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AGRICULTURA ORGÂNICA – PRODUÇÃO,

PÓS-COLHEITA E MERCADO

JACIMAR LUIS DE SOUZA

11ª SEMANA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA


13 a 16 de setembro de 2004 – Centro de Convenções
Fortaleza – Ceará – Brasil
Copyright © FRUTAL 2004
Exemplares desta publicação podem ser solicitados à:
Instituto de Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria – Frutal
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Fortaleza – CE
CEP: 60120-002
E-mail: geral@frutal.org.br
Site: www.frutal.org.br
Tiragem: 150 exemplares
EDITOR
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DA FRUTICULTURA E AGROINDÚSTRIA –
FRUTAL
DIAGRAMAÇÃO E MONTAGEM
PEDRO MOTA
RUA HENRIQUE CALS, 85 – BOM SUCESSO – FONE: 484.4328/9105.5093

Os conteúdos dos artigos científicos publicados nestes anais são de autorização e


responsabilidade dos respectivos autores.
Ficha Catalográfica

Souza, Jacimar Luis de.


Agricultura Orgânica: produção, pós-colheita e mercado /
Jacimar Luis de Souza – Fortaleza:
Instituto Frutal, 2004.
212 p.
1.Agricultura Orgânica. I. Título.
CDD 631.86

11ª SEMANA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA


13 a 16 de setembro de 2004 – Centro de Convenções
Fortaleza – Ceará – Brasil
APRESENTAÇÃO

O crescimento atual do Agronegócio brasileiro se deve ao fato do alto grau de


desenvolvimento tecnológico que o Brasil atravessa no campo e que o tem destacado, em
nível mundial, com as maiores áreas plantadas e maiores produtividades para vários
produtos agrícolas, além do significativo aumento das exportações o que tem contribuído
para o saldo positivo da nossa balança comercial.

Considerando estes fatos, o INSTITUTO FRUTAL tem procurado caminhar em


paralelo na sua função de Entidade de fomento tecnológico aos produtores e realizado, a
cada ano no EVENTO FRUTAL, cursos técnicos com temas de interesse da classe rural
destacando as mais recentes informações de cada tema escolhido.

Esta APOSTILA é fruto desta preocupação. Ela traz as informações mais recentes
deste tema e corresponde ao conteúdo abordado no curso promovido por ocasião da
FRUTAL 2004. Esperamos que as informações aqui contidas possam contribuir com o
desenvolvimento de cada pessoa que tenha participado do curso ou que tenha adquirido
estas informações para uso na melhoria de sua atividade rural.

A seleção dos temas é fruto de avaliações que realizamos durante cada evento e que
serve de parâmetro para a construção da programação da Frutal seguinte. Com isto
estamos procurando atender os interesses da maioria dos participantes do evento o que nos
deixa convicto do acerto tendo em vista, o aumento anual de visitantes ao Frutal. Toda a
Programação Técnica da Frutal é referendada por uma Comissão Técnica Cientifica,
formada por membros das diversas Instituições/Órgãos/Entidades federais e Estaduais
ligadas ao setor, que tem sido decisivo na qualidade deste produto oferecido aos produtores
rurais de todo o país.

Vale destacar que a FRUTAL 2004 trouxe para reforçar seu aspecto tecnológico e
sedimentá-lo como evento internacional e maior evento da fruticultura brasileira, dois
eventos importantes internacionais: a AGRIFLOR BRASIL, que acontece pela primeira vez
no Brasil e que vem acontecendo há 16 anos em 8 países e que é maior evento de Flores
do mundo, promovido pela empresa holandesa HPP Worldwide que é o maior promotor de
feiras de flores do mundo e o III Simpósio Internacional de Frutas Tropicais e
Subtropicais com inscrição de mais de 240 trabalhos de pesquisas de pesquisadores de
mais de 20 países e palestras de especialistas de 10 países.

Desejamos então, que com a publicação desta APOSTILA estejamos contribuindo


com a disseminação dos mais recentes avanços tecnológicos do Agronegócio brasileiro e
que sirva de instrumento para a melhoria da qualidade de vida do homem do campo.

Antonio Erildo Lemos Pontes


Coordenador Técnico do Evento Frutal
Diretor Técnico do Instituto Frutal

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COMISSÃO EXECUTIVA DA FRUTAL 2004

Euvaldo Bringel Olinda


PRESIDENTE DA FRUTAL 2004

Idealizador da Frutal, e do SINDIFRUTA, produtor, Engenheiro Pós-Graduado em


Administração e Negócios. Presidente do Instituto Frutal, Ex-diretor da PROFRUTAS –
Associação dos Produtores e Exportadores de Frutas do Nordeste e do IBRAF – Instituto
Brasileiro de Fruticultura e das Federações FAEC e FACIC.

Afonso Batista de Aquino


COORDENADOR GERAL DA FRUTAL 2004

Engenheiro Agrônomo, Pós-graduado em Nutrição de Plantas pela Universidade


Complutense de Madrid-Espanha, com especialização em Fertilidade do Solo, Extensão
Rural e Marketing em Israel e Espanha. Diretor Geral do Instituto Frutal em duas gestões
Coordenador Geral da Frutal desde 1998.

Antonio Erildo Lemos Pontes


COORDENADOR TÉCNICO DA FRUTAL 2004

Engenheiro Agrônomo com vasta experiência de trabalho voltado para Fruticultura Irrigada,
com especialização em Agricultura Irrigada por Sistema Pressurizado em Israel e
Especialização em Gestão Ambiental pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Membro
Efetivo do IBGE/GCEA do Ceará, Consultor do SEBRAE-CE na Área de Agronegócio da
Fruticultura, Coordenador Titular do Nordeste no Fórum Nacional de Conselhos de
Consumidores de Energia Elétrica e Coordenador Técnico da Frutal desde sua primeira
edição em 1994.

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COMISSÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DA FRUTAL 2004

Afonso Batista de Aquino INSTITUTO FRUTAL


Almiro Tavares Medeiros UFC/CCA
Anísio de Carvalho Júnior SENAR
Antonio Erildo Lemos Pontes INSTITUTO FRUTAL
Antonio Vieira de Moura SEBRAE/CE
Aristides Braga Mendes INCRA
César Augusto Monteiro Sobral AEAC
César Bezerra de Sena AGRIPEC
Cézar Wilson Martins da Rocha MAPA
Daniele Souza Veras AGRIPEC
Egberto Targino Bonfim EMATERCE
Eleonora Silva Guazzelli DNOCS
Enid Câmara PRÁTICA EVENTOS
Euvaldo Bringel Olinda INSTITUTO FRUTAL
Francisco Antônio Souza de Aragão EMBRAPA
Francisco de Assis Bezerra Leite CREA-CE
Francisco Eduardo Costa Magalhães BANCO DO BRASIL
Francisco Ferrer Bezerra FIEC/INDI
Francisco José Menezes Batista SRH
Francisco Marcus Lima Bezerra UFC/CCA
Francisco Zuza de Oliveira SEAGRI/CE
Gerardo Newton de Oliveira INSTITUTO CENTEC
Gilson Antônio de Souza Lima CONAB-CE
Glória Ribeiro PRÁTICA EVENTOS
Guido Colares Filho INSTITUTO AGROPÓLOS DO CEARÁ
Jane Alves de Moraes SETUR
João Nicédio Alves Nogueira OCEC/SESCOOP
José de Souza Paz SEAGRI/CE
José dos Santos Sobrinho FAEC/SENAR
José Ferreira da Silva – Murilo CREA-CE
José Ismar Girão Parente SECITECE
José Luciano Sales COOPANEI
José Maria Freire CHAVES S/A MINERAÇÃO E INDÚSTRIA
José Maria Marques de Carvalho BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A
Josimar Landim INCRA-CE
Joviniano Silva DFA/CE
Marcelo Neiva Pereira DFA-CE
Marcílio Freitas CEASA
Raimundo Reginaldo Braga Lobo SEBRAE-CE
Ronaldo Lima Moreira Borges AEAC
Viviane de Avelar Cordeiro INSTITUTO CENTEC

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13 a 16 de setembro de 2004 – Centro de Convenções
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA ...................................................... 7


1.1. CONCEITOS .................................................................................................................... 7
1.2. RESUMO HISTÓRICO ..................................................................................................... 9
1.3. OS AGROTÓXICOS E O AGRICULTOR ....................................................................... 15
1.4. OS AGROTÓXICOS E O CONSUMIDOR DE ALIMENTOS .......................................... 18
1.5. OS AGROTÓXICOS E OS CUSTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS.................................... 22
2. EVOLUÇÃO DA ÁREA, PRODUÇÃO E MERCADO ............................................ 23
2.1. PANORAMA MUNDIAL DA ÁREA PLANTADA COM AGRICULTURA ORGÂNICA ..... 23
2.2. O MERCADO ORGÂNICO NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL................................. 33
2.3. A CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR ........................................................................... 34
3. NECESSIDADE DE SISTEMAS SUSTENTÁVEIS
DE PRODUÇÃO DE FRUTAS .................................................................................. 36

4. BASES, PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS


PARA SISTEMAS ORGÂNICOS............................................................................... 43
4.1. A CONSTRUÇÃO DO AGROECOSSISTEMA PRODUTIVO E A CONVERSÃO.......... 43
4.2. PROCEDIMENTOS E PRÁTICAS UTILIZADAS NO PLANEJAMENTO,
NA INSTALAÇÃO E NO MANEJO DE POMARES ORGÂNICOS ........................................ 46
4.2.1. ESPÉCIES ADAPTADAS ÀS CONDIÇÕES AGROECOLÓGICAS LOCAIS .............. 47
4.2.2. DIVERSIFICAÇÃO DO AMBIENTE DE CULTIVO ...................................................... 47
4.2.3. ZONEAMENTO DOS AMBIENTES FAVORÁVEIS ÀS CULTURAS........................... 48
4.2.4. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS EM SISTEMA ORGÂNICO ........................................ 49
4.2.5. PREPARO DO SOLO .................................................................................................. 55
4.2.6. ADUBAÇÃO ORGÂNICA ............................................................................................ 59
4.2.7. ADUBAÇÃO VERDE ................................................................................................. 101
4.2.8. A FERTILIDADE DE SOLOS EM SISTEMA ORGÂNICO ......................................... 110
4.2.9. NUTRIÇÃO EQUILIBRADA DAS PLANTAS ............................................................. 115
4.2.10. MANEJO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS............................................................... 116
4.2.11. MODIFICAÇÃO DO AMBIENTE PRÓXIMO E NO INTERIOR
DA COPA DAS PLANTAS................................................................................................... 118
4.2.12. PLANTAS COMPANHEIRAS .................................................................................. 119
4.2.13. QUEBRA-VENTOS.................................................................................................. 119
4.2.14. MANEJO DE ÁGUA E IRRIGAÇÃO EM SISTEMAS ORGÂNICOS........................ 120
4.2.15. MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS ............................................. 122
5. LIMPEZA, EMBALAGEM, ARMAZENAMENTO,
TRANSPORTE E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS............... 146

6. NORMAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ORGÂNICA.......................................... 149

7.PROCEDIMENTOS PARA A CONVERSÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA...... 151


8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................... 191
9. CURRÍCULUM DO INSTRUTOR ........................................................................ 212

11ª SEMANA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA


13 a 16 de setembro de 2004 – Centro de Convenções
Fortaleza – Ceará – Brasil
1. INTRODUÇÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA

1.1. Conceitos

A Agricultura Orgânica é frequentemente entendida como a agricultura que não faz

uso de produtos químicos. Também há a falsa crença de que ela representa retrocesso à

práticas antieconômicas de décadas passadas e à produção de subsistência de pequena

escala, usando métodos agronômicos já superados. A realidade, porém, é outra. Embora

os agricultores orgânicos não usem agrotóxicos sintéticos, fertilizantes solúveis, hormônios,

sulfas, aditivos e outros produtos químicos, e utilizem várias práticas que foram muito

eficientes no passado, o conceito é bem mais amplo do que isso. Os métodos alternativos

de agricultura são métodos modernos, desenvolvidos em sofisticado e complexo sistema

de técnicas agronômicas, cujo o objetivo principal não é a exploração econômica

imediatista e inconsequente mas, sim, a exploração econômica por longo prazo, mantendo

o agroecossistema estável e auto-sustentável. Leis e princípios ecológicos e de

conservação de recursos naturais são, assim, parte integrante destes métodos. As

questões sociais são prioritárias, procurando-se preservar métodos agrícolas tradicionais

apropriados, ou aperfeiçoá-los (PASCHOAL, 1994).

O conceito de Agricultura Orgânica, estabelecido em 1984 pelo Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos, pode ser assim descrito “Agricultura Orgânica é um

sistema de produção que evita ou exclui amplamente o uso de fertilizantes, agrotóxicos,

reguladores de crescimento e aditivos para a produção vegetal e alimentação animal,

elaborados sinteticamente. Tanto quanto possível, os sistemas agrícolas orgânicos

dependem de rotações de culturas, de restos de culturas, estercos animais, de

leguminosas, de adubos verdes e de resíduos orgânicos de fora das fazendas, bem como

FRUTAL’2004 7
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de cultivo mecânico, rochas e minerais e aspectos de controle biológico de pragas e

patógenos, para manter a produtividade e a estrutura do solo, fornecer nutrientes par as

plantas e controlar insetos, ervas invasoras e outras pragas” (Ehlers, 1996).

Mas, segundo PASCHOAL (1994), a Agricultura Orgânica pode ser também definida

como sendo “um método de agricultura que visa o estabelecimento de sistemas agrícolas

ecologicamente equilibrados e estáveis, economicamente produtivos em grande, média e

pequena escalas, de elevada eficiencia quanto à utilização dos recursos naturais de

produção e socialmente bem estruturados que resultem em alimentos saudáveis, de

elevado valor nutritivo e livres de resíduos tóxicos, e em outros produtos agrícolas de

qualidade superior, produzidos em total harmonia com a natureza e com as reais

necessidades da humanidade”.

Uma das justificativas mais consistentes sobre a necessidade de se empregar

este modelo agrícola, baseado no uso de recursos naturais (sem emprego de adubos

químicos e agrotóxicos) é a proteção da saúde do agricultor, isto é, o trabalhador que

mais tem sofrido problemas de contaminação e, em alguns casos, até morte pelo uso de

venenos nas lavouras. GARCIA (1996) realizou um abrangente estudo sobre a

segurança e a saúde do trabalhador rural com agrotóxicos, destacando-se os impactos

que estes agentes tem causado sobre a agricultura, o meio ambiente , sobre o aplicador

e o consumidor de alimentos.

8 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1.2. Resumo histórico

1.2.1. A agricultura Moderna

Surgimento no século 18 e 19:

• Primeira revolução agrícola

• Sistemas de rotação, associação de atividades agrícola e pecuária.

Início do Século 20:

• Fertilizantes químicos

• Melhoramento genético

• Motores a combustão

Segunda revolução agrícola: culminou na década de 70 na Revolução Verde.

A “modernização” da agricultura brasileira aumentou a produtividade, mas

provocou sérios danos ambientais (destruição das florestas, erosão, contaminação dos

recursos naturais e de alimentos) e sociais (aumento da concentração de posse da terra;

desemprego; êxodo rural).

1.2.2. Principais movimentos “rebeldes” na agricultura

Início na década de 20, em contraposição às teorias de Justus Von Liebig, que

introduziu a adubação química.

Antes de apresentar as diversas escolas, vale ressaltar o entendimento adequado

do que seja Agroecologia. Algumas diferenças entre elas e o objetivo de cada uma delas

encontra-se na Tabela 1.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Agroecologia - Disciplina cientifica que estuda os agroecossistemas e tem sido

empregada com visão mais ampla do sistema produtivo, não abordando apenas

aspectos tecnológicos, inserindo questões econômicas e sociais.

Tabela 1: Escolas do ramo da Agroecologia, onde se inclui a Agricultura Orgânica.

Escolas Definição

Agricultura Orgânica Surgiu em 1931, na Índia, e seu fundador foi Sir Albert Howard
e aperfeiçoado por Lady Eve Balfour. Dentre as diversas
técnicas de manejo orgânico, a principal característica deste
movimento é o processo ‘Indore’ de compostagem. Howard
demonstrou que um solo provido de altos níveis de matéria
orgânica assegura uma vida microbiana intensa e rica, pela
qual a nutrição e a sanidade das plantas são plenamente
atendidas e os alimentos produzidos são de alto valor
biológico. Recomenda-se, ainda, o uso de plantas de raízes
profundas, capazes de explorar as reservas minerais do
subsolo.
Agricultura Surgiu na França, na década de 60, e seu fundador foi Claude
Biológica ou Aubert. Distingue-se das demais, por recomendar o uso de
Agrobiológica rochas moídas como fertilizantes e por adotar a posição de que
a resistência das plantas ao ataque de predadores e patógenos
e, portanto, a sua saúde e vigor, é determinada pelo equilíbrio
nutricional ou desequilíbrios provocados por agroquímicos
(Teoria da Trofobiose).
Agricultura Surgiu nos Estados Unidos, na década de 70. O iniciadores
Ecológica ou deste movimento foram: William Albrecht, Stuart Hill e Fritz
Agroecológica Schumacher. Outro sucessor, Miguel Altieri, define
Agroecologia como um movimento que incorpora idéias
ambientais e sociais na agricultura, preocupando-se não
somente com a produção, mas também com a “ecologia” do
sistema de produção. Apresenta como características: a busca

10 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
da equidade na distribuição de renda e bens; adaptar a
agricultura ao ambiente e às condições sócio-econômicas;
reduzir o uso de energia e recursos externos à propriedade;
promover a diversificação de plantas, animais e o múltiplo uso
da terra; reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência
e a viabilidade econômica dos pequenos e médios agricultores,
promovendo assim um sistema agrícola diversificado e
potencialmente resistente.
Agricultura Natural Surgiu no Japão, na década de 30, e seu fundador foi Mokiti
Okada. Este orientava não movimentar o solo; que todos os
restos de culturas e palhadas fossem reciclados e o composto
fosse feito unicamente à base de vegetais, sem o uso de
estercos animais. Hoje os adotantes desse sistema de cultivo
utilizam-se de microrganismos efeitvos (EM), aplicados no solo,
nas plantas para prevenção de problemas fitossanitários ou
para inocular o composto orgânico a ser empregado nas
adubações.
Agricultura Surgiu na Alemanha, em 1924, e seu fundador foi Rudolf
Biodinâmica Steiner. A biodinâmica trabalha a propriedade como um
organismo, onde o todo reflete o equilíbrio de suas partes.
Assim, trabalha as relações existentes entre o solo, planta,
animal, homem e o universo e as energias que envolvem e
influenciam cada um e o todo. As técnicas usadas são
similares às da Agricultura Orgânica, acrescentando-se o
emprego de “preparados biodinâmicos” e a adoção de um
calendário agrícola, baseado no movimento da lua ao redor da
terra.
Permacultura Surgiu na Austrália, na década de 70. Seus fundadores foram
Bill Mollison e Dave Hoemgren. A permacultura defende a
manutenção de sistemas Agro-silvo-pastoris, sendo
especialmente adequado às regiões de florestas tropicais e
subtropicais. Não permite nenhuma intervenção no solo, quer

FRUTAL’2004 11
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
seja aração ou gradagem. Não utiliza adubação mineral e nem
composto orgânico. Alterna o cultivo de gramíneas com
leguminosas, deixando sempre uma palhada sobre o solo pelo
manejo de ervas infestantes, através de roçadas.
Outras escolas Além destas escolas descritas acima, existem outras de menor
adoção. Geralmente estes movimentos derivam destas
anteriores:
Método Lemaire-Boucher
Método Jean
Método Rusch-Muller
Método Pain
Método Georges Marron.

1.2.3. O ideal da sustentabilidade

A fragilidade da agricultura moderna

Î Declínio de produtividade pela degradação do solo, erosão e perda de matéria


orgânica.
Î Degradação do ambiente pela poluição através dos agrotóxicos e fertilizantes com
efeitos maléficos em plantas, animais, rios, solo.
Î Contaminação de alimentos e trabalhadores rurais.
Î Aumento da resistência de pragas, doenças e ervas daninhas (Figura 1).
Î Desertificação e sanilização dos solos.
Î Reduzido balanço energético (Figuras 2 e 3).
Î Diminuição da renda do agricultor ao longo dos anos (Figura 4).

12 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A concepção de agricultura sustentável

Existem várias concepções, porém destacam-se alguns conceitos comuns, como os


descritos a seguir:

Î Manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade.


Î Mínimo de impactos ao meio ambiente.
Î Retornos adequados aos produtores.
Î Otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos.
Î Satisfação das necessidades humanas de alimentos e de renda.
Î Atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais.

450
432
400

350

300 300

250

200 185
170

150 140
100
100

50 45
20
5 10 18
0
A-1930 A-1940 A-1950 A-1960 A-1970 A-1980

Figura 1: Números acumulados de espécies resistentes de artrópodes e novos


inseticidas – 1930 a 1980. Fonte: Adaptado de Bull e Hathaway, 1986.

FRUTAL’2004 13
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Balanço energético: 12,5 / 1
Produção de
Ferram entas sem entes
m anuais 7%
3%

Trabalho
hum ano
90%

Aporte de energia: 553.678 Kcal/ha

Saída de energia(colheita): 6.901.200 Kcal/ha

Figura 2: Plantação tradicional de milho de roçado no México. Fonte: Pimentel, 1984.

Balanço energético: 2,9 / 1


Fósforo,
Potássio,
Calcário
Sementes
5,8%
5,3% Adubo
Nitrogenado
Agrotóxicos 26,5%
10,7%

Eletricidade
Secagem 1,1%
17,1%

Transporte
Gasolina, óleo,
0,6%
GLP
Maquinaria Trabalho
21,0%
11,8% humano
0,1%

Aporte de energia: 8.390.750 Kcal/ha


Saída de energia(colheita): 24.333.175 Kcal/ha

Figura 3: Plantação convencional de milho nos EUA.


Fonte: Pimentel, 1984.

14 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
100%
90%
80% Comércio
70%
60%
50%
40%
Produtor
30%
20%
10% Custo de produção
0%
10

20

30

40

50

60

70

80

90
9

9
A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1
Figura 4: Participações relativas no valor total dos alimentos no mercado americano –
1910 a 1990.
Fonte: Smith (1992), citado por Gliessman, 2000.

1.3. Os agrotóxicos e o agricultor

Segundo GARCIA (1996), quando o consumo de agrotóxicos nos países em


desenvolvimento era calculado em 20% do consumo mundial, em 1985, estimava-se que
cerca de 70% das intoxicações agudas eram produzidas nesses países. Em 1990,
quando estimava-se um consumo de 25%, as intoxicações se elevavam para 90%, dos
estimados 3 milhões de casos mundiais, nestes mesmos países. A tendência é que esta
desproporção aumente ainda mais pois, enquanto os países industrializados estão
procurando diminuir as quantidades de agrotóxicos utilizadas, os países em
desenvolvimento deverão aumentar bastante o consumo desses produtos nos próximos
anos. Isto nos preocupa muito pois, o consumo de agrotóxicos na América Latina só
perde para o da África e o Brasil é considerado o maior mercado potencial do mundo.
Para reforçar estas afirmativas, observe um estudo da FUNDACENTRO realizado no
período de 1986/87 na Tabela 2.

FRUTAL’2004 15
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 2: Intoxicações referidas, ocorridas durante a vida laboral, entre a
população que trabalha em contato direto com agrotóxicos. Brasil (1), Junho/1986
a Dezembro/1987.

Intoxicações Número de % em relação ao % em relação ao total


referidas pessoas que total de pessoas da população que
referiram que referiram trabalha em contato
intoxicações intoxicações direto com
agrotóxicos (n=5143)

Uma 917 63,2 17,8

Duas a três 328 22,6 6,4

Quatro ou menos 206 14,2 4,0

Total 1451 100,0 28,2


(1) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

A Organização Mundial da Saúde – OMS, estima que 70% das intoxicações agudas
por exposição ocupacional são causadas por compostos organofosforados e considera,
ainda, que a colinesterase pode ser utilizada como um indicador de exposição, pois há
uma boa correlação entre a exposição a esses inseticidas e a redução da atividade da
colinesterase. A OMS define que 30% de inibição da colinesterase determina nível de
risco.

Em resultados obtidos nos exames de colinesterase (Tabela 3), observou-se que


19,4% dos examinados apresentou alteração laboratorial indicativa da exposição
excessiva a agrotóxicos inibidores de colinesterase (organofosforados e carbamatos).
Outros trabalhos realizados em alguns países latino-americanos encontraram resultados
que variaram de 3 a 18% dos trabalhadores com atividade reduzida de colinesterase.
Trabalhos feitos na Ásia indicam de 24 a 30% dos usuários de agrotóxicos com inibições
excessivas (GARCIA, 1996).

16 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 3: Atividade da colinesterase (1), entre a população que trabalha em
contato direto com agrotóxicos. Brasil (2), Junho/1986 a Dezembro/1987.

Atividade da Colinesterase N.º de Trabalhadores %

Maior ou igual a 75% 4104 79,8

Menor que 75% 998 19,4

Sem informação 41 0,8

Total 5143 100,0


(1) Método de Edson.
(2) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

Outra pesquisa realizada pela FUNDACENTRO apresenta dados de referências a


sintomas pela população direta e indiretamente exposta aos agrotóxicos (Tabela 4). Os
dados mostram que mais da metade da população manifestava sintomas que poderiam
ser relacionados com a exposição a agrotóxicos.

Tabela 4: Referência a sintomas relacionados ao uso de agrotóxicos, entre


trabalhadores e produtores rurais. Brasil (1), Junho/1986 a Dezembro/1987.

Referência População pesquisada %

Sem sintomas 3085 44,8

Com sintomas 3469 50,4


Sem informação 330 4,8

Total 6884 100,0


(2) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

FRUTAL’2004 17
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1.4. Os agrotóxicos e o consumidor de alimentos

No início da década de 60 a publicação de dois livros, Silent Spring, de Rachel


Carson (1962) e Pesticides and the Living Landscape, de Rudd (1964), chamou a
atenção para os aspectos importantes relacionados aos possíveis impactos dos
agrotóxicos à saúde humana, aos animais domésticos, à vida selvagem, à contaminação
dos solos e das águas, às interferências nos ecossistemas e na própria agricultura
(GARCIA, 1996). A consciência dos problemas advindos do uso dos agrotóxicos tem
aumentado significativamente, a exemplo desta pesquisa realizada nos Estados Unidos
há anos atrás (Tabela 5).

Tabela 5: Percentagem de consumidores com grande ou alguma preocupação com


o uso de agrotóxicos. EUA, 1965 e 1984.

Considerações 1965 1984

Pessoalmente preocupado com o uso de 31,6 76,0


agrotóxicos por agricultores

Perigo dos agrotóxicos para o agricultor 15,0 78,7

Perigo das substâncias químicas para a vida 51,8 80,8


selvagem
Perigo para as pessoas que comem frutas e 41,5 71,1
vegetais tratados com agrotóxicos
Fonte: Sachs, 1993.

Cientistas americanos lançaram recentemente um livro que pode ser considerado


uma grande contribuição para a humanidade, chamado “O futuro roubado”, de autoria da
Drª Theo Colborn e colaboradores. Neste livro está destacado os efeitos dos agrotóxicos e
outras substâncias químicas sobre a vida animal, seus acúmulos na cadeia alimentar e o
comprometimento da saúde e reprodução da espécie humana.

18 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
“O Futuro Roubado” oferece uma descrição realista sobre a pesquisa científica

emergente que investiga de que maneira uma ampla variedade de agentes químicos

sintéticos alteram delicados sistemas hormonais. Sistemas estes que tem um papel

fundamental, desde o desenvolvimento sexual humano até a formação do comportamento

da inteligência e o funcionamento do sistema imunológico. Estudos com animais e seres

humanos relacionam os agentes químicos a inúmeros problemas, como a infertilidade e

deformações genitais; cânceres desencadeados por hormônios, como o câncer de mama e

de próstata; desordens neurológicas em crianças, como hiperatividade e déficit de atenção;

e problemas de desenvolvimento e reprodução em animais silvestres.

A edição brasileira é prefaciada pelo Dr. José Lutzemberg e a edição americana

prefaciada por Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos. Muitas informações úteis

podem ser encontradas nesta obra, para a qual vale a pena dedicar uma leitura atenciosa.

A Revista ÉPOCA, em sua edição de 16 de novembro de 1998, divulgou dados de

análises em alimentos realizadas pelo Instituto Biológico de São Paulo e pela

UNESP/Botucatu-SP, onde se confirma que os problemas de contaminação de

alimentos com agrotóxicos continua a passos largos, conforme a síntese contida na

Tabela 6.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 6: Análises da contaminação de alimentos por resíduos de pesticidas
agrícolas – 1998.

Alimentos Verificação em Análises

ALFACE Verificou-se a existência de resíduos de Clorotalonil, um dos


fungicidas mais utilizados na agricultura brasileira.

LEITE Presença de 0,390 mg/Kg do piretróide deltametrina em 10 bovinos


da raça girolândia. O limite máximo permitido é de apenas 0,02 mg/Kg.

TOMATE De 98 amostras analisadas, em 7% delas encontrou-se o fungicida


clorotalonil acima do limite máximo permitido por lei.

MELÃO Em todas as cinco amostras testadas encontrou-se o acefato,


inseticida organofosforado amplamente vetado no Brasil para a
cultura do melão.

UVA Identificados resíduos de endosulfan e de procimidone, cuja


utilização não é permitida para essa cultura.
De um total de 106 amostras analisadas verificou-se que:
- Morangos SEM SELO de qualidade: 34% das amostras
MORANGO apresentaram resíduos de pesticidas não autorizados para a cultura
e 4% delas contaminadas com resíduos acima do limite.
- Morangos COM SELO de qualidade: 3% das amostras com
resíduos acima do limite.

PIMENTÃO Em 37% das 24 amostras testadas foi detectada a presença do


fungicida clorotalonil acima do limite máximo de resíduos autorizado
pela legislação brasileira.

MAMÃO Em 16% das amostras identificou-se a presença do fungicida


clorotalonil, não permitido para esse tipo de cultura.
Fonte: Revista época, 16/11/98, Instituto Biológico e UNESP.

Para ilustrar os riscos e os malefícios dos agrotóxicos para a saúde humana,


verifique algumas complicações no organismo em virtude de doses exageradas dos
resíduos desses compostos químicos identificados nestas análises citadas
anteriormente:

20 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
INTESTINO: Alguns fungicidas, como o clorotalonil, encontrado na alface e em outras
verduras, podem provocar irritação nas mucosas intestinais. Acima do limite permitido,
geram também diarréias.
PERNAS: O metamidofós, inseticida fosforado encontrado com freqüência no morango,
é capaz de produzir atrofia dos membros inferiores e até paralisia temporária.
DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS: Em doses muito elevadas, os pesticidas clorados,
como o endosulfan, aplicados no morango e na uva, podem afetar os sistemas
neuromusculares central e periférico.
CORAÇÃO: A arritmia cardíaca é um dos sintomas de doses elevadas de inseticidas
fosforados. É o caso do clorpirifós, também encontrado na cenoura e morango.

Outra informação que interessa a todos nós, enquanto consumidores de


alimentos, também publicada na Revista ÉPOCA, de 16 de novembro de 1998,
referenciando-se a uma pesquisa realizada pelo instituto Gallup em novembro e
dezembro de 1996, com donas de casa da zona sudoeste de São Paulo, onde se
confirma que, mesmo no Brasil, considerado um país do terceiro mundo, a consciência
do consumidor já é muito expressiva (Tabela 7).

Tabela 7: Pesquisa de opinião com donas de casa, quanto aos produtos


contaminados com resíduos de agrotóxicos. São Paulo, 1996.

Opiniões %
“Fazem mal à saúde e os resíduos não saem na lavagem do alimento”. 49
“Não sei o que são agrotóxicos”. 29
“Fazem mal à saúde, mas os resíduos saem se os produtos forem 12
lavados”.
“Não sei se os resíduos saem ou se fazem mal”. 7
“Os resíduos não são nocivos à saúde”. 3
Total 100

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1.5. Os agrotóxicos e os custos sociais e ambientais

GARCIA (1996) cita que Pimentel e colaboradores fizeram uma avaliação


detalhada dos impactos econômicos e ambientais decorrentes do uso de agrotóxicos nos
EUA. Com base nos dados disponíveis, estimaram que o custo desses impactos seria da
ordem de 8 bilhões de dólares anuais naquele país, conforme a Tabela 8.

Tabela 8: Estimativa dos custos sociais e ambientais conseqüentes do uso de


agrotóxicos nos Estados Unidos.
Impactos Custo (Milhões de dólares)
Impacto na saúde pública 787
Mortes e contaminações de animais 30
Perdas de inimigos naturais 520
Custos da resistência aos agrotóxicos 1400
Perdas de mel e polinização 320
Perdas nas culturas 942
Perdas na pesca 24
Perdas de aves 2100
Contaminações de águas subterrâneas 1800
Regulamentação governamental para prevenir 200
Total 8123
Fonte: Pimentel, 1993.

Ademais, os autores consideram que esses custos são subestimados pois, não incluem
todos os tipos de custos indiretos como, por exemplo, eventos acidentais de
contaminação de pessoas e do meio ambiente, a poluição do solo e custos mais realistas
dos efeitos na saúde humana.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
2. EVOLUÇÃO DA ÁREA, PRODUÇÃO E MERCADO DE ALIMENTOS

ORGÂNICOS:

Esta atividade tem crescido muito no mundo inteiro, principalmente pela

necessidade de preservação ambiental e também pela exigência de toda a sociedade

por alimentos mais saudáveis, não maléficos para a saúde. A Agricultura Orgânica tem

apresentado um crescimento expressivo a nível mundial, principalmente em área

plantada e oferta de produtos. O mercado de produtos orgânicos tem crescido a uma

taxa média de 10% ao ano no Brasil, 20% ao ano nos Estados Unidos e 25% ao ano na

Europa.

2.1. Panorama mundial da área plantada com agricultura orgânica:

A Tabela 1 apresenta o panorama do mercado de alimentos orgânicos, em nível

mundial, revelando uma vertiginosa expansão em vários países, destacando-se a

presença do Brasil em 5º lugar em área orgânica certificada, já totalizando em torno

de 840.000 hectares.

A Tabela 2 destaca a participação relativa das áreas sob produção orgânica em

relação à área agrícola total dos vários países, mostrando que já representa uma

parcela significativa em relação à área agrícola total, especialmente em Lichtenstein com

26,4%, Áustria com 11,6%, Suíça com 10,0%, Itália com 8,0%, Finlândia com 7,0%,

Dinamarca com 6,65%, Suécia com 6,09%, República Tcheca com 5,09%, Reino Unido

com 4,22%, Alemanha com 4,10% e Uruguai com 4,0%. O Brasil, apesar da quinta

posição em área, dada a sua grande extensão territorial aparece apenas na 54ª posição

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
nesta análise, com 0,24% de áreas orgânicas em relação à área agrícola total. A Tabela

3 apresenta o número de produtores orgânicos inseridos nesta atividade em cada país,

destacando-se o México com 53.777, Itália com 49.489 e a Indonésia com 45.000

unidades de produção orgânica certificada. O Brasil aparece na sétima posição com

19.003 unidades.

Apesar destas animadoras estatísticas, a Figura 5 composta por Willer e Yussef

(2004) revela uma forte concentração regional no mercado de alimentos e bebidas

orgânicas, visto que os Estados Unidos representam 51% e a Europa absorve 46%

deste mercado, ou seja, ambos concentram 97% do mercado mundial de alimentos

orgânicos – uma distribuição de forte caráter mercantilista e amplamente injusto no

âmbito social. As Figuras 10, 12, 17, 21, 22, 25 e 31 ilustram a situação da Europa,

mostrando forte evolução em vários países e tendência de estabilização da área em

outros.

A situação do número de unidades de produção e a área orgânica na América

Latina está resumida na Tabela 15. A Argentina lidera com 2.960.000 hectares, seguido

pelo Brasil com 841.749 hectares, Uruguai com 760.000 hectares, Bolívia com 364.100

hectares e Chile com 285.268 hectares. A Tabela 16 mostra a situação em números de

propriedades orgânicas nos Estados Unidos e Canadá, apresentando 3510 e 6949

projetos, que representam 1,30% e 0,23%, respectivamente, em relação à área agrícola

total nestes países.

