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DIREITO P ENAL I│2019/2020

AULAS P RÁTICAS
03/10/2019

Aula de apresentação.

ritalf@gmail.com

17/10/2019

Função do direito penal:

✓ Proteção subsidiária de bens jurídicos. Isto distingue o DP de todos os outros ramos do direito, como
o direito civil, administrativo.
✓ O DP tem especificidades na proteção de bens jurídicos.
✓ Este entra em última ratio e é o mais gravoso. 1
✓ O direito penal é subsidiário numa intervenção de uma situação que já é subsidiária. É o último recurso
a qual se recorre quando temos um conflito.
✓ Qual é a razão pela qual a proteção dada aos bens jurídicos pelo DP é subsidiária? Devido ao facto
de poder privar da liberdade. Os outros ramos do direito podem privarmo-nos do património, executar
os nossos bens e retirar aquilo que for necessário. Por exemplo, tenho de pagar uma coima dá-se
origem a um processo, mas não tenho bens e não tenho como pagar, não tem nada que se possa fazer
para que eu possa cumprir a minha obrigação. No DP se tenho de pagar uma multa, subsidiariamente
posso sempre ficar sem a minha liberdade. Temos de ter atenção que a liberdade é um DLG.
✓ Como é que a proteção de bens jurídicos subsidiariamente é feita? O legislador dá-nos uma definição
dos que são proibidos, aqueles que lá não estão são permitidos- princípio da taxatividade.

Direito penal em sentido objetivo: temos um conjunto de normas que são proibidas chamadas de crimes e
esses determinados comportamentos proibidos têm uma sanção própria deste ramo do direito que são penas.

✓ Onde estão essas normas? No CP, mas não só no CP; temos também a legislação penal avulsa (com
cada vez mais importância).

ATENÇÃO: A linguagem do DP já é utilizada no senso comum, mas muitas vezes não com o sentido correto.

O direito não se esgota nisto apenas, nos crimes. Para falarmos de um crime temos necessariamente de
presumir que a pessoa que comete aquele facto é capaz de culpa, pois é um pressuposto de crime. Para existir
crime é necessário que exista culpa, mas no caso dos inimputáveis estes não tem culpa- podemos decretar
uma medida de segurança.

Assim, já falamos de dois tipos de reação ou sanção penal, as penas e as medidas de segurança. Temos ainda
uma terceira reação ou sanção penal, as penas relativamente indeterminadas.

Direito penal no sentido subjetivo: ius puniendi (direito de punir) quem tem este direito é o estado, quando
as pessoas cometam um facto que está definido como um crime.

✓ Em DP não devemos falar em partes, falamos em agentes dos factos que podem ser suspeitos, depois
são arguidos, condenados, mas não temos réus (aqui é enquanto arguido).
o Não temos a contraparte temos a vítima ou arguido ou ofendido. Não é um processo de
partes.

DP é um ramo de direito público ou privado?

✓ É de direito público. O estado intervém como regulador.


✓ O DP português não é um direito vocacionado para proteção da vítima, é mais para a descoberta da
verdade. Não se confunde com os ramos de direito privado.

Mariana Freitas
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Quando falamos em DP fala-se numa noção de ação típica ilícita. A partir desta ideia vamos estudar o princípio
da unidade da ordem jurídica. Neste sentido podemos falar em princípio da unidade da ordem jurídica
unilateral, tudo o que é ilícito para o DP é necessariamente ilícito para os outros ramos de direito. Tudo o que
chega a ser ilícito no DP tem que ser ilícito nos outros ramos. Mas nem tudo o que é ilícito para os outros
ramos é ilícito para o DP.

A relação do direito penal com outras figuras:

✓ O DP é um direito estadual.
✓ Temos ainda a legislação não nacional- estatuto do tribunal penal internacional.
✓ Também a legislação europeia. Encontramos na nossa legislação, influencias que provem do direito
da união europeia e que precisamos de adaptar a legislação portuguesa.
o O DP europeu tem uma grande influencia, mas nunca conseguimos a unificação do DP. 2
o Temos cada vez mais uma harmonização penal, aquilo que se procura é que não haja grandes
discrepâncias entre os direitos penais. O CP com a reforma de 2007 introduziu grandes
mudanças principalmente ao nível do direito penal sexual, em função do caso casa pia.
✓ Temos direito estadual que vem de influência externa, desde logo temos o art. 8º CRP.

Relação entre o DP e o direito constitucional:

✓ Para o Dr. Figueiredo Dias, sendo a doutrina maioritária, o DP em relação à CRP está numa relação
supra-infra-ordenação. Mas com uma característica especial no âmbito do DP pois temos também
uma relação de mútua referência, em que à partida os bens jurídicos protegidos no DP também estão
protegidos no direito constitucional, o DP afirma como os devemos proteger. O DP terá uma certa
autonomia, relativamente ao que irá proibir. O DC está lá a regular os bens jurídicos, o DP tem
autonomia para dizer quando são mais importantes em que época, etc.
✓ O Dr. Faria Costa entende que não existe uma relação infraconstitucional do DP relativamente à CRP.
Se nós dissermos que é infraconstitucional, parece que o DP só pode proteger bens jurídicos que já
estão protegidos na CRP. Exemplo: ofensa à memoria de uma pessoa falecida e crime de maus tratos
de animais de companhia. No 1º caso isto é um crime que tutela um crime de uma pessoa já cá não
está. No 2º caso não encontramos na CRP, temos aqui muita liberdade do DP e ninguém diz que são
inconstitucionais e que não encontram uma correlação com o que está protegido na CRP; é um
exemplo de autonomia do DP relativamente ao DC.

O direito penal e as outras ciências:

✓ O art. 18º/2 CRP diz que o DP priva as pessoas de um DLG neste caso a liberdade. Temos ciências que
ajudam o DP como a criminologia, que estuda o fenómeno do crime de modo transversal. A política
criminal que define porque é que determinados aspetos devem ser crimes e outros não. Nós aqui
estudamos dogmática penal que é o resultado do estudo de todas as ciências.

24/10/2019

Fins das penas

Artigo 40.º - Finalidades das penas e das medidas de segurança


1 - A aplicação de penas e de medidas de segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração
do agente na sociedade.
2 - Em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa.
3 - A medida de segurança só pode ser aplicada se for proporcionada à gravidade do facto e à
perigosidade do agente.

Esta questão das finalidades das penas engloba-se em 2 grandes teorias: as teorias absolutas ou da retribuição
e as teorias relativas ou da prevenção.

Mariana Freitas
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1) Teoria relativas ou da prevenção dos fins das penas
✓ As penas servem para prevenir as práticas de outros crimes.
✓ Quem pode praticar outros crimes? Desde logo o próprio delinquente que comete o crime, porque
quem comete um pode cometer mais. Outra função preventiva também é o facto de evitar que a
generalidade das pessoas cometa o crime, mostrando que o sistema funciona e que as pessoas são
efetivamente penalizadas pela realização de x crime.
o O primeiro efeito preventivo, sobre o próprio delinquente, chama-se prevenção especial.
o A prevenção na generalidade das pessoas é a prevenção geral. Ressalva-se, nesta teoria, a
pessoa em si - perspetiva de segurança da sociedade.
2) Teorias absolutas ou da retribuição dos fins das penas
✓ Não podemos dizer que não temos finalidades retributivas dos fins das penas.
✓ O Dr. Faria Costa defende as finalidades absolutas quanto aos fins das penas. 3
✓ Mas não está sozinho, mesmo na Alemanha ou em Portugal vamos encontrando algumas
manifestações, como o Dr. Lourenço Martins, onde defende estas mesmas finalidades. Para o Dr.
Figueiredo Dias o que encontramos no CP de forma clara são finalidades de prevenção numa
perspetiva positiva.
❖ Quanto às finalidades de retribuição:
o Pensa-se que tem a ver com castigo ou uma preocupação que não tem em vista o futuro,
mas apenas um castigo por aquilo que aconteceu no passado.
o Quando aplicamos uma pena com uma ideia retribucionista é apenas castigar a pessoa,
olhamos apenas para o passado.
o Atualmente, não se entende que isto é uma doutrina despromovida de finalidades para o
futuro. O que estamos a fazer é compensar o mal do crime, permitindo ao agente readquirir
o seu estatuto dentro daquela comunidade. Para esta teoria é claro que a pena é uma forma
de o agente recuperar a sua dignidade.
o Para o Dr. Faria Costa, a pena é a oportunidade que a pessoa tem de voltar a ter uma relação
com os membros da comunidade; se cumpre a pena, ela recupera a possibilidade de se
relacionar com os membros da comunidade; a pena é um direito pessoal e intransmissível do
condenado.
o Num plano da filosofia do direito penal a aplicação daquela sanção tem uma aplicação
positiva.
o As doutrinas absolutas são doutrinas que nos trouxeram coisas boas, por exemplo, uma ideia
de proporcionalidade (só vou responder na estrita medida do mal que pratiquei). Por outro
lado, temos outro princípio que nos chega de acordo com esta doutrina: o princípio da culpa-
é o início da ideia de culpa, para as doutrinas da retribuição, o princípio da bilateralidade da
culpa (doutrina absolutas) e o da unilateralidade (doutrinas relativas) - é o advento da
importância da culpa quando estou a ser punida por determinado facto.

Para as doutrinas absolutas- bilateralidade da culpa- a culpa é um:

✓ Pressuposto da culpa: deixa de ser possível eu sofrer uma pena relativamente a um facto de que não
tive culpa. Se não tenho culpa não posso sofrer uma pena de DP.
✓ Limite: não posso sofrer mais pena do que a culpa que apresentei no momento em que violei uma
determinada norma. A culpa é o limite da aplicação da pena.
✓ Fundamento: sempre que temos uma situação onde existe culpa, inevitavelmente temos uma pena.
✓ Medida: ser medida não é ser limite; a medida é a exata proporção. A pena é igual a culpa. Não temos
pena sem culpa, mas também não pode haver culpa sem pena.

Para as doutrinas relativas- unilateralidade da culpa- falamos em prevenção geral e prevenção especial.

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✓ Prevenção geral: significa que o juiz no momento em que aplica a pena, tem no horizonte das suas
preocupações exclusivamente a comunidade. Aqui temos prevenção geral negativa e positiva:
o Negativa ou de intimidação: remete para os membros da comunidade que poderiam cometer
um crime. É a mais criticada porque se diz que esta doutrina faz uma coisa que não é
expectável do direito moderno, realiza a instrumentalização do agente para servir de exemplo
à comunidade.
o Positiva ou de integração: não é integração do agente, é algo que tem a ver com a
comunidade. Quando falamos de prevenção estamos a falar de integração de que? Integração
da norma jurídica que foi violada pelo agente.
▪ Num plano mais filosófico, no momento em que foi cometido o crime, este fragiliza
essa norma para o OJ, é preciso alguma coisa que restitua a norma, a pena quando é
aplicada; é a pena que vai mostrar a comunidade que a norma mantem toda a força 4
no OJ interno; aquela comunidade vai precisar de uma sanção maior quando a
violação da norma for maior.
▪ Exemplo: uma pessoa vai a conduzir com excesso de álcool e matou alguém, vou
aplicar uma pena menor do que a uma pessoa que estava mesmo com intenções reais
de matar a pessoa; a culpa deste segundo agente obriga-me a aplicar uma norma
maior.
✓ Prevenção especial: já estou a olhar para o agente e não para a comunidade; também temos uma
positiva e negativa.
o Negativa ou ideia da prevenção de segregação: o melhor é retirar o condenado para impedir
que ele contamine os membros a sua volta. O tempo que se entende que a pessoa tem de
estar afastada.
▪ Críticas: No caso dos negligentes inconscientes, estes não imaginaram que isso ia
acontecer.
o Positiva ou ideia de ressocialização: a ressocialização estamos a lidar com pessoas a quem
vamos aplicar a pena, e esta é a primeira oportunidade de socialização.
▪ A ressocialização é um direito do condenado e uma obrigação do estado.
▪ Exemplo: eu posso ser condenado a uma pena de prisão, e eu não quer ressocializado;
não se pode aplicar castigo a alguém que não quer ressocializar (é um direito do
condenado e o dever do estado de ressocializar).

