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INTENSIVO I

Cleber Masson
Direito Penal
Aula 7

ROTEIRO DE AULA

TEORIA DO CRIME

O professor destaca que este tema é de alta incidência nos concursos públicos e explica que, em uma prova oral, o aluno
deve ser sempre respeitoso com a banca e humilde.
A humildade pode conquistar os examinadores e facilitar a aprovação do candidato.

1. Conceito de crime

O conceito de crime varia em conformidade com o critério que se adota para defini-lo, não existindo um único conceito.

Ele pode ser definido de três formas, portanto:


1º) Critério material/substancial;
2º) Critério legal;
3º) Critério formal.

1.1. Critério material ou substancial

Segundo esse critério, crime é a ação ou a omissão humana1 que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente
tutelados.

Este critério leva em consideração a relevância do mal produzido. Assim sendo, o legislador não está liberado para
incriminar qualquer tipo de comportamento. Ele deve tipificar como infrações penais exclusivamente as condutas que

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Obs.: além de toda a ação ou a omissão da pessoa jurídica nos crimes ambientais.

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causem danos ou, ao menos, coloquem em perigo bens jurídicos penalmente relevantes, assim reconhecidos pelo
ordenamento jurídico.

✓ O critério material ou substancial serve como fator de legitimação do Direito Penal. Assim, o Direito Penal invade
a privacidade ou a liberdade de alguém, mas faz isso porque ela ocasionou um dano ou gerou um perigo de dano
a um bem jurídico penalmente tutelado.

1.2. Critério legal

De acordo com o critério legal, crime é o que a lei define como tal.

Previsão legal:
Art. 1º, Lei de Introdução ao Código Penal: “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal
a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente”.

✓ O CP é de 1940. A Lei de Contravenções Penais é de 1941. Ambos entraram em vigor em 01/01/1942.

A partir da leitura do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, é possível concluir que, no Brasil, há um gênero (infração
penal), o qual é dividido em duas espécies: crime e contravenção penal.
✓ A diferença entre crime e contravenção penal se baseia no preceito secundário do tipo penal.

A diferença entre crime e contravenção penal é meramente qualitativa (qualidade das penas cominadas) e quantitativa
(quantidade das penas cominada).
• Crime:
✓ Pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa
(diferença qualitativa).
✓ Os crimes possuem penas cominadas maiores do que das contravenções penais (diferença quantitativa).

• Contravenção penal:
✓ Contravenção penal é a espécie de infração penal a que a lei comina pena de prisão simples ou de multa: pena de
prisão simples ou de multa, alternativa ou cumulativamente (diferença qualitativa).
✓ As contravenções penais possuem penas cominadas menores do que a dos crimes (diferença quantitativa).

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Atenção: Entre crime e contravenção penal não há diferença ontológica, pois não há uma diferença de estrutura ou de
natureza jurídica entre eles. A diferença é meramente qualitativa (qualidade das penas cominadas) e quantitativa
(quantidade das penas cominada).

✓ O professor destaca que pouco importa o nome dado à conduta ou a localização em que foi inserida. Se, por
exemplo, ele inserir no CP uma conduta com pena de prisão simples, será contravenção penal.

1.2.1. Crime e contravenção penal: sistema dicotômico (ou dualista) e sistema tricotômico

O Brasil adota o sistema dicotômico ou dualista. Isso porque a infração penal é gênero, do qual decorrem duas espécies:
o crime e a contravenção penal.

Questão: E o delito?
No Brasil, delito é sinônimo de crime.

Em alguns países (exemplos: Itália e França), adota-se um critério tricotômico. Nesses países, a infração penal se divide
em 3 espécies:
• Crime: infração penal mais grave.
• Delito: infração penal intermediária.
• Contravenção penal: infração penal menos grave.

Cuidado: existem algumas poucas passagens em que o ordenamento jurídico utiliza a palavra “delito” como sinônima de
infração penal (gênero).
Exemplos:
• CF, art. 5º, XI: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.
• CPP, art. 301: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer
que seja encontrado em flagrante delito”.
• CPP, art. 302: “Considera-se em flagrante delito quem: (...)”.

