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REJEITOS DE PLÁSTICOS

ESTUDO SOBRE IMPACTOS E RESPONSABILIDADES


REJEITOS DE PLÁSTICOS SUMÁRIO
ESTUDO SOBRE IMPACTOS E RESPONSABILIDADES

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação Heinrich Böll, especialmente a Marcelo Montenegro,


coordenador de Programas e Projetos de Justiça Ambiental, pelo apoio ao projeto Ações
de Banimento de Plásticos no Brasil, que inclui o curso Um Futuro sem Plásticos –
soluções para banimento de descartáveis, o webinar Um Futuro sem Plásticos – avanços APRESENTAÇÃO 4
e desafios de uma perspectiva nacional e global, esta publicação e os estudos sobre os
rejeitos de plásticos que lhe serviram de base.

Agradecemos também à Coopamare e à Cooper Viva Bem e suas respectivas equipes que
colaboraram no trabalho de campo para este estudo. O CRESCENTE DOMÍNIO DOS PLÁSTICOS 6

Direção geral
Elisabeth Grimberg, coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis ESTUDO GRAVIMÉTRICO 14
Consultor técnico
Clauber Barão Leite

Produção e edição de texto

Luci Ayala AUDITORIA DE MARCAS 20


Fotógrafo
Vitor Nisida

Editora de arte e designer gráfico


Renata Alves de Souza | Tipo Gráfico Comunicação ANÁLISE DOS RÓTULOS 26
Realização Apoio

CONSIDERAÇÕES FINAIS 32

Instituto Pólis
Rua Araújo 124, CEP 01220-020
Vila Buarque, São Paulo SP
APRESENTAÇÃO

O objetivo deste estudo é ampliar o conhecimento sobre os rejeitos plásticos– Para responder essas questões foram realizados três estudos distintos, porém relacio-
aqueles materiais que chegam às cooperativas de catadoras e catadores pela nados: Análise gravimétrica, que nos permitiu conhecer a composição dos rejeitos (os
coleta seletiva, mas não são passíveis de reciclagem e têm seu destino final nos tipos de materiais e a participação de cada tipo no total) acumulados em um dia de tra-
aterros sanitários. balho em duas cooperativas, a Coopamare e a Cooper Viva Bem. Na sequência, foi feita
uma auditoria de marcas das embalagens mais recorrentes entre os rejeitos, o que nos
Uma das referências para este trabalho é a Lei nº 12.305/2010 que instituiu a Política informou quem são os responsáveis por elas. Por fim, foi realizada a análise dos rótulos
Nacional de Resíduos Sólidos. As linhas mestras dessa política, que se propõe (artigo 7) dessas embalagens, para conhecermos as informações que trazem (ou que não trazem)
a preservar a saúde pública e a qualidade ambiental, são “não geração, redução, reuti- aos consumidores em relação à sua reciclabilidade. Os três estudos são qualitativos,
lização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como a disposição final am- sem caráter amostral, mas são úteis por indicarem tendências.
bientalmente adequada dos rejeitos.”
Quanto às marcas, os resultados não chegam a ser surpreendentes, pois as mais pre-
Para ser sustentável social e ambientalmente e, ao mesmo tempo, seguir a lei, as indús- sentes entre os rejeitos aqui analisados são as mesmas que aparecem nas auditorias de
trias deveriam se comprometer a não gerar resíduos. Se isso não for possível, o compro- marcas realizadas em limpezas públicas em várias partes do mundo. Fica evidente que
misso seria com a redução dos resíduos gerados e sua reutilização para a mesma finali- essas empresas não têm o menor compromisso em não gerar, reduzir ou reciclar seus
dade e, só depois, a reciclagem. Órgãos de controle e fiscalização precisariam cumprir o resíduos, pois acondicionam seus produtos em embalagens de uso único e não se preo-
seu papel e exigir das empresas o cumprimento da lei. cupam em recolhê-las e reintroduzir seus materiais em suas cadeias produtivas.
No entanto, como veremos neste estudo, não é isso o que acontece. É grande o número Não arcam com os custos da logística reversa, da coleta seletiva, da triagem dos ma-
de situações em que nenhuma dessas etapas é considerada. Nas esteiras das coopera- teriais e muito menos com o envio de seus resíduos para os aterros sanitários. Deixam
tivas de catadoras e catadores, há uma proliferação crescente de embalagens plásticas, isso para as cooperativas ou para os serviços públicos – quem paga é o cidadão.
a maioria de uso único – use e jogue fora! – classificadas como rejeitos por não serem Mas por que cidadãos separam esses produtos e os mandam para a reciclagem? Em boa
passíveis de reciclagem. O princípio da não geração é ignorado, assim como o da redu- medida fazem isso por engano, por lerem nos rótulos das embalagens que aqueles ma-
ção, o da reutilização e, como vamos ver aqui, o da reciclagem. teriais são recicláveis quando, na prática, não o são: os materiais são recicláveis, mas
Os rejeitos são um retrato dessa cadeia de descasos e, para entendermos melhor a po- não são reciclados.
sição de cada um nessa foto, fizemos algumas perguntas-chave: Qual a participação Uma prática que vem se tornando tão comum que já tem até nome: greenwashing,
dos rejeitos no conjunto dos materiais que chegam às cooperativas para reciclagem? usado quando uma empresa se diz verde e ambientalmente sustentável, mas na ver-
Qual a composição desses rejeitos? Quais as empresas têm mais embalagens nesses dade não é.
rejeitos? O que leva as pessoas a separar esses materiais e os enviar às cooperativas de
materiais recicláveis?

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O CRESCENTE DOMÍNIO DOS PLÁSTICOS

O mundo está chafurdando nos plásticos. Nas ruas, nas praias, nos aterros
sanitários e lixões, nos rios e nos oceanos. O fato é evidente, mas as causas e as
responsabilidades, nem tanto.

Quando se fala em responsabilidade por Quase nunca se fala da responsabilidade Fala-se menos ainda das empresas que
essa avalanche de plásticos que se espa- das empresas, especialmente da indústria estão na raiz dessa cadeia produtiva, as
lha cotidianamente por todos os lugares, de alimentos, sempre pronta em conseguir grandes corporações que extraem e pro-
o primeiro a ser apontado é o consumidor, embalagens mais baratas e que lança seus cessam petróleo bruto, gás natural e sha-
que largaria seu lixo de qualquer manei- produtos em garrafas pets, saquinhos de le gas (gás de folhelho ou, popularmente
ra ou que não separaria adequadamente biscoitos, de salgadinhos, e outros múl- de xisto) e os transformam nas matérias-
seus recicláveis em casa. tiplos tipos de embalagens plásticas, sem -primas básicas para diferentes tipos de
Na segunda linha de culpa costumam ser nenhuma preocupação com o seu destino plástico, estas também sempre prontas
apontadas as prefeituras, que não fariam a final e muito menos se esses materiais a aumentar sua produção, sem o menor
coleta seletiva de maneira satisfatória, ou, são passíveis de reciclagem ou não. cuidado com a gestão dos resíduos que
ainda, os próprios catadores de materiais resultam de suas cadeias produtivas.
recicláveis, que só se interessariam pelos
materiais que têm maior valor de marcado.

