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Resenha sobre: DIREITO PENAL

Acadêmico: HUDSON LOPES SOUTO


Tema: PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO PENAL BRASILEIRO -
TEORIA GERAL DO DELITO - EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE

Dentro da disciplina do Direito Penal, é de suma importância a


exploração de alguns temas para melhor se compreendê-la e aplica-la no
cotidiano do profissional Gestor em Segurança, seja no campo de atuação
pública ou privada. Desta maneira, a presente resenha irá perpassar pelos
princípios norteadores do direito brasileiro, com enfoque naqueles
considerados como basilares. Também pincelará acerca da teoria geral do
delito e da extinção de punibilidade, apontando aspectos relevantes de cada
um dos tópicos propostos.
Os princípios não se encontram, todos eles, no mesmo patamar
hierárquico ou grau de importância. A doutrina constitucional já superou a tese
da equiparação absoluta e formal entre as normas previstas na Carta Magna,
reconhecendo que há aquelas que, materialmente, sobrepõem-se às demais.
Tendo em mente os princípios constitucionais penais, outorga-se a mais
elevada patente aos princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc.
III), da legalidade (art. 5º, inc. XXXIX) e da culpabilidade (art. 5º, inc. LVII), os
quais formam a base principiológica sobre a qual se ergue o Direito Penal.
Outros princípios, por óbvio, existem, mas retiram seu fundamento em um ou
mais dos anteriormente expostos. É como se houvesse três camadas
normativas compondo o sistema jurídico-penal: a mais densa e profunda é
composta pelos princípios ditos basilares ou estruturantes (antes referidos); a
outra, que vem logo em seguida, é integrada pelos princípios derivados ou
decorrentes, cuja fonte inspiradora é um ou mais dos contidos no núcleo
central (tais como o princípio da humanidade da pena, da retroatividade
benéfica da lei penal, da insignificância, da adequação social, da alteridade, da
exclusiva proteção de bens jurídicos, da ofensividade ou lesividade, da
intervenção mínima, do ne bis in idem etc.); há, por fim, a camada mais
superficial, onde se encontram todas as regras, as quais somente conseguem
aderir ao sistema e manter-se como partes integrantes dele enquanto
estiverem em harmonia com as camadas mais profundas, ou seja, com os
princípios (basilares e decorrentes).
A dignidade da pessoa humana é, sem dúvida, o mais importante dos
princípios constitucionais. Muito embora não constitua princípio exclusivamente
penal, sua elevada hierarquia e privilegiada posição no ordenamento jurídico
reclamam lhe seja dada a máxima atenção. A doutrina tende a vislumbrar dois
aspectos ligados ao princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito do
Direito Penal; um deles voltado ao crime, outro vinculado à pena. São eles: a
proibição de incriminação de condutas socialmente inofensivas (afinal, o Direito
é que está a serviço da humanidade, e não o contrário); e a vedação de
tratamento degradante, cruel ou de caráter vexatório.
Segundo o art. 5º, inc. XXXIX, da CF: “não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Como bem disserta Nucci, “o
Estado Democrático de Direito jamais poderia consolidar-se, em matéria penal,
sem a expressa previsão e aplicação do princípio da legalidade”. Desde sua
origem, o princípio tem um objetivo político claro: conferir segurança jurídica,
pondo os cidadãos a salvo de punições criminais sem base em lei escrita, de
conteúdo determinado e anterior à conduta. Garante-se às pessoas, dessa
forma, que, praticando ações ou omissões consideradas lícitas pelas leis em
vigor ao tempo do ato, jamais sofrerão a imposição de penas criminais. Do
ponto de vista jurídico, o princípio reside na exigência de perfeita subsunção
entre a conduta realizada e o modelo abstrato contido na lei penal. Deve existir
uma perfeita e total correspondência entre ambos. Assim, por mais grave que
seja, se a ação ou omissão não estiver prevista em lei anterior como criminosa,
ficará a salvo de qualquer sanção penal.
Passando ao princípio da culpabilidade, diz-se que não há pena sem
culpabilidade: nulla poena sine culpa. O Direito Penal não institui penas por