A razão do emprego da expressão como sinônimo de infração penal é para preservar uma tradição terminológica no Brasil.

1.2.2. O art. 28 da Lei de Drogas

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Lei n. 11.343/06, art. 28: “Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
(...)”.

Observe que o art. 28 da Lei 11.343/06 não traz pena de reclusão, detenção, prisão simples nem multa.
Quando a Lei de Drogas entrou em vigor em 2006, houve uma intensa discussão sobre o fato de o art. 28 ser ou não um
crime ou uma contravenção penal.
1ª Posição: Essa posição entendia que não haveria crime em razão da ausência de previsão de pena de reclusão ou de
detenção. Por outro lado, também não seria uma contravenção, pois não há previsão de prisão simples nem multa.
Segundo essa posição, o art. 28 seria uma infração penal “sui generis”. Essa posição não é utilizada.

2ª Posição: O art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal traz um conceito geral de crime, aplicável aos crimes em geral.
Esse conceito trazido em lei pode ser excepcionado por uma lei especial (princípio da especialidade).
✓ Nesse diapasão, a Lei 11.343/2006 trouxe um conceito especial de crime, aplicável tão somente para a conduta
descrita no art. 28.
A maioria da doutrina e o STF entendem que o art. 28 da Lei de Drogas prevê o crime de posse de drogas para consumo
pessoal.

• O art. 28 da lei de drogas é, portanto, crime sem previsão de reclusão ou detenção.

1.3. Conceito formal, analítico ou dogmático

O conceito formal é aquele que leva em conta a estrutura do crime (elementos estruturais do crime).

Teorias:
➢ Teoria quadripartida: para essa teoria, o crime é composto de 4 elementos:
• Fato típico.
• Ilicitude.
• Culpabilidade.
• Punibilidade.

A posição quadripartida teve como grandes defensores Giulio Battaglini (Itália) e Basileu Garcia (Brasil).

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✓ Essa posição não vingou porque a punibilidade não é elemento do crime, mas sim consequência/efeito/reflexo
do crime.

Crítica:
A grande falha da teoria está na punibilidade. A punibilidade não é um elemento do crime, mas consequência deste.
Com a prática do crime, surge para o Estado o direito de punir (punibilidade), que é uma consequência da prática do
delito.
✓ A extinção da punibilidade não apaga o crime, somente retira do Estado o direito de punir.

Exemplo: “A” discute com “B” e o mata com disparos de arma de fogo. Dias após o crime, “A” se arrepende do
cometimento do delito e comete suicídio.
Obs.: Ao matar “B”, “A” praticou um fato típico, ilícito e ele é culpável. No momento da prática do crime, surgiu para o
Estado o direito de punir “A”. Como “A” se matou, houve a incidência de uma causa extintiva de punibilidade (art. 107, I
do CP2). A morte do agente não apaga o crime cometido.

✓ A teoria quadripartida não é aceita.

➢ Teoria tripartida:
• Fato típico.
• Ilicitude.
• Culpabilidade.

Aquele que adota a teoria tripartida pode ser:


• Clássico: quem é clássico, necessariamente, é tripartido (Nelson Hungria, Magalhães Noronha).
• Finalista: quem é finalista pode ser:
✓ Tripartido (Cezar Bittencourt, Luiz Régis Prado, Rogério Greco, Guilherme Nucci).
✓ Bipartido.

Observação importante: o finalismo penal foi criado na Alemanha por Hans Welzel em uma estrutura tripartida (fato
típico, ilicitude e culpabilidade).

No Brasil, grande parte dos finalistas pertence ao grupo dos tripartidos.

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CP, art. 107: “Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - pela morte do agente;”

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➢ Teoria bipartida
• Fato típico.
• Ilicitude.

Para a teoria bipartida, a culpabilidade não é elemento do crime, mas sim um pressuposto de aplicação da pena.