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2.2. O mercado orgânico na América Latina e no Brasil:

As estatísticas sobre o mercado orgânico na América Latina e no Brasil ainda são


muito escassas e apresentam uma variação muito acentuada nos dados.
Em geral, os dados latino-americanos sobre a produção orgânica permitem que
sejam feitas algumas considerações finais. A maioria dos países da América Latina não
possui uma legislação eficiente, que regulamente a produção e comercialização de
alimentos orgânicos. Alguns países como o Brasil, Chile e Paraguai já iniciaram o
processo de regulamentação. A Argentina, que hoje é o país mais desenvolvido no setor
orgânico da América Latina, já estabeleceu seu regulamento em 1994. Também a Costa
Rica já possui uma regulamentação nacional para a produção orgânica.
O fato de não haver um processo legal na maioria dos países, faz com que a
produção para exportação seja certificada por empresas estrangeiras, sobretudo
companhias americanas e européias. Este procedimento torna o custo de certificação
muito alto e, em muitos casos, acaba sendo um entrave para a expansão do mercado.
Apesar de a maior parte da produção orgânica ser destinada à exportação, alguns
países da América Latina apresentam um grande potencial para expansão do mercado
interno, sobretudo por meio de feiras livres, lojas especializadas e supermercados, como
é o caso do Brasil, Argentina, Chile, Equador, México e Uruguai.
A venda em supermercados tem crescido substancialmente. Atualmente, podem
ser encontrados produtos orgânicos em supermercados no Uruguai, Costa Rica,
Honduras, Peru, Brasil e Argentina. Os produtos processados ainda são encontrados em
menor escala, sendo um mercado promissor para a América Latina. Atualmente, a
Argentina é o país com a maior produção de alimentos orgânicos industrializados (sucos
concentrados, óleos, vinhos, chás, frutas secas, condimentos, etc.).
Em resumo, podemos dizer que a rapidez de expansão da agricultura orgânica na
América Latina dependerá, entre outros fatores, de uma legislação eficiente adaptada às
condições regionais de cada país, que garanta que o produto é orgânico; de processos
de certificação mais eficientes e participativos, que considerem não só aspectos
tecnológicos, mas também sociais; da organização dos circuitos de comercialização
(agricultores, transformadores, distribuidores, fornecedores e consumidores); do apoio
governamental por meio de políticas que apoiem e incentivem a conversão dos
agricultores convencionais em orgânicos; além da valorização e investimento em centros

FRUTAL’2004 33
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de pesquisa, ensino e extensão, que permitam o resgate de conhecimentos dos
agricultores tradicionais latino-americanos para impulsionar o sistema orgânico.

2.3. A consciência do consumidor:

O entendimento dos problemas diversos do modelo agroquímico de produção


agrícola que praticamos hoje, aliado às vantagens marcantes do consumo de alimentos
orgânicos, de elevado valor biológico e sem contaminantes químicos danosos à saúde,
tem proporcionado uma rápida mudança na visão dos consumidores. Verifique os
resultados das pesquisas de opinião nas Tabelas 10, 11 e 12.

Tabela 10: Garantias ecológicas influenciam bastante - Incitação na compra de


produtos em %. França, 1996.

Característica Porcentual

O produto tem garantias de higiene e segurança 84

O preço é competitivo 81

O produto é fabricado na França 74

O produto porta um sinal de qualidade 71

A marca inspira confiança 68

O produto tem garantias ecológicas 64

O produto é fabricado na minha região 59

O fabricante defende causas humanitárias 51

O produto é fabricado na Europa 49

Fonte: Igia. O Agribusines Europeu. In: Agroanalysis, dez. 1996.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 11: Leitura das etiquetas sobre a composição dos produtos alimentares.
França, 1996.

Ação Porcentual

Não, jamais 0,6


Não, raramente 16,0
Sim, de tempos em tempos 37,0
Sim, freqüentemente 30,0
Sistematicamente 11,0
Total dos que lêem 78,0
Fonte: Igia. In: Agroanalysis, dez. 1996.

Tabela 12: Os principais atributos dos alimentos, em %, na EUROPA – 1996.

Países do Norte Países do Sul


Atributos

Natural 46,6 73,1

Saudável 73,1 48,6

Nutritivo 26,7 35,0

Barato 9,1 4,7

Sem substâncias tóxicas 64,8 57,6

Vitaminas e Sais Minerais 38,9 28,1

Fonte: Wageningen Agricultural University. In: Agroanalysis, dez. 1996.

Mesmo reconhecendo que, nos últimos anos, se constata uma crescente


sensibilização por parte dos consumidores acerca das consequências de suas decisões
de compra sobre o meio ambiente em geral, e sobre sua saúde, existem alguns fatores
que provocam entraves à uma expansão mais rápida da agricultura orgânica.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em um artigo divulgado na página WWW.infoagro.com, em maio de 2002,
intitulado: “Efeito de la información en la aceptación de los productos ecológicos: um
enfoque experimental”, trabalho este realizado na Espanha, concluiu-se que o principal
obstáculo para o desenvolvimento deste mercado, radicava em dois aspectos: ‘escassa
disponibilidade do produto ecológico em estabelecimentos convencionais’ e os
‘elevados preços de venda’, superiores à disposição do consumidor em pagar pelo
atributo ecológico.

3. NECESSIDADE DE SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE PRODUÇÃO DE


FRUTAS

A fruticultura está se tornando um dos segmentos mais importantes do


agronegócio brasileiro. Verifica-se, nos últimos anos, uma mudança no hábito alimentar
da população mundial, marcada pelo crescimento do consumo de frutas e hortaliças,
alimentos considerados indispensáveis para uma melhor qualidade de vida.
Além do aumento do consumo de frutas, observa-se maior exigência do
consumidor quanto à qualidade dos alimentos adquiridos. Assim, a demanda por frutas
isentas de resíduos químicos e de elevado valor nutricional tem aumentado
significativamente, tanto no mercado interno quanto no externo, o que tem motivado
muitos fruticultores a converter parte de sua produção convencional em orgânica.
Atualmente, o elevado preço das frutas orgânicas constitui o principal incentivo ao
desenvolvimento da fruticultura orgânica. Entretanto, o maior desafio desse novo modelo
a ser construído é a produção de frutas competitivas no mercado consumidor, tanto em
relação à qualidade quanto ao preço.
A qualidade dos alimentos provenientes da agricultura convencional tem sido
questionada. Aspectos relativos a teores de nutrientes, nitrato, vitaminas, proteínas,
matéria seca, perecibilidade pós-colheita, aroma, sabor, em alimentos produzidos de
forma diferenciada (hidroponia, cultivos convencional e orgânico), têm sido estudados. A
influência de outros fatores, como condições edafoclimáticas de cultivo, espécie e
variedade utilizadas, forma e nível de adubação, dentre outros, têm gerado resultados
que ainda precisam ser melhor avaliados. Entretanto, a presença de resíduos tóxicos em
frutas provenientes de sistemas convencionais de produção é fato inquestionável,
principalmente em países subdesenvolvidos, onde o controle da qualidade dos alimentos
produzidos e consumidos não constitui uma rotina.Verifica-se, nesse quadro, que

36 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
morango, goiaba e pêssego são as frutas com maior número de amostras contaminadas
por resíduos de agrotóxicos, muitos dos quais não registrados para a cultura. O elevado
número de amostras contaminadas está associado ao excessivo número de
pulverizações realizadas durante o ciclo da cultura. Na maioria das vezes, os agrotóxicos
são aplicados indiscriminadamente, sem se avaliar a real necessidade de controle da
praga ou doença. Estes dados mostram total falta de orientação técnica e de fiscalização
por parte dos órgãos governamentais responsáveis.
O relatório Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil – GEO Brasil, recentemente
publicado pelo IBAMA, em 2002, apresenta o seguinte texto sobre a gravidade do uso de
agrotóxicos no Brasil: “O uso dos agrotóxicos no Brasil foi incentivado por uma política
oficial de condicionar o crédito rural à utilização obrigatória de agrotóxicos. Esta situação
é responsável por inúmeras mortes por intoxicação aguda de trabalhadores rurais. O
Sistema de Informação Tóxico-farmacológica (SINTOX) observou, no ano de 1999, 398
óbitos por exposição aos agrotóxicos. Desses, 140 foram considerados de origem
ocupacional. Este tipo de dado não reflete a realidade, uma vez que o registro apresenta
subnotificação considerável, em razão da pequena cobertura do sistema de coleta de
dados a nível nacional, que só dispõe de 29 centros, a maioria localizada nas capitais
(SINTOX, 2002).
A Organização Mundial de Saúde informa que 70% das intoxicações humanas
por agrotóxicos ocorrem nos países em desenvolvimento (OMS, 1995). Alguns trabalhos
que procuram avaliar os níveis de contaminação ocupacional por agrotóxicos, em áreas
rurais brasileiras, têm relatado níveis de contaminação humana que variam de 3 a 23%
[Almeida & Garcia, 1991, Faria et al, 2000, Gonzaga et al., 1992]. Esse mesmo relatório
afirma que o envolvimento de jovens e crianças no trabalho e o fato da grande maioria
das famílias morar na proximidade das áreas de cultivo facilitam a exposição por via
ambiental e faz com que mulheres, em todas as fases da vida, e crianças, mesmo antes
do nascimento, estejam continuamente expostas a estes agentes químicos. Moreira et
al. (2002) relatam a contaminação de 17% de trabalhadores jovens e crianças (de 7 a 17
anos) por pesticidas anticolinesterásicos (organofosforados e carbamatos) em uma
região agrícola do Estado do Rio de Janeiro, evidenciando a seriedade desse problema.

FRUTAL’2004 37
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Essa situação torna-se ainda mais preocupante quando se sabe que vários
pesticidas dessas e de outras classes, igualmente utilizadas no meio rural brasileiro, são
suspeitos de produzirem efeitos endócrinos que se manifestarão tardiamente ou mesmo
em gerações futuras. Dentre esses pesticidas pode-se citar, por exemplo, o mancozeb
(inibidor tiroidiano em ratos, goitrogênico), o maneb e o metamidofos (redutor da
contagem espermática e da viabilidade) [Coco, 2002]. Um estudo epidemiológico
realizado a partir de dados coletados em 11 estados brasileiros, correlacionando as
vendas de pesticidas em 1985 e desordens reprodutivas humanas observadas na
década de 90, mostra associação positiva sugerindo uma correlação entre estes dois
fatores” (Koifman et al., 2002).
Estudos mais aprofundados a cerca dos efeitos dos agrotóxicos sobre a fertilidade
do homem e de animais silvestres, o aumento de incidência de diversos tipos de câncer
(próstata, mama, colo de útero) e as anomalias na espécie humana podem ser
encontrados no livro Futuro Roubado (Colborn et al., 1997).
Diante do exposto, o desenvolvimento de uma fruticultura mais sustentável, capaz de
produzir frutas de alta qualidade biológica e sem resíduos tóxicos, a um preço
competitivo, é uma necessidade urgente.
Nos sistemas orgânicos de produção não somente a sustentabilidade econômica,
mas também a sustentabilidade social, ambiental e cultural devem ser alcançadas, ou
seja, enquanto na produção convencional é dada ênfase à sustentabilidade econômica,
alcançada por meio da adição constante de insumos dos mais variados tipos (muitos dos
quais agressivos ao meio ambiente e à saúde do homem) ao sistema produtivo, na
produção orgânica a sustentabilidade é enfocada de modo integrado às dimensões
sociais, econômicas e ambientais. Assim, suas práticas partem de uma concepção que
considera o contexto socioeconômico e cultural das pessoas envolvidas na produção,
além do respeito ao direito da população de consumir alimentos saudáveis.
Na sua dimensão ambiental, a sustentabilidade da agricultura orgânica está
relacionada com sua fundamentação em princípios ecológicos, como a utilização de
espécies e variedades adaptadas à zona agroecológica, a conservação da
biodiversidade e a recuperação e manutenção da fertilidade do solo mediante processos
biológicos, manejo natural, biológico e cultural de pragas, doenças e plantas invasoras.
Comparativamente ao método convencional, o sistema orgânico de produção de
alimentos é considerado ambientalmente mais sustentável, pelo fato de otimizar o uso

38 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
dos recursos naturais locais (biodiversidade, solo, água, energia solar), ser menos
dependente de insumos externos e minimizar o uso de fontes de energia não-renováveis.
A agricultura orgânica, dependendo da forma como é praticada, também pode
afastar-se da sustentabilidade, em menor ou maior grau. Atualmente, pode-se dizer que
existem dois tipos de agricultura orgânica, aquela baseada em princípios agroecológicos
(agricultura orgânica agroecológica ou sustentável) e a baseada no uso intensivo de
insumos orgânicos e naturais (agricultura orgânica de substituição de insumos), praticada
mais intensamente por aqueles interessados em explorar o novo nicho de mercado de
alimentos orgânicos. Na Tabela 13, Altieri (2002) procurou caracterizar os sistemas
convencional, de substituição de insumos e agroecológico, nos aspectos econômicos,
ambientais, sociais e culturais. Verifica-se que os sistemas agroecológicos são menos
dependentes de insumos externos (petróleo, sementes melhoradas, adubos químicos e
agrotóxicos), necessitam de menos capital e mais mão-de-obra. Devido a essas
características, apresentam maior sustentabilidade, sendo praticados principalmente por
agricultores familiares.

FRUTAL’2004 39
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 13 - Características dos sistemas convencional, de substituição de insumos
e agroecológico

40 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Os sistemas orgânicos baseados na substituição de insumos, apesar de
proporcionarem a produção de alimentos livres de resíduos tóxicos, apresentam
geralmente alta dependência de insumos externos, o que os torna menos sustentáveis
que os sistemas agroecológicos. Na Tabela 14, o elevado consumo de energia não
renovável no sistema orgânico da Califórnia indica que esse sistema está baseado no
uso intensivo de máquinas, equipamentos e insumos permitidos pelas certificadoras,
portanto, trata-se de uma agricultura orgânica baseada na substituição de insumos. Ao
contrário, o baixo aporte de energia não-renovável ao sistema orgânico em Nanjing, na
China, indica a presença de uma agricultura orgânica mais sustentável.

Tabela 14 – Medidas de uso de energia em quatro sistemas de produção de


morangos*

Energia no Sistema Califórnia - EUA Nanjing - China

Orgânico Convencion Orgânico Convencion


al al

Aporte total de energia 111,6 79,8 44,7 16,7


6
(x10 kcal/ha)

Aporte de energia não- 57,3 98,0 2,7 43,1


renovável (% total)

Saída total para o mercado 14,1 20,7 3,4 2,9


6
(x10 kcal/há)

Saída/aporte 0,13 0,26 0,076 0,17

Saída/aporte não-renovável 0,22 0,26 2,8 0,4

*Médias de três anos de estudo


Fonte: Gliessman (2000).

FRUTAL’2004 41
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Além do aspecto ambiental, a sustentabilidade dos sistemas orgânicos de
produção integra também o âmbito social, mediante a valorização das práticas
tradicionais de cultivo, incorporação dos agricultores ao processo de desenvolvimento de
novas tecnologias para o meio rural, fortalecimento dos mercados locais e a formação de
cooperativas e associações de produtores rurais, dentre outras ações. Esse conjunto de
medidas tem proporcionado, em muitos casos, maior sustentabilidade econômica a
esses sistemas de produção, uma vez que uma fatia maior da renda gerada na cadeia
produtiva permanece no meio rural ou na própria região.
A sustentabilidade econômica, principal pilar da fruticultura convencional, também
tem sido questionada. Ao longo dos últimos anos, a receita líquida dos fruticultores vem
reduzindo, em função dos elevados custos dos insumos utilizados (adubos químicos,
agrotóxicos, máquinas, equipamentos, energia, água para irrigação). Grande parte da
renda gerada em toda a cadeia produtiva tem ficado do lado de fora da porteira. O
produtor, aquele que corre os maiores riscos em todo o processo produtivo, tem recebido
as menores remunerações. Segundo informações procedentes de empresas ligadas à
comercialização de agroquímicos, somente o controle de ácaros que ocorrem em quase
todas as regiões citrícolas do Brasil tem gerado gasto da ordem de 90 a 100 milhões de
dólares/ano (Alves et al., 1999).
Apesar de o processo de conversão de sistemas convencionais para orgânicos
iniciar-se pela eliminação total do uso de insumos químicos sintéticos, o estabelecimento
de sistemas orgânicos de produção de frutas constitui uma tarefa complexa, que requer
profundos conhecimentos agronômicos e ecológicos.
No planejamento, na implantação e no manejo de sistemas orgânicos sustentáveis
de produção, princípios agroecológicos básicos, como uso de espécies adaptadas às
condições agroecológicas locais, diversificação do ambiente de cultivo, ciclagem de
nutrientes, nutrição equilibrada das plantas, otimização do uso dos recursos locais,
dentre outros, precisam ser respeitados, pois, caso contrário, estarão sendo construídos
sistemas orgânicos insustentáveis, semelhantes ao modelo praticado na agricultura
convencional. Particularidades regionais e da propriedade rural, como recursos materiais
e humanos disponíveis, também devem ser consideradas.

42 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4. BASES, PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS PARA SISTEMAS ORGÂNICOS

4.1. A construção do agroecossistema produtivo e a conversão

Ecossistema é um sistema funcional de relações entre organismos vivos e seu


ambiente, delimitado arbitrariamente , mantendo um equilíbrio dinâmico e estável, no
espaço e no tempo. A manipulação e a alteração humanas dos ecossistemas, com o
propósito de estabelecer uma produção agrícola, tornam os Agroecossistemas muito
diferentes dos ecossistemas naturais, ao mesmo tempo que conservam processos,
estruturas e características semelhantes.
Os agroecossistemas, comparados aos ecossistemas naturais, têm muito menos
diversidade funcional e estrutural, além do que, quando a colheita é o enfoque principal,
há perturbações em qualquer equilíbrio que se tenha estabelecido, e o sistema só pode
ser mantido se a interferência externa com trabalho e insumos for mantida.
O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar características
semelhantes às de ecossistemas naturais, mantendo uma produção a ser colhida. Um
agroecossistema que incorpore as qualidades de ecossistemas naturais de estabilidade,
equilíbrio e produtividade, assegurará melhor a manutenção do equilíbrio dinâmico
necessário para estabelecer uma base ecológica de sustentabilidade. Nesse sentido,
GLIESSMAN (2000) propõe os seguintes princípios orientadores para a conversão de
propriedades agrícolas a sistemas agroecológicos.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA CONVERSÃO

O processo de conversão pode ser complexo, exigindo mudanças nas práticas de


campo, na gestão da unidade de produção agrícola em seu dia–a–dia, no planejamento,
marketing e filosofia. Os seguintes princípios podem servir como linhas mestras
orientadoras neste processo geral de transformação:

¾ Mover-se de um manejo de nutrientes, cujo fluxo passa através do sistema, para um


manejo baseado na reciclagem de nutrientes, como uma crescente dependência em

FRUTAL’2004 43
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
relação a processos naturais ,tais como a fixação biológica do nitrogênio e as
relações com micorizzas.

¾ Usar fontes renováveis de energia, em vez das não renováveis.

¾ Eliminar o uso de insumos sintéticos não renováveis oriundos de fora da unidade


produtiva, que podem potencialmente causar danos ao ambiente ou à saúde dos
produtores, assalariados agrícolas ou consumidores.

¾ Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem
naturalmente, em vez de insumos sintéticos manufaturados.

¾ Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, em vez de “controlá-las”.

¾ Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer naturalmente na unidade


produtiva, em vez de reduzi-las ou simplificá-las.

¾ Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e o potencial


produtivo e as limitações físicas da paisagem agrícola.

¾ Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e genético das espécies de


plantas agrícolas e animais às condições ecológicas da unidade produtiva, em vez de
modificá-la para satisfazer as necessidades das culturas e animais.

¾ Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

¾ Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no desenho e manejo geral do


agroecossistema.

Essa etapa ou fase do processo, contempla pelo menos três dimensões principais:
educativa, biológica e normativa.

44 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A primeira, a dimensão educativa, constitui-se na mais importante, uma vez que o
Homem, enquanto espécie animal (Homo sapiens sapiens) representa o início, o meio e
o fim. Está portanto, na mudança da percepção humana o desencadeamento do
processo de desenvolvimento – um processo de mudança, que neste caso, representa a
conversão do modelo convencional ao processo agroecológico ou agroecossistema,
pois, é na mente humana que tudo acontece em primeiro lugar. Portanto, a conversão,
em primeiro lugar deverá ser das pessoas, do homem. Deveremos pois, nos tornarmos
agroecologistas – transformar transformando-se - para que o processo seja efetivo.
Os ecossistemas agrícolas, nada mais são do que a exteriorização das
concepções que o homem possui. O quadro mental dominante, resultou no modelo
convencional, centrado na tecnologia por produto, na produtividade, no resultado
econômico-financeiro. É aqui que deveremos concentrar nossos esforços, se queremos
implementar a concepção de agroecossistemas, centrada no problema, no processo, no
homem, na pessoa, na família, no holos.
Portanto, cada uma das dimensões contempladas, está fortemente associada
umas às outras e, por isso, devem ocorrer simultaneamente, até que se fortaleçam, num
processo sinérgico de interações em rede.
A dimensão biológica compreende, basicamente, a restauração da qualidade e
saúde do solo, assim como da sua biodiversidade, (tanto acima como abaixo da sua
superfície). A rotação de culturas e a adição de matéria orgânica, que pode vir das
plantas de cobertura, dos estercos, dos compostos, etc..., são condições indispensáveis
para se atingir a plenitude neste caso.
Em relação à dimensão normativa, é importante observar as regras que orientam
a obtenção do selo de qualidade orgânica. De uma maneira geral, estas normas
obedecem a:
- Um período de carência que vai até 2-4 anos entre a utilização das práticas
convencionais e a adoção da agroecologia;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos que não são permitidos: neste
contexto encontram-se os agrotóxicos e os fertilizantes de síntese química,
especialmente os nitrogenados;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos tolerados, a critério da organização
certificadora;

FRUTAL’2004 45
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos recomendados, onde incluem-se a
ciclagem e reciclagem de nutrientes e de biomassa, o controle de biológico, a rotação
de culturas, as plantas de cobertura, adubação orgânica (verde, estercos e compostos),
além, é claro, da recuperação, proteção e conservação dos recursos naturais, como o
solo, a água, a fauna e a flora nativa, entre outros aspectos, onde se inclui o harmônico
relacionamento entre os membros da família.
Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma seqüência
lógica e explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto basicamente constituí-se
de um diagnóstico de toda a propriedade, levantando todos os recursos disponíveis,
além das relações sociais e comerciais que esta mantém, assim como a ocupação da
área e o seu respectivo rendimento físico e econômico.
Neste diagnóstico são identificadas as principais dificuldades/entraves assim
como o potencial da propriedade. Nesta fase, são identificadas as necessidades do
agricultor, incluindo a sua capacitação. O projeto deve incluir um cronograma e um
fluxograma entre as atividades estabelecendo-se metas claras e viáveis.
O aspecto comercial é também, extremamente, importante neste processo. Um
projeto bem feito não poderá prescindir desta fase ou etapa. Os “canais” de
comercialização devem ser previamente identificados e definidos.
A certificação é também necessária para assegurar direitos aos agricultores de um
produto diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando tiver cumprido os
prazos e prescrições previstas nas normas, quando estarão habilitados a receber o selo
de qualidade”.

4.2. Procedimentos e práticas utilizadas no planejamento, na instalação e no


manejo de pomares orgânicos

Para a implantação e condução de pomares orgânicos sustentáveis, torna-se


indispensável um conjunto de práticas e procedimentos que irão proporcionar maior
sustentabilidade (longevidade) aos sistemas produtivos. A seguir, serão enfocados essas
práticas e esses procedimentos.

46 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.1. Espécies adaptadas às condições agroecológicas locais

Um aspecto primordial na agricultura orgânica é a escolha de espécies adaptadas


às condições agroecológicas locais, o que proporciona maior sanidade às culturas e,
conseqüentemente, menor necessidade de intervenção humana. Variedades e
cultivares resistentes ou tolerantes às doenças e pragas de maior importância para a
cultura devem ser utilizados. É recomendável que o agricultor selecione continuamente
materiais mais bem adaptados às suas condições de cultivo. A seleção deve ser feita
baseada nos seguintes critérios: adaptabilidade da espécie às condições locais de
cultivo, produtividade, resistência ou tolerância a determinadas pragas e doenças,
qualidade do fruto, vida pós-colheita e aceitação no mercado.
Pensar que em sistemas orgânicos de produção devem ser utilizados somente
cultivares ou variedades tradicionais pouco produtivos não é correto. Muitos cultivares
modernos, produtivos e resistentes a determinadas pragas ou doenças, têm respondido
bem ao sistema orgânico e devem ser utilizados na medida do possível.
Enquanto a fruticultura convencional trabalha no sentido de artificializar o
ambiente natural, mediante o uso de insumos externos à propriedade (adubos químicos,
agrotóxicos, irrigação, máquinas e implementos agrícolas), para corrigir possíveis
obstáculos, a lógica a ser seguida na fruticultura orgânica sustentável é o cultivo de
espécies e variedades bem adaptadas às condições ecológicas de cultivo.

4.2.2. Diversificação do ambiente de cultivo

A diversificação do ambiente de cultivo é um procedimento-chave a ser


considerado no desenho de sistemas orgânicos. O manejo adequado das plantas
espontâneas dentro e no entorno das áreas de cultivo, o plantio de espécies leguminosas
fixadoras de nitrogênio, a diversificação espacial e temporal das culturas e a utilização de
consórcios e cultivos múltiplos possibilitam a otimização do uso dos recursos produtivos
(solo, água, biodiversidade, energia solar) e, ao mesmo tempo, o aproveitamento das
interações benéficas proporcionadas pelo sinergismo entre as espécies, que atuam
dificultando o acesso e estabelecimento de pragas e doenças às áreas cultivadas e
rompendo o ciclo reprodutivo de patógenos, que nas condições tropicais podem
permanecer no sistema de um cultivo para o outro. Em regiões de clima temperado, a

FRUTAL’2004 47
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
ocorrência de baixas temperaturas e a formação de gelo em determinada época do ano
quebra o ciclo das doenças e pragas.
Sistemas agrícolas diversificados aumentam a populações de inimigos naturais e,
consequentemente, as interações predador-presa, parasita-hospedeiro e patógeno-
hospedeiro. As plantas espontâneas servem de refúgio e fonte de alimentos para muitos
organismos benéficos aos sistemas agrícolas. Indicam também falhas no manejo dos
solos. Por exemplo, o amendoim-bravo (Euphorbia heterophyla) indica deficiência de
molibidênio, o guanxuma indica presença de camada compactada em pouca
profundidade (Primavesi, 2001).
A presença de agentes de controle biológico natural de pragas está associada a
alta biodiversidade dentro e próximo das áreas de cultivo, onde esses organismos
encontram alimento e sítios para sobrevivência e reprodução. A conservação e
recomposição de matas ciliares e de topo próximas às áreas de cultivo, bem como o
plantio de quebra-ventos, também são fatores que contribuem para o aumento da
diversificação ambiental.

4.2.3. Zoneamento dos ambientes favoráveis às culturas

Na propriedade, o zoneamento dos ambientes favoráveis às culturas que se


deseja cultivar constitui uma ação indispensável ao desenvolvimento de sistemas
sustentáveis de produção. Espécies exigentes em exposição solar plena (ex. frutíferas de
um modo geral) devem ser plantadas em áreas bem expostas ao sol. Aquelas adaptadas
a condições de sombreamento parcial (café, cacau, cupuaçu) devem ocupar áreas com
menor exposição solar. Espécies como mangueiras e goiabeiras, que são menos
exigentes em relação à qualidade de solo, podem ocupar diversas áreas dentro da
propriedade, enquanto outras, como mamão e abacaxi, devem ser cultivadas somente
em áreas com solos mais leves e de fácil drenagem. Esse procedimento contribui para a
obtenção de plantas mais saudáveis, havendo menor necessidade de intervenção
humana.

48 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.4. Propagação de plantas em sistema orgânico

Quanto à produção de mudas para sistemas orgânicos, algumas informações e


cuidados são fundamentais para o sucesso da produção. O sistema de produção de
mudas recomendado para cada cultura deve ser observado no detalhamento do manejo
de cada espécie. Porém, algumas recomendações gerais estão descritas a seguir.
A propagação das plantas pode ser realizada via semente botânica ou utilizando-
se de partes das plantas do cultivo anterior (rebentos, tubérculos, bulbos, ramas, etc.), a
qual chamamos de propagação vegetativa. Em sistema orgânico, evitar problemas
futuros é uma necessidade e, portanto, deve-se estar atento a alguns critérios
fitossanitários e de seleção genética, como:

• Evitar a utilização de partes das plantas que apresentaram sintomas de doenças ou


que, mesmo visualmente sadias, tenham originado de campos que apresentaram
problemas com fungos de solo (como Fusarium, Esclerotinia), com Bacteriose ou
murchadeira (como Pseudomomas, Ralstonia), com viroses, com nematóides, dentre
outros.

• Utilizar sementes ou partes de plantas, de indivíduos identificados durante a fase


vegetativa e na fase de colheita, que apresentaram aspecto de elevado vigor,
fenótipo característico da espécie ou variedade, elevado padrão comercial do
produto, de forma a proceder uma “seleção positiva”, com ganhos de adaptabilidade
ao sistema, ao longo dos anos.

• Quando necessário, proceder o tratamento das mudas antes do plantio, através da


imersão em biofertilizante líquido, hipoclorito de sódio (água sanitária), etc,
especialmente para a prevenção de problemas com brocas, nematóides e doenças.

• Proceder a quebra de dormência de sementes e o pré-enraizamento de mudas, para


algumas espécies, conforme as recomendações específicas para cada cultura.

• Respeitar os critérios de propagação e seleção da cada espécie.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Produção de mudas em ambiente protegido (estufas e viveiros):

A formação de mudas é uma fase muito importante que define o sucesso do plantio
(Figura 5). Produzir mudas em estufas ou viveiros, permite vantagens fundamentais,
como por exemplo:
- proteção contra excesso de chuvas;
- diminuição da incidência de pragas (pulgões, lagartas, grilos) e doenças;
- formação de mudas em menor tempo;
- obtenção de mudas mais uniformes.

Figura 5. Produção orgânica de mudas de fruteiras – UFV, 2002.

Local de instalação da estufa:

A definição correta do local de instalação da estufa para a produção de mudas e o


respeito a alguns critérios técnicos, pode facilitar sobremaneira a operacionalidade do
sistema e elevar a eficiência, se observados os seguintes fatores:

50 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
1º. Local plano ou com pequeno declive, sem problemas de drenagem e com boa
insolação;

2º. Evitar sombreamento de árvores ou construções;

3º. Proximidade de uma fonte de água de boa qualidade;

4º. Em áreas sujeitas a ventos fortes, posicionar a estufa com sua parte frontal no
sentido do vento predominante;

5º. Dependendo do tamanho e da quantidade de módulos de estufas, pode ser


necessário implantar quebra-ventos para evitar danos à estrutura e ao plástico. Os
mesmos devem ter uma permeabilidade de 50%, para apenas reduzir a força do
vento, sem interromper por completo a ventilação. Podem ser empregadas árvores
de grande porte (porém, a uma distância suficiente que evite o sombreamento
excessivo), árvores ou arbustos de crescimento rápido e menor porte (como
bracatinga, leucena e guandu) ou telas plásticas ou sombrites.
Lembre-se: Um bom quebra-vento, pode fornecer proteção (zona de calmaria) a
uma distância proporcional a 10-20 vezes sua altura.

6º. Posicionamento da estufa para melhor aproveitamento da luminosidade. O ideal é o


sentido Leste-Oeste, sendo que os fatores inclinação do terreno e ventos também
serão determinantes e nem sempre será possível construí-la neste sentido.

Substrato:

Atualmente já existe no mercado brasileiro diversos tipos de substratos orgânicos,


apropriados para a aplicação na formação de mudas para sistemas orgânicos de
produção de hortaliças. O agricultor deve avaliar para sua realidade, os mais adequados,
principalmente com relação aos custos de aquisição, pois muitas vezes se pode produzir
seu próprio substrato a custos muito baixos, pois originando-se de processos
fermentativos a alta temperatura, como na compostagem, até a desinfecção pode ser
dispensada.

FRUTAL’2004 51
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Estudando-se várias concentrações de composto orgânico em mistura com terra,
como substrato para formação de mudas de tomate, concluiu-se que as melhores mudas
são obtidas usando-se composto puro peneirado ou em mistura com terra na proporção
de 1:1. Menores quantidades de composto comprometem significativamente a qualidade
e o padrão das mudas (Tabela 15).

Tabela 15: Efeito de substratos orgânicos na formação de mudas de tomate.


EMCAPER/EEMF, 19961. Média de 2 anos. EMCAPER/CRDR -1997
.
Folhas
Stand Torrões Massa Massa %
Substratos Final inteiros no Verde Seca M.S.
Transplantio
(%) (g) (g)
Terra Pura 18,5 6,7 e 3,7 e 0,57 e 16,0 a
Composto/Puro % 20,1 97,2 a 52,6 a 6,0 a 13,2 c
Terra/Composto 19,8 84,6 b 32,7 b 4,4 b 14,8 b
Terra/Composto 19,2 60,6 c 20,4 c 2,9 c 15,0 b
Terra/Composto 19,8 49,6 d 14,4 d 2,1 d 14,8 b
C.V.(%) 10,9 34,4 47,6 33,4 11,4
1
Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de
DUNCAN a 5%.

O substrato orgânico próprio, caso não se origine de um processo de fermentação


a altas temperaturas (como ocorre durante a compostagem), pode exigir algum método
de desinfecção de patógenos. Nesse sentido, a solarização vem sendo estudada e
empregada em escala cada vez maior por pesquisadores e produtores de mudas.
A solarização pode ser realizada em um piso de cimento limpo, espalhando-se
uma camada de substrato umedecido (mínimo de 50% de umidade para gerar mais
calor), com no máximo 10 cm de altura. Em seguida, cobre-se todo substrato com lona
plástica preta ou transparente, fechando-se bem as bordas do plástico com areia ou
terra, mantendo-se assim por um período mínimo de 3 dias ensolarados.

52 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A solarização também pode ser feita em um coletor solar, que segundo
EMBRAPA/CNPMA (2002), é um equipamento de funcionamento simples e construção
barata, que tem por finalidade controlar os fungos, bactérias e algumas sementes de
planta (Figura 6). Normalmente, em um dia de sol, a temperatura dentro do aparelho
chega a 90 graus, o que é suficiente para matar os fungos mais comuns como Sclerotinia
sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Verticillium e Rhizoctonia solani entre outros, pois são
todos sensíveis ao calor.
O coletor consiste em uma caixa de madeira com tubos de metal (ferro
galvanizado, alumínio, cobre, tubo de irrigação usado, etc.) e uma cobertura de plástico
transparente que permite a entrada de raios solares. O solo é colocado nos tubos de
metal pela abertura superior e, após o tratamento, retirado pela abertura inferior, por
gravidade. Este modelo permite tratar 120 litros de substrato por vez. Os coletores
devem ser instalados com exposição na face Norte, com ângulo de inclinação de 10º
mais a latitude local.

Figura 6. Solarizador e Coletor Solar (EMBRAPA-Meio Ambiente/Divisão de Engenharia


Agrícola do Instituto Agronômico de Campinas (DEA –IAC).

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Manejo e tratos culturais das mudas:

Irrigação:

O fornecimento de água, desde a semeadura, deve ser criterioso para evitar


perdas ou formação de mudas de baixa qualidade. Excesso de água prejudica o
enraizamento, provoca aumento de doenças de solo que causam
tombamento/murchamento das mudas (Rhizoctonia, Pythium, etc) e elevam doenças
foliares, pela elevada umidade relativa do ar. A falta de água provoca a murcha (que
pode ser permanente) e reduz a fotossíntese, causando sub-desenvolvimento das
plântulas.
POPIA et al. sugere manter um reservatório de água dentro da própria estufa para
a irrigação, para não haver choque térmico, pois a água e as mudas estarão em
temperaturas próximas.
A irrigação deve ser realizada preferencialmente com microaspersores, que
produzem gotas pequenas e permitem uma distribuição uniforme da água dentro da
estufa. Normalmente é necessário instalar filtros de água na rede de irrigação para evitar
entupimentos, sempre muito comuns neste tipo de sistema.
O turno de rega tem sido o principal causador de problemas fitossanitários e
formação de mudas de baixa qualidade em sistemas orgânicos de produção. Do semeio
até o início da emergência, se deve irrigar mais freqüentemente (2 a 3 vezes ao dia),
com menor quantidade de água por vez, de forma a manter constantemente úmido o
substrato nesta fase. A partir desta fase, o fornecimento de água deverá ser feito de
forma mais espaçada (1 a 2 vezes ao dia), com maior quantidade de água por vez.

OBS 1: A temperatura, insolação, umidade relativa e ventilação influenciam a


evapotranspiração e, portanto, a quantidade necessária de água de irrigação. Portanto,
o diagnóstico constante da umidade do substrato tem sido a maneira mais eficaz para
definir a necessidade de irrigação de mudas em estufa.

OBS 2: Lembre-se que, mesmo que o excesso de umidade não cause problemas
perceptíveis com patógenos ou com o desenvolvimento das mudas, pode provocar um
fenômeno conhecido como “raízes preguiçosas”, isto é, menor quantidade e menor

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
volume de raízes. Em outras palavras, na fase após a emergência, pequenos ‘estresses’
hídricos podem forçar a planta a “buscar água” através de suas raízes, formando um
sistema radicular mais vigoroso.

Adubação líquida via foliar/substrato:


Havendo problemas nutricionais, detectados por diagnose visual ou análises
laboratoriais, pode-se utilizar métodos alternativos de nutrição orgânica e mineral das
mudas, com adubos líquidos, tais como: biofertilizantes, chorumes, pós de rochas,
soluções de micronutrientes (já existem diversos produtos comerciais), dentre tantos
outros.
P.S.: Alguns desses produtos têm uso restrito na agricultura orgânica e a certificadora
deve ser consultada.