Embalagens plásticas consideradas rejeitos

A MATRIZ DA AVALANCHE
Um pequeno grupo de multinacionais controla o mercado global de plástico que, majoritariamente, é Maiores atores na indústria mundial do plástico (em bilhões de euros)*
produzido a partir de petróleo, gás natural ou shale gas (gás de folhelho) extraído por fraturamento hi- Exxon Mobil, 210,7
dráulico (fracking) das jazidas de xisto, principalmente nos EUA. Conglomerados como Dow Chemical e
Basf, 56,9
a Mobil Corporation (agora ExxonMobil), transformam os componentes primários dos hidrocarbonetos
Eni, 55,0
em produtos químicos intermediários e, em seguida, em vários polímeros que resultam numa enorme
variedade de produtos finais. Ineos, 53,6
Dow, 43,7
Ameaçadas pela crescente consciência mundial sobre a necessidade de uma transição para a energia
Sabic, 31,6
verde, esses conglomerados planejam novas aplicações de mercado para seus produtos e novos mate-
Liondel Basel, 29,5
riais para tornar as embalagens mais atraentes, baratas ou para maximizar a durabilidade de um de-
terminado item. *Atlas do Plástico 2020, Fundação Heinrich Boll e Break Free from Plastic

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Rejeito é o que não serve para nada Do supermercado às cooperativas de catadores

O foco deste estudo são os rejeitos plás- Nessa investigação, contamos com a par- Os corredores dos supermercados dão cos e indicam se eles são ou não reciclá-
ticos, ou seja, a outra ponta dessa grande ticipação daqueles que mais entendem de uma boa visão da oferta de produtos em- veis – o que, como vamos ver, nem sem-
cadeia onde reina o desperdício dos re- coleta seletiva e mais arcam com os re- balados em plásticos, que vêm ganhando pre é uma informação confiável.
cursos naturais e a poluição do planeta. jeitos: catadoras e catadores de materiais cada vez mais terreno nas prateleiras,
A cidade de São Paulo mantém um serviço
Os rejeitos são a parcela das embalagens recicláveis. Duas cooperativas paulistanas substituindo outros materiais, como vidro,
de coleta seletiva de materiais recicláveis
e de outros materiais que não pode ser colaboraram com a realização deste estu- metal, papel e papelão.
que, segundo a Autoridade Municipal de
reciclada, seja por falta de mercado, seja do, a Coopamare e a Cooper Viva Bem. Es-
Ao mesmo tempo, cidadãos preocupados Limpeza Urbana (Amlurb), cobre 76% das
por falta de tecnologia, e que vai parar sas organizações separaram seus rejeitos
com o impacto ambiental dessa montanha vias urbanas e mantém convênio com 25
nos aterros sanitários e lixões, quando de um dia de trabalho para serem anali-
de resíduos procuram fazer uma separação cooperativas de catadoras e catadores.
não diretamente no meio ambiente. sados, cederam seus espaços para as ati-
dos recicláveis em suas casas, destinando-os Existem ainda cooperativas não convenia-
Nos interessa saber quem se utiliza dessas vidades e indicaram o motivo de aqueles
à coleta seletiva municipal, quando existen- das, que mantêm suas próprias redes de
embalagens plásticas não recicláveis para produtos terem sido considerados rejeitos.
te em seus bairros, ou diretamente às coo- clientes, que incluem condomínios resi-
levar seus produtos até a casa do consu- perativas de catadores de materiais reciclá- denciais e comerciais.
midor, mas não se preocupa em recolhê- veis ou, ainda, a catadores individuais.
Em 2020, a cidade de São Paulo gerou por
-las. Vamos conhecer quais são os mate-
Como as políticas públicas de educação dia 15,6 mil toneladas de resíduos sóli-
riais mais utilizados em sua produção e
ambiental são precárias, a única informa- dos urbanos (RSU). Desse total, cerca de
como eles são apresentados aos consumi-
ção que as pessoas têm para a separação 10 mil toneladas têm origem doméstica e
dores, muitas vezes com informações que
desses resíduos em suas casas são aquelas apenas 1,5% vão para a coleta seletiva. A
induzem ao erro.
apresentadas no rótulo dos produtos, que maior parte, 97,7%, é enviada para ater-
classificam os diferentes tipos de plásti- ros sanitários.
Rejeitos de plásticos na Cooper Viva Bem

ESCALADA DOS PLÁSTICOS


Os primeiros plásticos eram feitos de matérias-primas naturais, como a celulose, e procuravam As embalagens descartáveis multiplicaram-se até o final da década de 1970, quando se
imitar e substituir outras matérias-primas naturais, como seda e marfim. impuseram globalmente. Seus maiores usuários são as grandes multinacionais de alimentação
e bebidas açucaradas
No início do século 20* surgiu o policloreto de vinila, mais conhecido como PVC ou vinil, já total-
mente sintético. Em 1978, a Coca-Cola substituiu sua icônica garrafa de vidro pela de plástico. No final
da década seguinte, quase todas as garrafas de refrigerante e leite usadas no mundo eram
Nos anos 1950 a indústria chegou ao processo de produção do PVC sintético a partir de um resíduo
de plásticos descartáveis.
da indústria petroquímica, uma matéria prima muito barata, e ponto de partida para a dissemina-
ção dos plásticos em massa. Atualmente, a produção global anual de garrafas de plástico descartáveis é estimada em
88 000 000 000 de unidades.
Já no início da década de 1960, bilhões de itens de plástico enchiam lixões, aterros e incinerado-
(*) Atlas do Plástico 2020, Fundação Heinrich Boll e Break Free From Plastic
res no mundo ocidental, numa escalada até hoje crescente.

