Você está na página 1de 10

0

UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO”


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO AMBIENTAL

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 9º SALA: 32B PERÍODO: Noturno

Ribeirão Preto

2/2020
1

O Bem Jurídico Ambiental


Resumo
O presente artigo tem como objetivo esclarecer a natureza do conceito de “Bem jurídico
ambiental”. A partir dos dispositivos legais, da jurisprudência e do entendimento doutrinário,
será abordado os elementos que compõem tal conceito e como ele se distingue da noção de
“Bem ambiental”, englobando não somente os aspectos naturais e biológicos, assim como os
fatores antropológicos, demonstrando que o meio ambiente também está presente na
sociedade.

Introdução

A Constituição Federal, em seu Capítulo VI, precisamente em seu art. 225, nos
oferece a noção de Meio de Ambiente e como protegê-lo, destacando que tal compromisso
não é uma atribuição específica do Estado, mas também da sociedade. Isso quer dizer que o
meio ambiente é uma entidade portadora de direitos, mas os deveres estão impostos a cada um
de nós, para que sua tutela seja efetiva. Nesse sentido, não é absurdo afirmar que o meio
ambiente possui o reconhecimento de sua autonomia, enquanto Bem Ambiental, entendendo a
partir de seu caráter transcendental, de proporção intergeracional, na medida em que se
estende para as gerações futuras, motivo de sua preservação, pois se trata de uma entidade
coletiva e, por isso, difuso e universal.
Em 1972, a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada em Escolmo, na Suécia, destaca a importância de sua proteção por aquilo que ele é.
A finalidade protetiva é refletiva sob os prismas do antropocentrismo, do ecocentrismo e do
biocentrismo que, de um modo geral, pode ser entendido como a dimensão humana, natural e
das formas de vida variadas que nele estão inseridas. E é esse motivo que a necessidade de
regular o modo e a forma de apropriação dos recursos naturais é tão importante e, sem dúvida,
vital.
No Brasil, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, trouxe novas
reflexões sobre o tema. A noção de sustentabilidade e desenvolvimento econômico e social
devem andar juntas com a preservação dos recursos naturais. Nesse sentido, o presente artigo
visa esclarecer o que se entende quando falamos de “Bem jurídico ambiental”, delineando as
suas esferas e a compreensão interdisciplinar que envolve tal conceito, apresentando as
doutrinas que tratam sobre o assunto e como a jurisprudência caminha para a uniformização
dessa consciência.
2

O Bem Jurídico Ambiental

Quando falamos em Direito Ambiental, ou direito ao meio ambiente, adentramos


numa esfera do direito que transcende ao indivíduo, pois se trata de fruição coletiva e, por
isso, só faz sentido quando o consideramos no âmbito coletivo. A consequência dessa
afirmação tem como característica fundamental que o bem ambiental não se submete a
finalidades e interesses pessoais, excluindo a possibilidade de uso por outrem. No entanto, é
possível usar recursos ambientais para fins econômicos, desde que seja feito o pagamento de
compensações de natureza ambiental.
O “bem ambiental” pode ser compreendido como o meio ambiente equilibrado
ecologicamente, levado em sentido qualitativo e não somente o meio ambiente, de
característica quantitativa, já que se trata do conjunto de recursos ambientais presentes na
natureza. Nesse sentido, o aspecto qualitativo do “bem ambiental” é a função ecológica de
cada um desses recursos, que é muito mais importante, e o meio em que ele se encontra. Dito
de outro modo, de nada adianta uma quantidade exuberante da bacia hidrográfica se tais rios
se encontram poluídos, impedindo a vida dos seres aquáticos, de saciar a sede dos animais
daquela região ou, até mesmo, de ser empregado como fonte de água potável para o uso
humano. Isso quer dizer que tais rios, mesmo numerosos, não cumprem sua função ambiental,
nem estão localizados num meio ambiente ecologicamente equilibrado, e é justamente por
esse motivo, que o “bem ambiental” é mais importante do que um recurso natural estéril,
esgotado ou comprometido.
Mesmo com tal distinção “bem ambiental” e meio ambiente estão intimamente
relacionados e, dificilmente, seria possível explicar um sem esclarecer o outro, portanto, é
imprescindível maior detalhamento desses dois conceitos.
O meio ambiente é o lugar, o sítio onde se forma a vida, onde ela está e existe e
deve ser entendido a partir de determinadas características, ou seja, pela sua constituição, pelo
seu equilíbrio, pelos fatores orgânicos e inorgânicos e pelo seu bem jurídico. Assim, ao se
tratar da constituição do meio ambiente, significa o conjunto de funções dos recursos
ambientais. Quanto ao equilíbrio, a necessidade de conservação e proteção. No que tange aos
fatores orgânicos, se considera as suas mais variadas formas de vida, englobadas sob as
terminologias da fauna e da flora. Os fatores inorgânicos, mesmo que não sejam seres vivos,
3

