Você está na página 1de 40

UNIVERSIDADE SANTO AMARO

Curso de Engenharia Civil – EAD

Antonio Pereira da Silva


Fabio Antonio Zafani

CONSTRUÇÃO DE TELHADOS VERDES COM MATERIAIS DE


BAIXO CUSTO: ANÁLISE DE PROTÓTIPO NA RETENÇÃO DE
ÁGUAS PLUVIAIS EM REGIÕES URBANAS.

SÃO PAULO
2021
Antonio Pereira da Silva
Fabio Antonio Zafani

CONSTRUÇÃO DE TELHADOS VERDES COM MATERIAIS DE BAIXO


CUSTO: ANÁLISE DE PROTÓTIPO NA RETENÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM
REGIÕES URBANAS.

Projeto de pesquisa apresentado ao curso de


Engenharia Civil da Universidade Santo Amaro –
UNISA, como requisito parcial para obtenção de
nota na disciplina de Projeto Integrador I: Edifícios
Sustentáveis, ministrado pela docente Débora
Cavalheiro e profº tutor Rafael Testoni Cecel.

SÃO PAULO
2021
Antonio Pereira da Silva
Fabio Antonio Zafani

CONSTRUÇÃO DE TELHADOS VERDES COM MATERIAIS DE BAIXO


CUSTO: ANÁLISE DE PROTÓTIPO NA RETENÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM
REGIÕES URBANAS.

Trabalho de Projeto Integrador como requisito parcial para obtenção de aprovação na


disciplina de Projeto Integrador I: Edifícios Sustentáveis do Curso de Graduação em Engenharia
Civil – EAD. Área de concentração: Construção civil.
Orientadora: Debora de Camargo Cavalheiro e professor tutor Rafael Testoni Cecel.

São Paulo, 29 de março de 2021

Banca Examinadora

___________________________
Prof. Debora de Camargo Cavalheiro

___________________________
Prof. Rafael Testoni Cecel

Conceito Final: ______


AGRADECIMENTOS

Gratidão a esse Deus maravilhoso, presente em todos os momentos, a Ele que nos
sustentou e nos fortaleceu para enfrentar o cansaço, as dificuldades e os momentos de
angustias dessa etapa da minha vida. Em tudo te damos graças, obrigado por todas as
bênçãos.
Aos nossos pais, obrigado por todo esforço, educação e amor. Obrigado por trilharem
conosco essa etapa e apoiar os nossos sonhos.
Gratidão as esposas e filhos, as nossas famílias que, com muito carinho е apoio, não
mediram esforços para que chegássemos até esta etapa da vida.
À UNISA, por permitir a realização desse sonho.
Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para que pudéssemos chegar a
esse momento.
Resumo

Os telhados verdes estão se tornando mais conhecidos e uma opção viável em todo mundo,
pois são ferramentas eficientes para redução de ilhas de calor e gerenciamento do
escoamento de águas pluviais em áreas urbanas. É necessário um maior entendimento de
como os telhados verdes atuam em relação aos processos fundamentais de gerenciamento de
águas pluviais, como retenção de águas pluviais. Este estudo investigou a construção de
telhados verdes com materiais de baixo curso e sua eficácia. O levantamento de artigos e
projetos em grande parte de literatura na língua inglesa nas bases de dados PUCCAMP,
CPFL, USP-EESC, BAE-UNICAMP e IPT, devido escassez de artigos em português sobre a
construção e manutenção de telhados verdes com materiais de baixo custo e sua durabilidade
em áreas urbanas chuvosas. Quanto aos resultados verificou-se que o uso de palha e plantas
rasteiras pode apresentar desempenho similar a terra e manta de flores para uso de telhado
verde. No entanto, o uso da terra como substrato reteve o maior volume de água da chuva
69% do que o telhado de palha com retenção de 60%. Os resultados do protótipo mostram que
não há diferença significativa dos dados observados na literatura utilizando terra como
substrato principal, para as métricas de desempenho quando se utiliza palha como substrato
(ou seja, armazenamento de água, drenagem e taxa de fluxo de pico), tanto o telhado de palha
quanto o telhado de terra apresentaram retenção de águas pluviais em média de 64,5%. O
monitoramento adicional da resposta hidrológica em telhado verde construído com palha foi
conduzido para identificar e medir os processos fundamentais de atenuação de pico em um
telhado verde durante 2 dias, sob o mesmo clima e condições de simulação controlada. Foi
determinado que a capacidade de campo é um ponto quantificável, onde a atenuação de pico
com o uso de plantas rasteiras aprimora a implantação por não necessitar de cálculos e
manutenção das raízes de plantas e hortaliças de raízes profundas – o que contribui para um
telhado verde de baixo custo de implementação e manutenção, similar ao construído com terra
e manta de flores que apresenta custo elevado e requer manutenção. Os modelos de telhados
verdes construídos funcionam muito bem como ferramentas de gerenciamento de águas
pluviais, proporcionando considerável retenção e atenuação das águas pluviais. Benefícios
adicionais fornecidos por telhados verdes são, por exemplo, consumo de energia diminuido,
qualidade de escoamento melhorada, poluição do ar reduzida, estética aprimorada e redução
das ilhas de calor, entre outros. Concluímos que o telhado verde é uma ferramenta e opção
desejável para desenvolvimento de baixo impacto, baixo custo e mão de obra barata mais
acessível se utilizado palha e plantas rasteiras para sua construção quanto comparado ao uso
de terra e manta de flores, com desempenho similar em retenção dos milímetros da chuva,
contribuindo para o adequado gerenciamento de águas pluviais.
Palavras-chave
Telhado verde; gestão de águas pluviais, evapotranspiração.
Abstract

Green roofs are becoming better known and a viable option worldwide, as they are efficient
tools for reducing heat islands and managing stormwater runoff in urban areas. A greater
understanding of how green roofs work in relation to fundamental rainwater management
processes, such as rainwater retention, is needed. This study investigated the construction of
green roofs with low-flow materials and their effectiveness. The survey of articles and projects
in a large part of literature in the English language in the databases PUCCAMP, CPFL, USP-
EESC, BAE-UNICAMP and IPT, due to the scarcity of articles in Portuguese on the
construction and maintenance of green roofs with low materials. cost and durability in rainy
urban areas. As for the results, it was verified that the use of straw and creeping plants can
present a similar performance to the soil and flower blanket for the use of green roof. However,
the use of land as a substrate retained a greater volume of rainwater 69% than the thatched
roof with 60% retention. The results of the prototype show that there is no significant difference
from the data observed in the literature using soil as the main substrate, for the performance
metrics when using straw as a substrate (that is, water storage, drainage and peak flow rate),
both the straw roof as well as the earth roof presented rainwater retention on average of 64.5%.
Additional monitoring of the hydrological response on a green roof built with straw was
conducted to identify and measure the fundamental peak attenuation processes on a green
roof for 2 days, under the same climate and controlled simulation conditions. It was determined
that field capacity is a quantifiable point, where peak attenuation with the use of creeping plants
improves the implantation by not requiring calculations and maintenance of the roots of deep-
rooted plants and vegetables - which contributes to a green roof low cost of implementation and
maintenance, similar to the one built with soil and a blanket of flowers, which has a high cost
and requires maintenance. The built-in green roof models work very well as rainwater
management tools, providing considerable rainwater retention and mitigation. Additional
benefits provided by green roofs are, for example, reduced energy consumption, improved flow
quality, reduced air pollution, improved aesthetics and reduced heat islands, among others. We
conclude that the green roof is a desirable tool and option for low-impact, low-cost development
and more affordable cheap labor if straw and creeping plants are used for its construction as
compared to the use of land and flower beds, with similar performance in retention of
millimeters of rain, contributing to the adequate management of rainwater.
Keywords
Green roof, stormwater management, evapotranspiration.
Sumário

1. Introdução ........................................................................................................................ 11
1.1 Referencial teórico ................................................................................................... 11
1.1.1 Problemática das águas pluviais em regiões urbanas ...................................... 11

1.1.2 Critérios dos telhados verdes abordados nesse projeto ...................................... 12

1.2.1 Legislação de Telhado Verde: a importância de projetos para avaliar seu


desempenho no Brasil. ..................................................................................................... 13

1.3 Objetivos de pesquisa ................................................................................................ 14

