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Universidade Jean Piaget de Angola

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Direito

Direito dos Recursos Naturais


(Sumérios desenvolvidos)

Ângelo Abel Sapinãla

Campus universitário de Viana, Luanda

2023
Capítulo I: Parte Geral

1. Introdução

O Direito dos Recursos Naturais é uma disciplina de suma importância que integra o
plano curricular do Curso de Direito em várias Faculdades. No roteiro dessa disciplina começa-
se por compreender a importância dos recursos naturais na vida socioeconómica; estudar o
conceito de Direito dos Recursos Naturais; as suas características; as suas fontes e princípios
essenciais; bem como o quadro constitucional e as normas que regulam o seu acesso, uso e
comercialização.
O programa da disciplina inclui, ainda, alguns aspectos relevantes do Direito do
Ambiente, uma disciplina com a qual o Direito dos Recursos Naturais se relaciona e com
objectivos parcialmente idênticos como argumenta Carla Amado Gomes. E inclui também
aspectos não menos imperiosos do Direito do Mar como veremos no Capítulo relativo ao
Direito Internacional dos Recursos Naturais.
Uma das preocupações do Direito do Ambiente é pôr cobro à exploração até à exaustão
dos recursos naturais; a interferência nos processos básicos da terra, dos quais depende a vida,
no céu, na superfície verde do solo e no mar; a não contaminação do solo, da atmosfera e da
água; a manutenção das florestas equatoriais e tropicais e a preservação da biodiversidade1.
O Direito do Mar, tanto enquanto ramo do Direito Internacional como enquanto ramo
do Direito Interno, repousa sobre um acervo de tradições expressas em usos, em costumes e
em regulamentações de procedência europeia, na sua maioria multisseculares, que se mantêm
ainda, hoje, em vigor ou que nelas têm origem. Nele se estudam os conceitos de: Mar territorial,
Zona Económica Exclusiva, Plataforma Continental, dentre outros, e as variadíssimas
convenções afins.
E é na parte final, mais precisamente na parte sobre o chamado Direito Internacional
dos Recursos Naturais, onde se estudam os aspectos mencionados supra sobre o Direito do
Ambiente e o Direito do Mar enunciando os seus conceitos e princípios acolhidos na ordem
jurídica interna dos Estados.
De modo particular, os princípios quer do Direito do Ambiente, como do Direito do
Mar, estão espalhados em diversos instrumentos jurídicos internacionais de que Angola é parte.

1 Condenso, Fernando dos Reis (2018), Direito do Ambiente, 3ª Ediçao, Coimbra, Almedina
Assim, para uma melhor compreensão do Direito dos Recursos Naturais impõem-se, ab
initio, ter o conhecimento de três aspeitos fundamentais, nomeadamente 2:
- Os conceitos básicos das ciências da natureza acolhidos pelo Direito e as razões pelas
quais este os acolhe;
- Os fundamentos económicos desse acolhimento e das respectivas normas, uma vez
que o acesso e uso de recursos naturais tem por objectivo a satisfação de necessidades e a
realização de actividades económicas no domínio dos recursos naturais;
- E, por último, o conhecimento dos problemas de inovação (tecnologia) que o acesso
e uso de recursos naturais colocam ao Direito.
Na esteira de Antonieta Coelho, os recursos naturais que interessam ao Direito dos
Recursos Naturais são todas as coisas que fazem parte do ambiente natural, como resultado de
processos ecológicos naturais, cuja criação não há, em princípio, intervenção humana.
São componentes do ambiente natural: o ar, a água, o solo, a fauna, a flora, os minerais
e a energia fornecida pelo sol. O ambiente natural designa-se BIÓTICO se estiver composto de
seres vivos como a fauna e a flora. E designa-se ABIÓTICO se estiver composto de elementos
não vivos como os minerais, o ar, água etc.
A Terra é composta de quatro componentes principais:
a) A Biosfera,
b) a Litosfera,
c) a Hidrosfera
d) e a Atmosfera.
Este conjunto de elementos bióticos e abióticos se equilibra através do fluxo contínuo
de energia e de reciclagem da matéria. Os componentes vivos e não vivos estão em interacção
por serem parte integrante do ambiente natural e fornecidos por este. Por isso, os recursos
naturais são também designados bens ou recursos ambientais, diz a autora.
O facto de os recursos naturais não resultarem directamente de actividade humana,
coloca-se a questão das consequências jurídicas importantes na diferenciação dos seus regimes
em relação aos de outras coisas. Mais importante nessa diferenciação de regimes jurídicos é a
sua característica de componentes de ecossistemas e que desempenham determinadas funções
para a estrutura destes e para benefício dos seres humanos.
Vale lembrar, ainda na senda do estudo de Antonieta Coelho, que o ambiente natural
realiza múltiplas funções vitais, tais como:

2 Coelho, Antonieta
a) Fornecer recursos naturais necessários à satisfação de necessidades não só dos seres
humanos mas de todos os seres vivos. No caso das necessidades humanas, os recursos naturais
são consumidos directamente, como o ar, a água e muitas plantas e animais; ou constituem
matérias-primas ou fontes de energia que são utilizadas para produzir bens e serviços.
b) Assimilar resíduos de origem natural ou resultantes de actividades humanas em
ciclos em que o ambiente se regenera, gerando novos recursos.
c) Prestar directamente outros serviços como por exemplo:
• Serviços de apoio à vida, como a manutenção da composição da atmosfera e a
regulação do clima;
• Serviços para o consumo directo, como espaço para recreação e para satisfação
de necessidades estéticas ou de investigação, como as paisagens e a fauna
selvagem.
Dado que uma das principais acções que o homem exerce sobre os recursos naturais é
a sua extracção da Natureza, para que os recursos naturais possam continuar a desempenhar as
suas funções dentro dos ecossistemas, o seu uso tem de ser regulado, de modo que, não obstante
a sua utilização, se mantenha o equilíbrio desses ecossistemas.
Assim, quando o Direito regula o acesso aos recursos naturais e o seu uso tem de ter em
consideração a sua especificidade como componentes de conjuntos mais vastos e complexos,
e não como coisas isoladas sobre as quais recaem direitos.
Por essa razão, relativamente ao ambiente, muitos autores têm recorrido ao conceito de
universalidade para vincar a característica de que o ambiente não é apropriável e os recursos
que o compõem não podem ser apropriados e usados sem se ter em consideração que são partes
desse conjunto.
Quando se fala em recursos naturais, o conceito de recurso refere-se ao valor económico
dos bens naturais para satisfação de necessidades humanas.
Tratando-se a economia do estudo da afectação de recursos escassos à satisfação de
necessidades, os recursos naturais têm ainda, como argumenta Coelho, a especificidade de
serem recursos com limites físicos. É o caso, por exemplo, dos combustíveis fósseis, nos quais
se incluem o petróleo e o carvão. Esses recursos não aumentam num horizonte temporal,
embora se transformem. Por essa razão, o critério mais usado para classificar os diversos
recursos naturais é o da sua esgotabilidade.
2. Os ecossistemas

Em geral, os ecologistas consideram que uma comunidade tendo uma diversidade


grande é mais complexa e estável que uma comunidade que tem uma diversidade reduzida
porque, quanto maior for o inter-relacionamento entre as populações, maior é a resiliência
destes sistemas à perturbações3.
Segundo Coelho, o conceito de ecossistema tem a sua origem no termo biocenose,
introduzido por Mobius em 1877. A biocenose significa um agrupamento de seres vivos
correspondendo, pela sua composição, pelo número de espécies e de indivíduos, a certas
condições médias do meio, sendo esse agrupamento ligado por uma dependência recíproca e
que se mantém e reproduz num dado local de modo permanente.
Os elementos mais importantes de um ecossistema são: os solos, a atmosfera, a radiação
do sol, a água e os organismos vivos e, fundamentalmente, as inter-relações que se estabelecem
com a circulação da matéria e da energia.
Os solos fornecem nutrientes e espaço para o crescimento aos seres vivos. A atmosfera
fornece aos seres vivos do ecossistema o dióxido de carbono para a fotossíntese e o oxigénio
para a respiração. A radiação do Sol fornece o calor necessário ao ciclo da água e é essencial
para a fotossíntese das plantas.
A água é um elemento da composição de animais e plantas e serve-lhes de alimento,
transportando também nutrientes minerais.

