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1.

- O DIREITO PENAL EM SENTIDO FORMAL

DP = conjunto das normas jurídicas que ligam crimes (comportamentos humanos culposos, ilícitos,
típicos e puníveis) a consequências jurídicas [penas (culpa) e medidas de segurança (perigo)]–
privativas deste ramo do direito.

Conceito DP:
DP sentido objetivo: ius poenale, ordenamento jº-penal = expressão poder punitivo do estado
DP sentido subjetivo: ius puniendi = direito punitivo do estado, certo comportamento=crime=»consequências.

Âmbito DP:
DP substantivo ou stricto senso: define pressupostos+formas crime e seus efeitos
DP executivo: regulamentação jº e execução das penas e mds
DPP: regulamentação j dos modos de realização prática do poder punitivo do estado

2.- LOCALIZAÇÃO DO DP NO SISTEMA Jº

DP é ainda essencialmente dtº intraestadual, i.e., só pode ser produzido pelo estado.
Contudo, desde finais XX assiste-se a incremento DIP em matéria penal, sobretudo via convenções
internacionais.
Criação do TPI e tribunais especiais para Ruanda e Yugoslávia.
A isto devemos juntar o ius puniendi negativo da União Europeia.
Mas o DP PT continua sendo uma parte integrante do direito público, mantendo uma estreita
conexão co o Dtº Constitucional e a Teoria do Estado.

3.- CIÊNCIA CONJUNTA DO DP

A ciência conjunta do DP
Até meados de XIX: o crime tinha 1 tratamento jº – dogmático com apoio das ciências auxiliares da
filosofia.
Meados XIX: aumento da criminalidade de massas e o cientismo =» surge a criminologia. Para o
cientismo (positivismo jº), o dtº também é 1 ciência. Mas crime é 1 patologia pelo que o seu
estudo cabe à medicina+psicologia+psiquiatria.
Início XX: Von Lizt avança com a teoria da ciência conjunta do DP que compreenderia 3 ciências
autónomas:
– Dogmática jº – penal (princípios j-penais)
– Criminologia (estudo das causas do crime)
– Política criminal (luta do Estado vs crime através das penas)

DP do inimigo (Jakobs, 1985)


DP do cidadão: daqueles comprometidos com o dtº; é do dt de todos.
DP do inimigo: para os não comprometidos com o pacto social e que se opõem ao pacto social
Crítica principal: não pode haver uma política criminal fora e à revelia da constituição.

4.- FINALIDADES E LEGITIMAÇÃO DA PENA CRIMINAL

Problema dos 'fins' da pena criminal


As várias teorias ao longo dos séculos sobre os fins das penas reduzem-se a 2 fundamentais: as
absolutas e as relativas.
Teorias absolutas ou retributivas:
Lei de Talião: retribuição fática do mal feito: olho por olho, dente por dente;
Protágoras: pune-se pq se pecou;
Mal do crime tem de ser igualado com o mal da pena.
Crime = pecado
Mérito das teorias retributivas: trazer o pº da culpa o problema das finalidades da pena
Pena = expiação, retribuição do mal do crime;
Teorias retributivas: não são, afinal, teorias dos fins da pena nem almejam a restauração da pax
juridica; têm uma feição puramente negativa, não visando a socialização.
Medida da pena:
Ab initio: mal do crime = mal da pena
Hoje: pena = compensação e sua medida: depende da ilicitude do facto e da culpa do agente.
Não há pena sem culpa; pena não pode exceder a culpa

Teorias relativas:
Pena deve ser um instrumento de prevenção.
Não se pode punir pq se pecou, mas punir para que não se peque.
São teorias de fins. Há que distinguir historicamente e pelo sentido doutrinas de prevenção geral e
doutrinas de prevenção especial.

Prevenção geral:
Denominador comum das teorias da PG:
pena é 1 instrumento da política criminal, que atua sobre a generalidade dos membros da
sociedade com o fito de afastá-los do crime via:
– ameaça penal
– realidade da sua aplicação
– efetividade da execução
Esta atuação estadual assume dupla atuação:
– PG negativa ou de intimidação: fim da pena = demover potenciais criminosos;
crítica: não é possível definir o quantum que possa demover; tendência para penas cada x + severas: DP do terror
– PG positiva ou de integração: fim da pena = manter/reforçar a confiança da sociedade na
validade e eficácia do DP. Quando alguém comete 1 crime, há fragilização da norma que o criminaliza. A pena
reafirma o valor da norma j., servindo para mostrar que mesmo tendo sido violada, deve ainda ser respeitada.

Pena deve ser um meio de prevenção e de ressocialização e deve ter efeitos sobre o infrator para
evitar que ele volte a infringir -» a prevenção da reincidência é o denominador comum das teorias
relativas.
PE – (ou de neutralização) – segurança, pura defesa social:
A correção do delinquente = utopia, pelo que 2 caminhos se apresentam:
PE – de intimidação (atemorizar o delinquente para impedir a reincidência;
PE – de segregação (separar os delinquentes como meio de defesa social)

PE + (ou de socialização) – reinserção social:


Está em sintonia com a função do DP como dt de tutela subsidiária de bens j's.
Estado só pode infringir 1 pena, que é sempre um mal, se aquela tiver 1 caráter social-positivo.
Pena serve, assim, para a reinserção social e socialização do agente via reforma interior do
delinquente e sua adesão íntima aos valores j's ou tratamento de tendências.
Hegel acusou estas teorias de instrumentalizarem as pessoas.
Pedro Caeiro: não hã nenhuma instrumentalização quando se restringem direitos para salvaguarda
de dts constitucionais (restringir para proteger bens j's com dignidade constitucional)

A concertação agente vs vítima e a reparação de danos:


Há quem defenda uma 3ª e autónoma finalidade da pena: a concertação da vítima, através da
reparação dos danos causados: patrimoniais ou morais.
Legislador PT atento: 51/1, 74/1b, 71 e ss do CP; 82-A do CPP.
Crítica: não é uma 3ª finalidade da pena pois não vale para certos crimes e colocaríamos
perigosamente o sancionamento penal nas mãos do agente e da vítima.
Só tem interesse para o restabelecimento da paz jurídica.

Problema dos fins das penas:


Pena Justa: toda aquela que responda adequadamente:
– às exigências preventivas
– e que não exceda o limite da culpa
As penas têm finalidades exclusivamente preventivas, seja PG ou PE, nunca retributivas!
Visam:
– restabelecimento da pax j.;
– estabilização da norma j.
com absoluto respeito pelo princípio da culpa e tendo em conta as necessidades de PE de
socialização.
Mensagem da pena: não se trata de uma retribuição mas que a norma está em vigor.
Culpa = pressuposto da pena (não há pena sem culpa);
Culpa = limite absoluto da pena (não há pena para além da culpa)

NB: Culpa não é nem fundamento nem medida da pena: pune-se não pela culpa mas para proteger
bens jurídicos.
Mas não basta aplicar a pena, de cumprir as exigências de PG+:
penas devem ser aplicadas /executadas numa ótica de PE+ de socialização, acautelando
reincidência.
CP PT: artº 40/1: fins das penas -» proteção do bem j (PG+) e reintegração agente na sociedade (PE+)
A pena dever ser compatível com as exigências de preservação da dignidade da pessoa humana e da
garantia do livre desenvolvimento da sua personalidade nos quadros do estado de direito.

Como conciliar a PG (proteção dos bens j's) com a PE (respeito pelo princípio da culpa)?
Ex: crime de homicídio, moldura legal 8-16 anos.
– dentro da moldura legal, construimos a moldura de prevenção, definindo um ponto ótimo
de proteção dos bens j -» ponto 1, digamos 14 anos;
– depois definimos um 2º ponto, o de limiar mínimo de defesa do ordenamento jº. Abaixo
dele, não é suportável comunitariamente. Digamos que 10 anos;
– estabelece-se a gravidade da culpa: 12 anos, que funciona como limite inultrapassável da
pena;
– é dentro desta moldura de PG 10-12 anos que obteremos o valor da pena. Entra em cena
agora a PE. Há necessidades diminutas de PE? Pena tenderá para 10; há fortes? Pena tende
para 14. Ou seja, é entre estes 2 pontos que atua a PE, e que irá determinar a medida da
pena: seja a função positiva de socialização; seja uma das quaisquer funções negativas
subordinadas de advertência individual ou de segurança.
– A necessidade de socialização do agente é o critério decisivo das exigências de PE mas só se
o agente for carente de socialização; pode a pena (por ex crime fiscais) pode-se conferir à
pena 1 função suficiente de advertência.
5.- FUNDAMENTO, SENTIDO E FINALIDADES DA MEDIDA DE SEGURANÇA CRIMINAL

As medidas de segurança criminais no sistema sancionatório


Pressuposto das penas: facto ilícito-típico e culpa do agente;
Formas de reação criminal: penas principais (prisão/multa) e acessórias;
Finalidades das penas: 1º PG+; 2º: PE (no interior da moldura de prevenção).

Pressupostos das MdS: facto ilícito-típico e perigosidade do agente;


Formas de reação criminal: medidas detentivas (internamento de inimputáveis) e não detentivas
(interdição de atividades, cassação, etc);
Finalidades das penas: 1º PE; 2º: PG (residual).

MdS aplicam-se quando:


– o agente é inimputável -» atuou sem culpa (por ser menor ou por anomalia psíquica) -» ñ
há pena
mas: if facto + personalidade denotam perigo, então aplica-se 1 mds
– o agente é imputável -» mas os princípios que presidem à culpa podem ser insuficiente
para acorrer à especial perigosidade resultante do facto e/ou da personalidade do agente

Finalidades e legitimação das MdS


MdS = intervenção do estado para eliminar/controlar a perigosidade
Agentes inimputáveis: quem comete 1 ilícito-típico mas incapaz de culpa (inimputável) ñ pode ser
sancionado com pema mas se o facto e a personalidade do agente revelarem elevada
perigosidade, o sistema sancionatório tem de intervir sob pena de a política criminal não satisfazer
a sua tarefa essencial de defesa social.
Imputável especialmente perigoso: se os princípios que presidem à culpa e à medida da pena ñ
forem suficiente face à perigosidade, urge complementar a pena (limitada pela culpa) com 1 mds
dirigida à especial perigosidade do agente.
Finalidade prevalente: Prevenção Especial (individual) da repetição de factos ilícitos-típicos.
a PE deve ter presente:
– uma função de segurança
– uma função de socialização, em que a função de socialização prevalece sobre a de
segurança. Só quando a socialização ñ se afigurar possível, a segurança deverá constituir
uma finalidade autónoma.
A MdS requer a verificação de 2 circunstâncias cumulativas:
– 1. perigosidade do agente
– 2. prática do facto ilícito-típico

Finalidade secundária: PG , por razões de tranquilidade social e de tutela da confiança comunitária,


participando também na proteção de bens j's :
PG -: 101º; PG+: mds de internamento.
91/2: tradução do critério da PG+-

Finalidade global: de defesa social (prevenção de ilícitos-típicos futuros pelo agente perigoso que
cometeu 1 ilícito-típico grave).
A aplicação de 1 mds é monopólio do poder judicial (205/1) CRP e só pode ser usada para defesa
dum interesse comunitário preponderante face à gravidade do facto cometido e à perigosidade do
agente, devendo obedecer rigorosamente a parâmetros de proporcionalidade, necessidade,
subsidiaridade e de proibição de excessos (18/2 CRP).
Ou seja, 1 mds só pode ser aplicada:
– na defesa d1 interesse comunitário preponderante;
– e na medida em que não se revele desproporcional à gravidade do facto e à perigosidade
do agente

Art. 91/2: Exceção à lógica das Mds. Violação do pº da proporcionalidade?


F.Dias: é 1 exigência de PG da comunidade quando, em casos mt graves (ex.: matou pai à machadada), se procura
evitar o alarme social. “Salvo se a libertação dor compatível com...” -» aqui temos 1 exceção à exceção.
Hoje, como Maria João Antunes, há quem simpatize com a entrega da imputabilidade à Admin. Pública.
F.Dias e P.Caeiro defendem que o lugar das Mds continua sendo o DP. O princípio da defesa social tem de se conjugar
com o pº da ponderação de bens conflituantes. Ñ são de aceitar mds puramente administrativas!

O relacionamento da pena com a mds: monismo ou dualismo?


No monismo, temos via única: pena-»imputáveis; mds-»inimputáveis
No dualismo, temos dupla via: pena-»imputáveis; mds-»inimputáveis e imputáveis
podem acumular-se certas mds com penas

Eduardo Correia: Sistema português é monista porque o dualismo pressupõe: 1) cumulação de


penas e medidas de segurança 2) detentivas 3) pelo mesmo facto. Para Ed. Correia, só estaremos
perante 1 sistema verdadeiramente dualista quando a mds em causa é uma medida de
internamento (privativa da liberdade). P.Caeiro concorda.
Figueiredo Dias: para a caracterização do sistema de reações criminais, a natureza detentiva das
reações criminais é irrelevante; basta que se cumulem penas e medidas de segurança pelo mesmo
facto para que se esteja perante um sistema dualista.
Muitos criticam o sistema dualista por não fazer sentido aplicar uma pena baseada na culpa para
complementá-la com 1 mds não limitada pela culpa mas sim numa qualidade de personalidade do
agente – a perigosidade.
F.Dias entende que o poder punitivo do estado pode ter lugar via pº da culpa e via reações
criminais que ñ pressupõem a culpa: as mds. É preciso somente conjugar o pº da culpa com os
princípios ds proporcionalidade, necessidade, subsidiaridade qd o pº da culpa ñ seja suficiente
para responder ao delito em causa.
O problema do dualismo está em descobrir uma correta articulação entre pena e mds – possível
através do vicariato na execução:
– a mds deve ser executada antes da pena de prisão, CP 99º;
– na pena devem ser imputados todos os efeitos úteis que com a mds tenham sido atingidos;
– à execução devem ser aplicadas as medidas de substituição e incidentes de execução que
possam favorecer a socialização: suspensão da execução ou liberdade condicional
Está consagrado no 99º CP um sistema tendencialmente monista (monismo prático)-F.Dias.
Segundo Caeiro, é formalmente monista:
– i)- lei PT ñ permite a aplicação formal duma pena e de uma mds ao mesmo agente pelo
mesmo facto, mas permite mds ñ privativas da liberdade juntamente com uma pena;
– ii)- temos em PT o instituto da 'pena relativamente indeterminada', de Ed. Correia, 83º e ss,
aplicável a delinquentes especialmente perigosos; Para Pedro Caeiro, as Penas Relativamente
Indeterminadas aproximam-se dos pressupostos das Mds: perigosidade passada e presente. Homicídio simles
8-16 anos: com a PRI, a pena pode ultrapassar o máximo de censura elegido pelo legislador, comportando-se
materialmente como se fora uma MDS. As PRI só formalmente são penas

– iii)- 20/2+3 CP: instituto dos imputáveis diminuídos ou imputabilidade diminuída = ficção de
inimputabilidade. Pessoas imputáveis com perigo de repetição deixando bens j's
vulneráveis, ficciona-se a inimputabilidade para que juiz possa aplicar uma mds de
internamento caso se verifique a perigosidade;
– iv)- esta ideia de monismo prático reflete-se igualmente no art.º 104º e ss CP
P.Caeiro: sistema PT é formalmente monista, se nós entendermos que só interessam as medidas
detentivas (PC diverge de FD)
Desvios à natureza monista: penas relativamente indeterminadas
imputabilidade diminuída (mds terapêuticas)
NB: quando o juiz – no mesmo processo, aplica penas e mds por factos diferentes, ñ é dualismo!

6.- O COMPORTAMENTO CRIMINAL E O CONCEITO MATERIAL DE CRIME


O conteúdo material do conceito de crime
perspetiva positivista-legalista: só é crime aquilo que estiver na lei -ñ existe crime pra além da lei
crítica: não nos diz: o que deve ser crime?
Perspetiva positivisto-sociológica: noção de delito natural. Crimes contra as pessoas são aqueles
que violam o altruísmo das pessoas; crimes contra o património caraterizam-se pela probidade. O
crime é materialmente definido como uma unidade de sentido sociológico e que não à inteira
disponibilidade do legislador.
Crítica: conceções imprecisas; conceito muito amplos.
Perspetiva moral ético-social: surge com o advento do estado de dt material com Welzel. Conceito
de crime: é o comportamento que viola elementares valores da ação ético-social.
Crítica: o DP ñ pode intervir no direito constitucionalmente plasmado à liberdade de consciência, ñ
existindo 1 ética social que obrigue a todos.
Perspetiva funcional ou funcional teleológica: by F.Dias -» não podemos construir o conceito de
crime duma forma alheia da função do DP. Crime é a conduta cuja danosidade social se traduz na
ofensa a um bem jurídico (BJ) digno de pena e carecido de proteção penal
BJ: é sp a expressão de 1 interesse da comunidade na manutenção/integridade de um certo
estado, objeto ou bem em si mesmo, socialmente relevante e como tal tido como valioso.
Evolução:
i)- Birnbaum, XIX: BJ = bens q satisfazem necessidades merecedoras de proteção jurídica;
ii)- Escola de Baden, XX: perspetiva metodológica. A noção do BJ extrai-se do conteúdo do crime,
logo, ñ haveria BJ fora da lei.
Iii)- perspetiva teológico-funcional e racional,F.Dias: uma conceção do BJ deve implicar 3 requisitos:
a)- BJ tem de ser um ente com um certo conteúdo material;
b)- deve ser 1 padrão crítica das normas constituídas e a constituir;
c)- deve ter 1 orientação de política criminal, conforme ao sistema social e j-constitucional
I.e.: para haver 1 bem que a sociedade considere fundamental para a sua vida em comum, tem
esse bem de estar constitucionalmente previsto:
tem de haver uma analogia material BJ »--» Valores CRP
ñ é só um princípio político-criminal, é 1 mandamento obrigatório (18/2 + 40 CRP)
DP restringe direitos mas só quando se visa proteger outros direitos com dignidade
constitucional
Específica função do DP: tutela de bens jurídico-penais
Assim: puras violações da moral ñ podem integrar o conceito material de crime
Ñ são Bjs as proposições meramente ideológicas e a violação de valores de mera ordenação da
vida social. Aqui P.Caeiro diverge um pouco de F.Dias: há casos em que o mesmo BJ – por ex., segurança rodoviária,
pode dar azo a contraordenação (álcool até 1,2g/L) mas já 1,2 o legislador considera a conduta tão grave que a
criminaliza.

Há acórdãos do TC onde se afirma que o BJ é o elemento essencial para legitimar a constituição de


um crime.
Quanto à previsão de novos crimes e novas penas, só será conforme com o 18/2 da CRP se o BJ
protegido pelo novo tipo incriminador se revelar digno e carente de tutela penal.
Os BJ's encontram-se forçosamente na CRP. É o único lugar. CRP: é o pacto a que todos estamos
sujeitos. Que fique bem claro: ñ ha´BJ's penais fora da CRP.
O DP só protege os BJ's dignos e que necessitem de tutela penal.
Desvendada, a 1ª pt do conceito material de crime: é crime se ofender 1 BJ com suficiente
dignidade penal, mas tem de ser digno de proteção penal e a própria conduta tem de ter dignidade
penal.
ex.: propriedade é um BJ com dignidade penal. Há vários crimes vs propriedade. Contudo, nem todas as condutas são
dignas penalmente: inquilino ñ pagou a renda, ofendeu propriedade do senhorio mas é indigno penalmente.

Para além disso: pº da necessidade. Tem de haver necessidade de pena, i.e., a intervenção penal
tem de ser necessária – ultima ratio. Só qd ñ há outra forma social de proteção do BJ que o DP
entra em cena, restringindo-se, contudo, aos BJ's com dignidade e carência penal.
Recapitulando:
À dignidade penal acresce 1 ideia de necessidade ou carência de pena – para que o legislador
possa incriminar um certo comportamento, ñ basta que tenhamos 1 BJ digno de tutela e 1 conduta
digna de proteção penal -» é preciso que o BJ careça dessa tutela.
Tutela essa:
– que seja uma tutela eficaz – vale o pº constitucional da proporcionalidade lato senso: é
necessário que a incriminação seja adequada. Descriminalizou-se o consumo de estupefacientes pq o BJ
protegido era a saúde pública e impedir o seu uso via penal foi considerado desadequado

– que seja de aplicação subsidiária -» se existirem outras formas menos gravosas de proteção
desse BJ, o legislador ñ pode usar o DP. Ex.: até década 90 XX cheque sem provisão era crime: o DP tinha-se
transformado num meio de coagir o devedor a pagar ao credor

Eis as notas essenciais do conceito material de crime.