possuem vida, desde que se considere como as variadas formas de vida que eles abrangem,
como a terra, a água, o solo, o ar, o clima, que são fundamentais, se estiverem equilibrados,
para o surgimento, a manutenção e o desenvolvimento das formas de vida. O bem jurídico,
por sua vez, são as funções que esses elementos desempenham ecologicamente na natureza,
isto é, a qualidade dos recursos e suas respectivas funções nos lugares em que se encontram.
Assim, quando se fala de “bem ambiental”, o que se deve levar em conta não é um
recurso natural propriamente dito, mas a sua funcionalidade, característica de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado e, por isso, a proteção de sua função é tão importante,
não só para o desenvolvimento econômico sustentável, mas para que tais recursos possam
cumprir suas determinadas funções para as gerações futuras e mantendo o equilíbrio para a
preservação da natureza de modo racional. Para mensurar tal equilíbrio, as bases científicas
avaliam a funcionalidade dos recursos ambientais, de modo que se possa mensurar um
“padrão” de qualidade ambiental. Nesse sentido, afirma Renata Rocha:
Há que se estabelecer o diálogo contínuo entre as ciências para formação, construção e
inevitáveis modificações do bem ambiental é fundamental, vez que somente com a
composição de um espaço comum para fala dos diversos agentes – sociedade, empresa e
ente público, possibilitará a realização dos anseios humanos e a manutenção dos recursos
ambientais. Enquanto vigir o não olhar, a ausência de pertencimento ao locus ambiental, os
problemas tendem a se intensificar de forma exponencial (ROCHA, 2016, p. 12).

O bem jurídico ambiental pode ser subdividido de duas formas, a saber, o


macrobem e o microbem. No primeiro caso, se trata de um recurso natural de característica
intangível, inapropriável, imaterial. Vejamos de modo mais detalahado.
O macro bem ambiental é o próprio bem jurídico fundamental, a Cf se preocupa
com a qualidade da natureza, é o equilíbrio ecológico do meio, é fazer com que todos os
elementos do meio cumpram e estejam em condições de cumprir sua função ecológica,
assegurando a qualidade de vida e a fruição. O bem ambiental está degradado
independentemente de alguém ter sido prejudicado pela degradação. É poluição toda
degradação de alteração de um elemento da natureza, afeta a sua função ecológica, dentro de
um ecossistema. E é irrelevante saber se da degradação veio prejuízos a saúde, porque ainda
assim é possível obter a reparação do meio ambiente, sem que alguém tenha sido prejudicado
efetivamente. A responsabilidade de dano ao bem ambiental é objetiva e irreparável. Vejamos
o seguinte julgado:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INDENIZAÇÃO POR DANO
AMBIENTAL. LAUDO TÉCNICO PERICIAL QUE ATESTA O NEXO CAUSAL
ENTRE O DANO E AS ATIVIDADES DE OPERAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO
DE VIDEIRA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS AMBIENTAIS QUE NÃO
PODEM SER MENSURADOS. DANO QUE ABRANGE MUITO MAIS DO QUE O
APENAS O BEM ONDE ENCONTRA-SE O ATERRO SANITÁRIO. INDENIZAÇÃO
DEVIDA. MULTA POR DESCUMPRIMENTO DA MEDIDA E REPARAÇÃO DOS
4

DANOS MANTIDA. PREQUESTIONAMENTO. DESNECESSIDADE DE


MANIFESTAÇÃO EXPRESSA ACERCA DE TODOS OS DISPOSITIVOS LEGAIS
APRESENTADOS PELAS PARTES. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJ-SC - AC: 00055671920068240079 Videira 0005567-19.2006.8.24.0079, Relator:
Artur Jenichen Filho, Data de Julgamento: 14/11/2019, Quinta Câmara de Direito
Público)