2.1 Conceito de ecossistema


A Lei de Bases do Ambiente define ecossistema como “um complexo dinâmico de
comunidades vegetais, animais e micro-organismos e o seu ambiente não vivo, que interage
como uma unidade funcional”.

2.2 Classificação dos ecossistemas


Os ecossistemas podem ser classificados segundo diferentes critérios 4:
a) Pela dimensão: A Terra «pode ser vista como um gigantesco ecossistema».

3 Coelho, Antonieta
4 idem
b) b) Pelo produtor primário principal. Neste caso, as fronteiras do ecossistema são
definidas pelos limites do tipo de coberto vegetal como, por exemplo, no caso das
florestas tropicais.
c) Pelas fronteiras geográficas. Podemos, por exemplo, encontrar ecossistemas
correspondentes aos dos estuários dos rios, à lagos, à penínsulas, às zonas costeiras e
de plataformas continentais.
A actividade humana tem um grande impacto sobre os ecossistemas, perturbando o
equilíbrio ecológico e, em consequência, prejudicando a realização das suas funções. Mas,
vale-lhes a sua resiliência que é a capacidade que eles têm de resistir às intempéries. No entanto,
essa característica da resiliência de um ecossistema não é constante.
A resiliência é uma qualidade dos ecossistemas que se refere à propensão de manter a
sua estrutura organizativa e funcional após uma perturbação significativa, quer natural, quer
por Accão do homem.
Quando o equilíbrio do ecossistema é perturbado, por exemplo, por alterações
climáticas, exploração não sustentável de recursos ou destruição de habitats, os organismos
vivos procuram adaptar-se, incluindo através de alterações da sua composição genética. Muitas
vezes não conseguem essa adaptação e pode ocorrer a extinção de espécies ou mesmo de todo
o ecossistema.
O equilíbrio ecológico tem particular relevância porque, para além de outras questões
relativas ao desenvolvimento sustentável que veremos adiante, e aos regimes de recursos
naturais, vem expressamente consagrado no artigo 39º da Constituição da República.

3. Importância dos recursos naturais na vida socioeconómica


Os recursos naturais têm e tiveram sempre uma importância vital na vida
socioeconómica, de tal maneira que os estádios de desenvolvimento da humanidade foram
sempre classificados com referência a eles, como foram os casos da Idade da pedra, a Idade do
Bronze, a Idade do Ferro, etc. e a Idade do Petróleo (como, provavelmente será chamada a
idade actual), iniciada em 1855, com desenvolvimento exponencial no início do seculo XX. E
quiçá, a seguir a Idade do Sol, um recurso natural que começa a despontar como grande
alternativa no âmbito das chamadas energias ecológicas. São os recursos naturais que
proporcionam o essencial para o sustento do homem e faz girar a maquina da economia local
e global.
4. Conceito de Direito dos Recursos Naturais
A partir da raiz da definição de Direito, (conjunto de normas jurídicas que regula a
conduta do homem em sociedade) podemos apresentar uma definição de Direito dos Recursos
Naturais. Sendo certo que, como sustentam vários autores, não existe uma definição
unanimemente aceite.

Assim, o Direito dos Recursos Naturais pode ser definido como “o conjunto de normas
e princípios jurídicos que regula a actividade de contratação, descoberta (pesquisa e
prospecção), produção ou exploração, armazenamento, transportação, distribuição, uso e
comercialização dos recursos naturais.

Tecnicamente usa-se a expressão pesquisa para designar as actividades de descoberta


de hidrocarbonetos, e, prospecção para designar as actividades de descoberta de outros
minerais.

Para Antonieta Coelho, o Direito dos Recursos Naturais é um sistema de normas


(princípios e regras) regulando relações sociais específicas, relativas a direitos, poderes de
tomada de decisões de diferentes pessoas sobre o acesso e uso de recursos naturais 5.

Na senda de Simba (2019), a definição de Antonieta Coelho alicerça-se na perspectiva


de Fisher que define o Direito dos Recursos Naturais como o conjunto de normas que regulam
o reconhecimento, criação, distribuição e exercício de poderes e competências para tomar
cisõeses relativas ao uso, aproveitamento e conservação de recursos físicos naturais sobre os
quais um Estado tem soberania em termos de Direito Internacional.

E, para ele próprio, Eduardo Mendes Simba, o direito dos Recursos Naturais é uma
disciplina jurídica que regula as condições de acesso e uso dos recursos naturais, visando a
afectação de poderes sobre estes aos diferentes sujeitos de direitos.

5. Características do Direito dos Recursos Naturais


Como qualquer outro ramo do Direito, o Direito dos Recursos Naturais tem
características próprias, muitas delas comuns às de outros ramos. Na esteira de Simba, o Direito
dos Recursos Naturais tem as seguintes características:

5 Coelho (2007), cit. Em Simba (2019)


1. A multiplicidade ou heterogeneidades das suas fontes que são de duas espécies a)
fontes internas e b) fontes internacionais. As fontes internas são as provenientes das
normas do Direito positivo, as resultantes da concertação social e de acordos entre
as partes, e, também, as regras do Direito Costumeiro ou Consuetudinário. E as
fontes internacionais são que dimanam do Direito Internacional ou do Direito
Comunitário, nomeadamente: as convenções ou tratados internacionais e as normas
próprias do Direito Comunitário.
2. Multiplicidade dos sujeitos e fragmentação dos poderes. Trata-se da existência de
vários sujeitos que intervêm na gestão com poderes atribuídos pelas normas do
Direito dos Recursos Naturais, desde o próprio Estado com os seus órgãos de
soberania; as Autarquias Locais representando o poder local; os Institutos Públicos;
as empresas públicas; o poder tradicional; as comunidades rurais e as suas famílias;
e as pessoas singulares e colectivas de direito privado.
3. Diversidade e especificidade dos recursos naturais, que se consubstancia nas
variadíssimas espécies de recursos naturais e na especificidade dos seus regimes de
acesso, uso e aproveitamento, sejam eles renováveis ou não, raros ou abundantes,
essenciais ou não essenciais.
4. Mutabilidade e permeabilidade, que consiste na mudança ou alteração das normas
de Direito dos Recursos em função das circunstâncias e valores políticos,
económicos e ambientais.

