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PÓS-COLHEITA E MERCADO
Esta APOSTILA é fruto desta preocupação. Ela traz as informações mais recentes
deste tema e corresponde ao conteúdo abordado no curso promovido por ocasião da
FRUTAL 2004. Esperamos que as informações aqui contidas possam contribuir com o
desenvolvimento de cada pessoa que tenha participado do curso ou que tenha adquirido
estas informações para uso na melhoria de sua atividade rural.
A seleção dos temas é fruto de avaliações que realizamos durante cada evento e que
serve de parâmetro para a construção da programação da Frutal seguinte. Com isto
estamos procurando atender os interesses da maioria dos participantes do evento o que nos
deixa convicto do acerto tendo em vista, o aumento anual de visitantes ao Frutal. Toda a
Programação Técnica da Frutal é referendada por uma Comissão Técnica Cientifica,
formada por membros das diversas Instituições/Órgãos/Entidades federais e Estaduais
ligadas ao setor, que tem sido decisivo na qualidade deste produto oferecido aos produtores
rurais de todo o país.
Vale destacar que a FRUTAL 2004 trouxe para reforçar seu aspecto tecnológico e
sedimentá-lo como evento internacional e maior evento da fruticultura brasileira, dois
eventos importantes internacionais: a AGRIFLOR BRASIL, que acontece pela primeira vez
no Brasil e que vem acontecendo há 16 anos em 8 países e que é maior evento de Flores
do mundo, promovido pela empresa holandesa HPP Worldwide que é o maior promotor de
feiras de flores do mundo e o III Simpósio Internacional de Frutas Tropicais e
Subtropicais com inscrição de mais de 240 trabalhos de pesquisas de pesquisadores de
mais de 20 países e palestras de especialistas de 10 países.
Engenheiro Agrônomo com vasta experiência de trabalho voltado para Fruticultura Irrigada,
com especialização em Agricultura Irrigada por Sistema Pressurizado em Israel e
Especialização em Gestão Ambiental pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Membro
Efetivo do IBGE/GCEA do Ceará, Consultor do SEBRAE-CE na Área de Agronegócio da
Fruticultura, Coordenador Titular do Nordeste no Fórum Nacional de Conselhos de
Consumidores de Energia Elétrica e Coordenador Técnico da Frutal desde sua primeira
edição em 1994.
1.1. Conceitos
uso de produtos químicos. Também há a falsa crença de que ela representa retrocesso à
sulfas, aditivos e outros produtos químicos, e utilizem várias práticas que foram muito
eficientes no passado, o conceito é bem mais amplo do que isso. Os métodos alternativos
imediatista e inconsequente mas, sim, a exploração econômica por longo prazo, mantendo
Agricultura dos Estados Unidos, pode ser assim descrito “Agricultura Orgânica é um
leguminosas, de adubos verdes e de resíduos orgânicos de fora das fazendas, bem como
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de cultivo mecânico, rochas e minerais e aspectos de controle biológico de pragas e
Mas, segundo PASCHOAL (1994), a Agricultura Orgânica pode ser também definida
como sendo “um método de agricultura que visa o estabelecimento de sistemas agrícolas
necessidades da humanidade”.
este modelo agrícola, baseado no uso de recursos naturais (sem emprego de adubos
mais tem sofrido problemas de contaminação e, em alguns casos, até morte pelo uso de
que estes agentes tem causado sobre a agricultura, o meio ambiente , sobre o aplicador
e o consumidor de alimentos.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1.2. Resumo histórico
• Fertilizantes químicos
• Melhoramento genético
• Motores a combustão
provocou sérios danos ambientais (destruição das florestas, erosão, contaminação dos
do que seja Agroecologia. Algumas diferenças entre elas e o objetivo de cada uma delas
encontra-se na Tabela 1.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Agroecologia - Disciplina cientifica que estuda os agroecossistemas e tem sido
empregada com visão mais ampla do sistema produtivo, não abordando apenas
Escolas Definição
Agricultura Orgânica Surgiu em 1931, na Índia, e seu fundador foi Sir Albert Howard
e aperfeiçoado por Lady Eve Balfour. Dentre as diversas
técnicas de manejo orgânico, a principal característica deste
movimento é o processo ‘Indore’ de compostagem. Howard
demonstrou que um solo provido de altos níveis de matéria
orgânica assegura uma vida microbiana intensa e rica, pela
qual a nutrição e a sanidade das plantas são plenamente
atendidas e os alimentos produzidos são de alto valor
biológico. Recomenda-se, ainda, o uso de plantas de raízes
profundas, capazes de explorar as reservas minerais do
subsolo.
Agricultura Surgiu na França, na década de 60, e seu fundador foi Claude
Biológica ou Aubert. Distingue-se das demais, por recomendar o uso de
Agrobiológica rochas moídas como fertilizantes e por adotar a posição de que
a resistência das plantas ao ataque de predadores e patógenos
e, portanto, a sua saúde e vigor, é determinada pelo equilíbrio
nutricional ou desequilíbrios provocados por agroquímicos
(Teoria da Trofobiose).
Agricultura Surgiu nos Estados Unidos, na década de 70. O iniciadores
Ecológica ou deste movimento foram: William Albrecht, Stuart Hill e Fritz
Agroecológica Schumacher. Outro sucessor, Miguel Altieri, define
Agroecologia como um movimento que incorpora idéias
ambientais e sociais na agricultura, preocupando-se não
somente com a produção, mas também com a “ecologia” do
sistema de produção. Apresenta como características: a busca
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da equidade na distribuição de renda e bens; adaptar a
agricultura ao ambiente e às condições sócio-econômicas;
reduzir o uso de energia e recursos externos à propriedade;
promover a diversificação de plantas, animais e o múltiplo uso
da terra; reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência
e a viabilidade econômica dos pequenos e médios agricultores,
promovendo assim um sistema agrícola diversificado e
potencialmente resistente.
Agricultura Natural Surgiu no Japão, na década de 30, e seu fundador foi Mokiti
Okada. Este orientava não movimentar o solo; que todos os
restos de culturas e palhadas fossem reciclados e o composto
fosse feito unicamente à base de vegetais, sem o uso de
estercos animais. Hoje os adotantes desse sistema de cultivo
utilizam-se de microrganismos efeitvos (EM), aplicados no solo,
nas plantas para prevenção de problemas fitossanitários ou
para inocular o composto orgânico a ser empregado nas
adubações.
Agricultura Surgiu na Alemanha, em 1924, e seu fundador foi Rudolf
Biodinâmica Steiner. A biodinâmica trabalha a propriedade como um
organismo, onde o todo reflete o equilíbrio de suas partes.
Assim, trabalha as relações existentes entre o solo, planta,
animal, homem e o universo e as energias que envolvem e
influenciam cada um e o todo. As técnicas usadas são
similares às da Agricultura Orgânica, acrescentando-se o
emprego de “preparados biodinâmicos” e a adoção de um
calendário agrícola, baseado no movimento da lua ao redor da
terra.
Permacultura Surgiu na Austrália, na década de 70. Seus fundadores foram
Bill Mollison e Dave Hoemgren. A permacultura defende a
manutenção de sistemas Agro-silvo-pastoris, sendo
especialmente adequado às regiões de florestas tropicais e
subtropicais. Não permite nenhuma intervenção no solo, quer
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seja aração ou gradagem. Não utiliza adubação mineral e nem
composto orgânico. Alterna o cultivo de gramíneas com
leguminosas, deixando sempre uma palhada sobre o solo pelo
manejo de ervas infestantes, através de roçadas.
Outras escolas Além destas escolas descritas acima, existem outras de menor
adoção. Geralmente estes movimentos derivam destas
anteriores:
Método Lemaire-Boucher
Método Jean
Método Rusch-Muller
Método Pain
Método Georges Marron.
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A concepção de agricultura sustentável
450
432
400
350
300 300
250
200 185
170
150 140
100
100
50 45
20
5 10 18
0
A-1930 A-1940 A-1950 A-1960 A-1970 A-1980
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Balanço energético: 12,5 / 1
Produção de
Ferram entas sem entes
m anuais 7%
3%
Trabalho
hum ano
90%
Eletricidade
Secagem 1,1%
17,1%
Transporte
Gasolina, óleo,
0,6%
GLP
Maquinaria Trabalho
21,0%
11,8% humano
0,1%
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100%
90%
80% Comércio
70%
60%
50%
40%
Produtor
30%
20%
10% Custo de produção
0%
10
20
30
40
50
60
70
80
90
9
9
A-1
A-1
A-1
A-1
A-1
A-1
A-1
A-1
A-1
Figura 4: Participações relativas no valor total dos alimentos no mercado americano –
1910 a 1990.
Fonte: Smith (1992), citado por Gliessman, 2000.
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Tabela 2: Intoxicações referidas, ocorridas durante a vida laboral, entre a
população que trabalha em contato direto com agrotóxicos. Brasil (1), Junho/1986
a Dezembro/1987.
A Organização Mundial da Saúde – OMS, estima que 70% das intoxicações agudas
por exposição ocupacional são causadas por compostos organofosforados e considera,
ainda, que a colinesterase pode ser utilizada como um indicador de exposição, pois há
uma boa correlação entre a exposição a esses inseticidas e a redução da atividade da
colinesterase. A OMS define que 30% de inibição da colinesterase determina nível de
risco.
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Tabela 3: Atividade da colinesterase (1), entre a população que trabalha em
contato direto com agrotóxicos. Brasil (2), Junho/1986 a Dezembro/1987.
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1.4. Os agrotóxicos e o consumidor de alimentos
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“O Futuro Roubado” oferece uma descrição realista sobre a pesquisa científica
emergente que investiga de que maneira uma ampla variedade de agentes químicos
sintéticos alteram delicados sistemas hormonais. Sistemas estes que tem um papel
prefaciada por Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos. Muitas informações úteis
podem ser encontradas nesta obra, para a qual vale a pena dedicar uma leitura atenciosa.
Tabela 6.
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Tabela 6: Análises da contaminação de alimentos por resíduos de pesticidas
agrícolas – 1998.
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INTESTINO: Alguns fungicidas, como o clorotalonil, encontrado na alface e em outras
verduras, podem provocar irritação nas mucosas intestinais. Acima do limite permitido,
geram também diarréias.
PERNAS: O metamidofós, inseticida fosforado encontrado com freqüência no morango,
é capaz de produzir atrofia dos membros inferiores e até paralisia temporária.
DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS: Em doses muito elevadas, os pesticidas clorados,
como o endosulfan, aplicados no morango e na uva, podem afetar os sistemas
neuromusculares central e periférico.
CORAÇÃO: A arritmia cardíaca é um dos sintomas de doses elevadas de inseticidas
fosforados. É o caso do clorpirifós, também encontrado na cenoura e morango.
Opiniões %
“Fazem mal à saúde e os resíduos não saem na lavagem do alimento”. 49
“Não sei o que são agrotóxicos”. 29
“Fazem mal à saúde, mas os resíduos saem se os produtos forem 12
lavados”.
“Não sei se os resíduos saem ou se fazem mal”. 7
“Os resíduos não são nocivos à saúde”. 3
Total 100
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1.5. Os agrotóxicos e os custos sociais e ambientais
Ademais, os autores consideram que esses custos são subestimados pois, não incluem
todos os tipos de custos indiretos como, por exemplo, eventos acidentais de
contaminação de pessoas e do meio ambiente, a poluição do solo e custos mais realistas
dos efeitos na saúde humana.
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2. EVOLUÇÃO DA ÁREA, PRODUÇÃO E MERCADO DE ALIMENTOS
ORGÂNICOS:
por alimentos mais saudáveis, não maléficos para a saúde. A Agricultura Orgânica tem
taxa média de 10% ao ano no Brasil, 20% ao ano nos Estados Unidos e 25% ao ano na
Europa.
de 840.000 hectares.
relação à área agrícola total dos vários países, mostrando que já representa uma
26,4%, Áustria com 11,6%, Suíça com 10,0%, Itália com 8,0%, Finlândia com 7,0%,
Dinamarca com 6,65%, Suécia com 6,09%, República Tcheca com 5,09%, Reino Unido
com 4,22%, Alemanha com 4,10% e Uruguai com 4,0%. O Brasil, apesar da quinta
posição em área, dada a sua grande extensão territorial aparece apenas na 54ª posição
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
nesta análise, com 0,24% de áreas orgânicas em relação à área agrícola total. A Tabela
destacando-se o México com 53.777, Itália com 49.489 e a Indonésia com 45.000
19.003 unidades.
orgânicas, visto que os Estados Unidos representam 51% e a Europa absorve 46%
âmbito social. As Figuras 10, 12, 17, 21, 22, 25 e 31 ilustram a situação da Europa,
outros.
Latina está resumida na Tabela 15. A Argentina lidera com 2.960.000 hectares, seguido
pelo Brasil com 841.749 hectares, Uruguai com 760.000 hectares, Bolívia com 364.100
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2.2. O mercado orgânico na América Latina e no Brasil:
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de pesquisa, ensino e extensão, que permitam o resgate de conhecimentos dos
agricultores tradicionais latino-americanos para impulsionar o sistema orgânico.
Característica Porcentual
O preço é competitivo 81
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Tabela 11: Leitura das etiquetas sobre a composição dos produtos alimentares.
França, 1996.
Ação Porcentual
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em um artigo divulgado na página WWW.infoagro.com, em maio de 2002,
intitulado: “Efeito de la información en la aceptación de los productos ecológicos: um
enfoque experimental”, trabalho este realizado na Espanha, concluiu-se que o principal
obstáculo para o desenvolvimento deste mercado, radicava em dois aspectos: ‘escassa
disponibilidade do produto ecológico em estabelecimentos convencionais’ e os
‘elevados preços de venda’, superiores à disposição do consumidor em pagar pelo
atributo ecológico.
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morango, goiaba e pêssego são as frutas com maior número de amostras contaminadas
por resíduos de agrotóxicos, muitos dos quais não registrados para a cultura. O elevado
número de amostras contaminadas está associado ao excessivo número de
pulverizações realizadas durante o ciclo da cultura. Na maioria das vezes, os agrotóxicos
são aplicados indiscriminadamente, sem se avaliar a real necessidade de controle da
praga ou doença. Estes dados mostram total falta de orientação técnica e de fiscalização
por parte dos órgãos governamentais responsáveis.
O relatório Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil – GEO Brasil, recentemente
publicado pelo IBAMA, em 2002, apresenta o seguinte texto sobre a gravidade do uso de
agrotóxicos no Brasil: “O uso dos agrotóxicos no Brasil foi incentivado por uma política
oficial de condicionar o crédito rural à utilização obrigatória de agrotóxicos. Esta situação
é responsável por inúmeras mortes por intoxicação aguda de trabalhadores rurais. O
Sistema de Informação Tóxico-farmacológica (SINTOX) observou, no ano de 1999, 398
óbitos por exposição aos agrotóxicos. Desses, 140 foram considerados de origem
ocupacional. Este tipo de dado não reflete a realidade, uma vez que o registro apresenta
subnotificação considerável, em razão da pequena cobertura do sistema de coleta de
dados a nível nacional, que só dispõe de 29 centros, a maioria localizada nas capitais
(SINTOX, 2002).
