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Não pertencem a um só domínio ou espaço legislativo, mas a vários: são relações “plurilocalizadas”.
(ver infra)
o casamento é uma relação jurídica privada. E Internacional? Sim, visto que esta relação tem
contacto com vários ordenamentos jurídicos (português, francês, iraniano, alemão). Podemos
esfera dos atos atinentes à instituição da família. Por toda a parte e a todo o momento, homens de
todos os países e latitudes criam uns com os outros mil contactos e relações da autêntica vida em
sociedade – uma sociedade de indivíduos à escala mundial -, juntando novas malhas à teia de um
comércio jurídico internacional sempre em crescendo.
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Esta solução intuitiva é o método clássico/ tradicional/conflitual. Perante uma relação jurídica
internacional escolhe-se uma lei. Chamamos método conflitual do DIP pois utiliza um grupo de
normas designadas regras de conflitos. São normas jurídicas que propõem resolver os problemas de
concurso entre preceitos jurídico-materiais procedentes de diversos sistema de direito, ou seja, são
regras/normas que resolvem problemas de Direito Internacional Privado escolhendo uma das leis em
conflito. As questões do tipo assinalado são resolvidas em cada Estado ou de acordo com normas do
direito desse Estado. Cada Estado tem o seu DIP para uso interno – a sua interpretação própria do
DIP.
aplicação dos respetivos sistemas jurídicos, poderiam tais questões receber a solução uniforma
correspondente à vocação universal do DIP. Como, porém, esse consenso não existe, é prática
corrente de cada Estado formular, para resolução dos conflitos de leis, as normas que tenha por mais
convenientes e mais justas – regras de conflito.
Neste contexto, impõe-se saber como desempenham as regras de conflitos essa sua função. A
técnica usada consiste em a regra de conflitos atribuir determinada questão ou função ao
ordenamento jurídico que for designado por certo elemento da situação de facto. O referido
elemento consiste no designado “elemento de conexão”. Através da concretização do fator de
conexão, tornam-se conhecidas a lei e a norma material chamadas a resolver a questão de direito
proposta.
O elemento de conexão tanto pode referir-se à pessoa dos sujeitos (nacionalidade, domicílio,
residência), como ao facto jurídico em si mesmo (lugar da celebração ou da execução do contrato,
lugar da prática do facto), como ainda à situação da coisa objeto do negócio jurídico. Daqui se
compreende que as normas de DIP não se propõem fixar um regime material de disciplina das
relações da vida social; elas assumem natureza meramente instrumental: indicam a lei substantiva
que fornecerá o regime aplicável.
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Relativamente ao exemplo supra mencionado (casamento entre o Sr. A e a Sra. B), será que não
contacto com ela, ou seja, escolhe-se a lei que tem contacto com o caso. Um princípio semelhante
ao princípio da não transatividade é o princípio da não retroatividade das leis -» quaisquer factos
Mas será que devemos aplicar a lei portuguesa em todas as situações que acontecem em
Portugal?
Em face de relações privadas que contactam com vários ordenamentos jurídicos (quer pela
nacionalidade ou domicílio dos sujeitos, quer pelo lugar onde devem ser executadas as obrigações,
quer pela situação das coisas) impõe-se questionar em qual desses ordenamentos será procurada a
solução jurídica para a questão decidenda. Dada a conexão existente entre a situação jurídica e as
várias ordens jurídicas, haverá que escolher dessas ordens jurídicas a que seja mais próxima daquela
situação, ou seja, aquela que com ela tenha contacto mais forte ou mais estreito. Determinar qual a
ordem jurídica é a que apresenta tal conexão mais forte é, exatamente, o problema a que o DIP se
propõe a dar resposta.
Não seria decerto boa solução sujeitar uma situação plurilocalizada à autoridade do direito local –
se tais situações jurídicas apresentam conexões com diversos ordenamentos jurídicos, não fará
sentido impor-lhes, em todo o caso, a lei nacional. Noutro sentido, poderá também questionar-se se
seria legítimo aos tribunais nacionais, quando chamados a conhecer uma situação plurilocalizada,
aplicar, independentemente das circunstâncias do caso, as leis desse país.
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corresponde ao arcaico sistema da TERRITORIALIDADE DAS LEIS, sendo uma das primeiras formas
de resolução dos problemas de DIP.
A favor de uma tal visão das relações internacionais poderiam convocar-se alguns argumentos:
❖ As leis nacionais presumem-se boas e justas, sendo-o tanto para os nacionais como para
os estrangeiros;
portuguesa. No entanto, o princípio da não transatividade diz que em caso alguém se aplicaria
uma lei a uma situação que não tivesse contacto com ela.
❖ Instabilidade das relações jurídicas internacionais, visto que o estatuto de uma pessoa ou
No entanto, a lei das Filipinas não tem divórcio, logo, no momento em que ela entrasse nas Filipinas
o estado civil de A era casada. Depois voltava para Portugal e seria divorciada.
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❖ Insegurança jurídica: as partes nunca poderiam saber quais as regras que se aplicam.
A e B são israelitas e, portanto, não têm o dever de fidelidade. Caso A e B viessem passar
férias a Portugal, assim que chegassem, o seu comportamento poderia ter que mudar, visto que
em Portugal há o dever de fidelidade.
Concluindo, o princípio da territorialidade foi afastado no final do século XVIII, o que significa
que em Portugal se aplica a lei estrangeira. Os tribunais portugueses aplicam lei estrangeira. Se não
existe princípio da territorialidade significa que os litígios decididos em Portugal não são
estranho).
Isto sem prejuízo de a lei nacional não se limitar a regular situações completamente absorvidas na
vida jurídica local. O que tal princípio significa é que os Estados reconhecem consensualmente que
nem sempre a sua lei é a mais bem colocada para ser aplicada a determinada situação jurídica,
aplicando, em tais casos, lei estrangeira.
Nota: Não precisamos de DIP porque são situações que se resolvem com o princípio
da não transatividade, ou seja, aplica-se a lei em contacto com o caso.
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transatividade.
plurilocalizadas.
Porque é que só as relações jurídico-privadas são objeto da nossa disciplina? Porque é que a
nossa disciplina não regula as relações jurídicas internacionais de direito público? Porque é
que não determina a lei aplicável a uma relação fiscal internacional? Ou a lei a aplicar numa
relação administrativa internacional?
Como dito anteriormente, o direito internacional privado aceita a aplicação de lei estrangeira.
No entanto, no direito público não tem este pressuposto fundamental visto que para o Estado é
indiferente a aplicação da lei nacional ou estrangeira. Aqui o Estado é o interessado.
Já o Direito Internacional Privado preocupa-se com a aplicação da lei que responde melhor
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Até este momento, referimos o DIP unicamente ao problema do conflito de leis, mas residirá
em tal questão todo o objeto desta disciplina? A este respeito identificam-se várias orientações, a
saber:
1
POSIÇÃO MINIMALISTA (Alemanha): A doutrina Alemã, adotada também na Itália, restringe
ao problema do conflito de leis o âmbito do DIP. Para os autores germânicos, o DIP é tão somente
um Kollisionsrecht (direito limitador, direito de fronteiras), sendo todavia prática corrente os tratados
e manuais alemães dedicados a este ramo da ciência jurídica ocuparem-se também das matérias do
direito processual civil internacional, com especial destaque para a do reconhecimento e execução de
Problema do conflito de leis: questão de saber qual a lei aplicável a uma relação jurídica
internacional. Qual a forma clássica/tradicional de resolver estes conflitos?
Através das regras de conflito: Norma que escolhe qual a lei aplicável a uma relação jurídica
POSIÇÃO MAXIMALISTA (França): Para além do problema do conflito de leis, existem outros:
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convenções antenupciais
Dentro da doutrina francesa há uma corrente que ainda reconhece um sexto problema:
Esta corrente é seguida por Pillet, e tem um seguidor em Portugal, Machado Villela.
Restante doutrina:
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É inegável a importância do papel que o princípio do reconhecimento dos direitos adquiridos tem
a desempenhar em DIP; Todavia, esse papel não é de molde a justificar a referida autonomização
com a generalidade dos sistemas jurídico, aquele problema – o da averiguação da lei competente –
resolve-se pelo DIP da lex fori: as regras do direito de conflitos português tanto se aplicam às
normas dessa lei que precisamente se referirem a tal situação: elas dirão se no caso concentro há ou
não direito adquirido a respeitar.
reconhecimento da competência da lei presidiu à sua constituição e se não é pelo facto de se tratar
do reconhecimento de um direito adquirido no estrangeiro que a questão da determinação da lei
aplicável deixa de se pôr em face das regras de conflito da lex fori – temos de concluir que aquele
problema não é um problema autónomo relativamente ao do conflito de leis.
Para sabermos se reconhecemos este testamento, temos de saber qual a lei aplicável. Há um
reconhecimento deste testamento se ele for válido para a lei competente. Não é um problema
autónomo.
3
CORRENTE MITIGADA/ INTERMÉDIA (Anglo-saxónica e seguida em PORTUGAL): Diz-nos
que o âmbito de DIP não é tão amplo como diz a corrente maximalista mas também não é tão
pequeno como diz a corrente minimalista.
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2. Conflito de jurisdições;
3. Reconhecimento de sentenças estrangeiras.
Porque são só estes os problemas que o DIP trata? Porque não incluir o direito de
nacionalidade e o direito dos estrangeiros?
que dão a solução ao problema. Os outros dois problemas são compostos por normas diretas. Por
essa razão é que só os três primeiros problemas são problema do DIP.
Em conclusão
Vimos atrás que segundo a orientação da doutrina francesa, adotada entre nós por Machado
Villela e outros autores, há que incluir no DIP, ao lado das matérias de conflitos de leis, da
nacionalidade, a da condição jurídica dos estrangeiros e a dos conflitos de jurisdições ou
competência internacional dos tribunais. Vejamos agora se tal diretiva se justifica cientificamente.
Diante do problema da delimitação do DIP, dois caminhos nos oferecem. O primeiro é fazer
consistir o seu objeto numa matéria fortemente homogénea, núcleo de questões da mesma
natureza, a resolver por métodos idênticos. Tal a aspiração e até o pressuposto, segundo as ideias
Pois seguindo por este caminho, a atitude correta será então reduzir o objeto de DIP ao
conflito de leis (escolha da lei aplicável) e de jurisdições (escolha da jurisdição competente). Ao DIP
competirá indicar por que legislação se resolvem as questões emergentes das relações privadas
internacionais e outrossim as regras sobre a competência internacional dos tribunais e o
reconhecimento das sentenças estrangeiras. Neste campo, com efeito (referimo-nos ao do conflito
de leis em sentido estrito), trata-se de princípios jurídicos de uma natureza muito especial, pois são
princípios que, em regra, nada dizem sobre o sentido da composição dos conflitos de interesses,
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nem sobre os direitos e deveres dos indivíduos uns em face dos outros, quer em geral, quer sob o
ponto de vista de uma relação em concreto. Aos problemas do comércio privado internacional
obvia-se aqui, pura e simplesmente, remetendo a decisão deles para o âmbito de uma legislação
direito “substancial”– mas normas puramente instrumentais- são normas de 2º grau. Dizem a lei que
se aplica, não o regime aplicável.
Muito diferente é o caso das regras de nacionalidade e a condição jurídica dos estrangeiros.
As primeiras são aquelas que, em cada Estado, enumeram os fatores de aquisição e perda da
daquele processo que vimos ser característico das normas de conflitos: a designação do sistema
jurídico que há-de definir a disciplina aplicável a dada relação factual. O Estado diz quais são os seus
nacionais, não o manda dizer por outros, nem tão pouco se imiscui na definição dos pressupostos de
Agora trata-se de apurar quais os direitos atribuídos no Estado local aos cidadãos estrangeiros, em
confronto com os nacionais. Ou melhor: trata-se de saber quais os direitos de que os estrangeiros
não gozam, exatamente pelo facto de serem estrangeiros. As normas referentes a esta matéria
contendem diretamente com o regime das relações e dos atos jurídicos em que intervenham
súbditos doutros Estados, são normas de capacidade: nada têm em comum, quanto à natureza, com
as regras de conflito.
Resta o caso dos conflitos de jurisdição. São patentes as suas analogias e pontos de contacto
com os conflitos de leis. Se numa hipótese está em causa um problema de lei competente, o que
aparece na outra é um problema e jurisdição competente.
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a lex fori como a dalgum país estrangeiro. E, assim, da atuação destas regras vem a resultar a
Ora não é isto o que se passa com as chamadas regras de conflito de jurisdições. Tais normas
limitam-se a indicar as hipóteses em que os tribunais do Estado a que pertencem têm competência
internacional.
O certo é que a diferença assinalada entre umas e outras normas – as de conflitos de leis e as
de competência internacional – não é relevante, pois que, como veremos, as denominadas regras de
conflitos podem ser, também elas, unilaterais. Mas outra diferença existe entre as duas referidas
categorias de normas. É que as normas de conflitos de leis decidem da aplicação aos diferentes casos
dos sistemas de direito privado em vigor nos diversos Estados, sendo, por isso, o direito privado a
sua sede natural. Não assim as normas de conflito de jurisdições, as quais- juntamente com as regras
sobre o reconhecimento das sentenças estrangeiras – pertencem ao direito processual (direito
processual civil internacional). Simplesmente, trata-se apenas de uma diferença de carácter formal e,
portanto, não significativa.
Nestes termos, e dentro da orientação metodológica apontada no início deste parágrafo, haveria
que considerar o DIP simplesmente como um direito de conflitos: um conjunto de normas relativas à
aplicação dos diferentes sistemas jurídico-privados estaduais e aos conflitos de jurisdições (domínio
Mas é possível considerar as coisas doutra maneira. Todas as questões focadas têm uma origem
comum: nascem das relações do comércio jurídico internacional. Estas relações obrigam muitas vezes
Depois, é forçoso conhecer também a condição jurídica concedida em determinado Estado aos
cidadãos estrangeiros. Também esta é uma questão prévia relativamente à do conflito de lais, porque
problema da lei aplicável a certo negócio jurídico só se põe depois de averiguado que as partes
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Dada esta interdependência de problemas, é bem natural a propensão de muitos para os estudar
em comum, atraindo-os para a órbita de uma disciplina unitária, que seria justamente o DIP. Demais
sendo certo que na raiz da solução de tais questões se encontram muitas vezes considerações de
privadas internacionais.
Por nós, sem embargo de reconhecermos a valia das considerações expostas, e a despeito de ser
a sistematização apontada a tradicional no nosso país, iremos seguir um caminho algum tanto
diverso.
predominantemente, um direito de conflitos. Mas isto não quer dizer que sejam dele excluídas as
matérias da condição jurídica dos estrangeiros e da nacionalidade, ambas tão chegadas ao direito
efetivar. Versaremos aqui, por tal motivo, a referida matéria, assim como tratámos em números
anteriores doutros domínios afins do DIP. Quanto à nacionalidade, como ela constitui, no sistema de
DIP português, uma conexão relevante a sedes materiae será o capítulo dedicado à explanação da
matéria dos elementos de conexão.
Por isso dizemos que a inclusão desta matéria no âmbito do DIP constitui a solução
cientificamente correta do problema do seu enquadramento sistemático.
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Quanto ao conflito de jurisdições, às considerações aduzidas acresce o facto de ele se resolver
também através de regras de conflitos, regras que utilizam no desempenho da sua missão o método
da conexão.
NOTAS FINAIS:
Os outros 2 problemas que a doutrina francesa identificou e que nós dizemos que
não cabe no âmbito de DIP onde os colocamos? Apesar de estes 2 problemas não serem de
DIP, estão muitos próximos do DIP. São questões que se podem colocar perante uma relação
jurídica internacional. Por isso, os manuais portugueses habitualmente tratam deles.
Primeiro problema: conflito de leis – vamos estudar só a parte geral do DIP. Instrumentos
para determinar a lei aplicável. Mas não vamos ver todas as regras de conflitos, ou seja, a parte
especial. Vamos ver como funciona mas não vamos ver todas as normas de conflito. Mas com
Quarto e quinto problema: (apesar de não fazer parte do DIP, habitualmente estão
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Conflitos positivos de nacionalidade: Como tratamos as pessoas que têm mais do que uma
nacionalidade?
Conflitos negativos de nacionalidade: Como tratamos as pessoas que não têm
nacionalidade (apátridas)?
Artigo 27.º
Se alguém tiver duas ou mais nacionalidades e uma delas for portuguesa, só esta releva
Se uma pessoa tiver duas ou mais nacionalidades, mas nenhuma for portuguesa?
Artigo 28.º
ou, na falta desta, a do Estado com o qual mantenha uma vinculação mais estreita.
Nacionalidade do país onde tenha ligação mais forte. Esta parte final do artigo 28.º não escolhe
a nacionalidade, passa a responsabilidade da escolha para o julgador. Temos a consagração judicial
do princípio da proximidade. Não é o legislador que escolhe a lei mais próxima mas sim o julgador,
face ao caso concreto. Qual o problema da consagração judicial do princípio da proximidade?
Insegurança Jurídica. As partes não sabem à partida qual vai ser determinada como
nacionalidade.
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Ac. Micheletti: O Sr. Micheletti era italiano e Argentino e residia na Argentina. Era dentista e
decidiu abrir um consultório em Espanha. Podia o Sr. Micheletti abrir um consultório e exercer uma
atividade económica num país onde não é o da sua nacionalidade? Invocou em Espanha a sua
qualidade de cidadão europeu (Italiano). No entanto, o Sr. Micheletti tinha duas nacionalidades o
que quer dizer que estamos perante um conflito positivo de nacionalidades. O art. 9.º do Código
Civil Espanhol é exatamente igual aos artigos 27.º e 28.º da Lei da Nacionalidade. Assim, as
autoridades espanholas vieram dizer que o Sr. Micheletti era argentino e se é Argentino não é
cidadão europeu, pois a residência é na Argentina. Logo, não podia abrir o consultório. Não havia
liberdade de estabelecimento.
O Sr. A impugnou o ato espanhol e suscitou o reenvio prejudicial (quando os tribunais nacionais
pedem cooperação dos tribunais organicamente comunitários). Será que o Direito da União
Europeia é incompatível com DIP Espanhol, que estava resolver assim o conflito de
nacionalidade? O DIP sofreu uma correção pela jurisprudência do Tribunal de Justiça da União
Europeia Cada Estado é que decide como resolver os conflitos de nacionalidade, mas se
estiver em causa um direito conferido pela cidadania europeia, o DIP nacional não pode
desconsiderar a nacionalidade europeia.
1. A lei pessoal do apátrida é a do lugar onde ele tiver a sua residência habitual ou, sendo
Na falta de residência habitual, considera-se domiciliada no lugar da sua residência ocasional ou,
se esta não puder ser determinada, no lugar onde se encontrar.
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2 Princípios fundamentais:
Os estrangeiros têm os mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres que os
portugueses.
EXCEÇÕES:
portugueses certos direitos pelo facto de ser português, negamos aos nacionais desse Estado
o mesmo direito que eles negam aos cidadãos portugueses.
Vamos iniciar o estudo do conflito de leis, ou seja, determinar qual a lei aplicável às relações
jurídicas plurilocalizadas. O método tradicional para resolver problemas de DIP, como visto
anteriormente, é o método conflitual, pois utiliza regras de conflito. Assim, direito de conflito pode
ser utilizado como sinónimo não rigoroso de DIP.
As regras de conflito estão progressivamente a ser substituídas por regras de conflito que não têm
fonte nacional mas sim, fonte europeia. Estamos a assistir a um fenómeno de europeização do DIP,
ou seja, regras de conflito que vigoram em todos os estados membros da União Europeia.
A questão que se coloca é a de saber se o DIP, nesta parte de conflito de leis, é um mero
somatório de regras de conflito. Ou será que tem princípios jurídicos próprios que orientam o
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funcionamento do DIP? Questão de saber se a regra de conflito é um prius metodológico, isto é, se
Ora, o DIP é muito do que o conjunto de regras de conflito. Resolvemos uma série de casos sem
as regras de conflitos. Temos muitas vezes princípios que resolvem conflitos jurídicos sem as regras
de conflitos. Quais são os valores e princípios que o DIP visa alcançar através de regras de
No domínio do DIP, é a valores de certeza e estabilidade jurídica que cabe a primazia: a “justiça”
do direito de conflitos é predominantemente de cunho formal. Ao DIP compete organizar a tutela
das relações jurídicas plurilocalizadas. São relações estas que, exatamente em virtude de pertencerem
a diversos espaços legislativos, se encontram numa situação de particular instabilidade. É função do
DIP reduzir essa instabilidade ao mínimo possível, assegurando o respeito das referidas relações
jurídicas onde quer que um interesse legítimo – designadamente o de evitar que as justas
expectativas das partes e de terceiros sejam frustradas – faça surgir a necessidade de obter para elas
a proteção da lei.
Para tanto convirá, além do mais, admitir à partida a aplicabilidade às diversas situações factuais
de todas as leis que com elas tenham estado conectadas no momento da sua constituição,
modificação ou extinção. A missão das normas de conflitos consiste em indicar a tarefa que é
adjudicada a cada um desses sistemas, em definir o plano, perfil ou efeito da situação concreta que a
cada um deles compete disciplinar; missão de que se desempenham designando os fatores de
Daqui se segue que os propósitos a que o DIP responde são dois. Em primeiro lugar, trata-se de
determinar a lei sob o império da qual uma certa relação deve constituir-se para que seja
juridicamente válida e possa tornar-se eficaz. Depois, também tida por aplicável em todos os demais
países; aliás, o reconhecimento internacional da relação em causa não estará assegurado. É verdade
que a esta questão – a do reconhecimento das situações constituídas no estrangeiro – pode ser
concedida uma certa autonomia: pode um Estado estabelecer na sua legislação que o
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é este o procedimento geralmente adotado: em regra, o reconhecimento pressupõe que a relação
tenha sido criada de acordo com as disposições da lei considerada competente pelo DIP do forum.
Por conseguinte, não é bastante dizer que o DIP tem por missão indicar a lei aplicável às relações
multinacionais: é indispensável acrescentar que, para cumprir de modo adequado essa missão, há-de
ele proceder em termos de a competência da lei assim designada ser suscetível de reconhecimento
universal.
Equivale isto a dizer que um dos princípios objetivos, senão primordial, visados pelo DIP é a
harmonia jurídica internacional.
ordenamentos jurídicos: Português, Espanhol e Francês. Será que o DIP vai atuar para conseguir
uma solução materialmente justa? Vai escolher a pior solução para aquela criança do ponto de
vista de justiça material? É isso que o DIP visa, a justiça material? NÃO!!
O DIP visa uma justiça formal, ou seja, o DIP quer aplicar uma lei que tenha uma ligação mais
próxima, mais forte, mais intensa e não mais justa. O DIP deve preocupar-se com quê ao
escolher?
A harmonia jurídica internacional tem a ver com o valor da estabilidade das relações jurídicas, ou
seja, que o estatuto das pessoas ou das coisas não variem por cruzar a fronteira. Como é que isso se
consegue? Se a lei que nós usamos para resolver um determinado problema for a mesma a lei que é
utilizada noutro país para resolver o mesmo problema. O princípio da harmonia jurídica internacional
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Como garantimos que a lei a aplicar seja a mesma? Através da unificação das regras de conflito.
Onde quer que o problema se coloque, a forma de resolução é a mesma, ao abrigo da mesma lei.
Uma das organizações que se dedica à unificação das regras de conflito é a Conferência da Haia
do Direito Internacional Privado.
Outra organização que está interessada na estabilidade das relações jurídicas internacionais é a
União Europeia, visto que o objetivo desta é a liberdade de circulação. A UE vem unificando as regras
de conflitos entre os Estados Membros, para garantir a estabilidade das relações jurídicas
internacionais. Assim, as pessoas são livres de circular. Assistimos então, como referido
anteriormente, a um fenómeno de europeização.
Artigos 41.º e 42.º do Código Civil -» remissão para Regulamento ROMA I (para
contratos celebrados depois de 2009);
Artigo 55.º do CCivil -» Regulamento ROMA III (divórcios iniciados depois de 21 de junho
de 2012).
Em conclusão: o legislador escolhe uma lei que não ponha em perigo a estabilidade das
relações jurídicas.
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Em Portugal estamos a aplicar à responsabilidade civil a lei alemã e Espanha está a aplicar
à responsabilidade civil a lei grega. A regra de conflitos portuguesa determina a aplicação da lei
alemã e a regra de conflitos espanhola determina a aplicação da lei grega. Aqui não existe
harmonia jurídica internacional. A lei alemã só permite uma indemnização de 1000€ e a lei grega
Isto gera um fenómeno negativo, que é o fenómeno do forum shopping (“corrida aos tribunais”)
– dá a possibilidade de as partes ao escolher o tribunal onde decorre a ação, conseguirem fazer
variar/manipular o resultado final. As partes em conflito tenderiam a tentar aceder, o mais rápido
possível, aos tribunais do Estado em que a lei aplicável lhes fosse mais favorável. Isto é Um efeito
plurilocalizadas. Nenhum sistema positivo o pode ignorar: com efeito, ele está na própria natureza
das coisas. Ignorá-lo seria o mesmo que negar, pura e simplesmente, o DIP. Todavia, isto não
significa que seja possível construir um sistema de DIP tomando unicamente por critério e guia o
princípio da harmonia internacional: se só ele estivesse em causa, é manifesto que o conteúdo das
Por outra parte, embora a importância do objetivo apontado seja inegável é evidente que ele não
proferidas num país diferente daquele onde se pretende o respetivo exequatur. Mas já a necessidade
de proteção das expetativas das partes se manifesta aqui com bem menor intensidade: neste
domínio, é a outros interesses que pertence a primazia.
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legislador interno, no momento de elaborar essas normas, estiver atento às soluções geralmente
admitidas e se esforçar sempre por adotar critérios que por sua razoabilidade sejam verdadeiramente
suscetíveis de se tornar universais, esse legislador estará realmente imbuído do autêntico espírito do
DIP e compenetrado da missão internacional que lhe cumpre levar a cabo. Por outra via, o referido
princípio da harmonia jurídica internacional levar-nos-á também a preconizar que o DIP disponha
dos instrumentos e técnicas adequados a corrigir o jogo normal das regras de conflito, em ordem a
promover a uniformidade das decisões judiciais a despeito das importantes divergências ainda
existentes entre os diversos sistemas nacionais.
Ao invés da harmonia internacional, não está este novo princípio ligado à natureza específica do
DIP: no fundo, o que ele exprime não é senão a ideia de unidade do sistema jurídico, a ideia de que
no seio do ordenamento jurídico as contradições ou antinomias normativas são intoleráveis. Ora o
jogo das normas de conflito, na medida em que conduz por vezes à convocação de duas leis para a
resolução do mesmo ponto de direito, presta-se de modo singular à criação de situações deste
género. Assim acontece, desde logo, quando a controvérsia respeita a duas relações jurídicas
distintas, submetidas a leis diferentes, e todavia tão estreitamente interligadas a que a decisão
quanto a uma delas atingirá forçosamente a outra.
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Sr. A tem nacionalidade grega, residente em Atenas (Grécia). Pai da criança F, que mora na
Alemanha. Mora com a mãe que é Alemã (residência e nacionalidade). Ele pretende visitar o filho e
a mãe opõe-se. É uma relação jurídica internacional? Sim, tem contacto com vários ordenamentos
jurídicos.
Regra de conflito alemã dizia que as relações das crianças com os progenitores são
reguladas pela lei da Nacionalidade dos respetivos progenitores. Logo, para regular as relações
entre o pai e filho aplica-se a lei grega, enquanto que a lei aplicável que regula as relações entre
mãe e o filho, é a lei alemã.
A lei grega dizia que o pai tinha direito a visitar o filho. A lei alemã dizia que a mãe pode
opor-se à visita do pai. Chamámos leis diferentes onde a solução é diferente e incompatível.
Situações deste género podem também ser devidas a uma divergência de qualificações entre
duas leis chamadas a pronunciar-se sobre aspetos distintos do mesmo ato jurídico, ou sobre
questões jurídicas diferentes e todavia interligadas. Levanta-se aqui a questão de saber que
conflitos, de modo a evitar o mais possível o risco de duas leis vierem interferir na resolução da
mesma controvérsia. Nesta ordem de ideias, deveria recomendar-se a adoção de um único fator de
conexão para cada ato ou relação jurídica, sem distinguir, quanto àquele, a forma da substância,
nem, quanto a esta, o momento constitutivo da questão do conteúdo ou das consequências jurídicas
imediatas. Assim, para cada relação jurídica, se possível, deve aplicar-se uma única lei.
Como se resolveria esta questão em Portugal? Será que a regra de conflito se preocupou
com a harmonia material?
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propriedade. Qual a lei que vai dizer em que momento se transfere a propriedade?
Se o DIP se preocupa com a justiça formal, então escolhíamos a lei mais próxima que seria a
portuguesa. No entanto, os Srs. A e B querem que o negócio produza efeitos no Brasil, visto ser o
local onde o imóvel se encontra. Assim, segundo o princípio da efetividade, deve aplicar-se a lei do
país que está em melhores condições de fazer impor a sua legislação. Aplicar outra lei implica um
risco de não reconhecimento das nossas decisões judiciais, dos nossos contratos nesse país (que está
em melhores condições de fazer impor a sua legislação), OU SEJA, quando for de recear que a
aplicação da outra lei conduza a decisões desprovidas de valor prático, dado que não serão
reconhecidas.
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1. O regime da posse, propriedade e demais direitos reais, é definido pela lei do Estado em
cujo território as coisas se encontrem situadas.
regime de matrícula são reguladas pela lei do país onde a matrícula tiver sido efetuada.
O DIP não deve partir do pressuposto que há leis melhores do que outras. O DIP ao escolher a lei
aplicável não deve dar privilégio a uma lei em relação a outras. Não deve privilegiar a lei do foro em
relação a outras. Trata de igual modo as ordens jurídicas. Só vai haver harmonia jurídica internacional
O DIP deve escolher a lei que reduza o erro judiciário. Aplicar a lei que o juiz conhece melhor.
Qual é a lei que o juiz conhece melhor: A lei do foro. No entanto, parece que está em contradição
com o princípio da igualdade. Este princípio é um princípio subsidiário, ou seja, só deve funcionar
quando os outros quatro princípios estão assegurados.
NOTA: A matéria relativa à natureza e fontes de DIP não vai ser lecionada este ano.
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O direito transitório é, tal como o DIP, um sistema conflitual. Todavia, o direito transitório
propõe-se a resolver conflitos temporais de leis, fixando as regras segundo as quais será realizada a
aplicação temporal de normas concorrentes. Estes dois ramos do direito apresentam vários
pontos em comum:
✓ Pertencem à categoria “direito de segundo grau” (são compostos por “normas sobre
normas”);
✓ Regulam hipóteses de concurso de normas legais aplicáveis – têm em comum o problema dos
de uma lei antiga a determinados factos não deixa de pressupor que entre tais factos e a lei aplicável
há uma conexão espacial; a aplicação de uma lei, em resultado da aplicação de normas de DIP,
implica que a situação estivesse ligada a essa mesma lei num período de tempo em que ela é
aplicável);
que vêm tomar o lugar de outras normas, jurídicas (relações jurídicas que entram em
interferindo com situações preexistentes, às contacto com várias ordens jurídicas, permitindo a
quais passam a ser aplicáveis duas leis). aplicação simultânea das várias leis dessas ordens
jurídicas).