1.3.1 Os objetivos específicos da pesquisa incluem: .................................................... 14

1.4 Esboço do projeto: as partes de um todo. ................................................................ 15

2. Metodologia ....................................................................................................................... 15

2.1 Revisão de literatura ..................................................................................................... 15

2.1.1 Telhados verdes e seus benefícios. ........................................................................ 15

2.2 Introdução aos telhados verdes ................................................................................... 16

2.2.1 História do Telhado Verde ....................................................................................... 16

2.2.2 Tipos de Telhado Verde: projetos e suas variáveis ............................................... 17

2.3 Benefícios do telhado verde ......................................................................................... 19

2.4 Retenção de águas pluviais.......................................................................................... 20

2.4.1 Retenção cumulativa (anual e sazonal) .................................................................. 21

2.4.2 Efeitos e características de retenção: a inclinação do telhado ............................ 22

2.5 Conceito de pico de atenuação: taxa de fluxo de águas pluviais .............................. 23

2.6 Construção de protótipos de comparação: a hidrologia do Telhado Verde ............. 24

2.6.1 Modelos Empíricos, numéricos e analíticos .......................................................... 24

2.7 Hipótese na física do Solo: usando palha no lugar de terra ...................................... 25

2.7.1 Fluxo de água e saturação: a equação de Richards antes da


implementação .......................................................................................................... 25
2.8 Bases de dados, linguagem e limitações dos protótipos dessa pesquisa ............. 26

3. Resultados ......................................................................................................................... 26

3.1 Desempenho de retenção dos protótipos ................................................................. 26

3.1.1 Protótipo de telhado verde com manta de flores ............................................... 26

3.1.2 Protótipo de telhado verde com palha .................................................................... 31

4. Discussão .......................................................................................................................... 35

4.1 Desempenho do telhado verde .................................................................................. 35

4.2 Capacidade de armazenamento (retenção) de águas pluviais x duração do


experimento ............................................................................................................... 35

5. Conclusões ........................................................................................................................ 37

6. Vídeo de defesa do projeto ............................................................................................... 38

7. Referências ........................................................................................................................ 38
9
Tabela

Tabela 2.1: Valores cumulativos de retenção do telhado verde na América do Norte –


de Mentens e Raes e Voyde: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . .21

Lista de abreviações

Mm - milímetros
M - metros
PVC - POLICLORETO DE VINILA.
10
Figuras
Figura 2.1: Ilustração de Telhado verde, Babilônia (GhaffarianHoseini et al. 2014). . . .17
Figura 2. 2: Camadas de um telhado verde convencional (Dhalla e Zimmer 2010). . . .18
Figure 2.3: Telhado verde de baixo custo com tapetes de plástico (Voyde 2011). . . . .19
Figura 3.1: Tipos de substrato frente as raízes das plantas. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . 27
Figura 3.2 CYPECAD para cálculo da distribuição de carga mediante ângulo de até 15º
graus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 3.3 Distribuição de carga e soma de peso das águas pluviais. . . . . . . . . . . . . 29
Figura 3.4 Camadas do protótipo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Figura 3.5 Laje em madeira com a manta asfáltica representando uma laje de concreto
armado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 3.6 Tapete de lã de vidro para permeabilidade da água pluvial. . . . . . . . . . . . 30
Figura 3.7 Substrato – utilizando terra em cima do tapete permeável. . . . . . . . . . . . . 30
Figura 3.8 Protótipo 1 finalizado com balde e tubos de PVC de 40mm com furos laterais
para cálculo de retenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 3.9 Camadas do protótipo 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 3.10 Rascunho para construção do protótipo de palha com o cano PVC. . . . . 33
Figura 3.11 Protótipo 2 – madeira, manta asfaltica, lã de vidro e palha. . . . . . . . . . . . .33
Figura 3.12 Protótipo 2: suculentas sobre a palha antes do experimento de simulação de
chuva com jardineira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 3.13 Protótipo 2 no segundo dia de experimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
11
1. Introdução

1.1 Referencial teórico

1.1.1 Problemática das águas pluviais em regiões urbanas


O aumento da urbanização traz impactos nos campos hidrológicos do Brasil há
décadas e a compreensão detalhada dos processos desses campos, ou seja, do ciclo
da água permite a adequada gestão dos recursos hídricos e mitigação de impactos
gerados por desastres hidrológicos, como as enchentes em grandes cidades. Quando
se fala de telhados verdes com superfícies impermeáveis, espera-se que tenha-se um
aumento no escoamento superficial, infiltração reduzida e evapotranspiração reduzida.
Em muitas situações o impacto do balanço hídrico é contabilizado durante a fase
de projeto por meio da implementação adequada de medidas de gestão de águas
pluviais. Se os efeitos da urbanização não forem gerenciados de forma adequada, a
frequência de inundações aumentará, ou seja, o uso de telhados verdes, segundo P'ng,
Henry et al. 2003, ao utilizar estratégias que minimizem a frequência de inundações os
impactos do escoamento de águas pluviais podem reduzir o volume de escoamento e
os volumes de água podem ser reduzidos (P'ng, Henry et al. 2003).
A qualidade da água pode ser comprometida pela descarga de águas pluviais
em regiões urbanas, de maneira mais clara, podemos apontar que as superfícies
impermeáveis atuam como um primeiro mecanismo de descarga para os poluentes se
acumularem e irem em direção as bacias hidrográficas – o que é significante para um
país como o Brasil, que consome enorme quantidade de água por ano. Segundo Dhalla
e Simmer 2010, as águas pluviais urbanas apresentam mais bactérias, metais pesados,
óleo e graxa (Dhalla e Zimmer 2010), logo há maior poluição e isso somado ao
transbordamento dos esgotos se configura uma problemática sanitária em vista da
grande quantidade de bactérias e vírus - substâncias que esgotam o oxigênio e
nutrientes.
Frente a essa problemática da urbanização, são necessários sistemas de
gerenciamento de águas pluviais suficientes com adaptação para reduzir o
escoamento, e devido ao alto custo desses sistemas, muitas opções são alternativas
difíceis de se alcançar. No entanto, mais de 50% da cobertura de superfície
impermeável em áreas urbanas são espaços de telhado não utilizados. Segundo
12
Mentens, Raes et al. 2006, em estudo de áreas urbanas na América do Norte, os
telhados são geralmente áreas vazias que não são necessárias para nenhuma
operação de construção essencial, mas permanecem impermeáveis e contribuem para
o escoamento de águas pluviais (Mentens, Raes et al. 2006), assim, a implementação
de um controle de águas pluvial é como um retrofit - termo utilizado que significa
processo de modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado – esse
processo pode reduzir significativamente a cobertura da superfície impermeável e
ajudar a reduzir a geração de águas pluviais que contribuem para alagamentos
urbanos. Logo, os telhados verdes são uma ferramenta de baixo impacto com
superfície permeável que também pode ter finalidades paisagísticas.

1.1.2 Critérios dos telhados verdes abordados nesse projeto


Os telhados verdes como ferramentas de baixo impacto trazem como objetivos,
segundo o Ministério do Meio Ambiente, preservar as águas subterrâneas, prevenir ou
reduzir ilhas de calor, prevenir riscos de inundações, compactuar com a qualidade da
água e preservar a vida aquática. Os telhados são projetados para maximizar a redução
de águas pluviais e fornecer controle da taxa de fluxo, esses controles não se limitam a
telhados verdes, como também ao pavimento permeável, tiras de filtro e até técnicas de
tratamento de fim de linha voltadas a infiltração, como os piscinões de São Paulo.
Segundo Dhalla e Zimmer 2010, o objetivo da implementação desses telhados
também pode ser ligado a melhora da estética e ecologia urbana (Dhalla e Zimmer
2010). Na maioria dos casos, as técnicas de baixo impacto, são a primeira etapa de um
processo de tratamento, onde várias ferramentas são usadas para gerenciar totalmente
o escoamento, sendo os telhados verdes uma das ferramentas mais comuns em escala
global, segundo Hutchinson, Abrams et al. 2003, a eficácia de um telhado verde
dependerá principalmente de sua capacidade de reter o escoamento (Hutchinson,
Abrams et al. 2003).
Para atenuar o escoamento e mensurar essa eficácia são utilizadas as taxas de
fluxo de pico, e assim evidenciar se o telhado verde fornece benefícios de energia e
ecologia urbana, com estudos voltados a apenas mensurar essas taxas, por exemplo,
o estudo de Liu e Minor 2005 e Speak, Rothwell et al. 2014, esses estudos são
necessários porque a implementação efetiva de telhados verdes como uma ferramenta
de baixo impacto em seus plenos benefícios requer entendimento profundo de como
13
eles retêm e atenuam as águas pluviais, logo a questão estética dos mesmos precisa
de engenheiros aptos a projetar e incorporar telhados verdes como um componente de
um sistema de gestão de águas pluviais em regiões urbanas, por exemplo, para
redução de ilhas de calor os projetos precisam ser em grande escala.
Esse projeto abordará telhados verdes com inclinação de até 15º graus em áreas
urbanas e chuvosas do Sudeste e Sul do Brasil, em vista que a construção e
implementação ou mesmo cotação dessa construção em superfícies impermeáveis em
áreas urbanas requer definição de angulação e o estudo das águas pluviais da região –
o que dificulta padronizar medidas iguais para todas as regiões, frente a isso, esse
estudo considerará a análise do desempenho do telhado verde em relação a materiais
de baixo custo, demonstrando sua eficácia em comparado com a construção
convencional.