A Organização Mundial de Saúde informa que 70% das intoxicações humanas
por agrotóxicos ocorrem nos países em desenvolvimento (OMS, 1995). Alguns trabalhos
que procuram avaliar os níveis de contaminação ocupacional por agrotóxicos, em áreas
rurais brasileiras, têm relatado níveis de contaminação humana que variam de 3 a 23%
[Almeida & Garcia, 1991, Faria et al, 2000, Gonzaga et al., 1992]. Esse mesmo relatório
afirma que o envolvimento de jovens e crianças no trabalho e o fato da grande maioria
das famílias morar na proximidade das áreas de cultivo facilitam a exposição por via
ambiental e faz com que mulheres, em todas as fases da vida, e crianças, mesmo antes
do nascimento, estejam continuamente expostas a estes agentes químicos. Moreira et
al. (2002) relatam a contaminação de 17% de trabalhadores jovens e crianças (de 7 a 17
anos) por pesticidas anticolinesterásicos (organofosforados e carbamatos) em uma
região agrícola do Estado do Rio de Janeiro, evidenciando a seriedade desse problema.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Essa situação torna-se ainda mais preocupante quando se sabe que vários
pesticidas dessas e de outras classes, igualmente utilizadas no meio rural brasileiro, são
suspeitos de produzirem efeitos endócrinos que se manifestarão tardiamente ou mesmo
em gerações futuras. Dentre esses pesticidas pode-se citar, por exemplo, o mancozeb
(inibidor tiroidiano em ratos, goitrogênico), o maneb e o metamidofos (redutor da
contagem espermática e da viabilidade) [Coco, 2002]. Um estudo epidemiológico
realizado a partir de dados coletados em 11 estados brasileiros, correlacionando as
vendas de pesticidas em 1985 e desordens reprodutivas humanas observadas na
década de 90, mostra associação positiva sugerindo uma correlação entre estes dois
fatores” (Koifman et al., 2002).
Estudos mais aprofundados a cerca dos efeitos dos agrotóxicos sobre a fertilidade
do homem e de animais silvestres, o aumento de incidência de diversos tipos de câncer
(próstata, mama, colo de útero) e as anomalias na espécie humana podem ser
encontrados no livro Futuro Roubado (Colborn et al., 1997).
Diante do exposto, o desenvolvimento de uma fruticultura mais sustentável, capaz de
produzir frutas de alta qualidade biológica e sem resíduos tóxicos, a um preço
competitivo, é uma necessidade urgente.
Nos sistemas orgânicos de produção não somente a sustentabilidade econômica,
mas também a sustentabilidade social, ambiental e cultural devem ser alcançadas, ou
seja, enquanto na produção convencional é dada ênfase à sustentabilidade econômica,
alcançada por meio da adição constante de insumos dos mais variados tipos (muitos dos
quais agressivos ao meio ambiente e à saúde do homem) ao sistema produtivo, na
produção orgânica a sustentabilidade é enfocada de modo integrado às dimensões
sociais, econômicas e ambientais. Assim, suas práticas partem de uma concepção que
considera o contexto socioeconômico e cultural das pessoas envolvidas na produção,
além do respeito ao direito da população de consumir alimentos saudáveis.
Na sua dimensão ambiental, a sustentabilidade da agricultura orgânica está
relacionada com sua fundamentação em princípios ecológicos, como a utilização de
espécies e variedades adaptadas à zona agroecológica, a conservação da
biodiversidade e a recuperação e manutenção da fertilidade do solo mediante processos
biológicos, manejo natural, biológico e cultural de pragas, doenças e plantas invasoras.
Comparativamente ao método convencional, o sistema orgânico de produção de
alimentos é considerado ambientalmente mais sustentável, pelo fato de otimizar o uso
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
dos recursos naturais locais (biodiversidade, solo, água, energia solar), ser menos
dependente de insumos externos e minimizar o uso de fontes de energia não-renováveis.
A agricultura orgânica, dependendo da forma como é praticada, também pode
afastar-se da sustentabilidade, em menor ou maior grau. Atualmente, pode-se dizer que
existem dois tipos de agricultura orgânica, aquela baseada em princípios agroecológicos
(agricultura orgânica agroecológica ou sustentável) e a baseada no uso intensivo de
insumos orgânicos e naturais (agricultura orgânica de substituição de insumos), praticada
mais intensamente por aqueles interessados em explorar o novo nicho de mercado de
alimentos orgânicos. Na Tabela 13, Altieri (2002) procurou caracterizar os sistemas
convencional, de substituição de insumos e agroecológico, nos aspectos econômicos,
ambientais, sociais e culturais. Verifica-se que os sistemas agroecológicos são menos
dependentes de insumos externos (petróleo, sementes melhoradas, adubos químicos e
agrotóxicos), necessitam de menos capital e mais mão-de-obra. Devido a essas
características, apresentam maior sustentabilidade, sendo praticados principalmente por
agricultores familiares.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 13 - Características dos sistemas convencional, de substituição de insumos
e agroecológico
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Os sistemas orgânicos baseados na substituição de insumos, apesar de
proporcionarem a produção de alimentos livres de resíduos tóxicos, apresentam
geralmente alta dependência de insumos externos, o que os torna menos sustentáveis
que os sistemas agroecológicos. Na Tabela 14, o elevado consumo de energia não
renovável no sistema orgânico da Califórnia indica que esse sistema está baseado no
uso intensivo de máquinas, equipamentos e insumos permitidos pelas certificadoras,
portanto, trata-se de uma agricultura orgânica baseada na substituição de insumos. Ao
contrário, o baixo aporte de energia não-renovável ao sistema orgânico em Nanjing, na
China, indica a presença de uma agricultura orgânica mais sustentável.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Além do aspecto ambiental, a sustentabilidade dos sistemas orgânicos de
produção integra também o âmbito social, mediante a valorização das práticas
tradicionais de cultivo, incorporação dos agricultores ao processo de desenvolvimento de
novas tecnologias para o meio rural, fortalecimento dos mercados locais e a formação de
cooperativas e associações de produtores rurais, dentre outras ações. Esse conjunto de
medidas tem proporcionado, em muitos casos, maior sustentabilidade econômica a
esses sistemas de produção, uma vez que uma fatia maior da renda gerada na cadeia
produtiva permanece no meio rural ou na própria região.
A sustentabilidade econômica, principal pilar da fruticultura convencional, também
tem sido questionada. Ao longo dos últimos anos, a receita líquida dos fruticultores vem
reduzindo, em função dos elevados custos dos insumos utilizados (adubos químicos,
agrotóxicos, máquinas, equipamentos, energia, água para irrigação). Grande parte da
renda gerada em toda a cadeia produtiva tem ficado do lado de fora da porteira. O
produtor, aquele que corre os maiores riscos em todo o processo produtivo, tem recebido
as menores remunerações. Segundo informações procedentes de empresas ligadas à
comercialização de agroquímicos, somente o controle de ácaros que ocorrem em quase
todas as regiões citrícolas do Brasil tem gerado gasto da ordem de 90 a 100 milhões de
dólares/ano (Alves et al., 1999).
Apesar de o processo de conversão de sistemas convencionais para orgânicos
iniciar-se pela eliminação total do uso de insumos químicos sintéticos, o estabelecimento
de sistemas orgânicos de produção de frutas constitui uma tarefa complexa, que requer
profundos conhecimentos agronômicos e ecológicos.
No planejamento, na implantação e no manejo de sistemas orgânicos sustentáveis
de produção, princípios agroecológicos básicos, como uso de espécies adaptadas às
condições agroecológicas locais, diversificação do ambiente de cultivo, ciclagem de
nutrientes, nutrição equilibrada das plantas, otimização do uso dos recursos locais,
dentre outros, precisam ser respeitados, pois, caso contrário, estarão sendo construídos
sistemas orgânicos insustentáveis, semelhantes ao modelo praticado na agricultura
convencional. Particularidades regionais e da propriedade rural, como recursos materiais
e humanos disponíveis, também devem ser consideradas.
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4. BASES, PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS PARA SISTEMAS ORGÂNICOS
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
relação a processos naturais ,tais como a fixação biológica do nitrogênio e as
relações com micorizzas.
¾ Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem
naturalmente, em vez de insumos sintéticos manufaturados.
Essa etapa ou fase do processo, contempla pelo menos três dimensões principais:
educativa, biológica e normativa.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A primeira, a dimensão educativa, constitui-se na mais importante, uma vez que o
Homem, enquanto espécie animal (Homo sapiens sapiens) representa o início, o meio e
o fim. Está portanto, na mudança da percepção humana o desencadeamento do
processo de desenvolvimento – um processo de mudança, que neste caso, representa a
conversão do modelo convencional ao processo agroecológico ou agroecossistema,
pois, é na mente humana que tudo acontece em primeiro lugar. Portanto, a conversão,
em primeiro lugar deverá ser das pessoas, do homem. Deveremos pois, nos tornarmos
agroecologistas – transformar transformando-se - para que o processo seja efetivo.
Os ecossistemas agrícolas, nada mais são do que a exteriorização das
concepções que o homem possui. O quadro mental dominante, resultou no modelo
convencional, centrado na tecnologia por produto, na produtividade, no resultado
econômico-financeiro. É aqui que deveremos concentrar nossos esforços, se queremos
implementar a concepção de agroecossistemas, centrada no problema, no processo, no
homem, na pessoa, na família, no holos.
Portanto, cada uma das dimensões contempladas, está fortemente associada
umas às outras e, por isso, devem ocorrer simultaneamente, até que se fortaleçam, num
processo sinérgico de interações em rede.
A dimensão biológica compreende, basicamente, a restauração da qualidade e
saúde do solo, assim como da sua biodiversidade, (tanto acima como abaixo da sua
superfície). A rotação de culturas e a adição de matéria orgânica, que pode vir das
plantas de cobertura, dos estercos, dos compostos, etc..., são condições indispensáveis
para se atingir a plenitude neste caso.
Em relação à dimensão normativa, é importante observar as regras que orientam
a obtenção do selo de qualidade orgânica. De uma maneira geral, estas normas
obedecem a:
- Um período de carência que vai até 2-4 anos entre a utilização das práticas
convencionais e a adoção da agroecologia;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos que não são permitidos: neste
contexto encontram-se os agrotóxicos e os fertilizantes de síntese química,
especialmente os nitrogenados;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos tolerados, a critério da organização
certificadora;
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- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos recomendados, onde incluem-se a
ciclagem e reciclagem de nutrientes e de biomassa, o controle de biológico, a rotação
de culturas, as plantas de cobertura, adubação orgânica (verde, estercos e compostos),
além, é claro, da recuperação, proteção e conservação dos recursos naturais, como o
solo, a água, a fauna e a flora nativa, entre outros aspectos, onde se inclui o harmônico
relacionamento entre os membros da família.
Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma seqüência
lógica e explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto basicamente constituí-se
de um diagnóstico de toda a propriedade, levantando todos os recursos disponíveis,
além das relações sociais e comerciais que esta mantém, assim como a ocupação da
área e o seu respectivo rendimento físico e econômico.
Neste diagnóstico são identificadas as principais dificuldades/entraves assim
como o potencial da propriedade. Nesta fase, são identificadas as necessidades do
agricultor, incluindo a sua capacitação. O projeto deve incluir um cronograma e um
fluxograma entre as atividades estabelecendo-se metas claras e viáveis.
O aspecto comercial é também, extremamente, importante neste processo. Um
projeto bem feito não poderá prescindir desta fase ou etapa. Os “canais” de
comercialização devem ser previamente identificados e definidos.
A certificação é também necessária para assegurar direitos aos agricultores de um
produto diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando tiver cumprido os
prazos e prescrições previstas nas normas, quando estarão habilitados a receber o selo
de qualidade”.
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4.2.1. Espécies adaptadas às condições agroecológicas locais
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ocorrência de baixas temperaturas e a formação de gelo em determinada época do ano
quebra o ciclo das doenças e pragas.
Sistemas agrícolas diversificados aumentam a populações de inimigos naturais e,
consequentemente, as interações predador-presa, parasita-hospedeiro e patógeno-
hospedeiro. As plantas espontâneas servem de refúgio e fonte de alimentos para muitos
organismos benéficos aos sistemas agrícolas. Indicam também falhas no manejo dos
solos. Por exemplo, o amendoim-bravo (Euphorbia heterophyla) indica deficiência de
molibidênio, o guanxuma indica presença de camada compactada em pouca
profundidade (Primavesi, 2001).
A presença de agentes de controle biológico natural de pragas está associada a
alta biodiversidade dentro e próximo das áreas de cultivo, onde esses organismos
encontram alimento e sítios para sobrevivência e reprodução. A conservação e
recomposição de matas ciliares e de topo próximas às áreas de cultivo, bem como o
plantio de quebra-ventos, também são fatores que contribuem para o aumento da
diversificação ambiental.
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4.2.4. Propagação de plantas em sistema orgânico
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Produção de mudas em ambiente protegido (estufas e viveiros):
A formação de mudas é uma fase muito importante que define o sucesso do plantio
(Figura 5). Produzir mudas em estufas ou viveiros, permite vantagens fundamentais,
como por exemplo:
- proteção contra excesso de chuvas;
- diminuição da incidência de pragas (pulgões, lagartas, grilos) e doenças;
- formação de mudas em menor tempo;
- obtenção de mudas mais uniformes.
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1º. Local plano ou com pequeno declive, sem problemas de drenagem e com boa
insolação;
4º. Em áreas sujeitas a ventos fortes, posicionar a estufa com sua parte frontal no
sentido do vento predominante;
Substrato:
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Estudando-se várias concentrações de composto orgânico em mistura com terra,
como substrato para formação de mudas de tomate, concluiu-se que as melhores mudas
são obtidas usando-se composto puro peneirado ou em mistura com terra na proporção
de 1:1. Menores quantidades de composto comprometem significativamente a qualidade
e o padrão das mudas (Tabela 15).
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A solarização também pode ser feita em um coletor solar, que segundo
EMBRAPA/CNPMA (2002), é um equipamento de funcionamento simples e construção
barata, que tem por finalidade controlar os fungos, bactérias e algumas sementes de
planta (Figura 6). Normalmente, em um dia de sol, a temperatura dentro do aparelho
chega a 90 graus, o que é suficiente para matar os fungos mais comuns como Sclerotinia
sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Verticillium e Rhizoctonia solani entre outros, pois são
todos sensíveis ao calor.
O coletor consiste em uma caixa de madeira com tubos de metal (ferro
galvanizado, alumínio, cobre, tubo de irrigação usado, etc.) e uma cobertura de plástico
transparente que permite a entrada de raios solares. O solo é colocado nos tubos de
metal pela abertura superior e, após o tratamento, retirado pela abertura inferior, por
gravidade. Este modelo permite tratar 120 litros de substrato por vez. Os coletores
devem ser instalados com exposição na face Norte, com ângulo de inclinação de 10º
mais a latitude local.
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Manejo e tratos culturais das mudas:
Irrigação:
OBS 2: Lembre-se que, mesmo que o excesso de umidade não cause problemas
perceptíveis com patógenos ou com o desenvolvimento das mudas, pode provocar um
fenômeno conhecido como “raízes preguiçosas”, isto é, menor quantidade e menor
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volume de raízes. Em outras palavras, na fase após a emergência, pequenos ‘estresses’
hídricos podem forçar a planta a “buscar água” através de suas raízes, formando um
sistema radicular mais vigoroso.