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problema nasce algumas vezes da coexistência de vários sistemas de direito no interior do mesmo
Estado. É o exemplo paradigmático do que pode suceder nos EUA, em que cada um dos Estados
Federados possui legislação civil própria. Estes conflitos interlocais têm comum com os conflitos
interestaduais a circunstância de cada sistema jurídico em conflito ter um território próprio (que não
coincide com o território do Estado). Isto implica que muitos dos critérios utilizados pelo direito
interlocal para resolver tais conflitos sejam idênticos aos critérios utilizados pelo DIP - DIP também
resolve conflitos de leis no espaço, logo, resolvem o mesmo problema. Além disso, também utilizam
regras de conflitos
ǂ As sentenças proferidas numa província serão exequíveis de pleno direito nas restantes.
Uma outra variedade de conflitos internos são os conflitos interpessoais. Agora, as várias leis em
presença não regem territórios distintos, mas distintas categorias de pessoas. É o caso paradigmático
dos Estados com sistemas jurídicos confessionais: ao lado do direito da confissão do Estado (ex.:
direito muçulmano), existem sistemas jurídicos próprios das outras comunidades religiosas, aplicáveis
aos membros destas comunidades na esfera do seu estatuto pessoal. Em Portugal estes problemas
não se põem, uma vez que é um Estado de legislação unitária (a mesma lei é aplicável a todas as
pessoas).
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O Direito Comparado é um ramo do direito que se dedica a comparar sistemas jurídicos. O DIP,
sendo direito interno pela fonte, tem a desempenhar uma função internacional: promove o
reconhecimento e a aplicação no âmbito do Estado em que vigora de conteúdos e preceitos jurídicos
estrangeiros. Por virtudes das regras do DIP, em princípio, as múltiplas instituições jurídicas existentes
algures no mundo recebem o visto de entrada no ordenamento do foro e tornam-se nele aplicáveis,
ou seja, o DIP escolhe o sistema jurídico mais adequado para regular uma relação jurídica
internacional. Será que há pontos de contacto?
assume a responsabilidade de cuidar de uma criança. Como sabemos se podemos reconhecer este
instituto jurídico da Kafala?
Não há nenhuma regra de conflito sobre a Kafala, visto ser um instituto jurídico
desconhecido entre nós. Então vamos encontrar uma regra de conflito para um instituto
Podemos concluir que, muitas vezes, o DIP só consegue funcionar recolhendo os frutos
do Direito Comparado. Um INSTRUMENTO ao Direito Internacional Privado. Só com a
comparação de sistemas jurídicos é que conseguimos fazer funcionar o DIP.
O direito privado uniforme é um ramo jurídico que intenta a supressão de conflitos de leis,
por intermédio de leis idênticas. Um exemplo de instrumentos de direito privado uniforme são as
Convenções de Genebra, as quais estabeleceram uma lei uniforme em matéria de letras e livranças
(além do estabelecimento de regras de conflitos, tipicamente incluídas no DIP). Tais normas são
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aplicáveis em todos os Estados aderentes, o que significa que em tais matérias não surgirão conflitos
de leis.
Com base no que foi dito, compreende-se a diferença entre os dois ramos do direito sobre
que versamos:
Ora, se algum dia o direito privado uniforme se estendesse a todos os sistemas jurídicos
(formando-se um “direito privado mundial” uniforme), então o DIP desapareceria, porquanto deixaria
de ter razão de ser um direito que pretende resolver conflitos entre leis quando a lei aplicável é a
mesma em todo o mundo (não haveriam conflitos de leis). Todavia, tal visão é puramente utópica.
Mesmo sendo criados instrumentos de direito privado uniforme, basta que um Estado não adira para
que o DIP mantenha a sua importância. Daí, aliás, que muitas vezes o direito privado uniforme e o
DIP sejam criados paralelamente. Ora note-se: as referidas Convenções de Genebra estipulam, em
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relação aos domínios em que operam, normas materiais uniformes para todos os Estados aderentes
– entre estes Estados não se colocarão, nessas matérias, conflitos de leis; mas, paralelamente,
estabelecem regras de conflitos, a pôr em prática sempre que se verifique um conflito de leis entre a
lei uniforme e a lei de um Estado não aderente ou sempre que o conflito diga respeito a aspetos não
regulados.
Que relações se podem estabelecer entre o DIP e o direito constitucional? Colocam-se três
problemas?
1. São as regras de conflito suscetíveis de entrar em colisão com os preceitos
constitucionais, e especialmente os relativos à matéria de direitos fundamentais? Ou seja, será
que uma regra de conflito (sendo uma norma meramente formal) pode ser inconstitucional?
2. Até que ponto devem os nossos tribunais recusar a aplicação a um preceito ou complexo
normativo estrangeiro, indiscutivelmente aplicável segundo as normas de DIP da lex fori, mas
que pelo seu conteúdo colida co algum dos direitos fundamentais consagrados na Constituição
Portuguesa? Ou seja, será que quando a regra de conflitos manda aplicar lei estrangeira, está
essa lei estrangeira submetida à Constituição do país do foro (país onde se coloca o problema)?
1.º Problema: Será que uma regra de conflito pode ser inconstitucional?
O primeiro problema levantou-se na Alemanha com o artigo 3.º, II, da Constituição de Bona, que
consagra o princípio da igualdade. Deviam ou não considerar-se contrárias ao preceito constitucional
as regras de conflitos da Lei de introdução ao Código Civil, na sua formulação originária, que fixavam
o direito aplicável com base na nacionalidade do marido? Assim, formaram-se duas correntes de
opinião:
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. A conceção tradicional que diz que as regras de conflito estão à margem de fiscalização
constitucional. Uma vez que as regras de conflito não são normas materiais, mas sim de 2.º grau
(normas sobre normas), não têm um conteúdo suscetível de violar a Constituição – as normas que as
regras de conflito escolhem podem violar a constituição mas as regras de conflito em si mesmas não.
Não podem ser inconstitucionais pois não violam a CRP, apenas escolhem a lei aplicável.
próprios vistos: propõe-se finalidades e norteia-se por princípios que não coincidem em regra com
os que se afirmam no plano de direito material. Contudo, os seus preceitos não são meros preceitos
de ordem, porque a ordem para que tendem não é arbitrária, cega a valores, antes uma
regulamentação orientada para certos fins: os objetivos que o DIP considerado globalmente
pretende atingir e os objetivos específicos colimados pelas suas diferentes normas. À justiça conflitual
– e por conseguinte ao sistema axiológico do ordenamento jurídico – não pode ser indiferente que a
lei aplicável, v.g., em matéria de relações entre os cônjuges, seja a lei pessoal destes ou a situação
dos bens do casal.
servir a justiça.
Só que a justiça que servem é de cunho predominantemente formal, nela avultando o
Imaginemos que ao definir as relações conjugais entre o marido A e a mulher B a nossa regra
de conflito diz que as relações em causa são reguladas pela lei da nacionalidade do marido (que é
até bastante igualitária). Mas, ainda assim, a regra de conflitos não será inconstitucional? A própria
escolha, o próprio critério de escolha de lei aplicável, é aquele que viola a constituição. O facto de as
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regras de conflito serem normas formais não as isenta de um controlo de constitucionalidade, uma
reguladas pela lei nacional comum (se ambos tiverem a mesma nacionalidade). Mas isto pode não
ocorrer, caso em que o número 2 manda aplicar a lei da residência habitual comum. É chamada
uma única lei para que não haja conflitos e se assegure o princípio da harmonia material. Se não
houver sequer uma residência nestes termos, o final do nº2 prescreve ainda aplicar-se a lei mais
estreitamente conexa com a vida familiar. Este elemento de conexão – “lei mais estreitamente
conexa” – é avaliado pelo julgador, desde 1977, em respeito do princípio da igualdade (pois antes,
não tendo os cônjuges a mesma nacionalidade, nem residência habitual comum, aplicava-se a lei da
nacionalidade do marido. Nesta hipótese deixava-se de atender ao interesse da mulher na aplicação
2.º Problema: será que quando a regra de conflitos manda aplicar lei estrangeira, está essa
lei estrangeira submetida à Constituição do país do foro (país onde se coloca o problema)?
Em princípio NÃO, mas há UMA exceção.
Ex: Num tribunal de trabalho português, está a ser julgado um litígio entre o senhor A
(canadiano) e a empresa B (norte-americana). A era trabalhador da empresa B, e o trabalho era
realizado na África do Sul. Intentou-se uma ação em Portugal com o seguinte problema: B tinha
despedido A sem justa causa.
Não podemos aplicar logo a lei portuguesa (embora estejamos num tribunal português) pois
não vigora o princípio da territorialidade! Sendo uma situação internacional (tem contacto com mais
do que uma ordem jurídica), temos de ver qual a lei que tem uma maior conexão com o caso, qual a
lei que deve ser aplicada. Esta lei vai ser definida por uma regra de conflito, que no caso diz que a lei
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aplicável é a da África do Sul, que admite poder haver despedimento livre (algo que a nossa
nos diz que deve haver uma paridade no tratamento entre as ordens jurídica, não devemos
privilegiar a lei do foro face a outra, não a podemos achar a nossa lei é melhor que a lei de outro
país. Ao submeter uma lei estrangeira aos nossos parâmetros constitucionais será que não
estamos a violar o princípio da igualdade de tratamento? A lei da África do Sul respeita a
Constituição da África do Sul. Ao “forçá-la” a cumprir a nossa CRP não estamos a respeitar o princípio
da igualdade de tratamento, estamos a privilegiar a lei do foro. Se a lei estrangeira for competente
para regular o caso, ela não deve ser submetida à nossa Constituição.
Outra razão para uma resposta negativa a esta questão é a harmonia jurídica
internacional. A solução dada no tribunal português deve ser a mesma que o tribunal sul-africano
(uma vez que é esta a lei a aplicar). Ao submeter a lei aplicável no caso à CRP iria haver instabilidade
das relações jurídicas, pois teríamos diferentes soluções. Por tudo isto, não se submete a lei
estrangeira competente à nossa Constituição.
Mas será isto sempre assim, sem qualquer limite? Imaginemos que uma lei estrangeira,
aplicável, permite o homicídio. Podemos tolerar a sua aplicação nos tribunais portugueses?
Exceção: o art. 22º C.C – ordem pública internacional é um expediente de Direito Internacional
Público que permite recusar a aplicação da lei estrangeira quando o resultado dessa aplicação seja
Não é pelo fato de uma lei estrangeira estar contrária à nossa CRP que não a vamos aplicar, mas
sim quando o resultado da aplicação da lei estrangeira for contrária aos nossos valores
tratamento das ordens jurídicas, isso seria pressupor que a nossa lei é melhor que a deles. E se
conduzir a casos chocantes? O DIP tem um instituto chamado ordem pública internacional que
recusa a aplicação da lei quando o resultado seja chocante e portanto, não é necessário fiscalizar a
constitucionalidade das normas estrangeiras. Basta o funcionamento da ordem jurídica internacional
para afastarmos a aplicação de leis que levem a resultados chocantes.
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Dr. Moura Ramos: defende que há casos em que a Ordem Pública Internacional não vai atuar
E se estivermos num dos casos em que a Ordem Pública Internacional não atua? O juiz vai aplicar
a norma estrangeira contrária à CRP?
Segundo o Dr. Moura Ramos: Isto é um problema académico porque em 99% dos casos a Ordem
Pública Internacional resolve, mas se não se estivermos num desses casos raros em que a Ordem
Pública Internacional não coloque o problema, o juiz deve fazer um controlo da constitucionalidade
tal consta da jurisdição portuguesa. Mas isto não violaria o princípio da paridade de tratamento
Ex: Morreu em Portugal, em 2015, o senhor A, francês mas residente no Algarve. Coloca-se
a questão de saber para quem vão os bens dele.
Artigo 62º CC: Indica-nos que a sucessão do senhor vai ser regulada pela lei da sua
nacionalidade, ou seja, lei francesa. A lei francesa deixa os bens aos filhos e nada ao cônjuge (apenas
recebe o usufruto, mas não a propriedade). No entanto o notário/juiz português crê que esta norma
(francesa) viola a constituição (francesa), o que realmente acontece. O que deve fazer o juiz
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francês não puder declarar a inconstitucionalidade da norma, então o juiz português também não
pode.
O porquê desta opção prende-se com a harmonia jurídica internacional, conferindo a um
juiz português os mesmos poderes do juiz do país estrangeiro. Assim, contribui para uma
uniformidade de soluções nos países envolvidos.
fundamentais.
para Itália e quiseram comprar uma casa em regime de comunhão de bens adquiridos. Será que
o casamento é válido em Itália onde não há casamento com pessoas do mesmo sexo?
A lei Italiana mandou aplicar a lei da nacionalidade comum dos cônjuges, ou seja, a lei
portuguesa. O que fez o juiz Italiano? Casamento com pessoas do mesmo sexo é chocante e
invocou a Ordem Pública Internacional. Não reconheceu o casamento logo a casa não está em
regime de comunhão.
O DUE tem vindo a alcançar harmonia jurídica internacional a vários níveis. O DUE tem uma
preocupação com isto, pois só assim alcança verdadeiramente as liberdades de circulação que
propugna (pessoas, mercadorias, capitais) tendo por isso vindo a unificar algumas matérias a nível
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europeu (fenómeno de europeização do DIP), através de estabelecimento de regras de conflito que
3. Os princípios do direito da união europeia têm de ser respeitados pelo DIP interno
Uma regra de conflito diz que à responsabilidade civil aplica-se a lei do local onde
ocorreu a atividade geradora do prejuízo. No entanto diz ainda que se o lesante for português
pode escolher a lei aplicável. Uma regra de conflitos deste género não poderia existir!
O princípio do reconhecimento mútuo diz-nos que os países confiam uns nos outros ao
ponto de todos terem vindo a assinar tratados que constituem a UE como a conhecemos hoje. Logo,
devem ter essa confiança mútua ao nível legislativo. Portugal deve confiar na legislação francesa e
vice-versa, bastando por isso em certas questões ser apenas cumprida uma lei do país de origem.
Este princípio é tido como semelhante às regras de conflito, que escolhem uma lei aplicável, devendo
nós confiar que essa lei também irá resolver o caso da melhor forma.
parte entende que não, que não se deve entender assim este princípio.
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NOTA: Há um ramo jurídico que está imune às regras de conflito e portanto aplica-se
sempre a lei do foro: Direito Processual Civil – os tribunais portugueses aplicam o direito
processual português. Em matéria de processo não posso escolher a lei aplicável. O Direito
Processual não influi na decisão. As regras de conflitos não determinam a lei aplicável processual,
1. CONCEITO-QUADRO: está para a regra de conflitos como a hipótese está para as normas
materiais. Determina a que casos é que a norma se aplica, ou seja, vai fazer a delimitação do campo
EXEMPLOS DE CONCEITOS-QUADRO:
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❖ O conceito-quadro, pelo contrário, não descreve situações da vida, mas sim conceitos técnico-
jurídicos (p.ex. sucessão por morte).
aplicar.
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Em função dos interesses que se fazem valer nos vários setores do direito internacional
privado que se optará, nos diferentes casos, ou por um sistema de conexão única, ou por um sistema
de conexão plúrima. Assim:
Artigo 52.º do CC
Parece que temos um elemento de conexão, mas podemos ter vários: os cônjuges podem
❖ Sistema de conexão múltipla alternativa: A regra de conflito tem dois ou mais elementos de
conexão mas estão numa relação de alternatividade. Chama duas ou mais leis numa relação de
alternatividade (uma ou outra). Qual? A que cumprir a finalidade indicada pela regra de conflito.
Juiz vai aplicar uma só lei: o que é que o artigo 11.º pretende? O legislador pretende a
validade, então aplique-se a lei que conseguir a validade do contrato.
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- Leis para que remete o artigo: - Lei do lugar onde o ato foi celebrado (PT);
Que lei aplicamos? O legislador quer a validade do testamento. Destas três a que considerar o
testamento válido.
Facilita! Princípio favor negotti -» pretende a validade de certos negócios em que as partes
jurídica à concordância das duas ou mais leis. Do que agora se trata é de subordinar a produção de
certo evento jurídico ao acordo de duas leis, ou seja, à satisfação dos requisitos estabelecidos em
Lei 2: Lei do nº4 – lei que regula as relações entre o adotando e os progenitores.
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Chama várias leis e aplica várias leis. Chama várias leis para evitar situações claudicantes: quer se
evitar que uma relação jurídica seja válida para uma lei e não por outra.
Como bem observa BATIFFOL «ele promete mais do que dá». Promete aplicar cumulativamente
as duas leis em presença, para ao fim e ao cabo aplicar apenas uma delas – a mais rigorosa e
restritiva.
❖ Sistema de conexão múltipla distributiva: Chama duas ou mais leis (múltipla) mas fraciona a
relação jurídica e aplica uma lei diferente a cada parte da relação jurídica.
Artigo 49.º do CC
Qual o elemento de conexão? Nacionalidade de cada elemento, de duas partes, logo estão
a ser chamadas duas nacionalidades, duas leis. (lei pessoal remete para o art. 31.º - a lei pessoal é
em princípio a lei da nacionalidade).
Sr. A é brasileiro e a Sra. B é Espanhola. Pretendem casar. Para sabermos a capacidade do Sr.
A, aplicamos a lei brasileira. Capacidade da Sra. B aplicamos a lei espanhola. Porque o legislador faz
isto? Para que haja a aplicação da lei mais próxima de cada uma das partes da relação jurídica.
Conseguimos aplicar para cada parte da relação jurídica a lei mais próxima. Assim, também
facilitam a constituição ou reconhecimento das relações jurídicas.
Sr. A tem 17 anos e a Sra. B tem 19 anos. A lei espanhola diz que só se adquire capacidade
nupcial aos 18 anos. No Brasil diz-se que só se pode casar aos 16 anos. Se o legislador escolhesse a
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lei espanhola então não podiam casar. Com o sistema de conexão múltipla os impedimentos da lei
❖ Sistema de conexão múltipla subsidiária: Chama-se duas ou mais leis mas só se aplica uma
lei. Parecida com a alternativa, mas enquanto nessa escolhíamos a lei que conduzia ao objetivo do
legislador, aqui chama várias leis mas numa relação de subsidiariedade, de hierarquia. Só chamamos
Artigo 53.º
Nota: Em Janeiro de 2019 o artigo 53 vai ser substituído por um regulamento europeu.
comum. E ainda há uma terceira conexão. Chama várias leis e vai tentar aplicá-las numa relação
de hierarquia. Só passamos para as subsidiárias, na falta da primeira.
Se os cônjuges não tivessem a mesma nacionalidade e não fossem dados mais elementos
subsidiários de conexão éramos remetidos para o art. 348.º/3 CC que diz que na impossibilidade de
determinar o direito aplicável o tribunal deve recorrer às regras de direito comum português. Ou
seja, sem subsidiariedade era aplicada a lei do foro, o que poderia defraudar as expectativas das
partes. Com este tipo de sistema evita-se que haja uma falta de conexão entre a lei aplicável e o
problema em causa.
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classificações.
REAL OU PESSOAL
É um elemento de conexão PESSOAL quando diga respeito ao sujeito da relação
jurídica.
Artigo 25º CC
Artigo 45º
FACTUAL OU JURÍDICO
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o Artigo 50.º: local de celebração – elemento de conexão factual.
Porque ao serem jurídicos, temos de nos socorrer de normas para os determinar, e o conceito
pode variar de sistema para sistema. Assim, não há harmonia jurídica internacional.
MÓVEIS OU IMÓVEIS
Os IMÓVEIS são aqueles que não podem ser alterados pelo sujeito, cuja concretização
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Artigo 53ºCC
3. CONSEQUÊNCIA JURÍDICA: aplicação da lei que foi indicada pelo elemento de conexão à
matéria designada/circunscrita pelo conceito-quadro.
Art. 46º: é a aplicação da lei do Estado da situação da coisa à posse, propriedade e demais
direitos reais.
O que faz a regra de conflitos? Escolhe a lei aplicável. As regras de conflito podem ser bilaterais
ou unilaterais.
Diz-se bilateral quando a regra de conflitos escolhe a lei aplicável, sendo que pode aplicar a
lei do foro (país onde se está a julgar o caso) ou a lei estrangeira.
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Exemplo: Artigo 25º - manda aplicar a lei da nacionalidade, mas pode ser a portuguesa ou
estrangeira.
Art. 3º do Código Civil Francês - ao estado das pessoas e à sua capacidade é aplicável a
estrangeira (francesa, chinesa, etc., depende do caso); a lei francesa está a delimitar os casos em que
se aplica a lei do foro – regra de conflitos unilateral.
As regras de conflitos unilaterais em vez de escolher a lei aplicável, dizem quando se aplica a
lei do foro.
Se aparecer um Senhor Francês, aplica-se a lei francesa;
Frase de exame: Se se tiver uma regra de conflitos unilateral, vai-se aplicar sempre a lei do
foro. AFIRMAÇÃO FALSA.
A regra de conflito francesa diz: aplica-se a lei francesa quando o sujeito for francês. A lei
francesa apenas se aplica ao Sr. Francês. Então em que casos é que com a regra de conflito
unilateral vamos aplicar a lei do foro? Quando o interessado tiver a nacionalidade do foro. Aplica-se
a lei francesa quando for francês. E na regra de conflito bilateral? Esta escolhe a lei aplicável.
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Bilateral, porque resolve mais facilmente o caso. Como escolhe a lei, dá sempre uma solução
ao caso.
Mas há duas grandes correntes que dizem que o legislador deve adotar regras de conflitos
unilaterais:
1
CORRENTE INTERNACIONALISTA DO SÉC. XIX
O legislador do foro não tem poderes para mandar aplicar a lei estrangeira. Isso seria invadir a
soberania do Estado estrangeiro. Estamos a mandar aplicar lei estrangeira e isso seria invadir a
soberania dos estados. O que nós podemos dizer é que a nossa lei não se aplica. Ou seja, aplicar a
lei estrangeira é invadir a soberania do Estado estrangeiro em causa.
Esta corrente não faz sentido nenhum: se o tribunal português manda aplicar a lei brasileira,
quem está a exercer a soberania é Portugal, porque o ato de soberania não está na lei, mas sim no
Estas correntes têm uma visão errada de soberania: soberania é aplicar a lei!!
Para eles, o DIP é uma disciplina que reparte os poderes de soberania entre os Estados; mas
esta visão está errada: o DIP serve para regular as relações privadas internacionais!! V.g., regular os
interesses do senhor A e da senhora B, que casaram e têm diferentes nacionalidades e querem saber
o seu regime de bens do casamento.
Outra crítica: estas correntes soberanistas só faziam sentido se nunca no foro se aplicasse lei
estrangeira.
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No caso da regra de conflito do CC francês, esta não conduz à aplicação em qualquer caso da
lei francesa. O sistema unilateralista não diz que se aplica sempre a lei nacional, do foro - porque este
sistema continua a aceitar a lei estrangeira - apenas diz quando se aplica a lei do foro e depois exclui
a sua aplicação noutros casos.
internacionais, ou seja, a harmonia jurídica internacional. Diz, este autor, que o unilateralismo
consegue perseguir melhor o objetivo do DIP (a estabilidade das relações jurídicas internacionais/
Senhor A
Nacionalidade: Brasileira
Residência: Portugal
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No Brasil: o artigo 7º (regra de conflitos brasileira) diz que a capacidade se afere pela
residência habitual do sujeito – remete para Portugal.
Há aqui uma desarmonia internacional - mandámos aplicar uma lei que não se considera
O nosso artigo 25.º passa a ser: a capacidade das pessoas rege-se pela lei portuguesa às
A lei brasileira passa a ser: a lei brasileira aplica-se às pessoas que residem no Brasil.
Lei australiana passa a ser: a capacidade para constituir sociedades é regulada pela lei
❖ No nosso caso, ele não tem nacionalidade portuguesa, não se aplica a lei portuguesa. Logo,
Aplicou-se a lei estrangeira com a regra de conflitos unilateral, com a única diferença de não
Assim, o unilateralismo permite a aplicação de lei estrangeira: aplicámos lei estrangeira, não do
foro.
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Em conclusão: QUADRI diz que “a aplicação de uma lei depende da sua vontade de
aplicação”. Quer isto dizer que:
Em primeiro vamos ver se a regra de conflitos do foro manda aplicar/tem vontade de
aplicar a lei do foro ao caso. No nosso exemplo não tem (remeteu para a lei brasileira).
Devemos aplicar a lei que tem vontade de se aplicar. Qual será? Temos de ver na regra de
conflitos estrangeira se ela também terá ou não vontade de aplicação. No exemplo seria:
Brasil diz que “à capacidade das pessoas residentes no Brasil aplica-se a lei Brasileira”
Austrália diz que “a capacidade é regida pela lei Australiana quando a sede é na
Austrália”
Assim, a lei PT não se quer aplicar (remeteu para outra pois A é brasileiro – BR). A lei
Será uma solução uniforme? Foi aplicada a lei que tinha vontade de ser aplicada (que remeteu
para ela mesma). Conseguiu-se a harmonia jurídica internacional e o reconhecimento de direitos
adquiridos no estrangeiro, o negócio será válido em todos ordenamentos jurídicos com os quais teve
Em segundo devemos aplicar a lei que tem vontade de se aplicar. No nosso exemplo
fizemos isto, aplicamos lei AUS, e ela tinha vontade de se aplicar. Fizemos esta aplicação
através de um sistema unilateral, pois não fomos nós a escolher em específico a lei AUS, foi
ela que tinha vontade de se aplicar e se escolheu a ela própria! Concretizamos assim o
O que também pode acontecer o oposto disto: todas quererem ser aplicadas (é o chamado
cúmulo jurídico).
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O que fazer, num caso e noutro?
Diz-se que se deve escolher a que tem o vínculo mais forte – mas isso é o reconhecimento do
falhanço do unilateralismo, porque se escolhe! Se é preciso escolher uma, estamos a voltar ao
sistema bilateral.
Conclusão: o unilateralismo não serve como sistema, porque gera dois problemas (o
cúmulo e o vácuo) que só se resolvem abandonando o unilateralismo e recorrendo ao
bilateralismo.
No entanto, a proposta de Quadri levanta uma importante questão: a das leis que não
querem ser aplicadas, nenhuma delas. Assim o bilateralismo deve ser corrigido com dois
instrumentos de DIP: o reenvio (sistema para abater o problema identificado por Quadri) e
reconhecimento de direitos adquiridos.
As regras de conflitos vão sendo alteradas. Quando temos uma situação internacional em que
tenha havido uma alteração da regra de conflitos devemos olhar à regra de conflitos nova ou à regra
de conflitos velha?
O Sr. A (inglês), residente em Portugal nasceu em 1960 e morreu em 2015. A partilha dele
Problema: qual a lei aplicável à sucessão? Em 1960 tínhamos outro código civil (Código de
Seabra). Depois viveu a maior parte da sua vida com a vigência da regra de conflitos do artigo 62.º
do CC português. Porém, o DIP das sucessões já foi unificado pelo Regulamento 650/2012.
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Se olharmos para o artigo 62º aplica-se a lei da nacionalidade (lei inglesa). Se olharmos para
a regra de conflito nova aplicamos a lei da residência (Portugal). Qual vai ser a lei a aplicar: a nova ou
a antiga?
Pode acontecer que a regra de conflitos nova tenha uma regra transitória - regula a sua
aplicação no tempo. A nova regra de conflitos pode estabelecer expressamente em que casos se
aplica a regra de conflitos nova ou a regra de conflitos antiga. Se estivermos a falar de regulamentos
europeus que tenham unificado o DIP, eles têm sempre regras transitórias. Neste caso, o
conflitos nova.
E se a nova regra de conflitos nada diz sobre a sucessão no tempo das regras de conflito?
Sr. A e Sra. B casaram em 1960. São brasileiros, residem na Argentina e casaram no Brasil e
hoje vieram comprar um prédio no Algarve. Querem saber qual a lei aplicável ao regime de bens
do casamento.
Em 1960 vigorava o Código de Seabra. Hoje vigora a regra de conflitos do artigo 52.º. Então,
aplica-se a regra de conflitos nova ou antiga? O nosso CC não tem normas transitórias. Casaram ao
abrigo de uma regra de conflito antiga e neste momento vigora uma norma de conflitos nova que
aplicar a regra de conflitos nova estaríamos a violar o princípio da não retroatividade das leis. Se
é aplicável às regras de conflitos, porque as regras de conflito são diferentes das regras materiais,
visto que são normas sobre normas. Elas escolhem a lei aplicável para uma situação e estabelecem
um juízo de proximidade. O critério de proximidade pode ser o mais moderno, não tem que ser o
mais antigo. A lei mais próxima é a lei que hoje em dia se considera mais próxima. Segundo este
autor, aplica-se a regra de conflitos nova. Não estaríamos a violar as expetativas das partes?
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Em princípio, aplica-se a regra de conflitos nova, SALVO se houver expectativas das partes
na lei antiga. Se o casal, em vez de residirem na Argentina, residissem em Portugal, já havia
expectativa das partes porque havia uma ligação ao ordenamento jurídico. Tem que haver uma
relação relevante.
Escola de Lisboa: vê as regras de conflitos como normas materiais. Só que são normas
materiais de regulação indireta (dão a solução indiretamente). Se virmos as regras de conflito como
normas materiais vigora o princípio da irretroatividade das normas. Temos que aplicar sempre a lei
de conflitos antiga.
O Sr. A e a Sra. B são irlandeses residentes em Portugal, casaram em 1980 e estão a discutir
Artigo 52.º do CC – a regra de conflitos não mudou. Iria aplicar-se a lei irlandesa. Qual lei
irlandesa? A que vigorava em 1980 ou a que vigora hoje? Em 1980 não havia divórcio; hoje o divórcio
é possível. Temos que ver o que o ordenamento jurídico irlandês diz relativamente ao direito
transitório. Problema próprio da lei irlandesa.
Aqui não muda nem a regra de conflitos, nem as normas materiais. Muda a concretização da
regra de conflitos.
Relações entre os cônjuges: Artigo 52º -» Lei aplicável: nacionalidade comum mas não
havendo nacionalidade comum passamos para a residência comum.
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Houve uma deslocação da relação jurídica: mudaram as conexões que estavam a ser
indicadas pela regra de conflitos. Que lei se vai então aplicar?
resolvido à luz do princípio do reconhecimento de direitos adquiridos. Entre as duas leis vamos
aplicar aquela que reconhecer o direito que se discute. É sempre a lei que reconhecer mais direitos
que vimos- problema de saber se a lei nova comporta ou não a aplicação de lei retroativa. Se o
problema é igual como é que ele se resolve? Vamos ver ao direito transitório da lei nova se ela
comporta ou não aplicação retroativa. Se não houver aplicação retroativa da lei nova, aplicamos
a lei antiga.