1.2.1 Legislação de Telhado Verde: a importância de projetos para avaliar seu


desempenho no Brasil.
As vantagens dos telhados verdes foram reconhecidas em alguns municípios do
Brasil, como, por exemplo, a lei Nº 18.112/2015 – a qual torna o telhado
verde obrigatório em prédios residenciais com mais de 4 pavimentos em Recife. Essas
iniciativas contribuem para a construção de reservatórios para captação de água da
chuva em instalações residenciais e comerciais, nesse caso, com a especifica área de
solo acima de 500 m²; outros exemplos são encontrados: no Piauí, com a lei estadual
de nº 87 de 22/08/2007 – a qual leva em conta ações sustentáveis para obras
realizadas pelo Estado.
Em São Paulo, região sudeste do país, desde 2015 foi implementado o decreto
nº 55.994, que regulamenta o Termo de Compensação Ambiental (TCA) no Município
de São Paulo e o decreto Nº 57.565 que regulamenta a aplicação da Quota Ambiental,
que estabelece um conjunto de regras que preservem o meio ambiente em novas
edificações ou mesmo reformas. Outros municípios também do Sul e Sudeste do país
também estabeleceram leis para telhados verdes e estruturas permeáveis, por exemplo,
Porto Alegre, do Rio grande do Sul (RS) com a lei complementar 434/1999 – a qual
permite serem utilizados telhados verdes e pavimentos permeáveis e Canoas (RS): Lei
5840/2014 – Permite o a compensação por meio de Telhados verdes.
Essas leis e decretos são recentes e introduzem um regulamento que exige a
14
construção de telhados verdes para fins de gerenciamento de águas pluviais. Contudo,
a legislação não impõe que todo edifício ou adição de edifício construído com 4 ou mais
andares com uma área de construção grande inclua um telhado verde, até mesmo em
Recife o tamanho do telhado verde necessário depende da área bruta do edifício.
Segundo Lawlor, Currie et al. 2006, edifícios industriais construídos em toda a
América do Norte, por exemplo, Chicago e Portland, entre outros grandes locais do
mundo, como: a Alemanha e a França, utilizam telhados verdes em suas construções
(Lawlor, Currie et al. 2006). Isso demonstra que a política brasileira ainda não
reconheceu a importância da gestão de águas pluviais urbanas, bem como seus
benefícios para as regiões do Sul e Sudeste do país que enfrentam os diversos
problemas causados pelo acúmulos de águas pluviais em regiões urbanas, um dos
fatores é o preço elevado dos materiais para sua implementação e manutenção, diante
do exposto, a pesquisa de telhados verdes é necessária para otimizar esse projeto e
avaliar os fundamentos do desempenho de telhados verdes com materiais de baixo
custo.

1.3 Objetivos de pesquisa


O objetivo deste projeto é avaliar a eficácia de telhados verdes como ferramentas
de gerenciamento de águas pluviais através do uso de materiais de baixo custo, através
da construção de um protótipo sujeito a monitoramento por 2 dias para quantificar o
balanço hídrico.

1.3.1 Os objetivos específicos da pesquisa incluem:


- Monitoramento de telhado verde construído com materiais de baixo custo
visando avaliar o impacto que os climas variados têm no desempenho de retenção. Isso
fornecerá uma visão sobre as áreas ideais para concentrar os esforços de instalação de
telhados verdes, bem como quantificar os benefícios que os telhados verdes podem
fornecer em diferentes condições.
- Avaliar a capacidade dos telhados verdes construídos com esses materiais de
baixo custo em sua capacidade de atenuar e retardar as águas pluviais. Quantificando
o impacto que a capacidade de campo, armazenamento capilar, armazenamento de
gravidade e roteamento têm na atenuação de pico.
- Uso de técnicas de modelagem para simular chuvas construídas com palha
para a vazão de telhado verde e uso de dados de campo ou medições para todos os
15
parâmetros do modelo para desenvolver um modelo preditivo em larga escala.

1.4 Esboço do projeto: as partes de um todo.


Esse projeto foi escrito em formato de monografia e dividido em cinco partes.
Cada parte é identificada por número, sendo a primeira parte com tópicos iniciais de
número 1, a segunda parte com tópicos iniciando com o número 2 e assim,
sucessivamente. A primeira parte uma introdução com referencial teórico sobre à
importância e legislação do gerenciamento de águas pluviais no Brasil e no mundo,
além do papel que os telhados verdes têm como uma ferramenta de baixo impacto em
estudos internacionais; descrição dos objetivos do estudo.
A segunda parte fornece um resumo do estado atual do conhecimento sobre
telhados verdes, onde aprofundamos o referencial teórico e incluímos alguns pontos de
design que são usados em telhados verdes para que os mesmo não sejam apenas
telhados, mas tenham outras funções como jardins e hortas, além dos benefícios que
os telhados verdes já oferecem. A terceira apresenta os resultados do monitoramento
contínuo de 2 dias no protótipo construído com materiais de baixo custo, onde foi
simulado o impacto que diferentes climas têm no desempenho de retenção de águas
pluviais quando utilizado palha e plantas rasteiras nas instalações de telhados verdes.
A quarta parte identifica e quantifica os processos fundamentais que levam à
atenuação das águas pluviais e desenvolve, usando equações fundamentais de fluxo
insaturado, a simulação de hidrogramas de drenagem de telhado verde com palha – em
evento único. Por fim, a quinta parte descreve as conclusões que podem ser tiradas
desse projeto mediante a pesquisa e observações gerais para implementações futuras.

2. Metodologia

2.1 Revisão de literatura

2.1.1 Telhados verdes e seus benefícios.


Segundo Dhalla e Zimmer 2010, os telhados verdes podem ser utilizados no
gerenciamento de águas pluviais visando reter o escoamento e diminuir inundações,
esses benefícios são, na verdade, indicadores de eficácia, sendo mensurados através
do gerenciamento de águas pluviais (Dhalla e Zimmer 2010). A literatura disponível na
internet, em sites de busca e revistas online que relaciona telhados verdes a edifícios é
ampla, ela varia desde análises de ciclo de vida a orçamentos de energia, além de
16
atuações de outros profissionais além do engenheiro civil, por exemplo, com avaliações
ecológicas e hidrológicas realizadas por engenheiros ambientais e muito mais
profissionais envolvidos.
Frente a isso, o foco da revisão foram os benefícios hidrológicos dos telhados
verdes, logo foram levantados artigos voltados para revisão do conhecimento atual da
gestão de águas pluviais em telhados verdes na engenharia.
A literatura levantada encontrou: resumos de projeto e da história do telhado
verde, artigos sobre a retenção de águas pluviais e a atenuação da taxa de fluxo de
pico e retardo de águas pluviais em locais urbanos, além dos tipos de modelagem de
telhados verdes.