A definição social de crime
Também há 1 definição social de crime: o crime em sentido social. O que é sumariamente
conhecido como crime é apenas aquilo que é condenado por uma sentença transitada em julgado
– o que é mt inferior à quantidade de crimes realmente cometidos, em termos sociológicos.

7.- OS LIMITES DO DP EM FACE DE OUTROS RAMOS DO DIREITO SANCIONATÓRIO


DP e Dt de mera ordenação social (DMOS)
Estado de polícia: qualquer infração à ordem d1 oficial real = desobediência
Estado liberal: código penal Napoleão classifica infrações em 3 tipos: crimes,delitos,contravenções
Estado social: desmembra as contraordenações do penal: cisão entre as infrações a BJ's
importantes e como tal dignas e carecidas de pena, das contravenções com reduzido ou nuko
conteúdo ético (é ilícito porque é … proibido) que passam para o nóvel DMOS.
Temos assim 2 grandes blocos no dt sancionatório:
– Direito penal DP clássico, plasmado no CP; DP secundário (legislação extravagante (crimes próximos dos dts sociais)
– DMOS
Quando nasceu em PT em 1979, o DMOS foi pensado como 1 dt de simples aplicação qd se
tratasse de normas axiologicamente neutras; coimas forma pensadas como advertências sociais.
Noção foi evoluindo, passando a englobar as grandes contraordenações , aumentando a gravidade
das sanções, impactando dos dts individuais. DMOS aproxima-se perigosamente do DP, qd
voltamos a pôr no DMOS coisas que são do DP (ex.: sanção acessória de inibição de exercício de
cargos em empresas durante 5 anos).
Fenómeno da progressiva aproximação do DMOS ao DP – ao invés do pretendido. Legislador, agravando as coimas e aplicandp
sanções acessórias, aproxima-se das penas do DP, afetando os dts fundamentais. Houve, assim, necessidade de aumentar as
garantias, aproximando também aqui o DMOS do DP. Por isso o TC acordou que as garantias do DP são aplicáveis ao DMOS

O DMOS visa tutelar essencialmente interesses administrativos; é 1 dt aplicado em 1ª instância


pela AP. Regime geral: DL 443/82 que com tanta legislação extravagante de geral transformou-se
em subsidiário. O regime geral é reserva da AR; Governo legisla à vontade na extravagante.
Há 1 fenómeno social que queremos reprimir: criminalizando ou DMOS?
1º critério: critério do BJ; mas o DMOS às vezes tb protege Bens juridico-penais;
2º critério: critério da relevância ético/axiológica da conduta:
DP: só condutas eticamente reprovadas; crítica: já pune condutas sem carga ética -» fenómeno da neocriminalização
DMOS: condutas sem carga ética (axiológica); crítica: DMOS já pune condutas c/relevância ética: vs cartelização
Pedro Caeiro: este critério só tem interesse como princípio de solução

F.Dias defende que a diferença entre DP e DMOS é material e qualitativa;


Costa Andrade e Nuno Brandão: a diferença é de grau e quantitativa.
Pedro Caeiro: o critério deve passar por evitar distinções genéricas, com pretensão de
universalidade. A distinção em certo sentido é quantitativa, pois há diferenças de quantidade que
se transformam em qualidade. EX.: condução sob o efeito do álcool: até 1,2 é contraordenação; de 1,2 é crime.
A quantidade transforma-se em qualidade (o perigo de condição é maior, ganhando dignidade penal).

PC: ñ me parece que o legislador consiga encontrar diretamente na CRP a diferença DP/DMOS. O
que é decisivo?
– o pº da dignidade penal
– o pº da necessidade da pena ---» isto é mt + impt que saber quais as diferenças DP/DMOS
é saber se tem dignidade penal. Tem dignidade penal? É DP!!
Ous eja, não há distinção a priori: a distinção resulta da aplicação dos citados 2 princípios.
− Para que se possa criminalizar uma conduta é necessário que haja uma lei formal da Assembleia da
República;
− Quanto às contraordenações concretas o Governo tem uma competência própria, i.e., pode conceber
sem autorização da Assembleia da República uma certa conduta como contraordenação.

E o TC pode controlar se 1 dada norma é inconstitucional por ser DMOS em x de DP ou vice-versa?


Nunca aconteceu. Mas é perfeitamente possível invocar o pº da necessidade se 1 conduta
claramente DMOS foi considerada DP (desnecessidade de tutela penal).
Como distinguir o DMOS do DP:
– DP: pena; DMOS: coima
– Ausência de BJ no DMOS; irrelevância ética axiológica da conduta no DMOS
– Infrações -» DP: crime; DMOS: contraordenação
– Sanções -» DP: penas e MDS; DMOS: Coima pecuniária e interdição de direitos
quando alguém é condenado a uma pena de multa, se se recusar a pagar =» prisão subsidiária; se alguém não
pagar a coima =» execução (agressão do património do contraventor). Neste caso, DP e DMOS distinguem-se
pela execução das sanções.

Função das coimas: essencialmente de PG e PE


DP e Dt disciplinar
O DD nasce como imposições de dever aos funcionários da Admin. Pública (AP). Ilícito disciplinar if
infração ao interesse público em nome da integridade e da confiança.
Principais diferenças DP/DD:
ilícito externo/ilícito interno
de aplicação geral/universo fechado
Pº da subsidariedade: maioria das violações dos deveres de serviço ñ têm dignidade penalmente
as medidas disciplinares não têm finalidades de PG, só de PE
no DD ñ interessa se há BJ ou ñ, ética na conduta S/N -» o q importa é que o DD visa proteger o
bom funcionamento do serviço através da imposição de deveres.
A confiança ñ é em si mm 1 BJ, é diferente de restaurar a confiança na norma. Mas do DD, é
fundamental a confiança que os cidadãos depositam na AP (fundamental n1 sociedade
democrática). Os cidadãos têm de crer que os seus interesses serão bem tratados e que quem
trabalhe na AP cumpra com os seus deveres.
A preservação e restauração da confiança é 1 dos grandes objetivos do DD, ñ através da proteção
de BJ's mas sim dos deveres de serviço. É esta a grande dif. DP vs DD, se bem que, por ex suborno,
o funcionário possa estar infringindo disciplinar e penalmente. Há um processo-crime e um
procedimento disciplinar, podendo levar à acumulação de sanções. Devido À diferença intencional
entre o DP e DD, não podemos aqui falar de dupla criminalização pelos mesmos factos.
DP e dt. processual: penas criminais e sanções de ordenação ou conformação processual
São sanções que tribunal pode aplicar no decurso d1 processo penal por violações do próprio
processo. São expressas em UC e revestem a forma de ameaça (intimidação). Ñ são DP nem DD
Direito penal e direito privado: penas criminais e penas privadas
Hoje convencionam-se contratos com cláusulas penais para o ñ cumprimento de obrigações
contratuais. É 1 pena privada que se distingue fundamentalmente das penas criminais pela sua
consensualidade – só está abrangido que a elas se submeteu voluntariamente.

8. - O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA INTERVENÇÃO PENAL


i)- o pº nullum crimen, nulla poena sine lege
O pº da legalidade (PDL) é um escudo de defesa do cidadão vs poder punitivo do estado.
Antecedentes: Magna Charta (1215), Bill of rights, Iluminismo (colocou o homem no centro do
poder político), constituições americanas, DDHC/RF, DUDH/1948, CEDH/1950, Carta DF's UE. É,
pois, um pº sedimentado ao longo da história: estado ñ pode agir na esfera dos cidadãos se ñ
estiver legitimado por lei.
Retrocessos: CP URSS –» crime = tudo o que fosse vs socialismo; CP III REICH -» crime = tudo o que
violasse o sentimento do povo alemão. Ambos = manipulação do DP para servir desígnios políticos.
PT: 29/1 CRP = positivação do PDL
29/2 = desvio ao PDL – tribunais PT podem aplicar uma norma internacional costumeira
8º CRP: recebimento do DIPenal costumeiro
Ñ há lei interna, mas conduta viola DIPenal -» pode haver punição criminal (segundo o dt
processual penal PT e CP PT). Limites:
– “nos limites da lei interna” -» refere-se a penas, que terão as prevista no OJ PT;
– o processo também é regulado pela lei interna
O PDL também preside ao DIPenal, mas de uma forma diferente do PDL interno: ñ é reserva da
A.R., mas algumas das garantias como ex a lex certa também valem para o DIPenal. E temos sp de
verificar se as normas DIPenal costumeiro estão de acordo com proibição de analogia,
retroatividade, etc.
Princípio do estado de direito: proteção de Direitos Fundamentais (DF's) e dos Direitos, Liberdades
e Garantias (DLG's) através do direito. Os cidadãos devem ser protegidos d1 arbitrária e excessiva
intervenção penal do estado (CRP 29/1+3). Os cidadãos e os seus Direito, Liberdades e Garantias
(DLG's) devem ser protegidos. Ou seja, o pº do estado de direito conduz a que a proteção dos
DF's/DLG's seja levada a cabo ñ apenas através do DP mas também perante o DP. Por isso, a
intervenção penal terá de se positivar segundo um rigoros princípio da legalidade:
Pº da legalidade criminal (PDLC): ñ há crime nem pena sem lei prévia, escrita, estrita e certa.
O PDLC possui 1 pluralidade de fundamentos:
1- fundamentos externos (políticos), fora do DP, âmbito da teoria do estado:
– pº liberal: estado só pode intervir na esfera dos cidadãos e seus direitos se estiver
legitimado por lei geral, abstrata e anterior – 18/2+3 CRP. I.e.: qualquer restrição aos DF's
tem de se basear na lei + criminalização d1 comportamento por provocar limitações de
DF's tem de estar ligada a 1 lei geral, abstrata e anterior;
– pº democrático: lei = contratualização de certas regras de conduta; lei = vontade geral
plasmada, pelo parlamento ou por ele autorizado (165/1c CRP);
– pº separação poderes: cabe a 1 órgão dizer o que é crime/quais as penas e a outro aplicar
as normas e punir quem cometeu
2- fundamentos internos:
– função de PE ou PG: PDL cumpre função de comunicar quais fatos proibidos de molde a
que cidadãos regulem seus comportamentos.Mensagem para a sociedade: ñ cometa crime,
señ=»pena
– pº da culpa: juízo de censura -» estado só pode censurar se cidadão souber que conduta
era proibida. Tem de estar em lei. Por mais que a conduta seja repugnante, só é proibida se
estiver plasmada em lei.
nullum crimen
Tudo que ñ estiver na lei ñ pode ser sancionado com pena. PDLC serve como protetor do arbítrio
estatal: erros, omissões e falhas do legislador ñ podem funcionas vs pessoas.
nulla poena sine lege
29/3 CRP aplicação do PDLC às penas e mds = juízes ñ podem criar/cominar penas ñ previstas na lei
Tiago Costa Andrade TCA (práticas): o comportamento indiciado na lei como crime ñ revela só 1 carência de
socialização ou defesa social mas é tb 1 limite da intervenção estatal de socialização ou de defesa social:
Ñ há crime sem lei: lei tem de definir pressupostos + consequências j's p/que haja crime; qq lacuna/deficiência de
regulamentação ou esquecimento legal corre a favor do agente, da liberdade, por mais evidente que se revele ter sido
a intenção do legislador abranger na punibilidade certos comportamentos;
Ñ pode haver sanção criminal sem lei: juiz ñ pode criar/inventar sanções ñ previstas na lei. As penas e mds devem ser
conforme a lei CRP 29/3
O PDLC é mt amplo, possuindo vários planos:
– plano do âmbito da aplicação e extensão
– plano das fontes
– plano da determinabilidade
– plano da retroatividade (retro-)

ii)- o plano do âmbito de aplicação (contra reum) – mt impt!


O PDL ñ cobre ma sua totalidade – segundo a sua função e sentido, toda a matéria penal mas
apenas penas que possam fundamentar/agravar a responsabilidade do agente. Se assim ñ fosse,
estaria agindo contra a sua razão de ser: proteção dos DLG's do cidadão face à possibilidade de
arbítrio e excesso do poder estatal. I.e.: o PDL cobre toda a matéria relativa ao tipo de ilícito ou ao
tipo e culpa, salvo o respeitante às causas de justificação ou de exclusão da culpa.
TCA: sai sp nos exames. O PDLC só serve para impedir a fundamentação/agravação da resp. criminal dq pax. Ñ se aplica
à atenuação/exclusão da resp. criminal, i.e.: PDLC serve para impedir intervenção arbitrária/excessiva se 1 tribunal
quiser atenuar/excluir pode fazê-lo mesmo que ñ esteja previsto em lei. Para agravar, para tirar, tem de haver 1 lei
prévia, escrita, estrita e certa (PEEC). Isto tem várias implicações em todo o sistema.
Implica, p. ex., no domínio da analogia que seja proibida a analogia que visa fundamentar a responsabilidade da
pessoa, essa é proibida porque é uma norma que fundamenta a responsabilidade, mas não se proíbe a analogia que
tem por resultado excluir ou diminuir a responsabilidade do agente. Nunca esquecer esta ligação profunda entre o
princípio da legalidade e a defesa da pessoa contra o Estado.

iii)- o plano da fonte – lex scripta e lex parlamentaria


O 2º plano em que o PDL se exprime é o plano da fonte. Para q haja crime exige-se 1 lei formal da
AR ou então uma lei de autorização ao governo. A questão que se coloca é se o PDLC permite ao
governo descriminalizar/reduzir a pena aplicável a 1 certo comportamento. Em pº, ñ haveria
problema, mas o TC já disse por várias vezes que a definição dos crimes e das penas, seja em que
sentido for, é sempre uma reserva relativa de competência da AR, interpretando dessa forma o
165.º/1 al. c) CRP. Compreensível. Mas ñ podemos é imputar essa solução ao PDLC, são coisas
diferentes. Uma coisa é o PDL na sua veste substantiva e o PDL não se oporia a uma intervenção do
governo, fosse num sentido ou no outro, mas há boas razões, do ponto de vista orgânico, da gestão
política do Estado, para que seja o mesmo órgão a descriminalizar e a criminalizar. Señ: teríamos
ter 2 poderes paralelos = terramoto constitucional.
Um outro problema que se levanta em relação à fonte é o problema das chamadas
normas penais em branco ou – como prefere PC, normas penais com espaços em branco, que
remetem uma pt. da sua definição para outros instrumentos normativos normalmente de natureza
infralegal. Ex.: 1 norma de DP secundário diz “quem pescar sardinha com uma dimensão inferior à
autorizada ...”. Há um espaço branco nesta norma penal porque ao lermos a norma não
adquirimos o inteiro conhecimento sobre o comportamento proibido, não sabemos qual é a
dimensão autorizada.
As normas penais por vezes recorrem a este expediente porque muitas vezes estas normas
secundárias são muito mutáveis e a lei penal é algo morosa e difícil de se mudar. A maneira de
preservar uma certa estabilidade da norma é usar este expediente de remissão parcial do sentido
da norma para 1 instrumento normativo adequado.
A expressão norma penal em branco não é apreciada por Pedro Caeiro pois parece que a norma é totalmente em
branco, mas não deve ser esse o caso, é uma norma com espaços brancos.
Questão: é contrário ao PDL dado ser um ministério que vai definir através de um instrumento que
não tem valor de lei. Ora, do ponto de vista da fonte, não existe aqui qualquer problema. Desde
que exista uma lei formal a fazer esta remissão as remissões feitas aí têm esta cobertura por parte
da AR, ou seja, é o órgão titular do poder punitivo que deliberadamente remete uma remissão por
parte da norma para outro poder. No plano da fonte as normas penais em branco não levantam
quaisquer problemas.
Mas as leis penais em branco só serão compatíveis com o PDL se ñ prejudicar a compreensão
global da norma, i.e., exige-se que o cidadão consiga apreender o seu cerne.

iv)- a determinabilidade do tipo legal de crime – lex certa


Hoje em dia, é neste plano que se joga o PDL. Leis ñ podem ter conteúdo vago e indeterminado -»
têm de ser objetivamente determináveis os comportamentos proibidos e sancionados.
CRP 29/1 – exigência de determinação. F.Dias diz que cidadão tem de olhar globalmente para a
proibição e ver se se consegue apreender o sentido da proibição: se conseguir, a norma está
conforme o PDL, caso contrário, estará em causa o PDL.
“quem prejudicar outra pessoa é punido com pena y” = norma incerta. Cena da sardinha: é uma lex certa porque
fornece ao cidadão um sentido à conduta: ficamos a saber que há um limite para captura =» dever de info, temos de ir
procurar saber ao certo. Se a norma dissesse: “quem violar o disposto nos regulamentos de pesca é punido com pena
de x” = remissão genérica, global, indiferenciada, indistinta para uma zona de regulamentação. É uma norma que
deverá ser considerada inconstitucional em virtude da violação do princípio da legalidade do art. 29.º/1 CRP.

v)- proibição da analogia (lex stricta)


Analogia = procedimento de aplicação d1 regra j a 1 certo caso concreto ñ regulado pela lei via
argumento de semelhança substancial com os casos regulados -» é geralmente permitida.
In DP é 1 procedimento proibido! 1/3 CP! Mas olhando para o plano do PDL a analogia só é
proibida qd funcione contra a liberdade das pessoas (paxs), i.e., qd servir para fundamentar a
resp. do agente, definir o estado de perigosidade ou determinar a pena ou medida de segurança
que lhe corresponde.
Problema: distinção entre o que é interpretação extensiva ou teleológica e a analogia. Existe uma
forte corrente doutrinária na faculdade que põe em causa a separação entre estas duas noções.
Todavia no DP é fundamental essa separação para garantir a eficácia do princípio da legalidade.
Critério deF. Dias: o do quadro possível de significações das palavras. Quer dizer, quando o
legislador constrói uma norma penal, uma norma penal também é um ato de comunicação, faz-se
com palavras, a norma penal é construída com palavras e essas palavras têm significações, têm
sentidos. Ora, as palavras definem um quadro de sentidos limitado, não existem infinitas
possibilidades de conteúdo, de sentido para cada palavra. De acordo com esta visão, cada norma
tem um quadro limitado de possibilidades de interpretação. Para lá desse quadro já não estamos a
interpretar a norma, mas a fazer uma analogia e essa analogia será proibida nos termos do CP.
Dentro do quadro de significações que a norma permite cabem inteiramente os procedimentos de
interpretação que a ciência jurídica acolhe. Todos os métodos de interpretação acolhidos pela
ciência jurídica são inteiramente válidos e, sobretudo no direito penal, a interpretação teleológica
é fundamental, mas isso só funciona dentro daquele quadro de significações possíveis que a
norma oferece. Não podemos ir buscar à ratio legis argumento ou base para aplicar norma a casos
que ela não contempla no conjunto dos seus significados possíveis.
Portanto, quando as palavras admitem vários sentidos, ainda estaremos no âmbito da
interpretação. Se a analogia fosse permitida no CP, teríamos os tribunais a criar a norma penal e ñ
o legislador.
A analogia é permitida na aplicação das chamadas causas de justificação ou causas de exculpação.
Estas normas são aplicáveis por analogia porque elas visam afastar a responsabilidade do agente

vi)- a proibição da retroatividade (lex praevia) - remissão


PDLC proíbe a aplicação retroativa das leis penais. Segundo PC, deve ser estudada no âmbito da
validade temporal da lei penal, q ñ se esgota na proibição da retro-.
Seja como for, temos uma proibição de retroatividade da lei penal incriminadora.
9. - ÂMBITO DE VALIDADE TEMPORAL DA LEI PENAL
P.Caeiro prefere esta designação, ao invés de aplicação da lei penal no tempo.
i)- pº geral: tempus regit actum
PDL impõe aqui 1 barreira: legislador ñ pode emanar normas/leis q visem aplicação retro-, a lei
tem de ser prévia -» mas só vale para normas que fundamentem/agravem resp.individual (contra
reum ou in malem partem).
A doutrina, F.Dias inclusive, enquadra o problema do âmbito de validade temporal da lei penal no
pº da irretroatividade da lei (ou pº da aplicação da lei penal no tempo).
P.Caeiro discorda: ñ é crucial nomear 1 pº pela negativa; qd se fala n1 pº da irretro- já se está a ter
em conta o conteúdo de certas normas j's. O pº ñ deve variar conforme as normas q vão existindo.
“pº da irretroatividade” ou “pº da aplicação da lei mais favorável”. Ambas as designações supõem já uma consideração
do conteúdo das normas, quando o problema do âmbito de eficácia temporal da lei precede e é independente dele.