Fitossanidade:
Em geral, a produção de mudas em estufa evita integralmente problemas com
pragas, pelas barreiras físicas proporcionadas pela própria construção (plástico, telas),
como pelas bancadas suspensas. Para as doenças, o desenvolvimento da maioria dos
patógenos é reduzido. Entretanto, havendo incidência que justifique o controle, pode-se
lançar mão de métodos alternativos de proteção de plantas (de forma criteriosa,
geralmente em menores concentrações, pela alta sensibilidade das plantas em estágios
iniciais) , como as caldas fitoprotetoras, os biofertilizantes ou outros métodos
compatíveis com as normas técnicas de produção.
P.S.: Alguns desses produtos têm uso restrito na agricultura orgânica e a certificadora
deve ser consultada.
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revolvido e novo material orgânico não é adicionado ao sistema, com o passar do tempo,
tende a tornar-se solto, sem estrutura, mais suscetível à erosão.
A erosão gera perdas anuais correspondentes a 15,2 milhões de toneladas de
calcário dolomítico (23% de CaO), valorados em R$ 563 milhões; 879 mil toneladas de
superfosfato triplo, que valem R$ 483 milhões; e 3 milhões de toneladas de cloreto de
potássio, valorados em R$ 1,7 bilhão. A reposição das perdas de N e S, totalizam 5,3
milhões de toneladas de uréia, ou R$ 2,77 bilhões, e 995 mil toneladas de sulfato de
amônio, custando R$ 394 milhões. Somando-se a esses valores R$ 2,06 bilhões, custo do
adubo orgânico necessário à reposição da matéria orgânica ao solo, estima-se que a
erosão hídrica gere um prejuízo total relativo às perdas de fertilizante, calcário e adubo
orgânico da ordem de R$ 7,9 bilhões por ano. Considerando o efeito da erosão na
depreciação da terra, no custo do tratamento de água para consumo humano, no custo de
manutenção de estradas e de reposição de reservatórios, decorrente da perda anual da
capacidade de armazenamento hídrico, a erosão causaria prejuízo de R$ 13,3 bilhões por
ano (Tabela 16) (GEO-Brasil, 2002).
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entrelaçada de plantas, animais e microorganismos. A função principal do solo não é a
de prover sustentação às plantas cultivadas, mas sim nutri-las adequadamente e
protegê-las de ataques de pragas e doenças (solos supressivos).
O uso de coberturas vivas e mortas é uma prática recomendada para evitar a
exposição do solo aos impactos da chuva, do sol e dos ventos e, ao mesmo tempo,
diminuir alterações de umidade e temperatura, que favorecem tanto os cultivos quanto a
fauna e os microrganismos do solo. O menor revolvimento proporciona menores perdas
de solo e água (Tabela 16).
Monocultura
Compactação Erosão
Falta de cobertura
Insolação direta
Degradação do solo
Menor produção
de biomassa
Menor
produtividade
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Tabela 16: Perdas de solo e água em diferentes sistemas de manejo do solo com
tração animal. IAPAR, Ponta Grossa, médias de 1991 a 1993.
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4.2.6. Adubação orgânica
Estercos:
Esterco de aviário: As aves não produzem urina, eliminando-a junto com as fezes,
por isso seu esterco é mais rico em nitrogênio que o de ruminantes ou suínos. O esterco
proveniente de frangos e galinhas, de criações intensivas e alimentadas com ração, é
rico em nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, mas pobre em celulose. Por isso,
sua decomposição é rápida, liberando em poucos dias a maior parte dos nutrientes. Essa
liberação rápida tem consequências importantes para o manejo do esterco. Ao ser
deixado para curtir, as perdas de nitrogênio para o ar podem ser muito grandes (Figura
8).
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Para evitar esses inconvenientes, o esterco de aves não deve ser armazenado
puro. Deve ser misturado a materiais de reação ácida, como a terra, promovendo
imobilização do esterco por microrganismos. No caso do uso direto do esterco fresco, a
incorporação ao solo reduz as perdas de nitrogênio. Os efeitos dos estercos de aves são
muito semelhantes aos da uréia porque têm efeito rápido, sendo porém os que mais
rápido desaparecem.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 8: Criação de galinhas com pastejo rotacionado, em sistema orgânico: geração de
esterco de comprovada qualidade e insumo fundamental na reciclagem de matéria
orgânica e integração no processo produtivo. Estação agrroecológica ‘Domaine Ile-de-
France’ – Pedra Azul – ES.
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Compostagem orgânica
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
melhor aproveitamento dos resíduos rurais (esterco, cama de aviários, restos de cultura,
folhagens, etc), permitindo a manutenção e incremento da produtividade do mesmo.
Ademais, existe ainda a possibilidade de aproveitamento de resíduos industriais e de
centros urbanos.
A legislação brasileira de acordo com o Decreto 86.955 de 18/02/82 denomina o
composto orgânico como fertilizante composto e o define como fertilizante obtido por
processo bioquímico, natural ou controlado, com mistura de resíduos de origem vegetal
ou animal (Brasil, citado por KIEHL, 2001)
Dito de maneira científica, o composto é o resultado da degradação biológica da
matéria orgânica, em presença de oxigênio do ar, sob condições controladas pelo
homem. Os produtos do processo de decomposição são: gás carbônico, calor, água e a
matéria orgânica "compostada" (PLANETA ORGÂNICO, 2002).
Todos os restos de alimentos, estercos animais, aparas de grama, folhas, galhos, restos
de culturas agrícolas, enfim, todo o material de origem animal ou vegetal pode entrar na
produção do composto.
Considerando que a grande maioria de nossos produtores de hortaliças trabalham em
áreas com alto grau de diversificação, muitos deles com criações de animais associadas
no processo de produção, justifica-se a necessidade e revela certa facilidade de se
estabelecer formas de produção baseadas na integração dos recursos internos da
propriedade, visando redução de custos e melhorias no rendimento de todo sistema
produtivo.
Contudo, existem alguns materiais que, por questões óbvias, devem ser evitados
na compostagem, que são: madeira tratada com pesticidas contra cupins ou
envernizadas, vidro, metal, óleo, tinta, couro, plástico e papel, que além de não serem
facilmente degradados pelos microorganismos, podem ser transformados através da
reciclagem industrial ou serem reaproveitados em peças de artesanato.
À medida em que o processo de compostagem se inicia, há proliferação de
populações complexas de diversos grupos de microrganismos (bactérias, fungos,
actinomicetos), que vão se sucedendo de acordo com as características do meio. De
acordo com suas temperaturas ótimas, estes microrganismos são classificados em
psicrófilos (0 – 20 °C), mesófilos (15 – 43 °C) e termófilos (40 – 85 °C) (ABES, 1999). Na
verdade estes limites não são rígidos e representam muito os intervalos ótimos para
cada classe de microrganismos do que divisões estanques.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
ABES (1999) ainda descreve a compostagem em várias fases, onde no início há
um forte crescimento dos microrganismos mesófilos, com a elevação gradativa da
temperatura, resultante do processo de biodegradação, a população de mesófilos diminui
e os microrganismos termófilos proliferam com mais intensidade. A população termófila é
extremamente ativa, provocando intensa e rápida degradação da matéria orgânica e
maior elevação da temperatura, o que elimina os microrganismos patogênicos. Quando o
substrato orgânico for em sua maioria transformado, a temperatura diminui, a população
termófila se restringe, a atividade biológica global se reduz de maneira significativa e os
mesófilos se instalam novamente. Nesta fase, a maioria das moléculas facilmente
biodegradáveis foram transformadas, o composto apresenta odor agradável e já teve
início o processo de humificação, típico da segunda etapa do processo, denominada
maturação, nesta fase de maturação a atividade biológica é pequena, portanto a
necessidade de aeração também diminui. Este processo pode ser melhor elucidado na
Figura 10.
Figura 10. Mudanças ocorrentes nos principais parâmetros de controle durante as fases
de compostagem (PEREIRA NETO, 19
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Relação C/N:
2002)
dos compostos torna-se mais demorada. Se, pelo contrário, a razão for muito baixa, o
excesso de nitrogênio acelera o processo de decomposição mas faz com que há criação
mais pobre neste nutriente e por isso, menos valioso em termos comerciais (ABES,
1999).
FRUTAL’2004 65
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Durante a compostagem, a relação C/N dos resíduos tende a decrescer até tornar-se
constante em torno de 10/1 a 12/1. Nesse ponto, dizemos que o composto está curado,
como fonte de energia pelos microrganismos, que o expelem sob a forma de CO2. A
relação C/N final está sempre próxima de 10/1 porque tende a se aproximar da C/N das
bactérias (5/1 a 6/1) e dos fungos (8/1 a 10/1) (KIEHL, 2001). Entretanto, na prática
agrícola, o composto orgânico tem sido utilizado com uma relação C/N final na faixa de
15/1 a 18/1, pois o tempo de compostagem se alongaria muito até atingirmos a relação
materiais que iremos utilizar, fica mais fácil se estimar os teores dos nutrientes no final da
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 17: Composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interesse
Considerando que existe uma grande variabilidade nos teores de nutrientes dos
resíduos orgânicos, provocada pela metodologia e calibração de equipamentos, tipo de
solo de origem dos resíduos vegetais, processo agroindustrial adotado, alimentação dos
animais, dentre outros, apresentamos também outras análises e fontes de fertilizantes
orgânicos e minerais (Tabela 19), adaptadas de Dadonas (1989), citado por PECHE
FILHO & DE LUCCA (1997).
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 19: Composição média e relação de proporção de NPK para diversas fontes
de fertilizantes orgânicos e minerais.1
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Montagem da pilha:
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Inicia-se o empilhamento das palhas por camadas de, no máximo 30 cm, de cada
tipo de palha que se tenha disponível, aplicando-se sobre esta primeira seqüência, uma
fina camada de esterco animal ou resíduo agroindustrial (3 a 5 cm), irrigando-se
abundantemente após, evitando escorrimentos excessivos de água, permitindo assim
obter uma melhor distribuição da umidade no interior do monte. Após empilhar esta
primeira seqüência de palhas e esterco, inicia-se nova seqüência dos mesmos
materiais, até formar uma altura adequada do monte.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Durante o empilhamento, o fosfato deve ser colocado junto com os inoculantes
(estercos ou similares), após uma sequência completa das camadas de palhadas
disponíveis (no caso: bagaço de cana, capim e palha de café). Toda vez que colocar os
inoculantes mais fosfato, irrigar abundantemente para que o ‘chorume’ infiltre e inocule
as camadas de palha abaixo. Além disso, as camadas dos materiais mais fibrosos (alta
C/N) devem ser dispostas juntas às menos fibrosas (baixa C/N), para melhor
fermentação.
Etc... Etc.
Etc... Etc.
Esterco + Fosfato 12ª
Capim picado 11ª
Palha de café 10ª
Bagaço de Cana 9ª
Esterco + Fosfato 8ª
Capim picado 7ª
Palha de café 6ª
Bagaço de Cana 5ª
Esterco + Fosfato 4ª
Capim picado 3ª
Palha de café 2ª
Bagaço de Cana 1ª
Sequência dos materiais Camadas
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Irrigações:
Figura 13: Pilha de composto orgânico coberto com lona plástica para proteção contra
chuvas – Estação Experimental do INCAPER - ES.
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Reviramentos:
Figura 15: Máquina movida a gás, para Figura 16: Implemento acoplável a trator
reviramento de composto. Centro de para reviramento de pilhas de composto.
Desenvolvimento Sustentável ‘Guaçu-virá CIVEMASA – SP – Brasil.
– Espírito Santo – Brasil.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em reviramentos manuais, é importante fazer o primeiro reviramento com 7 - 10
reviramentos pode ser maior, com intervalos menores entre as operações (geralmente de
Durante cada reviramento (ou logo após), deve-se proceder nova irrigação com
uma quantidade de água suficiente para repor as perdas por lixiviação e evaporação, de
Temperatura:
graus. Temperaturas excessivas podem queimar o material, o que não é desejável. Por
isso, deve-se evitar que a temperatura ultrapasse 70 graus, o que pode ser obtido com
mãos. Se o calor for suportável, estará normal. Caso contrário, estará muito quente.
matéria orgânica.
74 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Uma avaliação visual do composto já pode nos dar muita informação do estado de
seguintes características:
constituintes;
Por meio de análises químicas KIEHL (2001) também define os seguintes parâmetros:
a) pH geralmente acima de 6,5, sendo que por lei o composto curado deve ter pH no
mínimo de 6,0;
b) Mínimo de 40% de matéria orgânica, mas o ideal é que tenha 50% ou mais;
d) Relação C/N entre 10/1 e 12/1, sendo que a lei exige no máximo 18/1;
à base de esterco de aviário, capim meloso, capim napier, palha de café, palha de feijão
(1998).
FRUTAL’2004 75
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 20: Avaliação quantitativa de compostos orgânicos preparados com esterco
de aviário e materiais vegetais sem trituração.1
Gastos Tempo para Volume Peso Relações1
de
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Tabela 21: Composição química e matéria orgânica de compostos orgânicos
preparados com esterco de aviário e materiais vegetais sem trituração.1
MÉDIA1 48 13 7.4 2.25 1.60 1.50 6.01 0.56 50 223 16.064 804 36
DESVIO PADRÃO1 13.7 2.6 0.7 0.9 0.7 0.7 2.7 0.16 18 98 6.311 286 14
VALOR MÍNINO 1 22 10 6.3 0.7 0.4 0.4 1.35 0.23 3 62 6.719 305 17
VALOR MÁXIMO1 75 20 8.7 4.0 3.0 2.5 10.61 1.00 79 378 35.000 1.544 58
1
Fonte: SOUZA (1998).
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de galinha foi: esterco de porco, esterco de curral, napier e em último a uréia, que em
relação aos demais, produziu um composto de baixo valor em nutrientes e levemente
ácido.
Compostagem Laminar:
De acordo com CERVEIRA (2000), uma nova tecnologia vem sendo utilizada para
a produção de composto: é a compostagem laminar, que surge em função de um
aperfeiçoamento da compostagem pelo método ‘indore’, como é chamada a
compostagem feita em monte ou pilha. Esta tecnologia não busca eliminar a
compostagem em pilha, serve como complemento da mesma em pequenas áreas. A
pergunta que surgiu na elaboração da técnica de compostagem laminar é: no Brasil
temos déficit de temperatura? Então porque devemos fazer pilhas?
No entanto, segundo informações verbais de PEREIRA NETO e LELIS (2002), a
elevação da temperatura numa pilha de compostagem não se destina apenas à
degradação do material, mas também à eliminação de organismos patogênicos e ervas
indesejáveis.
Basicamente, a técnica consiste em aplicar as matérias–primas que serão
utilizadas (já balanceadas) em camadas ou misturadas, diretamente no campo, na
superfície do solo, podendo ser incorporada até 7 cm dentro do solo (região ainda bem
aerada). Devemos deixar o material de maior relação C/N, como palhas, como última
camada desta lâmina (daí o nome laminar) para servir como cobertura morta de proteção
do solo (CERVEIRA, 2000). Uma descrição mais detalhada deste processo não foi
encontrada em pesquisas na internet e ainda não se tem nenhum artigo científico sobre
este assunto.
