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Resíduos sólidos

e cidadania II

A
população mundial em notável crescimento e o consequente aumento no
uso dos recursos naturais têm gerado uma quantidade cada vez maior de
resíduos sólidos, de diferentes naturezas, genericamente chamados de lixo.
Mesmo as projeções mais otimistas apontam para cenários futuros, nos quais essa
questão é decisiva para a manutenção da qualidade de vida do homem, não havendo
outra alternativa viável que não seja reduzir a quantidade de resíduos produzidos,
reutilizar tudo o que for possível e, principalmente, reciclar o lixo que pode ser
utilizado em novos produtos. É o que se conhece popularmente como “os três Rs”:
Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
Há quem acrescente a essa tríade mais dois Rs, que todo educador deve con-
siderar. Os cinco Rs são:
Repensar hábitos e atitudes;
Reduzir o consumo e diminuir a geração e o descarte de resíduos sólidos;
Reutilizar para aumentar a vida útil de cada produto;
Reciclar para transformar o resíduo em um novo produto;
Recusar produtos que agridam a saúde e o ambiente.
No Brasil, o lixo coletado diariamente é de cerca de 228 mil toneladas. De
todo esse lixo, apenas 4% é reciclado e, do restante, 20% é jogado em rios e várzeas.
Apenas 17% dos municípios brasileiros têm programas de coleta seletiva de lixo. O
Quadro 1 mostra a proporção de resíduos sólidos de diferentes naturezas que são re-
ciclados no Brasil. Embora alguns materiais tenham percentuais relativamente altos
de reciclagem (como o alumínio), outros ainda têm muito a crescer nesse sentido,
seja porque ainda não têm um valor de mercado atraente para investidores, como o
PET, seja porque a tecnologia disponível para a reciclagem ainda é pouco difundida
e empregada, como é o caso das embalagens longa vida.
Percebe-se também que os materiais com maior percentual de reciclagem são
aqueles que têm maior valor no mercado de recicláveis, como as latas de alumínio
e alguns tipos de papel.
Resíduos sólidos e cidadania II

Quadro 1 – A reciclagem no Brasil – Porcentagem de lixo reciclado

Cempre, 2007 Disponível em: www.cempre.org.br


Acesso em: 27 de fevereiro de 2016
Materiais Porcentagem que é reciclado
Papel 49,5 %
Papelão 77,4 %
Plásticos 20,0 %
PET 47,0 %
Latas de Alumínio 96,2 %
Latas de Aço 29,0 %
Vidro 46,0 %
Pneus 58,0 %
Longa Vida 23,0 %
Compostagem 3,0 %

Reciclagem é um conjunto de técnicas que têm por finalidade aproveitar os


“O que é
detritos e reutilizá-los no ciclo de produção de que saíram. É o resultado de uma
reciclagem?“ série de atividades, pela qual materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são
desviados, coletados, separados e processados para serem usados como matéria-
-prima na manufatura de novos produtos.

A coleta seletiva
A coleta seletiva é o recolhimento dos resíduos sólidos previamente sepa-
rados por categorias, de acordo com sua composição química. Ela se inicia com
a separação do lixo, que é feita pelos próprios geradores ou pelos catadores de
materiais recicláveis. É parte do processo de reciclagem, pois após a coleta os
materiais estão prontos para serem vendidos às centrais, indústrias que fazem o
reaproveitamento do material.
Para o município, a coleta seletiva e adequada destinação final do lixo não
podem ser vistas como atividades lucrativas. O tratamento dos resíduos sólidos
deve ser implantado com base em seus benefícios sociais e ambientais, entre os
quais podem ser destacados:
redução de custo com aterros sanitários ou incineração;
aumento da vida útil dos aterros sanitários;
diminuição de gastos com áreas degradadas pelo mal acondicionamento
do lixo;
conscientização da população sobre o meio ambiente;
uma comunidade mais educada, o que representa uma economia de re-
cursos gastos com limpeza pública;

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melhoria das condições ambientais e de saúde pública do município;


geração de empregos diretos e indiretos, com consequente resgate social
dos catadores de lixo.

