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DP = conjunto das normas jurídicas que ligam crimes (comportamentos humanos culposos, ilícitos,
típicos e puníveis) a consequências jurídicas [penas (culpa) e medidas de segurança (perigo)]–
privativas deste ramo do direito.
Conceito DP:
DP sentido objetivo: ius poenale, ordenamento jº-penal = expressão poder punitivo do estado
DP sentido subjetivo: ius puniendi = direito punitivo do estado, certo comportamento=crime=»consequências.
Âmbito DP:
DP substantivo ou stricto senso: define pressupostos+formas crime e seus efeitos
DP executivo: regulamentação jº e execução das penas e mds
DPP: regulamentação j dos modos de realização prática do poder punitivo do estado
DP é ainda essencialmente dtº intraestadual, i.e., só pode ser produzido pelo estado.
Contudo, desde finais XX assiste-se a incremento DIP em matéria penal, sobretudo via convenções
internacionais.
Criação do TPI e tribunais especiais para Ruanda e Yugoslávia.
A isto devemos juntar o ius puniendi negativo da União Europeia.
Mas o DP PT continua sendo uma parte integrante do direito público, mantendo uma estreita
conexão co o Dtº Constitucional e a Teoria do Estado.
A ciência conjunta do DP
Até meados de XIX: o crime tinha 1 tratamento jº – dogmático com apoio das ciências auxiliares da
filosofia.
Meados XIX: aumento da criminalidade de massas e o cientismo =» surge a criminologia. Para o
cientismo (positivismo jº), o dtº também é 1 ciência. Mas crime é 1 patologia pelo que o seu
estudo cabe à medicina+psicologia+psiquiatria.
Início XX: Von Lizt avança com a teoria da ciência conjunta do DP que compreenderia 3 ciências
autónomas:
– Dogmática jº – penal (princípios j-penais)
– Criminologia (estudo das causas do crime)
– Política criminal (luta do Estado vs crime através das penas)
Teorias relativas:
Pena deve ser um instrumento de prevenção.
Não se pode punir pq se pecou, mas punir para que não se peque.
São teorias de fins. Há que distinguir historicamente e pelo sentido doutrinas de prevenção geral e
doutrinas de prevenção especial.
Prevenção geral:
Denominador comum das teorias da PG:
pena é 1 instrumento da política criminal, que atua sobre a generalidade dos membros da
sociedade com o fito de afastá-los do crime via:
– ameaça penal
– realidade da sua aplicação
– efetividade da execução
Esta atuação estadual assume dupla atuação:
– PG negativa ou de intimidação: fim da pena = demover potenciais criminosos;
crítica: não é possível definir o quantum que possa demover; tendência para penas cada x + severas: DP do terror
– PG positiva ou de integração: fim da pena = manter/reforçar a confiança da sociedade na
validade e eficácia do DP. Quando alguém comete 1 crime, há fragilização da norma que o criminaliza. A pena
reafirma o valor da norma j., servindo para mostrar que mesmo tendo sido violada, deve ainda ser respeitada.
Pena deve ser um meio de prevenção e de ressocialização e deve ter efeitos sobre o infrator para
evitar que ele volte a infringir -» a prevenção da reincidência é o denominador comum das teorias
relativas.
PE – (ou de neutralização) – segurança, pura defesa social:
A correção do delinquente = utopia, pelo que 2 caminhos se apresentam:
PE – de intimidação (atemorizar o delinquente para impedir a reincidência;
PE – de segregação (separar os delinquentes como meio de defesa social)
NB: Culpa não é nem fundamento nem medida da pena: pune-se não pela culpa mas para proteger
bens jurídicos.
Mas não basta aplicar a pena, de cumprir as exigências de PG+:
penas devem ser aplicadas /executadas numa ótica de PE+ de socialização, acautelando
reincidência.
CP PT: artº 40/1: fins das penas -» proteção do bem j (PG+) e reintegração agente na sociedade (PE+)
A pena dever ser compatível com as exigências de preservação da dignidade da pessoa humana e da
garantia do livre desenvolvimento da sua personalidade nos quadros do estado de direito.
Como conciliar a PG (proteção dos bens j's) com a PE (respeito pelo princípio da culpa)?
Ex: crime de homicídio, moldura legal 8-16 anos.
– dentro da moldura legal, construimos a moldura de prevenção, definindo um ponto ótimo
de proteção dos bens j -» ponto 1, digamos 14 anos;
– depois definimos um 2º ponto, o de limiar mínimo de defesa do ordenamento jº. Abaixo
dele, não é suportável comunitariamente. Digamos que 10 anos;
– estabelece-se a gravidade da culpa: 12 anos, que funciona como limite inultrapassável da
pena;
– é dentro desta moldura de PG 10-12 anos que obteremos o valor da pena. Entra em cena
agora a PE. Há necessidades diminutas de PE? Pena tenderá para 10; há fortes? Pena tende
para 14. Ou seja, é entre estes 2 pontos que atua a PE, e que irá determinar a medida da
pena: seja a função positiva de socialização; seja uma das quaisquer funções negativas
subordinadas de advertência individual ou de segurança.
– A necessidade de socialização do agente é o critério decisivo das exigências de PE mas só se
o agente for carente de socialização; pode a pena (por ex crime fiscais) pode-se conferir à
pena 1 função suficiente de advertência.
5.- FUNDAMENTO, SENTIDO E FINALIDADES DA MEDIDA DE SEGURANÇA CRIMINAL
Finalidade global: de defesa social (prevenção de ilícitos-típicos futuros pelo agente perigoso que
cometeu 1 ilícito-típico grave).
A aplicação de 1 mds é monopólio do poder judicial (205/1) CRP e só pode ser usada para defesa
dum interesse comunitário preponderante face à gravidade do facto cometido e à perigosidade do
agente, devendo obedecer rigorosamente a parâmetros de proporcionalidade, necessidade,
subsidiaridade e de proibição de excessos (18/2 CRP).
Ou seja, 1 mds só pode ser aplicada:
– na defesa d1 interesse comunitário preponderante;
– e na medida em que não se revele desproporcional à gravidade do facto e à perigosidade
do agente
– iii)- 20/2+3 CP: instituto dos imputáveis diminuídos ou imputabilidade diminuída = ficção de
inimputabilidade. Pessoas imputáveis com perigo de repetição deixando bens j's
vulneráveis, ficciona-se a inimputabilidade para que juiz possa aplicar uma mds de
internamento caso se verifique a perigosidade;
– iv)- esta ideia de monismo prático reflete-se igualmente no art.º 104º e ss CP
P.Caeiro: sistema PT é formalmente monista, se nós entendermos que só interessam as medidas
detentivas (PC diverge de FD)
Desvios à natureza monista: penas relativamente indeterminadas
imputabilidade diminuída (mds terapêuticas)
NB: quando o juiz – no mesmo processo, aplica penas e mds por factos diferentes, ñ é dualismo!
Para além disso: pº da necessidade. Tem de haver necessidade de pena, i.e., a intervenção penal
tem de ser necessária – ultima ratio. Só qd ñ há outra forma social de proteção do BJ que o DP
entra em cena, restringindo-se, contudo, aos BJ's com dignidade e carência penal.
Recapitulando:
À dignidade penal acresce 1 ideia de necessidade ou carência de pena – para que o legislador
possa incriminar um certo comportamento, ñ basta que tenhamos 1 BJ digno de tutela e 1 conduta
digna de proteção penal -» é preciso que o BJ careça dessa tutela.