As vantagens do sistema, além da economia de tempo, trabalho e
conseqüentemente, dinheiro, inclui a inserção de toda a atividade biológica da
fermentação do composto no próprio solo, ao invés de ficar confinado na pilha. A
desvantagem encontra-se em grandes áreas, onde o deslocamento de grande volumes
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de materiais orgânicos torna a compostagem de pilha mais econômica. Na realidade, a
citada por CERVEIRA (2000) e nem sobre a necessidade de revolver ou não a pilha, e
laminar, apenas este breve comentário fornecido por CERVEIRA (2000). Parece ser uma
Bokashi:
restringidos a um grupo especial, mas são espécies muito comuns que podem se
FRUTAL’2004 79
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Materiais utilizados no preparo do Bokashi:
Ingredientes Quantidade
Farinha de peixe 30
Termofosfato 40
Melaço ou Açúcar 04
EM-4 04
Água 350
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
HIGA (1983) cita em seu livro que uma volta na agricultura é possível, desde que o uso
de produtos do EM aumente extremamente o rendimento das colheitas. Por exemplo, o
arroz fertilizado com Bokashi (EM) produziu mais de 12 t/ha.
Goto et al.(1996) realizaram algumas experiências de campo em cooperação com
a EM Company, onde analisaram o Bokashi (EM) fornecido pela companhia e também o
Bokashi fornecido por fazendeiros, e verificaram que as amostras da companhia
continham em média 40 quilos de N, 30 quilos PO5 e 13 quilos KO3 em cada 1000 quilos,
muito menos que o Bokashi dos fazendeiros (GOTO e MURAMOTO, 1995). EM
Company recomenda a aplicação de 1000 kg/ha do Bokashi (EM), mas os 40 quilos de
nitrogênio contidos nesta quantidade não é suficiente para o crescimento dos vegetais.
Goto examinou as colheitas dos fazendeiros que usam o bokashi (EM), e encontrou que
o rendimento da alface usando 1000 quilos do Bokashi (EM) era muito menor do que
com uso de fertilizante orgânico comercial, quando os níveis do nitrogênio foram
ajustados. Verificou também que os fazendeiros aplicavam geralmente 30 t/ha de
esterco de gado além do Bokashi (EM), e indicou que os rendimentos obtidos pelos
fazendeiros podem ter sido devido ao esterco.
Nos vegetais cultivados somente com o Bokashi (EM), 1000 kg/ha, nos campos da
universidade, verificou-se que os rendimentos de muitos vegetais eram somente metade
daqueles obtidos pelas práticas orgânicas comuns (MURAMOTO e GOTO, 1995). Mais
tarde, os investigadores do EM relataram que quando o nível do nitrogênio foi ajustado a
100 kg/ha, ou seja, utilizando-se 2500 kg/ha de Bokashi, obteve-se a mesma quantidade
da alface que o fertilizante químico (IWAHORI et al., 1996). Conseqüentemente,
insistiram que a quantidade padrão de Bokashi (EM) que deveria ser aplicada era de
2500 kg/ha para a alface.
Atualmente já existem diversas variações do ‘Bokashi’ padrão relatado anteriormente.
Uma delas tem sido divulgada pelo Engº Agrº. Shiro Miyasaka, a qual consiste na
mistura dos seguintes ingredientes:
♦ Terra Virgem (subsolo) ............. 500,00 Kg
♦ Torta de oleaginosas ................ 200,00 Kg
♦ Esterco de galinha .................... 170,00 Kg
♦ Farinha de osso .......................... 50,00 Kg
♦ Inoculante .....................................1,75 Kg
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Além deste composto, Dr. Shiro recomenda associar ‘fino de carvão’ (carvão
moído ou ‘munha’ de carvão) na adubação de campo, em função do seu elevado
potencial estruturante do solo. O ‘fino de carvão’ é muito poroso, contendo 300 m2 de
superfície para cada 1 grama do produto, considerando as cavidades internas, além de
ter a capacidade de aumentar as micorrizas do solo. Em geral, a quantidade
recomendada pode variar de 500 a 1000 Kg por ha de ‘fino de carvão’, proporcionando
bons resultados.
A biodinâmica teve suas bases colocadas, em 1923, por Rudolf Steiner, iniciador
da antroposofia (movimento de esoterismo fundado por ele próprio em 1913). Um dos
seus seguidores, chamado Pfeiffer, perguntou se os preparados não deviam passar por
uma fase experimental antes de serem divulgados, Steiner respondeu: “O mais
importante é colocar os benefícios de nossos preparados à disposição das maiores áreas
possíveis da terra inteira. Este deve ser o nosso primeiro objetivo. Experimentos podem
vir mais tarde”. Setenta anos depois, RALF (1983) disse: “Até agora não tivemos chance
de penetrar nesse caminho de pesquisa”. E hoje, quase 90 anos depois, ao realizar esta
atualização sobre o assunto, não encontramos nenhum artigo científico sobre o uso de
preparados biodinâmicos na compostagem. O que se tem são apenas livretos de
divulgação destes preparados.
Os preparados biodinâmicos são encontrados no comércio e consistem em
extratos (minerais, vegetais ou animais) geralmente fermentados e aplicados em
quantidades homeopáticas. Dentre os preparados biodinâmicos básicos, os utilizados na
compostagem são: 502 (milfolhas - Achillea millefolium), 503 (camomila - Chamomilla
officinalis), 504 (urtiga - Urtica dioca), 505 (carvalho - Quercus robur), 506 (dente-de-leão
- Taraxacum officinale) e 507 (valeriana - Valeriana officinalis). O preparado 507 (líquido)
deve ser diluído, dinamizado (agitado vigorosamente) e então aspergido sobre a pilha de
composto, os preparados 502 a 506 (sólidos) devem ser colocados como “pitadas”
isoladas na pilha.
Os praticantes da agricultura biodinâmica reivindicaram que as preparações
biodinâmicas aumentam a atividade microbial na compostagem e rendem um produto
melhor, contudo a investigação científica de confiança desta reivindicação é escassa
82 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(REGANOLD,2000). Citamos como exemplo a receita de um dos preparados
biodinâmicos utilizados na compostagem:
FRUTAL’2004 83
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Enriquecimento do composto
A utilização de diversos materiais orgânicos e minerais para a melhoria da
qualidade do composto é uma alternativa eficaz. Além do esterco animal, que
normalmente já participa do processo de compostagem para a inoculação da pilha e para
equilibrar a relação C/N, geralmente se utiliza pós de rocha, resíduos agroindustriais e
materiais vegetais ricos em nitrogênio.
Fosfatos naturais:
84 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
testemunhas (sem enriquecimento com fosfato), verificou uma elevação significativa em
fósforo (+ 156%), cálcio (+ 135%) e zinco (+ 38%), além de uma tendência de elevação
do pH final do produto, conforme a Tabela 22.
Sem Fosfato 52 15/1 7,1 2,12 0,71 1,18 2,74 0,48 44 164 17.335 747 25
Com Fosfato 50 15/1 7,4 2.10 1,82 1,36 6,44 0,56 54 226 14.810 905 30
Teste t ns ns ns Ns ** ns ** ns ns ** ns ns ns
1
Fonte: Souza (1998)
Calcário:
FRUTAL’2004 85
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Composto de lixo, feito somente com restos de cozinha, que contém muito
tonelada.
KOEPF (1990) fornece ainda uma nota extremamente importante quanto ao uso
observações realizadas pelo INCAPER (SOUZA, 2002), nota esta transcrita na íntegra,
a seguir.
NOTA: “No Brasil e outras áreas tropicais, a agricultura exige, via de regra, o uso de
Sendo principalmente fosfato de cálcio, este já traz para a pilha alguns dos efeitos do
calcário, o qual por sua vez pode acelerar demais a decomposição da matéria orgânica,
climas, que o calcário seja reservado para tratar diretamente o solo (correção de acidez),
‘MB-4’ é composto pelos minerais constituintes das rochas que lhe dão origem – o
deles detectados apenas como traços, totalizando até o momento 29 elementos, dentre
os quais destacam-se:
86 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Sílica em SiO2 - 39,73%
Alumínio em Al2O3 - 7,10%
Ferro em Fe2O3 - 6,86%
Cálcio em CaO - 5,90%
Magnésio em MgO - 17,82%
Sódio em Na2O - 1,48%
Potássio em K2O - 0,84%
Fósforo em P2O5 - 0,075%
Manganês em Mn - 0,074%
Cobre em Cu - 0,029%
Cobalto em Co - 0,029%
Zinco em Zn - 0,03 %
Enxofre em S - 0,18%
PINHEIRO & BARRETO (1996) relatam vários experimentos realizados no Brasil que
atestam a eficácia deste pó de rocha como fertilizante para diversas culturas (aumento
de produção de uva itália em 33%, de arroz irrigado em 20%, de feijão em 58%, dentre
outros), além de relatar as suas funções como promotor de maior resistência vegetal ao
ataque de enfermidades.
Ademais, além do uso direto no solo, apresentam uma recomendação de uso via
biofertilizante e via compostagem, conforme descrito a seguir.
Composição:
- 70 litros de água;
- 25 Kg de esterco fresco;
- 3 Kg de ‘MB-4’;
- 4 Kg de açúcar;
- 4 litros de leite.
FRUTAL’2004 87
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Preparo:
Aplicação:
Composição:
- Restos vegetais;
- Esterco bovino;
- ‘MB-4’;
- Biofertilizante AD-1;
- Água.
Preparo:
88 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Aplicação:
Resíduos agroindustriais:
KHATOUNIAN (2001) cita que, caso a pilha de composto seja feita com material
muito pobre em nutrientes minerais, como por exemplo, apenas palhada de cereais,
faltam nutrientes para manter a atividade das bactérias, reduzindo o aquecimento interno
da pilha. Nesse caso, pode se introduzir materiais ricos em nutrientes, tais como
resíduos de abatedouros, descartes de peixarias, torta de cacau, etc.
FRUTAL’2004 89
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 23: Composição química e teor de matéria orgânica de 4 tipos de
inoculantes.1
Esterco Galinha 68 19/1 7,1 2,1 0,89 1,14 2,55 0,38 37 116 4.474 369 19
Composto 45 14/1 7,7 2,0 1,88 1,66 8,63 0,49 43 208 11.485 742 23
Torta de Cacau 90 16/1 6,6 3,3 0,64 3,17 0,32 0,58 60 108 3.431 80 36
Terriço de Mata 16 19/1 4,3 0,5 0,04 0,26 0,04 0,01 15 27 20.785 74 1
1
Média de três fontes utilizadas. Fonte: SOUZA (1998)
Compostos (%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
Composto/
Esterco 48 15/1 7,2 1,9 1,1 1,2 5,3 0,5 51 204 1.936 891 27
Composto/
Composto 49 15/1 7,1 2,0 1,0 1,1 3,3 0,4 45 166 22.981 902 27
Composto/
Torta Cacau 63 12/1 6,5 3,2 0,7 1,5 1,8 0,5 44 130 17.324 659 35
Composto
Terriço 35 18/1 6,7 1,1 0,4 0,6 1,2 0,2 30 75 20.832 410 24
1
Média de 5 repetições. SOUZA (1998).
90 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
milho-verde com o emprego da torta de cacau como inoculante, em função,
principalmente, do destacado teor de Nitrogênio (SOUZA, 1998).
Espigas comerciais
FRUTAL’2004 91
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 26: Desenvolvimento da cultura da batata-doce em função de 4 tipos de
inoculantes em compostos orgânicos.1
de
Inoculantes
(40 Kg/m3) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
92 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Torta de mamona:
Segundo KIEHL (1985), a torta de mamona pode ser utilizada com efeitos
semelhantes à torta de cacau, por apresentar um teor de N na faixa de 3,0 a 5,0% e um
teor de P e K na faixa de 1,5 a 3,0%.
Composição:
Material M.O (%) N (%) C/N P2O5 (%) K2O (%)
Torta de mamona 92.20 5.44 10/1 1.91 1.54
Fonte: Kiehl, 1985.
Farinha de ossos:
FRUTAL’2004 93
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Borra de café:
Composição:
Material M.O (%) C/N N (%) P2O5 (%) K2O (%)
Torta de café 90.46 22/1 2.30 0.42 1.26
Fonte: Kiehl, 1985.
Preparados biodinâmicos:
94 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Custo de produção de composto
A. MÃO-DE-OBRA:
A.1. Roçada e transporte de material 2,0 D/H
A.2. Trituração do capim 0,5 D/H
A.3. Confecção 2,0 D/H
A.4. Reviramentos (4 vezes) 2,5 D/H
A.5. 10 Irrigações 1,0 D/H
B. INSUMOS:
B.1. Adubação da capineira (350 m2) com esterco galinha 100 Kg
3
B.2. Esterco de galinha como inoculante da pilha (40 Kg/m ) 1.440 Kg
B.3. Óleo diesel (transporte de material ) 4,1λ
C. PREÇOS:
C. 1. Esterco de galinha. 0,08 R$/Kg
C..3. Óleo diesel. 0,90 R$/Kg
C. 4. Mão-de obra 10,00 R$/dia
Obs.: Preços em Reais (Outubro/2001).
FRUTAL’2004 95
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 28: Dados econômicos médios do sistema de compostagem - INCAPER, 20011.
Insumos Serviços
Discrimi- Esterco Óleo Roçada, Confecçã Revira- Irriga- Peso Custo por Proporção
nação de Diesel transporte e o mentos ção Final Toneldada para
Galinha trituração Composto Composto Esterco
23,00 29
1
Média de 20 medas. Valores em Reais (Outubro/2001).
Uma proposta de cálculo, descrita por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), serve
de orientação para proceder os cálculos da quantidade de adubos orgânicos, levando
em consideração a composição dos materiais e a exigência da cultura. Será enfocada a
cultura do morango, como exemplo, para definição dos passos e dos cálculos. Lembre-
se que esta quantidade deve ser considerada como MÍNIMA, visto que leva em
consideração apenas o fator nutriente, dispensando a parte física e biológica do solo.
EXEMPLO
• PRIMEIRO PASSO:
96 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
potássio (NPK). Através da composição de diversos resíduos, apresentadas no item
4.2.1, do presente manual , podemos conhecer várias fontes disponíveis para o agricultor.
Para se ter um bom fertilizante para plantio, Dadonas (1989), citado por PECHE
FILHO & DE LUCCA (1997), estabelece que o ideal é que para cada parte de N, haja três
partes de fósforo e duas de potássio.
Assim, as diretrizes para balancear e calcular uma boa formulação de adubos
orgânicos, poderão ser baseadas em fatores de conversão, que é um método rápido e
prático, apesar de não resultar em uma formulação muito rigorosa, porém atende dois
pontos básicos da adubação, que é a capacidade de colocar nutrientes em condições da
planta assimilar e a economicidade.
• SEGUNDO PASSO:
O cálculo do fator de conversão para fertilizantes é simples: basta dividir 100 pelo
teor de nutrientes que o fertilizante possui. Exemplos: 100 dividido por 4% de N, supondo
um esterco de galinha com esse teor, teremos o fator 25 para nitrogênio; para o fósforo
também utilizaremos o fator 25, supondo que este esterco contenha também 4% de
fósforo (100÷4 = 25); para o potássio, o fator será 50, supondo que esse esterco contenha
2% desse nutriente. Portanto, o esterco de galinha que estamos analisando tem um fator
de conversão para NPK igual a 25-25-50.