Quanto as finalidades adotadas no OJ, art. 40º/1 CP: “A aplicação de penas e de medidas de segurança visa
a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade”.

✓ Para quem defende que este artigo traduz a opção quanto as finalidades das penas:
o 1 ª parte do artigo- prevenção geral positiva.
o 2ª parte do artigo- prevenção geral negativa.
✓ A interpretação que se faz do artigo:
o Dr. Faria Costa refere que este artigo tem uma evidência, que a função do DP é a proteção
dos bens jurídicos e claro a reintegração da comunidade.
o Todos os autores o aceitam, mas fazem uma interpretação diferente dele.

Art. 40º/2 CP: “Em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa”- A culpa não é a medida da pena;
a culpa é o limite da pena- não dá para aplicar mais pena do que culpa que o agente tem (não se pode aplicar
mais do que aquela pena, mas podem aplicar menos).

Quanto ao princípio da unilateralidade da culpa, só num sentido porque?

✓ A culpa é pressuposto e limite da pena, mas não fundamento ou sua medida. Defendida por
Figueiredo Dias.

Mariana Freitas
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✓ O pressuposto e o limite são os mesmos do que a bilateralidade da culpa. Não pode haver pena sem
culpa, nem mais pena do que culpa.
• A culpa não é fundamento nem medida, é possível existir uma pena inferior a culpa e até é possível
que exista culpa e não exista pena.
• O art. 74º CP é um forte argumento no sentido em que em PT temos um código voltado para as
doutrinas da prevenção.

O art. 40º/3 CP fala também das medidas de segurança: “A medida de segurança só pode ser aplicada se for
proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente”.

✓ Tudo aquilo que vale para as penas aplica-se as medidas de segurança, mas com umas pequenas
mudanças.
✓ Nas medidas de segurança não temos culpa; são para inimputáveis; existe a perigosidade do agente 5
e é em função desta que vão ser aplicadas estas medidas. Nas penas temos a culpa.
✓ A prática de um facto típico ilícito é condição sem a qual não posso aplicar uma pena, nem uma
medida de segurança.
✓ A culpa é aferida no momento da prática do facto. No caso da perigosidade não se esgota no facto,
o facto é mero incidente para eu olhar para a perigosidade, temos também de ter em atenção a
perigosidade no momento da condenação.
✓ A medida de segurança só terá fundamento se o agente tiver manifestado perigosidade na prática do
facto, mas também na condenação.
✓ Ainda neste artigo temos uma ideia de proporcionalidade em função da gravidade do facto e da
perigosidade do facto.
✓ As bases para a aplicação da medida de segurança são praticamente as mesmas das penas, mas em
proporções diferentes.
o Quando aplico uma pena primeiro penso na comunidade.
o Na medida de segurança primeiro tenho uma preocupação com o agente e só depois com a
comunidade. Esta é a regra.
▪ A exceção vamos encontrar no art. 91º/2 CP.
• O nº1 estabelece o que são os pressupostos da medida de segurança.
• O nº2 “quando o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime
contra as pessoas ou a crime de perigo comum puníveis com pena de prisão
superior a cinco anos, o internamento tem a duração mínima de três anos,
salvo se a libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e
da paz social”- ou seja, significa que no caso de factos qualificados como crime
praticados pelo inimputável nestes casos independentemente das
necessidades de prevenção especial do agente, as exigências de prevenção
geral exigem que a pessoa fique internada pelo menos 3 anos; só pode sair
antes se a prevenção geral já estiver assegurada (inversão da regra).
✓ QUESTÃO: A solução para as medidas de segurança é diferente para a solução das penas, porquê?
Porque é que nas medidas de segurança olhamos mais para o agente e nas penas para a comunidade?
o A pena serve para a reintegração da norma no OJ.
o A comunidade em geral não se identifica com os factos praticados pelo inimputável, por isso
a violação da norma não é da mesma forma entendida quando é violado por um inimputável
ou por um cidadão normal. Existe uma maior fragilidade da comunidade quando o facto é
praticado por um inimputável.

Deste modo, não podemos dizer que uma pessoa é imputável ou inimputável para toda a vida, esta é
inferida a cada facto e a cada altura. O normal é termos de recorrer a um perito para inferir da imputabilidade
ou da inimputabilidade do indivíduo. Portanto, podemos ter pessoas que são imputáveis num determinado
momento da vida e vice-versa, no caso de inimputável. Exemplo: cleptomaníaco (ficar com bens que não são

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seus, ainda que não tenha necessidade de o fazer); uma senhora furta uma lima das unhas e tira esta, só que
depois de levar esta, como está com a adrenalina em alta, mata uma pessoa, é inimputável para o furto da
lima das unhas, mas é imputável para a outra, no caso de matar a pessoa; nestes casos temos a mesma pessoa
com características de imputabilidade para uma inimputabilidade para a outra.

31/10/2019

Vicariato na execução

✓ Previsto no art. 99º CP.


o Nº1: “a medida de internamento é executada antes da pena de prisão a que o agente tiver
sido condenado e nesta descontada”.
o Exemplo: Uma pessoa comete o crime de furto deve ser punida com 1 ano de internamento, 6
mais ofensas a integridade física pelo qual deve ser punida com 2 anos de prisão. O CP diz que
esta pessoa deve cumprir um ano de internamento mais um ano de prisão.
▪ No caso concreto pode não cumprir o ano prisão o nº2 do art. 99º CP: “logo que a
medida de internamento deva cessar, o tribunal coloca o agente em liberdade
condicional se se encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena e a
libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social”.
o Exemplo: Em vez de 2 anos de prisão ser 3 anos de prisão e 1 ano de internamento (é
inimputável). No mínimo ele ficava 1 ano de internamento e depois sai do regime de
internamento e passa para a prisão. Ele tinha de cumprir 2 anos de prisão, mas quando estiver
cumprida metade do tempo do tempo de prisão pode sair em liberdade (metade de 3 é 1,5).
Por isso, ficava apenas 1 ano e meio.

Não se confunde com a figura da pena relativamente indeterminada com o vicariato na execução (aqui o
agente pratica um facto que é inimputável e outro que ele é culpado). No primeiro pratica apenas um facto
ilícito. Não é possível aplicar-se a um agente, pelo mesmo facto, uma pena de prisão e uma medida de
segurança de internamento. Qualquer combinação é possível menos quando ambas, a pena de prisão e a
medida de segurança são privativas da liberdade.

À partida somos monistas e o vicariato na execução não põe em causa, porque temos dois factos ilícitos.

✓ O que realmente limita o sistema e nos leva a diz que o nosso sistema é tendencialmente monista, é
a pena relativamente indeterminada (art. 83º, 84º e 85º CP). Utiliza-se tendo um agente que pratica
um facto e ao qual aplicamos uma pena relativamente indeterminada que não é a soma de medida de
segurança com pena- tem características de ambas, mas não é uma soma.

Pressupostos das penas relativamente indeterminadas:

✓ O agente comete um crime doloso ao qual se aplica uma pena de prisão de 2 anos e apercebemo-nos
que já cometeu 2 ou mais crimes dolosos, a cada um dos quais se aplicou uma pena de prisão superior
a dois anos.
o Nestes casos temos delinquentes por tendência.
o Ponderamos aqui a pena relativamente indeterminada.
✓ Art. 83º/2 CP: “a pena relativamente indeterminada tem um mínimo correspondente a dois terços da
pena de prisão que concretamente caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta
pena acrescida de seis anos, sem exceder vinte e cinco anos no total”.
o Diz que a pena relativamente indeterminada é aplicada do seguinte modo, em vez de ele ser
condenado a 12 anos de prisão como ele é delinquente por tendência; vamos aplicar esta
pena, dois terços de 12 anos, logo 8 anos no mínimo. Mais 12+6 que dá 18 anos no máximo.
Deste modo temos uma pena relativamente indeterminada de 8 a 18 anos.

Mariana Freitas
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QUESTÃO: Porque não aplicamos uma pena e uma medida de segurança? Porque aplicamos apenas uma
sanção, que é a pena relativamente indeterminada.

✓ Não estamos a aplicar uma pena de prisão e uma medida de segurança, por isso, somos só
tendencialmente monistas. Por isso, seguimos uma terceira via, há partida aplicamos sempre uma
pena e uma medida de segurança ao agente e excecionalmente aplicamos a figura da pena
relativamente indeterminada.

De acordo com o exemplo anterior:

✓ Dizemos que dos 8 aos 12 anos (o tempo que ele teria; limite), dizemos que ele está a cumprir pela
sua culpa; não podemos ter uma pena superior a culpa- princípio da culpa.
✓ Dos 12 aos 18 anos, justificamos pela sua personalidade e com uma certa ideia de perigosidade, mais 7
típica da figura das medidas de segurança. Não é uma pena mais uma medida de segurança, é uma
figura que reúne características das duas.

NOTA: se nos aparecer no caso prático temos de um elenco de condenações, por crimes dolosos, por mais de
2 anos, temos de saber que o agente cometeu um outro facto também ele doloso e ao qual tem de ser aplicada
uma determinada pena.

Exemplo: Temos A que cometeu um crime pelo qual foi condenado a 18 anos de prisão, outro a 15 anos de
prisão. Agora outro que deve ser condenado a 21 de prisão. Como calculamos a pena relativamente
indeterminada. Dois terços de 21 é 14. O máximo era 21 + 6 que dava 27, mas não pode ultrapassar os 25. A
partir dos 21 anos já seria pela perigosidade. Antes era pela sua culpa.

Art. 76º/2 CP “as disposições respeitantes à pena relativamente indeterminada, quando aplicáveis,
prevalecem sobre as regras da punição da reincidência”: quando a mesma situação poder ser resolvida por
uma pena relativamente indeterminada ou por uma reincidência, resolve-se sempre pela pena relativamente
indeterminada.

Art. 84º CP: refere que é possível aplicar a pena relativamente indeterminada, quando o agente tenha
cometido 4 crimes dolosos, mais um crime. Neste caso a pena relativamente indeterminada tem um mínimo
que continua a ser 2 terços, mas no máximo vamos somar 4 anos.

