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Coima ≠ Pena
O que torna distintiva uma coima da pena é que enquanto a multa penal é convertida em
pena de prisão, a coima não é.
O ex-libris do Direito Penal é a gravidade das suas sanções em termos de privação ou
restrição de direitos, porque embora diferentes, em ultima análise afetam sempre a
liberdade.
Caso de uma sanção que não é penal, mas sim disciplinar é a questão da prisão disciplinar
voluntária. Artigo 27º CRP.
Esta pergunta é ilustrada com a obra de arte que representa um julgamento celebre do
Galileu.
A inquisição naquela altura detinha poder de natureza estatal e podia considerar crime
as descobertas científicas, nomeadamente a teoria. Eram considerados crimes contra a
fé, no entanto, o Galileu sendo uma pessoa de uma certa idade renegou as suas teses
científicas.
Não pode a validade penal depender do poder, nem que seja do poder democrático ou
aparentemente democrático.
Definição material de Direito Penal: que factos podem ser caracterizados como
crimes?
Possíveis respostas:
1. Todos os que são objeto de uma sanção criminal – é circular, numa perspetiva de
fundamentação, pois não caracteriza os factos que uma norma deve caracterizar
como crimes. Mais correto seria afirmar que só é criminoso o comportamento
que mereça uma pena;
2. Todos os que têm uma certa gravidade moral – contudo, este critério não é
suficiente. Até porque muitos casos que envolvem gravidade moral estão
relacionados com problemas de consciência e não com a relação com outros.
Fundamenta, mas pressupõe que a moral é um critério de Direito ou com que
confunde com o Direito;
3. Todos os que revelam perigosidade do agente – também não parece ser um
critério suficiente, pelo menos sem que haja demonstração de algum ato lesivo.
Desloca a caracterização do facto para a personalidade ou qualidades do agente.
Há factos irrelevantes que podem revelar perigosidade e factos habitualmente
considerados crimes que não revelam perigosidade por serem esporádicos ou
revelarem uma situação-limite vivida pelo agente;
4. Todos os que são danosos numa certa medida para a sociedade – requer que haja
uma densificação do conceito de dano, para além de que há muitos factos
danosos que são acidentais.
✓ Jean-Jacques Rosseau
Diferentemente do que pensava Locke, Rosseau defende que o estado de natureza
não é um estado onde o homem vive em dispersão, isolado e feliz. O homem é aqui
um ser bom, mas é num estado intermédio – entre o estado de natureza e a sociedade
estabelecida – que o homem é verdadeiramente feliz. Para o Autor, o homem é
essencialmente bom, mas é depois corrompido pela própria sociedade. O povo deve
escolher seus representantes para governar, devendo essas ser pessoas que exercem o
poder em nome dos interesses gerais da população. Neste contexto, os cidadãos livres
renunciam à vontade própria em prol da vontade comum – o fundamento do Estado
reside na vontade geral, e não no somatório de todas as vontades individuais.
Com essa vontade geral, existe a garantia de que o soberano não age erradamente – o
homem a nada está obrigado, mas é impossível que este tenha interesses diferentes dos
particulares que o compõem, pois, o interesse do soberano é o interesse dos particulares.
Assim, o desrespeito pela vontade da maioria é o desrespeito pelo que é melhor para
o homem. Neste caso, a punição, ou o poder punitivo, reside na vontade maioritária.
Acredita que o homem no estado de natureza é feliz, até que se começam a organizar em
família e em sociedade, quando começa a haver desenvolvimento nas técnicas de
produção começa a haver mais tempo disponível e mais lazer e com mais tempo para se
distrair e começam a ter inveja, cobiça, etc. e isto agrava-se com o surgimento da
propriedade privada, quando aparece a propriedade privada começa a criar-se mais
desigualdades, são cada vez mais as pessoas a terem mais, num estado desses é previsível
que a maior parte da população comece a desejar ter aquilo que os outros tem, e estes
pequenos grupos para proteger a sua propriedade, vão ser tentados a criar direitos para
protegerem a sua propriedade privada fomentando a desigualdade.
Desse modo ele diz que se deve assegurar que o direito corresponde á vontade de todos,
logo não é um grupo pequeno a decidir, mas sim todos, mesmo aqueles que não queiram.
Tudo o que corresponda á vontade coletiva desde que tenha sido assegurada a participação
dos procedimentos a partir daí parece que não haverá razão para criticar o que seja
decidido, parece favorecer o direito penal mais abrangente.
✓ Immanuel Kant
É na doutrina de Kant facilmente encontrada uma forte influência do pensamento de
Rousseau. Para Kant, o direito representa todo o conjunto de condições que permitem a
articulação da liberdade segundo uma lei geral – o Autor percepciona a liberdade do ponto
de vista racional, sendo esta fundamentada pelo próprio direito. O direito é, em si
mesmo, coerção. É esse o factor que permite que o livre arbítrio de cada um se articule
com o livre arbítrio dos demais.
Assim sendo, a coerção e o poder punitivo do Estado são racionalmente justificados
pelo possibilitar e garantir da liberdade. O fundamento desse poder é precisamente
uma lei universal. Sempre que alguém apresenta obstáculos à vida de outrem,
nomeadamente não permitindo a articulação da liberdade segundo uma lei geral, o direito
encarrega-se de punir. Quanto à problemática da pena de morte, Kant admite-a – “matar
uma pessoa é matar-se a si próprio”.
✓ John Rawls
Para Rawls, o estado de natureza equivale a uma situação de ignorância, no qual
é possível aos homens escolher valores e ideias (no fundo, princípios de justiça)
benéficas para todos. Para o Autor, a cada um deve ser garantido um leque alargado de
liberdades e direitos, desde que estes não conflituem com os dos demais. Num estado em
que os homens estão cobertos por um véu de ignorância, estes estão em pleno estado de
igualdade – nenhum deles sabe se depois do véu da ignorância será rico, pobre, homem,
mulher...
Transpondo para o Direito Penal, as penas são admissíveis porque promovem a
protecção das liberdades. Há em John Rawls uma rejeição do contratualismo – a sua
teoria não assenta num pacto social, mas antes em princípios de justiça. Quanto à
questão da pena de morte, a mesma não parece ser aceitável para o Autor.
Em Rawls não se prescinde totalmente de uma visão utilitarista do interesse, mas a
justificação da subordinação ao Estado está numa escolha racional dos princípios de
Justiça. Verifica-se um modelo de pensamento semelhante ao do contrato social.
Não se prescinde totalmente de uma visão utilitarista do interesse, mas a justificação da
subordinação ao Estado está uma escolha racional dos princípios de Justiça. Apela a
uma racionalidade de interesses que justificaria em que cada pessoa decida coberto por
um véu de ignorância, escolha dos princípios de justiça.
Véu de ignorância para a escolha dos princípios de justiça. É o equivalente á posição
em que Hobbes e Locke quanto ao seu estado de justiça. Se dissermos que estas
pessoas vão decidir sem saber que lugar vão ocupar na sociedade, para se decidir
das leis, diz que é a única maneira de garantir que não se vão beneficiar a si
próprias mas sim para o bem de todos.
Nesta posição, quais seriam os princípios que as pessoas iriam decidir tendo esse veu de
ignorância: primeiro principio de igualdade e principio de diferença.
Cada um tem direito a um esquema de liberdades o mais amplo possível que será
compatível com um igual espectro que seja compatível com outro espectro do próximo.