Fitossanidade:
Em geral, a produção de mudas em estufa evita integralmente problemas com
pragas, pelas barreiras físicas proporcionadas pela própria construção (plástico, telas),
como pelas bancadas suspensas. Para as doenças, o desenvolvimento da maioria dos
patógenos é reduzido. Entretanto, havendo incidência que justifique o controle, pode-se
lançar mão de métodos alternativos de proteção de plantas (de forma criteriosa,
geralmente em menores concentrações, pela alta sensibilidade das plantas em estágios
iniciais) , como as caldas fitoprotetoras, os biofertilizantes ou outros métodos
compatíveis com as normas técnicas de produção.
P.S.: Alguns desses produtos têm uso restrito na agricultura orgânica e a certificadora
deve ser consultada.

4.2.5. Preparo do solo


Na agricultura convencional, o preparo freqüente e intenso do solo, associado ao
uso intensivo de insumos industriais (adubos químicos e agrotóxicos), tem provocado a
degradação dos solos.
A pulverização (destruição dos colóides) do solo pelo tráfego intenso de máquina
e equipamentos acelera a mineralização da matéria orgânica e, conseqüentemente,
reduz a diversidade de organismos presentes nesse ambiente, a maioria dos quais
indispensável à sustentabilidade dos sistemas produtivos. Se o solo é continuamente

FRUTAL’2004 55
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
revolvido e novo material orgânico não é adicionado ao sistema, com o passar do tempo,
tende a tornar-se solto, sem estrutura, mais suscetível à erosão.
A erosão gera perdas anuais correspondentes a 15,2 milhões de toneladas de
calcário dolomítico (23% de CaO), valorados em R$ 563 milhões; 879 mil toneladas de
superfosfato triplo, que valem R$ 483 milhões; e 3 milhões de toneladas de cloreto de
potássio, valorados em R$ 1,7 bilhão. A reposição das perdas de N e S, totalizam 5,3
milhões de toneladas de uréia, ou R$ 2,77 bilhões, e 995 mil toneladas de sulfato de
amônio, custando R$ 394 milhões. Somando-se a esses valores R$ 2,06 bilhões, custo do
adubo orgânico necessário à reposição da matéria orgânica ao solo, estima-se que a
erosão hídrica gere um prejuízo total relativo às perdas de fertilizante, calcário e adubo
orgânico da ordem de R$ 7,9 bilhões por ano. Considerando o efeito da erosão na
depreciação da terra, no custo do tratamento de água para consumo humano, no custo de
manutenção de estradas e de reposição de reservatórios, decorrente da perda anual da
capacidade de armazenamento hídrico, a erosão causaria prejuízo de R$ 13,3 bilhões por
ano (Tabela 16) (GEO-Brasil, 2002).

Tabela 16: Valoração dos impactos da erosão dos solos no Brasil


Categoria de impactos negativos Total Total
(106 US$) (106 US$)
Perda de nutrientes e de matéria orgânica 3.178,8 7.947,0
Depreciação da terra 1.824,0 4.560,0
Tratamento de água para consumo humano 0,374 0,934
Manutenção de estradas 268,8 672,0
Reposição de reservatórios 65,44 163,6
Total 5.337,4 13.343,543
1 US$ = 2,5 R$
Fonte: Baseado em Landers et al. (2001a), Bassi (1999), Bragagnolo et al. (1997),
Carvalho et al. (2000).
Na agricultura orgânica, o solo recebe atenção especial. As práticas utilizadas no
seu manejo (preparo reduzido, cobertura viva e morta, não adição de fertilizantes de alta
solubilidade, adição de adubos orgânicos) visam a construção de um solo equilibrado e
biologicamente ativo, indispensável à manutenção de plantas saudáveis. O solo deve ser
cuidadosamente manejado, pois se constitui uma comunidade organicamente

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
entrelaçada de plantas, animais e microorganismos. A função principal do solo não é a
de prover sustentação às plantas cultivadas, mas sim nutri-las adequadamente e
protegê-las de ataques de pragas e doenças (solos supressivos).
O uso de coberturas vivas e mortas é uma prática recomendada para evitar a
exposição do solo aos impactos da chuva, do sol e dos ventos e, ao mesmo tempo,
diminuir alterações de umidade e temperatura, que favorecem tanto os cultivos quanto a
fauna e os microrganismos do solo. O menor revolvimento proporciona menores perdas
de solo e água (Tabela 16).

A busca da sustentabilidade na Agricultura Orgânica se inicia com a quebra do ciclo da


pobreza, isto é, degradação dos recursos naturais, principalmente do solo e da água
(Figura 7), conforme relatado por Saturnino e Landers (1997).

Preparo inadequado do solo

Monocultura

Compactação Erosão
Falta de cobertura

Insolação direta

Degradação do solo

Menor produção
de biomassa

Menor
produtividade

Menor renda líquida


(Descapitalização)

Figura 7: Ciclo da pobreza.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 16: Perdas de solo e água em diferentes sistemas de manejo do solo com
tração animal. IAPAR, Ponta Grossa, médias de 1991 a 1993.

Tratamentos Precipitação Perdas


Solo Água
mm Kg/ha/ano Mm/ano
Solo descoberto 988 113.782 24,0
Aração 988 8.702 4,8
Escarificação 988 4.346 8,8
Plantio direto 988 836 8,0
Fonte: A partir de Merten (1993). In: Ribeiro et al. (1996).

Os solos brasileiros, em grande parte, apesar de naturalmente pobres em


nutrientes, são bastante profundos e, portanto, apresentam grande reserva de nutrientes.
Assim, formas de manejo de agroecossistemas que priorizam a ciclagem de nutrientes
(adubação verde, rotação de culturas, consórcio, policultivo, manejo e não-eliminação de
plantas espontâneas) aumentam a eficiência produtiva desses solos.
De acordo com Lutzenberger (1987), na Argentina, o abandono da agressão
mecânica ao solo, uso de quebra-ventos, para melhorar o microclima no pomar ou
viveiro, e tratamentos com fungicidas cúpricos foram suficientes para os citricultores
conviverem com a bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro-cítrico. De acordo
com esse autor, o melhor controle de pragas se obtém pelo manejo orgânico do solo e
um conjunto de práticas que dêem à planta condições propícias para um
desenvolvimento são, pois a praga não é inimigo arbitrário, é um indicador biológico. A
disseminação da praga sobre uma planta ou em toda uma plantação indica que houve
erro nos métodos de cultivo: solo desestruturado, sem vida, esgotado; adubação errada;
cultivares inadequados para o macro e microclima; problemas de alelopatia;
incompatibilidade de enxerto; e muitos outros fatores, especialmente intoxicação com
pesticidas. Segundo Chaboussou (1987), os agrotóxicos alteram a bioquímica das
plantas e aumentam a suscetibilidade delas ao ataque de pragas e doenças.

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4.2.6. Adubação orgânica

Existem diversos tipos de adubos orgânicos, de origem animal, vegetal e agro-


industrial, recomendados para utilização no cultivo orgânico de hortaliças e, de maneira
geral, deve-se atentar para a origem e a qualidade dos mesmos. Em se tratando de
adubos oriundos de fontes externas à propriedade ou de sistemas convencionais de
criação (no caso dos estercos de origem animal), a atenção deve ser redobrada, pois
muitos deles podem apresentar contaminação por resíduos químicos, antibióticos e
outras substâncias de uso proibido pelas normas técnicas de produção.
Por este motivo, atualmente recomenda-se empregar sistemas de compostagem
no processo produtivo, tema central da abordagem do presente livro, que além de
promover a ‘higienização’ da matéria orgânica, obtêm-se um produto parcialmente
mineralizado, de maior eficácia na nutrição das plantas em sistemas orgânicos de
produção de hortaliças.
Porém, estercos gerados na propriedade ou originados de fontes conhecidas (que
apresentem qualidade comprovada por análise), podem ser utilizados diretamente como
adubo orgânico, sem sofrer o processo de compostagem. Vejam algumas
recomendações de POPIA et al. (2000), descritas a seguir.

Estercos:

Esterco de aviário: As aves não produzem urina, eliminando-a junto com as fezes,
por isso seu esterco é mais rico em nitrogênio que o de ruminantes ou suínos. O esterco
proveniente de frangos e galinhas, de criações intensivas e alimentadas com ração, é
rico em nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, mas pobre em celulose. Por isso,
sua decomposição é rápida, liberando em poucos dias a maior parte dos nutrientes. Essa
liberação rápida tem consequências importantes para o manejo do esterco. Ao ser
deixado para curtir, as perdas de nitrogênio para o ar podem ser muito grandes (Figura
8).

FRUTAL’2004 59
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Para evitar esses inconvenientes, o esterco de aves não deve ser armazenado
puro. Deve ser misturado a materiais de reação ácida, como a terra, promovendo
imobilização do esterco por microrganismos. No caso do uso direto do esterco fresco, a
incorporação ao solo reduz as perdas de nitrogênio. Os efeitos dos estercos de aves são
muito semelhantes aos da uréia porque têm efeito rápido, sendo porém os que mais
rápido desaparecem.

Esterco de ruminantes: Dentre os mais utilizados estão os de bovinos, eqüinos,


caprinos e de coelhos. Como de quaisquer outros animais, a composição do esterco
dessas espécies depende da alimentação. Exclusivamente a pasto, o conteúdo de
nitrogênio desses estercos é menor do que com suplementação com concentrados.
Como referência média, pode-se considerar que, do total ingerido, cerca de 70% é
excretado pela urina e 10 a 15% pelas fezes.
Quando o esterco provém de pastos, na sua composição entram apenas fezes, porque a
urina fica na terra. Quando provém de animais estabulados, a palha presente na cama
(piso) retém parte da urina. Recomenda-se 5 a 6 kg de palha seca por dia para reter
totalmente a urina produzida por uma vaca adulta estabulada. O esterco oriundo de
pastos pode ser usado crú, curtido ou em forma de composto (Figura 9).

Esterco de suínos: Pela natureza da alimentação dos suínos, o esterco que


produzem é mais rico em nutrientes e mais pobre em matéria orgânica do que o de
ruminantes. Também, como a de aves, a matéria orgânica decompõe-se rapidamente,
tornando-se mais um alimento para as plantas que para o solo. O porco sofre de muitas
doenças que atacam o homem e, por causa dos riscos, é preferível reciclar o seu esterco
em culturas arbóreas ou de cereais. Na produção de hortaliças recomenda-se utilizar
este esterco apenas como inoculante no processo de compostagem.

60 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 8: Criação de galinhas com pastejo rotacionado, em sistema orgânico: geração de
esterco de comprovada qualidade e insumo fundamental na reciclagem de matéria
orgânica e integração no processo produtivo. Estação agrroecológica ‘Domaine Ile-de-
France’ – Pedra Azul – ES.

Figura 9: Rebanho bovino em conversão para manejo orgânico: geração de grande


volume de esterco a baixo custo, para a ciclagem interna da propriedade. Fazenda
Luiziânia – Entre Rios de Minas – MG.

FRUTAL’2004 61
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Compostagem orgânica

Descrição geral do processo


O processo de compostagem pode ser simplificadamente representado pelo esquema
mostrado abaixo (ABES, 1999):

Matéria orgânica + Microrganismos + O2 → M.O.estável + CO2 + H2O + calor +


Nutrientes

A compostagem é o processo de transformação de materiais grosseiros, como


palhada e estrume, em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura. Este processo
envolve transformações extremamente complexas de natureza bioquímica, promovidas
por milhões de microrganismos do solo que têm na matéria orgânica in natura sua fonte
de energia, nutrientes minerais e carbono. Por essa razão uma pilha de composto não é
apenas um monte de lixo orgânico empilhado ou acondicionado em um compartimento. É
um modo de fornecer as condições adequadas aos microrganismos para que esses
degradem a matéria orgânica e disponibilizem nutrientes para as plantas através de um
produto de elevada qualidade (PLANETA ORGÂNICO, 2002).
Esta qualidade incontestável têm sido comprovada em diversos trabalhos que mostram
que a utilização de composto orgânico nas adubações produz múltiplos efeitos sobre o
solo e as plantas cultivadas, através do aumento da permeabilidade do solo, agregação
das partículas minerais, fornecimento de macro e micronutrientes, correção da acidez,
incremento na população de microorganismos e elevação da eficiência na absorção de
nutrientes.
A técnica de compostagem orgânica pelo método ‘indore’, isto é, realizada em
pilhas, montes ou medas, é uma prática que tem sido utilizada há muitos anos em todo o
mundo, servindo de um importante auxiliar nos processos produtivos agrícolas.
Conhecer os efeitos benéficos que a matéria orgânica provoca nas estrutura química,
física e biológica dos nossos solos tropicais, define esta prática como fundamental para
a busca da sustentabilidade agrícola de nossos sistemas produtivos. Além disso, o
conhecimento das propriedades físicas e químicas das substâncias húmicas, assim
como dos benefícios da atividade microbiana dos solos, indica a necessidade de um

62 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
melhor aproveitamento dos resíduos rurais (esterco, cama de aviários, restos de cultura,
folhagens, etc), permitindo a manutenção e incremento da produtividade do mesmo.
Ademais, existe ainda a possibilidade de aproveitamento de resíduos industriais e de
centros urbanos.
A legislação brasileira de acordo com o Decreto 86.955 de 18/02/82 denomina o
composto orgânico como fertilizante composto e o define como fertilizante obtido por
processo bioquímico, natural ou controlado, com mistura de resíduos de origem vegetal
ou animal (Brasil, citado por KIEHL, 2001)
Dito de maneira científica, o composto é o resultado da degradação biológica da
matéria orgânica, em presença de oxigênio do ar, sob condições controladas pelo
homem. Os produtos do processo de decomposição são: gás carbônico, calor, água e a
matéria orgânica "compostada" (PLANETA ORGÂNICO, 2002).
Todos os restos de alimentos, estercos animais, aparas de grama, folhas, galhos, restos
de culturas agrícolas, enfim, todo o material de origem animal ou vegetal pode entrar na
produção do composto.
Considerando que a grande maioria de nossos produtores de hortaliças trabalham em
áreas com alto grau de diversificação, muitos deles com criações de animais associadas
no processo de produção, justifica-se a necessidade e revela certa facilidade de se
estabelecer formas de produção baseadas na integração dos recursos internos da
propriedade, visando redução de custos e melhorias no rendimento de todo sistema
produtivo.
Contudo, existem alguns materiais que, por questões óbvias, devem ser evitados
na compostagem, que são: madeira tratada com pesticidas contra cupins ou
envernizadas, vidro, metal, óleo, tinta, couro, plástico e papel, que além de não serem
facilmente degradados pelos microorganismos, podem ser transformados através da
reciclagem industrial ou serem reaproveitados em peças de artesanato.
À medida em que o processo de compostagem se inicia, há proliferação de
populações complexas de diversos grupos de microrganismos (bactérias, fungos,
actinomicetos), que vão se sucedendo de acordo com as características do meio. De
acordo com suas temperaturas ótimas, estes microrganismos são classificados em
psicrófilos (0 – 20 °C), mesófilos (15 – 43 °C) e termófilos (40 – 85 °C) (ABES, 1999). Na
verdade estes limites não são rígidos e representam muito os intervalos ótimos para
cada classe de microrganismos do que divisões estanques.

FRUTAL’2004 63
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
ABES (1999) ainda descreve a compostagem em várias fases, onde no início há
um forte crescimento dos microrganismos mesófilos, com a elevação gradativa da
temperatura, resultante do processo de biodegradação, a população de mesófilos diminui
e os microrganismos termófilos proliferam com mais intensidade. A população termófila é
extremamente ativa, provocando intensa e rápida degradação da matéria orgânica e
maior elevação da temperatura, o que elimina os microrganismos patogênicos. Quando o
substrato orgânico for em sua maioria transformado, a temperatura diminui, a população
termófila se restringe, a atividade biológica global se reduz de maneira significativa e os
mesófilos se instalam novamente. Nesta fase, a maioria das moléculas facilmente
biodegradáveis foram transformadas, o composto apresenta odor agradável e já teve
início o processo de humificação, típico da segunda etapa do processo, denominada
maturação, nesta fase de maturação a atividade biológica é pequena, portanto a
necessidade de aeração também diminui. Este processo pode ser melhor elucidado na
Figura 10.

Figura 10. Mudanças ocorrentes nos principais parâmetros de controle durante as fases
de compostagem (PEREIRA NETO, 19

64 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Relação C/N:

A compostagem é um processo biológico sendo por isso necessário criar as

condições corretas para o crescimento de seres vivos, em particular, satisfazendo os

seus requisitos nutricionais. Dos muitos elementos necessários à decomposição

microbiológica o carbono e o nitrogênio são os mais importantes (Planeta Orgânico,

2002)

Os microrganismos utilizam cerca de trinta vezes mais carbono do que nitrogênio,

sendo este valor freqüentemente encontrado na literatura como o recomendado para o

início do processo (ABES, 1999; KIEHL, 2001 e ROSSETI,1994).

No caso de esta razão ser muito superior a 30/1 o crescimento dos

microrganismos é atrasado pela falta de nitrogênio e consequentemente a degradação

dos compostos torna-se mais demorada. Se, pelo contrário, a razão for muito baixa, o

excesso de nitrogênio acelera o processo de decomposição mas faz com que há criação

de zonas anaeróbicas no sistema. O excesso de nitrogênio é liberado na forma de

amônia, provocando mau cheiro, perda de nitrogênio e consequentemente um composto

mais pobre neste nutriente e por isso, menos valioso em termos comerciais (ABES,

1999).

Esta relação é bastante variável entre os resíduos de origem vegetal:

Leguminosas 20/1 a 30/1

Palhas de cereais 50/1 a 200/1

Madeiras 500/1 a 1000/1

FRUTAL’2004 65
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Durante a compostagem, a relação C/N dos resíduos tende a decrescer até tornar-se

constante em torno de 10/1 a 12/1. Nesse ponto, dizemos que o composto está curado,

ou convertido em húmus. Este decréscimo é devido à utilização do C da matéria orgânica

como fonte de energia pelos microrganismos, que o expelem sob a forma de CO2. A

relação C/N final está sempre próxima de 10/1 porque tende a se aproximar da C/N das

bactérias (5/1 a 6/1) e dos fungos (8/1 a 10/1) (KIEHL, 2001). Entretanto, na prática

agrícola, o composto orgânico tem sido utilizado com uma relação C/N final na faixa de

15/1 a 18/1, pois o tempo de compostagem se alongaria muito até atingirmos a relação

final em torno de 10/1.

Composição dos principais resíduos agrícolas:

Nas Tabelas 17 e 18 podemos observar a composição de diversos materiais

possíveis de serem utilizados na compostagem. Além da relação C/N (que é muito

importante para obter um composto equilibrado, onde os organismos encontrem

condições de se desenvolverem satisfatoriamente), conhecendo-se a composição dos

materiais que iremos utilizar, fica mais fácil se estimar os teores dos nutrientes no final da

compostagem, e ainda regulá-los para satisfazer nossas necessidades.

66 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 17: Composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interesse

como matéria prima para o preparo de fertilizantes orgânicos.

Material Matéria N C/N P2O5 K2O


orgânica % %
%
Abacaxi: fibras 71,41 0,90 44/1 traços 0,46
Arroz: cascas 54,55 0,78 39/1 0,58 0,49
Arroz: palhas 54,34 0,78 39/1 0,58 0,41
Aveia: cascas 85,00 0,75 63/1 0,15 0,53
Aveia:palhas 85,00 0,66 72/1 0,33 1,91
Café: cascas 82,20 0,86 53/1 0,17 2,07
Café: palhas 93,13 1,37 38/1 0,26 1,96
Capim gordura 92,38 0,63 81/1 0,17 -
Capim guiné 88,75 1,49 33/1 0,34 -
Capim jaraguá 90,51 0,79 64/1 0,27 -
Capim meloso 90.00 0.70 75/1 0.22 0.65
Capim mimoso 93,69 0,66 79/1 0,26 -
Capim napier verde 96.00 1,40 40/1 0,33 0,76
Capim pé de galinha 86,99 1,17 41/1 0,51 -
Crotalária júncea 91,42 1,95 26/1 0,40 1,81
Eucalipto: resíduos 77,60 2,83 15/1 0,35 1,52
Feijão de porco 88,54 2,55 19/1 0,50 2,41
Feijão guandú 95,90 1,81 29/1 0,59 1,14
Feijoeiro: palhas 94,68 1,63 32/1 0,29 1,94
Labelabe 88,46 4,56 11/1 2,08 -
Milho: palhas 96,75 0,48 112/1 0,38 1,64
Mucuna preta 90,68 2,24 22/1 0,58 2,97
Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 0,01 0,01
Fonte: Adaptado de FUNDAÇÃO CARGILL (1983) e SOUZA (2002).

Considerando que existe uma grande variabilidade nos teores de nutrientes dos
resíduos orgânicos, provocada pela metodologia e calibração de equipamentos, tipo de
solo de origem dos resíduos vegetais, processo agroindustrial adotado, alimentação dos
animais, dentre outros, apresentamos também outras análises e fontes de fertilizantes
orgânicos e minerais (Tabela 19), adaptadas de Dadonas (1989), citado por PECHE
FILHO & DE LUCCA (1997).

FRUTAL’2004 67
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 19: Composição média e relação de proporção de NPK para diversas fontes
de fertilizantes orgânicos e minerais.1

Fertilizantes Orgânicos % na matéria seca Proporção


N P K N-P-K
Cinzas - 2.5 10 0-1-4
Fosfato de Araxá - 30 - 0-3-0
Ossos carbonizados - 35 - 0-3,5-0
Torta de Mamona 5.0 2.0 1.1 5-2-1
Torta de Algodão 6.0 3.0 1.4 4-2-1
Cascas de Café 1.7 1,4 3.7 12-1-26
Esterco de Cavalo 0.7 0.4 0.3 2-1-1
Esterco de Coelho 2.0 1.3 1.2 1,5-1-1
Esterco bovino de curral curtido 5.0 2.5 5.0 2-1-2
Esterco Bovino Seco 2.0 1.5 2.2 1,5-1-1,5
Esterco de Ovelha 2.0 1.0 2.5 2-1-2
Esterco de Cabra 3.0 2.0 3.0 1,5-1-1,5
Esterco de Galinha 4.0 4.0 2.0 2-2-1
Resíduo de Esgoto 2.0 1.5 0.5 4-3-1
Bagaço de Cana 0.3 0.03 0.02 14-1-1
Borra de Café 1.8 0.1 0.01 176-9-1
Farinha de Ossos Crua 2.0 20.0 - 1-10-0
Guano 2.5 8.8 1.1 2-8-1
Serragem de Madeira 0.06 0.01 0.01 6-1-1
Lixo Curtido 1.1 0.3 0.6 3-1-2
Palha de Arroz 0.8 0.6 0.4 2-1-1
Palha de Café 1.4 0.2 2.0 5-1-7
Feijão (sementes) 2.6 0.5 2.4 5-1-5
Palha de Feijão 1.6 0.3 1.9 6-1-7
Guandu - sementes 3.6 0.8 1.8 4-1-2
Cascas de Mandioca (raiz) 0.4 0.3 0.5 1-1-1
Milho (palha) 0.5 0.4 1.6 1-1-4
Mucuna (sementes) 3.9 1.1 1.4 4-1-1

68 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Montagem da pilha:

Segundo PLANETA ORGÂNICO (2002), a quantidade de matéria orgânica (palha)


deve ser de três vezes a quantidade de esterco. PEREIRA NETO (1996) diz que a
proporção, na prática, em peso, de mistura desses materiais é de 70% de material
palhoso para 30% de esterco ou lixo orgânico domiciliar.
Entretanto, a forma mais técnica que define as proporções ideais dos resíduos
orgânicos a serem misturados na pilha de composto se baseia na relação
Carbono/Nitrogênio dos materiais empregados. Sugere-se que, a quantidade de cada
material na mistura proporcione uma relação C/N média inicial da pilha na faixa de 30/1 a
40/1, o que permite obter uma fermentação ideal, obtendo o produto pronto num período
de tempo satisfatório, o que em geral tem ocorrido entre 70 e 90 dias para materiais
triturados e entre 100 e 120 dias para materiais sem trituração.
Recomenda-se escolher um local preferencialmente plano, livre de ventos e de
fácil acesso para carga e descarga do material, próximo a uma fonte de água para as
irrigações periódicas (Figura 11).

Figura 11: Pátio de compostagem orgânica. Centro de Desenvolvimento Sustentável


Guaçu-virá – Venda Nova do Imigrante – ES.

FRUTAL’2004 69
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Inicia-se o empilhamento das palhas por camadas de, no máximo 30 cm, de cada
tipo de palha que se tenha disponível, aplicando-se sobre esta primeira seqüência, uma
fina camada de esterco animal ou resíduo agroindustrial (3 a 5 cm), irrigando-se
abundantemente após, evitando escorrimentos excessivos de água, permitindo assim
obter uma melhor distribuição da umidade no interior do monte. Após empilhar esta
primeira seqüência de palhas e esterco, inicia-se nova seqüência dos mesmos
materiais, até formar uma altura adequada do monte.

Para um melhor manuseio do material no pátio, controle do arejamento e da


umidade, o tamanho da pilha de composto não deve exceder a 3,0 metros de largura por
1,5 metros de altura. O comprimento é livre, dependendo apenas da quantidade de
material e do espaço disponível no local.

A Figura 12 ilustra um esquema prático de montagem de um bom composto orgânico,


utilizando os seguintes materiais e espessuras de camadas:

Materiais Espessura das camadas


∗ Capim cameron picado e/ou bagaço de cana (Alta C/N) 20 cm
∗ Palha de café (Baixa C/N) 10 cm
∗ Esterco bovino 03 a 05 cm
∗ Esterco de aviário ou outro resíduo rico em N (torta de
mamona, farelo de cacau, planta da mamoneira 01 a 02 cm
triturada ou leguminosas trituradas, etc..)
∗ Fosfato de rocha 03 Kg/m3

70 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Durante o empilhamento, o fosfato deve ser colocado junto com os inoculantes
(estercos ou similares), após uma sequência completa das camadas de palhadas
disponíveis (no caso: bagaço de cana, capim e palha de café). Toda vez que colocar os
inoculantes mais fosfato, irrigar abundantemente para que o ‘chorume’ infiltre e inocule
as camadas de palha abaixo. Além disso, as camadas dos materiais mais fibrosos (alta
C/N) devem ser dispostas juntas às menos fibrosas (baixa C/N), para melhor
fermentação.

Etc... Etc.
Etc... Etc.
Esterco + Fosfato 12ª
Capim picado 11ª
Palha de café 10ª
Bagaço de Cana 9ª
Esterco + Fosfato 8ª
Capim picado 7ª
Palha de café 6ª
Bagaço de Cana 5ª
Esterco + Fosfato 4ª
Capim picado 3ª
Palha de café 2ª
Bagaço de Cana 1ª
Sequência dos materiais Camadas

Figura 12: Ilustração prática da sequência de montagem de uma pilha de composto


orgânico.

FRUTAL’2004 71
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Irrigações:

A umidade adequada é um dos fatores mais importantes para uma decomposição


mais rápida do material. De maneira geral, recomenda-se irrigar os montes de 2 em 2
dias, usando uma quantidade de água suficiente apenas para repor a perda por
evaporação, pois o excesso de umidade atrasa o processo de decomposição. Existem
duas maneiras práticas de verificar se a umidade está adequada. A primeira é espremer
um punhado de composto com as mãos. Se escorrer água entre os dedos, o composto
estará muito molhado, mas se formar um torrão e este se desmanchar com facilidade, a
umidade estará próxima ao ponto ideal. A segunda, no momento dos reviramentos,
observar se existe um mofo branco em alguns locais no meio do monte, o que indica
que a umidade está baixa.
Especialmente em períodos chuvosos, a manutenção de uma cobertura dos
montes ou pilhas, com palha de coqueiro ou lona plástica, é essencial para evitar
excessos de água (Figura 13). Em regiões de baixa precipitação pluviométrica ou em
períodos secos do ano, essa prática pode ser dispensada.

Figura 13: Pilha de composto orgânico coberto com lona plástica para proteção contra
chuvas – Estação Experimental do INCAPER - ES.

72 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Reviramentos:

Para um controle adequado da umidade e temperatura do composto, é


fundamental revirar os montes periodicamente. Os reviramentos podem ser realizados
manualmente ou com máquinas convencionais como a pá carregadeira (Figura 14), com
máquinas próprias para esta finalidade (Figura 15) ou com implementos acoplados a
trator (Figura 16). A mecanização do processo de compostagem dependerá do volume
de composto demandado pela área total cultivada e deverá ser definido com critério
técnico e econômico.

Figura 14: Empilhamento e reviramento de composto com pá carregadeira, em fazenda


orgânica de 400 hectares, para produção de acerola, abacaxi, coco e horticultura. Serra
do Ibiapaba - Ceará – Brasil.

Figura 15: Máquina movida a gás, para Figura 16: Implemento acoplável a trator
reviramento de composto. Centro de para reviramento de pilhas de composto.
Desenvolvimento Sustentável ‘Guaçu-virá CIVEMASA – SP – Brasil.
– Espírito Santo – Brasil.

FRUTAL’2004 73
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em reviramentos manuais, é importante fazer o primeiro reviramento com 7 - 10

dias após a montagem e os demais espaçados de 20 a 25 dias, num total de 4

reviramentos até o composto ficar pronto. Em sistemas mecanizados, a quantidade de

reviramentos pode ser maior, com intervalos menores entre as operações (geralmente de

7 em 7 dias), reduzindo-se o tempo de decomposição e obtendo-se o composto pronto

em até 60 dias, dependendo dos materiais empregados.

Durante cada reviramento (ou logo após), deve-se proceder nova irrigação com

uma quantidade de água suficiente para repor as perdas por lixiviação e evaporação, de

forma a distribuir bem a umidade em todo o monte.

Temperatura:

A faixa de temperatura ideal para a decomposição do material varia de 50 a 60

graus. Temperaturas excessivas podem queimar o material, o que não é desejável. Por

isso, deve-se evitar que a temperatura ultrapasse 70 graus, o que pode ser obtido com

reviramentos e irrigações. Pedaços de vergalhão enterrados nos montes permitem

verificar periodicamente a temperatura interna do composto, através do contato com as

mãos. Se o calor for suportável, estará normal. Caso contrário, estará muito quente.

Após 60 dias a temperatura diminui significativamente, atingindo níveis abaixo de

35 graus, indicando o fim da fase de fermentação e início da fase de mineralização da

matéria orgânica.

Características gerais do composto maduro:

74 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Uma avaliação visual do composto já pode nos dar muita informação do estado de

maturação dele. Um composto maduro apresenta-se segundo KIEHL (2001) com as

seguintes características:

a) Redução do volume da massa para 1/3 do volume inicial;

b) Degradação física dos componentes, não sendo possível identificar os

constituintes;

c) Permite que seja moldado facilmente nas mãos;

d) Cheiro de terra mofada, tolerável e agradável

Por meio de análises químicas KIEHL (2001) também define os seguintes parâmetros:

a) pH geralmente acima de 6,5, sendo que por lei o composto curado deve ter pH no

mínimo de 6,0;

b) Mínimo de 40% de matéria orgânica, mas o ideal é que tenha 50% ou mais;

c) O teor de nitrogênio e de outros nutrientes deve estar acima de 1,75% no produto

curado e seco. Por lei, o teor mínimo de nitrogênio é 1%.;

d) Relação C/N entre 10/1 e 12/1, sendo que a lei exige no máximo 18/1;

e) CTC alta, não especifica o valor.

Um trabalho de monitoramento de 20 medas de composto, produzidos principalmente

à base de esterco de aviário, capim meloso, capim napier, palha de café, palha de feijão

e palha de milho (materiais não triturados), serve como parâmetro em termos

quantitativos e qualitativos, conforme os detalhamentos das Tabelas 20 e 21 (SOUZA

(1998).

FRUTAL’2004 75
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 20: Avaliação quantitativa de compostos orgânicos preparados com esterco
de aviário e materiais vegetais sem trituração.1
Gastos Tempo para Volume Peso Relações1
de

Medas Esterc Decomposição Inicial Final Perda Final Pf/Vi Pf/Vf


o (dias) (m3) (m3) (%) (Kg) (Kg/m3) (Kg/m3
(Kg) )
1 1.050 150 36,0 11,7 67,4 7.035 195 601
2 2.450 160 36,0 11,7 67,4 7.035 195 601
3 1.400 160 45,0 14,7 67,4 8.796 195 589
4 1.050 150 45,0 19,1 57,6 11.389 253 596
5 1.125 180 49,5 13,3 73,1 5.746 116 432
6 1.500 150 45,0 14,0 68,8 5.600 124 400
7 1.414 120 60,0 15,2 74,7 8.877 148 584
8 1.400 126 30,0 14,4 52,0 8.870 296 616
9 1.000 150 14,4 3,8 73,6 2.389 166 629
10 1.000 150 13,2 3,6 72,7 2.650 201 736
11 1.125 150 27,5 9,4 65,8 5.565 202 592
12 900 147 15,4 6,6 57,1 3.643 237 552
13 3.000 180 41,6 20,6 50,5 14.330 344 696
14 800 141 26,0 5,7 78,1 3.420 132 600
15 1.875 135 48,0 13,1 72,7 9.430 196 720
16 1.875 128 48,0 15.8 67,1 11.100 231 702
17 1.250 135 36,4 11.7 67,9 9.173 252 784
18 1.250 124 36.,4 12,5 65,7 9.400 258 752
19 1.636 121 54,0 13,3 75,4 8.086 150 608
20 1.400 108 28,0 11,5 58,9 6.808 243 592

Média2 1.425 143 36,8 12,1 66,7 7.467 207 620


2
Desvio Padrão - 19 - - 7,8 - 58 96
2
Valor Mínino - 108 - - 78,1 - 116 400
2
Valor Máximo - 180 - - 50,5 - 344 784
1
Fonte: SOUZA (1998).
2
Pf = Peso final; Vi = Volume inicial; Vf = Volume final.

76 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 21: Composição química e matéria orgânica de compostos orgânicos
preparados com esterco de aviário e materiais vegetais sem trituração.1

Macro (%) Micro (ppm)


Medas M.O C/N pH N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
(%)
1 22 18 7.9 0.70 0.49 0.40 1.75 0.23 3 110 35.000 650 19
2 32 12 8.7 1.50 1.50 1.35 5.70 0.60 30 200 20.500 660 28
3 26 11 8.2 1.40 1.45 0.98 7.14 0.50 50 188 20.391 1.328 35
4 52 13 6.8 2.40 0.41 0.75 1.55 0.31 32 62 17.578 642 36
5 35 20 8.2 1.00 3.00 0.58 7.00 0.50 54 292 22.813 1.544 20
6 45 13 8.6 2.00 2.31 1.92 7.98 0.65 48 147 10.235 681 46
7 40 14 7.5 1.70 2.65 1.90 9.00 1.00 63 200 11.365 1.000 58
8 40 11 7.0 2.10 1.60 1.35 6.04 0.48 39 350 16.563 1.167 40
9 61 10 7.3 3.40 1.80 2.10 5.76 0.70 57 378 12.969 883 54
10 59 12 7.1 2.80 1.78 2.05 4.83 065 57 344 15.313 850 55
11 66 10 6.7 4.00 1.58 2.50 3.19 0.60 75 306 12.813 783 50
12 75 13 6.7 3.40 0.78 2.50 1.35 0.52 57 82 6.719 305 47
13 64 10 6.3 3.70 1.53 2.50 3.57 0.75 79 156 15.652 708 58
14 46 15 6.6 1.80 0,57 1,29 5.90 0.58 39 121 20.481 547 17
15 45 13 7.5 2.00 2.06 1.71 8.68 0.49 49 234 11.720 781 22
16 46 13 7.8 2.10 2.19 1.95 9.61 0.57 44 234 10.652 781 27
17 45 15 7.9 1.79 1.38 1.33 7.61 0.40 36 156 12.110 665 19
18 45 15 7.8 1.70 2.00 0.95 10.61 0.50 69 219 12.580 820 21
19 48 13 7.0 2.20 1.90 0.84 7.00 0.55 53 363 22.660 833 26
20 62 11 7.0 3.40 1.06 0.96 6.00 0.66 68 325 13.203 455 39

MÉDIA1 48 13 7.4 2.25 1.60 1.50 6.01 0.56 50 223 16.064 804 36

DESVIO PADRÃO1 13.7 2.6 0.7 0.9 0.7 0.7 2.7 0.16 18 98 6.311 286 14

VALOR MÍNINO 1 22 10 6.3 0.7 0.4 0.4 1.35 0.23 3 62 6.719 305 17

VALOR MÁXIMO1 75 20 8.7 4.0 3.0 2.5 10.61 1.00 79 378 35.000 1.544 58
1
Fonte: SOUZA (1998).

NAKAGAWA et al. (1991) trabalhando com diferentes tipos de materiais na


compostagem, encontrou que o composto produzido com esterco de galinha, tanto com
casca de amendoim, bagaço de cana e serragem de madeira, foi o melhor, em termos
químicos, principalmente nos teores de fósforo, potássio, cálcio e magnésio, além de
uma elevada saturação em bases (V≈96%), associada a um pH praticamente neutro.
Seguido nestes mesmos parâmetros, a seqüência da qualidade do composto depois do

FRUTAL’2004 77
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de galinha foi: esterco de porco, esterco de curral, napier e em último a uréia, que em
relação aos demais, produziu um composto de baixo valor em nutrientes e levemente
ácido.

