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DIREITO PENAL

RETA FINAL: DELEGADO DE POLÍCIA (PC-SP)

VISÃO GERAL SOBRE O CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME

 O QUE É CRIME?

 (a) conceito legal;

Art. 1º, Decreto-Lei nº 3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Penal). Considera-se crime a infração penal

que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativa-

mente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de

prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

 a partir do dispositivo acima, verifica-se que o sistema penal brasileiro considera que a

expressão “infração penal” se refere a um gênero composto por 2 (duas) espécies, quais sejam: (a)

crime, também chamado de “delito”; e (b) contravenção penal, também chamada pela doutrina de

“crime-anão”. O critério que distingue estas duas espécies de infração penal é a pena que lhes pode

ser cominada: o crime ou delito admite pena privativa de liberdade de reclusão ou de detenção a

qual pode ser prevista isoladamente, cumulada com pena de multa ou, ainda, prevendo-se a

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aplicação alternativa da pena privativa de liberdade ou da multa; a contravenção penal, por sua vez,

admite a cominação isolada de pena privativa de liberdade de prisão simples ou de multa, ou,

ainda, a aplicação das penas de prisão simples e de multa cumulativamente ou alternativamente.

01. (CESPE/CEBRASPE, Perito Oficial Odonto-Legal, PC/PB, 2009) A respeito da infração penal no orde-

namento jurídico brasileiro, assinale a opção correta.

a) Crimes, delitos e contravenções são termos sinônimos.

b) Adotou-se o critério tripartido, existindo diferença entre crime, delito e contravenção.

c) Adotou-se o critério bipartido, segundo o qual as condutas puníveis dividem-se em crimes ou contraven-

ções (como sinônimos) e delitos.

d) O critério distintivo entre crime e contravenção é dado pela natureza da pena privativa de liberdade comi-

nada.

e) A expressão infração penal abrange apenas crimes e delitos.

02. (IBFC, Odontolegista, Polícia Científica/PR, 2017) Considere as regras básicas aplicáveis ao Direito

Penal e ao Direito Processual Penal para assinalar a alternativa correta sobre as espécies de infração penal.

a) Crime e contravenção penal são sinônimos

b) No caso de contravenção penal, admitem-se penas de reclusão e detenção, enquanto que, para os cri-

mes, admite-se prisão simples

c) No caso de crime, admitem-se penas de reclusão e detenção, enquanto que, para as contravenções

penais, admite-se prisão simples

d) No caso de contravenção penal, admite-se pena de reclusão, enquanto que, para os crimes, admite-se

detenção

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e) No caso de contravenção penal, admite-se pena de detenção, enquanto que, para os crimes, admite-se

reclusão

03. (MOVENS, Investigador de Polícia, PC/PA, 2009) No que diz respeito ao ordenamento jurídico brasileiro,

em relação à infração penal, assinale a opção correta.

a) Adotou-se no direito penal brasileiro o critério bipartido, segundo o qual as condutas puníveis dividem-se

em crimes ou contravenções, como sinônimos, e delitos.

b) O critério adotado para a distinção entre crime e contravenção é dado pela natureza da pena privativa de

liberdade cominada.

c) O Código Penal brasileiro adotou o critério tripartite, existindo diferença entre crime, delito e contravenção.

d) No âmbito do direito penal, crimes, delitos e contravenções são expressões equivalentes ou sinônimas.

 (b) conceitos doutrinários:

 (b.1) conceito formal de crime;

 “crime” é aquilo que a lei prevê como sendo crime.

 (b.2) conceito material de crime;

 “crime” é a conduta que viola os bens jurídicos mais caros à ordem jurídica.

 (b.3) conceito analítico de crime;

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 a doutrina majoritária brasileira adota o chamado “CONCEITO TRIPARTIDO DE CRIME”,

pelo qual “crime” é o fato típico, ilícito e culpável; ou seja, para que determinado fato seja

considerado um crime, é imprescindível a presença dos três elementos acima mencionados!

Será possível verificar se estes elementos estão presentes no caso concreto analisando

cada um de seus componentes; e é justamente isso que passaremos a fazer nas próximas linhas!

