calculadas sobre o
salário e a folha de salários. O governo é responsável pelo financiamento
indireto, injetando parte dos tributos recebidos no sistema.
Vimos na seção anterior que os empregados contribuem na proporção de
seus rendimentos, conforme tabela e alíquotas predeterminadas variando
de 7,5% a 14%. No caso das empresas, a base de cálculo é o total da sua
folha de pagamentos, ou seja, o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas aos trabalhadores que lhe prestaram serviços. A contribuição
de responsabilidade dos empregadores é conhecida como contribuição
previ- denciária patronal.
A alíquota geral aplicada é de 20%. A exceção ocorre no caso das ins-
tituições financeiras e equiparadas (bancos comerciais, seguradoras,
sociedades de crédito, corretoras de valores, detentoras de títulos e valores
mobiliários, empresas de leasing, empresas de previdência privada), que
contribuirão com a alíquota de 20% além do adicional de 2,5%, totalizando
22,5%.
A contribuição patronal calculada nesses moldes poderá ser substituída
pela sistemática da contribuição sobre a receita bruta. Essa sistemática
foi criada pelo Governo Federal como um estímulo para que as empresas
reduzis- sem os custos com a folha de pagamentos. Trata-se do tema da
“Desoneração da Folha de Pagamento”, frequentemente debatido no
congresso nacional e divulgado pela mídia.
Nessa sistemática alguns segmentos da economia poderão substituir a
aplicação das alíquotas de 20% da contribuição previdenciária sobre o
total da folha de pagamento por percentuais sobre a receita bruta
auferida pela empresa. Atualmente a regra do percentual sobre a receita
bruta possui seis alíquotas distintas, aplicadas aos mais diversos
segmentos, Vejamos (BRASIL, 2018).

 Alíquota de 4,5%: construção de obras de infraestrutura (dos grupos


421, 422, 429 e 431 da CNAE); construção civil (dos grupos 412, 432, 433,
439 da CNAE); serviços de tecnologia da informação e de
comunicação; e desenvolvimento de circuitos integrados.
 Alíquota de 3%: serviços de call center.

Identificação interna do documento


26 Cálculo da folha de pagamento

 Alíquota de 2,5%: empresas fabricantes dos produtos classificados na


TIPI, conforme Anexo V da IN RFB 1.812/2018 (BRASIL, 2018). Trata-se de
uma lista extensa de códigos de produtos.
 Alíquota de 2%: transporte rodoviário coletivo de passageiros, de
itinerário fixo, classificados nas posições 4921-3 e 4922-1 do CNAE.
 Alíquota de 1,5%: empresas fabricantes dos produtos classificados na
TIPI, conforme Anexo V da IN RFB 1.812/2018 (BRASIL, 2018). Trata-se de
uma lista extensa de códigos de produtos, além de empresas de
transporte rodoviário de cargas, empresas jornalísticas e de
radiodifusão sonora.
 Alíquota de 1%: empresas fabricantes dos produtos classificados
na TIPI, conforme Anexo V da IN RFB 1.812/2018 (BRASIL, 2018).
Trata-se de uma lista extensa de códigos de produtos.

Caso a empresa possua mais de uma atividade, para fins de contribuição


patronal, deverá segregar as atividades sujeitas à contribuição com base na
receita bruta e aquelas sujeitas à contribuição com base na folha de
paga- mentos e proceder com os cálculos distintamente.

Exemplo de contribuição previdenciária patronal –


exemplo de cálculo
Confira os cálculos a seguir.
Empresa de transportes, cuja frota atende tanto o transporte coletivo
de passageiros quanto o de cargas:

 Folha de pagamento – unidade de negócios de transporte de


cargas: R$ 100.000,00.
 Receita bruta total: R$ 850.000,00 (40% dos serviços de transporte de
passageiros e 60% do transporte de cargas).
Contribuição previdenciária patronal s/ folha:
R$ 100.000,00  20% = R$ 20.000,00
Contribuição previdenciária patronal s/ receita bruta:
R$ 850.000,00  40%  2% = R$ 6.800,00
Contribuição previdenciária patronal total: R$
20.000,00 + R$ 6.800,00 = R$ 28.800,00

Empresas optantes pelo Simples Nacional


O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado, simplificado e
fa- vorecido previsto na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de
2006
Identificação interna do documento
Cálculo da folha de pagamento 27

(BRASIL, [2011]), permitindo que a empresa enquadrada no regime


recolha um percentual sobre a receita bruta auferida englobando todos os
tributos, inclusive a contribuição previdenciária patronal.

Fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS)


O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado pela Lei nº.
5.107, de 13 de setembro de 1966 (BRASIL, [1989]), sendo alterado pelo
Decreto-Lei nº 20, de 14 de setembro de 1966 (BRASIL, 1966), e
regulamentado pelo Decreto
nº 59.820, de 20 de dezembro de 1966 (BRASIL, [1990]).
O FGTS visa a assegurar aos empregados uma garantia pelo tempo de
serviço prestado às empresas, proporcionando uma reserva financeira ao
empregado para quando fosse dispensado. Trata-se de um depósito bancá-
rio, em instituição financeira oficial (como a Caixa Econômica Federal),
que poderá ser utilizado ou sacado nas hipóteses previstas em lei, dentre
as quais destacamos para o financiamento de moradia pelo Sistema
Financeiro da Habitação (SFH), no caso de tratamento de doenças graves,
como câncer e HIV, na dispensa sem justa causa, entre outros.
Os depósitos do FGTS são garantidos aos trabalhadores regidos pela CLT,
os avulsos, empregados rurais, domésticos, o trabalhador temporário,
ficando excluídos os autônomos e servidores públicos civis e militares,
ficando a cargo do empregador a disponibilização do crédito em conta
vinculada do trabalhador.
O valor do fundo de garantia a ser depositado pelo empregador será
calcu- lado sobre a remuneração paga ao empregado (salário, gorjetas,
comissões, gratificações, adicionais de periculosidade, insalubridade,
noturno, horas extras) aplicando-se a alíquota de 8%. O recolhimento é
compulsório, e caso o empregado não realize o depósito do FGTS, sobre o
valor não depositado incidirá juros de mora de 1% ao mês e multa de 20%.

Exemplo de cálculo de FGTS


Vamos considerar os seguintes dados do empregado CLT:

 Salário-base: R$ 2.000,00
 Horas extras do mês: R$ 84,00
 Adicional de periculosidade: R$ 600,00 (30% sobre o salário)
 Comissões do mês: R$ 1.200,00
 Adicional Noturno: R$ 200,00

Identificação interna do documento


28 Cálculo da folha de pagamento

Base de cálculo do FGTS: R$ 4.084,00


FGTS (8%): R$ 4.084,00 × 8% = R$ 326,72

Contribuições ao Sistema “S”


Sistema “S” é o termo que define o conjunto de organizações das
entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional,
assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica. Recebe
esse nome, pois as ins- tituições possuem na inicial de seu nome a letra
“S”.
As empresas recolhem as contribuições a essas instituições conforme o
seu enquadramento no código Fundo da Previdência e Assistência Social (FPAS).
Trata-se de um código que identifica a atividade econômica que a empresa ou o
trabalhador individual exerce. Os percentuais de recolhimento para cada
instituição são listados na tabela a seguir. A empresa deverá verificar à qual
instituição correspondente a sua atividade por meio do FPAS e aplicar a
alíquota correspondente.

Instituição Alíquota

Senai 1,0%

Sesi 1,5%

Senac 1,0%

Sesc 1,5%

Sebrae 0,3% a 0,6%

Senar 0,2% a 2,5%

Sest 1,5%

Senat 1,0%

Sescoop 2,5%

Fonte: Brasil (2020c, documento on-line).

Salário-educação
Trata-se de uma contribuição social que tem como objetivo fomentar os pro-
gramas, projetos e ações voltados para a educação básica pública. O salário
educação possui fundamento na Constituição Federal, mais especificamente
no § 5º do art. 212 (BRASIL, [2016], documento on-line):

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 29

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados,


o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na ma-
nutenção e desenvolvimento do ensino.
[…]
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a
contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei.

