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PAISAGISMO

O meio ambiente
Vanessa Guerini Scopel

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir meio ambiente.


>> Identificar as formas de interação entre meio ambiente e paisagismo.
>> Buscar soluções ecológicas para o desenvolvimento sustentável.

Introdução
Ao abordar a questão do meio ambiente, é comum associar esse termo exclusi-
vamente a ambiente natural, árvores, rios, montanhas e paisagens. No entanto,
o meio ambiente não contempla apenas os elementos naturais da terra, mas
também os elementos artificiais, construídos pelo homem ao longo do tempo.
Portanto, o meio ambiente é o local onde a vida humana acontece e as atividades
podem ser executadas. Tendo em vista que áreas naturais foram e continuam
sendo substituídas por prédios e edificações, o paisagismo é uma atividade capaz
de reintroduzir a natureza para os meios artificiais e garantir a sua preservação
em áreas ainda intocadas.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de meio ambiente, o que ele con-
templa e as são suas divisões. Além disso, você vai ver a relação entre o meio
ambiente e o paisagismo e como essa atividade pode contribuir para desenvolver
e aplicar soluções ecologicamente sustentáveis para esses espaços.

Conceito
Ao pensar na arquitetura, as primeiras referências que surgem são as edifi-
cações, os materiais, as técnicas construtivas e os acabamentos. No entanto,
ao refletirmos mais a fundo sobre a arquitetura, é importante compreender
2 O meio ambiente

que ela só existe porque está inserida e faz parte do meio ambiente. Da mesma
forma, em relação ao paisagismo, imagina-se um projeto de áreas verdes e
a melhora de espaços abertos existentes, mas há pouco aprofundamento
acerca do ambiente natural.
A vida só é possível em virtude do meio ambiente, que é capaz de ofere-
cer condições para o desenvolvimento humano. Todas as atividades só são
possíveis de serem realizadas porque há um espaço que integra a natureza
original e construída e que, após anos de evolução da humanidade, foi sendo
moldado e adaptado para as necessidades e tarefas do ser humano.
A Lei Federal nº 6.938/81, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981), que
refere-se à Política Nacional do Meio Ambiente, define o meio ambiente
como “[...] um conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem
física, química e biológica, que permite, obriga e rege a vida em todas as suas
formas”. Silva (2000, p. 20) complementa que:

[...] o meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, arti-


ficiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas
as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente,
compreensiva dos recursos naturais e culturais.

A Lei Federal nº 6.938/81, de 31 de agosto de 1981, estabelece a Política


Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação. Essa lei tem como objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no Brasil, condições
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana, atendidos alguns princípios, como: ações
de manutenção de equilíbrio ecológico; racionalização do uso solo, da água e do
ar; planejamento e também fiscalização dos recursos ambientais; proteção dos
ecossistemas; controle de zoneamento das atividades poluidoras; recuperação
de áreas degradadas; proteção de áreas ameaçadas; incentivo ao estudo de
tecnologias e também a educação ambiental, dentre outros (BRASIL, 1981).

De acordo com Fiorillo (2008), a Constituição Federal de 1988 definiu al-


gumas classificações acerca do conceito de meio ambiente, como o meio
ambiente natural e o meio ambiente artificial. Segundo o Artigo 225 da Cons-
tituição Federal de 1988, o meio ambiente natural (Figura 1) pode ser definido
como aquele que envolve todos os elementos naturais, como o solo, o subsolo
e as águas, incluindo rios, lagos, mares, a fauna e a flora.
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Figura 1. Meio ambiente natural.


Fonte: Rottonara/Pixabay.com.

Já o meio ambiente artificial (Figura 2), conforme explica Fiorillo (2008),


pode ser compreendido como todos os elementos que foram construídos pelo
homem para facilitar a vida humana, como, por exemplo, as habitações, os
equipamentos públicos, as vias, a infraestrutura e o conjunto urbano como
um todo.

Figura 2. Meio ambiente artificial.


Fonte: Free-Photos/Pixabay.com.
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Ao considerar os conceitos de meio ambiente natural e meio ambiente


artificial, pode-se compreender que, no início da história da humanidade,
ainda na pré-história, havia apenas o meio ambiente natural, com toda a fauna
e flora em seu estado original. O homem que viveu durante esse período mo-
dificou muito pouco o ambiente natural (Figura 3), utilizando apenas madeiras
e pedras para criar utensílios e ferramentas muito pontuais que facilitassem
a caça e a pesca, com um intuito exclusivo de sobrevivência.

Figura 3. Modificação do ambiente natural na pré-história.