 é imprescindível ter em mente o seguinte: o crime é, necessariamente, a o fato típico, ilícito e culpá-

vel, de modo que a falta de qualquer um destes elementos impede que se caracterize o crime!

 (a) fato típico;

 em razão do princípio da legalidade, somente podem ser considerados “crimes” os fatos

expressamente “tipificados” penalmente em nossa legislação; em outras palavras, determinado com-

portamento humano somente será considerado “crime” quando a lei expressamente preveja que

aquele comportamento deve ser sancionado penalmente. Ex.: o comportamento de se

apropriar indevidamente de coisa alheia móvel somente pode ser considerado crime por nosso or-

denamento jurídico em razão da existência do art. 155 do Código Penal, que expressamente “tipifica”

a conduta de furto, nos seguintes termos: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia

móvel”, cominando, em seguida, abstratamente, a pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e

multa. Dito isso, percebemos que, para que haja um crime, primeiro deve haver um fato, uma conduta

humana voluntária e, então, que este fato seja “tipificado” em nosso ordenamento jurídico;

justamente por isso é que o primeiro elemento do “conceito tripartido de crime” é o “FATO TÍPICO”.

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 o elemento “fato típico” se considerará presente quando estiverem presentes todos os seus

componentes, quais sejam: (a) conduta; (b) resultado; (c) nexo de causalidade; e (d) tipicidade.

 estes componentes do fato típico serão analisados pormenorizadamente nas próximas aulas!

 (b) ilicitude:

 a ilicitude consiste na contrariedade com o ordenamento jurídico como um todo; ou seja, uma

conduta ilícita é aquela que não encontra amparo em qualquer das normas que compõem

o nosso sistema jurídico! O fato típico presume-se também ilícito; isso quer dizer que

nosso sistema jurídico presume ilícita a prática de um fato que a lei preveja como um

possível crime, de modo que, em regra, presente o primeiro elemento, o fato típico, tem-se

presente também o segundo elemento, o da ilicitude. No entanto, o fato típico nem sempre será

ilícito; ou seja, nem sempre a prática de uma conduta tipificada pela lei penal será considerada con-

trária ao nosso sistema jurídico. O fato, embora típico, não será ilícito sempre que se estiver diante

de alguma das chamadas “EXCLUDENTES DE ILICITUDE”, quais sejam: (a) estado de necessidade;

(b) legítima defesa; (c) estrito cumprimento de dever legal; (d) exercício regular de direito.

 IMPORTANTE!

 QUAIS TEORIAS EXPLICAM A RELAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS TIPICIDADE E ILICITUDE?

 existem 4 (quatro) teorias que explicam esta relação:

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 (1) TEORIA DA AUTONOMIA OU DA ABSOLUTA INDEPENDÊNCIA:

 a tipicidade e a ilicitude não têm qualquer relação!

 a constatação da tipicidade do fato nada permite concluirmos sobre sua ilicitude.

 a doutrina não mais adota esta teoria atualmente!

 (2) TEORIA DA “RATIO COGNOSCENDI” OU DA INDICIARIEDADE:

 a tipicidade do fato é indício de sua ilicitude, de modo que o fato típico se presume também ilícito;

trata-se, contudo, de presunção relativa – também chamada de presunção “juris tantum” – e que,

portanto, admite prova em contrário. Em suma, para essa teoria, o fato que se constate típico será

considerado também ilícito até que se comprove a incidência de alguma das excludentes de ilicitude.

 trata-se da teoria adotada pelo sistema jurídico-penal brasileiro!

 (3) TEORIA DA “RATIO ESSENDI” OU DA ABSOLUTA DEPENDÊNCIA:

 o fato típico considera-se também ilícito de forma automática e inafastável, de modo que, para esta

teoria, os elementos “tipicidade” e “ilicitude” fundem-se em um só: a ilicitude é a essência da

tipicidade, de modo que, ao se considerar típico determinado fato, este também se considera ilícito!

 (4) TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO:

 esta teoria também tem por pressuposto reunião dos elementos “tipicidade” e “ilicitude” em um só;

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 entende-se, neste caso, que o tipo penal é composto por: (a) elementos positivos explícitos, que

correspondem às elementares do tipo penal, as quais devem estar presentes na realidade fática para

que determinado fato se considere típico; e (b) elementos negativos implícitos, os quais não podem

estar presentes na realidade fática, sob pena de não se caracterizar a tipicidade do fato; os adeptos

desta teoria entendem que estes elementos negativos implícitos são legítima defesa, estado de

necessidade etc., cuja existência, portanto, ensejaria a exclusão da tipicidade – e não da ilicitude!

