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A vida em sociedade exige que regras de conduta sejam estabelecidas e cumpridas para que se tenha organização,
disciplina e bom convício social entre aqueles que a compõem. O Direito Penal estabelece o conjunto de regras a ser
seguidas, dispondo das condutas consideradas proibidas, com aplicação de sanção para aqueles que se adequam às
condutas descritas no ordenamento positivado, ou seja, as condutas descritas no Código Penal e nas legislações penais
especiais. Com a finalidade de garantir a estabilidade social é que se tem o ordenamento jurídico penal positivado,
devendo ser respeitado todos os preceitos constitucionais, bem como respeitadas as regras de julgamento estabelecidas
no Código de Processo Penal e legislações especiais, para que se dê a oportunidade ao transgressor de exercer o direito
à ampla defesa e o contraditório, só então, eventualmente sobrevenha uma condenação.
A expressão Direito Criminal, desde que o Brasil se tornou independente, só fora utilizada uma única vem, em 1822
( Código Criminal do império).
Nos demais códigos a denominação passou a ser utilizada foi Direito Penal.
⮚ Tempo do crime;
⮚ Lugar do crime;
⮚ Nexo de causalidade
⮚ Resultado.
Estabelece regras que serão aplicadas ou não aos crimes previstos no Código Penal.
No que tange o Direito Penal subjetivo, podemos classifica-lo como sendo o poder de punir do Estado.
Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo
Essa classificação resta superada, pois, em face da autonomia do Direito Processual Penal, que determina as regras de
aplicação do Direito Penal e da legislação penal especial, segundo nos ensina o professor Andreucci, senão vejamos:
“Direito Penal adjetivo: é o conjunto de normas destinadas à aplicação do Direito Penal substantivo.
São as regras processuais que se destinam a estabelecer a forma pela qual as normas penais serão
aplicadas aos criminosos, ensejando, se o caso, a imposição de sanção. Direito Penal substantivo: é o
conjunto de normas que estabelecem as infrações e as sanções penais. É o Direito Penal propriamente
dito, encontrado na forma de normas que estabelecem preceitos que devem ser obedecidos e sanções
para o caso de descumprimento.
Dessa forma, podemos concluir que embora essa classificação esteja superada, importante destacar o contexto
histórico, para compreensão da evolução e autonomia do Direito Processual Penal, na aplicação do Direito Penal e
Legislação Especial Penal, ou seja, na aplicação do Direito Substantivo.
OBJETIVO/FINALIDADE
Visa definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob ameaça se sanção. Visa também criar normas de
aplicação geral, dirigidas não só aos tipos incriminadores nele previstos, como em toda a legislação Penal
extravagante.
Tem por finalidade principal proteger os bens mais valiosos e importantes e necessários para a sobrevivência em
sociedade.
Pena- Instrumento de coerção que se vale o Direito Penal para a proteção dos bens tutelados.
Quais são os bens jurídicos que o Direito Penal Tutela?
● Liberdade
● Segurança
● Igualdade
● Justiça
Direito Penal é considerado “soldado de reserva” – significa dizer, que se nenhum dos demais ramos consegue
proteger esses bens, o Direito Penal será acionado – Ultima Ratio.
Sanção – Para os imputáveis
● Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
Art. 12 CP - Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
dispuser de modo diverso.
O Direito Penal deve ser interpretado, estudado e aplicado de forma subsidiária aos outros ramos do Direito,
preocupando-se com os fatos mais relevantes, sendo a última ratio, também de forma ampla, através da
interdisciplinaridade com outras ciências jurídicas, como por exemplo a Filosofia do Direito, Sociologia do Direito,
fazendo ainda valer-se de outros ramos como por exemplo a Criminologia.
Necessário se faz a interdisciplinaridade do Direito Penal, como os outros ramos do direito, que se verifica nas
seguintes situações exemplificadas abaixo:
Dessa forma, se pode perceber que as relações dos indivíduos que vivem em sociedade, devem ser
organizadas de acordo com os vários ramos de direito, tendo o direito penal papel subsidiário, no sentido de apurar
condutas consideradas proibidas, julgando e aplicando sanções quando necessário.
“A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que estabeleça as
regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem. O conjunto dessas
regras, denominado direito positivo, que deve ser obedecido e cumprido por todos os
integrantes do grupo social, prevê as consequências e sansões aos que violarem seus
preceitos (Mirabete).
CRIME
Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção,
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.
O conceito analítico de crime envolve a análise dos elementos essenciais que constituem um crime.
Geralmente, esses elementos são divididos em três partes: conduta, tipicidade e ilicitude.