Art. 85º CP- no cado de o agente ter menos de 25 anos:

✓ 1 — Se os crimes forem praticados antes de o agente ter completado 25 anos de idade, o disposto nos
artigos 83.º e 84.º só é aplicável se aquele tiver cumprido prisão no mínimo de um ano.
✓ 2 — No caso do número anterior, o limite máximo da pena relativamente indeterminada corresponde
a um acréscimo de quatro ou de dois anos à prisão que concreta

Dualismo e monismo:

✓ Dualismo: quando podemos aplicar ao menos agente pelo mesmo facto, uma medida de segurança e
uma pena, ambos privativos da liberdade.
✓ Monistas: não podemos aplicar pena e medida de segurança pelo mesmo facto ao mesmo agente.
❖ Somos tendencialmente monistas: porque também admitimos a aplicação das penas relativamente
indeterminadas.

Princípios:

✓ Princípio da culpa
✓ Princípio da unidade da ordem jurídica
✓ Princípio da tipicidade

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✓ Princípio da fragmentariedade penal: o DP é fragmentário; podemos falar de fragmentariedade no
1º grau e no 2º grau.
o 1º grau: nem tudo é um bem jurídico com dignidade penal. Uma vez que determinadas
situações não se está a proteger nenhum bem jurídico que seja relevante ao ponto de pôr em
causa a liberdade de uma pessoa. Temos uma seleção dos essenciais para o viver comunitário,
ou seja, o mínimo para a comunidade viver em organização. A escolha dos bens jurídicos
atendendo aos critérios de necessidade, adequação, dignidade devem ser bens jurídicos
protegidos pelo DP.
o 2º grau: é de entre os bens jurídicos que já chegamos a conclusão que são mais importantes,
mas nem todas as formas de lesão destes bens jurídicos são de tal forma impactante que o DP
tenha de agir contra aquele agente:
▪ Exemplo: quando falamos em a ofensa à integridade física, há determinados lesões 8
que são tão pequenas que não são tuteladas pelo DP.

Podemos proteger os bens jurídicos de diferentes modos- mas existem 2 modalidades de crime:

✓ Crimes de dano: crimes em que nós vemos que o bem jurídico foi danificado. Exemplo: homicídio.
✓ Crimes de perigo: o DP intervêm quando existe o perigo de ocorrer esse dano:
o Crimes de perigo concreto: exemplo: art. 138º CP- crime de exposição ou abandono (a criança
foi colocada pelo agente a uma situação de perigo).
o Crimes de perigo abstrato: perigo de colocar em perigo o bem jurídico. Exemplo: conduzir
alcoolizado. O agente é punido mesmo não tendo existido um crime concreto; são suposições.
Art. 292º CP.

Limites do DP

O DP tem várias ciências que são muito semelhantes na forma como são vistas pela comunidade. Exemplo é o
das contraordenações. Nesta distinção entre o DP e o direito de mera ordenação social, é mais qualitativo do
que quantitativo.

✓ Coima pode ser aplicada pelas entidades administrativas e os tribunais. A pena é apenas pelo tribunal.
✓ Em termos de cumprimento da sanção, uma apenas em termos pecuniários. Outra com a execução do
património e provação da liberdade.
✓ Os bens jurídicos mais relevantes são protegidos pelo DP- o mesmo bem jurídico é protegido quer
pelas contraordenações quer pelo DP.

Na realidade ambas tem muitos pontos que a separa. Permitem fazer a análise da criminalização e da
descriminalização. A descriminalização acontece quando o legislador entende que algo é considerado crime,
deixa de o ser. Mas em vez de passar a ser nada, deixa de ser crime para ser contraordenação. O contrário
também acontece, deixando de ser “nada” pode passar a ser crime.

07/11/2019

Aplicação da lei penal no tempo

Artigos fundamentais: art. 29º CRP; art. 2º e 3º CP.

Artigo 3.º CP- Momento da prática do facto

O facto considera-se praticado no momento em que o agente atuou ou, no caso de omissão, deveria ter
atuado, independentemente do momento em que o resultado típico se tenha produzido.

O art. 3º CP refere quando é que um facto se considera praticado. Para ter um facto punível podemos ter
uma ação ou uma omissão. À primeira vista não são impactantes para o direito penal, a ação ou omissão; só

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por si não tem impacto; aquilo que tem impacto é a ação ou omissão temos depois de juntar características
como a culpa e a ilicitude. Exemplo: crime de omissão de auxílio: não exige um resultado, deveríamos ter
atuado e não atuei. O homicídio por omissão, uma senhora tem um bebé está obrigada a alimentar o bebé,
mas não o faz porque não quer fazer, ela não fez nada e estava obrigada faze-lo.

Quanto ao princípio da legalidade, cujo conteúdo essencial se traduz em que não pode haver crime, nem pena
que não resultem de lei prévia, escrita, estrita e certa.

O princípio geral em matéria de aplicação da lei penal no tempo: princípio da legalidade, art. 1º CP. Com
base neste temos surgem 4 princípios:

✓ Princípio da irretroatividade da lei penal (in malem partem):


o Princípio da irretroatividade da lei penal, eu não posso hoje criar uma lei para punir um 9
comportamento de um agente de ontem ou de há um mês. Esta ideia para prejudicar o agente
penal é inadmissível.
o Vamos ter de associar a culpa, eu preciso de ter a certeza de que o agente estava em condições
de perceber se aquilo era permitido ou não.
o Esta não vale de forma absoluta, significa se retroativamente for bom para o agente, então
podemos aplicar a lei- admite-se a retroatividade. Quando a aplicação retroativa da lei penal
é favorável ao agente.
✓ Princípio da proibição da analogia (in malem partes): Eu não posso admitir a analogia no DP, também
traria indeterminação para o agente. A não ser que essa analogia seja favorável ao agente.
o Art. 1º/3 CP: são os casos em que a analogia é proibida. É inadmissível a analogia, prejudica o
agente. São 4 os casos em que o legislador diz que não podemos admitir a analogia. Nas
restantes situações quando é vantajoso vamos admitir.
o Estamos no âmbito de aplicação do direito de última ratio, só aplico o DP quando não há outra
hipótese; se tenho uma norma mais favorável ao agente, é essa que vou aplicar, e não o DP.
✓ Princípio da reserva de lei formal: as únicas entidades com competência para legislar em matéria
penal, atendendo ao art. 18º CRP, são a AR (lei) e o Governo (DL autorizado).
✓ Princípio da determinabilidade da lei penal: significa que quem recebe a lei penal tem de conseguir
perceber de uma leitura mais ou menos normal, aquilo que o legislador pretende; a lei não pode ser
de tal forma que não consiga entender. O princípio segundo o qual a lei tem de ser percetível tanto o
que é permitido, como aquilo que não é permitido.

A lei penal tem de ser- 4 características:

✓ Prévia: princípio da irretroatividade da lei penal.


✓ Estrita: apenas para os casos em que o legislador fixou.
o Exemplo: art. 208º CP- furto do uso do veiculo, eu vou dar uma volta e depois entrego, é crime;
mas se eu fizer a mesma coisa mas não com veiculo, mas com um colar, não cometi crime;
embora a minha conduta seja a mesma, usei uma coisa sem autorização, mas como não está
prevista sanção para o colar, não é crime.
✓ Escrita: não é propriamente “escrever”; significa reserva de lei formal.
✓ Certa: é uma lei determinada, é uma lei que o intérprete médio consegue perceber qual o
comportamento proibido e o comportamento permitido.

O art. 2º CP relativo à aplicação da lei no tempo:

✓ Nº1 é a regra- é a irretroatividade da lei penal.


✓ Nº2: “O facto punível segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma lei nova
o eliminar do número das infrações; neste caso, e se tiver havido condenação, ainda que transitada
em julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais.”
o Diz respeito à descriminalização, na sua 1ª parte.

Mariana Freitas
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o Na 2ª parte diz respeito à execução e aos efeitos penais que cessam.
✓ Nº3: “Quando a lei valer para um determinado período de tempo, continua a ser punível o facto
praticado durante esse período”
o As leis temporárias que valem para um determinado período de tempo, em regra, não
sabemos quanto tempo vai durar; mas há leis que valem para contextos muito específicos e
conseguimos antecipar quanto tempo vai durar, são as leis temporárias em sentido estrito
(são leis para valerem durante um determinado período de tempo).
o Às vezes, a estas situações excecionais, chamados estado factual de exceção, ocorre quando
só tenha a data de início, mas não sabemos quando vai ser o fim. Posso ter uma situação em
que eu tenho o início perfeitamente definido e tenho o fim. Ou pode acontecer que ainda não
esteja completamente normalizado, o legislador altera a lei para uma sanção mais leve. Pode
haver uma alteração dos factos ou uma alteração da consciência do legislador. 10
▪ Quando existe uma alteração das circunstâncias temos de olhar para a lei daquele
momento daquela circunstância.
▪ Quando temos uma alteração da conceção do legislador, vamos aplicar a mais
favorável, podemos escolher de entre as várias leis temporárias aquela que é mais
favorável.
✓ Nº4: “Quando as disposições penais vigentes no momento da prática do facto punível forem diferentes
das estabelecidas em leis posteriores, é sempre aplicado o regime que concretamente se mostrar mais
favorável ao agente; se tiver havido condenação, ainda que transitada em julgado, cessam a execução
e os seus efeitos penais logo que a parte da pena que se encontrar cumprida atinja o limite máximo da
pena prevista na lei posterior”.
o Se no momento da prática do facto aquilo era punido com uma pena de prisão, mas no
julgamento é apenas multa; vamos aplicar o facto mais favorável ao agente. Se eu fui punida
com uma pena de 2 anos, mas existe uma nova lei em que é apenas com 1 ano de pena, vamos
aplicar apenas 1 ano.

Para resolver o caso prático: os passos mais lógicos é ir ao art. 3º e depois ir ao 2º/1, depois são as exceções.

Lei intermédias: não podem ser confundidas com leis temporais. Estas são as leis que ainda não
estavam em vigor no momento da prática do facto, e já não estavam na prática do julgamento. Temos
de ter 3 leis: a lei no momento da prática do facto e a lei no julgamento, a lei que está em vigor no
momento da prática do facto e que já não está no momento do julgamento. Vai vigorar a mais
favorável ao agente.

Caso 1

A e B são casados e em 30 de agosto de 2007, no meio de uma acesa discussão, A disparou um tio sobre B.
B entrou em estado de coma e veio a falecer no dia 25 de setembro de 2007. Sabendo que em 15 de setembro
de 2007, entrou em vigor uma alteração ao código penal, pela qual o homicídio do cônjuge deixou de ser
um homicídio simples (Art. 131º CP) e passou a ser uma homicídio qualificado (art. 132º CP). Diga por qual
das normas deverá ser punido A.

Estamos perante um caso de aplicação da lei penal no tempo

✓ Primeira coisa: O momento da prática do ato é 30 de agosto de 2007.


