Você está na página 1de 15

1

Conceito e
definições de avaliação
de impacto ambiental

O termo meio ambiente vem sendo utilizado com diversas finalidades, nos mais
diferentes segmentos da sociedade. As razões dessa preocupação com o ambiente
variam da consciência da sociedade perante os problemas ambientais que vêm atin-
gindo a humanidade. Neste capítulo serão apresentados, de forma técnica e emba-
sada, os conceitos de ambiente, impacto ambiental e avaliação de impacto ambiental.
Também serão apresentadas as principais discussões conceituais da literatura especia-
lizada, que são amplamente debatidas no meio acadêmico, bem como as definições e
os instrumentos jurídicos brasileiros acerca dos temas.

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 9


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

1.1 O conceito de ambiente

As questões ambientais têm sido a grande preocupação de todas as comunidades do


nosso planeta nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela ação do ser hu-
mano no ambiente natural, seja pela resposta que a natureza dá a essas ações – como, por
exemplo, mudanças climáticas, crise hídrica, desertificação, poluição dos oceanos etc. Esse
tema é pauta das principais conferências internacionais, como as conferências do clima e do
meio ambiente e os fóruns econômicos e sociais.
Nesse sentido, o conceito de ambiente admite múltiplas interpretações e tem sido am-
plamente discutido nos meios técnicos, científicos, jurídicos e políticos. Freitas (2003) traz
uma observação importante, em que a expressão meio ambiente, adotada no Brasil é criticada
pelos estudiosos, pois meio e ambiente, no sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo,
tal emprego importaria em redundância. Um exemplo dessa discussão é que, na Itália e em
Portugal, usa-se apenas a palavra ambiente.
Conforme Sánchez (2013), o conceito de ambiente na área de gestão ambiental é amplo,
multifacetado e maleável. O ambiente pode ser amplo, pois pode incluir tanto os recursos
naturais como a sociedade. Por outro lado, pode ser multifacetado, porque pode ser apreen-
dido sob diferentes formas. Por fim, maleável, porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser
reduzido ou ampliado de acordo com as necessidades envolvidas na análise.
As contribuições especializadas aos estudos ambientais são, muitas vezes, divididas em
três grandes grupos referidos como meios: físico, biótico e antrópico, cada um deles agru-
pando o conhecimento de diversas disciplinas afins. De acordo com esses grupos, conforme
Sánchez (2013, p. 21), por um lado, “ambiente é o meio de onde a sociedade extrai os recur-
sos essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento
socioeconômico”. Esses recursos são geralmente denominados naturais. Por outro lado, o
mesmo autor comenta que
[...] o ambiente é também o meio de vida, de cuja integridade depende a manu-
tenção de funções ecológicas essenciais à vida. Desse modo, emergiu o conceito
de recurso ambiental, que se refere não mais somente à capacidade da natureza
de fornecer recursos físicos, mas também de prover serviços e desempenhar fun-
ções de suporte à vida. (SÁNCHEZ, 2013, p. 21)
Dessa forma, o conceito de ambiente permeia dois campos: o campo de matéria-prima e
fornecedor de recursos naturais às necessidades do ser humano e o campo de meio de vida,
tendo como ponto comum uma mesma realidade. Ambiente não se define somente como
um meio natural intacto e com necessidades exclusivas de conservação e preservação, mas
também como fonte potencial de recursos naturais que permite oferecer matéria para os
desenvolvimentos tecnológico e social.
A primeira vez que a expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada, como men-
ciona Silva (2009), citando Vladimir Passos de Freitas (2003, p. 17), foi em 1835, pelo natu-
ralista francês Geoffrey de Saint-Hilaire, em sua obra Études progressives d´un naturaliste, em
que milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo e ambience indica tudo

