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INTRODUÇÃO

O Sargento policial militar aluno do Curso de Aperfeiçoamento necessita de um currículo


extenso em matérias na área do Direito para sua própria segurança jurídica e ainda resguardar
e legitimar suas ações dentro da legalidade bem como dá suporte e esclarecimento aos seus
subordinados quando estiverem na atividade policial e surgirem dúvidas quanto ao
comportamento mais apropriado embasado na lei e ainda ajudar ao comando na orientação
da tropa para diminuir erros por desconhecimento ou descuido da atual lei penal comum.

Ressalta-se que o sargento aperfeiçoado terá relevante importância no serviço policial militar
prestado ao cidadão do Rio de janeiro e para os subordinados que estiverem sobre suas
ordens bem como as promoções futuras advindas pela conclusão do CAS necessitará de um
graduado ainda mais preparado para prestar o melhor serviço ao Estado do Rio de Janeiro e
ainda auxiliar e exigir dos militares de graduação inferior que estiverem sob sua capitania um
serviço de segurança pública satisfatório.

O material didático tem o intuito de forma prática e com vernáculo pouco cerimonioso
relembrar e atualizar a disciplina do Direito Penal Comum, utilizando estudo de casos
alinhando a doutrina penal e a prática policial militar. O Direito penal é uma ciência humana,
mutável conjuntamente com a sociedade, tornando o estudo desta ciência extremamente
relacionada à missão da polícia militar e, portanto, deve ser material de estudo contínuo.

Compreendendo a matéria de direito penal comum através do histórico, conceitos, estrutura,


tipos penais somados a jurisprudência e a doutrina majoritária recente, realizando uma
abordagem sistemática com gráficos, exemplos e principalmente estudo de casos ajudará
sobremaneira ao futuro Sargento aperfeiçoado uma visão ampla, a fim de evitar equivocadas
interpretações dos artigos e sua inadequada aplicação ao caso concreto e ainda a orientação e
fiscalização do subordinado para que não ocorram ações não protegidas pela lei.

Insta aduzir derradeiramente que não é atribuição da Instituição questionar a legislação penal
mesmo que a referida lei ao sentir do aluno não possua sentido ou não responda aos reclamos
da sociedade. A Constituição federal determina as competências das diversas Instituições
cabendo à polícia militar consciente de sua missão constitucional exercita-la cumprindo
rigorosamente o que se determina em lei.

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

Contextualizando o Direito Penal

Sargento, vamos conhecer a história do Direito Penal?

O surgimento do Direito Penal se conjuga com o surgimento da própria sociedade. Ele nasce
em meio ao sentimento de vingança penal e não de justiça, seu trajeto também acompanha os
passos da evolução do Estado e da sociedade e o que conhecemos como o Direito Penal atual
não deve ser encarado como sua forma concreta, final, acabada, pois a evolução, mudança e
as necessidades e objetivos do ser humano são continuamente modificadas.

Sabemos que o crime é um fenômeno social desde a origem da raça humana, realizado apenas
por estes seres e para um regramento de convivência na qual possa garantir a continuidade de
sua existência bem como sua evolução surge à necessidade de controle. Insta ressaltar que
cada Estado soberano respeitando a cultura de seus povos proíbe condutas contrárias
principalmente a manutenção da espécie e o seu desenvolvimento, espavorizando com tipos
penais previstos em diplomas legais que em regra estabelece os princípios gerais, formas de
aplicação das penas e os tipos penais que no Brasil recebe o nome de Direito Penal.
Atualmente em nosso País, vivemos sob égide do Estado Democrático de direito onde o Estado
e as normas penais devem ser subordinados a carta magna onde obriga aplicar as penas
dentro do previsto na legislação penal, sendo vedadas ações isoladas e de vontade própria das
autoridades Constituídas.

Conceito de Direito Penal

Agora que você já conhece a história do Direito Penal?

Vamos aprender o conceito?

O direito penal ou direito criminal é a parte do ordenamento jurídico que define as infrações
penais (crimes e contravenções) e comina as respectivas sanções (penas e medidas de
segurança) e ainda estabelece os princípios e regras que regulam a atividade penal do Estado,
fixando os fundamentos e os limites ao exercício do poder punitivo previsto na Constituição
Federal e nos Diplomais internacionais dos direitos humanos recepcionados pelo nosso
legislativo, a exemplo dos princípios de legalidade, irretroatividade, humanidade das penas
entre outros, ou seja os limites do direito penal são os limites do próprio Estado.

Convém notar, por fim, que o direito penal é, ele mesmo, uma forma de violência (penas etc.)
que se pressupõe justa e necessária relativamente às violências que regula e combate (os
crimes), de modo que o direito penal é violência nem sempre legítima a serviço do controle da
violência nem sempre ilegítima.

O direito penal é uma espada de duplo fio, porque é lesão de bens jurídicos para proteção de
bens jurídicos. Afinal, pretende combater crimes (homicídio, roubo, lesão corporal etc.) por
meio de graves constrangimentos à pessoa humana, os quais no Brasil podem variar de uma
simples multa à pena de reclusão por 40 anos ou até morte em caos de crimes em tempo de
guerra.

Devemos inicialmente dividir por características, podendo ser entendido sob três aspectos:
Material, legal e analítico.

Sob o Aspecto Formal ou Estático

➢ Direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos


como infrações penais (crime ou contravenção), define seus agentes e fixa sanções (pena ou
medida de segurança) a serem lhes aplicadas.

➢ Direito penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos


ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e
progresso.

Sob o Aspecto Sociológico ou Dinâmico

➢ Direito penal é mais um instrumento de controle social de comportamentos desviados,


visando assegurar a necessária disciplina social, bem como a convivência harmônica dos
membros do grupo.

O fundamento básico de atuação do Direito Penal é a manutenção da paz social, que propicia a
regular convivência humana em sociedade, através da existência de normas destinadas a
estabelecer diretrizes que determinam ou proíbem certos comportamentos; assim, violadas as
regras de condutas, surge para o Estado o poder e dever de aplicar as sanções penais.

Os bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal são aqueles que o legislador considera os mais
importantes para o Estado, o princípio da intervenção mínima é que orienta a escolha desses
bens jurídicos, pois, se forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que
devem ser empregadas e não as penais. A criminalização de comportamentos só deve ocorrer
quando se constituir meio necessário e indispensável à proteção de bens jurídicos ou à defesa
de interesses relativos à coexistência harmônica e pacífica da sociedade.