Fonte: Arobba e De Pascale, (2018, p. 64).

Conforme a evolução do homem acontecia, ele modificava cada vez mais


o meio ambiente natural. Segundo Pereira (2010), as primeiras aglomerações
urbanas já existiam há 12 mil anos a.C. e, assim como o homem da pré-história,
também se utiliza a natureza para materializar suas unidades habitacionais,
que eram muito simples. Conforme as civilizações desenvolviam atividades,
como a pecuária e a agricultura, passou-se a realizar trocas dessas produções,
como uma maneira de estabelecer relações. Diante dessa realidade, esses
povos foram se desenvolvendo, melhorando seus estilos de vida e criando
novas necessidades.
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Assim, os centros urbanos começaram a surgir em partes do território,


com vias de circulação que, em um primeiro momento, serviam tanto para
pessoas como animais; áreas públicas de socialização; e edificações religiosas
e voltadas ao poder. Nesse contexto, de acordo com Pereira (2010), as áreas
que anteriormente eram naturais passaram a se modificar de forma mais
controlada e sutil. Pode-se dizer que, até o século XVIII, os ecossistemas
ainda estavam equilibrados, pois haviam sofrido alterações graduais ao
longo do tempo.
Com a Revolução Industrial, ao final do século XVIII, ocorreu a ruptura mais
significativa entre a relação até então equilibrada entre o meio ambiente
natural e meio ambiente artificial. Nesse período ocorreu o êxodo rural,
em que as pessoas do campo foram em busca de melhores condições de vida
na cidade. As cidades não estavam preparadas para esse aumento significante
de população e, em virtude disso, se tornaram áreas muito insalubres com
pouca ou nenhuma infraestrutura para os novos moradores.
Pode-se dizer que esse momento foi responsável por diversos prejuízos
em relação à qualidade de vida das cidades. Ao analisarem essa situação,
estudiosos passaram a criar propostas para que fosse possível priorizar um
equilíbrio entre a porção construída e a natural, a fim de que os centros urba-
nos pudessem oferecer iluminação, ventilação e arborização para as pessoas.
Ao analisar o contexto atual do meio ambiente, percebe-se que as áreas
naturais estão presentes no território de duas maneiras principais. A primeira
refere-se às áreas naturais protegidas por leis, as quais normalmente apre-
sentam uma grande extensão, como os parques nacionais, por exemplo. Além
disso, também existem áreas mais pontuais e menores e de caráter natural
nos centros urbanos. O meio ambiente artificial, de acordo com a evolução
das cidades, foi tomando o espaço do meio ambiente natural, inclusive,
desconsiderando-o em um primeiro momento. Com o passar dos anos, viu-se
a necessidade de ter um cuidado maior com os elementos naturais, prezando
pela preservação e pelo respeito, a fim de que também fosse possível reequi-
librar, de alguma forma, o meio ambiente artificial e o meio ambiente natural.
Atualmente, a inserção de elementos artificiais em ambientes naturais é
cada vez mais pautada por normas e leis que visam a diminuir a degradação
da natureza. Além disso, é importante ressaltar que é cada vez mais evidente
a importância de áreas naturais nos espaços construídos, seja para preservar
a fauna e flora como para melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos,
tornando-se áreas de refúgio.
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Formas de interação entre o meio ambiente


e o paisagismo
É evidente a necessidade de proteger o ambiente natural e integrar elemen-
tos da natureza nos centros urbanos para que as cidades se tornem lugares
melhores para viver. Nesse contexto, o paisagismo tem papel fundamental
em todo esse processo de melhoramento.
Em áreas naturais, como jardins botânicos e parques nacionais, por exem-
plo, o paisagismo é utilizado como uma atividade de manutenção, visando à
preservação da flora e ao seu contínuo desenvolvimento. Acerca da relação
com o ambiente artificial, o paisagismo é uma atividade capaz de inserir
elementos naturais em áreas construídas, melhorando a qualidade de por-
ções urbanas por meio da inserção das espécies mais adequadas para cada
contexto e necessidade.
As cidades (ou seja, o meio ambiente artificial) são um grande modificador
do clima, principalmente devido ao fato de as vegetações serem substituídas
por porções pavimentadas. Conforme Gonçalves et al. (2012), essa alteração
climática inclui a modificação tanto do regime de chuvas como da temperatura,
influenciando fortemente na sensação de conforto.
A atividade do paisagismo sofreu alterações ao longo do tempo, de acordo
com o desenvolvimento das civilizações e suas cidades. A Revolução Industrial
foi um período em que os centros urbanos cresceram muito rápido, gerando
grandes problemas de salubridade para a população. Assim, deu-se início a
um período em que existia a ideia de utilizar as vegetações como formas de
melhorar a estética das cidades. No entanto, à medida que as áreas verdes
passaram a ser valorizadas pela população, percebeu-se a relevância da
criação de parques e praças a fim de que todos pudessem utilizá-los como
locais para lazer, descanso e socialização. Também era importante que esses
espaços fossem capazes de colaborar para a melhora da qualidade ambiental
das cidades, tendo em vista que foi comprovado que as vegetações poderiam
contribuir para as condições de conforto térmico.
As vegetações compõem o elemento que colabora mais fortemente para
essa sensação de conforto térmico, pois, segundo Müller (1998), elas contri-
buem para obtenção de um ambiente agradável e têm influência decisiva na
qualidade de vida nas cidades, ou seja, na saúde da população. As espécies
vegetativas são capazes de filtrar a poluição das cidades, melhorando a
qualidade do ar e, consequentemente, o conforto ambiental. Nesse sentido,
o paisagismo tem a capacidade de melhorar as condições ambientais do meio
ambiente artificial, gerando conforto. Bartholomei (2003) define conforto
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ambiental como a sensação de bem-estar que está relacionada a fatores