Logo, crime é fato típico (tipicidade penal- tem que ter uma lei que defina o crime), ilícito (legalidade
não possui crime sem que lei anterior o defina sem prévia cominação legal) e culpável ( a conduta do agente tem que
ser dolosa ou culposa para que seja considerada uma conduta culpável).
Conduta: Refere-se ao comportamento humano que é considerado criminoso. Pode ser uma ação
(fazer algo) ou uma omissão (deixar de fazer algo) que é proibida por lei.
Tipicidade: Diz respeito à correspondência entre a conduta do autor e a descrição prevista na lei como
crime. A conduta deve se encaixar nos termos exatos definidos na lei para ser considerada tipicamente criminosa.
Ilicitude: Significa que a conduta do autor é contrária ao ordenamento jurídico, ou seja, é proibida
pela lei. Nem todas as condutas ilegais são consideradas crimes; a ilicitude também leva em consideração
justificativas legais, como legítima defesa ou estado de necessidade.
O conceito analítico de crime ajuda a definir e identificar quando uma conduta pode ser considerada
criminosa dentro do contexto legal.
Costumes por sua vez, na visão de Mirabette, o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e
uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Logo, os costumes servem de auxílio ao interprete a traduzir
conceitos.
Os costumes não possuem por sua vez o poder de revogar as leis. Apenas uma lei poderá revogar uma outra.
Os costumem servem para que os criadores da lei repensem a necessidade ou não da permanência de uma lei ou de
uma criação de uma lei.
Ex. Jogo do bicho.
DA NORMA PENAL
TEORIA DE BINDING
A norma penal tem caráter descritivo da conduta proibitiva ou imposta, é imperativa, tendo a norma, caráter proibitivo
ou mandamental.
b.1 permissivas exculpantes: destinam a eliminar a culpabilidade, insentando o agente de pena, como nos casos dos
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 28 -
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Normas penais explicativas: as que visão explicar conceitos: art. 327 e 150 § 4º, do cp;
Normas penais complementares:
São aquelas que há necessidade de complementação para que possa compreender o âmbito do preceito de aplicação do
preceito primário. Requer a complementação por outro diploma legal, leis, decretose e regulamentos.
Ex. Entorpecentes.
Art. 28 da lei 11.343/2006.
Portaria da ANVISA – que define quais são os entorpecentes.
Normas penais em branco homogênea: quando o seu complemento encontra na mesma fonte legislativa.
Ex. 287, cp:. Art. 1.521, I, CC.
Normas penais em branco heterogêneas: São aquelas que a norma complementar é oriunda diversa daquela que a
editou.
Ex. art. 28 da lei de drogas, que precisa da complementação por uma portaria – Editada pelo sistema nacional de
políticas públicas sobre drogas.
O art. 304 do CP é considerado uma norma penal em branco, bem como uma norma penal incompleta.
ANOMIA E ANTINOMIA :
ANOMIA
Significa- Ausência de Lei ou regra – Desorganização.
Ausência de norma: - Anomia foi/é um termo utilizado por Émile Durkheim para descrever a falta de normas ou de
regulamentação social em uma sociedade. Segundo Durkheim, a anomia pode ocorrer em situações em que há uma
quebra nas normas e valores tradicionais que guiam o comportamento humano, o que pode levar a uma sensação de
desconforto e incerteza. A anomia também pode ser gerada por mudanças rápidas nas condições sociais, econômicas
ou políticas de uma sociedade, que podem deixar as pessoas sem saber como se comportar e o que é esperado delas.
Durkheim argumentou que a anomia pode levar a comportamentos antissociais e a uma diminuição da solidariedade
social.
Num primeiro momento, pela ausência de norma regulamentadora de uma determinada situação fática. No entanto,
também é possível falar no instituto quando, embora exista a lei, essa não é eficaz, posto que a sociedade não lhe
reconhece, pautando a sua conduta como se não houvesse norma alguma, acreditando na impunidade.
Com base no exposto, e, apenas para concluir, a anomia pode acontecer em qualquer ramo do Direito, sendo suficiente
para a sua caracterização, a inexistência da lei.
ANTINOMIA
Por definição de Noberto Bobbio, é aquela situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao
mesmo ordenamento jurídico e tendo o mesmo âmbito de validade.
Havendo uma relação de contrariedade entre normas existentes num mesmo ordenamento jurídico qual delas deve ser
aplicada no caso ?
Bobbio propôs os seguintes critérios com a finalidade de resolver a antinomia:
a) Critério cronológico;
b) Critério hierárquico;
c) Critério da especialidade.