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Rejeito custa muito caro

Ao chegarem às esteiras de triagem das caminhões e carrinhos de coleta de re- os cooperados ou sobre o sistema como
cooperativas de catadoras e catadores, uma cicláveis, mais o tempo e o trabalho de um todo, quando a prefeitura banca esse
parcela significativa dos resíduos separados separação nas esteiras das cooperativas transporte. “Aqui na Cooper Viva Bem
pelos consumidores, na maioria plásticos, é para, depois de tudo isso, serem encami- pagamos R$ 650,00 por viagem de cami-
classificada como rejeitos, ou seja, resíduos nhados para os aterros sanitários, pois nhão para levar o rejeito para o aterro, e
que não são considerados recicláveis. Seu não são recicláveis”. são de dois a três caminhões por semana,
destino são os aterros sanitários. e mais R$ 0,10 por quilo para aterrar o
A massa de rejeitos é bastante significa-
material”, completa Tereza.
“Nós fazemos a separação do que é ou tiva: “Nossa estimativa é que eles repre-
não reciclável e encaminhamos os rejeitos sentam 15% do total de materiais que A presença de rejeitos na coleta seletiva
para os aterros”, explica Walison Borges chegam à cooperativa”, diz Maria Tereza indica uma separação inadequada dos
da Silva, coordenador da Coopamare e Montenegro, presidente da Cooper Viva resíduos nas residências ou nos pontos
que participou deste estudo pela coopera- Bem. Como eles recebem cerca de 300 to- comerciais. Como não existem progra-
Rejeitos de plásticos na Coopamare
tiva. “É um trabalho que ninguém vê, mas neladas por mês, os rejeitos somam algo mas permanentes de educação ambien-
que ocupa nosso tempo, o espaço da coo- em torno das 45 toneladas/mês. Estudos tal – que deveriam ser mantidos pelo Ou seja, existe um problema de infor-
perativa e que não é remunerado”. realizados em cooperativas do interior de setor produtivo que origina os resíduos mação, no qual cidadãos bem-intencio-
São Paulo indicam percentuais maiores, –, uma parcela da população pode des- nados acabam destinando materiais que
Walison explica que esses falsos reciclá-
variando de 24% a 30% de rejeitos. conhecer o que é ou não reciclável. A não são recicláveis para as cooperativas.
veis encarecem a coleta seletiva e difi-
ausência de informação nas embalagens,
cultam todo o processo: “Gastam tempo Além das horas de trabalho extras não
ou informações falsas ou beirando à fal-
do consumidor, que se dá ao trabalho de remuneradas, os custos para enviar os
sidade completam a explicação.
separá-los, gastam tempo e espaço nos rejeitos aos aterros também pesam sobre

PRODUÇÃO GLOBAL
Produção de embalagens plásticas (t/ano) 2019 *
Mais de 400 milhões de toneladas de plásticos são produzidas globalmente a cada ano. E calcula-se que,
desde o início da produção em larga escala, na década de 1950, até 2017, já foram produzidas 9,2 bilhões de Coca-Cola 3 000 000
toneladas de plástico, o equivalente a mais de uma tonelada por habitante do planeta na atualidade, a maior Nestlé 1 700 000
parte são produtos e embalagens de uso único. Danone 750 000
Desse total, estima-se que apenas 24% permanecem em uso. Das restantes 6,3 bilhões de toneladas de resí- Unilever 610 000
duos, apenas cerca de 10% teriam passado por alguma forma de reciclagem. *Atlas do Plástico 2020, Fundação Heinrich Boll e Break Free from Plastic
O restante foi parar em aterros sanitários ou lixões e continua por lá, foram queimados ou simplesmente jo-
gados no meio ambiente, sendo que grande parte tem seu destino final nos oceanos.

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Conhecer os rejeitos e os responsáveis por eles

Para as cooperativas de catadoras e ca- A análise gravimétrica foi realizada pela


tadores, rejeitos são os materiais con- OperatorLab, empresa pioneira na reali-
siderados não recicláveis, seja por falta zação de estudos gravimétricos em ater-
de tecnologia para processá-los, seja por ros sanitários no Brasil, com a direção
falta de compradores ou, ainda, por esta- técnica do consultor Alexandre Demare.
rem contaminados. A auditoria de marcas foi conduzida
pelo engenheiro ambiental e consultor
Para ampliar o conhecimento sobre esses
Clauber Leite, com a participação de
rejeitos, em especial os plásticos, foram rea-
Elisabeth Grimberg, coordenadora deste
lizados três estudos em sequência:
projeto sobre rejeitos plásticos e da área
(1) a caracterização e análise gravimétri-
de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, e
ca dos rejeitos das duas cooperativas de
colaboração de Andres Felipe Rodrigues
catadores de coleta seletiva participantes Separação dos rejeitos de um dia de trabalho na Coopamare E também na Cooper Viva Bem
Torres, doutorando em sustentabilidade
do estudo, a Coopamare, dia 7 de julho de
As duas cooperativas não são conveniadas pela EACH/USP, no trabalho de campo. A
2021, e a Coper Viva Bem, dia 16 de julho de
com a prefeitura, ou seja, não participam análise de rótulos também foi conduzida
2021. A separação dos rejeitos por tipo para
do sistema de coleta seletiva municipal. por Clauber Leite.
a análise gravimétrica serviu como ponto de
Recebem seus materiais de particulares,
partida para a (2) auditoria de marcas das
por meio de convênios com empresas,
embalagens plásticas presentes nesses rejei-
condomínios residenciais e comerciais,
tos e a (3) análise das informações conti-
shoppings centers e outros consumidores
das nos rótulos das marcas auditadas.
de grande porte.

A MARCA DA PANDEMIA NOS ATERROS SANITÁRIOS


A gravimetria em aterros sanitários permite perceber a flutuação do consumo, que vai se modificando por
vários fatores. Ao longo do ano, por exemplo, mudam de acordo com as estações e mudanças de temperatu-
ra. No mês, vai se modificando de acordo com o período de pagamento dos assalariados.
Durante a pandemia, segundo observação de Alexandre Demare, da OperatorLab, ficou evident o aumento do
volume de plásticos, isopor e caixinhas de alimentos de plásticos e de papelão nos aterros sanitários. O iso-
lamento social provocou o aumento das compras online, com sua profusão de embalagens plásticas, muitas
delas feitas a partir de materiais não recicláveis. Máscaras de proteção foram parar tanto em aterros, nas
ruas, rios, mares como nos materiais destinados à reciclagem, o que não acontecia anteriormente.
Para piorar, as cooperativas de catadores ficaram fechadas nos primeiros sete meses da pandemia, sem poder
atender sua rede de fornecedores de resíduos– só a Coopamare deixou de fazer a coleta em mais de 30 pon-
Separação dos rejeitos por tipo, na Cooper Viva Bem Início da separação e identificação das marcas presentes nos rejeitos
tos. Sem os catadores, os antigos clientes mandaram seus resíduos para os aterros.
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ESTUDO GRAVIMÉTRICO

Plásticos Flexíveis (1) (Plásticos filmes, sacolas e embalagens de PVC, PEBD e PS Contaminados) Plásticos Flexíveis (1) misturas de PVC/PS/PEBD contaminados Pet Bandeja

Plásticos Flexíveis (1) – Pet colorido sem valor de mercado, PS e Blister Plásticos Flexíveis (1) – PS e Blisters Papel misto contaminado Plásticos Flexíveis (1) – PS e PETs de óleo contaminados Plásticos Flexíveis (1) misturas de PVC/PS/PEBD contaminados

Figuras 35 – Plásticos BOPPs Vidros quebrados e contaminados Isopor (EPS) contaminados com matéria orgânica

Materiais considerados rejeitos pelas cooperativas são separados por tipo e depois pesados para se conhecer a participação de cada tipo no conjunto de rejeitos

Outros materiais Outros plásticos diversos rígidos (3) contaminados Plásticos Flexíveis (2) (Sacolas e Outras Embalagens)
14 15
ESTUDO GRAVIMÉTRICO

