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DIREITO DO TRABALHO

2. Princípios do direito do trabalho

Funções dos princípios: Função informadora – servem de fonte de inspiração ao legislador e


de fundamento para as normas jurídicas. Função normativa – servem como fonte supletiva,
nas lacunas ou nas omissões da lei. Função interpretativa – servem como critério orientador
para os intérpretes e aplicadores da lei.
Introdução

As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais


Art. 8º, CLT

ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por


eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do
trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público.

Os princípios da CF são aplicáveis no âmbito do Direito do Trabalho.

2.1. Princípios específicos do Direito do Trabalho

2.1.1. Princípio protetor


Amparo preferencial do trabalhador, de modo a nivelar desigualdades. No entanto, com a Reforma
Trabalhista (Lei n. 13.467/2017), embora não tenha sido extinto, o princípio protetor foi afetado.
a) Ampliação da b) Previsão de que existem c) Prevalência do
13.467/2017 que mitigaram

autonomia individual do trabalhadores que não negociado sobre o


a amplitude e a força do

trabalhador, permitindo e podem ser considerados legislado – o legislador


Aspectos da Lei n.

princípio protetor

considerando válida a economicamente mais valorizou a negociação


negociação direta entre fracos e sobre os quais não coletiva, considerando-a
este e o empregador sobre se pode pressupor válida mesmo que esta
diversos aspectos. desigualdade em relação ao contrarie certos preceitos
empregador – legais e fixou como
“hipersuficientes”. princípio a intervenção
mínima na autonomia da
vontade coletiva.
Apesar dessas mudanças, a proteção do trabalhador permanece sendo o fundamento e o mais
importante princípio do Direito do Trabalho, e deve ser analisado a partir das seguintes regras:
Regra da norma mais favorável
Sempre que existirem várias normas aplicáveis a uma mesma situação jurídica, deve-se aplicar a
norma mais favorável ao trabalhador.

Teoria do As normas devem ser comparadas em conjunto, não é possível fazer a


conglobament comparação extraindo de cada uma das normas só as disposições mais favoráveis.
o

Destaque-se, porém, que o art. 620 da CLT fragiliza a regra da norma mais favorável, à medida que
dispõe que as condições fixadas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as
estipuladas em convenção coletiva de trabalho.
Regra do “in dubio pro operario”

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Entre 2+ interpretações viáveis de uma norma jurídica, o intérprete deve optar pela mais favorável
ao trabalhador.
Essa regra foi mitigada pela Reforma Trabalhista, em especial em relação à restrição de
interpretação imposta à Justiça do Trabalho sobre o conteúdo das convenções e acordos coletivos de
trabalho.
Regra da condição mais benéfica
Pressupõe a existência de uma situação concreta, anteriormente reconhecida, e determina que ela
deve ser respeitada, na medida em que for mais favorável ao trabalhador do que a nova norma
aplicável.

I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas


Súmula nº

anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do


51, TST

regulamento.
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por
um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.

Essa regra também foi impactada pela Reforma Trabalhista, em razão da ampliação da autonomia
individual e da validação das pactuações decorrentes de acordo direto entre empregado e
empregador.
2.1.2. Princípio da irrenunciabilidade
Impossibilidade de o empregado abrir mão voluntariamente dos direitos que lhe são concedidos pela
legislação trabalhista.

Renúncia Transação
Ato unilateral e voluntário pelo qual o titular de Ato bilateral pelo qual as partes de uma relação
um direito certo desiste dele. jurídica, fazendo concessões reciprocas,
O empregado não pode renunciar direitos extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas.
assegurados pelas normas de ordem pública – as É permitida, desde que não prejudique o
renúncias que ocorrerem serão ineficazes empregado – caso contrário, haverá nulidade da
perante o direito (nulas). cláusula infringente da garantia (art. 468, CLT).

A irrenunciabilidade de direitos trabalhistas foi mitigada pela Reforma Trabalhista, com a previsão
da figura do trabalhador “hipersuficiente”, que pode negociar condições de trabalho menos
benéficas, em comparação com os direitos trabalhistas previstos na legislação, salvo aqueles
garantidos pela CF, ainda que isso signifique renúncia a tais direitos.
2.1.3. Princípio da continuidade da relação de emprego
Presume-se que o contrato de trabalho terá validade por prazo indeterminado.
O ônus de provar o término do contrato por iniciativa do obreiro é de iniciativa do empregador, pois
o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado
(Súmula 212, TST). Também esse princípio foi relativizado pela Reforma Trabalhista (possibilidade
de rescisão do contrato de trabalho por comum acordo entre as partes; possibilidade mais facilitada
de o empregador proceder a dispensas coletivas ou plúrimas).
2.1.4. Princípio da primazia da realidade
Em caso de discordância entre o que ocorre na prática e o que emerge de documentos ou acordos,
deve-se dar preferência aos fatos (contrato-realidade) – prevalência dos fatos sobre as formas,
formalidades ou as aparências. O que vai importar é o que ocorre na prática, muito mais do que
aquilo que conste em documentos, formulários e instrumentos de controle.
2.1.5. Princípio da razoabilidade

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Limite ou um freio formal a ser aplicado naquelas áreas do comportamento onde a norma não pode
prescrever limites muito rígidos, nem pode prever a infinidade de circunstâncias possíveis.
a) Serve para medir a verossimilhança de determinada aplicação ou solução;
Aplicações b) Atua como limite de certas faculdades cuja amplitude pode prestar-se à
arbitrariedade.
2.1.6. Princípio da boa-fé
O trabalhador deve cumprir o contrato de boa-fé, enquanto o empregador deve cumprir lealmente
suas obrigações.
A boa-fé se refere à conduta da pessoa que deve cumprir realmente com seu dever, pressupondo uma
posição de honestidade e honradez na relação jurídica, porque contém implícita a consciência de não
enganar, não prejudicar, nem causar danos.

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