✓ Martha Nussbaum
Na sua concepção pode identificar-se uma forte influência aristotélica. A autora
começa por criticar as teorias do contratualismo, afirmando que o “estado de
natureza” associado ao contrato social ignora determinados membros da sociedade
– mulheres, velhos ou inválidos – que não têm poder decisório. É também a ideia de
que a própria nacionalidade condiciona a situação dos homens, na medida em que nem
Na Tradição liberal:
O crime é uma ofensa a direitos que justifica pela sua gravidade a restrinção de direitos
fundamentais
Na Tradição democrática:
O crime é uma ofensa à vontade coletiva da qual depende a igualdade dos direitos e o
desenvolvimento individual.
Qual é então o interesse da Criminologia para o Direito Penal? A resposta passa por uma
análise prévia do conceito material de crime conduzida no pensamento penal sobretudo
no quadro dos princípios constitucionais e considerando várias discussões de filosofia
penal ao longo dos séculos. O que deva ser considerado crime legitimamente não pode
ser um tema que abstraia das condicionantes socio-psicológicas, em que se produz a
definição socialmente vigente.
São várias as teorias que surgem numa tentativa de explicar então o conceito de crime.
De acordo com a orientação de Hassemer, temos:
• Concepções que justificam o crime com uma deficiência do agente
o Biológicas
o Psicológicas
• Concepções que assinalam deficiências da socialização ou da estrutura social
• Concepções que destacam a natureza social e até funcional do crime,
rejeitando vê-lo como uma deficiência ou um fenómeno puramente objectivo
Esta sistematização tem de ser articulada com três perspetivas metodológicas distintas:
• A perspectiva do crime como acontecimento individual
o Concepções bio-psicológicas tradicionais
o Teses cognitivistas da psicologia contemporânea
• A perspectiva do crime como acontecimento social, baseado em padrões sociais
de acção (lógica psico-sociológica);
• A perspectiva do crime como fenómeno significativo e comunicacional, na linha
das teses interacionistas
Nas duas primeiras, o crime é visto como uma realidade objectivamente identificável;
na terceira, o foco concentra-se nos próprios sujeitos, nas instituições de controle e nos
processos de interacção social.
Uma das críticas feitas a esta teoria decorre do facto de os estudos feitos com base nos
condenados não serem devidamente confrontados com outros grupos da população. Para
além disso, não são considerados quaisquer factores sociais. É deste tipo de
perspectivas que resultou depois a identificação do chamado cromossoma da
violência, em meados dos anos sessenta do século XX. A comparação dos crânios não
incluía os não criminosos, partindo dos condenados; Repercutia os preconceitos da sua
época e sociedade relativamente a certas pessoas como as prostitutas;
Críticas metodológicas:
1- A comparação dos crânios não incluía os não criminosos, partindo dos
condenados;
2- Repercutia os preconceitos da sua época e sociedade relativamente a certas
pessoas como as prostitutas;
3- Esta teoria baseava-se numa interpretação deficiente dos dados empíricos, dado
que não confrontava devidamente a população dos condenados com os outros
grupos da sociedade, bastando-se a análise de pessoas vivendo no meio isolado
das prisões sem considerar fatores sociais que poderão ter conduzido ao crime,
embora posteriormente viesse a considerar o papel da educação na prevenção da
criminalidade.
Criticas empíricas:
1- Goring, um médico inglês, estudou 3000 condenados, tal como Lombroso, alguns
anos após a morte de Lombroso e não chegou aos mesmos resultados.
Papel de LOMBROSO
a) Fundou a antropologia criminal e o método empírico no estudo do crime;
b) Pôs em causa a escola clássica segundo a qual o crime era um produto do livre-arbítrio;
c) Procurou a identificação de causas do crime para a prevenção.
A problemática dos fins das penas é uma das grandes questões do Direito Penal. A questão
surge devido à controvérsia sobre o sentido das penas – quer sobre o sentido que lhes é
atribuído como sobre o sentido que devia ser. Historicamente, a pena é desde sempre
vista como a imposição de um mal para o criminoso e para a sua honra. A questão
em apreço deu aso à criação de três teorias – teoria da retribuição, teoria da prevenção
geral e teoria da prevenção especial. As teorias retributivas são tidas como teorias
Isso conduz directamente ao princípio da culpa como máxima de todo o direito penal
humano, democrático e civilizado; ao princípio segundo o qual não pode haver pena sem culpa e
a medida da pena não pode em caso algum ultrapassar a medida da culpa. E aqui reside
justamente o mérito das doutrinas absolutas : qualquer que seja o seu valor ou desvalor como
Qualquer outra teoria dos fins das penas (entendendo por estes os efeitos
socialmente uteis que com elas se pretenda alcançar) torna o facto em mero ensejo de
aplicação da pena e falha completamente a sua vera essência e natureza: pune-se
porque se “pecou”. Só deste modo se corresponderia à dignidade histórica que a pena
desde tempos imemorias assumiu; como só deste modo se estaria em sintonia com o
sentimento cultural comunitário generalizado que desde sempre entendeu a pena como
um castigo e uma expiação do mal do crime.
Kant qualificava a pena como um imperativo categórico por isso que quando a
justiça desaparece, não tem mais valor que os homens vivam na terra, e concluía
afirmando que, ainda quando o Estado e a Sociedade devessem desaparecer, teria o ultimo
assassino que se encontrasse na prisão de ser previamente enforcado, para que assim cada
um sinta aquilo de que são dignos os seus atos e o sangue derramado não caia sobre o
povo que se não decidiu pela punição, porque ele poderia então ser considerado como
comparticipante nesta violação pública de justiça. Kant vê o crime como a expressão de
uma negação de si mesmo e dos próprios direitos do criminoso – “matar alguém é
matar-se a si mesmo”, pois que “qualquer mal imerecido que causas a um outro no povo
causa-lo a ti próprio”. Assim sendo, só a lei da retribuição, na condição de se efectuar no
tribunal (e não a título privado), pode indicar de maneira precisa a qualidade e a
quantidade da pena.
“Aquele que rouba torna insegura a propriedade de todos os demais, portanto priva-se
a si mesmo da segurança de toda a possível propriedade”
A doutrina da retribuição deve ser recusada ainda pela sua inadequação à legitimação, à
fundamentação e ao sentido da intervenção penal. Estas podem apenas resultar da necessidade,
que ao Estado incumbe satisfazer, de proporcionar as condições de existência comunitária,
assegurando a cada pessoa o espaço possível de realização livre da sua personalidade.
O grande argumento que sempre se repete contra as doutrinas da prevenção geral é o de que,
comandadas apenas por considerações pragmáticas e eficientistas, elas fazem da pena um
instrumento que viola, de forma inadmissível, a eminente dignidade da pessoa humana à
qual se aplica.
Refere-se hoje, cada vez com maior insistência, como uma autónoma e nova finalidade
da pena o propósito de com ela se operar a possível concertação entre o agente e a vítima através
da reparação dos danos – não apenas necessariamente patrimoniais, mas também morais –
causados pelo crime.
O Direito Penal considera a reparação do dano como condição de legitimidade de
aplicação de certas “ penas de substituição” ( art. 51º-1 ) ou como condição da “dispensa de
pena” ( art. 74º - 1b), para além de admitir o lesado a pedir a reparação dos danos civis no
próprio processo penal ( art. 71º e ss e 82º-.A do CPP).
Como ideia geral, pois, a concertação agente – vítima só pode ter o sentido de contributo
para o restabelecimento da confiança e da paz jurídicas abaladas pelo crime, o qual, como vimos,
constitui o cerne mesmo da prevenção geral positiva. Enquanto, por outro lado, aquela
concertação conforma uma vertente decisiva para uma correcta avalização, no caso, das
exigências de prevenção especial positiva.