A base de cálculo é o total de remunerações pagas ou creditadas, a qual-


quer título, aos segurados empregados das empresas contribuintes, sobre o
qual aplica-se a alíquota de 2,5%. Referente à obrigatoriedade, o empresário
individual, as associações, as sociedades empresariais, urbana ou rural, com
fins lucrativos ou não, vinculadas à Seguridade Social, bem como as empre-
sas públicas e as sociedades de economia mista são obrigados a recolher
o salário-educação.

GIL-RAT (SAT e FAP)


O GIL-RAT (Contribuição do Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa
decorrente dos Riscos Ambientais do Trabalho) é uma contribuição previ-
denciária obrigatória, que tem como finalidade financiar a aposentadoria
especial e os benefícios concedidos em razão da ocorrência de incapacidade
laboral dos riscos no ambiente de trabalho. As alíquotas aplicáveis sobre
o total da remuneração paga, devida ou creditada ao empregado são de
1%, 2% ou 3%, e o enquadramento é feito com base no grau de risco (leve,
médio ou grave) da atividade preponderante exercida pelo trabalhador,
conforme o seu CNAE.
Deve-se considerar, ainda, o Fator Acidentário de Prevenção (FAP),
que atua como um flexibilizador do valor recolhido para o GIL-RAT. O bônus
e o málus podem variar de 0,5000 a 2,000, em quatro casas decimais. Em
suma, o FAP irá penalizar (málus) as empresas com o aumento em até
100% da alíquota do SAT (aplicação do FAP de 2,0000) ou reduzi-la
(bônus) em até 50% (aplicação do FAP de 0,5000). Mas como chegar no FAP?
Ao final de cada ano a previdência realiza um levantamento dos números
da empresa com o objetivo de verificar se há ocorrências de acidentes ou
doenças do trabalho, considerando os dois últimos anos de exercício.

Exemplo de cálculo de GIL-RAT


Veja a seguir o cálculo.

Identificação interna do documento


30 Cálculo da folha de pagamento

 SAT (enquadramento de risco): 2% (médio)


 FAP: 1,250
 GIL-RAT: 2,5% (2% × 1,250)
Base de cálculo do GIL-RAT: R$ 48.000,00 (remuneração dos empregados)
GIL-RAT: R$ 48.000,00 × 2,5% = R$ 1.200,00

Como pudemos estudar, o cálculo da folha de pagamentos é complexo:


envolve regras específicas para cada tipo de provento e desconto, para cada
segmento da nossa economia e condição contratual do empregado. Não
obstante, as regras trabalhistas vêm sofrendo mudanças significativas, o que
demandará um esforço cada vez maior dos profissionais que atuam nesta área.
Dessa forma, mais impor- tante do que a memorização de alíquotas, base de
cálculo e as infinitas regras, é a compreensão correta dos fundamentos de
cada aspecto da folha de pagamentos. Compreender tais fundamentos
ajudará a absorver com mais facilidade estas e as futuras alterações das
regras que impactam a folha de pagamento.

Referências
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho: CLT e normas correlatas. Brasília: Senado
Federal, 2017a. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/535468/clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf?sequence=6. Acesso em: 30 out. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 out. 2020.

BRASIL. Decreto n. 5, de 14 de janeiro de 1991. Regulamenta a Lei n. 6.321, de 14 de abril


de 1976, que trata do Programa de Alimentação do Trabalhador, revoga o Decreto n.
78.676, de 8 de novembro de 1976 e dá outras providências. Brasília: Presidência da
República, 1991b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/D0005. htm. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da


Previdência Social, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República,
1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm. Acesso
em: 29 out. 2020.

BRASIL. Decreto n. 59.820, de 20 de dezembro de 1966. Aprova o Regulamento do


Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Brasília: Presidência da República,
[1990]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D59820.htm. Acesso em:
29 out. 2020.