Toda a norma jurídica (NJ), enquanto regra de comportamento, tem uma natureza percetiva, i.e.,
prescreve/proíbe certos comportamentos. Enquanto tal, pela própria natureza das coisas, a NJ não
pode prescrever comportamentos para o passado – princípio da não transconexão ou não
transatividade (uma norma só pode prescrever comportamentos para as pessoas com as quais
tem um contacto que são, no âmbito temporal, os comportamentos posteriores à sua entrada em
vigor. Uma norma não pode ter contactos com o passado, não pode orientar condutas que já
ocorreram no passado).
DUPLA FUNÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS:

• Servem de regras de comportamento (orientam condutas); destinatário NJ's: o cidadão;


• Servem de regras de valoração (sanções): no momento em que se infringe estas regras esse
comportamento é valorado negativamente – o destinatário das normas de valoração são os
tribunais que aplicam as consequências previstas. Normas jurídicas enquanto regras de valoração:
proteção das expectativas individuais: tempus regit actum  factos devem ser valorados à luz das
normas que vigoravam no momento da sua prática (princípio da coincidência). Ou seja:
para que as expectativas das pessoas sejam protegidas, temos de respeitar dois momentos:
1- as pessoas devem poder confiar na lei que vigora no momento em que praticam os factos;
2- deve haver uma coincidência entre a lei que regula as condutas e a lei à luz da qual esses
comportamentos são valorados – a proteção das expectativas exige esta coincidência entre norma
de comportamento e norma de valoração. As normas penais são aquelas que afetam mais
gravemente os direitos das pessoas.
Primeiro critério de aplicação da lei no tempo:
– factos devem ser valorados conforme a lei q vigorava à data dos factos (pº da coincidência:
lei à data dos factos deve ser a aplicável a esses factos. Isto é comum a todos os ramos do
direito). Mas no DP há 1 particularidade que vai fortalecer/intensificar este pº: existe em
DP 1 dissociação entre a norma de comportamento e a de valoração. Porquê essa
autonomia?
– no plano do destinatário: norma de comportamento: 'não matarás!' a que se
destina? Aos cidadãos (orienta a conduta das paxs);
– norma de valoração: 'quem matar … será punido com pena x'; a norma já ñ se
destina aos cidadãos mas sim aos tribunais

– no plano cronológico: a violação da norma (crime) dá-se sempre em momento (muito)


anterior à valoração do facto (procedimento criminal, julgamento), aumentando de facto a
possibilidade de a norma se ter alterado entretanto.
ii)- determinação do tempus delicti; art.º 3º CP
Momento de ação/omissão: é no momento de ação/omissão que o agente pode determinar a sua
conduta, ou seja, pode obedecer ou desobedecer à norma e ñ no momento do resultado.
A grande maioria dos crimes do CP têm os 2 elementos: ação/omissão e resultado. Ação: soco -»
resultado: lesão. O momento decisivo para a determinação da prática do facto é a conduta e ñ o
resultado (incluindo os comparticipantes). São materiais os crimes com os 2 elementos.
Crimes duradouros ou permanentes: perduram no tempo, ex. Sequestro
A fecha B num quarto; enqt B ñ for libertado, temos crime; se a lei mudar durante o sequestro? Diz a doutrina que se
aplica a lei nova, mesmo se mais gravosa, porque o crime está ainda sendo praticado. Mas, atenção, só se aplica para
os factos desde a entrada da nova lei: se a nova lei agravar os sequestro maiores de 30 dias e o presente sequestro
durar 15, ñ se aplica. No mais, segue-se a regra geral que lei posterior derroga lei anterior.

Crimes de efeitos permanentes: as consequências são permanentes, ex. Homicídio


A dá 1 tiro em B em 2019; B entrou logo em coma, falecendo em 2021; 2020: nova lei, agravando as penas para crimes
de homicídio. Aplica-se a lei vigente no momento da ação, a vigente em 2019.

Crimes continuados: criação da doutrina, para tratar como 1 único crime o concurso de vários
crimes, em certas circunstâncias, mantendo-se o regime da aplicação da lei no tempo.
A encontra 1 chave de casa na rua e assalta a casa 3 vezes . Tecnicamente, teríamos 3 crimes de furto. Temos concurso
= 1 crime. Lei aplicável? A do último facto (agente ainda está executando o furto).

iii)- as medidas de segurança


As mds dependem de 2 pressupostos: prática de facto típico ílicito + perigosidade do agente
(perigo de repetição de novos factos).
Mas a perigosidade tem de se manifestar quer no momento do facto quer no julgamento.
Que lei aplicar? Lei que vigorar no momento da prática do facto. PC concorda. Se a lei mudar e o
agente deixar de ser perigoso durante o julgamento, mds ñ podem ser aplicadas. Porquê?
Antigamente, as mds eram consideradas 1 bem que se fazia ao agente. Com CRP+CP as mds foram
consideradas 1 restrição à liberdade individual. São reações criminais e, como tal, sujeitas às
garantias q a lei penal exige.
Ñ se pode aplicar 1 mds a alguém q cometeu certo facto descrito como crime no momento do
julgamento mas q ñ o é no momento em que foi praticado.
NB: em pº ñ se podem aplicar mds q ñ existam à prática dos factos, como castração química.
só podem aplicar-se as medidas de segurança previstas pela lei no momento da prática do facto,
valendo aqui integralmente a proibição de retroatividade
Em relação ao estado de perigosidade, as coisas são diferentes porque este estado de perigosidade, por um lado, tem de ser
manifesto e, por outro tem de subsistir no momento da decisão. Acontece que a definição da perigosidade pode ser diferente num
momento e no outro. Qual destas leis se aplica? Estamos perante um facto partilhado, mais uma vez e, portanto, nestes casos não é
possível aplicar apenas a 2ª lei, por isso parece que é necessário preencher os pressupostos do estado de perigosidade tal como
estão definidos na 1ª lei, mas também como estão definidos na 2ª lei.

iv)- a específica proibição de retroatividade in malem partem


A proibição de retro- funciona apenas a favor do agente e ñ contra ele. A proibição vale para todos
os elementos da punibilidade, à limitação de causas de justificação, de exclusão ou de diminuição
da culpa e às consequências j's do crime, qq q seja a sua espécie -» penas, mds, consequências
penais.
Em princípio os factos devem ser valorados à luz da lei que vigorava no momento da sua prática, mas pode
acontecer que o legislador atribua efeitos retroativos à lei, o que implica uma cisão entre a norma de
valoração e a norma de comportamento. Isto acontece porque muitas vezes entram em conflito os dois
interesses fundamentais que o direito tem de assegurar: o interesse na estabilidade (proteção das
expectativas) e o interesse na adaptação (melhor desenvolvimento social). Isto continua a ser um problema
geral do direito, não apenas do direito penal.
É aqui que nós inserimos a tal proibição da retroatividade que deriva do princípio da legalidade – artigo
29.º/1 CRP. Esta proibição visa impedir que o legislador promova o interesse na adaptação, proibindo a
retroatividade desfavorável. Isto é uma decorrência clara do princípio da segurança jurídica (artigo 2.º CRP),
e do pº da legalidade (proteção dos DLG’s contra o arbítrio do Estado).
É aqui que inserimos a proibição da retroatividade como consequência do princípio da legalidade.
Ou seja:
Qual o problema da atribuição de efeitos retro- à lei? =» cisão entre a norma de comportamento e
a norma de valoração. São conflitos entre 2 espécies de interesses que o legislador tem de
proteger:
– interesse na estabilidade (proteção das expetativas) – aplicação da lei à data
– interesse na adaptação (há agora melhor soluções, 1 melhor ordenação da vida social)
No direito ñ há proibição de retro- se o objetivo for encontrar soluções + justas e eficazes;
Mas no DP há proibição de retro- quando desfavorável e devido ao PDLC.
Porquê? Devido à gravidade da sanção penal, o legislador constitucional promove o interesse na
adaptação em detrimento do interesse na estabilidade à custa das garantias individuais.
Retroatividade desfavorável: 2º CP, pº da segurança j e pº da legalidade (proteção dos DLG's vs
arbítrio do Estado).
E se mudar a jurisprudência?
Ñ é propriamente 1 violação do PDLC, mas ñ deixa de pôr em causa valores q lhe estão associados.
É claro que é conveniente que os tribunais tenham correntes jurisprudenciais mais ou menos consistentes
para evitar as chamadas condenações-surpresa, mas, na verdade, isso não pode ser um travão para uma
melhor aplicação da lei porque em princípio a última aplicação da lei é a melhor.

Nestas situações, o cidadão q atuou com base em expetativas fundadas na 1ª corrente


jurisprudencial ñ estará desprotegido, podendo amparar-se n1 falta de consciência do ilícito ñ
censurável q determinará a exclusão da culpa e, em consequência, da punição. 17/1 CP.
v)- a imposição da retroatividade  favor reum. A lex mellior; art. 29/4, CRP; art 2.º, n.º 2 e n.º 4, do CP
29/4 CRP + 2/2+4 CP impõem a retro- mais favorável, i.e., qd a lei penal vigente no momento da
prática do facto punível for diferente da lei posterior, será sempre aplicado o regime q se mostrar +
favorável ao agente.
Fundamento: princípio da necessidade da lei penal (promoção do interesse na adaptação)  se no
momento presente o legislador entende que determinada conduta que era punível no momento
da sua prática não deve continuar a sê-lo (descriminalização, art. 2.º, n.º 2), ou se as finalidades de
proteção dos bens jurídicos e de prevenção criminal podem ser conseguidas através de um regime
menos restritivo dos direitos individuais (despenalização, art. 2.º, n.º 4), deve aplicar-se o novo
regime. Portanto: a imposição de aplicação retroactiva in melius tem um fundamento
completamente diferente (até: o inverso!) da proibição de retroatividade desfavorável: privilegia-se
o interesse na adaptação porque não se desprotege dessa forma o interesse na estabilidade.
Consequentemente, a imposição de retroatividade favorável não é uma “exceção” ao princípio da
legalidade, pois a proibição de retroatividade que deste decorre cobre apenas as normas
desfavoráveis (contra reum, contra libertatem). Não está em causa agravamento/exclusão!
o pº da necessidade da intervenção penal é uma limitação das liberdades, portanto está sujeita a uma
cláusula de necessidade.
Se houver uma sucessão de leis, portanto, 2 leis que tratem o mesmo facto a nossa CRP e o CP no art. 2.º/2/4 impõem
que sejam aplicadas retroativamente as leis mais favoráveis. O fundamento desta solução não é escolher a lei mais
favorável, é dizer se a lei que vigora agora ñ considera este facto como crime, logo ñ terá sentido puni-lo. Se o agente
praticou um facto no momento em que esse facto era considerado como crime, mas no momento em que ele vai ser
julgado a sociedade já mudou de opinião, já entendeu que esse facto não constitui uma infração criminal, não faz
sentido punir esse facto. Esta imposição de tratamento retroativo mais favorável nada tem que ver com o princípio da
legalidade, isto tem relação com o princípio da necessidade da lei penal. Nestes casos a imposição da aplicação
retroativa do tratamento mais favorável fundamenta-se na desnecessidade da intervenção penal e, portanto, tem uma
genealogia completamente diferente do princípio da proibição da retroatividade desfavorável. É perfeitamente possível
que um país garanta rigorosamente o princípio da legalidade, portanto, proíba a aplicação retroativa de lei desfavorável,
mas não tenha o princípio do tratamento mais favorável, são duas coisas completamente distintas. São duas dimensões
que não devem ser confundidas. Esta é uma decorrência do princípio da necessidade e, por isso mesmo, é incorreto
dizer que a aplicação retroativa da lei penal mais favorável é uma exceção ao princípio da legalidade . O princípio da
legalidade só tem no seu âmbito as leis desfavoráveis, portanto, se estamos a falar da aplicação retroativa de uma lei
favorável isto sai completamente fora do âmbito do princípio da legalidade.

A lex mellior ñ tem nada a ver com o PDL!! Lex mellior promove o interesse na adaptação (melhor ordenação da vida
social), segundo o pº da necessidade da lei penal.
Caso I: se no julgamento o juiz entender q ñ há PG+PE é incompreensível q se aplicasse a lei vigente à data factos;
Caso II: se por razões de PG a lei baixou a moldura penal de 12 para 8 anos, o pº da necessidade impõe ser
desnecessário aplicar a lei vigente factos;

Comparamos o regime qd o agente atuou e o atual: será o atual o aplicável se for + favorável, ie.,se
o agente ficar n1 situação melhor do que se fosse aplicado o regime anterior.
Mais benéfico? Aplique-se e ex-officio.
A descriminalização 2/2 CP
Comunidade entende que certo comportamento já ñ atinge 1 BJ de maneira suficientemente forte,
pelo que a lei vem eliminar certa conduta do elenco de crimes, por já ñ existirem razões de PG+PE
que justifiquem 1 pena. A fulano foi aplicada 1 pena =» entretanto, descriminalização =» cessa de
imediato a execução e os efeitos penais =» libertação =» eliminação no registo criminal. Tem a ver
com a desnecessidade da lei penal, pelo que a pena deve cessar de imediato. A pt.2 do 2/2
demonstra a força do pº lex mellior, o qual se impõe mesmo que a sentença tenha transitado em
julgado.
E quando muda o BJ protegido?
Ex.: crimes sexuais -» A viola em 1994 = BJ supra-individual, moralidade social; desde 1995: crime
vs pessoas. Houve descriminalização? Ñ! Integra a conduta: era crime qd foi cometido, é crime em
1995. Temos de olhar sp para a conduta.
conduta deixa de ser crime e passa a contraordenação (CO). Ex.: consumo de estupefacientes.
Nestes casos, aplica-se o 2/2 ou o 2/4? O agente ñ pode ser punido pelo crime. Mas poderá sê-lo
pela CO? Há 2 correntes:
– F.Dias: existe aqui uma continuidade no regime sancionatório, quer dizer, o facto nunca na
verdade passou a ser lícito, foi uma degradação da ilicitude da ilicitude penal para a
ilicitude administrativa, mas há uma continuidade: a proibição do legislador. Deve aplicar-se
retroativamente a contraordenação porque é mais favorável do que a norma penal;
– Há quem diga não: o que existe é uma descriminalização porque o facto deixou de ser
crime, portanto, esse não pode ser nunca aplicado e também não se pode aplicar
retroativamente a CO porque o direito das CO também está sujeito ao PDL e à ñ retro- e
não se pode invocar aqui o art. 2.º/4 porque não se trata de uma sucessão de leis penais. O
art. 2.º/4 está desenhado para a solução de leis penais. Aqui trata-se de uma sucessão de
lei penal com uma lei administração. Nesta segunda corrente o agente ficaria impune,
apesar de o ordenamento jurídico continuamente ter previsto 1 sanção para o facto, pois
devemos privilegiar os direitos individuais.
Pedro Caeiro: ñ podemos fundamentar a aplicação da lei nova no 2/4, que só prevê a sucessão de
leis penais: “quando … leis penais ...” Solução:
1- que a lei nova DMOS preveja expressamente a sua própria aplicação retro-;
2- mas temos de avaliar se esta flexibilidade com que tratamos o PDLC é compatível com o
PDL do DMOS: já ñ é crime =» DP está arredado do problema. Cabe ao TC avaliar se o PDL
DMOS é aplicável ou ñ.
Resumindo: impossibilidade de recondução do problema à sucessão de leis penais (art. 2.º, n.º 4 CP), pois a lei
contra-ordenacional é de natureza administrativa. Impossibilidade de aplicação do art. 2.º, n.º 4, por analogia,
àquela situação (pois é uma analogia desfavorável, visto que se trata de um facto descriminalizado).
Como saber se lei nova é mais favorável para o agente?
A este propósito também se põe a questão do dépeçage que significa desmontagem.
Juiz tem de simular a aplicação das 2 normas aos factos, ver o resultado e assim chegar à
conclusão qual a lei + favorável e aplicá-la. Como é que nós sabemos que a lei nova é mais
favorável do que a lei anterior. No caso do art. 2.º/2 isso é evidente: existe uma lei que
descaracterizou aquela conduta como crime, portanto, não temos de avaliar nada, o facto já não é
crime. Agora aqui a questão é diferente: é que o facto continua a ser crime e temos de saber se a
nova lei é mais desfavorável do que a lei que vigorava no momento da prática do facto.
O problema que se põe é o seguinte: a jurisprudência e a generalidade da doutrina entendem (e
bem) que o juiz ao ensaiar esta aplicação tendencialmente deve fazê-lo em bloco, portanto, deve
aplicar a lei vigente no momento da prática do facto em bloco e depois também a lei vigente no
momento do julgamento em bloco. Isto é, o juiz não pode andar a selecionar as disposições mais
favoráveis da primeira lei e depois as disposições mais favoráveis da segunda lei. Aplica-se a lei em
que o agente fique n1 situação melhor do que se fosse aplicado o outro regime.
Ou seja: o tribunal pode por si só construir 1 base + favorável, indo buscar algo à lei velha e algo à
lei nova? Em pº.: não, pois tribunal estaria substituindo-se ao legislador.
vi)- as leis intermédias
Uma lei intermédia é uma lei que está no meio de duas outras leis e que não tem qualquer
contacto com o facto – não estava em vigor no momento em que o facto foi praticado e já não
está em vigor no momento do julgamento. Ñ temos 1 sucessão de 2 leis mas sim de pelo menos 3
leis.
Esta lei intermédia pode ser aplicada nesta situação? Sim, está sujeita ao regime do artigo 2.º/2 e
4. Se ela for mais favorável ao agente, ela será aplicada. Isto pode dar-se em duas circunstâncias:
- » pode ser uma lei descriminalizadora (artigo 2.º/2);
- » ou pode ser uma lei despenalizadora (artigo 2.º/4).
Porque é que a lei intermédia mais favorável é aplicada retroativamente? Há duas razões para
isso:
− Para garantir o princípio da igualdade (se tivermos 2 agentes a praticar o mm crime
durante a Lei 1 e A for julgado pela Lei 2 e B pela Lei 3 – perante a prática do mm facto são punidos
de moldes diferentes = pº da igualdade em sentido virtual; Portanto, por uma questão de princípio da
igualdade (tratar igual o que é igual), como praticaram o facto quando vigorava a mesma lei devem também receber
um tratamento igual e, portanto, em virtude do princípio da igualdade deve-se aplicar a lei intermédia.
− O protelamento da ação penal é imputável ao Estado.

vii) leis de emergência e leis temporárias

Leis temporárias em sentido amplo incluem as leis de emergência, ou seja, temos as leis temporárias
em sentido estrito e as leis de emergência.
Uma lei temporária é uma lei que é aprovada para vigorar durante um certo período de tempo,
isto é, é uma lei que tem um termo, seja um termo expresso, seja um termo implícito (uma lei que
está associada a um determinado evento- EURO 2004 a uma determinada circunstância e que,
portanto, implicitamente vigora enquanto essa circunstância for presente).
As leis de emergência são leis que vigoram para fazer face a um estado excecional.