Os catadores de materiais recicláveis


(BESEN, 2005, p. 320)
A reciclagem no Brasil sempre foi sustentada pelos catadores informais
de lixo nas ruas e nos lixões. Estima-se que existam mais de 200 mil catadores
de rua e mais de 40 mil pessoas vivendo diretamente da catação em lixões.
Esses catadores sempre ajudaram a promover a limpeza das cidades e a pro-
teção do meio ambiente, sem nenhum tipo de reconhecimento da sociedade.
Nos últimos dez anos, os catadores começaram a se organizar em cooperativas
e associações com o apoio de instituições da sociedade civil e de prefeituras.
Criaram o Movimento Nacional dos Catadores. Hoje, são conhecidos como
agentes de limpeza pública e reconhecidos pelo Ministério do Trabalho como
uma categoria, a de catadores de materiais recicláveis.

A coleta seletiva pode ser feita porta a porta, assim como acontece com a
coleta normal. Outra forma é a coleta seletiva voluntária, na qual a população de-
posita seu lixo em recipientes específicos, dispostos em pontos da cidade denomi-
nados pontos de entrega voluntária (PEVs) ou locais de entrega voluntária (LEVs).
Nesses pontos, recipientes (lixeiras) com cores específicas e simbologia adequada
auxiliam o cidadão a depositar seu lixo. O sucesso da coleta seletiva está relacio-
nado com a sensibilização ambiental da população.

IESDE BRASIL S/A

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Identificação dos materiais recicláveis


Para identificar os materiais recicláveis, há uma padronização das cores dos
recipientes de coleta. Também existem símbolos que podem ou não estar associa-
dos com as cores. Observe no quadro abaixo o padrão de cores e símbolos adota-
dos nessa identificação.
Quadro 2 – Cores e símbolos para identificação de materiais recicláveis

Cor Material Simbologia

Azul Papel/papelão

Vermelho Plástico

Verde Vidro

Amarelo Metal

Preto Madeira
Laranja Resíduos perigosos

Resíduos ambulatoriais e de
Branco
serviço de saúde

Roxo Resíduos radioativos

Marrom Resíduos orgânicos


Resíduo geral não reciclável ou
Cinza misturado, ou contaminado não
passível de separação
Disponível em: <http//www.ambientebrasil.com.br>.

Um trabalho de conscientização da população é fundamental para que os


produtos provenientes da reciclagem sejam “comprados”. Caso contrário, sem
mercado não haverá mais estímulo para os catadores e para as indústrias recicla-
doras. Um dos produtos que tem mercado certo é a latinha de alumínio. Com o
preço do alumínio e a queda de oferta de matéria-prima de primeira mão, as latas
de alumínio são as mais coletadas pelos catadores. Uma lata de alumínio é 100%
reciclável e tem um ótimo preço no mercado de recicláveis.

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Tabela 1 – Mercado nacional de recicláveis (cotação)1 1 Os valores são os pratica-


dos por programas de co-
leta seletiva ou catadores nas
Valor mínimo Valor máximo cidades de Itabira, Belo Ho-
rizonte e Brumadinho (MG),
R$/tonelada R$/tonelada São Paulo (SP), Mesquita
Papelão 180 400 (RJ) Manaus (AM), Goiânia
(GO), Florianópolia (SC) e
Natal (RN).
Papel branco 200 560
Latas de aço 140 450
Alumínio 2000 3800
Plástico rígido 450 1500
PET 500 1780
Plástico filme 800 2000
Longa vida 150 420
Vidro incolor 30 300
Fonte: CEMPRE, Disponível em: http://cempre.org.br/mercado Acesso em: 27 de fevereiro de 2016