Como a pena é justa paga pelo que se fez, normalmente é fácil associal as leis retributiva
ás ? (olho por olho, dente por dente). Das teses retributivas ganhamos um principio muito
importante – principio da culpa – este principio tem uma derivação muito simples – na
sua formulação básica este principio diz que não há pena sem culpa e a pena não pode
ultrapassar a medida da culpa. Uma pena sem culpa ou que va para alem da medida da
culpa vai contra este principio, não expresso na nossa CRP, mas decorre do art 1º CRP
conjugado com o art 7º. Se não tiver em alguma medida culpa pelo que fez, não pode ser
julgado e penalizado.
Quando é que há censura pelo que se fez? Quando podia ter feito outra coisa mas não
fez. A culpa envolve sempre um juízo de liberdade.
Teses preventivas – os fins das penas centram-se no futuro logo o objetivo é produzir
um certo efeito no futuro.
Quando o fim é de prevenção especial, os fins que se destina a produzir efeitos no
criminoso especifico, para que o mesmo não pratique mais crime. Franz Voz (??) a logica
é de corrigir a pessoa, porque se a pessoa praticou o crime é porque a vontade não é
perfeita. Quando não fosse possível corrigir a pessoa, devemos então intimidá-la, no
limite vamos neutraliza-la, prisão perpétua ou pena de morte.
Quando nos preocupamos em re-educar, aqui a logica é de prevenção especial positiva,
quando pensamos em intimidá-la neutraliza-la, a logica é de prevençao especial
negativa.
Criticas: o modelo facilmente se associal para a repressão do que é anómalo, acabamos
a punir mendigos, prostitutas, apenas por serem esse tipo de pessoas e não pelo que
fizeram, pessoas mais ostracizadas. Pode acontecer que factos muito graves sejam
praticados por pessoas que as praticou em situações de grande excecionalidade.
Na logica de prevenção especial teria uma pena muito reduzida ou inexistente. Isto a luz
do principio da culpa e principio da proporcionalidade é muito difícil de conceber.
Tem difícil consagração pratica. A pena de prisão é estigmatizante e tem efeito
crimonógeno.
Teorias da prevenção geral – nesta logica já não se busca produzir efeitos na pessoa do
condenado, os efeitos que se visam produzir são na restante comunidade/sociedade.
Teoria da coação psicológica, dizia que a mente do potencial criminoso é uma espécie
de campo de combate com luta de motivos, acha que o criminoso vai obter mais
prazer com a pratica do crime do que sem ela. Temos de dizer as pessoas que com a
pratica do crime, não vão ter efetivamente maior prazer, através da pena, acha que o
momento essencial é o da comunicação da pena, o momento da ameaça. Estas teses
desenvolvem-se em duas linhas, a da prevenção geral negativa - ameaça, intimidação;
mas há ainda a prevenção geral positiva – a logica é a do reforço da confiança da
população. Houve um crime, mas há confiança de que o direito continua a vigorar e se
vai certificar de punir através das suas penas.
Criticas: com a prevenção geral negativa, pode tender para penas muito gravosas, a
medida que o legislador ve que a ameaça não é suficiente, e isto na logica de
proporcionalidade não parece constitucional nem do sentido da culpa. É difícil comprovar
estes efeitos nas pessoas, mesmo que fosse, não aprece credível dizer que as pessoas
A base da solução aqui defendida para o problema dos fins da pena reside em que estes
só podem ter natureza preventiva – seja de prevenção geral, positiva ou negativa, seja de
prevenção especial, positiva ou negativa – não natureza retributiva.
O direito penal e o seu exercício pelo Estado fundamentam-se na necessidade estatal de subtrair
à disponibilidade de cada pessoa o mínimo dos seus direitos, liberdades e garantias indispensável
ao funcionamento da sociedade, à prevenção dos seus bens jurídicos essenciais; e a permitir a
realização mais livre possível da personalidade de casa um enquanto individuo e enquanto
membro da comunidade.
Primordialmente, a finalidade visada pela pena há-de ser a da tutela necessária dos bens
jurídico – penais no caso concreto; e esta há-de ser também por conseguinte a ideia mestra do
modelo de medida da pena. Tutela dos bens jurídicos não obviamente num sentido retrospectivo,
face a um crime já verificado, mas com um significado prospectivo, correctamente traduzido pela
necessidade de tutela da confiança e das expectativas da comunidade na manutenção da vigência
de norma violada ; sendo por isso uma razoável forma de expressão afirmar como finalidade
primária da pena o restabelecimento da paz jurídica comunitária abalada pelo crime. Uma
finalidade que, deste modo, por inteiro se cobre com a ideia de prevenção geral positiva ou
prevenção de integração; e que dá por sua vez conteúdo ao princípio da necessidade da pena que
o art. 18º-2 da CRP consagra de forma paradigmática.
É a prevenção geral positiva que fornece uma moldura de prevenção dentro de cujos
limites podem e devem actuar considerações de prevenção especial ; e não a culpa, como
tradicional e ainda hoje maioritariamente se pensa, que fornece uma “ moldura da culpa”.
Fica por esta via esvaziada de conteúdo um das questões mais discutidas a propósito do papel da
prevenção geral na doutrina dos fins das penas: a de saber se seria lícita uma qualquer elevação
da pena em nome de exigências de prevenção geral negativa ou prevenção de intimidação da
generalidade. A intimidação da generalidade não constitui todavia por si mesma uma finalidade
autónoma da pena apenas podendo surgir como um efeito lateral da necessidade de tutela de bens
jurídicos.
• Conclusão
➢ PARA ROXIN:
Adota uma teoria preventiva.
Afirma que o Direito penal se realiza em 3 etapas:
1. O primeiro momento em que o Direito penal intervém é o da cominação penal (associar
a um determinado comportamento uma sanção), ou seja, da determinação da medida
da pena. Para tal, é necessário saber que a função do poder estatal é a de criar e garantir
a um grupo reunido, interior e exteriormente, no Estado, as condições de uma existência
que satisfaça as suas necessidades vitais. Concretamente, os pressupostos
imprescindíveis para uma existência em comum concretizam-se nos bens jurídicos,
sendo que o Direito penal tem de assegurá-los.
Contudo, o Direito penal é de natureza subsidiária, e por isso apenas se podem punir as lesões
de bens jurídicos e as contravenções contra fins de assistência social se tal for indispensável
para uma vida em comum ordenada. Neste âmbito, o que se tem em vista nas disposições
penais é a prevenção geral.
2. O segundo momento é o da aplicação e graduação da pena. Neste momento, a
aplicação da pena serve para a proteção subsidiária e preventiva, tanto geral como
individual, de bens jurídicos e de prestações estatais, através de um processo que
salvaguarde a autonomia da personalidade e que, ao impor a pena, esteja limitado pela
medida da culpa. Assim se conserva o princípio da prevenção geral, reduzido às
exigências do Estado de Direito, e completado com as componentes de prevenção
especial da sentença mas que, simultaneamente, através da função limitadora dos
conceitos de liberdade e culpa.
3. O último momento é o da execução. Servindo a pena exclusivamente fins racionais e
devendo possibilitar a vida humana em comum e sem perigos, a execução da pena
apenas se justifica se prosseguir esta meta na medida do possível, isto é, tendo como
conteúdo a reintegração do delinquente na comunidade – prevenção especial.
Contudo, a ideia de função ressocializadora não justifica por si só o Direito penal e, por
isso, não se podem descurar as etapas precedentes, nas quais pode não ser eficaz. Pelo
contrário, os esforços de ressocialização apenas são legítimos e bem sucedidos sob todos
os aspetos, dentro dos limites atrás traçados.
O sistema das sanções jurídico – criminais do direito penal português assenta em dois
pólos:
- o das penas;
- o das medidas de segurança.
Enquanto as primeiras têm a culpa por pressuposto e por limite, as segundas têm por base
a perigosidade ( individual) do delinquente . Logo neste sentido o nosso sistema é pois um sistema
dualista.