Estas leis são uma exceção em relação à retroatividade do tratamento mais favorável porque, de
acordo com o art. 2.º/3, diz-se que “quando a lei valer para um determinado período de tempo,
continua a ser punível o facto praticado durante esse período”. Isto quer dizer que os factos
praticados na vigência de uma lei temporária ou de uma lei de emergência continuam a ser
puníveis mesmo depois de terminar a vigência da lei, ao contrário do que acontece normalmente
no art. 2.º/2.
Rzão: ñ fora este regime e a eficácia preventiva das leis temporárias ou das leis de emergência era
nula, as pessoas já sabiam de antemão que dificilmente seriam julgadas durante a vigência dessa
lei (são leis que normalmente se destinam a vigorar durante um período de tempo relativamente
curto) e, portanto, seria quase impossível julgar uma pessoa durante a vigência da lei. Impunidade.
Ñ confundir as leis temporárias com aquelas que se aplicam de forma fracionada no tempo, isto é,
leis que só se aplicam durante um certo período do ano. Essas não são leis temporárias, mas leis
que estão sempre em vigor. P. ex. a lei da caça pune quem praticar caça fora do período permitido.
Exceção à exceção
Casos em que apesar de serem leis temporárias se continua a aplicar o regime do art. 2.º/4. Não é
muito comum, mas pode-se suceder que exista uma sucessão de leis temporárias ou de leis de
emergência, isto é, em vez de existir só uma lei de emergência pode existir uma sucessão de leis de
emergência e pode acontecer que as disposições penais da segunda lei de emergência sejam
menos graves/sejam mais favoráveis do que as disposições da primeira lei de emergência. Aqui
voltamos a ter uma sucessão de leis e a questão que se põe é qual das leis aplicar. De acordo com
o art. 2.º/3 temos de aplicar sempre a primeira lei no domínio da qual foi praticado o facto ou
podemos aplicar a segunda lei de emergência que é mais favorável ao agente? Vejamos:

-mudaram as circunstâncias de facto, isto é, as circunstâncias de facto melhoraram e,


portanto, justifica-se um tratamento penal mais brando? Então continua a aplicar-se a primeira lei,
a mais grave. Se o que mudou foram as circunstâncias objetivas no fundo é dizer se o legislador
voltasse a estar perante as circunstâncias da primeira lei voltava a adotar a lei como a que adotou
em primeiro lugar. Portanto, se for uma mudança das circunstâncias objetivas continua a aplicar-se
a lei mais grave que vigorava no momento da prática do facto.
– mas pode ter mudado a valoração do legislador, a conceção do legislador, isto é, o
legislador pode ter vindo a reconhecer que aquelas disposições penais que tinha
adotado na primeira lei eram demasiado graves, até por comparação com outros
crimes, por comparação com outras infrações. Então, pode ter mudado as penas para
penas mais suaves precisamente por entender que não se justificava uma punição tão
severa. Quer dizer, nesta segunda hipótese mantêm-se as mesmas circunstâncias de
facto, a situação objetiva é igual, o que mudou foi a valoração do legislador, a conceção
do legislador. Sendo assim, não existe nenhuma razão para não aplicar esta segunda
conceção que é presuntivamente a melhor

X- O âmbito de eficácia (aplicabilidade) da lei penal (a “aplicação da lei no espaço”)

1. Crítica da designação tradicional ("direito penal internacional")


PC prefere este termo a 'aplicação da lei penal no espaço' e 'DP internacional'.
DPI: conj de nj's dt interno q regulamentam factos no estrangeiro
DIPP:ramo do DIP que regula os crimes vs DIP.
DPI ñ é 1 boa designação, ñ sõ por nem sp é dt interno como abrange 1 pequena parte problema.
2. O problema e a doutrina da jurisdição
A jurisdição é um poder legítimo do Estado de desenhar o âmbito de aplicabilidade das suas
normas no confronto com poderes semelhantes dos outros Estados e é definida primariamente
pelo Direito Internacional. O conceito de jurisdição está intrinsecamente ligado ao DIP. É o DIP que reconhece aos
estados o poder de escolher os pontos de contacto coma sua OJ e poder afirmar: tenho jurisdição sobre esses factos.
Vários estados =» várias jurisdições. A questão da jurisdição é que quando temos vários Estados no mundo o poder de
punir necessariamente tem de ter regras de distribuição, regras de alocação, regras que permitam aos Estados
coabitar exercendo o seu ius puniendi. A jurisdição primariamente é definida pelo direito internacional público, é este
que, em primeiro lugar, define a jurisdição.

A jurisdição tem três formas básicas. Trata-se da questão de saber a que partes é que a lei penal PT
se aplica, em que circunstâncias são aplicadas:

• Jurisdição prescritiva: poder de editar as normas penais e de dizer em que casos elas são
aplicáveis; poder de cada estado de organizar s/sistema penal: o que é proibido + quais pontos de conexão

• Jurisdição judicativa: poder de aplicar as normas a certos casos; tribunais aplicam nj's aos factos. Aqui
tb entram as OPC + MP
• Jurisdição executiva: poder de executar as decisões tomadas no momento judicativo. Poder do
estado de executar as decisões dos tribunais.

Temos, assim, 3 camadas do poder punitivo do estado.


Quando falamos da “aplicação da lei penal no tempo, interessa-nos a prescritiva, 4º e ss CP, q são
as condições que os factos têm de reunir para q lhes seja aplicável a lei PT. Estado escolhe
conexões intersignificativas (ñ podem ser discipiendas, teem de ter significado. Ex: punir netos de
portugueses out significado). Qd 1 estado estende a sua jurisdição a facto sem conexão
significativa =» infração ao DIP (há ingerência em outro estado, vs pº da ñ-ingerência.

ex.: Estado PT dizia que se considerava competente para julgar os furtos cometidos por japoneses contra japoneses no
Japão. Aqui não há nenhuma conexão significativa com a comunidade nacional, provavelmente uma regra deste
género seria vista como uma ingerência do Estado PT na comunidade japonesa.

O direito internacional exige que, pelo menos, o Estado tenha uma conexão significativa com os
factos para puder aplicar a sua lei.
3. As regras de aplicabilidade: factos territoriais, factos extraterritoriais e a determinação do locus
delicti.

A primeira distinção que temos de fazer a este propósito é uma distinção fundamental entre factos
territoriais e factos não territoriais porque esta distinção vai-nos levar para dois regimes
completamente diferentes: dos factos praticados em território nacional (art. 4.º) e os factos
praticados no estrangeiro, fora do território português (art. 5.º).
Para fazer esta distinção temos de olhar ao art. 7.º que é o art. que disciplina a determinação do
lugar da prática do facto. O art. 7.º tem vários critérios para determinar o lugar da prática do facto,
mas a função destes critérios não é só determinar o lugar da prática do facto em geral, mas
procurar conectar na sua maior abrangência possível cada facto com o território português. Por
isso é que isto se chama uma solução de ubiquidade ou de plurilocalização.
Quer dizer, quando vimos o art. 4.º para a determinação do momento da prática do facto vimos
que a lei opta apenas por um critério: a ação ou omissão. Repare-se que agora no art. 7.º para
determinar o lugar são relevantes uma série de lugares diferentes: onde o agente atuou, onde o
agente omitiu, onde o resultado se produziu, onde o resultado não previsto se produziu, etc. Em
todos estes lugares considera-se que o facto foi praticado aí.
A consequência desta ubiquidade é que basta que um destes lugares seja o território português
para que a lei portuguesa seja competente de acordo com a regra da territorialidade.

Uma outra finalidade desta solução também é evitar os chamados conflitos negativos de competência. Imagine-se que
em Valência do Minho alguém dispara um tiro de caçadeira contra um espanhol que está do outro lado do rio e mata-
o. Agora que se põe é se Portugal considerasse como critério o lugar da prática do facto o lugar onde se produziu o
resultado e se Espanha considerasse como lugar da prática do facto o lugar da ação nenhum dos países seria
competente territorialmente para conhecer este crime, o que seria uma solução incompreensível – havia um conflito
negativo de competência. A solução plurilocalizada tende a evitar esses conflitos negativos de competência
porque aumenta as possibilidades de cada Estado poder aplicar a sua lei em função do território.

Os critérios previstos na lei nacional foram ampliados na revisão do Código Penal de


1998 em dois casos.
O primeiro caso o resultado não compreendido no tipo de crime. Há certos crimes cuja
consumação exige o resultado (caso do homicídio), mas há certos crimes onde o
legislador antecipa na tutela penal, deixa um certo resultado fora do tipo legal (portanto, o
tipo consuma-se mesmo sem a produção desse resultado; a produção ou não do resultado é
irrelevante para a consumação). Um caso muito evidente é o caso do art. 325.º.
Isto significa que, de acordo com a nova redação desde 1998 do art. 7.º, se for em Portugal que
ocorrer o resultado não compreendido no tipo de crime então a lei portuguesa também é
competente em virtude da regra da territorialidade. P. ex. se houver um crime de alteração violenta do
Estado de Direito em que os agentes a partir de Espanha tentaram destruir o Estado português esse facto é da
competência da lei portuguesa porque o resultado não compreendido no tipo de crime (alteração ou subversão do
Estado de Direito) ocorre em território nacional.
A segunda situação é o do art. 7.º/2. Aqui já não é resultados que não pertencem ao tipo de crime,
mas resultados do próprio tipo de crime, resultados que fazem parte do tipo legal de crime e basta
que o agente projete a ocorrência do resultado em Portugal, mesmo que ele não venha a verificar-
se, esse facto é da competência da lei portuguesa. P. ex. Uma senhora em França envia para Portugal uma
carta para matar uma pessoa que está em Portugal, só que a bomba é descoberta nos correios pela polícia e, portanto,
não chega a ser entregue e a pessoa não chega a ser morta. Esta senhora atuou apenas em França, mas projetou o
resultado típico – a morte – para que ele ocorre em Portugal. De acordo com o art. 7.º/2 neste caso a lei portuguesa
também é aplicável a este facto e, portanto, cai dentro da competência da lei portuguesa e pode ser julgada pelos
tribunais portugueses.

O art. 7.º procura ampliar o mais possível os vários critérios de localização do facto
para permitir a sua inserção na regra da territorialidade.

Os dois últimos casos que podem ser problemáticos do ponto de vista da determinação do lugar do crime
são, em primeiro lugar, os casos de comparticipação (art. 7.º). A lei portuguesa é competente para julgar
qualquer comparticipante. Esta norma não tem uma interpretação unânime, mas parece que isto significa
p. ex. que a lei portuguesa será competente para julgar um cúmplice que atuou em Portugal quando o facto
principal foi praticado por um estrangeiro num outro país. O cúmplice está sujeito à lei portuguesa e pode
ser responsabilizado de acordo com a lei portuguesa, mesmo que esta não tenha competência para julgar o
facto principal praticado por um estrangeiro no estrangeiro.
O último caso problemático são os chamados delitos itinerantes ou delitos de trânsito. Os delitos itinerantes
ou delitos de trânsito são aqueles crimes onde o contacto com o território nacional é fugaz e não implica
verdadeiramente uma atuação do agente. P. ex. uma encomenda de droga vem da Colômbia, atravessa
Portugal para ir para a Holanda. A questão que se põe é saber se nestes casos o facto se considera praticado
em território nacional de acordo com o art. 7.º ou com o art. 4.º. Não há aqui uma regra geral para todos os
casos. Nestes dois casos não há dúvida da competência da lei portuguesa porque supondo que o tráfico de
estupefacientes é uma conduta perigosa, esse perigo está presente em território nacional. Neste caso não
há dúvidas em aceitar que se trata de um facto praticado também em território português.
Já se tem mais dúvidas naqueles casos onde o contacto com o território nacional não implica qualquer
perigosidade daquele específico tipo de crime. P. ex. um cidadão português envia para Bruxelas por correio
físico uma série de documentos para se candidatar a um subsídio comunitário. Esses documentos são falsos
e ele comete um crime de fraude ou desvio de subsídios. Será que o facto de os documentos passarem
pelos territórios espanhol e francês torna essas leis competentes em função do território? Parece que não
porque a perigosidade dos documentos não se reflete minimamente no contacto com o território nacional
ao contrário do que acontece com os estupefacientes.
4. A aplicação incondicionada:
a) a regra-base da territorialidade
b) a regra do pavilhão
c) a regra da proteção dos interesses fundamentais do Estado Português

a)- Pº da territorialidade: estado aplica o seu DP a todos os factos penalmente relevantes ocorridos
no seu território, independentemente de que em os cometeu. Te: estado aplica a lei penal em seu
território, abstendo-se de aplicar a sua lei penal qd ocorrem no estrangeiro.
FUNDAMENTOS:
• EXTERNOS (de cariz político-jurídico): se a aplicação da lei penal nacional é rigorosamente demarcada
sobre as fronteiras de cada Estado, e se a generalidade dos Estados aceita este princípio, então está
descoberto o modo mais simples de repartir a jurisdição entre Estados. Desta forma, evita-se na maior
medida, conflitos positivos (vários Estados considerarem-se competentes para conhecer de um certo facto)
e negativos (nenhum Estado se considera competente para conhecer de um certo facto) de competência;
• INTERNOS (de cariz já próprio do sistema penal de aplicação da lei penal): ideia de que é na comunidade
territorial que se faz sentir com mais intensidade a necessidade de proteção dos bens jurídicos. Os crimes
praticados em PT diferem em exigências de PG dos praticados abroad. É inside PT q o estado tem maior
resp. de garantir a proteção de BJ's.
PdT: consagrado in 4/1a CP -» aplicação incondicionada da lei PT.

b) a regra do pavilhão
Aos factos praticados em navios ou aeronaves portuguesas, que são equivalentes a um espaço
nacional, a lei portuguesa é aplicável sem qualquer outra condição.
Pode acontecer que o navio ou aeronave se encontrem em águas ou espaços aéreos territoriais,
i.e., de país diferente do pavilhão. Isso não retira competência à lei do lugar em nome do princípio
base da territorialidade = conflito positivo de competência –» temos duas ordens jurídicas
aplicáveis e concorrentes, com respeito pelo DIP.

c) a regra da proteção dos interesses fundamentais do Estado Português


Crimes previstos nos artigos 221.º, 262.º a 271.º, 308.º a 321.º e 325.º a 345.º: entende-se que
todos eles atentam contra interesses iminentemente nacionais e, portanto, constitui obrigação do
Estado português reprimir esses crimes, independentemente de onde sejam praticados ou da
nacionalidade do agente. Se assim não fosse, estes crimes dificilmente seriam punidos.
Ex.: crime de traição à pátria.

Será conforme o DIP? A resposta é tendencialmente positiva, encara-se como uma defesa do
próprio Estado e, como tal, ainda é conforme o DIP. O que já não é possível é estender esta forma a
factos que nada tenham a ver com interesses fundamentais do Estado – tipo crimes de furto e
homicídio. O Estado tem de indicar taxativamente quais são os crimes cruciais que aqui se
englobam. Aqui há 1 ideia de autodefesa do estado.

V- Aplicação condicionada da lei PT- art. 5º CP


A aplicação condicionada da lei portuguesa são os casos em que a lei encontra certas conexões
que importam para a aplicação das normas materiais, mas que sujeita ainda a algumas condições.
Todas elas dizem respeito a factos praticados no estrangeiro e estão discriminadas no art. 5.º.
REGRA DA NACIONALIDADE (artigo 5.º/1-e))
Há casos em que, se apenas se aplicasse o princípio da territorialidade, tal poderia dar lugar a
lacunas de punibilidade indesejáveis para uma política criminal internacional concertada e
eficiente. Isto justifica-se porque existe uma máxima aceite pelo DIP atinente a factos cometidos
por um seu nacional no estrangeiro → não extradição de cidadãos nacionais.
Assim, os princípios de convivência internacional devem conduzir a que, uma vez eles se
encontrem de novo no país da nacionalidade, o Estado os puna, os entregue ou os julgue.
Dupla vertente:
nacionalidade ativa -» agente PT no estrangeiro
nacionalidade ativa -» vítima PT no estrangeiro
nacionalidade ativa 5/1e
Na opinião do curso, o que está em causa é que os crimes praticados por nacionais no estrangeiro também
causam alarme social em Portugal, geram exigências de prevenção e, portanto, o Estado Português tem
uma responsabilidade de administrar a justiça nestes casos, mesmo que os bens jurídicos afetados sejam
estrangeiros. Aqui PC discorda de FD, para quem punimos factos praticados abroad por portugueses pq ñ
extraditamos nacionais.
É nacional todo aquele que seja considerado português de acordo com a lei da nacionalidade no momento
da prática do facto – é este o momento decisivo.
nacionalidade ativa 5/1e, também
O que está aqui em causa é a exigência de proteção de nacionais perante factos contra eles cometidos por
estrangeiros no estrangeiro e, neste sentido, a proteção de interesses nacionais. Assim, o princípio da
nacionalidade passiva possui um fundamento e teologia que o identificam como o princípio de defesa dos
interesses nacionais, concretamente sob a forma de proteção pessoal daqueles interesses. Ou seja, estão
em causa interesses de cidadãos portugueses e, nesse sentido, são ainda bens jurídicos nacionais.
USA/UK/AUS -» vs esta regra, por considerarem-na vs DIP: cidadãos ñ podem ser surpreendidos com aplicaçãod1
jurisdição com a qual ñ contavam.

Tripla condição:
1- os agentes têm de ser encontrados em PT;
2- que os factos sejam punidos pela legislação do lugar – exigência de dupla incriminação, salvo se
nesse lugar ñ se exercer o poder punitivo (Antártida, Mar alto). Se houver colapso do sistema, das
instituições n1 dado estado e o estado ñ exercer o poder punitivo, PC entende que enqt houver estado funciona a
dupla incriminação;
3- que os factos constituam crime que admita extradição e essa ñ possa ser concedida. Crp 33/3.
Seja pq ñ foi requerida seja por efeitos das normas substantivas e adjetivas em matéria de
extradição. PT prefere sp q seja o estado estrangeiro a julgar: crime lá, prova lá. Existe aqui uma
ideia de subsidiaridade da lei portuguesa em relação à administração da justiça estrangeira.

Nacionalidade dupla 5/1b


PT vs PT no estrangeiro, encontrados em PT. É 1 extensão do pº da nacionalidade. Visa impedir
casos de impunidade gerados por fraude à lei e a finalidade principal é isentar estes casos da
exigência que o facto seja punível pela lei do lugar onde o facto foi praticado.
− Exemplo: auxílio ao suicídio – estaríamos perante um crime, de acordo com esta alínea, pois o autor e
a vítima são portugueses.

A universalidade
Existem certos bens jurídicos que são bens jurídicos comuns a toda a Humanidade e, portanto, são
bens jurídicos que não dependem da existência de uma lei nacional que proíba os factos que
ofendem. São essencialmente aqueles quatro grupos de crimes:
genocídio, crimes contra a Humanidade, crimes de guerra, agressão e ainda talvez outros que não
estão sujeitos à jurisdição do Tribunal Penal Internacional, mas que são também crimes
considerados crimes contra o direito internacional como seja a escravatura, o apartheid, a tortura.
Jurisdição universal porque é uma jurisdição que visa proteger o direito internacional, proteger os
bens jurídicos constitutivos do direito internacional.
NB: A este propósito grande parte dos crimes que estão previstos nestas alíneas do CP
verdadeiramente não constituem crimes contra o direito internacional e, portanto, mais uma vez,
sujeitar estes crimes à jurisdição universal pode ser um abuso de jurisdição por parte do Estado
português. E os estados andam estendendo ilegitimamente a jurisdição (ex.: crimes corrupção).
Este dever de perseguir os crimes contra o direito internacional cabe naturalmente ao Estado do
território onde eles foram praticados, ao Estado da nacionalidade do agente e ainda ao Estado
onde esse agente é encontrado – o chamado Estado da custódia. Em PT está sujeita a dupla
condição: 1- que ao agente seja encontrado em PT; 2- Ñ possa ser extraditado/M. Detenção EU.
Para PT a jurisdição universal é sempre uma jurisdição subsidiária porque existem foros mais
convenientes para a administração da justiça.

a administração supletiva da justiça penal e a sua diferente natureza em face das restantes
(normas aplicadas como puras regras de valoração)

“Ou entregas ou julgas!” -» uma máxima desde Grócio.


Esta regra tem uma natureza bastante diferente das anteriores porque em todas as outras conexões as
normas que vão ser aplicadas ao agente foram normas que serviram de normas de comportamento no
momento da prática do facto. Em todos estes casos a norma que vai ser aplicada é uma norma que serviu
de norma de comportamento, o agente podia ter observado aquela norma de comportamento e violou-a.
Nesta regra isso não acontece, trata-se de factos que não têm qualquer conexão com o direito português.
Quando o agente atuou não tinha qualquer conexão com o direito português (não estava em Portugal, não
era português, não praticou os factos contra cidadãos portugueses).
O que justifica aqui a aplicabilidade da lei portuguesa nestes casos é, segundo Figueiredo Dias, para evitar
que Portugal se torne num refúgio de criminosos porque se não existir uma regra destas as pessoas que
cometeram crimes muito graves, aos quais são aplicáveis penas de prisão perpetua, vêm refugiar-se em
Portugal, Portugal não pode extraditá-las em virtude das penas que lhes sejam aplicadas (isto é, quanto
mais graves os crimes mais graves são as penas e maior é a probabilidade de Portugal não puder extraditar)
e as pessoas ficam impunes.
Pedro Caeiro não é adepto desta ideia do perigo de refúgio de criminosos por várias razões, desde logo pelo
menos nos casos em que a extradição destas pessoas é remetida para julgamento ainda não estamos
perante um criminoso, quanto muito estamos perante um suspeito. O que há aqui e que é do ponto de vista
de Pedro Caeiro o que justifica a aplicabilidade da lei portuguesa nestes casos é a cooperação internacional
na prevenção e na repressão dos crimes. Isso é uma obrigação do Estado português, faz parte das
obrigações que podemos assinalar/imputar ao Estado português: a obrigação de cooperar com os outros
Estados na prevenção e repressão do crime. De facto, se um Estado estrangeiro procura uma pessoa para
esclarecer a sua responsabilidade com um crime ou para executar uma pena que já lhe foi aplicada e o
Estado português não pode, por causa do seu direito interno, extraditar essa pessoa, tem de cooperar de
alguma maneira com o Estado estrangeiro. Essa cooperação só pode ser julgar esta pessoa aplicando-lhe a
lei nacional. Por isso é que se chama administração supletiva da justiça penal, ie, “em vez de”.