FINALIDADE DO DIREITO PENAL

Norma penal não pode servir como único instrumento de controle social. Ela só pode ser
usada quando não existir outro meio eficaz para a solução de conflito como, por exemplo, a
religião, a moral, educação, cultura etc. Conclui-se, portanto, que o Direito Penal só deve ser
avocado como última razão, ou seja, em último caso, aplicando se princípio da intervenção
mínima.

Sargento, você saberia dizer qual é a finalidade do Direito Penal? Que tal aprender?

A finalidade do Direito Penal é a proteção da sociedade e a garantia da paz social com a defesa
dos bens jurídicos fundamentais da pessoa (vida, integridade física e mental, honra, liberdade,
patrimônio).

Luiz Regis Prado ensina que “o pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo
imediato e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens jurídicos - essenciais ao
indivíduo e à comunidade”. (Bem jurídico-penal e Constituição. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1999, pág. 47).

Na mesma linha, Rogério Greco afirma que “A finalidade do Direito Penal é proteger os bens
mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade, [...]. (Curso de
Direito Penal – Parte Geral -, v.I, Rio de Janeiro: Impetus, 2015, pág. 2.)

O ATUAL CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei número 2.848, de 7.12.1940 - recebeu inúmeras
alterações, contudo, encontra-se em vigor com a Reforma Penal de 1984. (Lei número 7.209,
de 11.07.1984). É formado por um conjunto de regras sistemáticas com caráter punitivo,
possuindo objetivo fim a aplicação de sanções em concomitância à desestimulação da prática
de delitos que atentam contra o tecido social.

Código Penal em vigor é composto por duas partes: a parte geral do artigo primeiro ao 120º, e
a parte especial do artigo 12primeiro ao 36primeiro.

A primeira parte, a chamada geral, contém como o próprio nome sugere regras gerais a serem
aplicadas aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, conceitos gerais sobre
diversos aspectos, como a definição do que vem a ser de fato o crime; a forma como serão
aplicadas as penas, possibilidade de prescrição e extinção da punibilidade. A parte Especial
prevê unicamente os crimes em espécie e suas respectivas penas.

DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO

Denomina-se Direito Penal Objetivo ao conjunto de normas que regulam a ação estatal,
definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. (É, portanto, o conjunto de leis
penais em vigor). Somente o Estado, na sua função de promover o bem comum e combater a
criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. Sendo, assim, o único e
exclusivo titular do direito de punir (jus puniendi), que constitui o que se denomina Direito
Penal Subjetivo.

TEORIA GERAL DO CRIME INFRAÇÃO PENAL


É toda conduta previamente tipificada pela legislação como ilícita, imbuída de culpabilidade,
isto é, praticada pelo agente com dolo ou, ao menos, culpa quando a Lei assim previr tal
possibilidade. O Estado tem o poder/dever de proibir e impor uma sanção a quem a praticar.

Você sabia que o Direito Penal é um ramo do Direito Público que define as infrações penais,
estabelecendo as penas e as medidas de segurança?

As ações penais dividem-se em crimes e contravenções. Os crimes estão no Código Penal, nos
artigos 121 a 360 e também nas leis especiais; as contravenções são, em sua maioria, previstas
no Decreto-Lei número 3.688, de 03.10.1941 (conhecido como Lei das Contravenções Penais -
LCÓDIGO PENAL) e as medidas de segurança encontram-se nos artigos 96 a 99 do CÓDIGO
PENAL.

Segundo Rogério Greco: “Na verdade, não há diferença substancial entre contravenção e
crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo Direito Penal é político,
da mesma forma que é política a rotulação da conduta como contravencional ou criminosa. ”
(Obra cit., pág. 191).

O crime e a contravenção se distinguem pela sua maior ou menor gravidade, ou seja, a


diferença entre eles é meramente quantitativa, classificada pela Doutrina como crime anão,
conforme se comprova, através do critério de diferenciação adotado pelo legislador, contido
no artigo primeiro da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei número 3.914, de 09 de
dezembro de 1941), vejamos:

Artigo primeiro Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente coma pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou
multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

CONCEITO DE CRIME

Você sabia que o Crime pode ser entendido e conceituado sob três aspectos: Material, legal e
analítico?

Sob o aspecto material, crime é toda ação humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico
de terceiro, que, por sua relevância, merece a proteção penal. Esse aspecto valoriza o crime
enquanto conteúdo, ou seja, busca identificar se a conduta é ou não apta a produzir uma lesão
a um bem jurídico penalmente tutelado.

Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que é proibido chorar em público, essa lei não
estará criando uma hipótese de crime em seu sentido material, pois essa conduta nunca será
crime em sentido material, pois não produz qualquer lesão ou exposição de lesão à bem
jurídico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que é crime, materialmente não o
será.

Como observado no gráfico anterior sob o aspecto legal, ou formal, crime é toda infração
penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, nos termos do artigo 1° da Lei de
Introdução ao CÓDIGO PENAL. Percebam que o conceito aqui é meramente legal. Se a lei
cominar a uma conduta a pena de detenção ou reclusão, cumulada ou alternativamente com a
pena de multa, estaremos diante de um crime.

Por outro lado, se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa, alternativa ou
cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção penal. Esse aspecto consagra o
SISTEMA DICOTÔMICO adotado no Brasil, no qual existe um gênero, que é a infração penal, e
duas espécies, que são o crime e a contravenção penal.
O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analítico, que o divide em partes, de
forma a estruturar seu conceito. Primeiramente surgiu a teoria quadripartida do crime, que
entendia que crime era todo fato típico, ilícito, culpável e punível. Hoje é praticamente
inexistente. Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que entendiam que
crime era o fato típico, ilícito e culpável. Essa é a teoria que predomina no Brasil, embora haja
muitos defensores da terceira teoria.

A terceira e última teoria acerca do conceito analítico de crime entende que este é o fato
típico e ilícito, sendo a culpabilidade mero pressuposto de aplicação da pena. Ou seja, para
esta corrente, o conceito de crime é bipartido, bastando para sua caracterização que o fato
seja típico e ilícito.

As duas últimas correntes possuem defensores e argumentos de peso. Entretanto, a que


predomina ainda é a corrente tripartida.