Tutela essa:
– que seja uma tutela eficaz – vale o pº constitucional da proporcionalidade lato senso: é
necessário que a incriminação seja adequada. Descriminalizou-se o consumo de estupefacientes pq o BJ
protegido era a saúde pública e impedir o seu uso via penal foi considerado desadequado
– que seja de aplicação subsidiária -» se existirem outras formas menos gravosas de proteção
desse BJ, o legislador ñ pode usar o DP. Ex.: até década 90 XX cheque sem provisão era crime: o DP tinha-se
transformado num meio de coagir o devedor a pagar ao credor
PC: ñ me parece que o legislador consiga encontrar diretamente na CRP a diferença DP/DMOS. O
que é decisivo?
– o pº da dignidade penal
– o pº da necessidade da pena ---» isto é mt + impt que saber quais as diferenças DP/DMOS
é saber se tem dignidade penal. Tem dignidade penal? É DP!!
Ous eja, não há distinção a priori: a distinção resulta da aplicação dos citados 2 princípios.
− Para que se possa criminalizar uma conduta é necessário que haja uma lei formal da Assembleia da
República;
− Quanto às contraordenações concretas o Governo tem uma competência própria, i.e., pode conceber
sem autorização da Assembleia da República uma certa conduta como contraordenação.
Toda a norma jurídica (NJ), enquanto regra de comportamento, tem uma natureza percetiva, i.e.,
prescreve/proíbe certos comportamentos. Enquanto tal, pela própria natureza das coisas, a NJ não
pode prescrever comportamentos para o passado – princípio da não transconexão ou não
transatividade (uma norma só pode prescrever comportamentos para as pessoas com as quais
tem um contacto que são, no âmbito temporal, os comportamentos posteriores à sua entrada em
vigor. Uma norma não pode ter contactos com o passado, não pode orientar condutas que já
ocorreram no passado).
DUPLA FUNÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS:
Crimes continuados: criação da doutrina, para tratar como 1 único crime o concurso de vários
crimes, em certas circunstâncias, mantendo-se o regime da aplicação da lei no tempo.
A encontra 1 chave de casa na rua e assalta a casa 3 vezes . Tecnicamente, teríamos 3 crimes de furto. Temos concurso
= 1 crime. Lei aplicável? A do último facto (agente ainda está executando o furto).
A lex mellior ñ tem nada a ver com o PDL!! Lex mellior promove o interesse na adaptação (melhor ordenação da vida
social), segundo o pº da necessidade da lei penal.
Caso I: se no julgamento o juiz entender q ñ há PG+PE é incompreensível q se aplicasse a lei vigente à data factos;
Caso II: se por razões de PG a lei baixou a moldura penal de 12 para 8 anos, o pº da necessidade impõe ser
desnecessário aplicar a lei vigente factos;
Comparamos o regime qd o agente atuou e o atual: será o atual o aplicável se for + favorável, ie.,se
o agente ficar n1 situação melhor do que se fosse aplicado o regime anterior.
Mais benéfico? Aplique-se e ex-officio.
A descriminalização 2/2 CP
Comunidade entende que certo comportamento já ñ atinge 1 BJ de maneira suficientemente forte,
pelo que a lei vem eliminar certa conduta do elenco de crimes, por já ñ existirem razões de PG+PE
que justifiquem 1 pena. A fulano foi aplicada 1 pena =» entretanto, descriminalização =» cessa de
imediato a execução e os efeitos penais =» libertação =» eliminação no registo criminal. Tem a ver
com a desnecessidade da lei penal, pelo que a pena deve cessar de imediato. A pt.2 do 2/2
demonstra a força do pº lex mellior, o qual se impõe mesmo que a sentença tenha transitado em
julgado.
E quando muda o BJ protegido?
Ex.: crimes sexuais -» A viola em 1994 = BJ supra-individual, moralidade social; desde 1995: crime
vs pessoas. Houve descriminalização? Ñ! Integra a conduta: era crime qd foi cometido, é crime em
1995. Temos de olhar sp para a conduta.
conduta deixa de ser crime e passa a contraordenação (CO). Ex.: consumo de estupefacientes.
Nestes casos, aplica-se o 2/2 ou o 2/4? O agente ñ pode ser punido pelo crime. Mas poderá sê-lo
pela CO? Há 2 correntes:
– F.Dias: existe aqui uma continuidade no regime sancionatório, quer dizer, o facto nunca na
verdade passou a ser lícito, foi uma degradação da ilicitude da ilicitude penal para a
ilicitude administrativa, mas há uma continuidade: a proibição do legislador. Deve aplicar-se
retroativamente a contraordenação porque é mais favorável do que a norma penal;
– Há quem diga não: o que existe é uma descriminalização porque o facto deixou de ser
crime, portanto, esse não pode ser nunca aplicado e também não se pode aplicar
retroativamente a CO porque o direito das CO também está sujeito ao PDL e à ñ retro- e
não se pode invocar aqui o art. 2.º/4 porque não se trata de uma sucessão de leis penais. O
art. 2.º/4 está desenhado para a solução de leis penais. Aqui trata-se de uma sucessão de
lei penal com uma lei administração. Nesta segunda corrente o agente ficaria impune,
apesar de o ordenamento jurídico continuamente ter previsto 1 sanção para o facto, pois
devemos privilegiar os direitos individuais.
Pedro Caeiro: ñ podemos fundamentar a aplicação da lei nova no 2/4, que só prevê a sucessão de
leis penais: “quando … leis penais ...” Solução:
1- que a lei nova DMOS preveja expressamente a sua própria aplicação retro-;
2- mas temos de avaliar se esta flexibilidade com que tratamos o PDLC é compatível com o
PDL do DMOS: já ñ é crime =» DP está arredado do problema. Cabe ao TC avaliar se o PDL
DMOS é aplicável ou ñ.
Resumindo: impossibilidade de recondução do problema à sucessão de leis penais (art. 2.º, n.º 4 CP), pois a lei
contra-ordenacional é de natureza administrativa. Impossibilidade de aplicação do art. 2.º, n.º 4, por analogia,
àquela situação (pois é uma analogia desfavorável, visto que se trata de um facto descriminalizado).
Como saber se lei nova é mais favorável para o agente?
A este propósito também se põe a questão do dépeçage que significa desmontagem.
Juiz tem de simular a aplicação das 2 normas aos factos, ver o resultado e assim chegar à
conclusão qual a lei + favorável e aplicá-la. Como é que nós sabemos que a lei nova é mais
favorável do que a lei anterior. No caso do art. 2.º/2 isso é evidente: existe uma lei que
descaracterizou aquela conduta como crime, portanto, não temos de avaliar nada, o facto já não é
crime. Agora aqui a questão é diferente: é que o facto continua a ser crime e temos de saber se a
nova lei é mais desfavorável do que a lei que vigorava no momento da prática do facto.
O problema que se põe é o seguinte: a jurisprudência e a generalidade da doutrina entendem (e
bem) que o juiz ao ensaiar esta aplicação tendencialmente deve fazê-lo em bloco, portanto, deve
aplicar a lei vigente no momento da prática do facto em bloco e depois também a lei vigente no
momento do julgamento em bloco. Isto é, o juiz não pode andar a selecionar as disposições mais
favoráveis da primeira lei e depois as disposições mais favoráveis da segunda lei. Aplica-se a lei em
que o agente fique n1 situação melhor do que se fosse aplicado o outro regime.
