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Conceito e
definições de avaliação
de impacto ambiental
O termo meio ambiente vem sendo utilizado com diversas finalidades, nos mais
diferentes segmentos da sociedade. As razões dessa preocupação com o ambiente
variam da consciência da sociedade perante os problemas ambientais que vêm atin-
gindo a humanidade. Neste capítulo serão apresentados, de forma técnica e emba-
sada, os conceitos de ambiente, impacto ambiental e avaliação de impacto ambiental.
Também serão apresentadas as principais discussões conceituais da literatura especia-
lizada, que são amplamente debatidas no meio acadêmico, bem como as definições e
os instrumentos jurídicos brasileiros acerca dos temas.
podemos destacar algumas definições que são amplamente utilizadas em estudos sobre
avaliação de impactos ambientais.
Para Odum e Barrett (2007), ambiente são os organismos vivos e seu ambiente inerte
(abiótico) que estão inseparavelmente ligados e interagem entre si. Trata-se de qualquer
unidade que inclua a totalidade dos organismos, ou seja, as comunidades de uma área de-
terminada (abrangência geográfica definida) interagindo com o ambiente físico de forma
que a corrente de energia produza cadeia trófica, diversidade biológica e ciclos de materiais
(troca de matérias entre as parte vivas e não vivas).
O conceito de ambiente segundo Santos (1996) está relacionado com a base física e ma-
terial da vida, ou seja, abrange a camada de vida que envolve a Terra, denominada biosfera,
e a atmosfera. Constitui, portanto, condições externas e influências, afetando a vida, a to-
talidade do organismo das sociedades ou a infraestrutura dos ecossistemas e biótica, que é
responsável pela sustentação e sobrevivência das relações das populações de todas as for-
mas de vida.
Somando-se aos os autores citados anteriormente, Gliessman (2000) aponta que o am-
biente de um ser vivo pode ser caracterizado como a totalidade das influências das forças
e fatores externos, tanto biológicos quanto abióticos, que afetam seu desenvolvimento, seu
crescimento, sua estrutura e sua reprodução. O ambiente no qual um determinado ser vivo
ocorre geograficamente necessita ser compreendido como um local dinâmico, em constante
mudança, influenciado por todos os fatores ambientais em interação – como, por exemplo,
as relações de presa-predador, os dispersores de sementes, os efeitos das condições climá-
ticas etc.
Por outro lado, outros autores consideram que o ambiente não se resume ao físico e
suas relações com o meio biológico, pois é, antes de tudo, um resultado da visão que o ser
humano tem dele no tempo e no espaço (LENOBLE, 1969). O meio ambiente não possui um
sentido estático, pois os seres vivos têm uma relação dinâmica com os seres não vivos.
A ideia de relações dinâmicas também foi abordada por James Lovelock em estudos
realizados para a Nasa em 1970, com o objetivo de encontrar vida em outros planetas, tendo
como um dos métodos a comparação da atmosfera de outros planetas, especialmente de
Marte e Júpiter, com a da Terra. Nessa experiência, chegou-se à conclusão de que a vida não
existia onde a atmosfera estava muito perto de um total equilíbrio, diferente da Terra, que é
instável e reflete as trocas gasosas entre a atmosfera e os organismos vivos.
Ambiente ainda pode ser definido, segundo Tostes (1994), como toda e qualquer in-
ter-relação abrangendo as relações em suas multiplicidades. O autor ainda comenta que
ambiente é especialmente a relação entre os seres humanos e os elementos naturais (o ar, a
água, o solo, a flora e a fauna), bem como suas próprias relações sociais, culturais, históricas
e políticas. A relação de forma múltipla e complexa potencializa e fomenta a biodiversidade
que está presente nos mais variados ambientes, sejam eles naturais, artificiais e/ou culturais,
em todas as partes da Terra. Os seres vivos e os não vivos, quando estiverem isolados, não
formarão meio ambiente, pois não estâo estabelecendo relações.
A superfície de áreas degradadas está aumentando a cada dia no mundo, a uma velocida-
de muito acelerada. Riquezas da fauna e flora e culturais são perdidas, restando somente em
relatos ou lembranças dos antigos. O surgimento de problemas socioambientais (como amea-
ça à sobrevivência da vida na Terra) é um fenômeno relativamente novo para a humanidade.
À medida que o ser humano se distanciou dos processos naturais, passou a encarar o ambiente
não mais como um todo em equilíbrio, mas como uma gama de recursos disponíveis.
Essa forma de relação está provocando profundas alterações nos ambientes naturais,
que também estão sujeitos à alterações naturais. Uma importante diferença entre as duas
formas de alterações é que as humanas acontecem de maneira muito rápida, enquanto as
naturais se processam em escalas temporais muito lentas.
Essas alterações provocadas pelos seres humanos, advindas de suas atividades, têm
como consequência os impactos ambientais, que podem ser de grandezas diferenciadas –
como, por exemplo, a construção de uma hidroelétrica, que gera um grande impacto am-
biental e de forma significativa, e a construção de uma pequena ponte ligando dois bairros
em uma cidade, que gera um pequeno impacto.