● O problema da legitimação
Esta conceção – à qual se pode imputar uma certa semelhança com a criticada defesa de
Jakobs de um direito penal do inimigo é inaceitável. Porque as suas consequências seriam
terríveis para quem, como os inimputáveis e os criminosos empedernidos ou habituais, são
plenamente pessoas. Uma conceção tal levaria no extremo, a furtar a liberdade externo-social às
pessoas não em nome dos factos ilícito-tipicos que houvessem cometidos, não em face do perigo
que revelassem da sua repetição e da consequente necessidade comunitária de deles se defender;
mas pura e simplesmente em nome da doença que ao atingi.
● O dualismo do sistema
Pode um sistema ser considerado como dualista tão-só porque conhece, no seu arsenal
sancionatório criminal, não somente penas, mas também medidas de segurança. Não é este,
porém, o entendimento que deve estar em causa quando se afronta a questão monismo versus
dualismo do sistema. Se este conhece a existência de medidas de segurança, mas as aplica apenas
a inimputáveis, bem pode afirmar-se que nem por isso o sistema perde a sua característica
monista, para assumir cariz dualista.
A verdadeira alternativa monismo/dualismo só surge quando se pergunta se os sistema é
um tal que permite a aplicação cumulativa ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena
o Principio da culpa
Esta aflorado na CRP, não está mesmo consagrado, artigo 13º, 24º, 1º da CRP, mas em
caso algum se fala de estar expressamente consagrado.
O principio da culpa não é objeto de uma formulação legal tão nítida como o da
legalidade. Ao nível da Constituição, ele é deduzido da essencial dignidade da pessoa
humana e do direito à liberdade (artigos 1º e 27º). No CP, só é expressamente indicado
como fator de determinação na medida da pena (artigos 40º/2, 71º e 72º) mas a doutrina
tem-no usado como fundamento de outras consequências mais profundas.
Atualmente, o principio da culpa costuma assumir um tríplice significado:
a) Como fundamento da pena
Um direito penal não é legitimo porque as suas normas realizam os objetivos da sociedade
representada pelo Estado, mas porque os seus comandos e proibições, assim como o
processo que conduz à sua aplicação, realizam ideias culturais de justiça que enformam
as expectativas dominantes na sociedade. A afirmação de que o principio da culpa só pode
ser fundamento da pena no pressuposto da realização de um principio de justiça implica,
a questão óbvia da relação do principio da culpa com a ideia de justiça.
A resposta parece orientar-se em duas direções: a mera censurabilidade ético-pessoal não
torna a pessoa instrumento da sociedade ou do poder (dignidade da pessoa humana) e só
a censurabilidade ético-pessoal permite a discussão do acusado com o poder
O principio da culpa é dominantemente aceite como critério de determinação da medida
da pena. Não é o rigor quantitativo do que seja mais ou menos em matéria de culpa que
justifica a possibilidade da sua utilização como medida, mas a maior possibilidade de
chegar a comparações entre comportamentos e agentes através da referência à ideia de
culpa do que através de outros critérios, como os que são próprios da prevenção geral.
• Principio da Humanidade
Expressão da ideia de responsabilidade social pela delinquência e disposição de
rejeitar e recuperar a pessoa do delinquente. Este princípio justificaria a rejeição de
sanções atentatórias do respeito pela pessoa humana como a pena de morte, a prisão
perpétua, a tortura e as penas cruéis e degradantes – arts. 24º/2, 25º/2 e 30º/1, 4 e 5
CRP.
• Principio da Socialidade
Explica que a lógica impiedosa e vertical do sistema punitivo ceda a soluções que a
flexibilizam por causa da noção de uma supremacia social de certos interesses
individuais, aos quais outros interesses se deveriam sacrificar.
Justificará então, por exemplo, causas de exclusão da ilicitude, como o direito de
necessidade (art. 34º CP) e uma orientação geral sobre as penas que inclua a
solidariedade social com a vítima e com o criminoso, reinserindo-o socialmente.
Esta dimensão nada tem a ver com a ideia de retribuição, mas sim com a ideia de uma
relação punitiva justa a partir de comportamentos que só são verdadeiramente dignos de
tutela penal porque os seus autores tiveram as devidas condições para se reconhecerem
como responsáveis, tendo assim cabimento um juízo de censura pessoal pela prática de
tais comportamentos.
A exigibilidade ética de certos comportamentos não é algo posterior às decisões
legislativas de incriminação, mas a própria consideração da atribuilidade de uma censura
penal é condição de legitimidade constitucional da incriminação de certos
comportamentos, ou da sua negação, num plano abstrato-normativo.
Os reflexos desta análise do art. 40º implicam que sejam contraponíveis diferentes
modelos de relação entre o nº 1 e o nº 2 deste artigo, ou de relação entre a prevenção geral
positiva, a prevenção especial e a função da culpabilidade do agente na fundamentação
judicial da punição:
- No primeiro modelo, a culpabilidade não tem papel determinante na decisão sobre
o se da pena, apenas opera a posteriori na determinação da medida judicial
concreta e apenas para evitar que se ultrapasse um certo ponto-limite ainda
justificável preventivamente ou, quando muito, uma certa moldura entre um
máximo e um mínimo baseada em critérios de culpabilidade média, para evitar
excessos preventivos. Neste modelo, a culpabilidade é um princípio restritivo,
funcionando no quadro da prevenção.
O princípio da tipicidade implica que a lei especifique suficientemente os factos que constituem
o tipo legal de crime (ou que constituem os seus pressupostos) e que efectue a necessária
conexão entre o crime e o tipo de pena que lhe corresponde. A tipicidade impede, por
conseguinte, que o legislador utilize fórmulas vagas na descrição dos tipos legais de crime, ou
preveja penas indefinidas ou com uma moldura penal de tal modo ampla que torne
indeterminável a pena a aplicar em concreto. É um princípio que constitui, essencialmente, uma
garantia de certeza e de segurança na determinação das condutas humanas que relevam do
direito criminal
A interpretação das leis assume aqui um papel relevante. Não obstante a interpretação
não poder ser totalmente livre, os juizes não podem ser apenas as bocas que
pronunciam as palavras da lei, estes têm de ter uma fundamentação objetiva
baseada na lei.
O que se procura, então, com o princípio da legalidade, é a subordinação da sentença
criminal à lei, enquanto a lei é emanada dos representantes da vontade democrática.
Este princípio não abrange apenas as penas, mas também, e como resulta da CRP, as
medidas de segurança (mesmo a inimputáveis), em que o fundamento da sanção é
impedir a perigosidade ou o seu desenvolvimento. Temos aqui que o fundamento do
princípio da legalidade não se basta com a culpa, nem com uma conceção retributiva da
pena.
Para ser analisado em detalhe, este princípio pode ser estudado através de uma
sistematização, consubstanciada nas suas consequências/corolários:
- Scripta: Exigência de uma restrição das fontes do Direito penal – exclusão de
outras fontes que não sejam a lei em sentido formal, sendo que existe uma reserva
relativa de lei neste âmbito da AR - art. 165º/1 c) CRP. Esta exclusão das
restantes fontes acontece quanto às normas penais positivas (incriminadoras),
mas não quanto às normas penais negativas (desincriminadoras), uma vez que
nestas já não vigora a exigência estrita de subordinação ao princípio da
legalidade, porque não são normas que venham restringir a liberdade (ainda que
o Tribunal Constitucional tenha vindo a admitir a necessidade de reserva de lei
para as normas desincriminadoras também).
- Stricta: O princípio da legalidade visa também impedir que os tribunais possam
eles criar a lei e subverter a separação de poderes, ou seja, proíbe a analogia.