Ou seja: o tribunal pode por si só construir 1 base + favorável, indo buscar algo à lei velha e algo à
lei nova? Em pº.: não, pois tribunal estaria substituindo-se ao legislador.
vi)- as leis intermédias
Uma lei intermédia é uma lei que está no meio de duas outras leis e que não tem qualquer
contacto com o facto – não estava em vigor no momento em que o facto foi praticado e já não
está em vigor no momento do julgamento. Ñ temos 1 sucessão de 2 leis mas sim de pelo menos 3
leis.
Esta lei intermédia pode ser aplicada nesta situação? Sim, está sujeita ao regime do artigo 2.º/2 e
4. Se ela for mais favorável ao agente, ela será aplicada. Isto pode dar-se em duas circunstâncias:
- » pode ser uma lei descriminalizadora (artigo 2.º/2);
- » ou pode ser uma lei despenalizadora (artigo 2.º/4).
Porque é que a lei intermédia mais favorável é aplicada retroativamente? Há duas razões para
isso:
− Para garantir o princípio da igualdade (se tivermos 2 agentes a praticar o mm crime
durante a Lei 1 e A for julgado pela Lei 2 e B pela Lei 3 – perante a prática do mm facto são punidos
de moldes diferentes = pº da igualdade em sentido virtual; Portanto, por uma questão de princípio da
igualdade (tratar igual o que é igual), como praticaram o facto quando vigorava a mesma lei devem também receber
um tratamento igual e, portanto, em virtude do princípio da igualdade deve-se aplicar a lei intermédia.
− O protelamento da ação penal é imputável ao Estado.
Leis temporárias em sentido amplo incluem as leis de emergência, ou seja, temos as leis temporárias
em sentido estrito e as leis de emergência.
Uma lei temporária é uma lei que é aprovada para vigorar durante um certo período de tempo,
isto é, é uma lei que tem um termo, seja um termo expresso, seja um termo implícito (uma lei que
está associada a um determinado evento- EURO 2004 a uma determinada circunstância e que,
portanto, implicitamente vigora enquanto essa circunstância for presente).
As leis de emergência são leis que vigoram para fazer face a um estado excecional.
Estas leis são uma exceção em relação à retroatividade do tratamento mais favorável porque, de
acordo com o art. 2.º/3, diz-se que “quando a lei valer para um determinado período de tempo,
continua a ser punível o facto praticado durante esse período”. Isto quer dizer que os factos
praticados na vigência de uma lei temporária ou de uma lei de emergência continuam a ser
puníveis mesmo depois de terminar a vigência da lei, ao contrário do que acontece normalmente
no art. 2.º/2.
Rzão: ñ fora este regime e a eficácia preventiva das leis temporárias ou das leis de emergência era
nula, as pessoas já sabiam de antemão que dificilmente seriam julgadas durante a vigência dessa
lei (são leis que normalmente se destinam a vigorar durante um período de tempo relativamente
curto) e, portanto, seria quase impossível julgar uma pessoa durante a vigência da lei. Impunidade.
Ñ confundir as leis temporárias com aquelas que se aplicam de forma fracionada no tempo, isto é,
leis que só se aplicam durante um certo período do ano. Essas não são leis temporárias, mas leis
que estão sempre em vigor. P. ex. a lei da caça pune quem praticar caça fora do período permitido.
Exceção à exceção
Casos em que apesar de serem leis temporárias se continua a aplicar o regime do art. 2.º/4. Não é
muito comum, mas pode-se suceder que exista uma sucessão de leis temporárias ou de leis de
emergência, isto é, em vez de existir só uma lei de emergência pode existir uma sucessão de leis de
emergência e pode acontecer que as disposições penais da segunda lei de emergência sejam
menos graves/sejam mais favoráveis do que as disposições da primeira lei de emergência. Aqui
voltamos a ter uma sucessão de leis e a questão que se põe é qual das leis aplicar. De acordo com
o art. 2.º/3 temos de aplicar sempre a primeira lei no domínio da qual foi praticado o facto ou
podemos aplicar a segunda lei de emergência que é mais favorável ao agente? Vejamos:
A jurisdição tem três formas básicas. Trata-se da questão de saber a que partes é que a lei penal PT
se aplica, em que circunstâncias são aplicadas:
• Jurisdição prescritiva: poder de editar as normas penais e de dizer em que casos elas são
aplicáveis; poder de cada estado de organizar s/sistema penal: o que é proibido + quais pontos de conexão
• Jurisdição judicativa: poder de aplicar as normas a certos casos; tribunais aplicam nj's aos factos. Aqui
tb entram as OPC + MP
• Jurisdição executiva: poder de executar as decisões tomadas no momento judicativo. Poder do
estado de executar as decisões dos tribunais.
ex.: Estado PT dizia que se considerava competente para julgar os furtos cometidos por japoneses contra japoneses no
Japão. Aqui não há nenhuma conexão significativa com a comunidade nacional, provavelmente uma regra deste
género seria vista como uma ingerência do Estado PT na comunidade japonesa.
O direito internacional exige que, pelo menos, o Estado tenha uma conexão significativa com os
factos para puder aplicar a sua lei.
3. As regras de aplicabilidade: factos territoriais, factos extraterritoriais e a determinação do locus
delicti.
A primeira distinção que temos de fazer a este propósito é uma distinção fundamental entre factos
territoriais e factos não territoriais porque esta distinção vai-nos levar para dois regimes
completamente diferentes: dos factos praticados em território nacional (art. 4.º) e os factos
praticados no estrangeiro, fora do território português (art. 5.º).
Para fazer esta distinção temos de olhar ao art. 7.º que é o art. que disciplina a determinação do
lugar da prática do facto. O art. 7.º tem vários critérios para determinar o lugar da prática do facto,
mas a função destes critérios não é só determinar o lugar da prática do facto em geral, mas
procurar conectar na sua maior abrangência possível cada facto com o território português. Por
isso é que isto se chama uma solução de ubiquidade ou de plurilocalização.
Quer dizer, quando vimos o art. 4.º para a determinação do momento da prática do facto vimos
que a lei opta apenas por um critério: a ação ou omissão. Repare-se que agora no art. 7.º para
determinar o lugar são relevantes uma série de lugares diferentes: onde o agente atuou, onde o
agente omitiu, onde o resultado se produziu, onde o resultado não previsto se produziu, etc. Em
todos estes lugares considera-se que o facto foi praticado aí.
A consequência desta ubiquidade é que basta que um destes lugares seja o território português
para que a lei portuguesa seja competente de acordo com a regra da territorialidade.
Uma outra finalidade desta solução também é evitar os chamados conflitos negativos de competência. Imagine-se que
em Valência do Minho alguém dispara um tiro de caçadeira contra um espanhol que está do outro lado do rio e mata-
o. Agora que se põe é se Portugal considerasse como critério o lugar da prática do facto o lugar onde se produziu o
resultado e se Espanha considerasse como lugar da prática do facto o lugar da ação nenhum dos países seria
competente territorialmente para conhecer este crime, o que seria uma solução incompreensível – havia um conflito
negativo de competência. A solução plurilocalizada tende a evitar esses conflitos negativos de competência
porque aumenta as possibilidades de cada Estado poder aplicar a sua lei em função do território.
O art. 7.º procura ampliar o mais possível os vários critérios de localização do facto
para permitir a sua inserção na regra da territorialidade.