✓ Art. 3º CP e depois art. 2º/1 CP. Está em causa de alguma das exceções do nº 2, 3 e 4 do art. 2º CP.
o O nº2 é para a descriminalização. NÃO.
o O nº3 é para as leis temporárias. NÃO.
o O nº 4 é para a aplicação de uma lei mais favorável. Não acontece esta é mais desfavorável.

Mariana Freitas
DIREITO P ENAL I│2019/2020
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✓ Aplicamos a lei anterior, não aplicamos a lei que está no julgamento, estaríamos a violar o princípio
da legalidade na sua vertente de lei prévia, a lei não pode ser aplicada retroativamente a não ser que
seja mais favorável. Aplicamos o art. 2º/1 CP, é a regra.

Caso 2

Suponha que em Janeiro de 2016, A praticou o facto X, que constituía um crime. No entanto uma alteração
ao CP de julho desse ano, passou a considerar que a conduta em causa não é crime. A está hoje a ser julgado
por aquele facto, qual a norma a aplicar.

✓ O momento da prática do facto é janeiro de 2016. Só que em julho, temos uma descriminalização.
✓ O art. 3º CP não vamos aplicar este. Está em causa a exceção do nº2 do art. 2º CP, é uma
descriminalização que ocorre antes do momento do julgamento. 11
✓ Por isso, a senhora não vai ser punida.

Caso 3

A grávida de 8 semanas, saudável e por sua opção procedeu a uma interrupção da gravidez, realizada por
um médico de um estabelecimento de saúde oficial. Cometeu por isso, um crime de aborto punível com uma
pena de prisão de 2 a 8 anos, nos termos do art. 140º CP. Sabendo que na sequência do referendo e da lei
16/2007 de 17 de abril, o artigo 142º/1 e) CP, passou a prever que a interrupção da gravidez não é punível
se for realizada por opção da mulher nas primeiras 10 semanas de gravidez.

A) Diga qual a lei a aplicar caso o julgamento ocorra em 2008.


✓ O momento da prática do facto é o momento em que interrompe a gravidez.
✓ Vamos aplicar a lei mais favorável existente no momento do julgamento, art, 2º/2 CP, 1ª parte, existe
uma descriminalização.
B) Suponha agora que a norma só entrou em vigor no momento em que A já tinha sido condenada e
com trânsito em julgado e já se encontrava a cumprir uma pena de 3 anos de prisão. Quid iuris?
✓ Igualmente o art. 2º/2 CP, 2ª parte, cessa a execução dos efeitos penais.

Caso 4

Em abril de 2000, A foi encontrado com 3 embalagens de plástico transparente dentro da quais tinha um pó
creme que continha 0, 41 g de heroína. Detinha tal produto para consumo pessoal. Julgada a 30 de outubro
de 2000, A foi condenado pelo crime de posse de estupefacientes. Insatisfeito A quer recorrer da sentença,
o tribunal da relação veio a decidir por recurso em setembro de 2001. A 1 de julho de 2001 entrou em vigor
uma nova lei que revogou o artigo que punia como crime o comportamento de A passando a considerar
contraordenação, tanto o consumo como a aquisição e detenção para consumo próprio de drogas ilícitas.
Qual na sua opinião terá sido então a decisão final do tribunal de recurso para este caso?

✓ Comportamento que é crime e depois passa a ser contraordenação, com a nova lei.
✓ O momento da prática do facto é abril de 2000, nesta altura era crime e o agente foi condenado.
✓ Neste momento temos de ver se se aplica alguma exceção, o facto continua a ser crime? Não é uma
contraordenação. Mas na realidade deixa de ser crime, nos termos gerais é uma descriminalização,
só que não podemos punir o agente por crime e também não podemos punir por contraordenação,
uma vez que no momento em que praticou o facto ainda não era tido como contraordenação.

14/11/2019

Diferentes perspetivas a propósito de resolução de casos- uma situação que era crime e passa a ser uma
conduta de mera ordenação social- descriminalização

✓ O professor Taipa de Carvalho diz que se sai em liberdade. Não se pune, existe descriminalização.

Mariana Freitas
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✓ Dr. Figueiredo Dias diz que não é bem assim, nem é o nº2 nem o nº4. Ele manda-nos aplicar
combinadamente estes dois artigos. Vamos aplicar retroativamente o comportamento da
contraordenação porque é mais favorável ao agente. A censura de mera ordenação social e a censura
penal tem uma continuidade entre si. Significa que não existe uma verdadeira rutura entre elas.
✓ Dr. Faria Costa: na prática é o mesmo efeito do que a posição do Dr. Figueiredo Dias. Para o Dr. Faria
Costa temos descriminalização e depois temos duas figuras diferentes a despenalização relativa e a
despenalização absoluta:
o Despenalização absoluta: uma determinada conduta deixa de ser um crime e passa a ser uma
contraordenação. Não é uma total descriminalização. Ao nível prático, esta teoria tem os
mesmos efeitos da posição do Dr. Figueiredo Dias.
o Despenalização relativa: é no fundo a acumulação da sanção dentro do DP, quando temos
uma atenuação da sanção dentro do próprio direito penal. Para o Dr. Figueiredo Dias, não 12
temos estas teorias.

Caso 5

A lei 1 punia o crime X de 2 a 8 anos. Na vigência dessa lei, A cometeu o crime nela tipificado. Pouco tempo
depois da prática do crime entrou em vigou a lei 2 que passou a punir esse facto com pena de prisão de 1 a
5 anos. Acusada de ser demasiado branda a lei 2 foi entretanto revogada e substituída pelo lei 3 que voltou
a punir o crime com pena de prisão de 2 a 8 anos. Supondo que A foi julgado na vigência da lei 3 diga qual
a lei aplicável e justifique a sua resposta.

✓ Princípio da irretroatividade da lei penal é a regra, art. 2º/1 CP. Manda aplicar a lei 1, a lei em vigor
no momento da prática do facto.
✓ A lei 2 é uma lei intermédia, está no meio de duas leis, vigora apenas entre a prática do facto e o
julgamento sem tocar em nenhum destes momentos.
o É a esta a que vamos aplicar? É a esta que vamos aplicar uma vez que é a mais favorável.
✓ Neste caso, vamos aplicar a lei mais favorável ao agente, seja ela a 1, 2 ou 3. Neste caso é a lei 2, a lei
intermédia.
✓ Quando o legislador, art. 2º/4 CP necessariamente estão aí incluídas as lei intermédias, uma vez que
é anterior ao julgamento.

Caso 6

Devido a uma grave crise económica, suponha que o parlamento aprovou uma lei que a gravava a pena do
crime de especulação. O crime de especulação era punido com pena de prisão até 3 anos, mas por uma nova
lei passou a ser punido com pena de prisão de 7 a 10 anos. Esta lei 2 fixava o seu próprio período de vigência
entre 1 de janeiro e 31 de julho de 2017. Após o dia 31 de julho de 2017, tornou a vigorar a lei anterior ao
dia 1 de janeiro desse ano.

A) A cometeu um crime de especulação no dia 10 de janeiro de 2017 e foi julgado no dia 20 de junho
de 2018. Qual a lei a aplicar?
✓ Uma lei temporária tem um período de vigência fixado. Temos leis temporárias e leis de emergência:
o Temporárias: tem definido o início e o termo da vigência.
o Emergência: só tem definido o início.
✓ Os factos cometidos durante aquela lei criada para aquele momento específico, art. 2º/3 CP. As leis
temporárias mantem os seus efeitos/vigor/valia/aplicabilidade mesmo depois de não estarem em
vigor, aos factos praticados durante a sua vigência. Chama-se a isto a ultratividade das leis temporais.
B) Perante este caso suponha agora que B praticou o crime de especulação no dia 10 de dezembro de
2016, se a condenação ocorrer no dia 11 de julho de 2017, qual a lei a aplicar?
✓ Aplicamos o art. 2º/1 CP. Aplicamos a lei em vigor no momento da prática do facto.

Mariana Freitas
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✓ A lei temporária interessa quando o facto foi cometido dentro do período em que a lei temporária
estava em vigor.

Caso 7

Imagine agora que devido às críticas que se fizeram ouvir no sentido da demasiada seriedade do regime da
lei 2 que punia o crime de especulação com pena de prisão de 7 a 10 anos. O parlamento aprovou no dia 1
de fevereiro de 2017, uma nova lei, a lei 3, que também limitava sua vigência neste caso até ao dia 31 de
julho de 2017. Onde se baixava a sanção para pena de 3 a 5 anos. De novo se fez sentir a crítica agora no
sentido inverso, falando-se numa insuficiente severidade. Por isso, no dia 1 de março de 2017 entrou em
vigor um novo regime, lei 4, na mesma a valer até 31 de julho de 2017, estabelecia uma pena de prisão de
5 a 7 anos. Após o dia 31 de julho de 2017, tornou a vigor a regime anterior ao de janeiro desse ano (até 3
anos). C cometeu um crime de especulação no dia 15 de janeiro de 2017 e foi julgado no dia 20 de outubro 13
de 2018. Qual a lei a aplicar?

✓ Temos uma sucessão de leis temporárias. Assim como uma sucessão de leis intermédias.
✓ As leis intermédias são as leis 3 e 4, não estavam em vigor no momento da prática do facto, nem
momento do julgamento. São simultaneamente leis temporárias e leis intermédias.
✓ Qual a lei que vamos aplicar?
o A alteração da lei deu-se por uma mudança da conceção do legislador. Quando temos uma
simples alteração da conceção do legislador significa que o estado factual de exceção não se
alterou. Cada uma das leis é idónea para julgar a situação.
o Aplicamos a que for mais favorável ao agente. Todas são idóneas para julgar o caso.
o À luz do art. 2º/4 e art. 2º/3 CP, conjugados, vamos aplicar as mais favoráveis, a lei 3.
o No momento do julgamento a lei é ainda mais favorável, porque é que não aplicamos esta,
a lei 1? Não se adequa a essa situação excecional. A esta situação excecional só se adequa as
temporárias; não a lei 1.

Vamos imaginar que o facto não tinha sido cometido no dia 15 de janeiro, assim a prática do facto aparecia
entre o dia 1 de março até ao dia 31 de julho. Surge outra lei, a lei 5 que pune com pena de prisão até 3 a 5
anos. Todas as alterações, na lei 5, apareceram por alteração das circunstâncias. Qual vamos aplicar?

✓ Aplicamos a lei 4, embora seja mais gravosa que a lei 5, uma vez que houve uma alteração das
circunstâncias.
✓ Quando existe uma alteração das circunstâncias temos de olhar para a lei daquele momento daquela
circunstância.
✓ Quando temos uma alteração da conceção do legislador, vamos aplicar a mais favorável, podemos
escolher de entre as várias leis temporárias aquela que é mais favorável.

Caso 8

De janeiro a agosto de 2016 praticamente não choveu em PT. Para minorar os efeitos da falta de chuva logo
em março desse ano o parlamento votou uma lei, a lei 1 que entrou em vigor em 1 de abril e que punia com
pena de prisão até 2 anos, e enquanto durasse a seca a utilização das águas dos serviços públicos em piscinas
particulares. Como tem havido alguma chuva em fins de maio, o legislador através de uma nova lei, a lei 2,
com início de vigência a 8 de junho, diminuiu a pena fixando-a em multa até 120 dias. Já em dezembro e
depois de ter passado a seca, A está a ser julgado, por ter utilizado água dos serviços públicos para encher
a sua piscina particular no dia 20 de abril. Qual a lei a aplicar?