A Tabela 35 apresenta os fatores de conversão para as principais fontes de nutrientes em
alguns fertilizantes orgânico
FRUTAL’2004 97
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Esterco de Coelho 50 77 83
Esterco de Bovino Verde 20 40 20
Esterco de Cabra 33 50 33
Resíduo de Esgoto 50 66 200
Bagaço de Laranja 65 476 83
Lixo Curtido 94 312 156
Folhas de Amoreira 26 95 -
Folhas de Mandioca 22 142 -
Crotalária 51 285 55
Feijão-de-porco 39 200 41
98 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quanto menor o fator de conversão, maior o teor de nutriente em cada material,
podendo-se notar ainda que em certos materiais, os fatores relativos a N e K são
praticamente idênticos, permitindo apenas receber adição de fósforo (P), para ficar com
uma relação aproximada de 1-1,5-1 ou 1-2-1, facilitando ainda mais obter fertilizantes.
• TERCEIRO PASSO:
Ex. Através de uma análise de solo, detectamos que, para a adubação mineral de 1 ha
de plantio de morangos, deveríamos aplicar 40 kg de N, 300 kg de P e 100 kg de K.
Sendo que temos na propriedade, os seguintes fertilizantes orgânicos e seus respectivos
fatores de conversão:
Resíduos orgânicos N P K
esterco de galinha 25 25 50
farinha de ossos 0 3 0
cinzas 0 40 10
Iniciamos os nossos cálculos pelo esterco de galinha, que é a nossa única fonte de
nitrogênio. De acordo com a análise, necessitamos de 40 kg de N no plantio. Assim,
multiplicamos 40 pelo fator de 25, referente ao nitrogênio contido no esterco e teremos
1000 kg, ou seja, 1 ton. de esterco de galinha é necessário para suprir a quantidade
necessária de nitrogênio. Ademais, se utilizarmos 1 ton. de esterco, estaríamos ainda
colocando 40 kg de fósforo e 20 kg de potássio; portanto, temos que descontar a
quantidade necessária, 300 kg - 40 kg = 260 kg de fósforo e 100 kg - 20 kg = 80 kg de
potássio.
FRUTAL’2004 99
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Assim, estamos prontos para continuar os cálculos que agora deverão concentrar-se nas
cinzas porque essa fonte nos fornece fósforo e potássio. Para suprir a necessidade de 80
kg de potássio, multiplicamos essa quantidade pelo fator 10 da cinza e obteremos 800kg
de cinzas necessárias para suprir o potássio. Estes 800 Kg de cinzas também deve
adicionar 20 kg de fósforo na mistura, sendo assim, temos que descontar do total de 260
kg de fósforo faltantes, ou seja, só nos falta 240,0 kg de fósforo para ser suprido pela
farinha de ossos. Para esse cálculo, multiplicamos 240,0 pelo fator 3 da farinha de ossos
e obtemos 720 kg de farinha para completar a nossa mistura. Na Tabela 36, podemos
resumir os nossos cálculos.
Somando todos os ingredientes, a mistura vai pesar 2520 kg, o que eqüivale a 252 g da
mistura por metro quadrado de canteiro de morango, ou seja, 28 gramas por cova
(supondo 9 plantas por m2).
100 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Através deste exemplo, observa-se que a quantidade de adubo orgânico para
nutrição de plantas em sistema orgânico não representa problema. Apenas do ponto de
vista nutricional, 2520 Kg da mistura exemplificada seria suficiente. Se, ao invés dessa
mistura, utilizarmos a dosagem média recomendada para composto orgânico (15 ton. por
hectare) – que contenha 2,0% de N, 1,5% de P e 1,3% de K na matéria seca –
estaríamos aportando 300 Kg de nitrogênio, 255 Kg de fósforo e 195 Kg de potássio.
Compare as duas situações, faça críticas e os devidos ajustes, como “dever de casa”!!!
• Proteger o solo das chuvas alta intensidade. A cobertura vegetal dissipa a energia
cinética das gotas da chuva, impedindo o impacto direto e a consequente
desagregação do solo, evitando o seu selamento superficial.
FRUTAL’2004 101
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
desagregação superficial e reduz a velocidade de escoamento das águas pelas
enxurradas.
102 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Promover o aporte de nitrogênio através da fixação biológica, atendendo assim a
grande parcela das necessidades desse nutriente nas culturas comerciais e
melhorando o balanço de nitrogênio no solo.
FRUTAL’2004 103
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
nutriente no solo, a eficiência simbiótica das bactérias introduzidas pela inoculação das
sementes e, ou, da população de bactérias presentes originalmente no solo são fatores
que interferem na eficiência de absorção (Perin, 2001).
O uso exclusivo de leguminosas na adubação verde pode apresentar alguns
problemas. Após o manejo (tombamento e incorporação ao solo), a rápida decomposição
da biomassa produzida por espécies leguminosas resulta em proteção do solo por um
curto período de tempo e liberação rápida dos nutrientes presentes na biomassa. Assim,
o consórcio entre leguminosas e gramíneas (ex. milheto + crotalária) é recomendado,
podendo resultar nos seguintes benefícios: maior produção de matéria seca e,
conseqüentemente, maior ciclagem de nutrientes; maior taxa de FBN pelas leguminosas,
devido à competição com a gramínea pelo nitrogênio disponível do solo; mais proteção
do solo, devido à manutenção dos resíduos vegetais por maior período de tempo, por ser
menor a taxa de decomposição.
O cultivo de coquetéis de plantas (mistura de várias espécies vegetais, ex. milho,
girassol + feijão-de-porco + mucuna + mamona), em áreas de pousio ou por ocasião da
renovação de pomares de frutíferas de ciclo curto (ex. abacaxizeiro e maracujazeiro),
pode potencializar ainda mais os benefícios da adubação verde. Os coquetéis
proporcionam ao solo a adição de quantidade considerável de matéria orgânica, em
profundidade, particularmente quando se utilizam espécies com sistemas radiculares
profundos e bem desenvolvidos (ex. crotalária, feijão guandu, mamona).
ROWE & WERNER (2000) apresentam uma descrição de como proceder para
empregar a técnica conhecida como “coquetel de adubos verdes”, que vale a pena
conhecer e utilizar. Para tanto, suas proposições estão detalhadas abaixo:
Entre as técnicas para regenerar a fertilidade do solo a adubação verde e o pousio são
as mais utilizadas. A associação destas duas técnicas pode ser feita através de um
coquetel de adubos verdes, tal como um pousio, porém utilizando-se plantas mais
eficientes na produção de massa verde. Esta técnica foi desenvolvida pelo Instituto
Biodinâmico, de Botucatu, São Paulo.
104 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A prática consiste num consórcio em que se misturaram espécies de plantas de diversas
famílias e finalidades, de modo a se obter a maior diversidade possível. Cada tipo de
planta vai crescer no seu ritmo e do seu modo, algumas mais precoces e outras mais
tardias, na vertical ou na horizontal. As raízes de algumas vão explorar a superfície do
solo, outras crescerão em profundidade. Então ao final a diversidade promove maior
eficiência de uso da luz solar e maior volume de raízes em diferentes profundidades. As
diferentes espécies possuem diferentes exigências nutricionais e diferentes habilidades
em extrair os nutrientes, ocorrendo uma complementação entre as plantas que crescem
na mesma área. Assim também ocorre posteriormente uma maior reciclagem de
nutrientes. Com o coquetel é possível obter uma rápida cobertura do solo, que vai
também permanecer por mais tempo, auxiliando muito o manejo de ervas espontâneas.
No momento adequado a massa vegetal poderá ser incorporada ou acamada para servir
como cobertura do solo, tornando-se fonte de material orgânico rico em elementos que
ficarão a disposição do próximo cultivo. Esta prática não tem o inconveniente de ser uma
monocultura. Também é possível obter alguma renda da área com a colheita de algumas
espécies (milho, girassol, sementes de adubos verdes, forragem, etc.).
A massa verde deve ser roçada e deixada sobre o solo como cobertura morta no
momento do início do florescimento da mucuna preta (± 150 dias), quando se obtém a
máxima produção de massa verde da mistura. Para se obter uma decomposição mais
rápida, roça-se antes. Para mais lenta, roça-se depois.
FRUTAL’2004 105
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A quantidade de massa verde a ser produzida varia de 50 a 70 t/ha (acima de 20 t/ha já é
considerado bom), podendo atingir em alguns casos até 120 a 150 t/ha. A produção
normal de uma espécie isolada varia entre 25-30 t/ha de massa verde (mucuna, por
exemplo). Portanto, com a prática do coquetel, podemos obter mais que o dobro de
produção de massa verde na mesma área. Convém ressaltar novamente que toda esta
massa verde retornará ao solo, sendo seus nutrientes reciclados pelos microrganismos.
106 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 29: Coquetel de adubação verde de verão.
Espécies principais
Espécies opcionais
FRUTAL’2004 107
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 30: Coquetel de adubação verde de invermo.
Espécies principais
108 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Exemplos de utilização dessa modalidade de adubação verde são: pomares de
bananeiras consorciadas com feijão-de-porco, soja perene, crotalárias, cudzu, caupi,
mucunas; Citrus consorciados com soja perene, siratro, guandu, mucunas, calopogônio;
videiras consorciadas com ervilhaca, ervilha forrageira, chícharo, indigofera e amendoim
rasteiro ( Arachis prostrata ); macieiras e pessegueiros consorciados com trevos,
tremoços, serradela, aveia, ervilhaca, mucuna, labe-labe e crotalárias; seringueira com
cudzu; café com mucunas anãs e cinzas, crotalárias e leucena; goiabeiras, abacateiros e
caquizeiros com indigofera e mucunas.
As principais vantagens da adoção dessa prática são o controle da erosão,
diminuição da ocorrência de enxurradas, redução de incidência de ervas daninhas,
atenuação de perdas de nutrientes por lixiviação e menor oscilação térmica do solo.
Entre as desvantagens destacam-se o acréscimo dos efeitos das geadas, o fornecimento
de abrigo para pragas e moléstias – embora este último aspecto possa ser neutralizado
pela proliferação de inimigos naturais – e o manejo cuidadoso para evitar a competição
do adubo verde com a cultura perene por água, luz e nutrientes.
FRUTAL’2004 109
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
ADUBAÇÃO VERDE EM ÁREAS DE PUSIO TEMPORÁRIO
A média geral dos teores de matéria orgânica dos solos mostraram elevações
significativas até o 9o ano, conforme se observa no Gráfico 1, o qual revela que o teor
médio evoluiu de 1,70% em 1990, atingindo um máximo de 2,91% em 1998,
representando um aumento relativo de 71%.
Conhecendo-se os benefícios que pequenas frações deste componente do solo
representa para todo o sistema produtivo, pode-se afirmar que esta elevação de 1,21%
tem propiciado a manutenção e melhoria da fertilidade, com reflexos extremamente
benéficos nas demais características do solo e no desenvolvimento das culturas,
conforme veremos posteriormente.
110 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Gráfico 1: Evolução da Matéria Orgânica dos
solos submetidos a manejo orgânico durante
10 anos. INCAPER, 2000.
3,00 2,91
2,80
2,57
2,53 2,55 2,64
2,50
2,25
M.O (%)
2,38
2,00
1,78 y = -0,0177x2 + 3,4607x - 166,51
1,70
R2 = 0,903
1,50
1,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
10,00
Cmol/dm3
8,00
6,00
y = 0,4185x - 32,481
4,00 R2 = 0,7462
2,00
0,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
FRUTAL’2004 111
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.8.3. Fósforo e Potássio:
Os níveis de fósforo e potássio observados nos solos após nove anos de manejo
orgânico tem sido altamente expressivos. De acordo com o Gráfico 3, notamos uma
elevação muito rápida nos teores de fósforo, de forma linear até o 4º ano, proporcionado
pela utilização de Fosfato de rocha associado ao processo de compostagem orgânica
nos três primeiros anos de cultivo.
As contribuições para o aumento nos teores desse elemento no solo podem ser
atribuidos a três fatores principais: à utilização de fosfato natural na confecção de
compostos orgânicos até 1993, ao fósforo componente da matéria orgânica e à
solubilização de fósforo pela ação de ácidos húmicos e microrganismos.
O potássio constituinte dos materiais orgânicos trabalhados (esterco e material
vegetal compostados) se apresenta como o principal responsável pela elevação
observada nos níveis desse elemento no solo, conforme ilustrado no Gráfico 4.
Ao longo de dez anos, os níveis médios de fósforo elevaram-se até 390% (de
46,0 para 225,6 ppm) e os níveis médios de potássio elevaram-se em até 92% (de
144,0 para 276 ppm), podendo ser considerados plenamente suficientes para atender às
necessidades nutricionais de todas as culturas estudadas.
200,0 190,8
Fósforo (mg/Kg)
171,6 209,0
191,0
173,6
150,0
126,6
140,6
100,0
y = -2,1167x2 + 417,8x - 20409
59,8
50,0 46,0
R 2 = 0,8586
0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
112 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Gráfico 4: Evolução dos teores de Potássio em
solos submetidos a manejo orgânico durante
10 anos. INCAPER, 2000.
300,0
276,0
264,0
250,0 210,6
230,6
214,0 215,0
Potássio (mg/Kg)
198,0
200,0 183,3
150,0 170,5
144,0
0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
FRUTAL’2004 113
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Como exemplo da eficiência dos níveis de Cálcio para o desenvolvimento de
plantas, os sintomas de deficiência desse nutriente em frutos de tomate, tão comuns na
região produtora convencional em épocas secas, tem sido nulos em todos os plantios já
realizados no sistema orgânico.
80,00 82
79
77 77
75 80
70,00 71
69
V (%)
50,00
40,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
4.2.8.6. pH:
114 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
De maneira geral, após análise das condições químicas dos diversos talhões,
podemos afirmar que os índices verificados são de grande expressão técnica,
representando elevado grau de fertilidade de solo, que permitem obter desenvolvimento
de plantas e excelentes níveis de produtividade, viabilizando técnica e economicamente
modelos de produção baseados apenas em práticas de manejo orgânico.
6,10
Índice
6,00 5,83
5,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
Nos sistemas orgânicos de produção, as plantas são nutridas por meio de fontes
minerais de baixa solubilidade, compostos orgânicos e fertilizantes foliares oriundos da
fermentação de esterco animal, enriquecidos ou não com sais minerais (biofertilizantes).
Esses insumos proporcionam um fornecimento equilibrado de nutrientes (macro e
micronutrientes) às plantas.
A nutrição equilibrada é a garantia de plantas saudáveis e produtivas. Tanto a
carência quanto o excesso de nutrientes alteram a bioquímica das plantas, o que leva ao
acúmulo de açúcares ou aminoácidos nas folhas, tornando-as suscetíveis ao ataque de
pragas e doenças (Chaboussou, 1987). Mais do que a quantidade, a proporção
entre os nutrientes é que regula a nutrição das plantas. Assim, adubações
desequilibradas tornam as plantas menos produtivas e mais vulneráveis a determinados
parasitas. Para citros as proporções consideradas ideais são: nitrogênio/cobre = 1.250,
fósforo/zinco = 35, nitrogênio/potássio = 2, potássio/boro = 160, cálcio/magnésio = 10,
cálcio/manganês = 700 (Primavesi, 1999).