A análise gravimétrica de resíduos sólidos tem por objetivo identificar e quantificar


Materiais plásticos não recicláveis
Classificação Classificação Classificação
sua composição. Neste caso, considerado um dos primeiros estudos gravimétricos em Materiais Nível 1 Nível 2 Nível 3
cooperativas de catadoras e catadores, o foco foi conhecer os materiais utilizados Plásticos flexíveis
Polímeros 1
Polímeros
Embalagens de salgadinhos e bolachas
BOPP (*) metalizados
para a produção de embalagens e outros bens descartáveis que não são passíveis de PET cristal e
PET bandeja (*) Polímeros 2 Embalagem de padaria e embalagens de alimentos diversos.
reciclagem e foram classificados como rejeitos pelos catadores. PET colorido

A caracterização gravimétrica dos rejeitos Cada pilha foi transferida para caixas Materiais passíveis de reciclagens
das cooperativas Coopamare e a Coper Viva plásticas (com pesos conhecidos), com Classificação Classificação Classificação
Bem foi realizada em julho de 2021 nos aproximadamente 200L de capacidade. Materiais Nível 1 Nível 2 Nível 3
Sacolas de supermercados; plásticos usa-
espaços cedidos por elas. Nos dois locais, Foi feita a pesagem de cada tipo de ma- Sacola plástica, plástico filme, PET
dos por transportadoras, garrafas, embala-
todos os procedimentos seguiram o mesmo terial separadamente, e calculado o valor Plásticos Flexíveis 1
Polímeros 3
cristal fragmentados, PET colorido
gens de óleos, copo plástico, lonas e sacos
PVC/PS/PEBD/PET (1) sem valor de mercado, plástico preto,
protocolo e as especificações estabelecidas percentual do peso de cada tipo em rela- PS
de lixo, sacolas com zíper, blisters e sacos
de rafias.
pelo método de quarteamento desenvolvido ção ao conjunto dos rejeitos. Plásticos flexíveis
por Pedro José Stech, engenheiro da Compa- 2 (sacolas e outras PEAD e PP - Sacolas plásticas e em- Sacolas de mercados e de embalagens de
Polímeros 4
nhia de Tecnologia de Saneamento Ambien- Os materiais separados: embalagens flexí- balagens de alimentos alimentos
veis) (2)
tal (CETESB), e de acordo com a NBR: 10007. • Plásticos (termoplásticos); PEAD e PP - Polímeros contaminados, Embalagens de iogurtes, margarinas, água
Outros plásticos di-
• Plásticos (termorrígidos); Polímeros 5 polímeros mistos, polímeros mistos sanitária, forros, embalagem de marmita,
Os rejeitos utilizados, separados pelos versos rígidos (3)
(com metais) contaminados peças de eletrodomésticos e brinquedos
• Isopor (EPS);
próprios cooperados, foram pesados antes Isopor (4) Polímeros 6 EPS Embalagens de marmitas e outros
• Papel misto;
do início das atividades em balança de • Tecidos e calçados Notas:
(1) Materiais contaminados com matéria orgânica , fragmentados e com pouco valor de mercado devido às misturas de materiais poliméricos
precisão previamente aferida. • Vidros;
em sua composição e com pouco valor de mercado ;
• Pilhas e baterias; (2) Materiais de uma boa qualidade polimérica, porém contaminados com matéria orgânica e fragmentados;
As triagens e pesagens foram realizadas pela
• Fios e cabos; (3) Materiais poliméricos rígidos com uma boa qualidade para a reciclagem, porém contaminados com matéria orgânica e muitos fragmentados;
equipe de funcionários da OperatorLab, trei- • Orgânicos; (4) Materiais poliméricos (EPS) com tecnologia para a reciclagem, porém contaminados com restos de alimentos.
nados e equipados para a tarefa, seguindo • Terra e pedra;
A pesagem de cada material separadamente permitiu aferir sua fração gravimétrica na
as normas de segurança do setor para • Madeira;
• Fraldas / papel higiênico; composição do resíduo amostrado. O mesmo procedimento foi repetido duas vezes em
essa atividade. Eles fizeram a homogenei-
• Resíduo eletrônico; cada cooperativa, seguindo-se os mesmos protocolos. Foi obtida a média da participa-
zação e o quarteamento dos resíduos, for-
• Diversos. ção de cada tipo de material em cada cooperativa e, na sequência, a média da pesagem
mando pilhas de materiais homogêneos.
entre as duas cooperativas.

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Média das análises gravimétricas Média das análises gravimétricas Médias gravimétricas das cooperativas
Coopamare Cooper Viva Bem (%)

1,19 metais ferrosos


Resultado Final Gravimetria % Resultado Final Gravimetria %
Plásticos BOPP 5,79 Plásticos BOPP 3,91 1,9 vidros
Plásticos PVC/PS/PEBD/PET 2,29 Plásticos PVC/PS/PEBD/PET 9,41 2,42 isopor
Plásticos diversos 5,48 Plásticos diversos 12,58
2,44 PET bandeja
PET bandeja 2,23 Plásticos recicláveis 10,56
Sacolinhas 6,41 PET bandeja 2,62 4,85 plásticos flexíveis BOPP
Isopor 0,88 Isopor 3,97 5,85 plásticos flexíveis PVC/PS/PEBD/PET
Metais ferrosos 0,80 Metais ferrosos 1,58
8,48 plásticos flexíveis (sacolas e outras embalagens)
Vidros 0,30 Vidros 3,49
Papel misto 6,98 Papel misto 12,39 9,03 outros plásticos diversos rígidos
Outros 68,84 Outros 39,49 9,68 papel misto

54,16 (*) outros

Média das análises gravimétricas das duas cooperativas 0 10 20 30 40 50 60

(*) outros : tecidos , calçados , borrachas , madeiras , restos de alimentos , papel guardanapo , papel higiênico , fraldas , esponjas , máscaras , ma -
Média dos Resultados Finais Gravimétricos %
teriais de saúde ( seringas , bolsas de soro e blisters de comprimidos ), papéis e plásticos fragmentados e / ou contaminados com matéria orgâni -
Plásticos flexíveis BOPP 4,85
ca e restos de varrição .
Plásticos flexíveis PVC/PS/PEBD/PET 5,85
Outros plásticos diversos rígidos 9,03 Nas duas cooperativas, a maior parte dos rejeitos é composta por plásticos (30,65%),
Plásticos flexíveis (sacolas e outras embalagens) 8,48
PET bandeja 2,44
mais isopor, que é um tipo de plástico (2,42% somando 33,07%) seguido por papel mis-
Isopor 2,42 to (9,7%), metais ferrosos (1,2%), vidros (1,9%) e outros (54%).
Metais ferrosos 1,19 Esses materiais viraram rejeitos por não terem valor de mercado, por estarem contami-
Vidros 1,90
Papel misto 9,68
nados e/ou muito fracionados (aparas de papéis, resquícios de vidrarias, fios e cabos).
Outros 54,16