 (c) culpabilidade:

 o elemento da culpabilidade se refere a um juízo de reprovação do fato típico e ilícito; ou seja, para

que o fato típico e ilícito seja considerado um “crime”, é necessário que seja também reprovável

perante o nosso ordenamento jurídico. E esse juízo de reprovabilidade é feito, justamente, no ele-

mento da culpabilidade, no qual são analisadas: (a) imputabilidade; (b) potencial consciência da ili-

citude; e (c) exigibilidade de conduta diversa. Estes componentes são melhor estudados mais adi-

ante!

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE

 (a) conduta;  o fato típico presume-se  (a) imputabilidade;

 (b) resultado; também ilícito, salvo  (b) potencial consciência

 (c) nexo de causalidade; quando presente alguma da ilicitude; e

 (d) tipicidade. das chamadas “excluden-  (c) exigibilidade de con-

tes de ilicitude”, que são: duta diversa.

(a) estado de necessi-

dade; (b) legítima defesa;

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(c) estrito cumprimento de

dever legar; e (d) exercí-

cio regular de direito.

04. (FUNCAB, Escrivão de Polícia, PC/ES, 2013) Infração penal significa:

a) Quando um caso não previsto em lei é regulado por um preceito legal, que rege um semelhante.

b) Ofensa real ou potencial a um bem jurídico, levando-se em consideração os elementos subjetivos do tipo,

a ilicitude e a culpabilidade.

c) Todos os valores ético-sociais que estejam a exigir uma proteção especial, no âmbito do direito penal, por

se revelarem insuficientes à proteção dos outros ramos do direito.

d) Quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico, con-

siderado em seu conjunto.

e) Que o delito é sinônimo de contravenção penal no Brasil.

05. (IDECAN, Inspetor de Polícia, PC/CE, 2021) Segundo a teoria tripartite, majoritariamente adotada, o

delito é composto de fato típico, ilicitude e culpabilidade. São elementos do fato típico:

a) tipicidade, ilicitude, imputabilidade.

b) conduta dolosa ou culposa, ausência de situações justificantes, imputabilidade.

c) conduta dolosa ou culposa, resultado, nexo causal e tipicidade.

d) tipicidade, ausência de situações justificantes, culpabilidade.

e) tipicidade formal, tipicidade material, ausência de situações justificantes e imputabilidade.

 OBS.:

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 (a) conceito bipartido;

 considera que o crime é o fato típico e ilícito;

 a culpabilidade consiste em mero pressuposto para a aplicação da sanção penal.

06. (CESPE/CEBRASPE, Agente da Polícia Federal, Polícia Federal, 2004) Acerca do direito penal brasi-

leiro, julgue o seguinte item: de acordo com a teoria bipartida, o crime é o fato típico e antijurídico, sendo a

culpabilidade pressuposto de aplicação da pena.

 (b) conceito tetrapartido;

 considera que o crime é o fato típico, ilícito, culpável e punível.

 os conceitos bipartido e tetrapartido de crime são acentuadamente minoritários!

 os concursos públicos adotam o conceito tripartido de crime!

 o conceito tripartido do crime considera que a punibilidade não integra o conceito de crime; desse

modo, o crime se caracteriza ainda que não haja punibilidade (ex.: em razão da morte do agente,

da prescrição etc.), a qual consiste na possibilidade jurídica de se aplicar a pena prevista ao crime.

07. (CESPE/CEBRASPE, Agente de Polícia, PC/RR, 2003) Considerando as disposições legais pertinentes

à ilicitude, à culpabilidade e à punibilidade, julgue o seguinte item: entende-se por punibilidade a possibili-

dade jurídica de o Estado impor sanção penal a autor, coautor ou partícipe de infração penal.

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 vamos, então, iniciar o estudo de cada um dos elementos do crime e de seus componentes!

GABARITO

01 02 03 04 05 06 07

D C B B C C C

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