Processos especiais de compostagem

Compostagem Laminar:

De acordo com CERVEIRA (2000), uma nova tecnologia vem sendo utilizada para
a produção de composto: é a compostagem laminar, que surge em função de um
aperfeiçoamento da compostagem pelo método ‘indore’, como é chamada a
compostagem feita em monte ou pilha. Esta tecnologia não busca eliminar a
compostagem em pilha, serve como complemento da mesma em pequenas áreas. A
pergunta que surgiu na elaboração da técnica de compostagem laminar é: no Brasil
temos déficit de temperatura? Então porque devemos fazer pilhas?
No entanto, segundo informações verbais de PEREIRA NETO e LELIS (2002), a
elevação da temperatura numa pilha de compostagem não se destina apenas à
degradação do material, mas também à eliminação de organismos patogênicos e ervas
indesejáveis.
Basicamente, a técnica consiste em aplicar as matérias–primas que serão
utilizadas (já balanceadas) em camadas ou misturadas, diretamente no campo, na
superfície do solo, podendo ser incorporada até 7 cm dentro do solo (região ainda bem
aerada). Devemos deixar o material de maior relação C/N, como palhas, como última
camada desta lâmina (daí o nome laminar) para servir como cobertura morta de proteção
do solo (CERVEIRA, 2000). Uma descrição mais detalhada deste processo não foi
encontrada em pesquisas na internet e ainda não se tem nenhum artigo científico sobre
este assunto.
As vantagens do sistema, além da economia de tempo, trabalho e
conseqüentemente, dinheiro, inclui a inserção de toda a atividade biológica da
fermentação do composto no próprio solo, ao invés de ficar confinado na pilha. A
desvantagem encontra-se em grandes áreas, onde o deslocamento de grande volumes

78 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
de materiais orgânicos torna a compostagem de pilha mais econômica. Na realidade, a

compostagem laminar busca imitar a natureza, onde nada é incorporado

mecanicamente: o solo de uma mata é um composto laminar espontâneo feito de folhas

e excrementos de animais. Devido à escassez de informações sobre o processo de

compostagem laminar, não se sabe o porque da economia de tempo, trabalho e dinheiro

citada por CERVEIRA (2000) e nem sobre a necessidade de revolver ou não a pilha, e

qual a sua espessura.

Não foram encontrados artigos científicos sobre processo de compostagem

laminar, apenas este breve comentário fornecido por CERVEIRA (2000). Parece ser uma

prática pouco conhecida e pesquisada, no LESA (Laboratório de Engenharia Sanitária e

Ambiental) os professores não conheciam este tipo de compostagem.

Bokashi:

É um método japonês de compostagem baseado na adição de microrganismos

efetivos (EM). Os microorganismos eficazes na produção do Bokashi não são

restringidos a um grupo especial, mas são espécies muito comuns que podem se

multiplicar rapidamente em materiais usados para compostagem. Os produtos do EM

foram desenvolvidos por T. HIGA (1983) da universidade de Ryukyu, Okinawa, contém

bactérias anaeróbicas abundantes e fermentos do ácido láctico, assim como outros

microorganismos. A utilização destes microorganismos anaeróbicos é uma característica

que distingue o EM de outros produtos de origem microbial.

FRUTAL’2004 79
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Materiais utilizados no preparo do Bokashi:

Ingredientes Quantidade

Farelo de arroz 500

Farelo de algodão 200

Farelo de soja 100

Farinha de osso 170

Farinha de peixe 30

Termofosfato 40

Carvão moído 200

Melaço ou Açúcar 04

EM-4 04

Água 350

Estes ingredientes são misturados, e inoculados com microorganismos. A água é


adicionada para dar um índice de umidade de 50-55%, e o composto é tipo pilha.
Quando a temperatura da pilha alcança 50-55°C, esta é misturada e espalhada. Quando
o composto esfria, a pilha é refeita. Este procedimento é repetido três ou quatro vezes.
Os materiais são espalhados (desfaz-se a pilha) para secar, e embalados
finalmente nos sacos para o armazenamento. A concentração do nitrogênio no Bokashi é
muito mais baixa do que no fertilizante químico, cerca de 2 a 5 % do nitrogênio total.
Para evitar a fermentação anaeróbica e seu odor desagradável, o composto é inoculado
com microorganismos aeróbicos que se multiplicam rapidamente. Como estes
microorganismos necessitam do oxigênio e não têm nenhuma tolerância ao calor, a pilha
é misturada e espalhada a cada um ou dois dias. Durante o processo de compostagem,
a matéria orgânica é facilmente decomposta com a produção da biomassa microbial,
liberando íons de amônia que ficam retidos em partículas do solo. A biomassa microbial
contribui para liberação mais lenta dos nutrientes. Cria-se um fertilizante orgânico de
ação mais lenta.

80 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
HIGA (1983) cita em seu livro que uma volta na agricultura é possível, desde que o uso
de produtos do EM aumente extremamente o rendimento das colheitas. Por exemplo, o
arroz fertilizado com Bokashi (EM) produziu mais de 12 t/ha.
Goto et al.(1996) realizaram algumas experiências de campo em cooperação com
a EM Company, onde analisaram o Bokashi (EM) fornecido pela companhia e também o
Bokashi fornecido por fazendeiros, e verificaram que as amostras da companhia
continham em média 40 quilos de N, 30 quilos PO5 e 13 quilos KO3 em cada 1000 quilos,
muito menos que o Bokashi dos fazendeiros (GOTO e MURAMOTO, 1995). EM
Company recomenda a aplicação de 1000 kg/ha do Bokashi (EM), mas os 40 quilos de
nitrogênio contidos nesta quantidade não é suficiente para o crescimento dos vegetais.
Goto examinou as colheitas dos fazendeiros que usam o bokashi (EM), e encontrou que
o rendimento da alface usando 1000 quilos do Bokashi (EM) era muito menor do que
com uso de fertilizante orgânico comercial, quando os níveis do nitrogênio foram
ajustados. Verificou também que os fazendeiros aplicavam geralmente 30 t/ha de
esterco de gado além do Bokashi (EM), e indicou que os rendimentos obtidos pelos
fazendeiros podem ter sido devido ao esterco.
Nos vegetais cultivados somente com o Bokashi (EM), 1000 kg/ha, nos campos da
universidade, verificou-se que os rendimentos de muitos vegetais eram somente metade
daqueles obtidos pelas práticas orgânicas comuns (MURAMOTO e GOTO, 1995). Mais
tarde, os investigadores do EM relataram que quando o nível do nitrogênio foi ajustado a
100 kg/ha, ou seja, utilizando-se 2500 kg/ha de Bokashi, obteve-se a mesma quantidade
da alface que o fertilizante químico (IWAHORI et al., 1996). Conseqüentemente,
insistiram que a quantidade padrão de Bokashi (EM) que deveria ser aplicada era de
2500 kg/ha para a alface.
Atualmente já existem diversas variações do ‘Bokashi’ padrão relatado anteriormente.
Uma delas tem sido divulgada pelo Engº Agrº. Shiro Miyasaka, a qual consiste na
mistura dos seguintes ingredientes:
♦ Terra Virgem (subsolo) ............. 500,00 Kg
♦ Torta de oleaginosas ................ 200,00 Kg
♦ Esterco de galinha .................... 170,00 Kg
♦ Farinha de osso .......................... 50,00 Kg
♦ Inoculante .....................................1,75 Kg

FRUTAL’2004 81
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Além deste composto, Dr. Shiro recomenda associar ‘fino de carvão’ (carvão
moído ou ‘munha’ de carvão) na adubação de campo, em função do seu elevado
potencial estruturante do solo. O ‘fino de carvão’ é muito poroso, contendo 300 m2 de
superfície para cada 1 grama do produto, considerando as cavidades internas, além de
ter a capacidade de aumentar as micorrizas do solo. Em geral, a quantidade
recomendada pode variar de 500 a 1000 Kg por ha de ‘fino de carvão’, proporcionando
bons resultados.

Compostagem com Preparados Biodinâmicos:

A biodinâmica teve suas bases colocadas, em 1923, por Rudolf Steiner, iniciador
da antroposofia (movimento de esoterismo fundado por ele próprio em 1913). Um dos
seus seguidores, chamado Pfeiffer, perguntou se os preparados não deviam passar por
uma fase experimental antes de serem divulgados, Steiner respondeu: “O mais
importante é colocar os benefícios de nossos preparados à disposição das maiores áreas
possíveis da terra inteira. Este deve ser o nosso primeiro objetivo. Experimentos podem
vir mais tarde”. Setenta anos depois, RALF (1983) disse: “Até agora não tivemos chance
de penetrar nesse caminho de pesquisa”. E hoje, quase 90 anos depois, ao realizar esta
atualização sobre o assunto, não encontramos nenhum artigo científico sobre o uso de
preparados biodinâmicos na compostagem. O que se tem são apenas livretos de
divulgação destes preparados.
Os preparados biodinâmicos são encontrados no comércio e consistem em
extratos (minerais, vegetais ou animais) geralmente fermentados e aplicados em
quantidades homeopáticas. Dentre os preparados biodinâmicos básicos, os utilizados na
compostagem são: 502 (milfolhas - Achillea millefolium), 503 (camomila - Chamomilla
officinalis), 504 (urtiga - Urtica dioca), 505 (carvalho - Quercus robur), 506 (dente-de-leão
- Taraxacum officinale) e 507 (valeriana - Valeriana officinalis). O preparado 507 (líquido)
deve ser diluído, dinamizado (agitado vigorosamente) e então aspergido sobre a pilha de
composto, os preparados 502 a 506 (sólidos) devem ser colocados como “pitadas”
isoladas na pilha.
Os praticantes da agricultura biodinâmica reivindicaram que as preparações
biodinâmicas aumentam a atividade microbial na compostagem e rendem um produto
melhor, contudo a investigação científica de confiança desta reivindicação é escassa

82 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(REGANOLD,2000). Citamos como exemplo a receita de um dos preparados
biodinâmicos utilizados na compostagem:

Preparado biodinâmico número 502 (milfolhas – Achilea millefolium):


► Material utilizado:
- flores de milfolhas
- bexiga de cervo macho
► Preparo:
- amassar as flores e enfiar dentro da bexiga
- amarrar a bexiga e pendurar em local ensolarado (deixar até abril)
- enterrar até a primavera (Outubro/Novembro)
- desenterrar e usar o preparado imediatamente

As receitas dos outros preparados biodinâmicos estão descritas no “Cadernos


Demeter nº1”, elaborado por CORREIA - RICKLI (1983).
Pfeiffer desenvolveu um inoculante para composto, o Starter® , que contem todas
os preparados biodinâmicos usados na compostagem (502 a 507) mais o preparado 500,
assim como 55 tipos diferentes de microorganismos (culturas misturadas de bactérias,
fungos, actinomicetos, e fermentos). O composto Starter® é usado extensamente por
produtores biodinâmicos por ser de fácil aplicação na pilha de compostagem. Hoje, o
acionador de partida é preparado e vendido através do instituto porter de Josephine
(JPI).
Em trabalho realizado por REGANOLD (2000), compostos foram tratados
biodinâmicamente, um com maturação mais rápida, e outro com mais nitrato do que os
compostos que não tinham recebido as preparações biodinâmicas, mas tinham recebido
um inoculante de solo. Os resultados desta pesquisa suportam a idéia de que o uso das
preparações biodinâmicas no composto poderia apressar o processo de compostagem,
destruir patógenos e remover sementes de ervas daninhas do material, mantendo altas
temperaturas por mais tempo, e mudando o valor do composto resultante como
fertilizante e aumentando a quantidade de nitrato.

FRUTAL’2004 83
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Enriquecimento do composto
A utilização de diversos materiais orgânicos e minerais para a melhoria da
qualidade do composto é uma alternativa eficaz. Além do esterco animal, que
normalmente já participa do processo de compostagem para a inoculação da pilha e para
equilibrar a relação C/N, geralmente se utiliza pós de rocha, resíduos agroindustriais e
materiais vegetais ricos em nitrogênio.

Urina e resíduos vegetais verdes:

Do que o animal ingere, e não aproveita, parte se encaminha para as fezes e


parte para a urina. Em média, pode-se considerar que, do total de nitrogênio ingerido,
cerca de 70% é excretado pela urina e 10 a 15% pelas fezes. Portanto, uma alternativa
extremamente eficiente para o enriquecimento do composto em nitrogênio, e muito
pouco utilizada pelos agricultores, é a utilização de pisos com palhas (“cama”) em
estábulos para reter a urina liberada pelos animais estabulados. Em geral, para a
retenção total da urina produzida por uma vaca adulta são necessários 5Kg a 6Kg de
palha seca por dia de estabulação. Neste caso, tanto a urina quanto as fezes são
aproveitadas, resultando em maior qualidade e maior eficiência de reciclagem
(KHATOUNIAN, 2001).
Um manejo importante que pode enriquecer o composto, é a utilização de
resíduos vegetais verdes, para conservação de nitrogênio e outros nutrientes que podem
ser perdidos durante “secagem” do material. Como exemplo, recomenda-se preparar o
composto, o mais breve possível, quando se empregar capim cameron ou napier
triturados, roçada de grama, dentre outros.

Fosfatos naturais:

Outra alternativa é a utilização de fosfatos naturais, que auxiliam na retenção da


amônia e enriquecem o produto final com fósforo (KHATOUNIAN, 2001). Além disso,
pela sua elevada concentração em cálcio, este elemento também se eleva
significativamente em compostos enriquecidos com fosfatos, conforme verificado por
SOUZA (1998). Este autor, avaliando 12 pilhas de composto preparados com 6Kg/m3 de
fosfato de araxá por ocasião da montagem das pilhas, comparados a 12 pilhas

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
testemunhas (sem enriquecimento com fosfato), verificou uma elevação significativa em
fósforo (+ 156%), cálcio (+ 135%) e zinco (+ 38%), além de uma tendência de elevação
do pH final do produto, conforme a Tabela 22.

Tabela 22: Composição química e teor de matéria orgânica de compostos


elaborados com e sem adição de fosfato de araxá.1

MACRO (%) MICRO (ppm)


M.O.

Discriminação (%) C/N pH N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Sem Fosfato 52 15/1 7,1 2,12 0,71 1,18 2,74 0,48 44 164 17.335 747 25

Com Fosfato 50 15/1 7,4 2.10 1,82 1,36 6,44 0,56 54 226 14.810 905 30

Teste t ns ns ns Ns ** ns ** ns ns ** ns ns ns
1
Fonte: Souza (1998)

Considerando que as adubações orgânicas têm situado na faixa de 30 t/ha


(composto com 50% de umidade), tal adição de fosfato na pilha, equivale a uma
fosfatagem de 1.000 Kg/ha diretamente no solo, acrescida da vantagem do fosfato ser
levado ao solo de forma parcialmente solubilizada pelo ataque microbiano e pela ação
dos ácidos orgânicos.

Calcário:

Quando se emprega em compostagem materiais originalmente ácidos, como


serragem, folhas, acículas de árvores coníferas, grama ou terra ácida de pântano, a
fermentação destes materiais será melhor se forem adicionados de 25 a 50 Kg de
calcário por tonelada da mistura na pilha. O calcário não deverá ser usado em misturas
que contenham maior quantidade de esterco animal ou farinha de sangue ou similares,
pois estas matérias que contém muito Nitrogênio podem corrigir a acidez, naturalmente,
gerando compostos com pH final em torno de 7,0 (KOEPF, 1990).

FRUTAL’2004 85
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Composto de lixo, feito somente com restos de cozinha, que contém muito

carboidratos de fácil acesso para os microrganismos, precisa de 25 Kg de calcário por

tonelada.

KOEPF (1990) fornece ainda uma nota extremamente importante quanto ao uso

do calcário e fosfato de rocha, integralmente concordante com trabalhos de pesquisa e

observações realizadas pelo INCAPER (SOUZA, 2002), nota esta transcrita na íntegra,

a seguir.

NOTA: “No Brasil e outras áreas tropicais, a agricultura exige, via de regra, o uso de

fosfatos de rochas, cujo aproveitamento é melhor se adicionado nas pilhas de composto.

Sendo principalmente fosfato de cálcio, este já traz para a pilha alguns dos efeitos do

calcário, o qual por sua vez pode acelerar demais a decomposição da matéria orgânica,

o que é indesejável em climas tropicais. Portanto: de modo geral, se sugere nestes

climas, que o calcário seja reservado para tratar diretamente o solo (correção de acidez),

e que se adicione em lugar do mesmo, o fosfato de rocha na pilha do composto.”

Farinha de rocha ‘MB-4’:

‘MB-4’ é composto pelos minerais constituintes das rochas que lhe dão origem – o

Biotitaxisto e o Serpentinito, misturadas em proporções iguais e trituradas.

Quimicamente, o ‘MB-4’ apresenta uma composição rica em muitos elementos, vários

deles detectados apenas como traços, totalizando até o momento 29 elementos, dentre

os quais destacam-se:

86 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Sílica em SiO2 - 39,73%
Alumínio em Al2O3 - 7,10%
Ferro em Fe2O3 - 6,86%
Cálcio em CaO - 5,90%
Magnésio em MgO - 17,82%
Sódio em Na2O - 1,48%
Potássio em K2O - 0,84%
Fósforo em P2O5 - 0,075%
Manganês em Mn - 0,074%
Cobre em Cu - 0,029%
Cobalto em Co - 0,029%
Zinco em Zn - 0,03 %
Enxofre em S - 0,18%

PINHEIRO & BARRETO (1996) relatam vários experimentos realizados no Brasil que
atestam a eficácia deste pó de rocha como fertilizante para diversas culturas (aumento
de produção de uva itália em 33%, de arroz irrigado em 20%, de feijão em 58%, dentre
outros), além de relatar as suas funções como promotor de maior resistência vegetal ao
ataque de enfermidades.
Ademais, além do uso direto no solo, apresentam uma recomendação de uso via
biofertilizante e via compostagem, conforme descrito a seguir.

Biofertilizante AD-1 (aeróbico):

Composição:
- 70 litros de água;
- 25 Kg de esterco fresco;
- 3 Kg de ‘MB-4’;
- 4 Kg de açúcar;
- 4 litros de leite.

FRUTAL’2004 87
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Preparo:

Coloca-se o esterco no recipiente aberto (bombona de 100 litros), 1 Kg de açúcar,


1 litro de leite e 40 litros de água; depois, a cada 3 dias, coloca-se 1 Kg de ‘MB-4’, 1 Kg
de açúcar e 1 litro de leite. Colocados os últimos ingredientes (12 dias depois), completa-
se o restante do recipiente com água. Agitar diariamente o produto para homogeneizar
adequadamente. Após 30 dias o biofertilizante estará pronto. Em regiões de elevada
temperatura este tempo pode ser reduzido para 15 a 20 dias.

Aplicação:

A dosagem recomendada para uso direto em pulverizações é de 200 ml do


biofertilizante para cada 20 litros de água.

Composto orgânico enriquecido com ‘MB-4’:

Composição:
- Restos vegetais;
- Esterco bovino;
- ‘MB-4’;
- Biofertilizante AD-1;
- Água.

Preparo:

No processo tradicional de confecção de composto, em camadas alternadas de


materiais vegetais e esterco animal, após as camadas de todos os materiais vegetais,
pulverizar com o biofertilizante AD-1 e colocar 500 gramas de MB-4 por m2 em toda
superfície do composto. Repete-se esta operação também após colocar a camada do
inoculante (esterco). Após as novas sequências de camadas, proceder da mesma
maneira, acrescentando o AD-1 e o MB-4, até o final do preparo da pilha.

88 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Aplicação:

Utilizar o composto pronto da forma habitualmente empregada.

Resíduos agroindustriais:

KHATOUNIAN (2001) cita que, caso a pilha de composto seja feita com material
muito pobre em nutrientes minerais, como por exemplo, apenas palhada de cereais,
faltam nutrientes para manter a atividade das bactérias, reduzindo o aquecimento interno
da pilha. Nesse caso, pode se introduzir materiais ricos em nutrientes, tais como
resíduos de abatedouros, descartes de peixarias, torta de cacau, etc.

Torta ou farelo de cacau:

Um dos principais fatores que deve ser observado na fabricação de um bom


composto orgânico, é o seu teor de nitrogênio, por ser o elemento fundamental para o
desenvolvimento de plantas. Este teor pode ser elevado com o uso de resíduos
agroindustrais ricos em N, como a torta ou o farelo de cacau (Figura 17), os quais
contém de 3,0 a 3,5% do elemento na matéria seca, conforme ilustrado na Tabela 23.
Estes subprodutos, empregados como inoculantes das pilhas, proporcionam compostos
de qualidade superior, conforme confirmam os dados da Tabela 24 (SOUZA, 1998).

Figura 17: Farelo de cacau – resíduo agroindustrial de elevada qualidade e grande


potencial para uso em compostagem orgânica.

FRUTAL’2004 89
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 23: Composição química e teor de matéria orgânica de 4 tipos de
inoculantes.1

Macro (%) Micro (ppm)


Inoculantes M.O. C/N pH
(%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Esterco Galinha 68 19/1 7,1 2,1 0,89 1,14 2,55 0,38 37 116 4.474 369 19

Composto 45 14/1 7,7 2,0 1,88 1,66 8,63 0,49 43 208 11.485 742 23

Torta de Cacau 90 16/1 6,6 3,3 0,64 3,17 0,32 0,58 60 108 3.431 80 36

Terriço de Mata 16 19/1 4,3 0,5 0,04 0,26 0,04 0,01 15 27 20.785 74 1
1
Média de três fontes utilizadas. Fonte: SOUZA (1998)

Tabela 24: Composição química e teor de matéria orgânica de compostos,


preparados com 4 diferentes inoculantes.1

Macro (%)2 Micro (ppm)


Tipos de M.O C/N pH

Compostos (%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Composto/
Esterco 48 15/1 7,2 1,9 1,1 1,2 5,3 0,5 51 204 1.936 891 27

Composto/
Composto 49 15/1 7,1 2,0 1,0 1,1 3,3 0,4 45 166 22.981 902 27

Composto/

Torta Cacau 63 12/1 6,5 3,2 0,7 1,5 1,8 0,5 44 130 17.324 659 35

Composto
Terriço 35 18/1 6,7 1,1 0,4 0,6 1,2 0,2 30 75 20.832 410 24
1
Média de 5 repetições. SOUZA (1998).

Neste trabalho, a quantidade dos inoculantes utilizados durante o empilhamento


foi de 40 Kg para cada metro cúbico de material vegetal, para todos os quatro tipos
avaliados. Isto foi suficiente para proporcionar diferenças significativas de qualidade,
provocando efeitos significativos no comportamento das culturas em nível de campo. Na
Tabela 25, verificamos que foi possível elevar significativamente a produtividade do

90 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
milho-verde com o emprego da torta de cacau como inoculante, em função,
principalmente, do destacado teor de Nitrogênio (SOUZA, 1998).

Tabela 25: Avaliação conjunta do efeito de tipos de inoculantes em compostos


orgânicos, sobre o desenvolvimento do milho verde.1

Espigas comerciais

Tipos Stand Altura Diâmetro No Produti- Peso Comp. Diâmetro


de Final de Do de vidade Médio Médio Médio
Inoculantes Plantas Caule Espigas
3
(40 Kg/m ) (m) (cm) (ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm)

Esterco 15 a 2,5 b 2,1 c 29397 b 6339 b 220 b 17,1 ab 4,5 b

Composto 12 ab 2,4 b 2,2 ab 27745 b 6273 b 232 ab 17,2 a 4,6 a

Torta Cacau 13 ab 2,7 a 2,3 a 38905 a 9384 a 244 a 17,5 a 4,6 a

Terriço 11 b 2,4 b 2,1 bc 26406 b 5642 b 221 b 16,4 b 4,5 ab

CV(%) 15,6 4,9 8,3 12,6 30,0 12,2 5,9 3,9


1
Fonte: Souza (1998).

Mesmo culturas reconhecidamente rústicas quanto à exigência em nutrientes, a

exemplo da batata doce, podem responder de forma diferenciada a compostos que

apresentam qualidades distintas, conforme comprovamos na Tabela 26 (SOUZA, 1997).

FRUTAL’2004 91
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 26: Desenvolvimento da cultura da batata-doce em função de 4 tipos de
inoculantes em compostos orgânicos.1

Tipos Raízes totais Raízes comerciais


de
o o
Inoculantes N Peso de N Produtividade Peso Comprimento Diâmetro Ciclo
Raízes Raízes Raízes de Raízes Médio Médio Médio
3
(40 Kg/m ) (kg/ha) (kg/ha) (g) (cm) (cm) (dias)
Esterco 68 a 38.059 ab 27 a 17.903 ab 221 b 18,1 a 5,2 b 253

Composto 47 c 30.344 b 20 b 14.691 b 237 b 15,3 b 5,3 b 253

Torta de Cacau 49 c 43.850 a 21 b 21.522 a 331 a 17,9 a 6,0 a 253

Terriço 62 b 33.906 b 26 a 16.391 b 199 b 17,6 a 4,9 b 253

CV(%) 5,1 24,5 6,4 25,0 22,7 8,3 8,9 -


1
Fonte: Souza (1997).

Contrastando-se esses resultados com a composição média dos tipos de


compostos, observamos que o composto inoculado com torta de cacau destaca-se nos
teores de matéria orgânica e nitrogênio. Logo, postulou-se que estes fatores foram
decisivos nos rendimentos observados.
Através das análises foliares contidas na Tabela 27, confirmamos as expressões
dos tratamentos empregados sobre o desenvolvimento vegetativo da cultura. O solo
adubado com composto/torta de cacau, conduz a maiores teores foliares de nitrogênio,
potássio, magnésio, ferro e manganês.

Tabela 27: Teores de macro e micronutrientes em folhas de batata-doce, aos 150


dias após plantio, em função de tipos de inoculantes em composto orgânico.
Tipos Macronutrientes (%) Micronutrientes (Ppm)

de

Inoculantes

(40 Kg/m3) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Esterco 4,25 0,49 3,93 0,89 0,41 20 30 450 104 60

Composto 3,90 0,52 4,46 0,74 0,42 23 32 456 104 55

Torta de Cacau 4,65 0,34 4,77 0,89 0,55 22 34 976 123 54

Terriço 3,95 0,53 3,95 0,75 0,42 21 30 370 106 55


Fonte: Souza (1997)

92 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Torta de mamona:

Segundo KIEHL (1985), a torta de mamona pode ser utilizada com efeitos
semelhantes à torta de cacau, por apresentar um teor de N na faixa de 3,0 a 5,0% e um
teor de P e K na faixa de 1,5 a 3,0%.

Por se tratar de um produto relativamente caro, seu emprego se justifica apenas


como inoculante das pilhas de composto, numa proporção de 30 a 50 Kg para cada
metro cúbico de composto recém-montado. Neste caso, pode-se dispensar o uso de
outro inoculante, como o esterco animal (mais comumente usado), de forma a obter um
produto final a custo compensador.

Composição:
Material M.O (%) N (%) C/N P2O5 (%) K2O (%)
Torta de mamona 92.20 5.44 10/1 1.91 1.54
Fonte: Kiehl, 1985.

Farinha de ossos:

Este subproduto pode ser utilizado diretamente no solo ou via o processo de


compostagem. Segundo KIEHL (1985), os ossos são constituídos basicamente de
fosfato de cálcio, distribuído em matriz de natureza orgânica. Relata que a composição
dos ossos é a seguinte: fração orgânica (totaliza 34% dos ossos e contém 7% de gordura
e 27% de osseína, com 5% de nitrogênio) e fração mineral (totaliza 66% dos ossos e
contém 53 a 56% de fosfato tricálcico, com 24 a 26% de P2O5; 1 a 2% de fosfato
trimagnésico; 7 a 8% de carbonato de cálcio e 1 a 2% de fluoreto de cálcio).

Por se tratar de um material de preço relativamente elevado, a quantidade utilizada em


compostagem situa-se na faixa de 20 a 30 Kg por m3 de composto, no momento da
montagem das medas, de forma complementar ao inoculante tradicional à base de
esterco de animais. Isto promove melhorias na qualidade do composto, elevando
principalmente os níveis de nitrogênio, fósforo e cálcio.

FRUTAL’2004 93
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Borra de café:

Subproduto oriundo da industrialização do café solúvel, contendo muita umidade


(80 a 85%), sendo rico em matéria orgânica e relativamente rico em nitrogênio (1,5 a
2,5%, no material seco). A borra de café não deve ser utilizada diretamente como
fertilizante orgânico, devendo sofrer previamente uma decomposição, preferencialmente
através da compostagem orgânica junto com outros materiais (KIEHL, 1985).
Para um melhor enriquecimento do composto, pode ser utilizada uma quantidade
maior na inoculação das medas, na faixa de 50 a 100 Kg por m3 de material palhoso, por
ocasião da montagem das pilhas. Pode ser empregada de forma complementar (menor
quantidade: 50 Kg/m3)) ou em substituição aos inoculantes tradicionais à base de
estercos de animais (maior quantidade: 100 Kg/m3).

Composição:
Material M.O (%) C/N N (%) P2O5 (%) K2O (%)
Torta de café 90.46 22/1 2.30 0.42 1.26
Fonte: Kiehl, 1985.

Preparados biodinâmicos:

Os preparados biodinâmicos são utilizados na compostagem com a função de


ajudar a regular toda atividade interna da pilha, bem como suas trocas com o ambiente –
tanto em termos de substâncias como de forças. Favorecem a microvida mais desejável,
bem como direcionam a formação de substâncias importantes. Compostos tratados com
estes preparados são mais ‘limpos’, mais estáveis e efetivamente mais ricos e
equilibrados para a nutrição do solo e das plantas. A fabricação dos preparados
utilizados neste processo já foi detalhado anteriormente.

94 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Custo de produção de composto

Pouco se conhece sobre os fatores econômicos envolvidos no processo de


compostagem, tornando-se um dos principais aspectos de resistência quanto à adoção
dessa prática em nível de propriedade rural, face aos custos e consumo de mão de obra.
Entretanto, estudos realizados pelo INCAPER demonstram que em sistema orgânico, a
produção de composto orgânico apresenta-se como atividade de elevada viabilidade
econômica.
Os componentes necessários à elaboração de um composto orgânico com 36 m3
iniciais, desde a montagem até a obtenção do composto pronto, podem ser descritos
assim:

A. MÃO-DE-OBRA:
A.1. Roçada e transporte de material 2,0 D/H
A.2. Trituração do capim 0,5 D/H
A.3. Confecção 2,0 D/H
A.4. Reviramentos (4 vezes) 2,5 D/H
A.5. 10 Irrigações 1,0 D/H
B. INSUMOS:
B.1. Adubação da capineira (350 m2) com esterco galinha 100 Kg
3
B.2. Esterco de galinha como inoculante da pilha (40 Kg/m ) 1.440 Kg
B.3. Óleo diesel (transporte de material ) 4,1λ
C. PREÇOS:
C. 1. Esterco de galinha. 0,08 R$/Kg
C..3. Óleo diesel. 0,90 R$/Kg
C. 4. Mão-de obra 10,00 R$/dia
Obs.: Preços em Reais (Outubro/2001).

Diante dessas informações, a composição do custo de produção está totalizada na


Tabela 28, onde observamos que o custo total de uma meda de 36m3 foi de R$ 206,90
para a produção de 9.000 Kg de composto úmido (50%). Assim, o custo médio foi de
23,00 Reais por tonelada do produto. Comparando-se esse valor, ao custo do esterco de
galinha (80,00 Reais/ton), verificamos que o mesmo representa 29%, já incluindo todas
as despesas adicionais com outros insumos e serviços.

FRUTAL’2004 95
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 28: Dados econômicos médios do sistema de compostagem - INCAPER, 20011.
Insumos Serviços

Discrimi- Esterco Óleo Roçada, Confecçã Revira- Irriga- Peso Custo por Proporção
nação de Diesel transporte e o mentos ção Final Toneldada para
Galinha trituração Composto Composto Esterco

(Kg) (l) (D/H) (D/H) (D/H) (D/H) (Kg) (R$) (%)

Quantidade 1.540 4,1 2,5 2,0 2,5 1,0 9.000

23,00 29

Valor (R$) 123,20 3,70 25,00 20,00 25,00 10,00 206,90

1
Média de 20 medas. Valores em Reais (Outubro/2001).

Um exemplo de cálculo da dosagem de adubos orgânicos para plantio

Uma proposta de cálculo, descrita por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), serve
de orientação para proceder os cálculos da quantidade de adubos orgânicos, levando
em consideração a composição dos materiais e a exigência da cultura. Será enfocada a
cultura do morango, como exemplo, para definição dos passos e dos cálculos. Lembre-
se que esta quantidade deve ser considerada como MÍNIMA, visto que leva em
consideração apenas o fator nutriente, dispensando a parte física e biológica do solo.

EXEMPLO

A composição de fertilizantes orgânicos para atender às exigências das culturas,


necessariamente tem que passar por uma sequência de cálculos, para que no final a
planta seja produtiva e rentável.

• PRIMEIRO PASSO:

Saber a composição média de nutrientes que a fonte orgânica contém e, também, a


proporção em que eles ocorrem, principalmente em relação a nitrogênio, fósforo e

96 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
potássio (NPK). Através da composição de diversos resíduos, apresentadas no item
4.2.1, do presente manual , podemos conhecer várias fontes disponíveis para o agricultor.
Para se ter um bom fertilizante para plantio, Dadonas (1989), citado por PECHE
FILHO & DE LUCCA (1997), estabelece que o ideal é que para cada parte de N, haja três
partes de fósforo e duas de potássio.
Assim, as diretrizes para balancear e calcular uma boa formulação de adubos
orgânicos, poderão ser baseadas em fatores de conversão, que é um método rápido e
prático, apesar de não resultar em uma formulação muito rigorosa, porém atende dois
pontos básicos da adubação, que é a capacidade de colocar nutrientes em condições da
planta assimilar e a economicidade.

• SEGUNDO PASSO:

O cálculo do fator de conversão para fertilizantes é simples: basta dividir 100 pelo
teor de nutrientes que o fertilizante possui. Exemplos: 100 dividido por 4% de N, supondo
um esterco de galinha com esse teor, teremos o fator 25 para nitrogênio; para o fósforo
também utilizaremos o fator 25, supondo que este esterco contenha também 4% de
fósforo (100÷4 = 25); para o potássio, o fator será 50, supondo que esse esterco contenha
2% desse nutriente. Portanto, o esterco de galinha que estamos analisando tem um fator
de conversão para NPK igual a 25-25-50.
A Tabela 35 apresenta os fatores de conversão para as principais fontes de nutrientes em
alguns fertilizantes orgânico

Tabela 35: Fatores de conversão para N – P – K, em fertilizantes orgânicos.

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


NITROGÊNIO N P K
Esterco de Galinha 25 25 50
Torta de Mamona 20 50 99
Torta de Algodão 16 33 71
Labe-labe 22 50 (?)
Guandu (sementes) 27 125 54
Mucuna-preta (sementes) 26 95 33
Salitre do Chile 6 0 0

FRUTAL’2004 97
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Esterco de Coelho 50 77 83
Esterco de Bovino Verde 20 40 20
Esterco de Cabra 33 50 33
Resíduo de Esgoto 50 66 200
Bagaço de Laranja 65 476 83
Lixo Curtido 94 312 156
Folhas de Amoreira 26 95 -
Folhas de Mandioca 22 142 -
Crotalária 51 285 55
Feijão-de-porco 39 200 41

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


FÓSFORO P N K
Farinha de Ossos Crua 5 50 0
Farinha de Ossos Carbonizados 3 0 0
Fosfatos naturais (média) 3 0 0
Guano 11 35 91

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


POTÁSSIO K P N
Cascas de Café 26 714 57
Palha de Café 51 400 74
Palha de Milho 60 285 222
Talos de Banana 13 666 133
Cinzas 10 40 0
Esterco de Cabra 33 50 33
Esterco de Ovelha 40 100 50
Esterco Bovino Curtido de Curral 20 40 20
Esterco Bovino Seco 40 66 50
Mucuna-preta (pé) 33 181 44
Palha de Trigo 80 2000 133
Palha de Aveia 52 285 153
Palha de Centeio 100 400 222
Palha de Cevada 80 500 133
Palha de Feijoeiro 52 400 62
Casca de Mamona 55 333 87
Fonte: Dadonas, 1989, citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997).

98 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quanto menor o fator de conversão, maior o teor de nutriente em cada material,
podendo-se notar ainda que em certos materiais, os fatores relativos a N e K são
praticamente idênticos, permitindo apenas receber adição de fósforo (P), para ficar com
uma relação aproximada de 1-1,5-1 ou 1-2-1, facilitando ainda mais obter fertilizantes.

Com base nos critérios de fatores de conversão, podemos calcular as doses


aproximadas para uma adubação satisfatória.

• TERCEIRO PASSO:

Para exemplificar a utilidade do método baseado em fatores de conversão, vamos


calcular uma quantidade de mistura de fertilizantes simples para atender as
necessidades de adubação, determinada pela análise de solo para a cultura do morango.