6. Fontes do Direito dos recursos Naturais


Como vimos, supra, na primeira característica apresentada nop estudo de Simba, o
Direito dos Recursos Naturais imerge de dois tipos de fontes: Fontes internas e fontes
internacionais. As fontes internas são aquelas que derivam das normas do Direito positivo, as
resultantes da concertação social e de acordos entre as partes, bem como as regras do Direito
Costumeiro ou Consuetudinário. E as fontes internacionais são que dimanam do Direito
Internacional ou do Direito Comunitário, nomeadamente: as convenções ou tratados
internacionais e as normas próprias do Direito Comunitário.
7. Princípios do Direito dos Recursos naturais
Os princípios do Direito dos Recursos naturais são, ipso facto, os que vêm plasmados
na CRA, nomeadamente, os princípios vertidos nos Título I sobre os Princípios Fundamentais
(artigos 1º , 2º, 3º, 5º, 6º, 8º, 12º, 13º, 14º, 15º, 16º, 21º); Título II (artigos 22º, 23º, 26º, 27º,
28º, 29º, 30º, 31º, 37º, 38º, 39º, 46º, 49º, 50º, 51º, 56º, 57º, 58º) Capítulo III sobre Direitos e
deveres Económicos , sociais e Culturais (artigos 76º, 77º, 78º, 79º, 85º, 88º) Título III sobre a
Organização Económica e Financeira (artigos 89º, 90º, 91º, 92º, 93º, 94º, 95º, 96º, 97º, 98º, 99º,
100º, 101º, 102º, 103º, 104º)

8. Evolução da legislação dos recursos naturais

A evolução da legislação dos recursos naturais, fundamentalmente dos recursos


minerais, incluindo os hidrocarbonetos, teve influência de factores externos, mormente das
potências coloniais que detêm o know how (tecnologia) e o capital que serve de investimento
para as actividades de descoberta e exploração ou produção.
Com efeito, diz Coelho, que a legislação dos recursos naturais incluindo os
hidrocarbonetos, evoluiu a partir das decisões tomadas pelos órgãos do Estado sob a forma de
actos administrativos e normativos ao dar resposta aos novos problemas sociais, económicos e
jurídicos que surgiram com as descobertas dos diferentes recursos naturais. Nesta senda, o
Direito dos Recursos Naturais surge como consequência da evolução sui generis do direito de
propriedade e do direito dos contratos estudados no âmbito do Direito Civil (Direitos Reais e
Direito das Obrigações).

Esta evolução sui generis, diz a autora, nasce nos EUA, e, rapidamente, se expandiu
para outros países passando, por isso, a ter um carácter internacional, fazendo com que, dos
EUA, as empresas norte americanas levassem consigo também conceitos jurídicos para outros
países, incluindo aqueles cujos regimes ou sistemas de propriedade são completamente
diferentes, como os regimes romano-germânico (que vigora no nosso país) e o islâmico (que
vigora nos países islâmicos), o que terá causado algum choque no início como é óbvio, tal
como se verá adiante.

9. Fases de desenvolvimento da legislação dos recursos naturais

Seguindo o estudo da evolução da legislação dos recursos naturais referido supra e


partindo do quadro legal das relações entre Estados produtores e as empresas estrangeiras
(multinacionais) especializadas em actividades de descoberta e exploração ou produção de
recursos naturais, Gao faz uma divisão de três fases distintas:
1ª Fase das concessões - que começou no início do sec. XX e se prolongou até meados
deste mesmo século e eram, sobretudo, as empresas concessionárias que determinavam as
regras de jogo, com vantagens para si nesta fase.
2ª Fase do confronto – que durou cerca de 25 anos. É nesta fase que os países
produtores de recursos naturais procuraram se impor e reganhar o controlo sobre os seus
recursos naturais.
3ª Fase da cooperação – que é a fase actual e deu início nos finais da década de 80 do
Séc. Passado. Nesta fase, as empresas estrangeiras assim como os Estados produtores
encontraram estabilidade e reciprocidade de interesses na actividade de exploração de recursos
naturais. Na fase de cooperação verificou-se, a partir dos finais do século passado, o princípio
da “nacionalização dos quadros” nas empresas multinacionais, onde os técnicos especializados
deixaram de ser eminentemente estrangeiros, dando lugar à técnicos nacionais de países
protutores de recursos naturais, incluindo nos órgãos de direcção das mesmas.
Deste estudo de Gao podemos distinguir dois tipos de concessões, nomeadamente; a)
as concessões tradicionais que, como seu nome indica são o tipo de concessões que eram
praticadas na fase das concessões, numa fase ainda muito incipiente da história da evolução da
legislação dos recursos naturais; e b) as concessões qualificadas que se enquadram no âmbito
das concessões praticadas na fase actual, a fase da cooperação, com vantagens reciprocas para
as parte, isto é, entre as empresas concessionárias e os Estados produtores.

10. Características das concessões tradicionais e das concessões qualificadas

10.1 Noção de Concessão


Concessão, em Direito dos Recursos Naturais, é um contrato pelo qual o Estado atribui
direitos sobre recursos naturais e actividades com eles relacionadas à empresas especializadas.
8.2 Concessões Tradicionais
As concessões tradicionais foram as formas jurídicas dominantes durante a primeira
metade do sec. XX, coincidindo com a fase das concessões, de harmonia com o estudo de Gao,
com as seguintes características:
1. Eram contratos de longa duração, entre 35 à 99 anos sem qualquer
possibilidade de renegociação do mesmo.
2. Eram contratos relativos a uma só fase e, ainda que não se realizasse a pesquisa
ou prospecção, os recursos eram da concessionária e o Estado não podia fazer
nada.
3. Nas concessões tradicionais os contratos abriam, em geral, várias excepções à
legislação em vigor do país produtor a favor das empresas concessionárias.
4. As áreas de concessões eram zonas extensas, muito vastas e não se previa a
libertação das mesmas antes do período de vigência do contrato de concessão
que, como se viu, eram de longa duração.
5. As empresas concessionárias realizavam todo o investimento para as
actividades de descoberta e exploração ou produção, e os Estados produtores
eram remunerados com um modesto royalty (prémio). Em geral, as empresas
concessionárias estavam isentas de impostos e direitos aduaneiros.
6. A propriedade dos recursos da área concedida era das empresas
concessionárias, e os Estados só recuperavam a propriedade das mesmas após
o termo do contrato de concessão, por vezes, já sem recursos naturais nenhuns.
7. Os Estados produtores não participavam nas decisões importantes tais como; a
determinação da taxa de produção ou sobre os preços das vendas dos recursos
explorados. Em suma, eram as empresas concessionárias que tomavam todas
as decisões sobre os recursos e sobre as actividades de descoberta e exploração
bem como a sua comercialização.