Condições gerais de aplicação da lei a factos extraterritoriais (art. 6.º):


O caráter meramente complementar ou subsidiário dos princípios de aplicação extraterritorial da lei penal
portuguesa revela-se na circunstância de só se poder julgar o agente em Portugal quando estejam em causa
factos cometidos no estrangeiro, se o agente não foi julgado pelo crime no país da prática ou se houver
subtraído ao cumprimento total ou parcial da condenação – nen bis in idem (artigo 29.º/5 CRP): O Estado
português não pode julgar nos seus tribunais uma pessoa duas vezes pelo mesmo crime.
• Artigo 6.º/1: aplicam-se indistintamente as decisões de qualquer país – se o agente foi julgado e cumpriu
apenas parte da pena pode ser julgado novamente; é-lhe descontado aquilo que já cumpriu no primeiro
julgamento.
Pode acontecer que o agente tenha sido julgado, mas que se tenha subtraído total ou parcialmente à pena
– p.e., fugiu – a lei portuguesa permite que os tribunais portugueses julguem de novo este agente.
✓ Nen bis in idem processual: implica que o agente nem sequer possa ser perseguido duas vezes pelo
mesmo facto.
• Artigo 6.º/2: temos um afloramento do princípio do tratamento mais favorável – simulação da aplicação
das duas leis ao facto para ver qual é a mais favorável. Pode acontecer que a pena aplicável não seja a que
seria aplicada no Estado português, o que levanta um problema de ordem pública. O Estado não pode
aplicar penas que não conhece e, como tal, a pena tem de ser convertida naquela que lhe seja mais próxima
– cláusula geral de conversão da lei estrangeira daquela que dela mais se aproxima do sistema nacional.
Este princípio não se aplica quando a competência da lei portuguesa se fundamente nas alíneas a) e b) do
artigo 5.º: − Alínea a): a lei estrangeira pode não punir estes factos, os interesses nacionais não devem ser
decididos pela lei estrangeira, mas sim pela lei PT; − Alínea b): não tem sentido remeter o tratamento do
caso para a lei estrangeira mais favorável, pois aquilo que se visa garantir é aplicação da lei portuguesa.
-------
TCA: o pº base é o da territorialidade: estado aplica a sua lei penal a factos praticados noseu território
independentemente da nacionalidade do agente/vítima.
Mas: se fosse este o único parâmetro =» teríamos inúmeras lacunas e impunibilidade.
Daí os pº complementares:
1- pº da nacionalidade ativa/passiva (pq há 1 lacuna) 5/1e
2- pº complementar da universalidade ou jurisdição universal 5/1c + d
3- pº complementar da administração supletiva da justiça penal 5/1f
4- pº complementar da proteção dos interesses nacionais 5/1a
5- nacionalidade dupla 5/1b

A Doutrina Geral do Crime


Título I - A construção da doutrina do crime (facto punível)
capítulo XI ñ é lecionado
12.º Capítulo - Questões fundamentais
I. Sentido, método e estrutura da conceitualização do facto punível
II. Sobre a evolução histórica da doutrina geral do facto punível
1. A conceção "clássica" (positivista-naturalista): exposição e apreciação crítica
2. A conceção normativista: exposição sumária e apreciação crítica
3. A conceção finalista (ôntico-fenomenológica): exposição sumária e apreciação crítica
III. Posição adotada: fundamentos de uma construção teleológico-funcional do conceito de facto punível
1. Preliminares
2. As formas básicas de aparecimento do crime
3. O conceito de acção e a sua impossibilidade/imprestabilidade
4. As categorias dogmáticas: o tipo de ilícito; o tipo de culpa; a punibilidade

Hj, em PT, é indiscutível na dogmática j-penal e no conceito de crime que:


todo o DP é DP do facto e ñ DP do agente
Desde Ordenações que o q interessava ñ era o fato cometido mas sim o tipo de agente que
praticava o facto (visão retomada pelo nazismo: DP do agente: do gay, do inimigo do povo,etc).
As pessoas eram a fonte da ilicitude. Hoje: ñ há paxs ilícitas. Os factos perpetrados pelas paxs é q
podem ser ilícitos.
– toda a regulamentação j-penal liga a punibilidade a factos, ñ a agentes;
– as sanções são aplicadas aos agentes. A sanção = consequência d1 facto e ñ 1 reação vs 1
personalidade.
A construção dogmática do conceito de crime = construção do facto punível
O DP do facto punível (DPFP) é 1 criação cultural notável. Olhamos para os diversos factos
procurando o q há de comum na pluralidade de factos, por ex.:
– notas essenciais (homicídio)
– notas acessórias ou incidentais (id da vítima)
O facto punível ou criminoso = fundamento + limite dogmátiCo do conceito geral de crime (CGC).
Facto = conjunto de 5 elementos constitutivos do conceito do facto ou do crime:
punível / culposo / ilícito / típico / ação

É 1 método categorial para uniformizar o tratamento dos casos penais.


Houve 3 grandes períodos da doutrina geral do facto punível (esqueçamos XIX):
– A- Conceção clássica
De influência naturalista e juspositivista. Ainda em FRA. Toda a ação = efeito de 1 causa. Paradigma causal
da ciências naturais. Direito deve adaptar a exatidão científica ao sistema do facto punível. Bipartiam o
conceito de crime: ação típica e ilícita (factidade objetiva, mundo exterior) e ação culposa (factidade
subjetiva, mundo psíquico).
- ação = movimento corpóreo, causal, voluntário, que modifica o mundo exterior; categoria objetiva
- tipicidade = tipo apenas indica a ilicitude, o desvalor penal. Descrição pura da ação; categoria objetiva
- ilicitude = conduta desvalorosa, mas ainda ñ é crime, pois há causas de exclusão. A ação é típica qd se
pode subsumir ao tipo; categoria objetiva
- culpa = nexo psico agente vs facto, presente no dolo e negligência. Dolo = conhecimento e vontade do
facto; Negligência = previsão incorreta do facto – agente ñ representou mas deveria tê-lo feito; categoria
subjetiva. Com a culpa: conceito de crime = checked.

– B- Conceção neoclássica
Fundamento: normativismo de início XX. PT: Paulo Merêa. Raiz neokantiana. Revolta vs positivismo. Ñ
somos químicos!
- ação = movimento causal, voluntário, que modifica o mundo exterior ligado à vontade do agente
- tipicidade = juizos de valor das ações humanas, comportamentos lesivos de BJ's protegidos
- ilicitude = comportamento ilícito, reprovado e vs direito, como tal deve ser censurado. A essência da
ilicitude é o dano social vs direito. Continua sendo 1 facto objetivo, sem sentido pessoal da ação.
- culpa = é 1 culpa psico-normativa. Ñ mais ligação psico: juízo de desvalor, de censura pessoal ao agente
por se ter comportado daquela forma
– C- Conceção finalista
Conceção ôntica ligada a 1 filosofia material dos valores. Estado de direito material. Wezel.
- ação = exteriorização da intencionalidade do sentido, homem ñ age fortuitamente, ação surge como
final d1 processo deliberativo.
- tipicidade = continua sendo descritivo; mas já temos tipo doloso e tipo negligente. Tipo é 1 unidade de
sentido q transporta 1 juízo de danosidade social, é 1 juízo de desvalor.
- ilicitude = Wezel rompe com conceito tradicional da ilicitude, defendendo que todo o ilícito é sp ação da
pax, é pessoal. Só há ilícito penal se a ação for dolosa/negligente. Esta tese do ilícito penal perdura até hj.
- culpa = transformou-se n1 puro juízo de valor. Dolo e negligência saem da culpa são elementos da ação
típica. A culpa confirma o sentido doloso ou negligente. Temos de ver se a pax tinha condições de atuar
conforme o direito mas ñ o fez. Se ñ há censura ñ há crime.

Posição adotada: conceção teleológico-funcional ("racional") do conceito de facto punível

A construção do facto punível deve apresentar-se como teleológica-funcional e racional. Este sistema emergente
arranca da conceção avançada por Roxin, em 1970. Deste novo paradigma, o Dr Figueiredo Dias retira-lhe o melhor: a
ideia do ilícito pessoal. A partir daí, construíram um novo paradigma: teleológico-funcional e racional, cuja principal
característica é a de que todas as categorias dogmáticas estão penetradas pelos valores jurídico-penais.

Conceção teleológica-funcional e racional


Trata-se de um sistema emergente, comandado pela convicção de que a construção do conceito de facto punível deve
apresentar-se como teleológico-funcional e racional, possuindo a partir daqui os seus próprios postulados e
determinando os seus específicos desenvolvimentos comandados pela convicção de que aquele sistema e os seus
conceitos integrantes são formados pelas valorações fundadas em proposições político-criminais imanentes ao quadro
axiológico e às finalidades jurídico-constitucionais.
O crime é analisado e composto em várias categorias cada qual com o seu conteúdo essas são comuns a todos os
crimes. Segundo um sistema categorial-classificatório, o que encontramos é um modelo teórico, abstrato que visa
uniformizar com categorias de caráter geral o tratamento dos casos penais e de maneira a que os crimes tenham
certos elementos comuns e que possam ser compreendidos e que a lei penal passe a ser aplicada com algum grau de
uniformidade (razões que se prendem com o principio de igualdade, segurança jurídica, etc). Este sistema vale quer
para o homicídio quer para o crime mais baixo, a forma de definir as categorias de crime é similar para todos os
crimes, aquela chave de compreensão de conteúdo de crimes, para que todos tenham uma linguagem comum, de
modo a que se fale dos fenómenos criminais de modo uniforme.
Segundo um sistema deste tipo temos três categorias:
A.- Tipicidade
B.- Ilicitude
C.- Culpa
Para Figueiredo Dias, o que está em primeiro lugar é a ilicitude, a tipicidade é no fundo tipificadora do juízo
de ilicitude e por isso eles devem ser edificados numa categoria só do tipo ilícito. No entanto a maior parte
dos autores entende que, a tipicidade em si mesma tem alguma densidade, alguma razão de ser em ser
autonomizada. Para o direito penal, matar uma mosca ou matar um homem em legitima defesa, é a mesma
coisa, mas os defensores da
tipicidade dizem que há alguma diferença.
CULPA «--- eis a pirâmide
ILICITUDE
TIPICIDADE
Tipo ilícito:
 Tipo incriminador
o tipo objetivo ilícito  (sujeitos, conduta, bem jurídico)
o tipo subjetivo ilícito (dolo)
 Tipo justificador- causas de exclusão de ilicitude

Assim, para Figueiredo Dias, sendo esta a doutrina que nós seguimos, tanto os tipos incriminadores, como
os tipos justificadores concorrem na concretização de um sentido de ilicitude material de que se reveste
uma determinada conduta.
PC, teórica:
Qualquer escola é produto do que está para trás, nenhuma vem do zero.
Papel fundamental da política criminal: todas as categorias que compõem o conceito de criem têm d
desempenhar uma função útil, caso contrário: out DP, só servem para embelezar.
Uma compreensão funcional da construção do crime: função político-criminal

conceito de ação
Nenhuma das 3 escolas cumprem as exigências da ação.
A quer matar B. Ação, ok. E o que haje com negligência, que ñ antecipa?
A conduz sem se dar conta do excesso de velocidade. Ação típica. Conduz 1 auto em circunstância passíveis
de causar dano. A ação relevante ñ cabe aqui (ñ teve consciência).
E a omissão, q do agente pura e simplesmente ñ aje? Como encaixar?
Ed. Correia: sem negação de valores tb ñ encaixa: A mata B em legítima defesa, ñ é uma negação de avlores,
mas sim 1 afirmação de valor -» o dt à vida de A
Ñ há 1 conceito de ação pré-jurídico. O conceito de crime é puramente jurídico -» crime = construção j-
normativa; é 1 justificação d1 conduta humana.
Vamos, assim, dar à ação 1 papel residual:
A ação tem 1 papel negativo, de delimitação, exprime aqueles casos em q certas condutas ñ podem
preencher 1 tipo de crime.
ex.: sonâmbulo levanta-se e parte 1 vaso chinês mt valioso. Esta conduta ñ é crime pq ñ é humana. O conceito de ação
só serve para isto.
ex.: sob hipnose: tb ñ é 1 ato pessoal. Mas, se A sabe q ñ tomou os comprimidos, sabe disso, e mesmo assim pega no
carro, tem 1 ataque e atropela B = crime, por ter infringido o dever de cuidado.

A doutrina da ação deve, na construção do conceito de facto punível, ceder a primazia à doutrina da ação
típica ou da realização do tipo de ilícito, cabendo à ação uma mera e restrita função de delimitação.
Vamos construir a conceção de crime, começando pelo conceito de realização típica:
crimes de ação: dolosos e negligentes
crimes de omissão: dolosos e negligentes
ñ é ação, é conduta típica.

Ilícito-típico ou típico de ilícito


FD: DP ñ proíbe condutas em abstrato (em geral). DP orienta paxs, diferenciando o lícito do ilícito, ñ o tipo.
No DP, há regras essenciais: temos de ter tipos. A ilicitude tem de se exprimir via tipos. Tipo: auxiliar da
ilicitude. Tipos incriminadores/tipos justificadores de condutas.
Tipos existem para ajudar legislador a exprimir certos juízos de valor.
O tipo ñ tem autonomia em DP. Qd se preenche 1 tipo de crime, ñ se associa nenhuma consequência j.,
zero. A matou B em legítima defesa. Tipo preenchido: matou. Mas, ñ há ilicitude, ñ há conseq's em DP
Assim sendo, a 1ª categoria relevante: ilícito-típico
tipos incriminadores: burla, etc
tipos justificadores (ou causas de justificação): legítima defesa + dt de necessidade (in DP II).

É do confronto tipo incriminador vs tipo justificador que concluímos se 1 conduta típica é tb ilícita.

Tipos incriminadores: giram à volta dos BJ's, delimitando o ilícito de forma geral e negativa; corresponde
àquilo que, para a generalidade da doutrina, configura a tipicidade.
Tipos justificadores: são estranhos à ordem legal do BJ, delimitam o ilícito de forma concreta e positiva.
Integra o plano da ilicitude para a generalidade dos autores.
N1 sistema teleológico-funcional da doutrina do crime, ñ há tipicidade nem ilicitude como categorias
autónomas. Só a categoria ilícito-típico ou tipo de ilícito é 1 categoria sistemática; tipo incriminador e tipo
justificador são instrumentos concetuais que servem a categoria do ilícito-tipo.
NB: Num caso prático, quando surgir 1 caso com relevância criminal, a 1ª coisa a fazer é verificar se a conduta preenche algum tipo
incriminador. E preenchê-lo. Todo o ilícito penal é doloso ou negligente. Ñ há ilícito-típico se o agente não tiver atuado com dolo ou
negligência.

Culpa
A categoria da culpa adiciona 1 novo elemento à ação típico-ilícita, sem a qual nunca poderemos falar d1
facto punível com pena criminal: é necessário que a conduta seja culposa. Daí: ñ há pena sem culpa.
Tipos de culpa: dolosa ou negligente; pena ñ pode ser maior do que a culpa.

Punibilidade
Com o tipo do ilícito e o tipo da culpa, ñ se esgota o conteúdo do sistema do facto penal. Urge
complementar com outra categoria: a punibilidade, cuja ideia-mestra é a dignidade penal.
A tem B na mira; desiste; desistência voluntária. A tentativa aqui ñ é punível dado ñ ter dignidade penal.
227º: ñ havendo decisão judicial, ñ é punível, ñ há punibilidade.
A ñ punibilidade é justificada pela falta de dignidade penal.
O tipo incriminador, na perspetiva de F.Dias, é o portador do sentido da ilicitude do facto – é nele que se exprime a
ilicitude do facto. O TI é integrado por elementos objetivos e elementos subjetivos e, por isso, fala-se em tipo
objetivo de ilícito e tipo subjetivo de ilícito. Este modelo que é partilhado pela generalidade da doutrina penal
contemporânea teve origem na Alemanha e foi exportado para outros países, como PT. FD agrega ambas categorias e
cria o ilícito típico. Os crimes podem ser analisados sobre 4 modalidades: ativo ou omissivo, doloso ou negligente:
1. Crimes dolosos de ação (modalidade mais frequente)
2. Crimes dolosos de omissão
3. Crimes negligentes de ação
4. Crimes negligentes de omissão
Portanto, com base nestas figuras de ação vs omissão e dolo vs negligência criaram-se estes 4 tipos de crimes.
O (A) tipo objetivo condessa a vertente objetiva do facto que é composto por 3 elementos:
autor, conduta e bem jurídico.
No (B) tipo subjetivo dos crimes dolosos encontramos, pelo menos, o dolo.
Nos crimes negligentes, o tipo subjetivo é composto naturalmente pela negligência.
Assim, o tipo, tendo esta dimensão objetiva e subjetiva, vai ser sempre uma expressão d1 ilícito pessoal.
É sobre este prisma que os tipos legais são decompostos e quando o tribunal se depara com um certo caso da vida, é
sobre esta chave que ele vai analisar o crime.

13.º Capítulo – O tipo incriminador - » o tipo objectivo de ilícito

Polissemia do tipo: o tipo apresenta-se como tipo de garantia; tipo de erro; tipo de ilícito
Tipo de garantia ou tipo legal de crime: conjunto de elementos (ilicitude, culpa, punibilidade) que
lei tem de referir para que o princípio nnullen crimen, nulla poena sine lege se cumpra e o PDLC:
– normas jurídicas comportamentos proibidos;
– nj's aplicação de lei no tempo/espaço
tipos de erro: dele fazem parte: 1-os pressupostos duma causa de justificação ou exclusão da
culpa; 2- um conjunto de elementos que A deva razoavelmente conhecer para tomar consciência
da ilicitude do facto.
tipos de ilícito: o que resulta dos comportamentos. Conduta típica. É o conjunto dos elementos que
nos leva a afirmar que houve efetivamente 1 lesão a um BJ.

Dois elementos do tipo incriminador. No tipo de ilícito já existe 1 desvalor: só se proíbe aquilo que
é desvalioso.
Desvalor da ação: conjunto de elementos subjetivos que conformam o tipo de ilícito (subjetivo) e
o tipo de culpa, nomeadamente a finalidade delituosa. Crime implica sempre que A tenha violado
um certo valor.
Desvalor de resultado: conjunto dos elementos objetivos do tipo de ilícito e eventualmente da
culpa, que criam um estado juridicamente desaprovado. A causa situação exterior danosa.
ex.: A disparou sobre B mas falhou (violou certo valor) = Desvalor da ação
ex.: A disparou sobre B e matou B (aqui: ação + resultado)
Ambos concorrem para a formação do tipo incriminador. Ambos momentos objetivo e subjetivo
concorrem para o tipo de ilícito. A construção d1 tipo de ilícito exige tanto 1 desvalor de ação
quanto 1 desvalor de resultado – sem prejuízo de casos em q o desvalor da ação predomina.
Atenção: quando falamos de desvalor de resultado por oposição ao desvalor de ação, ñ confundir o
resultado com o evento dos crimes materiais. Aqui o resultado afetou o BJ (ñ há forçosamente 1
resultado material). Ex.: A, funcionário público, pede dinheiro a B para agilizar um processo. Basta que A peça para
haver consumação do crime de corrupção – sem que haja resultado material).

O tipo inciriminador usa para descrever as condutas humanas elementos de duas espécies:
elemento descritivo: “quem matar uma pessoa...” -» descrevemos a ação. São realidades materiais
apreensíveis do mundo exterior: matar, subtrair, corpo, etc. Não necessitam de valoração por parte
do intérprete, pois remetem para realidades do mundo social.
elemento normativo: “quem subtrair coisa móvel alheia...” (já requer 1 interpretação j, temos de
recorrer ao dt civil, coisa móvel). Elementos que passam sempre por 1 valoração – cultural ou
jurídica.
Esta é a conceção clássica. Hoje, há quem defenda q todos os elementos devem ser interpretados .
P.Caeiro concorda: por + descritivos que sejam, devem ambos ser interpretados.