10 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
que está à sua volta. Silva (2009), citando Edgar Morin (1988), comenta que, de forma geral,
ambiente é o conjunto de agentes presentes na Terra que agem de forma constante sobre os
seres vivos, devendo estes se adaptar, relacionar-se e interagir para sobreviver.
No meio jurídico é difícil definir meio ambiente, pois como bem lembra Edis Milaré (2001,
p. 165), “o meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente
intuído que definível, em virtude da riqueza e complexidade do que encerra”. Em 1981, o
conceito legal sobre meio ambiente no Brasil surgiu, pela primeira vez, no que dispõe o art.
3°, inciso I, da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, dizendo
que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Esta definição tem trazido inúmeras discussões, pois seu foco está em um conceito res-
trito ao meio ambiente natural, sendo incompleto e inadequado para a realidade brasileira,
pois não abrange de maneira mais profunda todos os bens jurídicos protegidos – como,
por exemplo, o patrimônio cultural e histórico. Conforme comenta José Afonso da Silva,
o conceito de meio ambiente deve ser abrangente e globalizante, “[...] abrangente de toda
a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo,
portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico,
turístico, paisagístico e arquitetônico. “ (SILVA, 2004, p. 20).
Buscando ocupar essas lacunas, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo
225, traz que o conceito de meio ambiente, enquanto bem jurídico tutelado, compreende três
aspectos principais e dois complementares. Entre os principais estão o natural, o artificial e
o cultural; entre os secundários, o meio ambiente do trabalho e patrimônio genético:
• Meio ambiente natural – é constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna.
São todas as interações dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recípro-
ca entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam.
• Meio ambiente artificial – é constituído pelo espaço urbano (incluindo edificações),
rural e construído/manejado, e também por todas suas inter-relações humanas.
• Meio ambiente cultural – considera-se o patrimônio cultural nacional, incluindo as
relações culturais, turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais.
• Meio ambiente do trabalho – previsto no artigo 200, inciso VIII, da CF/88, é o local
onde homens e mulheres desenvolvem suas atividades laborais. Desse modo, para
que esse local seja considerado adequado para o trabalho, deverá apresentar, além
de condições salubres, ausência de agentes que coloquem em risco o corpo físico e
a saúde mental dos trabalhadores.
• Patrimônio genético – é toda informação de origem genética, contida em amostras
do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma
de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo desses seres vivos e de
extratos obtidos desses organismos vivos ou mortos.
Dentro do tema avaliação de impacto ambiental, é importante abordarmos algumas de-
finições de ambiente, pois são inúmeras as interpretações existentes sobre esse conceito.
Somando aos conceitos jurídicos apresentados, do ponto de vista das ciências naturais

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 11


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

podemos destacar algumas definições que são amplamente utilizadas em estudos sobre
avaliação de impactos ambientais.
Para Odum e Barrett (2007), ambiente são os organismos vivos e seu ambiente inerte
(abiótico) que estão inseparavelmente ligados e interagem entre si. Trata-se de qualquer
unidade que inclua a totalidade dos organismos, ou seja, as comunidades de uma área de-
terminada (abrangência geográfica definida) interagindo com o ambiente físico de forma
que a corrente de energia produza cadeia trófica, diversidade biológica e ciclos de materiais
(troca de matérias entre as parte vivas e não vivas).
O conceito de ambiente segundo Santos (1996) está relacionado com a base física e ma-
terial da vida, ou seja, abrange a camada de vida que envolve a Terra, denominada ­biosfera,
e a atmosfera. Constitui, portanto, condições externas e influências, afetando a vida, a to-
talidade do organismo das sociedades ou a infraestrutura dos ecossistemas e biótica, que é
responsável pela sustentação e sobrevivência das relações das populações de todas as for-
mas de vida.
Somando-se aos os autores citados anteriormente, Gliessman (2000) aponta que o am-
biente de um ser vivo pode ser caracterizado como a totalidade das influências das forças
e fatores externos, tanto biológicos quanto abióticos, que afetam seu desenvolvimento, seu
crescimento, sua estrutura e sua reprodução. O ambiente no qual um determinado ser vivo
ocorre geograficamente necessita ser compreendido como um local dinâmico, em constante
mudança, influenciado por todos os fatores ambientais em interação – como, por exemplo,
as relações de presa-predador, os dispersores de sementes, os efeitos das condições climá-
ticas etc.
Por outro lado, outros autores consideram que o ambiente não se resume ao físico e
suas relações com o meio biológico, pois é, antes de tudo, um resultado da visão que o ser
humano tem dele no tempo e no espaço (LENOBLE, 1969). O meio ambiente não possui um
sentido estático, pois os seres vivos têm uma relação dinâmica com os seres não vivos.
A ideia de relações dinâmicas também foi abordada por James Lovelock em estudos
realizados para a Nasa em 1970, com o objetivo de encontrar vida em outros planetas, tendo
como um dos métodos a comparação da atmosfera de outros planetas, especialmente de
Marte e Júpiter, com a da Terra. Nessa experiência, chegou-se à conclusão de que a vida não
existia onde a atmosfera estava muito perto de um total equilíbrio, diferente da Terra, que é
instável e reflete as trocas gasosas entre a atmosfera e os organismos vivos.
Ambiente ainda pode ser definido, segundo Tostes (1994), como toda e qualquer in-
ter-relação abrangendo as relações em suas multiplicidades. O autor ainda comenta que
ambiente é especialmente a relação entre os seres humanos e os elementos naturais (o ar, a
água, o solo, a flora e a fauna), bem como suas próprias relações sociais, culturais, históricas
e políticas. A relação de forma múltipla e complexa potencializa e fomenta a biodiversidade
que está presente nos mais variados ambientes, sejam eles naturais, artificiais e/ou culturais,
em todas as partes da Terra. Os seres vivos e os não vivos, quando estiverem isolados, não
formarão meio ambiente, pois não estâo estabelecendo relações.