NÃO REUTILIZÁVEL E POUCO RECICLÁVEL POLUIÇÃO DE LONGO ALCANCE


Embalagens representam 40%* de todos os resíduos plásticos. A maior parte foi projetada para ser descarta- Os plásticos são formados por longas cadeias moleculares muito resistentes e que demoram anos – déca-
da após um único uso e praticamente não é reciclável, pois geralmente é feita com várias camadas de mate- das e até séculos – para se biodegradar. Aliás, o plástico é poluente em todos os estágios de seu ciclo de
riais diferentes. vida, desde o momento em que o petróleo ou o gás são extraídos para produzi-lo até quando é descartado
Em uma escala global, apenas 14% das embalagens plásticas são atualmente recicladas – embora isso ge- indevidamente na natureza, depositado em aterros ou queimado. A própria reciclagem do plástico gera
ralmente signifique “subreciclagem” (downcycling) para gerar um produto de qualidade inferior. resíduos que requerem cuidado.

Outros 40% são descartados em aterros e 14% são queimados em incineradores. A degradação do plástico tem efeitos adversos na natureza e para a humanidade. Ele não desaparece, mas
é fracionado em micropartículas que se dispersam na água dos rios e nos mares, acabam sendo ingeridas
Os 32% restantes encontram seu caminho no meio ambiente, incluindo lixões, rios e mares.
pelos animais e seres humanos, com efeitos a longo prazo ainda desconhecidos. Micropartículas de plásti-
*(Dados do Atlas do Plástico 2020, Fundação Heinrich Boll e Break Free from Plastic). co são encontradas no organismo de animais marinhos, no sal e até na água que sai por nossas torneiras.

18 19
AUDITORIA DE MARCAS

20 Embalagens plásticas consideradas rejeitos pelas cooperativas são separadas por marca de produto e fabricante responsável
21
AUDITORIA DE MARCAS
Presença das empresas – rejeitos não recicláveis

A uditorias de marcas vêm sendo realizadas pelo movimento global Break Free from Nestlé
Mondelez
13.16%
10.53%
Premier
Laticínios Bela Vista Ltda
Plastic para conhecer e divulgar as marcas mais recorrentes – e os maiores poluidores Pepsico 8.95% JBS
– nos resíduos recolhidos nas limpezas de praias, parques e outros espaços que BRF 7.37% Hershey Trust Company
1.05%
Grupo Lactalis
promove em vários países do mundo. Sua metodologia tem sido adaptada e aplicada São Miguel Holding
Kraft Heinz Company 3.68% Dr. Oetker
em diversas situações, como conhecer os produtos mais utilizados em residências, Bauducco Foods, Inc. Da Terrinha
escritórios, escolas e universidade, lojas, entre outros. Trata-se basicamente de Vigor Alimentos S.A Bananinha Paraibuna Ltda
3.16%
Sem identificação
separar todos os produtos encontrados, identificar suas marcas e empresas fabricantes Mars, Inc
Jacobs Douwe Egberts Sakura Nakaya Alimentos Ltda
– o que muitas vezes demanda pesquisas – e registrar os resultados. Grupo Bimbo 2.63% Peccin SA
Goiasminas Indústria de Laticínios Ltda LC Indústria e Comércio
Para este trabalho, a auditoria foi realiza- Procedimentos Rochinha La Roche Posay

da para identificar as marcas mais recor- Nissin Food Products Corporation Limited Jesmond Comercio Varejista LTDA
Após a triagem dos rejeitos para o estudo M Dias Branco SA Ind e Com de Alimentos
2.11%
International Paper
rentes nos rejeitos das duas cooperativas
de gravimetria, foram listadas as marcas Jasmine Alimentos Ltda Imcopa
0.53%
de catadoras e catadores parceiras neste Sánchez Cano Henkel
e feito o registro fotográfico dos rótulos e
estudo, a Cooper Viva Bem e a Coopama- Latícinios Tirolez Ltda FVO Alimentos
símbolos de identificação de 190 embala- Grupo Edson Queiroz Farmina Pet Foods
re, ou seja, em materiais que já haviam 1.58%
gens plásticas, de 39 fabricantes diferentes. GPA CMPC Melhoramentos
passado por triagem e que foram rejeita- General Mills Citricolalucato
Chama a atenção o fato de a maioria ab-
dos por não ter valor econômico ou tec- Garial S.A. Brasil Expresso
soluta das embalagens (93,68%) ser de Batata pura produtos alimentícios
nologia de reciclagem disponível.
algum tipo de alimento. Também chama a Arcor

atenção a quantidade de embalagens de (%)

alimentos feitas de plásticos que não são 13.16 Nestlé

passíveis de reciclagem. 10.53 Mondelez

Quanto às marcas mais encontradas, a 8.95 Pepsico

campeã é a Nestlé, seguida da Mondelez 7.37 BRF

e da Pepsico – essas três empresas são 3.68 São Miguel Holding | Kraft Heinz Company | Bauducco Foods, Inc.
Análise de Marcas Cooper Viva Bem
responsáveis por um terço de todo o rejei- 3.16 Vigor Alimentos S.A | Mars, Inc.

to plástico das duas cooperativas. Como 2.63 Jacobs Douwe Egberts | Goiasminas Indústria de Laticínios Ltda
a Mondelez tem participação na empresa 2.11 Rochinha | Nissin Food Products Corporation Limited | M Dias Branco SA Ind e Com de Alimentos | Jasmine Alimentos Ltda
Jacobs Douwe Egberts, poderia ficar junto 1.58 Sánchez Cano | Latícinios Tirolez Ltda | Grupo Edson Queiroz | GPA | General Mills | Garial S.A.
com a Nestlé no primeiro lugar das em- 1.05 Premier | Laticínios Bela Vista Ltda | JBS | Hershey Trust Company | Grupo Lactalis | Dr. Oetker | Da Terrinha | Bananinha Paraibuna Ltda
presas que mais geram rejeitos. 0.53
Sakura Nakaya Alimentos Ltda | Peccin SA | LC Indústria e Comércio | La Roche Posay | Jesmond Comercio Varejista LTDA | International Paper
Imcopa | Henkel | FVO Alimentos | Farmina Pet Foods | CMPC Melhoramentos | Citricolalucato | Brasil Expresso | Batata pura | Arcor
Análise de Marcas Coopamare
0 3 6 9 12 15