É um bem imaterial, intangível, precisa sempre de ciências ambientais, não tem


como atuar sem a ajuda de outras áreas específicas. É imaterial porque a qualidade ambiental
não se toca, apreende abstratamente. Acrescenta-se à imaterialidade do bem ambiental a
infungibilidade, visto que é um bem que insubstituível, assim como não pode ser reposto por
outro, é um bem que possui um papel na natureza, não tem como substituir essa função. A
infungibilidade acarreta a necessidade de que devem existir normas e leis com papel
preventivo, um comportamento anterior à degradação do bem. A reparação é improvável ou
difícil de reconduzir à condição anterior, dada a sua infungibilidade.
Como medida protetiva para a degradação, no ordenamento jurídico brasileiro, a
responsabilidade civil ambiental é objetiva, decorre do simples nexo causal, em relação à
degradação. Desse modo o Poder de polícia ambiental, é um poder interventivo, protetivo.
Além disso, o bem ambiental é indisponível, isso quer dizer que não pertence a ninguém
individualmente, mas pela comunidade, ninguém tem disposição, já que substancialmente
coletivo e, por isso, é impossível dispor do que não se tem, nas palavras de Fiorillo:
O art. 225 estabelece, por via de consequência, a existência de uma norma constitucional
vinculada ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, assim como reafirma que todos, e
não tão somente as pessoas naturais, as pessoas jurídicas de direito privado ou mesmo as
pessoas jurídicas de direito público interno, são titulares desse direito, não se reportando,
por conseguinte, a uma pessoa individualmente concebida, mas sim a uma coletividade de
pessoas indefinidas, no sentido de destacar uma posição para além da visão individual,
demarcando critério nitidamente transindividual, em que não se pretende determinar, de
forma rigorosa, seus titulares(FIORILLO, 2013, p. 171).

O uso comum do povo é de fruição coletiva, constitucionalmente há uma obrigação do estado


com a sociedade de que os recursos ambientais sejam equitativos, e acesso a todos. Nesse
sentido se fala que o bem jurídico é de titularidade coletiva, já que é comunidade, e sendo a
comunidade uma totalidade, um coletivo é que se pensa na indivisibilidade do bem ambiental,
de fruição de todos simultaneamente sem que consiga partilhar o grau de participação. Não
tem como partilhar o grau de proveito ou prejuízo, é isso a indivisibilidade.
Ninguém está autorizado ao direito de abdicar da qualidade ambiental, por isso o
bem ambiental é irrenunciável e intransacionável, de modo que não entra na possibilidade de
transação, que é previsto em lei, art. 5º, §6º, da lei 7.347/85, permite que órgãos públicos
possam firmar ajustamento de condutas, ou seja, fazer com que a conduta do estado ou do
5

particular esteja em conformidade com a lei. Nessa situação o Ministério Público ao invés de
entrar com ação de reparação ambiental, ele pode firmar o ajustamento de conduta, desde que
faça com que o sujeito repare tudo e evite ainda mais danos.
O bem jurídico ambiental é imprescritível, compreendo a imprescritibilidade de
duas formas, a saber, de um lado, é insuscetível de usucapião, não pode ser apropriado por
alguém, não dá o direito de posse, não existe posse ambiental. Por outro lado, a ação
destinada a promover a reparação ambiental é imprescritível, ou seja, constatado o dano
ambiental, não importa o tempo, quem pode agir MP, DP, e outros órgãos legitimados,
lembrando que a sua proteção é dever de todos, pode ingressar com ação judicial a qualquer
tempo. O dano ambiental ele tem uma qualidade de se alongar no tempo e se perpetuar.
Vejamos a jurisprudência em torno da imprescritibilidade da propositura da ação:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. MEIO AMBIENTE.
Prescrição. Inocorrência. O dano ambiental se perpetua no tempo, razão pela qual não há
falar em prazo prescricional. Precedentes desta Corte e do STJ. Legitimidade e
responsabilidade do proprietário, possuidor e sucessor. Responsabilidade objetiva. Dano
ambiental comprovado. Dever de reparação. Autuação que se mantém, não obstante a
superveniência da Lei n. 12.651/12. Necessidade de o projeto de recuperação observar os
ditames da novel legislação. Responsabilização do Município, em face da inobservância
do seu dever de fiscalização. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS. SENTENÇA
CONFIRMADA, NO MAIS, EM REEXAME NECESSÁRIO. (Apelação Cível Nº
70054297155, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe
Silveira Difini, Julgado em 30/10/2013)
(TJ-RS - AC: 70054297155 RS, Relator: Luiz Felipe Silveira Difini, Data de Julgamento:
30/10/2013, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
18/12/2013).