11. Objectivos da primeira parte


Os objectivo desta primeira parte de aulas visa essencialmente o seguinte:
1. Conhecer a importância dos recursos naturais na vida sócio-económica e
política, e o facto de determinados períodos históricos terem sido associados a
alguns deles dada a sua importância;
2. Conhecer a génese da evolução histórica da legislação dos recursos naturais,
sobretudo, dos minerais e dos hidrocarbonetos (petróleo). Que começou nos
EUA, evoluindo a partir das decisões tomadas pelos órgãos do Estado sob a
forma de actos administrativos e normativos. E, rapidamente, essas formas de
actos e decisões se expandiram para outros países detentores de recursos
naturais; trata-se de uma evolução sui generis que passou a ter um carácter
internacional ao se expandir para outros países com regimes ou sistemas de
propriedade diferente daquele que vigora nos EUA.
3. Ter noção do que é o Direito dos Recursos Naturais;
4. Saber distinguir a actividade de prospecção da actividade de pesquisa;
5. Conhecer os sistemas ou regimes de propriedade definidos por Blinn, assim
como as suas características, e, sobretudo, saber qual deles vigora no nosso
ordenamento jurídico e porquê?
6. Conhecer as três fases de desenvolvimento da legislação dos recursos naturais
apresentadas por Gao, bem como as suas características;
7. Conhecer a noção de concessão em Direito dos Recursos Naturais;
8. Saber o que foram as concessões tradicionais e as suas características.

12. Concessões Qualificadas

Às concessões tradicionais seguiram-se, segundo Schanze, as concessões qualificadas,


já, na fase da cooperação, seguindo o estudo de Gao. Neste novo tipo de concessões o acesso
e o uso dos recursos naturais, mormente dos minerais, passou a realizar-se em condições estritas
estabelecidas em leis e/ou em contratos, e nada mais se faz por vontade exclusiva das
multinacionais. O quadro mudou radicalmente como resultado das negociações entre as partes
que visaram a harmonização nas suas relações e a busca de vantagens recíprocas. Assim, as
concessões qualificadas caracterizam-se pelo seguinte:

1. Redução da duração (entre 15 a 25 anos);


2. Redução das áreas das concessões;
3. Divisão das actividades em fases;
4. Deixaram de abrir excepções à legislação em vigor nos países produtores à favor das
empresas concessionárias.
5. As empresas nacionais dos Estados produtores passaram a realizar também
investimentos nas actividades de descoberta, exploração ou produção, e a consequente
repartição dos lucros ou resultados das respexctivas actividades e não apenas a
remuneração de um modesto royalty (prémio).
6. As empresas concessionárias que estavam isentas de impostos e direitos aduaneiros
passaram a fazê-lo contribuindo para os cofres dos Estados produtores;
7. Os Estados produtores passaram a participar também nas decisões importantes,
nomeadamente na determinação das taxas de produção ou sobre os preços das vendas
dos recursos explorados etc.
Nesta nova relação entre os estados produtores e as empresas concessionárias, na fase
da cooperação, existe um elemento muito importante na operacionalização das actividades
sobre os recursos naturais que é a prestação da informação.

13. A importância da informação.

A informação é, de facto, um elemento importante nas actividades mineiras incluindo


os hidrocarbonetos e de outros recursos naturais, fundamentalmente na tomada de decisões e
nas negociações entre as partes. E, por isso, ela deve ser, acima de tudo, fiável.
11.1 Conceitos de informação.
Importa dizer, em primeiro lugar, que quando se fala sobre a informação nas actividades
referentes aos recursos naturais ela deve ser vista em sentido amplo, incluindo todos os dados
recolhidos, bem como a informação resultante do tratamento destes dados. Daí a necessidade
de se ter domínio sobre os diversos conceitos relativos a esse grande imput que é a informação,
tais como:
1. Prestação de informação: disponibilizar toda a informação relevante à todos aqueles
que devem tomar decisões.
2. Aprovisionamento de informação: é a actividade de quem procura a informação.
Fonte/emissor e receptor.

3. Instrumentos de prestação: são as formas ou os materiais de que se serve para a


prestação de informação vg o balanço e as contas da empresa.

4. Utilizador de informação: é qualquer parte interessada na informação nos termos do


contrato ou da lei.

5. Sistema de informação: disseminação de dados na economia nacional ou dentro da


empresa.

6. Comunicação é a troca recíproca de informação.

11.2 Forma de prestação da informação


Para um melhor serviço na prestação da informação exige-se que ela seja fornecida:
a) No momento certo, obedecendo os prazos para que produza os efeitos necessários;
b) Com a quantidade adequada, ou seja, toda a informação necessária e sem omissões na
sua transmissão;
c) E com qualidade e objectividade para garantir a sua fiabilidade
De salientar que a informação é regulada por lei e/ou por contrato, ou seja, é a lei e os
contratos que estabelecem o modo de transmissão de informação entre as fontes e os receptores,
que sejam parte nos contratos relativos aos projectos ou até à terceiros.
Daí, a obrigação positiva de dare, prestar a informação relativa a actividade de
descoberta, produção e ou comercialização de RN. Ou a obrigação de confidencialidade, non
dare.

11.3 Prospecção Pesquisa e reconhecimento


Como vimos no conceito de Direito dos Recursos Naturais, a prospecção, pesquisa e
reconhecimento constituem a primeira fase na actividade de recursos naturais, envolvendo,
como é obvio, investimentos avultados.
Em geral, os Estados produtores não têm recursos financeiros suficientes para essa
actividade e, por isso, fazem-no através das empresas multinacionais especializadas que
contratam para o efeito.
Para tal, o Estado troca um determinado quadro contratual da concessão dos direitos de
exploração, nos limites da lei, pela obrigação da concessionária realizar por sua conta e risco a
actividade de prospecção e pesquisa.
Assim, a regulação destas actividades no Código Mineiro e na Lei das Actividades
Petrolíferas passou, nas concessões qualificadas, a incluir as seguintes matérias:
1. A fixação de prazos para a duração da fase, podendo ser prorrogável por igual
período de tempo;
2. A delimitação da área de concessão e a regulamentação destinada a libertação
ou redução da respectiva área;
3. A obrigação de trabalhos mínimos;
4. A obrigação de despesas mínimas;
5. A obrigação de prestação de informação;
6. A cláusula de risco obrigatório.

Relativamente a última obrigação, sobre a cláusula de risco obrigatório, em que a


concessionária realiza a prospecção, pesquisa e reconhecimento por sua conta e risco, não há,
a partida qualquer contrapartida para si, salvo em caso de descoberta economicamente viável
em que a concessionária tem o direito de recuperar o capital investido, mas já na fase seguinte,
isto é, na fase de produção ou exploração.
É nesta fase em que começam os problemas, quando a concessionária alcança resultados
satisfatórios na actividade levada a cabo de prospecção e pesquisa. Primeiro, a questão da
definição se a descoberta é ou não comercial; Segundo, a questão da passagem para os direitos
de exploração.
Com efeito, só depois de se definir que a descoberta é comercial é que se passa para a
fase de produção que inicia com a extracção do recurso natural.
Considera-se descoberta comercial aquela que for economicamente viável.
Tratando-se de jazidas menos ricas, ou seja, de descoberta não viável do ponto de vista
económico, a concessionária poderá não estar interessada na exploração da mesma originando
conflito entre aquela e o Estado, pois este pode estar interessado na sua exploração, para, do
ponto de vista fiscal e cambial retirar o maior benefício possível da atribuição da concessão.
Vale lembrar que nas concessões tradicionais cabia à concessionária decidir sobre esta
questão, ou seja, decidir se deve explorar-se ou não aquela jazida. Já, nas concessões
qualificadas, o sistema de duas fases ou até de três, permite ao Estado ter controlo sobre a
questão relativa às jazidas menos ricas, isto é:
1. Desde logo, caducando a licença de prospecção e pesquisa, a questão de quais as
descobertas que são comerciais ou não serão sempre renegociadas;
2. Nos contratos a duas fases, as partes definem ab initio no contrato o que entendem
por descoberta comercial;
3. as partes podem também incluir no contrato regimes diferenciados para os
diferentes tipos de jazidas. Vg o uso de um sistema de royalties variáveis em função
da rentabilidade depósitos para incentivar a exploração de minas ou poços menos
rentáveis cujo royalty é relativamente baixo.