Observações:
✓ Quem adota a teoria bipartida é, obrigatoriamente, finalista. Não há bipartido clássico.
✓ O finalismo bipartido é uma criação brasileira (a partir da Reforma da Parte Geral do CP).
✓ René Ariel Dotti foi o primeiro a citar o finalismo bipartido em um artigo chamado “O incesto”.
✓ Posteriormente, Damásio de Jesus e Júlio Fabbrini Mirabete difundiram o finalismo bipartido no Brasil.
✓ A discussão entre finalismo bipartido ou tripartido é inútil, na concepção do professor.

O CP é finalista. Em sua redação original, o CP era clássico, passando a ser finalista com a reforma da Parte Geral.

Obs.: Segundo o professor, para concurso público, o aluno deve tomar cuidado porque as provas, geralmente, não são
opinativas, mas sim informativas. Assim sendo, caso seja questionado sobre o tema, o aluno deve expor ambas as
posições, mas não deve adotar nenhuma.

O professor destaca que, antes do art. 13 do CP, está escrito: “Título II – Do crime”. Quando o CP trata de institutos ligados
ao fato típico e à ilicitude, ele fala “Do Crime”. Veja abaixo:

Antes do art. 26, há o “Título III – Da imputabilidade penal”. Veja abaixo:

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✓ Quando o Código Penal trata de elementos ligados ao fato típico e à ilicitude, ele fala “do crime”. Quando o Código
Penal trata da culpabilidade, ele fala “da imputabilidade penal” (e não “do crime”).
✓ Assim sendo, o Código Penal, com a reforma da Parte Geral em 1984, teria adotado um conceito bipartido de
crime.

2. Sistemas penais

Os sistemas penais dizem respeito à evolução do Direito Penal para chegar ao conceito analítico atual de crime.

A evolução do Direito Penal e a análise dos sistemas penais passam pelo estudo da conduta e da culpabilidade.

2.1. Sistema clássico

Principais representantes: Liszt, Beling e Radbruch.


Esses autores não se autointitularam como clássicos.

A expressão “sistema clássico” foi cunhada pelos finalistas e não pelos adeptos do sistema clássico.
✓ O professor destaca que o nome “clássico” foi dado pelos finalistas como algo pejorativo, de modo a chamar o
sistema “clássico” de ultrapassado/velho.

Estrutura do crime (sistema clássico):

Fato típico Ilicitude Culpabilidade


Conduta Imputabilidade
Resultado
Relação de causalidade Dolo (normativo) ou culpa
Tipicidade

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➢ Conduta, para a teoria causalista, é o comportamento humano voluntário que produz um resultado no mundo
exterior. Dizia-se que a conduta era uma mera “fotografia do crime”.

➢ A ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato típico e o direito.

➢ A culpabilidade, nessa teoria, era o mero vínculo psicológico, representado pelo dolo normativo ou pela culpa, entre
o agente imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado (teoria psicológica da culpabilidade).
✓ Conduta é o comportamento humano voluntário que produz um resultado no mundo exterior.
✓ A conduta representa uma “fotografia do crime”.
✓ Para esta teoria causalista, a conduta independe de dolo ou de culpa.

✓ Dolo normativo é aquele que traz em seu interior a consciência atual/real da ilicitude: o agente pratica um
comportamento sabendo que aquilo é contrário ao Direito.
✓ A culpabilidade é o vínculo psicológico, representado pelo dolo ou pela culpa, que se estabelece entre o agente
imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado.

Exemplo: imagine que a pessoa saiu do trabalho às 12h para almoçar. O carro está em perfeitas condições de uso e o
motorista está em baixa velocidade (20km/h) e dirigindo adequadamente. Na calçada, há uma mãe andando de mãos
dadas com um filho pequeno. De repente, a criança se solta da mãe e se joga na frente do carro. Nesse momento, perceba
a fotografia do crime: o motorista no volante, o para-choque dianteiro do carro amassado, poça de sangue no chão e uma
criança morta.