Ex. Através de uma análise de solo, detectamos que, para a adubação mineral de 1 ha
de plantio de morangos, deveríamos aplicar 40 kg de N, 300 kg de P e 100 kg de K.
Sendo que temos na propriedade, os seguintes fertilizantes orgânicos e seus respectivos
fatores de conversão:

Resíduos orgânicos N P K

esterco de galinha 25 25 50

farinha de ossos 0 3 0

cinzas 0 40 10

Iniciamos os nossos cálculos pelo esterco de galinha, que é a nossa única fonte de
nitrogênio. De acordo com a análise, necessitamos de 40 kg de N no plantio. Assim,
multiplicamos 40 pelo fator de 25, referente ao nitrogênio contido no esterco e teremos
1000 kg, ou seja, 1 ton. de esterco de galinha é necessário para suprir a quantidade
necessária de nitrogênio. Ademais, se utilizarmos 1 ton. de esterco, estaríamos ainda
colocando 40 kg de fósforo e 20 kg de potássio; portanto, temos que descontar a
quantidade necessária, 300 kg - 40 kg = 260 kg de fósforo e 100 kg - 20 kg = 80 kg de
potássio.

FRUTAL’2004 99
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Assim, estamos prontos para continuar os cálculos que agora deverão concentrar-se nas
cinzas porque essa fonte nos fornece fósforo e potássio. Para suprir a necessidade de 80
kg de potássio, multiplicamos essa quantidade pelo fator 10 da cinza e obteremos 800kg
de cinzas necessárias para suprir o potássio. Estes 800 Kg de cinzas também deve
adicionar 20 kg de fósforo na mistura, sendo assim, temos que descontar do total de 260
kg de fósforo faltantes, ou seja, só nos falta 240,0 kg de fósforo para ser suprido pela
farinha de ossos. Para esse cálculo, multiplicamos 240,0 pelo fator 3 da farinha de ossos
e obtemos 720 kg de farinha para completar a nossa mistura. Na Tabela 36, podemos
resumir os nossos cálculos.

Tabela 36: Quantidades de fertilizantes orgânicos para atender os resultados de


uma análise de solo para plantio de morangos.
QUANTIDADE EM KG
FONTE DE NUTRIENTE N P K
1 ton. de esterco de galinha 40,0 40,0 20,0
800 kg de cinzas - 20,0 80,0
720 kg de farinha de ossos - 240,0 -
Total da mistura: 2.520 Kg 40,0 300,0 100,0

Portanto, para atender às recomendações provindas da análise de solo, necessitaríamos


de aplicar na adubação de plantio, uma mistura contendo:
- 1000 Kg de esterco de galinha, contendo 40 kg de N, 40 kg de P e 20 kg de K;
- 800 kg de cinzas contendo 20 kg de P e 80 kg de K e,
- 720 kg de farinha de ossos, contendo 240 kg de P,

Somando todos os ingredientes, a mistura vai pesar 2520 kg, o que eqüivale a 252 g da
mistura por metro quadrado de canteiro de morango, ou seja, 28 gramas por cova
(supondo 9 plantas por m2).

100 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Através deste exemplo, observa-se que a quantidade de adubo orgânico para
nutrição de plantas em sistema orgânico não representa problema. Apenas do ponto de
vista nutricional, 2520 Kg da mistura exemplificada seria suficiente. Se, ao invés dessa
mistura, utilizarmos a dosagem média recomendada para composto orgânico (15 ton. por
hectare) – que contenha 2,0% de N, 1,5% de P e 1,3% de K na matéria seca –
estaríamos aportando 300 Kg de nitrogênio, 255 Kg de fósforo e 195 Kg de potássio.
Compare as duas situações, faça críticas e os devidos ajustes, como “dever de casa”!!!

4.2.7. Adubação verde

A adubação nitrogenada constitui uma prática cara e de elevado custo energético,


que eleva substancialmente os custos de produção das culturas. A substituição desse
insumo por adubos verdes contribui para o aumento da sustentabilidade econômica e
ambiental dos sistemas produtivos, principalmente em países de clima tropical, que
possuem condições climáticas propícias para uma elevada produção de biomassa,
durante todo o ano.
O uso de plantas leguminosas como adubo verde são fundamentais em sistemas
orgânicos de produção, pois permitem a melhoria das condições químicas, físicas e
biológicas do solo, destacando-se a fixação biológica de Nitrogênio, elemento
indispensável para um bom crescimento das plantas. As espécies de adubos verdes
mais utilizados são a Mucuna preta (Stylobium aterrinum), Crotalaria (Crotalaria juncea),
Feijão guandu (Cajanus cajan), Lab-Lab (Dolichos lablab), Canavália (Canavalia
gladiata), dentre outros. A relação de funções que essa prática pode exercer, conforme
relato de Costa et. al (1993) está apresentada a seguir:

• Proteger o solo das chuvas alta intensidade. A cobertura vegetal dissipa a energia
cinética das gotas da chuva, impedindo o impacto direto e a consequente
desagregação do solo, evitando o seu selamento superficial.

• Manter elevada a taxa de infiltração de água no solo, pelo efeito combinado do


sistema radicular com a cobertura vegetal. As raízes, após sua decomposição,
deixam canais no solo que agregam sua estrutura, enquanto a cobertura evita a

FRUTAL’2004 101
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
desagregação superficial e reduz a velocidade de escoamento das águas pelas
enxurradas.

• Promover grande e contínuo aporte de fitomassa, de maneira a manter ou até


mesmo elevar, ao longo dos anos o teor de matéria orgânica do solo.

• Aumentar a capacidade de retenção de água do solo.

• Atenuar as oscilações térmicas das camadas superficiais do solo e diminuir a


evaporação, aumentando a disponibilidade de água para as culturas.

• Recuperar solos degradados através de uma grande produção de raízes, mesmo em


condições restritivas, rompendo camadas adensadas e promovendo a eração e
estruturação, o que pode-se entender como um preparo biológico do solo.

• Promover mobilização e reciclagem mais eficiente de nutrientes. As plantas usadas


como adubo verde, por possuírem sistema radicular profundo e ramificado, retiram
nutrientes de camadas subsuperficiais, que as culturas de raízes pouco profundas
normalmente não conseguem atingir. Quando tais fitomassas são manejadas
(incorporadas ou deixadas na superfície) os nutrientes nelas contidos são liberados
gradualmente durante o processo de decomposição, nas camadas superficiais,
ficando assim disponíveis para as culturas subsequentes. Alguns adubos verdes,
como por exemplo o tremoço-branco, apresentam a capacidade de solubilizar o
fósforo não disponível.

• Diminuir a lixiviação de nutrientes como o nitrogênio. A ocorrência de chuvas de alta


intensidade e precipitações anuais elevadas, normalmente estão associadas a
processos intensos de lixiviação de nutrientes. O nitrogênio mineral por exemplo na
forma de nitrato ( NO3 ), apresenta-se como um dos nutrientes mais sujeitos ao
arraste pela água através do perfil do solo. Essa forma de perda de nitrogênio, além
de afetar o custo da produção de culturas, pode gerar problemas de contaminação de
águas superficiais e subterrâneas.

102 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Promover o aporte de nitrogênio através da fixação biológica, atendendo assim a
grande parcela das necessidades desse nutriente nas culturas comerciais e
melhorando o balanço de nitrogênio no solo.

• Reduzir a população de ervas invasoras dado o crescimento rápido e agressivo dos


adubos verdes ( efeito supressor e/ou alelopático ). A alelopatia é a inibição química
exercida por uma planta ( viva ou morta ) sob a germinação ou o desenvolvimento de
outras. Exemplos desse fenômeno são a ação da cobertura morta de aveia-preta
inibindo a germinação do papuã e da mucuna sobre o desenvolvimento da tiririca. O
efeito supressor é atribuído à ação de impedimento físico. Assim, por exemplo, a
passagem de luz é prejudicada, reduzindo a germinação de espécies exigentes nesse
fator.

• Apresentar potencial de utilização múltipla na propriedade agrícola. Alguns adubos


verdes como aveia, ervilhaca, trevos , serradela ( de inverno ), guandu, caupi e labe-
labe ( de verão ) possuem elevado valor nutritivo podendo ser utilizados na
alimentação animal. Outros adubos verdes possuem sementes ricas em proteínas
que podem ser empregadas inclusive na alimentação humana, caso do tremoço, do
caupi e do guandu. Adubos verdes de porte arbóreo, utilizados na recuperação de
áreas degradadas, como a leucena, apresentam elevada produção de madeira e
carvão vegetal, além de seu potencial de uso como suplemento protéico na ração
animal.

• Criar condições ambientais favoráveis ao incremento da vida biológica do solo.

Apesar de serem utilizadas várias espécies de plantas para adubação verde, as


leguminosas são mais utilizadas pelo fato de formarem associações simbióticas com
bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico dos gêneros Rhizobium e Bradrhizobium.
Assim, além de reciclarem o nitrogênio presente no solo, conseguem adicionar ao
sistema uma quantidade significativa desse nutriente, a um custo relativamente baixo.

A proporção do nitrogênio derivado da FBN (fixação biológica de nutrientes) nas


leguminosas varia entre 60 e 80% (Urquiaga e Zapata, 2000). A disponibilidade desse

FRUTAL’2004 103
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
nutriente no solo, a eficiência simbiótica das bactérias introduzidas pela inoculação das
sementes e, ou, da população de bactérias presentes originalmente no solo são fatores
que interferem na eficiência de absorção (Perin, 2001).
O uso exclusivo de leguminosas na adubação verde pode apresentar alguns
problemas. Após o manejo (tombamento e incorporação ao solo), a rápida decomposição
da biomassa produzida por espécies leguminosas resulta em proteção do solo por um
curto período de tempo e liberação rápida dos nutrientes presentes na biomassa. Assim,
o consórcio entre leguminosas e gramíneas (ex. milheto + crotalária) é recomendado,
podendo resultar nos seguintes benefícios: maior produção de matéria seca e,
conseqüentemente, maior ciclagem de nutrientes; maior taxa de FBN pelas leguminosas,
devido à competição com a gramínea pelo nitrogênio disponível do solo; mais proteção
do solo, devido à manutenção dos resíduos vegetais por maior período de tempo, por ser
menor a taxa de decomposição.
O cultivo de coquetéis de plantas (mistura de várias espécies vegetais, ex. milho,
girassol + feijão-de-porco + mucuna + mamona), em áreas de pousio ou por ocasião da
renovação de pomares de frutíferas de ciclo curto (ex. abacaxizeiro e maracujazeiro),
pode potencializar ainda mais os benefícios da adubação verde. Os coquetéis
proporcionam ao solo a adição de quantidade considerável de matéria orgânica, em
profundidade, particularmente quando se utilizam espécies com sistemas radiculares
profundos e bem desenvolvidos (ex. crotalária, feijão guandu, mamona).

ROWE & WERNER (2000) apresentam uma descrição de como proceder para
empregar a técnica conhecida como “coquetel de adubos verdes”, que vale a pena
conhecer e utilizar. Para tanto, suas proposições estão detalhadas abaixo:

Coquetel de adubação verde

Entre as técnicas para regenerar a fertilidade do solo a adubação verde e o pousio são
as mais utilizadas. A associação destas duas técnicas pode ser feita através de um
coquetel de adubos verdes, tal como um pousio, porém utilizando-se plantas mais
eficientes na produção de massa verde. Esta técnica foi desenvolvida pelo Instituto
Biodinâmico, de Botucatu, São Paulo.

104 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A prática consiste num consórcio em que se misturaram espécies de plantas de diversas
famílias e finalidades, de modo a se obter a maior diversidade possível. Cada tipo de
planta vai crescer no seu ritmo e do seu modo, algumas mais precoces e outras mais
tardias, na vertical ou na horizontal. As raízes de algumas vão explorar a superfície do
solo, outras crescerão em profundidade. Então ao final a diversidade promove maior
eficiência de uso da luz solar e maior volume de raízes em diferentes profundidades. As
diferentes espécies possuem diferentes exigências nutricionais e diferentes habilidades
em extrair os nutrientes, ocorrendo uma complementação entre as plantas que crescem
na mesma área. Assim também ocorre posteriormente uma maior reciclagem de
nutrientes. Com o coquetel é possível obter uma rápida cobertura do solo, que vai
também permanecer por mais tempo, auxiliando muito o manejo de ervas espontâneas.

No momento adequado a massa vegetal poderá ser incorporada ou acamada para servir
como cobertura do solo, tornando-se fonte de material orgânico rico em elementos que
ficarão a disposição do próximo cultivo. Esta prática não tem o inconveniente de ser uma
monocultura. Também é possível obter alguma renda da área com a colheita de algumas
espécies (milho, girassol, sementes de adubos verdes, forragem, etc.).

Modo de fazer o coquetel

♦ Quando necessário, preparar o solo com operações de aração e gradagem.


♦ Misturar as sementes e se preciso, fazer antes a inoculação com inoculante
específico para cada tipo de leguminosa.
♦ Adicionar 5 kg de fosfato natural para cada 100 kg de sementes, com água suficiente
para fixar o produto e deixar secar por algumas horas.
♦ Semear a lanço numa densidade de aproximadamente 100 kg/ha e incorporar com
rastelo ou grade leve. Não é necessário fazer adubação de cobertura e nem capina.

A massa verde deve ser roçada e deixada sobre o solo como cobertura morta no
momento do início do florescimento da mucuna preta (± 150 dias), quando se obtém a
máxima produção de massa verde da mistura. Para se obter uma decomposição mais
rápida, roça-se antes. Para mais lenta, roça-se depois.

FRUTAL’2004 105
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A quantidade de massa verde a ser produzida varia de 50 a 70 t/ha (acima de 20 t/ha já é
considerado bom), podendo atingir em alguns casos até 120 a 150 t/ha. A produção
normal de uma espécie isolada varia entre 25-30 t/ha de massa verde (mucuna, por
exemplo). Portanto, com a prática do coquetel, podemos obter mais que o dobro de
produção de massa verde na mesma área. Convém ressaltar novamente que toda esta
massa verde retornará ao solo, sendo seus nutrientes reciclados pelos microrganismos.

Os efeitos benéficos do coquetel de adubação verde de verão, sobre o cultivo de


hortaliças, persistem por mais de um ano, eliminando ou reduzindo o uso de outras
fontes orgânicas em algumas situações.

As espécies e quantidades citadas nas Tabelas 29 e 30 são oferecidas como sugestão


para um coquetel de adubação verde de verão ou de inverno, mas cada situação requer
o seu “ajuste” próprio para o local. Cada caso é um caso e somente o agricultor no seu
pedaço de terra saberá como agir melhor.

106 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 29: Coquetel de adubação verde de verão.

Espécies principais

Família Nome científico Nome comum kg/ha


- Gram. Zea mays Milho (porte alto) 24
- Leg Stizolobium aterrum Mucuna preta 16
- Leg Canavalia brasiliensis Feijão de porco 16
- Leg Dolichos lab-lab Lab lab 12
- Leg Cajanus cajan Gandu 10
- Com Helianthus annus Girassol 8
- Leg Crotalaria juncea Crotalária 5
- Pol Ricinus communis Mamona 5
- Leg Vigna unguiculata Feijão catador 4
- Grã Panicum miliaceum Painço 4
- Leg Leucena leucena Leucena 2
- Leg Tephrosia cândida Tefrósia 1

Espécies opcionais

- Leg Canavalia obtusifolha Feijão bravo 8


- Leg Crotalaria ochoroleuca Crot. Africana 5
- Leg Calopogonio mucunoides Calopogônio 4
- Leg Crotalaria anageroides Anageróides 3
- Gram. Pennisetum typhoideum Milheto 2
- Pol Fogopirum esculentun Trigo serraceno 2
Fonte: Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural, Botucatu – SP.

FRUTAL’2004 107
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 30: Coquetel de adubação verde de invermo.

Espécies principais

Família Nome científico Nome comum kg/ha


- Gramíea Avena strigosa Aveia preta 15
- Gramínea Secale cereale Centeio 20
- Brássica Raphanus sativus Nabo forrageiro 1
- Leguminosa Vicia sativa Ervilhaca comum 5
- Leguminosa Lupinus albus Tremoço branco 15
- Leguminosa Pisum sativum Ervilha forrageira 30
- Leguminosa Lathiyrus sp. Vicão 20
- Cariofilácea Spergula arvensis Gorga ou espérgula 2
Fonte: Sugestão da EPAGRI/Estação Experimental de Ituporanga para o Alto Vale do Itajaí.

Fonte: ROWE & WERNER (2000).

Apesar das potencialidades reais do uso de adubos verdes em sistemas


orgânicos, principalmente em regiões de clima tropical, o maior desafio a ser vencido é o
estabelecimento de formas de manejo das espécies utilizadas que permitam a sincronia
entre a liberação dos nutrientes presentes na biomassa vegetal produzida e a
necessidade de absorção de nutrientes pelas culturas comerciais.

ADUBAÇÃO VERDE INTERCALAR A CULTURAS PERENES

Essa modalidade assemelha-se à anterior, mas exige alguns cuidados


específicos. Portanto, o adubo verde selecionado não deve ser muito agressivo. A
recomendação geral é de implantação dos adubos verdes no segundo ano da cultura
perene, em áreas onde os riscos de erosão são pequenos. Em caso de grandes riscos
de erosão, deve-se semear desde o primeiro ano, cuidando-se que o adubo verde não
prejudique o desenvolvimento da cultura.

108 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Exemplos de utilização dessa modalidade de adubação verde são: pomares de
bananeiras consorciadas com feijão-de-porco, soja perene, crotalárias, cudzu, caupi,
mucunas; Citrus consorciados com soja perene, siratro, guandu, mucunas, calopogônio;
videiras consorciadas com ervilhaca, ervilha forrageira, chícharo, indigofera e amendoim
rasteiro ( Arachis prostrata ); macieiras e pessegueiros consorciados com trevos,
tremoços, serradela, aveia, ervilhaca, mucuna, labe-labe e crotalárias; seringueira com
cudzu; café com mucunas anãs e cinzas, crotalárias e leucena; goiabeiras, abacateiros e
caquizeiros com indigofera e mucunas.
As principais vantagens da adoção dessa prática são o controle da erosão,
diminuição da ocorrência de enxurradas, redução de incidência de ervas daninhas,
atenuação de perdas de nutrientes por lixiviação e menor oscilação térmica do solo.
Entre as desvantagens destacam-se o acréscimo dos efeitos das geadas, o fornecimento
de abrigo para pragas e moléstias – embora este último aspecto possa ser neutralizado
pela proliferação de inimigos naturais – e o manejo cuidadoso para evitar a competição
do adubo verde com a cultura perene por água, luz e nutrientes.

ADUBAÇÃO VERDE EM FAIXAS

Nesse sistema alocam-se faixas onde são plantados os adubos verdes,


permanecendo o restante da área cultivada com a cultura comercial. Nos anos seguintes,
as faixas são deslocadas, com o objetivo de gradualmente ir promovendo a melhoria do
solo de toda a propriedade. Uma variação desse sistema é o plantio de leguminosas
perenes em faixas que são mantidas fixas, podendo ser utilizadas periodicamente, na
alimentação animal, através de cortes ou distribuídas na área de cultivo comercial,
visando-se à cobertura do solo e à economia da adubação nitrogenada ( caso do sistema
Alley Cropping ). Como exemplo, cita-se o cultivo das culturas de milho e feijão
intercalados com faixas de leucena. Esse sistema adpata-se às regiões decliviosas, onde
as faixas atuam na retenção de enxurradas e no controle da erosão.
Alguns outros exemplos dessa adubação são o cultivo da mandioca com faixas de
crotalária e guandu, do milho e arroz de sequeiro com faixas de guandu e leucena do
trigo com tremoço e do algodão com soja.

FRUTAL’2004 109
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
ADUBAÇÃO VERDE EM ÁREAS DE PUSIO TEMPORÁRIO

O cultivo de adubo verde em áreas degradadas pelo manejo do solo adotado, ou


mesmo em áreas que não estão incorporadas, em curto espaço de tempo, ao processo
produtivo pode ser um atividade viável na propriedade agrícola. A introdução de espécies
como o guandu, indogofera e leucena, por possuírem em sistema radicular bem
desenvolvido e elevada produção de massa, apresentam as vantagens de recuperação das
características do solo e possibilitam o arraçoamento animal formando bancos de
proteínas. A mucuna-preta, cultivada por dois anos, também tem sido utilizada em São
Paulo para recuperação de áreas degradadas.

4.2.8. A fertilidade de solos em sistema orgânico

Estudando-se os efeitos do emprego dessas técnicas de manejo orgânico,


aplicadas ao longo de nove anos, nas diversas unidades de solo da Área Experimental
de Agricultura Orgânica da EMCAPER, observou-se resultados expressivos na melhoria
da fertilidade e no teor de matéria orgânica dos mesmos, conforme podemos verificar
nas discussões específicas de cada fator analisado. Estes dados representam uma
média das 15 unidades de solo, monitoradas individualmente, através de amostragens
múltiplas realizadas anualmente, conforme apresentado a seguir.

4.2.8.1. Matéria Orgânica:

A média geral dos teores de matéria orgânica dos solos mostraram elevações
significativas até o 9o ano, conforme se observa no Gráfico 1, o qual revela que o teor
médio evoluiu de 1,70% em 1990, atingindo um máximo de 2,91% em 1998,
representando um aumento relativo de 71%.
Conhecendo-se os benefícios que pequenas frações deste componente do solo
representa para todo o sistema produtivo, pode-se afirmar que esta elevação de 1,21%
tem propiciado a manutenção e melhoria da fertilidade, com reflexos extremamente
benéficos nas demais características do solo e no desenvolvimento das culturas,
conforme veremos posteriormente.

110 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Gráfico 1: Evolução da Matéria Orgânica dos
solos submetidos a manejo orgânico durante
10 anos. INCAPER, 2000.

3,00 2,91
2,80
2,57
2,53 2,55 2,64
2,50
2,25
M.O (%)

2,38

2,00
1,78 y = -0,0177x2 + 3,4607x - 166,51
1,70
R2 = 0,903
1,50

1,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

4.2.8.2. Soma de Bases (S) e Capacidade de troca de cátions (CTC):

A evolução nos valores da CTC dos solos, observados no Gráfico 2 é reflexo da


evolução similar nos teores de matéria orgânica, mostrando uma progressão gradual ao
longo dos anos. De forma similar, a Soma de Bases desses solos atingiram um valor
máximo no 8º ano (1997), em função da expressiva progressão dos teores de nutrientes
alcançados com o manejo orgânico empregado, como veremos posteriormente.

Gráfico 2: Evolução da Soma de Bases (S) e


CTC de solos submetidos a manejo orgânico
durante10 anos. INCAPER, 2000.
Polinômio (S) Polinômio (CTC)
14,00
y = -0,0523x2 + 10,295x - 496,08
12,00 R2 = 0,631

10,00
Cmol/dm3

8,00
6,00
y = 0,4185x - 32,481
4,00 R2 = 0,7462

2,00
0,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

FRUTAL’2004 111
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.8.3. Fósforo e Potássio:

Os níveis de fósforo e potássio observados nos solos após nove anos de manejo
orgânico tem sido altamente expressivos. De acordo com o Gráfico 3, notamos uma
elevação muito rápida nos teores de fósforo, de forma linear até o 4º ano, proporcionado
pela utilização de Fosfato de rocha associado ao processo de compostagem orgânica
nos três primeiros anos de cultivo.
As contribuições para o aumento nos teores desse elemento no solo podem ser
atribuidos a três fatores principais: à utilização de fosfato natural na confecção de
compostos orgânicos até 1993, ao fósforo componente da matéria orgânica e à
solubilização de fósforo pela ação de ácidos húmicos e microrganismos.
O potássio constituinte dos materiais orgânicos trabalhados (esterco e material
vegetal compostados) se apresenta como o principal responsável pela elevação
observada nos níveis desse elemento no solo, conforme ilustrado no Gráfico 4.
Ao longo de dez anos, os níveis médios de fósforo elevaram-se até 390% (de
46,0 para 225,6 ppm) e os níveis médios de potássio elevaram-se em até 92% (de
144,0 para 276 ppm), podendo ser considerados plenamente suficientes para atender às
necessidades nutricionais de todas as culturas estudadas.

Gráfico 3: Evolução dos teores de Fósforo em


solos submetidos a manejo orgânico durante 10
anos. INCAPER, 2000.
250,0
225,6

200,0 190,8
Fósforo (mg/Kg)

171,6 209,0
191,0
173,6
150,0
126,6
140,6

100,0
y = -2,1167x2 + 417,8x - 20409
59,8
50,0 46,0
R 2 = 0,8586

0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

112 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Gráfico 4: Evolução dos teores de Potássio em
solos submetidos a manejo orgânico durante
10 anos. INCAPER, 2000.
300,0
276,0
264,0
250,0 210,6
230,6
214,0 215,0
Potássio (mg/Kg)

198,0
200,0 183,3

150,0 170,5
144,0

100,0 y = -0,5716x2 + 115,98x - 5640,6


R2 = 0,3714
50,0

0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

4.2.8.4. Cálcio e Magnésio:

De forma similar ao ocorrido com os teores de fósforo e potássio, observou-se


acréscimos significativos nos teores desses elementos, uma vez que o Ca evoluiu
linearmente de 3,2 para 6,6 Cmol/dm3 e o Mg de 0,78 para 1,48 Cmol/dm3 (Gráfico 5).
Os incrementos nos teores de Cálcio e de Magnésio podem ser atribuidos à
presença significativa de tais elementos na constituição da matéria orgânica.
Especificamente para o Ca, o uso de fosfato natural no composto orgânico, nos três
primeiros anos, também teve contribuição considerável nos teores desse elemento, visto
que a fonte usada apresenta rica composição em cálcio.

Gráfico 5: Evolução dos teores de Cálcio e


Magnésio em solos submetidos a manejo
orgânico durante 10 anos. INCAPER, 2000.
7,0
Ca Mg
6,0
5,0
Cmol/dm3

4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

FRUTAL’2004 113
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Como exemplo da eficiência dos níveis de Cálcio para o desenvolvimento de
plantas, os sintomas de deficiência desse nutriente em frutos de tomate, tão comuns na
região produtora convencional em épocas secas, tem sido nulos em todos os plantios já
realizados no sistema orgânico.

4.2.8.5. Saturação por Bases:

Como reflexo das elevações nos teores das bases K, Ca e Mg a Saturação de


Bases do solo apresentou progressão linear até o 7º ano, elevando-se de 61% para 82
%, conforme observado nos índices médios do sistema, contidos no Gráfico 6. A partir
do 8º ano, houve uma oscilação na Saturação, finalizando em 80% após 10 anos de
manejo orgânico.

Gráfico 6: Evolução da Saturação por Bases


em solos submetidos a manejo orgânico
durante 10 anos. INCAPER, 2000.

80,00 82
79
77 77
75 80
70,00 71
69
V (%)

y = -0,6532x2 + 125,61x - 5958,5


60,00 R 2 = 0,7507
61

50,00

40,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

4.2.8.6. pH:

No Gráfico 7, observamos uma evolução linear até o 4º ano, quando os solos


atingiram o índice máximo (7,05), reflexo da adição de fosfato natural na compostagem,
até 1993. Com a retirada do fosfato do sistema, a partir do 5º ano houve uma
estabilização do pH numa faixa ideal para o desenvolvimento cultural (6,60 a 6,96). A
redução dos níveis de alumínio e hidrogênio, associada à elevação das bases do solo (K,
Ca e Mg), certamente foram os fatores que provocaram essas alterações significativas e
desejáveis nos índices de pH do solo.

114 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
De maneira geral, após análise das condições químicas dos diversos talhões,
podemos afirmar que os índices verificados são de grande expressão técnica,
representando elevado grau de fertilidade de solo, que permitem obter desenvolvimento
de plantas e excelentes níveis de produtividade, viabilizando técnica e economicamente
modelos de produção baseados apenas em práticas de manejo orgânico.

Gráfico 7: Evolução do pH em solos


submetidos a manejo orgânico durante 10
anos. INCAPER, 2000.
7,05
6,96
7,00 6,74 6,79
6,66 6,65
6,60
6,43

6,10
Índice

6,00 5,83

5,00
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

4.2.9. Nutrição equilibrada das plantas

Nos sistemas orgânicos de produção, as plantas são nutridas por meio de fontes
minerais de baixa solubilidade, compostos orgânicos e fertilizantes foliares oriundos da
fermentação de esterco animal, enriquecidos ou não com sais minerais (biofertilizantes).
Esses insumos proporcionam um fornecimento equilibrado de nutrientes (macro e
micronutrientes) às plantas.
A nutrição equilibrada é a garantia de plantas saudáveis e produtivas. Tanto a
carência quanto o excesso de nutrientes alteram a bioquímica das plantas, o que leva ao
acúmulo de açúcares ou aminoácidos nas folhas, tornando-as suscetíveis ao ataque de
pragas e doenças (Chaboussou, 1987). Mais do que a quantidade, a proporção
entre os nutrientes é que regula a nutrição das plantas. Assim, adubações
desequilibradas tornam as plantas menos produtivas e mais vulneráveis a determinados
parasitas. Para citros as proporções consideradas ideais são: nitrogênio/cobre = 1.250,
fósforo/zinco = 35, nitrogênio/potássio = 2, potássio/boro = 160, cálcio/magnésio = 10,
cálcio/manganês = 700 (Primavesi, 1999).

FRUTAL’2004 115
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
De acordo com Chaboussou (1987), mais importante do que combater pragas e
doenças é proporcionar às plantas melhor nutrição. Segundo Primavesi (1999), o ácaro-
da-leprose não aparece em pomares com boro suficiente; cochonilhas geralmente
dependem de deficiência em cálcio e aumentam com a aplicação foliar de
micronutrientes; e a estrelinha, ou podridão-floral, normalmente aparece em solos mais
pobres adubados com NPK.
Adubações exclusivas com formulações concentradas de NPK (ex. 20-05-20)
provocam o desequilíbrio do solo, pois as proporções entre os diversos nutrientes irão
mudar ao longo do tempo. Nesse caso, os solos começam a empobrecer em relação aos
macro e micronutrientes não aplicados, mas que estão sendo retirados do sistema por
meio das colheitas.
Potássio é um dos nutrientes que mais contribuem para a resistência das plantas
às doenças. De acordo com Teles (2002), em plantas deficientes em potássio, a
pulverização de cloreto de potássio a 2 a 2,5% constitui uma maneira eficiente de
combate à cochonilha pardinha, pois aumenta a velocidade de proteossíntese e deixa a
praga sem alimento. De acordo com Polito (2002), a planta ou, mais precisamente, o
órgão será atacado pela praga na medida em que seu estado bioquímico (determinado
pela natureza e pela quantidade de substâncias solúveis nutricionais) corresponder às
exigências tróficas do parasita em questão.

4.2.10. Manejo de plantas espontâneas

As plantas espontâneas devem ser manejadas adequadamente e não erradicadas


dos pomares, pois a diversidade vegetal é a garantia de maior diversidade de
organismos benéficos aos agroecossistemas.
Nos sistemas orgânicos de produção, as plantas espontâneas são manejadas por
meio de roçadas, capinas e coberturas viva, morta e plástica. Espécies leguminosas
perenes (ex. amendoim forrageiro, calopogônio) têm sido usadas no controle de plantas
espontâneas nas entrelinhas dos pomares, com a vantagem de incorporarem
quantidades expressivas de nitrogênio ao sistema e reciclarem outros nutrientes
essenciais às plantas. Contudo, o cultivo generalizado dessas espécies nas áreas de
cultivo pode afetar a diversidade de organismos benéficos aos sistemas produtivos.

116 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Nesse caso, recomenda-se deixar faixas de vegetação espontâneas dentro e no entorno
das áreas de cultivo.
O controle da vegetação espontânea com roçadas requer cuidados especiais. A
roçadeira deve ser regulada a uma altura tal que permita o desenvolvimento de uma
população heterogênea de espécies vegetais. Roçadas muito baixas favorecem o
estabelecimento de espécies de folhas estreitas, principalmente gramíneas.
A biomassa vegetal proveniente das roçadas nas entrelinhas do pomar deve ser
deslocada para a região da projeção da copa das plantas, com o objetivo de suprimir as
plantas espontâneas e evitar perda de água nessa região de intensa atividade do
sistema radicular das espécies frutíferas. Nessa operação, o coleto das plantas deve
ficar sempre livre de restos vegetais, de forma a evitar a ocorrência de doenças fúngicas.
Grandes volumes de palhada próximo às plantas podem resultar no surgimento de
algumas pragas de raízes (ex. Pantomorus sp.). Nesse caso, o uso de bokashi ou EM
acelera a decomposição da palhada e aumenta o nível de controle natural.
A identificação de plantas que potencializam a presença de insetos benéficos nas
áreas de cultivo constitui uma medida indispensável ao estabelecimento de sistemas
sustentáveis de produção. Botelho et al. (1994) associaram, em parte, a maior
abundância de parasítóides em um agroecossistema hortícola à presença de picão-preto,
no estádio de florescimento. Verificaram também que o botão-de-ouro mostrou-se muito
atrativo, tendo sido constatada alta atividade de insetos nas flores.
De acordo com Van Emden (1963) e Root (1973), citados por aqueles autores, a
presença de flores em áreas contíguas às culturas exerce influência fundamental na
biologia de parasitóides, atraindo-os e aumentando seu potencial reprodutivo. Botelho et
al. (1994) ressaltaram também a importância de se conservar a cobertura do solo e as
plantas silvestres nas áreas de cultivo, pois, além de aumentar a diversidade do
ambiente, elas são valiosas para os predadores noturnos.
Os maiores especialistas em controle integrado consideram o controle biológico
natural o componente mais importante dos fatores naturais de manutenção das espécies
em equilíbrio, especialmente em países tropicais, como o Brasil, em que a diversidade de
espécies é muito maior, face à pouca variação de temperatura e ao inverno não-rigoroso
(Durigan e Pitelli, 1994). Ming-Dau et al. (1981), citados por esses autores, verificaram
que o controle do ácaro-vermelho-dos-citros (Panonychus citri McG.) pelo ácaro
predador é diretamente influenciado pela presença de plantas daninhas (Ageratum

FRUTAL’2004 117
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
conyzoides Linn.) florescidas durante oito meses do ano, as quais fornecem pólen para a
alimentação do inimigo natural, além de propiciar abrigo e alterações benéficas do
microclima sob a copa das plantas cítricas. Essas plantas daninhas reduziram a
temperatura do ar, durante o verão, de 40-45 oC para menos de 35 oC, além de
aumentarem a umidade relativa do ar, no interior da copa das plantas de citros.
Uma vez identificadas essas plantas benéficas ao agroecossistema, a prática de
roçadas e capinas seletivas permite o estabelecimento dessas espécies vegetais nas
áreas de cultivo. Caso essas espécies não ocorram naturalmente, elas podem ser
introduzidas nas áreas de cultivo.

4.2.11. Modificação do ambiente próximo e no interior da copa das plantas

O ambiente no interior da copa e no entorno das plantas frutíferas é modificado


com a utilização de espaçamentos maiores, abertura da copa das plantas por meio de
podas de formação e de condução e arqueamento de ramos, coroamento das plantas,
poda de limpeza no inverno (retirada de ramos secos e doentes), escolha do sistema
ideal e manejo adequado da irrigação, dentre outros procedimentos. O conjunto dessas
práticas auxilia no controle de pragas e doenças, em função de mudanças na
luminosidade, ventilação, temperatura e umidade dos tecidos vegetais. Esses fatores têm
grande efeito sobre a infestação e a persistência de patógenos nas culturas. Por
exemplo, a melhor aeração das plantas permite rápida redução da umidade na superfície
foliar, desfavorecendo a germinação de esporos do fungo causador de ferrugem. Ácaros
e cochonilhas são também bastante influenciados por mudanças microclimáticas nas
árvores. Esses procedimentos também permitem melhor exposição dos tecidos vegetais
aos produtos aplicados às plantas.
Para culturas sensíveis a doenças fúngicas (ex. citros em relação à gomose),
deve-se dar preferência a sistemas de irrigação que não umedeçam os tecidos vegetais,
como os sistemas de gotejamento e microaspersão localizada sob copa. Caso o sistema
disponível seja o de aspersão convencional, a irrigação deverá ser feita no fim da
madrugada, quando as plantas já se encontram umedecidas pelo orvalho. Excessos de
umidade no solo próximo às plantas também devem ser evitados, pois favorecem as
podridões de raízes e a ocorrência de doenças fúngicas na região do coleto das
frutíferas. A manutenção do coleto das mudas no nível do solo, por ocasião do plantio,

118 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
evita problemas fitossanitários dessa natureza. O coroamento das plantas também reduz
a ocorrência de doenças fúngicas e o ataque de brocas ao tronco das plantas.

4.2.12. Plantas companheiras

Além das leguminosas e determinadas plantas espontâneas, outras espécies


vegetais apresentam características importantes para o manejo sustentável de
agroecossistemas. Algumas são utilizadas para o controle de nematóides (ex. plantas
dos gêneros Tagetes (cravo-de-defunto), Chrysanthemum e cultivares de Ricinus
communis (mamoneira). Espécies que produzem flores vistosas e em abundância (ex.
hibiscus, girassol, feijão guandu, crotalária) atraem insetos polinizadores.
A introdução dessas plantas nas áreas de cultivo pode se dar mediante rotação,
consórcio, formação de cordões vegetados e quebra-ventos, dentre outras formas.