14. Transição para os direitos de exploração


Para a segunda fase de actividades, fase de produção ou exploração, a concessionária
de direitos de prospecção, pesquisa e/ou reconhecimento, pode, no caso de descoberta
comercial e estando interessada, dependendo da legislação, candidatar-se a uma nova
concessão. Mas, em regra geral, as empresas que apostam na prospecção, pesquisa e
reconhecimento num quadro de risco obrigatório, procuram negociações que incluam no
contrato de concessão a regulação das duas fases, isto é, a fase de prospecção, pesquisa e/ou
reconhecimento, bem como a fase de exploração.
Noutros casos garante-se, pelo menos, à empresa concessionária o direito de preferência
relativamente ao direito de exploração. Contudo, a prática mais generalizada é a de a concessão
de direitos de prospecção e pesquisa implicar ipso facto a concessão de direitos de exploração
em caso de descoberta comercial. E todas essas questões são reguladas por lei e/ou por
contratos.

15. Outras questões que devem ser reguladas por lei ou por contrato

Segundo, ainda, Antonieta Coelho, existem outras questões de grande interesse que podem e
devem ser reguladas por lei tais como:
a) a propriedade dos recursos naturais extraídos e em que momento, ou momentos,
conforme os contratos, se opera a transmissão da referida propriedade;
b) a propriedade dos bens necessários às operações nas acividades quer de descoberta
como de exploração;
c) a definição de taxas de extracção, níveis e métodos de produção, bem como a protecção
do meio ambiente;
d) a fixação de preços e outras decisões sobre comercialização como reservas de
abastecimento do mercado nacional, regime de exportação, opções de compra de
produção;
e) as cláusulas financeiras, relativas ao que se chama de distribuição do rendimento do
projecto, incluindo o regime de retorno do Estado, nomeadamente o regime fiscal;

f) a definição de quem toma determinadas decisões e dos poderes de supervisão e


fiscalização do Estado;

g) e as regras sobre tecnologia, onde se destaca a sua transferência do seu uso para quadros
nacionais, emprego e formação de trabalhadores, preferência de empresas nacionais no
fornecimento de bens ou serviços etc.

De salientar que existem, segundo a autora, outros aspectos de suma importância que
vale destacar. Como, por exemplo, a regulamentação que consiste na intervenção do Estado
através de actos normativos e administrativos; a regulamentação da fixação de preços e da
comercialização; a regulamentação da exportação e importação de recursos e equipamentos
necessários às actividades e a regulamentação do investimento estrangeiro nesse domínio, sem
olvidar as formas de participação directa dos Estados produtores nos diferentes projectos
através de empresas estatais e as regras ambientais para a protecção dos recursos naturais.

16. Propriedade dos recursos naturais

A conceitualização da propriedade dos recursos naturais partiu da noção de propriedade


de terra, de harmonia com os diferentes regimes ou sistemas de propriedade definidos por
Blinn, nomeadamente6:

a) O sistema norte-americano ou da common law;


b) O sistema dominial ou romano-germânico;
c) E o sistema Islâmico.

16.1 Sistema norte-americano ou da common law

O sistema norte-americano ou da common law, como o seu nome indica, tem a sua
génese na common law e é caracterizado pela regra dos precedentes judiciais. É um sistema
que parte do princípio segundo o qual “à quem a terra pertence é proprietário também do céu e
da sua profundidade”. Daí a propriedade privada dos recursos naturais nos EUA, incluindo,
dos minerais do subsolo, salvo as especificidades de determinados Estados que não seguem
este princípio. Pois, como se sabe, os EUA é uma federação de vários Estados.

Neste sistema, o Estado Federal ou os Estados federados são também proprietários de


recursos naturais como acontece noutros sistemas ou regimes como veremos. Neste caso, a
propriedade de recursos naturais do Estado ou dos Estados federados compreende apenas os
recursos em terras de domínio público destes e na plataforma continental.

16.2 Sistema dominial ou romano-germânico

O sistema dominial ou romano germano é, hoje, o sistema universal, isto é, adoptado


pela maioria dos países, exceptuando-se apenas os Estados Unidos e alguns países que
adoptaram sistemas mistos.

No sistema dominial ou romano-germânico a propriedade dos recursos naturais é do


Estado. Tem origem no sistema feudal, em que a propriedade da terra e, consequentemente,

6 Coelho
dos recursos naturais era dos Senhores feudais, e, este regime, se transferiu depois para a coroa,
ou seja, para o rei, e depois para o Estado soberano com o fim dos regimes Monárquicos. É
este sistema que vigora em Angola, de harmonia com o artigo 16º da CRA.

16.3 Sistema islâmico

O Direito islâmico se baseia na Sharia, lei suprema que tem origem divina. Segundo os
princípios de Direito islâmico, os recursos do subsolo pertencem ao Estado guardião da
propriedade da comunidade que é inalienável. É um sistema que se assemelha ao sistema
dominial ou romano-germânico ao definir que a propriedade dos recursos naturais é do Estado
que é ipso facto o guardião da propriedade da comunidade. A diferença é que neste último, o
seu Direito tem como fundamento a Sharia, ao passo que no sistema dominial ou romano-
germânico o fundamento é Constituição.
Feito este estudo exaustivo sobre a evolução da legislação sobre os recursos naturais e
os regimes ou sistemas de propriedade dos recursos naturais, impõe-se, de seguida, fazer um
estudo pormenorizado sobre os recursos naturais existentes em Angola.