Neste exemplo, vamos verificar se houve crime (com base no sistema clássico).
• Há conduta? Sim. Trata-se de comportamento humano voluntário (dirigir um carro) que produz um resultado
no mundo exterior (morte da criança).
• Há resultado? Sim. Há a morte da criança.
• Há relação de causalidade? Sim. A criança morreu em razão do atropelamento.
• Há tipicidade? Sim. A conduta de matar alguém encontra adequação no art. 121 do CP.
• Há ilicitude? Sim. No presente exemplo, não há estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
do dever legal nem exercício regular de direito.
• O agente é culpável? Como o agente (motorista) é imputável, sim.
• O agente agiu com dolo? Não.
• O agente agiu com culpa? Não. O motorista não agiu com imprudência, negligência ou imperícia.

Nessa situação, para o sistema clássico, não há crime por ausência de culpabilidade (falta de dolo ou de culpa).

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2.2. Sistema neoclássico (ou Neokantista)

O sistema neoclássico é uma segunda etapa do sistema clássico.

Obs.: O professor destaca que o nome “Neokantista” é muito utilizado para denotar esse sistema. Entretanto, Kant não
foi um penalista, mas sim um filósofo que versou sobre a teoria da pena.

O sistema neoclássico surgiu na Alemanha, no ano de 1907, pelos estudos de Reinhart Frank.
Reinhart Frank desenvolveu a teoria da normalidade das circunstâncias concomitantes (teoria da “evitabilidade” no
Direito Penal).

✓ De acordo com essa teoria, só existe culpabilidade quando o agente imputável pratica o fato típico e ilícito em
uma situação de normalidade, ou seja, quando lhe era exigível uma conduta diversa.
Situação 1: “A” está endividado e deve para o banco. “A” pode trabalhar mais para ganhar mais e pagar a dívida,
pode tentar renegociá-la, pode arrumar outro emprego, entre outras possibilidades. Essa é uma situação de
normalidade.

Situação 2: “A” está endividado e deve para o banco. “A” decide roubar algumas lojas para arrecadar o dinheiro
e pagar o banco. Perceba que, nesse caso, “A” roubou o dinheiro em uma situação de normalidade e o direito
podia exigir dele um comportamento diverso, mas ele optou por cometer o crime. Neste caso, o agente é culpável.

Estrutura do crime:

Fato típico Ilicitude Culpabilidade


Conduta Imputabilidade
Resultado Dolo (normativo) ou culpa
Relação de causalidade Exigibilidade de conduta diversa
Tipicidade

Observações:
➢ O crime continua tendo 3 elementos: fato típico, ilicitude e culpabilidade.

➢ No sistema neoclássico, a conduta continua seguindo a teoria causalista.


Para essa teoria, a conduta também é o comportamento humano voluntário que produz um resultado no mundo
exterior.

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➢ A ilicitude continua sendo a relação de contrariedade entre o fato típico e o Direito Penal.

➢ A alteração se encontra na culpabilidade, que passa a contar com um terceiro elemento: a exigibilidade de conduta
diversa.
O sistema neoclássico mantém o aspecto psicológico, ou seja, o dolo e a culpa continuam sendo integrantes da
culpabilidade. Entretanto, ela também assume um lado normativo: exigibilidade de conduta diversa.

2.3. Sistema finalista


O finalismo surgiu na Alemanha, em 1930, com os estudos de Hans Welzel (pai do Finalismo Penal).
Hans Welzel criou o finalismo penal com a obra “O novo sistema jurídico penal”.

O professor destaca que os dois pilares fundamentais em todos os sistemas penais são a conduta e a culpabilidade. Na
conduta, Hans Welzel propõe a teoria finalista. Na culpabilidade, ele propõe a teoria normativa pura.

Estrutura do crime (sistema finalista):

Fato típico Ilicitude Culpabilidade


Conduta (dolo e culpa) Imputabilidade
Resultado Potencial consciência de ilicitude
Relação de causalidade Exigibilidade de conduta diversa
Tipicidade

Observações:
➢ No sistema clássico e no sistema neoclássico, o dolo e a culpa estavam na culpabilidade. No finalismo, o dolo e culpa
são deslocados para a conduta.

➢ No finalismo, toda conduta é dolosa ou culposa.