ambientais como temperatura ambiente, umidade relativa, velocidade do ar,
níveis de iluminação e níveis de ruído, por exemplo.

O equilíbrio ecológico das grandes cidades, é cada vez mais dependente do


paisagismo. As áreas verdes urbanas são um ajuste para o equilíbrio ecológico.
O paisagismo favorece o meio ambiente e é necessário aplicá-lo corretamente e com
muita seriedade, não se limitando a projetos meramente decorativos, promovendo
o equilíbrio do ecossistema (GENGO; HENKES, 2012/2013, p. 57).

Por meio de um paisagismo adequado, é possível selecionar as árvo-


res mais apropriadas, com copas que gerem sombreamento e amenizem as
temperaturas em ilhas de calor nos centros urbanos. O paisagismo viário
(Figura 4), além de contribuir para um visual mais interessante, pode criar
corredores ecológicos. Calçadas ajardinadas e com sombreamento e árvores
frutíferas tornam esses locais agradáveis para descanso, por exemplo.

Figura 4. Paisagismo viário.


Fonte: Um oásis... (2014, documento on-line).

Além disso, outro fator importante em relação à vegetação é a arborização


das vias públicas, que serve como um filtro para “[...] atenuar ruídos, retenção
de pó, reoxigenação do ar, além de oferecer sombra e a sensação de frescor”
(LIMA e AMORIM, 2006, p. 71). Abreu (2008) acrescenta que a vegetação exerce
o papel de controlar a incidência de radiação solar e ganho de calor, a umi-
dificação e a depuração do ar, evitando efeitos maléficos para o microclima
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urbano, equilibrando-o e mantendo a qualidade do ambiente construído e o


conforto térmico dos espaços externos.
Em parques, praças e jardins urbanos, o paisagismo pode valorizar ainda
mais as espécies naturais, também protegendo-as, além de complementar
essas áreas com flores, temperos, arvores frutíferas e chás, por exemplo,
criando composições interessantes que conseguem tornar o local ainda
mais atrativo e agradável. De acordo com Robba e Macedo (2003 apud CRUZ,
2004), as áreas verdes, especificamente as praças (Figura 5), sempre foram
utilizadas como um espaço de convivência e lazer dos habitantes urbanos. Para
Gangloff (1996), esses locais valorizam o ambiente e a estética e promovem
um excelente meio para as atividades da comunidade, criando importantes
espaços e oportunidades de recreação e educação.

Figura 5. Praça.
Fonte: Praça... (2020, documento on-line).

Hortas urbanas (Figura 6) também podem ser configuradas e pensadas


por meio de um paisagismo que combine espécies que possam se ajudar no
desenvolvimento, criando áreas flexíveis com uma gama de frutas, legumes,
vegetais, chás e temperos que consigam se desenvolver ao longo das estações.
Além disso, as hortas urbanas também podem modificar as suas configurações
conforme a necessidade de solo, água e sol, tornando-se mais uma opção de
atratividade na cidade.
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Figura 6. Horta urbana.


Fonte: José (2017, documento on-line).

Assim, o paisagismo é capaz tanto de preservar o que já existe de natural


no meio ambiente, como pode inserir novos elementos que, mesmo não sendo
originais, conseguem trazer grandes benefícios para as áreas. Afinal, a falta
de vegetações pode resultar em situações negativas para o ambiente urbano,
como, por exemplo, “[...] alterações do clima local, enchentes, deslizamentos
e falta de áreas de lazer para a população” (AMORIM, 2001, p. 38).