Os dois últimos casos que podem ser problemáticos do ponto de vista da determinação do lugar do crime
são, em primeiro lugar, os casos de comparticipação (art. 7.º). A lei portuguesa é competente para julgar
qualquer comparticipante. Esta norma não tem uma interpretação unânime, mas parece que isto significa
p. ex. que a lei portuguesa será competente para julgar um cúmplice que atuou em Portugal quando o facto
principal foi praticado por um estrangeiro num outro país. O cúmplice está sujeito à lei portuguesa e pode
ser responsabilizado de acordo com a lei portuguesa, mesmo que esta não tenha competência para julgar o
facto principal praticado por um estrangeiro no estrangeiro.
O último caso problemático são os chamados delitos itinerantes ou delitos de trânsito. Os delitos itinerantes
ou delitos de trânsito são aqueles crimes onde o contacto com o território nacional é fugaz e não implica
verdadeiramente uma atuação do agente. P. ex. uma encomenda de droga vem da Colômbia, atravessa
Portugal para ir para a Holanda. A questão que se põe é saber se nestes casos o facto se considera praticado
em território nacional de acordo com o art. 7.º ou com o art. 4.º. Não há aqui uma regra geral para todos os
casos. Nestes dois casos não há dúvida da competência da lei portuguesa porque supondo que o tráfico de
estupefacientes é uma conduta perigosa, esse perigo está presente em território nacional. Neste caso não
há dúvidas em aceitar que se trata de um facto praticado também em território português.
Já se tem mais dúvidas naqueles casos onde o contacto com o território nacional não implica qualquer
perigosidade daquele específico tipo de crime. P. ex. um cidadão português envia para Bruxelas por correio
físico uma série de documentos para se candidatar a um subsídio comunitário. Esses documentos são falsos
e ele comete um crime de fraude ou desvio de subsídios. Será que o facto de os documentos passarem
pelos territórios espanhol e francês torna essas leis competentes em função do território? Parece que não
porque a perigosidade dos documentos não se reflete minimamente no contacto com o território nacional
ao contrário do que acontece com os estupefacientes.
4. A aplicação incondicionada:
a) a regra-base da territorialidade
b) a regra do pavilhão
c) a regra da proteção dos interesses fundamentais do Estado Português
a)- Pº da territorialidade: estado aplica o seu DP a todos os factos penalmente relevantes ocorridos
no seu território, independentemente de que em os cometeu. Te: estado aplica a lei penal em seu
território, abstendo-se de aplicar a sua lei penal qd ocorrem no estrangeiro.
FUNDAMENTOS:
• EXTERNOS (de cariz político-jurídico): se a aplicação da lei penal nacional é rigorosamente demarcada
sobre as fronteiras de cada Estado, e se a generalidade dos Estados aceita este princípio, então está
descoberto o modo mais simples de repartir a jurisdição entre Estados. Desta forma, evita-se na maior
medida, conflitos positivos (vários Estados considerarem-se competentes para conhecer de um certo facto)
e negativos (nenhum Estado se considera competente para conhecer de um certo facto) de competência;
• INTERNOS (de cariz já próprio do sistema penal de aplicação da lei penal): ideia de que é na comunidade
territorial que se faz sentir com mais intensidade a necessidade de proteção dos bens jurídicos. Os crimes
praticados em PT diferem em exigências de PG dos praticados abroad. É inside PT q o estado tem maior
resp. de garantir a proteção de BJ's.
PdT: consagrado in 4/1a CP -» aplicação incondicionada da lei PT.
b) a regra do pavilhão
Aos factos praticados em navios ou aeronaves portuguesas, que são equivalentes a um espaço
nacional, a lei portuguesa é aplicável sem qualquer outra condição.
Pode acontecer que o navio ou aeronave se encontrem em águas ou espaços aéreos territoriais,
i.e., de país diferente do pavilhão. Isso não retira competência à lei do lugar em nome do princípio
base da territorialidade = conflito positivo de competência –» temos duas ordens jurídicas
aplicáveis e concorrentes, com respeito pelo DIP.
Será conforme o DIP? A resposta é tendencialmente positiva, encara-se como uma defesa do
próprio Estado e, como tal, ainda é conforme o DIP. O que já não é possível é estender esta forma a
factos que nada tenham a ver com interesses fundamentais do Estado – tipo crimes de furto e
homicídio. O Estado tem de indicar taxativamente quais são os crimes cruciais que aqui se
englobam. Aqui há 1 ideia de autodefesa do estado.
Tripla condição:
1- os agentes têm de ser encontrados em PT;
2- que os factos sejam punidos pela legislação do lugar – exigência de dupla incriminação, salvo se
nesse lugar ñ se exercer o poder punitivo (Antártida, Mar alto). Se houver colapso do sistema, das
instituições n1 dado estado e o estado ñ exercer o poder punitivo, PC entende que enqt houver estado funciona a
dupla incriminação;
3- que os factos constituam crime que admita extradição e essa ñ possa ser concedida. Crp 33/3.
Seja pq ñ foi requerida seja por efeitos das normas substantivas e adjetivas em matéria de
extradição. PT prefere sp q seja o estado estrangeiro a julgar: crime lá, prova lá. Existe aqui uma
ideia de subsidiaridade da lei portuguesa em relação à administração da justiça estrangeira.
A universalidade
Existem certos bens jurídicos que são bens jurídicos comuns a toda a Humanidade e, portanto, são
bens jurídicos que não dependem da existência de uma lei nacional que proíba os factos que
ofendem. São essencialmente aqueles quatro grupos de crimes:
genocídio, crimes contra a Humanidade, crimes de guerra, agressão e ainda talvez outros que não
estão sujeitos à jurisdição do Tribunal Penal Internacional, mas que são também crimes
considerados crimes contra o direito internacional como seja a escravatura, o apartheid, a tortura.
Jurisdição universal porque é uma jurisdição que visa proteger o direito internacional, proteger os
bens jurídicos constitutivos do direito internacional.
NB: A este propósito grande parte dos crimes que estão previstos nestas alíneas do CP
verdadeiramente não constituem crimes contra o direito internacional e, portanto, mais uma vez,
sujeitar estes crimes à jurisdição universal pode ser um abuso de jurisdição por parte do Estado
português. E os estados andam estendendo ilegitimamente a jurisdição (ex.: crimes corrupção).
Este dever de perseguir os crimes contra o direito internacional cabe naturalmente ao Estado do
território onde eles foram praticados, ao Estado da nacionalidade do agente e ainda ao Estado
onde esse agente é encontrado – o chamado Estado da custódia. Em PT está sujeita a dupla
condição: 1- que ao agente seja encontrado em PT; 2- Ñ possa ser extraditado/M. Detenção EU.
Para PT a jurisdição universal é sempre uma jurisdição subsidiária porque existem foros mais
convenientes para a administração da justiça.
a administração supletiva da justiça penal e a sua diferente natureza em face das restantes
(normas aplicadas como puras regras de valoração)
– B- Conceção neoclássica
Fundamento: normativismo de início XX. PT: Paulo Merêa. Raiz neokantiana. Revolta vs positivismo. Ñ
somos químicos!
- ação = movimento causal, voluntário, que modifica o mundo exterior ligado à vontade do agente
- tipicidade = juizos de valor das ações humanas, comportamentos lesivos de BJ's protegidos
- ilicitude = comportamento ilícito, reprovado e vs direito, como tal deve ser censurado. A essência da
ilicitude é o dano social vs direito. Continua sendo 1 facto objetivo, sem sentido pessoal da ação.
- culpa = é 1 culpa psico-normativa. Ñ mais ligação psico: juízo de desvalor, de censura pessoal ao agente
por se ter comportado daquela forma
– C- Conceção finalista
Conceção ôntica ligada a 1 filosofia material dos valores. Estado de direito material. Wezel.