Cronológico: Avaliar qual lei entrou em vigor – critério temporal. Logo, a segunda editada, revogue a primeira.
Hierárquico: Por tratar de um sistema de constituição rigída devemos aplicar a hierarquia das normas, segundo a visão
piramidal.
Especialidade: Nesse caso, a lei especial afastará a aplicação daquela tida como geral.
b.1. é aquela norma considerada um soldado de reserva. Mas, o presente princípio não possui utilidade, haja vista que
o princípio da especialidade consegue resolver o conflito de ordem.
c.1. a) quando um crime é meio necessário ou “normal” na fase de preparação ou da execução de outro crime.
b) nos casos dos antefatos e pós-fatos impuníveis.
ANALOGIA
A analogia é modo de integração (e não de interpretação), ou seja, na ausência de lei específica, busca-se outra lei, que
regulamenta caso semelhante.
Espécies:
a) analogia in bonam partem: aplica-se ao caso omisso lei benéfica ao réu. É permitida no Direito Penal; e
b) analogia in malam partem: aplica-se ao caso omisso lei prejudicial ao réu. É vedada no Direito Penal.
STJ - Súmula 174
No crime de roubo, a intimidação feita com arma de
brinquedo autoriza o aumento da pena.
A Súmula 174 do STJ foi cancelada, já que representava a aplicação de analogia in malam partem.
● Lex Praevia (princípio da anterioridade penal ): necessidade de lei anterior ao fato que se quer punir. Com isso,
resta proibida a retroatividade da lei penal para criminalizar ou agravar a pena de fato anterior.
Exemplo: No ordenamento jurídico não há lei que proíba a conduta de possuir dois relacionamentos ao mesmo tempo, logo, se
João possui 2 namoradas, ele não está praticando nenhum crime.
Mas se sobrevier uma lei que defina que possuir 2 namoradas passa a ser configurado crime, assim, a
conduta de João a partir do momento da promulgação da lei, passa a ser criminosa.
Importante:
Em se tratando de norma penal em branco, somente serão consideradas criminosas as condutas praticadas
depois da entrada em Vigor da norma complementar.
A irretroatividade é igualmente aplicada às normas de execução penal (STF, HC 68.416, j.8-9-1992).
Por exemplo, se o fato foi praticado antes da lei nova mais gravosa, não se pode negar indulto ao delito
incluído no rol dos crimes hediondos pela Lei n. 8.930/94, ainda que o respectivo Decreto exclua os crimes hediondos
(STF, HC 101.238, j. 2-2-2010).
b) Lex Scripta: proibição do costume incriminador. Tanto o costume quanto atos normativos distintos da
lei estrita não podem ser utilizados para criminalizar ou agravar penas.
Importante:
Tratados e convenções internacionais podem conter mandados de criminalização, entretanto a concreta
existência do crime no âmbito interno depende sempre da criação da tipificação da conduta por meio de lei formal.
c) Lex Stricta: proibição da analogia in malam partem. A analogia não pode ser utilizada para tornar
puníveis condutas que não estão criminalizadas por leis ou agravar as penas de crimes.
Importante:
• A analogia in bonam partem é permitida no Direito Penal.
d Lex Certa: proibição de penas ou tipos penais indeterminados. O tipo penal deve ser claro e preciso,
possibilitando a compreensão de todas as pessoas.
Importante:
• O terrorismo estava previsto no art. 20 daLei n. 7.170/83 como a conduta consistente em devastar,
saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar
atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à
manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Como a Lei n. 7.170/83 não define o que são "atos de terrorismo", parte da doutrina considerava o
dispositivo inconstitucional, por ofensa ao postulado lex certa. 1182 AmISEan
• Com o advento da Lei n. 13.260/2016, a discussão perdeu sentido, já que se trouxe expressa definição
de "terrorismo" no art. 2°: consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos no art. 2°, por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
1.2. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS
A principal função do Direito Penal é a tutela de bens jurídicos, ou seja, de interesses ou valores jurídicos
dignos de proteção penal. Com o princípio, resta proibida a criminalização de meras imoralidades, ideologias, crenças
pessoais ou religiosas, pois a norma penal somente pode ser criada para proteger valores que interessam ao Direito
Penal.
O princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos também tem a tarefa de limitar a atividade legislativa,
de forma a evitar a criminalização de comportamentos que não causam lesão ou perigo de lesão a qualquer valor ou
interesse jurídico socialmente relevante.
• 1.3.2. O CARÁTER SUBSIDIÁRIO DO DIREITO PENAL OU PRINCÍPIO DA
SUBSIDIARIEDADE
O Direito Penal é a ultima ratio. Assim, pelo princípio da subsidiariedade, o Direito Penal somente deve
intervir quando outros ramos do Direito - notadamente o Civil e o Administrativo - não conseguirem resolver de forma
satisfatória o conflito social.