12 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
Ainda, a definição de Meyer-Abich (1993) comenta que ambiente pode ser denominado
como mundo conatural, ou seja, cada espécie distribuída em uma região geográfica depende
de determinado número de elementos específicos de recursos naturais (e que no seu conjun-
to são indissociáveis e indispensáveis à sobrevivência de cada uma), portanto, necessitam da
inter-relação entre seres biológicos e abióticos.
Ao analisar essas diversas definições de ambiente, é possível verificar que elas possuem
pontos em comum e assemelham-se. Entretanto, elas se contrapõem ao que é adotado e bem
característico nas políticas ambientais contemporâneas, que têm foco altamente antropocên-
trico e somente preocupam-se com os elementos do ambiente necessários à sobrevivência da
espécie humana, não valorando bens e serviços ambientais que aparentemente não ofereçam,
diretamente, algum benefício. As referidas políticas públicas têm sido marcadas por interesses
de grandes grupos econômicos, por não contemplarem planejamentos a médio e longo prazo
de uso sustentável dos recursos naturais e pelo não reconhecimento de que a preservação do
ambiente está ligada às inter-relações de cada espécie, e estas aos elementos abióticos.
Os valores antropocêntricos sobre o ambiente vêm se tornando uma das principais cau-
sas da degradação ambiental; nota-se pelo uso dos recursos naturais a todo custo, fato que
tem sido identificado por estarmos vivendo sob as regras de uma ética antropocêntrica.
A visão antropocêntrica ofusca a visão de um ambiente dinâmico, e pode-se perceber,
conforme Ehrenfeld (1993), que o ambiente está ligado direta e profundamente com o co-
nhecimento e a cultura – especialmente as tradicionais e locais. Podemos ter como exemplo
a percepção de uma pessoa, parte de uma pequena comunidade que vive em uma floresta
tropical na Amazônia, tendo ao seu redor a maior biodiversidade da Terra e convivendo
com todas essas espécies de forma sábia e tranquila. Por muitas gerações, essa pessoa as
utiliza de maneira tradicional como sustento para sua família. Por outro lado, uma pessoa
que esteja habituada com a vida urbana, quando estiver nesse ambiente de floresta tropical,
não perceberá todas as formas de vida ao seu redor e, por muitas vezes, não irá se adaptar
devido ao medo e desconforto.

1.2 O conceito de impacto ambiental

A superfície de áreas degradadas está aumentando a cada dia no mundo, a uma velocida-
de muito acelerada. Riquezas da fauna e flora e culturais são perdidas, restando somente em
relatos ou lembranças dos antigos. O surgimento de problemas socioambientais (como amea-
ça à sobrevivência da vida na Terra) é um fenômeno relativamente novo para a humanidade.
À medida que o ser humano se distanciou dos processos naturais, passou a encarar o ambiente
não mais como um todo em equilíbrio, mas como uma gama de recursos disponíveis.
Essa forma de relação está provocando profundas alterações nos ambientes naturais,
que também estão sujeitos à alterações naturais. Uma importante diferença entre as duas
formas de alterações é que as humanas acontecem de maneira muito rápida, enquanto as
naturais se processam em escalas temporais muito lentas.

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 13


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

Essas alterações provocadas pelos seres humanos, advindas de suas atividades, têm
como consequência os impactos ambientais, que podem ser de grandezas diferenciadas –
como, por exemplo, a construção de uma hidroelétrica, que gera um grande impacto am-
biental e de forma significativa, e a construção de uma pequena ponte ligando dois bairros
em uma cidade, que gera um pequeno impacto.
No Brasil, nesse contexto, a análise de potenciais impactos ambientais provenientes de
atividades humanas surgiu pela primeira vez a partir do Decreto-Lei 1.413/75, do governo
federal. O referido diploma legal introduziu em nosso ordenamento jurídico o zoneamento
das áreas críticas de poluição.
No início da década de 1980, somente se exigia o estudo de impacto ambiental para a
instalação de polos petroquímicos, cloroquímicos e carboquímicos, instalações nucleares e
outras, definidas em lei, para zoneamento estritamente industrial em áreas críticas de po-
luição. O instrumento legal era a Lei 6.803/80, que estabeleceu de forma clara e precisa a
necessidade da avaliação do impacto ambiental dos empreendimentos industriais.
Um ano mais tarde, por meio da Lei 6.938/81, fomentada em razão dos altos índices de
poluição verificados em centros industriais como Cubatão, no estado de São Paulo, e Vale
dos Sinos, no Rio Grande do Sul, marcou-se uma mudança significativa e qualitativa no
sistema legal de proteção ambiental, pois buscou-se criar um sistema estruturado e organi-
camente coerente de medidas a serem adotadas para alcance dos objetivos fixados naquele
texto normativo. A avaliação de impacto ambiental (AIA), por força da Lei 6.938/81, foi ele-
vada à condição de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9, III).
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) fez avançar, de forma signifi-
cativa, a gestão ambiental no Brasil, principalmente no que se refere ao licenciamento am-
biental, tendo como grande resultado a previsão da avaliação de impactos ambientais, ainda
que de forma genérica, em relação à lei do zoneamento industrial, pois esta se limitava a
contemplar o EIA tão somente para atividades industriais.
A regulamentação da referida lei foi feita por Resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – Conama (Resolução 001/86), que foi e ainda é muito criticada por juristas e
técnicos da área, que consideram como adequada para se ter segurança jurídica a regula-
mentação por decretos ou leis.
De acordo com a Resolução 001/86 do Conama, impacto ambiental pode ser definido como:
Art. 1° Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer al-
teração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causa-
da por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986)