Tipos-abertos: tipos a partir de cujo teor ñ se logra deduzir, de forma completa, os elementos
constitutivos do tipo. Têm de ser completados por uma valoração autónoma do aplicador. I.e., há
necessidade de um juízo suplementar para a integração do tipo. Mas é 1 valoração já fora do tipo,
constituindo 1 pura regra de ilicitude. Ex.: abusivamente.
Wezel: todo o tipo incriminador contém já 1 cláusula implícita de inadequação social, excluindo-se
do tipo de ilícito todas as ações que embora forma e contextualmente o preenchessem, ñ estão
fora da ordenação ético-social da comunidade -» adequação social.
154/3a: “o facto ñ é punido...” -» se o meio ñ for censurável. Dá-nos 1 valoração global da conduta. I.e., o
tipo recorre a expressões que transcendem o próprio desenho da conduta proibida.
Ex.: privação da liberdade dos passageiros d1 avião. Mas ao entrar, ñ damos o nosso consentimento? Mas,
como todos os outros consentimentos, é revogável. E se eu pedir para sair a meio da viagem? Posso obrigar
o piloto a aterrar? Piloto recusa. Há 1 juízo de adequação social (faz parte da atuação).
Ex.: Autocarro -» motorista trava a fundo. A dá 1 cabeçada em B, sentado à sua frente. Pertence às regras de
adequação social. Levamos para a adequação social porque ñ preenche o tipo de crime.
Há condutas socialmente adequadas: há 1 âmbito de não direito onde estas condutas se inserem,
não chegando sequer a realizar o tipo de crime.
Vertente objetiva do tipo incriminador. Em qualquer tipo de ilícito objetivo é possível identificar os
seguintes grandes elementos:
1. Autor (agente); 2. Conduta; 3. Bem jurídico = 3 elementos do tipo objetivo
No fundo, qualquer tipo legal de crime deve identificar quem pode ser autor desse crime, deve
descrever a conduta em que o crime se consubstancia e deve referir-se a um certo bem jurídico,
um certo valor, um certo interesse, que está relacionado com a conduta que deve constituir um
tipo de ofensa ao bem jurídico, seja uma lesão, seja uma colocação em perigo desse bem jurídico.

1- AUTOR: quem pode ser autor? Pessoas humanas e entes coletivos. FD justifica assim a resp.
penal das PC's: PC= criação do direito, para que as pessoas possam exercer melhor os seus
interesses. Sua criação = ato de liberdade das pessoas, a qual deve ser acompanhada pelo DP. Ñ há
aqui nada de anormal. A PC ñ vai para a prisão,só multa/suspensão/dissolução. Mas há fortes
razões de política criminal para responsabilizar as PC's. O modelo PT de atribuição do crime às PC's
segue o modelo da responsabilidade derivada (ou hétero): a PC responde pelos crimes praticados
pelos seus representantes em seu nome ou qd nelas ocupem 1 posição de liderança. 11/2a+2b.
Todos os tipos legais de crime devem precisar, de forma clara, quem pode ser autor desse facto
criminoso e aqui distingue-se crimes comuns de crimes específicos:
• Crimes comuns: os crimes comuns são aqueles cujo autor pode ser qualquer pessoa (esta é uma
classificação quanto à pessoa do autor do crime) como os crimes de homicídio, roubo, violação. A
generalidade dos crimes são crimes comuns – aqui há uma precisão muito importante a fazer:
quando se fala em autor não é ao acaso: “os crimes comuns são aqueles cujo autor pode ser
qualquer pessoa”, ñ pressupõem 1 dever especial do agente ou 1 particular qualidade. Todos
temos o dever de ñ matar ninguém. Porquê esta especificação? No âmbito do agente, há uma distinção entre
autor e cúmplice e a caracterização do que é um crime comum faz-se em função do autor: o autor é o senhor do
crime, o ator principal.

• Crimes específicos: os crimes específicos são aqueles cujo autor só pode ser uma certa pessoa
identificada no tipo legal em função de um certo estatuto ou certo dever. Dever especial que
deriva de estatuto.
Exemplo: crime de corrupção (373º/1 CP): este crime é específico porque só funcionários públicos podem ser autores
de um crime de corrupção passiva. Se, por exemplo, um professor aceita um suborno para passar um aluno, ele
poderá ser autor de um crime de corrupção passiva se for um funcionário público, professor numa escola pública, mas
se estivermos num domínio privado já não é assim. Se um médico for um médico do sistema nacional de saúde ele
pode ser autor de um crime de corrupção passiva, no entanto, se for um médico de uma clínica privada, ele já não
pode ser autor deste crime. A delimitação do círculo de autores faz-se através da delimitação de um certo estatuto
profissional. Mas, outras vezes, faz-se através de um certo dever: a lei refere-se a “quem fizer isto”, mas em função de
um certo dever. Por exemplo: art.224º CP – crime de infidelidade patrimonial: quem administrar de forma infiel um
património que lhe esteja confiado comete um crime de infidelidade patrimonial. Só aquele a quem o dever de cuidar
está atribuído é que pode ser autor desse crime, sendo, por isso, um crime específico. Fala-se aqui em crimes
específicos próprios e crimes específicos impróprios:
❖ Crimes específicos puros ou próprios: são aqueles em que o dever integra a fundamentação da ilicitude,
contribuindo para afirmar a própria existência da ilicitude. É o dever em si mesmo que fundamenta ou contribui para
fundamentar o juízo de ilicitude penal. É a necessidade de cumprir o dever que está na essência do tipo de ilicitude. Há
crimes em que a posição ou dever, mais do que acentuar a ilicitude, agrava-a. A conduta só é incriminada em relação a
agentes que tenham um particular dever.
❖ Crimes específicos impuros ou impróprios: crimes que têm na sua base uma matriz similar à de um crime comum,
mas que quando praticado por alguém em especial, veem a sua punição agravada, ou seja, são punidos mais
gravemente como é o caso do crime do art.378º CP: violação de domicílio por funcionário. A particularidade do agente
agrava a responsabilidade penal.

2. CONDUTA: no âmbito do tipo objetivo há uma 2º vertente que é muito importante – a da


conduta: o tipo legal deve também descrever a chamada conduta típica, isto é, o comportamento
humano que pode ofender o bem jurídico nos termos que se pretende proibir ou impor. Ou seja, a
conduta em que o crime se materializa, se corporiza, o facto típico que incorpora uma conduta
típica. É através dela que se vai verificar se certa pessoa atuou nos termos que estão descritos nos
tipos legais de crime (se alguém matou, se alguém furtou).
➢ Relevo do conceito de ação:
– só pessoas podem cometer crimes por ex: se um cão vadio morde uma pessoa, não comete um crime
de violação da integridade física da pessoa, uma vez que os animais não cometem crimes
– o comportamento tem de ser voluntário, excluindo os atos reflexos, os cometidos em
estado de inconsciência ou sob o impulso de forças irresistíveis. Exs.: se eu atropelar e matar
alguém porque estava a conduzir e uma abelha me pica no olho; quando um certo comportamento é
realizado por alguém num estado de inconsciência, não pode ser considerado típico porque nem sequer há
uma ação, apesar de haver uma ofensa a um bem jurídico: alguém que tenta matar alguém num estado de
sonambulismo ou alguém que tem um ataque epilético e aleija uma pessoa sem querer
– mas há certas atuações que não assumem relevo do ponto de vista jurídico-penal porque
não são consideradas como ações, como é o caso do pensamento ex: se eu desejar muito matar
uma pessoa, se eu guardá-lo para mim, não tem qualquer relevo jurídico-penal).

Crimes materiais ou de resultado: consumação exige a produção de um resultado, alcançável por


ação ou omissão impura. ex.: homicídio -» ação de matar; resultado: morte / ofensa à integridade física: ação -»
soco; resultado: lesão / Homicídio por omissão: mãe deixa morrer filho à fome; resultado: morte.
É nestes crimes que se põe um problema jurídico complexo que é o da imputação do resultado à conduta: não basta que haja uma
conduta e um resultado. Nos crimes de resultado, para que o agente responda a título de crime consumado é necessário que entre
a conduta que ele realizou e o resultado que ocorreu haja uma ligação, um nexo, a chamada imputação objetiva. Se, por exemplo, A
dispara sobre B, mas, ao mesmo tempo, também C dispara sobre B e quem mata é C e não A, A não pode responder por este
homicídio. Para além da conduta típica e do resultado típico, tem de haver ainda o nexo de causalidade.
Crimes formais ou de mera atividade: tipo incriminador preenche-se via mera execução d1 dado
comportamento. Não depende da produção de um resultado, crime esgota-se numa mera
atividade. ex.: violação de domicílio 190º ñ necessita de resultado algum; condução sob o efeito do álcool, ñ se
exige o resultado, a simples condução é 1 crime de atividade. Omissão pura: lei independentemente do dano: A está
obrigado a prestar alimentos. Ñ cumpre? É crime, independentemente do resultado.

Há uma outra classificação no plano da conduta que diz respeito à existência ou não de uma certa
forma de praticar o facto: crimes de execução livre e em crimes de execução vinculada:
A. CRIMES DE EXECUÇÃO LIVRE: são aqueles em que o tipo legal não exige para que o crime se
consuma uma certa maneira, uma certa forma de execução do facto (por exemplo: crime de
homicídio – pode matar-se por mil maneiras).
B. CRIMES DE EXECUÇÃO VINCULADA: há crimes (nomeadamente crimes de resultado) em que
não é qualquer forma de produção do evento típico que determina a consumação do facto. A
consumação só poderá ser afirmada se a execução for realizada de uma certa forma: o legislador
especifica o modo de execução do facto, reduzindo-o a certas modalidades da realização típica.
Ex.: paradigmático do crime de burla (art.217º CP): o que está em causa na burla é provocar um engano noutra
pessoa de forma a que ela incorra em erro e que, dessa forma, produza um ato que lhe cause prejuízo – é só desta
forma, em que o burlão atue por meio de erro ou engano, que se pode efetivamente incorrer em burla. Portanto, o
tipo legal circunscreve a relevância típica dos atos de prejuízo patrimonial àquelas situações em que o prejuízo
resultou de um engano provocado pelo agente.
3. BEM JURÍDICO: todos os tipos legais de crime para que se possam qualificar como materialmente
legítimos deverão desempenhar a função de proteção de um bem jurídico. BJ = expressão de um interesse
da pessoa ou da comunidade, na manutenção ou continuidade de um certo estado, objeto ou bem em si
mesmo socialmente relevante e por isso juridicamente reconhecido como valioso.
Nesta medida, quando o legislador tipifica uma certa conduta, deve fazê-lo em ordem à proteção de um BJ
porque a proibição é necessária para a proteção do BJ. jurídico. A referência ao BJ é também um elemento
que integra o próprio tipo incriminador. Há que perceber qual foi a intenção do legislador ao prever aquela
conduta que descreve como um crime:
- em 1º lugar, tem de se descortinar qual é o BJ. Para além disso, qual a relação entre a conduta e o bem
jurídico a que o legislador quis fazer referência: quando ele proíbe o comportamento, que tipo de ofensa é
que ele estava a pensar, o que é que ele pretendeu proibir? Não basta identificar o bem jurídico, é
fundamental, na compreensão do tipo incriminador, perceber qual foi a ofensa ao bem jurídico que o
legislador quis prevenir.
E há diversos tipos: ofensas em que o bem jurídico é lesado, destruído ou danificado e há aquelas ofensas
em que o bem jurídico não chega a ser posto em causa diretamente, é apenas ameaçado, posto em perigo.
Daí que se fale em crimes de dano e em crimes de perigo.
A. CRIMES DE DANO: são aqueles que lesam 1 BJ. Exs.: homicídio, furto, ofensa à integridade física... O
legislador, nos crimes de dano, aguarda que o dano se processe para punir o agente e, nessa medida, a
proteção é uma proteção de ultima ratio em que o bem jurídico já está destruído e, consequentemente, a
pena é mais grave.
B. CRIMES DE PERIGO: o legislador não se limita a punir as condutas que lesem o bem jurídico, punindo
também os comportamentos que o ponham em perigo. Os crimes de perigo representam uma tutela
antecipada. Podem ser divididos em crimes de perigo concreto ou crimes de perigo abstrato:
– crimes de perigo concreto: são aqueles em que o perigo faz parte do tipo. Ou seja, é preciso mostrar
que o bem jurídico esteve efetivamente em perigo. Por exemplo: crime de exposição ao abandono
(art.138º CP) e crime de condução perigosa (art.291º CP).

-crimes de perigo abstrato: são aqueles em que o perigo é a motivação da proibição, ou seja, são aqueles
crimes em que o perigo não faz parte do tipo incriminador, sendo o simples motivo da proibição. Assim,
proíbe-se aquele comportamento porque ele é, em si mesmo, perigoso para o bem jurídico e proíbe-se
mesmo que daquele comportamento não resulte uma lesão. I.e.: há 1 presunção que a conduta é sp
perigosa; tem de se tratar d1 BJ altamente relevante, claramente identificado e a conduta tem de estar
definida com precisão. – exs.: crime de condução em estado de embriaguez. (art.292º CP).
Os crimes de tipo abstrato representam uma intervenção penal muito antecipada e isto pode levar a pôr em
causa a natureza de ultima ratio do direito penal. Ora, nestes casos, o bem jurídico não chega a estar em
perigo e, por isso, é muito discutida a legitimidade constitucional dos crimes de perigo abstrato. Por isso é
que surgiram os crimes de aptidão que são crimes em que é preciso demonstrar a efetiva idoneidade
daquela conduta para pôr em causa o bem jurídico: estamos perante tipos legais em que o legislador faz
assentar a conduta numa idoneidade para pôr o bem jurídico em perigo. São condutas concretamente
perigosas. Um crime de aptidão tipifica uma conduta que, em si mesma, é perigosa para o bem jurídico em
causa (por exemplo, crime de fraude fiscal – art.103º RGIT).
Podemos ter ao mesmo tempo:
– crimes formais q são crimes de dano – há lesão do BJ e um crime. Ex: violação de domicílio
– crimes formais q são crimes de perigo: ñ exige qualquer resulatado. Ex: condução sob o efeito de álcool
– crimes materiais q são crimes de dano: são a generalidade. Ex: homicídio
– crimes materiais q são crimes de perigo: pune-se o resultado de perigo. Ex: 291º

Crimes simples: a generalidade, pois atingem 1 BJ;


Crimes complexos: atingem simultaneamente vários BJ's.

Crimes instantâneos: aqueles que se consumam em um único momento. Ex.: furto.


Crimes duradouros (permanentes): consumação duradoura e contínua. Ex.: sequestro.
Crimes habituais: PC tem as suas dúvidas. Normalmente incriminam modos de vida ou condutas
que tendem a ser praticadas repetida ou profissionalmente, exs: lenocínio; tráfico de
estupefacientes.

Crimes de empreendimento: legislador equipara a tentativa à consumação =» crime consuma-se


logo no momento da tentativa:
– alteração violenta do estado de direito, 325º CP
– crime de atentado contra o P.R. 327º

Crimes agravados/qualificados pelo resultado: quando a partir do crime base, ocorre um


resultado agravante que vai para lá do primeiro e, qd este resultado se produz =» a pena é maior
que aquela que cabe apenas ao crime base. ex.: conjugação do 163º com o 177º/5, com remissão
para o 18º. O crime base ñ tem de ser doloso e o resultado agravante tn nem sp é crime (ex:
gravidez). Contudo, este último tem de ser sempre causado, no mínimo, por negligência. Refª
breve.
14.º Capítulo - A imputação objetiva do resultado à conduta
TCA, aulas práticas
Matéria mt importante! Imputação objetiva: é o maior problema q se coloca qd se analisa a
tipicidade dum comportamento criminalmente relevante.
Problema coloca-se não no resultado, mas na imputação do resultado à conduta de ação.
Crimes podem ser:
– formais (de mera atividade/inatividade). ex.: invasão de domicílio -» preenche-se pela mera ação
– materiais (exige-se à conduta 1 resultado) ex.: homicídio. Exige-se à conduta 1 resultado, a morte
Como se determina o nexo de imputação?
FD: ou A causou o resultado, ou não.
Devemos formular 2 questões fundamentais:
i) – quando podemos dizer que a ação causa resultado? Quando perguntamos pela causa, e 1
causação natural. É sp 1 juízo fático. Aqui ñ há várias respostas, só 1 é verdadeira.
ii) - Suponhamos que podemos afirmar a causalidade em i). Agora: deve o resultado ser
imputado à ação? Já ñ é 1 pergunta no campo do empírico, mas estritamente normativa. Ñ
queremos saber da relação causa =» efeito, mas sim fazer 1 juízo. É 1 questão estritamente
objetiva. Nisto consiste a imputação objetiva do resultado.

1º degrau: a categoria da causalidade. Causalidade naturalística de Von Buri


o 1º degrau foi constituído pela teoria das condições equivalentes (TCE) ou da equivalência de
condições ou teoria “conditio sine qua non”.
Buri afasta quaisquer nexos de imputação religiosa/irracionais/mistificações. São causas do
resultado: todas as condições sem as quais o resultado não teria acontecido. Todas as condições
são equivalentes.
A compra 1 arma a B. Mata C. Venda da arma + utilização dela = condições equivalentes . Se delas ñ tivesse ocorrido =»
ñ haveria resultado.
Procurava-se determinar o resultado sine qua non: o juiz tinha de fazer 1 exercício de supressão
mental das condições: tinha de perguntar se se tirasse 1 das condições se o resultado se
produziria ou não?
– se sim =» condição não relevante
– se não =» condição relevante
TCE: causa do resultado = toda a condição sem a qual o resultado ñ teria tido lugar.
À TCE está associado o método da supressão mental.
A mata B com arma fabricada por C. o facto de A ter disparado 2 tiros = causa da morte de B. E o facto de C ter
fabricado a arma é causa de resultado da morte de C? Sim. Não tivera fabricado a arma e C não teria morrido. E o
taxista D que transportou A ao local do crime? Se D não o tivesse levado...
É assim que funciona o 1º patamar da causalidade. É um regresso ao infinito. Se a mãe de A não o
tivesse dado à luz... até Adão e Eva.
Críticas:
i) - transpõe para o direito pura e simplesmente regras da Física e das Ciências Naturais;
ii) - regressão ao infinito (leva ao infinito);
iii) exclui qq consideração de interrupção do nexo causal. ex.. A dispara sobre B; B não morre,vai para HUC;
Incêndio nos HUC, causado por C =» B morre queimado. Causa: A …
iv) TCE: só é causa da morte aquilo que pode ter 1 nexo causal. Se suprimirmos a conduta, o resultado
desaparece. Mas, se A envenenar o sumo de B e C a sopa de B; e B bebe e come; Morre. Quem
causou o resultado? Se suprimirmos a conduta de A, o resultado não desaparece... Idem com C.
Nem A nem C seriam causa da morte de B, só da tentativa.
Ou seja: 1º degrau é inútil para imputar resultado nos termos da condição sine qua non.

2º degrau: doutrina da adequação ou da causalidade adequada. Von Kris XIX.