Não há aqui um problema? O direito transitório tenta aplicar a lei nova ou a antiga? A lei
nova. A lei nova, em princípio, é melhor que a antiga, no direito transitório. No entanto, este
raciocínio não vale no conflito móvel pois o que muda é a conexão da relação jurídica. O conflito
móvel é um conflito de regras no espaço, assim não devemos usar os critérios do direito transitório.
Ferrer Correia: Se o que mudou foi a relação jurídica então temos que procurar a
solução no DIP e não no direito transitório. Vamos ter uma solução para cada regra de conflitos. Com
o seguinte critério:
❖ Se estivermos a discutir a validade de uma relação constituída no passado o que
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Artigo 52.º: Estamos a discutir um efeito atual de uma relação jurídica duradoura, logo
Validade de relação jurídica no passado ou efeito atual de uma relação jurídica duradoura?
Validade de relação jurídica no passado logo aplica-se na lei antiga. Vícios do passado no
casamento.
Direitos reais (artigo 46.º):
Alguém tem uma coisa que antes estava em Espanha e agora em Portugal. Alguém comprou
uma coisa em Espanha e trouxe-a para Portugal. Que lei se aplica aos poderes do proprietário? A
lei nova.
Prazo de usucapião: pode haver casos em que temos de ver se a propriedade foi bem
adquirida e aí temos a validade de uma situação constituída no passado. Logo, aplicamos a lei
antiga.
No mesmo artigo podemos ter a aplicação da lei nova ou a lei antiga. Ter atenção ao caso. O
Nota: Se não conseguirmos perceber se aquela regra de conflito manda aplicar a lei antiga ou a
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Para a conceção clássica, é através de normas de conflitos que o direito internacional privado
cumpre a sua missão de prover à regulamentação das relações da vida jurídica internacional.
Certamente, em todos os sistemas jurídicos positivos se encontram normas materiais criadas
Esses preceitos de direito internacional privado material são por vezes estabelecidos por uma
convenção internacional, outras vezes oriundos de uma fonte jurídica interna. Em certos casos, a sua
aplicação pressupõe uma situação pertencente à esfera de competência da respetiva ordem jurídica
nacional; todavia, acontece também eles serem aplicáveis justamente a casos situados no âmbito de
Não compete ao direito internacional privado fornecer por si próprio a norma material aplicável ao
caso concreto, mas unicamente designar a lei a que a norma aplicável deverá ser pedida. Assim, o
problema do direito internacional privado define-se como um problema de escolha de lei, para
resolver o qual se utilizará o processo que consiste em determinar, de entre os elementos da situação
de facto que precisamente a põem em conexão com diversos sistemas de direito e tendo em atenção
a natureza da matéria ou questão jurídica em causa, qual o mais significativo. Aplicável à situação
que se considera (ou a tal dos seus aspetos ou momentos juridicamente relevantes) será justamente
a lei com a qual a mesma situação estiver conectada através desse elemento. As normas cuja função
é determinar a conexão decisiva e por conseguinte operar a «localização») das relações jurídicas são
as chamadas normas de conflitos de leis (Choice-of-Law rules, Kollisionsnormen). Cada uma delas
tem a seu cargo uma tarefa que consiste em delimitar um sector ou matéria jurídica (o estado e
capacidade das pessoas, o casamento e o divórcio, a forma dos negócios jurídicos, os direitos reais),
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Por seu turno, a escolha da conexão relevante obedece a uma diretiva geral, que e a seguinte:
na execução da aludida tarefa deverá proceder-se tendo em atenção que o fim com vista é encontrar
uma lei que seja verdadeiramente adequada ao seu objeto, isto é, função de regular determinada
matéria ou sector da vida jurídica. Aliás, esta adequação nada tem que ver com o conteúdo da lei,
com a justiça maior ou menor dos seus preceitos materiais, pois decorre tão só da relação que a
prende à situação a regular. Digamos que se não trata de escolher a melhor lei, mas a melhor
colocada para intervir - em razão, claro está, da localização dos factos, ou da relação dela com as
pessoas a quem estes respeitam.
concurso, a que melhor convenha, em termos de justiça material, natureza e circunstâncias do caso
vertente. Segundo a doutrina clássica, ou pelo menos na opinião de muitos dos que a representam e
interessados, a fim de evitar a frustração das expectativas que com base nelas foram concebidas
pelas partes e terceiros. Sem essa uniformidade de valoração, que a seu turno pressupõe seja a
mesma em todas as latitudes a lei tida por aplicável ao caso concreto, a segurança jurídica, fator e
condição basilar de toda a vida jurídico-social bem ordenada, torna-se evanescente.
Trata-se, pois, como vínhamos dizendo, de encontrar a lei que pela sua posição espacial
relativamente a determinada situação da vida exiba os melhores títulos para intervir - a melhor
competência. Resta dizer que este juízo de maior aptidão relativa de certa lei para o desempenho da
tarefa tida em vista se obtém através de uma delicada, por vezes extremamente custosa ponderação
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É dos EUA que procedem os ataques mais violentos contra a conceção tradicional do direito
internacional privado. Verdade seja que os autores desses ataques só formam frente unida enquanto
rejeitam a referida conceção: quanto, porém, a saber que nova via metodológica deverá propugnar-
se, o desacordo entre eles é profundo.
Não temos a pretensão nem a necessidade de expor e analisar aqui em detalhe as diversas
cambiantes do pensamento jurídico estadunidense acerca dos fins do direito internacional privado e
dessa escola, em ordem a podermos comparar o que de novo nos trazem com as ideias tradicionais,
com esse vasto cabedal de conhecimentos que uma experiencia multi-secular acumulou.
É um facto incontestável que entre o pensamento jurídico norte-americano dos nossos dias e
o pensamento europeu tradicional existe um grave dissidio quanto a pontos fundamentais da nossa
disciplina. Comecemos por referir os principais passos da evolução do direito internacional privado
americano que veio a culminar na situação atual.
Assim, na segunda metade do séc. XX, este método foi posto em causa pelos EUA (revolução
americana do DIP – revolução contra o método conflitual). Este movimento pôs em causa este
método europeu de resolução de conflitos de leis. A regra de conflitos não escolhe a solução,
escolhe o ordenamento jurídico que vai dar a solução, escolhe a lei aplicável independentemente do
resultado. Mas foi posto em causa, pela revolução americana, em três momentos:
1. MOMENTO JURISDICIONAL
Fase em que os tribunais puseram em causa este método: caso BABCOCK VS JACKSON
verificação do dano (the law of the place of injury). Esta lei era no caso a do Ontário, segundo a qual
o proprietário ou condutor de um veículo motorizado, que não seja utilizado no transporte
remunerado de passageiros, não responde pelos prejuízos sofridos pela pessoa transportada. Mas
não foi esta a decisão dada ao caso Babcock: a Court of Appeals de New York decidiu a contenda a
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favor da autora, por considerar aplicável não a lei do Ontário, mas sim a do Estado de New York (que
não contém semelhante disposição), por ser ele o Estado onde os protagonistas do caso residiam,
onde a relação entre eles se constituíra e onde tivera início e deverá ter acabado o passeio de fim de
semana ao Canadá.
A isto acrescia, alegou-se, não ser passível de contestação o interesse do Estado de New York
Estado da conexão mais significativa, além de ser também o mais direta e fortemente interessado na
situação.
Uma das mais importantes implicações do caso Babcock foi o ter ele reforçado e generalizado
a descrença nas regras de conflitos tradicionais. Não seria preferível renunciar a tais regras e
substitui-las pela simples indicação de certos fatores a que o juiz devesse atender na sua decisão? O
método da solução engendrada ad hoc, tendo em atenção determinados critérios ou fatores-guia,
assim como a natureza da questão jurídica controvertida e as circunstâncias do caso concreto, não
levaria vantagem ao da norma de conflitos de conteúdo rígido?
Note-se que o Babcock v. Jackson deixava em aberto esta questão, aliás, verdadeiramente
fundamental. Com efeito, das duas razões de decidir do acórdão da citada Court of Appeals, só uma
- e justamente a de que o Estado de New York é mais direta e fortemente interessado na solução do
problema levantado do que o Ontário, cujo interesse mínimo - apontava o caminho do casuísmo, a
interesse do Estado, a que se pretende aludir aí, não é outro senão o seu interesse em ver aplicada
uma das suas leis; ora este interesse dependerá, como é óbvio, do conteúdo da mesma lei e da
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Roma II.
A regra de conflitos está a escolher uma lei sem ver se é justa ou injusta; e, neste caso, o juiz
considerou que mandou aplicar uma lei injusta, ao que ele se recusa, porque é juiz. A regra de
conflitos serve para escolher a lei aplicável, preferencialmente, a mais próxima ao caso.
Por isso, neste caso, a lei mais próxima era a lei de Nova Iorque; a regra de conflitos não só é
injusta como cega – não vê a proximidade, escolher a lei aplicável sem ter em conta o caso; porque a
lei mais próxima das partes não é a lei do Canadá, mas a de Nova Iorque, é a que faz sentido. Isto
criou o descrédito total nas regras de conflitos. A partir daqui, os tribunais americanos sentiram-se
livres para não aplicar as regras de conflitos na resolução dos seus casos.
Foram propostos novos métodos para resolver o problema de DIP que talvez tenham sido
recebidos na Europa, agora já no séc. XXI.
1
MÉTODO DE CAVERS
CAVERS censura aí ao sistema da regra de conflitos o seu desinteresse pela solução a dar ao
caso concreto - o ela operar a escolha da lei por assim dizer de olhos fechados, isto é, o ela funcionar
por meio de elementos de conexão que fazem abstração completa do conteúdo substancial da lei a
que conectam a relação litigiosa. As regras de conflitos são regras de aplicação mecânica. Ora o
conflito de leis deve ser encarado não como um conflito entre ordens ou sistemas jurídicos, senão
como um antagonismo ou oposição concreta entre preceitos materiais: os preceitos que disputam
entre si a regulamentação de certo caso. O problema do DIP não é um problema de escolha entre
sistemas de direito, mas entre regras materiais.
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É, pois, forçoso resolvê-lo olhando ao conteúdo e fins dessas normas- as normas materiais
que se encontram em colisão.
O juiz só poderá dar por findo o processo de averiguação da lei aplicável depois de ter
comparado e criticado as soluções fornecidas pelas normas materiais em concurso.
A escolha da lei não deverá ser a resultante de uma simples operação mecânica, antes a ela
presidirá um critério de justiça material. Aliás, são dois os critérios por que se guiará o juiz: o da
justiça devida as partes e o dos objetivos de política legislativa prosseguidos pelas normas em
competição.
Prima facie, estas ideias conduziriam ao puro casuísmo, logo, imprevisibilidade das decisões
judiciais e incerteza do direito; o que para um jurista de um país de civil law seria razão de sobejo
para uma rejeição liminar. Importa, porém, advertir que CAVERS viria posteriormente a infletir o rumo
do seu pensamento e de tal modo que a viragem seria apelidada por EHRENZWEIG de contra-
revolucionária.
CAVERS da nova fase oferece-nos algumas regras destinadas a solucionar os conflitos de leis e
que seriam o produto ou o precipitado do seu método. A essas regras dá o autor o nome de
princípios de preferência.
Considerando que nem sempre é fácil chegar solução das questões emergentes das relações
internacionais através da análise do conteúdo e dos fins das normas em conflito, sensível por outra
via aos inconvenientes e perigos do método das soluções ad hoc, CAVERS julga necessária a
formulação de juízos de valor, que possam orientar os tribunais e justificar a preferência por uma
daquelas normas. E ele mesmo propõe, de resto a título meramente exemplificativo, alguns destes
juízos: são os célebres «principles of preference». Não se trata, aliás, senão de simples guias, critérios
de orientação para o juiz. Não têm eles o caráter rígido da verdadeira norma de conflitos, nem tão
pouco pretendem constituir um sistema completo nas duas únicas matérias a que respeitam: a
responsabilidade delitual e os contratos.
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Mas as diferenças existentes entre o caminho agora seguido por CAVERS e o método clássico
do direito internacional privado serão realmente tao importantes como se poderia julgar prima facie?
escolha. Tomemos, por exemplo, o primeiro dos quatro princípios que seriam aplicáveis em matéria
de responsabilidade civil extracontratual: «Quando a lei do Estado onde se verificou o dano (the state
of injury) consagra normas de conduta mais estritas ou estabelece medidas mais elevadas de
proteção financeira do que a lei do Estado onde o réu agiu ou onde tinha a sua residência, é a lei
daquele primeiro Estado que deve prevalecer, a menos que a existência de uma relação entre o autor
e a vítima do dano justifique a aplicação da lei que rege esta relação».
facto danoso, a lei do domicílio do autor do facto e finalmente, quando exista uma relação entre esta
pessoa e a vítima do dano, a lei reguladora desta relação. Tais as leis entre as quais haverá que
escolher. Como é evidente, a aplicabilidade de qualquer delas baseia-se na conexão que apresenta
com a situação da vida em que se levanta a questão de responsabilidade civil a resolver. Até aqui,
situações a regular, sem ter em conta o conteúdo das normas em presença nem, por conseguinte, a
justiça material.
conteúdo das leis em conflito (aplicável será a lei que conceder maior proteção à vítima do dano), o
outro parece utilizar o método tradicional da conexão (competência da lei reguladora de uma
relação determinada existente entre as partes – relação cuja natureza o autor não define - seja qual
for a solução que daí decorra para o problema de responsabilidade civil sub iudice).
Tendo assim por função determinar em cada caso a lei aplicável, o referido princípio de
preferência é, portanto, uma verdadeira norma de conflitos. Certo, trata-se de uma norma de
conflitos que se aparta do modelo tradicional, pois não se limita a utilizar um critério de conexão
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espacial, antes se referindo também, com vista determinação da lei aplicável, ao conteúdo dos
preceitos materiais em colisão. Mas não encontramos nós com alguma frequência, nos diversos
sistemas de direito internacional privado, regras de conflitos cuja aplicação desencadeia um processo
de avaliação das soluções a que conduzem a diferentes leis em concurso? Sem dúvida que sim;
É um ponto, este, que teremos ocasião de desenvolver mais adiante. Afinal, existe urna
semelhança inegável entre esta última posição de CAVERS e a doutrina tradicional, semelhança ainda
reforçada pelo facto de ser o mesmo o fim último das regras de conflitos e dos princípios de
preferência. Efetivamente, CAVERS considera que a validade destes princípios depende da sua
aptidão para serem incluídos num direito comum a todas as nações. Ao comungar nos pontos de
vista universalistas tão caros à doutrina tradicional do direito internacional privado, CAVERS e já hoje,
praticamente, um quase adepto do método clássico de resolução dos conflitos de leis.
não recoberta por normas de conflitos de conteúdo rígido, afigura-se-nos empresa irrealizável. Na
verdade, não é possível prever todos os tipos de conflitos de preceitos materiais suscetíveis de se
verificar. De resto, ainda que isso fosse possível, não o seria seguramente o formular para cada um
desses tipos uma válida razão de decidir, um princípio de preferência baseado no conteúdo das leis
em concurso e dotado de aptidão para ser incluído num direito comum a todas as nações. Pode
aceitar-se, v. gr., por motivos humanitários e sociais, que em matéria de filiação deva eleger-se a lei,
de entre as mais chegadas situação da vida sub iudice, que conduza aquisição do estado de filho.
Outrossim poderá eventualmente admitir-se, todavia com restrições substanciais, que estando em
causa a validade de um negócio jurídico haja de preferir-se a lei em virtude da qual o ato seja válido:
é que a conservação dos negócios é de per si um valor, na medida em que favorece e fortalece o
comércio jurídico, evitando as reações em cadeia que a invalidade de uma transação isolada tantas
vezes acarreta, ou impedindo que determinado efeito jurídico, tido por especialmente valioso, deixe
de ser alcançado.
Mas poderá porventura usar-se o mesmo tipo de raciocínio a propósito do problema da
admissibilidade do divórcio - porventura constituiria solução defensável a de optar sistematicamente
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pela lei por via da qual a dissolução do vínculo matrimonial se tome possível? Seja o que for que se
pense a este respeito, o certo é que a solução teria escassas probabilidades de acolhimento em
países menos abertos ao divórcio e não seria, por conseguinte, suscetível de se converter em critério
de aceitação universal. E como resolver os conflitos entre interessados, nos casos de sucessão ex
lege, se as respetivas pretensões, ambas legalmente fundadas, uma em face do direito do Estado da
última nacionalidade do de cuius, outra perante a lei do seu último domicílio, se revelam
inconciliáveis? Suponhamos que o conflito tem por sujeitos o Fisco e um parente do autor da
herança: deverá ele dirimir-se de acordo com a lei que prefira o Fisco ou conforme aquela que
favoreça o particular? Como chegar aqui a uma solução suscetível de acatamento universal, se o
problema contende com a própria constituição política, social e económica dos vários Estados?
E se a questão se localizar no campo das relações patrimoniais entre cônjuges, consistindo em
averiguar a quem pertence um imóvel adquirido por um deles na constância do matrimónio, a que
sistema jurídico confiaremos a decisão: ao do Estado nacional dos cônjuges, em que o regime
regime de separação tal como se entende nos países da Europa continental, mas antes em
consequência da falta de um regime de bens verdadeiro e próprio? Qual das duas conceções a mais
justa: aquela segundo a qual os laços do casamento cimentam entre os cônjuges uma comunidade
de interesses tanto morais como materiais, ou a que entende que o matrimónio deve respeitar a
independência dos cônjuges em todos os domínios? Que critério-guia ou ratio decidendi tipificado
ministraremos aqui ao julgador?
São razões desta ordem que nos levam a pensar que o método preconizado por CAVERS,
oferecendo embora certas possibilidades de utilização como método adjuvante do conflitual, não
poderá ser adotado como via principal para a resolução dos problemas do direito internacional
privado.
Se, como vimos, CAVERS acabou por se reconciliar em certa medida com a doutrina
tradicional, o mesmo se não poderá seguramente dizer de BRAINERD CURRIE, cuja posição
representa urna rutura total com o que de adquirido havia em direito internacional privado.
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normas materiais que estão em conflito (as dos EUA e as do Canadá). Não se deve escolher a lei
mais próxima, mas sim, entre as normas materiais, que conduzem a um certo resultado.
O que está em causa é um conflito de normas que dão indemnização (NY) e as que não dão
(CANADÁ).
O juiz deve escolher as normas mais justas – é um agente da justiça, escolhe a solução mais
justa. Não tem de escolher a solução mais próxima, vê as leis conectadas com o caso, vê as suas
CRÍTICAS: Mas isto redunda num enorme casuísmo - não leva a soluções iguais, leva a
insegurança jurídica, pois as partes não conseguiriam prever o que o juiz ia decidir, era o que ele
Para além disso, ia privilegiar a lei do foro, porque ele está integrado num certo sistema, e ia
sempre achar que a sua lei era a mais justa, porque achamos sempre as leis estrangeiras mais
injustas. Viola assim o princípio da paridade de tratamento.
CAVERS apercebeu-se e reconheceu estas críticas; tem de se acabar com este casuísmo e
imprevisibilidade do método que ele propôs. O legislador deve fazer princípios de preferência
(principles of preference): são orientações pensadas pelo legislador para os juízes, para que eles
Ex.: no âmbito da responsabilidade extracontratual: a lei mais justa é a que protege mais o
lesado, isto é, a que der uma indemnização maior.
Continua a violar a paridade de tratamento; pois quem continua a decidir qual a lei mais justa
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preferência são regras de conflitos, estão a escolher a lei aplicável. A única diferença é que atendem
à solução material. Mas há regras de conflitos que fazem isso, que escolhem a lei aplicável
atendendo à solução material: conexões múltiplas alternativas – têm um objetivo, indicam várias leis,
e aplica-se a que o legislador considera mais justa.
Para além disto, CAVERS escolheu princípios de preferência para algumas áreas, mas será
possível escolher para todas as áreas? v.g., divórcio, é possível ter um princípio de preferência que
seja completamente universalizado? A noção de justiça não é universalizada: cada sistema tem a
sua. Há áreas em que a noção de justiça é muito variável (forma dos negócios, divórcio, sucessão) –
não é possível fazer princípios de preferência para todas as áreas.
Mas chamou a atenção para o caráter cego das regras de conflitos: as tradicionais não olham
para o resultado, são cegas e para o seu caráter rígido: na primeira fase, quem ia decidir era o juiz,
tinha muito poder, porque ele consegue ver melhor as circunstâncias do caso do que o legislador,
tem mais dados do que ele – então, o método de CAVERS tinha a característica de dar muito poder
ao juiz.
2
MÉTODO DE CURRIE
campo de aplicação das normas materiais. Estas seriam analisadas sob o ângulo da noção-chave do
sistema- a noção de interesse do Estado (governmental interest).
A base da construção está em que, se toda a regra de direito tem por finalidade a realiza o de
urna certa «política» ou função sociojurídica, por seu turno o Estado, que edita a norma, tem
interesse na realização da política que a esta subjaz. Interessa ao Estado que às leis por ele criadas
seja dada aplicação, sempre que a atuação das respetivas políticas o exigir. O domínio de aplicação
de cada norma seria assim determinado em função do interesse estadual a que a mesma norma
responde.
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É destas considerações de base que o autor parte para uma categórica resposta ao problema
do conflito de leis. Perante uma situação internacional qualquer, os tribunais deveriam começar por
analisar as «políticas» implícitas nas várias leis em concurso e as circunstâncias que possam tornar
desejável a promoção de tais políticas no caso concreto. Se apenas um Estado tiver interesse na
realização da finalidade sociojurídica da sua lei, seria a lei desse Estado a aplicável. Em caso de
conflito de interesses insanável entre dois Estados, sendo um deles o do Forum, aplicar-se-ia a lex
fori; sendo estrangeiros ambos os Estados, deveria recorrer-se ainda lei do foro.
A doutrina de Currie é manifestamente inaceitável.
Há desde logo uma dificuldade que ela não consegue vencer. Para que o método
preconizado pelo autor fosse utilizável, seria forçoso demonstrar que é possível deduzir da ratio ou
da policy de todo o preceito de direito material os limites do respetivo campo de aplicação. Ora esta
proposição está longe de ser verdadeira. Na generalidade dos casos, nenhuma conclusão positiva se
pode tirar da análise do escopo e fundamento da norma quanto ao seu âmbito de aplicação espacial.
Tomemos os preceitos que em determinado país regem a matéria dos impedimentos matrimoniais:
alguém poderá dizer, olhando à conceção geral que os inspira e de que são expressão, que tais
preceitos pretendem aplicar-se - e aplicar-se unicamente - aos casamentos (a todos os casamentos)
a celebrar nesse país? Não deverá antes entender-se que a sua aplicação deverá ser condicionada
pela ligação existente entre os futuros cônjuges e o Estado a cuja ordem jurídica aquelas normas
pertencem? Por outra via, e supondo que a resposta a esta última pergunta seja afirmativa, acaso
poderá inferir-se do fundamento de tais disposições a natureza deste laço entre indivíduo e Estado
que por hipótese elas postulam? Deverá ele consistir no domicílio ou na nacionalidade? Em vão
procuraríamos na fonte indicada por CURRIE uma resposta para estas interrogações.
Vem do exposto que, em nosso entender, o critério de CURRIE não é adequado a possibilitar,
no comum dos casos, a resolução dos conflitos de leis. Mas há mais: com facilidade se demonstra
que a aplicação desse critério a certos grupos de normas nos conduziria a resultados absolutamente
insatisfatórios sob o ponto de vista da justiça conflitual. Olhemos as disposições concernentes à
forma externa dos negócios jurídicos. O seu escopo e fundamento é duplo: por um lado, trata-se de
chamar os interessados a refletir sobre o alcance do ato que pretendem praticar, de modo a que a
sua conduta venha a resultar de uma vontade esclarecida e seria e não dalgum impulso ocasional;
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por outra parte, trata-se também, através da exigência da redução a escrito do conteúdo do negócio,
de promover a certeza jurídica. Ora bem: na lógica do sistema de CURRIE, deveria seguir-se desta
análise que os preceitos de forma em vigor no país A tem de considerar-se aplicáveis, não só a todos
os negócios jurídicos a celebrar nesse país e que nele devam produzir efeitos (segundo objetivo
apontado), mas ainda aos negócios a realizar no estrangeiro por nacionais do mesmo país (ou, em
alternativa, por simples residentes); isto porque, analisada a questão à luz da outra finalidade citada,
os preceitos sobre o formalismo dos negócios jurídicos assumiriam (também) carácter vincadamente
pessoal, devendo a sua aplicação ser comandada pela ligação dos sujeitos (definida pela
nacionalidade ou pelo domicílio) ao Estado respetivo. Contudo, esta solução seria muito pouco
satisfatória, já que por seu intermédio se levantariam obstáculos excessivos livre contratação. É
tendência firme do direito internacional privado neste capítulo facilitar e estimular o desenvolvimento
Para além do exposto, a doutrina de CURRIE é condenada pelo facto de não se compadecer
com a primordial intenção e vero fundamento do DIP. Se o direito internacional privado existe
principalmente para promover e garantir a continuidade e estabilidade das situa 6es multinacionais, a
fim de proteger as expectativas das partes e a segurança do comércio jurídico, os seus critérios de
decisão não poderão deixar de ser os tradicionalmente seguidos. A esta luz, o que acima de tudo
importará é determinar a lei em ordem à qual os indivíduos hajam de planear a sua conduta, e em
termos de essa lei ser acatada, por competente, em todos os países. Só assim se alcançará aquela
uniformidade de valoração das situações multinacionais sem a qual toda a segurança jurídica
desaparece. Ora, a competência de uma lei só pode fixar-se através de critérios gerais de justa
repartição da competência legislativa pelos diversos Estados - e estes critérios não podem deixar de
ser construídos segundo uma ideia de conexão espacial: conexão dos próprios factos, ou das pessoas
a quem eles respeitam, com uma ordem jurídica determinada.
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que aliás acontece amiúde. Por outra via, tal critério seria absolutamente incapaz de assegurar a
necessária previsibilidade das decisões judiciais no campo dos conflitos de leis, já que a solução de
cada um deles só poderia resultar de uma análise casuística: uma análise, das «políticas» subjacentes
às diversas leis materiais que entre si disputam a regulamentação do caso concreto. Acresce a isto
que a regra conforme a qual o foro aplica sempre (em princípio) a sua própria lei leva
inevitavelmente a que a mesma situação da vida seja apreciada em países diferentes segundo leis (e
óticas) diferentes.
O método de CURRIE não conduz, portanto, à harmonia jurídica internacional, antes dela se
desinteressa por completo. De resto, não é só da harmonia jurídica internacional, desse ingrediente,
Olhando ao fim da norma material concreta, a sua aplicação ao caso pode justificar-se, pode
ela inclusivamente revelar-se, pelo seu conteúdo, como a melhor de todas as regras em competição -
e, contudo a valoração da situação sub judice segundo a mesma norma representar alguma coisa de
gravemente injusto, tendo em conta a circunstância de se tratar de uma relação plurilocalizada.
Como acertadamente observa KEGEL, a melhor lei sob o ponto de vista da disciplina que institui -
isto é, substancialmente - pode estar muito longe de ser a melhor, se considerarmos as coisas à luz
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Para CURRIE, a regra de conflitos é má porque desconsidera a policy das leis envolvidas – o
método conflitual deve escolher a lei aplicável tendo em conta a política legislativa dessa lei que vai
ser aplicada.
de conflitos.
Segundo CURRIE, o que o juiz deve fazer é, em primeiro lugar, identificar quais as leis em
contacto com o caso, por aplicação do princípio da não transatividade. Depois, deve identificar a
política (policy) legislativa de cada uma das leis aplicáveis. Isto é, qual o objetivo, a ratio de cada uma
das leis.
Lei de NY: para que quem sofreu danos, seja indemnizado, que haja uma reparação dos
danos por quem os causou.
Lei CANADÁ: incentivar o transporte gratuito (não havendo indemnização, para que as
pessoas saibam que não correm riscos ao fazê-lo).
Terceiro passo: ver qual dos dois ou mais Estados, cujas leis estão em contacto com o caso, é
que tem interesse em regular o caso, tem interesse político em regular aquela situação.
No nosso caso, o Canadá não tem, não se trata de um caso de transporte gratuito. Mas NY
Se tal acontecer e uma for a do foro, aplica-se a do foro – privilegia-se a do foro. O juiz está
vinculado à lei do foro, aos interesses do seu país, por isso tem de privilegiar a sua aplicação.
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Nesse caso, o juiz não pode escolher entre eles; não pode estabelecer que há um interesse
político-legislativo de um país mais importante do que outro, não pode escolher. Nesses casos, é
E SE NENHUM DOS ESTADOS, analisando-se a sua política legislativa, tiver interesse político-
legislativo a aplicar-se ao caso?
O juiz não pode não decidir, tem de decidir. O melhor é aplicar a lei do foro.
Casos em que o sistema funciona bem: nos casos em que há apenas uma lei com interesse
Tem problemas
aquelas em que o Estado tem mais interesse. Mas tal leva a que se dificulte a validade dos
negócios. OU SEJA: conduz muitas vezes à aplicação da lei mais restritiva, mais rigorosa,
porque normalmente são essas que têm um maior interesse estadual por detrás. v.g.,
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Casos em que o sistema funciona mal: duas ou mais leis com interesse em aplicar-se
✓ Violação do princípio da não transatividade: muitas vezes, aplica a lei do foro mesmo que
não tenha contacto com o caso.
Por causa disto tudo, rejeitamos este método, não teve muito sucesso.
Mas chamou à atenção para o facto de que o método de resolução de conflitos não
tem em conta as políticas legislativas.
PERGUNTAS EXAMES
O unilateralismo remete para as regras de conflitos unilaterais. Será que é? Ele não usa
regras de conflitos. Mas há algo de parecido no seu método com a regra de conflitos – a unilateral
(o país diz quando a sua lei é aplicável). Do método de CURRIE, cada Estado vai dizer quando a sua
Ou seja, as regras de conflitos unilaterais dizem quando é que a lei do foro se aplica; pelo método
de Currie é a política legislativa que dita isso.
E CURRIE é selvagem porquê? Porque não leva em conta os objetivos de DIP – Estabilidade
das relações jurídicas. Cada país está a aplicar as suas leis, pela sua política estadual, mas não é
para os objetivos internacionais.
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3 MÉTODO DE EHRENZWEIG
Em certos aspetos, a doutrina deste autor situa-se na mesma linha da de CURRIE. Na verdade,
tanto um como outro procedem à determinação da lei aplicável recorrendo a uma análise da política
legislativa em que se fundamenta a norma de direito material. Contudo, não são de importância
despicienda os pontos em que as duas teses divergem.
determinarem os limites de aplicação espacial das leis materiais, partindo da análise das políticas
legislativas de que elas resultam.
formalmente enunciadas por lei, doutrina ou jurisprudência, quer as não formuladas ainda e que
todavia correspondem a tendências com alguma expressão na prática judiciária (inchoate Rules of
Choice). Importa, porém, sublinhar que o Choice of Law problem não se põe senão depois de se ter
chegado à conclusão de que se não trata de um daqueles casos em que a aplicação da lei do foro
independente de qualquer escolha, no sentido de que não comandada por uma regra de conflitos
(Forum Law by Non-Choice). Uma vez esta conclusão obtida, cabe então às regras de conflitos do
Forum indicar a norma material aplicável. Na falta de regra de conflitos, a aplicação de uma norma
estrangeira só pode resultar da interpretação da norma da lex jori segundo a sua ratio ou a sua
policy. É, pois, da análise da lei do foro que decorre a aplicação da lei estrangeira.