14 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
Conforme o inciso II do artigo 6° dessa resolução, o impacto ambiental pode ser posi-
tivo ou negativo, podendo proporcionar ônus ou benefícios sociais. Após a publicação da
referida resolução, as avaliações de impactos ambientais começaram a ser concretizadas,
especialmente em grandes obras.
Os principais impactos ambientais previstos na Resolução 01/86 do Conama são:
• recursos hídricos – afetam quantidade, qualidade, acesso e sazonalidade;
• fauna – afetam a população, bem como seu fluxo gênico e seus habitats;
• flora – afetam a composição e densidade da vegetação natural, produtividade, es-
pécies-chaves e conectividade entre ambientes;
• saúde – afetam a proliferação de vetores e patogenias;
• solos – afetam e provocam erosões, perdas de produtividade agrícola, aumento da
salinidade e perda de nutrientes;
• ecossistemas especiais – afetam ecossistemas vulneráveis e com baixa resiliência
(baixa capacidade de autorrecuperação).
Os impactos ambientais possuem dois atributos principais: a magnitude e a importância. A
magnitude é a grandeza de um impacto em termos, podendo ser medida a alteração no valor de
um fator de interesse – como, por exemplo, a velocidade da correnteza de um rio antes e depois
do impacto ambiental. Por meio de diversos métodos, o impacto ambiental deverá ser medido
com indicadores quantitativos ou qualitativos dos meios físico, biótico e socioeconômico.
A importância é a medida do nível de significação de um impacto em relação ao fator
ambiental afetado e a outros impactos como, por exemplo, a mineração de determinada
área que gera a extinção de uma espécie endêmica, resultado da ação do impacto ambiental.
Assim, mesmo com uma magnitude pequena, ou seja, que tenha ocorrido em uma pequena
área, os impactos podem ter elevada importância.
Os impactos ambientais podem ser múltiplos e gerados por ações dos seres humanos,
sendo importante conhecer suas diversas características.
a) Características de valor:
◦◦ Impacto positivo ou benéfico – quando uma ação resulta na melhoria da qua-
lidade ambiental, podendo ser de um ou mais indicadores, como, por exem-
plo, o aumento da vegetação natural em uma determinada região proveniente
de projetos de restauração florestal.
◦◦ Impacto negativo ou adverso – quando a ação resulta em um dano à qualida-
de ambiental, podendo ser de um ou mais indicadores, como, por exemplo, a
mortandade de peixes em um determinado rio localizado nas proximidades
da ação em questão.
b) Características de ordem:
◦◦ Impacto direto – são as modificações ambientais que exibem uma relação ini-
cial, de primeira ordem, com um fator importante. Por exemplo, uma mortan-
dade de peixes devido a um derrame de produto tóxico num rio.

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 15


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

◦◦ Impacto indireto – quando uma ação induzida desencadeia uma sequência


de modificações de segunda ordem. Por exemplo, as chuvas ácidas, que têm
sua origem na poluição atmosférica por óxidos de enxofre, nitrogênio e outros
elementos químicos.
c) Características espaciais:
◦◦ Impacto local – quando a ação afeta apenas o próprio local e as proximidades.
◦◦ Impacto regional – quando um efeito se propaga por uma área além das ime-
diações do local onde se dá a ação.
◦◦ Impacto estratégico – quando é afetado um componente ambiental de impor-
tância coletiva ou nacional.
d) Características temporais ou dinâmicas:
◦◦ Impacto imediato – quando o efeito surge no instante em que se executa a
ação. Como já citado, a mortandade de peixes advindos de produtos tóxicos
da ação é um exemplo.
◦◦ Impacto em médio ou longo prazo – quando o efeito se manifesta depois de
decorrido certo tempo após a ação. Por exemplo, a eutrofização de cursos d´á-
gua decorrentes da deposição de fertilizantes de áreas agrícolas e carreados
para os rios por enxurradas de chuva.
◦◦ Impacto temporal – quando o efeito permanece por um tempo determinado
após a execução da ação como, por exemplo, o período de adaptação de ecos-
sistemas represados.
◦◦ Impacto permanente – quando, uma vez executada a ação, os efeitos não ces-
sam de se manifestar num horizonte temporal conhecido. Por exemplo, a mo-
dificação do leito de um rio.
Considerando essas características, pode-se notar que elas são interligadas e, conforme
o grau do impacto em sua magnitude, importância e ações de mitigação e compensação a
serem desenvolvidas após a execução da ação, os impactos ambientais podem ser revertidos
conforme a possibilidade de o fator ambiental afetado retornar às suas condições originais.
Entre os impactos totalmente irreversíveis e os reversíveis existem infinitas gradações.
A reversão de um fator ambiental às suas condições anteriores pode ocorrer naturalmente
ou como resultado de uma intervenção do ser humano.
Vale ressaltar que uma característica importante dos impactos ambientais é que ocorre
uma desigualdade nos resultados da ação conforme a distribuição social, uma vez que, de
forma geral, a classe mais pobre sempre tem sido a mais afetada, como, por exemplo, por
meio da redução de acesso a água potável, da reacomodação habitacional em áreas urbanas
periféricas e da perda de identidade com seu local de origem.
A CF/88 significou uma profunda mudança na natureza jurídica do estudo de impacto
ambiental. Atualmente, o EIA é instituto constitucional cuja importância vem aumentan-
do, especialmente após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992
(Rio 92). A Carta Magna, dedicando capítulo próprio ao meio ambiente, elevou-o à categoria