✓ São leis temporárias. São leis de emergência, porque o legislador não consegue prever quando é que
vai começar a chover muito.
✓ Tendo o agente cometido o facto em abril e ser julgado em dezembro qual a lei que aplicamos e
porquê?

Mariana Freitas
DIREITO P ENAL I│2019/2020
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o Não poderíamos aplicar a lei 2, sendo uma lei temporária, uma vez que houve uma alteração
das circunstâncias. Temos de aplicar a lei 1, a lei do momento da prática do ato, art. 2º/3 CP.

Caso 9

Quid iuris se A, B e C julgados e condenados, a 6, 12 e 14 anos de prisão em 2013. Veem hoje o tipo legal de
crime pelo qual foram subsumidas as suas condutas ser alterado no sentido de prever como pena máxima,
6 anos de prisão.

✓ Como a pena máxima agora é de 6 anos, à primeira vista poderíamos dizer:


o A sai depois de cumprir toda a pena.
o B de 12 anos cumpre metade da sua pena.
o C cumpre ainda menos de metade. 14
▪ Deste modo, saiam todos agora. Aplicamos o art. 2º/4 CP in fine.
A questão da (in)constitucionalidade do art. 2º/4 CP
✓ Até 2017, o art. 2º/4 CP existia a acumulação das molduras penais, desde que a sua sentença não
tivesse transitado em julgado.
✓ Os constitucionalistas, Dr. Gomes Canotilho e Vital Moreira defendiam a inconstitucionalidade deste,
independentemente de as sentenças terem transitado em julgado ou não.
✓ Em 2017, o legislador alterou a lei e afastou o limite do caso julgado, respeitando o princípio da
igualdade.
✓ Os penalistas referem que este viola o princípio da igualdade e o princípio da separação de poderes.
A igualdade é tratar de forma diferente aquilo que é diferente, na medida da sua diferença; tratar
igual aquilo que é igual. Portanto, esta alteração acaba por não refletir o pensamento do julgador.
✓ Para o Dr. Costa Andrade e Faria Costa temos um problema formal, o princípio da separação de
poderes, acaba por ficar diluído pelo poder legislativo, sem qualquer controlo por parte do julgador.
Subsiste ainda um argumento de que temos ainda alguma injustiça. Temos a questão de o art. 2º/4
CP ser ou não constitucional.
✓ Temos de aplicar o art. 2º/4 CP, devemos questionar a pertinência da alteração do art. 2º/4 CP.

28/11/2019

Caso 10

A perseguiu B, atriz revelação de uma novela da TVI, de abril de 2010 a fevereiro de 2011. Aparecendo-lhe
de surpresa nos estúdios de gravação, dando-lhe presentes, comparecendo em todos os eventos públicos
em que B participava. Referindo-se-lhe exaustivamente em publicações de Facebook e no seu blog do
seguinte modo “B meu amor para toda vida”. B profundamente inquieta com toda essa situação apresentou
queixa contra A em janeiro de 2011. Mas o processo acabou arquivado, na medida em que não foi possível
subsumir as condutas de A, nem nos crimes contra a honra, nem nos crimes contra a reserva da vida privada.
Sabendo que pela lei 83/2015 de 5 de agosto, o CP português passou a prever no art. 154º A CP o crime de
perseguição diga se é possível, condenar hoje A pelos factos cometidos. Justifique.

✓ Art. 3º CP
✓ Regra, art. 2º/1 CP, aplicamos ao agente a lei no momento da prática do facto, no caso de ação ou em
caso de omissão (quando omite algo que devia ter dito). Sendo que o momento da prática do facto é
o momento em que ele atuou.
✓ Ele já foi julgado, e o processo já tinha sido arquivado. Mas se assim não fosse, e o processo ainda
estivesse a correr, não poderíamos aplicar uma lei de 2015, se esta for desfavorável.
✓ Logo, não vamos aplicar esta lei de 2015 ao facto em causa. Vamos aplicar a regra do art. 2º/1 CP.

Caso 11

Mariana Freitas
DIREITO P ENAL I│2019/2020
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Durante um período de grande perturbação dos transportes públicos e por essa circunstância foi aprovada
uma lei que punia com pena de prisão até 6 meses, quem circula-se naqueles transportes sem bilhetes para
o efeito. A individuo avesso a regras decidiu fazer uma viagem para Lisboa no intercidades sem comprar
bilhete. Passando toda a viagem, a tentar esconder-se do responsável pela verificação dos bilhetes, o senhor
B. Perto de Vila Franca de Xira, B encontra finalmente A. Depois de se envolverem numa grande discussão
B faz A sair nessa estação. 6 meses depois quando a situação já é mais calma é aprovada um nova lei, que
vem agora punir a título de contraordenação quem circule em transportes públicos sem bilhete para o efeito.
Sabendo que no momento em A é levado a julgamento, já está em vigor a lei nova, diga se e como será
punido A?

✓ É uma lei temporária, estas são as leis que vigoram para um determinado período factual de exceção.
o Estas caracterizam-se por ter ultratividade, mesmo quando a lei deixa de estar em vigor os 15
factos praticados durante a sua vigência continuam a ser julgados ao abrigo daquela lei.
o Quando temos uma sucessão de leis temporárias, duas hipóteses:
▪ Ocorre quando existe uma mera alteração da conceção do legislador, e vamos aplicar
destas a mais favorável.
▪ Quando vai se alterando o estado factual de exceção, então temos de aplicar a lei que
estava em vigor quando o agente praticou o facto, uma vez que era uma situação
especifica.
✓ O juízo de censura que se fazia do facto quando ele é praticado durante o estado factual de exceção,
vamos aplicar igualmente este.
✓ Neste caso vamos aplicar o art. 2º/3 CP “quando a lei valer para um determinado período de tempo,
continua a ser punível o facto praticado durante esse período”. Não temos a aplicação da lei mais
favorável.

Aplicação da lei penal no espaço

Para a resolução de casos práticos, temos uma ordem de artigos: vamos começar pelo art. 7 º CP e depois
vamos para o art. 4º CP; ou então o art. 7º CP conjugado com o art. 5º e 6º CP. Nunca se resolve um caso
aplicando o art. 4º CP e o art. 5º CP; ou o art. 4º e o art. 6º CP. O art. 5º e 6º CP andam sempre juntos.

O art. 4º CP é aplicado quando facto é praticado em Portugal. Quando o facto referido tiver sido praticado em
Portugal, vamos aplicar este. Quando não tem conexão com Portugal, vamos aplicar o art. 5º e 6º CP.

Artigo 7.º Lugar da prática do facto

1 — O facto considera-se praticado tanto no lugar em que, total ou parcialmente, e sob qualquer forma
de comparticipação, o agente atuou, ou, no caso de omissão, devia ter atuado, como naquele em que o
resultado típico ou o resultado não compreendido no tipo de crime se tiver produzido.

2 — No caso de tentativa, o facto considera-se igualmente praticado no lugar em que, de acordo com a
representação do agente, o resultado se deveria ter produzido.

Art. 7º CP:

✓ Nº 1: Enquanto que para a aplicação da lei penal no tempo só importa o critério da ação. Para a
aplicação da lei no espaço interessa o critério ação e o critério do resultado. Exemplo: Pode ser que a
ação ocorra em Portugal e o resultado ocorra também aqui; Mas pode também acontecer que a ação
ocorra em Portugal e o resultado não se dê no nosso país.
o Critério da ação: Este número coloca várias hipóteses de a ação ser praticada em Portugal
▪ Porque atua totalmente em PT.
▪ Ou o agente atua parcialmente em PT, como no caso de um crime de sequestro.

Mariana Freitas
DIREITO P ENAL I│2019/2020
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▪ Sob qualquer forma de comparticipação. Exemplo: Eu posso ser autora sozinha do
crime, ou então posso ser uma coautora; A decidiu assaltar um banco; e eu fiquei à
porta. Pode ainda ser uma situação em que presta algum auxílio à prática do facto. E
Exemplo: eu ajudei a assaltar um banco entrando no site informático; mesmo que o
banco seja na Suíça e eu esteja em PT; o caso vai ser julgado cá.
o Critério do resultado:
▪ Nós podemos ter resultados que são resultados que antecipamos logo que praticamos
o facto. Exemplo: quando disparo um tiro em direção a uma pessoa, em direção ao
coração; a intenção é matar. O crime está associado a um certo resultado que se pode
verificar.
▪ Temos crimes que são agravados pelo resultado. Exemplo: uma violação, os crimes
sexuais, o agente queria violar a vítima, mas pela violência empregue na vítima tem 16
uma hemorragia e esta acaba por morrer; isto não é abrangido pela violação, mas é
um resultado não compreendido no tipo de crime, mas que vem agravar o crime. Se a
violação ocorreu em Espanha, mas a pessoa morre em Lisboa, é julgado em PT;
julgamos desde que tenha alguma conexão com o território.
✓ Nº 2: É para os casos da tentativa, mas só vem acrescentar critérios. Para além do critério da ação
como não temos um resultado, vale também o hipotético:
o Tanto se considera o facto praticado em PT, se for em PT
o Como se considera como tentativa o lugar do resultado hipotético
o Podemos estar perante uma situação de tentativa e que não tenhamos de ir para o nº 2

No nº2 do art. 7º CP, sublinhar a palavra “igualmente”.

Art. 4º CP

✓ É o princípio geral da aplicação da lei no espaço; sublinhar “salvo disposição de convenção


internacional”. A regra é o princípio da territorialidade. Significa que o princípio base é o da aplicação
da lei penal a factos territoriais.
o Ideal de soberania nacional, esta tem sofrido alguma erosão ao nível das decisões por parte
da União Europeia.
o Art. 4º a) CP “Em território português, seja qual for a nacionalidade do agente”.
▪ É mais fácil investigar um facto quando é praticado em PT. Cada país julga os casos
praticados no seu território.
o Art. 4º b) CP “A bordo de navios ou aeronaves portugueses”.
▪ Temos uma extensão do princípio da territorialidade, é o critério do pavilhão.
▪ Nestes casos podemos ter um conflito de competência.
o O mandato de detenção europeu, é uma forma mais rápida de enviar um agente.
✓ Remissão do art. 4º CP para o art. 33º CRP.
o No caso de terrorismo e criminalidade, se o pais que pede a extradição tiver o mesmo
comportamento que nós. Podemos extraditar.
o Art. 33º/4 CRP: Se por acaso nesse estado houver a possibilidade de aplicação de pena de
prisão perpetua ou medida de segurança de duração indefinida, pode existir a extradição, mas
apenas nos caos em que oferecem garantias de que tal pena ou medida de segurança não será
aplicada ou executada.
o Art. 33º/ 6 CRP: Não é admitida a extradição, nem a entrega a qualquer título, por motivos
políticos ou por crimes a que corresponda, segundo o direito do estado requisitante, pena de
morte ou outra que resulte lesão irreversível da integridade física.
▪ Neste caso não extraditamos, no limite julgamos nós.