4.2.13. Quebra-ventos

Em regiões com ocorrência de ventos fortes e constantes, recomenda-se a


implantação de quebra-ventos. Estes não devem ser muito compactos, de forma a
permitir a passagem de parte do vento entre as árvores, para uma adequada aeração do
pomar.
Segundo Dubois et al. (1996), os quebra-ventos devem ser formados por fileiras
de árvores e arbustos de vários tamanhos, dispostas de modo desencontrado. Do lado
que recebe o vento dominante, uma primeira linha é plantada com arbustos (ex. guandu,
leucena, bananeira). A segunda e terceira linhas são plantadas com espécies de porte
alto e, preferencialmente, sempre verdes (ex. eucaliptos, casuarina, cássia, acácia-
mângio, mangueira). A última linha, do lado da área cultivada, é plantada novamente
com arbustos.
Segundo esses autores, para manter um grau adequado de permeabilidade do
quebra-vento, é necessário, às vezes, podar as árvores das segundas e terceiras linhas,
eliminando os ramos que ocupam a parte inferior dos fustes. Sempre que possível,
espécies frutíferas (bananeira, abacateiro, mangueira), espécies madeireiras (eucalipto,
angico, pinus), árvores que servem para lenha (leucena, grevílea, acácia) ou plantas que
servem para alimentar o gado (algarobeira, guandu, leucena) devem ser utilizadas na

FRUTAL’2004 119
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
formação dos quebra-ventos. Por ocasião das podas ou raleio dos quebra-ventos, os
materiais resultantes destas práticas podem ser aproveitados. Pelo menos uma fileira de
árvores altas deve ser mantida em pé, enquanto as árvores derrubadas rebrotam de toco
ou são replantadas. A área máxima protegida pelo quebra-vento é cerca de 20 vezes a
maior altura do quebra-vento.
Os quebra-ventos previnem não somente contra danos causados por ventos
fortes, mas também criam microclimas favoráveis ao desenvolvimento das plantas.
Evitam que ventos fortes passem rente ao chão ou entre as plantações, carreando a
umidade do solo e das plantas, aumentando a evapotranspiração das culturas. Os
quebra-ventos também servem de abrigo para pássaros e outros organismos benéficos,
que auxiliam no controle de pragas e doenças que atacam diversas fruteiras. Ao diminuir
a velocidade do vento, cria um ambiente favorável a pequenos insetos, como
parasitóides.

4.2.14. Manejo de água e Irrigação em sistemas orgânicos

Qualidade da água:

A qualidade da água para irrigação em propriedades orgânicas deve ser a primeira


preocupação na atualidade, devido à poluição das fontes de superfície, por resíduos
industriais (metais pesados, cloro, fenóis, álcalis e outras substâncias químicas), por
resíduos municipais (esgoto e lixo urbano), e por resíduos agrícolas (agrotóxicos, nitratos
de adubos solúveis, materias fecais, etc.). As águas subterrâneas também estão sendo
poluídas, principalmente por herbicidas, nitratos e materiais fecais. Águas poluídas, com
excesso de sais e cloriformes fecais, são de uso proibido em agricultura orgânica.
Portanto, recomenda-se utilizar águas de fontes não contaminadas, tanto de
superfície como subterrânea; inspeções e análises de qualidade devem ser feitas sempre
que houver suspeita de contaminação; proteção de mananciais, pela preservação da
cobertura vegetal natural; proteção de lagos, represas e rios contra resíduos e contra
agrotóxicos trazidos pelo vento de áreas convencionais próximas e por enxurradas, que
também podem carrear resíduos de adubos químicos e materiais fecais.

120 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quantidade de água:
Pelo severo processo de desmatamento realizado há décadas atrás, associado à
grande perda de biodiversidade nos agroecossistemas, o volume de água tem diminuído
substancialmente, tornando-se um fator crítico em algumas regiões do Brasil.

Em propriedades orgânicas, recomenda-se adotar o sistema de caixas secas em


estradas e carreadores, como forma de:
• Controlar a erosão.
• Conservar estradas e carreadores.
• Retardar o escoamento superficial e aumentar a infiltração das águas das chuvas.
• Evitar assoreamento de leitos de rios e lagos.
• Reintroduzir esta água no lençol freático.
• Disponibilizar esta água para manutenção das nascentes durante o ano todo,
proporcionando estabilidade na vazão.

O sistema de caixas secas inicia-se com um diagnóstico das estradas que servem a
propriedade, fazendo uma medição da extensão, largura, e porcentagem de inclinação.
Com estes dados, mais a precipitação média e a probabilidade de chuvas pesadas na
região, calcula-se a distância entre as caixas e o tamanho das mesmas.
O passo seguinte é a localização das caixas nas estradas da propriedade, e em
seguida a escavação com máquina tipo retro escavadeira. A terra que é extraída dos
buracos pode ser utilizada dentro da estrada para criar grandes lombadas, as quais
servem de barreira para a água, desviando a mesma para serem coletadas nas caixas. O
princípio de ação do sistema de caixas secas é não deixar a água ganhar volume e nem
velocidade.

Irrigação:

Quanto aos métodos de irrigação a serem empregados, de maneira geral os


sistemas de irrigação por micro-aspersão e gotejamento se aplicam para a maioria das
espécies hortícolas cultivadas organicamente. Uma análise técnica das condições
edafoclimáticas e da cultura de interesse deverá ser empregada para a definição do
sistema mais adequado para cada caso.

FRUTAL’2004 121
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.15. Manejo e controle de pragas e doenças

4.2.15.1. Métodos de manejo:

Em agricultura orgânica, o que se busca é o estabelecimento do equilíbrio


ecológico, através do emprego das técnicas que foram descritas antes, como a escolha
de espécies e variedades resistentes; o manejo correto do solo; a adubação orgânica,
com fornecimento equilibrado de nutrientes para as plantas; o manejo correto das ervas
nativas; a irrigação bem feita e o uso de rotação e consorciação de culturas.
Além disso, antes de se lançar mão de métodos alternativos de controle, deve-se
lembrar que o emprego dos princípios e conceitos convencionais de MIPD–Manejo
Integrado de Pragas e Doenças podem auxiliar de forma marcante na definição das
práticas de manejo e controle em sistemas orgânicos. Observe, por exemplo, algumas
táticas do controle integrado da murcha bacteriana das solanáceas, causadas por
Ralstonia solanacearum, e sua importância relativa, na Tabela 31.

Tabela 31 : Controle integrado da murcha bacteriana das solanáceas causada por


Ralstonia solanacearum.

Medida de Controle Valor Relativo *


Solo livre do patógeno 7
Solos supressivos 4
Rotação da cultura 4
Resistência ou tolerância 3
Material propagativo sadio 3
Época de plantio 3
Clima frio 2
Evitar disseminação por água de irrigação 2
Controle de nematóides 2
Aquecimento do solo 2
Roguing de plantas doentes 2
Desinfestação de ferramentas e equipamentos 2
Solarização 1
Cultivo mínimo 1
Incorporação de resíduos orgânicos 1
Fonte: French ( 1994 ), citado por ZAMBOLIM, 1997.
*Valor relativo baseado numa escala de 1 a 7, em que 1 significa medida de pouco valor e 7
medida de valor muito alto.

122 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A presença de um agente patogênico na planta raramente resulta em doença se
não houver condições favoráveis ao patógeno. O conhecimento das condições básicas
para que ocorra doença em plantas em caráter epidêmico como hospedeiro suscetível e
cultivado em grande extensão, presença de grande quantidade de inóculo do patógeno
na área e de raças virulentas do patógeno e ambiente favorável a infecção e que deve
persistir por vários ciclos de vida do patógeno, constitui a base para o estabelecimento
de esquema de controle integrado de fitopatógenos.
O sucesso no controle da maioria dos agentes bióticos requer conhecimento
detalhado do ciclo de vida de cada organismo envolvido, de seu comportamento na
planta e do efeito dos fatores do ambiente na interação entre patógenos e hospedeiro
(ZAMBOLIM et al., 1997).
Embora uma doença específica possa, em certos casos, ser controlada por uma
única medida de controle, a complexidade de fatores envolvidos requer o uso de mais
um método para alcançar controle adequado da mesma. Daí a necessidade de
concentrar esforços visando combinar várias medidas e vários métodos de controle quer
sejam físicos, mecânicos, culturais, genéticos, legislativos, químicos e biológicos, para
que se obtenha otimização na redução de intensidade das doenças e,
consequentemente se alcance o máximo em produtividade, sem reflexos negativos no
meio ambiente.
As perdas que as doenças causam variam com uma série de fatores, dentre os
quais citam-se o clima e a suscetibilidade das variedades e do patógeno. No Manejo
Integrado das Doenças (MID), além desses fatores, é importante considerar também:

• O modo de transmissão do patógeno (sementes, mudas).

• A forma de sobrevivência do patógeno (clamidospóros, escleródios,oosporos,


cistosoro, cistos, massa-de-ovos, juvenis de fitonematóides, micélio, células
bacterianas em solo, em restos culturais, em plantas daninhas e em partes da
planta ).

• A maneira pela qual o patógeno é disseminado ( mudas, sementes, bulbilhos,


águas de irrigação e tipo de irrigação; respingos de chuvas e água de

FRUTAL’2004 123
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
enchurrada; vento; implementos agrícolas; insetos como pulgão, trips, mosca-
branca e cigarrinha; solo infestado; restos culturais ).

• As condições favoráveis ao surgimento da doença (planta suscetível,


temperatura, umidade relativa, umidade do solo, tipo do solo, chuva, pH do solo,
deficiência de nutrientes e densidade de plantas).

As condições favoráveis ao desenvolvimento da maioria das doenças fúngicas e


bacterianas que atacam a parte aérea das hortaliças são: alta umidade relativa, chuva e
temperatura entre 18 e 25º C. Além disso, há que considerar a densidade de plantas por
área, o tipo de irrigação ( aspersão, infiltração ), a quantidade de água de irrigação e a
forma e quantidade de nutrientes.
Para fungos, bactérias e nematóides do solo, há que se considerar o pH e tipo de
solo, teor de matéria orgânica, nutrientes, umidade e temperatura do solo.
A disseminação das doenças causadas por vírus em hortaliças depende da
presença do vetor, de hospedeiros cultivados ou silvestres e das condições do ambiente,
como, por exemplo, da chuva, temperatura, luminosidade e altitude.
Todos esses fatores citados, aliados a tantos outros, podem interagir
harmonicamente num agroecossistema orgânico, permitindo reduzir a manifestação de
pragas e doenças, minimizando de forma segura as possibilidades de perdas nas
culturas comerciais, conforme ilustra a Figura 18.

124 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Rotação cultural Diversificação

Tratamento biológico Inundação do


do solo solo

Variedades
Matéria orgânica resistentes
(Antagonismos,
resistência induzida, etc..)
‘Roguing'

Manejo de água e
Umidade
Associação de
cultivos
Aeração do ambiente
PRAGAS Limpeza manual
& (folhas e hastes)
doentes
Sementes e mudas
sadias
DOENÇAS
(orígem ou cultura
Quebra-Ventos
tecidos)

Eliminação de restos Termoterapia


culturais

Solarização
Espaçamento

Caldas e Extratos
Eliminação de
hospedeiros

Biofertilizantes
Armadilhas luminosas

Época de plantio
Controle biológico
(Bacillus, Trichograma, Ferormônios
Baculovirus, etc.)

Figura 18: “O que fazer com tantas pragas e doenças na Agricultura Orgânica, se
não posso usar agrotóxicos”?

FRUTAL’2004 125
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em sistemas orgânicos de produção, o uso e reciclagem constante de matéria
orgânica permite minimizar problemas fitossanitários de forma significativa, conforme
pode se comprovar através das relações entre matéria orgânica e patógenos contidas
nas Tabelas 32, 22 e 34.

Tabela 32: Efeito de Composto de Palha de Café (CPC), Composto de Lixo Urbano
(CLU), Composto de Casca de Eucalipto (CCE) e Vermicomposto (VER) no peso da
matéria seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e massa de ovos
de Meloidogyne javanica (Mj).

Substrato Peso da Galhas por Massa de Galhas por


matéria seca planta1 ovos por planta2
do tomateiro planta
(g)
Solo + Mj 98.20 a 1748.40 a 1861.80 a 110.82 bc
Solo – Mj 103.43 a A A A
CPC + Mj 117.61 a 103.40 c 59.00 c 58.80 c
CPC – Mj 104.40 a A A A
CLU + Mj 96.46 a 1853.80 a 1945.60 a 134.00 bc
CLU – Mj 84.62 a A A A
CCE + Mj 100.00 a 1581.00 a 1787.75 a 284.01 b
CCE – Mj 107.68 a A A A
VER + Mj 105.40 a 1053.02 b 815.00 b 484.22 a
VER - Mj 103.20 a A A A
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1996.
* Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste de Tukey.
1
Número de galhas e massa de ovos por planta, 60 dias após o primeiro transplante.
2
Número de galhas por planta, 40 dias após o segundo transplante.
A – Nenhuma galha ou massa de ovos foi observada.

126 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 33: Efeito do Composto de Fazenda (CF), Vermicomposto (VER) e
Composto de Palha de Café (CPC), misturado ao solo (1:1), sobre o peso da
matéria seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e massa de ovos
de Meloidogyne javanica.

Substrato Peso da parte Galhas por planta Massa de ovos por


aérea (g) planta
Solo 133.64 b 4631.51 a 2475.72 a
CF 138.37 b 569.20 c 320.40 b
VER 222.48 a 2311.00 b 2448.56 a
CPC 97.58 c 77.99 c 77.14 b
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1996.
* Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste de Tukey.

Tabela 34: Exemplos de doenças de hortaliças afetadas pelo uso de compostos


orgânicos.

Doença Patógeno Cultura Composto Efeito no


Orgânico patógeno e/ou
doença
Meloidoginose Meloidogyne Tomate Esterco de Redução da
javanica bovino população
Meloidoginose Meloidogyne Cenoura Esterco de suíno Redução da
javanica Esterco de população
Podridão Sclerotium Alho Vermicomposto Redução da
branca cepivorum Cebola Torta de cacau população
Esterco de aves
Mancha Leandria Pepino Vermicomposto Redução da
Zonada momordicae Palha de café doença
Tombamento Rhizoctonia solani Pepino Casca de Redução da
madeira doença

FRUTAL’2004 127
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tombamento Rhizoctonia solani Rabanete Esterco de Redução da
Sclerotium rolfsii bovino população
Murcha Fusarium Tomate Vermicomposto Redução da
oxysporum f.sp. doença
Podridão Botrytis spp. Aspargo Esterco de Aumento da
bovino doença
Raiz-rosada Pyrenochaeta Cebola Adubo verde Redução da
terrestris doença
Hérnia-das- Plasmodiophora Repolho Casca e restos Redução da
crucíferas brassicae culturais de arroz doença
Podridão-de- Sclerotinia minor Alface Resíduos de Redução da
esclerotinia esgoto urbano população
Casca de
pinheiro
Podridão-de- Fusarium sp. Inhame Casca de Controle da
rizoma pinheiro doença
Sarna Streptomyces Batata Composto de Efeito variável
scabies fazenda
Murcha Phytophthora Pimentão Exoesqueleto de Redução da
capsici crustáceos doença
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1997.

Além da relação com a matéria orgânica, as doenças apresentam uma estreita


correlação com os nutrientes foliares e do solo. SOUZA & VENTURA (1997), estudando
níveis foliares de nutrientes na cultura da batata, identificaram correlação significativa
com a incidência de requeima provocada pelo fungo Phytophthora infestans. O estudo
confirmou correlação positiva para Nitrogênio e Fósforo e correlação negativa para
Cálcio e Boro.
Na Tabela 35, são apresentados os princípios de controle de doenças em
hortaliças, com as principais medidas e seus efeitos epidemiológicos, recomendadas
para sistemas convencionais, mas que na maioria dos casos se aplicam perfeitamente a
sistemas orgânicos e estão de acordo com a Instrução Normativa Nº 07, do Ministério da
Agricultura. Verifica-se que algumas medidas atuam sobre o inóculo inicial, outras sobre
a taxa de desenvolvimento da doença e algumas sobre ambos. Algumas medidas atuam

128 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
também sobre o tempo, como por exemplo, antecipando ou retardando o plantio ou a
colheita, para fugir à doença.
Assim, pode-se dizer que o controle integrado de doenças de hortaliças nada mais
é do que estabelecer uma estratégia de controle de doenças que envolva todos os
conhecimentos relacionados com o processo infeccioso e o desenvolvimento da doença.
Para isso, pesquisadores, técnicos e agricultores devem estar atentos aos efeitos dos
fatores do ambiente sobre as doenças e conscientes da necessidade de saber escolher
os métodos de controle mais adequados, econômicos e eficientes. O agroecossistema
precisa ser preservado, e é de fundamental importância que as medidas de controle
contemplem este objetivo.
Em se tratando das doenças em pós-colheita em hortaliças, há que se considerar
a temperatura e a umidade relativa. Entretanto, tais doenças estão ligadas ao tipo de
manejo da cultura no campo e aos cuidados que devem ser tomados na colheita, no
transporte e armazenamento. Injúrias de qualquer natureza ( mecânica, queima por sol e
frio ) durante estas fases constituem as principais causas das doenças em pós-colheita
(ZAMBOLIM et al., 1997).

FRUTAL’2004 129
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 35: Princípios e medidas de controle de doenças que se aplicam às
hortaliças e seus principais efeitos epidemiológicos.

Princípio Medida de Controle Atua Sobre


de
Controle Inóculo Taxa Tempo
inicial (r) (t)
(Xo)
Inspeção e certificação de sementes e mudas +
Quarentena e barreira +
Exclusão Tratamento químico e térmico de sementes e mudas +
Desinfestação de máquinas, bandejas de isopor para sementeira, +
implementos e ferramentas destinadas a podas
Emprego de sementes e mudas sadias +
Indexação ( cultura de tecido ) +
Eliminação e queima de restos culturais +
Eliminação de hospedeiros principais e/ou alternativos +
Eliminação de plantas doentes “roguing” + +
Emprego de plantas armadilhas e antagônicas a nematóides +
Poda de ramos doentes + +
Aração visando enterrio de restos culturais doentes +
Emprego de fungicidas erradicantes +
Erradicação
Emprego de nematicidas +
Rotação de culturas +
Inundação do solo +
Tratamento do solo (biológico, térmico, químico) +
Solarização +
Tratamento de sementes e mudas ( térmico e fungicidas +
erradicantes )
Desinfestação de embalagens, equipamentos e de armazéns +
Eliminação de patógenos pela cultura de tecidos +
Termoterapia (calor) +
Terapia Quimioterapia (fungicidas sistêmicos ) +
Poda de ramos doentes +
Resistência de vertical +
Resistência horizontal + +
Resistência Resistência induzida pela nutrição +
Resistência por quimioterapia + +
Fusão de protoplastos + +
Proteção cruzada (pré-imunização) + +
Tratamento químico de semente, mudas e sementeiras (substrato) +
Proteção Pulverização com fungicidas +
Controle de insetos vetores +
Tratamento pós-colheita ( químico e biológico ) +
Escolha de área e/ou local de plantio + + +
Escolha da época de plantio + + +
Modificação do ambiente por práticas culturais + +
Armazenamento de sementes, hortaliças e frutos em ambientes + +
modificados ( refrigeração )
Plantio em locais de altitude maior que 1.000 m, para fugir de + +
Escape
insetos vetores
Sementes com alto vigor + +
Profundidade de plantio +
Emprego de cultivares de ciclo precoce + +
Cultivares em arquitetura ereta +
Espaçamento e número adequado de plantas por área +
Cultivares com maior teor de cera nas folhas, com frutos mais +
distantes do solo bem protegidos
Fonte: WHETZEL (1929); CHAVES (1966); ZADOKS & SCHEIN ( 1979 ); KIMATI
& BERGAMIN FILHO (1995). In: Zambolin, et. al., 1997.

130 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
No Manejo Integrado de Pragas (MIP), recomenda-se lançar mão de táticas
adequadas, as quais podem assim ser resumidas:

• Reconhecimento das pragas-chave da cultura: nem todas as pragas que ocorrem


na cultura são necessariamente pragas-chave, ou seja, pragas importantes para a
cultura. Um exemplo disso é a larva minadora de folhas. Apesar de ser considerada
importante, a larva minadora de folhas é uma praga que, de modo geral, aparece em
decorrência do uso abusivo de inseticidas em sistemas convencionais de cultivo. Há
diversos agentes de controle biológico (inimigos naturais) que controlam tal praga,
entretanto, com o uso excessivo de produtos, ocorre mortalidade dos agentes de
controle biológico, o que permite o aumento da população da praga.
• Reconhecimento dos inimigos naturais da cultura: Diversos insetos atuam como
agente de controle biológico e podem reduzir a infestação de pragas nas lavouras,
gratuitamente. Por isso, a preservação dos mesmos é muito importante.
• Amostragem: A determinação da presença de pragas (ovos, larvas, adultos, etc.) e
seus danos, bem como a de seus inimigos naturais, devem ser monitorada. Essa é a
melhor maneira para o produtor avaliar a real necessidade de controle com métodos
alternativos. Portanto, no MIP, o controle das pragas deve ser corretivo e não
preventivo, na maioria dos casos.
• Táticas de controle: Emprego de produtos alternativos.

Mesmo com todo equilíbrio ecológico estabelecido em sistemas orgânicos de produção,


a ocorrência de algumas pragas e doenças persistentes são comuns, podendo-se citar a
Traça do tomateiro ( Tuta absoluta ), a requeima da batata e tomate (Phytophthora
infestans), dentre outros. Assim, torna-se necessário utilizar métodos alternativos
naturais ou pouco agressivos ao meio ambiente para auxiliar no controle específico
desses problemas.

FRUTAL’2004 131
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4.2.15.2. Métodos de controle:

a) SUBSTÂNCIAS INSETIDIDAS E FUNGICIDAS:

Nos casos em que as medidas enfocadas anteriormente não sejam suficientes para
evitar danos econômicos provocados por pragas e doenças, há uma série de produtos
preparados a partir de substâncias químicas, biológicas, orgânicas ou naturais pouco
tóxicos à saúde humana e ao meio ambiente, que são indicados para uso em sistemas
orgânicos de produção. Grande parte desses produtos é facilmente preparada na
propriedade, com custos bastante reduzidos. No entanto, a utilização periódica desses
preparados pode indicar que o equilíbrio ecológico do sistema não foi alcançado (Costa
e Campanhola, 1997).
Apesar da extensa literatura sobre o preparo e uso de defensivos alternativos, existe
uma carência de estudos sobre a real eficiência destes produtos no controle de pragas e
doenças. A falta de controle de qualidade deles também é outro problema, pois
observam-se resultados contraditórios.

• Extrato de Nim:

O óleo de nim, árvore da família Meliaceae, originária da Índia, vem sendo


amplamente utilizado em sistemas orgânicos de produção no controle de diversas
pragas, como: mosca-branca, mosca-minadora, mosca-das-frutas, pulgões, traça-das-
crucíferas, lagarta-do-cartucho, brocas do tomateiro, ácaros fitófagos, trips, cochonilhas,
bicho-mineiro-do-cafeeiro, bicho-minador-dos-citrus, dentre outras. Esse produto é
utilizado há mais de 2.000 anos, na Índia, para o controle de insetos-pragas, nematóides,
alguns fungos, bactérias, na medicina humana e animal.
Produtos à base de nim não provocam a morte imediata do inseto, mas a interrupção do
seu crescimento e conseqüente diminuição da população da praga. Interrompe o
crescimento do inseto por provocar distúrbio na ecdise (troca de pele dos insetos), diminui
postura e mata os ovos dos insetos O uso do nim em sistemas orgânicos de produção tem
sido questionado, por constituir um produto não-seletivo. Entretanto, trabalho desenvolvido
por Mansour et al. (1986) mostra que as populações do ácaro predador Phytoseiulus
persimilis e da aranha Chiracanthium milder não sofreram redução quando se pulverizaram
extratos de nim para controlar o ácaro fitófago Tetranychus cinnabarinus em folhas de
citros.

132 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Extrato de Pimenta do reino, alho e sabão:

Prepara-se uma garrafa de 100 gramas de pimenta do reino em 1 litro de álcool;


deixar por 1 semana; ao mesmo tempo, fazer outra garrafa de 100 gramas de alho em 1
litro de álcool; passada esta semana, dissolver 50 gramas de sabão neutro em 1 litro de
água quente; apenas na hora de aplicação, juntar as três partes na seguinte proporção: 200
ml da garrafada de pimenta + 100 ml de garrafada de alho e toda solução de sabão podem
ser diluídos em 20 litros de água (1 pulverizador costal ).
Aplicação: deve ser feita nas horas mais frescas do dia; a preparação é
especialmente para as pragas da batatinha, tomate, pimentão e beringela.

• Extrato de Primavera:

Os produtores convencionais de tomate e alface em estufa, principalmente durante a


primavera e no início do verão, tem-se utilizado de extrato de folhas de primavera
(Bougainvillaea) para amenizar os danos causados pelo vírus do vira-vabeça, disseminado
por tripes, uma vez que o tripes adquire o vírus após alimentar-se de plantas infectadas
e/ou ervas nativas, transmitindo-o à cultura. O extrato deve ser preparado em liquidificador,
colocando 200g de folhas em 1 litro de água. Esse caldo deve ser coado e depois diluído
em um tanque com 20 litros de água, o que é suficiente para a pulverização de uma estufa
(cerca de 500 m2). No caso do tomate, a aplicação deve ser repetida semanalmente até 60
dias após o transplantio. Os resultados tem sido excelentes, mostrando redução de mais de
90% na incidência de vira-cabeça no tomateiro.

• Calda Bordalesa:

A Calda Bordalesa é um fungicida eficiente contra várias doenças que aprecem na horta
e no pomar. O produto surgiu no século passado, na região de Bourdeaux, na França, para
o controle do míldio, uma doença que ataca a videira.

FRUTAL’2004 133
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A Calda Bordalesa resulta da mistura de sulfato de cobre com cal virgem, diluídos em
água. O seu uso é permitido na Agricultura Orgânica por ser o sulfato de cobre um produto
pouco tóxico e por melhorar o equilíbrio nutricional das plantas.
Mais comumente ela é preparada na proporção de uma parte de cal virgem e uma parte
de sulfato de cobre para cem partes de água. A quantidade de cada ingrediente depende
do volume final de calda que se pretende preparar.

Abaixo propomos as quantidades para encher um pulverizador costal de 20 litros.

Ingredientes:

Sulfato de cobre....................................................................................200
gramas

Cal virgem.............................................................................................200
gramas

Água......................................................................................................20 litros

O sulfato de cobre dissolve lentamente na água, por isso, colocam-se 200 gramas
do produto em um saquinho de pano ralo, mergulhado em balde com 5 litros de água. O
saquinho deve ficar suspenso, próximo à superfície da água, a fim de facilitar a dissolução.
Para se obter a dissolução mais rápida do sulfato de cobre, pode-se dissolvê-lo diretamente
na água morna ou colocá-lo na noite anterior.
A cal virgem deve ser de boa qualidade para reagir totalmente com a água.
Colocam-se 200 gramas de cal no fundo de um balde com pouca água para haver reação
rápida. Se não houver aquecimento da mistura em menos de 30 minutos, a cal não deve
ser usada, pois é de má qualidade. Quanto mais rápida é a reação, melhor é a cal.
Depois de a cal ter reagido com a água, formando uma pasta rala, completa-se o
volume de água até 5 litros. A mistura terá a aparência de leite de cal, bem homogênea.
Em seguida, faz-se a mistura das duas soluções. Para tanto despeja-se a solução de
sulfato de cobre sobre a cal e nunca o inverso. A mistura deve ter um aspecto denso, em

134 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
que a cal não decanta. Após mexer algumas vezes, coar a mistura e despejar no
pulverizador, completando o volume de 20 litros.
Quando a calda está ácida, ela queima as folhas das plantas pulverizadas. Para
evitar isso, antes de usar faz-se um teste: pinga-se uma gota da calda sobre a lâmina de
um canivete ou faca de ferro. Se, após três minutos, no local da gota, formar-se uma
mancha avermelhada, semelhante a ferrugem, é sinal de que a calda está ácida. Deve-se
então, adicionar mais leite de cal, até que a mistura fique neutra e não apareça a mancha.

Recomendações de Uso
Na utilização da Calda Bordalesa, é muito importante seguir estas
recomendações:

- Usar a calda no máximo até o terceiro dia de seu preparo;

- Não aplicar a calda em concentração forte sobre as plantas pequenas ou


em fase de brotação;

- A Calda Bordalesa é muito pouco tóxica. Mesmo assim, proteja-se. Lave-se


após ter trabalhado em sua aplicação. Não coma o que foi pulverizado sem
antes lavar bem;

- Procurar não usar esterco puro em excesso na adubação, porque isso


contribui para o aparecimento de doenças.

• Calda Sulfocálcica:

A Calda Sulfocálcica é um dos mais antigos defensivos agrícolas. Possui ação inseticida
contra insetos sugadores, como ácaros, tripes e cochonilhas, etc. Tem efeito fungicida,
atuando de forma curativa, principalmente contra oídio e ferrugens.
A sua qualidade é medida em função da densidade da calda, empregando para isso o
Aerômetro de Baumê, muito utilizado na indústria de xaropes. A calda ideal possui
densidade de 32º Baumê, porém é considerado boa uma calda com 29 ou 30º Beumê.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Preparo da Calda Sulfocálcica:

A fabricação da calda é feita à quente, requerendo recipiente de metal (latão ou


inox ). No caso de preparar 10 litros de calda sulfocálcica, utilizar os ingredientes abaixo:

Água 10 litros
Cal virgem 1 Kg
Enxofre em pó 2 Kg

Coloque o recipiente no fogo com metade da quantidade de água recomendada (5


litros). Deixe aquecer ligeiramente e se adiciona a cal, deixando a mistura ferver. Durante a
fervura, acrescenta-se, pouco a pouco, o enxofre em pó, agitando-se tudo fortemente com
uma pá de madeira e com o cuidado de não deixar esfriar a mistura. A agitação deve ser
contínua até formar uma mistura homogênea, sem separação do enxofre.
Em seguida, adiciona-se o restante da água e deixa-se ferver por mais 50 – 60
minutos. Durante este tempo, manter o nível da mistura, adicionando-se água fervendo ou
água fria lentamente para não abaixar a temperatura.
Quando atingir a coloração pardo-avermelhada (cor de âmbar), a calda estará
pronta. Tirar do fogo e deixar esfriar. Coar a calda com peneira bem fina ou com pano e
medir sua concentração em graus baumê.

Recomendações de Uso:

A Calda Sulfocálcica é um tradicional defensivo agrícola, muito recomendado para o


tratamento de inverno em fruteiras, para erradicação de pragas e moléstias. Ela é
dissolvida um litro para 8 a 12 litros de água.
Ultimamente vem sendo utilizada em horticultura para tratamento fitossanitário no
período vegetativo com êxito, pois tendo custo baixo e eficiência, torna-se muito econômico
o seu emprego. A dosagem recomendada para o período vegetativo é de 1 litro da calda
para 30 a 120 litros de água.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela de Diluição da Calda Sulfocálcica ( * )

Concen 4,0º 2,0º 1,0º 0,5º 0,3º


tração Bau Bau Baum Bau Bau
Original mê mê ê mê mê
32º 9,0 19,3 38,7 81 137
31º 86 18,5 38,1 77 131
30º 8,2 17,7 36,5 74 129
29º 7,8 17,7 34,8 71 120
28º 7,4 16,2 33,3 68 116
27º 7,1 15,4 31,9 65 110
( * ) litros de água a serem diluídos com 1,0 litro de calda concentrada.

Metodologia de Aplicação:

A aplicação da Calda Sulfocálcica deve ser feita sempre em períodos frescos, para
evitar queimaduras na folhagem.
Em épocas muito quentes, é recomendável aumentar a diluição com água, uma vez
que temperaturas altas aumentam a sua efetividade. Com temperaturas muito elevadas, é
recomendável suspender as aplicações de Calda Sulfocálcica.
Durante a floração, aplicar a Calda Sulfocálcica apenas para culturas que tolerem
enxofre nesta época, devendo normalmente ser empregada, após a fecundação das flores.
Fazer aplicação com alto volume e alta pressão ( acima de 150 libras ), cobrindo
totalmente as partes vegetais.

FRUTAL’2004 137
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

• Para guardar a calda concentrada por curto período, cobrir com uma fina camada
de óleo mineral.
• Por longo tempo, manter em embalagem plástica ou de vidro, bem vedado.
• Após a aplicação, todo equipamento, inclusive as mangueiras, devem ser
lavadas com solução amoniacal ou solução diluída de ácido acético (vinagre).
• Em culturas instaladas em estufas, reduzir em 50% as dosagens e fazer os
tratamentos em períodos frescos, pelos riscos de queima da planta.

ATENÇÃO:

1- Estas informações são resultantes de observações em testes regionais e de


trabalhos de revisão de literatura, servindo apenas como sugestões quanto ao
potencial de uso das caldas.
2- Para o emprego de caldas, recomendamos que sejam feitas observações
preliminares em poucas plantas, considerando o local, clima, cultivar, etc. O
tratamento em área total deverá ser efetuado somente após os testes iniciais.

• Biofertilizantes:

Os biofertilizantes atuam sobre pragas e doenças das seguintes formas: antibiose


(metabólitos controlam ou inibem crescimento de patógenos), competição por recursos
entre microorganismos presentes nos biofertilizantes e os fitopatogênicos, parasitismo,
aumento do potencial osmótico na superfície foliar e aumento da resistência às plantas
em função de uma nutrição mais equilibrada (Bettiol et. al, 1997), além de constituírem
uma barreira física. Os biofertilizantes são fontes de vitaminas, aminoácidos,
fitohormônios e diversos oligoelementos indispensáveis à saúde vegetal.

138 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Extrato Pirolenhoso:

O ácido pirúvico, também conhecido como ácido pirolenhoso, obtido da condensação


da fumaça na queima da lenha, para a produção de carvão, vem sendo muito utilizado
para tratamento alternativo de plantas, na concentração de 0,2 a 0,3%. No entanto, por
conter alcatrão (nas formas solúvel e insolúvel), não está sendo recomendado pelas
certificadoras de produtos orgânicos. Um dos principais divulgadores do emprego do
ácido pirolenhoso é o engenheiro agrônomo Shiro Miyazaka, da APAN (Associação dos
Produtores de Alimentos Naturais), que recomenda a destilação do alcatrão. Já se
encontra marcas comerciais, que anunciam a ausência de alcatrão (Figura 19).

Figura 19: Marca comercial de extrato pirolenhoso.

FRUTAL’2004 139
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Outros preparados e demais métodos de controle de pragas e doenças podem
ser encontrados nos livros:

- Receituário caseiro (GUERRA, 1985)


- Preparo e aplicação de defensivos naturais - Apostila (PENTEADO, s.d.)
- Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura (ABREU JUNIOR,
1998.)
- Manual de alternativas ecológicas para prevenção e controle de Pragas e Doenças
(BURG & MAYER, 1999).

b) CONTROLE BIOLÓGICO:

No Brasil, e na maioria dos países subdesenvolvidos que adotaram o pacote


tecnológico da Revolução Verde, onde a qualidade dos alimentos e os danos ambientais
não são monitorados a contento, a simplicidade e praticidade de uso dos agrotóxicos
fizeram com que pouca ênfase fosse dada ao controle biológico. Entretanto, com o
crescimento da área sob manejo orgânico no País e a proibição do uso de agrotóxicos
nessas áreas, o interesse por essa tradicional e sustentável forma de controle de
patógenos aumentou significativamente. Em poucos anos, vários produtos à base de
agentes de controle natural (Metarhizium anisopliae, Bacillus thuringiensis, Beauveria
bassiana) passaram a ser comercializados.
A maior parte dos trabalhos desenvolvidos no País, nessa área, refere-se à cultura
dos citros, devido a sua importância econômica. As frutas cítricas constituem um dos
principais produtos de exportação, cuja qualidade é sistematicamente monitorada pelos
importadores. Assim, técnicas que visam a redução do uso de agroquímicos na cultura
são sempre desejadas. Verifica-se, no Tabela 36, grande diversidade de organismos
potenciais no controle de pragas em citros.

140 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 36: Principais pragas dos citros, seus patógenos e estratégias de emprego

Praga Patógeno Estratégia de emprego

Ácaros

Phyllocoptruta Hirsutella thompsonii Introdução inundativa e inoculativa:


oleivora proteção
Brevipalpus Verticillium lecanii Introdução inundativa e inoculativa:
phoenicis Metarhizium anisopliae proteção
Panonychus citri Vírus não-incluso Introdução inoculativa (C.B. clássico)
Hirsutella thompsonii Incremento e proteção
Entomphthorales Proteção

Mosca-das-frutas

Thephritidae Metarhizium Introdução inundativa (solo)


anisopliae

Bicho-furão

Ecdytolopha Bacillus thuringiensis Introdução inundativa


aurantiana

Cochonilhas

Chrysomphalus spp. Myiophagus Proteção


Nectria e Myriangium
Fusarium sp.
Coccus viridis Verticillium lecanii Introdução inundativa e inoculativa:
proteção
Parlatoria spp. Aschersonia aleyrodis Introdução inundativa e inoculativa:
proteção

Fusarium sp.
Nectria e Myriangium Proteção
Orthezia praelonga Beauveria bassiana Introdução inundativa e inoculativa:
proteção
Colletotrichum
gloesporioides
Metarhizium
anisopliae

FRUTAL’2004 141
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Cigarrinhas

Cigarrinhas da CVC Verticillium lecanii Introdução inundativa e inoculativa:


proteção
Metarhizium
anisopliae
Beauveria bassiana
Entomophthorales Proteção

Outras

Cupins Beauveria bassiana Introdução inoculativa (iscas atrativas)


Metarhizium
anisopliae
Pulgões Beauveria bassiana Introdução inoculativa
Verticillium lecanii
Entomophthorales Proteção
Moscas-brancas Beauveria bassiana Introdução inoculativa e inundativa
Aschersonia aleyrodis Proteção e introdução inoculativa
Coleobrocas Metarhizium Introdução inundativa
anisopliae
Fonte: Alves et al. (1999).