➢ Para a teoria finalista, a conduta é a ação ou a omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim.
✓ Ação ou a omissão humana = o agente faz ou deixa de fazer algo.
✓ Consciente e voluntária = o agente sabe o que está fazendo.
✓ Dirigida a um fim = buscando uma finalidade.

➢ Segundo Welzel, a causalidade é “cega”, isto é, não analisa o querer interno do agente. A finalidade (finalismo), por
ser guiada pelo dolo ou pela culpa, é vidente.

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Questão: Por que o dolo, no finalismo, é chamado de “natural”?
O dolo natural do finalismo se contrapõe ao dolo normativo do sistema clássico e do sistema neoclássico.
• Dolo normativo é aquele que traz, em seu interior, a consciência da ilicitude.
• Dolo natural é o dolo finalista, ou seja, é aquele que independe da consciência da ilicitude.

➢ A ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato típico e a norma.

➢ A culpabilidade, nesse sistema, é formada pela imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
conduta diversa.
✓ Na culpabilidade, passa a ser adotada uma teoria normativa pura.

➢ A grande mudança do finalismo penal foi no tratamento da conduta e da culpabilidade:


✓ O dolo e culpa, que estavam na culpabilidade, foram deslocados para o fato típico, dentro da conduta.
• A consciência da ilicitude fica na culpabilidade e deixa de ser atual e passa a ser potencial.
Obs.: O dolo, no sistema clássico e no sistema neoclássico, era normativo, ou seja, ele trazia em seu bojo a consciência da
atual da ilicitude. No finalismo, o dolo e culpa são deslocados para a conduta, mas a consciência da ilicitude fica na
culpabilidade e deixa de ser atual e passa a ser potencial.

Questão: Por que essa teoria é chamada de normativa pura? Porque tudo o que a culpabilidade tinha de psicológico (dolo
e culpa) foram para a conduta.
✓ A culpabilidade finalista é também chamada de culpabilidade vazia, pois ela foi esvaziada no tocante aos seus
elementos psicológicos (dolo e culpa).

➢ Quem é finalista pode ser bipartido ou tripartido.


✓ Quem é finalista pode ser bipartido porque o dolo e a culpa estão no fato típico. Assim sendo, não está
caracterizada a responsabilidade penal objetiva.

Pegando o mesmo exemplo do acidente do carro em que a criança foi atropelada, sob a ótica do sistema clássico, o fato
era típico, ilícito, mas não havia culpabilidade, pois não havia dolo ou culpa.
No sistema finalista, tomando como base o mesmo exemplo, tem-se:
• O fato é atípico. Não há crime por ausência de conduta.
• Não há conduta penalmente relevante. A conduta não foi dolosa nem culposa, pois o agente não queria matar a
criança, não assumiu o risco de matá-la. Ele também não foi imprudente, negligente ou imperito.
Lembrando que conduta é a ação ou omissão humana consciente e voluntária dirigida a um fim.

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➢ Atenção: Crime é fato típico e ilícito, praticado por agente culpável.

Teoria extremada da culpabilidade e teoria limitada da culpabilidade: o professor explica que a teoria normativa pura da
culpabilidade se subdivide nessas duas ramificações. Assim sendo, ambas as teorias são desdobramentos da teoria
normativa pura.
Nas duas teorias, a estrutura da culpabilidade é a mesma. O que muda entre elas é o tratamento jurídico dispensado às
descriminantes putativas.

Ilicitude x antijuridicidade
Atenção: o professor, a todo momento, utiliza o termo “ilicitude” em vez de “antijuridicidade”. Segundo ele, o termo
“antijuridicidade” não deve ser utilizado pelo aluno, pois seu uso configura uma falta de técnica.

O Código Penal não traz o termo “antijuridicidade”.


O Direito positivo brasileiro, de modo geral, não contempla o termo “antijuridicidade”.