22 23
Os campeões de rejeitos Responsabilidade Estendida dos Produtores - REP

Todos os rejeitos dos três primeiros prin- Mondelez Bis-Lacta 0.53% O fato de as embalagens dessas grandes De acordo com a lei, essas grandes e ricas
cipais geradores são embalagens de Club Social 3.68% empresas de alimentos estarem entre os corporações deveriam arcar com os custos
alimentos e a maioria é de chocolates: Diamante Negro-Lacta 3.68% rejeitos das cooperativas de catadores que geram para a cidade e para as coo-
Nestlé, com Suflair e KitKat; Mondelez, Ouro Branco-Lacta 1.58% demonstra que as fabricantes não têm perativas, pagando pela infraestrutura de
com Diamante Negro, Ouro Branco e Bis Trakinas 1.05% mecanismos para recolher e reaproveitar coleta e pelos serviços de triagem de seus
(da Lacta). Os snacks vem em seguida: Mondelez Total 10.53% os materiais que utilizam para levar seus rejeitos, pelo envio desses rejeitos para os
Pepsico, como Elma Chips e Torcida; Mon- As empresas Nestlé, Mondelez e Pepsico produtos até os consumidores. rever suas práticas, optando por embala-
delez, com Club Social e Trakinas. também ocupam os primeiros lugares nos gens que não causem danos ambientais.
Essas empresas deveriam ser responsa-
Entre os produtos da Nestlé, destacam-se rankings mundiais de auditorias de marcas bilizadas pela ausência de uma logística
também o achocolatado Nescau e o leite promovidas pelo movimento global Break reversa de suas embalagens, conforme
em pó Ninho. Free from Plastic. A diferença é que nessas determina o Art. 33 da Política Nacional
auditorias internacionais feitas a partir de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010).
Pepsico Elma Chips 6.84% de limpezas de espaços públicos ou parti-
Torcida 2.11%
culares, o PET aparece como embalagem
Pepsico Total 8.95%
mais recorrente. Nos rejeitos das coope-
Nestlé Kit Kat 1.05% rativas eles foram separados para recicla-
Leite Ninho 1.05% gem, pois tem algum valor econômico.
Nescau 5.26%
Purina 1.05%
Suflair 4.74%
Nestlé Total 13.16%

AUDITORIA DE MARCAS INTERNACIONAL Os tipos mais comuns de plástico encontrados fo- Os 10 maiores poluidores*
ram embalagens de comida e bebida; materiais re- Países Resíduos
Entre 1º de agosto e 30 de setembro de 2020, o movimento global Break Free from Plastic organizou mais uma Marca/empresa presentes coletados
lacionados ao tabagismo e produtos para a casa. Os
auditoria de marcas de alcance internacional, para coincidir com o Dia Mundial da Limpeza, em 19 de setembro. 1.Coca-cola 51 13.834
itens mais comuns foram sachês, bitucas de cigarro
Nesse período, foram realizadas 575 auditorias, em 55 países, envolvendo 14.734 voluntários. Devido às e garrafas de plástico. 2.Pepsico 43 5.155
restrições impostas pela pandemia, as atividades foram realizadas de acordo com todos os protocolos de 3.Nestlé 37 8.633
As auditorias foram realizadas em espaços internos 4.Unilever 37 5.558
proteção definidos pelas autoridades sanitárias. Foram coletados 346.494 pedaços de resíduos plásticos, 63%
e externos. Nos primeiros, a maioria foi em residên- 5.Mondelez International 34 1.171
deles com a identificação de marca bem clara.
cias (74%), escolas (8%), espaços de trabalho (6%) 6.Mars 32 678
A metodologia utilizada para essas auditorias foi desenhada pela Aliança Global para Alternativas aos Incine- e outros (11%). Nos espaços externos, nas ruas da 7.P&G 29 3.535
radores (GAIA), pela Fundação Mãe-Terra, pelo Grupo de Ação Cívica e do Consumidor Cidadão (CAG) e pelo cidade (38%), em praias (21%); em terrenos (13%), 8.Philip Moris 28 2.593
Greenpeace Filipinas e aplicada pela primeira vez em 2017. Trata-se basicamente da contagem e documentação parques (10%), rios (5%) lagos (1%), oceanos (1%) 9.Colgate-Palmolive 24 5.991
das marcas encontradas nos resíduos plásticos coletados numa limpeza – em praias, parques, ruas, residências, e outros espaços (12%). 10.Perfetti VanMelle 24 465
escritórios e espaços comerciais – para identificar as empresas responsáveis pela poluição com plástico. *Relatório Auditoria de Marcas Internacional 2020, Break Free from Plastic
24 25
ANÁLISE DOS RÓTULOS

26 O rótulo das embalagens consideradas rejeitos pelas cooperativas são analisados para se saber que tipo de informação passam ao consumidor relativos à reciclagem
27
ANÁLISE DOS RÓTULOS

O que chamamos de plásticos são materiais sintéticos feitos de matérias-primas Em princípio, todos esses plásticos são Polietileno Tereftalato utilizado
principalmente em fibras para tece-
orgânicas extraídas de recursos naturais fósseis, como gás natural e petróleo bruto. tecnicamente recicláveis depois de sub-
Reações químicas conhecidas como processos de polimerização transformam essa metidos a um processo mecânico. No lagem e em embalagens de bebidas.
matéria-prima em longas cadeias de moléculas, os polímeros ou resinas. Diferentes entanto, não é isso o que acontece, já Polietileno de Alta Densidade usa-
tipos de processos de polimerização resultam nessa multiplicidade de tipos de que muitas embalagens com essas clas- do para sacolas plásticas de super-
sificações foram consideradas rejeitos mercados, sacos de lixo e redes para
plásticos – duro ou mole, opaco ou transparente, flexível ou rígido – utilizados em
frutas, embalagens de detergente, cosmé-
diferentes tipos de embalagens e outros produtos. pelos catadores.
ticos, defensivos agrícolas, alimentos, tan-
Para ser de fato reciclável, o material ques e tambores de água, caixas d’água,
O Brasil tem uma norma técnica para são os identificados pelos códigos de 1 a
precisa ter algum valor econômico real, assentos sanitários, fitas decorativas.
classificar os materiais plásticos utiliza- 6. O código 7, acompanhado da palavra
ou seja, ter um comprador, o que de- Policloreto de Vinila é utilizado
dos em diferentes produtos, a ABNT NBR “Outros” indica embalagens fabricadas
pende de as empresas o incorporarem em tubos para encanamento de
13.230, editada em 1994 e revista em por uma mistura de resinas em que pelo
em suas linhas de produção e desen- água e esgoto.
2008. Todos os produtos plásticos, sobre- menos uma delas não pertence ao grupo
volverem tecnologia para seu proces- Polietileno de Baixa Densidade
tudo as embalagens, devem apresentar o de 1 a 6, como os produtos plásticos fa-
samento. O que observamos, porém, é empregado na fabricação de tampas
seu um código de identificação para que bricados com policarbonato (PC), poliami-
que nem as empresas que se utilizam de garrafas PET, caixas d’água, bom-
o consumidor saiba de que resina é feito. da (PA), entre outros, ou uma combinação bonas para uso alimentício, mangueiras para
de diversas resinas ou materiais. desses materiais em suas embalagens se
irrigação, tanques de combustível e tubos.
A classificação é composta por uma nu- propõem a comprá-los de volta e rein-
meração de 1 a 7, inscrita no interior de Embalagem multicamada para biscoitos e Polipropileno empregado na pro-
corporá-los em suas cadeias produtivas.
um triângulo de três setas, e acompanha- salgadinhos e algumas utilidades domés- dução de embalagens flexíveis, sacos
Ou seja, a logística reversa determinada
para grãos e fertilizantes, cadeiras
da da abreviatura do nome da resina, a ticas são exemplos da categoria “Outros”. Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei plásticas, brinquedos, copos plásticos, tam-
ser registrada sob o triângulo. Destacam-se também os chamados BOPP, nº 12.305/2010) é ignorada. pas de refrigerantes, seringas de injeção.
ou película de polipropileno biorientada,
Essas informações devem constar dos ró- Aliás, nem mesmo a norma técnica ABNT Poliestireno utilizado como um
material encontrado em larga escala en-
tulos das embalagens e são as peças-cha- NBR 13230 é cumprida, pois cerca de isolante térmico e elétrico, copos
tre os rejeitos estudados. Esse material é descartáveis, lacres de barril de
ve para que o consumidor possa identificar 50% das embalagens avaliadas não
composto por um filme plástico de alta chope, diversas peças de uso doméstico,
e separar os materiais recicláveis, contri- apresentaram o símbolo de identificação
resistência, podendo ser transparente, além de embalagens.
buindo também para a posterior separação da resina.
opaco, fosco ou metalizado, e pode con- Outros indica que a embalagem é feita
pelos trabalhadores das cooperativas de
ter diferentes tipos de contaminantes, com mistura de diferentes materiais.
catadores de materiais recicláveis.
como tintas, lubrificantes e aditivos,
Os plásticos, ou tipos de resinas, mais tornando assim mais complexo o seu pro- Símbolos de identificação dos materiais plásticos segundo a norma