O microbem ambiental, por sua vez, é constituído de elementos que integram e


formam o meio ambiente. Dito de outro modo, são os recursos, a quantidade existente em
determinado local e sua disponibilidade. A conscientização de se estabelecer o limite de
apropriação de recursos ambiental pelo homem de acordo com a capacidade desses bens. São
apreensíveis, tangíveis, portanto, materiais, ainda que não se veja, como o ar, ele é de alguma
forma tangível. No microbem, por sua vez, temos um âmbito apropriável, até o limite de
suporte de um recurso ambiental pelo homem. Mas qual é o limite de suporte de um recurso
ambiental? Para responder tal questão é necessário estender o limite do conceito de bem
ambiental para além de seu aspecto meramente natural, inserindo, em sua essência, o que é
intrínseco ao ambiente, ou seja, nosso meio ambiente não é somente constituído de natureza,
mas também das produções culturais humanas, o mundo do trabalho, a organização política, a
família – todos esses elementos participam de um ambiente, estão inseridos em um
determinado ambiente e, dessa maneira, temos que delimitar quais são as características de
cada um desses elementos, tanto naturais, quanto artificiais. Portanto, não se pode tomar
6

apenas a acepção do termo em sentido ecológico, biológico ou natural, ao contrário, é pela


introdução de uma compreensão jurídica que se aproxima do esclarecimento de tal conceito,
levando em conta a realidade humana e suas interações, produções e transformações.
Por meio do entendimento do conceito jurídico de bem ambiental ou de “Bem
jurídico ambiental” temos, de um lado, o aspecto natural, a natureza e seus elementos
orgânicos e inorgânicos; de outro, o aspecto artificial, ou seja, as criações humanas, por
exemplo, a cultura, o trabalho e tudo o que é construído pelos seres humanos.
O art. 216 da Constituição Federal traz em seu bojo o significado de Meio
Ambiente Cultural que, reunindo seus principais fatores, se destaca a história, a memória, a
identidade, o patrimônio material e imaterial, o sentido da vida, as produções artísticas,
esportivas, folclóricas de um povo, de uma região, de um país.
No art. 200, inciso VIII, da Constituição Federal, o Meio Ambiente do Trabalho é
compreendido como o meio propiciado ou adequado para o desenvolvimento, assim como a
prevenção do meio e de quem está nele inserido, a partir da proteção da salubridade e da
integridade física e psíquica.
Resta falar das demais esferas das interações humanas, e é exatamente tais esferas
que são denominadas como Meio Ambiente Construído. Essa noção pode ser entendida sob
duas perspectivas, são elas: o meio ambiente construído fechado, constituída pela casa, pelo
trabalho, pela intimidade e pela vida privada; de outro modo, o meio ambiente construído
aberto abrange a sociedade como tal, a escola, a vida pública, as ruas, as instituições, entre
outros fatores de natureza coletiva.
O bem jurídico ambiental, como se pode observar é muito amplo, como também é
muito próximo de cada cidadão, na medida em que se faz presente desde sua esfera particular
até ao domínio coletivo, social e público, atraindo para si todas as formas de construções e
interações humanas entre humanos, e também das interações humanas com suas formas de
organização e com a natureza. Desse modo, “o direito ambiental possui uma necessária visão
antropocêntrica, porquanto o único animal racional é o homem, cabendo a este a preservação
das espécies, incluindo a sua própria” (FIORILLO, 2013, p. 46). Se há o direito dos povos à
busca do desenvolvimento, este não se deve efetivar à custa da degradação do meio ambiente.
A busca do desenvolvimento sustentável implica no uso de ações racionais que preservem os
processos e sistemas essenciais à vida e à manutenção do equilíbrio ecológico. Neste âmbito,
pode-se inserir, inclusive, a questão da função socioambiental da propriedade, pois que a
exploração racional e a preservação dos recursos naturais, compõem exatamente a ideia do
7

desenvolvimento sustentável, ou seja, busca do desenvolvimento sem violar a sustentabilidade


do meio ambiente.
A solidariedade e perpetuidade da vida humana enquanto espécie, faz com que o
homem pense não só na existência presente, mas nas gerações que virão sucessivamente. O
meio ambiente é um bem que vem do passado, passa pelo presente e há de permanecer viável
para a humanidade que se sucede continuamente, com efeito, diz Fiorillo.
O patrimônio genético merece proteção jurídica em face de relacionar-se à possibilidade
trazida pela engenharia genética de utilização de gametas conservados em bancos genéticos
para a construção de seres vivos, possibilitando a criação e o desenvolvimento de uma
unidade viva sempre que houver interesse (FIORILLO, 2013, p. 58).