➢ Corolários:
o Reserva de Lei
Existe uma reserva de lei relativa da AR quanto às normas incriminadoras
(normais penais positivas) – art. 165º/1 c) CRP. Quanto às normas desincriminadoras
(normas penais negativas), o TC tem vindo a admitir que para estas também seja
necessária uma reserva de lei da AR; mesmo que não seja por via do art. 165º/1 c),
será por via da alínea b) do mesmo artigo, uma vez que o princípio da legalidade se
integra no elenco dos direitos, liberdades e garantias fundamentais.
O objetivo de tal imposição é assegurar a separação de poderes.
Coloca-se a questão de saber se as circunstâncias que agravam a responsabilidade
(ainda normas penais positivas) ou as circunstâncias eximentes ou atenuantes
(normas penais negativas) se incluirão na previsão constitucional do art. 165º/1
c) CRP:
- As circunstâncias agravantes definem o concreto facto criminoso, sendo
abrangidas pela previsão constitucional. Isto sucede nitidamente no caso das
circunstâncias modificativas (ex: art. 132º CP) – que podem alterar a
moldura penal, no sentido de permitir que o crime deixe de ser simples e
passe a ser qualificado. Mas também no caso das circunstâncias agravantes
simples (que não alteram a medida legal, mas somente a medida concreta da
culpa), o facto criminoso, de ilicitude ou culpa agravadas, é sempre diverso
daquele em que a ilicitude ou a culpa são menos graves. Assim, as razões
justificativas da reserva de lei favorecem a aplicação da alínea c) do art. 165º/1 a
todas as circunstâncias agravantes.
Contudo, verifica-se que as circunstâncias agravantes gerais (art. 71º CP), que
funcionam para agravar a pena, mas dentro da moldura legal, estão previstas de
forma não taxativa. Tal atipicidade parece ser incompatível com a reserva de lei, por
postular a criação jurisprudencial de novas circunstâncias. Porém, a previsão daquele
preceito apenas pode significar a valoração de um aspeto do ilícito ou da culpa
de um determinado crime que revele maior intensidade.
Assim, poderá um Tribunal, ou o próprio Governo, sem autorização legislativa, vir
erigir um determinado critério de agravação? A resposta é não: ou terá de haver uma
relação da circunstância com a capacidade de motivação pela norma, ou se a agravante
quiser apenas impedir o juiz de fazer considerações no caso concreto, aí já haverá
violação da reserva de lei.
O artigo 277º/a) do CP, por exemplo, é uma norma penal em branco. Ao vermos este
artigo fala em “violar as regras gerais ou técnicas”, mas não sabemos quais são essas
regras, essa norma prevê a estatuição, parte da estatuição mas falta outra parte, que é a
identificação das regras cuja violação pode gerar a responsabilidade penal. Não diz que
normas técnicas podem ser violadas, as normas que estão nos manuais de
engenharia, etc.
Quais é que são os problemas que esta previsão pode colocar? Podem colocar-se em
relação a todas as normas penais em branco. Dependendo da norma penal em branco que
esteja em causa, há umas inquinadas por esses prolemas e outras que não estão
inquinadas por esses problemas.
O crime pelo qual os engenheiros foram acusado no projeto, não foi integralmente
definido pela AR ou DL autorizado, apenas parte desse crime foi definido pela AR, mas
houve outra parte definida pela comunidade dos engenheiros que produziram os manuais,
temos pessoas a ser penalizadas por lei de AR e também pela comunidade cientifica dos
engenheiros. Temos de perguntar se viola ou não o artigo 165º/c CRP?
O segundo problema tem que ver com a lei ser certa – o destinatário da norma
tem de saber qual o sentido da norma e o que é ou não proibido. A ideia de lei certa tem
especial importância para os juízes, quem vai decidir permitindo evitar o arbitrio, a ideia
de lei certa visa garantir que o juiz no momento da aplicação faz aplicação uniforme da
A doutrina maioritária aponta, contudo, para uma noção mais restrita, no sentido de
considerar norma penal em branco apenas o primeiro caso, isto é, aquele em que uma norma
penal remete parte da concretização da sua previsão para fontes normativas inferiores.
➢ O plano da fonte
Neste plano o principio conduz à exigência de lei formal: só uma lei da AR ou
por ela competentemente autorizada pode definir o regime dos crimes, das penas e
das medidas de segurança e seus pressupostos. A este propósito podem todavia
suscitar-se alguns problemas que não devem deixar de ser referidos. Desde logo o de
que o conteúdo de sentido do principio da legalidade só deveria cobrir a atividade
de criminalização ou de agravação, não a descriminalização ou de atenuação.
Outro problema é o de saber se a exigência de legalidade no plano da fonte deverá
abranger só a lei penal sensu stricto ou ainda também a lei extra-penal, na medida em
que esta venha a ser chamada pela lei penal à fundamentação ou à agravação da
responsabilidade criminal. Para esta fundamentação ou agravação serve-se muitas
vezes a lei penal, com efeito, de procedimentos de reenvio para ordenamentos
jurídicos não penais – o civil, administrativo, fiscal.
➢ A Proibição da Analogia
Toma-se neste conceito o conceito de analogia como aplicação de uma regra
jurídica a um caso concreto não regulado pela lei através de um argumento de
semelhança substancial com os casos regulados: a chamada analogia legis, não a
analogia iuris. O argumento da analogia tem em direito penal de ser proibido por
força do conteúdo de sentido do principio da legalidade, sempre que ele funcione
contra o agente e se vise servir a fundamentação ou a agravação da sua
responsabilidade.
Esta conclusão já resultaria evidente do texto do artigo 29º/1 da CRP porque
nestas hipóteses se não pode formar que a lei declara punível o ato ou a omissão.
Mas o CP entendeu reforçar a proibição estatuindo expressis verbis no art 1º/3
que “não é permitido o recurso à analogia para qualificar um facto como crime,
definir um estado de perigosidade ou determinar a pena ou a medida de segurança
que lhes corresponde”.
• Interpretação e analogia em DP
A proibição de analogia pressupõe a resolução do problema dos limites da
interpretação admissível em direito penal. Está hoje afastada a convicção
iluminista de que o principio da separação de poderes conduziria à proibição de
qualquer processo de interpretação jurídica.
Aceita-se que praticamente todos os conceitos utilizados na lei são suscetíveis e
carentes de interpretação: não apenas os conceitos “normativos” mas mesmo aqueles
que à primeira vista se diria caracterizadamente descritivos. Deste modo se torna
inarredável a questão de saber o que pertence ainda à interpretação permitida e o que
pertence à analogia proibida em direito penal pelo principio da legalidade.
O fundamento desta proibição reside igualmente na exclusividade da elaboração
da lei penal pelo Parlamento ou do Governo com autorização. – Se os tribunais
pudessem utilizar a analogia, formulariam normas incriminadoras que deixariam de
ser objeto de controlo democrático.
Quanto à analogia:
▪ Existem várias posições. Uma (Teresa Beleza) admite-se a integração de
lacunas no âmbito de normas penais favoráveis.
▪ Outra posição é a de que se admite por princípio a integração de lacunas por
analogia no âmbito de normas penais favoráveis, desde que essa analogia não
se venha a traduzir num agravamento da posição de terceiros, por ele ter de
suportar na sua esfera jurídica efeitos lesivos ou por ter auto-limitado o seu direito
de defesa.
Todavia, é uma questão controvertida, hoje em dia, o que se pode considerar que seja
analogia.
A distinção tradicional entre estes dois tipos de interpretação assenta numa perspetiva
da interpretação jurídica como subsunção, segundo a qual seriam separáveis os
momentos de pura investigação do sentido e âmbito da lei e da sua aplicação aos casos
concretos. Este modelo, contudo, é criticável, pois pressupõe que a interpretação
jurídica nunca é constitutiva ou criativa e que a própria analogia é subtraída ao
pensamento inspirador do caso legal, como se a integração de lacunas não se
socorresse afinal de um fundamento jurídico derivado da própria lei que abrange os
casos semelhantes.