Reciclagem
Reciclagem de papel
No Brasil, cerca de 99% da pasta celulósica utilizada na fabricação do papel
vem da madeira, e o restante vem de materiais como sisal, bambu e línter2 de algo- 2 A parte da fibra que fica
fortemente aderida à se-
mente. Para se obter o línter,
dão. A pasta celulósica pode ser produzida a partir do próprio papel, ou seja, a partir é preciso submeter o caroço
do algodão, separado da fi-
da reciclagem. No entanto, o papel não é infinitamente reciclável, pois com seu pro- bra, a um segundo processo,
chamado de deslinteração.
cessamento as fibras perdem qualidade. Os principais fornecedores de papel para a É utilizado para encher col-
reciclagem são a indústria e o comércio, representando 86%, e o lixo domiciliar 10%. chões, travesseiros e almofa-
das, para fazer fios de alguns
Reciclar papel é importante para evitar que mais árvores sejam cortadas. Outro ponto tipos de tapetes, na produção
de celulose, na indústria têx-
importante a ser abordado é a diminuição do consumo de papel e o desperdício. til (rayon e algodão artificial)
e na indústria de verniz, entre
Alguns papéis não podem ser reciclados, são eles: papel vegetal, papel im- outras. É ainda matéria bási-
ca da elaboração do algodão
pregnado com substâncias impermeáveis (resina sintética, betume etc.), papel- absorvente, bem como do
algodão para fins cirúrgicos.
-carbono, papel sanitário usado (essa categoria inclui o papel higiênico, papel to- Na indústria bélica, é em-
pregado na preparação de
alha, guardanapo e lenço de papel), papel sujo, engordurado ou contaminado com pólvora, pois dele se obtêm
explosivos.
produtos químicos nocivos à saúde, certos tipos de papel revestidos (com parafina
ou silicone). Nesse caso, os papéis são mandados para os aterros sanitários.

Reciclagem de plástico
Plásticos são produtos obtidos a partir do petróleo. Embora apresentem pou-
ca massa, isto é, cerca de 4 a 7% da massa total do lixo, eles ocupam muito espaço,
representando de 15 a 20% do volume do lixo. Isso dificulta sua disposição nos
aterros, pois ocupam mais espaço, prejudicando a compactação da camada de
lixo. Além disso, por serem impermeáveis, dificultam a decomposição da matéria
orgânica. Os plásticos também não devem ser queimados, pois o produto final de
sua combustão são gases poluentes e tóxicos. Um exemplo é o PVC ou policloreto

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de vinila, aquele que usamos como filme plástico na cozinha. A queima do PVC
gera dioxinas que são substâncias tóxicas e cancerígenas, e junto há a liberação
de cloro, o qual pode originar o ácido clorídrico, que é bastante corrosivo. A re-
ciclagem dos plásticos traz várias vantagens, como a redução do volume de lixo
encaminhado aos aterros, economia de energia e petróleo, geração de empregos,
a redução de cerca de 30% no preço de produtos de plástico reciclado, além das
melhorias ambientais, como redução do consumo de energia, água e petróleo. Isso
evita que os plásticos fiquem no ambiente até serem totalmente degradados, o
que poderia causar a morte de animais que os ingerem por tomá-los como presas,
como é o caso dos peixes, que comem plástico por ser semelhante às algas.
Os plásticos são divididos em duas categorias mais importantes.
Termofixos – Representam 20% do consumo, e são os que não permitem
reciclagem, pois não se fundem novamente (ex.: EVA ou poliacetato de
etileno vinil, material bastante utilizado hoje para artesanato). Apesar de
não permitirem reciclagem, ainda podem ser utilizados em outras aplica-
ções, por exemplo, condicionadores de asfalto.
Termoplásticos – Os mais utilizados e podem ser reciclados várias ve-
zes. Nessa categoria, estão os polietilenos de baixa e de alta densidade
(PEBD e PEAD), o policloreto de vinila (PVC), o poliestireno (PS), o
polipropileno (PP), o politereftalato de etileno (PET) e as poliamidas
(náilon).
Quadro 3 – Tipos de plástico