16 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
de bem de uso comum do povo, considerando-o essencial à qualidade de vida e incumbindo
ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo e defendê-lo para as presentes e
futuras gerações.
Para assegurar o direito fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado (CF/88, art. 5°, LXXIII), a Lei Maior encarregou ao Poder Público (em suas três esferas:
federal, estadual e municipal) o papel de exigir o EIA para a instalação de obra ou atividade
com potencial de causar degradação ambiental significativa, devendo, inclusive, assegurar
a sua publicidade (art. 225, §1°, IV).
Dessa forma, os parâmetros previstos na Constituição não determinam penalidades ou san-
ções, mas oferecem diretrizes para o legislador infraconstitucional, que efetivamente tem pode-
res para criar normas com poder coercitivo suficiente para tornar possível a proteção ambiental.
Com a prerrogativa de o direito de todos não ser exclusivamente a proteção do meio
ambiente em si ou de determinado ambiente, mas sim o equilíbrio ecológico e a qualidade
do ambiente, consideram-se essas qualidades como o bem da vida a ser tutelado, definido
pela Constituição da República como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua-
lidade de vida” (BRASIL, 1988).
Entretanto, foi somente a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente,
a Eco 92, que estados e municípios maiores começaram a criar instrumentos legais acerca do
tema, dando mais especificidade e argumentação técnica para os estudos de impacto ambien-
tal, que por muitas vezes eram subjetivos, especialmente em pequenas obras.

1.3 Os objetivos da avaliação


de impacto ambiental

No Brasil, o progresso do arcabouço jurídico institucional tem sido relevante. Alguns


marcos jurídicos importantes reforçaram, na década de 90, a base legal da gestão ambien-
tal, além dos princípios e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, que havia sido
estabelecida em 1981. A CF/88 já os havia confirmado, consagrando a exigência de estudos
prévios de avaliação de impacto ambiental para a implantação de atividades e obras que
afetem o meio ambiente.
A avaliação de impacto ambiental é um instrumento cujo objetivo limita-se a subsidiar
as decisões de aprovação de projetos de empreendimentos individuais, e não os processos
de planejamento e as decisões políticas e estratégicas que os originam. Antunes (2011) com-
plementa que a avaliação de impacto ambiental é um procedimento que tem por objetivo
examinar os resultados de empreendimentos e atividades sobre o meio ambiente antes de
se tomar qualquer decisão de outorgar a licença de instalação e execução que possa trazer
riscos significativos de degradação da qualidade do meio ambiente.
Nesse sentido, Sánchez (2008) comenta que, para a realização da avaliação de impacto
ambiental, é necessário seguir metodologias que se apliquem ao empreendimento estuda-
do, como, por exemplo, se ocorrerá desmatamento. Em caso positivo, é necessário fazer um