Assim, torna-se necessária a interpretação jurídica da proibição legal da
analogia com todos os instrumentos do pensamento jurídico que permitam
compreender a sua ratio e a sua possibilidade. Deste modo, para interpretarmos a
lei, temos de desenvolver um conjunto de raciocínios analógicos que nos
permitam perceber se aquele comportamento em concreto se pode integrar no
comportamento que o legislador pretendeu proibir.
Quando se descobre que a razão de ser da proibição da analogia se prende com a
segurança jurídica e com o controlo democrático da aplicação da Lei penal,
consubstanciando-se num comando dirigido ao intérprete de não se substituir ao
legislador, chega-se à conclusão de que a distinção entre interpretação extensiva e
analogia não permite traçar rigorosamente as fronteiras da interpretação que não
ofende a segurança jurídica.
Dois casos: caso que não é da jurisprudência portuguesa e é mais antiga - caso do ácido,
que era preciso saber se referindo a lei apenas armas, se nos terremos funcionalmente
uma arma como acido, no sentido mais comum das palavras o acido não é uma arma, é
apenas uma substancia químicas.
- Segundo a conceção tradicional, que fazia uma delimitação entre a analogia e a
interpretação extensiva, era difícil realmente integrar o caso do acido no conceito de
arma. A luz desta conceção tratava-se de analogia porque realmente o pensamento do
legislador estava direcionado aos casos típicos de maior intensidade de ofensa
intencional, como nos casos, da utilização de armas. Havia razões fortes (elementos
histórico e literal) para não incorporar o acido como arma. A solução tradicional não
tinha facilidade para resolver este caso porque havia conflito entre os elementos da
interpretação.
Quando temos critérios que são características fundamentais para tomar decisões, por
vezes essas características são critérios menos intensos ; apagam-se as contraditórias
menos intensas. Isto ainda para salvar a interpretação extensiva.
A aplicação do critério a vários casos práticos pode revelar-se difícil. Em todos estes
casos temos de aplicar o critério do art. 3º do CP.
• O facto é de homicídio, disparou a arma dia 10 e é punido com 8 a 16 anos. No
dia 15 entra em vigor a lei 2, que aumenta o homicídio para 20 anos. No dia 20, o
juiz tem de decidir se aplica a lei um ou a lei 2. Neste caso, o que temos de dizer
é que existe um principio fundamental no nosso ordenamento: o principio da
irretroatividade desfavorável da lei penal. Qualquer lei posterior ao momento
da pratica do facto, se for desfavorável (e aqui é, porque aumenta a pena, não se
aplica retroativamente, ou seja, aplicar a lei posterior a um facto anterior).
• Nestes casos, o que se aplica é a lei do momento da prática do facto. Está previsto
no art. 1º/1 e 2º/1 CP – em principio aplica-se a lei do momento da pratica do
facto, o que significa que leis penais desfavoráveis não se podem aplicar
retroativamente. A retroatividade favorável é resgatada pelo 2º/2 e o 2º/4 CP
e 29º/4 CRP. É assim devido à segurança jurídica – para impedir que a pessoa
pudesse ser alvo de um poder arbitrário do Estado; a pessoa não pode
depender do bom ou mau humor do decisor político – e ao princípio da culpa –
No entanto, pode acontecer que a pena posterior diminua. Neste caso, aplica-se a lei 2,
porque existe um principio de retroação de lei posterior mais favorável. O que se aplica é
a lei 2. MENTIRA
→ Há um erro muito comum que é o de dizer que se aplica a lei 2 porque é a lei
mais favorável. É absurdo dizer que se aplica uma lei porque ela é a mais
favorável. O que existe é o principio da aplicação retroativa da lei penal posterior
mais favorável. Quando uma lei posterior for mais favorável, ela aplica-se
retroativamente. Mas não basta ser mais favorável (art. 2º/2 – situação de
descriminalização - e 2º/4 – o crime continua a existir, mas é atenuado).
→ Qual é o fundamento? O fundamento aqui é principio da necessidade e da
igualdade. Da necessidade, a partir de hoje 5 anos é suficiente para proteger
aquela situação. A partir deste momento, mais nenhum tribunal pode aplicar uma
pena que seja superior a 5 anos, devido ao art. 18º/2 CRP. Estes 5 anos passam a
valer para todos os factos posteriores e, retroativamente, aplicam-se aos factos
anteriores. O principio da igualdade, porque, no caso em que a lei 2
descriminalizava o que antes era crime, se a lei 2 não se aplicasse retroativamente
e o senhor x não fosse libertado, ele, atras das grades, ia estar a ver as outras
pessoas a fazer aquilo que ele fez e a não serem punidas. Isto em termos de
igualdade introduzia uma perturbação inaceitável no sistema.
O princípio geral da não retroatividade das leis assume no Direito Penal a natureza
de uma proibição constitucional de retroatividade das normas penais que criem ou
agravem a responsabilidade penal.
Os fundamentos de tal proibição são:
→ Quanto às normas incriminadoras, os princípios da:
o Culpa – a possibilidade de uma conduta ser retroativamente
incriminada contradiria uma responsabilidade penal fundamentada
na livre determinação do agente pela norma jurídica;
▪ MEDIDAS DE SEGURANÇA
Art. 29º/1 e 3 CRP + art. 2º CP – não traz dificuldades nenhumas quanto à conclusão
que tanto as medidas de segurança como os seus pressupostos (factos típicos de que
decorre o indício da perigosidade do agente) também estão sujeitas à proibição da
retroatividade.
O fundamento da proibição de retroatividade não é essencialmente a culpa, mas sim a
segurança dos destinatários do Direito, própria de um Estado de Direito democrático.
Quer a alteração agravante de uma medida de segurança, quer a sua criação, afetam a
segurança, na medida em que permitam uma intervenção sem controlo do poder punitivo
na liberdade dos cidadãos.
→ Prof. Fernanda Palma: a ausência de limites à intervenção do Estado, mesmo
que em nome da prevenção e da política criminal, contendem com a segurança,
Taipa de Carvalho:
O princípio da aplicação da lei mais favorável vale igualmente para as medidas de
segurança:
Proibição da retroatividade da lei criminalizadora do facto-pressuposto da
declaração de perigosidade do delinquente e da lei que estabeleça uma medida de
segurança mais grave, e imposição da retroatividade da lei descriminalizadora do facto-
pressuposto e da lei que estabeleça uma medida de segurança mais favorável.
Processo Penal:
FD: princípio jurídico-constitucional da legalidade estende-se a toda a repressão penal e
abrange, nesta medida, o próprio direito processual penal
Princípios reguladores da aplicação da lei penal no tempo e as formas da sua
articulação valem para toda a lei penal, independentemente da sua natureza
substantiva ou processual.
Mas,
Do art. 5º/1 CPP, resulta a aplicabilidade imediata da nova lei processual nova.
O art.5º/2 limita a aplicabilidade imediata, relativamente “aos processos iniciados
anteriormente à sua vigência”, nos casos de “agravamento sensível da situação
processual do arguido” e de “quebra de harmonia e unidade de vários atos do processo”.
Em muitas ordens vigora hoje a ideia de que a proibição não vale relativamente ás
medidas de segurança; na base mais uma vez, de que se trata aí de medidas de prevenção
especial positiva comandadas pelo “verdadeiro bem” do agente. E a ideia teve curso entre
nós até à CRP atual. Hoje, porém existem injunções legais, constitucionais e ordinárias,
que terminantemente afastam uma tal doutrina. Também relativamente ás medidas de
segurança se fazem sentir exigências de proteção dos direitos, liberdades e garantias das
pessoas atingidas que substancialmente se identificam com as que se fazem sentir ao nível
das penas.