Todos os três aspectos (material, legal e analítico) estão presentes no nosso sistema jurídico-
penal. De fato, uma conduta pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas não o
será se não houver previsão legal (não será legalmente crime). Poderá, ainda, ser formalmente
crime (no caso do exemplo da lei que criminalizava a conduta de chorar em público), mas não
o será materialmente se não trouxer lesão ou ameaça a lesão de algum bem jurídico de
terceiro.

Conceito de:

Material;

Formal;

Analítico – Teoria, Teoria e Teoria adotada.

FATO TÍPICO

É o comportamento humano, positivo ou negativo, o qual provoca um resultado e está


previsto na lei penal como infração. É aquele que se amolda, perfeitamente, nos elementos
contidos no tipo penal.

O fato típico também se divide em elementos, são eles:

➢ Conduta humana

➢ Resultado naturalístico

➢ Nexo de causalidade

➢ Tipicidade

Conduta Humana

A conduta humana possui duas formas:

Ação Atuação humana positiva voltada a uma finalidade.

Omissão Ausência de comportamento; a inatividade ou o não fazer.

Considerando-se que as condutas podem ser praticadas por ação ou por omissão, os crimes
comissivos consistem em uma ação positiva (fazer) e os crimes omissivos consistem na
abstenção da ação devida (não fazer).
Para a perfeita compreensão dos crimes omissivos, é necessário dividi-los em duas espécies:
crimes omissivos puros (ou próprios), e crimes omissivos impuros (ou impróprios).

Nos crimes omissivos puros o agente se omite quando o tipo penal estabelece que a omissão,
naquelas circunstâncias, tipifica o delito.

O tipo penal estabelece que aquele que não fizer o que norma determina responderá por
aquele crime. Assim, no crime omissivo puro o agente simplesmente descumpre a norma
penal, que impunha o dever de agir.

Neste caso, é irrelevante avaliar se houve qualquer resultado (no exemplo, é irrelevante saber
se houve dano à vítima), pois o agente responde criminalmente pelo simples fato de ter
violado a norma penal, descumprindo o mandamento.

Você sabia que nos crimes omissivos impuros, ou impróprios, também chamados de crimes
comissivos por omissão não há um tipo penal que estabeleça como crime uma conduta
omissiva? E que em tais crimes o agente é responsabilizado por um determinado resultado
lesivo, por ter se omitido quando tinha o dever legal de agir, não imposto às pessoas em geral?

EXEMPLO – Maria é casada com José. Todavia, Maria possui uma filha de 11 anos de idade,
Joana, oriunda de seu casamento anterior. Certo dia, Maria descobre que José está tendo
relações sexuais com sua filha. Com receio de que José se separe dela, Maria não adota
nenhuma providência, ou seja, acompanha a situação sem nada fazer para impedir que sua
filha seja estuprada.

Neste caso, Maria praticou um crime omissivo impróprio. Isto porque Maria tinha o específico
dever de proteção e cuidado em relação à sua filha, de forma que tinha o dever de agir para
impedir que a filha fosse vítima daquele crime, ou seja, tinha o dever de agir para impedir a
ocorrência do resultado.

Se nos crimes omissivos puros a análise do resultado é irrelevante, porque o agente responde
simplesmente por ter se omitido, nos crimes omissivos impuros a análise do resultado é
penalmente relevante, pois o próprio resultado será imputado àquele que se omitiu.

No exemplo anterior, portanto, Maria responderá pelo próprio crime de estupro (no caso,
estupro de vulnerável, artigo 217-A do Código Penal), pois tinha o dever legal específico de agir
para evitar o resultado.

A questão que se coloca é: Qual é o resultado naturalístico que advém de uma omissão?

Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Então, como a mãe poderia responder
pelo estupro da filha, já que a conduta da mãe, tecnicamente, não foi à causa do estupro?

A conduta da mãe não deu causa ao resultado. O resultado foi provocado pela conduta do
padrasto. Entretanto, pela teoria naturalístico-normativa, o resultado será imputado à mãe,
em razão do seu descumprimento do dever de vigilância e cuidado, neste caso a mãe é
garantidora.

Assim, nos crimes omissivos impróprios a relação de causalidade que liga a conduta do agente
(uma omissão) ao resultado NÃO É FÍSICA (pois a omissão não dá causa ao resultado), mas
NORMATIVA, ou seja, o resultado é a ele imputado em razão do descumprimento da norma
(omitir-se, quando deveria agir), num raciocínio de presunção: se o agente tivesse agido,
possivelmente teria evitado o resultado; como não o fez, deve responder por ele.

EXEMPLO: Uma dupla de policiais militares efetuando policiamento ostensivo com todos os
utensílios de trabalho observam um homem com um canivete efetuando um roubo a uma
idosa levando sua bolsa, apesar de ter todas as possibilidades de evitar a consumação do crime
sem colocar em risco a vida de terceiros, os policiais militares saem do lugar para não assumir
a ocorrência pelo simples fato de estar na última hora do serviço. ((Omitir-se, quando deveria
agir), num raciocínio de presunção: se os agentes tivessem agido, possivelmente teriam
evitado o resultado; como não o fizeram, devem responder por ele.) Os policiais militares
responderão pelo próprio crime de roubo (no caso, Roubo majorado, artigo 157 paragrafo
segundo do Código Penal), pois tinham o dever legal específico de agir para evitar o resultado.

O ( Três são as principais teorias que buscam explicar a conduta: Teoria causal naturalística (ou
clássica), finalista e social.

Para a teoria causal-naturalística, conduta é a ação humana. Assim, basta que haja movimento
corporal para que exista conduta. Esta teoria está praticamente abandonada, pois entende
que não há necessidade de se analisar o conteúdo da vontade do agente nesse momento,
guardando esta análise (dolo ou culpa) para quando do estudo da culpabilidade.

Para a teoria causalista a conduta seria um simples processo físico, um processo físico causal,
desprovido de qualquer finalidade por parte do agente. A finalidade seria objeto de análise na
culpabilidade.

Para a teoria finalista, adotada pelo direito penal brasileiro, a conduta humana é a ação
(positiva ou negativa) voluntária dirigida a uma determinada finalidade. Assim: Conduta =
vontade + ação ou omissão, portanto, retirando-se um dos elementos da conduta, esta não
existirá, o que acarreta a inexistência de fato típico. É necessária, portanto, a conjugação do
aspecto objetivo (ação ou omissão) e do aspecto subjetivo (vontade).