BRASIL. Decreto n. 95.247, de 17 de novembro de 1987. Regulamenta a Lei n. 7.418, de 16


de dezembro de 1985, que institui o Vale-Transporte, com a alteração da Lei n. 7.619,
de 30 de setembro de 1987. Brasília: Presidência da República, 1987. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d95247.htm. Acesso em: 29 out. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 20, de 14 de setembro de 1966. Introduz modificações na Lei n.
5.107 de 13 de setembro de 1966, que cria o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,
e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1966. Disponível em:

Identificação interna do documento


Cálculo da folha de pagamento 31

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/del0020.htm. Acesso
em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto


Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte... Brasília: Presidência da
República, [2011]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei Complementar n. 150, de 1 de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de


trabalho doméstico; altera as Leis n. 8.212, de 24 de julho de 1991... Brasília:
Presidência da República, 2015. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/ lcp150.htm. Acesso em: 29 out.
2020.

BRASIL. Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949. Repouso semanal remunerado e o pagamento


de salário nos dias feriados civis e religiosos. Brasília: Presidência da República, 1949.
Dis- ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0605.htm. Acesso em: 29 out.
2020.

BRASIL. Lei n. 4.749, de 12 de agosto de 1965. Dispõe sobre o Pagamento da Gratificação


Prevista na Lei. 4.090, de 13 de julho de 1962. Brasília: Presidência da República, 1965. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4749.htm#:~:text=LEI%20No%20
4.749%2C%20DE%2012%20DE%20AGOSTO%20DE%201965.&text=Disp%C3%B5e%20
sobre%20o%20Pagamento%20da,Art.. Acesso em: 29 out. 2020.
BRASIL. Lei n. 5.107, de 13 de setembro de 1966. Cria o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, [1989]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5107.htm. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei n. 7.713, de 22 de dezembro de 1988. Altera a legislação do imposto de renda,


e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1988. http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l7713.htm. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade


Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília: Presidência da
República, 1991a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.
htm. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943... Brasília:
Presidência da República, 2017b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em:
29 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Economia. Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Tabela


de Contribuição Mensal. Brasília, 2020a. Disponível em:
https://www.inss.gov.br/servicos-
-do-inss/calculo-da-guia-da-previdencia-social-gps/tabela-de-contribuicao-mensal/.
Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal. IRPF (Imposto sobre a renda das
pessoas físicas). Brasília, 2020b. Disponível em: https://www.gov.br/receitafede-
ral/pt-br/assuntos/orientacao-tributaria/tributos/irpf-imposto-de-renda-pessoa-
-fisica#calculo_mensal_IRPF. Acesso em: 29 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Economia. Segurança e Saúde no Trabalho. Normas Regulamen-
tadoras (NR). NR 15 – Atividades e operações insalubres. Brasília: SIT, 2019a.
Disponível em:
https://sit.trabalho.gov.br/portal/images/SST/SST_normas_regulamentadoras/ NR-
15-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Economia. Segurança e Saúde no Trabalho. Normas Regulamen-


Identificação interna do documento
tadoras (NR). NR 16 – Atividades e operações perigosas. Brasília: SIT, 2019b.
Disponível

Identificação interna do documento


32 Cálculo da folha de pagamento

em: https://sit.trabalho.gov.br/portal/images/SST/SST_normas_regulamentadoras/
NR-16-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria da Receita Federal do Brasil. Instrução


Normativa n. 1.812, de 28 de junho de 2018. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília,
DF, n. 125, p. 51, 2 jul. 2018. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_pu-
blisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/28164078/do1-2018-07-02-instrucao-normativa-
-n-1-812-de-28-de-junho-de-2018-28164071. Acesso em: 29 out. 2020.
BRASIL. Senado Federal. Sistema S. Brasília, DF, 2020c. Disponível em: https://www12.
senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s. Acesso em: 29 out. 2020.
MARTINS, S. P. Direito do trabalho. 36. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
PLÁ RODRIGUEZ, A. Princípios de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Identificação interna do documento


Identificação interna do documento
Identificação interna do documento
Nome do arquivo: C11_Calculo_folha_pagamento_MC_FINAL_20230420171141373545 2.pdf
Data de vinculação à solicitação: 20/04/2023 17:11 Aplicativo: 662504

Identificação interna do documento


Identificação interna do documento
Nome do arquivo: C11_Calculo_folha_pagamento_FINAL_20230713082731790916.pdf Data de vinculação à solicitação: 1
Aplicativo: 677008

Identificação interna do documento

Você também pode gostar