- ação = exteriorização da intencionalidade do sentido, homem ñ age fortuitamente, ação surge como
final d1 processo deliberativo.
- tipicidade = continua sendo descritivo; mas já temos tipo doloso e tipo negligente. Tipo é 1 unidade de
sentido q transporta 1 juízo de danosidade social, é 1 juízo de desvalor.
- ilicitude = Wezel rompe com conceito tradicional da ilicitude, defendendo que todo o ilícito é sp ação da
pax, é pessoal. Só há ilícito penal se a ação for dolosa/negligente. Esta tese do ilícito penal perdura até hj.
- culpa = transformou-se n1 puro juízo de valor. Dolo e negligência saem da culpa são elementos da ação
típica. A culpa confirma o sentido doloso ou negligente. Temos de ver se a pax tinha condições de atuar
conforme o direito mas ñ o fez. Se ñ há censura ñ há crime.
A construção do facto punível deve apresentar-se como teleológica-funcional e racional. Este sistema emergente
arranca da conceção avançada por Roxin, em 1970. Deste novo paradigma, o Dr Figueiredo Dias retira-lhe o melhor: a
ideia do ilícito pessoal. A partir daí, construíram um novo paradigma: teleológico-funcional e racional, cuja principal
característica é a de que todas as categorias dogmáticas estão penetradas pelos valores jurídico-penais.
Assim, para Figueiredo Dias, sendo esta a doutrina que nós seguimos, tanto os tipos incriminadores, como
os tipos justificadores concorrem na concretização de um sentido de ilicitude material de que se reveste
uma determinada conduta.
PC, teórica:
Qualquer escola é produto do que está para trás, nenhuma vem do zero.
Papel fundamental da política criminal: todas as categorias que compõem o conceito de criem têm d
desempenhar uma função útil, caso contrário: out DP, só servem para embelezar.
Uma compreensão funcional da construção do crime: função político-criminal
conceito de ação
Nenhuma das 3 escolas cumprem as exigências da ação.
A quer matar B. Ação, ok. E o que haje com negligência, que ñ antecipa?
A conduz sem se dar conta do excesso de velocidade. Ação típica. Conduz 1 auto em circunstância passíveis
de causar dano. A ação relevante ñ cabe aqui (ñ teve consciência).
E a omissão, q do agente pura e simplesmente ñ aje? Como encaixar?
Ed. Correia: sem negação de valores tb ñ encaixa: A mata B em legítima defesa, ñ é uma negação de avlores,
mas sim 1 afirmação de valor -» o dt à vida de A
Ñ há 1 conceito de ação pré-jurídico. O conceito de crime é puramente jurídico -» crime = construção j-
normativa; é 1 justificação d1 conduta humana.
Vamos, assim, dar à ação 1 papel residual:
A ação tem 1 papel negativo, de delimitação, exprime aqueles casos em q certas condutas ñ podem
preencher 1 tipo de crime.
ex.: sonâmbulo levanta-se e parte 1 vaso chinês mt valioso. Esta conduta ñ é crime pq ñ é humana. O conceito de ação
só serve para isto.
ex.: sob hipnose: tb ñ é 1 ato pessoal. Mas, se A sabe q ñ tomou os comprimidos, sabe disso, e mesmo assim pega no
carro, tem 1 ataque e atropela B = crime, por ter infringido o dever de cuidado.
A doutrina da ação deve, na construção do conceito de facto punível, ceder a primazia à doutrina da ação
típica ou da realização do tipo de ilícito, cabendo à ação uma mera e restrita função de delimitação.
Vamos construir a conceção de crime, começando pelo conceito de realização típica:
crimes de ação: dolosos e negligentes
crimes de omissão: dolosos e negligentes
ñ é ação, é conduta típica.
É do confronto tipo incriminador vs tipo justificador que concluímos se 1 conduta típica é tb ilícita.
Tipos incriminadores: giram à volta dos BJ's, delimitando o ilícito de forma geral e negativa; corresponde
àquilo que, para a generalidade da doutrina, configura a tipicidade.
Tipos justificadores: são estranhos à ordem legal do BJ, delimitam o ilícito de forma concreta e positiva.
Integra o plano da ilicitude para a generalidade dos autores.
N1 sistema teleológico-funcional da doutrina do crime, ñ há tipicidade nem ilicitude como categorias
autónomas. Só a categoria ilícito-típico ou tipo de ilícito é 1 categoria sistemática; tipo incriminador e tipo
justificador são instrumentos concetuais que servem a categoria do ilícito-tipo.
NB: Num caso prático, quando surgir 1 caso com relevância criminal, a 1ª coisa a fazer é verificar se a conduta preenche algum tipo
incriminador. E preenchê-lo. Todo o ilícito penal é doloso ou negligente. Ñ há ilícito-típico se o agente não tiver atuado com dolo ou
negligência.
Culpa
A categoria da culpa adiciona 1 novo elemento à ação típico-ilícita, sem a qual nunca poderemos falar d1
facto punível com pena criminal: é necessário que a conduta seja culposa. Daí: ñ há pena sem culpa.
Tipos de culpa: dolosa ou negligente; pena ñ pode ser maior do que a culpa.
Punibilidade
Com o tipo do ilícito e o tipo da culpa, ñ se esgota o conteúdo do sistema do facto penal. Urge
complementar com outra categoria: a punibilidade, cuja ideia-mestra é a dignidade penal.
A tem B na mira; desiste; desistência voluntária. A tentativa aqui ñ é punível dado ñ ter dignidade penal.
227º: ñ havendo decisão judicial, ñ é punível, ñ há punibilidade.
A ñ punibilidade é justificada pela falta de dignidade penal.
O tipo incriminador, na perspetiva de F.Dias, é o portador do sentido da ilicitude do facto – é nele que se exprime a
ilicitude do facto. O TI é integrado por elementos objetivos e elementos subjetivos e, por isso, fala-se em tipo
objetivo de ilícito e tipo subjetivo de ilícito. Este modelo que é partilhado pela generalidade da doutrina penal
contemporânea teve origem na Alemanha e foi exportado para outros países, como PT. FD agrega ambas categorias e
cria o ilícito típico. Os crimes podem ser analisados sobre 4 modalidades: ativo ou omissivo, doloso ou negligente:
1. Crimes dolosos de ação (modalidade mais frequente)
2. Crimes dolosos de omissão
3. Crimes negligentes de ação
4. Crimes negligentes de omissão
Portanto, com base nestas figuras de ação vs omissão e dolo vs negligência criaram-se estes 4 tipos de crimes.
O (A) tipo objetivo condessa a vertente objetiva do facto que é composto por 3 elementos:
autor, conduta e bem jurídico.
No (B) tipo subjetivo dos crimes dolosos encontramos, pelo menos, o dolo.
Nos crimes negligentes, o tipo subjetivo é composto naturalmente pela negligência.
Assim, o tipo, tendo esta dimensão objetiva e subjetiva, vai ser sempre uma expressão d1 ilícito pessoal.
É sobre este prisma que os tipos legais são decompostos e quando o tribunal se depara com um certo caso da vida, é
sobre esta chave que ele vai analisar o crime.