Daqui resulta que são duas as diferenças fundamentais entre as teorias de CURRIE e de
aplicação do preceito material estrangeiro (nos casos em que a lei do foro não pretenda aplicar- se)
não da política legislativa específica a que esse preceito corresponda, mas daquela a que obedeça a
regra homóloga da lex fori.
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Inútil acrescentar que para o autor, se a interpretação da lei do foro nos não leva à aplicação
da norma estrangeira, é a norma da lex fori que deve ser aplicada. A lex fori cabe, portanto, um papel
residual.
Em face dos objetivos gerais que o direito internacional privado se propõe, nenhuma teoria
que preconize o primado -da lei do foro - como e o caso daquela que acabamos de expor - pode
justificar-se. Por nossa parte, é justamente ao princípio oposto que aderimos - o da paridade de
tratamento entre a lei do foro e as outras leis. É um assunto de que nos ocuparemos mais de espaço
noutro lugar desta exposição.
ultrapassa a zona dominada por essas normas, o sistema de EHRENZWEIG é suscetível da maior
parte das criticas que inevitavelmente suscita a doutrina de CURRIE; inútil voltar a esse ponto. Alem
materiais da lex fori, da consideração dos juízos de valor que as informam, que se parte para
determinar o âmbito de aplicação das normas estrangeiras.
entendida como a unidade essencial constituída pela razão que a determina e em que se apoia- os
objetivos sociais que visa- e o comando que estabelece. Atribuir a um preceito do sistema jurídico X,
ainda que tao somente para efeitos de delimitação do seu domínio de aplicação espacial, a razão e
fundamento do preceito correspondente do sistema jurídico Y, seria um procedimento deveras
singular e totalmente ilegítimo; na verdade, não é raro (todos o saberão) que regras de conteúdo
idêntico ou semelhante visem nos seus respetivos países objetivos assaz diferentes.
Diversamente, nada impede que se defina o domínio de aplicação espacial de una norma
estrangeira através de uma regra de conflitos da lex fori, regra que pode até resultar da
bilateralização de uma norma unilateral. Tal procedimento é de todo o ponto correto, dado a regra
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de conflitos não ser a expressão ou o prolongamento dos juízos de valor de que as normas materiais
domínio de aplicação diferente daquele que teria resultado dos princípios de DIP do sistema ao qual
esse preceito pertence, não se estará ofendendo minimamente a intenção específica desta norma.
Tais, em suma, as razões por que não aderimos aos pontos de vista de EHRENZWEIG.
EM CONCLUSÃO: Ehrenzweig era austríaco e fez parte da revolução americana porque vivia
nos EUA. Refere que era preciso um método alternativo sim, mas não para tudo, apenas em alguns
casos precisamos de superar o método conflitual.
o são os casos de forum law by non choice (aplica-se a lei do foro sem ser preciso
nenhuma escolha – aplica-se a lei processual, do foro; norma de aplicação necessária
e imediata);
o e os casos em que temos de aplicar regras de conflitos.
lex incerta (os que não sabemos qual a lei aplicável): ele só propõe um método novo
quando não aplicamos nem as regras de conflitos nem a lei do foro. A regra de conflitos vai
ser substituída pelo método deste autor apenas nestes casos. Este autor é mais moderado
porque reconhece a existência das regras de conflitos, diz que são boas, mas apenas para
certos casos.
1. O juiz é o juiz do foro; portanto, ele tem de determinar, perante uma situação internacional,
qual a norma que se aplicaria se fosse uma situação interna, olhando para o caso.
2. Vai determinar qual a policy dessa norma, a política legislativa da norma do foro que se
aplicaria nesse caso se fosse uma situação interna.
3. Das várias leis em contacto, vai escolher a lei que melhor satisfizer a política legislativa do
foro.
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O juiz é um agente do foro, tem de seguir as políticas legislativas do seu país, do seu foro.
ele entende que a política legislativa do foro é melhor que as outras: é uma violação
clamorosa do princípio da paridade;
como a política legislativa de cada país pode ser diferente, esta sistema gera soluções
diferentes conforme o país onde o caso estiver a ser julgado – cria desarmonia jurídica
internacional.
Mas ele tem um mérito: ele mostra que é possível conjugar o método de regras de conflitos
com outros métodos alternativos – há um pluralismo metodológico. O DIP pode ter vários métodos.
Para além disso, CURRIE ia buscar o método legislativo de cada país envolvido; este autor ia
procurar o método legislativo do foro.
Ele mostra que às vezes, há situações em que o interesse do foro talvez se deva sobrepor a
interesses legislativos estrangeiros, porque ele apenas se preocupa com o interesse legislativo do
foro.
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Há a revogação das normas das regras de conflitos (que estava no restatement). Ou seja, há a
revogação do restatement, e há a aprovação do segundo restatement (1971): que tinha instruções
para os juízes, não vinculativas, sobre como aplicar os métodos dos autores ditos supra.
Esta revolução não nos satisfez porque não aplicámos nenhum dos métodos; encontrámos
problemas em cada um, então, continuámos a aplicar o método conflitual. Mas o método conflitual,
Há a flexibilização da regra de conflitos: deixa de ser rígida, dando mais poderes ao juiz
(CAVERS);
Há a materialização da regra de conflitos: vai passar a atender ao resultado material; já não
EHRENZWEIG).
Ou seja, a revolução americana teve uma tríplice influência no método conflitual. A verdade é que
chamou a atenção para problemas existentes no método conflitual savignyiano.
conexão, a lei aplicável. Se não há uma indicação então o julgador é que escolhe qual a lei
aplicável, a que tem ligação mais forte. Normas que consagram o critério da proximidade.
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conexa.
Uma regra em que o legislador não indica o elemento de conexão, não indica a circunstância
relevante para a determinação da lei aplicável. Uma regra de conflitos que não indica a lei aplicável?
É essa a função da regra de conflitos. Ora não é o legislador que a indica mas é o julgador que a irá
determinar. Estas open ended rules – são regras que consagram o princípio da proximidade e
passam para o juiz a escolha da lei aplicável.
Porque é que isto é flexibilização da regra de conflitos? Dá-se poder ao juiz para escolher a lei
aplicável e retira-se poder ao legislador.
(regras de conflitos que não têm elemento de conexão – passa a responsabilidade para o julgador –
Cláusulas de exceção: permitem ao juiz desaplicar uma lei que a regra de conflitos tinha
indicado. Assim, o juiz pode afastar a regra de conflito.
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Já as cláusulas fechadas estabelecem a lei em alternativa – o legislador diz qual a
lei a aplicar – não se rege pela residência, nacionalidade, etc, ele escolhe a lei que acha
estar mais próxima).
Artigo 4º/2 ROMA 2 – permite ao juiz não aplicar a lei que tinha sido indicada
pela regra de conflitos (do local do dano) – cláusula de exceção fechada (o legislador
Materiais – não servem para aplicar leis mais próximas, permitem ao juiz desaplicar
a lei indicada não por razões de proximidade mas por razões de atenção ao
resultado material.
Exemplos: artigo 45º “decorreu a principal atividade causadora do prejuízo” (remete-se
para o lugar em que ocorreu a produção do facto). Números 1 e 2 – permite ao juiz afastar
a lei indicada pela regra de conflitos (nº1) – fechada – só pode afastar a lei indicada em
substituição da lei do país onde se produziu o dano. Porque é que o legislador admite esta
cláusula de exceção ? Pretende um determinado resultado material – a responsabilização
do agente.
Número 3 – outra cláusula de exceção – fechada (nacionalidade ou residência
comum) – formal ou material? Formal – o legislador entende que neste caso é mais
próximo aplicar a lei da nacionalidade comum ou residência comum.
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Mas existem cláusulas de exceção gerais – aplicam-se a todas as regras de
conflitos (e não uma cláusula de exceção específica para aquela regra de conflitos).
Nós não temos cláusulas de exceção gerais, nós temos cláusulas de exceção em
certas regras de conflitos (como por exemplo o direito Suíço). Note-se que a
flexibilização é boa porque dá mais poder ao juiz mas tem a desvantagem de criar
insegurança jurídica – razão pela qual não adotamos uma cláusula de exceção
geral.
Especialização: savigny quando criou o método conflitual entendeu que deveria haver
uma regra de conflitos para cada relação jurídica. Se isto continuasse a ser verdade, para o
casamento, deveríamos ter uma lei. Veja-se que regras de conflitos temos hoje para o
Regras de conflito de conexão material: a escolha da lei aplicável faz-se por critérios de
justiça material. Escolhem a lei em função do resultado.
Art. 8.º do Regulamento Roma I -» O contrato é regulado pela lei escolhida pelas partes, ou
pela lei local onde o trabalhador presta a sua atividade laboral, consoante a que seja mais favorável
ao trabalhador. O critério não foi o da proximidade, o critério clássico. O legislador quer o resultado
Politização: O DIP vai passar a preocupar-se com as políticas legislativas das regras de
conflitos/ das leis envolvidas; 3 efeitos da politização:
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das leis envolvidas; Permitir ao juiz manipular o sistema de DIP, mas não
completamente, não a seu belo prazer. Só quando seja necessário.
aplicação. Aparecerem estas normas que não precisam de regras de conflitos. Elas
tutelam certas políticas legislativas e esta política legislativa só se vai realizar
✓ o DIP passou a conhecer um novo tipo de normas que não existiam. Estas
normas não são regras de conflitos. Trata-se de normas materiais, substantivas.
querem aplicar. Isto significa que elas não precisam de regras de conflitos.
Como elas determinam os eu âmbito de aplicação, prescindem da regra de
conflitos, não podemos dizer que o DIP utiliza só o método conflitual, temos um
pluralismo metodológico – utilizamos vários métodos – método conflitual
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diploma independentemente da regra de conflitos. As cláusulas
casos do que aqueles para os quais estavam previstos (casos em que a nossa lei
era competente). O problema delas é que têm que ser identificadas – temos que
olhar para a sua política legislativa. Tem que ser identificados pela jurisprudência
e a doutrina – vão identificado certas normas materiais como sendo de
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Doutrina (Rui Moura Ramos) e Jurisprudência – artigo 53º CRP – norma espacialmente
autolimitada de aplicação necessária e imediata mas implícita (casos que se deve aplicar a mais
Outro exemplo: artigo 1682º/A número 2 CC – norma de natureza familiar que regula as
relações entre os cônjuges. Caso: Sr.A e Sra. B – suecos, residem em Portugal, são casados.
Artigo 52º CC – manda aplicar a lei da nacionalidade comum dos cônjuges -a lei sueca. À
partida não podemos aplicar lei portuguesa às relações entre os cônjuges. A lei sueca determina
que os cônjuges podem dispor livremente do seu património, qualquer que seja. O Sr. A pegou
na casa da família e ofereceu à amante. Pela lei sueca o negócio era válido. Mas veja-se o artigo
1682ºA/2 – se esta norma fosse aplicável, a Sra. B teria que dar o consentimento. O juiz só
poderia aplicar esta norma se fosse uma norma de aplicação necessária e imediata (implícita) – a
seria competente. A jurisprudência assim o entendeu. Esta norma determina a sua própria
aplicação, independentemente da regra de conflitos, sempre que a casa de morada de família
seja em PT.
aplicar.
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• Normas espacialmente autolimitadas em sentido estrito –
não basta para que estas normas se apliquem que a sede seja em PT,
para as aplicar precisa-se da regra de conflitos - que manda aplicar a lei
há algumas NANI estrangeiras que relevam. Quais? As da lei competente – porque foi essa a
lei que a regra de conflitos escolheu como a lei mais próxima. Esta tese é mais antiga mas
O que é que justifica esta tese? Quais as razões por trás desta conceção?
Isto porque o método conflitual, método regra, prevalece. A lei que o nosso legislador
escolher para ser respeitada tem que ser respeitada – só nessa lei é que se aplicam as NANI.
Porque se diz que esta tendência esvazia, desconsidera a existência de NANI estrangeiras?
Repare-se que nós íamos aplicar a lei australiana – e as NANI da lei australiana nós já íamos
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nós íamos aplicar a lei competente – não está verdadeiramente a levar a consideração a NANI.
(Crítica).
2ª tese – Tese da Conexão especial (autor alemão Wengler) – diz-nos que temos que
aplicar as NANI do foro e também de leis estrangeiras, quais? As que tenham conexão
especial com o caso, aquelas que tenham uma ligação ao caso que fosse suscetível de
Santos – dizem que podemos aplicar as NANI do foro e ainda as das leis que tenham uma
conexão especial com o caso mas só se, a nossa regra de conflitos o determinar, isto é, para
que se apliquem as NANI das leis com conexão especial com o caso, precisa-se de uma
autorização conflitual expressa. De acordo com esta tese só poderiamos aplicar a NANI do
4ª Tese, da tomada em consideração – diz-nos que o julgador não pode aplicar NANI
estrangeira, só pode as do foro e as da lei competente. Contudo não se pode esquecer que
elas existem. Ao aplicar a lei competente não se pode esquecer que existe uma NANI
estrangeira que ele não pode aplicar. Só as pode tomar em consideração na aplicação da lei
competente.
Qual é a tese que devemos seguir? O julgador pode escolher a que entender porque
não temos norma que imponha ao julgador a adoção de determinada tese. Ele escolherá o
método que pretende seguir e justifica, fundamenta. Mas tem-se uma exceção. Se a regra de
conflitos que estivermos a utilizar for de um regulamento da UE, temos que ver se esse
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4.5. OUTROS MÉTODOS QUE PERMITEM RESOLVER CONFLITOS DE LEIS E QUAIS OS SEUS
EFEITOS NO MÉTODO CONFLITUAL DO SÉCULO XIX.
Método criado antes do método conflitual. Método medieval. Vigora em Inglaterra em certas
No método conflitual o primeiro passo é ver qual o tribunal competente através de normas de
competência internacional, e depois a lei aplicável pelas regras de conflito.
Em comum:
Tanto uma como outras são normas que se aplicam a relações jurídicas internacional e são da
disciplina de DIP.
Ambas também são normas de 2 grau, indiretas. Não resolvem o caso. Apontam um sistema
que vai resolver o caso.
Diferenças:
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Quanto à FUNÇÃO as regras de conflito podem ser unilaterais e bilaterais. As unilaterais não
competência internacional? São, em regra, unilaterais. Diferença tendencial porque existem regras de
conflitos unilaterais e existem normas de competência internacional bilaterais.
escolher o tribunal mais próximo mas do ponto de vista prático. Assim, temos um critério de
praticabilidade. E a regra de conflitos? Qual o critério de proximidade? Critério da ligação mais
O método jurisdicional vai tratar destes problemas de forma unitária: cada tribunal só
pode aplicar a lei do foro mas cada país só pode aceitar a competência em casos em que a sua lei
tenha uma ligação mais forte. Este método viola o princípio da não transatividade? Não. Isto não é
um regresso à territorialidade. Os tribunais não aceitam todas as ações e não há sempre a aplicação
da lei do foro. Isto é a resolução da lei aplicável no momento anterior, ou seja, no momento em que
se decide o tribunal competente.
O que achamos deste método? Não serve como substituição mas tem efeitos.
Vantagens:
Os juízes gostam mais deste método porque aplicam a lei foro, porque só aceitam os casos
em que se aplica a lei do foro, logo conheciam menos casos -» Princípio da boa administração da
justiça. Quando ele conhece a ação, aplica a lei do foro. Menos ações visto que se o juiz não
conhece, não aceita, pois considera não ser competente.
Desvantagens:
competente.
Conduzirá à harmonia jurídica internacional? NÃO! Só consegue chegar à harmonia
diferentes pois a lei aplicável é a do foro, então em Portugal aplicava-se a lei portuguesa e em
Espanha, a lei espanhola Efeito produzido: forum shopping. Se o autor quiser que se aplique
a lei inglesa tem de propor a ação em Inglaterra, se o réu quiser que a lei aplicável seja a francesa,
terá de propor a ação em França. Então como leva a resultados diferentes, as partes vão correr para
No entanto, o método jurisdicional acabou por ter uma influência moderna no modelo
conflitual: jurisdicionalização;
ao tribunal competente.
consenso.
O que precisamos de saber: Que existe, que é um método intermédio e que acabou por ter
grande influência no reenvio.
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As relações internacionais têm especificidades que não são levadas em conta pelo método
conflitual. Não é igual estar perante uma relação interna e uma relação internacional; e quando se
está a escolher uma lei aplicável está-se a escolher uma lei que não foi pensada para relações
especificamente internacionais. Portanto, este método diz que cada país deve fazer um corpo de leis
específico para as relações internacionais. Ou seja, devíamos ter dois Códigos civis: um para as
relações internas, e outro adaptado às especificidades das relações internacionais que possam surgir.
Já foi testado este método no Direito Romano: um corpo de normas para os cidadãos, relações
Não. Temos um grande problema, porque o DIP acaba por não prescindir da regra de
conflitos. v.g., e se tivéssemos um cidadão espanhol e um cidadão francês; como regulávamos?
especiais. Não é evidente que as relações internacionais têm sempre especificidades, que reclamem
sempre uma regulação especial. Este pressuposto do DIP material não é evidente, não é claro.
Por estas razões, este método não é relevante como alternativa ao método conflitual.
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Mas chamou à atenção de que certas relações internacionais têm especificidades e, de facto,
Devemos recebê-lo como complemento ao método conflitual, porque é positivo que cada
sistema, em certas situações, formule certas normas especiais para relações internacionais.
Artigo 2223.º – é regra de conflitos ou norma material? Está a mandar seguir uma
determinada forma, logo é uma regra material. Forma como fazer o testamento. Mas aplica-se a
que tipos de situações? Testamento feito por um português, no estrangeiro. Norma especial para
certa relação jurídica internacional. Regula especialmente uma relação jurídica internacional. Isto é
DIP material -» A regra de DIP material é uma norma especificamente redigida para
regular situações especiais de DIP, relações especiais de DIP.
Porque é que este método é um método alternativo? Aqui não escolhemos a lei aplicável visto
que a lei passa a ser igual e portanto suprime o conflito de leis.
Ferrer Correia: Isto é uma UTOPIA! Impossível! Porque os países não se vão entender. Não vai
haver regras uniformes em todo o mundo. Vamos sempre precisar de regras de conflito, porque
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há países que não vão aderir. Logo, como método não é uma alternativa mas ele ajuda! Porque
complementado por muitos métodos que nos foi aparecendo, por influências desses métodos; por
isso, já não temos o método conflitual no seu sentido tradicional.
As normas materiais descrevem situações da vida, então é fácil ver qual se aplica.
Mas nas regras de conflito o conceito quadro não descrevem situações da vida. As regras de
conflito têm no conceito-quadro, conceitos jurídicos e estes podem variar de sistema para sistema.
Então como escolhemos as regras de conflitos? Nas normas materiais temos interpretação,
então e nas regras de conflito? Temos a QUALIFICAÇÃO, ou seja, qual a regras de conflitos aplicável,
Coloca-se a questão de saber quando aplicar a regra de conflitos. Enquanto nas normas
materiais temos a hipótese, que nos responde a esta questão descrevendo factos da vida, nas
regras de conflito temos o conceito-quadro que descreve factos jurídicos. E é precisamente aqui
que o problema se coloca, já que os conceitos jurídicos variam de país para país.
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difícil saber quando aplicar uma regra de conflitos: é complicado saber se ela regula aquela situação
ou não.
Mas mais do que este problema é o facto de o conceito-quadro ter como objeto as normas
jurídicas sobre determinada matéria. Não só é difícil identificar essa matéria nos diferentes Estados
como se torna ainda mais complicado mobilizar as normas deles sobre essas questões.
Ex: art. 37º - objeto do conceito-quadro é um círculo de normas materiais.
aplicam ao caso. Como é que eu sei quais as normas sobre o divórcio ou sobre os direitos de
personalidade? E se forem problemas diferentes para as duas leis envolvidas, aplico segundo qual?
Tratando-se de uma relação plurilocalizada, temos de chamar ao caso as duas leis envolvidas:
a argentina e a portuguesa.
Ora, a lei argentina regula esta matéria no capítulo das sucessões, onde estabelece que deve
haver comunicação ao outro cônjuge e, como tal, o bem acaba por ser de ambos.
Já a lei portuguesa, trata desta matéria no capítulo do regime de bens, onde, havendo um
bem adquirido por intermédio de uma sucessão, esse bem não é considerado comum aos dois
Precisamos de uma regra de conflitos que venha escolher a lei competente. Vamos ter de
optar pela lei argentina (que trata isto como uma sucessão) ou pela lei portuguesa (que trata disto
enquanto regime de bens no casamento).
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A nossa regra de conflitos para este caso é a do artº 53º CC (regime de bens) e o elemento
então vamos olhar ao artº 62º CC, cujo elemento de conexão é a nacionalidade do de cujos, o que
significa que se vai aplicar a lei argentina.
É por isso que temos de saber: qual é o problema em causa? Perante estas duas
possibilidades, qual a regra de conflitos que devemos aplicar, afinal? É um problema de
qualificação/delimitação.
indica como resolveria o mesmo. Conforme a solução que a lei do foro fizesse, a partir daí
descobrimos o problema em causa e, consequentemente, a regra de conflitos a aplicar.
No exemplo dado, a nossa lei resolve o caso pelo art. 1722º/b CC, que regula o caso como
sendo regime de bens. Assim, a regra de conflitos que nos vai servir será a que tiver relacionada
com esta matéria: artº 53º CC. Sendo o elemento de conexão dessa lei a nacionalidade comum
dos cônjuges à data do casamento, então a lei competente será a lei portuguesa;
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2. Qualificação Secundária: Nesta fase, vamos descobrir quais as normas materiais da lei
competente que são chamadas a resolver o caso. E aqui surgem algumas teorias:
Roberto Ago: Este autor entende que se faz um chamamento indiscriminado, na medida em
que se chama todo o ordenamento jurídico da lei competente;
Robertson: Este jurista inglês defende que se dá um chamamento circunscrito, isto é, não se
mobiliza todo o ordenamento jurídico da lei competente para se resolver o caso, mas apenas
algumas normas, nomeadamente as que regulem as mesmas matérias que o conceito-quadro
circunscreveu.
Segundo esta conceção só iriamos chamar o art. 1722º/b) CC, que vem determinar que o bem é
próprio.
VANTAGENS:
É um sistema simples, que resulta na aplicação de uma só lei, pelo que não dá aso a conflitos
Quem controla a lei aplicável é a lei do foro, porque é com base as suas normas materiais que
vamos determinar a regra de conflitos aplicável e, consequentemente, a lei competente; a lei
DESVANTAGEM:
Pode acontecer que o chamamento circunscrito resulte em nenhuma norma material capaz de
resolver o caso, dentro do ordenamento jurídico considerado competente.
Portugal. Mas não tinha nenhum herdeiro. Para quem vai o prédio?
Segundo esta teoria, temos de apresentar o caso às normas materiais do foro: lei portuguesa,
que tem uma disposição, sobre sucessões, que resolve o caso, dizendo que no caso de não haver
herdeiros, os bens ficam para o Estado. A lei inglesa, por sua vez, trata esta matéria como
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pertencendo aos Direitos Reais, já que nestes casos, o Estado adquire um direito real sobre os bens.
Atendendo às normas materiais da lei do foro, sendo este um caso de sucessões, vamos aplicar uma
regra de conflitos que tenha esta matéria como conceito-quadro: art. 62º CC, que tem como
elemento de conexão a nacionalidade do de cujos: neste caso, inglês. Logo, aplicar-se-ia a lei inglesa.
Segundo Roberto Ago, iriamos chamar todo o ordenamento jurídico inglês, ou seja, não só as
normas sobre sucessões, mas também as de Direitos Reais e a solução haveria de estar algures (neste
caso, estava precisamente no capítulo dos Direitos Reais).
sobre sucessões, nenhuma seria capaz de regular este caso porque a solução se encontra noutro
capítulo (Direitos Reais). Robertson responde dizendo que, nestes casos, teria que se fazer um
chamamento indiscriminado.
CRÍTICAS:
Entende-se que esta teoria da dupla qualificação viola um princípio fundamental do
DIPrivado: o da paridade de tratamento dos ordenamentos jurídicos: isto porque das duas leis
que tinham contato com o caso, e cujas perspetivas eram diferentes, nós optámos por avaliar a
situação segundo a nossa perspetiva só porque era a lei do foro; dá primazia à lei do foro e qualifica
o caso conforme a lei do foro, desconsiderando as outras leis.
Além disto, esta teoria gera desarmonia jurídica internacional, já que as soluções a dar ao
caso são distintas, ele será tratado de forma diferente, de acordo com o local onde se discute a
situação; sendo que isto leva à instabilidade das relações jurídicas internacionais.
Portugal para avaliar a validade de um trust, apresentando o caso às normas materiais do país, não
vamos encontrar nenhuma norma que dê solução e, como tal, seremos incapazes de designar uma
regra de conflitos que solucione a controvérsia. Assim, deixa sem solução sempre que exista um
instituto jurídico diferente do foro ou que a lei do foro não conheça. O sistema bloqueia e não
consegue saber qual a lei competente.
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descobrir a lei competente. Basta olhar para o caso e não será muito difícil determinar o leque de leis
que devem ser mobilizadas, segundo a matéria em causa. Ou seja, olhando para a regra de
Assim sendo, perante estas críticas, esta teoria será de rejeitar pela doutrina maioritária.
CONTUDO, é uma teoria válida e, por isso, é aplicada por diversos países.
operação de saber como é que se aplica a regra de conflitos é uma opção metodológica. E, por força
do art.15ºCC, o juiz está proibido de fazer esta dupla-qualificação » opção legislativa.
lei do foro.
Teoria defendida por Wolff.
Primeiro exemplo dado: O art. 53º está a apontar para a residência que tinham à data do
casamento, ou seja, aplica-se a lei portuguesa (tem uma conexão múltipla subsidiária).
O art. 65º da lei argentina diz que se aplica a lei da última residência do de cujus – aplica-se a
lei argentina.
Quem vai dizer se é um problema de regime de bens ou de sucessão é a lei que estiver a ser
indicada para esse tipo. Quem vai dizer se é um problema de regime de bens é a lei portuguesa;
quem vai dizer se é um problema de sucessões é a lei argentina, porque é ela a competente nessa
matéria.
Não temos de escolher uma regra de conflitos, temos de dizer que tudo o que for considerado
para a lei portuguesa problema de regime de bens, aplica-se; tudo o que for considerado sucessões
para a lei argentina, aplica-se a lei argentina.
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PROBLEMAS:
1. Vai gerar um problema chamado conflitos de qualificações: pode acontecer que a lei
portuguesa diga que é regime de bens e aplicam-se estas normas, e a lei argentina diga que é
sucessões e que se aplicam aquelas normas; ou seja, podemos chegar a conflitos de normas. Pode
suceder que várias normas se considerem competentes para regular o mesmo caso por títulos
diferentes, e podem surgir soluções incompatíveis.
2. Cria um círculo vicioso: a operação de qualificação servia para saber qual ou quais a regra de
conflitos e utilizar, mas este sistema diz que quem vai decidir isto é a lei competente, a lex causae;
mas só sabemos qual a lei competente depois de usar uma regra de conflitos.
3. Implica a perda do controlo sobre as opções conflituais do foro. Pode acontecer que o
conceito de sucessões da lei argentina seja diferente daquele que o legislador da lei do foro pensou
quando criou a sua lei. Ou seja, escolhemos uma lei para regular uma matéria, neste caso sucessões,
sem ter a certeza do que vai ser regulado – quem vai decidir o que é sucessões não somos nós, é a
outra lei.
Este método surgiu como forma de reação ao método de dupla qualificação, mas segundo o Dr.
Afonso Patrão, não há nenhum sistema hoje que o adote.
quadro está a mobilizar - qualificação de normas. Aplica leis diferentes para matérias diferentes.
Podemos afirmar que o nosso sistema supera os dois anteriores, uma vez que vai dividir a
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problema da qualificação se trata de um problema de subsunção de regras materiais num
conceito-quadro, isto é, um problema de encaixe. E é, por isso, que nesta fase devemos proceder à
interpretação do conceito-quadro, para tentar perceber o que significa (por exemplo: o que são
Direitos Reais para efeitos do art. 46º CC; divórcio para efeitos do art. 55º CC).
Neste âmbito, existem várias teorias:
a interpretação que a lei do foro tem dessa matéria, de acordo com as suas normas materiais. Ou
seja, os direitos reais teriam o sentido que a lei portuguesa lhes confere. O mesmo para o divórcio.
Problema: Pode acontecer que surja uma figura que não é exatamente igual à nossa e,
nesse caso, não podemos equiparar sob pena de a solução não ser adequada, deixando sem
resposta todos os institutos diferentes da lei portuguesa. E viola, ainda, a paridade de tratamento
Exemplos:
necessário que seja decretado pelo tribunal ou reconhecido por um conservador. Logo, são dois
institutos diferentes e, por isso, a regra de conflitos não seria precisa, já que o divórcio para a lei do
Portugal. Esta figura jurídica existe nos países anglo-saxónicos e consiste em transmitir a
propriedade de um imóvel para outrem, sem lhe passar, contudo, o usufruto do mesmo.
Poderíamos aplicar o art. 46º CC (direitos reais)? Na verdade não, porque o trust não configura na
lista taxativa de Direitos Reais portugueses e também não surge em mais nenhum momento do
nosso ordenamento porque se trata de um instituto inexistente em Portugal. Logo, a lei do foro não
dará resposta à delimitação de regras materiais que devem ser mobilizadas para esta questão.
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Comparado, que estuda as figuras jurídicas de todos os ordenamentos jurídicos. Deste modo, não
deixaria sem resposta os casos em que surgisse um instituto jurídico que não tem correspondência
com a lei do foro.
Problema: Esta conceção, apesar de ser uma boa ideia, é impraticável, já que obrigaria o
juiz a conhecer todas as leis, de modo a poder delimitar as normas materiais chamadas por cada
regra de conflitos e segundo casa caso concreto;
Interpretação à luz da lege causa: segundo a lei competente à luz da regra de conflitos.
Interpretação à luz da lei formal do foro (interpretação que adotamos): Segundo esta
conceção, vamos ter uma interpretação autónoma, específica da regra de conflitos do foro, já que
será ela mesmo a autolimitar-se e a chamar as leis materiais competentes para o caso. Tem de se
proceder, então, a uma interpretação autónoma e teleológica das regras de conflito.