Ao entrar na faculdade, o aluno aprende o que são fatos jurídicos (todos os acontecimentos que produzem efeitos no
direito). Tais fatos jurídicos se dividem em:
• Naturais – Independem da intervenção humana;
• Voluntários – São os que possuem intervenção humana. Estes se subdividem em:
o Atos lícitos; e
o Atos ilícitos Estes se subdividem em:
▪ Penais.
▪ Crimes; e
▪ Contravenções penais.
▪ Extrapenais.

Atenção: O crime é ato ilícito, mas, antes disso, é fato jurídico e produz efeitos jurídicos. Assim sendo, não é possível
utilizar o termo “antijuridicidade”.

3. Fato típico

3.1. Conceito

Fato típico é o fato humano que se amolda aos elementos descritos no tipo penal.
Fato atípico é o fato humano que não encontra correspondência a nenhum tipo penal.
Exemplo: incesto. É ato imoral, mas não é crime.

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3.2. Elementos
• Conduta.
• Resultado (naturalístico).
• Relação de causalidade (nexo causal).
• Tipicidade.
Os elementos devem estar nesta ordem.

Atenção: os quatro elementos do fato típico somente estarão presentes (simultaneamente) nos crimes materiais
consumados.

3.2.1. Crimes materiais, formais e de mera conduta


Essa classificação doutrinária leva em conta a relação que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico.

a) Crimes materiais
Os crimes materiais são também denominados de crimes causais.

Obs.: O STF também chama os crimes materiais de crimes de resultado.

Crimes materiais são aqueles em que o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, e exigem a produção deste
último para a consumação.
Exemplo: homicídio. A conduta é matar alguém e o resultado naturalístico é a morte da vítima. A consumação desse crime
depende da morte da vítima.

b) Crimes formais
Os crimes formais são também chamados de crimes de consumação antecipada ou de resultado cortado.

O tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, mas dispensa este último para fins de consumação. Neste caso, o
resultado naturalístico pode ocorrer, mas ele é prescindível para fins de consumação.
Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP3). O crime se consuma com a privação da liberdade da vítima
(conduta), não se exigindo o resultado (pagamento do resgate). Neste caso, o resultado naturalístico pode ocorrer, mas
ele não é necessário para fins de consumação.

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CP, art. 159: “Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou
preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

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c) Crimes de mera conduta
Os crimes de mera conduta são também chamados de crimes de simples atividade.
Neste caso, o tipo penal se limita a descrever uma conduta. Ele não prevê resultado naturalístico.

Exemplo: ato obsceno (art. 233, CP4).

Obs.: O STF chama os crimes formais e os crimes de mera conduta de crimes sem resultado.

Questões:
• Qual é o ponto comum entre crimes formais e crimes de mera conduta? Ambos se consumam com a prática da
conduta (crimes sem resultado).

• Qual é a diferença entre crimes formais e crimes de mera conduta?


✓ Nos crimes formais, a consumação se dá com a prática da conduta. O resultado naturalístico não é
necessário para fins de consumação, mas ele pode ocorrer, pois ele está previsto no tipo penal.
Exemplo: extorsão mediante sequestro. O crime se consuma com a privação da liberdade da vítima, mas
o agente pode receber a vantagem econômica indevida como condição ou preço do resgate, ou seja, o
resultado naturalístico não é necessário para fins de consumação, mas ele pode ocorrer.
Se ele ocorrer, estar-se-á diante do exaurimento.
Obs.: o exaurimento é instituto inerente aos crimes formais.
Zaffaroni chama o exaurimento de consumação material de um crime formal.
✓ Nos crimes de mera conduta, o resultado naturalístico jamais ocorrerá porque ele não existe, já que o
tipo penal não o prevê.

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60
(sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.”
4
CP, art. 233: “Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.”

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Os quatro elementos do fato típico (conduta, resultado, relação de causalidade e tipicidade) somente estarão presentes
nos crimes materiais consumados. Nos demais crimes (crimes tentados, formais ou de mera conduta), o fato típico só
possuirá dois elementos: conduta e tipicidade.
✓ Conduta e tipicidade estão presentes em todos os crimes. Resultado naturalístico e relação de causalidade só
existem nos crimes materiais consumados.

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