EXEMPLO: João olha para Roberto e o agride, por livre espontânea vontade. Estamos diante de
uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa (quis o resultado). Agora, se João dirige seu carro, vê
Roberto e sem querer, o atinge, estamos diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo)
culposa (não quis o resultado).

Vejam que a “vontade” a que se refere como elemento da conduta é uma vontade de
meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda que o resultado que se pretendesse não
fosse ilícito. Quando a vontade (elemento da conduta) é dirigida ao fim criminoso, o crime é
chamado de doloso, porém, quando a vontade é dirigida a outro fim (que até pode ser
criminoso, mas não aquele) o crime é culposo. Esta é a teoria adotada em nosso ordenamento
jurídico.

Vejamos os termos do artigo 20 do Código Penal:

Artigo 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Ora, se a lei prevê que o erro sobre um elemento do tipo exclui o dolo e a culpa, se inevitável,
ou somente o dolo, se evitável, é porque entende que estes elementos subjetivos estão no
tipo (fato típico), não na culpabilidade. Assim, a conduta é, necessariamente, voluntária.

A grande evolução da teoria finalista, portanto, foi conceber a conduta como um


“acontecimento final”, ou seja, somente há conduta quando o agir de alguém é dirigido a
alguma finalidade (seja ela lícita ou não).

Para terceira teoria, a teoria social, a conduta é a ação humana, voluntária e que é dotada de
alguma relevância social. Há críticas a esta teoria minoritária, pois a relevância social não seria
um elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade que esta poderia ou não possuir.
Assim, a conduta que não fosse socialmente relevante continuaria sendo conduta.
Resultado Naturalístico

Sargento, você sabe o que é resultado naturalístico? Vamos aprender?

É a modificação do mundo real provocada pela conduta do agente, entretanto, apenas nos
crimes chamados materiais se exige um resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera
conduta não há essa exigência.

Os crimes formais são aqueles nos quais o resultado naturalístico pode ocorrer, mas a sua
ocorrência é irrelevante para o Direito Penal. Já os crimes de mera conduta são crimes em que
não há um resultado naturalístico possível.

Exemplo de cada um dos três:

➢ Crime material – Homicídio (artigo 121 do Código Penal) - Para que o homicídio seja
consumado, é necessário que a vítima venha a óbito. Caso isso não ocorra, estaremos diante
de um homicídio tentado (ou lesões corporais culposas);

➢ Crime formal – Extorsão (artigo 158 do Código Penal) - Para que o crime de extorsão se
consume não é necessário que o agente obtenha a vantagem ilícita, bastando o
constrangimento à vítima;

➢ Crime de mera conduta (artigo 150 do Código Penal) - Invasão de domicílio. Nesse caso, a
mera presença do agente, indevidamente, no domicílio da vítima caracteriza o crime. Não há
um resultado previsto para esse crime. Qualquer outra conduta praticada a partir daí configura
crime autônomo (furto, roubo, homicídio, etc.).

Nexo de Causalidade

Nos termos do artigo 13 do Código Penal:

Artigo 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem


lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido. Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o vínculo que une a conduta
do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior. Portanto, só se aplica aos
crimes materiais.

Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA CONDITIO SINE QUA NON) – Para esta
teoria, é considerada causa do crime toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Assim, para saber se uma conduta é ou não causa do crime, devemos retirá-la do curso dos
acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria.

EXEMPLO: Marcelo acorda de manhã, toma café, compra uma arma e encontra Júlio, seu
desafeto, disparando três tiros contra ele, causando-lhe a morte. Retirando-se do curso o café
tomado por Marcelo, concluímos que o resultado teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto,
se retirarmos a compra da arma do curso do processo, o crime não teria ocorrido.

Entretanto, criou-se um filtro que é o dolo. Logo, só será considerada causa a conduta que é
indispensável ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no exemplo anterior, o
vendedor da arma não seria responsabilizado, pois nada mais fez que vender seu produto, não
tendo a intenção (nem sequer imaginou) de ver a morte de Júlio.

Nesse sentido: CAUSA = conduta indispensável ao resultado + que tenha sido prevista e
querida por quem a praticou Podemos dizer, então, que a causalidade aqui não é meramente
física, mas também, psicológica.
Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, como regra.

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – Trata-se de teoria também adotada pelo Código Penal,
porém, somente em uma hipótese muito específica. Trata-se da hipótese de concausa
superveniente relativamente independente que, por si só, produz o resultado.

As concausas são circunstâncias que atuam paralelamente à conduta do agente em relação ao


resultado. As concausas podem ser: absolutamente independentes e relativamente
independentes.

As concausas absolutamente independentes são aquelas que não se juntam à conduta do


agente para produzir o resultado e podem ser preexistentes (existiam antes da conduta),
concomitantes (surgiram durante a conduta) e supervenientes (surgiram após a conduta).

EXEMPLO 1 – Pedro resolve matar João, e coloca veneno em seu drink. Porém, Pedro não sabe
que Marcelo também queria matar João e minutos antes também havia esta teoria, em sua
concepção original, poderia ser utilizada para diversas outras situações. No nosso Código
Penal, porém, foi adotada para a hipótese de concausa superveniente relativamente
independente que, por si só, produz o resultado.

EXEMPLO 2 – Colocado veneno no drink de João, que vem a morrer em razão do veneno
colocado por Marcelo. Nesse caso, a concausa preexistente (conduta de Marcelo) produziu por
si só o resultado (morte). Nesse caso, Pedro responderá somente por tentativa de homicídio.

EXEMPLO 3 – Pedro resolve matar João, e começa a disparar contra ele projéteis de arma de
fogo. Entretanto, durante a execução, o teto da casa de joão desaba sobre ele, vindo a causar-
lhe a morte. Aqui, a causa concomitante (queda do teto) produziu isoladamente o resultado
(morte). Portanto, Pedro responde somente por homicídio tentado.

EXEMPLO 4 – Pedro resolve matar João, desta vez, ministrando em sua bebida certa dose de
veneno. Entretanto, antes que o veneno faça efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de
pistola contra João, o matando. Neste caso, Pedro responderá somente por homicídio tentado.

Em todos estes casos o agente NÃO responde pelo resultado ocorrido. Por qual motivo? Sua
Conduta NÃO FOI à causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da equivalência dos
antecedentes). Se suprimirmos a conduta de cada um destes agentes (nos três exemplos), o
resultado morte ainda assim teria ocorrido da mesma forma. Logo, a conduta dos agentes NÃO
é considerada causa.

