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Curso de Direito
2023
Capítulo I: Parte Geral
1. Introdução
O Direito dos Recursos Naturais é uma disciplina de suma importância que integra o
plano curricular do Curso de Direito em várias Faculdades. No roteiro dessa disciplina começa-
se por compreender a importância dos recursos naturais na vida socioeconómica; estudar o
conceito de Direito dos Recursos Naturais; as suas características; as suas fontes e princípios
essenciais; bem como o quadro constitucional e as normas que regulam o seu acesso, uso e
comercialização.
O programa da disciplina inclui, ainda, alguns aspectos relevantes do Direito do
Ambiente, uma disciplina com a qual o Direito dos Recursos Naturais se relaciona e com
objectivos parcialmente idênticos como argumenta Carla Amado Gomes. E inclui também
aspectos não menos imperiosos do Direito do Mar como veremos no Capítulo relativo ao
Direito Internacional dos Recursos Naturais.
Uma das preocupações do Direito do Ambiente é pôr cobro à exploração até à exaustão
dos recursos naturais; a interferência nos processos básicos da terra, dos quais depende a vida,
no céu, na superfície verde do solo e no mar; a não contaminação do solo, da atmosfera e da
água; a manutenção das florestas equatoriais e tropicais e a preservação da biodiversidade1.
O Direito do Mar, tanto enquanto ramo do Direito Internacional como enquanto ramo
do Direito Interno, repousa sobre um acervo de tradições expressas em usos, em costumes e
em regulamentações de procedência europeia, na sua maioria multisseculares, que se mantêm
ainda, hoje, em vigor ou que nelas têm origem. Nele se estudam os conceitos de: Mar territorial,
Zona Económica Exclusiva, Plataforma Continental, dentre outros, e as variadíssimas
convenções afins.
E é na parte final, mais precisamente na parte sobre o chamado Direito Internacional
dos Recursos Naturais, onde se estudam os aspectos mencionados supra sobre o Direito do
Ambiente e o Direito do Mar enunciando os seus conceitos e princípios acolhidos na ordem
jurídica interna dos Estados.
De modo particular, os princípios quer do Direito do Ambiente, como do Direito do
Mar, estão espalhados em diversos instrumentos jurídicos internacionais de que Angola é parte.
1 Condenso, Fernando dos Reis (2018), Direito do Ambiente, 3ª Ediçao, Coimbra, Almedina
Assim, para uma melhor compreensão do Direito dos Recursos Naturais impõem-se, ab
initio, ter o conhecimento de três aspeitos fundamentais, nomeadamente 2:
- Os conceitos básicos das ciências da natureza acolhidos pelo Direito e as razões pelas
quais este os acolhe;
- Os fundamentos económicos desse acolhimento e das respectivas normas, uma vez
que o acesso e uso de recursos naturais tem por objectivo a satisfação de necessidades e a
realização de actividades económicas no domínio dos recursos naturais;
- E, por último, o conhecimento dos problemas de inovação (tecnologia) que o acesso
e uso de recursos naturais colocam ao Direito.
Na esteira de Antonieta Coelho, os recursos naturais que interessam ao Direito dos
Recursos Naturais são todas as coisas que fazem parte do ambiente natural, como resultado de
processos ecológicos naturais, cuja criação não há, em princípio, intervenção humana.
São componentes do ambiente natural: o ar, a água, o solo, a fauna, a flora, os minerais
e a energia fornecida pelo sol. O ambiente natural designa-se BIÓTICO se estiver composto de
seres vivos como a fauna e a flora. E designa-se ABIÓTICO se estiver composto de elementos
não vivos como os minerais, o ar, água etc.
A Terra é composta de quatro componentes principais:
a) A Biosfera,
b) a Litosfera,
c) a Hidrosfera
d) e a Atmosfera.