2.2 Introdução aos telhados verdes

2.2.1 História do Telhado Verde


Segundo Berardi, GhaffarianHoseini et al. 2014, as histórias sobre os telhados
verdes se iniciam na Babilônia e Mesopotâmia, com seus jardins suspensos para
fornecimento de sombra, seguidos de construção de telhados verdes no Império
Romano em seus telhados, usados também para cultivo de alimentos e até interações
sociais nos mesmos – ilustrados na figura 2.1 (Berardi, GhaffarianHoseini et al. 2014).
Os demais jardins construídos após o Império Romano são similares aos dos
dias atuais, com uso de grama, vegetação e plantações. Com a diferença de que os
jardins de telhado verde antes do século XIX, eram utilizados para interações sociais,
teatro e entretenimento. Após 1800 iniciou-se a construção popular com grama,
segundo Shimmin 2012, construções desses jardins passaram a ser comum em prédios
da América do Norte. (Shimmin 2012).
17

Figura 2.1: Ilustração de Telhado verde, Babilônia (GhaffarianHoseini et al. 2014)


No século XX, as construções de jardins de telhado verde com finalidade
paisagística e até mesmo quadras esportivas se iniciou levando a produção de telhados
na América do Norte para fins de design e com expansão dessa ação como padrão
global. Segundo Voyde 2011, os benefícios se tornaram amplamente reconhecidos e
sua prática infundida após o século XXI, pois iniciaram estudos de meses em muitas
áreas, sendo a Alemanha o país que mais utiliza telhados verdes. Diversos outros
países estão progredindo no que diz respeito à implementação do telhado verde como
ferramenta de baixo impacto e com design urbano-paisagístico e com a criação de
políticas para telhados verdes.

2.2.2 Tipos de Telhado Verde: projetos e suas variáveis


Entre as diversas considerações sobre implantação de telhados verdes, é
preciso pensar no tipo de vegetação que será utilizada, sendo uma manta para não se
preocupar com raízes ou até mesmo árvores ou um vegetação extensa, seguido das
condições do local, entre elas as temperaturas anuais – o que inclui Sol, chuvas,
períodos de seca, neve – a depender do país, e até mesmo o peso que tudo isso terá
sobre a estrutura do edifício, pois a estrutura do telhado verde a ser instalada é
geralmente um peso não considerado em prédios e casas já construídos, da inclinação
do telhado e o vento, além das preferências do proprietário.
Berndtsson 2010, aponta que a grande diferença entre um telhado verde em
toda a estrutura do telhado e o telhado de forma intensiva é a profundidade das plantas
utilizadas, pois isso impacta na quantidade de substrato, comumente, terra, a ser
18
implantado, se aplicado mais de 150 mm de substrato é considerado um telhado
intensivo (Berndtsson 2010).
Telhados considerados intensivos trazem muitas opções de plantas e vegetação
a serem utilizadas, em geral são projetados para não haver manutenção contínua – o
que reduz seu custo e isso são projetados também para uma cobertura vegetal
completa no telhado. Já os telhados denominados como extensos são utilizados para
casas e edifícios pequenos por causa da carga estrutural reduzida. A escolha de
vegetação se limita a musgo e suculentas. A implantação possui 3 técnicas comuns,
segundo Dhalla e Zimmer 2010: o sistema pré-cultivado onde se usam mantas
desenroladas no telhado; o sistema tradicional com várias camadas e sementes na
terra ou palha (figura 2.2) e uso de bandejas pré-plantadas, chamadas caixas verdes –
onde se montam estruturas em madeira com as plantas e fixam-nas no telhado com
sistema de escoamento de água (Dhalla e Zimmer 2010).

Figura 2. 2: Camadas de um telhado verde convencional (Dhalla e Zimmer 2010)


As camadas do sistema convencional de telhado verde (Figura 2.2) tem em si
uma função para seu funcionamento: a vegetação irá reduzir a erosão eólica, ou seja,
causada pelo vento e fornecer sombra para o substrato (terra ou palha) e reduzir a
temperatura durante o dia na estação quente. A transpiração da vegetação possui a
capacidade de armazenamento de água. A seleção de plantas deve ser escolhida
pensando também no meio de cultivo, podendo ser utilizado terra, palha e alguns
projetos trazem também areia, cascalho, rocha britada e alguns materiais orgânicos
19
(como restos de carne ou comida).a função do substrato é armazenar o excesso de
água da chuva para sustentar a vida das plantas.
Quanto a camada de drenagem, comumente é utilizado um tapete sintético ou de
plástico ou de lã de vidro (figura 2.3) – escolha de baixo custo – ou uma camada de
meio poroso que permite o transporte do excesso de precipitação para as saídas e
drenos do telhado e uma membrana à prova de água, colocada na primeira camada
diretamente acima da superfície convencional. O isolamento deve ser colocado acima
ou abaixo da membrana impermeável, bem como uma barreira de raiz para impedir a
invasão de raiz quando utilizado plantas ou vegetações com raízes grandes ou de
crescimento contínuo (Voyde 2011).
Existem sistemas que combinam camadas e reduzem o peso da estrutura para
implantação de um telhado verde, onde a principal diferença é uma membrana
impermeabilizante com uma camada de drenagem incorporada na estrutura, destaca-se
que a manutenção inicial dos telhados verdes dependem dos tipos de plantas e se
foram pré-cultivadas, plantadas como sementes ou já instaladas em caixas. Após a
vegetação e finalização, em algum momento haverá alguma manutenção, mesmo que
modesta, como, por exemplo, a remoção de ervas daninhas nos casos das pré-
cultivadas com uso de hortaliças.

Figure 2.3: Telhado verde de baixo custo com tapetes de plástico (Voyde 2011)

2.3 Benefícios do telhado verde


Os telhados verdes trazem o foco para gerenciamento de águas pluviais entre
outros benefícios, como a melhoria do escoamento da água, diminuindo a acidez da
20
chuva, diminuindo índices de chumbo, zinco e cobre, entre outras substâncias tóxicas,
em suma: reduz metais pesados e consequentemente a poluição urbana diminui.
Também reduz a poluição do ar urbano. O estudo de Currie e Bass, realizado em
Cingapura em 2008, mostrou que 7 toneladas de poluentes do ar foram poderiam ser
removidos do ar através da implementação de telhados verdes após 13 anos.
Outro forte benefício para as áreas urbanas está na redução do consumo de
energia, devido isolamento de temperatura resfriando o prédio protegendo o telhado – o
que evita raios solares que desestabilizam a temperatura diária; a redução de ruídos
devido a vegetação e o solo serem barreiras de ruídos em ambientes urbano; podem
ser utilizados para produção de frutas e vegetais, além de casas para pequenos
animais e insetos, até mesmo abelhas.
Pode diminuir o efeito de calor urbano, as chamadas ilhas de calor, pois os
telhados verdes diminuem os fluxos de energia que aquecem o ambiente urbano entre
1 e 2 °C (Susca, Gaffin et al. 2011); aumentam a vida útil do telhado que usa
impermeabilização em até 50 anos, se manutenção adequada.

2.4 Retenção de águas pluviais


A retenção das águas das chuvas é um dos principais benefícios dos telhados
verdes, sendo essa uma ferramenta de baixo impacto utilizada para gerenciamento de
águas pluviais. Com ênfase nessa parte podemos destacar que quando a chuva cai em
uma superfície impermeável, em especial em áreas urbanas, a substituição dessas
superfícies impermeáveis por superfícies permeáveis pode reduzir o escoamento de
águas pluviais e os impactos de enchentes.
Os telhados verdes são uma opção de superfície permeável pela qual a água
infiltra no solo, fornecem armazenamento (ou seja, retenção) de águas pluviais. Essa
retenção nada mais é que a quantidade de água absorvida no substrato que evaporará
com o tempo regenerando a captura e armazenamento de água, ela é geralmente
apresentada como uma porcentagem, pode ser calculada com a fórmula;

𝑅𝑒𝑡𝑒𝑛ção (%) = chuva (𝑚𝑚) − escoamento (𝑚𝑚) ∙ 100 / total de chuva (𝑚𝑚)

Entre os fatores que podem influenciar o desempenho de retenção de telhados


verdes estão: características do telhado e o tempo que se estuda as chuvas antes de
21
implementar o substrato, além de quais instrumentos são utilizados para simular sua
implementação, além da inclinação do telhado, profundidade, vegetação e etc.
Para esse projeto pesquisamos na literatura, detalhadamente o desempenho de
retenção e a influência desses componentes, apresentados a seguir.