mero capricho, exigindo-se que sua imposição tenha uma razão de ser, a qual
se identifica com a culpabilidade. Há quem prefira dizer: nullum crimen sine
culpa (não há crime sem culpabilidade). Contudo, a culpabilidade não constitui
requisito do crime, mas pressuposto (inafastável) para a aplicação da pena. O
princípio da culpabilidade conta com status constitucional, podendo ser
deduzido, em primeiro lugar, do princípio da dignidade da pessoa humana (art.
1º, inc. III, da CF) e, ademais, do art. 5º, inc. LVII, da CF: “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”. Esse enunciado consagra, portanto, dois princípios: um de
natureza processual penal (a presunção de inocência) e outro, de índole penal
(o da culpabilidade). Entenda-se, se ninguém pode ser qualificado como
culpado senão quando condenado por sentença penal transitada em julgado,
significa, raciocinando inversamente, que somente se pode condenar, em
sentença penal, quando se reconhecer a culpabilidade do agente; portanto: não
há pena sem culpabilidade.
Passando agora aos apontamentos do segundo tema proposto, Teoria
Geral do Delito, pode-se destacar que a teoria do crime apresenta os
elementos necessários para a composição de um crime e a devida sanção
penal. Os conceitos de infração se diferenciam de acordo com o aspecto que
se busca destacar, os principais conceitos são: material, formal e analítico.
• Conceito material: busca entender o que é necessário para configurar
um comportamento criminoso, as justificativas para que uma conduta seja
relevante para o Direito Penal.
• Conceito formal: trata das consequências jurídicas da infração, com o
enfoque no tipo de sanção.
• Conceito analítico: leva em consideração os elementos estruturais da
infração.
A infração penal é tratada no Brasil como gênero, adotando a teoria
dicotômica, são espécies da infração penal o crime (delito) e a contravenção
penal. A infração é julgada como crime ou contravenção penal dependendo da
classificação atribuída a conduta do agente: a conduta grave é considerada
crime, enquanto a conduta menos lesiva é contravenção penal, estando a
classificação submetida ao momento histórico e a sociedade de cada Estado.
A definição de delito passou por diversas transformações ao longo do
tempo, variando de acordo com o modelo de sociedade e a valorização dos
bens jurídicos, como a vida, o patrimônio, a liberdade, etc. Dessa forma,
entende-se que o conceito atual de delito não é totalmente estático, mas
consolidou-se suficientemente para que a doutrina e a legislação penal se
desenvolvessem.
Superficialmente, delito ou crime é a conduta que se enquadra no
modelo estabelecido pela lei - o tipo penal. Entretanto, para além do aspecto
formal, entende-se que o delito é uma conduta reprovável frente à sociedade,
que viola um bem jurídico individual ou coletivo considerado de alta relevância.
Para evitar esse dano, são estabelecidos limites e sanções para regular tais
condutas através do Direito Penal.
A análise mais completa do delito aborda os aspectos materiais e
formais da conduta, considerando as circunstâncias em que foi praticada e as
características do indivíduo. Essa é a visão analítica do crime, adotada pelo
Direito Penal vigente e aprofundada pela doutrina.
Dentro desse entendimento, existem dois modelos, o modelo bipartite e
o modelo tripartite (adotado pelo CP).
Vertente minoritária da Teoria Geral do Delito, afirma que o crime é
composto pelo fato típico e antijurídico apenas. Nesse caso, há a apenas a
análise do enquadramento da conduta ao texto legal e da característica ilícita.
Não há que se falar em ponderação sobre a reprovabilidade da conduta, já que
para essa corrente doutrinária a culpabilidade cumpre a somente a função de
dosar a pena aplicada ao sujeito.
Esse modelo guarda íntima relação com a Teoria Causalista do crime.
Ela o descreve como um comportamento humano voluntário que causa um
resultado no mundo exterior, independentemente do ímpeto interior do agente,
ou seja, sem diferenciar uma conduta culposa de uma conduta dolosa.
A principal crítica feita a esse modelo é justamente a insuficiência na