FRUTAL’2004 115
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
De acordo com Chaboussou (1987), mais importante do que combater pragas e
doenças é proporcionar às plantas melhor nutrição. Segundo Primavesi (1999), o ácaro-
da-leprose não aparece em pomares com boro suficiente; cochonilhas geralmente
dependem de deficiência em cálcio e aumentam com a aplicação foliar de
micronutrientes; e a estrelinha, ou podridão-floral, normalmente aparece em solos mais
pobres adubados com NPK.
Adubações exclusivas com formulações concentradas de NPK (ex. 20-05-20)
provocam o desequilíbrio do solo, pois as proporções entre os diversos nutrientes irão
mudar ao longo do tempo. Nesse caso, os solos começam a empobrecer em relação aos
macro e micronutrientes não aplicados, mas que estão sendo retirados do sistema por
meio das colheitas.
Potássio é um dos nutrientes que mais contribuem para a resistência das plantas
às doenças. De acordo com Teles (2002), em plantas deficientes em potássio, a
pulverização de cloreto de potássio a 2 a 2,5% constitui uma maneira eficiente de
combate à cochonilha pardinha, pois aumenta a velocidade de proteossíntese e deixa a
praga sem alimento. De acordo com Polito (2002), a planta ou, mais precisamente, o
órgão será atacado pela praga na medida em que seu estado bioquímico (determinado
pela natureza e pela quantidade de substâncias solúveis nutricionais) corresponder às
exigências tróficas do parasita em questão.
116 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Nesse caso, recomenda-se deixar faixas de vegetação espontâneas dentro e no entorno
das áreas de cultivo.
O controle da vegetação espontânea com roçadas requer cuidados especiais. A
roçadeira deve ser regulada a uma altura tal que permita o desenvolvimento de uma
população heterogênea de espécies vegetais. Roçadas muito baixas favorecem o
estabelecimento de espécies de folhas estreitas, principalmente gramíneas.
A biomassa vegetal proveniente das roçadas nas entrelinhas do pomar deve ser
deslocada para a região da projeção da copa das plantas, com o objetivo de suprimir as
plantas espontâneas e evitar perda de água nessa região de intensa atividade do
sistema radicular das espécies frutíferas. Nessa operação, o coleto das plantas deve
ficar sempre livre de restos vegetais, de forma a evitar a ocorrência de doenças fúngicas.
Grandes volumes de palhada próximo às plantas podem resultar no surgimento de
algumas pragas de raízes (ex. Pantomorus sp.). Nesse caso, o uso de bokashi ou EM
acelera a decomposição da palhada e aumenta o nível de controle natural.
A identificação de plantas que potencializam a presença de insetos benéficos nas
áreas de cultivo constitui uma medida indispensável ao estabelecimento de sistemas
sustentáveis de produção. Botelho et al. (1994) associaram, em parte, a maior
abundância de parasítóides em um agroecossistema hortícola à presença de picão-preto,
no estádio de florescimento. Verificaram também que o botão-de-ouro mostrou-se muito
atrativo, tendo sido constatada alta atividade de insetos nas flores.
De acordo com Van Emden (1963) e Root (1973), citados por aqueles autores, a
presença de flores em áreas contíguas às culturas exerce influência fundamental na
biologia de parasitóides, atraindo-os e aumentando seu potencial reprodutivo. Botelho et
al. (1994) ressaltaram também a importância de se conservar a cobertura do solo e as
plantas silvestres nas áreas de cultivo, pois, além de aumentar a diversidade do
ambiente, elas são valiosas para os predadores noturnos.
Os maiores especialistas em controle integrado consideram o controle biológico
natural o componente mais importante dos fatores naturais de manutenção das espécies
em equilíbrio, especialmente em países tropicais, como o Brasil, em que a diversidade de
espécies é muito maior, face à pouca variação de temperatura e ao inverno não-rigoroso
(Durigan e Pitelli, 1994). Ming-Dau et al. (1981), citados por esses autores, verificaram
que o controle do ácaro-vermelho-dos-citros (Panonychus citri McG.) pelo ácaro
predador é diretamente influenciado pela presença de plantas daninhas (Ageratum
FRUTAL’2004 117
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
conyzoides Linn.) florescidas durante oito meses do ano, as quais fornecem pólen para a
alimentação do inimigo natural, além de propiciar abrigo e alterações benéficas do
microclima sob a copa das plantas cítricas. Essas plantas daninhas reduziram a
temperatura do ar, durante o verão, de 40-45 oC para menos de 35 oC, além de
aumentarem a umidade relativa do ar, no interior da copa das plantas de citros.
Uma vez identificadas essas plantas benéficas ao agroecossistema, a prática de
roçadas e capinas seletivas permite o estabelecimento dessas espécies vegetais nas
áreas de cultivo. Caso essas espécies não ocorram naturalmente, elas podem ser
introduzidas nas áreas de cultivo.
118 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
evita problemas fitossanitários dessa natureza. O coroamento das plantas também reduz
a ocorrência de doenças fúngicas e o ataque de brocas ao tronco das plantas.
4.2.13. Quebra-ventos
FRUTAL’2004 119
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
formação dos quebra-ventos. Por ocasião das podas ou raleio dos quebra-ventos, os
materiais resultantes destas práticas podem ser aproveitados. Pelo menos uma fileira de
árvores altas deve ser mantida em pé, enquanto as árvores derrubadas rebrotam de toco
ou são replantadas. A área máxima protegida pelo quebra-vento é cerca de 20 vezes a
maior altura do quebra-vento.
Os quebra-ventos previnem não somente contra danos causados por ventos
fortes, mas também criam microclimas favoráveis ao desenvolvimento das plantas.
Evitam que ventos fortes passem rente ao chão ou entre as plantações, carreando a
umidade do solo e das plantas, aumentando a evapotranspiração das culturas. Os
quebra-ventos também servem de abrigo para pássaros e outros organismos benéficos,
que auxiliam no controle de pragas e doenças que atacam diversas fruteiras. Ao diminuir
a velocidade do vento, cria um ambiente favorável a pequenos insetos, como
parasitóides.
Qualidade da água:
120 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quantidade de água:
Pelo severo processo de desmatamento realizado há décadas atrás, associado à
grande perda de biodiversidade nos agroecossistemas, o volume de água tem diminuído
substancialmente, tornando-se um fator crítico em algumas regiões do Brasil.
O sistema de caixas secas inicia-se com um diagnóstico das estradas que servem a
propriedade, fazendo uma medição da extensão, largura, e porcentagem de inclinação.
Com estes dados, mais a precipitação média e a probabilidade de chuvas pesadas na
região, calcula-se a distância entre as caixas e o tamanho das mesmas.
O passo seguinte é a localização das caixas nas estradas da propriedade, e em
seguida a escavação com máquina tipo retro escavadeira. A terra que é extraída dos
buracos pode ser utilizada dentro da estrada para criar grandes lombadas, as quais
servem de barreira para a água, desviando a mesma para serem coletadas nas caixas. O
princípio de ação do sistema de caixas secas é não deixar a água ganhar volume e nem
velocidade.
Irrigação:
FRUTAL’2004 121
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.15. Manejo e controle de pragas e doenças
122 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A presença de um agente patogênico na planta raramente resulta em doença se
não houver condições favoráveis ao patógeno. O conhecimento das condições básicas
para que ocorra doença em plantas em caráter epidêmico como hospedeiro suscetível e
cultivado em grande extensão, presença de grande quantidade de inóculo do patógeno
na área e de raças virulentas do patógeno e ambiente favorável a infecção e que deve
persistir por vários ciclos de vida do patógeno, constitui a base para o estabelecimento
de esquema de controle integrado de fitopatógenos.
O sucesso no controle da maioria dos agentes bióticos requer conhecimento
detalhado do ciclo de vida de cada organismo envolvido, de seu comportamento na
planta e do efeito dos fatores do ambiente na interação entre patógenos e hospedeiro
(ZAMBOLIM et al., 1997).
Embora uma doença específica possa, em certos casos, ser controlada por uma
única medida de controle, a complexidade de fatores envolvidos requer o uso de mais
um método para alcançar controle adequado da mesma. Daí a necessidade de
concentrar esforços visando combinar várias medidas e vários métodos de controle quer
sejam físicos, mecânicos, culturais, genéticos, legislativos, químicos e biológicos, para
que se obtenha otimização na redução de intensidade das doenças e,
consequentemente se alcance o máximo em produtividade, sem reflexos negativos no
meio ambiente.
As perdas que as doenças causam variam com uma série de fatores, dentre os
quais citam-se o clima e a suscetibilidade das variedades e do patógeno. No Manejo
Integrado das Doenças (MID), além desses fatores, é importante considerar também:
FRUTAL’2004 123
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
enchurrada; vento; implementos agrícolas; insetos como pulgão, trips, mosca-
branca e cigarrinha; solo infestado; restos culturais ).
124 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Rotação cultural Diversificação
Variedades
Matéria orgânica resistentes
(Antagonismos,
resistência induzida, etc..)
‘Roguing'
Manejo de água e
Umidade
Associação de
cultivos
Aeração do ambiente
PRAGAS Limpeza manual
& (folhas e hastes)
doentes
Sementes e mudas
sadias
DOENÇAS
(orígem ou cultura
Quebra-Ventos
tecidos)
Solarização
Espaçamento
Caldas e Extratos
Eliminação de
hospedeiros
Biofertilizantes
Armadilhas luminosas
Época de plantio
Controle biológico
(Bacillus, Trichograma, Ferormônios
Baculovirus, etc.)
Figura 18: “O que fazer com tantas pragas e doenças na Agricultura Orgânica, se
não posso usar agrotóxicos”?
FRUTAL’2004 125
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em sistemas orgânicos de produção, o uso e reciclagem constante de matéria
orgânica permite minimizar problemas fitossanitários de forma significativa, conforme
pode se comprovar através das relações entre matéria orgânica e patógenos contidas
nas Tabelas 32, 22 e 34.
Tabela 32: Efeito de Composto de Palha de Café (CPC), Composto de Lixo Urbano
(CLU), Composto de Casca de Eucalipto (CCE) e Vermicomposto (VER) no peso da
matéria seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e massa de ovos
de Meloidogyne javanica (Mj).
126 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 33: Efeito do Composto de Fazenda (CF), Vermicomposto (VER) e
Composto de Palha de Café (CPC), misturado ao solo (1:1), sobre o peso da
matéria seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e massa de ovos
de Meloidogyne javanica.
FRUTAL’2004 127
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tombamento Rhizoctonia solani Rabanete Esterco de Redução da
Sclerotium rolfsii bovino população
Murcha Fusarium Tomate Vermicomposto Redução da
oxysporum f.sp. doença
Podridão Botrytis spp. Aspargo Esterco de Aumento da
bovino doença
Raiz-rosada Pyrenochaeta Cebola Adubo verde Redução da
terrestris doença
Hérnia-das- Plasmodiophora Repolho Casca e restos Redução da
crucíferas brassicae culturais de arroz doença
Podridão-de- Sclerotinia minor Alface Resíduos de Redução da
esclerotinia esgoto urbano população
Casca de
pinheiro
Podridão-de- Fusarium sp. Inhame Casca de Controle da
rizoma pinheiro doença
Sarna Streptomyces Batata Composto de Efeito variável
scabies fazenda
Murcha Phytophthora Pimentão Exoesqueleto de Redução da
capsici crustáceos doença
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1997.
128 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
também sobre o tempo, como por exemplo, antecipando ou retardando o plantio ou a
colheita, para fugir à doença.
Assim, pode-se dizer que o controle integrado de doenças de hortaliças nada mais
é do que estabelecer uma estratégia de controle de doenças que envolva todos os
conhecimentos relacionados com o processo infeccioso e o desenvolvimento da doença.
Para isso, pesquisadores, técnicos e agricultores devem estar atentos aos efeitos dos
fatores do ambiente sobre as doenças e conscientes da necessidade de saber escolher
os métodos de controle mais adequados, econômicos e eficientes. O agroecossistema
precisa ser preservado, e é de fundamental importância que as medidas de controle
contemplem este objetivo.
Em se tratando das doenças em pós-colheita em hortaliças, há que se considerar
a temperatura e a umidade relativa. Entretanto, tais doenças estão ligadas ao tipo de
manejo da cultura no campo e aos cuidados que devem ser tomados na colheita, no
transporte e armazenamento. Injúrias de qualquer natureza ( mecânica, queima por sol e
frio ) durante estas fases constituem as principais causas das doenças em pós-colheita
(ZAMBOLIM et al., 1997).
FRUTAL’2004 129
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 35: Princípios e medidas de controle de doenças que se aplicam às
hortaliças e seus principais efeitos epidemiológicos.
130 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
No Manejo Integrado de Pragas (MIP), recomenda-se lançar mão de táticas
adequadas, as quais podem assim ser resumidas:
FRUTAL’2004 131
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.15.2. Métodos de controle:
Nos casos em que as medidas enfocadas anteriormente não sejam suficientes para
evitar danos econômicos provocados por pragas e doenças, há uma série de produtos
preparados a partir de substâncias químicas, biológicas, orgânicas ou naturais pouco
tóxicos à saúde humana e ao meio ambiente, que são indicados para uso em sistemas
orgânicos de produção. Grande parte desses produtos é facilmente preparada na
propriedade, com custos bastante reduzidos. No entanto, a utilização periódica desses
preparados pode indicar que o equilíbrio ecológico do sistema não foi alcançado (Costa
e Campanhola, 1997).
Apesar da extensa literatura sobre o preparo e uso de defensivos alternativos, existe
uma carência de estudos sobre a real eficiência destes produtos no controle de pragas e
doenças. A falta de controle de qualidade deles também é outro problema, pois
observam-se resultados contraditórios.
• Extrato de Nim:
132 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Extrato de Pimenta do reino, alho e sabão:
• Extrato de Primavera:
• Calda Bordalesa:
A Calda Bordalesa é um fungicida eficiente contra várias doenças que aprecem na horta
e no pomar. O produto surgiu no século passado, na região de Bourdeaux, na França, para
o controle do míldio, uma doença que ataca a videira.
FRUTAL’2004 133
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A Calda Bordalesa resulta da mistura de sulfato de cobre com cal virgem, diluídos em
água. O seu uso é permitido na Agricultura Orgânica por ser o sulfato de cobre um produto
pouco tóxico e por melhorar o equilíbrio nutricional das plantas.
Mais comumente ela é preparada na proporção de uma parte de cal virgem e uma parte
de sulfato de cobre para cem partes de água. A quantidade de cada ingrediente depende
do volume final de calda que se pretende preparar.
Ingredientes:
Sulfato de cobre....................................................................................200
gramas
Cal virgem.............................................................................................200
gramas
Água......................................................................................................20 litros
O sulfato de cobre dissolve lentamente na água, por isso, colocam-se 200 gramas
do produto em um saquinho de pano ralo, mergulhado em balde com 5 litros de água. O
saquinho deve ficar suspenso, próximo à superfície da água, a fim de facilitar a dissolução.
Para se obter a dissolução mais rápida do sulfato de cobre, pode-se dissolvê-lo diretamente
na água morna ou colocá-lo na noite anterior.
A cal virgem deve ser de boa qualidade para reagir totalmente com a água.
Colocam-se 200 gramas de cal no fundo de um balde com pouca água para haver reação
rápida. Se não houver aquecimento da mistura em menos de 30 minutos, a cal não deve
ser usada, pois é de má qualidade. Quanto mais rápida é a reação, melhor é a cal.