Este conjunto de elementos bióticos e abióticos se equilibra através do fluxo contínuo
de energia e de reciclagem da matéria. Os componentes vivos e não vivos estão em interacção
por serem parte integrante do ambiente natural e fornecidos por este. Por isso, os recursos
naturais são também designados bens ou recursos ambientais, diz a autora.
O facto de os recursos naturais não resultarem directamente de actividade humana,
coloca-se a questão das consequências jurídicas importantes na diferenciação dos seus regimes
em relação aos de outras coisas. Mais importante nessa diferenciação de regimes jurídicos é a
sua característica de componentes de ecossistemas e que desempenham determinadas funções
para a estrutura destes e para benefício dos seres humanos.
Vale lembrar, ainda na senda do estudo de Antonieta Coelho, que o ambiente natural
realiza múltiplas funções vitais, tais como:
2 Coelho, Antonieta
a) Fornecer recursos naturais necessários à satisfação de necessidades não só dos seres
humanos mas de todos os seres vivos. No caso das necessidades humanas, os recursos naturais
são consumidos directamente, como o ar, a água e muitas plantas e animais; ou constituem
matérias-primas ou fontes de energia que são utilizadas para produzir bens e serviços.
b) Assimilar resíduos de origem natural ou resultantes de actividades humanas em
ciclos em que o ambiente se regenera, gerando novos recursos.
c) Prestar directamente outros serviços como por exemplo:
• Serviços de apoio à vida, como a manutenção da composição da atmosfera e a
regulação do clima;
• Serviços para o consumo directo, como espaço para recreação e para satisfação
de necessidades estéticas ou de investigação, como as paisagens e a fauna
selvagem.
Dado que uma das principais acções que o homem exerce sobre os recursos naturais é
a sua extracção da Natureza, para que os recursos naturais possam continuar a desempenhar as
suas funções dentro dos ecossistemas, o seu uso tem de ser regulado, de modo que, não obstante
a sua utilização, se mantenha o equilíbrio desses ecossistemas.
Assim, quando o Direito regula o acesso aos recursos naturais e o seu uso tem de ter em
consideração a sua especificidade como componentes de conjuntos mais vastos e complexos,
e não como coisas isoladas sobre as quais recaem direitos.
Por essa razão, relativamente ao ambiente, muitos autores têm recorrido ao conceito de
universalidade para vincar a característica de que o ambiente não é apropriável e os recursos
que o compõem não podem ser apropriados e usados sem se ter em consideração que são partes
desse conjunto.
Quando se fala em recursos naturais, o conceito de recurso refere-se ao valor económico
dos bens naturais para satisfação de necessidades humanas.
Tratando-se a economia do estudo da afectação de recursos escassos à satisfação de
necessidades, os recursos naturais têm ainda, como argumenta Coelho, a especificidade de
serem recursos com limites físicos. É o caso, por exemplo, dos combustíveis fósseis, nos quais
se incluem o petróleo e o carvão. Esses recursos não aumentam num horizonte temporal,
embora se transformem. Por essa razão, o critério mais usado para classificar os diversos
recursos naturais é o da sua esgotabilidade.
2. Os ecossistemas
3 Coelho, Antonieta
4 idem
b) b) Pelo produtor primário principal. Neste caso, as fronteiras do ecossistema são
definidas pelos limites do tipo de coberto vegetal como, por exemplo, no caso das
florestas tropicais.
c) Pelas fronteiras geográficas. Podemos, por exemplo, encontrar ecossistemas
correspondentes aos dos estuários dos rios, à lagos, à penínsulas, às zonas costeiras e
de plataformas continentais.
A actividade humana tem um grande impacto sobre os ecossistemas, perturbando o
equilíbrio ecológico e, em consequência, prejudicando a realização das suas funções. Mas,
vale-lhes a sua resiliência que é a capacidade que eles têm de resistir às intempéries. No entanto,
essa característica da resiliência de um ecossistema não é constante.
A resiliência é uma qualidade dos ecossistemas que se refere à propensão de manter a
sua estrutura organizativa e funcional após uma perturbação significativa, quer natural, quer
por Accão do homem.