Entretanto, pode ocorrer de a concausa não produzir por si só o resultado (absolutamente


independente), afastando o nexo entre a conduta do agente e o resultado, mas unir-se à
conduta do agente e, juntas, produzirem o resultado. Essas são as chamadas concausas
relativamente independentes, que também podem ser preexistentes, concomitantes ou
supervenientes.

Abaixo, exemplo e os efeitos jurídicos penais em relação ao agente. Inicialmente pelas


preexistentes e concomitantes especificamente sobre as supervenientes.

EXEMPLO – Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de facão, causando lhe a
morte. Entretanto, Maria era hemofílica (condição conhecida por Caio), tendo a doença
contribuído em grande parte para seu óbito. Nesse caso, embora a doença (concausa
preexistente) tenha contribuído para o óbito, Caio responde por homicídio consumado. Por
qual motivo? Sua conduta FOI à causa da morte (aplica-se a própria e já falada teoria da
equivalência dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido?
Não. Caio teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado
(homicídio consumado).
➢ Nas concausas absolutamente independentes – Em todos os casos a conduta do agente
não contribuiu para o resultado. Logo, pelo juízo hipótese de eliminação, a conduta do agente
não foi causa. Portanto, não responde pelo resultado.

➢ Nas concausas relativamente independentes (Preexistentes e concomitantes) – Em todos os


casos a conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo juízo hipótese de
eliminação, a conduta do agente foi causa. Portanto, responde pelo resultado.

No caso das concausas supervenientes relativamente independentes, podem acontecer duas


coisas:

➢ A causa superveniente produz por si só o resultado ➢ A causa superveniente se agrega ao


desdobramento natural da conduta do agente e ajuda a produzir o resultado.

EXEMPLO – Pedro resolve matar João, e dispara 25 tiros contra ele, usando seu fuzil calibre
7.62. João fica estirado no chão, é socorrido por uma ambulância e, no caminho para o
Hospital, sofre um acidente de carro (a ambulância bate de frente com uma carreta) e João
vem a morrer em razão do acidente, não dos ferimentos causados por Pedro. Nesse caso,
Pedro responde apenas por tentativa de homicídio, Por qual motivar sua conduta não foi a
causa da morte. Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? Não,
Pedro teve a intenção de produzir o resultado? Sim. Então por que não responde pelo
resultado?

Aqui o CÓDIGO PENAL adotou a teoria da causalidade adequada. A causa superveniente


(acidente de trânsito) produziu por si só o resultado, já que o acidente de ambulância não é o
desdobramento natural de um disparo de arma de fogo (esse resultado não éconsequência
natural e previsível da conduta do agente).

Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro), apesar de produzir sozinha o


resultado, não é absolutamente independente, pois se não fosse a conduta de Pedro, o
acidente não teria ocorrido (já que a vítima não estaria na ambulância).

➢ Concausa superveniente relativamente independente – A conduta de Pedro é relevante


para o resultado.

➢ Que por si só produziu o resultado – Apesar disso, a conduta de Pedro foi relevante apenas
por CRIAR A SITUAÇÃO, mas não foi a responsável efetiva pela morte.

EXEMPLO – No mesmo exemplo anterior, João é socorrido e chegando ao Hospital, é


submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o ferimento infecciona e João morre por
infecção. Nesse caso, a causa superveniente (infecção hospitalar) não produziu por si só o
resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a morte de João. Nesse caso, Pedro
responde por homicídio consumado.

Mas qual a diferença entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A diferença básica reside no fato de
que:

➢ No exemplo (1) – A conduta do agente é relevante em apenas um momento: por criara


situação (necessidade de ser transportado pela ambulância).

➢ No exemplo (2) - A conduta do agente é relevante em dois momentos: (a) cria a situação, ao
fazer com que a vítima tenha que ser operada; (b) contribui para o próprio resultado (já que a
infecção do ferimento não é um novo nexo causal).

Tipicidade
Agora, vamos estudar a tipicidade formal e a tipicidade material?

A tipicidade pode ser de duas ordens: tipicidade formal e tipicidade material. A tipicidade
formal nada mais é que a adequação da conduta do agente a uma previsão típica (norma penal
que prevê o fato e lhe descreve como crime). Assim, o tipo do artigo 121 é: “matar alguém”.
Portanto, quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, está cometendo fato típico (tipicidade
formal), pois está praticando uma conduta que encontra previsão como tipo penal.

Não há muito o que se falar acerca da tipicidade formal. Basta que o intérprete proceda ao
cotejo entre a conduta praticada no caso concreto e a conduta prevista na Lei Penal
(subsunção). Se a conduta praticada se amoldar àquela prevista na Lei Penal, o fato será típico,
ou seja, haverá adequação típica, por estar presente o elemento “tipicidade”.

A tipicidade material, que é a ocorrência de uma ofensa (lesão ou exposição a risco)


significativa ao bem jurídico. Assim, não haverá tipicidade material quando a conduta, apesar
de formalmente típica (prevista na Lei como crime), não for capaz de afetar significativamente
o bem jurídico protegido pela norma. Um exemplo disso ocorre nas hipóteses em que há
aplicação do princípio da insignificância.

EXEMPLO – José subtrai uma folha de papel em branco, pertencente à escola em que o filho
estuda. Neste caso, a conduta é formalmente típica (está prevista na Lei como crime de furto).
Todavia, não ha tipicidade material, já que não é uma conduta capaz de ofender
significativamente o bem jurídico protegido pela norma (o patrimônio da escola).

SUJEITOS DO CRIME

Você sabia que os sujeitos do crime são classificados como sujeito ativo ou sujeito passivo?

➢ Sujeito ativo - é a pessoa que pratica a infração penal - autor, coautor ou partícipe (ou seja,
é aquele que pratica o fato típico e antijurídico). Só pode sê-lo se for o ser humano maior de
dezoito anos (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, artigo 228 e Código Penal, artigo 27). As pessoas
menores de dezoito anos que praticam fatos definidos como crime ou contravenção penal
praticam atos infracionais, sujeitando-se às medidas socioeducativas (Lei número 8069/90,
artigos segundo, 103 e 112).