encontrados nos resíduos sólidos urbanos cesso de reciclagem. ABNT BR 13230

28 29
Procedimentos para análise dos rótulos. Resultados e discussões Greenwashing a reciclagem, acreditando estar fazendo
um bem ao meio ambiente e valorizan-
No processo de triagem e separação dos A maioria das embalagens encontradas, Uma parcela de 26,5% dos rótulos anali-
do o trabalho dos catadores. No entanto,
rejeitos por marcas, foi realizado o regis- 75,5%, são de produtos alimentícios; sados não tinha informação sobre o ma-
está gerando trabalho adicional não re-
tro fotográfico dos rótulos das embalagens 10,2% de alimentação animal; 10,1% hi- terial da embalagem. As demais traziam o
munerado nas cooperativas, criando uma
encontradas e, posteriormente, analisados giene e cosmético; e 4% de papelaria. símbolo de reciclagem, indicando que po-
etapa a mais de transporte dos resíduos
os dados de identificação dos materiais Tipo deriam ser recicladas. No entanto, foram
rejeitados até o aterro sanitário que, em
plásticos de 50 dessas embalagens. Alimento 75,51% consideradas rejeitos por não terem valor
Alimento animal 10,20% muitos casos, é pago pelas cooperativas,
de mercado e/ou por não existir tecno-
Trata-se de um levantamento qualita- Cosmético 6,12% e ainda causando danos ao meio ambien-
Higiene 4,08% logia disponível para reprocessá-las. Nos
tivo, que não tem representatividade te, pois todo esse processo adicional gera
Papelaria 4,08% dois casos, fica evidente que as indústrias
amostral, mas complementa a análise Total geral 100% emissões de gases do efeito estufa (GEE).
ainda não incorporaram em sua linha de
gravimétrica e a auditoria de marcas Embora o cidadão tenha feito sua par-
Quanto aos tipos de materiais, a maioria produção a reciclagem das embalagens
feitas no mesmo material. te, separando as embalagens e enviando
(42,8%) apresentava o código 7 – “Ou- que utilizam.
A análise da rotulagem das embalagens às cooperativas, os fabricantes não se
tros”; seguido de materiais sem identifi- Quando a informação no rótulo sobre o
classificadas como rejeitos pelos catadores preocuparam em garantir a reciclagem.
cação (26,53%); do código 5 – PP (22,4%) tipo de material usado na embalagem
das duas cooperativas teve por objetivo Claramente caracteriza uma negligência
e de uma mistura de materiais (8%). confunde o consumidor, pode ser caracte-
identificar se a rotulagem estava seguin- da indústria, que não segue a norma da
Material rizada como prática de greenwashing, ex- ABNT e não assume a responsabilidade
do as normas, ou seja, se o mercado está Mistura 8,16%
pressão usada para indicar empresas que estendida do produtor (REP).
adotando a identificação corretamente ou Outros 42,86%
PP 22,45% têm a sustentabilidade apenas no marke-
se ainda existe falta de informação.
Sem identificação 26,53% ting, sem praticá-la. No caso, o consumi-
Total geral 100%
dor é orientado a separar o material para

UMA LEI QUE AINDA NÃO PEGOU No entanto, como vimos nesta auditoria de marcas, as indústrias que optam por usar o plástico em suas em-
balagens, não assumem a responsabilidade de recolhê-lo e reincorporá-lo em suas cadeias produtivas. São as
Muitos plásticos podem não ser recicláveis, seja por falta de tecnologia seja por falta de mercado. A rigor,
prefeituras que arcam com a coleta seletiva, com o transporte dos recicláveis até as cooperativas e, depois,
não deveriam ser utilizados em embalagens de ampla distribuição. Mas, no Brasil, não existem leis que res-
dos rejeitos para os aterros sanitários.
trinjam o uso de materiais que não são passíveis de reciclagem.
Recursos públicos, ou seja, o dinheiro dos cidadãos recolhido em impostos e que poderia ser aplicado em ser-
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela lei 12.305, em 2010, determina a responsabi-
viços úteis para a comunidade, são gastos para financiar a irresponsabilidade das indústrias.
lidade do setor privado pela logística reversa, o custeio da coleta em duas frações, recicláveis e rejeitos, que
são predominantemente plásticos, e o reaproveitamento dos resíduos gerados.