Quando o equilíbrio do ecossistema é perturbado, por exemplo, por alterações
climáticas, exploração não sustentável de recursos ou destruição de habitats, os organismos
vivos procuram adaptar-se, incluindo através de alterações da sua composição genética. Muitas
vezes não conseguem essa adaptação e pode ocorrer a extinção de espécies ou mesmo de todo
o ecossistema.
O equilíbrio ecológico tem particular relevância porque, para além de outras questões
relativas ao desenvolvimento sustentável que veremos adiante, e aos regimes de recursos
naturais, vem expressamente consagrado no artigo 39º da Constituição da República.
Assim, o Direito dos Recursos Naturais pode ser definido como “o conjunto de normas
e princípios jurídicos que regula a actividade de contratação, descoberta (pesquisa e
prospecção), produção ou exploração, armazenamento, transportação, distribuição, uso e
comercialização dos recursos naturais.
E, para ele próprio, Eduardo Mendes Simba, o direito dos Recursos Naturais é uma
disciplina jurídica que regula as condições de acesso e uso dos recursos naturais, visando a
afectação de poderes sobre estes aos diferentes sujeitos de direitos.
Esta evolução sui generis, diz a autora, nasce nos EUA, e, rapidamente, se expandiu
para outros países passando, por isso, a ter um carácter internacional, fazendo com que, dos
EUA, as empresas norte americanas levassem consigo também conceitos jurídicos para outros
países, incluindo aqueles cujos regimes ou sistemas de propriedade são completamente
diferentes, como os regimes romano-germânico (que vigora no nosso país) e o islâmico (que
vigora nos países islâmicos), o que terá causado algum choque no início como é óbvio, tal
como se verá adiante.
15. Outras questões que devem ser reguladas por lei ou por contrato
Segundo, ainda, Antonieta Coelho, existem outras questões de grande interesse que podem e
devem ser reguladas por lei tais como:
a) a propriedade dos recursos naturais extraídos e em que momento, ou momentos,
conforme os contratos, se opera a transmissão da referida propriedade;
b) a propriedade dos bens necessários às operações nas acividades quer de descoberta
como de exploração;
c) a definição de taxas de extracção, níveis e métodos de produção, bem como a protecção
do meio ambiente;
d) a fixação de preços e outras decisões sobre comercialização como reservas de
abastecimento do mercado nacional, regime de exportação, opções de compra de
produção;
e) as cláusulas financeiras, relativas ao que se chama de distribuição do rendimento do
projecto, incluindo o regime de retorno do Estado, nomeadamente o regime fiscal;
g) e as regras sobre tecnologia, onde se destaca a sua transferência do seu uso para quadros
nacionais, emprego e formação de trabalhadores, preferência de empresas nacionais no
fornecimento de bens ou serviços etc.
De salientar que existem, segundo a autora, outros aspectos de suma importância que
vale destacar. Como, por exemplo, a regulamentação que consiste na intervenção do Estado
através de actos normativos e administrativos; a regulamentação da fixação de preços e da
comercialização; a regulamentação da exportação e importação de recursos e equipamentos
necessários às actividades e a regulamentação do investimento estrangeiro nesse domínio, sem
olvidar as formas de participação directa dos Estados produtores nos diferentes projectos
através de empresas estatais e as regras ambientais para a protecção dos recursos naturais.
O sistema norte-americano ou da common law, como o seu nome indica, tem a sua
génese na common law e é caracterizado pela regra dos precedentes judiciais. É um sistema
que parte do princípio segundo o qual “à quem a terra pertence é proprietário também do céu e
da sua profundidade”. Daí a propriedade privada dos recursos naturais nos EUA, incluindo,
dos minerais do subsolo, salvo as especificidades de determinados Estados que não seguem
este princípio. Pois, como se sabe, os EUA é uma federação de vários Estados.