Em Cuba, país que desde o início do embargo econômico vem construindo um modelo
de agricultura mais sustentável, menos dependente de insumos externos, o controle
biológico constitui uma das principais ferramentas de controle de pragas e doenças.
Nesse país, o controle biológico de pragas de algumas frutíferas por meio de
entomopatógenos tem sido realizado com sucesso (Tabela 37).

142 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Tabela 37: Organismos biológicos para o controle de pragas de frutíferas em Cuba

Organismos Culturas Praga visada

Beauveria bassiana Banana Cosmopolites sordidus


Citrus Curculionidae (broca)
Metarhizium anisopliae Citrus Cercopidae
Curculionidae
Paecilomyces lilacinus Goiaba Nematóides do gênero Meloidogyne.
Banana Nematóides, principalmente Radopholus
similis
Fonte: Altieri (2002).

É necessário, porém, ter em mente que o emprego desses “inseticidas” biológicos


requer cuidados especiais, uma vez que constituem organismos vivos e, portanto,
necessitam de manejo adequado. Por exemplo, esses produtos apresentam maior
eficiência de controle quando aplicados em condições favoráveis de clima, nível
populacional e estádio de desenvolvimento da praga (ex. lagartas são mais bem
controladas em estádio inicial de desenvolvimento). O controle da praga não ocorre de
uma hora para outra, mas sim em um período maior de tempo, comparado ao controle
químico. Entretanto, dependendo das condições climáticas e do manejo do
agroecossistema, alguns desses organismos podem se estabelecer nas áreas de cultivo
e exercer controle por um período maior de tempo. Esses produtos devem também ser
armazenados em ambientes apropriados, para ter maior vida útil.
Os fungos Acremonium, Sporotrix spectrum e Trichoderma têm sido utilizados, na
fruticultura, para o controle de lixa-do-coqueiro, mosca/percevejo de renda e de diversos
tipos de fungos de solo, respectivamente.

FRUTAL’2004 143
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
c) ARMADILHAS E ISCAS:

As armadilhas são muito utilizadas em sistemas orgânicos de produção, tanto para


monitoramento quanto para controle de insetos-pragas. O monitoramento de pragas, por
meio de armadilhas, é importante não somente para precisar a hora de aplicação de um
produto, mas também para avaliar o efeito de determinadas práticas culturais na
dinâmica dos agroecossistemas (ex.: monitoramento de ocorrência de predadores e
parasitóides, devido ao aumento da diversidade em áreas de cultivo). Uma das grandes
vantagens das armadilhas é que permitem a identificação da praga antes que ela cause
danos à cultura (ex. monitoramento de moscas-das-frutas em pomares que produzem
frutas para exportação).
Existem diversos tipos de armadilhas, que variam de acordo com a praga que se
deseja monitorar ou controlar. Baseiam-se em técnicas como o confundimento (uso de
feromônio sexual), a captura massal ou captura e morte do inseto (iscacida). A luz, as
cores e as substâncias odoríferas-alimentares (proteína hidrolizada, melaço, sucos de
frutas) e adesivas são utilizadas nas armadilhas para a atração dos insetos.

• Armadilha Luminosa: Atrai diversas espécies, entre besouros, mariposas e


borboletas, cigarras, moscas e mosquitos, ou seja, apresenta alta eficiência para pragas
de hábitos noturnos, dentre os quais podemos destacar: Broca das cucurbitáceas, Broca
dos frutos e do ponteiro do tomate, Lagarta do cartucho e das espigas do milho, etc.
Entretanto, seu emprego conforme a recomendação convencional tem o inconveniente
de eliminar tanto a praga como espécies úteis. Portanto, uma alternativa tem sido a
utilização da armadilha apenas como atrativo, distante da cultura de interesse, sem o
emprego do recipiente tradicional acoplado sob o aparelho. No caso de armadilhas
luminosas, utilizam-se, geralmente, lâmpadas fluorescentes, que emitem grande parte de
sua energia na faixa do ultravioleta, faixa mais favorável para a atração dos insetos
(Figura 20).

144 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 20: Armadilha luminosa usada para atração e dispersão de insetos.

• Armadilha de Cor: Placas coloridas com atrativos odoríferos-alimentares são utilizadas


para o controle de trips, cigarrinhas e mosca-branca. O trips é mais atraído pela cor
azul, a cigarrinha e a mosca branca preferem a amarela. Larvas minadoras podem ser
controladas com a utilização de placas amarelas, impregnadas com óleo ou substância
adesiva. Tem sido utilizada para atrair o besouro «brasileirinho», consistindo em uma
chapa de 20x30 cm, pintada de amarelo gema e disposta a 45%, coberta com goma
colante ou com graxa bem grossa, retém os insetos que pousaram nela.

• Iscas para Lesmas e Moluscos: coloca-se sacos de estopa ou algodão, úmidos e


embebidos em xarope de açúcar ou leite entre os canteiros atacados. Os moluscos são
atraídos durante a noite podendo ser catados na manhã seguinte.

d) CONTROLE MECÂNICO

• Escavação de insetos sociais (principalmente a formiga quem-quem): segue-se


cavando com enxadão pelo «olheiro», até chegar ao ninho, de onde se retira a rainha, a
cria e o fungo, deixando-se os adultos a definhar de inanição. Este método é 100%
eficiente se for feito um repasse, e aplica-se bem em áreas menores.

Catação manual: aplicável sempre que o foco de ataque estiver no início,


principalmente em áreas menores. Ex. cochonilhas, besouros, etc. (em hortas e
pomares).

FRUTAL’2004 145
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
5. LIMPEZA, EMBALAGEM, ARMAZENAMENTO, TRANSPORTE E
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS

Para a comercialização de alimentos orgânicas, deve-se ter o entendimento de todo


processo, desde a colheita, armazenamento, transporte e distribuição, uma vez que todo
tratamento pós-colheita deve assegurar o máximo da qualidade biológica e nutritiva dos
produtos orgânicos. Adubações orgânicas, com suplementos minerais e nutrientes
específicos como cálcio, estimulam as plantas a produzirem fitoalexinas, que têm efeitos
fungistáticos e bactericidas, reduzindo perdas no armazenamento. Hortaliças folhosas
podem concentrar nitratos em ambientes de pouca luz, mesmo sem terem sido
adubadas com excesso de Nitrogênio.

Assim, as Normas Técnicas orientam para algumas questões importantes neste


processo:

¾ Os produtos orgânicos devem ser identificados e mantidos em local separado dos


demais de origem desconhecida, de modo a evitar possíveis contaminações, exceto
quando claramente identificados, embalados e fisicamente separados.

¾ Todos os produtos orgânicos devem estar devidamente acondicionados e


identificados durante todo o processo de armazenagem e transporte.

¾ A certificadora deverá regular as formas e os padrões permitidos para a


descontaminação, limpeza e desinfecção de todas as máquinas e equipamentos,
onde os produtos orgânicos são mantidos, manuseados e processados.

¾ As condições ideais do local de armazenagem e do transporte de produtos, são


fatores necessários para a certificação de sua qualidade orgânica.

Além destas orientações da normativa, torna-se necessário estar atentos às


medidas adicionais descritas a seguir:

146 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
⇒ Colheita no ponto exato de maturação e sob condições climáticas favoráveis.

⇒ Secagem dos alimentos em níveis adequados de umidade, usando-se métodos


naturais ou artificiais permitidos;

⇒ Secagem no campo, em secadores solares ou em outros aparelhos que empreguem


métodos físicos apenas. Isso é importante para evitarem-se danos por pragas de
produtos armazenados e por fungos que produzem substâncias tóxicas.

⇒ Manutenção de alimentos perecíveis em baixa temperatura, por meio de água fria,


câmaras frias ou geladeiras, no armazenamento, transporte e distribuição.

⇒ Controle da atmosfera (CO2 e N2).

⇒ Redução de organismos que causam podridões, por tratamentos térmicos, com


imersão em água quente ou com vapor d’água.

⇒ Uso de substâncias não tóxicas, como pó de rochas, terra de diatomácias, extratos de


plantas, plantas aromáticas, etc., para evitar pragas de produtos armazenados.

⇒ Limpeza e higiene absolutas nos depósitos e arrmazéns, nos veículos de transporte e


nos locais de comercialização.

⇒ Tratamento térmico de sementes, via seca ou úmida (com posterior secagem).

⇒ Métodos não químicos de amadurecimento, para alimentos colhidos verdes.

A descentralização da estrutura produtiva e de distribuição e venda é outra meta da


agricultura orgânica. Frutas, verduras, legumes e outros alimentos podem ser adquiridos
diretamente nas propriedades agrícolas, entregues nas residências, ou comprados em
lojas especializadas. Cooperativas, associações de agricultores, distribuidores e
revendedores, especializados em alimentos orgânicos e insumos naturais, também

FRUTAL’2004 147
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
atuam na comercialização dos produtos, industrializados ou não, de fazendas, de hortas
e pomares não convencionais.
Portanto, a comercialização de produtos orgânicos é mais complexa que o comércio
de produtos convencionais, em função da estrutura do mercado e do processo de
certificação e embalagem. Os produtos orgânicos necessitam receber uma diferenciação
através de um selo ou rótulo, que caracterize o produto como “orgânico”. Esta
diferenciação é o que vai dar credibilidade junto ao consumidor, o qual terá a certeza e
segurança de que o mesmo foi produzido dentro de princípios e normas técnicas pré-
estabelecidas, onde não se permite a utilização de qualquer substância química que
possa provocar danos à sua saúde.
Para as frutas e hortaliças, os sistemas de comercialização mais empregados no
mercado interno são a venda em feiras livres, entregas em domicílio e em
supermercados, que já disponibilizam espaço específico para produtos orgânicos em
suas prateleiras.
Para manter o mercado, o produtor necessita ofertar produtos de forma constante
durante todo o ano, com uma variedade de espécies diversificadas para atender à
demanda dos consumidores. Portanto, torna-se imperativo que os agricultores trabalhem
em grupos ou associações para ampliar o leque de atuação, programando a produção,
de forma a ofertar o maior número de produtos durante todo o ano.
Outra característica do mercado de alimentos orgânicos, que o diferencia do sistema
convencional, é que em muitos casos, há o estabelecimento de um preço fixo para o
produto durante todo o ano, além de muitas vezes produzir por contrato, ou seja,
programa uma determinada produção na certeza de venda após a colheita. Isso é
extremamente vantajoso, especialmente no mercado de hortaliças, que normalmente
apresenta uma oscilação muito alta de oferta e preço nas diversas épocas do ano.

148 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
6. NORMAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ORGÂNICA

Para alcance de maior credibilidade e aceitação pelos consumidores, o produto


orgânico necessita receber uma diferenciação no mercado, através de uma marca ou
selo que ateste a sual real qualidade. Isto é conseguido pela certificação do produto
como “orgânico”, o que é obtido através de organismos competentes e credenciados
para este fim, chamados de certificadoras.
Para viabilizar este processo, existem Normas Técnicas de produção que orientam
os agricultores orgânicos quanto aos produtos e métodos recomendados, tolerados e
proibidos, tanto para a produção vegetal, como para a produção animal, além de normas
para processamento e comercialização.
Visando apoiar a crescente demanda por produtos orgânicos no Brasil, o Ministério
da Agricultura e Abastecimento publicou em 1999, a Instrução Normativa Nº 007, que
tratava das “Normas disciplinadoras para a produção, tipificação, processamento,
envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade de produtos
orgânicos, sejam de orígem animal ou vegetal”. Além disto, publicou a Instrução
Normativa nº 006, em 10 de janeiro de 2002, para regimentar as certificadoras de
produtos orgânicos. Após o estabelecimento destas normativas, surgiram diversas
certificadoras em todo o país, facilitando sobremaneira a entrada de novos agricultores
neste processo produtivo. Em 2002, finalmente o Brasil sanciona a Lei Nacional Nº
10.831, regulamentando a agricultura orgânica no País.
Em conformidade com a legislação brasileira referente aos produtos orgânicos, o
termo certificação pode ser definido como sendo “o procedimento pelo qual uma entidade
certificadora dá garantia por escrito que uma produção ou um processo claramente
identificados foram metodicamente avaliados e estão em conformidade com as normas
de produção orgânica vigente”. Certificado “é um documento emitido por uma
certificadora credenciada, declarando que um produtor ou comerciante está autorizado a
usar a marca de certificação em produtos especificados”
As regras bem como os parâmetros para a produção de orgânicos no Brasil fica a
cargo do CNPOrg: Colegiado Nacional para a Produção Orgânica, órgão criado pela
Instrução Normativa nº 07, de 17 de maio de 1999, vinculado à Secretaria de Defesa
Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que é assessorado
nos estados pelo CEPOrg: Colegiado Estadual para a Produção Orgânica, que tem

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
por objetivo primário o assessoramento e acompanhamento da implementação das
normas para produção de produtos orgânicos vegetais e animais, avaliando e emitindo
parecer conclusivo sobre os processos de credenciamento de entidades certificadoras, e
fornecendo subsídios a atividades e projetos necessários ao desenvolvimento do setor.
Atualmente já existem diversas organizações que tratam da produção orgânica de
alimentos em todo o mundo, destacando-se diversas Associações não governamentais,
Institutos, Programas de governos, Certificadoras privadas, dentre outros, organismos
estes que possuem suas Normas regulamentares em consonância com os princípios da
Agricultura Orgânica.
As entidades certificadoras atribuem aos produtos, processos e serviços suas marcas
que atestam a garantia desses alimentos como exemplo pode-se citar as marcas AAO,
ABIO, ANC, APAN, BCS, CHÃO VIVO, CMO, COOLMÉIA, ECOCERT, FVO, IBD, IMO,
OIA, SKAL, entre outras.
Visando o mercado internacional, um dos órgãos mais reconhecidos, que regulamenta,
credencia e congrega as certificadoras de produtos orgânicos, com credibilidade
reconhecida em vários países, é a IFOAM (International Federation of Organic Agriculture
Moviments).
Uma boa estrutura de certificação, seja ela privada (sem fins lucrativos) ou estatal,
certamente irá despertar estímulos a um maior apoio à atividade e proporcionará um
crescimento ainda mais significativo do setor, tanto em nível de produção, como em nível
de comercialização nos diversos estados do país.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7. PROCEDIMENTOS PARA A CONVERSÃO À AGRICULTURA ORGÂNICA

7.1. A ‘CONSTRUÇÃO’ DO AGROECOSSISTEMA PRODUTIVO E OS


PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA CONVERSÃO

Ecossistema é um sistema funcional de relações entre organismos vivos e seu


ambiente, delimitado arbitrariamente, mantendo um equilíbrio dinâmico e estável, no
espaço e no tempo. A manipulação e a alteração humanas dos ecossistemas, com o
propósito de estabelecer uma produção agrícola, tornam os Agroecossistemas muito
diferentes dos ecossistemas naturais, ao mesmo tempo que conservam processos,
estruturas e características semelhantes.
Os agroecossistemas, comparados aos ecossistemas naturais, têm muito menos
diversidade funcional e estrutural, além do que, quando a colheita é o enfoque principal,
há perturbações em qualquer equilíbrio que se tenha estabelecido, e o sistema só pode
ser mantido se a interferência externa com trabalho e insumos for mantida. As principais
diferenças entre os ecossistemas e os agroecossistemas estão relatadas na Tabela 1.

Tabela 1: Diferenças estruturais e funcionais importantes entre ecossistemas


naturais e agroecossistemas.
Fatores Ecossistemas naturais Agroecossistemas

Produtividade líquida Média Alta

Interações tróficas Complexas Simples, Lineares

Diversidade de espécies Alta Baixa

Diversidade genética Alta Baixa

Ciclos de nutrientes Fechados Abertos

Estabilidade Alta Baixa

Controle humano Independente Dependente

Permanência temporal Longa Curta

Heterogeneidade do habitat Complexa Simples

Fonte: Adaptado de Odum (1969), citado por GLIESSMAN (2000).

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar características
semelhantes às de ecossistemas naturais, mantendo uma produção a ser colhida. Um
agroecossistema que incorpore as qualidades de ecossistemas naturais de estabilidade,
equilíbrio e produtividade, assegurará melhor a manutenção do equilíbrio dinâmico
necessário para estabelecer uma base ecológica de sustentabilidade. Nesse sentido,
GLIESSMAN (2000) propõe os seguintes princípios orientadores para a conversão de
propriedades agrícolas a sistemas agroecológicos.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA CONVERSÃO

O processo de conversão pode ser complexo, exigindo mudanças nas práticas de


campo, na gestão da unidade de produção agrícola em seu dia–a–dia, no planejamento,
marketing e filosofia. Os seguintes princípios podem servir como linhas mestras
orientadoras neste processo geral de transformação:

¾ Mover-se de um manejo de nutrientes, cujo fluxo passa através do sistema, para um


manejo baseado na reciclagem de nutrientes, como uma crescente dependência em
relação a processos naturais ,tais como a fixação biológica do nitrogênio e as
relações com micorrizas.

¾ Usar fontes renováveis de energia, em vez das não renováveis.

¾ Eliminar o uso de insumos sintéticos não renováveis oriundos de fora da unidade


produtiva, que podem potencialmente causar danos ao ambiente ou à saúde dos
produtores, assalariados agrícolas ou consumidores.

¾ Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem
naturalmente, em vez de insumos sintéticos manufaturados.

¾ Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, em vez de “controlá-las”.

¾ Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer naturalmente na unidade


produtiva, em vez de reduzi-las ou simplificá-las.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
¾ Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e o potencial
produtivo e as limitações físicas da paisagem agrícola.

¾ Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e genético das espécies de


plantas agrícolas e animais às condições ecológicas da unidade produtiva, em vez de
modificá-la para satisfazer as necessidades das culturas e animais.

¾ Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

¾ Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no desenho e manejo geral do


agroecossistema.

Entretanto, muito antes das questões relativas ao agroecossistema, se situa o


homem contido nele. Nessa direção, PEREIRA (2000) discute a conversão do homem e
o período de transição da propriedade, oferecendo-nos substancial contribuição,
relatada a seguir.
“A prática da agroecologia é um processo que passa por um estilo de vida, isto é,
transformar transformando-se. Como processo, passa por várias dimensões ou etapas
importantes. Uma delas refere-se à conversão ou período de transição, que vem a ser
aquele período de tempo variável que é preciso para a propriedade passar do modelo
convencional ao sistema agroecológico ou orgânico, ou seja, constituir-se num
agroecossistema.
Por conversão, entende-se um processo gradual e crescente de desenvolvimento
interativo na propriedade até chegar a um agroecossistema. Está orientado para a
transformação do conjunto da unidade produtiva, gradativamente, até que se cumpra por
completo o todo. Só após transposta essa fase, isto é, cumprido o conjunto de
requisitos para a produção orgânica, atendendo as normas observadas pelas entidades
certificadoras, é que pode-se obter o selo orgânico. A transição deve ser feita a partir de
pequenas glebas, iniciando-se pelas áreas mais apropriadas, num processo crescente.
Essa etapa ou fase do processo, contempla pelo menos três dimensões principais:
educativa, biológica e normativa.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A primeira, a dimensão educativa, constitui-se na mais importante, uma vez que
o Homem (Homo sapiens sapiens), enquanto espécie animal, representa o início, o meio
e o fim. Está portanto, na mudança da percepção humana o desencadeamento do
processo de desenvolvimento – um processo de mudança, que neste caso, representa a
conversão do modelo convencional ao processo agroecológico ou agroecossistema,
pois, é na mente humana que tudo acontece em primeiro lugar. Portanto, a conversão,
em primeiro lugar deverá ser das pessoas, do homem. Deveremos pois, nos tornarmos
agroecologistas – transformar transformando-se - para que o processo seja efetivo.
Os ecossistemas agrícolas, nada mais são do que a exteriorização das
concepções que o homem possui. O quadro mental dominante, resultou no modelo
convencional, centrado na tecnologia por produto, na produtividade, no resultado
econômico-financeiro. É aqui que deveremos concentrar nossos esforços, se queremos
implementar a concepção de agroecossistemas, centrada no problema, no processo, no
homem, na pessoa, na família, no holos.
Portanto, cada uma das dimensões contempladas, está fortemente associada
umas às outras e, por isso, devem ocorrer simultaneamente, até que se fortaleçam, num
processo sinérgico de interações em rede.
A dimensão biológica compreende, basicamente, a restauração da qualidade e
saúde do solo, assim como da sua biodiversidade, (tanto acima como abaixo da sua
superfície). A rotação de culturas e a adição de matéria orgânica, que pode vir das
plantas de cobertura, dos estercos, dos compostos, etc..., são condições indispensáveis
para se atingir a plenitude neste caso.
Em relação à dimensão normativa, é importante observar as regras que orientam a
obtenção do selo de qualidade orgânica. De uma maneira geral, estas normas obedecem
a:
- Um período de carência que vai até 1-4 anos entre a utilização das práticas
convencionais e a adoção da agroecologia;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos que não são permitidos: neste
contexto encontram-se os agrotóxicos e os fertilizantes de síntese química,
especialmente os nitrogenados;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos tolerados, a critério da organização
certificadora;

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos recomendados, onde incluem-se a
ciclagem e reciclagem de nutrientes e de biomassa, o controle de biológico, a rotação de
culturas, as plantas de cobertura, adubação orgânica (verde, estercos e compostos),
além, é claro, da recuperação, proteção e conservação dos recursos naturais, como o
solo, a água, a fauna e a flora nativa, entre outros aspectos, onde se inclui o harmônico
relacionamento entre os membros da família.
Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma seqüência
lógica e explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto basicamente constituí-se
de um diagnóstico de toda a propriedade, levantando todos os recursos disponíveis,
além das relações sociais e comerciais que esta mantém, assim como a ocupação da
área e o seu respectivo rendimento físico e econômico.
Neste diagnóstico são identificadas as principais dificuldades/entraves assim
como o potencial da propriedade. Nesta fase, são identificadas as necessidades do
agricultor, incluindo a sua capacitação. O projeto deve incluir um cronograma e um
fluxograma entre as atividades estabelecendo-se metas claras e viáveis.
O aspecto comercial é também, extremamente, importante neste processo. Um
projeto bem feito não poderá prescindir desta fase ou etapa. Os “canais” de
comercialização devem ser previamente identificados e definidos.
A certificação é também necessária para assegurar direitos aos agricultores de um
produto diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando tiver cumprido os
prazos e prescrições previstas nas normas, quando estarão habilitados a receber o selo
de qualidade”.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.2. PRICÍPIOS A SEREM APLICADOS NO PROCESSO PRODUTIVO PARA A
CONVERSÃO DO SISTEMA

7.2.1 Integração, diversificação e equilíbrio ecológico:


A monocultura representa um dos maiores problemas do modelo agrícola
praticado atualmente, porque não existindo diversificação de espécies numa determinada
área, as pragas e doenças ocorrem de forma mais intensa sobre a cultura por ser a única
espécie vegetal presente no local. O monocultivo torna o sistema de produção mais
instável e sujeito às adversidades do meio (Figura 1).
O equilíbrio biológico das propriedades, bem como o equilíbrio ambiental e o
equilíbrio econômico de grandes regiões, não podem ser mantidos com as monoculturas.
A integração de atividades e a diversificação de culturas são os pontos-chave para a
manutenção da fertilidade dos sistemas, para o controle de pragas e doenças e para a
estabilidade econômica (Figura 2). Nesse aspecto, choca-se frontalmente com a idéia de
especialização agrícola, freqüentemente levada ao extremo nas monoculturas regionais.
Historicamente, as monoculturas regionais apenas se têm viabilizado com doses
crescentes de agroquímicos ou com a incorporação de novas terras em substituição
àquelas já exauridas (KHATOUNIAN, 2001).
Reforçando o tema, GLIESSMAN (2000) relata em seu livro “Agroecologia –
processos ecológicos em Agricultura Sustentável”, que a monocultura é uma
excrescência natural de uma abordagem industrial da agricultura e suas técnicas casam-
se bem com a agricultura de base agroquímica, tendendo a favorecer o cultivo intensivo
do solo, a aplicação de fertilizantes inorgânicos, a irrigação, o controle químico de pragas
e as variedades ‘especializadas’ de plantas com estreita base genética que as tornam
extremamente suscetíveis em termos fitossanitários. A relação com os agrotóxicos é
particularmente forte; vastos cultivos da mesma planta são mais suscetíveis a ataques
devastadores de pragas específicas e requerem proteção química.
Sistemas de produção diversificados são mais estáveis porque dificultam a
multiplicação excessiva de determinada praga e doença e permitem que haja um melhor
equilíbrio ecológico no sistema de produção, através da multiplicação de inimigos
naturais e outros organismos benéficos.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 1: Ambiente agrícola simplificado pelo cultivo de uma única espécie
(monocultura), com alta instabilidade e dependência de grande aporte de insumos
externos.

Figura 2: Ambiente agrícola diversificado pelo cultivo e manutenção de várias espécies


no agroecossistema, em propriedade orgânica com alta estabilidade e baixa
dependência de insumos externos – Santa Maria de Jetibá - ES.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Assim, uma propriedade orgânica fundamentalmente tem que se preocupar em
buscar primariamente diversificar a paisagem geral, de forma a restabelecer a cadeia
alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e
pássaros.
Para tanto, se faz necessário compor uma diversidade de espécies vegetais, de
interesse comercial ou não, recomendando que se opte por espécies locais, adaptadas
às condições edafo-climáticas da região. Como exemplo, em áreas marginais às glebas
de produção e nas bordas de riachos, pode-se proceder o plantio de espécies como:
Goiaba, Ingá, Pitanga, Araçaúna, Biribá, Nêspera, Abacate, Calabura, Jamelão, Amora,
Uva japonesa, dentre outras.
Além disso, é fundamental também proceder ao manejo da vegetação
espontânea. Este manejo pode ser realizado de três formas, visando permitir a
conservação natural da vegetação do próprio local, conforme abaixo:

1º. Manutenção de áreas de refúgio, fora da área cultivada para interesse comercial,
inclusive áreas com alagamento natural, visando preservar ao máximo os aspectos
naturais estabelecidos pelo ecossistema local ao longo de anos.

2º. Não utilizar intensivamente o solo, procedendo ao planejamento de faixas de cultivo,


intercaladas com faixas de vegetação espontânea, chamadas de corredores de refúgio.
Para divisão dos Talhões de plantios deixar corredores de 2,0 a 4,0 metros de largura,
para abrigar a fauna local.

3º. Proceder ao controle parcial da vegetação ocorrente dentro das áreas cultivadas,
aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com maiores espaçamentos nas
entrelinhas e manutenção da vegetação entre os canteiros para culturas cultivadas por
esse sistema de plantio (Figura 3).

Estes três aspectos anteriores serão os responsáveis pela maior estabilidade do


sistema produtivo e representará uma diminuição expressiva de problemas com pragas e
doenças, tão comuns em sistemas desequilibrados ecologicamente. Vale lembrar que, o
não cumprimento desses princípios tem sido uma das maiores falhas em propriedades
rurais, mesmo orgânicas, em franca atividade no Brasil.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Para completar, o estabelecimento de um desejável nível de diversidade genética,
com a adoção de um sistema de produção com culturas diversificadas, de interesse
comercial, também é fundamental. Para tanto, recomenda-se que se adote um plano de
uso do solo de forma mais sustentável possível, procedendo ao planejamento dos
plantios, visando permitir o descanso (pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de
dois em dois anos, através do plantio solteiro ou misto, de leguminosas (Ex: Mucuna
Preta, Crotalária, Labe-labe) e Gramíneas (Ex: Milho, Aveia preta), fato que promoverá
fixação biológica de nitrogênio e estruturação do solo, respectivamente.

Figura 3: Corredores de refúgio entre plantios de couve-flor, milho, taro e pimentão –


abrigo para insetos predadores , em sistema orgânico de produção.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Em sistemas orgânicos de produção, o equilíbrio ecológico que ocorre entre os
macro e micro organismos, é de fundamental importância para manter as populações de
pragas e doenças em níveis que não causem danos econômicos às culturas comerciais.
Sistemas que utilizam adubos químicos e agrotóxicos provocam instabilidade no
ambiente e desequilíbrios na nutrição das plantas, levando ao aumento da população
desses organismos.
Na natureza existe uma forte interrelação biológica entre insetos, ácaros,
nematóides, fungos, bactérias, vírus e outros macro e microorganismos, a qual é
responsável pelo equilíbrio do sistema, podendo-se citar como exemplos: Pulgões (praga)
controlados por joaninhas (predador); Ácaros (praga) controlados por Ácaros predadores;
Lagarta-da-soja (praga), controlada por Baculovirus (parasita); microrganismos
antagonistas presentes em compostos orgânicos, inibindo o desenvolvimento de fungos de
solo (por exemplo: Fusarium), dentre tantos outros.

7.2.2 Cumprimento dos conceitos da teoria da trofobiose:

Através da Teoria da Trofobiose aprendemos que todo ser vivo só sobrevive se


houver alimento adequado e disponível para ele. A planta ou parte dela só será atacada
por um inseto, ácaro, nematóide ou microrganismos (fungos e bactérias), quando tiver
na sua seiva, o alimento que eles precisam, principalmente aminoácidos
(CHABOUSSOU, 1987).
O tratamento inadequado de uma planta, especialmente com substâncias de alta
solubilidade, conduz a uma elevação excessiva de aminoácidos livres. Portanto, um
vegetal saudável, equilibrado, dificilmente será atacado por pragas e doenças.
A explicação técnica do processo se baseia em fatores ligados à síntese de
proteínas (proteossíntese) ou à decomposição das mesmas (proteólise). O metabolismo
acelerado pelos adubos de alta solubilidade ou qualquer outra desordem que interfira
nos processos de proteossíntese ou proteólise, aumentarão a quantidade de
aminoácidos livres na seiva vegetal, servindo de alimento para alguns insetos e
microrganismos.
Os insetos, nematóides, ácaros, fungos, bactérias e vírus são organismos que
possuem uma pequena variedade de enzimas (responsáveis pela formação de
proteínas), o que reduz sua possibilidade de digerir moléculas complexas como as

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
proteínas, necessitando do seu desdobramento em moléculas mais simples como os
aminoácidos.
Existem vários fatores que interferem na resistência das plantas, pois interferem
no seu metabolismo, podendo aumentar ou diminuir a sua resistência.
Fatores que melhoram a resistência: Espécie ou variedade adaptada ao local de
cultivo; Solo; Adubos orgânicos; Adubos minerais de baixa solubilidade e Defensivos
Naturais.
Fatores que diminuem a resistência: Idade da planta; Solo; Luminosidade;
Umidade; Tratos culturais; Adubos minerais de alta solubilidade e Agrotóxicos.
Portanto, conhecendo-se todos esses fatores citados anteriormente, o agricultor
deve adequar o seu sistema de produção, empregando práticas recomendadas para
sistemas orgânicos, que certamente conduziram à obtenção do desejado equilíbrio
nutricional e metabólico nas suas culturas comerciais.

7.2.3 Estabelecimento de sistemas de ciclagem de matéria orgânica:

A matéria orgânica é um dos componentes vitais do ciclo da vida, descrito por


KIEHL (1985), conforme a ilustração da Figura 4. Ela exerce importantes efeitos
benéficos sobre as propriedades do solo, nas propriedades físicas, químicas, fisico-
químicas e biológicas, contribuindo substancialmente para o crescimento e
desenvolvimento das plantas. Verifique a seguir a descrição desses efeitos, adaptados
de KIEHL (1985).

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 4: Ciclo da vida na natureza (Fonte: KIEHL, 1985).

Importância da matéria orgânica:

Propriedades físicas

A matéria orgânica exerce grande influência nas propriedades físicas do solo, daí ser
classificada por alguns autores como “material melhorador do solo”.

a) Densidade aparente – a matéria orgânica reduz a densidade aparente. Densidade


aparente é a relação existente entre a massa (ou peso) de uma amostra de terra seca e
o volume aparente ou global ocupado pela soma das partículas e poros da amostra. O
uso indiscriminado de máquinas agrícolas pesadas aumenta a densidade aparente pela
compactação da camada superior da terra. Para reduzir a densidade aparente
recomenda-se aplicar matéria orgânica nas suas mais diversas formas: adubos verdes,
estercos animais, compostos e demais fertilizantes orgânicos. A matéria orgânica reduz a
densidade aparente direta e indiretamente. Diretamente, ao se juntar à terra, que tem

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
densidade aparente entre 1,2 a 1,4 g/cm3, um material cuja densidade média vai de 0,2 a
0,4 g/ cm3. Indiretamente, pelo seu efeito na estruturação do solo, tornando-o mais solto,
menos denso.

b) Estruturação do solo – a estrutura é o resultado da agregação das partículas


primárias, quais sejam: areia, silte, argila e outros componentes do solo como matéria
orgânica e calcário. Para haver a formação de agregados são necessárias duas
principais condições: a primeira, uma força mecânica qualquer para provocar a
aproximação das partículas, como o crescimento das raízes, por exemplo; a segunda
condição é a de que, após o contato das partículas haja um agente cimentante para
consolidar essa união, gerando o agregado. A matéria orgânica humificada, juntamente
com os minerais de argila são os dois agentes cimentantes que mais contribuem para a
agregação do solo. A incorporação de matéria orgânica ao solo provoca uma intensa
atividade de microrganismos, fazendo com que os micélios dos fungos e dos
actinomicetos ou as substâncias viscosas produzidas pelas bactérias funcionem como
elementos aglutinantes das partículas. A matéria orgânica dá mais liga aos solos
arenosos, tornando-os mais “pesados”, e reduz a coesão dos argilosos, fazendo que
fiquem mais “leves”.

c) Aeração e drenagem – a matéria orgânica melhora a aeração e a drenagem interna


do solo, porque promove sua agregação e estruturação, de forma que tenha poros, por
onde circulam o ar e a água.

d) Retenção de água – a matéria orgânica aumenta direta e indiretamente a capacidade


do solo de armazenar água. A matéria orgânica crua tem capacidade de retenção de
água em torno de 80%; à medida que vai sendo humificada, essa capacidade de reter
água se eleva alcançando em média 160%. Materiais bem humificados, ricos em
colóides, como as turfas e os solos orgânicos, podem ter de 300 a 400% de capacidade
de retenção, enquanto que o húmus puro alcança valores maiores ainda, até o dobro das
anteriores.

A matéria orgânica humificada pode armazenar água indiretamente, melhorando


as propriedades físicas do solo. A matéria orgânica aumenta a capacidade de infiltração
de água devido às melhorias das condições físicas do horizonte superficial do solo,

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
como por exemplo, aumentando a granulação, a estruturação e protegendo a superfície
contra a formação de crostas impermeáveis. Quanto maior a capacidade de infiltração,
menor o escorrimento de água pela superfície formando enxurradas, e menor as perdas
por erosão. Também, as perdas de água do solo por evaporação são reduzidas pela
presença de matéria orgânica. É possível economizar água de irrigação incorporando-se
matéria orgânica ao solo ou aplicando-a na forma de restos vegetais em cobertura
morta.

Propriedades químicas

a) Fornecedora de nutrientes - A matéria orgânica é uma importante fonte de nutrientes


para as plantas, a microflora e a fauna terrestre. Fornece principalmente nitrogênio,
fósforo, enxofre e micronutrientes.
- Nitrogênio (N)– este elemento só pode ser armazenado no solo na forma orgânica. As
formas minerais (amoniacal – NH4+ - e nítrica – NO3-) estão sujeitas a perdas por
volatilização ou por lavagem, respectivamente, não permanecendo na terra por longo
tempo. Na matéria orgânica vegetal o nitrogênio é encontrado principalmente na forma
de proteínas e, em menor quantidade, em outros componentes celulares. A proporção de
N mineral encontrado no solo é de 1 a 10% do Nitrogênio total; o restante, 90 a 99%,
está na forma orgânica. Pode-se afirmar que, em média, mais de 95% do nitrogênio
encontrado no solo está na forma orgânica.

- Fósforo (P) – a matéria orgânica é uma importante fonte de fósforo para as plantas,
contendo geralmente de 15 a 80% do fósforo total encontrado no solo. O fósforo, no solo
apresenta o problema de se fixar aos sesquióxidos de ferro e alumínio das partículas de
argila, ficando indisponível para as plantas. Quando se mistura fosfatos naturais (fonte de
fósforo) aos restos orgânicos (animais e vegetais), a serem decompostos pelo processo
de compostagem, o fósforo fica solubilizado (misturado com água e outros nutrientes e
disponível para as plantas) pela ação dos ácidos orgânicos formados durante a
fermentação e, também, pelo ataque dos microrganismos. Além disso, o húmus que vai
se formando protege o fósforo solubilizado, evitando sua fixação.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Potássio (K) – o potássio não participa de compostos da planta, como acontece com
o nitrogênio, o fósforo e o enxofre. Ele é um elemento ativo na planta, porém, na forma
livre, sendo por isso prontamente liberado para o solo quando restos vegetais são a ele
incorporados.