De considerar é agora todavia a doutrina diferenciadora proposta por Maria Joao
Antunes: “Se no tocante ao pressuposto ‘prática de facto ilícito tipico’ vale a lei vigente
no momento da prática do facto, já quanto ao pressuposto ‘fundado receio de que o
agente venha a cometer outros factos ilícitos tipicos’ poderá valer a lei vigente no
momento da formulação deste juízo de perigosidade”. Por isso “a medida de segurança
só é aplicável se o facto for descrito e declarado passivel de pena por lei anterior ao
momento da sua prática; a medida de segurança não é aplicável se o facto punível
segundo a lei vigente no momento da sua prática deixar de o ser, por uma lei nova o
eliminar do numero das infrações, ainda que haja decisão transitada em julgado; a
Apesar da sua aparente simplicidade, esta regulamentação deu já entre nós origem
a uma série de duvidas. Um primeiro grupo de casos é formulado pelas situações em que
determinada conduta deixa de ser crime e passa a constituir contra-ordenação. Há quem
defenda que nesses casos o facto deixa de ter relevância jurídica, não podendo ser objeto
de punição penal, nem contra-ordenacional. E isto porque, atendendo à autonomia
material do direito contra-ordenaciona face ao direito penal, se argumenta que dada a
descriminalização, não poderá o facto ser punido criminalmente mas também não poderá
ser sancionado a titulo contra-ordenacional uma vez que no momento da sua prática não
existia ainda uma norma legal que para ele cominasse uma coima.
O que deve perguntar-se é se a proteção do cidadão perante o poder punitivo estadual e a
tutela das suas expectativas, que conferem também razão de ser ao principio da legalidade
contra-ordenacional, são substancialmente postas em causa com uma eventual punição
contra-ordenacional nestas circunstâncias. E a resposta parece não deixar de ser negativa,
pois no momento da prática do facto não existiam razões para que o agente pudesse
esperar ficar impune; acabando com a aplicação da sanção contra-ordenacional, por
▪ As leis intermédias
O principio da aplicação da lei mais favorável vale ainda mesmo relativamente ao que
na doutrina se chama leis intermédias, isto é, leis que entram em vigor posteriormente à
▪ As Leis Temporárias
Uma exceção ao principio da aplicação da lei mais favorável está consagrada no artigo
2º/3, para as chamadas leis temporárias: “Quando a lei valer para um determinado
período de tempo, continua a ser punível o facto praticado durante esse período”. Leis
temporárias devem considerar-se apenas aquelas que são editadas pelo legislador para um
tempo determinado: seja porque este período é desde logo apontado pelo legislador em
termos de calendário ou em função da verificação ou cessação de um certo evento, por
exemplo a duração de um estado de sitio ou de um estado de guerra – as chamadas leis
temporárias em sentido estrito – seja porque aquele período se torna reconhecível em
função de certas circunstâncias temporais – as chamadas leis temporárias em sentido
amplo. Comum é a circunstância de a lei cessar automaticamente a sua vigência uma vez
decorrido o período de tempo para o qual foi editada. A razão que justifica o afastamento
da aplicação da lei mais favorável reside em que a modificação legal se operou em função
não de uma alteração da conceção legislativa mas unicamente de uma alteração das
circunstancias fácticas (pense-se nomeadamente em termos de direito penal económico)
que deram base á lei.
Não existem aqui expectativas que mereçam ser tuteladas enquanto, por outro lado, razões
de prevenção geral positiva persistem.
➢ As hipóteses de descriminalização
A primeira situação e mais radical, será aquela em que uma lei posterior à pratica do facto
deixe de ser crime (descriminalização em sentido técnico). Uma tal situação cabe em rigor
dentro do principio de aplicação da lei mais favorável e não exigiria portanto a sua
consagração expressa; ou porque se diga que a lei mais favorável é aqui a lei revogatória
da criminalização, ou porque á conclusão se chegaria através de um argumento de
analogia (permitida).
Todavia o CP contempla diretamente o caso no art. 2º/2 nos termos seguintes: “O facto
punível segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma lei nova
o eliminar do numero das infrações; neste caso, e se tiver havido condenação, ainda
que transitada em julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais”.
De acordo com o que acaba de dizer-se, a primeira parte do preceito não seria
indispensável; mas já não assim a segunda parte que traduz a ideia de a eficácia do
principio de aplicação da lex mellior ser tão forte que, quando se analise em
descriminalização direta do facto, ela se impõe, no que toca à execução e aos seus efeitos
penais; ainda no caso de a sentença condenatória ter já transitado em julgado. O que tudo
se compreende considerando que se a conceção do legislador se alterou até ao ponto de
deixar de reputar jurídico-penalmente relevante um comportamento, não tem qualquer
sentido politico-criminal manter os efeitos de uma conceção ultrapassada.
➢ Condições de aplicação
o Que o agente seja encontrado em Portugal
A primeira condição – a de o agente ser encontrado em Portugal, explica-se quanto ao
principio da personalidade ativa, por ser nela que se concretiza a razão que lhe dá
fundamento: a não-extradição de nacionais; e quanto ao principio da personalidade
passiva por nele se tratar de uma extensão do principio da nacionalidade justificada por
razões de índole muito especial. Tem-se muitas vezes apontado esta condição na nossa
doutrina, como exemplo de uma condição objetiva de punibilidade. Tomada esta
expressão no seu teor literal a afirmação é correta. Dogmaticamente porém ela nada
possui de comum com o fundamento e a teleologia das verdadeiras condições objetivas
de punibilidade antes constitui uma condição de aplicação no espaço da lei penal
portuguesa.
o Que o facto constitua crime que admita extradição e esta não possa
ser concedida
O inciso III do art 5º nº1/c põe como ultima condição de aplicação do principio da
personalidade ativa ou passiva, que o facto constitua crime que admita extradição e esta
não possa ser concedida. Trata-se aqui de uma reafirmaº
Ao da conceção do legislador segundo a qual o principio da territorialidade deve não
apenas no conspecto nacional, mas internacional constituir o principio-base e o principio
da nacionalidade o complemento.
9.10.19
Artigo 40 CP – foi o professor figueiredo dias que propôs esta redação, mas diz que o
objetivo não é resolver qualquer disputa doutrinaria e há quem diga que continuamos na
escuridão em que estávamos em ’82, pois não temos nenhuma indicação precisa. Não tem
muita orientação pratica, temos fins de prevenção especial no nº1 na medida em que
entendamos que tem em conta teses de prevenção geral e depois no nº2 o principio da
culpa, o que podemos dizer é que a norma parece sugerir que a culpa realmente intervem
Há quem dia que o modelo do prof FD é um conceito mais social por ser pouco
jurídico, é mais de ilicitude do que culpa, tende-se a aferir a gravidade pelo acentuar
dos atos cometidos.
Uma pessoa pode praticar um homicídio, é um facto grave, lesou o bem vida, mas não
significa que não pode ser desculpada pelo que fez, no plano diferente, o da culpa, em
O professor Faria costa refere que: as pessoas são seres incompletos e inacabados e
numa relação de cuidarem umas das outras, uma relação de cuidado perigo, cuidam
umas das outras e cuidam em si mesmo, cuidando umas das outras. Quando alguém
pratica um crime, agride outra pessoa, ela rompe essa relação de cuidado perigo, o
que a pena vai fazer é repor essa relação, para o professor faria costa, dizer que a pena
é um mal que se reconduz a outro mal, ele defende que a pena é um bem. O direito
penal radica desta reposição. Ele defende a logica retributiva pelos princípios da
igualdade.. não punimos para um certo efeito no futuro, punimos para responsabilizar
o agente pelo seu facto tendo em conta princípios da culpa não há uma
responsabilidade objetiva no DP, não há resp pelo risco, a pessoa só é
responsabilizada criminalmente pela censura do ato. O cerne da responsabilização
esta no passado não no futuro, pois é uma responsabilização pelo que fez antes e
limitado pela liberdade que ela tinha de ter tomado outra atitude. Todas as pessoas
tem direito a uma pena justa materialmente idêntica aos outros criminosos, uma pena
medida pelo mesmo padrão de censurabilidade.