Mariana Freitas
DIREITO P ENAL I│2019/2020
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NOTA: Se os agentes encontrados em PT, e sendo português temos a nacionalidade ativa. Os estrangeiros em
Portugal estamos no caso de uma nacionalidade passiva.

Art.5º CP

Nº1:
✓ Temos uma aplicação extraterritorial.
✓ Alínea a): Princípio da defesa ou proteção dos interesses nacionais- a característica principal desta
regra de conexão é que trata de crimes que atentam diretamente contra o estado português. Atenção
no artigo tem do art. 262º a 271º CP.
✓ Alínea b): Princípio da nacionalidade- aqui o princípio da nacionalidade atípica ou cumulativa.
o Exemplo: nos casos de um turismo criminoso- muito utilizada nos casos de crimes de aborto.
o É cumulativa ou atípica porque quer a vítima quer o agente são português. 17
o É necessário que seja um facto, no limite podemos aplicar a alínea b) é mais fácil de aplicar do
que a alínea e).
✓ Alínea c) e d): Princípio da universalidade ou jurisdição universal
o Nos casos da alínea c) temos os casos de competência dos tribunais portugueses e da lei
portuguesa, desde que: 1) o agente seja encontrado em PT; 2) não possa ser extraditado. Nos
casos dos artigos enunciados nesse artigo, lei penal portuguesa é aplicável a factos cometidos
fora do território nacional.
▪ É para quando a vítima é maior ou menor.
o Nos casos da alínea d), nos casos da vítima ser menor.
✓ Alínea e): Princípio da nacionalidade
o Não é preciso que sejam ambos (agressor e vítima) portugueses, apenas é preciso que um
deles seja português. A lei é competente nestes casos e exige 3 condições:
▪ “Os agentes forem encontrados em PT”: significa que não se pode pedir a extradição
deste agente para ele se puder encontrar, ele tem de ser efetivamente encontrado
em PT.
▪ “Forem também puníveis pela legislação do lugar em que tiverem sido praticados,
salvo quando nesse lugar não se exercer poder punitivo”: é a regra da dupla
incriminação, não basta que seja crime à luz da lei do lugar onde foi praticado.
▪ “Constituírem crime que admita extradição e esta não possa ser concedida ou seja
decidida a não entrega do agente em execução de mandado de detenção europeu ou
de outro instrumento de cooperação internacional que vincule o Estado Português”: a
extradição não pode ser concebida, porque o crime é punível com pena de morte,
pena perpétua, havendo riscos de maus tratos no país em que vai ser condenado.
✓ Alínea f): Esta regra já não se funda na nacionalidade da pessoa uma vez que está em causa um
estrangeiro, funda-se apenas na vontade de cooperação internacional a isto se chama administração
supletiva da justiça penal. Esta tem carácter subsidiário. No caso de estrangeiros que forem
encontrados em PT, quando seja admitida a extradição e não pode ser concebida.
✓ Alínea g): é para as pessoas coletivas que tenha sede em território português; trata-se da equivalência
da nacionalidade das pessoas coletivas. No caso de crimes cometidos por pessoas coletivas no
estrangeiro e se essa pessoa coletiva tiver sede no território português, então a lei portuguesa
também é aplicável.
Nº 2:
✓ “A lei penal portuguesa é ainda aplicável a factos cometidos fora do território nacional que o
Estado Português se tenha obrigado a julgar por tratado ou convenção internacional”.

Art. 6º CP:

✓ Temos aqui em as restrições à aplicação da lei portuguesa.

Mariana Freitas
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✓ Nº1: Não posso julgar a esma pessoa duas vezes pelo mesmo facto. Só posso aplicar a lei
portuguesa a factos praticados fora do território nacional, quando o agente não tiver sido julgado
no país da prática do ato ou se houver subtraído ao cumprimento total ou parcial da condenação.
✓ Nº 2: Embora seja aplicável a lei portuguesa, o facto é julgado segundo a lei do país em que tiver
sido praticado sempre que esta seja concretamente mais favorável ao agente.
o A pena aplicável é convertida naquela que lhe corresponder no sistema português, ou,
não havendo correspondência direta, naquela que a lei portuguesa previr para o facto.
✓ Nº 3: Esta situação do número anterior não se aplica aos crimes previstos nas alíneas a) e b) do
nº1 do art. 5º CP.
o Nestes casos, o estado português entende que deve ser apenas a lei portuguesa a ser
aplicada, uma vez que se trata de crimes contra o estado ou de crimes de portugueses
contra portugueses, sendo que não faz sentido aplicar a lei estrangeira mais favorável 18
porque seria estar a confiar a proteção dos bens jurídicos do estado à jurisdição
estrangeira.

Caso 12

A português, viajava numa aeronave portuguesa em direção a Espanha, em Madrid a ainda a borda agride
B espanhol, causando-lhe ofensas à integridade físicas graves. Podem os tribunais portugueses julgar este
caso?

✓ Art. 7º CP- o facto foi praticado em PT, atendendo que foi a borda da aeronave portuguesa, pelo
critério da ação e do resultado; o agente praticou o facto pelo critério da alínea b) do art. 4º CP.

Caso 13

A francês, cometeu três homicídios qualificados em frança, a polícia francesa andava a sua procura. Mas A
conseguiu fugir para PT. Sabe-se que as vítimas são todas portuguesas, em frança, A seria punido com pena
de prisão perpetua. Uma vez em PT, A pode ser julgado pelos tribunais portugueses.

✓ Quer a ação quer o resultado foi em França, art. 7º/1 CP.


✓ Temos de ir para o art. 5º e 6º CP.
✓ Temos de ir para o princípio da nacionalidade. Ativa ou passiva? Passiva, está previsto na alínea e) do
art. 5º/1 CP- requisitos: 1) o agente ser encontrado em PT; 2) forem puníveis pela legislação do lugar
em que tiverem sido praticados; 3) não sabemos o que se passa ao nível da extradição- art. 33º/ 4
CRP.
✓ Temos alguma restrição da aplicação da lei portuguesa, art. 6º CP?
o Nº 1: O agente ainda não foi julgado nos país da prática do facto.
o Nº 2: em França, A seria punido com pena de prisão perpétua, logo, de acordo com este
número vamos aplicar a lei portuguesa, uma vez que é mais favorável.
o Não aplicamos o nº3.

QUANDO APLICAMOS O ART. 5º TEMOS DE APLICAR O ART. 6º CP.

Aula de compensação

Caso 14

Na sequência de uma mega investigação encontrou-se uma máquina de reprodução de notas de euro
português, bem assim como já algumas notas impressas na casa de A português residente em Marrocos.
Supondo que em Marrocos só é punível a contrafação de moeda marroquina poderá A ser punido pela lei
penal portuguesa (art. 262º CP). Justifique a sua resposta.

✓ Art. 7º/1 CP, quer pelo critério da ação e do resultado, sendo praticado fora de PT.

Mariana Freitas
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✓ Se é fora de Portugal vamos aplicar o art. 5º e 6º CP.
✓ Art. 5º CP: neste caso podia suscitar-se aqui uma dúvida sobre qual a alínea a aplicar: podíamos aplicar
a alínea a) e e).
o Alínea a): É mais fácil. É o princípio da defesa dos interesses nacionais. Como é um crime
previsto num dos artigos enunciados nesta alínea.
✓ Art. 6º CP:
o Art. 6º/1 CP: ainda não foi julgado em Marrocos, assim vamos aplicar a lei portuguesa.
o Art. 6º/2 CP: refere que se aplica a lei mais favorável. Neste caso era mais favorável a lei
marroquina uma vez que lá o crime não é punível, é apenas punível a contrafação da moeda
marroquina e não dos euros. Segundo este artigo era a Marroquina. Mas o art. 6º/3 CP, refere
que não se aplica o número anterior nos casos do art. 5º/1 a) e b) CP, então ele vai ser julgado
de acordo com a lei portuguesa. 19
Caso 15

A realizador francês que residente em Portugal viajou para França, com o intuito de concluir uma nova curta
metragem. Nesta curta metragem usou B. B é uma jovem francesa de 14 anos. A voltou para Portugal.
Sabendo que a curta metragem em causa é de conteúdo pornográfico e que a jovem B foi usada como
protagonista. Diga em que termos, poderão os tribunais portugueses julgar A pelo crime previsto e punível
nos termos do art. 176º/1 b) CP. Justifique a sua resposta.

✓ Art. 7º CP- o facto foi praticado fora de PT, quer a ação quer o resultado foi em França- art. 7º/1 CP.
✓ Não é possível o art. 4º CP.
✓ Art. 5º CP, usamos a alínea c). É um crime abrangido pelo princípio da universalidade.
✓ Neste caso, A voltou para PT, podemos julga-lo ca? Sendo francês, em princípio poderá ser julgado cá.
✓ Art. 6º CP, como ainda não foi julgado, não nos impede de o julgar (nº 1); não sabemos se a lei dele é
mais favorável (nº2); não está em causa nenhuma das exceções do nº 3 CP.

ATENÇÃO: Aqui a idade da vítima, não tem interesse, uma vez que é a alínea c); se fosse a d) já importaria a
idade da menor.

Caso 16

A russo, violou B canadiana durante uma competição de surf que ambos realizavam na Jamaica. Sabendo
que A reside atualmente em Portugal, diga se e em que condições serão os tribunais portugueses
competentes para proceder ao seu julgamento uma vez que A nunca chegou a ser encontrado pela polícia
jamaicana.

✓ Art. 7º CP, quer a ação quer o resultado foi praticado fora de PT.
✓ Art. 5º CP:
o Alínea f): só quando mais nada permite julgar aquela pessoa. Se podermos resolver o caso por
outra alínea, devemos seguir essa; porque a alínea f) é supletiva.
o Podia ser a alínea d), se a vítima fosse menor, a violação tem uma previsão especifica nesta
matéria, mas apenas no caso da vítima for menor; se for menor julgamos com base no art.
5º/1 d) CP
✓ Art. 33º CRP: não era possível extraditar a pessoa.
✓ Art. 6º CP, relativo a restrições à aplicação da lei portuguesa
o Ainda não foi julgado, não foi apanhado pela polícia, nº1;
o Vamos aplicar a lei mais favorável (nº2), uma vez que não está em causa nenhuma das
exceções do nº 3.

A alínea f) é residual; só vou julgar de acordo com esta alínea quando não existir nenhum mecanismo. Em caso
de violação só ganha dimensão universal se a vítima for menor

Mariana Freitas
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Valoriza: dar as soluções pela alínea f) e d).

Caso 17

A bordo de uma aeronave espanhola, e na sequência de um desentendimento, durante o voo, A italiano,


matou B português. Assim que a aeronave aterrou, A foi detido pela autoridade, julgado e condenado em
Espanha. A começou a cumprir 10 anos de prisão em março de 2012. No passado mês de setembro, A
conseguiu fugir da prisão refugiando-se num monte alentejano propriedade de C, um amigo alemão. Serão
os tribunais portugueses competentes para julgar A? Poderá ser aplicada a lei penal portuguesa a esta caso.