Artefato Tipo de plástico


Baldes, garrafas de álcool PEAD
Condutores para fios e cabos elétricos PVC, PEBD, PEAD, PP
Copos de água mineral PP e PS
Copos descartáveis (água, café etc.) PS
Embalagens de massas e biscoitos PP, PEBD
Frascos de detergente e produtos de limpeza PP, PEAD, PEBD, PVC
Frascos de xampu e artigos de higiene PEBD, PEAD, PP
Gabinetes de aparelho de som e TV PS
Garrafas de água mineral PVC, PEAD, PET, PP
Garrafas de refrigerante PET (o rótulo é de PEBD e a tampa em PP)
Garrafões de água mineral PVC, PEAD, PP
Isopor PS
Lonas agrícolas PVC, PEAD, PEBD
Potes de margarina PP
Sacos de adubo PEBD
Sacos de leite PEBD
Sacos de lixo PEBD, PEAD, PVC

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Artefato Tipo de plástico “Quais os


Sacos de ráfia PP tipos de
Tubos de água e esgoto PVC, PP OU PEAD
plásticos
Disponível em: <http//cempre.org.br/mercado.php>. você tem
em casa?“
Reciclagem de metais
Os metais podem ser ferrosos, como o ferro e o aço, ou não ferrosos, como
alumínio, cobre e suas ligas, chumbo, zinco e níquel. Eles podem ser fabricados
de duas maneiras: a partir do minério ou a partir da sucata. O primeiro processo
é mais dispendioso, pois consome mais energia para transformar o minério em
metal. Na reciclagem do alumínio, utiliza-se 20 vezes menos energia em relação à
quantidade necessária para utilização da matéria-prima virgem.

Reciclagem de vidro
O vidro é um produto obtido da fusão de compostos inorgânicos, sendo seu
principal componente a sílica (SiO2). Ele pode ser reutilizado inúmeras vezes, pois
permite a esterilização em altas temperaturas. Também pode ser reciclado, não
havendo perda de massa durante o processo (1t de caco de vidro = 1t de vidro novo
= economia de 1,2t de matéria-prima virgem). Os vidros levam muito tempo para
se decompor, mais de 1 milhão de anos, e com isso geram problemas de espaço
nos aterros. Sua reciclagem tem ainda como ponto benéfico a redução do uso de
energia.
Alguns tipos de vidro não podem ser reciclados, como espelhos, vidros
de janelas e box de banheiro, vidros de automóveis, cristais, lâmpadas, tubos
de televisão, válvulas, ampolas de medicamentos e os vidros temperados de
uso doméstico.
Já existem recursos para se reciclar o vidro das lâmpadas. Para isso, é neces-
sário que o gás de mercúrio existente nelas seja retirado e tratado adequadamente,
para que não polua o ambiente.

Reciclagem das embalagens de agrotóxicos


As embalagens plásticas utilizadas com agrotóxicos não devem ser reutili-
zadas, pois os resíduos de agrotóxicos podem contaminar os produtos colocados
nessas embalagens. A legislação, através da Lei Federal 9.974/2000 e do Decreto
4.074/2002, proíbe qualquer reutilização da embalagem de agrotóxico. O agricul-
tor deve lavar a embalagem três vezes após utilizar seu conteúdo (tríplice lava-
gem), utilizando a água da lavagem junto com o produto para aplicação. Essa água
não deve ser descartada em outro local, pois acarretará a contaminação ambiental.
Após essa lavagem, a embalagem deve ser furada3 e devolvida nos postos de co- 3 Furando-se as embala-
gens, evita-se que elas
sejam reutilizadas.
leta no prazo de até um ano após a compra. Os postos de coleta são de responsa-
bilidade dos revendedores.

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A parte metálica das embalagens é reaproveitada para a fabricação de verga-


lhões para a construção civil, entre outros. O polietileno de alta densidade (PEAD)
pode ser transformado em conduítes corrugados, barricas plásticas e bombonas
para lubrificantes. O Pet pode ser usado para se fazer vassouras. As tampas das
embalagens são utilizadas para a fabricação de novas tampas para embalagens de
agrotóxicos.