Autónoma no sentido em que deve ser feita independentemente das normas materiais do foro,
independentemente do sentido que elas atribuam ao instituto jurídico invocado no conceito-quadro.
Deve, também, ser teleológica, porque vai atender às finalidades, aos objetivos em vista: Por um
lado, temos de atender ao objetivo do DIPrivado, que, aqui, consiste em saber que leis materiais
algumas normas materiais que sejam capazes de resolver as situações privadas internacionais e, por
isso mesmo, não devemos cingir o conceito-quadro à interpretação que a lei material do foro
lhe confere, mas antes, alargar esse espectro para que possamos abranger, nessa regra de
conflitos, vários ordenamentos jurídicos, já que se trata de uma norma internacional).
Assim sendo, temos de incluir a figura invocada pelo conceito-quadro, mas também os seus
institutos análogos!
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Exemplos:
art. 30º CC » não diz respeito apenas à tutela, mas também aos institutos análogos;
art. 52º CC » abrange as relação entre os cônjuges e todas as outras figuras com teleologia
similar; A e B vivem em união de facto há 10 anos, discute-se lei aplicável entre estes parceiros
registados no direito irlandês? Podíamos usar o art.52º, esta figura cabe no conceito-quadro do
art.52º CCivil? Ora, relações entre cônjuges desta regra de conflitos é diferente do que é relação
entre cônjuges na lei material; e é mais abrangente pois compreende figuras afins, todas as que
tenham teleologia similar. Então abrangemos os parceiros registados? SIM, POIS É FIGURA AFIM
DO CASAMENTO, não é aquilo que para nós é casamento, mas é figura similar ao casamento! Não
podemos interpretar de acordo com o que para nós é casamento, temos de interpretar de acordo
com a teleologia.
art. 60º/2 CC » adoção realizada entre marido e mulher, abrange também adoção por
pessoas do mesmo sexo.
material.
Na teoria tradicional não se qualifica factos e não se escolhe uma lei competente.
Segundo o art. 15º CC, devemos proceder a um chamamento circunscrito: não vamos
chamar todo o ordenamento jurídico da lei que tenha sido considerada competente, pela regra de
conflitos. Vamos chamar apenas a parte desse ordenamento que tenha regule a matéria que há de
adequam ao caso.
Em cada caso não qualificamos factos, não aplicamos apenas uma lei, elencamos várias regras
de conflito (aquelas que forem necessárias) e aplicamos várias leis e só chamamos certas normas
relativas a estas leis, que pelo seu conteúdo e função se aplica ao caso -» chamamos uma parte de
NOTA:
Art. 15º CC » método de qualificação que ficou cristalizado; sendo que o método não é
EM CONCLUSÃO
caso.
Deste modo, não é preciso escolher a lei competente » sistema de qualificação tradicional
ordenamentos jurídicos, por causa da palavra “função” (art. 15ºCC). Logo, temos de ver a
política legislativa antes de aplicar as várias leis e consequentemente as várias normas.
situação. E isto pode gerar incompatibilidades, ou seja, as normas de uma lei podem entrar em
conflito com as normas da outra lei. É um problema que não acontece sempre (99%), mas, por vezes,
sim.
É uma situação plurilocalizada, já que o senhor era nacional português, viveu e morreu cá, mas
deixou um bem que se encontra em Inglaterra. Temos, por isso, que identificar as leis que são
Tratar-se-á este problema de uma questão de direitos reais ou sucessões? Como ele morreu
antes de 2015 (Regulamento das sucessões!), aplicamos, ainda, o art. 62ºCC além do 46.º CC.
O art. 62º CC tem como conceito-quadro as sucessões, as quais temos de interpretar num
sentido amplo, pois não vale só a nossa (lei do foro) interpretação desta matéria. O elemento de
conexão é a nacionalidade do de cujus. Neste caso, ele era português, logo, aplicamos a lei
portuguesa. Mas que lei portuguesa? Toda? Não! Só a lei relativa à matéria de sucessões. (Art. 15º
CC).
O art. 46º CC tem como conceito-quadro os direitos reais, não a conceção portuguesa (lei do
foro) de direitos reais, mas uma conceção ampla, de modo a poder abranger a dos outros países,
também. O elemento de conexão é o local de situação da coisa, ou seja, onde ela se encontra. Neste
caso, o prédio encontra-se em Inglaterra, pelo que, segundo esta regra de conflitos, a lei competente
é a inglesa. Mas será que invoca toda a lei inglesa? Não! Apenas a que se referir a direitos reais em
já que são as duas suscetíveis de aplicação ao caso, mas conflituantes entre si. É que a nossa lei trata
esta questão como sendo um problema de sucessões e, inclusivamente, estabelece que o último na
linha de herdeiros é o Estado (arts. 2133º e 2152º CC), mas a lei inglesa trata este problema como
sendo uma questão de Direitos Reais, já que quando o de cujus não deixa herdeiros, o Estado
caso, para que os bens não fiquem ao abandono. Sendo uma norma sucessória, subsume-se
(encaixa-se) no conceito-quadro do art. 62º CC. Resta saber se esta regra de conflitos a está a
chamar: esta regra de conflitos diz que em matéria de sucessões se aplica a lei portuguesa. Logo,
está a chamar aquela norma material.
Quanto à norma inglesa que estabelece que, na falta de herdeiros, o Estado adquire um
direito real sobre os bens, ela subsume-se à regra de conflitos do art. 46º CC. Esta regra de conflitos
diz-nos que em matéria de direitos reais aplica-se a lei do local onde se encontra a coisa. Neste caso,
estando a coisa em Inglaterra, a regra de conflitos está a chamar a lei inglesa e aquela norma é
sejam incompatíveis, nestes casos em que se chamam duas leis diferentes. É um problema que surge,
por vezes, no nosso sistema, mas tem solução!
Como resolver um conflito de qualificações? Quando duas normas são chamadas a resolver a
situação, mas são incompatíveis entre si?
NOTA: isto não acontece no sistema tradicional, porque este escolhe uma lei competente,
jurídicas não são estanques, daí que há normas da matéria jurídica A que produzem efeitos na
matéria jurídica B e vice-versa.
Primeiro: O juiz deve tentar compatibilizar as normas conflituantes, o que nem sempre é
possível;
deve-se optar por aplicar uma em detrimento da outra. Quanto ao critério de escolha, antes de
mais deve residir no seio do DIP, pelo que a escolha deve passar entre uma regra de conflitos em vez
Ferrer Correia avançou com alguns critérios de hierarquização, que devem guiar o juiz na
sua escolha:
1. Qualificação Real prevalece sobre a Pessoal: As qualificações dos direitos reais devem
prevalecer face à qualificação dos direitos de estatuto pessoal.
Porquê? Desde logo, porque a ligação do Estado às coisas (imóveis apenas) que se situam nele é
maior do que a ligação que ele possa ter com os seus residentes, uma vez que eles podem mudar de
Por norma, as regras de forma servem para garantir a validade do negócio, enquanto as normas
de conteúdo são aquelas que seguem o critério da proximidade.
Em caso de conflito entre elas, deve prevalecer a regra substancial, por uma questão de se tratar
da lei mais próxima;
seguiram a lei israelita. Interessam aqui regras de conflito sobre a forma de casamento: art.50º CCivil,
e o art.49º CCivil sobre a capacidade. O conceito-quadro do art.50 é forma do casamento; artigo 49º
E para que leis cada regra de conflitos aponta? O artigo 50 aponta para a lei do estado em
que o ato é celebrado – elemento conexão é local de celebração – que foi em Israel, pelo que manda
aplicar lei israelita. E em matéria de vícios da vontade e consentimento? Artigo 49 manda aplicar a lei
pessoal – sistema de conexão múltipla distributiva – a cada um se aplica a lei pessoal, art.31º ccivil.
A nacionalidade é portuguesa, são ambos portugueses, pelo que se aplica quanto a essa
Então e quais são essas normas que nos permitem dizer que o casamento é válido? Art.1617º
CCivil; e a norma israelita já dita. Que fazemos a estas normas? Temos de as qualificar para saber se
são ou não aplicáveis, nomeadamente atendendo ao conteúdo e função que desempenham na lei
que pertençam.
como se presta o consentimento; então subsumimos esta norma ao art.49º CCivil. Em matéria do
consentimento aplicamos normas portuguesas - o artigo 49º é o que se aplica.
A norma israelita está a regular a forma do casamento, como se processa o casamento. Pelo
que em matéria sobre a forma do casamento, subsume-se ao artigo 50º ccivil que aponta para lei
Contudo, estas normas são incompatíveis, conflito de qualificações. O sistema chama leis
diferentes, para matérias diferentes, só que os resultados são incompatíveis.
Dr. Ferrer a esse propósito diz que temos de escolher. Segundo o primeiro critério é se o
conflito for entre lei aplicável à substância de um negócio e lei sobre a forma do negócio, a que
prevalece é a lei aplicável à substância do negócio. Portanto, no caso, artigo 49º ccivil, pelo que se
aplica a norma portuguesa.
Mas porque é que é esta que prevalece? Quando o legislador escolhe a lei aplicável à forma,
normalmente está preocupado em escolher lei que consiga levar à validade do negócio, com critérios
próxima, pelo que se houver conflito entre estas, em principio, a lei mais próxima é a lei quanto à
substância. Dr. Ferrer diz que, aliás, há algumas regras de conflito têm sinais que é isto que se deve
fazer.
Artigo 36º ccivil – conceito-quadro é forma da declaração negocial; escolhe lei aplicável à
forma do negócio aquela que se aplicasse ao negócio, porém é suficiente a lei do local da celebração
– conexão múltipla alternativa pois o legislador quer a validade do negócio -, mas esta alternativa
acaba se a lei da substancia exigir forma especial – isto é a prova de que o legislador entre lei
aplicável à forma e lei aplicável à substancia, prefere a da substancia, pois tanto é assim, que neste
caso o legislador acaba com a alternativa, preferindo a lei aplicável à substancia.
3. Conflito de leis entre a lei aplicável ao regime do casamento e lei aplicável à sucessão.
Imagine-se que se tem um casal de PT que reside em Inglaterra. Lei aplicável ao seu regime
de bens? Artigo 53º - lei da nacionalidade dos nubentes ao tempo da celebração do casamento.
Note-se que morre o Sr. A, em Inglaterra – à sucessão vamos aplicar a lei inglesa, ao regime de bens
a portuguesa. Para determinar o património comum aplica-se a lei portuguesa (diz qual é o
património comum e como se divide entre os cônjuges), depois do património já dividido do Sr. A –
esse será distribuído pelos herdeiros – pela lei das sucessões inglesa – aqui não há conflito de leis.
Note-se que, existem sistemas que atribuem efeitos patrimoniais diferentes ao casamento
consoante ele acabe por divorcio ou por morte. É o que acontece com a lei sueca – imagine-se que
neste caso aplicava-se a lei sueca. Esta lei diz que não há regime de património comum, cada um
tem os seus bens – se ele se dissolver por divórcio – não há partilhas a fazer. Se se dissolver por
morte – juntam-se todos os bens do A e do B e atribuem-se 2/3 ao cônjuges sobrevivo e 1/3 é massa
da herança. Divide-se assim o património a título de regime de bens, mas daquele 1/3 que sobra o
cônjuge já não vai ser herdeiro – porque a título de regime de bens já foi beneficiário. A lei que se
No Direito Inglês o cônjuge herda 2/3 dos bens na falta de testamento. A lei inglesa diz: desta massa
da herança, 2/3 são para o cônjuge. Note-se que a percentagem de bens que ficaria para o cônjuge
seria altíssima, e isto não era o que pretendia nem o ordenamento sueco nem o inglês – conflito de
qualificações – Ferrer Correia – é ilegítimo – não podemos aplicar os dois, ou um ou outro.
Qual?
Este conflito de qualificações é para os casos em que a proteção dos cônjuges sobrevivo
acontece quer pela lei aplicável ao regime dos bens quer pela lei aplicável à sucessão é
ilegítimo escolher as duas porque não se pode proteger o cônjuge duas vezes. Qual escolher?
Kegel (autor alemão) – diz que temos que olhar para um critério cronológico, aquele que tiver
sido aplicado cronologicamente primeiro é que deve ser aplicado. Isto resolve um conflito que haja,
por exemplo, entre uma lei francesa – como lei aplicável ao regime de bens e uma lei inglesa – como
lei aplicável à sucessão. Na lei francesa quase não há proteção sucessória (porque tutela tudo no
regime de bens (considera comum quase todos os bens do casamento)). Aplicação cronológica
sucessiva – aplica-se este critério de Kegel – a lei do regime de bens estava a ser aplicada enquanto
ele ainda era vivo – aplica-se o que já estava a ser aplicado porque ali já há espectativas. Mas isto
não resolve o nosso caso – porque a lei de regime de bens sueca e a lei inglesa da sucessão se
aplicaram no mesmo momento, da morte, o que fazer?
Ferrer Correia diz que aqui não serve o critério de Kegel, aqui não há uma aplicação
cronológica sucessiva, aqui deve aplicar-se a lei aplicável às sucessões – porque o que
determinou a distribuição de bens foi a morte.
Se não conseguirmos dirimir o conflito mediante este sistema, então, temos de proceder
à escolha de normas materiais: o critério será o da especialidade – as normas especiais
prevalecem sobre as gerais (exemplo: arts 209º e 285º CC).
Ex: Qual a lei aplicável para o caso de se violar uma promessa de casamento?
Art. 52º » manda aplicar a lei alemã » ressarcível danos patrimoniais
Art. 45º » manda aplicar lei francesa » ressarcível danos patrimoniais e não patrimoniais
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Logo, temos de hierarquizar:
1.
2.
3.
resolvam o conflito, através de um critério de especialidade – leis especiais derrogam a lei geral.
Concluindo, aplica-se, no caso, a lei alemã.
nenhuma das leis indicadas pelas regras de conflito tem normas materiais indicadas para resolver o
problema.
Continuamos a mobilizar os arts 62º e 46º CC e continuamos a ter o art. 2133º CC como
solução portuguesa do caso e a norma inglesa na mesma medida. Mas uma diferença: Apesar do art.
2133º, CC se subsumir ao conceito-quadro do art. 62º CC, esta regra de conflitos não a está a
chamar, pois determina que em matéria de sucessões se aplica a lei da nacionalidade do de cujus
que, neste caso, é inglês. Logo, considera a lei inglesa como lei competente em matéria de
sucessões, não se aplicando as nossas regras sobre essa matéria. Mas, ao mesmo tempo, a lei
inglesa, não se considera competente, remetendo a solução para Portugal: isto porque a norma
inglesa sobre direitos reais, para estes casos de pessoas que não deixam herdeiros, se subsume ao
conceito-quadro do art. 46º, sim, mas esta regra de conflitos não a considera competente, não a
chama a aplicação, porque estabelece que em matéria de direitos reais, se aplica a lei do local de
situação da coisa, ou seja, a lei portuguesa, já que a coisa se encontra cá. Mas as normas de direitos
mesmo em relação à lei inglesa que não dá solução no capítulo das sucessões… E agora?
Perante um conflito negativo de qualificação, isto é, quando a lei indicada pelas regras de
conflito não se mostra capaz de resolver a controvérsia, a doutrina entende que é necessária a
intervenção do juiz, no sentido de vir corrigir o mesmo, ou seja, a doutrina invoca o INSTITUTO DA
consoante a escolha, teremos de criar novas normas materiais para que essa lei indicada pela única
regra de conflitos eleita possa dar solução ao caso.
No caso em apreço, temos uma qualificação real e uma qualificação pessoal, pelo que vale a
primeira, isto é, a que atende ao local onde a coisa se encontra. Assim, aplicamos o art. 46º CC que
ser o juiz a criar a norma material. Ele terá que ficcionar que o artº 2133ºCC (norma material
portuguesa que resolve o caso, mas que é sobre sucessões) é uma norma de direitos reais, de
modo a poder resolver o caso; isto através do instituto da adaptação. »» Ferrer Correia chama a
isto de QUALIFICAÇÃO SUBSIDIÁRIA.
NOTA: problema da qualificação » saber quais as normas materiais que estão a ser chamadas
pelas regras de conflito; em que conceito-quadro as normais materiais se subsumem.
os outros. Podem dois sistemas jurídicos, com normas de DIPrivado diferentes, constituir uma
situação diferente para o caso. Podem julgar como competentes duas leis diferentes. Ou seja, tem
Porquê saber a lei aplicável? Para as relações a constituir e para as relações a reconhecer.
Isto é diferente do conflito de qualificações, pois estes ocorrem num só país, em termos de
qualificação de normas aplicáveis quando a questão está a ser julgada nos tribunais do foro »
problema que tem que ver com o conceito-quadro.
Por conseguinte, estes casos podem gerar desarmonia jurídica internacional: chega-se a
soluções diferentes, onde quer que o problema se coloque; há uma instabilidade das relações
jurídicas internacionais.
Mas no Brasil, para estas matérias, o elemento de conexão é a residência dos progenitores.
Logo, manda aplicar a lei portuguesa (que mandou aplicar a lei brasileira).
1. Conflito positivo de sistemas de DIP (ver infra): Imaginemos que o senhor afinal era
português e residia no Brasil, tendo perfilhado B no Brasil, também. Sendo a questão colocada no
Brasil e sendo o elemento de conexão a residência habitual, eles entendiam que a lei competente era
a brasileira. Mas em Portugal, segundo a nossa regra de conflitos (art. 56º CC), a lei competente era
a nossa, uma vez que a nacionalidade era portuguesa. Temos, aqui, um conflito de sistemas de
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DIPrivado: duas regras de conflitos diferentes estabelecem duas soluções diferentes, cada qual
considera como competentes leis diferentes, daí estarmos perante um conflito positivo.
Coloca-se a questão: Qual das duas se vai aplicar? Este problema remete-nos para a
temática do reconhecimento de direitos adquiridos no estrangeiro;
2. Conflito negativo de sistemas de DIP: Ocorre quando a lei que a nossa regra de conflitos
a lei brasileira considerava a nossa lei como sendo a competente. Há aqui um conflito de sistemas de
DIPrivado. Duas regras de conflito diferentes que originam um resultado diferente. E trata-se de
Coloca-se a questão: Perante estas circunstâncias, devemos aplicar a lei que o DIPrivado
em causa indique como competente ou devemos aplicar a regra de conflitos da lei considerada
competente, vindo esta a passar a responsabilidade para outra lei? No fundo, é um problema de
REENVIO.
NOTA: Este problema tem tendência a desaparecer, sobretudo na UE, porque as regras de
ocorrida no estrangeiro? Quando forem válidas à luz da lei competente, que é designada pela
regra de conflitos.
6.1. O REENVIO
Está em causa um expediente de resolução de conflitos negativos de sistemas de DIPrivado, isto
é, para resolver os casos em que a lei indicada pelo nosso DIPrivado não se considera competente.
Devemos aplicar essa lei? OU
São casos em que a Lei1 (lei do foro) considera a Lei2 competente. No entanto, esta, não se
considerando competente, por sua via, determina a lei do foro como a lei capaz de resolver o caso.
Lei 1 Lei 2
RETORNO INDIRETO
São casos em que a Lei1 (lei do foro) manda aplicar a Lei2, que não se considera competente,
indicando a Lei3 como sendo a lei competente. Esta, por sua vez, também não se considera
competente e remete para a lei do foro.
indicando a Lei3 como sendo a lei competente. Esta, por sua vez, considera uma Lei4 como sendo a
lei competente (e assim sucessivamente).
Nota: Não têm de estar em causa apenas 4 leis. Temos transmissão de competências em
cadeia sempre que estejam em causa mais de 3 leis. No entanto, é pouco provável que surjam mais,
porque não existem assim tantos elementos de conexão possíveis.
Perante estas quatro possibilidades, temos de nos perguntar como resolver esta questão:
suas normas materiais ou também as suas regras de conflito? É que se aceitarmos esta
segunda hipótese, o que vai acontecer é que estamos a admitir estas situações. Caso
contrário, ficamo-nos pela aplicação da Lei2, por nós indicada (correndo o risco dela não se
considerar competente).
Dinamarca, a Suécia, etc., vem dizer que a nossa remissão para a Lei2 é apenas para as suas regras
materiais/substantivas, ignorando as respetivas regras de conflito.
consideramos competente.
Além de que, aceitar o reenvio significaria aceitar a soberania estrangeira, pois deixaríamos de
aplicar a lei que o nosso legislador de DIPrivado escolheu para aplicar a lei que o legislador de outro
país elegeu como sendo a lei competente (no fundo, seria o outro legislador a escolher a lei aplicável
a nossa regra de conflitos indicou, tem sido alvo de alguma adesão por parte de vários países.
Críticas: Esta tese gera desarmonia jurídica internacional, já que do mesmo modo que nós
aplicamos a lei que a nossa regra de conflitos manda aplicar, os outros sistemas farão o mesmo, sem
olhar ao facto de essas leis indicadas não se considerarem competentes. Deste modo, as soluções
2. TESE DA REFERÊNCIA GLOBAL: Esta tese vem defender que a remissão feita pela nossa
regra de conflitos deve ser de modo a abranger não só determinadas normas materiais, mas
também as normas formais da lei por nós indicada, ou seja, as normas de DIPrivado desse
sistema. Assim, aplicamos todo o sistema jurídico dessa lei (normas materiais e regras de conflito).
Devolução Simples: Também conhecida como a teoria clássica do reenvio, este sistema teve
origem em França e está em vigor, hoje, na Bélgica, França, Espanha, Luxemburgo e já vigorou em
Itália. Quando indicamos uma lei como sendo a competente, não nos cingimos às suas normas
materiais, mas também olhamos às suas normas formais (regras de conflito), mas segundo um
esquema de devolução simples » aceita o reenvio apenas uma única vez.
Deste modo, podemos promover a harmonia jurídica. No entanto, isto só é possível num
esquema de transmissão de competências simples, já que nos outros casos ou caímos num círculo
vicioso (casos em que a lei que indicamos como competente segundo um sistema de devolução
simples, também nos faz uma devolução simples a nós) ou então, caímos em desarmonia jurídica
Quando remetemos para a L2 estamos a remeter para um sistema jurídico que é incindível »
Incindibilidade do sistema jurídico » não se pode separar as regras materiais das regra de conflito;
Com este sistema só damos um salto, só avançamos uma lei para lá daquela que indicámos
como competente.
EXEMPLOS:
1)
Lei 1 Lei 2
2)
3)
4)
competente
Se o caso se colocasse no Tribunal da L2 »» aplicaria a L4 (L2 remete para a L3, mas não se
aplica necessariamente esta lei; podemos aplicar a lei que a regra de conflitos da L3 remeter)
Neste caso, não se promoveu a harmonia jurídica internacional. Aceita o reenvio apenas
uma única vez.
5)
Neste caso, não se promoveu a harmonia jurídica internacional. Aceita o reenvio apenas
uma única vez: remete para a lei 2 e aceita o reenvio, mas apenas essa vez – aplica essa lei, não olha
para onde ela pode remeter (sua regra de conflitos).
6)
Se o caso se colocasse no Tribunal da L2 »» aplicaria a L1 (L2 manda aplicar a lei que 3 indicar)
Dupla Devolução/Reenvio Total: Também conhecida como foreign court theory; é aplicada
em Inglaterra, Suíça e Israel; consiste em fazer uma remissão total, o que significa que o juiz
do foro tem de se comportar como se comportaria o juiz do Estado da Lei2, isto é, não só vai
atender às regras materiais e à regra de conflitos desta lei, mas também ao sistema de reenvio
Se a Lei2 se determinar como competente, nós aplicamos a Lei2; se a Lei2 faz devolução simples para
a Lei3, aplicamos a lei que esta mandar aplicar, porque a Lei2 faz o mesmo; se a Lei2 remeter para
outra lei por referência material, aplicando essa lei, sem admitir reenvio, nós fazemos o mesmo e
assim por diante. Nós fazemos o que a Lei2 mandar. Somos um espelho dessa lei.
Isto é muito bom em termos de harmonia jurídica internacional, aceitando os reenvios que sejam
necessários; exceto quando a Lei2 remete para a nossa lei por devolução simples, porque nesses
casos caímos num círculo vicioso;
EXEMPLOS:
1)
Se o caso se colocasse no Tribunal da L2 »» aplicaria a L1 (L2 manda aplicar a lei que 3 indicar)
2)
3)
Lei 1 DD Lei 2
DD
Em L1 aplica-se a lei que L2 indicaria, mas em L2 faz-se o mesmo… Como ficam à espera do
que os outros sistemas fazem, pode haver bloqueio. Sendo que às vezes não é possível determinar a
lei aplicável.
como sendo a competente, como a mais próxima. No entanto, vai fazê-lo sem admitir o
reenvio!
Isto porque o chamamento das regras de conflito da Lei2 só vai servir para saber se essa lei, segundo
as suas regras de conflito, se considera competente ou não. Nada mais.
Se a regra de conflitos remeter para uma terceira lei ou para a lei do foro, então é porque não se
considera competente e, nesse caso, é necessário recorrer a uma regra de conflitos subsidiária.
O problema desta teoria tem que ver com a necessidade de haver regras de conflito subsidiárias
para todas as matérias, sendo um sistema muito complexo/pesado. É um sistema que não vale por
si só.
A vantagem é que o legislador do foro tem mais controlo sobre a lei aplicável.
NOTAS
Estas posições de reenvio são chamadas as posições dogmáticas de reenvio: são posições
que já sabem o que querem fazer do reenvio.
O nosso sistema é um sistema pragmático de reenvio: não tem uma posição fixa; vai, numas
vezes aceitar o reenvio e noutras não (posição pragmática do reenvio) – consoante se o reenvio
promove ou não à harmonia jurídica internacional. O nosso sistema vai ver caso a caso se faz sentido
Além disso, estas posições apuram-se perante as regras de conflito internas; os regulamentos
europeus têm a sua própria posição de reenvio, sendo que em muitos deles é referência material.
Assim, pelo menos na UE, os conflitos negativos vêm desaparecendo, pois com esta europeização do
DIP, conseguida pelos regulamentos e EM, sabemos sempre qual lei aplicar (princípio do primado do
DUE).
seguinte: Nunca aceita reenvio (ou seja, só admite referência material, pelo que aplica sempre a
lei que as suas regras de conflito indicam como sendo a competente, ignorando as regras de
conflito dessa lei), exceto quando essa lei remeta para a lei polaca (devolução simples). Nesses
casos, já aceita o reenvio.
decidir se o reenvio deve ser aceite, este vai aceitar o reenvio só nos casos em que ele conduza à
harmonia jurídica internacional (acordo entre países quanto à lei aplicável). Porque é que o
legislador quer harmonia jurídica internacional? Garantir a estabilidade nas relações jurídicas.
Este sistema é difícil, complexo. Nota prévia: Este sistema está consagrado no CC. Só se aplica
este sistema quando estamos a utilizar regras de conflitos de fonte interna. Ou seja, não se aplica
referência material. Para Ferrer Correia isto é uma regra geral; Já para Batista Machado é um
princípio mas não uma regra.
Referência material mas na falta de preceitos em contrário – onde? Artigo 17.º e 18.º. São
os casos em que, ao contrário do que estabelecia o artigo 16.º, vamos aceitar o reenvio: deixar de
aplicar a lei que íamos aplicar para aceitar o reenvio, ser reenviados para outra lei. A pergunta que se
faz é: quando aplicamos o artigo 17 e o artigo 18?
reenvio se a lei estrangeira estiver a fazer um reenvio para a lei substancial portuguesa.
NOTA: Significa assim que é muito importante que, perante um caso, saibamos se estamos
NOTA 2: Não estando num caso do artigo 17.º ou 18.º vamos aplicar o artigo 16.º que
O reenvio deve aceitar-se quando seja útil/ promova à harmonia jurídica internacional.
Artigo 18.º/1
Aceita-se o reenvio se a lei 2 estiver a fazer uma referência material para o direito material
português pois é nestes casos que é útil para alcançar a harmonia jurídica internacional.
Nota: quando diz direito interno, deve entender-se por direito material, direito substantivo.
No caso de retorno indireto: L1 remete para L2, L2 (local do facto) remete para L3 (residência) e
esta remete para L1.
Agora temos remissão da L2 por referência material para L3 e L3 remete com referência material
para L1. Se é por referência material, então há uma desconsideração das regras de conflitos. Utiliza-se
regras materiais. Assim, tribunal 3 aplicaria a L1, o Tribunal 2 aplica a L3. Nestes casos faz sentido?
Não, porque não é possível a harmonia jurídica internacional. Logo, não aceitaríamos o reenvio.
DS
Lei 1 Lei 2 Lei 3
RM
L2 remete para L3 com devolução simples. L3 remete para L1 com referência material. Se o
problema se colocasse em 3, aplicaríamos a lei 1. Se se colocasse em 2: aplicaríamos a lei 1, porque
temos devolução simples. Vai fazer o que a lei 3 mandar, que é a remissão para a Lei 1. Assim, vamos
conseguir harmonia jurídica internacional e portanto, aceitaríamos o reenvio.
E se a Lei 2 remete para a Lei 3 com dupla devolução. L3 remete para L1 com referência material.
Em 3 aplicaríamos a Lei 1. No 2 aplicaríamos a L1. Neste caso seria útil aceitar o reenvio? Sim. Vamos
Se olharmos para o artigo 18.º este só prevê o retorno direto. E não o indireto. Mas será que não
faz sentido aceitá-lo nestes casos? Sim! Assim a doutrina faz uma extensão teleológica para aceitar o
reenvio na qualidade de retorno indireto. Esta extensão teleológica consiste em juntar um inciso no
artigo 18.º. Qual inciso? “… devolver direta ou indiretamente (...)”.
Artigo 17.º/1
A lei 1 remete para a Lei 2 ( lei da residência) que remete para a Lei 3 (Lei local);
Agora da Lei 1 remete para a Lei 2 e a Lei 2 para a Lei 3 com referência material.
E se a Lei 2 remetesse com devolução simples para a Lei 3? Aplicava-se a lei 3 porque se considera
competente.
DV
A Lei 1 remete para a lei 2 e a lei 2 para a lei 3 com referência material e a lei 3 para a lei 2 por
devolução simples. NÃO É RETORNO POIS NÃO REMETE PARA A LEI PORTUGUESA (Lei 1), LOGO
TEMOS AQUI TRANSMISSÃO DE COMPETÊNCIA. SIMPLES OU EM CADEIA? SIMPLES. Considerar-
Neste caso parecia que a lei 3 não se considera competente, mas não. Neste caso devemos
aceitar o reenvio.
A Lei 1 remete para a Lei 2, a Lei 2 remete para a Lei 3 e a Lei 3 remete para a Lei 4.
RM RM
Lei 1 Lei 2 Lei 3 Lei 4
Se a Lei 2 remete por referência material para a Lei 3 e a Lei 3 para a Lei 4 por referência material.
Em 4: Aplicaríamos a L4;
Em 3: Aplicaríamos a L4;
Em 2: Aplicaríamos a L3;
Já não há harmonia jurídica e portanto não aceitamos o reenvio. Assim, mais vale aplicarmos a
Basta que a remissão da Lei 2 para a Lei 3 seja por devolução simples ou dupla devolução.