Tal compromisso define o sentido da responsabilidade intergeração. Interessante notar que há


uma responsabilização por um direito futuro, porvir, não presente, mas possível. E nesse
sentido é importante destacar a proteção do patrimônio genético.
A solidariedade e o compromisso com a responsabilidade e preservação de âmbito
intergeracional também se estende às espécies, que no futuro poderão ser multiplicadas de
acordo com os interesses econômicos, científicos, ecológicos e, acima de tudo, eliminar a
ameaça de extinção de determinados seres vivos que contribuem, com suas especificidades à
manutenção do equilíbrio do meio ambiente.
O assunto não se esgota por aqui, mas é necessário sempre ter em mente que,
diferentemente do assunto, o bem ambiental se esgota. A conscientização, as políticas de
proteção ao meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e os órgãos de proteção são
algumas das formas existentes para a sua tutela, mesmo sabendo que ainda são insuficientes,
já que danos ambientais ocorrem e sua reparação nunca possibilitará o retorno à condição
anterior ao dano. Multas, dinheiro, encarceramento dos responsáveis, não servem nem como
consolo, pois isso apenas garante a satisfação de alguns humanos, mas nunca se pode
mensurar o prejuízo da fauna, da flora, do clima, do solo, do ar, da água e das gerações
futuras.

Considerações finais

Tratar desse tema, particularmente, é tocante. E isso não é retórica apoiada em


falso sentimentalismo, mas despertar sobre o meio ambiente, a natureza, o bem jurídico
ambiental revela o pouco que ainda reconhecemos de sua importância. Passando um dia todo
inserido na rotina do trabalho, na família, no caminho de um ao outro e nem sequer
constatamos que estamos envolvidos no meio ambiente, seja pelo ar que respiramos, seja no
8

meio ambiente do trabalho, no meio ambiente fechado ou aberto, seja quando amaldiçoamos
um pássaro que nos acorda com seu canto, o que será que aconteceu com os seres humanos
que, em dado momento, esqueceu sua condição natural, suas raízes naturais e daquilo que é
vital para a sua permanência na Terra?
O bem jurídico ambiental, como foi exposto, é abrangente, está em todas as
esferas humanas e naturais e, por isso, sua proteção é condição para a posteridade, não só
humana, mas de todos os seres vivos. Considerar o bem jurídico ambiental a partir de
concepções biocêntricas e ecocêntricas é considerá-lo apenas sob duas facetas, já que seu
aspecto antropocêntrico não é o mais importante, porque não se trata de alçar um lugar, um
patamar ou condição superior e especial aos seres humanos, porém é sob esta faceta que a
responsabilidade e a consciência de sua proteção se torna possível, além de abranger as
produções humanas e seu modo de organização de variadas formas.
Posições doutrinárias e jurisprudenciais se encaminham direções semelhantes,
mas são as Conferências Internacionais as fontes mais férteis, não só pela atualização do
debate ou pelas raízes históricas que tal preocupação veio à tona, ao contrário, são as
Conferências que mobilizam as nações, atraem a atenção das pessoas, despertam militantes
adormecidos e, acima de tudo, prestam homenagem ao meio ambiente, faz do bem jurídico
ambiental o bem dos bens, já que nada existiria sem ele ou seria muito difícil de existir, na
medida que a escassez dos recursos, o esgotamento do limite do suporte de um bem ambiental
e a ausência do aspecto qualitativo pouco possibilitaria produzir, pouco seria possível obter e
não reconheceríamos o mundo, já que ainda não chegamos nessa grave condição. Também
não é preciso esperar acontecer. Basta cada um fazer o seu papel e cobrar das autoridades o
que está na lei. O meio ambiente agradece e o bem jurídico ambiental resiste, perdura e nos
mantém.
9

Referências
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco Curso de direito ambiental brasileiro. 14. ed. rev., ampl. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2013.

ROCHA, Renata Rodrigues de Castro. O Conceito Material De Bem Jurídico Ambiental:


Uma Visão Ontológica Do Meio Ambiente Numa Perspectiva Interdisciplinar. Revista
Jurídica vol. 02, n°. 43, Curitiba, 2016. Pp 1-19 DOI: 10.6084/m9.figshare.32074301.

TJ-SC - AC: 00055671920068240079 Videira 0005567-19.2006.8.24.0079, Relator: Artur


Jenichen Filho, Data de Julgamento: 14/11/2019, Quinta Câmara de Direito Público

TJ-RS - AC: 70054297155 RS, Relator: Luiz Felipe Silveira Difini, Data de Julgamento:
30/10/2013, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
18/12/2013

Você também pode gostar