- Justiça restaurativa
Tem sido proposta como possível terceira via em relação as penas e medidas de
segurança. A ideia basicamente é a de obter uma reparação pelos danos que sofreu
com o crime, que será obtida através de uma concertação ente o agente e a vitima. O
agente e a vitima vão-se encontrar para decidir o que fazer com as consequências do
crime.
No Processo Penal, como é que a vitima pode intervir? Ou enquanto lesado ou então
como testemunha se o ministério achar útil que faça depoimento ou então como
assistente.
Neste modelo a ideia é um encontro entre o agente e a vitima através da mediação
penal. Lei 21/2007 de 21 de junho. Só existe mediação para certos crimes, não para
todos, estão lá elencados os permitidos. Remete-se processo para mediação, têm
ambos de concordar, é nomeado mediador, auxiliando o agente criminoso e a vitima,
agilizando no diálogo para que haja uma cordo, pelo qual se espera que se supere o
conflito
13.11.19
Interpretação extensiva
Interessa perceber a ideia de que toda a interpretação contém raciocínios analógicos. Há
textos importantes em ptg nomeadamente o pensamento de Castanheira Neves.
Há uma preocupação que imediatamente se coloca, chegou-se na matéria do principio
da legalidade e proibição da anaogia a um estado problemático, se toda a interpretação é
analogia e se no DP se proíbe a analogia, o que é que o Direito Penal proíbe? Pelo
seguimento do pensamento, estaria a proibir a própria interpretação.
Quando se proíbe a analogia, está-se a querer proibir uma certa interpretação ou uma
certa analogia. Para chegar aí temos de ir atrás e tentar perceber que toda a interpretação
é analogia, o texto tem sempre qualquer coisa extra.
Toda a interpretação se resumiria a um silogismo interpretativo.
Para castanheira neves o texto real é ais um pretexto, condição da interpretação que
deriva de um principio de crimen, mas tem que ver com reservas da fonte de direito,
mas não fundamento, nem ponto de partida da interpreação jurídica, o texto é o produto
da interpretação, ele diz isto no sentido de desvalorizar a condição textual de partida, o
que se procura é uma ideia, o dever ser que o legislador impõe e essa ideia jurídica do
que é proibido que se persegue na interpretação esta para alem do texto, apoia-se no
elemento sistemático da interpretação, na pesquisa dos valores perseguidos pela norma
subjacente ao texto, bem como condições institucionais. O que Castanheira Neves diz é
que há uma ideia normativa, é produto da investigação e ela forma o texto ideal da
interpetação
20.11.19
361 CPC
Leis temporárias – regime geral art. 2º/2 principio da necessidade da pena e da
igualdade.
Regime especifico – so podemos apicar o 2/3 para situações de emergência quando
não viola o principio de igualdade e principio de igualdade da pena. Não basta o
legislador disser que a lei so se aplica para um determinado perioro de tempo, tem
de justificar que se adequa a um período especifico de tempo por contexto
especialmente gravoso e por situações de calamidade.
Leis de emergência
25.11.19
▪ Matéria da prescrição, e aplicação da lei penal inconstitucional no tempo e
conversão de crimes de perigo em crimes de dano
Aplicação da lei inconstitucional no tempo: há uma lei, a lei posterior é uma lei
descriminalizadora ou atenuante mas ela é inconstitucional sendo declarada
inconstitucional pelo tribunal, artigo 282º CRP. Também pode ser situação de
declaração de ilegalidade com força obrigatória geral, tem efeitos desde a entrada
em vigor e determina a repristinaça das normas que haja revogado. Das normas mais
formais, é que nesses casos sendo a lei penal posterior mais favorável mesmo
desciminalizadora sendo inconstitucional, sucede a repristinação das normas da lei
anterior, mas a lei anterior é a lei menos favorável.
Ressalva dos casos julgados, nº3 do 282º, imaginemos que há lei descriminalizada
posterior e por força do 2º2 do CP já cessaram os efeitos da descriminalização ou
por força do 2º/4 aplicado a medida melhor e já há caso julgado, sentença firma,
nessa situação temos de aplicar o 282/3 pois o caso julgado não é afetado. A
ressalva do caso julgado so não prevalece quando a lei for de conteúdo menos
favorável ao arguido.
Os problemas começam quando não há caso julgado, a lei posterior mais favorável
ainda não foi aplicada, não houve transito em caso julgado, e nesse caso não eé
situação diretamente preista, nesse caso a doutrina e a jurisprudência tem definido
duas posições: supremo e TC – quando há consideração de norma inconstitucional,
essa nora não tem validade, não pode produzir efeitos pois ela é invalida e tem de se
Vamos imaginar que a carne de vaca passava a ter uma doença super perigosa, de
modo que o legislador resolvia dizer que tendo em conta este vírus, até se resolver a
doença é perigoso, durante os próximos meses é punido quem vender carne de vaca,
servir, partilhar de qualquer forma de partilha carne de vaca. Á luz da L1 não é crime mas
depois surge a epidemia, e passa a ser criminalizada até Setembro, em setembro confirma-
se que o vírus está resolvido e já se pode partilhar carne de vaca, então volta o regime
anterior. Imaginado que o agente praticou o facto em agosto, ele é apanhado a vender
carne de vaca. E agora vai ser julgado em outubro quando esta reposta a normalidade e
em vigor o regime de sempre, o que lhe vai ser aplicado? Antes de irmos ao regime
especifico, pelo regime geral aplicamos em principio a L2 pois é a lei em vigor no
Vamos imaginar que o A foi apanhado a conduzir certo dia com 0.7 e o B foi apanhado a
conduzir com 0.9. o que é que vai acontecer ao A. vao ser ambos julgados no mesmo dia.
Á luz da L1 era contra ordenação, á luz da L2 continua a ser contra ordenação. Vai ser
punido com coima. E o B, no momento da pratica do facto o facto era contra ordenação,
na L2 passou a ser crime, ultrapassa o limite pois o limite baixou para 0.8 com a nova lei.
No entendimento do Taveira de carvalho, o B vai ser absolvido – como B bebeu mais vai
ser absolvido e ganha o premio, o A é condenado . mas o prof Taveira de carvalho refere
que isso é problema do legislador. Ou eu altero o regime das contra ordenações e prevejo
outra situação, ele diz que o problema resolve-se indo ao regime das contra ordenações e
alterando-se ou então quando o legislador faz a L2 prevê um regime transitório para todos
os que haviam sido praticados anteriormente. Isto não é muito coerente, e precisamos
desse regime transitório para que não se possa absolver um crime deste caso, se realmente
haver problema de legalidade, e so passou a ser contra ordenação posteriormente se não
posso punir por problemas de legalidade e não retroatividade , Taveira diz que o legislador
pode resolver todos os problemas colocando uma norma transitória.
Em bom rigor não há problema – esta visão quase radical do prof Taveira do principio da
legalidade quando o que interessa é ver se estão ou não a ser cumpridos os fundamentos
materiais. Quando digo que n posso aplicar retroativamente e eu digo que era crime
quando praticou e passou a sr contra ordenação, eu pergnto posso aplicar a pena? Não pis
aplico a pena que entretanto o legislador acha desnecessário, o legislador so quer agora a