Soluções ecológicas para o desenvolvimento


sustentável
Tendo em vista a importância da preservação da vegetação, tanto nos meios
naturais como nos artificiais, e a relevância de criar espaços arborizados e
com qualidade natural nos centros urbanos, pode-se afirmar que a prática
do paisagismo é uma grande aliada para atuar nessas questões. Gengo e
Henkes (2012/2013, p. 57) explicam que a “[...] interferência na paisagem tem
o objetivo de promover o equilíbrio estético, ambiental e social, a fim de
evitar poluição visual na paisagem e servir de instrumento para melhorias
na qualidade de vida”.
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No entanto, ainda que seja evidente a participação no paisagismo para a


melhora ambiental, ele deve ser pensado de forma sustentável, por meio de
soluções ecologicamente estratégicas. Lopes ([2016]) afirma que o paisagismo
sustentável é aquele que consegue se adaptar ao contexto em que ele será
aplicado, e tem como principal objetivo a busca por um equilíbrio entre a
área e as espécies naturais, integrando a ideia ao entorno, à arquitetura,
à população e aos demais elementos naturais ou artificiais próximos ou no
espaço. Segundo o autor, esse tipo de paisagismo busca favorecer o uso de
espécies nativas e que tenham relevância ambiental para o projeto que está
sendo proposto.
Projetos paisagísticos que levem em conta o desenvolvimento sustentável
vão além e não só geram cenários belos e agradáveis como prezam por uma
rotina funcional e pelo total respeito à natureza e aos habitantes. Assim,
paisagismo sustentável e qualidade de vida andam juntos e, para isso, exigem
comportamentos capazes de eliminar o uso de substâncias tóxicas, como
fertilizantes e praguicidas, além de utilizarem técnicas de sustentabilidade
que resultem em um paisagismo eficiente (LOPES, [2016]).
No paisagismo sustentável, que visa às soluções ecológicas, também deve-
-se preocupar com os aspectos sociais, considerando as áreas de intervenção
como locais para promover a educação ambiental, o estudo e as pesquisas
das espécies. Ainda acerca dos aspectos culturais, é importante ressaltar que
a ideia de preservação do patrimônio deve sempre ser enfatizada a fim de
que os aspectos históricos relevantes de cada área que sofrerá intervenção
possam estar articulados e serem valorizados por meio de uma relação de
harmonia com as espécies vegetativas.
Já acerca dos aspectos econômicos, o paisagismo sustentável também pode
realizar contribuições eficientes por meio de, por exemplo, um planejamento
baseado no baixo custo e na reutilização de materiais, considerando o seu
ciclo de vida para optar por elementos que não necessitem de manutenção
frequente. Além disso, o mais importante é realizar o projeto considerando
as condições climáticas da região, aproveitando as condições hídricas, de
ventilação e de permeabilidade, por exemplo.
Lopes ([2016]) destaca que podem ser propostas soluções ecológicas nas
cidades por meio do paisagismo sustentável com algumas alternativas, como:
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„„ reaproveitamento da água da chuva, que pode ser utilizada tanto para


irrigar jardins como hortas urbanas;
„„ utilização de espécies nativas de cada contexto, que se adequem ao
solo, à chuva e à temperatura;
„„ ideias de reciclagem de materiais para que eles possam ser utilizados
como delimitadores de caminhos e jardins, caixas para plantio, entre
outras opções;
„„ elaboração de meios de implantação e de manutenção de baixo custo
e com baixo impacto ambiental, tendo como objetivo a conservação
do solo original; e
„„ utilização de energias renováveis que sejam eficientes e tenham baixo
consumo.

Por meio dessas ações é possível propor áreas vegetadas de grande qua-
lidade para as cidades, minimizando os custos de implantação e manutenção,
contribuindo para a estética do espaço e para o conforto ambiental dos
usuários. Gengo e Henkes (2012/2013) também sugerem:

[...] a composição com jardins filtrantes que embelezam a paisagem e tratam o


esgoto; paisagismo produtivo, que estimula o plantio de hortas para a alimentação
orgânica; educação ambiental; arborização com vegetação nativa e vegetação
frutífera nas calçadas, praças e canteiros; além da profissionalização relacionada a
manutenção das áreas através de programas de capacitação profissional (GENGO;
HENKES, 2012/2013, p. 58).