Polissemia do tipo: o tipo apresenta-se como tipo de garantia; tipo de erro; tipo de ilícito
Tipo de garantia ou tipo legal de crime: conjunto de elementos (ilicitude, culpa, punibilidade) que
lei tem de referir para que o princípio nnullen crimen, nulla poena sine lege se cumpra e o PDLC:
– normas jurídicas comportamentos proibidos;
– nj's aplicação de lei no tempo/espaço
tipos de erro: dele fazem parte: 1-os pressupostos duma causa de justificação ou exclusão da
culpa; 2- um conjunto de elementos que A deva razoavelmente conhecer para tomar consciência
da ilicitude do facto.
tipos de ilícito: o que resulta dos comportamentos. Conduta típica. É o conjunto dos elementos que
nos leva a afirmar que houve efetivamente 1 lesão a um BJ.
Dois elementos do tipo incriminador. No tipo de ilícito já existe 1 desvalor: só se proíbe aquilo que
é desvalioso.
Desvalor da ação: conjunto de elementos subjetivos que conformam o tipo de ilícito (subjetivo) e
o tipo de culpa, nomeadamente a finalidade delituosa. Crime implica sempre que A tenha violado
um certo valor.
Desvalor de resultado: conjunto dos elementos objetivos do tipo de ilícito e eventualmente da
culpa, que criam um estado juridicamente desaprovado. A causa situação exterior danosa.
ex.: A disparou sobre B mas falhou (violou certo valor) = Desvalor da ação
ex.: A disparou sobre B e matou B (aqui: ação + resultado)
Ambos concorrem para a formação do tipo incriminador. Ambos momentos objetivo e subjetivo
concorrem para o tipo de ilícito. A construção d1 tipo de ilícito exige tanto 1 desvalor de ação
quanto 1 desvalor de resultado – sem prejuízo de casos em q o desvalor da ação predomina.
Atenção: quando falamos de desvalor de resultado por oposição ao desvalor de ação, ñ confundir o
resultado com o evento dos crimes materiais. Aqui o resultado afetou o BJ (ñ há forçosamente 1
resultado material). Ex.: A, funcionário público, pede dinheiro a B para agilizar um processo. Basta que A peça para
haver consumação do crime de corrupção – sem que haja resultado material).
O tipo inciriminador usa para descrever as condutas humanas elementos de duas espécies:
elemento descritivo: “quem matar uma pessoa...” -» descrevemos a ação. São realidades materiais
apreensíveis do mundo exterior: matar, subtrair, corpo, etc. Não necessitam de valoração por parte
do intérprete, pois remetem para realidades do mundo social.
elemento normativo: “quem subtrair coisa móvel alheia...” (já requer 1 interpretação j, temos de
recorrer ao dt civil, coisa móvel). Elementos que passam sempre por 1 valoração – cultural ou
jurídica.
Esta é a conceção clássica. Hoje, há quem defenda q todos os elementos devem ser interpretados .
P.Caeiro concorda: por + descritivos que sejam, devem ambos ser interpretados.
Tipos-abertos: tipos a partir de cujo teor ñ se logra deduzir, de forma completa, os elementos
constitutivos do tipo. Têm de ser completados por uma valoração autónoma do aplicador. I.e., há
necessidade de um juízo suplementar para a integração do tipo. Mas é 1 valoração já fora do tipo,
constituindo 1 pura regra de ilicitude. Ex.: abusivamente.
Wezel: todo o tipo incriminador contém já 1 cláusula implícita de inadequação social, excluindo-se
do tipo de ilícito todas as ações que embora forma e contextualmente o preenchessem, ñ estão
fora da ordenação ético-social da comunidade -» adequação social.
154/3a: “o facto ñ é punido...” -» se o meio ñ for censurável. Dá-nos 1 valoração global da conduta. I.e., o
tipo recorre a expressões que transcendem o próprio desenho da conduta proibida.
Ex.: privação da liberdade dos passageiros d1 avião. Mas ao entrar, ñ damos o nosso consentimento? Mas,
como todos os outros consentimentos, é revogável. E se eu pedir para sair a meio da viagem? Posso obrigar
o piloto a aterrar? Piloto recusa. Há 1 juízo de adequação social (faz parte da atuação).
Ex.: Autocarro -» motorista trava a fundo. A dá 1 cabeçada em B, sentado à sua frente. Pertence às regras de
adequação social. Levamos para a adequação social porque ñ preenche o tipo de crime.
Há condutas socialmente adequadas: há 1 âmbito de não direito onde estas condutas se inserem,
não chegando sequer a realizar o tipo de crime.
Vertente objetiva do tipo incriminador. Em qualquer tipo de ilícito objetivo é possível identificar os
seguintes grandes elementos:
1. Autor (agente); 2. Conduta; 3. Bem jurídico = 3 elementos do tipo objetivo
No fundo, qualquer tipo legal de crime deve identificar quem pode ser autor desse crime, deve
descrever a conduta em que o crime se consubstancia e deve referir-se a um certo bem jurídico,
um certo valor, um certo interesse, que está relacionado com a conduta que deve constituir um
tipo de ofensa ao bem jurídico, seja uma lesão, seja uma colocação em perigo desse bem jurídico.
1- AUTOR: quem pode ser autor? Pessoas humanas e entes coletivos. FD justifica assim a resp.
penal das PC's: PC= criação do direito, para que as pessoas possam exercer melhor os seus
interesses. Sua criação = ato de liberdade das pessoas, a qual deve ser acompanhada pelo DP. Ñ há
aqui nada de anormal. A PC ñ vai para a prisão,só multa/suspensão/dissolução. Mas há fortes
razões de política criminal para responsabilizar as PC's. O modelo PT de atribuição do crime às PC's
segue o modelo da responsabilidade derivada (ou hétero): a PC responde pelos crimes praticados
pelos seus representantes em seu nome ou qd nelas ocupem 1 posição de liderança. 11/2a+2b.
Todos os tipos legais de crime devem precisar, de forma clara, quem pode ser autor desse facto
criminoso e aqui distingue-se crimes comuns de crimes específicos:
• Crimes comuns: os crimes comuns são aqueles cujo autor pode ser qualquer pessoa (esta é uma
classificação quanto à pessoa do autor do crime) como os crimes de homicídio, roubo, violação. A
generalidade dos crimes são crimes comuns – aqui há uma precisão muito importante a fazer:
quando se fala em autor não é ao acaso: “os crimes comuns são aqueles cujo autor pode ser
qualquer pessoa”, ñ pressupõem 1 dever especial do agente ou 1 particular qualidade. Todos
temos o dever de ñ matar ninguém. Porquê esta especificação? No âmbito do agente, há uma distinção entre
autor e cúmplice e a caracterização do que é um crime comum faz-se em função do autor: o autor é o senhor do
crime, o ator principal.
• Crimes específicos: os crimes específicos são aqueles cujo autor só pode ser uma certa pessoa
identificada no tipo legal em função de um certo estatuto ou certo dever. Dever especial que
deriva de estatuto.