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 17


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

estudo detalhado da flora da região afetada, a fim de subsidiar informações para a elabora-
ção de projetos de recuperação dessas florestas como medida de mitigação e compensação
ambiental. Desta maneira, para cada fator ambiental a ser afetado deve ser realizada uma
série de atividades sequenciais e procedimentos organizados de maneira lógica, a fim de
subsidiar com informações as tomadas de decisões a respeito do empreendimento analisa-
do. Os impactos ambientais começaram a ser sentidos de maneira global no pós Segunda
Guerra Mundial, quando a expansão e o desenvolvimento econômico começaram a percor-
rer diversas partes do mundo, fomentando conflitos sociais e aumentando a pressão sobre
os recursos naturais.
Em poucas décadas foi possível observar que eram muitos os sintomas que indicavam
que este modelo desenvolvimentista econômico não era sustentável, como bem lembra
Santos (2010), sobre o nível de exploração ter ultrapassado a capacidade de recuperação da
natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento econômico e social.
Nesse período ocorreram alguns eventos importantes que atraíram a atenção da socieda-
de global para a necessidade de uma regulamentação mais eficaz de proteção ao meio ambien-
te, como, por exemplo, a publicação do livro de Rachel Carson, em 1962, intitulado Silent Spring
(primavera silenciosa), que apresentou a grande mortandade de aves e peixes em rios nos Estados
Unidos, provenientes do alto uso de agroquímicos nas lavouras agrícolas (BELTRÃO, 2008).
Nesse contexto, em 1968 o Relatório Meadows, conhecido como Relatório do Clube
de Roma, sinalizou a necessidade de a humanidade rever seus conceitos de desenvol-
vimento, pois os impactos nos recursos naturais estavam tomando grande magnitude e
importância global.
Assim, conforme comenta Milaré (2011), a avaliação de impacto ambiental surgiu
pela primeira vez como instrumento jurídico de gestão ambiental nos Estados Unidos da
América, a partir da promulgação do National Environmental Policy Act – Nepa (lei da políti-
ca nacional americana do meio ambiente), em 1969.
Entretanto, somente 20 anos depois da realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente de 1972, em Estocolmo (Suécia), a avaliação de impacto ambiental
ganhou repercussão internacional, na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, no Rio de Janeiro, a Eco 92.
A avaliação de impacto ambiental se tornou um princípio ambiental concretizado em
tratados internacionais (Princípio 17 da Declaração do Rio 92), estabelecendo, conforme a
referida declaração, que a AIA é um instrumento nacional para efetuar atividades planeja-
das de cunho social, econômico e ambiental que possam vir a ter impacto adverso sobre o
meio ambiente.
Disposições legais para avaliação de impactos ambientais vieram a nível estatual pela
primeira vez no Brasil em 1977, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, que se adiantaram em
relação à legislação federal. O caso do Rio de Janeiro teve maior interesse, pois a origem
da AIA no estado estava ligada à implementação de um sistema estatual de licenciamento
de fontes poluidoras. A partir dessa experiência pioneira, mais tarde foi regulamentado o
estudo de impacto ambiental no país (MOREIRA, 1988; SANCHÉZ, 2008). Santos (2013)

18 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
relembra que a avaliação de impacto ambiental passa a fazer parte definitivamente do or-
denamento jurídico nacional em 1981, a partir da aprovação da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente.
O Brasil tem uma posição de vanguarda nas discussões de políticas públicas a respeito
do meio ambiente, mesmo que ainda exista o pensamento de que muito ainda deve ser feito.
Conforme menciona Santos (2013), a CF de 88 foi a primeira no mundo a inscrever a obriga-
toriedade da AIA em nível constitucional, incorporando e fortalecendo essa modalidade no
seu artigo 225 (CARVALHO; LIMA, 2010).
Nas determinações legais, o processo de AIA deve desenvolver e executar estudos de
impacto ambiental sobre o empreendimento pretendido (STAMM, 2003). Os resultados de-
vem contemplar estudos dos meios físicos, bióticos e socioeconômicos. São estudos com-
plexos e que constituem a principal base para a análise da viabilidade ambiental da ação
proposta e tomada de decisão (DIAS, 2001), devendo ser abordados: a vida selvagem; as
espécies ameaçadas de extinção; a vegetação nativa e exótica; as características do solo; a
drenagem natural; as águas subterrâneas; os ruídos; a pavimentação; a recreação; a qua-
lidade do ar; o comprometimento estético da paisagem; a saúde e a segurança; os valores
econômicos; a saúde pública; os serviços públicos; a compatibilidade com planos regionais
e demais indicadores de interesse específico.
Na área técnica, a avaliação de impacto ambiental pode ser definida, segundo Bolea
(1984), citado por Pimentel e Pires (1992, p. 56), como “estudos realizados para identificar,
prever, interpretar e prevenir os efeitos ambientais que determinadas ações, planos, pro-
gramas ou projetos podem causar à saúde, ao bem-estar humano e ao ambiente”, incluindo
alternativas ao projeto ou ação e pressupondo a participação da sociedade.
Entre os objetivos, a avaliação tem como principal objetivo a obtenção de informações
sobre os impactos ambientais por meio de exame sistemático, para submetê-las às autori-
dades e à opinião pública em consultas públicas, com a finalidade essencial de prevenir os
impactos ambientais negativos decorrentes da ação proposta e suas alternativas, bem como
maximizar os eventuais benefícios.
A avaliação de impactos ambientais não é um instrumento de decisão, mas sim de for-
necimento de subsídios para o processo de tomada de decisão dos órgãos ambientais licen-
ciadores do Poder Federal, Estadual e Municipal, conforme o tamanho do empreendimento.
De acordo com Costa, Chaves e Oliveira (2005), o propósito principal é levantar e organizar
informações por meio da análise sistemática das atividades do projeto, permitindo potencia-
lizar os benefícios socioambientais.
Utilizando modelos matemáticos analíticos, estudo de padrões de dispersão de poluen-
tes, modelos físicos em escala reduzida, análises estatísticas apuradas e técnicas de avalia-
ção da paisagem, a avaliação de impacto ambiental constitui-se num instrumento altamente
relevante na avaliação preliminar. Com o conhecimento acerca da realidade local e regio-
nal, é possível promover a discussão e a análise imparcial dos impactos positivos e negati-
vos de uma proposta. Essas informações, apresentadas publicamente de forma detalhada
e com embasamento técnico e científico, contribuem de maneira significativa para reduzir