Capítulo II: Os recursos naturais existentes em Angola


Os recursos naturais são muito diversificados e a sua heterogeneidade e sustentabilidade
implicam regimes jurídicos diferenciados. Em Angola existem uma variedade enorme de
recursos naturais, mas para o nosso estudo mencionamos apenas 5 pela sua importância e valor
económico:
1. a Terra, regulada pela Lei de Terras, Lei nº 9/04, de 9 de Novembro;
2. o Petróleo, regulado pela Lei nº 10/04, de 12 de Novembro;
3. os Minerais, regulados pelo Código Mineiro, Lei nº 31/11, de 23 de Setembro;
4. os Recursos Biológicos Aquáticos, regulados pela Lei nº 6-A/04, de 8 de Outubro;
5. e os Recursos Florestais e Fauna Selvagem, regulados pela Lei de Bases de Florestas
e Fauna Selvagem, Lei nº 6/17, de 24 de Janeiro.
17. A Terra
As terras são o recurso natural onde se encontram a maioria dos restantes recursos, se
considerarmos que mesmo sob os oceanos encontramos o leito e o subsolo do mar. Fala-se em
“terra firme” para referir a superfície da massa terrestre. As terras submarinas têm designações
específicas consoante se trate de áreas sob jurisdição de estados (plataforma continental) ou
(plataforma internacional) área sob jurisdição internacional7. De harmonia com o artigo 15º da
CRA, a terra é propriedade originária do Estado.
As terras são recursos multifuncionais, de diversos usos simultâneos ou sucessivos no
mesmo espaço: servem de base sólida para outros recursos e para edifícios, vias de
comunicação e outras infraestruturas para a realização de actividades económicas como a
agricultura, a pecuária, a silvicultura, ou a indústria mineira, para reserva de recursos
biológicos, para recreação, incluindo em áreas de protecção em que o ambiente é preservado
para lazer, investigação e conservação para as gerações futuras.
As terras foram durante muito tempo o símbolo da riqueza natural de uma nação, cujas
fronteiras políticas se traduzem na delimitação de um território.
Em termos gerais, os solos podem degradar-se por erosão, acidez, salinidade, poluição
e construção de zonas urbanizadas. Uma das causas mais graves de degradação dos solos tem
sido as alterações na cobertura vegetal, quer pelo desmatamento para agricultura, pecuária,
urbanização ou para actividades mineiras, quer ainda pelas práticas utilizadas nesse
desmatamento. Assim, nas técnicas de maneio do solo há que evitar aquelas que provocam a
sua degradação, acidificação, erosão e salinização entre outros aspectos negativos.
O uso sustentável das terras exige, pois, que sejam tomadas medidas de protecção dos
solos para além das relativas à vegetação que os cobre, e que sejam realizadas actividades de
ordenamento do território que visam assegurar a utilização dos solos de acordo com as suas
características e potencialidades. Por exemplo, se uma dada área tem potencialidades
importantes para agricultura com solos férteis, não deve ser utilizada para construção de zonas
urbanas, embora a expansão de assentamentos humanos possa levar a conflitos entre estes usos
de solos.
De igual modo, as zonas de florestas com funções importantes, inclusive na
conservação da diversidade biológica e na estabilização do clima, não devem ser desmatadas
para a produção pecuária e agrícola, como tem acontecido muitas vezes.
Por fim, as áreas de grande beleza, que proporcionam prazer estético e espaços de lazer
ou então vinculadas a valores culturais, devem ser preservadas e não serem utilizadas, por
exemplo, para construção de edifícios.
18. Os hidrocarbonetos
19. Os minerais

7 Coelho
20. Os recursos Biológicos Aquáticos
21. Os recursos florestais e fauna

CAPITULO III

1. Direito Internacional dos Recursos Naturais

Quando se fala sobre o Direito Internacional dos Recursos Naturais refere-se ao


conjunto de normas e princípios jurídicos internacionais relativos aos recursos naturais
espalhados em diversos instrumentos aprovados pelas Nações Unidas e/ou pelas suas agências,
pelas Organizações de integração regionais ou entre dois ou mais Estados. Os referidos
instrumentos assumem as seguintes designações: Convenções, Tratados, Acordos, Declarações
ou Resoluções.
Existe, por isso, uma relação de interdependência entre os Estados e uma necessidade
imperiosa de integração dessas normas e princípios internacionais sobre os recursos naturais
nos ordenamentos jurídicos dos Estados à nível global, com maior destaque para as normas e
princípios sobre:
a) O Desenvolvimento Sustentável;
b) Os Direitos Humanos;
c) A Soberania Permanente sobre os Recursos Naturais;
d) A Conservação e Gestão dos Recursos Naturais e Ecossistemas bem como o
Sistema Terra.
São as referidas normas e princípios de Direito Internacional sobre os recursos naturais
que estabelecem ou definem os limites do direito de soberania dos Estados sobre os seus
recursos naturais. São normas e princípios que, como vimos supra, pela sua natureza, se
encontram dispersas em diversos instrumentos normativos. E, dada essa característica da sua
dispersão, constata-se um certo baixo grau de integração das mesmas na ordem jurídica dos
Estados à nível global, sobretudo no que concerne ao grande tema do Desenvolvimento
Sustentável que preocupa a Comunidade Internacional.
2. Desenvolvimento Sustentável

Princípios do Desenvolvimento Sustentável e da Soberania Permanente


sobre os Recursos Naturais

Na esteira de Antonieta Coelho, existe um leque enorme de Tratados Mundiais e


Regionais e outros instrumentos internacionais relativos à matérias ambientais. Uns
obrigatórios (hard law) e outros não obrigatórios (soft law). Dentre essas normas destacam-se
as Declarações de Estocolmo e do Rio de Janeiro que orientam e estabelecem objectivos a
atingir pela Comunidade Internacional.
Importa referir que apesar dessa classificação entre hard law e soft law, todos os
instrumentos internacionais traduzem deveres políticos e morais que se impõem aos Estados
constituindo-se em Direito Costumeiro Internacional. Assim, encontramos no Direito
Internacional dos Recursos Naturais os seguintes princípios:

Princípio do Desenvolvimento e o Direito ao Desenvolvimento

A Carta da ONU – Organização das Nações Unidas, definiu como um dos seus
objectivos o de promover o desenvolvimento a nível global. E disso decorrem, obviamente,
obrigações quer da própria ONU, assim como das suas agências (UNICEF, PAM, OMS etc.),
como também dos Estados membros para os cidadãos e os povos e as respectivas comunidades.
Quer isto dizer que o direito ao desenvolvimento decorre do imperativo de realização dos
direitos humanos e da inerente dignidade humana cuja efectivação nunca será possível sem o
desenvolvimento que assume, assim, um estatuto idêntico aos demais Direitos Humanos.
Vale lembrar que uma parte da doutrina e dos Estados envolvidos nas negociações sobre
o desenvolvimento sustentável considera que o direito ao desenvolvimento decorre do
imperativo de realização dos direitos humanos e da inerente dignidade humana, que nunca
serão alcançados sem o desenvolvimento como condição sine qua non. Ao passo que, uma
outra parte da doutrina e dos Estados membros da ONU é de opinião que o direito ao
desenvolvimento fundamenta-se nos deveres dos Estados, de cooperarem para manutenção da
paz mundial, do progresso, da prosperidade e no dever de solidariedade entre os Estados.
A um olhar atento pode-se facilmente concluir que as duas partes da doutrina e dos
Estados membros alegam a mesma coisa pois, quer os que defendem a realização dos direitos
humanos e a inerente dignidade da pessoa humana, que se efectiva através do alcance do
desenvolvimento; quer os que advogam que o direito ao desenvolvimento se fundamenta nos
deveres dos Estados, de cooperarem para manutenção da paz mundial, do progresso e da
prosperidade, defendem exactamente a mesma coisa na medida em que é o desenvolvimento
que gera o progresso e a prosperidade. Pelo que, quem defende uma coisa também defende a
outra.
Mas, para resolver esta controvérsia, a Declaração da ONU sobre o Direito ao
desenvolvimento, adoptada pela resolução 41/128, da Assembleia Geral das Nações Unidas,
de 4 de Dezembro de 1986, consagrou um novo direito humano, que é o chamado direito
colectivo dos povos ao desenvolvimento, conexo ao direito dos povos à autodeterminação.
Passando, desta forma, o princípio do desenvolvimento a ter, hoje, um conteúdo mais amplo
que não se restringe apenas ao desenvolvimento dos Estados mas alargando o seu âmbito ao
desenvolvimento dos povos e a sua autodeterminação
De realçar, antes de mais, que houve um longo percurso desde o Direito ao
Desenvolvimento de pessoas e povos até se chegar ao princípio do Desenvolvimento
Sustentável.
A ideia central sobre o Desenvolvimento Sustentável foi aprofundada e acolhida na
ordem jurídica internacional pela Declaração da Conferência da ONU de Estocolmo, de 1972,
sobre o Meio Ambiente Humano. Dentre os princípios definidos nesta Conferência de
Estocolmo destacam-se
- O primeiro princípio, segundo ao qual “O homem tem direito fundamental à liberdade,
à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequado ao meio ambiente de qualidade tal
que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de
proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras”
O segundo, que diz que “Os recursos naturais da terra incluindo o ar, a água, a flora e a
fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser
preservados em benefício das gerações presentes e futuras mediante uma cuidadosa
planificação ou ordenamento”.
Com efeito, verifica-se neste instrumento uma grande preocupação sobre a protceção
do ambiente e do uso racional dos recursos naturais visando a satisfação não só das gerações
presentas mas também futuras.
Pela sua importância, os assuntos aflorados na Declaração de Estocolmo foram
aprofundados no Relatório de Bruntland, intitulado “Nosso Futuro”, publicado em 1987;
depois confirmados na Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, colocando o homem no centro das preocupações com o Desenvolvimento
Sustentável e orientando, dentre os seus princípios, que “Os Estados, de acordo com a Carta
das Nações Unidas e com os princípios de Direito Internacional, têm o direito de explorarem
os seus próprios recursos de acordo com as suas políticas de ambiente e desenvolvimento
propiás, e a responsabilidade de assegurar as actividades exercidas dentro da sua jurisdição ou
controlo não prejudiquem o ambiente de outros Estados ou de áreas para além dos limites da
jurisdição nacional”.
E enfatiza, no seu terceiro princípio que “O direito ao desenvolvimento deverá ser
exercido por forma a atender equitativamente às necessidades, em termos de desenvolvimento
e de ambiente, das gerações actuais e futuras”.
Depois da Conferência do Rio, a Declaração de Estocolmo foi reconfirmada na
Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável intitulada “Das Nossas
Origens ao Futuro, realizada em 2002, que assumiu o compromisso de construir uma sociedade
global humanitária, equitativa e solidária, ciente da necessidade de dignidade humana para
todos.
Segundo o relatório Bruntland de 1987 cujo trabalho foi coordenado pela Primeira-
ministra da Noruega, Gro Harlen Bruntland, o desenvolvimento sustentável compreende não
apenas a prtecção do ambiente e a equidade entre as gerações tal como concebido em
Estocolmo, mas inclui também a realização de direitos humanos.
Na senda de Chowdhury, a relação entre direitos humanos e Desenvolvimento
Sustentável pode ser vista em duas perspectivas:
a) A do direito de todas as pessoas à um ambiente saudável que decorre dos direitos
humanos à vida e à saúde;
b) E a do dever dos Estados de conservarem o ambiente e os recursos naturais para
benefício das gerações actuais e futuras.
E partindo desta premissa de garantir o benefício dos recursos naturais para as actuais
e futuras gerações, despontam dois princípios essenciais, nomeadamente.
1. O princípio do uso sustentável e conservação dos recursos naturais – que obriga os
Estados a manter a diversidade biológica dos ecossistemas para garantir a equidade
intra e inter-rgeracional.
2. O principio da protecção do ambiente – que obriga os Estados a adoptarem padrões
de proteção ambiental objectivando a prevenção de danos ambientais,
proporcionando condições próprias para a saúde humana preservando a natureza.
Nos termos da Declaração de Nova deli, o do Desenvolvimento Sustentável envolve,
ainda, outros princípios universalmente aceites objectivando a satisfação das aspirações da
Comunidade Mundial dos quais destacamos os seguintes:
1. Princípio do uso sustentável dos recursos naturais e o dever dos Estados de o
assegurar.
2. Princípio da justiça social e a erradicação da pobreza.
3. Princípio da boa governação.
4. Princípio da integração e inter-relacionamento nos domínios dos direitos humanos
e dos objectivos económicos, sociais e ambientais.

3. Soberania Permanente sobre os Recursos Naturais

Após as independências na primeira e segunda metade do século passado, as antigas


colónias depararam-se com um dilema no que tange as suas soberanias sobre os recursos
naturais uma vez que, apesar de terem, formalmente, alcançado as independências, os seus
recursos naturais encontravam-se sob controlo de empresas estrangeiras que detinham o know
how e o capital para o investimento nestas áreas. Pelo que, os Estados produtores ou detentores
de recursos naturais tinham as suas soberanas limitadas, beneficiando-se de quase nada, numa
altura em que mais precisavam deles para alavancar o desenvolvimento dos seus países já sem
o domínio das potências coloniais.
Foi nessa altura que vigoravam as chamadas Concessões Tradicionais durante a
primeira fase do desenvolvimento da legislação sobre os recursos naturais definidas por Blinn,
cujas características favoreciam mais as empresas concessionárias. Nesta altura, o único
recurso utilizado para se inverter aquele quadro foi fazer apelo à ONU que jogou um papel
determinante neste sentido.
Com efeito, as duas primeiras Declarações da ONU sobre esta questão foi diziam
respeito à soberania permanente sobre os recursos naturais e a realização de direitos humanos
no sentido de direitos dos povos à autodeterminação, como já vimos, e de não serem privados
dos seus meios de subsistência.
Tal conquista não foi de uma noite para outra. Tal proeza só foi alcançada ao longo de
décadas de negociações entre os países produtores (países em via de desenvolvimento) e os
países desenvolvidos de que eram oriundas as empresas concessionárias, o que marcou a
segunda fase que passou a ser conhecida mesmo como a Fase de Confronto segundo Blinn,
finda a qual os Estados produtores passaram a ter soberania sobre os seus recursos naturais,
hoje incontestável no âmbito do Direito Internacional.
Para Chowdhury, o princípio da soberania permanente integra vários direitos para os
Estados produtores ou detentores de recursos naturais tais como:
1. O direito de legislar e a autoridade de tributar, definindo os regimes de acesso e uso
dos recursos naturais.
2. O direito de rescisão ou revisão de contratos internacionais relativos aos recursos
naturais.
3. O direito de nacionalizar ou expropriar por razoes de interesse público dos Estados
produtores mediante justa indemnização.
4. O direito à transferência de know how (tecnologia) em condições comerciais
aceitáveis e justas
O direito de soberania permanente sobre os recursos naturais oferece, necessariamente,
um conjunto de direitos mas impõe, também, determinados deveres aos Estados produtores:

Direitos e deveres dos Estados


Direitos

São direitos dos Estados soberanos para além dos já mencionados supra os seguintes:
a) Direito de dispor livremente dos recursos naturais;
b) Direito de prospectar e explorar livremente os recursos naturais;
c) Direito de usar os recursos naturais para o desenvolvimento nacional;
d) Direito de gerir os recursos naturais de acordo com a política ambiental nacional;
e) Direito a partilha equitativa dos recursos naturais transfronteiriços;
f) Direito de regular o investimento estrangeiro, que compreende um direito de admitir ou
recusar a entrada de investimento estrangeiro e de exercer autoridade sobre as actividades de
investidores estrangeiros bem como a regulação e a autoridade de saída de capitais para o
estrangeiro.