➢ Sujeito passivo - é aquele que sofre as consequências da prática criminosa. É o titular do


bem jurídico lesado. Divide-se em Sujeito passivo mediato e imediato:

• Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genérico ou indireto: é o Estado, pois a ele
pertence o direito público subjetivo de exigir o cumprimento da legislação penal.

• Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular, acidental ou direto: é o titular do


bem jurídico especificamente tutelado pela lei penal.

OBJETO DO CRIME

O objeto do crime é o bem jurídico tutelado pelo Direito Penal, pode ser jurídico ou material.
Objeto jurídico do crime - também conhecido como objetividade jurídica, é o bem ou interesse
protegido pela norma penal.

Objeto material do crime - é o bem jurídico sobre o qual recai a conduta criminosa.

PUNIBILIDADE

A punibilidade é a consequência jurídica do crime. Com a violação da norma penal, surge para
o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração. É o jus puniendi.
ITER CRIMINIS

O iter criminis é o “caminho do crime”, ou seja, o itinerário percorrido pelo agente até a
consumação do delito.

O iter criminis pode ser dividido em 04 etapas:

• Cogitação (cogitatio) – É a representação mental do crime na cabeça do agente, a fase inicial,


na qual o agente idealiza como será a conduta criminosa. Trata-se de uma fase interna, ou
seja, não há exteriorização da ideia criminosa, adoção de preparativos, nada disso. Assim, a
cogitação é sempre impunível, pois não sai da esfera psicológica do agente.

• Atos preparatórios (conatus remotus) – Aqui o agente adota algumas providências para a
realização do crime, ou seja, dá início aos preparativos para a prática delituosa, sem, contudo,
iniciar a execução do crime propriamente dita.

Exemplo: José quer matar Maria. Para tanto, José vai até uma loja e compra uma faca bem
grande. Em razão do princípio da “exteriorização do fato” ou “materialização do fato”, que
impede a punição de atitudes internas das pessoas.

Como regra, os atos preparatórios são impuníveis, já que o agente não chega, sequer, a iniciar
a execução do crime. Todavia, os atos preparatórios serão puníveis quando configurarem, por
si só, um delito autônomo.

Exemplo: José quer falsificar várias notas de R$ 100,00 (quer praticar o crime de moeda falsa,
artigo 289 do Código Penal). Assim, José compra um maquinário destinado a falsificar moeda.
A princípio, essa conduta seria um mero ato preparatório impunível. Todavia, neste específico
caso o CÓDIGO PENAL já criminaliza essa conduta preparatória, estabelecendo um tipo penal
autônomo, que é o crime de “petrechos de falsificação” (artigo 291 do CÓDIGO PENAL20), ou
seja, o CÓDIGO PENAL já considera crime a aquisição do maquinário!

• Atos executórios

Os atos executórios são aqueles por meio dos quais o agente, efetivamente, dá início à
conduta delituosa, por meio de um ato capaz de provocar o resultado.

Exemplo: José quer matar Maria. Para tanto, espera Maria passar pela porta de sua casa e,
quando ela passa, dispara contra ela um projétil de arma de fogo. Neste momento se inicia a
execução.

Diferenciar o que é ato de execução e o que é ato preparatório não é tarefa fácil. A Doutrina é
bastante tormentosa a respeito, havendo algumas correntes. As principais são:

• Teoria material (hostilidade ao bem jurídico) – O agente inicia a execução quando cria uma
situação de perigo ao bem jurídico. Exemplo: José, querendo matar Maria, se posiciona atrás
de uma moita, esperando que ela passe. Nesse caso, já teríamos execução do delito.

• Teoria objetivo-formal – Para esta teoria a execução se inicia quando o agente dá início à
realização da conduta descrita no núcleo do tipo penal. Assim, no exemplo anterior, ainda não
haveria execução, pois o agente ainda não teria dado início à execução da conduta de “matar”.

• Teoria objetivo-material – Para esta teoria haverá execução quando o agente realizar a
conduta descrita no núcleo do tipo penal, bem como quando praticar atos imediatamente
anteriores à conduta descrita no núcleo do tipo, partindo-se da visão de uns terceiros
Petrechos para falsificação de moeda.
Artigo 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação
de moeda:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

• Teoria objetivo-individual – Para esta a definição do que é ato executório passa,


necessariamente, pela análise do plano do autor do fato, ou seja, do seu dolo. Assim, seriam
atos executórios aqueles que fossem imediatamente anteriores ao início da execução da
conduta descrita no núcleo do tipo.

Exemplo: José quer furtar uma casa, e invade a residência.

Neste caso, mesmo não tendo ainda dado início à subtração, já haveria ato executório. Não há
consenso, mas vem se firmando a adoção da teoria objetivo individual, embora haja quem
sustente ter sido adotada a teoria objetivo-formal, “complementada” pela análise do plano do
agente, a fim de abarcar também os atos imediatamente anteriores à realização do tipo penal.

CONSUMAÇÃO

Aqui o crime atinge sua realização plena, havendo a presença de todos os elementos que o
compõem, ou seja, o agente consegue realizar tudo o que o tipopenal prevê, causando a
ofensa jurídica prevista na norma penal.

Temos, aqui, portanto, um crime completo e acabado.

EXAURIMENTO

O exaurimento é uma etapa “pós-crime”, ou seja, um acontecimento posterior à consumação


do delito, não alterando a tipificação da conduta.

Exemplo: José pratica falso testemunho num processo que envolve Maria (crime de falso
testemunho consumado, artigo 342 do Código Penal). Após isso, Maria é condenada em razão
do testemunho falso de José (consequência que é mero exaurimento do delito, não alterando
a tipificação do crime).

TENTATIVA

Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato típico (conduta, resultado
naturalístico, nexo de causalidade e tipicidade) são, no entanto, elementos do crime material
consumado, que é aquele no qual se exige resultado naturalístico e no qual este resultado
efetivamente ocorre.

Nos termos do artigo 14 do Código Penal:

Artigo 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei número 7.209, de 11.7.1984)

1 – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído
pela Lei número 7.209, de 11.7.1984)

2 – tentado, quando, iniciada a execução, não se consumam por circunstâncias alheias à


vontade do agente (Incluído pela Lei número 7.209, de 11.7.1984).