- Enxofre (S) – o enxofre está presente no solo na forma mineral e orgânica. Na forma
orgânica constitui de 50 a 70% do total encontrado.

- Cálcio (Ca) e magnésio (Mg) – como o potássio, a maior parte do Cálcio e do


Magnésio fornecido às plantas provém dos minerais do solo, sendo pequena a
contribuição da matéria orgânica como fornecedora desses dois macronutrientes,
excetuando-se estercos de aviários que podem elevar, até em níveis excessivos, os
teores de cálcio em solos submetidos a manejos orgânicos sucessivos.

- Micronutrientes – os micronutrientes presentes no solo são de origem mineral e


orgânica. Através de reações de troca e mecanismos de complexação ou de quelação, o
húmus pode reter em formas disponíveis certos micronutrientes liberados pelos minerais
do solo ou da matéria orgânica em decomposição.

b) Correção de substâncias tóxicas – a aplicação de matéria orgânica humificada aos


solos tem sido recomendada como uma maneira de controlar a toxidez causada por
certos elementos encontrados em quantidades acima do normal. O ferro, o alumínio e o
manganês são apontados como os elementos tóxicos mais comuns nos solos brasileiros.
O controle da toxidez, geralmente, é feito pela aplicação de fertilizantes orgânicos,
devido à propriedade do húmus em fixar, complexar ou quelar esses elementos.

c) Índice pH – a matéria orgânica humificada contribui para que o solo ácido fique com
um pH mais favorável às plantas. Os solos fortemente alcalinos, com pH elevado, podem
também ser corrigidos com aplicações de matéria orgânica. Em experimento de campo,
constatou-se que a aplicação de 40 toneladas de esterco por hectare foi mais efetiva em
corrigir o pH de dois solos, um ácido e outro alcalino, que a aplicação de 1 tonelada de
calcário por hectare.

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
d) Poder tampão – o poder tampão do solo é devido à presença de minerais de argila e
de matéria orgânica. Quanto maior o teor de matéria orgânica no solo, maior será sua
resistência à mudança de pH. Assim, solos ricos em matéria orgânica necessitam maior
quantidade de calcário para modificar o pH.

Propriedades físico-químicas

a) Adsorção iônica – é um fenômeno físico-químico onde há uma retenção eletrostática


de um cátion em uma massa. A argila e o húmus são dois colóides eletronegativos, pois
quando suspensos em um líquido e sob a ação de uma força eletromagnética, caminham
para o pólo positivo. O húmus têm maior capacidade de adsorção de cátions que a
caulinita, argila que ocorre na maioria dos solos brasileiros. Assim,o húmus é capaz de
reter nutrientes essenciais para as plantas, devido ao seu poder de adsorção.

b) Capacidade de troca catiônica (CTC) – o colóide orgânico húmus tem a habilidade de


adsorver cátions existentes na solução do solo, podendo depois cedê-los às raízes ou
efetuar trocas, caso ocorra uma concentração de íons diferentes ou uma variação do pH.
O húmus apresenta uma elevada CTC se comparado com os colóides inorgânicos do
solo:
CTC do húmus – 200 a 400 meq/100g
CTC da caulinita – 3 a 15 meq/100g

c) Superfície específica – a matéria orgânica eleva a superfície específica do solo. O


húmus tem uma área de exposição superficial (superfície específica) 70 vezes maior que
a caulinita. Quanto maior a superfície específica do colóide do solo, maior sua
capacidade de retenção e maior seu poder de fornecer nutrientes para as plantas. O
aumento da superfície específica dos solos, proporcionado pelas adubações orgânicas
continuadas, pode elevar a sua capacidade de retenção de água.

Propriedades biológicas

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AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
A matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte
de energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico.
Assim, a presença de matéria orgânica aumenta a população de minhocas, besouros,
fungos benéficos, bactérias benéficas e vários outros organismos úteis, que estão livres
no solo. Aumenta, também, a população de organismos úteis que vivem associados às
raízes das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são
fungos capazes de aumentar a absorção de minerais do solo.
Indiretamente, a matéria orgânica atua na biologia do solo pelos seus efeitos nas
propriedades físicas e químicas, melhorando as condições para a vida vegetal. Por isso,
é chamada como melhoradora ou condicionadora do solo.
Experimentos mostram que o húmus estimula a alimentação mineral das plantas,
o desenvolvimento radicular, diversos processos metabólicos, a atividade respiratória, o
crescimento celular e a formação de flores em certas plantas.
Em sistemas orgânicos, a utilização do método de reciclagem de estercos animais
e de biomassa vegetal permitem a independência do agricultor quanto à necessidade de
incorporação de insumos externos ao seu sistema produtivo, minimizando custos, além
de permitir usufruir dos benefícios da Matéria Orgânica em todos os níveis.

Relação Matéria Orgânica vs. Resistência de plantas

- Aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas.

- Aumenta a população de minhocas, besouros, fungos benéficos, bactérias benéficas e


vários outros organismos úteis, que estão livres no solo.

- Aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas,
como as bactérias fixadoras de Nitrogênio e as Micorrizas, que são fungos capazes de
aumentar a absorção de minerais do solo.

- Aumenta significativamente a capacidade das raízes em absorver minerais do solo,


quando se compara aos solos que não foram tratados com matéria orgânica.

FRUTAL’2004 167
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
- Possui, na sua constituição, os macro e micronutrientes em quantidades bem
equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em qualidade e
quantidade. Com isso, o nível de proteossíntese aumenta. Os micronutrientes são
fundamentais para a proteossíntese, tanto como constituintes quanto ativadores das
enzimas que regulam o metabolismo da planta.

- A matéria orgânica é fundamental na estruturação do solo por causa da formação de


grumos. Isto aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo.

- A matéria orgânica possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que


aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.

Além disso, a incorporação de microrganismos antagonistas ao composto, através


da inoculação dos mesmos antes da adubação, pode elevar o efeito supressivo desse e
contribuir para o controle de doenças em plantas. SERRA-WITTLING et al. (1996)
verificaram que a adição de composto orgânico ao solo promoveu um aumento na
supressividade de Fusarium, de forma proporcional à quantidade de composto usada na
mistura (10%, 20% e 30%), em relação ao solo puro.

SOUZA & VENTURA (1997), comparando sistemas de adubação orgânica e


mineral, isoladas e associadas, verificaram que nas parcelas adubadas exclusivamente
com composto orgânico houve menor incidência de Phythophtora infestans na cultura da
batata, por proporcionarem menores teores de nitrogênio e fósforo e maiores teores de
cálcio e boro, na parte aérea das plantas. Observaram que houve uma correlação
positiva para os níveis foliares de N e P e correlação negativa para os níveis de Ca e B,
com a incidência do patógeno.

ELAD & SHTIENBERG (1994) também confirmaram efeitos de extratos aquosos


de compostos orgânicos no controle de doenças, através de um estudo sobre a
incidência de mofo cinzento (Botrytis cinerea) em Tomate, Pimentão e Uva. Os três tipos
de extratos foram obtidos de compostos orgânicos preparados da forma tradicional, à
base de esterco bovino, esterco de frango e resíduos da fabricação de vinho. Para todos
os 3 tipos, obteve-se o extrato padrão fazendo-se a diluição em água, na base de 1:5

168 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(v/v), deixando-se fermentar por 4 horas, 1 semana e 2 semanas. Os extratos puros (sem
diluição) foram pulverizados sobre as folhas de tomate e pimentão e sobre os cachos de
uva, após terem sido infectados artificialmente com pulverização de solução aquosa
contendo 105 conídios.ml-1. Verificaram que a eficiência na redução da doença, variou
com o tempo de fermentação e com o tipo de extrato utilizado. Todos os extratos
apresentaram maior eficiência quando fermentados por 2 semanas. Em geral, a redução
da doença situou-se na faixa de 56% a 100% quando se utilizou extratos fermentados
por mais de 10 dias.

7.3 EXEMPLO DE UM PLANO DE CONVERSÃO

Plano de conversão do sítio ‘Engenho velho’


Fonte: Khatounian, 2001

A conversão para a agricultura orgânica comporta um grande número de


possibilidades, em função da grande diversidade existente nos sistemas agrícolas. Além
disso, exige a mobilização de conhecimentos multi-disciplinares, segundo a natureza e
os determinantes do sistema em foco.
Assim, este exemplo foi abordado por compreender boa parte dos temas técnicos
relativos à conversão à agricultura orgânica e por não ser complexo demais, a ponto de
dificultar um entendimento dos procedimentos recomendados para a conversão.
Ademais, deve-se ter em mente que o objetivo desse exemplo não é mostrar soluções
tecnológicas, mas exercitar o método de abordagem sistêmica aplicado à conversão.

SITUAÇÃO ATUAL:

O sítio “Engenho Velho”, localizado em Capanema, é uma típica exploração familiar do


sudoeste do Paraná, iniciada pelo Sr. Sebastião Moraes, logo após a compra de seus 12
ha em 1965. As principais explorações atuais são as lavouras anuais, cultivadas para
renda (soja, milho, feijão) e/ou consumo doméstico (milho, feijão). Contudo,
considerando o mercado atual para grãos, a área disponível não é suficiente para o
atendimento das necessidades de renda da família. A soja é pesadamente onerada pela

FRUTAL’2004 169
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
contratação de serviços de terceiros e sua produtividade é prejudicada pela má
qualidade da mão-de-obra. O milho e o feijão são cultivados em consórcio, semeando-se
primeiro o feijão e, um mês depois, o milho. Também nessas culturas a escala de
produção é insuficiente em face da necessidade de renda da família.
O Quadro 1 e a Figura 5-A, apresenta um resumo da situação atual da
propriedade, onde em relação às normas de produção orgânica, entram produtos
proibidos (agrotóxicos), sobretudo para a soja. Entram também fertilizantes nitrogenados
(uréia) para o feijão e milho, embora em quantidades menores. A idéia de entrar na
produção leiteira encaixa-se bem em termos da utilização da força de trabalho, como da
geração de renda e do fluxo de materiais. As receitas e despesas são computadas da
maneira que os agricultores normalmente as consideram. No item receitas, registram-se
as entradas derivadas da venda dos produtos. As despesas incluem apenas o custeio,
não se atribuindo valor monetário ao trabalho, nem à depreciação dos equipamentos e
benfeitorias, nem à produção para consumo doméstico.

PROPOSTA DE CONVERSÃO:

O Quadro 2 e a Figura 5-B resumem a proposta de conversão adotada, a qual consiste


na instalação e manejo de um sistema de produção orgânico funcionalmente
diversificado, com 7,5 ha dedicados à geração de renda com gado leiteiro e culturas
anuais de grãos (soja, milho, feijão), e 0,5 ha dedicado à produção para consumo
doméstico. Esta proposta de produção integrada de grãos e de leite, inclui elementos de
manejo que privilegiam a manutenção da fertilidade do sistema, reduzindo a necessidade
de mão-de-obra e propiciando sua saúde econômica. O êxito biológico do sistema
proposto se baseia em alguns princípios, a saber:

1- Dividir a área útil de 8 ha em dois grandes talhões: um de culturas temporárias,


com 5 ha, e um com pasto perene de napier e leucena, com 3 ha. Esses talhões não
precisam ser contínuos, mas sim ser distribuídos de forma a reservar para as lavouras as
áreas mais férteis.
2- A produção de biomassa, na forma de palhada, e a fixação de nitrogênio deverão
estar sempre associadas, como nas seqüências soja-aveia e milho-ervilhaca, ou na

170 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
associação napier-leucena. Se essa associação não for observada, o sistema definhará
por falta de N ou falta de palhada.
3- No talhão de lavouras, as áreas para soja-aveia preta, milho x feijão-adubo verde
e culturas para consumo doméstico deverão ser rotacionadas entre si.
4- O máximo esforço deverá ser direcionado para a produção de palhadas, a fim de
reduzir a necessidade de capinas na soja e no consórcio milho x feijão.
5- A produção de leite será baseada em pasto, de napier e leucena no verão e de
aveia preta no inverno. A manutenção de fertilidade nesses pastos será baseada no
pastejo rotacionado, mantendo-se os estoques de nutrientes através da mineralização do
gado e da adubação da soja.
6- Haverá sempre uma competição latente entre a utilização da aveia para o gado e
sua utilização como palhada. Se o gado for privilegiado, haverá menos palhada e,
portanto, maior necessidade de capinas nas culturas de verão. Esse ponto merece
redobrada atenção em função de sua importância para o balanço econômico, de trabalho
e de fertilidade do sistema.

A cultura da soja terá sua área reduzida, mas continuará em plantio direto. O controle
de ervas será obtido com a palhada de aveia, complementada pela capina manual. Para
sua nutrição mineral, serão utilizados inoculantes e, de acordo com a análise do solo,
fosfatos naturais de Arad ou Gafsa e cinza de madeira, esta última disponível numa
agroindústria próxima. Se necessário, o controle da lagarta da soja será baseado em
Bacillus thuringiensis e/ou Baculovirus anticarsii, e o de percevejo em Trissolcus basalis
e iscas com inseticidas naturais.
O milho e o feijão também serão cultivados em plantio direto. A fertilização mineral
será baseada em nitrogênio fixado pelos adubos verdes, aplicando-se fosfatos e cinzas,
de acordo com a análise do solo. O controle de ervas será baseada na palhada dos
adubos verdes, complementada com capina manual.
Como reserva técnica de forragem, será plantada cana nos terraços das áreas de
lavoura.

FRUTAL’2004 171
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Quadro 1: SITUAÇÃO ATUAL: Principais atividades econômicas, área e renda.

Atividade Área Produção Receita (R$)* Despesas (R$) R–D


(ha) (t)
(R$)

Soja 4,5 11,3 2800 1900 900

Milho (x Feijão) 3,0 7,5 1000 400 600

Feijão (x Milho) 3,0 2,0 1330 400 930

Totais 8,0 5130 2900 2430

* Preço saca 60 Kg: Soja – R$ 15,00. Milho – R$ 8,00. Feijão – R$ 40,00.

Quadro 2: PROPOSTA DE CONVERSÃO: principais atividades econômicas, área e


renda.

Atividade Área Produção Receita Despesa R–D R–D


(ha) (t) (R$)
(R$) (R$) 2 (R$) 3

Verão – Soja 3,0 7t 1750 600 1090 1615

Inverno – Aveia preta 4t 60

Verão – Feijão + Milho 1,5 1t+4t 670 + 200 960 1320

Inverno – Mucuna ou 5t 530 40


ervilhaca

Napier com Leucena 3,0 15 t - - - -

Culturas para consumo 0,5 2t - - - -


doméstico

6 vacas leiteiras com 7 12600 L 2520 220 2300 3056


L/dia 1

TOTAIS 8,0 5470 1120 4350 5991

1) 7 litros / dia, 300 dias lactação/ano.


2) Mercado normal: Saca 60 Kg: Soja – R$ 15,00. Milho – R$ 8,00. Feijão – R$ 40,00. Leite a
R$ 0,20/L.
3) Mercado orgânico: prêmio de 30%.

172 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Figura 5: Representação esquemática dos sistemas de produção atual (A) e
proposto (B).

FRUTAL’2004 173
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.4 ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE CONVERSÃO
(PLANO DE MANEJO)

7.4.1 REQUERIMENTOS E ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A CONVERSÃO

‰ Para a ótima sustentabilidade do agroecossistema, todas atividades de produção


vegetal, produção animal e manutenção geral do ambiente, devem organizar-se
de maneira que todos os elementos das atividades possam interagir
positivamente.

‰ O plano de manejo deve contemplar desde a observação da paisagem e da


microbacia até os detalhes de preparo de solo, adubação, sementes, controle de
pragas etc. e todo o conjunto deve estar de acordo com as normas de produção
orgânica.

‰ O plano de manejo deve incluir programas, estratégias e práticas que permitam a


manutenção da operação como orgânica, sustentavelmente no tempo.

‰ O grande desafio compor o plano de manejo de forma adequada às condições


locais e às possibilidades do agricultor, dentro de princípios sustentáveis, sem
dissociar-se do contexto agrícola e sócio-cultural.

‰ Os planos de manejo representam a ação combinada do agricultor e do técnico e


certamente constituem-se numa referência importante para a evolução da
Agricultura orgânica.

‰ A conversão se completa num determinado período de tempo. Uma propriedade


pode ser convertida pela introdução gradual das práticas orgánicas em toda a
propriedade ou pela aplicação dos princípios em apenas uma parte da operação
por período de tempo limitado.

‰ O plano de manejo deve indicar que a totalidade da produção vegetal e animal


será convertida ao manejo orgânico.

174 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
‰ Produção separada e produção paralela:

o Deve-se destacar como a produção orgânica e convencional podem ser


claramente separadas e identificadas, incluindo os produtos e a
documentação.

o Deve-se converter toda a propriedade e o plano de conversão deve incluir os


passos e o tempo aproximado para a conversão total.

‰ O início do período de conversão deverá ser baseado na ciência da certificadora


do início das operações de manejo orgânico ou calculado desde a data em que foi
aplicado pela última vez algum insumo ou prática proibidos (desde que se possa
comprovar o cumprimento dos requerimentos das normas).

7.4.2. ETAPAS DO PROJETO

1ª ETAPA: Proteção do ecossistema natural

‰ Definição das ações de preservação ambiental de âmbito geral (flora, fauna,


recursos hídricos, ar e recursos edáficos. Deve-se manter uma parte significativa
da propriedade que facilite a biodiversidade e a conservação da natureza.

‰ Manter áreas para refúgio de vida silvestre, como:

• Áreas sem cultivo ou criações, como pastos, cercas vivas, bosques, grupos de
árvores e arbustos, florestas etc;

• Para cultivos extensivos, manter faixas da vegetação nativa;

• Canais, lagoas, mananciais, pântanos, mangues, áreas úmidas e outras áreas


ricas em água que não são usadas para agropecuária ou aqüicultura;

FRUTAL’2004 175
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
• Corredores de vida silvestre que proverem vínculos e conexões entre habitats
nativos.

‰ A engenharia genética deve ser excluída da produção e processamento orgânico,


visando proteger o ecossistema natural e o agroecossistema.

2ª ETAPA: Construção do agroecossistema

Planejamento e desenho:

‰ Planejar as atividades de forma interativa e desenhar o sistema a partir das


orientações de preservação do ecossistema natural.

Integração animal:

‰ Avaliar a possibilidade de manutenção ou de inserção de criações animais no


sistema, como forma de maximizá-lo, ambientalmente e economicamente.

Diversificação:

‰ Sistemas de produção diversificados são mais estáveis porque dificultam a


multiplicação excessiva de determinada praga e doença e permitem que haja um
melhor equilíbrio ecológico no sistema de produção, através da multiplicação de
inimigos naturais e outros organismos benéficos.

‰ Diversificar a paisagem geral, de forma a restabelecer a cadeia alimentar entre


todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e pássaros.

‰ Compor uma diversidade de espécies vegetais, de interesse comercial ou não,


recomendando que se opte por espécies locais, adaptadas às condições edafo-
climáticas da região.

176 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Manejo geral da vegetação espontânea:

‰ Descrever os meios utilizados para o manejo e controle de plantas invasoras. O


bom manejo de plantas invasoras pode diminuir a erosão, aumentar os inimigos
naturais, promover a ciclagem de nutrientes, melhorar as condições físicas do solo
etc.

‰ Os meios: capina ou roçada, manual ou mecanizada devem ser descritos; em


plantio direto ou cultivo mínimo o controle é modificado; em culturas perenes a
associação com leguminosas, as capinas alternadas, a alternância de capinas e
roçadas, podem ser práticas a serem descritas.

‰ Duas formas, isoladas ou associadas, visando permitir a conservação natural da


vegetação do próprio local:

1º. Não utilizar intensivamente o solo, procedendo ao planejamento de faixas de


cultivo, intercaladas com faixas de vegetação espontânea, chamadas de
corredores de refúgio. Para divisão dos Talhões de plantios deixar corredores de
2,0 a 4,0 metros de largura, para abrigar a fauna local.

2º. Proceder ao controle parcial da vegetação ocorrente dentro das áreas cultivadas,
aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com maiores
espaçamentos nas entrelinhas e manutenção da vegetação entre os canteiros
para culturas cultivadas por esse sistema de plantio.

Plano de rotação ou sucessão dos cultivos e adubação verde:

‰ Estabelecer um sistema de produção com culturas diversificadas, de interesse


comercial.

‰ Recomenda-se adotar um plano de uso do solo de forma mais sustentável


possível, procedendo ao planejamento dos plantios, visando permitir o descanso

FRUTAL’2004 177
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
(pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de dois em dois anos (culturas
anuais), através do plantio solteiro ou misto, de leguminosas e gramíneas, fato
que promoverá fixação biológica de nitrogênio e estruturação do solo,
respectivamente.

Quebra-vento ou Zonas de amortização:

‰ Uso de barreiras de árvores e/ou arbustos como quebra-ventos ou como zona de


amortização, para melhorar o microclima, aumentar a produtividade, diminuir a
erosão eólica ou evitar a contaminação por deriva de áreas convencionais.

3ª ETAPA: Manejo do solo

‰ Estabelecer medidas para minimizar a perda da capa superior do solo


estabelecendo cultivo mínimo, aração superficial, seleção de cultivos protetores de
solo, manutenção de coberturas, dentre outras.

‰ Tomar medidas para prevenir a erosão, compactação, salinização e outras formas


de degradação do solo.

‰ Os sistemas de produção, processamento e manipulação deverão devolver ao


solo os nutrientes, a matéria orgânica e outros recursos removidos pela colheita,
através da reciclagem e adição de matéria orgânica e nutrientes.

‰ Entre as alternativas tecnológicas, destacam-se a cultivo mínimo e o plantio direto


como práticas de suma importância a serem adaptadas a sistemas orgânicos de
produção, com vistas a perturbar o mínimo possível a estrutura física e a vida
biológica do solo.

• Emprego do plantio direto, sempre que possível, utilizando-se dos seguintes


equipamentos:

178 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Rolo faca: para acamar espécies de cobertura. Existem modelos de tração
animal, microtrator e tratores.

Rolo-disco: Usado para acamar espécies que apresentam maior dificuldade de


acamamento, como a mucuna, devido ao seu hábito de crescimento.

Triturador: implemento acoplado ao microtrator, igual a um triturador de grãos,


sendo indicado para espécies mais fibrosas (sorgo, milho, milheto, crotalárias).

Roçadeira: existem modelos para microtrator e trator, podendo ser utilizada para
adubos verdes menos fibrosos ou com muita rama (ex: mucuna) e ervas
espontâneas.

• Utilizar o sistema de preparo tradicional, com aração e gradagem, o mínimo


possível de forma racional e, utilizar a enxada rotativa apenas em caso de
extrema necessidade, limitando-se apenas para culturas que necessitam de
encanteiramento.

• Para hortaliças de espaçamentos maiores, plantadas em covas ou sulcos,


pode-se empregar diretamente o preparo manual ou utilizar equipamentos como
sulcador ou ainda a enxada com 2 jogos de facas, cultivando apenas a linha de
plantio.

• É recomendável proceder a rotação de culturas, envolvendo espécies que


exigem sistemas de preparo de solo diferentes, intercalando espécies de
preparo intensivo com espécies de plantio direto.

• Uso do subsolador em áreas submetidas a cultivos intensivos (em média, de 2


em 2 anos).

‰ A recomendação de queimada da vegetação deverá restringir-se ao mínimo.

FRUTAL’2004 179
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
4ª ETAPA: Manejo da água

‰ Adotar técnicas para a conservação da água, tais como: Aumentar o conteúdo de


matéria orgânica no solo; ajustar épocas de plantio que permitam aproveitamento
das chuvas e adotar um sistema de irrigação apropriado.

‰ Aplicar os insumos de maneira adequada para não contaminar as fontes de água,


superficialmente ou por infiltração.

‰ Na manipulação e processamento orgânico deve-se prever sistemas que


permitam o uso responsável e a reciclagem da água sem que se contamine com
produtos químicos ou patógenos.

‰ Planejar e desenhar sistemas que usem a água de maneira apropriada ao clima e


à geografia local.

‰ O processo produtivo não deve esgotar ou explorar excessivamente as fontes de


água e deverá buscar preservar a qualidade da água.

‰ Sempre que possível, deve-se reciclar a água da chuva e monitorar a extração da


água disponível localmente.

‰ Caixas secas:
• Importância: Controlar a erosão; Conservar as estradas; Retardar o escoamento
das águas das chuvas; Evitar assoreamento de leitos de rios e lagos;
Reintroduzir esta água no lençol freático; Disponibilizar esta água para
manutenção das nascentes durante o ano todo, proporcionando estabilidade na
vazão.
• Diagnosticar as estradas que servem à propriedade.
• Estabelecer um projeto adaptado às condições locais.

180 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
5ª ETAPA: Sistema de ciclagem de matéria orgânica e manejo de dejetos

‰ Descrever como será produzida ou adquirida a matéria orgânica e como será


manejada.

‰ Descrever os adubos e condicionadores a serem produzidos na propriedade,


como serão utilizados, em quais culturas, em que quantidades, em quais épocas,
com quais equipamentos etc.

‰ Descrever os modos de aplicação de excrementos e fertilizantes orgânicos e


controle dos efluentes.

‰ Material biodegradável de origem microbiana, vegetal ou animal produzido com


práticas orgânicas devem ser a base do programa de fertilidade do solo.

‰ Atentar para os riscos de contaminação de metais pesados e outros


contaminantes.

‰ Descrever o manejo e destino de resíduos (lixo, esgoto, esterco, manipueira,


vinhoto etc.). Os resíduos ou dejetos de qualidade controlada e de interesse para
composição do sistema de reciclagem e nutrição de plantas, devem ser
manejados adequadamente para este fim.

‰ Recomendar que estruturas de cobertura sintética, coberturas plásticas do solo,


ou outros potenciais poluentes deverão ser removidos da área e não deverão ser
queimados, mas enviados para unidades de reciclagem.

FRUTAL’2004 181
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
6ª ETAPA: Definição dos sistemas de produção

6.1. Produção Vegetal

No plano de manejo orgânico ou plano de conversão deve-se abranger toda a produção,


desde sementes até a venda, devendo ser descrita passo a passo: sementes, mudas,
plantio, controle de ervas, doenças, insetos, manejo de fertilidade, colheita,
armazenamento, limpeza, classificação, processamento, estocagem, exportação ou
vendas.

Diversidade na produção vegetal:


A diversidade se alcança mediante a combinação de:
‰ Uma rotação cultural diversa e versátil que inclua adubos verdes, leguminosas e
plantas com sistema radicular profundo.
‰ Apropriada cobertura do solo com diversas espécies nativas e culturas comerciais,
no maior tempo possível durante o ano.

Cultivos anuais:
Além da possibilidade de adoção de práticas mínimas de rotação, pode-se demonstrar
diversidade na produção vegetal por outros meios.

Cultivos perenes:
Deve-se estabelecer um sistema de cultivos intercalares, de associação com faixas de
vegetação nativa, mantendo o solo coberto, criando diversidade e refúgio para
predadores.

Manejo de pragas, doenças e ervas espontâneas

9 Recomendar o manejo aplicando uma ou mais medidas, como:


9 Uso de espécies apropriadas
9 Programa de rotação
9 Controle mecânico
9 Proteção dos inimigos naturais das pragas, mantendo habitats favoráveis

182 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
9 Diversidade de ecossistemas
9 Controle térmico
9 Utilização de inimigos naturais como predadores, parasitóides e antagonistas.
9 Preparados biodinâmicos

TÓPICOS PARA O CULTIVO VEGETAL

‰ CLIMA E CULTIVARES

‰ OBTENÇÃO DE SEMENTES OU MUDAS

‰ ÉPOCA DE PLANTIO

‰ PREPARO DO SOLO

‰ ADUBAÇÃO ORGÂNICA

‰ ADUBAÇÃO VERDE

‰ SISTEMA DE PLANTIO E ESPAÇAMENTO

‰ MANEJO E TRATOS CULTURAIS


• Irigação
• Cobertura morta
• Adubação em cobertura
• Desbaste
• Tutoramento
• Condução das plantas: Poda, raleio, polinização, desbrota etc.
• Nutrição de plantas
• Manejo e controle de ervas
• Amontoa

FRUTAL’2004 183
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
‰ MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS

‰ MANEJO E CONTROLE DE DOENÇAS

‰ COLHEITA , PREPARO E CLASSIFICAÇÃO

‰ PROCESSAMENTO

‰ EMBALAGEM

‰ CUSTO DE PRODUÇÃO

6.2. Produção Animal

Manejo da criação animal:

A produção animal orgânica se baseia na relação harmoniosa entre a terra, as


plantas e os animais, respeitando-se as suas necessidades fisiológicas e de
comportamento, além da provisão de alimentos de boa qualidade produzida
organicamente.

As unidades de produção deverão:

‰ Definir tamanhos de pastos e criatórios apropriados e rotações que permitam a


expressão dos padrões de comportamento natural e a manutenção dos recursos
naturais e da qualidade do ambiente.
• Suficiente liberdade de movimento, que proporcione oportunidade de expressão
normal de comportamento.
• Suficiente ar fresco, água, alimento e luz natural de acordo com as
necessidades dos animais.

184 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
‰ Proporcionar alimentos adequados e de boa qualidade, produzidos organicamente
(ver flexibilidades contidas nas normas).

‰ Implementar práticas no manejo animal para reduzir o estresse, promover a saúde


e o bem estar animal, prevenir as enfermidades, o parasitismo e evitar o uso de
produtos alopáticos.

‰ Implementar práticas no manejo animal para reduzir o estresse, acesso a áreas


adequadas de descanso, refúgio e proteção da radiação solar, temperatura, chuva
e vento.

‰ Associar práticas que promovam o uso sustentável da terra e da água.

‰ Utilizar materiais de construção que não causem danos à saúde humana ou


animal.

‰ Definir necessidade de adotar medidas para proteção dos animnais ao ataque de


predadores ou animais selvagens.

‰ O número máximo de horas de luz artificial para prolongar a duração natural do


dia não deve comprometer o comportamento natural e a saúde geral dos animais.

TÓPICOS PARA A CRIAÇÃO ANIMAL

‰ RAÇAS E ORÍGEM DOS ANIMAIS

‰ MANEJO E ROTAÇÃO DE PASTOREIO

‰ NUTRIÇÃO ANIMAL

‰ MUTILAÇÕES

‰ MANEJO DA CRIAÇÃO

FRUTAL’2004 185
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
‰ CONTROLE E MANEJO SANITÁRIO

‰ TRANSPORTE

‰ ABATE

‰ PROCESSAMENTO E EMBALAGEM

‰ CUSTO DE PRODUÇÃO

7ª ETAPA: Caracterização dos produtos ou insumos obtidos de fora da unidade de


produção

‰ Descrever os produtos permitidos a serem adquiridos fora da unidade de


produção, identificando ao máximo possível a procedência e forma de manejo dos
mesmos.

‰ Descrever os produtos a serem utilizados “somente se constatada a necessidade”.


Ex.: o K é fornecido pela maior ciclagem da matéria orgânica, mas as fontes
minerais aceitas pelas normas são usadas de forma complementar e justificadas
de acordo com as condições de solo e as exigências da cultura.

‰ Apresentar a composição química, física e biológica dos insumos,


preferencialmente baseados em análises das fontes que serão empregadas no
projeto. No caso de fontes orgânicas ou reconhecidamente idôneas por histórico
ou análises anteriores, pode-se apresentar dados médios ou dados similares
obtidos em literatura.

‰ Descrever quando serão suprimidas as medidas não orgânicas.

186 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
8ª ETAPA: Cronograma de execução das atividades (EXEMPLO HIPOTÉTICO)

Apresentar o período de execução das atividades, para permitir o devido


agendamento e acompanhamento da certificadora. Apenas como ilustração, verifique o
exemplo abaixo:

SISTEMA/ ATIVIDADES PERÍODO DE INÍCIO


GLEBAS

Análise de solos por GLEBA ou TALHÕES Mar/2002

Plantio de árvores nativas/frutíferas Set/2002

Aquisição de sementes de leguminosas Mar/2002

Fosfatagem (em função da análise do solo) Mar/2002


SISTEMA Subsolagem (se necessário) Mar/2002

Preparo dos poços para irrigação Mar/2002

Implantação das caixas secas Jul/2002

Demarcação do pátio de compostagem Mar/2002

Preparo de compostos orgânicos Abr/2002

Demarcação dos talhões, das faixas de


capineira e dos corredores de refúgio Mar/2002

Plantio do capim Cameron Mar/2002

GLEBA 1 Semeio, a lanço, do coquetel de leguminosas Mar/2002

Roçada e incorporação do adubo verde Jul/2002

Início dos plantios Ago/2002

Relacionar atividades dos sistemas produtivos agendar

Demarcação dos talhões, das faixas de capim


cidreira e dos corredores de refúgio Mar/2002

FRUTAL’2004 187
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Plantio do capim cidreira Mar/2002

Semeio, a lanço, do coquetel de leguminosas

GLEBA 2 ou plantio em sulcos de Mucuna Preta. Mar/2002

Roçada e incorporação do adubo verde Jul/2002

Início dos plantios Ago/2002

Relacionar atividades dos sistemas produtivos agendar

ETC...

9ª ETAPA: Estimativa de produção orgânica (EXEMPLO HIPOTÉTICO)

Como parte das exigências para a certificação, deve-se apresentar uma estimativa
da produção orgânica para cada ramo de atividade orgânica do projeto, visando atender
ao controle da origem, exigida no manual da qualidade e nas normas técnicas da
certificadora. Verifique o exemplo abaixo para um projeto de produção de hortaliças
orgânicas.

Caracterização e estimativa de produção, em função da demanda de hortaliças.


Espécie Demanda Rendimento Área a ser Intervalo Área Produção
2
semanal total/m plantada plantio ocupada/ci esperada
2
(m ) clo por mês

Alface crespa 100 ud 9 – 12 15 semanal 90 400 ud

Alface roxa 100 ud 9 – 12 15 semanal 90 400 ud

Alface americana 100 ud 9 – 12 15 semanal 90 400 ud

Chicória 100 ud 9 – 12 15 semanal 90 400 ud

Cebolinha 100 molhos 0,7 15 semanal 120 400mlh

Salsa 100 molhos 5 40 quinzenal 60 400 mlh

Beterraba 50 Kg 2 50 quinzenal 400 200 Kg

Cenoura 50 Kg 2 50 quinzenal 400 320 Kg

Rabanete 20 Kg 1,5 15 semanal 120 80 Kg

188 FRUTAL’2004
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
Couve-flor 60 ud 1,5 80 quinzenal 480 240 ud

Repolho 60 ud 3 40 quinzenal 240 240 ud

Brócolis 60 molhos 1 300 bimensal 600 240 mlh

Abobrinha caserta 25 Kg 1,6 100 Bimensal 300 100 Kg

Quiabo 50 Kg 1,5 250 2 plantios 500 200 Kg

Pimentão 30 Kg 1,5 200 2 plantios 400 120 Kg

Berinjela 30 Kg 4 100 2 plantios 200 120 Kg

Vagem 40 Kg 2,5 200 3 plantios 600 160 Kg

Morango 30 Kg 2 300 1 plantio 300 120 Kg

Tomate Cereja 20 Kg 1 200 2 plantios 400 80 Kg

Alho 30 Kg 0,4 200 2 plantios 400 120 Kg

Batata-baroa 80 Kg 2 200 2 plantios 400 320 Kg

Inhame 75 Kg 1,5 200 2 plantios 400 300 Kg

TOMATE/ESTUFA 150 Kg 5 300 * 300 600 Kg

PEPINO/ESTUFA 150 Kg 5 300 * 300 600 Kg

TOTAIS - - - - 7.280 m2 -

10ª ETAPA: Orçamento


Apresentar os custos previstos para a implementação de todas as atividades
produtivas. A apresentação da expectativa de retorno é opcional.

FRUTAL’2004 189
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
7.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FRUTAL’2004 211
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO
CURRÍCULO DO INSTRUTOR

Nome: Jacimar Luis de Souza


Formação: Engº Agronomo
Empresa/Instituição: INCAPER/ES
Cargo: Pesquisador
Endereço Com.: Rua João José Araújo, 84/101, Bairro Clélia Bernardes
Cidade: Viçosa UF MG CEP 36.570-000
Telefone (31) 3891 - 5358 Fax (31) 3891 - 5358
E-mail jacimarsouza@yahoo.com.br ou jacimar@vicosa.ufv.br.

CURRICULUM VITAE

ƒ Pesquisador do INCAPER – Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural

ƒ Coordenador e executor de projetos de pesquisa em Agricultura Orgânica,


desde 1990.

ƒ Publicação de 121 trabalhos científicos, sendo 76 na área de agricultura


orgânica.

ƒ Autor de Livros e Videocursos na área de Horticultura Orgânica.

FRUTAL’2004 212
AGRICULTURA ORGÂNICA- PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA E MERCADO

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