✓ Art. 7º CP: o facto foi praticado fora do território português, é uma aeronave espanhola.
✓ Art. 5º e) CP- nacionalidade ativa ou passiva, ativa, porque a vítima é portuguesa:
o O agente foi encontrado em PT? SIM. 20
o Forem puníveis pela legislação do lugar em que tiverem sido praticados- SIM. É porque ele
começou a cumprir pena lá.
o Quanto à extradição não sabemos.
✓ Existe alguma possibilidade de o julgar aqui.
✓ O art. 6º CP:
o Art. 6º/1 CP: já foi julgado e condenado e já começou a cumprir, mas em setembro saiu da
prisão, vamos aplicar a lei portuguesa. Como foi julgado lá primeiro, vamos subtrair ao
cumprimento parcial da prisão. Se o condenarmos 12 anos de prisão, vamos condená-lo, e
temos de descontar o tempo, art. 82º CP.
o Vamos julga-lo pela nossa lei ou pela lei do outro pais? Pela mais favorável (art. 6º/2 CP). Uma
vez que não estamos perante nenhuma exceção do art. 6º/3 CP.

Caso 18

Durante o mês de agosto, A casado com B e durante um cruzeiro pelo Atlântico, envenenou a sua mulher na
expectativa de que esta em agonia acabava-se por falecer quando finalmente chegassem à ilha da Madeira.
Ao chegar ao Funchal, B, porém, queixando-se de um grande mau estar é imediatamente internada,
acabando por sobreviver. Detido imediatamente pelas autoridades portuguesas, A foi acusado de um crime
de homicídio qualificado na forma tentada. Sabendo que quer A quer B são alemães, diga se A pode ser
julgado pelos tribunais portugueses e qual aplicável nesse caso. Justifique.

✓ É uma tentativa, é o resultado, art. 7º/2 CP. O art. 7º/2 CP: ele projetou que o resultado da tentativa
se projetasse em PT.
✓ Considera-se que o facto foi produzido em Portugal, art. 4º CP, princípio da territorialidade. Existe
alguma restrição? Apenas se existe alguma convenção ou tratado em contrário.
✓ Não se aplica o art. 6º CP ou o 5º.
✓ É julgado pela lei penal portuguesa.

O nº1 é o critério da ação. O nº2 é o do resultado. (?)

12/12/2019

Questões de oral:

Fases do direito penal português:

✓ Uma até às ordenações


✓ Outra das ordenações até ao primeiro CP (1852)
✓ Deste até ao CP atual

A lei penal não esteve toda a sua vigência em livro nem organizada. As penas não foram sempre como as
conhecemos atualmente.

Mariana Freitas
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Na primeira fase, vai-se progressivamente passando de vingança privada para uma com domínio publico, onde
recebemos influencias de vários códigos (o mais importante foi que as ordenações vieram organizar o que era
a legislação que tinha alguma relação com o DP).

Das ordenações até 1852, recebe muita influência do iluminismo (Beccaria). Existe uma tradução para
português ditada pela Gulbenkian por Faria Costa (inícios de 2003). O de 1852 surge com Eduardo Correia e
Joana Freitas com a ampliação da pena de morte. Sofreu uma grande alteração em 1884 e 1886. E depois a
influência da primeira CRP (1822). Embora exista uma ligação com o DP, não tínhamos a clareza desta ligação
como existe hoje. Esta CRP vem trazer o princípio da proporcionalidade entre aquilo que é feito pelo agente e
o que o agente sofre: teve bastantes influência do doutor Eduardo Correia. Em 1982 surgiu o CP com bastantes
alterações.

Imputação do resultado à conduta 21

Para Figueiredo Dias, a tipicidade e ilicitude não têm autonomia, pelo que se fala de tipo ilícito, que se divide
em dois:

✓ Objetivo: é importante estuar os tipos de tipicidade (diferenças dos crimes em função das
características em função de 3 coisas)
o Autor: crimes comuns e crimes específicos (próprios e impróprios)
o Conduta
o Bem jurídico
✓ Subjetivo
o Dolo do tipo
▪ Elemento intelectual – tem que ver com os casos de erro. Por exemplo: o agente
queria matar a senhora A, mas acabou por matar B. art 16º
▪ Elemento volitivo – art 14º (dolo direto, intelectual, necessário)
o Negligência do tipo

Imputação do resultado à conduta (dentro do objetivo) – é um passo que não tem de ser dado sempre, mas
quando exista a produção de resultado. Umas das distinções relevantes é e crimes de resultado (produz-se
uma alteração no mundo dos factos) e crimes de mera atividade. O nosso objetivo é perceber se o senhor A
vai ser condenado por ofensa à integridade física; mas primeiro vê-se se essa conduta lhe pode ser imputada;
e depois ver se é ilícita; depois se também era culposa.

Em termos e construção do facto punível, temos 3 grandes teorias:

✓ Da causalidade – qualquer condição que tenha contribuído para a produção do resultado, ele vê o
resultado imputado à sua conduta. É uma conduta muito ampla. Exemplo da faca. Tem limites: existir
o nexo causal entre a ação do agente e o resultado que se produziu.
✓ Da causalidade adequada – art 10º, nº1 CP; quando o agente praticou uma ação que, normal e
previsivelmente, segundo as regras da experiência, fosse apto a produzir aquele resultado.
o Por exemplo: morreu por ter sido empurrado do 15º andar. Não preciso de já ter visto que as
pessoas não voam para dizer que morrem quando são empurradas de varandas. O juiz faz um
juízo de prognose póstuma, em que se desloca de forma ficcionada para o momento da ação,
mesmo estando num momento posterior ao resultado, e vejo o que nesse momento seria
normal e previsível para o agente. Às vezes, a pessoa não estava em posição de prever com
razoabilidade que aquela sua ação produzisse aquele resultado:
▪ Especiais conhecimentos do ação – se não tenho conhecimento que a pessoa tem uma
doença cardíaca
▪ Interrupção do nexo causal
• Interrupção previsível

Mariana Freitas
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Interrupção imprevisível – só esta é que é relevante para o DP afastar a
imputação do resultado à conduta
✓ Da conexão com o risco.

NOTA DE RESOLUÇÃO: Começar pela doutrina da causalidade, depois para a de causalidade adequada e, se
houver necessidade, para a do risco. Resumindo, tentar que não haja imputação do resultado à conduta.

Caso 19

A deu um empurrão a B. Na sequência deste empurrão, B teve um enfarte do miocárdio e morreu. Em


tribunal, provou-se que A desconhecia a doença cardíaca de B. Preencheu A com a sua conduta o tipo de
ilícito por crime de homicídio? Justifique.

✓ Neste caso, pela doutrina da causalidade, há a possibilidade de imputação do resultado à conduta. 22


✓ Passando para a doutrina da causalidade adequada: é normal e previsível que de um empurrão resulte
um ataque do miocárdio? Não. logo, não pode existir imputação do resultado à conduta. E se tivesse
ficado provado que conhecia e que obriga a que tivesse especiais cuidados? Embora, em geral, não
seja normal ou previsível que uma pessoa morra por causa do empurrão, em concreto, para aquele
agente era previsível que a vítima morresse daquele empurrão. Normalmente, o agente tem o mesmo
conhecimento que um homem médico, mas há situações em que tem conhecimentos especiais.

Caso 20

A circula de automóvel a 80 km/hora num local em que a velocidade máxima permitida é de 50 km/h.
Entretanto, devido ao rebentamento de um pneu, que nada fazia prever, A perde o controlo do carro e,
galgando o passeio, atropela B, que vem a morrer em virtude do acidente. Poderá A ver este resultado de
morte de B sendo imputado à sua conduta? Justifique.

✓ Ele não atropelou a pessoa pelo excesso de velocidade, mas sim pelo rebentamento do pneu. Entre
aquilo que é a conduta do agente e a produção do resultado, existe um acontecimento que interrompe
o nexo entre o excesso de velocidade e o atropelamento, que e a o rebentamento do pneu. Há que
ver se é previsível (não interrompe o nexo causal) ou imprevisível. É importante distinguir porque se
for previsível, não é relevante para o DP por não interromper o nexo causal e há imputação do
resultado à conduta; se for imprevisível, então é relevante para o DP, interrompe o nexo causal e não
há imputação o resultado à conduta.
✓ Imaginando que A e b combinam matar C. um arranja a pistola e o outro mata. Matou e o outro
confirma verificar se ta vivo ou morto. Um acha que esta morta, mas o outro vai ver e está viva e dá-
lhe um segundo tiro. É imputado a quem deu o primeiro tiro? Sim porque a imputação do terceiro era
previsível. Por isso não há afastamento do resultado à conduta.
✓ Às vezes chegamos a resultados injustos de acordo com a doutrina da causalidade, então, embora em
termos legislativos não esteja prevista, há uma doutrina de correção desta: doutrina da conexão do
risco – o resultado é imputado à conduta do agente se o agente criou ou potenciou um risco não
permitido/risco proibido para o bem jurídico protegido pelo âmbito de proteção da norma e que se
materializou num resultado típico. São pressupostos cumulativos.

Caso 21

A e B estão a conversar na beira da estrada. A dada altura, A distrai-se e não repara num automóvel que,
desgovernado, vem na sua direção. Nesse mesmo instante, B empurra A e salva-o de uma morte certa.
Devido ao empurrão, A caiu e partiu uma clavícula, o que causou 30 dias de doença. Por isso, A apresentou
queixa contra B pelo crime de ofensa à integridade física. Quid iuris?

Pela doutrina da causalidade, há imputação. Pela doutrina da causalidade adequada, há imputação do


resultado à conduta porque é previsível que quando uma pessoa caia se possa magoar. Mas isto não é justo.

Mariana Freitas
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Então, pela doutrina da conexão do risco, ele não criou nem potencializou o risco porque, no momento em
que criou o risco para a clavícula, havia um risco maior de morte – diminuição do risco. Por isto, não há
imputação do resultado à conduta.

Caso 22

Numa estrada em que se podia conduzir a 100km/h, A conduzia a não mais de 80 e cumpriu todas as regras
de segurança. O peão B atravessou-se inesperadamente à frente de A e, batendo no automóvel deste, B
acaba por morrer. Pode a morte de B ser imputada a A?

✓ Não estamos perante um interrupção do nexo causal porque quem intervém é mesmo a vítima. Pela
doutrina da causalidade, há imputação porque se não tivesse atropelado, não teria morrido. Pela
doutrina da causalidade adequada, também há porque é normal que de um atropelamento possa 23
resultar uma morte. Neste caso também não parece justo porque A ia dentro dos limites da
velocidade, pelo que se resolve pela terceira doutrina: não está verificado, para dizermos que há
imputação do resultado à conduta, porque não é um risco proibido, está dentro do risco permitido.
✓ Às vezes, existe a criação de um risco, só que o risco que se materializa não é o risco criado pelo agente
– casos de comportamento lícito alternativo.

Caso 23

No âmbito de uma cirurgia, A, o anestesista de serviço, engana-se na dosagem do produto anestésico vindo
o paciente B a morrer. Analisado o relatório da autopsia, prova-se que a morte de B ocorreria igualmente
caso a anestesia tivesse sido corretamente efetuada. Na verdade, em virtude de uma raríssima enfermidade
congénita, desconhecida até pelo próprio B, a mais ínfima quantidade de anestésico era absolutamente
incompatível com B. Deve ou não imputar-se o resultado de morte de B à conduta de A?