2.4.1 Retenção cumulativa (anual e sazonal)


Para calcular essa retenção se faz necessário avaliações de longo prazo,
portanto pelo menos um ano inteiro de estudo e qual a absorção que o telhado e o
futuro substrato consegue reter de forma cumulativa para, assim, calcular um indicador
realista do desempenho esperado de um telhado verde ao longo de sua vida,
entretanto, os valores anuais de desempenho de retenção podem variar devido as
mudanças sazonais e eventos da natureza, imprevisíveis ou não, além dos eventos de
chuvas.
Quanto ao aspecto de design, calcular o tipo de retenção cumulativa anual é
fundamental, pois impacta na escolha da vegetação e construção de modelo que se
adeque ao que o cliente espera. Vários estudos têm apresentado valores de retenção
cumulativa de longo prazo para telhados verdes – o que facilita para o engenheiro ou
empresas que trabalham com telhados verdes calcular estimativas quanto a sua
implementação.
Dentro da literatura levantada encontramos um estudo de Mentens, Raes et al.
2006 e Voyde 2010 que estima a retenção na América do Norte, descritos na tabela 2:

Tabela 2.1: Valores cumulativos de retenção do telhado verde na América do Norte –


de Mentens e Raes e Voyde:

Retenção
Autor cumulativa anual do Meses Profundidade
telhado verde (%)

Mentens, Raes et al. 27-81 % 12 – 48 20-150mm


(2006)
Voyde, Fassman et al. 66 % 12 50-70mm
(2010)
22

Frente a esses dois estudos podemos perceber que quanto mais profundo o
telhado verde, maior a retenção cumulativa anual, porém eles apresentam mais de 50%
de retenção de água da chuva mesmo com telhados de substrato mais raso, que utiliza
grama ou palha. Contudo, locais com grandes flutuações sazonais precisam de estudos
mais longos devido impacto das mudanças climáticas sazonais no desempenho de
retenção do telhado verde.
Os dois estudos apresentados trazem que houve mais retenção durante o verão
em comparação ao inverno por causa da evaporação da água frente ao calor do Sol.
Não foram encontrados estudos sobre os efeitos do clima na retenção de telhados
verdes, em regiões brasileiras e diversas outras regiões do mundo, que detalhem o
impacto do clima no desempenho do telhado verde. Frente a essa problemática, os
autores sugerem que uma alternativa é: considerar cada evento de chuva específico
que ocorreu durante o período de estudo e calcular em protótipo a retenção baseada
nesse evento ou em demais eventos frequentes daquela região, sendo o cálculo da
retenção ainda uma fase empírica na implementação do telhado verde.

2.4.2 Efeitos e características de retenção: a inclinação do telhado


Existem muitas características a serem analisadas frente a um projeto de telhado
verde que terão variáveis a depender do local, por exemplo, em um edifício, ele
suportará uma profundidade de substrato maior, enquanto alguns telhados terão
declives mais acentuados do que outros. A inclinação de um telhado impacta e
influencia o desempenho de retenção, pois quanto mais inclinado maior a taxa de água
que escoa do telhado e menor a capacidade de retenção, porém se construído em uma
inclinação de mais de 45, a capacidade de retenção, segundo estudos de Villareal e
Bengtsson 2005, se perde (Villarreal e Bengtsson 2005).
A capacidade de peso (carga) que o telhado e o edifício suporte pode limitar a
capacidade de retenção de um telhado verde, uma vez que o espaço para
armazenamento de água das chuvas também deve ser contabilizado na carga, logo a
capacidade de retenção está está diretamente relacionada à profundidade do substrato
e inclinação do telhado. Nesse aspecto a escolha das plantas usadas em um telhado
verde também podem impactar no peso devido crescimento de raízes ou mesmo a taxa
de evaporação em regiões pouco ensolaradas, paralelo a literatura aponta que quanto
23
mais alta a planta, maior a retenção, pois transpiram mais, porém maior a carga na
estrutura – mantas e caixas verdes pré-fabricadas apresentam maior cobertura vegetal
nos primeiros anos de implementação, contudo, sementes e plantas rasteiras
apresentam resultados similares e tem custo de manutenção menor, além de menor
carga – sendo uma boa opção para telhados de baixo custo.
O tempo de um telhado verde pode alterar sua eficácia devido alterações que o
substrato sofre. Quando ele envelhece apresenta mudanças físicas e químicas com
perdas de solo (no caso de uso de terra) precisando de períodos de manutenção mais
frequentes, em contrapartida, telhados verdes com areia e insetos ou palha e insetos ou
insetos e substratos orgânicos apresentam menores mudanças na matéria orgânica e
na porosidade do solo. Sendo que apenas o uso de terra e materiais orgânicos são os
que mais apresentam porosidade e menor vida útil.
Com base na literatura apresentada acima, quanto a capacidade de retenção,
apontamos que o impacto que o clima do local tem no desempenho de um telhado
verde precisa ser considerado para se compreender totalmente a capacidade do
telhado verde e a sua eficácia. Em suma, o engenheiro precisa considerar para uma
retenção eficaz: o tipo de substrato, profundidade, inclinação, idade e tipo de planta.

2.5 Conceito de pico de atenuação: taxa de fluxo de águas pluviais


A taxa de fluxo está ligada ao pico de atenuação, trata-se de um conceito
importante e globalmente utilizado quando se pensa em projetos voltados a controle de
águas pluviais. O termo atenuação está ligado a redução da intensidade no transporte
de água, ou seja, quando utilizado na implementação de telhados verdes temos que a
chuva apresentará um fluxo e um pico de drenagem.
De forma mais clara, podemos considerar que as águas da chuva em regiões
urbanas são calculadas e temos o total de milímetros (mm) como essa taxa de pico de
fluxo de águas pluviais, sendo o telhado verde a ferramenta que atenua essas águas
pluviais, temos o pico de atenuação, ou seja, o quanto de água da chuva esse telhado
verde absorve. Voyde et al. 2013, realizou estudos com protótipos de 3cm de
profundidade usando eventos artificiais para calcular a taxa de fluxo de águas pluviais,
durante 6 meses, porém não há fórmulas para calcular e quantificar precisamente os
picos de atenuação e os mecanismos de cada telhado verde, logo não foram
encontradas pesquisas que analisassem esses picos, apesar dos autores mencionados
24
acima sugerirem exemplos usando a chuva para medir atenuação, não houve consenso
nas pesquisas, mesmo em revisões de literatura como a realizada por Mentens e Raes
e Voyde.

2.6 Construção de protótipos de comparação: a hidrologia do Telhado Verde


Para esse projeto desenvolvemos dois modelos de telhado verde, utilizando
madeira como telhado, uma membrana a prova de água, uma manta de asfáltica como
isolante a prova de água, tapete de lã de vidro como membrana permeável e uma
manta florida que desempenha o papel do substrato e vegetação – de alto custo
(emprestada por empresa local e devolvida ao final do estudo) e outro protótipo com
madeira, uma manta de asfáltica, tapete de lã de vidro como sistema de drenagem e
palha com plantas rasteiras para modelar a resposta hidrológica de telhados verdes e
entender como eles funcionam, visando projetá-los e implementá-los com eficácia no
futuro.
Esses dois modelos permitiram uma melhor previsão do desempenho do telhado
verde e, tanto o telhado verde proposto pela literatura e o telhado verde que projetamos
com a hipótese de que apresenta eficácia e é de menor custo de implementação e
manutenção, portanto, o design e posicionamento podem ser aprimorados conforme o
tipo de planta e não receberam ênfase nesse projeto. Alguns projetos internacionais
apresentam pesquisas para implementação de telhado verde único – o qual pode ser
implementado em apenas uma camada, porém o material do mesmo não está
disponível no Brasil. Nosso modelo trata-se de um modelo empírico baseado em
eventos que funcionaram nos estudos descritos acima, na escala de apenas um evento
– observado por 2 dias, com a limitação de simulações de curto prazo.
Foram realizadas várias tentativas de modelagem com base na literatura
encontrada para calcular o equilíbrio de água ou meios porosos, descritos nas fórmulas
a seguir.