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 19


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

os conflitos de interesses de diferentes grupos e atores sociais envolvidos, tornando-se um


instrumento de subsídio para tomada de decisões.
Para atender a esses objetivos e a essas funções, a execução dos estudos para uma AIA
se desenvolve, de modo geral, segundo as seguintes fases:
• Identificação – são caracterizados a ação proposta e o ambiente a ser afetado. Nesta
fase devem ser feitas a identificação das ações e dos impactos a serem investiga-
dos, a análise das relações entre os fatores ambientais, a definição de indicadores
ambientais e a medição dos impactos.
• Predição – é feita a predição das interações entre fatores e da magnitude e impor-
tância dos impactos.
• Avaliação – é feita a interpretação, a análise e a avaliação. Nesta fase, são atri-
buídos aos impactos ou efeitos os parâmetros de importância ou de significância,
sendo comparadas e analisadas algumas alternativas.
Esse processo deve ser retroalimentado com informações até que se esgotem as possi-
bilidades para o que se pretende alcançar, ou seja, os estudos devem passar por sucessivas
análises com equipes multidisciplinares, sendo reintroduzidas informações que sejam per-
tinentes, sempre com a finalidade de obter a melhor informação com fins de subsídio para
a tomada de decisões.
Nesse sentido, para a avaliação de impactos ambientais existem diversos métodos de
avaliação e ferramentas de identificação dos impactos causados ao ambiente pelo desenvol-
vimento de um projeto. São instrumentos usados para coletar, comparar e organizar infor-
mações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais.
Como cada método tem uma aplicação definida, eles devem ser escolhidos de acordo
com o caso a ser estudado. Entretanto, o primeiro documento a ser produzido para a defini-
ção da metodologia é o plano de trabalho, que deverá ser apresentado pelo empreendedor
interessado aos órgãos ambientais competentes para emissão do licenciamento ambiental.
Qualquer que seja o método utilizado, é necessário que sua aplicação seja complemen-
tada com uma descrição detalhada dos impactos sobre os meios físico, biológico e antrópi-
co. É importante ressaltar que não existe um único método que possa ser adotado para a
avaliação de impacto de qualquer tipo de proposta (ou que sirva para todas as fases de um
estudo), mas a escolha do método deve atender aos requisitos e normas legais estabelecidos,
o tempo e os recursos técnicos e financeiros disponíveis para a execução do estudo.
É importante registrar a necessidade de se incorporar a questão do risco tecnológico
nas avaliações de impactos ambientais, principalmente quando se referem a projetos ener-
géticos. A incorporação do risco a essas avaliações acrescenta mais uma dificuldade ao pro-
cesso, em decorrência exatamente da redução que tradicionalmente se faz do risco a um
mero índice de probabilidade de ocorrência ou de compatibilização estatística de riscos já
verificados. No tratamento dessa questão, além dos aspectos quantitativos, é preciso anali-
sar a percepção que os atores sociais têm do risco e o controle futuro, de modo que ele seja
mantido dentro de certos limites – o que certamente engloba aspectos políticos no processo
de sua avaliação.

20 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
Ampliando seus conhecimentos

Princípio da preocupação no Brasil após a


Rio 92: impacto ambiental e saúde humana
(CASTILHOS JR. et al, 2013)

Introdução

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), documentado no Relatório de


Impacto Ambiental (Rima), é necessário para a obtenção do licenciamento
para uma determinada atividade em todo o Brasil.

Os roteiros básicos para elaboração do EIA/Rima são compostos por infor-


mações gerais, caracterização do empreendimento, área de influência,
diagnóstico ambiental da área de influência (meio físico, biológico e antró-
pico), análise dos impactos ambientais, proposição de medidas mitigadoras
e programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos (BRAGA
et al., 2005). No meio antrópico, propõe-se a abordagem da organização
social na área de influência, nela incluindo o tema saúde. Viegas et al. (2011),
analisando o componente saúde em seis EIA, concluíram que na maioria
dos estudos os riscos à saúde são mencionados, mas não detalhados, as
informações epidemiológicas e toxicológicas são raramente abordadas, e os
dados de saúde utilizados não são precisos.

Silva et al. (2010), no estudo sobre a Refinaria do Nordeste, analisam a


interrelação entre saúde, trabalho e ambiente, constatando que no res-
pectivo EIA/Rima houve uma postergação de análise dos riscos para os
trabalhadores, comunidade e saúde pública.

Na sua dissertação de mestrado, Cancio (2008) aplica uma matriz em nove


estudos de impacto ambiental de usinas hidrelétricas (UHE), concluindo
que os estudos de impacto ambiental apresentam “deficiências devido à
incipiente abordagem e consistência das questões de saúde contempladas”.