Exemplo: crime de corrupção (373º/1 CP): este crime é específico porque só funcionários públicos podem ser autores
de um crime de corrupção passiva. Se, por exemplo, um professor aceita um suborno para passar um aluno, ele
poderá ser autor de um crime de corrupção passiva se for um funcionário público, professor numa escola pública, mas
se estivermos num domínio privado já não é assim. Se um médico for um médico do sistema nacional de saúde ele
pode ser autor de um crime de corrupção passiva, no entanto, se for um médico de uma clínica privada, ele já não
pode ser autor deste crime. A delimitação do círculo de autores faz-se através da delimitação de um certo estatuto
profissional. Mas, outras vezes, faz-se através de um certo dever: a lei refere-se a “quem fizer isto”, mas em função de
um certo dever. Por exemplo: art.224º CP – crime de infidelidade patrimonial: quem administrar de forma infiel um
património que lhe esteja confiado comete um crime de infidelidade patrimonial. Só aquele a quem o dever de cuidar
está atribuído é que pode ser autor desse crime, sendo, por isso, um crime específico. Fala-se aqui em crimes
específicos próprios e crimes específicos impróprios:
❖ Crimes específicos puros ou próprios: são aqueles em que o dever integra a fundamentação da ilicitude,
contribuindo para afirmar a própria existência da ilicitude. É o dever em si mesmo que fundamenta ou contribui para
fundamentar o juízo de ilicitude penal. É a necessidade de cumprir o dever que está na essência do tipo de ilicitude. Há
crimes em que a posição ou dever, mais do que acentuar a ilicitude, agrava-a. A conduta só é incriminada em relação a
agentes que tenham um particular dever.
❖ Crimes específicos impuros ou impróprios: crimes que têm na sua base uma matriz similar à de um crime comum,
mas que quando praticado por alguém em especial, veem a sua punição agravada, ou seja, são punidos mais
gravemente como é o caso do crime do art.378º CP: violação de domicílio por funcionário. A particularidade do agente
agrava a responsabilidade penal.
Há uma outra classificação no plano da conduta que diz respeito à existência ou não de uma certa
forma de praticar o facto: crimes de execução livre e em crimes de execução vinculada:
A. CRIMES DE EXECUÇÃO LIVRE: são aqueles em que o tipo legal não exige para que o crime se
consuma uma certa maneira, uma certa forma de execução do facto (por exemplo: crime de
homicídio – pode matar-se por mil maneiras).
B. CRIMES DE EXECUÇÃO VINCULADA: há crimes (nomeadamente crimes de resultado) em que
não é qualquer forma de produção do evento típico que determina a consumação do facto. A
consumação só poderá ser afirmada se a execução for realizada de uma certa forma: o legislador
especifica o modo de execução do facto, reduzindo-o a certas modalidades da realização típica.
Ex.: paradigmático do crime de burla (art.217º CP): o que está em causa na burla é provocar um engano noutra
pessoa de forma a que ela incorra em erro e que, dessa forma, produza um ato que lhe cause prejuízo – é só desta
forma, em que o burlão atue por meio de erro ou engano, que se pode efetivamente incorrer em burla. Portanto, o
tipo legal circunscreve a relevância típica dos atos de prejuízo patrimonial àquelas situações em que o prejuízo
resultou de um engano provocado pelo agente.
3. BEM JURÍDICO: todos os tipos legais de crime para que se possam qualificar como materialmente
legítimos deverão desempenhar a função de proteção de um bem jurídico. BJ = expressão de um interesse
da pessoa ou da comunidade, na manutenção ou continuidade de um certo estado, objeto ou bem em si
mesmo socialmente relevante e por isso juridicamente reconhecido como valioso.
Nesta medida, quando o legislador tipifica uma certa conduta, deve fazê-lo em ordem à proteção de um BJ
porque a proibição é necessária para a proteção do BJ. jurídico. A referência ao BJ é também um elemento
que integra o próprio tipo incriminador. Há que perceber qual foi a intenção do legislador ao prever aquela
conduta que descreve como um crime:
- em 1º lugar, tem de se descortinar qual é o BJ. Para além disso, qual a relação entre a conduta e o bem
jurídico a que o legislador quis fazer referência: quando ele proíbe o comportamento, que tipo de ofensa é
que ele estava a pensar, o que é que ele pretendeu proibir? Não basta identificar o bem jurídico, é
fundamental, na compreensão do tipo incriminador, perceber qual foi a ofensa ao bem jurídico que o
legislador quis prevenir.
E há diversos tipos: ofensas em que o bem jurídico é lesado, destruído ou danificado e há aquelas ofensas
em que o bem jurídico não chega a ser posto em causa diretamente, é apenas ameaçado, posto em perigo.
Daí que se fale em crimes de dano e em crimes de perigo.
A. CRIMES DE DANO: são aqueles que lesam 1 BJ. Exs.: homicídio, furto, ofensa à integridade física... O
legislador, nos crimes de dano, aguarda que o dano se processe para punir o agente e, nessa medida, a
proteção é uma proteção de ultima ratio em que o bem jurídico já está destruído e, consequentemente, a
pena é mais grave.
B. CRIMES DE PERIGO: o legislador não se limita a punir as condutas que lesem o bem jurídico, punindo
também os comportamentos que o ponham em perigo. Os crimes de perigo representam uma tutela
antecipada. Podem ser divididos em crimes de perigo concreto ou crimes de perigo abstrato:
– crimes de perigo concreto: são aqueles em que o perigo faz parte do tipo. Ou seja, é preciso mostrar
que o bem jurídico esteve efetivamente em perigo. Por exemplo: crime de exposição ao abandono
(art.138º CP) e crime de condução perigosa (art.291º CP).
-crimes de perigo abstrato: são aqueles em que o perigo é a motivação da proibição, ou seja, são aqueles
crimes em que o perigo não faz parte do tipo incriminador, sendo o simples motivo da proibição. Assim,
proíbe-se aquele comportamento porque ele é, em si mesmo, perigoso para o bem jurídico e proíbe-se
mesmo que daquele comportamento não resulte uma lesão. I.e.: há 1 presunção que a conduta é sp
perigosa; tem de se tratar d1 BJ altamente relevante, claramente identificado e a conduta tem de estar
definida com precisão. – exs.: crime de condução em estado de embriaguez. (art.292º CP).
Os crimes de tipo abstrato representam uma intervenção penal muito antecipada e isto pode levar a pôr em
causa a natureza de ultima ratio do direito penal. Ora, nestes casos, o bem jurídico não chega a estar em
perigo e, por isso, é muito discutida a legitimidade constitucional dos crimes de perigo abstrato. Por isso é
que surgiram os crimes de aptidão que são crimes em que é preciso demonstrar a efetiva idoneidade
daquela conduta para pôr em causa o bem jurídico: estamos perante tipos legais em que o legislador faz
assentar a conduta numa idoneidade para pôr o bem jurídico em perigo. São condutas concretamente
perigosas. Um crime de aptidão tipifica uma conduta que, em si mesma, é perigosa para o bem jurídico em
causa (por exemplo, crime de fraude fiscal – art.103º RGIT).
Podemos ter ao mesmo tempo:
– crimes formais q são crimes de dano – há lesão do BJ e um crime. Ex: violação de domicílio
– crimes formais q são crimes de perigo: ñ exige qualquer resulatado. Ex: condução sob o efeito de álcool
– crimes materiais q são crimes de dano: são a generalidade. Ex: homicídio
– crimes materiais q são crimes de perigo: pune-se o resultado de perigo. Ex: 291º
Ex.:A dá 1 murro nos dentes de B; B -» HUC; C ateia incêndio nos HUC -» B morre. A quis esmurrar B, não matá-lo. C
interrompeu o nexo causal da conduta de A. C intrometeu-se. Início da ação: murro de A ---» resultado esperado: lesão
de B; C intromete-se a meio da linha, e corta-la; a A só pode ser imputado o crime de ofensa à integridade física. Pelo
1º degrau, A seria o causador da morte de B. 2º degrau corrige a causalidade: ñ é normal 1 murro nos dentes d1 3º
causar a sua morte. C interrompeu o nexo causal.