• 1.4. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE
Não há crime sem ofensa ou exposição a perigo de um bem jurídico. De acordo com Nilo Batista (2001,
p. 92-95), o princípio da ofensividade possui quatro funções:
a) Proibir a incriminação de uma atitude interna, como ideias, convicções, aspirações e desejos dos
homens. Por esse fundamento não se punem a cogitação e os atos preparatórios do crime.
b) Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor. Por esse fundamento
não se punem a autolesão e a tentativa de suicídio. Trata-se do princípio da alteridade.
c) Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais. A pessoa deve ser punida pela
prática de uma conduta ofensiva a bem jurídico de terceiro. Com isso, afasta-se o Direito Penal do autor, em que o
agente é punido pelo que é, e não pelo que fez.
d) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não causem dano ou perigo de dano a qualquer bem
jurídico. O Direito Penal não deve tutelar a moral, mas sim os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade. Trata-
se do principio da exclusiva proteção dos bens jurídicos
1.5. Princípio da alteridade ou transcendência
É consequência do princípio da ofensividade. A lesão ou exposição a perigo deve ser dirigida a bem
juridico de terceiro, e não a bem jurídico do próprio agente
Por isso a autolesão e a tentativa de suicídio são impuni veis no Brasil.
Se a autolesão for cometida para fraudar seguro, estará caracterizado o delito de estelionato (art. 171, §
2°, V, CP).
1.6. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
De acordo com o princípio da culpabilidade, a responsabilização criminal somente ocorrerá quando a
conduta do agente for reprovável, ou seja, subjetivamente desvalorosa. Decorrem três consequências:
a) Não se admite a responsabilidade penal objeri. va, ou seja, somente poderá ser punido o agente que
tenha atuado com dolo ou culpa.
b) O comportamento do agente deve ser reprovavel nas circunstâncias em que ocorreu, o que é verificado
pela (i) imputabilidade, pela (i) potencial consciência da ilicitude e pela (ii) exigibilidade de conduta diversa.
c) A culpabilidade do agente serve como limite material para a imposição da pena. É por isso que a
culpabilidade aparece como uma das circunstâncias judiciais do art. 59, CP.
O fundamento constitucional para o principio da culpabilidade está no art. 5°, LVII, CF: "ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória"
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a
recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado
pelo art. 5°, LVII, da Constituição Federal (STF, Pleno: HC 126.292, j. 172.2016; ADCs 43 e 44, j. 5-10-2016; e ARE
964246RG, j. 10-11-2016).
1.7. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
Decorre do princípio da culpabilidade. Para que o agente seja punido penalmente, não basta a mera
prática
material do fato, já que se exige, também, a presença de dolo ou culpa. Afasta-se, com isso, a odiosa
responsabilidade penal objetiva.
1.8. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL OU INDIVIDUAL
Não pode haver responsabilização criminal por fato alheio. Com isso se veda, em Direito Penal, a
responsabilidade coletiva, familiar ou societária.
De acordo com a teoria da dupla imputação, a pessoa jurídica somente poderá ser responsabilizada por
crimes ambientais se houver a simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da
empresa. No entanto, o STF afastou a necessidade de dupla imputação (RE 548.181, j. 6-8-2013). No mesmo sentido:
STJ, 5ªT., AgRg no RMS 48085, j. 5-11-2015.
1.9. Princípio da materialização ou exteriorização do fato
Decorre do princípio da ofensividade, determinando que não podem ser punidas penalmente condutas
internas do agente, ou seja, meros pensamentos que não chegam a sair do âmbito da consciência. Para que se possa
falar em crime, é necessária uma exteriorização na forma de condutas concretas que ofendam ou exponham a perigo
bens jurídicos tutelados pela norma penal. O princípio da materialização do fato relaciona-se com o Direito Penal do
fato (pune-se o agente pelo que fez), e se opõe ao Direito
Penal do autor (pune-se o agente pelo que é).
• 1.10. Princípio da adequação social
Um fato que é aceito como normal pela generalidade da sociedade não pode ser crime. Assim, apesar de
se adequar à descrição legal (tipicidade formal), uma conduta não pode ser considerada materialmente típica quando
estiver de acordo com as práticas comuns da soCiedade. Por exemplo, colocação de brincos em menina recém-
nascida.