Fruto da Conferência Rio-92, A Declaração do Rio, em seu Princípio 15, con-


sidera a importância da aplicação do Princípio da Precaução para a pre-
servação da qualidade ambiental. Fundamentado na Declaração do Rio, os
estudos de impacto ambiental utilizam o Princípio da Precaução para pre-
servar o meio ambiente, quando se depara com o imprevisível dentro do
atual conhecimento científico.

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 21


1 Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental

Os interessados nos empreendimentos em construção costumam recor-


rer judicialmente contra a aplicação desse princípio. Entretanto, uma
jurisprudência em direito ambiental foi criada em todos os níveis, até o
Supremo Tribunal Federal, a favor do uso do Princípio da Precaução.

O fato de uma alteração ambiental poder provocar doença nas pessoas é


um argumento muito forte para impedir a implantação de empreendimen-
tos. Neste sentido, os estudos de impacto à saúde geralmente são incipien-
tes, excluindo neles a aplicação do Princípio da Precaução. A justificativa é
a de que os riscos à saúde provocados pelos empreendimentos se devem a
emissões potencialmente prejudiciais à saúde, e que devem ser medidas.
Como medi-las previamente à implantação do empreendimento?

O documento final da Rio+20 é focado em uma proposta política que rea-


firma os princípios da Rio-92 sobre desenvolvimento sustentável, sem, no
entanto apresentar considerações sobre suas aplicações ao longo dos anos
ou estratégias para implementá-los. A trajetória da aplicação do Princípio
da Precaução durante os 20 anos após a Conferência, está ligada ao sucesso
da sua interpretação dada pelo direito ambiental e nos tribunais.

[...]

A inter-relação entre o homem e o meio ambiente


O meio ambiente

O modelo praticado de exploração ambiental, na busca do desenvolvi-


mento socioeconômico, tornou-se insustentável; esse modelo não comporta
as novas necessidades da relação homem-natureza, posterior à revolução
científicoindustrial, devido aos efeitos provocados no meio ambiente.

A exploração ambiental irracional, iniciada com a industrialização no


século XIX e intensificada através dos anos até nossos dias, está intima-
mente ligada ao consumo. A sociedade da economia globalizada promove
o consumo sem regras, privilegiando o interesse individual em detri-
mento do interesse ambiental da coletividade (LEITE, 2010). A descone-
xão entre economia e natureza ocasionou a desvinculação da economia da
sociedade, considerando essa desvinculação num sentido mais amplo, do
social, do ético e do poder.

Assim, a economia passa a influenciar e a condicionar as relações institucio-


nais, as organizações, a relação dos países e dos cidadãos (MARTINS, 2004).

22 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental


Conceito e definições de avaliação de impacto ambiental 1
A partir de 1950, foi registrada uma série de desastres ambientais em todo
o mundo, provocando gravíssima degradação ambiental e ocasionando
doenças e até a morte de milhares de pessoas que viviam nessas áreas
degradadas, como o derramamento de petróleo na costa norte da França;
a morte de peixes em lagos suecos; o acidente químico em Bophal, na
Índia; o desastre nuclear de Chernobyl, na União Soviética. Esses even-
tos começam a evidenciar que a vivência desse paradigma exploratório
ambiental agride não só o ambiente, mas também o homem que ali vive.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada


em junho de 1972 em Estocolmo, tornou a preocupação sobre o ambiente uma
questão de relevância internacional, de responsabilidade de todos os países.

Em 1983, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)


criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD), também conhecida como Comissão Brundtland, que promo-
veu audiências ao redor do mundo e produziu o relatório final intitulado
“Nosso Futuro Comum”.

Com a aprovação do Relatório Brundtland (1987), buscou-se romper o


paradigma de desenvolvimento aliado à exploração ilimitada dos recur-
sos naturais e à exploração do homem nas regiões mais pobres do planeta,
como meio de alcançar o sucesso econômico.

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento


(CNUMAD), também conhecida como Cúpula da Terra ou Rio-92, reali-
zada no Rio de Janeiro em 1992, coloca o ser humano no centro das preo-
cupações relacionadas ao desenvolvimento sustentável, considerando
o homem participante da diversidade biológica existente no ambiente.
A Rio-92 impulsiona a luta por uma nova ordem sustentável, de equilíbrio
com a natureza, através da Agenda 21 e a Declaração do Rio.

Na Rio+20, os países renovaram seus compromissos com o desenvolvi-


mento sustentável: o incentivo à economia verde; a necessária abordagem
global da sustentabilidade; o suceder dos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODM) através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS); ações de desenvolvimento humano e combate à pobreza; estra-
tégias para financiamento do desenvolvimento sustentável; produção e
consumo sustentáveis; fortalecimento das tecnologias ambientalmente
saudáveis; uso de novos indicadores para medir o crescimento.

[...]

Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 23

Você também pode gostar