Assim, nos crimes tentados, por não haver sua consumação (ocorrência de resultado
naturalístico), não estarão presentes, em regra, os elementos “resultado” e “nexo de
causalidade”.
Disse “em regra”, porque pode acontecer que um crime tentado produza resultados, que
serão analisados de acordo com a conduta do agente e sua aptidão para produzi-los.

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando à morte de Rodrigo, dispare cinco tiros de pistola
contra ele. Rodrigo é baleado, fica paraplégico, mas sobrevive.

Nesse caso, como o objetivo não era causar lesão corporal, mas sim matar, o crime não foi
consumado, pois a morte não ocorreu. Entretanto, não se pode negar que houve resultado
naturalístico e nexo causal, embora este resultado não tenha sido o pretendido pelo agente
quando da prática da conduta criminosa. O crime consumado nós já estudamos, cabe agora
analisar as hipóteses de crime na modalidade tentada.

No caso acima, Marcelo responderá pelo tipo penal de homicídio (artigo 121 do Código Penal),
na modalidade tentada (artigo 14, inciso dois do Código Penal). Mas se vocês analisarem, o
artigo 121 do Código Penal diz “matar alguém”. Marcelo não matou ninguém.

Assim, como enquadrá-lo na conduta prevista pelo artigo 121? Isso é o que chamamos de
adequação típica mediata, conforme já estudamos. Na adequação típica mediata o agente não
pratica exatamente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra norma que
estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal, ele deve responder pelo crime.
Assim, no caso em tela, Marcelo só responde pelo crime em razão da existência de uma norma
que aumenta o alcance objetivo (relativo à conduta) do tipo penal para abarcar também as
hipóteses de tentativa (artigo 14, inciso dois do Código Penal).

O inciso dois do artigo 14 fala em “circunstâncias alheias à vontade do agente”. Isso significa
que o agente inicia a execução do crime, mas em razão de fatores externos, o resultado não
ocorre. No caso concreto que citei, o fator externo, alheio à vontade de Marcelo, foi
provavelmente sua falta de precisão no uso da arma de fogo e o socorro eficiente recebido por
Rodrigo, que impediu sua morte.

O Parágrafo único do artigo 14 do Código Penal diz:

Artigo 14 (...)

Parágrafo único – Salvo disposição em contrário pune-se a tentativa com a pena


correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços (Incluído pela Lei número
7.209, de 11.7.1984).

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada não é punido da mesma maneira que o
crime consumado, pois embora o desvalor da conduta (sua reprovabilidade social) seja o
mesmo do crime consumado, o desvalor do resultado (suas consequências na sociedade) é
menor, indiscutivelmente. Assim, diz-se que o Código Penal adotou a teoria dualística, realista
ou objetiva da punibilidade da tentativa.

Mas qual o critério para aplicação da quantidade de diminuição (um terço ou dois terços)?

Nesse caso, o Juiz deve analisar a proximidade de alcance do resultado. Quanto mais próxima
do resultado chegar à conduta, menor será a diminuição da pena, e vice- versa. No exemplo
acima, como Marcelo quase matou Rodrigo, chegando a deixá-lo paraplégico, a diminuição
será a menor possível (um terço), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto, se
Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe da consumação,
devendo o Juiz aplicar a redução máxima.

A Tentativa pode ser:


➢ Tentativa branca ou incruenta – Ocorre quando o agente sequer atinge o objeto que
pretendia lesar. Exemplo: José atira em Maria, com dolo de matar, mas erra o alvo.

➢ Tentativa vermelha ou cruenta – Ocorre quando o agente atinge o objeto, mas não obtém o
resultado naturalístico esperado, em razão de circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo:
José atira em Maria, com dolo de matar, e acerta o alvo. Maria, todavia, sofre apenas lesões
leves no braço, não vindo a falecer.

➢ Tentativa perfeita – Ocorre quando o agente esgota completamente os meios de que


dispunha para lesar o objeto material. Exemplo: José atira em Maria, com dolo de matar,
descarregando todos os projéteis da pistola. Acreditando ter provocado a morte, vai embora
satisfeito. Todavia, Maria é socorrida e não morre.

➢ Tentativa imperfeita – Ocorre quando o agente, antes de esgotar toda a sua potencialidade
lesiva, é impedido por circunstâncias alheias, sendo forçado a interromper a execução.
Exemplo: José possui um revólver com seis projéteis. Dispara os três primeiros contra Maria,
mas antes de disparar o quarto é surpreendido pela chegada da Polícia Militar, de forma que
foge sem completar a execução, e Maria não morre. Em contraposição à Teoria objetiva há a
Teoria subjetiva, que sustenta que a punibilidade da tentativa deveria estar atrelada ao fato de
que o desvalor da conduta é o mesmo do crime consumado (é tão reprovável a conduta de
“matar “quanto a de “tentar matar”). Para esta Teoria, a tentativa deveria ser punida da
mesma forma que o crime consumado. Na verdade, adotou-se no Brasil uma espécie de Teoria
objetiva “temperada” ou mitigada. Isto porque a regra do artigo 14, inciso dois admite
exceções, ou seja, existem casos na legislação pátria em que se pune a tentativa com a mesma
pena do crime consumado.

Em regra, todos os crimes dolosos admitem tentativa. Entretanto, não admitem tentativa:

➢ Crimes culposos – Nestes crimes o resultado naturalístico não é querido pelo agente, logo, a
vontade dele não é dirigida a um fim ilícito e, portanto, não ocorrendo este, não há que se
falar em interrupção involuntária da execução do crime.

➢ Crimes preterdolosos – Como nestes crimes existe dolo na conduta precedente e culpa na
conduta seguinte, a conduta seguinte é culposa, não se admitindo, portanto, tentativa;

➢ Crimes unissubsistentes – São aqueles que se produzem mediante um único ato, não
cabendo fracionamento de sua execução. Assim, ou o crime é consumado ou sequer foi
iniciada sua execução.