2.6.1 Modelos Empíricos, numéricos e analíticos


Modelos empíricos de telhados verdes são apresentados na literatura para obter
dados de experimento e estimar parâmetros de retenção. Modelos empíricos são bem
aceitos quando funcionam uma vez que são aplicados em larga escala, contudo,
modelos numéricos produzem e contribuem com o uso de equações de retenção e
experimentos como uso de cascalho e telhados únicos produzindo estimativas de
25
escoamento.
Modelos analíticos são conceituais e geralmente tentam estimar a retenção,
representando diferentes processos e funções de telhados verdes por meio de técnicas
matemáticas, porém também utilizam protótipos. Passaram a serem aceitos após
apresentarem razoáveis taxas de retenção frente eventos de chuva de intensidade
constante, mas seus volumes de escoamento foram superestimados. Kasmin, Stovin et
al. (2010) publicou outro modelo de balanço hídrico que consistia em um componente
de armazenamento de umidade e um componente de

2.7 Hipótese na física do Solo: usando palha no lugar de terra


Ao invés de utilizar a terra, substrato comumente utilizado, optamos pelo uso de
palha, pois na maioria dos casos estudados ela apresentou baixo custo de manutenção,
taxa de infiltração rápida, redução de empoçamento e evaporação e transpiração
similares a demais substratos como areia e cascalho. Devido a uma combinação
desses fatores, os telhados verdes, consideramos que o telhado verde construído com
palha não apresentaria condições de saturação, com escoamento e retenção
adequada.

2.7.1 Fluxo de água e saturação: a equação de Richards antes da implementação


Para descrever o fluxo de água em a equação de Richards tem sido usada em
diversos estudos. Em projetos de implementação em larga escala o local é calculado
em metros e o engenheiro realiza a combinação da equação de Darcy-Buckingham,
trata-se de um requisito de continuidade após a implementação do protótipo, um passo
antes da efetiva construção em larga escala. A equação de Richards usada para
calcular o fluxo vertical de água em função da umidade do solo é vista abaixo (Richards
1931).

Onde t é o tempo, z é a profundidade e K é a condutividade hidráulica. A


equação de Richards é diretamente dependente do conteúdo volumétrico de água (θ) e
da pressão capilar (resultado em metros). Esses dois parâmetros apresentam uma
relação complexa que muda drasticamente conforme as propriedades do solo variam
26
(distribuição do tamanho do solo, por exemplo). A umidade e a pressão capilar de um
solo são derivadas por meio de testes em escala de laboratório.
Esses testes em laboratório são conduzidos pelo engenheiro e determinaram a
curva de retenção de água no solo para meios de cultivo projetados, como, por
exemplo, uso de plantas rasteiras ou até mesmo árvores. Existem outras fórmulas para
calcular a curva de retenção de água, contudo seu uso é empírico.
Com base nas curvas de retenção de água do solo obtidas em laboratório, o
engenheiro faz a análise do desempenho das águas pluviais dos telhados verdes
durante eventos de chuva, vendo e variação do clima no protótipo modelado e
quantifica a eficácia do modelo que projetou.

2.8 Bases de dados, linguagem e limitações dos protótipos dessa pesquisa


Há literatura limitada na língua portuguesa ou traduzida sobre os telhados verdes
e sua eficácia no Brasil, por exemplo, voltados a atenuação de pico de fluxo de águas
pluviais ou atenuação desse pico, além de poucas iniciativas nacionais para
gerenciamento de águas pluviais. Assim, os modelos realizados em campo tem como
base artigos da literatura inglesa, em maioria estudos da América do Norte, mas
destacamos que nenhuma pesquisa nas bases de dados: PUCCAMP, CPFL, USP-
EESC, BAE-UNICAMP e IPT isolou um estudo brasileiro de telhado verde no Brasil e
quantificou o impacto de telhados verdes, seja de forma individual ou voltados a
redução de ilhas de calor, frente a esse processo, nossos protótipos são de modelagem
empírica. Se limitando a construção de um modelo de telhado verde preditivo com
implicações para o progresso do projeto de telhados verdes no Brasil como ferramenta
de baixo impacto em locais urbanos, chuvosos e de baixo custo.

3. Resultados

3.1 Desempenho de retenção dos protótipos

3.1.1 Protótipo de telhado verde com manta de flores


Os telhados urbanos geralmente são de superfícies impermeáveis nas regiões
urbanas brasileiras, portanto o excesso de águas pluviais urbanas pode contribuir para
a poluição de córregos, rios e lagos, bem como a erosão do canal, inundações e danos
à infraestrutura. Os telhados verdes fornecem vários benefícios quanto a retenção de
águas da chuva, a qual é retida no espaço dos poros do solo por forças capilares até
27
que seja transpirada pela vegetação ou evaporada para a atmosfera.
Para esse protótipo usamos:
- 4 placas de madeira como telhado, de dimensões de 0,50 m x 1,10 m;
- 1 manta de asfáltica como membrana a prova de água como isolante;
- 1 tapete de lã de vidro como membrana permeável;
- 1 balde de 5L com terra como substrato, utilizado posteriormente para o
sistema de drenagem;
- 1 manta verde florida que desempenha o papel de vegetação – de alto custo
(emprestada por empresa local e devolvida ao final do estudo).
- 2 canos de PVC de 40 mm cortados e acoplados as laterais, fixados com calha
redonda com bocal adaptado para o cano, o bocal foi fixado na parte inferior da
superfície voltado (similar a construção de calhas), ao balde de 5L para o cálculo da
retenção.
Quanto a quantidade de terra, optamos por substrato entre 50 - 100mm para os
dois projetos, com uso de manta florida e suculentas nos dois projetos,
respectivamente, com a principal diferença de uso de terra e de palha, com objetivo de
não ser necessário calcular o peso extra das raízes no futuro, bem como o baixo custo
de manutenção e reparos ao longo da vida útil do telhado verde com suculentas.
Abaixo, figura 3.1, a escala utilizada por Kasmin, Stovin et al. 2010, que descreve os
mm correspondentes ao substrato e o tipo de planta.

Figura 3.1: Tipos de substrato frente as raízes das plantas.


Na figura da esquerda para direita temos, a): o tipo de substratos com 50-150mm
utilizado em telhados verdes com grama e suculentas, seguido de b): substratos mais
profundos que 150 mm – ideal para plantas e pequenas hortaliças e grama; c)
28
profundidade de maior que 250 mm, utilizado para pequenas flores e vegetais de
pequeno porte; d): substrato com profundidade maior que 500 mm utilizado para
plantas de médio porte (vegetais, flores, pequenas árvores como banzai); e): substrato
de profundidade maior que 1 m, podendo ser utilizado para plantar até mesmo árvores
de médio porte.
Quanto a inclinação pensamos nas distribuições de força, frente a isso
calculamos cargas em uma estrutura, simples, para frente a distribuição de forças do
sistema criado. O primeiro passo foi análisar a estrutura e calcular as principais cargas
atuando no centro já que os protótipos não possuiam pilastra central, utilizando pilares
laterais e pequena inclinação. Utilizamos o aplicativo CYPECAD, o qual calcula a
estrutura, a sobrecarga, o vento em todas as direções, cargas pontual e permanente
(no caso as águas da chuva e o peso da manta florida).

Figura 3.2 CYPECAD para cálculo da distribuição de carga mediante ângulo de até 15º
graus.
Através desse sistema determinamos a distribuição de forças e do telhado e
colunas, obtivemos resultado ilustrado na figura 3.3.
29

Figura 3.3 Distribuição de carga e soma de peso das águas pluviais


A figura 3.3 mostra que nosso modelo empírico poderia absorver a pluviosidade de até
5mm de chuva, o que corresponde a 5L, com retenção média de 69%, pois o volume de
retenção foi de 3,4L de água e o escoamento de 1,6L. O cálculo da média de retenção
foi realizado utilizando a fórmula
𝑅𝑒𝑡𝑒𝑛ção (%) = chuva (𝑚𝑚) − escoamento (𝑚𝑚) ∙ 100 / total de chuva (𝑚𝑚)
Mediante a análise do modelo quanto a sua absorção ilustramos na figura 3.4
suas camadas.

Figura 3.4 Camadas do protótipo 1


Na figura 3.4 temos a camada de laje, a manta asfáltica, o tapete de lã de vidro,
o substrato e a manta florida. Quanto a drenagem, foi colocado no final da estrutura
inclinada com dois canos PVC de 40 mm cortados e acoplados as laterais, fixados com
calha redonda com bocal adaptado para o cano, o bocal foi fixado na parte inferior da
superfície voltado (similar a construção de calhas) ao balde de 5L utilizado para calcular
e quantificar sua retenção hidrológica.
Nas figuras a seguir mostramos a montagem e modelagem do protótipo 1:
30

Figura 3.5 Laje em madeira com a manta asfáltica representando uma laje de concreto
armado.