Deveres

E são deveres dos Estados produtores os seguintes:


a) Dever de exercer a soberania permanente para o desenvolvimento nacional e bem-estar do
povo;
b) Dever de cooperar para o desenvolvimento internacional;
c) Dever de respeitar os direitos e interesses dos povos indígenas;
d) Dever de conservação e uso sustentável dos recursos naturais;
e) Dever de partilha equitativa de recursos transfronteiriço;
f) Dever de respeito pelo Direito Internacional e de tratamento justo dos investidores
estrangeiros.

5. Os Bens Comuns Globais e o Património Comum da Humanidade

Bens Comuns Globais

Os bens comuns globais são os bens públicos internacionais. São aqueles bens que se
encontraram em certas partes da terra e em espaços circundantes que não são apropriáveis, e
aqueles bens suscetíveis de apropriação mas que se encontram fora da jurisdição dos Estados,
nomeadamente: a atmosfera, os oceanos, o clima, a camada de ozono, diversidade biológica e
o sistema hidrológico mundial.
Dentre os recursos que constituem o património comum da humanidade destaca-se
também a lua com um tratado próprio, o tratado da lua, de 1979, cujo regime é aplicável a
outros corpos celestiais dentro do sistema solar e aqueles corpos que atingem a terra por meios
naturais.
Segundo Antonieta Coelho, um dos maiores problemas que se levanta em relação aos
bens comuns globais é o da sua regulação, tendo conta o factor da interdependência de todos
os componentes do ecossistema Terra. Por exemplo, uma medida que um determinado Estado
adopta par ao uso ou protecção dos seus recursos pode ter efeitos nocivos contra os bens
comuns globais, como por exemplo aquelas medidas cujos resultados directos ou indirectos
poluem os oceanos, a camada de ozono etc.
Vários esforços têm sido feitos no plano do Direito Internacional mas, ainda assim, são
poucos por não haver grande capacidade da própria Comunidade Internacional para dar
resposta aos enormes problemas de gestão dos bens comuns globais, para alem de que em
certos casos muitos Estados, incluindo os Estados desenvolvidos, não aderem à determinadas
Convenções ou Tratados Internacionais de proteção desses bens. E quando o fazem, por vezes,
furtam dos sus deveres como o que acontece com o fenómeno da destruição progressiva da
camada de ozono com a emissão de gases com efeito estufa de estufa fundamentalmente pelos
países industrializados.
Neste sentido, podemos asseverar que os instrumentos jurídicos de protecção dos bens
comuns globais têm um grau de eficácia bastante ténue em relação aos instrumentos jurídicos
à disposição dos Estados na protecção dos seus recursos nacionais.

Património Comum da Humanidade

O conceito de património comum da humanidade foi criado tem a sua génese no seculo
XIX por um chileno e um francês

Na senda de Antonieta Coelho, a patrimonialização de alguns bens comuns globais


constitui um novo tipo de património, o chamado património comum da humanidade cujo
titular é a própria humanidade no seu todo. Quer isto dizer que ao se atribuir o estatuto de
património comum da humanidade a determinados bens comuns globais nasceu o princípio do
património comum da humanidade, bens estes que servem para a realização de interesses
comuns globais objectivando a equidade entre Estados no acesso e benefícios da exploração
desses bens, por um lado e por outro, garantir que esses bens contribuam para o
desenvolvimento mundial.

E quem gere os bens que constituem o património comum da humanidade? As


Organizações Internacionais em representação da humanidade.

Nesta senda, constituem o património comum da humanidade, de harmonia com o


Tratado da Lua, os seguintes:

1. Os bens públicos mundiais que, pela sua natureza e interdependência planetária,


devem ser geridos internacionalmente, não só para que estes possam contribuir de
facto para o desenvolvimento sustentável mundial, mas também para a sua
protecçao internacional, como por exemplo os oceanos e a camada de ozono;
2. Os bens que numa dada época histórica da humanidade não são susceptiveis de
apropriação, mas, com o progresso e o avanço da tecnologia, podem mais tarde
passarem a ser apropriáveis por Estados ou por particulares com capacidade para
tal, como é caso da Lua e os seus recursos naturais;
3. Os bens apropriáveis por Estados cujo estatuto internacional não é claro devido a
falta de interesse económico daqueles na sua apropriação, por enquanto como por
exemplo a Antártida.

Inclui-se ainda neste conjunto de bens que constituem o património comum da


humanidade,

- Os minerais que que se encontram nos leitos dos mares nas área fora das
jurisdições dos Estados;

- A orbita onde se instalam os satélites;

- A radiação solar;
Do acima exposto, depreende-se que o património comum da humanidade é um
subconjunto dos bens comuns globais. Apenas alguns deles, como os supracitados,
fazem parte dos chamados património comum da humanidade.

Zona Económica Exclusiva

Regime dos Recursos da Zona Económica Exclusiva

A ZEE – Zona Económica Exclusiva foi instituída pela Conferencia de Direito do


Mar como resultado do compromisso assumido entre os Estados desenvolvidos,
juntamente com os países interiores sem mar, e os países em vias de desenvolvimento
com costa marítima. Trata-se daquela zona que se situa entre o mar territorial e alto mar
territorial, isto é, a parte do mar pertencente ao território nacional.

Segundo Antonieta Coelho, “a ZEE é uma zona exclusiva porque a Conferencia de


Direito do Mar reconheceu os direitos de soberania dos Estados costeiros sobre os
recursos naturais existentes na coluna de água para além do mar territorial e até às 200
milhas marítimas”. Contudo, essa soberania é limitada quanto a navegação marítima de
navios de outros Estados nestas zonas. Mas, no que tange aos direitos de pesca, por
exemplo, os Estados costeiros exercem plena mente a sua soberania apesar de serem
obrigados a autorizar o acesso aos recursos biológicos da referida zona a outros Estados.

Diz o artigo 56º, 1, a), da Conferência de Direito do Mar que:

“Estado costeiro exerce direito soberano no que se refere a exploração e


aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos e não vivos, do leito,
do subsolo e das águas subjacentes, e, no que se refere a outras actividades de
exploração e aproveitamento da zona para fins económicos, tais como a produção de
energia a partir da água, das correntes e dos ventos”

Vale sublinhar que apesar da referida soberania dos Estados costeiros sobre a
ZEE e o seu poder de regulação do acesso e uso dos recursos naturais nela contidos,
eles não são proprietários da coluna de água nem do espaço aéreo subjacente por serem
bens comuns globais.
Plataforma Continental

Entende-se por plataforma continental, o leito do mar e o subsolo das regiões marinhas
adjacentes à costa, cuja profundidade não excede os 200 metros, respeitando igualmente o
limite das duzentas milhas referentes a ZEE.

Regime dos Recursos da Plataforma Continental

Os Estados costeiros exercem igualmente a sua soberania sobre os recursos naturais


existentes na plataforma continental, nomeadamente os minerais e outros recursos não vivos
do leito do mar e no seu subsolo.

Tais direitos são absolutos e o Estado costeiro não queira explorar os recursos existentes
na sua plataforma continental, diz o artigo 77, 2, da Convenção de Direito do Mar, nenhum
outro Estado o poderá fazer sem o consentimento expresso daquele.

Entretanto, tendo em conta o direito de navegação de navios de outros Estados como


vimos na ZEE, aqui, na plataforma continental, os direitos de exploração dos recursos naturais
nela existentes não pode prejudicar esse direito, ou seja, toda actividade de exploração de
recursos naturais pelos Estados costeiros na Plataforma continental deve respeitar os limites
respeitantes as áreas de navegação marítima.

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