Quanto tempo o lixo


demora para se decompor?
Matéria orgânica: 3 a 6 meses
Chiclete: 5 anos
Jornal: 2 a 6 semanas
Papel: 1 a 3 meses
Pneu: tempo indeterminado
Madeira sem tratamento: 6 meses
Madeira pintada: 13 anos
Embalagens longa vida: até 100 anos
Lata de alumínio: 100 a 500 anos
Latas de conserva: 100 anos
Plástico: 200 a 400 anos
Vidro: tempo indeterminado, alguns comentam em cerca de 1 milhão
de anos

Quadro 4 – Benefícios da substituição de recursos virgens por materiais


secundários

Alumínio (%) Aço (%) Papel (%) Vidro (%)


Uso de energia 90-97 47-74 23-74 4-32

Uso de água — 40 58 50
Poluição do ar 95 85 74 20
Poluição da água 97 76 35 —
(CORSON, 1993)

Perspectivas futuras
Para sermos cidadãos responsáveis, precisamos adotar práticas de recicla-
gem, coleta seletiva e redução do consumo de recursos naturais, e temos que ir
além: informar outras pessoas, exigir atitudes e posicionamentos dos governos,

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mostrar que somos consumidores conscientes e que queremos o melhor para nos-
sa família, e principalmente para o planeta.
Vale lembrar aqui novamente dos cinco R’s: Repensar, Reutilizar, Reciclar,
Reduzir e Recusar.
Repense seus hábitos e atitudes com relação aos recursos naturais.
Procure reutilizar tudo o que ainda tiver proveito, e quando achar que não
serve mais, mande para a reciclagem. Reduza o consumo dos recursos naturais no
seu dia a dia e recuse produtos que agridem o meio ambiente, por eles mesmos ou
devido ao seu respectivo processo de fabricação.
Além disso, informe, ensine outras pessoas. Somos responsáveis pela saúde
do planeta, mas temos a obrigação de agir localmente. Não podemos mudar o
mundo todo de uma vez, mas podemos começar pela nossa casa, pela nossa escola
ou ambiente de trabalho, pela nossa cidade.
São vários os exemplos, espalhados por diferentes países, de ações que bus-
cam equacionar de uma forma mais “amigável” a questão da produção de resíduos
sólidos. A Suécia, somente para citar um destes, é o maior produtor mundial de
veículos automotivos. Lá, as fábricas recebem de volta os carros que não estão
mais em condições de trafegar e utilizam suas partes na fabricação de novos auto-
móveis. O proprietário que devolver seu carro velho recebe um valor em dinheiro
como premiação. Desse modo, barateia-se o custo de produção comprando-se ma-
téria-prima de segunda mão, e não é preciso ter depósitos para os carros velhos.
Aqui no Brasil, as bandejas de isopor4 são utilizadas pelos fumicultores 4 O nome Isopor é marca re-
gistrada da Knauf-Isopor
para a germinação das sementes de tabaco. Depois de germinadas, as mudas são e designa comercialmente o
material fabricado por essa em-
transplantadas para o campo. Dessa maneira, não é mais necessária a utilização presa. Quimicamente, o isopor
chama-se poliestireno expan-
do brometo de metila5, que antes era utilizado na prevenção das pragas. Essa é dido ou EPS (sua sigla interna-
cional).
uma experiência iniciada no estado do Rio Grande do Sul e que hoje é utilizada
por 90% dos produtores do país. No entanto, as bandejas que têm vida útil de três
ou quatro safras estavam sendo descartadas de forma incorreta pelos produto- 5 O brometo de metila é uma
substância prejudicial à ca-
mada de ozônio e seu uso está
res agrícolas. Com iniciativa da Associação Brasileira do Poliestireno Expandido sendo banido em todo o plane-
ta, pelo Protocolo de Montreal
(Abrapex), em conjunto com o Sindicato da Indústria do Fumo (Sindifumo) e (1987).