Assim em 4 aplicaríamos a lei 4; em 3 aplicaríamos a lei 4; e em 2 aplicaríamos a lei 4; Em qualquer
Temos de fazer uma extensão teleológica. Estender o artigo 17.º, exigindo o que está
devolução).
EXERCÍCIO:
RM DS
Lei 1 Lei 2 Lei 3 Lei 4
RM
1. O Reenvio é uma técnica para conseguir a harmonia jurídica internacional; Assim, temos de
2.1. Juiz de 4: A Lei 4 está a remeter para a Lei 3 por referência material e portanto o juiz
de 4 aplicaria a lei 3;
2.2. Em 3: Devolução simples logo a que l4 achar competente é a lei a aplicar, logo
aplicávamos a lei 3;
2.3. Em 2: aplicaríamos a Lei 3;
2.4. Então, em 1: era útil aplicar a lei 3, logo aceitaríamos o reenvio para a Lei 3. Temos
transmissão de competência e portanto temos de ver se os requisitos do artigo 17
estão preenchidos:
2.4.1. A lei 3 se considere competente. Como sabemos isso: se o caso se colocasse em
Artigo 25.º - Lei pessoal -» Lei da nacionalidade. Estamos a mandar aplicar a lei da nacionalidade.
Lei 1 Lei 2
RM
Acontece que o Sr. A tem nacionalidade argentina mas a lei argentina considera competente a
lei do local onde a pessoa estiver, que é em Portugal. A Lei 2 remete para a Lei 1 por referência
Então na Argentina: Aplicaríamos a lei 1; Fazia sentido o reenvio. Então vamos ao artigo 18.º.
Devemos aceitar o reenvio. O seu estado civil é regulado pela lei portuguesa. No entanto, podemos
estar a aplicar uma lei que não é a mais próxima do caso, que não tenha ligação ao caso, visto que
foi o outro sistema que escolheu, porque foi aceitar o reenvio. Mas isto tem um risco: Aplicar uma lei
que as pessoas não conhecem bem. Há um conjunto de matérias em que isso é mais grave: art. 25.º
- matéria de estatuto pessoal (estado das pessoas, capacidade, relações de família e sucessões por
morte). O reenvio em matérias de estatuto pessoal deveria ser mais rigoroso, mais exigente, devia ser
limitado.
DD
Lei 1 Lei 2 Lei 3
Considera-se
competente
A Lei 2 remete para a lei 3 com dupla devolução e a lei 3 considera-se competente. Temos de
verificar em concreto se aceitamos o reenvio.
Será que neste caso faz sentido aceitar o reenvio sob o ponto de vista da harmonia jurídica
internacional? Sim. Se aplicarmos a lei 3 vamos conseguir a harmonia jurídica internacional. O nosso
legislador dá autorização para o reenvio? Aplicamos o artigo 17.º ou 18? Artigo 17.º porque se
trata de transmissão de competência. Qual o requisito do artigo 17.º/1? Que a lei 3 se considere
competente. E em três aplica-se a lei 3. Logo, aceitamos o reenvio, promovendo a harmonia jurídica
internacional.
Para regular o estado dos indivíduos, a capacidade das pessoas, as relações de família e as
sucessões por morte (matérias do artigo 25.º) o legislador escolheu a lei pessoal -» Em princípio
será a lei da nacionalidade pois considera ser a lei mais próxima. Alguns países escolhem como lei
pessoal a lei da residência. Se uma pessoa reside num país sabe a lei que a ela se aplica. O nosso
legislador considera como lei pessoal a lei da nacionalidade por considerar ser a lei mais próxima. Os
países mais velhos são países de emigração. Se escolhermos na Europa a lei da nacionalidade, apesar
de agora residirem noutro país, aplica-se a lei da nacionalidade, para manter a ligação com o seu
país. Nos países novos, pretende-se criar uma ligação com esse país, escolhendo a lei da residência.
aceitámos o reenvio. Isto levanta uma preocupação: No estatuto pessoal há uma preocupação em
escolher uma lei que a pessoa conheça bem.
Pegando no exemplo anterior, vamos imaginar que o Sr. A celebrou um determinado negócio
num outro país. Aqui vai aplicar-se então essa lei porque se aceitou o reenvio. Será que se deve
aplicar uma lei que a pessoa não conhece em nome da harmonia jurídica internacional? Será
que a harmonia jurídica internacional é assim tão importante?
Como funciona?
2º REQUISITO: Só aplicamos o nº2 se tivermos aceitado o reenvio do nº1 – Assim, o nº2 do artigo
17.º e 18.º são de APLICAÇÃO SUCESSIVA.
Vai aceitar o reenvio não apenas pela harmonia jurídica internacional mas também exige a
harmonia jurídica qualificável. Há um acordo quanto à lei aplicável mas é uma harmonia que tem
de ser qualificável. Vamos exigir este consenso entre as duas leis que em princípio seriam as leis mais
importantes. Se não estiverem de acordo as duas leis, nós insistimos na lei da nacionalidade mesmo
prejudicando a harmonia jurídica internacional.
Aqui temos de passar a considerar, em matérias de estatuto pessoal, que o nosso legislador é
mais exigente e não basta a harmonia Jurídica internacional. Temos de ver o que faz a lei da
nacionalidade e a lei da residência.
A lei 1 remete para a lei 2 (lei da nacionalidade), a lei 2 remete para a lei 3 (dupla devolução).
Vamos ver a lei da residência (Lei 4 – lei da residência: lei espanhola). Esta remete por
referência material para a lei 2 (Inglaterra). Então: Em Espanha, país de residência, nestas matérias
manda aplicar a lei da nacionalidade, ou seja, a lei de Inglaterra.
Quanto à harmonia jurídica qualificada concluímos que não há: a lei da residência e a lei da
nacionalidade do sujeito não concordam.
Cessa o disposto no n.º anterior (voltamos a aplicar o art. 16º, que já era a regra geral), se a
lei para o qual a nossa regra de conflitos remete é a lei pessoal (em duas situações alternativas): se
o sujeito a quem se aplica residir em Portugal (não se verifica), ou se no país onde ele reside se
Logo, cessa o reenvio porque está cumprido o 17.º/2, logo aplicamos a lei 2, o que quer dizer
que vamos estragar a harmonia jurídica internacional. Se aceitássemos apenas a harmonia jurídica
internacional íamos aplicar uma lei que o Sr. A não conhecia.
Caso o país da nacionalidade quisesse aplicar a lei israelita e se o país da residência quisesse
também aplicar a lei israelita então também não me vou opor. Ou seja, se as duas leis mais
importante estivessem de acordo. Aqui prefere aplicar uma lei que conhecemos em detrimento da
Assim funciona o art. 17º: no nº 1 encontramos situações em que aceitamos o reenvio; no n.º
UM CASO DE RETORNO:
Lei 1 Lei 2
RM
A Lei 1 manda aplicar a lei 2 (lei da nacionalidade - cubana). L2 remete para L1, tendo um
retorno por referência material.
Faz sentido aceitar o reenvio? Sim porque vamos conseguir a harmonia jurídica internacional
Sendo um caso de retorno então vamos ver ao artigo 18.º se podemos aceitar o reenvio.
Aceitasse se a Lei 2 remetesse para a lei portuguesa. É O CASO? SIM!! Logo, aplicaríamos a lei
portuguesa. Qual o risco? Qual a nacionalidade do senhor? Cubano. E se ele não conhece a lei? Só
aplico a lei portuguesa se as duas mais importantes (nacionalidade e residência) estiverem de acordo,
Então acrescentar Lei 3 (lei de residência - Espanha) que remete para a lei 2 (lei da
nacionalidade).
Não temos harmonia jurídica qualificada, logo, vamos parar por aqui, não vamos aceitar o
reenvio.
No artigo 18º/2 não temos causas de cessação do reenvio como no artigo 17º/2, temos
requisitos adicionais para que o reenvio se mantenha.
O país da residência aplica a lei portuguesa? Não, a da nacionalidade (cubana): também não
Assim, não se preenchendo nenhum dos requisitos adicionais do art. 18º/2, o reenvio não é
aceite: aplica-se a lei da nacionalidade, a lei que o nosso legislador tinha escolhido, de forma a
Posto isto, não devemos aceitar o reenvio porque não temos maneira de conseguir a
uniformidade de lei aplicável – não promoverá a harmonia jurídica internacional.
Não se preenchendo o art. 18º/1, vamos para a regra geral do art. 16º: devemos fazer uma
referência material, ou seja, aplicamos a lei 2.
Íamos ser mais exigentes no reenvio: tínhamos números de aplicação sucessiva (mas era se
aceitássemos o reenvio – e íamos ver se ele se mantinha, pela verificação dos requisitos extra)
Neste caso, não temos de ver se o reenvio cessa no 18º/2 porque não aceitámos o reenvio,
Mas já que estamos em matéria de estatuto pessoal, vamos ver o que dizem as leis mais
importantes para a pessoa.
Sistema jurídico da residência (do perfilhante): ele reside em lei 4, que considera competente
a lei 3 com referência material – aplica a lei 3.
Conclusão: tanto a lei da nacionalidade como a lei da residência estão de acordo quanto a
aplicar a lei 3 – temos harmonia jurídica qualificada. Mas esta normalmente exige mais a partir do
reenvio (têm de se verificar mais requisitos); é um limite ao reenvio, por isso é que no caso supra
nem nos preocupámos com a harmonia jurídica qualificada – não tínhamos aceitado o reenvio por
Deixámos funcionar o sistema e ele aplicou a lei 2, aplicámos a lei que a pessoa conhece
melhor.
Será que deve ser relevante na escolha da lei aplicável, que as duas leis mais importantes
estejam de acordo em aplicar a lei 3?
Será que em vez de aplicarmos a lei 2, fazendo funcionar o sistema, devemos aplicar a lei
3, não por promover a harmonia jurídica internacional (porque não promove), mas por ser a lei
Sim, porque deixamos de aplicar a lei para a qual o nosso sistema tinha remetido; e aplicamos
outra, a lei 3. Será que não devíamos aceitar um reenvio para a lei 3, neste caso?
lei 3. Fundamentos:
Em matéria de reenvio de estatuto pessoal, tanto ou mais importante do que a
lei que os dois sistemas mais importantes para a pessoa querem aplicar.
Isto decorre implicitamente do 17º/2 e sobretudo do 18º/2: “aceita-se o reenvio
Isto significa que aceitámos o reenvio em nome de quê? Da harmonia jurídica qualificada.
A harmonia jurídica qualificada costuma ser um limite ao reenvio. Aqui ela serve de
fundamento ao reenvio.
Mas a Escola de Lisboa diz: era bom, era excelente que o sistema previsse a possibilidade de
aceitar o reenvio neste caso, mas não prevê, não decorre expressamente da lei que se possa
prever isto – devia, mas não ocorre.
Como não está expressamente na lei, não devia aceitar-se – devia estar, mas não está, logo,
apesar de haver harmonia jurídica qualificada, mantemos a nossa posição, fazemos funcionar o
Outra hipótese:
Estamos fora das matérias de estatuto pessoal e mandamos aplicar a lei inglesa; esta
Lei 1 Lei 2
DD
O tribunal da lei 2: vai aplicar a mesma exata lei que seria aplicada pela lei 1;
O tribunal da lei 1: o nosso sistema é pragmático, fica à espera de ver o que as outras leis
Isto pode gerar um problema, quando as outras leis fazem o mesmo, quando também ficam à
Há duas formas de resolver o problema consoante a forma como estejamos a ler o nosso
sistema de reenvio.
1 FERRER CORREIA vê no art. 16º a regra geral (não aceitação do reenvio); no art. 17º e 18º
Nesta situação, não aceitar o reenvio significaria aplicar a lei 2 – a lei que o nosso sistema
aplicou.
Aceitar o reenvio seria aplicar a lei 1, porque era aplicar outra lei que o nosso sistema não
indicou. O reenvio aqui é necessário a promover a harmonia jurídica internacional? Precisamos de o
Se aceitarmos o reenvio:
T1: Lei 1
T2: Lei 1
T1: Lei 2
T2: Lei 2
Ou seja, seja qual for a nossa opção, teremos sempre harmonia jurídica internacional –
podemos decidir o que quisermos, a questão é saber o que decidir.
Segundo F. CORREIA, devemos aceitar o reenvio se ele for necessário à harmonia jurídica
Sabendo que a lei inglesa vai fazer sempre o que nós quisermos, e teremos harmonia jurídica
internacional, vamos aplicar a lei 2, não vamos aceitar o reenvio – obtemos a harmonia jurídica
internacional sem recorrer ao reenvio.
A vantagem é que estamos a aplicar a lei que o nosso legislador entendeu ser a lei mais
relevante. Os ingleses fazem o que quisermos, logo aplicamos a lei que achámos mais relevante no
início.
2
Mas para BAPTISTA MACHADO a questão vê-se de outra forma: ele não vê nenhuma
regra no art. 16º; para ele são os casos de não aceitação do reenvio; e o 17º e 18º são os casos de
aceitação do reenvio.
Esta situação é um caso não previsto. Nesta situação podemos aplicar a lei que quisermos?
Do ponto de vista da harmonia jurídica internacional, sim – de qualquer forma; seja qual for o
percurso que sigamos, e estando cumpridos os requisitos, podemos convocar aqui um princípio do
DIP: Princípio da boa administração da justiça -» Em Portugal, se for possível, aplique-se a lei
portuguesa, porque é a lei que o juiz conhece melhor – e Inglaterra aplicará também essa lei porque
aplicação é mais fácil para o juiz português – é a lei que conhece melhor. Esta é a forma mais
comum, a preferível pela jurisprudência.
NOTAS:
1. Este princípio nada tem a ver como princípio da proximidade (um dos princípios a que o
legislador atende para escolher a lei aplicável – escolhe a lei mais próxima).
Open-endes rules: passam para o juiz a escolha da lei, segundo o princípio da proximidade –
é um princípio geral que orienta o legislador.
2. Este princípio não tem rigorosamente nada a ver com direitos reais.
É um princípio jurídico que pretende salvaguardar um risco: tem a ver com aquelas situações
em que acabamos por regular uma universalidade de bens.
Art. 62.º (conceito-quadro: sucessão por morte): escolhemos uma lei, lei da nacionalidade,
Exemplo:
Quem vai regular esta matéria é a lei da nacionalidade – ele era português, logo, a lei
portuguesa vai regular a sucessão.
A lei portuguesa vai dizer, por exemplo, que os bens vão para o cônjuge e para o filho. Será
que fazemos bem em aplicar a lei portuguesa a toda a sucessão, ou será que isso vai envolver um
risco? É que por exemplo, pode acontecer que num destes países, eles entendam que, na lei deles, os
Por exemplo, para a lei brasileira, o cônjuge não pode ser sucessor, não se preenchem os seus
requisitos – apenas pode ser o filho. Mas para a nossa lei é o cônjuge que é o sucessor e vai ser
E se a nossa decisão, a sentença que escolheu uma única lei, que abrangeu vários bens em
situações diferentes, não for reconhecida nesse país onde está a situação da coisa?
Envolve um risco de não reconhecimento da nossa decisão em alguns dos países onde estão
os nossos bens.
Para obviar a este risco, um autor alemão, ZITTELMANN, desenvolveu o princípio da maior
proximidade, que diz que quando estamos a escolher uma lei de determinada matéria mas que
envolve uma universalidade de bens, pode ser necessário separar alguns desses bens do domínio
dessa lei aplicável e submetê-los, nessa matéria, à lei que tem a maior proximidade, isto é, à lei da
situação da coisa.
Porque deixar isto funcionar implica um risco de que a nossa sentença sucessória não seja
Temos de separar a lei do todo e submeter à lei da parte. Mas que bens?
Bens imóveis – isto só se justifica no âmbito de bens imóveis, porque são bens que têm
efetivamente uma relação muito forte com a lei da situação da coisa. Portanto, é nos bens imóveis
Para garantir que a nossa decisão seja reconhecida, que possa produzir efeitos em relação à
Mas quando? Em que situações é que devemos destacar alguns desses bens e submete-
los à lei da situação da coisa?
Princípio da maior proximidade na sua aceção restrita ou material: só quando a lei do país
da situação da coisa tiver um regime especial de direito substantivo (direito material) para aquele
tipo de bens/ para aquele imóvel (apenas neste caso não aplicamos lei da nacionalidade à
universalidade do bens da sucessão). Nesta aceção o princípio funciona pouca vezes apenas havendo
princípio opera tem em conta o direito conflitual e não o material. Quando a lei da situação da coisa
se considere competente aplicamos o princípio e o todo cede à parte.
Têm em comum serem ambas formulações do princípio da maior proximidade: em certos casos
devemos separar a lei aplicável aos bens e submeter esse bem à lei da situação da coisa.
Será que este sistema vale/vigora em Portugal? Será que quando estamos a escolher uma lei
para aplicar ao regime de bens do casamento, escolhemos leis diferentes para os diferentes
bens envolvidos?
PARA FERRER CORREIA VIGORA EM PORTUGAL, NÃO NA PARTE GERAL MAS NUM
Na prática vamos aplicar um regime especial para regular a lei da situação da coisa, mas vamos
Para FERRER CORREIA, o princípio da maior proximidade, acaba por vigorar em Portugal, na
sua aceção restrita, indiretamente, não em sentido próprio, mas através de um outro instituto
(norma de aplicação necessária e imediata). Se um imóvel está na Suécia e para a lei sueca é especial
então estamos dispostos a aplicar essa lei -» normas de aplicação necessária e imediata.
Este princípio não vigora em Portugal, isto é, quando escolhemos a lei aplicável a regular a
sucessão aplicável a sucessão dos bens, não aplicamos outra lei, não vigora em Portugal.
Porquê?
Diz FERRER CORREIA, que o princípio da maior proximidade não é necessário nem suficiente
para atingir seu objetivo, para o fim a que se destina: o reconhecimento das nossas decisões noutro
não é suficiente porque alguns países, em matéria de imóveis, pura e simplesmente nunca
reconhecem decisões estrangeiras seja qual for a lei que aplicam – que é justamente o caso do Brasil;
não vale a pena ter esse princípio, aplicar lei diferente daquela que tínhamos escolhido para este
problema, para esta matéria da sucessão, porque ele não vai ser suficiente - mesmo que decidamos
aplicar a lei brasileira, a sentença não vai ser reconhecida lá, então, para quê mudar o direito
conflitual?
não é necessário abdicar da lei que tínhamos escolhido para aplicar a lei da situação da coisa,
se nesse país vigorar a teoria do reconhecimento dos direitos adquiridos (aceito decisões
estrangeiras que tenham aplicado uma lei diferente; considero-me competente para regular a
situação, mas as sentenças que aplicam lei diferente vigoram na mesma). Mesmo que mudemos a
lei aplicável, que apliquemos outra lei que não a que queríamos, noutro país vão reconhecer na
mesma a nossa decisão porque lá vigora a teoria dos direitos adquiridos -estão dispostos a aplicar
Ele não vigora em Portugal como sistema, como princípio, na sua aceção conflitual mas tem
dois afloramentos:
Afloramento direto (art. 47º - capacidade para constituir direitos reais para coisas imóveis):
vem inaugurar um regime especial – afinal, quem vai regular a capacidade para transmitir imóveis é a
lei da situação da coisa, mas só ou desde que essa lei assim o determine – desde que a lei da
situação da coisa se considere competente. Se a lei da situação da coisa não se considerar
competente aplicamos a lei da nacionalidade, que era a lei que queríamos aplicar.
Afloramento indireto (o nosso sistema de reenvio, num caso, faz este princípio operar)
Exemplo:
Situação de sucessão, para saber o que fazemos aos bens imóveis do senhor A, residente em
Portugal. Nós remetemos para a lei da nacionalidade (lei francesa – Lei 2); essa remete com
devolução simples para a lei da situação da coisa (lei brasileira – Lei 3), que se considera competente.
Em 3 aplicaríamos a Lei 3
Em 2 aplicaríamos a Lei 3
Aceitando o reenvio pelo 17º/1, temos de ver se ele cessa pelo 17º/2.
nacionalidade e a lei da residência não estão de acordo – cessa o reenvio porque não temos a
harmonia jurídica qualificada.
Reativa o reenvio que tínhamos feito cessar pelo n.º 2: volta a funcionar o reenvio, desde que
se cumpram 3 requisitos cumulativos:
1. se estivermos perante uma das matérias elencadas no artigo (verifica-se: estamos perante
Porquê?
quem está a ter a maior proximidade é a outra lei, a lei da nacionalidade, que quer aplicar outra lei. É
um afloramento indireto visto que é a lei da nacionalidade, verdadeiramente, que está a remeter para
a lei da situação da coisa. Não somos nós que cedemos face à lei da situação da coisa, mas é a lei da
nacionalidade, é ela que está a remeter para a lei da situação da coisa.
É de aplicação sucessiva: só aplicamos o art. 17º/3, se tivermos passado por este percurso
todo.
17º/1: aceita-se;
6.3. O PRINCÍPIO FAVOR NEGOTII E A SUA INFLUÊNCIA NO REENVIO COMO LIMITE (ART. 19.º/1
CC) OU O SEU FUNDAMENTO AUTÓNOMO (ARTS. 36.º E 65.º CC).
Até agora vimos três princípios jurídicos que orientam o nosso sistema de reenvio:
bens em causa; pode ser necessário destacar certos bens e aplicar-lhes outra lei, diferente da
que indicámos.
Tem um afloramento em matéria de reenvio: art. 17º/3 – reativa o reenvio.
Exemplo:
A regra de conflitos que nos diz qual a lei que é aplicável é o art. 42º - escolha pelas partes; não
escolheram, mas há conexão múltipla subsidiária – lei da residência comum das partes (L2).
Não estamos em estatuto pessoal, porque não mandou aplicar a lei da nacionalidade (truque),
mas porque estamos, no fundo, numa situação de contratos, não em estado das pessoas, relações de
família, etc. (art. 25º).
Como se resolve?
Através do reenvio, o reenvio é um expediente que pretende resolver este problema. Vamos
aplicar não a lei que o nosso sistema tinha escolhido, mas outra lei que foi escolhida, por outro país.
Vamos analisar, começando pelo fim, porque a nossa lei tem de ver que leis os outros países
estão a aplicar para depois decidir que lei aplicar.
aplicar – Lei 3
Faz, assim, sentido no nosso caso aceitar o reenvio? Sim, temos harmonia jurídica
internacional.
Mas será que podemos? Estamos perante um dos casos que o nosso sistema admite?
Vamos ao artigo 17º/1 para ver se se preenche os requisitos do artigo.
Verifica-se: se o caso estivesse a ser julgado no país 3, a lei 3 considerava-se competente –
podemos aceitar o reenvio, pois, com isso, vamos conseguir obter a harmonia jurídica internacional: a
decisão que se vai obter em Portugal seria a mesma que seria obtida no país 3, no país do local de
celebração.
Não aplicamos o 17º/2, porque não estamos em matéria de estatuto pessoal – só aplicamos
Acontece que a Lei 3 considera que o negócio é inválido; mas a Lei 2 considera que o negócio
é válido. Decidimos aplicar a Lei 3, portanto o negócio é inválido, não vai ser reconhecido.
O reenvio teve alguma coisa a ver com este resultado a que chegámos?
Sim, caso contrário, não aceitando o reenvio, aplicávamos a Lei 2 e o negócio seria válido.
estava a mandar aplicar a lei 2. Agora íamos-lhes dizer para esquecerem essa lei e que a lei
competente afinal é a lei 3? Se calhar as partes tinham expectativas que a lei competente fosse a lei
2.
Temos, assim, o quarto princípio que orienta o nosso reenvio: princípio do favor negotti.
Isto relaciona-se com CAVERS? Sim, ele preocupava-se com o resultado material.
O negócio for inválido por força da lei que decidimos aplicar por força do reenvio, por fazê-lo
funcionar.
O negócio seja válido pela regra do art. 16º, caso tivéssemos recusado o reenvio, pela lei que
aplicaríamos pela nossa regra de conflitos (Lei 2).
Para a ESCOLA DE LISBOA são estes os dois únicos requisitos do art. 19º. Nestas situações, faz-
diferentes.
Por força deste efeito negativo, a ESCOLA DE COIMBRA diz que há mais dois requisitos para
que funcione o art. 19º:
salvaguardar; Segundo FERRER CORREIA, o art. 19º não faz sentido para um negócio a
celebrar amanhã, pois se as partes ainda não celebraram o negócio, não têm expectativas a
É preciso demonstrar que as partes contavam efetivamente com a aplicação da lei 2; que
tivessem verdadeiras expectativas em ver aplicada a lei 2, caso contrário não faz sentido cessar
o reenvio se não estavam à espera de ver a ser aplicada a lei 2 ao seu negócio.
Ou seja, segundo diz FERRER CORREIA, é preciso haver alguma probabilidade de que as partes
tenham ido ver a regra de conflitos portuguesa; é preciso que seja conjeturável que elas poderiam
ter ido ver a regra de conflitos portuguesa – desde que no momento da celebração do negócio
houvesse algum contrato com a ordem jurídica portuguesa (seja a nacionalidade ou a residência de
Só assim, nestes casos, podemos conjeturar que foram consultar a regra de conflitos portuguesa
– e só fazendo isso poderiam ter expectativas na aplicação da lei 2.
Que, no momento da celebração do negócio, houvesse algum contacto com a regra de conflitos
portuguesa, com a ordem jurídica portuguesa, porque só assim poderiam ter expectativas em ver
aplicada a lei 2, que poderiam ter visto a regra de conflitos portuguesa.
Já para LIMA PINHEIRO, se as partes tivessem ido ver a regra de conflitos portuguesa, também
podiam ter visto o seu sistema de reenvio, e poderiam calcular que seria aplicada a lei 3, por isso a
escola de Lisboa não aceita estes requisitos, não os considera (apenas tem em atenção os requisitos
literais).
O princípio do favor negotti pode intervir no nosso sistema de outra forma: pode não só ser um
De facto, há duas regras de conflitos no sistema português que estabelecem o reenvio em nome
do favor negotti e não em nome da harmonia jurídica internacional:
Art. 65º CCiv. (conceito-quadro: a forma das disposições por morte, v.g., testamento):
conexão múltipla alternativa – dá várias leis para que o negócio seja válido; pretende-se favorecer o
favor negotti.
Há aqui reenvio – está a remeter para outra lei. Para que é que se está a estabelecer este
reenvio aqui? Para garantir a validade do negócio. O legislador não está aqui a ver se este reenvio
estabelece a harmonia jurídica internacional; aqui estabeleceu-se o reenvio em nome do favor
negotti.
Assim, realmente, o princípio do favor negotti pode ser um limite ao reenvio no art. 19º, mas
também pode ser fundamento, como neste artigo.
Art. 36º CCiv.: o reenvio está no n.º 2. Aceita-se o reenvio em nome do favor negotti.
NOTAS FINAIS
Exemplo:
Vamos imaginar que as partes escolheram aplicar a lei brasileira. Sucede que esta lei não se
considera competente e manda aplicar outra lei – lei argentina, porque é a lei onde celebraram o
negócio, e esta considera-se competente.
negócio.
O nosso legislador diz que não faz sentido aceitar o reenvio neste caso – a expectativa das
reenvio nunca! Porque a expectativa das partes é de ver aplicada a lei que eles escolheram,
quando se permite que escolham, não a lei que a regra de conflitos indicar.
No art. 19º/2 temos a cessação do reenvio a favor da expectativa das partes quando elas
escolheram a lei aplicável, quando tal lhes seja permitido.
Nota: Aqui não fomos ver se os negócios são ou não válidos – tal só se vê no art. 19º/1! Aqui,
independentemente da regra de conflitos, sempre que o elemento de conexão for a vontade das
partes, aplica-se a lei que as partes escolheram, não importa o resultado material.
Exemplo:
Se duas pessoas casarem em Las Vegas, é essa a lei aplicável, para se promover a validade do
negócio. A conexão do local de celebração é utilizada a favor do princípio do favor negotti; está a
dizer que eles casaram lá, e, portanto, a lei que seguiram, em princípio, foi essa; ao aceitar esta
validade por aqui, está-se a promover a validade do negócio.
Para FERRER CORREIA, o local da celebração é também uma conexão inimiga do reenvio.
Mas esta é duvidosa, pois só FERRER CORREIA defende isto.
Quer dizer que quando a regra de conflitos indicar a lei do local da celebração, mesmo que
essa lei remeta para outra lei, não devemos aceitar, temos de aplicar esta lei, porque quando o
legislador indicou a lei do local do negócio, ele queria a validade do negócio, e só se consegue isso
se a lei do local do negócio for efetivamente aplicada ao negócio.
aplicação da lei que está a ser remetida, isto é, tem o dever de fundamentar a não aceitação do
reenvio, porque não está regulado.
Este sistema de reenvio só se utiliza quando a regra de conflitos que estamos a concretizar
seja fonte interna – é o sistema que utilizamos na concretização das regras de conflitos internas,
nacionais, não com regras de conflitos europeias ou internacionais.
Porquê?
Exemplo: divórcio
os problemas, mas como grande parte dos problemas são resolvidos, opta-se pelo sistema mais
simples – sistema de referência material.
Tem um sistema de reenvio próprio, que é copiado do nosso sistema, porque se entendeu
que seria mais fácil regular as situações assim, tem um sistema pragmático.
O nosso sistema é complicado, tem dificuldades, mas tem um mérito: é muito perfeito.
Por isso tem vindo a ser copiado.
O reenvio pretende solucionar o problema dos conflitos negativos dos sistemas de DIP.
conflitos bilateral. No unilateralismo isto não acontece, este problema de indicarmos uma lei que
não se considera competente. Assim, o reenvio soluciona uma das desvantagens do sistema
bilateral.
O conflito de sistema de DIP pode não ser só negativo (conflito negativo: significa que a lei
que indicamos como competente não se considera competente à luz do seu sistema). Pode
Art. 56.º - lei pessoal -» lei da nacionalidade. Logo, a lei 1 remete para lei portuguesa. Esta
considera-se competente.
Vamos supor que esta perfilhação não é para constituir mas sim para reconhecer. Tenho uma
perfilhação que já foi feita. Será que é válida? Vamos reconhecer? Quando reconhecemos
situações constituídas no estrangeiro? Quando elas são válidas para a lei competente. Como
sabemos qual a lei competente: através das regras de conflito. Para nós reconhecermos a situação
temos de saber qual a lei competente.
Agora, ele fez a perfilhação no estrangeiro, no Brasil. Então o que é que o conservador
brasileiro vai fazer? Saber a lei aplicável. Vai utilizar as regras de conflito brasileiras sendo que esta
manda aplicar a lei da residência.
Será que a perfilhação é válida entre nós? Face à lei portuguesa a perfilhação não é válida. A
situações constituídas no estrangeiro ao abrigo de uma lei que não seja para nós a lei competente .
quando essas situações forem consideradas válidas à luz da lei competente. Nós escolhemos qual é a
lei mais importante. Essa é a que tem de dizer se a perfilhação (ou outra matéria) é válida ou não.