6 Coelho
dos recursos naturais era dos Senhores feudais, e, este regime, se transferiu depois para a coroa,
ou seja, para o rei, e depois para o Estado soberano com o fim dos regimes Monárquicos. É
este sistema que vigora em Angola, de harmonia com o artigo 16º da CRA.
O Direito islâmico se baseia na Sharia, lei suprema que tem origem divina. Segundo os
princípios de Direito islâmico, os recursos do subsolo pertencem ao Estado guardião da
propriedade da comunidade que é inalienável. É um sistema que se assemelha ao sistema
dominial ou romano-germânico ao definir que a propriedade dos recursos naturais é do Estado
que é ipso facto o guardião da propriedade da comunidade. A diferença é que neste último, o
seu Direito tem como fundamento a Sharia, ao passo que no sistema dominial ou romano-
germânico o fundamento é Constituição.
Feito este estudo exaustivo sobre a evolução da legislação sobre os recursos naturais e
os regimes ou sistemas de propriedade dos recursos naturais, impõe-se, de seguida, fazer um
estudo pormenorizado sobre os recursos naturais existentes em Angola.
7 Coelho
20. Os recursos Biológicos Aquáticos
21. Os recursos florestais e fauna
CAPITULO III
A Carta da ONU – Organização das Nações Unidas, definiu como um dos seus
objectivos o de promover o desenvolvimento a nível global. E disso decorrem, obviamente,
obrigações quer da própria ONU, assim como das suas agências (UNICEF, PAM, OMS etc.),
como também dos Estados membros para os cidadãos e os povos e as respectivas comunidades.
Quer isto dizer que o direito ao desenvolvimento decorre do imperativo de realização dos
direitos humanos e da inerente dignidade humana cuja efectivação nunca será possível sem o
desenvolvimento que assume, assim, um estatuto idêntico aos demais Direitos Humanos.
Vale lembrar que uma parte da doutrina e dos Estados envolvidos nas negociações sobre
o desenvolvimento sustentável considera que o direito ao desenvolvimento decorre do
imperativo de realização dos direitos humanos e da inerente dignidade humana, que nunca
serão alcançados sem o desenvolvimento como condição sine qua non. Ao passo que, uma
outra parte da doutrina e dos Estados membros da ONU é de opinião que o direito ao
desenvolvimento fundamenta-se nos deveres dos Estados, de cooperarem para manutenção da
paz mundial, do progresso, da prosperidade e no dever de solidariedade entre os Estados.
A um olhar atento pode-se facilmente concluir que as duas partes da doutrina e dos
Estados membros alegam a mesma coisa pois, quer os que defendem a realização dos direitos
humanos e a inerente dignidade da pessoa humana, que se efectiva através do alcance do
desenvolvimento; quer os que advogam que o direito ao desenvolvimento se fundamenta nos
deveres dos Estados, de cooperarem para manutenção da paz mundial, do progresso e da
prosperidade, defendem exactamente a mesma coisa na medida em que é o desenvolvimento
que gera o progresso e a prosperidade. Pelo que, quem defende uma coisa também defende a
outra.
Mas, para resolver esta controvérsia, a Declaração da ONU sobre o Direito ao
desenvolvimento, adoptada pela resolução 41/128, da Assembleia Geral das Nações Unidas,
de 4 de Dezembro de 1986, consagrou um novo direito humano, que é o chamado direito
colectivo dos povos ao desenvolvimento, conexo ao direito dos povos à autodeterminação.
Passando, desta forma, o princípio do desenvolvimento a ter, hoje, um conteúdo mais amplo
que não se restringe apenas ao desenvolvimento dos Estados mas alargando o seu âmbito ao
desenvolvimento dos povos e a sua autodeterminação
De realçar, antes de mais, que houve um longo percurso desde o Direito ao
Desenvolvimento de pessoas e povos até se chegar ao princípio do Desenvolvimento
Sustentável.