com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), as bandejas são coletadas,


assim como é feito com as embalagens de agrotóxicos, e encaminhadas para o
setor de confecção de calçados, onde são reprocessadas e utilizadas como maté-
ria-prima para a confecção de solas de sapatos. “A reciclagem do material é um
pleito antigo do setor fumageiro, e poderá servir de modelo para os demais países
produtores”, afirma o presidente da Abrapex. O projeto já despertou interesse de
outros países que enfrentam os mesmos problemas com o isopor.
Outros exemplos ainda podem ser citados no Brasil: o programa Câmbio
Verde e o Programa de Recolhimento das Baterias de Celular Usadas, ambos em-
preendidos em Curitiba (PR).
O programa Câmbio Verde começou em 1991, quando houve uma supersa-
fra de produtos hortigranjeiros na região metropolitana de Curitiba. Os pequenos
produtores, com dificuldade para escoar sua produção, estavam transformando
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seu excedente em ração e adubo orgânico. O Poder Público, então, resolveu au-
xiliá-los e passou a adquirir o excedente de produção. Esses produtos são troca-
dos com pessoas de baixa renda (com renda entre 0 e 3,5 salários mínimos) por
lixo reciclável. Cinco quilos de material reciclável rendem um quilo de alimento.
Os recicláveis são triados e vendidos e o dinheiro da venda serve para comprar
mais produtos, e dar continuidade ao programa. A partir de então, pessoas que
antes jogavam seu lixo em terrenos baldios e rios passaram a trocá-los por alimen-
tos. Hoje, o programa já tem outras modalidades, como o Câmbio Verde na escola,
que troca lixo por material escolar, por exemplo.
O Programa de Recolhimento de Baterias de Celular Usadas foi iniciado em
1999, como uma parceria da organização não governamental Sociedade de Pesquisa
em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e uma empresa de telefonia celu-
lar do Paraná. As baterias passaram a ser recolhidas nas revendedoras da empresa
nos estados do Paraná e Santa Catarina e no município de Pelotas, no Rio Grande
do Sul. A empresa de telefonia encaminha as baterias a seus fabricantes, onde elas
recebem a destinação correta, do ponto de vista ambiental. Além dos benefícios am-
bientais, o programa provoca nos envolvidos a reflexão sobre o consumo consciente
e o papel do cidadão na construção de um futuro melhor para todos.

Conclusão
A quantidade de lixo no Brasil ainda não é das maiores do mundo. No en-
tanto, o exemplo dos países desenvolvidos serve de aviso para nós brasileiros. Mu-
dar nossos hábitos de consumo para reduzir a quantidade de lixo mandado para os
aterros e lixões é um passo importantíssimo. Escolher produtos em embalagens
recicláveis e consumir apenas o necessário, além de separar o lixo e entregá-lo aos
postos de coleta seletiva ou ao sistema de transporte do lixo, também devem fazer
parte do dia a dia dos cidadãos. O fato de existir um símbolo de reciclável na em-
balagem que você leva para sua casa não significa que ela será automaticamente
reciclada, principalmente se ela for mandada junto com o lixo orgânico para um
aterro ou lixão. As atitudes tomadas por nós hoje serão refletidas, no futuro, em
um país mais limpo e em um ambiente mais saudável.

Brasil revoluciona na reciclagem de embalagens cartonadas


(CEMPRE, 2005)

O dia 13 de abril de 2005 marcou a partida de uma importante contribuição do Brasil para
o desenvolvimento tecnológico, o meio ambiente e a geração de emprego e renda. As empresas

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Resíduos sólidos e cidadania II