✓ Não há imputação do resultado à conduta, muito embora tenha acontecido algo mau. É um caso de
comportamento lícito alternativo. Há imputação pelas 2 primeiras e também haveria pela da conexão
do risco. No entanto, a doutrina diz que a interpretação seria inútil, pois mesmo que tivesse feito tudo
certinho, a pessoa teria morrido na mesma. Ninguém estava em condições de saber que ele sofria de
tal doença. O que significa que o risco criado pelo agente não é igual ao risco que se materializa porque
se teria materializando exatamente da mesma maneira mesmo que tivesse agido corretamente. São
os casos em que sempre o resultado se teria produzido!!

19/12/2019

Caso 24

A provoca um acidente de viação em que B condutor do outro veículo fratura uma perna. Transportado para
o hospital, B é submetido a uma intervenção cirúrgica. Por lapso de C anestesista ocorre uma troca na
anestesia e acaba por provocar a morte de B. Logo a seguir aquela operação deflagrou um incendio na
enfermaria para onde B seria levado se a intervenção cirúrgica tivesse sido bem-sucedido. Desse incendio
resultou a morte de todos os pacientes daquela enfermaria. Quid iuris, quanto à possibilidade de
impugnação do resultado morte à conduta de A e à conduta de C?

✓ Tipo objetivo lícito.


✓ Existem três teorias para a teoria do resultado à conduta: só podemos passar para a seguinte quando
verificamos a anterior.
✓ Não se verifica:
o Quando o agente cria um risco diminuído.
o Quando cria um risco permitido
o Está numa situação de comportamento lícito alternativo

Mariana Freitas
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✓ A causalidade virtual é que dá causa ao resultado. A causa virtual é produzida pelo resultado, mas é
independente da conduta do agente. Temos de analisar a imputação do resultado a conduta a dois
agentes.
✓ Neste caso:
o Temos uma pessoa que provoca um acidente com uma fratura na perna, é normal. O que não
é normal é a troca de anestesia; esta provoca a morte.
o Relativamente a A podemos imputar o resultado de morte?
▪ Pela primeira: Sim
▪ Segunda, pela teoria da causalidade adequada: quando temos a interrupção do nexo
causal? Quando intervém um terceiro, depende se é relevante ou não? É previsível
que existam pessoas a intervir. Esta intervenção de terceiro torna-se imprevisível já é
relevante para o direito penal, logo vai afastar a imputar do resultado que acontece a 24
partir da interrupção.
• Devemos imputar a este agente que ocorre até a interrupção? Podemos
imputar A ofensa a integridade física. Só posso imputar resultados que
ocorrem até à interrupção. Não podemos imputar o resultado morte, uma vez
que intervém um terceiro e é interrompido o nexo causal.
✓ A quem imputamos o resultado morte? Ao antenista.
o Quanto à primeira e segunda teoria podemos imputar tudo a C.
✓ Mas temos ainda a situação de incendio, se ele não tivesse morrido pela anestesia acabaria por morrer
do incendido. Da conduta do agente resultaria sempre aquele resultado, a partir do momento em que
ele age o resultado produzir-se-ia neste caso não é isto que está em causa. São estes casos limites são
os casos de causalidade virtual, esta acontece quando o resultado ocorreria na mesma, mas não por
causa do agente, mas por um evento alheio ao agente. Na causalidade virtual o resultado produzia-se
por uma causa alternativa ao agente. A ação do agente licita ou ilícita causaria o resultado, é o caso
da causa factual.
o No comportamento lícito alternativo não imputamos o resultado a conduta.
o Na causalidade virtual imputamos porque o comportamento resultou da intervenção ilícita do
agente. Se o agente tivesse feito tudo bem a pessoa tinha sobrevivido até a existência da
intervenção alheia.

Tipo subjetivo ilícito

O tipo subjetivo ilícito: como estamos a falar de crimes dolosos- são os 2 tipos de dolo que estão nos casos de
natureza penal:

✓ Elemento intelectual do dolo: é o conhecimento do facto que estamos a praticar; é o erro- art. 16º
CP.
o Art. 16º/1 CP: nós verificamos que quando falha alguma consciência ou conhecimento daquilo
que se vai fazer, do tipo ilícito que vai praticar existe a expulsão de dolo.
o Art. 16º/3 CP: quando falha o dolo o agente não fica livre, ainda falta a outra forma de culpa,
a negligência.
✓ Elemento volitivo do dolo: é a vontade de praticar aquele facto- art. 14º CP.

Erro:

Erro sobre a factualidade típica propriamente dita: é um erro em que o agente não queria praticar
crime nenhum, mas só porque não realiza bem o que está a fazer acaba por violar um bem jurídico-
penal. O caso mais típico é a pessoa que vai à caça e vê algo a mexer, dispara e acaba por matar uma
pessoa.
o O agente não quer praticar o crime; mas por falha por representação da factualidade típica
normal. Mas se houver negligencia, art. 16º/3 CP.

Mariana Freitas
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Erro sobre as proibições legais: é um erro em que o agente pratica o facto porque não sabia que aquilo
era proibido; a argumentação do agente é “eu não podia imaginar que isto seria crime”. Tem de ser
uma situação em que aquele agente não soubesse que seria crime. Ou porque tem uma densidade
axiológica menor, temos valores menos importantes, ou são crimes abstratos:
o Na primeira hipótese, é criada uma lei penal que proíbe os bares de estarem aberto a partir
das 2 da manha nos dias uteis, a não ser que isso seja muito publicitado, estes terão
dificuldades em saber que aquilo é crime.
o Na segunda hipótese, ou então são comportamentos que o normal cidadão não tem
consciência para saber logo à partida. Ou então os comportamentos que sem conhecer a
norma dificilmente chegamos lá.
Erros sobre a factualidade típica, mas erros especiais:
o Erro sobre a pessoa ou objeto: é o chamado erro na formação da vontade. Este é um erro que 25
o agente incorre no momento em que tem vontade de praticar o facto.
▪ Exemplo: A quer matar B; mas de costas está C que é muito parecido com B; mata C;
é um erro que a pessoa incorre porque se confunde, porque quando forma a vontade
está convencida de que é aquilo que quer atingir.
o Erro na execução: o agente falha o objeto que quer atingir devido a atabalhoamento.
▪ Exemplo: A quer matar B; mas não tem pontaria e atinge a janela de C.
o Erro no processo cautelar: é um erro no processo que dá causa ao resultado.
▪ Exemplo: O agente quer matar uma pessoa por afogamento, mas quando a manda da
ponte não morre por afogamento, mas morre, porque antes de cair na água bateu
com a cabeça num poste; não mata a pessoa por afogamento, mas acabou por
provoca a morte dela na mesma.

Caso 25

A queria matar B. Sabendo que é este que abre habitualmente a associação recreativa da aldeia de ambos,
por volta das 19 horas. A espera o anoitecer. E ao ver um vulto a ligar a máquina do café dispara sobre ele
matando-o.

A) Horrorizado descobre que afinal B estava de cama com gripe e que naquele dia foi o irmão de B, C
quem assumiu a tarefa de abrir o estabelecimento. Quid iuris?

Estamos a falar sobre um caso de erro, art. 16º CP.

Que tipo de erro está aqui em causa? O erro sobre a pessoa ou objeto, é o erro sobre a formação da vontade.
A dispara porque está convencido de que era B. No momento em que forma a vontade está em erro,
convencido de uma coisa que é diferente daquela que se convenceu. Se existir identidade típica entre o crime
projetado e o crime efetivamente consomado, o agente não vê excluído o dolo. Se não existir identidade típica
entre o objeto do crime projetado e o objeto do crime objetivamente consomado, exclui-se o dolo e fica
ressalvada a negligencia.

No nosso caso, há identidade típica entre o objeto do crime projetado e o objeto do crime efetivamente
consumado e por isso não se exclui o dolo.

Vamos imaginar que quer matar A, mas acaba por matar o pai do agente, quando matamos o nosso próprio
pai, não somos punidos de homicídio normal, mas sim de homicídio qualificado, quando não existe identidade
típica entre o objeto do crime projetado e o objeto do crime efetivamente consumado.

B) Pense agora que era de facto B quem estava no café. Mas que num erro de pontaria de A teve como
consequência não a morte, mas ferimentos graves em C, um cliente que estava ao balcão. Quid iuris?

Mariana Freitas
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É um erro na execução; é um erro por falta de habilidade. Vamos ter um concurso entre o crime que se quer
praticar e o crime que efetivamente se pratica. Neste caso ele queria matar uma pessoa, vai ser punido por
tentativa de homicídio. Quanto a ofensa da integridade física vai ser punido por negligencia.

C) Por último, quid iuris se a bala pouco certeira de A matou apenas o cão de estimação de B que estava
ao seu lado porque o acompanha sempre.

Matar um animal de companhia temos de ver, de acordo com o art. 387º e ss CP, acrescentado em 2014.

É um erro na execução, é tentativa de homicídio, como o art. 16º/3 CP, “nos termos gerais…” temos de ver se
o crime é punível a título negligente. Temos de ter em atenção a crimes que não são puníveis por negligencia.

Caso 26
26
A conduzia a sua bicicleta a motor. Quando numa operação stop da GNR, se verifica que apresenta uma
taxa de alcoolemia de 1.8 g/l. Acusado e julgado por crime de condução em estado de embriaguez, previsto
e punível pelo art. 398º CP. A vem dizer que não sabia que a sua conduta era crime, uma vez que sempre
pensou que só era proibido conduzir alcoolizado automóveis. Nunca lhe tinha passado pela cabeça que o
mesmo se aplicava a outros veículos. Quid iuris?

✓ Erro sobre as proibições legais, art. 16º/1, 2ª parte CP.


✓ Exclui-se o dolo do tipo e fica ressalvada a possibilidade de negligencia.

Caso 27

Suponha que A decidiu encenar um acidente a propósito da morte de B. Aliciando-o para perto de uma
ravina e atirando-o daí com o intuito de matando com os traumatismos provocados pela queda fazer crer
que B, um amante de fotografia pode-se ter caído durante uma das suas caminhadas para fotografar.
Encontrado o corpo de B resultada da autopsia que a sua morte ficou a dever-se a um enfarte no miocárdio,
certamente desencadeado por uma situação extrema de tensão. Quid iuris?

✓ Erro sobre o processo causal. Neste importa distinguir entre os crimes de execução livre e os crimes
de execução vinculada.
o Crimes de execução livre: o crime cuja execução não está tipificada na lei. O que importa é
que se produz aquele resultado independentemente da forma que lá chega. Nestes crimes o
processo causal é irrelevante, não importa como atinjo o resultado, só importa o resultado.
Nestes casos este erro é irrelevante, sendo assim, o agente é punido pelo crime doloso
consumado.
o Crimes de execução vinculado: o processo causal interessa. Em que o agente especifica
direitinho como o crime vai ser feito.

Mariana Freitas

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