Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIREITO AMBIENTAL
Ribeirão Preto
2/2020
1
Introdução
A Constituição Federal, em seu Capítulo VI, precisamente em seu art. 225, nos
oferece a noção de Meio de Ambiente e como protegê-lo, destacando que tal compromisso
não é uma atribuição específica do Estado, mas também da sociedade. Isso quer dizer que o
meio ambiente é uma entidade portadora de direitos, mas os deveres estão impostos a cada um
de nós, para que sua tutela seja efetiva. Nesse sentido, não é absurdo afirmar que o meio
ambiente possui o reconhecimento de sua autonomia, enquanto Bem Ambiental, entendendo a
partir de seu caráter transcendental, de proporção intergeracional, na medida em que se
estende para as gerações futuras, motivo de sua preservação, pois se trata de uma entidade
coletiva e, por isso, difuso e universal.
Em 1972, a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada em Escolmo, na Suécia, destaca a importância de sua proteção por aquilo que ele é.
A finalidade protetiva é refletiva sob os prismas do antropocentrismo, do ecocentrismo e do
biocentrismo que, de um modo geral, pode ser entendido como a dimensão humana, natural e
das formas de vida variadas que nele estão inseridas. E é esse motivo que a necessidade de
regular o modo e a forma de apropriação dos recursos naturais é tão importante e, sem dúvida,
vital.
No Brasil, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, trouxe novas
reflexões sobre o tema. A noção de sustentabilidade e desenvolvimento econômico e social
devem andar juntas com a preservação dos recursos naturais. Nesse sentido, o presente artigo
visa esclarecer o que se entende quando falamos de “Bem jurídico ambiental”, delineando as
suas esferas e a compreensão interdisciplinar que envolve tal conceito, apresentando as
doutrinas que tratam sobre o assunto e como a jurisprudência caminha para a uniformização
dessa consciência.
2
possuem vida, desde que se considere como as variadas formas de vida que eles abrangem,
como a terra, a água, o solo, o ar, o clima, que são fundamentais, se estiverem equilibrados,
para o surgimento, a manutenção e o desenvolvimento das formas de vida. O bem jurídico,
por sua vez, são as funções que esses elementos desempenham ecologicamente na natureza,
isto é, a qualidade dos recursos e suas respectivas funções nos lugares em que se encontram.
Assim, quando se fala de “bem ambiental”, o que se deve levar em conta não é um
recurso natural propriamente dito, mas a sua funcionalidade, característica de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado e, por isso, a proteção de sua função é tão importante,
não só para o desenvolvimento econômico sustentável, mas para que tais recursos possam
cumprir suas determinadas funções para as gerações futuras e mantendo o equilíbrio para a
preservação da natureza de modo racional. Para mensurar tal equilíbrio, as bases científicas
avaliam a funcionalidade dos recursos ambientais, de modo que se possa mensurar um
“padrão” de qualidade ambiental. Nesse sentido, afirma Renata Rocha:
Há que se estabelecer o diálogo contínuo entre as ciências para formação, construção e
inevitáveis modificações do bem ambiental é fundamental, vez que somente com a
composição de um espaço comum para fala dos diversos agentes – sociedade, empresa e
ente público, possibilitará a realização dos anseios humanos e a manutenção dos recursos
ambientais. Enquanto vigir o não olhar, a ausência de pertencimento ao locus ambiental, os
problemas tendem a se intensificar de forma exponencial (ROCHA, 2016, p. 12).
particular esteja em conformidade com a lei. Nessa situação o Ministério Público ao invés de
entrar com ação de reparação ambiental, ele pode firmar o ajustamento de conduta, desde que
faça com que o sujeito repare tudo e evite ainda mais danos.
O bem jurídico ambiental é imprescritível, compreendo a imprescritibilidade de
duas formas, a saber, de um lado, é insuscetível de usucapião, não pode ser apropriado por
alguém, não dá o direito de posse, não existe posse ambiental. Por outro lado, a ação
destinada a promover a reparação ambiental é imprescritível, ou seja, constatado o dano
ambiental, não importa o tempo, quem pode agir MP, DP, e outros órgãos legitimados,
lembrando que a sua proteção é dever de todos, pode ingressar com ação judicial a qualquer
tempo. O dano ambiental ele tem uma qualidade de se alongar no tempo e se perpetuar.
Vejamos a jurisprudência em torno da imprescritibilidade da propositura da ação:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. MEIO AMBIENTE.
Prescrição. Inocorrência. O dano ambiental se perpetua no tempo, razão pela qual não há
falar em prazo prescricional. Precedentes desta Corte e do STJ. Legitimidade e
responsabilidade do proprietário, possuidor e sucessor. Responsabilidade objetiva. Dano
ambiental comprovado. Dever de reparação. Autuação que se mantém, não obstante a
superveniência da Lei n. 12.651/12. Necessidade de o projeto de recuperação observar os
ditames da novel legislação. Responsabilização do Município, em face da inobservância
do seu dever de fiscalização. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS. SENTENÇA
CONFIRMADA, NO MAIS, EM REEXAME NECESSÁRIO. (Apelação Cível Nº
70054297155, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe
Silveira Difini, Julgado em 30/10/2013)
(TJ-RS - AC: 70054297155 RS, Relator: Luiz Felipe Silveira Difini, Data de Julgamento:
30/10/2013, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
18/12/2013).
Considerações finais
meio ambiente do trabalho, no meio ambiente fechado ou aberto, seja quando amaldiçoamos
um pássaro que nos acorda com seu canto, o que será que aconteceu com os seres humanos
que, em dado momento, esqueceu sua condição natural, suas raízes naturais e daquilo que é
vital para a sua permanência na Terra?
O bem jurídico ambiental, como foi exposto, é abrangente, está em todas as
esferas humanas e naturais e, por isso, sua proteção é condição para a posteridade, não só
humana, mas de todos os seres vivos. Considerar o bem jurídico ambiental a partir de
concepções biocêntricas e ecocêntricas é considerá-lo apenas sob duas facetas, já que seu
aspecto antropocêntrico não é o mais importante, porque não se trata de alçar um lugar, um
patamar ou condição superior e especial aos seres humanos, porém é sob esta faceta que a
responsabilidade e a consciência de sua proteção se torna possível, além de abranger as
produções humanas e seu modo de organização de variadas formas.
Posições doutrinárias e jurisprudenciais se encaminham direções semelhantes,
mas são as Conferências Internacionais as fontes mais férteis, não só pela atualização do
debate ou pelas raízes históricas que tal preocupação veio à tona, ao contrário, são as
Conferências que mobilizam as nações, atraem a atenção das pessoas, despertam militantes
adormecidos e, acima de tudo, prestam homenagem ao meio ambiente, faz do bem jurídico
ambiental o bem dos bens, já que nada existiria sem ele ou seria muito difícil de existir, na
medida que a escassez dos recursos, o esgotamento do limite do suporte de um bem ambiental
e a ausência do aspecto qualitativo pouco possibilitaria produzir, pouco seria possível obter e
não reconheceríamos o mundo, já que ainda não chegamos nessa grave condição. Também
não é preciso esperar acontecer. Basta cada um fazer o seu papel e cobrar das autoridades o
que está na lei. O meio ambiente agradece e o bem jurídico ambiental resiste, perdura e nos
mantém.
9
Referências
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco Curso de direito ambiental brasileiro. 14. ed. rev., ampl. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2013.
TJ-RS - AC: 70054297155 RS, Relator: Luiz Felipe Silveira Difini, Data de Julgamento:
30/10/2013, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
18/12/2013