Exige-se que seja a lei mais ligada à pessoa a indicar se devemos reconhecer situações
ocorridas no estrangeiro ou não.
O PROBLEMA É: vamos voltar à desarmonia. Este senhor tinha espectativas, ele fez tudo o que
era suposto: seguiu as indicações que lhe deram; disseram-lhe para seguir a lei brasileira e ele
seguiu-a escrupulosamente.
O problema desta conceção é que pode levar na violação das espectativas das partes, que
tinham ideia de estar a fazer tudo para o negócio/ato ser válido.
Assim, o nosso sistema faz um desvio à conceção clássica: Vai criar um desvio em matéria
de estatuto pessoal Art. 31.º. Vamos reconhecer situações que não são válidas à luz da lei
competente mas que sejam válidas numa outra lei. Outra lei igualmente importante: Residência (Art.
31.º/2)
REQUISITOS LITERAIS:
Porque é a matéria em que escolhemos a lei da nacionalidade mas o legislador considera que há
outra lei igualmente competente (residência). Aqui é onde o legislador aceita duas leis.
jurídicos. Porquê? Por causa das expetativas das partes. O interessado podia ter expectativa que se
aplicasse outra lei. Princípio jurídico do artigo 31.º/2 -» Princípio do favor negotii
No caso: É matéria de estatuto pessoal? Sim. Mandou aplicar a lei pessoal e artigo 25.º
expectativas.
4º REQUISITO: Em conformidade com a lei desse país desde que esta se considere
competente. Assim, o negócio tem de ser válido para a lei da residência mas só se a lei da residência
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FDUC – DIP 2018/2019
se considerar competente. Isto é, no país da residência mandam aplicar a própria lei, e considera o
Interpretação de LIMA PINHEIRO: isto quase estabelece uma conexão alternativa no estatuto
pessoal. Porque aceitamos a lei da nacionalidade, é a que escolhemos, mas aceitamos também a lei
da residência. Porque consideramos que a lei da residência é igualmente importante para a pessoa,
está disposto a denegar o seu estatuto pessoal (para mim, a lei da residência é suficiente, aceito os
negócios que forem válidos para a lei da residência) – a denegar a lei do foro no âmbito do estatuto
pessoal, porque afinal vai aceitar a lei da residência. Estamos a denegar o que o nosso legislador
tinha escolhido: escolhemos a lei da nacionalidade, mas acabamos por aceitar a lei da residência.
Isto no fundo é um desvio ao sistema geral, e, sendo assim, temos de ter cautela em o aplicar
apenas nos casos em que seja mesmo necessário aplicá-lo.
No caso: Ele conta que o negócio seja válido. A lei brasileira considera válido o negócio
logo este deve ser reconhecido estando os 4 requisitos cumpridos.
REQUISITOS DOUTRINAIS:
1º REQUISITO: Situação jurídica já consolidada, negócio que já foi celebrado algum tempo.
2ºREQUISITO: Não pode ainda haver já uma sentença estrangeira sobre este assunto. Se já
houver uma sentença estrangeira então o problema é o do reconhecimento das sentenças
estrangeiras;
se for uma questão incidental, o instituto do DIP que o vai resolver não é o dos direitos
adquiridos, mas o instituto da questão prévia (não vamos dar este ano).
3 – questão principal? Como tal e não para efeitos de algo. Logo cumpre-se todos os
requisitos. Apesar de não reconhecido à luz da lei competente este negócio vai ser válido.
Será que podemos utilizar o artigo 31.º/2 noutro país que não a residência? Imaginamos
que a perfilhação foi celebrada na Argentina. Na Argentina manda aplicar a lei da residência, ou seja,
lei brasileira. Apesar deste negócio não ser válido para a lei competente pode ser para o art. 31.º/2?
Os 1,2 e 4 requisitos estão cumpridos, mas o 3 não. Parece que não podemos reconhecer
esta perfilhação. Faz sentido não reconhecer esta perfilhação? NÃO! A teleologia do artigo
31.º/2 exige este requisito? Não. Não é necessário que o negócio seja celebrado no país de
residência. Assim, faz sentido reconhecer este negócio. A jurisprudência procede a uma
flexibilização teleológica do artigo 31.º/2 abdicar do 3 requisito: que o negócio tenha sido
celebrado no país de residência. Para cumprir esta teleologia vamos abdicar deste 3 requisito. O local
TELEOLÓGICA
esse negócio. À luz da lei portuguesa o negócio era inválido. A compra foi há 10 anos. Discute-se em
Portugal a validade do negócio. A lei brasileira também considera que o negócio era inválido por
falta de capacidade. Mas o DIP brasileiro em matéria de capacidade considera aplicável a lei do local
de celebração. E segundo a lei Argentina o negócio é válido.
ENTRE NÓS: Vamos reconhecer quando sejam válidas para a lei competente. Temos de saber
qual a lei competente através da regra de conflito: art. 25.º que remete para a lei pessoal, art. 31.º -»
O que diz a lei da nacionalidade: Portuguesa, logo negócio inválido. Mas estamos em matéria
de estatuto pessoal.
Apesar de o negócio não ser válido à luz da lei competente vamos ser se conseguimos
4.º A lei brasileira não se considera competente, logo não se cumpre o requisito.
No brasil que lei se vai aplicar? A lei da Argentina. E a lei da Argentina diz que é válido.
LEI ARGENTINA. SERÁ QUE FARIA SENTIDO QUE ESTE NEGÓCIO FOSSE RECONHECIDO EM
PORTUGAL?
A teleologia do artigo 31.º/2 diz que: Se o negócio fosse valido no país da residência,
podíamos reconhecer. O que diz a doutrina é que faz sentido reconhecer através de uma
interpretação extensiva do artigo 31.º/2. Se no país da residência produz efeitos então devesse
ou outra.
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Com esta interpretação já podemos reconhecer este negócio? Sim porque o 4.º requisito
estaria cumprido.
Estamos a discutir a capacidade (art. 25.º) de um negócio que já foi celebrado. O artigo
25.º manda aplicar a lei da nacionalidade e esta considera competente a lei do local de
O Sr. reside em Portugal, e em Portugal este não tinha capacidade, mas é válido à luz da lei
competente. Regra de conflito do artigo 25.º manda aplicar a lei da nacionalidade que remete para a
lei 3.
Problema de reenvio. Sistema pragmático: Vamos aceitar se for útil para a harmonia jurídica
A lei 3 considera-se competente. Logo, o requisito está cumprido. Mas estamos em matéria de
estatuto pessoal e portanto o nosso legislador criou limitações. Assim só aceita reenvio caso haja
aplicamos assim a lei 2. Voltamos à regra da lei 2. Estamos a prejudicar a harmonia jurídica
internacional mas aplica uma lei que a pessoa conhece, a lei da sua nacionalidade.
Agora temos de ver o art. 17.º/3 se o reenvio reativa pelo princípio da maior proximidade.
Reconhecemos ou não este testamento? Escolhemos a lei 2 e esta diz que o negócio não
é válido.
O que podemos fazer ainda? Interpretação extensiva – no pais da residência o negócio era
considerado válido, devíamos reconhecer. Em Portugal estamos aplicar que lei? Lei 2 – esta considera
negócio inválido.
NO PAIS QUE ATÉ É MAIS IMPORTANTE PARA NÓS, DIZ QUE O NEGÓCIO É VÁLIDO
Para a Escola de Lisboa: Não considera legítimo. Entende que não devemos reconhecer esta
interpretação pois ao interferir com o reenvio coloca em causa princípios importantes – Harmonia
principio favor negotii é mais importante que a harmonia jurídica qualificada. Logo, podemos fazer
uma interpretação analógica do artigo 31.º/2 ainda alterando o regime do reenvio porque o princípio
do favor negotii é mais importante, as expectativas das partes são mais importantes.
estado que não tem apenas uma ordem jurídica. Existem alguns ordenamentos a que não
corresponde uma única ordem jurídica, como é o caso dos EUA – aí qual será a lei aplicável? O que
fazer quando nossa regra de conflitos manda aplicar uma lei de um país a que corresponde
várias ordens jurídicas?
que corresponde várias ordens jurídicas com divisão/distinção territorial, cada um com a sua ordem
jurídica. Como é o caso dos EUA, Espanha.
A segunda categoria dos sistemas plurligeslativos são aqueles que têm dois sistemas
jurídicos, mas os dois se aplicam à totalidade do território, fazendo uma distinção com base pessoal.
É o caso da Síria. As pessoas na Síria que sejam muçulmanas têm sistema jurídico de base
Estes dois casos colocam-nos problemas, pois se nossa regra conflitos mandar aplicar lei
do reino unido, questiona-se qual o sistema do reino unido; se mandar aplicar da Síria, a lei de base
confessional aplicável aos muçulmanos, ou não confessional?
a lei aplicável, qual o sistema dentro do país que tenha sistema plurilegislativo se vai aplicar, só se
coloca quando o elemento de conexão for um único – a nacionalidade, pois esta é única para todo o
país. Então como vamos saber qual lei aplicável dentro desses sistemas? Ora, no art.20º/1 CCivil
determina-se que nesses casos se aplica o direito interno desse Estado que fixa em cada caso o
sistema aplicável – qual direito interno? Direito interno interterritorial, resolve conflito de leis
dentro de um país que seja sistema plurilegislativo. O artigo diz: pergunte-se ao direito
interterritorial do sistema competente plurilegislativo; vamos ver às regras que esses estados têm
para ver qual é a solução.
No entanto, os problemas não ficam por aqui, pois nos EUA há DIP sim, mas cada estado
tem o seu! Aqui Dr. Ferrer Correia diz que se houverem vários e eles forem todos iguais para x
matéria, mandarem todos aplicar a mesma lei, seguimos esse DIP, como se houvesse um só;
Mas e se cada sistema dentro dos EUA tiver o seu DIP e forem diferentes quanto a x
matéria, mandarem aplicar lei diferente? Art.20º/2/parte final CCivil, nesse caso passa-se a aplicar
a lei da residência. Mas o que isto significa? Vamos ver dentro do estado/sistema de
nacionalidade onde o sujeito reside OU o que está a fazer este preceito é desistir procurar lei da
nacionalidade e substitui pela lei da residência? Quanto a esta questão temos duas formas de
resolver o problema, duas teses quanto à interpretação deste preceito:
desiste de procurar lei da nacionalidade, substituindo pela lei de residência. O argumento é que o
nosso sistema já mostrou várias vezes que a sua escolha pela lei da nacionalidade não é assim tão
❖ art.31º/2 CCivil;
❖ no reenvio por levar em conta a Harmonia Jurídica Qualificada;
Além disso, Dr. Ferrer diz que isto resolve definitivamente o problema, o elemento de
2. DRA. ISABEL MAGALHÃES COLLAÇO, ESCOLA DE LISBOA – o artigo 20º/1 e 2 diz que
estamos a determinar dentro do sistema de nacionalidade qual é a lei competente, pelo que temos
de nos restringir ao país da nacionalidade, não pode mandar aplicar diferente lei da nacionalidade.
Assim, se tudo falhar, vamos ver onde é que ele reside dentro do país da nacionalidade. Contudo isto
gera um problema, pois ele pode não residir dentro do país da nacionalidade. Com este critério da
doutora o 20º/2 não resolve o problema. A doutora nesse caso fala de flexibilização do DIP, se
falharem critérios do 20º/2 vai valer o princípio da proximidade, um dos aspetos da flexibilização do
DIP, pelo que em vez de ter regra conflitos rígida, quem escolhe lei aplicável é o juiz. Tem de ser o
juiz, perante o caso concreto, a ver com que sistema, dentro do estado de nacionalidade, o
sujeito tem mais ligações (o mesmo que está no art.52º/2 parte final).
Art.20º/3 CCivil determina que se observa o direito interconflitual desse estado com
esse sistema, isto é, regras de conflitos que escolhem lei aplicável a diferentes pessoas. Este
preceito passa sempre a responsabilidade para lei competente, para o estado. O Dr. Ferrer considera
que nesse caso, veja-se efetivamente qual o sistema aplicável a essa pessoa, mesmo sem regras.
Nota: Não costuma aparecer como pergunta direta esta matéria, mas como questão
prévia. Por exemplo A ser espanhol, aí temos de colocar logo no problema.
O direito aplicável por força da norma de conflitos é o direito que realmente vigora num
determinado país, seja qual for a natureza da fonte de onde emanam os respetivos preceitos.
O direito estrangeiro é aplicado entre nós como direito – arts. 348º/2 CC e 721º/3 CPC.
Assim, quanto às regras de conflito, quando mandam aplicar lei estrangeira, colocam-se
4 problemas:
pondo em causa Harmonia Jurídica Internacional. A tese das regras conflitos facultativas é de
afastar por pôr em perigo a HJI. Será que foi isso que legislador fez? Sim, afastou no art.348º/2
ccivil que diz que ainda que as partes não digam que querem a regra de conflitos, ela é de aplicação
obrigatória.
que o direito estrangeiro está a ser tido como questão de facto, e aí são as partes que têm de provar,
ou será que é questão de direito, e aí é o juiz que tem de provar? Quanto a isto cada sistema vai
O que faz mais sentido é ser o juiz a provar, ou seja, que o direito estrangeiro seja
tido como questão de direito, sendo de conhecimento oficioso. Será que foi isso que vigora no
nosso sistema?
Art.348º/1 (atenção porque no início parece dizer que cabe às partes) determina, na 2ª
parte, que o tribunal deve procurar oficiosamente o conteúdo da lei estrangeira, CONTUDO, as
partes têm dever de colaboração, trazendo ao juiz os dados que tiverem sobre a lei estrangeira.
Mas como é que o juiz, na prática, vai cumprir esta obrigação? Existe uma estrutura
pública, nos sistemas que escolhem que o direito estrangeiro é de conhecimento oficioso – gabinete
com os congéneres = mecanismo institucional, existência de uma instituição que permita aos
tribunais conhecer o direito estrangeiro. No brasil isto não existe porque lá o direito é questão de
O que se faz se tribunal não conseguir apurar o conteúdo da lei estrangeira? Temos
solução legal, mas parte da doutrina vem dizendo que antes de partirmos para essa solução legal
positivada, o juiz deve, no caso de não conseguir apurar, aplicar o direito provavelmente competente
ou vigente (?) no país estrangeiro – posição exclusiva do Dr. Ferrer Correia. Mas o que é o direito
❖ Se não soubermos a lei que vigora agora no país estrangeiro, mas o juiz sabe a lei que
vigorou até x ano, deve, em princípio, aplicar a lei que vigorou até esse ano, partindo do
sistema da mesma família, pois presume que a solução seja idêntica (por exemplo juiz
determinava que a lei do país x é da mesma família jurídica, tem os mesmos princípios, etc,
Esta solução proposta pelo Dr. Ferrer não é proposta por toda a doutrina. A maior parte
da doutrina considera que não há norma que apoie isto. No entanto, alguns tribunais, utilizam
este passo, apesar de não ser muito comum.
E quando não se utiliza esta proposta, qual é a solução? Art.348º/3 parece ter solução
imediata. Determina que nesse caso aplica-se a lei do foro, o direito interno português. Mas atenção,
este preceito não funciona imediatamente, é o último reduto, antes deste vamos ver o art.23º/2
CCivil segundo o qual se recorrerá à lei que for subsidiariamente competente, funcionando isto
apenas nas regras de conflitos com sistema de conexão múltipla subsidiária. Assim: se a regra de
conflito tiver conexão subsidiária, não conseguindo o juiz determinar conteúdo da lei estrangeira,
caso dos apátridas, a sua lei é da residência, art.32º CCivil; nos ordenamentos plurilegislativos se
todos os argumentos falharem, aplicasse lei residência; há sistemas que determinam subsidiariedade
nacionalidade?
deve adotar-se igual procedimento sempre que não for possível determinar-se o elemento conexão
de que dependa a designação da lei aplicável, deve aplicar-se a lei subsidiária se a regra de conflito
tiver conexão múltipla subsidiária, e se não tiver, aplica-se o 348º/3 aplicando-se a lei do foro.
não? Temos de ir ver à lei inglesa. E temos autorização legal para fazer isso? Sim, art.23º/1. A lei
estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de acordo com regras interpretativas
nele fixadas.
Por fim, será que este regime do conhecimento do direito estrangeiro que estamos a
ver é exclusivo para os tribunais OU para qualquer órgão aplicador do direito? O art.348º fala
especificamente no tribunal, o que gerou esta dúvida na doutrina. É verdade que esse artigo é
apenas para os tribunais, mas como é a única regra sobre este problema que temos, deve aplicar-se
determinam aplicação da lei estrangeira e não conseguem determinar oficiosamente o seu conteúdo,
exigem aos interessados a prova do conteúdo do direito estrangeiro, recusando o ato enquanto
Estes têm função parajurisdicional pois decidem com base no direito, pelo que estes teriam o
mesmo regime que os tribunais, mas como os serviços de registo se pretendem céleres, foi criada em
2015 o art.43º-A do Código de registo predial, que determina que não conseguindo determinar
conteúdo da lei aplicável, exige ao interessado a prova do conteúdo do direito estrangeiro, sendo
Este é um instituto que pretende evitar que as partes usem artifícios que façam modificar
a lei aplicável para conseguir um determinado resultado.
CCivil – lei aplicável é a do art.52º ccivil que manda aplicar lei da nacionalidade comum dos
cônjuges, no caso, lei de Malta, que não permite o divórcio. Que tentação poderiam eles ter?
Mudar de nacionalidade, pois nesse caso passa a aplicar-se lei que já permite divórcio.
Ora o instituto da fraude à lei pretende evitar que as partes mudando a situação de facto
consigam mudar a lei aplicável para obterem o resultado que pretendem. Contudo isto só se coloca
quando o elemento de conexão seja móvel, que possa ser alterado pelas partes. Quando o legislador
cristaliza o elemento conexão móvel (por exemplo, art.53º) o legislador elimina o problema.
conflitual permitir às partes a escolha da lei aplicável o instituto da fraude à lei não é aplicável (por
exemplo art.41º; regulamento Roma I sobre lei aplicável aos contratos; reg. Roma II sobre
responsabilidade civil extracontratual; regulamento das sucessões, deixa-se que o de cujus antes de
morrer escolha lei aplicável à sua sucessão, etc).
Quando pode atuar este instituto? Este está consagrado no art.21º CCivil, que
estabelece 4 elementos cumulativos da fraude:
objetivo de evitar a aplicação da lei que seria aplicável. Mas quando é que não existe este intuito?
intuito fraudatório?
Quando a mudança é motivada por outros motivos que não sejam a fuga à lei aplicável. Esse
intuito tem de ser provado.
aplicável é o art. 25º - ele quer fugir e vai para o brasil; mas a lei aplicável é a mesma porque é a
lei da nacionalidade, não da residência. Há atividade fraudatória?
Não, porque não altera a lei. A fraude só intervém se, além do intuito fraudatória, a manipulação dos
factos que as partes fizerem levou à alteração da lei aplicável.
Por exemplo, A e B são malteses, e mudam de nacionalidade para a italiana, porque a lei
maltesa não permitia o divórcio. A norma fraudada é a norma maltesa que proíbe o divórcio.
uma lei que por causa do artifício da pessoa, mandou aplicar outra lei.
início. Mas este artigo invalida a alteração? Ou seja, por exemplo aqueles adquiriram nacionalidade
italiana. Invalida-se totalmente o artificio, ou desconsidera-se apenas para efeitos do DIP? A
doutrina maioritária entende que o único efeito do artigo é a desconsideração do artifício para
efeitos daquela regra de conflitos, para efeitos de DIP.
DIP.
A ordem pública internacional, no método do DIP, só atua no fim, depois de todas as demais
regras de DIP. Ora, a ordem pública internacional (OPI) é um mecanismo de evicção, isto é, de
repulsa, do direito estrangeiro – o que isto significa? É um mecanismo de repulsa do direito
estrangeiro, é um instituto que vai afastar a aplicação da lei estrangeira que foi determinada
competente pelo resto do DIP. Mas quando é que a OPI vai afastar a lei estrangeira? O Art.22º
estabelece a solução, havendo uma palavra importante para perceber o que é “aplicação”, nesse
preceito. A OPI não afasta a lei estrangeira por ela ser chocante, não queremos saber se é ou não,
isso até violaria princípio da paridade de tratamento, a OPI apenas afasta a lei estrangeira quando a
aplicação da lei leve a resultados chocantes. O que censuramos é o resultado da aplicação da lei
estrangeira? Nos mesmos casos em que haja violação da ordem pública interna? Apenas quando
o resultado da aplicação da lei estrangeira seja intolerável, manifestamente chocante.
Na lei portuguesa temos várias normas imperativas, da Ordem Pública Interna, e não é
pelo facto da lei estrangeira levar a um resultado chocante que vamos aplicar a ordem
pública interna, mas sim quando a Ordem Pública Internacional envolva ofensa dos
princípios fundamentais da ordem jurídica portuguesa, em que o resultado da aplicação da
excecionalidade.
Além disso, ordem pública internacional é excecional também por força do momento em
que funciona, que é no fim, ou seja, não tem atuação apriorística, mas sim aposteriorística – primeiro
determinamos a lei aplicável, depois testamos a lei aplicável e só depois vemos se invocamos a
ordem pública internacional.
2. ATUALIDADE - Esta diz que os valores relevantes para a decisão de invocar ou não a Ordem
Hoje em Portugal o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é chocante, mas à data da
sua celebração era. Assim os tribunais nessa data invocavam a Ordem Pública Internacional para
recusar o reconhecimento do casamento. Mas faz sentido por nessa altura Portugal considerar
Pode, é para se proteger os valores do foro, não implica que sejam só nacionais e não valores
internacionais.
grau de exigência da invocação da Ordem Pública Internacional varia consoante vários fatores, e a
isso se dá o nome da relatividade da Ordem Pública internacional, variando consoante:
❖ Quanto ao grau de ligação ao foro. Temos de ser mais exigentes quando há mais ligação
ao foro, por uma questão de autoridade – invocar Ordem Pública Internacional é, no fundo, violar
princípio da paridade de tratamento (porque ao invoca-la estamos a dizer que x lei não é boa), e a
nossa autoridade varia consoante a relação jurídica tenha ou não relação connosco; e a apreciação
do resultado chocante varia consoante estejamos com grande ligação ao caso ou não. Só se houver
ligação ao foro é que temos autoridade para invocar a Ordem Pública Internacional e não aplicar a
nas situações a constituir, por conta das expetativas das partes que ainda não existem.
❖ Número de anos que já passaram de produção de efeitos. Imaginemos que se pede o
Pública Internacional? Deve-se ser mais exigente no casamento feito ontem, porque quando a
situação já tem muito tempo invocar a Ordem Pública Internacional pode ser uma agressão àquela
invocou a Ordem Pública Internacional, deixando de aplicar a lei argelina, não reconhecendo os
casamentos, pelo que elas não eram tidas como cônjuges em França, pelo que perderam vários
direitos.
Invocar a Ordem Pública Internacional para elas foi pior do que se tivesse reconhecido o
casamento, pelo que apareceu a teoria do efeito atenuado da Ordem Pública Internacional que
diz que é possível o juiz invocar a Ordem Pública Internacional para recusar o reconhecimento de
uma relação jurídica, MAS reconhece os efeitos daquela relação jurídica. Ou seja, invoca-se a Ordem
Pública Internacional não reconhecendo situação (casamento), mas reconhece-se os efeitos (direitos
Art.22º: vamos procurar outras normas da lei competente que não cheguem a resultado chocante,
não se desiste logo da lei competente (Estrangeira) (por exemplo se se afastar norma especial,
constitui/reconhece certa relação jurídica. Por exemplo, lei saudita diz que capacidade para casar se
adquire aos 5 anos, se invocarmos a Ordem Pública Internacional o casamento passa a ser proibido.
Que efeitos, no foro, se devem reconhecer a outra sentença judicial estrangeira? Quanto a
isto há duas questões prévias:
❖ (Por vezes, podem produzir efeitos reflexos – suspensão de prazos, início contagem de
prazos, etc.)
Devemos reconhecer estes efeitos no foro, a uma sentença estrangeira? É importante saber
distinguir os vários efeitos porque em alguns sistemas de reconhecimento de sentenças, vamos
reconhecer certos efeitos de x forma, e outros de y forma. Existem mecanismos de reconhecimento
que vão ter mais cuidado com determinados efeitos que outros, nomeadamente a força executiva.
Faz sentido reconhecer sentenças emitidas por outro país? Sim, devido à estabilidade das
relações jurídicas internacionais, esta projeta-se na necessidade de reconhecimento de sentenças
estrangeiras porque se não reconhecêssemos essas sentenças em Portugal, as partes teriam de voltar
a litigar cá, e o resultado poderia ser diferente, e prejudicar-se-ia a estabilidade. Mas não haverá
razões para não reconhecer? Uma sentença é um ato de soberania, e reconhecer sentenças
estrangeiras é atribuir efeitos a atos de soberania estrangeira; além disso, só faz sentido reconhece-
las se o tribunal estrangeiro tiver alguma ligação com o caso. Se não houver ligação do estado
estrangeiro com o caso deixa de valer a nossa preocupação com a estabilidade, tem de haver
reconhecer uma decisão em que não tenha sido dada às partes as possibilidades de se terem
defendido, ter havido contraditório, etc, não sabemos como correu o processo, se foi justo.
Como combinamos estas duas preocupações (Boas e más)? Vamos reconhecer, mas com
cautelas, não se deve reconhecer exatamente da mesma forma como uma sentença interna.
Além disso há outro problema. Suponhamos que estamos a reconhecer sentença brasileira,
onde sabemos que processo foi justo e havia ligação forte ao caso do país estrangeiro. Esta sentença
aplicou a mesma lei que nós consideraríamos competente? Pode não ter aplicado. O reconhecimento
das sentenças estrangeiras cria um limite às regras de conflitos. Quando estamos a reconhecer
sentença estrangeira estamos a reconhecer como o tribunal decidiu, à luz da sua lei, pelo que
estamos a limitar a aplicação das nossas regras de conflito, e só faz sentido fazê-lo em nome da
sentenças estrangeiras.
1. Método do não reconhecimento – o estado do foro não reconhece a sentença, pelo que as
partes têm de intentar nova ação no foro, mas o fundamento desta nova ação é por já haver
sentença estrangeira que não é reconhecida. Assim o tribunal do foro vai voltar a decidir, não
alguém quiser fazer valer a sentença estrangeira, tem de pedir aos tribunais portugueses o controlo
individualizado daquela sentença. Mas controlo de quê?
nós decidiríamos. Dentro desta existe ainda um subsistema em que em vez de se fazer
controlo total do mérito da sentença estrangeira, vai fazer-se controlo da lei aplicável. Nos
países que adotam este sistema, vai-se controlar o conteúdo da sentença estrangeira, mas
em vez de exigir que essa tivesse o mesmo conteúdo que tribunais do foro dariam, exige
apenas que a lei que o tribunal estrangeiro aplicou seja a mesma que o tribunal do
foro aplicaria.
Mas isto não significa que não tenha condições. Ele tem condições, tem cautelas, a questão é que
não faz um controlo prévio a cada sentença. Exige-se, por exemplo, que o réu tenha sido citado, que
tenha havido contraditório, etc, a sentença estrangeira é reconhecida sem que o tribunal português
vá verificar isso, mas essas condições são exigidas na mesma, ou seja, permite-se que as partes
peçam o não reconhecimento das sentenças quando falhem as condições.
Este sistema fará sentido em que situações? Nos casos em que há mais confiança entre
estados. Na UE, entre EM’s da UE em regra há reconhecimento automático pois existe maior
confiança porque na UE não aparecem as mesmas preocupações quanto a justiça processual como
noutros países estrangeiros; além disso, os regulamentos abaixo regulam não só reconhecimento de
sentenças, como a competência, os regulamentos determinam já o país competente. Existem vários
regulamentos da UE que vai estabelecendo matéria a matéria este sistema, por exemplo,
Regulamento Bruxelas I Biz (foi reformulado, daí o biz), que é para reconhecimento de sentenças
estrangeiras em matéria civil e comercial; o Regulamento Bruxelas II Biz, estabelece também este
sistema, mas para decisões em matéria de divorcio, separação e responsabilidades parentais;
Regulamento das sucessões, sentenças sucessórias dos EM’s são reconhecidas automaticamente.
Existem outros, mas estes são os principais.
Muitos destes regulamentos têm reconhecimento automático para todos os efeitos das
sentenças, menos um – efeito da força executiva. Por exemplo, Regulamento das sucessões tem
reconhecimento automático para efeitos declarativos ou constitutivos, para caso julgado, mas não
controlo formal.
4. No CPC, art.978º, o sistema que vamos ver aqui NÃO se aplica se houver tratados,
tenha celebrado, convenções que Portugal tenha celebrado, regulamentos UE e leis especiais (lei da
arbitragem; e código da insolvência, pelo que se a sentença for arbitral ou de insolvência, não
aplicamos este método, mas o método que aí se estipule) que estabeleçam o método.
mas só se reconhece a sentença estrangeira se for revista e confirmada, tem de haver controlo prévio
individualizado em cada sentença estrangeira. MAS aqui fala-se em decisão sobre direitos privados,
condena uma das partes a pagar uma indemnização civil? O nosso sistema de reconhecimento serve
para reconhecer esta sentença? Na parte sobre a indemnização, é sentença de direitos privados, pelo
que reconhecemos.
Este sistema é usado para reconhecer parte das sentenças que é em matéria privada, pelo que
também serve para reconhecer sentença criminal na parte da indemnização, porque é sobre direitos
privados.
Exequatur – se depois do controlo a sentença pode produzir efeitos ao tribunal de destino pede-
se o exequatur.
Mas qual será o subsistema do nosso método, qual a condição? Controlo de mérito,
controlando-se se o processo foi justo e se o mérito da sentença é igual ao que tribunal do foro
daria? Ou controlo formal? O tribunal competente para fazer este processo de controlo de revisão é
o Tribunal da Relação, art.979º CPC. Por outro lado, o art.980º CPC, tem as condições de
a) É necessário que não haja dúvidas sobre autenticidade do documento – para controlar a
forma da sentença;
b) Que tenha transitado em julgado, que a decisão se tenha tornado definitiva – controlo de
forma.
c) Que provenha de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido provocada em
fraude à lei e não verse sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais portugueses
regras de competência?
ii. Ou será que aquilo que é exigível é que nós verifiquemos regras de competência
portuguesas, art.62º CPC, e se as vamos bilateralizar para saber se tribunal
estrangeiro era competente?
estrangeira que determina se o tribunal estrangeiro era ou não competente (vemos o CPC
estrangeiro), MAS ela é mitigada pela parte final da alínea c) do art.980º CPC – desde que a
matéria em causa não seja competência exclusiva dos tribunais portugueses (remeter para artigo 63º
CPC), aí aplicamos a nossa regra de competências. Assim, a unilateralidade é atenuada.