→ Esta teoria não está consagrada no nosso código, mas há um artigo que parece indiciar que é essa a
teoria seguida por nós – art.10º CP. Não temos nenhuma norma no código que nos dê a teoria da causalidade. Fala-se assim
num critério de omissão. Por exemplo: imaginemos que uma mãe deixa de alimentar um bebé e o bebé morre. Ela cometeu um
crime de homicídio? Sim, crime de homicídio por omissão. Este art.10º CP equipara estas omissões às ações. Quando alguém tem o
dever de impedir um resultado, a omissão desse dever de garante é equiparável à ação adequada a produzi-lo.
Trave -mestra do 2º degrau: limitar a imputação do resultado àquelas condutas
das quais derive um perigo idóneo de produção dum resultado.
A potenciação do risco
A conduta de A aumenta ou potencia o risco já existente =» piorando a situação do BJ ameaçado.
Perigo já criado: A dá a morte a B, moribundo, nos HUC. O resultado morte é imputado a A pq aumentou o risco da
morte de B.
Outro ex.: carro mal estacionado. A parte o vidro de uma janela; B passa e parte mais 2. B aumenta ameaça ao BJ.
Ex.: Processo causal de salvamento: comportamento do nadador-salvador afasta/impede/diminui as hipóteses de
salvamento d1 BJ em perigo. -» banhista em perigo, perigo de afogamento; A, nadador-salvador, atira-se à água mas
esquece-se da bóia. A potenciou o BJ em perigo.
Produção de resultados não cobertos pelo fim e pelo âmbito de proteção da norma
Por isso, conclui-se que, no fim de contas, só teremos verdadeiramente 3 regras que levam à exclusão do
resultado da imputação objetiva:
– o risco permitido
– a diminuição dorisco
– comportamento lícito alternativo
Na causalidade hipotética ou causalidade virtual o que está em causa é o resultado ser produzido por uma
atuação independente do agente, ou seja, uma ação de terceiro ou por um acontecimento natural. Por
exemplo: se A não tivesse matado B em pleno voo, B teria morrido na mesma, por bomba a bordo colocada
por C que explodiu. Portanto, nos casos de causalidade virtual há efetivamente imputação do resultado
àquela conduta porque ela não é relevante, nem nunca poderia ser porque se admitíssemos a sua
relevância estaríamos a admitir que, em última instância, nunca se poderia punir o crime de homicídio, uma
vez que vamos todos morrer um dia. Assim, não é por se provar que o resultado se iria sempre produzir por
outro qualquer fator que se exclui a imputação do resultado àquela conduta – o agente é efetivamente
culpado porque produziu o facto ilícito.
A questão a colocar é a de saber se deve conferir-se algum relevo jurídico-penal à causa hipotética ou
virtual. A doutrina dominante responde com uma rotunda negativa. Mas a resposta a dar parece dever ser
eu, mesmo à luz de uma função de tutela subsidiária bens jurídicos, continua a ter sentido não abandonar o
bem jurídico à agressão do agente só porque aquele já não pode, em definitivo, ser salvo. Obviamente este
princípio deva ser temperado, na sua consequência final para a responsabilização do agente, em certas
hipóteses. Mas não é por se provar que o resultado sempre se teria verificado por outra circunstância que
não se imputa o resultado à conduta.
No exemplo apresentado, não faria sentido abandonar o BJ 'vida de B'.
P.Caeiro: a questão aqui é o inverso da questão comportamento lícito alternativo: A causou o resultado a B;
esse resultado, noutro tempo/noutra condição, seria com certeza causado ou por um evento natural ou por
ação de C.
A, hospedeira, vê no avião seu inimigo B; põe-lhe 1 veneno na bebida. B morre; avaria no avião; cai; morrem todos.
Questão é: se este evento natural deve excluir o resultado causado por A?
Não! A causa virtual não tem relevância, pelo que o resultado deve na mesma ser imputado à ação.
É irrelevante se a morte vier a ser produzida em outras circunstâncias. Isso não afeta a imputação do
resultado e, portanto, a causa virtual não tem relevância.
– no caso dos pincéis, o agente limita-se a não obstar o processo causal que vai causar o resultado -»
comportamento ilícito alternativo;
– no caso da hospedeira, esta causa efetivamente um resultado morte -» relevância negativa da
causa virtual
14º O TIPO SUBJETIVO DE ILÍCITO
a) DOLO DIRETO:
• Estamos perante dolo direto intencional ou de primeiro grau (artigo 14.º/1) quando o agente, estando
certo da verificação da factualidade típica, age com intenção de praticar o facto. No dolo intencional temos
uma situação em que o agente tem um conhecimento seguro de que da sua conduta irá resultar
necessariamente uma consequência e atua com intenção, com vontade direta de levar a cabo essa conduta.
Há situações em que o agente sabe que da sua conduta vai advir certa consequência ou certo cenário típico,
não que o deseje, mas aquilo representa um pressuposto para aquilo que ele deseja. O facto aparece como
pressuposto necessário da prossecução da finalidade do agente, que o instrumentaliza.
• Por sua vez, estamos perante dolo direto necessário ou de segundo grau (artigo 14.º/2), quando o facto
típico não é pressuposto, mas apenas consequência do facto típico praticado. Por exemplo: pôr uma bomba
num avião para matar B, matando-se os outros passageiros por acréscimo.
b) O DOLO EVENTUAL:
Os casos de dolo eventual (artigo 14.º/3) caracterizam-se pela circunstância de a realização do tipo objetivo
de ilícito ser representada pelo agente “como consequência possível da conduta”.
No dolo direto o agente sabe que a factualidade típica vai acontecer, representa a realização da factualidade
típica como certa, segura, altamente provável. Já no dolo eventual, o agente não está absolutamente seguro
de que o resultado se vai produzir, apenas admitindo a possibilidade. Assim, o dolo eventual contrapõe-se
ao dolo direto no plano da representação do facto e à negligência consciente, que lhe está próxima pelo
facto de também ela supor aquela representação da realização típica como consequência típica da conduta
– artigo 15.º/a).
Há certos tipos legais de crime em que a lei circunscreve a relevância típica somente aos casos de dolo
direto, porque se exige que o agente represente o facto como seguro. Portanto, são crimes que não
admitem uma realização a título de dolo eventual.
4. DOLUS GENERALIS
Consiste nos casos em que o agente pratica um conjunto de ações para atingir o resultado, mas a ação que
produz o resultado não é aquela que ele julga que verdadeiramente o produz – por exemplo, o agente
quer matar alguém e dá uma pancada na cabeça desta pessoa para a matar; julgando que já está morta,
pendura-a pelo pescoço a uma corda para simular um suicídio. Posteriormente descobre-se que o motivo
da morte foi asfixia e não a pancada. Se estes dois factos foram planeados antecipadamente, parece que de
facto existe a possibilidade de afirmar o dolo em relação ao processo causal e à morte.
Nos casos em que o resultado ocorre não na primeira, mas sim na segunda ação, ao contrário do que o
agente teria pensado (por exemplo A que quer matar B, mas antes dá-lhe uma grande dose de anestesia
para que este não sinta dor; contudo devido a uma reação alérgica muito rara, B morre de imediato após
levar a anestesia), o Dr. Figueiredo Dias diz que se deve afirmar o dolo se o agente não percebe a morte e
ainda pratica o segundo ato com intenção de a matar.
O Dr. Pedro Caeiro diz que o ato que efetivamente produz a morte, o resultado não é imputável ao agente,
pois trata-se de uma alergia rara. Neste caso, resolver-se-ia o problema através da imputação objetiva
excluindo o resultado, pois não basta querer um resultado para que este seja imputável ao agente.