Esta teoria aperfeiçoa a imputação de resultados à conduta, através da adequação. Não se


questiona se causou, mas sim se podemos imputar o resultado. Só são relevantes as condições que
sejam idóneas a produzir o resultado, que tornem o resultado previsível – porque o direito ñ pode
ir para além da capacidade das pessoas de dominar os processos causais:
- só devemos imputar o resultado à ação qd o resultado surja como 1 consequência normal, típica
e previsível daquela ação:
Taxista D: no 1º patamar é causador; no 2º degrau: ñ o é, 1x ñ ser provável que D soubesse que A
ia matar B. Mérito: aperfeiçoa o problema. Mas ñ chega: há casos em q a teoria da adequação ñ é
satisfatória:
– há atividades que comportam em si mm riscos consideráveis para um BJ mas q legalmente
ñ são proibidas circulação rodoviária; produção/transporte produtos perigosos; intervenções médicas risco
aqui: a ação revela-se adequada à produção do resultado típico. Ñ é possível proibir tais condutas
sob pena de retrocesso da vida social.
Como é que se afere a causalidade adequada? Não é a posteriori, mas segundo um juízo de prognose
póstuma ou juízo ex ante: é póstuma porque tudo já aconteceu e é de prognose porque o juiz vai ter de se
colocar no momento da prática dos factos e, sabendo o que o agente sabia, conhecendo o que o agente
conhecia ou devia conhecer fazer esta pergunta: é normal e previsível que a esta conduta se siga este
resultado? Se a resposta for sim é porque a conduta é causa adequada do resultado. Este é o critério para
se decidir se uma conduta foi ou não causa de um resultado.
→ EXEMPLOS:
1: Imaginemos que A dá uma facada ligeira na mão de B e B morre. No entanto, B é hemofílico, daí ter morrido. Assim,
ou o agente sabia que B era hemofílico e era normal e previsível que de uma pequena facada sucedesse a morte ou o
agente não sabia que B era hemofílico e esta consequência é anormal e imprevisível. Assim, o Dr. Figueiredo Dias fala
sempre do conhecimento ou não pelo agente das condições da vítima.
2: É normal e previsível que em dias de chuva haja lençóis de água na estrada e que ocorram acidentes de viação,
sendo que uma pessoa, mesmo que diligente, atropele e mate alguém? Sim. E este resultado é imputável a esta
conduta? Segundo esta teoria, diríamos que sim.
3: se dois trabalhadores da construção civil estiverem a trabalhar e um vir que um tijolo vai cair na cabeça do outro e o
empurrar para ele não se magoar gravemente e o outro acabar por fazer um corte numa perna, nós podemos imputar
aquela conduta àquele resultado? Precisamos de uma correção a esta teoria e é daí que vai surgir a teoria da
imputação objetiva ou conexão do risco (o Dr. Figueiredo Dias prefere a designação de “conexão do risco”).
4 (crítica): Há casos em que não vamos imputar um resultado a uma certa conduta. Ex.: é normal e previsível que um
medicamento tenha efeitos secundários. Mas aceitamos que, em nome do benefício que os medicamentos nos
trazem, alguém sofra o efeito secundário. Há resultados a que chegaríamos através desta teoria que precisam de ser
corrigidos ao nível da imputação, porque apesar da conduta causar o resultado, não vamos imputar o resultado à
conduta e estas correções são feitas pela teoria da conexão de risco (3º degrau).
→ Quando é que a intervenção de um terceiro interrompe o nexo de causalidade? Quando essa intervenção
de terceiro for anormal e imprevisível – na maioria dos casos, a intervenção de um terceiro não é normal e
previsível. No exemplo da bebida e da sopa envenenada, não seria normal e previsível que a empregada de
mesa matasse B com um tiro: aqui interrompe-se o nexo de causalidade. Por exemplo: O senhor A sofreu
um esfaqueamento pelo senhor B e chama-se a ambulância. A ambulância apanha um engarrafamento que
faz com que o percurso que normalmente era feito em 10 minutos, demorasse 3 horas. Assim, em 10
minutos, o senhor A podia ter sido salvo. Pergunta-se aqui que, tendo em conta que se estava em hora de
ponta, este engarrafamento era normal e previsível ou anormal e imprevisível? Porque se fosse normal, o
senhor B seria condenado por homicídio consumado. Caso não fosse normal e previsível, então aqui tinha-
se uma interrupção do nexo de causalidade e o senhor B apenas era condenado por homicídio tentado.

Ex.:A dá 1 murro nos dentes de B; B -» HUC; C ateia incêndio nos HUC -» B morre. A quis esmurrar B, não matá-lo. C
interrompeu o nexo causal da conduta de A. C intrometeu-se. Início da ação: murro de A ---» resultado esperado: lesão
de B; C intromete-se a meio da linha, e corta-la; a A só pode ser imputado o crime de ofensa à integridade física. Pelo
1º degrau, A seria o causador da morte de B. 2º degrau corrige a causalidade: ñ é normal 1 murro nos dentes d1 3º
causar a sua morte. C interrompeu o nexo causal.

→ Esta teoria não está consagrada no nosso código, mas há um artigo que parece indiciar que é essa a
teoria seguida por nós – art.10º CP. Não temos nenhuma norma no código que nos dê a teoria da causalidade. Fala-se assim
num critério de omissão. Por exemplo: imaginemos que uma mãe deixa de alimentar um bebé e o bebé morre. Ela cometeu um
crime de homicídio? Sim, crime de homicídio por omissão. Este art.10º CP equipara estas omissões às ações. Quando alguém tem o
dever de impedir um resultado, a omissão desse dever de garante é equiparável à ação adequada a produzi-lo.
Trave -mestra do 2º degrau: limitar a imputação do resultado àquelas condutas
das quais derive um perigo idóneo de produção dum resultado.

3º degrau: a conexão do risco


Segundo esta doutrina, o resultado só deve ser imputado à ação quando esta tenha criado:
– um risco para o BJ protegido pelo tipo de ilícito;
– e que esse risco se tenha materializado no resultado típico.
i.e.: a imputação depende dum duplo fator:
1 – que A, com a sua ação, tenha criado risco não permitido OU potenciado esse risco
2 – que esse risco tenha ocasionado um resultado concretamente previsto num tipo legal de crime.
→ Para que a conexão de risco se dê como estabelecida temos de fundar a imputação do resultado da seguinte forma: é preciso
que o perigo que se concretizou no resultado seja um daqueles em vista dos quais a ação foi proibida. No fundo, o que se quer dizer
é que: o perigo que se materializou no resultado tem de corresponder ao perigo que a norma quis proibir. Se ele não é um daqueles
que a norma quis evitar, então não há imputação do resultado à conduta.
EXEMPLO1: é proibido circular a mais de 50km/h porque se está perto de uma passadeira. O que se pretende com esta proibição é
proteger os peões que estão a passar. Imaginemos que o senhor A iniciou uma manobra de ultrapassagem a mais de 50 Km/h e o
senhor B, não se apercebendo da ultrapassagem, virou para a esquerda, batendo no carro do senhor A, o que levou à morte do
pendura. O risco que se materializou não é o risco que se pretendia prevenir com aquela proibição porque só se exige a diminuição
da velocidade por causa da aproximação da passadeira, logo, o resultado não é imputável à conduta porque não cabia no âmbito de
proteção da norma.
EXEMPLO2: sabemos que quando o sinal de trânsito está vermelho, não se pode passar. Imaginemos que o senhor A avança no sinal
vermelho e, ao mesmo tempo, o senhor, que tinha nitidamente a intenção de se suicidar, apercebe-se que o senhor A não ia parar e
atira-se para a frente do carro. Poderemos imputar este resultado à conduta do senhor A? Não, porque o risco que se materializou
não é o risco que se pretendia prevenir com aquela proibição porque só se exige que se pare no sinal vermelho para que os peões
possam passar em segurança mas, neste caso, o senhor B nitidamente era suicida, logo, o resultado não é imputável à conduta
porque não cabia no âmbito de proteção da norma.

Criação de risco não permitido


CASOS EM QUE O AGENTE DIMINUI O RISCO PARA O BJ:
A empurra B (leves lesões) mas foi para desviá-lo de atropelamento certo. Pelo 2º degrau a ofensa à integridade física
seria imputada a A; 3º degrau nega a imputação, por inexistência de criação d1 risco ñ permitido =» a ação de A
traduziu-se n1 melhoria da situação do BJ (vida) em perigo. Aqui: a ação elimina o risco proibido. A conduta de A é
atípica -» ñ vamos responsabilizar A dado aquilo que fez ñ ter sido 1 ofensa mais a eliminação d1 risco para B.

– Tb ñ há ação de risco qd a conduta de A ñ ultrapassa o risco juridicamente permitido: na n/sociedade há1


conjunto de perigos. O DP, como ultima ratio, ñ pode proibir comportamentos q tenham violado BJ's que
sejam tolerados: DP ñ sanciona qd A ñ ultrapassa o risco tolerado pela sociedade.
– Há riscos permitidos e riscos proibidos pela sociedade: enquanto A se mantiver dentro do risco permitido, ñ
se pode imputar a A a conduta
CASO DE RISCO GERAL DA VIDA NORMAL
A vida social comporta 1 plêiade de riscos e perigos tolerados pela sociedade, associados a conquistas civilizacionais
importantes e a modelos de desenvolvimento, dos quais a sociedade ñ quer/ñ pode, prescindir. Cumpre à ordem
jurídica (OJ) definir as regras, por ex., de uso de explosivos em pedreiras. Quando o estado ñ disponha ou o faça
insuficientemente, valem por ex: na Medicina, as Legis Artis = regras de procedimento q os agentes de certos setores
seguem habitualmente. Dr. A opera B, seguindo as legis artis. Mas B morre. Se A se manteve dentro dos limites
permitidos, ñ pode ser o resultado imputado a A.
Futebol: A lesiona B em campo. Se em conexão de sentido com o jogo: ok. Se ñ …
CASOS EM QUE O AGENTE Ñ ULTRAPASSA O RISCO PERMITIDO
A1: A conduz seguindo escrupulosamente as regras,mas lençol de água e choca com B. B morre. Pela teoria da
adequação, seria imputável a A a morte de B; Doutrina da conexão do risco, a conduta de A manteve-se dentro do
risco permitido.
CASOS DE AUTOCOLOCAÇÃO EM RISCO
A sabe que o namorado B tem SIDA mas mesmo assim tem relações sexuais desprotegidas com ele. Resultado não
pode ser imputado ao namorado em virtude da autorresponsabilidade da namorada.

A potenciação do risco
A conduta de A aumenta ou potencia o risco já existente =» piorando a situação do BJ ameaçado.
Perigo já criado: A dá a morte a B, moribundo, nos HUC. O resultado morte é imputado a A pq aumentou o risco da
morte de B.
Outro ex.: carro mal estacionado. A parte o vidro de uma janela; B passa e parte mais 2. B aumenta ameaça ao BJ.
Ex.: Processo causal de salvamento: comportamento do nadador-salvador afasta/impede/diminui as hipóteses de
salvamento d1 BJ em perigo. -» banhista em perigo, perigo de afogamento; A, nadador-salvador, atira-se à água mas
esquece-se da bóia. A potenciou o BJ em perigo.

A concretização do risco não permitido no resultado típico


Na doutrina da conexão do risco, ñ basta a comprovação que o agente com a sua ação, produziu/potenciou um risco
não permitido para o BJ ameaçado.:
– é preciso determinar se foi esse risco q se materializou/concretizou no resultado típico = tarefa que divide a
doutrina e a jurisprudência. Para a existência e caraterísticas do perigo: juízo ex ante; saber qual perigo
causou resultado:juízo ex post.
ex.: A, motorista de ambulância, faz uma manobra errada =» B, que ia para os HUC em muito mau estado (ataque
cardíaco), morre. Aqui a dificuldade do juízo ex post reside em saber se a morte deve ser imputada ao perigo “acidente
rodoviário” ou não. Questão dos comportamentos lícitos alternativos:
– os CLA dão-se qando, neste caso, mesmo que o acidente não se tivesse verificado, o resultado:
provavelmente/com toda a certeza seria o mesmo. Negamos, assim, a imputação do resultado pq este ñ
surge como 1 concretização do risco proibido. Deve excluir-se a imputação porque se A tivesse tomado o
comportamento lícito alternativo (não cometendo o erro de condução, atuando conforme o direito), o
resultado morte ter-se-ia produzido na mesma.
ex.: A, diretor d1 fábrica de pincéis de barba, importou pelo de cabra, não ordenando sua desinfeção conforme
determinação legal. Quatro operários morrem por infeção de um bacilo. Investigado o caso, apura-se que o resultado
seria o mesmo se o pelo tivesse sido desinfetado, dado tratar-se de um bacilo desconhecido e resistente à desinfeção.
ex.: A, conduzindo um carro, ultrapassa B ao volante d1 bike, ñ respeitando a distância e embate; B morre; mas B
estava bêbedo e oscilava ao “èsses” na estrada. Provavelmente sofreria o embate mesmo que fosse respeitada a
distância.

→ a questão da causalidade virtual


Anteriormente foi referido que não pode confundir os comportamentos lícitos alternativos com a causalidade virtual.
No caso do comportamento ilícito alternativo, o que vamos ver é: que se o agente tivesse atuado de acordo com a
norma, ele podia ter evitado aquele resultado? Se não, então não há imputação do resultado àquela conduta, porque
nem o próprio direito conseguia evitar este resultado.

Produção de resultados não cobertos pelo fim e pelo âmbito de proteção da norma

A conexão do risco só e estabelecida com o intuito de fundar a imputação do resultado à ação.


Para que a conexão do risco possa dizer-se estabelecida em termos de fundar a imputação do resultado à ação torna-
se ainda necessário que o perigo que se concretizou no resultado seja um daqueles em vista dos quais a ação foi
proibida, quer dizer, seja um daqueles que corresponde ao fim de proteção da norma de cuidado. Se tal não suceder,
deve ter-se por excluída a imputação objetiva.
Exemplo: A inicia uma manobra de ultrapassagem sobre B. No decurso da manobra, B, sem reparar que está a ser
ultrapassado, vira à esquerda e embate no outro automóvel, que já se encontrava na outra faixa de rodagem. Do
acidente resultou a morte de C, acompanhante de A. A foi acusado da prática de um homicídio negligente por, ao
realizar a ultrapassagem, seguir a 80 km/h quando a velocidade máxima permitida era de 50 km/h. Contudo, o tribunal
considerou que este limite de velocidade se devia a um sinal de aproximação de travessia de peões e que o acidente
nada teve a ver com tal travessia; o que, aliado ao facto de A ter cumprido as demais regras rodoviárias, determinou a
sua absolvição. Esta decisão expressou o referido critério do âmbito de proteção da norma. Com efeito, foi por se ter
reconhecido que o escopo da norma era o de limitar riscos para a circulação de peões que não se imputou à conduta
de A a morte de C: a norma violada não tinha por fim prevenir perigos inerentes ao tipo de manobra que teve lugar.
Diferente desta questão é a que corre sobre o âmbito de proteção do tipo legal (o fim de proteção da norma típica). O
ilícito é a criação de um risco não permitido dentro do âmbito do tipo. E aqui entra o caso de colaboração na - »
(1) autocolocação em risco dolosa:
Exemplo: quando A e B se lançam, por aposta, numa corrida perigosíssima de motos na estrada e B, em virtude de um
erro de condução, perde o domínio do veículo e sofre lesões físicas graves.
E o caso de (2) heterocolocação em perigo livremente aceite, em que alguém se não coloca em perigo mas, com
consciência do perigo, se deixar pôr em risco por outrem – exemplo: quando C, a pedido do passageiro, D, aumenta de
forma proibida a velocidade do automóvel e em consequência se despista, sofrendo D lesões físicas graves.
Importa relembrar aqui o princípio da autorresponsabilidade. Além disso, o acordo ou a livre aceitação do risco é aqui
um elemento decisivo e incontornável da solução.
(3) imputação a 1 âmbito de responsabilidade alheio (aqueles resultados cujo impedimento caem na área da
responsabilidade de outra pessoa. ex.: A provoca 1 incêndio na sua habitação; B, um dos bombeiros, ao salvar
C, sofre lesões graves. O resultado das lesões graves em B ñ são imputáveis a A. É do risco de se ser bombeiro.
A praticou 1 crime de incêndio mas ñ 1 crime de ofensas à integridade física.

Por isso, conclui-se que, no fim de contas, só teremos verdadeiramente 3 regras que levam à exclusão do
resultado da imputação objetiva:
– o risco permitido
– a diminuição dorisco
– comportamento lícito alternativo

Na causalidade hipotética ou causalidade virtual o que está em causa é o resultado ser produzido por uma
atuação independente do agente, ou seja, uma ação de terceiro ou por um acontecimento natural. Por
exemplo: se A não tivesse matado B em pleno voo, B teria morrido na mesma, por bomba a bordo colocada
por C que explodiu. Portanto, nos casos de causalidade virtual há efetivamente imputação do resultado
àquela conduta porque ela não é relevante, nem nunca poderia ser porque se admitíssemos a sua
relevância estaríamos a admitir que, em última instância, nunca se poderia punir o crime de homicídio, uma
vez que vamos todos morrer um dia. Assim, não é por se provar que o resultado se iria sempre produzir por
outro qualquer fator que se exclui a imputação do resultado àquela conduta – o agente é efetivamente
culpado porque produziu o facto ilícito.
A questão a colocar é a de saber se deve conferir-se algum relevo jurídico-penal à causa hipotética ou
virtual. A doutrina dominante responde com uma rotunda negativa. Mas a resposta a dar parece dever ser
eu, mesmo à luz de uma função de tutela subsidiária bens jurídicos, continua a ter sentido não abandonar o
bem jurídico à agressão do agente só porque aquele já não pode, em definitivo, ser salvo. Obviamente este
princípio deva ser temperado, na sua consequência final para a responsabilização do agente, em certas
hipóteses. Mas não é por se provar que o resultado sempre se teria verificado por outra circunstância que
não se imputa o resultado à conduta.
No exemplo apresentado, não faria sentido abandonar o BJ 'vida de B'.
P.Caeiro: a questão aqui é o inverso da questão comportamento lícito alternativo: A causou o resultado a B;
esse resultado, noutro tempo/noutra condição, seria com certeza causado ou por um evento natural ou por
ação de C.
A, hospedeira, vê no avião seu inimigo B; põe-lhe 1 veneno na bebida. B morre; avaria no avião; cai; morrem todos.
Questão é: se este evento natural deve excluir o resultado causado por A?
Não! A causa virtual não tem relevância, pelo que o resultado deve na mesma ser imputado à ação.
É irrelevante se a morte vier a ser produzida em outras circunstâncias. Isso não afeta a imputação do
resultado e, portanto, a causa virtual não tem relevância.
– no caso dos pincéis, o agente limita-se a não obstar o processo causal que vai causar o resultado -»
comportamento ilícito alternativo;
– no caso da hospedeira, esta causa efetivamente um resultado morte -» relevância negativa da
causa virtual
14º O TIPO SUBJETIVO DE ILÍCITO