De acordo com os Tribunais Superiores, o princiPio da adequação social não incide nos crimes de casa de
prostituição (art. 229 do CP) e de exposição a venda
4 DVDs piratas (art. 184, 8 28, do CP). A propósito:
STJ - Súmula 502
Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°, do CP, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.*
1.11. Princípio da proporcionalidade
O objetivo do princípio da proporcionalidade é regular a relação entre meios e fins, especialmente no que
se refere a conflitos entre direitos fundamentais. Surgem três subprincípios (CANOTILHO, 1993, p. 268-269):
a) Adequação ou idoneidade: a medida adotada para a realização do interesse público deve ser apropriada
para alcançar o fim pretendido.
Trata-se de controlar a relação de adequação meio-fim.
b) Necessidade ou exigibilidade: a medida somente pode ser admitida quando necessária. Trata-se do
direito à menor desvantagem possível.
c) Proporcionalidade em sentido estrito: o resultado obtido é proporcional à carga coativa, ou seja, os
meios utilizados para a realização dos fins não devem ultrapassar os limites do tolerável.
Consequências do princípio da proporcionalidade:
1) Proibição do abuso ou excesso do Estado (ga-rantismo negativo): a proporcionalidade é utilizada como
proteção contra os excessos ou abusos do poder estatal de punir (proibição da pena de morte, por exemplo).
2) Proibição da proteção deficiente (garantismo positivo): a proporcionalidade é utilizada como proteção
contra a omissão estatal diante dos direitos fundamentais. Se o homicídio fosse punido com prestação de serviços à
comunidade, estaria sendo violada a tutela do bem vida.
Foi com fundamento na desproporcionalidade que
O STJ decretou a inconstitucionalidade da pena prevista para o crime do art. 273 do Código Penal.
STJ - HC 438746, DJe 1-6-2018
(..) 3. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justi-ça, no julgamento da Arguição de
Inconstitucionalidade no HC 239.363/PR (..), considerou ser inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1°-
B, incisoV, do Código Penal.
4. Em consequência, firmou-se entendimento no sentido de aplicar, em substituição, o preceito
secundário previsto para o crime de tráfico de drogas, previsto no art. 33 da Lei n. 11.343/2006, aos casos em que o
acusado é condenado pelo crime previsto no art. 273, § 1°-B, do Código Penal, tendo em vista que ambos são
considerados hediondos, de perigo abstrato e visam a proteção da saúde pública. Precedentes.
3) Deve-se analisar a necessidade concreta da pena. Por exemplo, perdão judicial. Por vezes, mesmo
diante da culpabilidade do réu, o juiz pode deixar de aplicar a pena no caso concreto (art. 121, § 5°, CP).
4) Deve-se analisar a suficiência da pena alter-nativa. Por exemplo, substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos (art. 44, CP).
1.12. Princípio da insignificância ou bagatela a Compreensão.
Determinados fatos que causam ofensas irrelevantes ao bem jurídico tutelado pela norma penal não
devem ser considerados crimes.
Isso significa que, não obstante a conduta do agente se amolde à descrição legal (tipicidade formal), ela
não será considerada materialmente típica nos casos em que a lesão ou a exposição a perigo do bem jurídico for
irrelevante a ponto de não justificar a intervenção do Direito Penal.
b) Natureza jurídica. O princípio da insignificância é uma causa de exclusão da tipicidade material.
c) Requisitos objetivos. O STF, desde o HC 84.412 (j. 19-10-2004), passou a exigir quatro condições
objetivas para a incidência do princípio:
(1) a mínima ofensividade da conduta do agente;
(2) nenhuma periculosidade social da ação;
(3) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e
(4) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
d) Requisito subjetivo. Discute-se se, além das condições objetivas acima citadas, é também necessário
um aspecto subjetivo, ligado ao mérito do autor. Embora existam duas posições, prevalece nos Tribunais Superiores
que o princípio da insignificância não poderá ser aplicado se o agente for reincidente ou portador de maus
antecedentes.
e) Bagatela própria versus bagatela imprópria. Na bagatela própria, o fato já nasce irrelevante para o
Direito Penal, incidindo o princípio da insignificância (causa de exclusão da tipicidade material). Na bagatela
imprópria, o fato não nasce irrelevante para o Direito Penal, mas posteriormente se verifica que não é necessária a
aplicação concreta da pena.
Incidirá o princípio da desnecessidade de aplicação da pena ou da irrelevância penal do fato (causa de
dispensa de pena). Por exemplo, perdão judicial. Imaginemos que, em um acidente de trânsito, o pai de causa a morte
do filho . O fato é relevante, mas, diante das circunstâncias concretas do ocorrido, o agente poderá ser beneficiado
com o perdão judicial (art. 121 € 5• , CP.)