Figura 3.6 Tapete de lã de vidro para permeabilidade da água pluvial

Figura 3.7 Substrato – utilizando terra em cima do tapete permeável


31

Figura 3.8 Protótipo 1 finalizado com balde e tubos de PVC de 40mm com furos laterais
para cálculo de retenção.
Foram realizados os testes do dia 1, colocamos 5 de água no balde, com metade
de sua total capacidade, com o uso de uma jardineira, fomos dispensando o conteúdo –
simulando a chuva – até atingir os 5L de água e observamos o quanto iriam ser
escoado e retido no balde. No segundo dia observamos a evaporo-transpiração da
água do substrato. O clima estava em 20ºC de tarde e a noite fez 18°C, na cidade de
São Paulo, portanto, houve a interferência climática, mas observou-se que o substrato
estava úmido ainda.

3.1.2 Protótipo de telhado verde com palha


É necessário quantificar a resposta de telhados verdes semelhantes, porém com
materiais diferentes para isolar e avaliar o impacto dos materiais que se deseja testar,
mediante o mesmo clima e o desempenho de retenção. Como tal, este projeto avalia a
resposta de retenção de dois telhados verdes em climas similares. O projeto do telhado
verde foi replicado, com os mesmos cálculos de estrutura, distribuição de carga,
vegetação e idênticos períodos de monitoramento, contudo, sobre o diferencial de
utilizar palha e plantas rasteiras (suculentas) com objetivo de se obter baixo custo em
sua construção, mas desempenho de retenção similar.
Para esse protótipo usamos:
- 4 placas de madeira como telhado, de dimensões de 0,50 m x 1,10 m;
- 1 manta de asfáltica como membrana a prova de água como isolante;
- 1 tapete de lã de vidro como membrana permeável;
- 1 balde de 5L com palha como substrato;
- Algumas suculentas compradas em uma floricultura local que desempenha o
papel de vegetação – de baixo custo.
32
Quanto a quantidade de palha, também optamos por substrato entre 50 – 100
mm, com uso de suculentas, com a principal diferença nesse protótipo com a palha e as
suculentas, com objetivo de não ser necessário calcular o peso extra das raízes no
futuro, bem como o baixo custo de manutenção e reparos ao longo da vida útil do
telhado verde com suculentas. Conforme demonstrado na figura 3.1, colocamos a
palha, mantivemos a inclinação e uutilizamos o aplicativo CYPECAD, novamente.
Obtivemos o desempenho similar em um modelo matemático do aplicativo que também
sinalizou a distribuição de carga e soma de peso das águas pluviais adequado a
estrutura, no caso, peso de 5L de água a mais além da estrutura.
Mediante a análise do modelo quanto a sua absorção ilustramos na figura 3.9
suas camadas.

Figura 3.9 Camadas do protótipo 2


Na figura 3.9 temos a camada de laje, a manta asfáltica, o tapete de lã de vidro,
o substrato de palha (mais volumoso que a terra – precisamos molhar levemente para a
mesma assentar) e as plantas suculentas acima da palha. Quanto a drenagem, foi
colocado no final da estrutura inclinada dois canos PVC de 40 mm cortados e
acoplados as laterais, fixados com calha redonda com bocal adaptado para o cano, o
bocal foi fixado na parte inferior da superfície voltado (similar a construção de calhas)
ao balde com 5L de água utilizado para calcular e quantificar sua retenção hidrológica.
Nas figuras a seguir mostramos a montagem e modelagem do protótipo 2 –
usando palha, o primeiro passo foi o desenho do protótipo:
33

Figura 3.10 Rascunho para construção do protótipo de palha com o cano PVC.
Foi repetido o mesmo experimento e passos no experimento 1 para o protótipo 2,
com a diferença de profundidade para melhor fixação da palha, utilizamos proporções
menores até adequar e construir o protótipo adequado, com as camadas e o
escoamento, assim foram realizados: os testes do dia 1, colocamos 5L de água no
balde, em sua total capacidade, com o uso de uma jardineira, fomos dispensando o
conteúdo – simulando a chuva – até atingir os 5L de água e observamos o quanto iriam
ser escoado e retido no balde. No segundo dia observamos a evaporo-transpiração da
água do substrato. O clima estava em 20ºC de tarde e a noite fez 18°C, na cidade de
São Paulo, portanto, houve a interferência climática, mas observou-se que o substrato
estava úmido ainda.

Figura 3.11 Protótipo 2 – madeira, manta asfaltica, lã de vidro e palha.


34

Figura 3.12 Protótipo 2: suculentas sobre a palha antes do experimento de simulação de


chuva com jardineira.

Figura 3.13 Protótipo 2 no segundo dia de experimento


A retenção encontrada no protótipo 2, 60%, com retenção de 3L e escoamento
de 2L. demonstra que a palha também pode ser utilizada como substrato e sua
montagem junto ao tapete de retenção de lã de vidro e precipitação durante o período
de estudo sendo substancialmente menor do o protótipo 1, que obteve 69% de retenção
de águas pluviais (em simulação, pois não houve chuva, de fato).
35
4. Discussão

4.1 Desempenho do telhado verde


Esses dois modelos permitiram uma melhor previsão do desempenho do telhado
verde e, tanto o telhado verde proposto pela literatura e o telhado verde que projetamos
com a hipótese de que apresenta eficácia e é de menor custo de implementação e
manutenção, portanto, o design e posicionamento podem ser aprimorados conforme o
tipo de planta e não receberam ênfase nesse projeto. Alguns projetos internacionais
apresentam pesquisas para implementação de telhado verde único – o qual pode ser
implementado em apenas uma camada, porém o material do mesmo não está
disponível no Brasil. Nosso modelo trata-se de um modelo empírico baseado em
eventos que funcionaram nos estudos descritos acima, na escala de apenas um evento
– observado por 2 dias, com a limitação de simulações de curto prazo.
Foram realizadas várias tentativas de modelagem com base na literatura
encontrada para calcular o equilíbrio de água ou meios porosos, descritos nas fórmulas
acima. A duração do estudo é importante para mensurar o desempenho de retenção do
protótipo, pois o grau em que a estrutura reabastece a capacidade de armazenamento
entre as chuvas de uma estação é o que possibilita que o telhado verdes seja uma
ferramenta de baixo impacto no gerenciamento de águas pluviais.
Além da quantificação do desempenho de retenção para diferentes tamanhos de
chuvas, há uma necessidade particular de entender a retenção para eventos
significativos como tempestades, ventos fortes e outras variações climáticas, também
eventos que geralmente sobrecarregam os sistemas de gerenciamento de águas
pluviais e resultam em inundações. Na literatura levantada nas bases de dados
mencionadas, não encontramos estudos ou informações adicionais sobre o
desempenho do telhado verde sob eventos de chuva significativos.