1. A CONSTRUÇÃO DO TIPO SUBJETIVO DE ILÍCITO


Já ficaram mencionados os passos da evolução que conduziu de uma conceção exclusivamente objetiva do
tipo de ilícito incriminador à aceitação naquele tipo da existência, que em todo o caso se considerava
excecional, de elementos subjetivos da ilicitude, e desta até à atual bipartição do tipo de ilícito incriminador
num tipo objetivo de ilícito e num tipo subjetivo de ilícito seja sob a forma dolosa, seja sob a forma
negligente.
É o tipo subjetivo de ilícito doloso que vamos analisar – cujo elemento irrenunciável é o dolo, no conjunto
daqueles que pertencem ao tipo de ilícito segundo a sua estrutura e função – dolo natural, dolo do facto ou
dolo do tipo, que se distingue de um outro que pertence à culpa.
O conteúdo do tipo subjetivo de ilícito doloso não tem de se esgotar no dolo do tipo: o essencial da
conceção normativista dos elementos subjetivos do tipo persiste ainda hoje e não perdeu interesse político-
criminal ou dogmático com a construção de um autónomo tipo subjetivo de ilícito doloso.
Em muitos tipos legais de crime existem especiais elementos subjetivos que não pertencem ao dolo do tipo
e que co-determinam o desvalor da ação e definem a área de tutela típica.
Os elementos que constituem o tipo subjetivo de ilícito são elementos que existem no interior do agente,
por isso é que são subjetivos, ao contrário da conduta e do bem jurídico que são externamente apreciáveis.
Como elementos do tipo subjetivo temos então o dolo (dolo natural ou dolo do facto/tipo) e alguns
elementos subjetivos da ilicitude.
2. O DOLO DO TIPO
2.1. A ESTRUTURA DO DOLO DO TIPO
O CP não define o dolo do tipo, definindo apenas cada uma das formas em que ele se analisa (artigo 14.º) –
contudo, a doutrina dominante define-o como conhecimento e vontade de realização do tipo objetivo
ilícito.
A estrutura dogmática do dolo do tipo há-de ser por isso político-criminalmente condicionada por esta
diferente relevância dos delitos dolosos e dos negligentes, concretamente: a diferença essencial entre uma
e outra espécie de delitos tem de ser (ou, pelo menos, de ser também) uma diferença de culpa.
Assim, justifica-se a conceitualização do dolo do tipo como conhecimento (momento intelectual) e vontade
(momento volitivo) de realização do facto.
De um ponto de vista funcional os dois elementos não se situam ao mesmo nível: o chamado elemento
intelectual do dolo do tipo não pode por si mesmo considerar-se decisivo da distinção dos tipos de ilícito
dolosos e dos negligentes, uma vez que também estes últimos podem conter a representação pelo agente
de um facto que preenche um tipo de ilícito (a chamada negligência consistente: artigo 15.º/a)).
É o elemento volitivo, quando ligado ao elemento intelectual requerido, que verdadeiramente serve para
indicar uma posição ou atitude do agente contrária ou indiferente à norma de comportamento. Uma culpa
dolosa é a consequente possibilidade de o agente ser punido a título de dolo.
Estes dois elementos têm um relevo diferente para a configuração do dolo porque o que é verdadeiramente
específico do dolo é a vontade de praticar o facto, ou seja, o elemento volitivo tem um peso mais intenso.
Em certas formas de negligência o agente também representa pelo menos a possibilidade de o facto
ocorrer, mas o que é verdadeiramente específico do dolo é o elemento volitivo porque quem atua com
vontade de praticar ou de preencher um tipo objetivo indicia já também uma culpa dolosa, uma culpa mais
grave, uma atitude de indiferença perante o direito, que justifica uma pena mais pesada.
Para que se afirme o dolo é, portanto, necessário que o agente represente e queira todos os factos do tipo
objetivo (congruência entre o tipo objetivo e o tipo subjetivo). É importante saber se o agente atuou com
dolo ou com negligência porque, como se diz no artigo 13.º do CP, só é punível o facto praticado com dolo
ou com negligência. Todos os crimes são puníveis por dolo, mas só alguns são puníveis por negligência.
2.2. O MOMENTO INTELECTUAL
É necessário que o agente saiba, represente corretamente ou tenha consciência das circunstâncias do facto
que preenche um tipo de ilícito objetivo (artigo 16.º/1). Pretende-se que o agente conheça tudo quanto é
necessário a uma correta orientação da sua consciência ética para o desvalor jurídico que concretamente se
liga à ação intentada, pelo seu carácter ilícito. Só quando todos os elementos do facto estão presentes na
consciência psicológica do agente se poderá vir a afirmar que ele se decidiu pela prática do ilícito e deve
responder por uma entidade contrária ou indiferente ao BJ lesado pela conduta.
Assim, sempre que o agente não represente, ou represente erradamente, um qualquer dos elementos do
tipo de ilícito objetivo o dolo terá, desde logo de ser negado. Fala-se a este respeito de um princípio da
congruência entre o tipo objetivo e o tipo subjetivo de ilícito doloso.
A afirmação do dolo do tipo exige antes de tudo o conhecimento (a previsão ou a representação) da
totalidade dos elementos constitutivos do respetivo tipo de ilícito objetivo, da factualidade típica.
a) O CONHECIMENTO DOS ELEMENTOS NORMATIVOS:
Se o tipo de ilícito é portador de um sentido de ilicitude, compreende-se que a factualidade típica que o
agente tem de representar constitua o agregado de “factos valorados” em função daquele sentido de
ilicitude. Não basta o conhecimento dos meros factos, é indispensável a apreensão do seu significado
correspondente ao tipo. Tal exigência não colocará qualquer dificuldade de princípio relativamente aos
chamados elementos descritivos, como “outra pessoa” (artigo 131.º), “corpo” (artigo 143.º), etc.
Contudo, quanto aos elementos normativos, que só podem ser representados e pensados por referência a
normas, jurídicas ou não, já não se pode exigir o conhecimento destes.
Se o agente conhece o conteúdo do elemento, mas desconhece a sua qualificação normativa, trata-se aí de
um erro na subsunção que deve considerar-se irrelevante para o dolo do tipo.
Suficiente será sim o conhecimento pelo agente dos elementos normativos na direção uma apreensão do
sentido ou significado correspondente, no essencial e segundo o nível próprio das representações do
agente, ao resultado daquela subsunção ou, mais exatamente, da valoração respetiva. Cumpre-se assim a
função de orientar o agente para a ilicitude do facto – exemplos: carácter “alheio” da coisa numa série de
crimes patrimoniais (artigos 203.º e 204.º, 209.º, 212.º).
Contudo, há casos em que o respeito pela função exercida pela necessidade de conhecimento para
afirmação do dolo do tipo conduzirá a uma maior exigência.
Há elementos normativos, de estrutura eminentemente jurídica, que só através de uma decisão
estritamente técnica assumem relevo normativo e logram orientar o agente para o desvalor da ilicitude do
facto total (como grande parte das normas penais em branco).
Deve requerer-se ao agente o grau máximo de conhecimento perante as funções que ele exerce (critérios
determinantes da qualificação). Por outro lado, com um grau de menor exigência, temos os elementos
normativos cujo conhecimento pelo agente, necessário ao dolo do tipo, deva limitar-se ao dos seus
pressupostos materiais.
Contudo, é sobretudo o caso de certos elementos que exprimem imediatamente uma valoração moral,
social, cultural ou mesmo jurídica decisiva para a ilicitude do facto como um todo.
Em qualquer destes casos, deve bastar à afirmação do dolo do tipo o conhecimento dos pressupostos
materiais da valoração, porque já esse conhecimento orienta suficientemente a sua consciência ética para
o desvalor do facto como um todo.
b) A ATUALIDADE DA CONSCIÊNCIA INTENCIONAL DA AÇÃO:
O conhecimento requerido pelo dolo do tipo exige a sua atualização na consciência psicológica ou
intencional no momento da ação. A “consciência atual” não é o mesmo que “consciência refletida”.
Como Platzgummer defendeu, a consciência requerida das circunstâncias do facto será atual do próprio
ponto de vista psicológico, para afirmação do dolo do tipo, quando aquelas são assumidas pelo agente sob a
forma de “representação” e quando elas são assumidas por uma coconsciência (que não é considerada
explicitamente, mas que é atendida com outros conteúdos conscientemente considerados).

2.3. ERRO SOBRE A FACTUALIDADE TÍPICA


Faltando ao agente o conhecimento da totalidade das circunstâncias de facto, de direito, descritivas ou
normativas do facto, o dolo do tipo não pode afirmar-se (artigo 16.º/1/1ª parte CP) – sendo isto entendido
como erro sobre a factualidade típica.
Quando se diz que este erro exclui o dolo, a palavra “exclusão” não quer dizer que se queira afastar algo que
já existiu em certo momento, trata-se apenas de dizer que são incompatíveis, ou seja, impossibilita a
existência de dolo. Quem furta coisa móvel alheia sem consciência de que, com a subtração, “deixa a vítima
em difícil situação económica” não atua com dolo do tipo de furto qualificado (204.º/1-i)), mas apenas de
furto simples (203.º/1). Quem, por outra parte, toma erradamente por “sério” o pedido de um doente
grave e o mata, atua com dolo do tipo de homicídio a pedido (134.º) e não com o de homicídio (131.º).
Em ambos os casos o erro sobre a factualidade típica conduz a que só deva ser aplicada a norma penal
menos grave. Com a negação do dolo do tipo falta o tipo subjetivo apenas do crime doloso de ação
correspondente – assim, o agente ter realizado dolosamente outros tipos de ilícito e pode ainda estar
preenchido um tipo de ilícito negligente. Isto é expressamente afirmado pelo artigo 16.º/3 ao ressalvar a
“punibilidade da negligência nos termos gerais” – quer isto dizer:
− Se o respetivo comportamento for expressamente previsto pela lei como crime negligente;
− E se a negligência se tiver efetivamente verificado no caso.
O primeiro domínio deste erro é o tipo de crime:
− Imagine que A, caçador, vê um movimento atrás de um arbusto e tendo plena convicção de que é um
animal, dispara. Posteriormente descobre que, afinal, o que estava atrás do arbusto era uma pessoa e, em
consequência do tiro, esta morre. Neste caso, não se considera que existe dolo, pois o agente não
representou corretamente um dos elementos do tipo de crime, que é a existência de uma pessoa – erro
sobre elemento de facto;
− Suponhamos que A, ao sair de uma sala, pega num guarda-chuva que julgava ser o seu, mas afinal não
lhe pertencia. Aqui existe um erro sobre a factualidade típica, pois A julgava que o guarda-chuva era dele –
erro sobre elemento de direito.
O Dr. Figueiredo Dias aceita que o erro é relevante nos casos em que o agente representa erroneamente a
existência de uma circunstância atenuante que, na realidade, não existe.
− EXEMPLO: A mata B, julgando erroneamente que B lhe pediu insistentemente para o matar.
Para que o facto seja punível por negligência é preciso que seja um crime no qual a lei preveja a punição
por negligência e que se prove que no caso concreto a pessoa tenha atuado de maneira negligente.

2.4. O MOMENTO VOLITIVO: AS MODALIDADES DO DOLO


Certos tipos de crime na parte especial restringem as modalidades de dolo possíveis, ou seja, em certos
casos o facto só preenche o tipo subjetivo se for praticado como dolo direto ou necessário – está excluído o
dolo eventual. Por exemplo, no caso do artigo 231.º CP – é preciso que o agente conheça a origem da coisa,
não bastando que atue com dolo eventual.
O dolo do tipo não se fica pelo conhecimento, exige ainda que a prática do facto seja presidida por uma
vontade dirigida à sua realização. É este elemento que constitui o momento volitivo do dolo do tipo e que
pode assumir matizes diversos, permitindo a formação de diferentes classes de dolo.

a) DOLO DIRETO:
• Estamos perante dolo direto intencional ou de primeiro grau (artigo 14.º/1) quando o agente, estando
certo da verificação da factualidade típica, age com intenção de praticar o facto. No dolo intencional temos
uma situação em que o agente tem um conhecimento seguro de que da sua conduta irá resultar
necessariamente uma consequência e atua com intenção, com vontade direta de levar a cabo essa conduta.
Há situações em que o agente sabe que da sua conduta vai advir certa consequência ou certo cenário típico,
não que o deseje, mas aquilo representa um pressuposto para aquilo que ele deseja. O facto aparece como
pressuposto necessário da prossecução da finalidade do agente, que o instrumentaliza.
• Por sua vez, estamos perante dolo direto necessário ou de segundo grau (artigo 14.º/2), quando o facto
típico não é pressuposto, mas apenas consequência do facto típico praticado. Por exemplo: pôr uma bomba
num avião para matar B, matando-se os outros passageiros por acréscimo.

b) O DOLO EVENTUAL:
Os casos de dolo eventual (artigo 14.º/3) caracterizam-se pela circunstância de a realização do tipo objetivo
de ilícito ser representada pelo agente “como consequência possível da conduta”.
No dolo direto o agente sabe que a factualidade típica vai acontecer, representa a realização da factualidade
típica como certa, segura, altamente provável. Já no dolo eventual, o agente não está absolutamente seguro
de que o resultado se vai produzir, apenas admitindo a possibilidade. Assim, o dolo eventual contrapõe-se
ao dolo direto no plano da representação do facto e à negligência consciente, que lhe está próxima pelo
facto de também ela supor aquela representação da realização típica como consequência típica da conduta
– artigo 15.º/a).
Há certos tipos legais de crime em que a lei circunscreve a relevância típica somente aos casos de dolo
direto, porque se exige que o agente represente o facto como seguro. Portanto, são crimes que não
admitem uma realização a título de dolo eventual.

c) DISTINÇÃO ENTRE DOLO EVENTUAL E NEGLIGÊNCIA CONSCIENTE:


O dolo pode ser direto ou eventual. A negligência pode ser consciente ou inconsciente (artigo 15.º/a, b).
Quer no dolo eventual, quer na negligência consciente, o agente atua admitindo a possibilidade de
realização do facto. Certos crimes constituem factos que só são punidos a título de dolo (artigo 13.º) – daí a
importância da distinção: se o agente atuar com dolo eventual, será punido; se se concluir pela negligência
consciente, ficará impune. Para responder a esta questão, a doutrina apresenta três soluções:
• TEORIAS DA PROBABILIDADE: há que distinguir o grau de probabilidade de produção do facto. Falamos
sempre de factos que são tidos pelo agente como possíveis e não certos – se o agente representar o facto
como provável temos dolo, se representar como pouco provável temos negligência. Esta teoria é rejeitada,
não sendo acolhida por nós devido a:
− Colocar a tónica numa vertente intelectual e não volitiva;
− Não é admissível afastar o dolo naqueles casos em que, embora o agente atue na convicção de que é
pouco provável que o resultado aconteça, mas está fortemente determinado a consegui-lo, tem uma
intenção clara de o conseguir – nestas situações não faria sentido afastar o dolo.
• TEORIA DA ACEITAÇÃO: o dolo eventual põe-se mais uma vez quando o agente represente a produção do
facto ou resultado como possível e no seu íntimo aceita essa possibilidade, ou até lhe é indiferente que isso
aconteça ou não. Nestes casos de aceitação ou de indiferença, o agente atua com dolo. Já se pelo contrário
o agente avança para a realização da conduta típica repudiando a possibilidade de produção do resultado
diz-se que atua apenas com negligência consciente. Esta teoria é posta em causa por um lado porque é
difícil destrinçar o dolo eventual dos casos em que o agente atua de forma intencional e porque mais uma
vez pode conduzir a resultados insatisfatórios.
• TEORIA DA CONFORMAÇÃO: a questão que aqui se coloca é a de saber se, tendo o agente representado a
realização do facto como possível, se conformou ou não com essa possibilidade. Se se concluir que o agente
se conformou com isso diz-se que há dolo eventual, caso contrário, diz-se que há negligência consciente
(artigo 14.º/3 - dolo eventual e artigo 15.º - negligência consciente - em ambos está consagrada a teoria da
conformação). Entende-se que o agente se conforma quando encara o perigo, o risco como algo efetivo,
efetivamente existente e ainda assim avançou para a prática do facto. Há aqui uma indiferença pelo bem
jurídico, uma decisão contra o bem jurídico que deve levar à afirmação do dolo eventual. Se pelo contrário,
objetivamente, o risco for um risco baixo, insignificante, diz-se que o agente não se conformou com a
realização do facto e haverá negligência consciente. Perguntamos, agora, se o critério da conformação
consegue manter-se de todo estranho à questão da probabilidade da realização típica – cremos que não,
porque não deve dizer-se que o agente tomou a sério a possibilidade de realização se esta é
manifestamente remota ou insignificante, salvo se uma tal “distância” for claramente “compensada” por
uma decidida vontade criminosa.

3. ERRO SOBRE O PROCESSO CAUSAL


Neste contexto surge a questão de saber se qualquer divergência entre o risco conscientemente criado pelo
agente e aquele do qual deriva efetivamente o resultado deve conduzir a que o resultado não possa mais
ser imputado ao agente e este só possa, por isso, responder por tentativa. Duas posições de princípio são
aqui possíveis:
− Sim, dado que o resultado tem lugar por concretização de um risco não previsto não pode afirmar-se a
congruência entre o tipo objetivo e o tipo doloso;
− Não, o erro sobre o processo causal é em princípio irrelevante, com a eventual ressalva dos crimes de
execução vinculada, porque só nestes constitui um elemento do tipo objetivo e ilícito e, por isso, uma
circunstância do facto para o efeito do disposto no artigo 16.º/1.
Muitos dos problemas que tradicionalmente se colocavam nesta sede de afirmação ou negação do dolo do
tipo encontram hoje já solução – e, na verdade, uma solução “negativa”, ou seja, de não conduzirem a
qualquer responsabilização do agente – em termos da doutrina da imputação objetiva, nomeadamente
daquilo que aí chamámos a conexão do risco. Ainda assim, quando se afirmar a imputação, tem de se
conferir relevo ao erro sobre o processo causal:
− Ou porque o tipo de ilícito é de execução vinculada;
− Ou é de “execução livre” e torna-se extremamente difícil figurar uma hipótese em que a imputação
objetiva deva ser afirmada e o dolo do tipo ser negado. Onde e quando uma tal hipótese possa ser figurada,
o erro sobre o processo causal não pode deixar de ter-se por relevante no sentido da não afirmação do dolo
e o agente só poderá ser punido a título de tentativa.

4. DOLUS GENERALIS
Consiste nos casos em que o agente pratica um conjunto de ações para atingir o resultado, mas a ação que
produz o resultado não é aquela que ele julga que verdadeiramente o produz – por exemplo, o agente
quer matar alguém e dá uma pancada na cabeça desta pessoa para a matar; julgando que já está morta,
pendura-a pelo pescoço a uma corda para simular um suicídio. Posteriormente descobre-se que o motivo
da morte foi asfixia e não a pancada. Se estes dois factos foram planeados antecipadamente, parece que de
facto existe a possibilidade de afirmar o dolo em relação ao processo causal e à morte.
Nos casos em que o resultado ocorre não na primeira, mas sim na segunda ação, ao contrário do que o
agente teria pensado (por exemplo A que quer matar B, mas antes dá-lhe uma grande dose de anestesia
para que este não sinta dor; contudo devido a uma reação alérgica muito rara, B morre de imediato após
levar a anestesia), o Dr. Figueiredo Dias diz que se deve afirmar o dolo se o agente não percebe a morte e
ainda pratica o segundo ato com intenção de a matar.
O Dr. Pedro Caeiro diz que o ato que efetivamente produz a morte, o resultado não é imputável ao agente,
pois trata-se de uma alergia rara. Neste caso, resolver-se-ia o problema através da imputação objetiva
excluindo o resultado, pois não basta querer um resultado para que este seja imputável ao agente.

5. ABERRATIO ICTUS VEL IMPETUS


Nestes casos existe um dolo inicial por parte do agente pelo cometimento de um certo crime, mas existe
um desvio no processo causal que resulta em resultado diferente do que fora planeado.
A quer matar B (dolo), dispara tiro e a bala acaba por atingir C, por falta de pontaria, matando-o/ferindo-o.
Quid iuris?
A solução para estes casos é a punição do agente que tenta praticar o crime, em concurso com o crime que
efetivamente praticou a título da negligência nos termos gerais.

6. ERROR IN PERSONA VEL OBJECTO


O decurso real do acontecimento corresponde inteiramente ao intentado – só que o agente se encontra em
erro quanto à identidade do objeto ou da pessoa a atingir. Não existe aqui qualquer erro na execução, mas
sim na formação da vontade.
Sempre que o objeto atingido seja tipicamente idêntico ao projetado, o erro sobre o objeto é irrelevante (A
quer matar B e dispara um tiro contra uma pessoa que julga ser B, mas é C), o que significa que, se o agente
queria matar uma pessoa e o fez, o erro é irrelevante e ele vai ser punido contra um crime de homicídio
doloso consumado.
Se o agente erra também sobre as qualidades tipicamente relevantes do objeto, então o agente é punido
por tentativa do crime que projetou em concurso com o crime que realizou com negligência, se o crime for
punível por negligência e ele tiver efetivamente atuado com negligência.
− A quer matar o cão do vizinho e um dia na ausência do vizinho, vai ao seu quintal, vê um vulto na casota
do cão, dispara um tiro contra esse vulto e na realidade quem estava na casota do cão era o filho do vizinho
– temos por um lado um crime de dano (destruição de um animal alheio) e um homicídio de uma criança,
que ele não representou que estava a matar uma criança.
7. ELEMENTOS SUBJETIVOS DA ILICITUDE
Estes não se confundem como o dolo – tratam-se de particulares intenções ou outros elementos
subjetivos que transcendem o tipo objetivo doloso (criam tipos incongruentes).
Em certos crimes, o tipo subjetivo, além do dolo, integra ainda elementos específicos.
EXEMPLOS:
− Artigo 131.º: crime de homicídio, a lei não especifica nada no âmbito subjetivo que particularize o tipo
de homicídio; o tipo de homicídio é composto exclusivamente pelo dolo. Verificando-se o dolo, o elemento
subjetivo está cumprido.
− Quanto ao crime de furto, já temos elemento subjetivo específico: intenção de apropriação. O crime de
furto, no plano do tipo subjetivo não se basta com o dolo, haverá o facto típico objetivo e o dolo se no furto
alguém subtrair uma coisa móvel que não lhe pertence – mas isto não é suficiente para que haja furto,
exigindo-se ainda intenção ilegítima de apropriação.
Há crimes que incorporam até como fundamento do tipo intenções especificas, que extravasam o tipo
objetivo, indo além dos factos do tipo objetivo – fala-se aí em elementos subjetivos do tipo.
É a este propósito que se faz referência aos crimes de resultado cortado, em que o tipo subjetivo vai para lá
do tipo objetivo, porque o agente só incorre na prática do crime se atua com uma certa intenção que está
referida no tipo mas que não tem de se concretizar na realidade (só há crime de burla se o agente enganar
um terceiro de modo a que ele pratique um ato que cause um dano patrimonial a alguém, sendo que o
agente deve atuar com uma intenção de enriquecimento ilegítimo; mas não é preciso que ele enriqueça,
basta que ele atue com a intenção).
Este elemento subjetivo do tipo deve servir para restringir a área da punibilidade, ou seja, para ser mais
exigente na imputação dos crimes, porque não basta que se pratiquem as condutas descritas no tipo
subjetivo, para que seja crime é preciso que elas sejam praticadas com aquela particular intenção. A função
dos elementos subjetivos é restringir o alcance do tipo de crime – é estabelecer um filtro para o tipo de
crime.

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