Klabin, Tetra Pak, Alcoa e TSL Ambiental inauguraram, em Piracicaba (SP), uma nova planta de
reciclagem de embalagens cartonadas que utiliza tecnologia de Plasma para separação total do
alumínio e do plástico.
Esse processo revoluciona o modelo atual de reciclagem das caixinhas longa vida, que até
então separava o papel, mas mantinha o plástico e o alumínio unidos. O embrião do projeto de
Plasma nasceu no Brasil há cerca de sete anos, com uma parceria entre o Grupo de Plasma do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Universidade de São Paulo, e a Tetra Pak.
Para a construção da planta – que é operacionalizada pela TSL Ambiental – foram investi-
dos cerca de 12 milhões de reais, compartilhados entre as quatro empresas. O processo consiste
em aplicar energia elétrica para produzir um jato de plasma a 15 000ºC, que aquece a mistura
de plástico e alumínio. O plástico é, então, transformado em composto parafínico e o alumínio é
totalmente recuperado na forma de lingotes de alta pureza.
A emissão de poluentes na recuperação dos materiais é próxima a zero, e o processo apresen-
ta eficiência energética de cerca de 90%.
A Klabin possui uma fábrica para reciclar a camada de papel das embalagens cartonadas
vizinha à planta de Plasma, e é a responsável pelo fornecimento do alumínio com o plástico. Há
capacidade para processar 8 000 toneladas por ano desse material – o que equivale à reciclagem
de 32 mil toneladas de embalagens longa vida. O lingote será encaminhado para a Alcoa – forne-
cedora da folha fina de alumínio – e será direcionado para a produção de uma nova caixinha. Já a
parafina será comercializada para a indústria petroquímica nacional e poderá ter várias utilidades,
como a fabricação de detergentes.

Maior valor à cadeia de reciclagem


A novidade de aproximar o alumínio e o plástico de seus usos originais significa agregar
valor à cadeia de reciclagem. Para se ter uma ideia, a tonelada de embalagem longa vida pós-con-
sumo gira em torno de 250 mil reais. A partir de agora, espera-se que a tonelada possa alcançar
300 reais. “A nova planta ampliará ainda mais o volume de reciclagem das embalagens longa vida
pós--consumo”, avalia Fernando von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak. Isso sem
contar que a expansão da reciclagem das caixinhas também beneficiará os fabricantes de objetos
feitos a partir de embalagens cartonadas, como telhas, placas e vassouras.
A aliança das quatro empresas para transformar esse projeto em uma unidade de reciclagem
via plasma já vinha despertando a atenção mundial antes mesmo de seu lançamento. Desde o ano
passado, representantes de outros países – como Suécia, Espanha e China – têm visitado a unida-
de e já está em construção uma planta similar à brasileira, que deverá ser inaugurada na cidade
espanhola de Valência, no próximo ano. Outros interessados pela tecnologia brasileira estão na
Alemanha, Itália, França e Canadá. A expectativa dos parceiros Klabin, Tetra Pak, Alcoa e TSL
Ambiental é que a planta tenha fôlego por dois anos para reciclar o volume de caixinhas consumi-
das no Brasil. Depois, ao que tudo indica, a expansão será o caminho para essa iniciativa pioneira.

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Resíduos sólidos e cidadania II

1. Reflita sobre sua atitude diante do assunto resíduos sólidos e cidadania. Repense seus hábitos
e a forma como você trata o lixo em casa. Liste a seguir pontos que você, como cidadão, pode
melhorar.

2. Repita a atividade anterior, só que agora pense no local de trabalho ou na escola.

3. Reflita sobre as maneiras de se reaproveitar o lixo ou meios de atingir outras pessoas e sensibi-
lizá-las com a questão do lixo. Liste abaixo as ideias que lhe pareceram mais viáveis.

Site do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre): <www.cempre.org.br>.


Nesse site, há informações sobre reciclagem e gerenciamento integrado do lixo, com informa-
ções direcionadas a formadores de opinião e pessoas responsáveis pela tomada de decisão referente
aos resíduos sólidos.
Site do Setor Reciclagem: <www.setorreciclagem.com.br>.
O portal Setor Reciclagem é um veículo de comunicação de conteúdo informativo especializado
em reciclagem, para empresários, empreendedores e pesquisadores do ramo. Acumula informações
diárias coletadas na internet, resenhas enviadas por assessorias de comunicação ou por profissionais
do segmento e matérias exclusivas.
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