análise das condutas humanas, tendo em vista que deixa a desejar na
explicação de condutas típicas de mera conduta (aquelas que não produzem
resultado naturalístico), crimes omissivos ou delitos de resultado produzido por
circunstâncias externas ao agente e suas intenções.
O modelo Tripartite diferentemente do anterior, apresenta o delito como
a prática de uma conduta típica, antijurídica e culpável. A culpabilidade,
elemento diferenciador, é inserida muito em função do advento da Teoria
Finalista do crime. Tal teoria desloca os elementos de vontade (dolo e culpa)
para dentro do tipo penal, diferenciando-os já na previsão da conduta e
tornando a análise da situação do agente mais relevante para a configuração
do crime. Além disso, existe a análise das circunstâncias em que o agente
realiza determinado comportamento, de forma que o crime não é caracterizado
quando presentes as excludentes de tipicidade, ilicitude e culpabilidade.
Passa-se agora à análise do terceiro e último tópico proposto, a extinção
da punibilidade. Com a prática da infração penal, surge para o Estado o direito
de punir, ou seja, a punibilidade, que nada mais é do que a possibilidade
jurídica de o Estado impor a sanção ao autor do delito. O legislador, entretanto,
estabelece uma série de causas subsequentes que extinguem essa
punibilidade, impossibilitando, pois, a imposição da pena.
O art. 107 do Código Penal enumera algumas causas dessa natureza,
que serão a seguir apontadas. Esse rol, entretanto, não é taxativo, pois existem
várias outras causas extintivas da punibilidade descritas na Parte Especial do
Código e em outras leis:
a) morte da vítima em crimes de ação privada personalíssima (art. 236,
parágrafo único);
b) o ressarcimento do dano antes da sentença transitar em julgado no
crime de peculato culposo (art. 312, § 3º);
c) a homologação da composição quanto aos danos civis nos crimes de
menor potencial ofensivo de ação privada ou pública condicionada à
representação (art. 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95);
d) o término do período de prova da suspensão condicional do processo
sem que o agente tenha dado causa à revogação do benefício (art. 89, § 5º, da
Lei n. 9.099/95);
e) aquisição superveniente de renda na contravenção de vadiagem (art.
59, parágrafo único, da LCP);
f) pagamento do valor do cheque emitido sem provisão de fundos antes
do recebimento da denúncia (art. 171, § 2º, VI, do CP e Súmula n. 554 do
STF);
g) pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios,
antes do recebimento da denúncia, nos crimes contra a ordem tributária da Lei
n. 8.137/90 e no crime de descaminho (art. 34 da Lei n. 9.249/95);h)
pagamento da contribuição previdenciária antes do início da ação fiscal (art.
168-A, § 2º, do CP);
i) o efetivo cumprimento do acordo de leniência (colaboração) nos
crimes contra a ordem econômica elencados na Lei n. 8.137/90, desde que da
colaboração tenha resultado: I — a identificação dos demais envolvidos na
infração; e II — a obtenção de informações e documentos que comprovem a
infração noticiada ou sob investigação (arts. 86 e 87, parágrafo único, da Lei n.
12.529/2011). Tal regra aplica-se também a outros crimes diretamente
relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei n. 8.666/93 e os
de associação criminosa (art. 288 do CP, com a redação dada pela Lei n.
12.850/2013) com aqueles relacionados;
j) a efetiva e espontânea entrega de arma de fogo não registrada às
autoridades (art. 32 da Lei n. 10.826/2003). Em tal caso, extingue-se a
punibilidade do crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei n.
10.826/2003).
O reconhecimento de uma causa extintiva da punibilidade é matéria de
ordem pública e, por isso, pode ser decretada em qualquer fase do inquérito ou
da ação penal e em qualquer grau de jurisdição, de ofício ou em razão de
provocação das partes (art. 61 do CPP). Somente o juiz pode decreta-las e
contra a decisão que deferir ou indeferir seu reconhecimento cabe recurso em
sentido estrito (art. 581, VII e VIII, do CPP). Poderá, ainda, ser impetrado
habeas corpus (art. 648, VII, do CPP).
Quanto às infrações penais a que são aplicáveis, as causas extintivas
podem ser:
a) Gerais: alcançam todo e qualquer tipo de infração. Exs.: a morte do
agente e a abolitio criminis. A prescrição é cabível em todos os crimes, exceto
para um pequeno rol de delitos definidos como imprescritíveis no texto
constitucional (racismo e crimes praticados por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático). Também a
anistia, a graça e o indulto podem ser concedidos aos crimes em geral, salvo
aos de natureza hedionda, ao terrorismo, ao tráfico de drogas e ao crime de
tortura (art. 5º, XLIII, da Constituição Federal).
b) Especiais: aplicam-se apenas a determinados delitos. Incluem-se
nesta categoria a retratação, o perdão judicial, a renúncia, o perdão do
ofendido, a perempção e a decadência.
c) Específicas: cabem em uma única infração penal. Não estão previstas
na Parte Geral do Código, e sim em dispositivos determinados da Parte
Especial ou de leis especiais. Exs.: a reparação do dano no crime de peculato
culposo (art. 312, § 3º, do CP); a aquisição posterior de renda na contravenção
de vadiagem (art. 59, parágrafo único, da LCP).
Quanto ao alcance em relação às pessoas envolvidas no crime:
a) Comunicáveis: beneficiam todos os envolvidos na infração (autores ou
partícipes). Exs.: renúncia, perempção, abolitio criminis etc.
b) Incomunicáveis: aplicam-se somente ao agente que se enquadra na
situação prevista em lei, não se estendendo aos comparsas. Ex.: a morte de
um dos criminosos.
Quanto à causa que fundamenta a causa extintiva:
a) Naturais: quando a causa extintiva se baseia em um fato natural,
como, por exemplo, a morte do agente ou o decurso do tempo na prescrição.
b) Políticas: existem porque o legislador entende que certos
comportamentos devem fulminar o jus puniendi. Exs.: perdão do ofendido ou
retratação do agente; indulto por parte do Presidente da República; perdão
judicial etc.
Quanto à exigência de algum ato por parte do autor do crime para a
extinção da punibilidade:
a) Incondicionadas: quando a extinção da punibilidade independe de ato
do agente. Exs.: prescrição, perempção, renúncia, decadência, perdão judicial
etc.
b) Condicionadas: quando está vinculada a algum ato do autor da
infração: Exs.: retratação do agente, reparação do dano no peculato culposo,
cumprimento das condições na suspensão condicional do processo,
pagamento do tributo nos crimes contra a ordem tributária etc.
Dependendo do momento em que ocorre a causa extintiva, seus efeitos
podem ter maior ou menor intensidade.
a) Se verificadas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória:
impedem a própria prolação da sentença ou afastam todo e qualquer efeito da
sentença já prolatada, mas ainda não transitada em julgado. Incluem-se nesta
categoria a prescrição da pretensão punitiva, a decadência, o perdão, a
perempção, a renúncia, a retratação, dentre outros. O réu, portanto, mantém-se
primário.
b) Se ocorridas após o trânsito em julgado da sentença condenatória:
afastam somente a necessidade do cumprimento da pena, se ainda não
iniciada, ou de seu restante. É o caso da prescrição da pretensão executória.
Caso o réu cometa posteriormente outro crime, será considerado reincidente,
se ainda não transcorridos os 5 anos a que se refere o art. 64, I, do Código.
A anistia e a abolitio criminis quando ocorrem após a condenação
definitiva, devido à sua natureza, apagam todos os seus efeitos, exceto os
extrapenais (obrigação de indenizar as vítimas, por exemplo).

REFERÊNCIAS

BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1999.
v. 1.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo — os
conceitos fundamentais e a construção de um novo modelo. São Paulo:
Saraiva, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial. São Paulo: Saraiva,
2003. v. 2.
GARCIA, Basileu. Instituições de direito penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
v. I, t. I (Série Clássicos Jurídicos).
JESUS, Damásio de. Diagnóstico da teoria da imputação objetiva no Brasil.
São Paulo: Damásio de Jesus, 2003.
______. Direito penal: parte geral. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 1.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 13. ed. São Paulo: Atlas,
1998. v. 1.

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