No Brasil, nesse contexto, a análise de potenciais impactos ambientais provenientes de
atividades humanas surgiu pela primeira vez a partir do Decreto-Lei 1.413/75, do governo
federal. O referido diploma legal introduziu em nosso ordenamento jurídico o zoneamento
das áreas críticas de poluição.
No início da década de 1980, somente se exigia o estudo de impacto ambiental para a
instalação de polos petroquímicos, cloroquímicos e carboquímicos, instalações nucleares e
outras, definidas em lei, para zoneamento estritamente industrial em áreas críticas de po-
luição. O instrumento legal era a Lei 6.803/80, que estabeleceu de forma clara e precisa a
necessidade da avaliação do impacto ambiental dos empreendimentos industriais.
Um ano mais tarde, por meio da Lei 6.938/81, fomentada em razão dos altos índices de
poluição verificados em centros industriais como Cubatão, no estado de São Paulo, e Vale
dos Sinos, no Rio Grande do Sul, marcou-se uma mudança significativa e qualitativa no
sistema legal de proteção ambiental, pois buscou-se criar um sistema estruturado e organi-
camente coerente de medidas a serem adotadas para alcance dos objetivos fixados naquele
texto normativo. A avaliação de impacto ambiental (AIA), por força da Lei 6.938/81, foi ele-
vada à condição de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9, III).
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) fez avançar, de forma signifi-
cativa, a gestão ambiental no Brasil, principalmente no que se refere ao licenciamento am-
biental, tendo como grande resultado a previsão da avaliação de impactos ambientais, ainda
que de forma genérica, em relação à lei do zoneamento industrial, pois esta se limitava a
contemplar o EIA tão somente para atividades industriais.
A regulamentação da referida lei foi feita por Resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – Conama (Resolução 001/86), que foi e ainda é muito criticada por juristas e
técnicos da área, que consideram como adequada para se ter segurança jurídica a regula-
mentação por decretos ou leis.
De acordo com a Resolução 001/86 do Conama, impacto ambiental pode ser definido como:
Art. 1° Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer al-
teração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causa-
da por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986)
estudo detalhado da flora da região afetada, a fim de subsidiar informações para a elabora-
ção de projetos de recuperação dessas florestas como medida de mitigação e compensação
ambiental. Desta maneira, para cada fator ambiental a ser afetado deve ser realizada uma
série de atividades sequenciais e procedimentos organizados de maneira lógica, a fim de
subsidiar com informações as tomadas de decisões a respeito do empreendimento analisa-
do. Os impactos ambientais começaram a ser sentidos de maneira global no pós Segunda
Guerra Mundial, quando a expansão e o desenvolvimento econômico começaram a percor-
rer diversas partes do mundo, fomentando conflitos sociais e aumentando a pressão sobre
os recursos naturais.
Em poucas décadas foi possível observar que eram muitos os sintomas que indicavam
que este modelo desenvolvimentista econômico não era sustentável, como bem lembra
Santos (2010), sobre o nível de exploração ter ultrapassado a capacidade de recuperação da
natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento econômico e social.
Nesse período ocorreram alguns eventos importantes que atraíram a atenção da socieda-
de global para a necessidade de uma regulamentação mais eficaz de proteção ao meio ambien-
te, como, por exemplo, a publicação do livro de Rachel Carson, em 1962, intitulado Silent Spring
(primavera silenciosa), que apresentou a grande mortandade de aves e peixes em rios nos Estados
Unidos, provenientes do alto uso de agroquímicos nas lavouras agrícolas (BELTRÃO, 2008).
Nesse contexto, em 1968 o Relatório Meadows, conhecido como Relatório do Clube
de Roma, sinalizou a necessidade de a humanidade rever seus conceitos de desenvol-
vimento, pois os impactos nos recursos naturais estavam tomando grande magnitude e
importância global.
Assim, conforme comenta Milaré (2011), a avaliação de impacto ambiental surgiu
pela primeira vez como instrumento jurídico de gestão ambiental nos Estados Unidos da
América, a partir da promulgação do National Environmental Policy Act – Nepa (lei da políti-
ca nacional americana do meio ambiente), em 1969.
Entretanto, somente 20 anos depois da realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente de 1972, em Estocolmo (Suécia), a avaliação de impacto ambiental
ganhou repercussão internacional, na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, no Rio de Janeiro, a Eco 92.
A avaliação de impacto ambiental se tornou um princípio ambiental concretizado em
tratados internacionais (Princípio 17 da Declaração do Rio 92), estabelecendo, conforme a
referida declaração, que a AIA é um instrumento nacional para efetuar atividades planeja-
das de cunho social, econômico e ambiental que possam vir a ter impacto adverso sobre o
meio ambiente.
Disposições legais para avaliação de impactos ambientais vieram a nível estatual pela
primeira vez no Brasil em 1977, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, que se adiantaram em
relação à legislação federal. O caso do Rio de Janeiro teve maior interesse, pois a origem
da AIA no estado estava ligada à implementação de um sistema estatual de licenciamento
de fontes poluidoras. A partir dessa experiência pioneira, mais tarde foi regulamentado o
estudo de impacto ambiental no país (MOREIRA, 1988; SANCHÉZ, 2008). Santos (2013)
Introdução
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