A calçada verde e o telhado verde são alguns exemplos de soluções


ecológicas e sustentáveis que podem colaborar para melhorar o meio
ambiente artificial, introduzindo elementos naturais na área.
As calçadas verdes (Figura 7) permitem a permeabilidade da água da chuva,
mesclando áreas pavimentadas com porções de grama. Essa alternativa consegue
drenar e absorver os volumes de água, atenuando os riscos de alagamentos nas
cidades e alimentando os lençóis freáticos. Gengo e Henkes (2012/2013, p. 66)
explicam que a calçada verde “[...] auxilia no sequestro de carbono, contribuindo
na diminuição da temperatura local e permitindo que as raízes das árvores se
desenvolvam com mais espaço, tanto na busca da água como de nutrientes,
assim também conferem uma nova estética ao local”.
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Figura 7. Calçada verde.


Fonte: Miwa (2020, documento on-line).

O telhado verde (Figura 8) corresponde ao uso de vegetações nos terraços


das edificações, e se trata de uma boa alternativa, pois colabora para o ge-
renciamento da água pluvial e melhora as condições térmicas das edificações.
Além disso, essa alternativa também possibilita um novo uso para essas áreas.
Em ambientes urbanos promovem o reequilíbrio ambiental, trazendo os benefícios
da vegetação para a saúde pública e à biodiversidade, quando elaborado com
plantas nativas do local. Podem ainda ser instalados painéis solares para captura
da energia solar e podem reduzir o consumo de energia elétrica (GENGO; HENKES,
2012/2013, p. 67).

Figura 8. Telhado verde.


Fonte: Uso... (2020, documento on-line).
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Cabe ressaltar que, atualmente, além de propor novas áreas com vegetação
que possam trazer melhorias para as cidades, existe uma preocupação em
recuperar áreas degradadas a fim de buscar o equilíbrio ambiental dessas
porções do território perdidas com o tempo (Figura 9). Diante dessa realidade,
o paisagismo também consegue trazer as suas colaborações, evidenciando
a importância não apenas dos telhados e calçadas verdes, mas também
das fachadas com vegetação, que podem suprir um pouco da falta que as
vegetações naturais fazem no lote.

Figura 9. Exemplo de recuperação de uma área degradada em uma fazenda.


Fonte: Rosario (2019, documento on-line).

Além das soluções apresentadas, outra forma de pensar em um desenvol-


vimento sustentável em que haja equilíbrio entre o meio ambiente artificial
e o natural é a implantação das edificações nas cidades e a elaboração de
propostas de novos loteamentos. Segundo Santin e Marangon (2008), o uso
dos recuos (Figura 10) normatizados por meio dos planos diretores e do código
de obras dos municípios é um recurso fundamental para garantir insolação
e ventilação das edificações, além de permitir a permeabilidade do solo.
À medida que esses recuos são valorizados, eles servem como áreas ajardina-
das que, além dos benefícios já citados, também colaboram para melhorias
na qualidade da paisagem.
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Figura 10. Exemplo de recuos que permitem insolação, ventilação e ajardinamento.


Fonte: Zarapp/Pixabay.com.

Gengo e Henkes (2012/2013) acrescentam ainda outra solução, que é sempre


pensar na implantação de novas áreas urbanas considerando a vegetação do
local e a topografia. Quanto menos intervenções drásticas forem realizadas
nessas novas porções, menos impacto isso vai gerar para o meio ambiente.
Além disso, caso haja grandes intervenções, deve-se pensar em soluções
que possam minimizá-las, como o plantio das árvores retiradas em outro
local, por exemplo.
Pode-se dizer que a substituição de meio ambiente natural por um meio
ambiente artificial traz os benefícios de centros urbanos mais adequados às
necessidades e às atividades humanas, mas também gera grandes impactos,
seja com relação ao conforto ambiental e ao clima, gerando desequilíbrios,
como também na qualidade de vida das pessoas e da paisagem.
Ao pensar no meio ambiente natural e artificial, é preciso entender que
a sua relação deve ser equilibrada e respeitosa, sempre levando em consi-
deração os resultados de todas as intervenções. Para isso, a atividade de
paisagismo torna-se fundamental, à medida que consegue propor alternativas
sustentáveis, eficientes e adequadas a cada realidade.
O meio ambiente 15

Essas alternativas colaboram tanto para o conforto ambiental do meio


ambiente artificial, como também se tornam práticas sustentáveis que trazem
diversos benefícios para as edificações e são capazes de estimular esses usos
em novas propostas nas cidades. Gengo e Henkes (2012/2013) finalizam que o
paisagismo consegue se inserir em diversos segmentos do contexto urbano,
trazendo alternativas de desenvolvimento ecologicamente sustentável tanto
para áreas públicas como particulares.

Referências
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