4.2 Capacidade de armazenamento (retenção) de águas pluviais x duração do


experimento
Quando a capacidade de armazenamento do meio de crescimento do telhado
verde estiver cheia, ocorrerá o escoamento ou drenagem, logo é necessário que o
engenheiro calcule a capacidade desse telhado verde reter água, antes de implementá-
lo. Devido ausência de chuva real, o experimento foi realizado com chuva artificial em
local controlado. Quanto a influência do clima no desempenho de retenção e na
36
aplicabilidade dos resultados de um local para outro, consideramos que a mesma foi
incerta, pois não houve foco no design do telhado verde, ou seja, não foram
considerados a profundidade do solo em escala de larga aplicação e a inclinação foi de
ângulo de até 15 graus.
Quanto a duração do estudo do protótipo, foi de 2 dias, portanto, se faz evidente
a presença de variabilidades observadas no desempenho do telhado. Quanto ao
desempenho de retenção ele foi variado, mas similar entre os dois projetos, com 69%
em média, de capacidade de retenção de água. As diferenças de retenção podem ser,
em parte, devidas a diferenças climáticas nas áreas de estudo, pois cada aluno se
encarregou de fazer um protótipo, por exemplo, as diferenças de desempenho de
retenção possam ser devidas ao clima nublado, não é possível isolar e avaliar os
efeitos do clima devido aos diferentes parâmetros de projetos de telhados verdes, não
apenas em nosso estudo, mas em vários outros da literatura mencionada acima.
O armazenamento de água e a evapotranspiração foram monitorados de
maneira contínua nos dois dias. A retenção volumétrica da água da chuva foi calculada
como a profundidade da água (mm) armazenada durante o período de tempo de dois
dias. A retenção também é relatada como a porcentagem de chuva armazenada, sendo
essas de 69% com uso de substrato de terra, apresentando maior retenção se
comparado ao uso da palha como substrato, que apresentou retenção de 60%,
consideramos que não há diferença significativa dos dados observados na literatura
utilizando terra como substrato principal, para as métricas de desempenho quando se
utiliza palha como substrato (ou seja, armazenamento de água, drenagem e taxa de
fluxo de pico), pois tanto o telhado de palha quanto o telhado de terra apresentaram
retenção de águas pluviais em média de 64,5%.
O monitoramento adicional da resposta hidrológica no segundo dia, dos telhados
verdes construídos visaram identificar e medir os processos fundamentais de atenuação
de pico e comparar os resultados sob o mesmo clima e condições de simulação
controlada. Foi determinado que a capacidade de campo é um ponto quantificável,
onde a atenuação de pico com o uso de plantas rasteiras aprimora a implantação por
não necessitar de cálculos e manutenção das raízes de plantas e hortaliças de raízes
profundas – o que contribui para um telhado verde de baixo custo de implementação e
manutenção, similar ao construído com terra e manta de flores que apresenta custo
elevado e requer manutenção.
37
Os modelos de telhados verdes construídos funcionam muito bem como
ferramentas de gerenciamento de águas pluviais, proporcionando considerável
retenção e atenuação das águas pluviais. Benefícios adicionais fornecidos por telhados
verdes são, por exemplo, consumo de energia diminuído, qualidade de escoamento
melhorada, poluição do ar reduzida, estética aprimorada e redução das ilhas de calor,
entre outros, esses benefícios somados ao baixo custo de telhados verdes utilizando
palha e plantas rasteiras observamos que a retenção percentual, quando o volume total
de água retido dos baldes, o armazenamento e evaporação de volume efetivamente
beneficia o clima urbano e constrói cargas de resfriamento.

5. Conclusões
Telhados verdes em si trazem uma diminuição na retenção de águas pluviais. O
uso de lã de vidro, terra e manta verde apresentou o maior percentual de retenção. Isso
está de acordo com as tendências de retenção discutidas anteriormente. Contudo, a
retenção de águas pluviais são similares quando utilizado a palha e as plantas rasteiras
como substrato, logo esse percentual não é significativamente diferente entre os dois
protótipos.
Grandes tempestades poderiam causar uma diferença significativa no
desempenho de ambos os telhados, isso pode ser devido ao armazenamento limitado
disponível no experimento o que significa que uma certa quantidade de drenagem
ocorrerá durante grandes eventos, independentemente da composição do telhado
verde, portanto, apenas a análise da resposta do evento poderá indicar qual a diferença
significativa no desempenho de retenção pode ser atribuída às condições de umidade
do solo no início e no fim de tempestades ou outros eventos climáticos ou sazonais.
A literatura levantada sugere que o período de observação e testes simulados
nos protótipos são utilizados como passos fundamentais antes da implementação do
telhado verde em larga escala, porém a precisão para cada evento climático não pode
ser totalmente prevista, provavelmente devido aos problemas inerentes as condições
de cada região – sendo que no Brasil a legislação ainda está começando a incentivar,
mas não de maneira unificada, a construção de telhados verdes.
Portanto, entender o clima onde os telhados verdes são instalados é essencial
para a otimização do projeto, pois o clima amplifica o leque de decisões como a seleção
38
da profundidade do substrato, como no caso da palha, que precisa de maior volume se
utilizado em larga escala, mas devido seu baixo custo, isso não se torna um problema
de custo ou manutenção, além de que o foco dos telhados verdes para áreas urbanas é
o gerenciamento de águas pluviais, auxiliando com a redução do escoamento de águas
pluviais, bastando o engenheiro projetar com base nos períodos de monitoramento.
Devido as variações climáticas de cada região é um desafio comparar o
desempenho de retenção dos telhados verdes, no entanto, compreender os benefícios
e o impacto dos mesmos para o gerenciamento de águas pluviais são aspectos
importantes para redução nos volumes de escoamento. Os telhados verdes fornecem
alta retenção de água da chuva para pequenos eventos em todos os climas, embora a
quantidade de chuva afete muito o desempenho de retenção.
Concluímos que o telhado verde é uma ferramenta e opção desejável para
desenvolvimento de baixo impacto, baixo custo e mão de obra barata mais acessível se
utilizado palha e plantas rasteiras para sua construção quanto comparado ao uso de
terra e manta de flores, com desempenho similar em retenção dos milímetros da chuva,
contribuindo para o adequado gerenciamento de águas pluviais.

6. Vídeo de defesa do projeto

https://youtu.be/cq-gxQ4Q9ps

7. Referências

Berndtsson, J. C. (2010). "Green roof performance towards management of runoff water


quantity and quality: A review." Ecological Engineering 36(4): 351-360.

Bengtsson, L. (2005). "Peak flows from thin sedum-moss roof." Nordic Hydrology 36(3):
269-280.

Currie, B. A. and B. Bass (2008). "Estimates of air pollution mitigation with green plants
and green roofs using the UFORE model." Urban Ecosystems 11(4): 409-422.

Dhalla, S. and C. Zimmer (2010). Low Impact Development Stormwater Management


39
Planning and Design Guide, CVC & TRCA: 300.
FEIJÓ, João Manuel. Seminário desmistifica questão dos custos para implantação do
telhado verde em SP. São Paulo, 2011.

FLL (2002). Guidelines for the Planning, Execution and Upkeep of Green roof sites. G.
Losken, Forschungsgesellschaft Landschaftsentwicklung Landschaftsbau E V.: 97.

Getter, K. L., D. B. Rowe, et al. (2007). "Quantifying the effect of slope on extensive
green roof stormwater retention." Ecological Engineering 31(4): 225-231.

Gregoire, B. G. and J. C. Clausen (2011). "Effect of a modular extensive green roof on


stormwater runoff and water quality." Ecological Engineering 37(6): 963-969.

Grimmond, S., S. Isard, et al. (1992). "Development and evaluation of continuously


weighing mini lysimeters." Agricultural and forest meteorology(62): 14.

Goulart, Solange. Sustentabilidade nas Edificações e no Espaço Urbano [recurso


eletrônico], p. 1-32. Disponível em:
https://labeee.ufsc.br/sites/default/files/disciplinas/ECV5161_Sustentabilidade
_apostila_0_0.pdf. Aceso em: 01 mar. 2021

HEINEINE, Maria Cristina A. de Souza. Cobertura Verde. Belo Horizonte: Escola de


Engenharia da UFMG, 2008.

Hutchinson, D., P. Abrams, et al. (2003). Stormwater Monitoring Two Ecoroofs in


Portland, Oregon, USA. Greening Rooftops for Sustainable Communities. Chicago,
Illinois: 1-18.

Pereira, Manoela de Freitas. Teto verde: o uso de coberturas vegetais em edificações.


Rio de Janeiro. 2007, p.1 a 11.

P'ng, J., D. Henry, et al. (2003). Stormwater Management Planning and Design Manual.
M. o. t. Environment: 379
40

Teemusk , Ü. Mander. Potencial Greenroof para reduzir as flutuações de temperatura


de uma membrana de telhado: um estudo de caso da Estônia. Revista Environ. volume
44, 2009, p. 643 - 650

Voyde, E. A. (2011). Quantifying the Complete Hydrologic Budget for an Extensive


Living Roof. Doctor of Philosophy, The University of Auckland.

Van Genuchten, M. T., F. J. Leij, et al. (1991). The RETC Code for Quantifying the
Hydraulic Functions of Unsaturated Soils. J. Williams, U.S Environmental Protection
Agency: 55.

Voyde, E., E. Fassman, et al. (2010). "Hydrology of an extensive living roof under sub-
tropical climate conditions in Auckland, New Zealand." Journal of Hydrology 394(3-4):
384-395.

Voyde, E. A. (2011). Quantifying the Complete Hydrologic Budget for an Extensive


Living Roof. Doctor of Philosophy, The University of Auckland.

Você também pode gostar