A ideia central sobre o Desenvolvimento Sustentável foi aprofundada e acolhida na
ordem jurídica internacional pela Declaração da Conferência da ONU de Estocolmo, de 1972,
sobre o Meio Ambiente Humano. Dentre os princípios definidos nesta Conferência de
Estocolmo destacam-se
- O primeiro princípio, segundo ao qual “O homem tem direito fundamental à liberdade,
à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequado ao meio ambiente de qualidade tal
que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de
proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras”
O segundo, que diz que “Os recursos naturais da terra incluindo o ar, a água, a flora e a
fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser
preservados em benefício das gerações presentes e futuras mediante uma cuidadosa
planificação ou ordenamento”.
Com efeito, verifica-se neste instrumento uma grande preocupação sobre a protceção
do ambiente e do uso racional dos recursos naturais visando a satisfação não só das gerações
presentas mas também futuras.
Pela sua importância, os assuntos aflorados na Declaração de Estocolmo foram
aprofundados no Relatório de Bruntland, intitulado “Nosso Futuro”, publicado em 1987;
depois confirmados na Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, colocando o homem no centro das preocupações com o Desenvolvimento
Sustentável e orientando, dentre os seus princípios, que “Os Estados, de acordo com a Carta
das Nações Unidas e com os princípios de Direito Internacional, têm o direito de explorarem
os seus próprios recursos de acordo com as suas políticas de ambiente e desenvolvimento
propiás, e a responsabilidade de assegurar as actividades exercidas dentro da sua jurisdição ou
controlo não prejudiquem o ambiente de outros Estados ou de áreas para além dos limites da
jurisdição nacional”.
E enfatiza, no seu terceiro princípio que “O direito ao desenvolvimento deverá ser
exercido por forma a atender equitativamente às necessidades, em termos de desenvolvimento
e de ambiente, das gerações actuais e futuras”.
Depois da Conferência do Rio, a Declaração de Estocolmo foi reconfirmada na
Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável intitulada “Das Nossas
Origens ao Futuro, realizada em 2002, que assumiu o compromisso de construir uma sociedade
global humanitária, equitativa e solidária, ciente da necessidade de dignidade humana para
todos.
Segundo o relatório Bruntland de 1987 cujo trabalho foi coordenado pela Primeira-
ministra da Noruega, Gro Harlen Bruntland, o desenvolvimento sustentável compreende não
apenas a prtecção do ambiente e a equidade entre as gerações tal como concebido em
Estocolmo, mas inclui também a realização de direitos humanos.
Na senda de Chowdhury, a relação entre direitos humanos e Desenvolvimento
Sustentável pode ser vista em duas perspectivas:
a) A do direito de todas as pessoas à um ambiente saudável que decorre dos direitos
humanos à vida e à saúde;
b) E a do dever dos Estados de conservarem o ambiente e os recursos naturais para
benefício das gerações actuais e futuras.
E partindo desta premissa de garantir o benefício dos recursos naturais para as actuais
e futuras gerações, despontam dois princípios essenciais, nomeadamente.
1. O princípio do uso sustentável e conservação dos recursos naturais – que obriga os
Estados a manter a diversidade biológica dos ecossistemas para garantir a equidade
intra e inter-rgeracional.
2. O principio da protecção do ambiente – que obriga os Estados a adoptarem padrões
de proteção ambiental objectivando a prevenção de danos ambientais,
proporcionando condições próprias para a saúde humana preservando a natureza.
Nos termos da Declaração de Nova deli, o do Desenvolvimento Sustentável envolve,
ainda, outros princípios universalmente aceites objectivando a satisfação das aspirações da
Comunidade Mundial dos quais destacamos os seguintes:
1. Princípio do uso sustentável dos recursos naturais e o dever dos Estados de o
assegurar.
2. Princípio da justiça social e a erradicação da pobreza.
3. Princípio da boa governação.
4. Princípio da integração e inter-relacionamento nos domínios dos direitos humanos
e dos objectivos económicos, sociais e ambientais.