Tudo aponta para que o nosso sistema seja de controlo prévio formal. Mas vejamos as
restantes alíneas.
d) Que não haja tribunal português que já tenha julgado a causa – controlo forma.
processo tenha sido justo. CONTUDO, o nosso sistema não é sistema de puro controlo de forma –
980º/f) - sentença estrangeira não tenha decisão cujo reconhecimento conduza a resultado
esse reconhecimento seja manifestamente chocante para os princípios da ordem jurídica portuguesa.
Por exemplo, reconhecer sentença do tribunal saudita que diga que filho é herdeiro e filha
não, é chocante. Isto é controlo de mérito! Estamos a verificar o conteúdo da sentença estrangeira. É
um controlo de mérito muito limitado pois é só por referência à ordem pública internacional,
art.980º/f).
Além disso, o processo especial não acaba no 980º, temos de ver o art.983º CPC que prevê
não as condições para reconhecimento, mas os FUNDAMENTOS DA IMPUGNAÇÃO DO PEDIDO. O
art.983º diz que a parte contra quem é pedido o reconhecimento pode vir convocar fundamento
para o não reconhecimento, e se esses fundamentos forem válidos, ainda que condições se tivessem
descubra, por exemplo, que o juiz foi corrompido; ou que apareceu um novo documento que prova
que a solução do tribunal não é certa; etc. Se houver um dos fundamentos do recurso de revisão
pode haver impugnação do pedido.
do réu tem de ser portuguesa, se o for vai poder usar o 983º/2; além disso, se o for e conseguir
provar mais das coisas, consegue impedir reconhecimento da sentença estrangeira: se segundo as
regras conflitos portuguesas, a lei competente devia ser a lei portuguesa E SE o resultado teria sido
mais favorável para o réu se tivesse sido aplicada a lei portuguesa. Nestes casos, verificando-se estas
quase sempre de controlo formal, mas tem dois traços de controlo de mérito – art.980º/f) e
art.983º/2 CPC!
Este privilégio da nacionalidade, art.983º/2 não contraria algum ramo jurídico? Que
proíba a discriminação em razão da nacionalidade? A UE, será que este privilégio é conforme a UE
que proíbe a discriminação em razão de nacionalidade? Não parece, a UE quando ver o art.983º/2
intenta ação de incumprimento.
exequatur).
temos 3. O DIP interno é assinalado por problema de fontes, colocando-se questão qual o DIP que
vamos usar. Em matéria de contratos, temos 3 fontes:
1. Fonte interna, art.41º e 42º CCivil - conceito-quadro é: negócios jurídicos, que são mais
instrumentos:
2. Convenção de Roma 1980 sobre lei aplicável aos contratos, tendo Portugal ratificado em
1994;
3. Regulamento da UE, Roma I (aplicável a partir de 17 de dezembro de 2009, foi redigido
para substituir a convenção de Roma de 1980, é modernização dessa convenção, mas foi
editado numa altura em que UE já tinha competências em DIP, já não era preciso ser
saber qual o DIP a usar. Temos 3 critérios de ordenação. Tentamos aplicar sempre o mecanismo
mais recente (regulamento Roma I), só não o fazemos se faltar algum dos requisitos aplicativos do
mais recente, aí aplicamos o segundo mais recente (convenção), e só se faltar requisitos do 2º mais
recente, é que se aplica o 3º, o CCivil. Assim, temos de verificar a aplicabilidade do Regulamento
Regulamento Roma I temos de estar perante um contrato e não perante um negócio jurídico
unilateral (a estes aplica-se o CCivil).
b) Critério temporal – regulamento Roma I tem norma transitória, art.28º - só se aplica aos
Se for ANTERIOR a 17-12-2009, testamos a convenção de Roma que tem como critério
temporal – se for contratos celebrados a partir de 1 janeiro de 1994 e 16 dezembro de 2009.
c) Não pode ser matéria excluída do regulamento. O regulamento exclui uma série de
contratos, art.1º, e se estivermos perante contrato excluído não podemos aplicar o Roma I, e
nesses casos vamos tentar aplicar convenção de Roma, que tem artigo igual, pelo que se
contrato for excluído do Roma I, será também excluído da convenção. Nesse caso aplica-se
CCivil.
São excluídos:
CCivil;
❖ Matéria sucessória – regulamento da sucessões;
Por exemplo, se for contrato entre um português e brasileiro, celebrado hoje e em matéria não
excluída, aplica-se o Regulamento Roma I, mesmo que mande aplicar lei de um estado que não
seja EM.
O regulamento, quando aplicável, tem algumas normas sobre a parte geral, o que vimos até
aqui do DIP, que estabelece soluções próprias. Desde logo, no art.20º Regulamento Roma I temos
uma solução específica de um problema da parte geral – se o regulamento estiver a remeter para
uma lei do país x, e este reenviar para outra, temos o problema do reenvio, determinando-se a
exclusão do reenvio, ou seja, quando o regulamento manda aplicar uma lei apenas remete para o
funcionamento da exceção da ordem pública internacional nos termos que vimos. E art.9º do
regulamento, que toma posição quanto ao problema das normas de aplicação necessária e
No nº2 temos uma norma sobre a aplicação dessas normas da lei do foro, o país onde se está
a julgar, dizendo que as normas de aplicação necessária do foro continuam a vigorar apesar do
regulamento.
No art.9º/3 quando há contrato usando regra conflitos do regulamento Roma I, a solução a dar
é a do 9º/3, que toma posição sobre o que fazer a normas aplicação necessária e imediata
estrangeiras.
Vamos para a parte especial. Mesmo que tenhamos uma lei sobre contrato, essa lei do contrato
não regula todos os aspetos do contrato. A lei aplicável ao contrato regula, nos termos do art.12º
Regulamento Roma I:
❖ a interpretação do contrato;
❖ as obrigações que decorrem do contrato;
No fundo a lei aplicável ao contrato vai dizer quando o contrato existe, quando está perfeito,
quais obrigações que dele decorrem, e quais consequências do seu incumprimento. Não está, por
exemplo, algo sobre capacidade das partes.
Ora, a regra conflitos principal do Reg.Roma I está no art.3º, é a regra de conflito geral – o
elemento conexão é a escolha das partes, o contrato rege-se pela lei escolhida pelas partes (Conexão
primária). Será isto novidade face ao regime do CCivil? A regra conflitos dos contratos no CC é o
concedida às partes de escolher a lei aplicável à sua relação jurídica. O DIP moderno vem
estendendo este princípio. Cada vez mais é dada às partes esta possibilidade, é um princípio
preponderante do DIP moderno. Mas será recente? Ou a autonomia conflitual é um princípio antigo?
O princípio da autonomia conflitual vem do séc. XVI, proposto para o problema da lei aplicável ao
Neste contexto, é importante distinguir a autonomia conflitual e, por outro lado, a autonomia
material.
pode ser conferida às partes o poder de afastar ou não normas supletivas – norma supletiva, por
exemplo, partes podem afastá-la e combinar outra coisa. Estão a exercer autonomia material, pois
dentro dos limites das normas imperativas estão a modelar sua relação jurídica.
❖ A AM não está relacionada com a AC pois na AC é escolher lei aplicável ao contrato, e
depois essa lei é que dá mais ou menos possibilidade de as partes regularem o conteúdo da
relação jurídica.
Por outro lado, porque é que legislador europeu e interno adotou a autonomia
conflitual? Porque este elemento conexão? Porque permitiu às partes a possibilidade de
escolherem lei aplicável?
Desde logo isto é uma projeção do princípio fundamental dos contratos – princípio
Mas há uma segunda razão, própria de DIP, que é a razão de segurança jurídica, de previsibilidade –
se partes escolhem a lei aplicável ao contrato, deixa de ser controverso qual a lei aplicável, esse
problema de DIP desaparece. Com previsibilidade, as partes já sabem qual a lei aplicável, reforçando,
portanto, a segurança jurídica.
Será que a autonomia conflitual dos contratos é uma tónica comum no mundo
inteiro ou é especificidade europeia? Admitir escolha da lei pelas partes nos contratos é
específico da europa? Quase todos os sistemas de DIP têm autonomia conflitual, exceto o Brasil.
Ainda quanto à autonomia conflitual, isto tem estendido para outros domínios que
não apenas os contratos. Existe ainda autonomia conflitual:
II permite);
❖ matéria de divórcio (se os cônjuges estão de acordo a escolher a lei aplicável, é porque estão
de acordo em divorciar-se, pelo que vão escolher uma lei que facilite o divórcio, pelo que aí o
objetivo da autonomia conflito é material, é facilitar o divórcio);
❖ e domínio das sucessões, o de cujus antes de morrer pode escolher lei aplicável à sua
sucessão.
Porém, existindo autonomia conflitual nestes domínios, não significa que AC apareça sempre da
mesma forma. Temos domínios onde é mais generosa e outros onde é mais restrita. Temos
instrumentos modernos onde ela é mais generosa, e outros mais restrita. E será que a prevista no
regulamento e CC é mais generosa ou restrita? Será que escolha tem de ser expressa, ou pode
ser tácita? Ou seja, é tão generosa ao ponto de permitir que as partes escolham tacitamente, ou
tão restrita que exige a escolha expressamente?
Ora, no art.3º regulamento Roma I admite-se escolha expressa ou tácita; e o CCivil art.41º
admite também escolha expressa ou tácita. Tanto no regime do ccivil, como no regulamento admite-
se escolha tácita. Mas isto gera um problema – como se sabe que houve ou não escolha tácita da
lei aplicável? O julgador vai ter de determinar indícios do contrato que, apesar das partes não terem
dito expressamente que escolheram lei x, permitem determinar que escolheram certa lei.
regime do incumprimento rege-se pelo art.800º e ss do código civil francês” – fazem referência a
norma francesa, pelo que é indicio que escolheram lei francês);
❖ Escolha do foro, do tribunal competente (se partes disserem que litígios sobre contrato
sejam julgados no brasil, é indicio da escolha tácita da lei brasileira);
❖ Menção a um instituto jurídico que seja específico de uma certa lei (por exemplo, fazem
referência a um trust, que é especifico do ordenamento jurídico americano ou inglês).
Por outro lado, será que AC deve ser limitada a um determinado leque de leis possível ou
será que as partes podem escolher qualquer lei sem qualquer limitação?
uma AUTONOMIA LIMTADA (Escolher uma lei dentro de x leque de possibilidades), ou permite que
escolham a lei que quiserem – AUTONOMIA ILIMITADA (qualquer lei competente).
O art.41º/2 CCivil dá-nos solução quanto a isto – a autonomia é limitada, ou seja, as partes
podem escolher lei sim, mas só dento de determinado leque de leis (leis com conexão com o caso ou
leis que correspondam ao interesse séria das partes).
escolher lei aplicável ao contrato, prevendo autonomia conflitual ilimitada, podem escolher qualquer
lei.
MAS ISTO NÃO LEVANTA NENHUM PROBLEMA? Não há princípio de DIP que pode estar a
ser posto em causa pela autonomia conflitual ilimitada? Fala-se no princípio da não
transatividade que determina que não se escolha a lei que não tenha ligação ao caso, e a AC
ilimitada acaba por permitir que as partes escolham uma lei que não tenha ligação com o caso.
NÃO VIOLA, no domínio contratual visto que o facto das partes quererem aplicar x lei, num
domínio de autonomia privada, de contratos, é ligação suficiente para que não esteja posto em causa
o princípio da não transatividade. As partes fazem parte do caso, escolhem x lei, então a lei tem
ligação ao caso porque é a lei que as partes quiserem num domínio de autonomia privada, isso é
Não, se a relação for puramente interna, o REGULAMENTO ROMA I não é aplicável, art.1º.
Mas e se, ainda assim, as partes tiverem escolhido? Nos termos do art.3º/3 do reg.roma I que
determina: caso o contrato seja puramente interno, e as partes escolheram lei diferente do país onde
se celebra, a escolha dessa lei estrangeira não prejudica a aplicação de disposições da lei onde o
contrato foi celebrado que não forem derrogáveis por acordo, mantem-se a aplicação das normas
imperativas da lei do foro, interna – então mas houve autonomia conflitual? Não houve, porque
apesar de escolherem a lei estrangeira, afinal continuam vinculados à lei interna com ligação com o
caso. No entanto, o regulamento não invalida a cláusula que escolheu a lei estrangeira, apenas diz
que apesar de escolhida essa lei, continuam vinculados à lei interna. Então que valor podemos
conferir à clausula que escolhe lei estrangeira? Vamos tentar aplicar lei estrangeira, MAS APENAS
NA PARTE QUE SEJA PERMITIDA PELAS NORMAS IMPERATIVAS DA LEI INTERNA. Ou seja, a lei
aplicável ao contrato continua a ser a lei interna, mas podemos tentar substituir normas supletivas da
lei interna, por normas da lei estrangeira escolhida. Assim, nos contratos puramente internos, art.3º
reg.Roma I, em vez de termos autonomia conflitual, converte-a numa autonomia material. Não se
desvaloriza as expetativas das partes na aplicação de lei estrangeira, mas não se atribui o total valor
que elas pretendiam.
Por exemplo, um contrato entre dois portugueses residentes em Portugal, com objeto em
Portugal, as partes podem escolher lei francesa? Não podem escolher, MAS se escolherem, essa
referência à lei francesa é tida em conta na medida das normas supletivas da lei interna.
Será que é possível mudar a lei aplicável ao contrato? Ou seja, partes escolheram x lei, um
ano depois querem mudar para a lei y, admite-se? No regulamento, art.3º/2, as partes podem, a
qualquer momento, mudar a lei aplicável. Pelo contrário, o CCivil não tem disposição sobre a matéria
– doutrina maioritária diz que não se pode. O mais generoso é o regulamento.
Por fim, será que as partes podem depeçáge, especialização, do contrato? Escolher
leis diferentes para partes diferentes do contrato? No regime do CCIVIL NÃO, o ccivil admite
escolhe de apenas uma lei para o contrato; no regime do regulamento, art.3º/1 parte final,
admite-se escolher duas leis, uma para uma parte e outra para outra, MAS esta separação tem de ser
objetiva (não pode ser para sujeitos diferentes, leis diferentes), isto é, aplicável lei diferente não a
sujeitos diferentes, mas sim a partes diferentes do contrato. Regulamento é mais generoso.
E será que partes podem escolher lei que não vigore em nenhum país? Por exemplo,
normas costumeiras que não vigorem em nenhum país. Ou que querem o contrato sem lei, e partes
EM RESUMO: Estamos a tratar da matéria relativa aos contratos. Já vimos como articular as
várias fontes, e qual a conexão principal do regulamento Roma I e do CCivil – autonomia conflitual, a
escolha das partes. No Regulamento Roma I a autonomia conflitual é ilimitada, podem escolher
qualquer lei, ao contrário do CCivil em que autonomia é limitada. AC do regulamento é mais
generosa que a do CCivil em dois aspetos, ao contrário do ccivil – admite-se alteração da lei
escolhida; admite-se a escolha parcial da lei aplicável.
E o que acontece se esta conexão principal, art.3º regulamento e art.41º ccivil, falha? Se
as partes não tiverem escolhido a lei aplicável, nem explicita nem tacitamente? Como o DIP
normalmente atua quando a conexão primária é eleito um elemento de conexão de pode
falhar? Admite conexão subsidiária, tanto na fonte europeia, como na fonte interna – tanto no
regulamento, como no ccivil, falhando a conexão principal primária, responde-se com conexão
subsidiária.
A resposta do CCivil por ser mais antiga e tem características diferentes no regulamento. Aqui,
falhando a conexão primária no art.41º, aplicamos a conexão subsidiária do art.42º CCivil – no nº1 a
lei aplicável ao contrato caso as partes não tenham escolhido a lei aplicável o elemento conexão é a
residência habitual comum das partes para contratos (isto para quaisquer contratos), e residência
habitual do declarante no caso de negócios jurídicos unilaterais - sistema conflitual não leva em
conta que os contratos são muito diferentes, temos contratos que porventura mereceriam um
sistema de lei aplicável consoante o tipo contratual, e o CCivil não leva isso em consideração, tem o
mesmo elemento conexão para qualquer tipo de contrato.
Além disso, e se as partes residirem em países diferentes? Qual elemento conexão dos
contratos nesse caso? Aí há uma 3ª conexão subsidiária, aí sim o legislador distingue o tipo
contratual, art.42º/2, distinguindo entre contratos gratuitos – onde se aplica a lei da residência
habitual daquele que atribui o benefício – e contratos onerosos – onde se aplica a lei do lugar da
celebração.
expedientes que decorrem das propostas norte-americanas em matéria de DIP. Falhando a conexão
primária, temos uma REGRA GERAL NO ART.4º do regulamento Roma I, mas atenção, o legislador
não aplica esta regra geral a todos os contratos, separou do sistema normal – conjugação do art.3º e
art.4º - daqueles contratos que têm uma parte mais fraca, isto é, contrato de trabalho tem um
regime próprio art.8º; contratos celebrados com consumidores, art.6º; contratos de transporte,
art.5º; e contratos de seguros, art.7º.
Mas porque é que o que legislador separou estes 4 tipos contratuais da regra geral?
Porque não deixamos funcionar a regra geral nestes contratos, como o ccivil faz no art.41º/1?
Porque nos contratos onde há uma parte mais frágil, pode acontecer que a parte mais forte imponha
a lei aplicável, e o legislador quer evitar isso, caso contrário a parte mais fraca vai aceitar a aplicação
da lei. Assim, nestes 4 tipos contratuais vamos encontrar uma MENOR autonomia conflitual, vai ser
Ora, vamos começar por ver primeiro o regime geral. O que pode acontecer nos contratos é a
não escolha da lei aplicável, pelo que no art.4º temos conexão subsidiária – para contratos em geral,
caso as partes não tenham escolhido, nem expressa nem tacitamente, a lei aplicável. Aí o legislador
escolha a lei aplicável de forma diferente para cada tipo de contrato, ao contrário do ccivil que tinha
o mesmo elemento (residência habitual comum das partes) para todos os tipos de contrato. Aqui no
regulamento, na falta de escolha, a lei mais próxima é x para cada tipo de contrato – a solução
conflitual aqui é mais especializada em relação ao tipo de contrato, é regra especial para cada
contrato. Que fenómeno é este? FENÓMENO DA ESPECIALIZAÇÃO ou depeçáge.
Contudo, os contratos não são só típicos. Só podem haver os contratos especificamente na lei
ou as partes podem criar contratos não previstos na lei? Podem criar. Então o que pode acontecer?
O contrato pode não estar previsto nas alíneas do art.4º/1 do regulamento.
Por exemplo, contrato de empreitada não está aí previsto, o que acontece? O legislador não
deixa isto sem resposta, tratando-se de contrato não previsto nas alíneas do art.4º/1, aplica-se o
4º/2 que determina que se essas alíneas não funcionarem, os contratos são regulados pela lei da
residência de apenas um dos contraentes, daquele que deve efetuar a prestação característica do
contrato. Mas o que é a prestação característica do contrato? A determinação dessa prestação
Por exemplo, contrato de prestação de serviços, A pediu a B que lhe pintasse o cabelo.
Qual a prestação característica segundo este critério? Temos de isolar o que faz cada uma das
partes. A paga o preço, B pinta o cabelo. Qual destas é que distingue este contrato dos outros? É
pintar o cabelo. É esta a prestação característica do contrato segundo este critério.
vendedor entrega a coisa. A prestação característica, por este critério, é entregar da coisa, a
prestação do vendedor.
2. Critério do risco – segundo este, a prestação característica do contrato é daquele que assume
Porque precisamos de mais dois critérios? Porque o 1º critério pode falhar, então falhando,
aplicamos os outros 2, servem para os casos em que o critério principal falha.
previsto, vamos ao nº2 que diz que é a residência do contraente que faz a prestação característica
do contrato. Neste contrato, os contraentes são o banco e o mutuário. Temos de determinar a
prestação característica, porque é a lei da residência do que a presta que vai ser aplicável. O banco
transfere o dinheiro, e o mutuário paga juros e compromete-se a pagar de volta. Qual destas
prestações distingue este contrato dos outros segundo o 1º critério? Este critério falhou, porque tanto
a prestação do banco, como do mutuário são características do contrato.
Segundo o 2º critério, a prestação característica é do banco, é ele que assume o risco. E segundo
o 3º critério, é do banco também. Assim, com estes critérios a prestação característica do contrato é
a do banco – pelo que lei da residência do banco, MAS falando de pessoa coletiva é a sua sede.
Por outro lado, vejamos o art.4º/3 – o que faz isto? E o que é isto que aí está? Permite que juiz
não olhe aos elementos conexão que estejam no nº1 e 2, faz com que esses não sejam rígidos,
flexíveis – fenómeno da flexibilização - porque se permite ao juiz que apesar desses elementos, se
aplique uma lei que considere mais próxima que as do elemento conexão. E que expediente de
flexibilização está aqui presente? Cláusula de exceção, que permite ao juiz desaplicar a lei do nº1 e
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FDUC – DIP 2018/2019
2, e aplicar outra lei, uma lei mais próxima – estas podem ser abertas (próprio juiz que escolhe a
outra lei) ou fechadas (legislador que indica a outra lei). Esta cláusula de exceção é aberta, o juiz é
que vê qual a lei que tem ligação mais forte. E podem ser formais (aplica-se lei com ligação mais
forte) ou materiais (aplica-se lei que conduz a resultado mais justo). Esta cláusula de exceção é
formal porque o seu objetivo é que o juiz olhe para o caso concreto e veja que apesar da regra
conflitos indicar lei A, ele acha que deva aplicar lei B com maior ligação.
Exemplo prático
Contrato de permuta em que partes não tenham escolhido lei aplicável. Regra geral
contrato art.4º/1 – não estando aí previsto, 4º/2 – residência do que se obrigou à prestação
característica – determiná-la no contrato. A entrega uma coisa e recebe outra, e B faz o mesmo,
pelo que não é possível determinar, prestações iguais – e se não for possível determinar a
prestação característica e o contrato não estiver previsto, quando nem por aplicação do nº1 nem
termos do art.3º, ou seja, parece que a autonomia conflitual é plena, ilimitada. Mas há risco, a parte
mais forte pode impor à parte mais fraca uma lei que lhe seja menos favorável. Assim, o
regulamento determina que a escolha da lei não pode ter como efeito a diminuição da
proteção do trabalhador face à lei que seria aplicável na falta de escolha. Ou seja, as partes
quiserem escolher, mas ao escolher isso não pode ter como efeito diminuir proteção do trabalhador
nos termos da lei que seria aplicável na falta de escolha.
ISTO SIGNIFICA que no contrato de trabalho, mesmo quando as partes tenham escolhido a
lei aplicável, temos que determinar sempre qual seria a lei aplicável ao contrato caso as partes
Por exemplo, partes escolheram lei da Coreia do Norte, mas esta escolha não pode diminuir
proteção do trabalhador face à lei que seria aplicável na falta de escolha – a lei seria a lei alemã por
exemplo. Nos termos do art.8º/1 que lei se aplica? Lei escolhida ou lei que seria aplicável na
falta de escolha? Este contrato vai ser regulado em cada matéria entre as duas leis, por aquela que
for MAIS FAVORÁVEL AO TRABALHADOR. Em cada matéria temos de ver qual a lei mais favorável ao
trabalhador. Por exemplo, para férias, a lei da coreia determina 2 dias de férias, e a lei alemã 20 dias
– em matéria de férias escolher lei coreana implicaria diminuição da proteção do trabalhador, nessa
matéria aplicar-se-ia a lei alemã. Em matéria de horário de trabalho, a lei coreana determina 20h e a
alemã 40h – aqui aplica-se lei coreana. Assim, admite-se a escolha da lei aplicável, mas apenas na
parte em que aumente a proteção do trabalhador, caso contrário a autonomia conflitual não é
valorada.
Verdadeiramente há menos autonomia, mas apenas no sentido que a escolha da lei só é relevante
no sentindo mais favorável ao trabalhador.
Por outro lado, qual a lei aplicável ao contrato de trabalho na falta de escolha? O Art.8º/2
determina que o contrato, nesse caso, é regulado pela lei do país em que o trabalhador presta
habitualmente trabalho. Mas e se o trabalhador for hospedeira de bordo? Se o trabalhador não
presta habitualmente trabalho no mesmo sítio, aplica-se lei do país a partir do qual o trabalhador
presta habitualmente o seu trabalho – isto é para os trabalhos em que o trabalhador se apresenta,
mas a partir daí é deslocado para vários locais onde presta o seu trabalho.
E se falhar este critério? E se for trabalhador que ora se apresenta no brasil, ora se apresenta
em Portugal, ora se apresenta na china? Se se apresentarem em vários sítios? Temos conexão
subsidiária no art.8º/3 que determina que a lei aplicável do local do estabelecimento de quem
contratou o trabalhador, do empregador.
Mas além disso, temos ainda conexão subsidiária no art.8º/4, onde há clausula de exceção,
permitindo ao juiz, face ao caso concreto, afastar elemento conexão quando entenda que há outra
lei que tem conexão mais forte com o contrato de trabalho – mecanismo de flexibilização de
consumidores podem estar a escolher leis aplicáveis sem saberem do que se trata, e essa lei pode
desproteger o consumidor e pode ser uma lei que o consumidor nem tenha consciência que está a
No art.6º, onde existe esta proteção, o seu regime só se coloca quando estejam verificados 3
requisitos cumulativos:
(regime geral) se os contraentes forem de uma determinada natureza, quando os contraentes forem
um consumidor e um profissional. O contrato tem de ser celebrado entre consumidor e profissional.
No art.6º/1 tem os conceitos sobre consumidor e profissional. O consumidor tem de ser uma pessoa
singular e tem de realizar atividade estranha à sua profissão (se for A que explora uma papelaria,
apesar de ser pessoa singular, quando compra papéis e canetas para revender, ele não é
considerado consumidor); e o outro contraente tem de agir no quadro das suas atividades
profissionais, a outra pessoa tem de ser um profissional (Este tem de ser pessoa coletiva? Não, pode
ser pessoa singular).
2. Requisito da atividade dirigida – este regime do art.6º só se vai aplicar nos casos em que o
profissional tenha dirigido a sua atividade para o país da residência do consumidor – isto está nas
duas alíneas do nº1 do art.6º. Porque só aplicamos o regime especial nestes contratos se o
profissional tiver exercido sua atividade no país ou dirigida para o país da residência do
consumidor? Porque o profissional não poderia ser confrontado com aplicação de uma lei diferente
daquela onde exerceu a sua atividade, e além disso, se o consumidor não foi confrontado com a
oferta profissional no país da sua residência, não podia ter expetativas na aplicação da lei da
residência. Assim, este requisito pretende salvaguardar expetativas do consumidor.
Mas imaginemos um profissional que tem um site na internet publicitando os seus serviços;
sediada no brasil; site em língua portuguesa. São acessíveis a partir de todos os países. Preenche-se
este requisito neste caso? O site da internet é acessível a partir de Portugal, então entende-se
preenchido este requisito? Remissão para o considerando nº24 parte final, que nos diz que o
simples facto de simples facto da net ser acessível em vários países não basta, por si só, para ser
preenchido este requisito, é necessário que nesse site se convide à celebração de contratos à
distância através do próprio site e que o contrato em causa tenha sido celebrado à distância, para
que este requisito se encontre preenchido. Caso contrário, fora do caso da internet, o
estabelecimento pode fazer publicidade no país da residência e aí também se considera preenchido.
3. Não pode tratar-se de um contrato excluído pelo art.6º/4/b) a e). Os contratos excluídos
são os contratos de transporte, porque esse já tem um regime especial; contrato de compra e venda
de um imóvel, porque se entende que quando alguém compra imóvel tem ónus superior de
determinação do estatuto da compra e venda; contratos com direitos imobiliários, investidores
parece que não há autonomia conflitual, porque se diz que deve ser aplicável a lei da residência do
consumidor. Mas porquê essa lei? Porque o consumidor tem expetativas em ser protegido pela
de agência de viagens, ele está à espera de ter proteção da lei onde reside.
Mas não seria melhor para o consumidor permitir-lhe a escolha da lei, desde que em termos
próximos do contrato de trabalho, num sentido mais favorável? Se conseguir escolher lei
melhor para ele, não deveria ser possível? É possível, art.6º/2 determina que as partes podem
escolher a lei aplicável, mas só se aplicam as disposições dessa lei escolhida mais favoráveis ao
consumidor do que a da lei da residência habitual do consumidor. É idêntico ao contrato de trabalho.
E a forma do contrato? Qual a lei aplicável à forma do contrato? No art.36º do CCivil diz que
a lei que regula a forma do contrato, é a lei que regular a substância do contrato, que é a lei da
escolha das partes, art.41º e 42º. PORÉM, é suficiente a lei do local da celebração. Ou seja, mesmo
que não seja válido para a lei do contrato, se for válido para a lei do local da celebração, considera-
se.
Princípio favor negotti, protegem-se expetativas das partes – se as partes respeitaram a lei que
escolheram, então isso chega; se respeitaram a lei do local de celebração, também chega. É uma
Por outro lado, art.36º/2 CCivil determina que a declaração negocial é também válida se em vez
da forma prescrita na lei local, tiver sido observada a forma prescrita pelo estado para que remete
norma conflitos da lei do local de celebração. Se partes celebraram contrato no país x, serve lei do
local de celebração ou a lei que a regra de conflitos de x indicar. Porque é que o legislador faz isto?
As partes têm expetativas na validade; se celebraram no país x, foram ver a regra conflitos do país x
que lhes mandou aplicar aquela lei, e por isso a aplicaram, daí as expetativas. E o que é isto? O
legislador está a aceitar o reenvio, sem ir ver se está cumprido o fundamento do reenvio, sem ver se
é útil à Harmonia Jurídica Internacional, para salvaguardar as expetativas das partes – reenvio aceite
não para a Harmonia Jurídica Internacional, mas para salvaguardar a validade do negócio – favor
negotti como fundamento autónomo. Há outra lei. Conexão múltipla entre 3 leis.
Por outro lado, no art.11º regulamento Roma I, no seu número 1, temos uma conexão
alternativa entre duas, entre a lei que regula a substância e a lei do local da celebração, em
Posição especial para contratos celebrados à distância, art.11º/2 – aí temos conexão múltipla
da lei do país onde o imóvel está situado, mas apenas se se cumprirem 2 requisitos:
❖ Desde que os requisitos de forma sejam impostos sem querer saber onde o contrato foi
celebrado e qual a lei reguladora do contrato, isto é, desde que no país da situação do imóvel
os requisitos de forma sejam normas de aplicação necessária e imediata.
❖ Autorização expressa para aplicação destas normas do país da situação do imóvel, porque se
o imóvel está naquele país quer que o negócio seja lá reconhecido, produz lá efeitos =
garantir efetividade do contrato.
Outro desvio é o art.11º/4 - será que o princípio favor negotti deve valer nos contratos com
consumidores? Devemos proteger a todo o custo a validade do negócio? Muitas vezes o
interesse da parte mais fraca é desvincular-se, por isso temos um regime geral no ARTIGO 11/4
ROMA I. Este regime das conexões múltiplas alternativas não se aplica ao Artigo 6 ROMA I, aplica-
se sim a lei da residência do consumidor, o contrato só é válido quando a forma respeitar está lei.