Depois de a cal ter reagido com a água, formando uma pasta rala, completa-se o
volume de água até 5 litros. A mistura terá a aparência de leite de cal, bem homogênea.
Em seguida, faz-se a mistura das duas soluções. Para tanto despeja-se a solução de
sulfato de cobre sobre a cal e nunca o inverso. A mistura deve ter um aspecto denso, em
134 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
que a cal não decanta. Após mexer algumas vezes, coar a mistura e despejar no
pulverizador, completando o volume de 20 litros.
Quando a calda está ácida, ela queima as folhas das plantas pulverizadas. Para
evitar isso, antes de usar faz-se um teste: pinga-se uma gota da calda sobre a lâmina de
um canivete ou faca de ferro. Se, após três minutos, no local da gota, formar-se uma
mancha avermelhada, semelhante a ferrugem, é sinal de que a calda está ácida. Deve-se
então, adicionar mais leite de cal, até que a mistura fique neutra e não apareça a mancha.
Recomendações de Uso
Na utilização da Calda Bordalesa, é muito importante seguir estas
recomendações:
• Calda Sulfocálcica:
A Calda Sulfocálcica é um dos mais antigos defensivos agrícolas. Possui ação inseticida
contra insetos sugadores, como ácaros, tripes e cochonilhas, etc. Tem efeito fungicida,
atuando de forma curativa, principalmente contra oídio e ferrugens.
A sua qualidade é medida em função da densidade da calda, empregando para isso o
Aerômetro de Baumê, muito utilizado na indústria de xaropes. A calda ideal possui
densidade de 32º Baumê, porém é considerado boa uma calda com 29 ou 30º Beumê.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Preparo da Calda Sulfocálcica:
Água 10 litros
Cal virgem 1 Kg
Enxofre em pó 2 Kg
Recomendações de Uso:
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Tabela de Diluição da Calda Sulfocálcica ( * )
Metodologia de Aplicação:
A aplicação da Calda Sulfocálcica deve ser feita sempre em períodos frescos, para
evitar queimaduras na folhagem.
Em épocas muito quentes, é recomendável aumentar a diluição com água, uma vez
que temperaturas altas aumentam a sua efetividade. Com temperaturas muito elevadas, é
recomendável suspender as aplicações de Calda Sulfocálcica.
Durante a floração, aplicar a Calda Sulfocálcica apenas para culturas que tolerem
enxofre nesta época, devendo normalmente ser empregada, após a fecundação das flores.
Fazer aplicação com alto volume e alta pressão ( acima de 150 libras ), cobrindo
totalmente as partes vegetais.
FRUTAL’2004 137
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
• Para guardar a calda concentrada por curto período, cobrir com uma fina camada
de óleo mineral.
• Por longo tempo, manter em embalagem plástica ou de vidro, bem vedado.
• Após a aplicação, todo equipamento, inclusive as mangueiras, devem ser
lavadas com solução amoniacal ou solução diluída de ácido acético (vinagre).
• Em culturas instaladas em estufas, reduzir em 50% as dosagens e fazer os
tratamentos em períodos frescos, pelos riscos de queima da planta.
ATENÇÃO:
• Biofertilizantes:
138 FRUTAL’2004
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• Extrato Pirolenhoso:
FRUTAL’2004 139
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• Outros preparados e demais métodos de controle de pragas e doenças podem
ser encontrados nos livros:
b) CONTROLE BIOLÓGICO:
140 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 36: Principais pragas dos citros, seus patógenos e estratégias de emprego
Ácaros
Mosca-das-frutas
Bicho-furão
Cochonilhas
Fusarium sp.
Nectria e Myriangium Proteção
Orthezia praelonga Beauveria bassiana Introdução inundativa e inoculativa:
proteção
Colletotrichum
gloesporioides
Metarhizium
anisopliae
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Cigarrinhas
Outras
Em Cuba, país que desde o início do embargo econômico vem construindo um modelo
de agricultura mais sustentável, menos dependente de insumos externos, o controle
biológico constitui uma das principais ferramentas de controle de pragas e doenças.
Nesse país, o controle biológico de pragas de algumas frutíferas por meio de
entomopatógenos tem sido realizado com sucesso (Tabela 37).
142 FRUTAL’2004
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Tabela 37: Organismos biológicos para o controle de pragas de frutíferas em Cuba
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c) ARMADILHAS E ISCAS:
144 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 20: Armadilha luminosa usada para atração e dispersão de insetos.
d) CONTROLE MECÂNICO
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5. LIMPEZA, EMBALAGEM, ARMAZENAMENTO, TRANSPORTE E
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS
146 FRUTAL’2004
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⇒ Colheita no ponto exato de maturação e sob condições climáticas favoráveis.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
atuam na comercialização dos produtos, industrializados ou não, de fazendas, de hortas
e pomares não convencionais.
Portanto, a comercialização de produtos orgânicos é mais complexa que o comércio
de produtos convencionais, em função da estrutura do mercado e do processo de
certificação e embalagem. Os produtos orgânicos necessitam receber uma diferenciação
através de um selo ou rótulo, que caracterize o produto como “orgânico”. Esta
diferenciação é o que vai dar credibilidade junto ao consumidor, o qual terá a certeza e
segurança de que o mesmo foi produzido dentro de princípios e normas técnicas pré-
estabelecidas, onde não se permite a utilização de qualquer substância química que
possa provocar danos à sua saúde.
Para as frutas e hortaliças, os sistemas de comercialização mais empregados no
mercado interno são a venda em feiras livres, entregas em domicílio e em
supermercados, que já disponibilizam espaço específico para produtos orgânicos em
suas prateleiras.
Para manter o mercado, o produtor necessita ofertar produtos de forma constante
durante todo o ano, com uma variedade de espécies diversificadas para atender à
demanda dos consumidores. Portanto, torna-se imperativo que os agricultores trabalhem
em grupos ou associações para ampliar o leque de atuação, programando a produção,
de forma a ofertar o maior número de produtos durante todo o ano.
Outra característica do mercado de alimentos orgânicos, que o diferencia do sistema
convencional, é que em muitos casos, há o estabelecimento de um preço fixo para o
produto durante todo o ano, além de muitas vezes produzir por contrato, ou seja,
programa uma determinada produção na certeza de venda após a colheita. Isso é
extremamente vantajoso, especialmente no mercado de hortaliças, que normalmente
apresenta uma oscilação muito alta de oferta e preço nas diversas épocas do ano.
148 FRUTAL’2004
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6. NORMAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ORGÂNICA
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por objetivo primário o assessoramento e acompanhamento da implementação das
normas para produção de produtos orgânicos vegetais e animais, avaliando e emitindo
parecer conclusivo sobre os processos de credenciamento de entidades certificadoras, e
fornecendo subsídios a atividades e projetos necessários ao desenvolvimento do setor.
Atualmente já existem diversas organizações que tratam da produção orgânica de
alimentos em todo o mundo, destacando-se diversas Associações não governamentais,
Institutos, Programas de governos, Certificadoras privadas, dentre outros, organismos
estes que possuem suas Normas regulamentares em consonância com os princípios da
Agricultura Orgânica.
As entidades certificadoras atribuem aos produtos, processos e serviços suas marcas
que atestam a garantia desses alimentos como exemplo pode-se citar as marcas AAO,
ABIO, ANC, APAN, BCS, CHÃO VIVO, CMO, COOLMÉIA, ECOCERT, FVO, IBD, IMO,
OIA, SKAL, entre outras.
Visando o mercado internacional, um dos órgãos mais reconhecidos, que regulamenta,
credencia e congrega as certificadoras de produtos orgânicos, com credibilidade
reconhecida em vários países, é a IFOAM (International Federation of Organic Agriculture
Moviments).
Uma boa estrutura de certificação, seja ela privada (sem fins lucrativos) ou estatal,
certamente irá despertar estímulos a um maior apoio à atividade e proporcionará um
crescimento ainda mais significativo do setor, tanto em nível de produção, como em nível
de comercialização nos diversos estados do país.
150 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7. PROCEDIMENTOS PARA A CONVERSÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA
FRUTAL’2004 151
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar características
semelhantes às de ecossistemas naturais, mantendo uma produção a ser colhida. Um
agroecossistema que incorpore as qualidades de ecossistemas naturais de estabilidade,
equilíbrio e produtividade, assegurará melhor a manutenção do equilíbrio dinâmico
necessário para estabelecer uma base ecológica de sustentabilidade. Nesse sentido,
GLIESSMAN (2000) propõe os seguintes princípios orientadores para a conversão de
propriedades agrícolas a sistemas agroecológicos.
¾ Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem
naturalmente, em vez de insumos sintéticos manufaturados.
152 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
¾ Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e o potencial
produtivo e as limitações físicas da paisagem agrícola.
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A primeira, a dimensão educativa, constitui-se na mais importante, uma vez que
o Homem (Homo sapiens sapiens), enquanto espécie animal, representa o início, o meio
e o fim. Está portanto, na mudança da percepção humana o desencadeamento do
processo de desenvolvimento – um processo de mudança, que neste caso, representa a
conversão do modelo convencional ao processo agroecológico ou agroecossistema,
pois, é na mente humana que tudo acontece em primeiro lugar. Portanto, a conversão,
em primeiro lugar deverá ser das pessoas, do homem. Deveremos pois, nos tornarmos
agroecologistas – transformar transformando-se - para que o processo seja efetivo.
Os ecossistemas agrícolas, nada mais são do que a exteriorização das
concepções que o homem possui. O quadro mental dominante, resultou no modelo
convencional, centrado na tecnologia por produto, na produtividade, no resultado
econômico-financeiro. É aqui que deveremos concentrar nossos esforços, se queremos
implementar a concepção de agroecossistemas, centrada no problema, no processo, no
homem, na pessoa, na família, no holos.
Portanto, cada uma das dimensões contempladas, está fortemente associada
umas às outras e, por isso, devem ocorrer simultaneamente, até que se fortaleçam, num
processo sinérgico de interações em rede.
A dimensão biológica compreende, basicamente, a restauração da qualidade e
saúde do solo, assim como da sua biodiversidade, (tanto acima como abaixo da sua
superfície). A rotação de culturas e a adição de matéria orgânica, que pode vir das
plantas de cobertura, dos estercos, dos compostos, etc..., são condições indispensáveis
para se atingir a plenitude neste caso.
Em relação à dimensão normativa, é importante observar as regras que orientam a
obtenção do selo de qualidade orgânica. De uma maneira geral, estas normas obedecem
a:
- Um período de carência que vai até 1-4 anos entre a utilização das práticas
convencionais e a adoção da agroecologia;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos que não são permitidos: neste
contexto encontram-se os agrotóxicos e os fertilizantes de síntese química,
especialmente os nitrogenados;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos tolerados, a critério da organização
certificadora;
154 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos recomendados, onde incluem-se a
ciclagem e reciclagem de nutrientes e de biomassa, o controle de biológico, a rotação de
culturas, as plantas de cobertura, adubação orgânica (verde, estercos e compostos),
além, é claro, da recuperação, proteção e conservação dos recursos naturais, como o
solo, a água, a fauna e a flora nativa, entre outros aspectos, onde se inclui o harmônico
relacionamento entre os membros da família.
Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma seqüência
lógica e explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto basicamente constituí-se
de um diagnóstico de toda a propriedade, levantando todos os recursos disponíveis,
além das relações sociais e comerciais que esta mantém, assim como a ocupação da
área e o seu respectivo rendimento físico e econômico.
Neste diagnóstico são identificadas as principais dificuldades/entraves assim
como o potencial da propriedade. Nesta fase, são identificadas as necessidades do
agricultor, incluindo a sua capacitação. O projeto deve incluir um cronograma e um
fluxograma entre as atividades estabelecendo-se metas claras e viáveis.
O aspecto comercial é também, extremamente, importante neste processo. Um
projeto bem feito não poderá prescindir desta fase ou etapa. Os “canais” de
comercialização devem ser previamente identificados e definidos.
A certificação é também necessária para assegurar direitos aos agricultores de um
produto diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando tiver cumprido os
prazos e prescrições previstas nas normas, quando estarão habilitados a receber o selo
de qualidade”.
FRUTAL’2004 155
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.2. PRICÍPIOS A SEREM APLICADOS NO PROCESSO PRODUTIVO PARA A
CONVERSÃO DO SISTEMA
156 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 1: Ambiente agrícola simplificado pelo cultivo de uma única espécie
(monocultura), com alta instabilidade e dependência de grande aporte de insumos
externos.
FRUTAL’2004 157
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Assim, uma propriedade orgânica fundamentalmente tem que se preocupar em
buscar primariamente diversificar a paisagem geral, de forma a restabelecer a cadeia
alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e
pássaros.
Para tanto, se faz necessário compor uma diversidade de espécies vegetais, de
interesse comercial ou não, recomendando que se opte por espécies locais, adaptadas
às condições edafo-climáticas da região. Como exemplo, em áreas marginais às glebas
de produção e nas bordas de riachos, pode-se proceder o plantio de espécies como:
Goiaba, Ingá, Pitanga, Araçaúna, Biribá, Nêspera, Abacate, Calabura, Jamelão, Amora,
Uva japonesa, dentre outras.
Além disso, é fundamental também proceder ao manejo da vegetação
espontânea. Este manejo pode ser realizado de três formas, visando permitir a
conservação natural da vegetação do próprio local, conforme abaixo:
1º. Manutenção de áreas de refúgio, fora da área cultivada para interesse comercial,
inclusive áreas com alagamento natural, visando preservar ao máximo os aspectos
naturais estabelecidos pelo ecossistema local ao longo de anos.
3º. Proceder ao controle parcial da vegetação ocorrente dentro das áreas cultivadas,
aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com maiores espaçamentos nas
entrelinhas e manutenção da vegetação entre os canteiros para culturas cultivadas por
esse sistema de plantio (Figura 3).
158 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Para completar, o estabelecimento de um desejável nível de diversidade genética,
com a adoção de um sistema de produção com culturas diversificadas, de interesse
comercial, também é fundamental. Para tanto, recomenda-se que se adote um plano de
uso do solo de forma mais sustentável possível, procedendo ao planejamento dos
plantios, visando permitir o descanso (pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de
dois em dois anos, através do plantio solteiro ou misto, de leguminosas (Ex: Mucuna
Preta, Crotalária, Labe-labe) e Gramíneas (Ex: Milho, Aveia preta), fato que promoverá
fixação biológica de nitrogênio e estruturação do solo, respectivamente.
FRUTAL’2004 159
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em sistemas orgânicos de produção, o equilíbrio ecológico que ocorre entre os
macro e micro organismos, é de fundamental importância para manter as populações de
pragas e doenças em níveis que não causem danos econômicos às culturas comerciais.
Sistemas que utilizam adubos químicos e agrotóxicos provocam instabilidade no
ambiente e desequilíbrios na nutrição das plantas, levando ao aumento da população
desses organismos.
Na natureza existe uma forte interrelação biológica entre insetos, ácaros,
nematóides, fungos, bactérias, vírus e outros macro e microorganismos, a qual é
responsável pelo equilíbrio do sistema, podendo-se citar como exemplos: Pulgões (praga)
controlados por joaninhas (predador); Ácaros (praga) controlados por Ácaros predadores;
Lagarta-da-soja (praga), controlada por Baculovirus (parasita); microrganismos
antagonistas presentes em compostos orgânicos, inibindo o desenvolvimento de fungos de
solo (por exemplo: Fusarium), dentre tantos outros.