São direitos dos Estados soberanos para além dos já mencionados supra os seguintes:
a) Direito de dispor livremente dos recursos naturais;
b) Direito de prospectar e explorar livremente os recursos naturais;
c) Direito de usar os recursos naturais para o desenvolvimento nacional;
d) Direito de gerir os recursos naturais de acordo com a política ambiental nacional;
e) Direito a partilha equitativa dos recursos naturais transfronteiriços;
f) Direito de regular o investimento estrangeiro, que compreende um direito de admitir ou
recusar a entrada de investimento estrangeiro e de exercer autoridade sobre as actividades de
investidores estrangeiros bem como a regulação e a autoridade de saída de capitais para o
estrangeiro.
Deveres
Os bens comuns globais são os bens públicos internacionais. São aqueles bens que se
encontraram em certas partes da terra e em espaços circundantes que não são apropriáveis, e
aqueles bens suscetíveis de apropriação mas que se encontram fora da jurisdição dos Estados,
nomeadamente: a atmosfera, os oceanos, o clima, a camada de ozono, diversidade biológica e
o sistema hidrológico mundial.
Dentre os recursos que constituem o património comum da humanidade destaca-se
também a lua com um tratado próprio, o tratado da lua, de 1979, cujo regime é aplicável a
outros corpos celestiais dentro do sistema solar e aqueles corpos que atingem a terra por meios
naturais.
Segundo Antonieta Coelho, um dos maiores problemas que se levanta em relação aos
bens comuns globais é o da sua regulação, tendo conta o factor da interdependência de todos
os componentes do ecossistema Terra. Por exemplo, uma medida que um determinado Estado
adopta par ao uso ou protecção dos seus recursos pode ter efeitos nocivos contra os bens
comuns globais, como por exemplo aquelas medidas cujos resultados directos ou indirectos
poluem os oceanos, a camada de ozono etc.
Vários esforços têm sido feitos no plano do Direito Internacional mas, ainda assim, são
poucos por não haver grande capacidade da própria Comunidade Internacional para dar
resposta aos enormes problemas de gestão dos bens comuns globais, para alem de que em
certos casos muitos Estados, incluindo os Estados desenvolvidos, não aderem à determinadas
Convenções ou Tratados Internacionais de proteção desses bens. E quando o fazem, por vezes,
furtam dos sus deveres como o que acontece com o fenómeno da destruição progressiva da
camada de ozono com a emissão de gases com efeito estufa de estufa fundamentalmente pelos
países industrializados.
Neste sentido, podemos asseverar que os instrumentos jurídicos de protecção dos bens
comuns globais têm um grau de eficácia bastante ténue em relação aos instrumentos jurídicos
à disposição dos Estados na protecção dos seus recursos nacionais.
O conceito de património comum da humanidade foi criado tem a sua génese no seculo
XIX por um chileno e um francês
- Os minerais que que se encontram nos leitos dos mares nas área fora das
jurisdições dos Estados;
- A radiação solar;
Do acima exposto, depreende-se que o património comum da humanidade é um
subconjunto dos bens comuns globais. Apenas alguns deles, como os supracitados,
fazem parte dos chamados património comum da humanidade.
Vale sublinhar que apesar da referida soberania dos Estados costeiros sobre a
ZEE e o seu poder de regulação do acesso e uso dos recursos naturais nela contidos,
eles não são proprietários da coluna de água nem do espaço aéreo subjacente por serem
bens comuns globais.
Plataforma Continental
Entende-se por plataforma continental, o leito do mar e o subsolo das regiões marinhas
adjacentes à costa, cuja profundidade não excede os 200 metros, respeitando igualmente o
limite das duzentas milhas referentes a ZEE.
Tais direitos são absolutos e o Estado costeiro não queira explorar os recursos existentes
na sua plataforma continental, diz o artigo 77, 2, da Convenção de Direito do Mar, nenhum
outro Estado o poderá fazer sem o consentimento expresso daquele.