30 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente poluição por plásticos tem sido atribuída a falhas no sistema da gestão plástico) de que são feitas, seja no rótulo Essas empresas gastam tempo do con-
de resíduos: uma falha do consumidor, que não separa seus resíduos corretamente, seja no corpo da embalagem. Essa é uma sumidor, que se dá ao trabalho de se-
ou das cidades, que não fazem a coleta seletiva ou não investem em reciclagem. No das poucas informações disponíveis para parar as embalagens e enviá-las para
entanto, considerando que apenas 9% do plástico é reciclado mundialmente, uma o consumidor decidir o que é ou não reci- reciclagem; gastam tempo e espaço nos
avaliação realista mostra que a reciclagem não conseguirá acompanhar o volume e a clável – o que, como vimos, nem sempre é caminhões e carrinhos de coleta de reci-
produção de plástico descartável, que vem se acumulando nos aterros sanitários e no uma informação confiável. cláveis, mais tempo e trabalho de sepa-
meio ambiente. ração nas esteiras das cooperativas para,
No entanto, 50% das embalagens ava-
depois, terem seus resíduos encaminha-
liadas não apresentaram a identificação
O objetivo deste estudo foi ampliar a in- da Mondelez, da Pepsico e da Sadia – dos para os aterros sanitários às custas
da resina e 26,5% dos rótulos analisados
formação sobre os materiais considerados sendo que as três primeiras são responsá- dos catadores ou da prefeitura.
não tinha informação sobre o material da
rejeitos pelas cooperativas de catadoras veis por um terço de todo o rejeito plás-
embalagem. As demais traziam o símbolo De acordo com a lei 12.305/2010, essas
e catadores de materiais recicláveis. São tico das duas cooperativas – e todas suas
de reciclagem, indicando que poderiam grandes e ricas empresas deveriam arcar
embalagens e outros materiais separados embalagens são de alimentos.
ser recicladas. Mas todas estavam entre com os custos que geram para a cidade
pelas pessoas em suas casas, mas que ao
Nestlé, Mondelez e Pepsico também ocu- os rejeitos. e para as cooperativas, pagando pela
chegarem às cooperativas são considerados
pam os primeiros lugares nos rankings infraestrutura de coleta e pelos serviços
não passíveis de reciclagem, seja por falta Ficou evidente que nem as empresas que
mundiais de auditorias de marcas reali- de triagem de seus rejeitos, pelo envio
de mercado, seja por falta de tecnologia, e se utilizam desses materiais em suas em-
zados a partir de limpezas em áreas pú- desses rejeitos para os aterros sanitários
que vão parar nos aterros sanitários. balagens se propõem a comprá-los de
blicas e de convivência pelo movimento e pelo aterramento.
volta e reincorporá-los em suas cadeias
Investigamos aqui quais são os materiais global Break Free from Plastic.
produtivas. Ou seja, a responsabilidade Deveriam, também rever suas práticas,
mais recorrentes entre os rejeitos, quais
A diferença entre essas auditorias é a ori- sobre os resíduos sólidos determinada optando por embalagens que não cau-
são as empresas que mais usam materiais
gem dos materiais auditados: neste estu- pela Política Nacional de Resíduos Sólidos sem dano.
que não são passíveis de reciclagem e
do, tratamos de materiais que chegam às (Lei nº 12.305/2010) é ignorada.
porque o consumidor envia esses mate- A legislação sobre o tema deveria ser mais
cooperativas separados para reciclagem
riais para a reciclagem. A informação nos rótulos sobre o tipo de rigorosa e proibir o uso de materiais não
por cidadãos bem intencionados e preo-
material usado na embalagem confunde recicláveis nas embalagens. Iniciativas nes-
Nas duas cooperativas que participaram cupados com o meio ambiente, mas que
o consumidor e pode ser caracterizada se sentido não faltam: entre 1995 e 2019
desta pesquisa, a maior parte dos rejei- viram rejeitos.
como prática de greenwashing, expres- foram apresentados ao Congresso Nacional
tos é composta por plásticos (33,07%,
Em princípio todo plástico deveria ser re- são usada para indicar empresas que têm 135 projetos de lei que versam sobre limi-
incluindo isopor), especialmente embala-
ciclável. E de acordo com uma norma da a sustentabilidade apenas no marketing, tações ao uso e comercialização de diversos
gens de uso único. Entre as marcas mais
ABNT todas as embalagens deveriam tra- sem praticá-la. itens de plástico de uso único, mas estão
recorrentes, a campeã é a Nestlé, seguida
zer a identificação das resinas (ou tipo de parados pela pressão do setor industrial.
32 33
A paralisia sobre o tema no âmbito federal A multiplicação dessas iniciativas indica REFERÊNCIAS
contrasta com o grande número de projetos que já há uma clara percepção da urgên- – Caracterização Gravimétrica dos Rejeitos Gerados pelas Cooperativas do Município de São Paulo –
de lei em andamento e leis aprovadas vol- cia de se ter medidas mais rigorosas para Campanha realizada em julho de 2021, Alexandre Demare, OperatorLab.
tadas para o banimento dos canudos plásti- estancar os danos ambientais dos plásti- – Auditoria de Marcas Realizada nos Rejeitos Encontrados em Cooperativas de Catadores, Clauber Leite,
cos em dezenas de municípios e em alguns cos descartáveis. setembro de 2021
estados no país. Fernando de Noronha é – Caracterização e Quantificação dos Resíduos Coletados pela Cooperativa de Catadores de Recicláveis
Mas é preciso ir além dos copos e ca-
exemplar: o Decreto Distrital nº 002 de 2018 de Bauru-SP – Guilherme P. Alquati e Guilherme Francesquini, Universidade Sagrado Coração de Bauru
nudos plásticos. É fundamental que a – X ENEDS Rio de Janeiro-RJ, 2013
proibiu a utilização e comercialização de
sociedade se mobilize para pressionar o – Estudo dos Rejeitos da Coleta Seletiva numa Cooperativa do Município de São Carlos- SP – Ana Paula
diversos produtos feitos de plásticos e de
Congresso Nacional para que aprove com Gonçalves, Ana Maria Rodrigues Costa de Castro, Isadora Andrade Tabarin, Hylma Élida dos Reis Alva-
isopor, tais como copos, talheres, canudos, rado, Gabriela Oviedo Mena, Valdir Schalch – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
urgência uma lei nacional de banimento
sacolas, embalagens e garrafas com 500 ml. Paulo – 11º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos – Porto Alegre-RS, 2020
de plásticos de uso único, como mais de
A fiscalização e penalização estava prevista – Avaliação da Rotulagem de Classificação dos Materiais Recicláveis nos Rótulos de Rejeitos Encontra-
100 países já o fizeram, e sua substitui-
para ter início em agosto de 2021. dos em Cooperativas de Catadores, Clauber Leite, setembro de 2021
ção por materiais amigáveis ao meio am-
– Atlas do Plástico 2020, Fundação Heinrich Boll, Rio de Janeiro
Outro exemplo que traz perspectivas pro- biente, tais como o vidro, papel e papelão,
missoras é a Lei Municipal 17.261/2019, em embalagens que sejam efetivamente – Brand Audit Report 2020, Break Free from Plastic

de São Paulo, capital, em vigor desde 1º necessárias para a comercialização dos – Kit de Ferramentas de Auditoria de Marcas 2021, Break Free from Plastic

janeiro de 2021, que determina a proibição produtos. – São Paulo Composta e Cultiva – Documento base para tomada de decisão, Instituto Pólis
de fornecimento de produtos de plástico de – Coleta Domiciliar Seletiva, Amlurb, Prefeitura de São Paulo
uso único em bares, restaurantes, hotéis, – Fernando de Noronha começará a multar moradores e turistas por uso de plásticos descartáveis – Co-
espaços para festas infantis, entre outros. nexão Planeta

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