160 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
proteínas, necessitando do seu desdobramento em moléculas mais simples como os
aminoácidos.
Existem vários fatores que interferem na resistência das plantas, pois interferem
no seu metabolismo, podendo aumentar ou diminuir a sua resistência.
Fatores que melhoram a resistência: Espécie ou variedade adaptada ao local de
cultivo; Solo; Adubos orgânicos; Adubos minerais de baixa solubilidade e Defensivos
Naturais.
Fatores que diminuem a resistência: Idade da planta; Solo; Luminosidade;
Umidade; Tratos culturais; Adubos minerais de alta solubilidade e Agrotóxicos.
Portanto, conhecendo-se todos esses fatores citados anteriormente, o agricultor
deve adequar o seu sistema de produção, empregando práticas recomendadas para
sistemas orgânicos, que certamente conduziram à obtenção do desejado equilíbrio
nutricional e metabólico nas suas culturas comerciais.
FRUTAL’2004 161
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 4: Ciclo da vida na natureza (Fonte: KIEHL, 1985).
Propriedades físicas
A matéria orgânica exerce grande influência nas propriedades físicas do solo, daí ser
classificada por alguns autores como “material melhorador do solo”.
162 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
densidade aparente entre 1,2 a 1,4 g/cm3, um material cuja densidade média vai de 0,2 a
0,4 g/ cm3. Indiretamente, pelo seu efeito na estruturação do solo, tornando-o mais solto,
menos denso.
FRUTAL’2004 163
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
como por exemplo, aumentando a granulação, a estruturação e protegendo a superfície
contra a formação de crostas impermeáveis. Quanto maior a capacidade de infiltração,
menor o escorrimento de água pela superfície formando enxurradas, e menor as perdas
por erosão. Também, as perdas de água do solo por evaporação são reduzidas pela
presença de matéria orgânica. É possível economizar água de irrigação incorporando-se
matéria orgânica ao solo ou aplicando-a na forma de restos vegetais em cobertura
morta.
Propriedades químicas
- Fósforo (P) – a matéria orgânica é uma importante fonte de fósforo para as plantas,
contendo geralmente de 15 a 80% do fósforo total encontrado no solo. O fósforo, no solo
apresenta o problema de se fixar aos sesquióxidos de ferro e alumínio das partículas de
argila, ficando indisponível para as plantas. Quando se mistura fosfatos naturais (fonte de
fósforo) aos restos orgânicos (animais e vegetais), a serem decompostos pelo processo
de compostagem, o fósforo fica solubilizado (misturado com água e outros nutrientes e
disponível para as plantas) pela ação dos ácidos orgânicos formados durante a
fermentação e, também, pelo ataque dos microrganismos. Além disso, o húmus que vai
se formando protege o fósforo solubilizado, evitando sua fixação.
164 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Potássio (K) – o potássio não participa de compostos da planta, como acontece com
o nitrogênio, o fósforo e o enxofre. Ele é um elemento ativo na planta, porém, na forma
livre, sendo por isso prontamente liberado para o solo quando restos vegetais são a ele
incorporados.
- Enxofre (S) – o enxofre está presente no solo na forma mineral e orgânica. Na forma
orgânica constitui de 50 a 70% do total encontrado.
c) Índice pH – a matéria orgânica humificada contribui para que o solo ácido fique com
um pH mais favorável às plantas. Os solos fortemente alcalinos, com pH elevado, podem
também ser corrigidos com aplicações de matéria orgânica. Em experimento de campo,
constatou-se que a aplicação de 40 toneladas de esterco por hectare foi mais efetiva em
corrigir o pH de dois solos, um ácido e outro alcalino, que a aplicação de 1 tonelada de
calcário por hectare.
FRUTAL’2004 165
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
d) Poder tampão – o poder tampão do solo é devido à presença de minerais de argila e
de matéria orgânica. Quanto maior o teor de matéria orgânica no solo, maior será sua
resistência à mudança de pH. Assim, solos ricos em matéria orgânica necessitam maior
quantidade de calcário para modificar o pH.
Propriedades físico-químicas
Propriedades biológicas
166 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte
de energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico.
Assim, a presença de matéria orgânica aumenta a população de minhocas, besouros,
fungos benéficos, bactérias benéficas e vários outros organismos úteis, que estão livres
no solo. Aumenta, também, a população de organismos úteis que vivem associados às
raízes das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são
fungos capazes de aumentar a absorção de minerais do solo.
Indiretamente, a matéria orgânica atua na biologia do solo pelos seus efeitos nas
propriedades físicas e químicas, melhorando as condições para a vida vegetal. Por isso,
é chamada como melhoradora ou condicionadora do solo.
Experimentos mostram que o húmus estimula a alimentação mineral das plantas,
o desenvolvimento radicular, diversos processos metabólicos, a atividade respiratória, o
crescimento celular e a formação de flores em certas plantas.
Em sistemas orgânicos, a utilização do método de reciclagem de estercos animais
e de biomassa vegetal permitem a independência do agricultor quanto à necessidade de
incorporação de insumos externos ao seu sistema produtivo, minimizando custos, além
de permitir usufruir dos benefícios da Matéria Orgânica em todos os níveis.
- Aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas,
como as bactérias fixadoras de Nitrogênio e as Micorrizas, que são fungos capazes de
aumentar a absorção de minerais do solo.
FRUTAL’2004 167
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Possui, na sua constituição, os macro e micronutrientes em quantidades bem
equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em qualidade e
quantidade. Com isso, o nível de proteossíntese aumenta. Os micronutrientes são
fundamentais para a proteossíntese, tanto como constituintes quanto ativadores das
enzimas que regulam o metabolismo da planta.
168 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(v/v), deixando-se fermentar por 4 horas, 1 semana e 2 semanas. Os extratos puros (sem
diluição) foram pulverizados sobre as folhas de tomate e pimentão e sobre os cachos de
uva, após terem sido infectados artificialmente com pulverização de solução aquosa
contendo 105 conídios.ml-1. Verificaram que a eficiência na redução da doença, variou
com o tempo de fermentação e com o tipo de extrato utilizado. Todos os extratos
apresentaram maior eficiência quando fermentados por 2 semanas. Em geral, a redução
da doença situou-se na faixa de 56% a 100% quando se utilizou extratos fermentados
por mais de 10 dias.
SITUAÇÃO ATUAL:
FRUTAL’2004 169
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
contratação de serviços de terceiros e sua produtividade é prejudicada pela má
qualidade da mão-de-obra. O milho e o feijão são cultivados em consórcio, semeando-se
primeiro o feijão e, um mês depois, o milho. Também nessas culturas a escala de
produção é insuficiente em face da necessidade de renda da família.
O Quadro 1 e a Figura 5-A, apresenta um resumo da situação atual da
propriedade, onde em relação às normas de produção orgânica, entram produtos
proibidos (agrotóxicos), sobretudo para a soja. Entram também fertilizantes nitrogenados
(uréia) para o feijão e milho, embora em quantidades menores. A idéia de entrar na
produção leiteira encaixa-se bem em termos da utilização da força de trabalho, como da
geração de renda e do fluxo de materiais. As receitas e despesas são computadas da
maneira que os agricultores normalmente as consideram. No item receitas, registram-se
as entradas derivadas da venda dos produtos. As despesas incluem apenas o custeio,
não se atribuindo valor monetário ao trabalho, nem à depreciação dos equipamentos e
benfeitorias, nem à produção para consumo doméstico.
PROPOSTA DE CONVERSÃO:
170 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
associação napier-leucena. Se essa associação não for observada, o sistema definhará
por falta de N ou falta de palhada.
3- No talhão de lavouras, as áreas para soja-aveia preta, milho x feijão-adubo verde
e culturas para consumo doméstico deverão ser rotacionadas entre si.
4- O máximo esforço deverá ser direcionado para a produção de palhadas, a fim de
reduzir a necessidade de capinas na soja e no consórcio milho x feijão.
5- A produção de leite será baseada em pasto, de napier e leucena no verão e de
aveia preta no inverno. A manutenção de fertilidade nesses pastos será baseada no
pastejo rotacionado, mantendo-se os estoques de nutrientes através da mineralização do
gado e da adubação da soja.
6- Haverá sempre uma competição latente entre a utilização da aveia para o gado e
sua utilização como palhada. Se o gado for privilegiado, haverá menos palhada e,
portanto, maior necessidade de capinas nas culturas de verão. Esse ponto merece
redobrada atenção em função de sua importância para o balanço econômico, de trabalho
e de fertilidade do sistema.
A cultura da soja terá sua área reduzida, mas continuará em plantio direto. O controle
de ervas será obtido com a palhada de aveia, complementada pela capina manual. Para
sua nutrição mineral, serão utilizados inoculantes e, de acordo com a análise do solo,
fosfatos naturais de Arad ou Gafsa e cinza de madeira, esta última disponível numa
agroindústria próxima. Se necessário, o controle da lagarta da soja será baseado em
Bacillus thuringiensis e/ou Baculovirus anticarsii, e o de percevejo em Trissolcus basalis
e iscas com inseticidas naturais.
O milho e o feijão também serão cultivados em plantio direto. A fertilização mineral
será baseada em nitrogênio fixado pelos adubos verdes, aplicando-se fosfatos e cinzas,
de acordo com a análise do solo. O controle de ervas será baseada na palhada dos
adubos verdes, complementada com capina manual.
Como reserva técnica de forragem, será plantada cana nos terraços das áreas de
lavoura.
FRUTAL’2004 171
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quadro 1: SITUAÇÃO ATUAL: Principais atividades econômicas, área e renda.
172 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 5: Representação esquemática dos sistemas de produção atual (A) e
proposto (B).
FRUTAL’2004 173
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.4 ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE CONVERSÃO
(PLANO DE MANEJO)
174 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Produção separada e produção paralela:
• Áreas sem cultivo ou criações, como pastos, cercas vivas, bosques, grupos de
árvores e arbustos, florestas etc;
FRUTAL’2004 175
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Corredores de vida silvestre que proverem vínculos e conexões entre habitats
nativos.
Planejamento e desenho:
Integração animal:
Diversificação:
176 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Manejo geral da vegetação espontânea:
2º. Proceder ao controle parcial da vegetação ocorrente dentro das áreas cultivadas,
aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com maiores
espaçamentos nas entrelinhas e manutenção da vegetação entre os canteiros
para culturas cultivadas por esse sistema de plantio.
FRUTAL’2004 177
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de dois em dois anos (culturas
anuais), através do plantio solteiro ou misto, de leguminosas e gramíneas, fato
que promoverá fixação biológica de nitrogênio e estruturação do solo,
respectivamente.
178 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Rolo faca: para acamar espécies de cobertura. Existem modelos de tração
animal, microtrator e tratores.
Roçadeira: existem modelos para microtrator e trator, podendo ser utilizada para
adubos verdes menos fibrosos ou com muita rama (ex: mucuna) e ervas
espontâneas.
FRUTAL’2004 179
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4ª ETAPA: Manejo da água
Caixas secas:
• Importância: Controlar a erosão; Conservar as estradas; Retardar o escoamento
das águas das chuvas; Evitar assoreamento de leitos de rios e lagos;
Reintroduzir esta água no lençol freático; Disponibilizar esta água para
manutenção das nascentes durante o ano todo, proporcionando estabilidade na
vazão.
• Diagnosticar as estradas que servem à propriedade.
• Estabelecer um projeto adaptado às condições locais.
180 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
5ª ETAPA: Sistema de ciclagem de matéria orgânica e manejo de dejetos
FRUTAL’2004 181
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
6ª ETAPA: Definição dos sistemas de produção
Cultivos anuais:
Além da possibilidade de adoção de práticas mínimas de rotação, pode-se demonstrar
diversidade na produção vegetal por outros meios.
Cultivos perenes:
Deve-se estabelecer um sistema de cultivos intercalares, de associação com faixas de
vegetação nativa, mantendo o solo coberto, criando diversidade e refúgio para
predadores.
182 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
9 Diversidade de ecossistemas
9 Controle térmico
9 Utilização de inimigos naturais como predadores, parasitóides e antagonistas.
9 Preparados biodinâmicos
CLIMA E CULTIVARES
ÉPOCA DE PLANTIO
PREPARO DO SOLO
ADUBAÇÃO ORGÂNICA
ADUBAÇÃO VERDE
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS
PROCESSAMENTO
EMBALAGEM
CUSTO DE PRODUÇÃO
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Proporcionar alimentos adequados e de boa qualidade, produzidos organicamente
(ver flexibilidades contidas nas normas).
NUTRIÇÃO ANIMAL
MUTILAÇÕES
MANEJO DA CRIAÇÃO
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
CONTROLE E MANEJO SANITÁRIO
TRANSPORTE
ABATE
PROCESSAMENTO E EMBALAGEM
CUSTO DE PRODUÇÃO
186 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
8ª ETAPA: Cronograma de execução das atividades (EXEMPLO HIPOTÉTICO)
FRUTAL’2004 187
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Plantio do capim cidreira Mar/2002
ETC...
Como parte das exigências para a certificação, deve-se apresentar uma estimativa
da produção orgânica para cada ramo de atividade orgânica do projeto, visando atender
ao controle da origem, exigida no manual da qualidade e nas normas técnicas da
certificadora. Verifique o exemplo abaixo para um projeto de produção de hortaliças
orgânicas.
188 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Couve-flor 60 ud 1,5 80 quinzenal 480 240 ud
TOTAIS - - - - 7.280 m2 -
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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cineres). Crop Protection, v. 13, nº 2, 1994, p. 109-113.
SOUZA, J.L. de & VENTURA, J.A. Estudo de correlação entre teores foliares de
nutrientes e a incidência de requeima (Phytophthora infestans) na cultura da batata
submetida a sistemas de adubação orgânica e mineral.. CONGRESSO BRASILEIRO DE
FITOPATOLOGIA, 30. Poços de Calda-MG. Anais, 1997. In: Revista Fitopatologia
Brasileira, 22 (Suplemento): 313. Resumo 471.
190 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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BARRETO, C.S. Prática em Agricultura Orgânica. 2o ED. Icone, São Paulo, 1985. 200p.
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Journal. Madison, Wisconsin.: American Society of Agromy, V. 90, N.5, p. 662-671,
Sept/Oct, 1998.
COSTA, M. B. B. et. al. Adubação verde no Sul do Brasil. 2 ed. AS-PTA, Rio de Janeiro,
1993. 346 p.
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Videocassete (56 min.): VHS, NTSC, son., color. 1 Manual técnico (135 p.): nº 228.
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Rio de Janeiro: REBRAF, V.1., 1996. 228p.
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DULLEY, R. D. & SIMÕES DO CARMO, M. Viabilidade econômica do sistema de
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DURIGAN, J.C.; PITELLI, R.A. A importância das plantas daninhas no manejo integrado
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terceiro Seminário Internacioanl de Citros, MIP, Bebedouro, SP, Fundação C argil, 1994.
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ELAD, Y. & SHTIENBERG, D. Effect of compost water extracts on grey mould (Botrytis
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FORNARI, E. Novo Manual de Agricultura Alternativa. 2a Ed. Sol Nascente, São Paulo.
237p.
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