EXEMPLO: Injúria. Ou o agente profere a injúria e o crime está consumado ou ele sequer chega
a proferi-la, não chegando o crime a ser iniciado;

➢ Crimes omissivos próprios – Seguem a mesma regra dos crimes unissubsistentes, pois ou o
agente se omite, e pratica o crime na modalidade consumada ou não se omite, hipótese na
qual não comete crime;

➢ Crimes de perigo abstrato – Como aqui também há crime unissubsistente (não há


fracionamento da execução do crime), não se admite tentativa;

➢ Contravenções penais – A tentativa, neste caso, até pode ocorrer, mas não será punível,
nos termos do artigo quarto do Decreto-Lei número 3.688 de 1941 (Lei das Contravenções
penais);

➢ Crimes de atentado (ou de empreendimento) – São crimes que se consideram consumados


com a obtenção do resultado ou ainda com a tentativa deste.
Por exemplo: O artigo 352 tipifica o crime de “evasão”, dizendo: “evadir-se ou tentar evadir-
se”... Desta maneira, ainda que não consiga o preso se evadir o simples fato de ter tentado isto
já consuma o crime;

Crimes habituais – Nestes crimes, o agente deve praticar diversos atos, habitualmente, a fim
de que o crime se consume. Entretanto, o problema é que cada ato isolado é um indiferente
penal. Assim, ou o agente praticou poucos atos isolados, não cometendo crime, ou praticou os
atos de forma habitual, cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo, no
qual ou o agente pratica atos isolados, não praticando crime, ou o faz com habitualidade,
praticando crime consumado, nos termos do artigo 284, inciso um do Código Penal.

Sobre o crime tentado, veja o quadro abaixo:

Instituto – tentativa, resumo o Agente pratica a conduta delituosa, mas por circunstâncias
alheias à sua vontade, o resultado não Ocorre. Tendo como consequência Responde pelo
crime, com redução de pena de um terço a dois terços.

Instituto – desistência voluntária, em resumo O agente INICIA a prática da conduta delituosa,


mas se arrepende, e CESSA a atividade criminosa (mesmo podendo continuar) e o resultado
não ocorre. Tendo como consequência Responde apenas pelos atos já praticados.
Desconsidera-se o “dolo inicial”, e o agente é punido apenas pelos danos que efetivamente
causou.

Instituto – arrependimento eficaz, em resumo O agente INICIA a prática da conduta delituosa E


COMPLETA A EXECUÇÃO DA CONDUTA, mas se arrepende do que fez e toma as providências
para que o resultado inicialmente pretendido não ocorra. O resultado NÃO ocorre. Tendo
como consequência Responde apenas Pelos atos já praticados Desconsidera-se o “Dolo inicial”,
e o agente é punido apenas pelos danos Que efetivamente causou.

Instituto –arrependimento posterior: em resumo O agente completa a execução da atividade


criminosa e o resultado efetivamente ocorre. Porém, após a ocorrência do resultado, o agente
se arrepende E REPARA O DANO ou RESTITUI A COISA.

1. Só pode ocorrer nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa.

2. Só tem validade se ocorre antes Do recebimento da denúncia ou queixa.

Tendo como consequência O agente tem a pena reduzida de um terço a dois terços.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

Policial, você já ouviu falar em desistência voluntária e arrependimento eficaz? Sabe o que é
isso? Que tal aprender?

Embora a Doutrina tenha se dividido quanto à definição da natureza jurídica destes institutos,
a Doutrina majoritária entende se tratar de causas de exclusão da tipicidade, pois não tendo
ocorrido o resultado, e também não se tratando de hipótese tentada, não há como se punir o
crime nem a título de consumação nem a título de tentativa.

Na desistência voluntária o agente, por ato voluntário, desiste de dar sequência aos atos
executórios, mesmo podendo fazê-lo.

➢ Na tentativa – O agente quer, mas não pode prosseguir.

➢ Na desistência voluntária – O agente pode, mas não quer prosseguir.


Para que fique caracterizada a desistência voluntária, é necessário que o resultado não se
consume em razão da desistência do agente.

EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo disparar mais cinco, não
o faz, mas este mesmo assim vem a falecer, Poliana responde por homicídio consumado. Se,
no entanto, Jason não vem a óbito, Poliana não responde por homicídio tentado (não há
tentativa, lembram-se?), mas por lesões corporais.

No arrependimento eficaz é diferente. Aqui o agente já praticou todos os atos executórios que
queria e podia, mas após isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir a
consumação do resultado.

Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos os tiros da pistola em Jason.
Depois disso, Poliana se arrepende do que fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive
em razão do socorro prestado. Neste caso, teríamos arrependimento eficaz.

Ambos os institutos estão previstos no artigo 15 do Código Penal:

Artigo 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que


o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. (Redação dada pela Lei número
7.209, de 11.7.1984). Para que estes institutos ocorram, é necessário que a conduta
(desistência voluntária e arrependimento eficaz) impeça a consumação do resultado. Se o
resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente responde pelo crime, incidindo, no entanto,
uma atenuante de pena.

A Doutrina entende que também НА DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA quando o agente deixa de


prosseguir na execução para fazê-la mais tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para não
levantar suspeitas. Nesse caso, mesmo não sendo nobre o motivo da desistência, a Doutrina
entende que há desistência voluntária.

Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um deles realiza a conduta de


desistência voluntária ou arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos demais,
pois como se trata de hipótese de exclusão da tipicidade, o crime não foi cometido,
respondendo todos apenas pelos atos praticados até então.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

O arrependimento posterior, por sua vez, não exclui o crime, pois este já se consumou, mas é
causa obrigatória de diminuição de pena. Ocorre quando, nos crimes em que não há violência
ou grave ameaça à pessoa, o agente, até o recebimento da denúncia ou queixa, repara o dano
provocado ou restitui a coisa. Nos termos do artigo 16 do Código Penal:

Artigo 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída à coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei número 7.209, de 11.7.1984)

EXEMPLO – Imagine o crime de dano (artigo 163 do Código Penal), no qual o Agente quebra a
vidraça de uma padaria, revoltado com o esgotamento do São francês naquela tarde. Nesse
caso, se antes do recebimento da queixa o agente ressarcir o prejuízo causado, ele responderá
pelo crime. Mas a pena aplicada devera ser diminuída de um a dois terços.

Vejam que não se aplica o instituto se o crime for cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa. A Doutrina entende que se a violência for culposa, pode ser aplicado o instituto. Assim,
se o agente comete lesão corporal culposa (violência culposa), e antes do recebimento da
queixa paga todas as despesas médicas da vítima, presta todo o auxílio necessário, deve ser
aplicada a causa de diminuição de pena.
O arrependimento posterior também se comunica aos demais agentes (coautores). A Doutrina
entende, ainda, que se a vítima se recusar a receber a coisa ou a reparação do dano, mesmo
assim o agente deverá receber a causa de diminuição de pena. O quantum da diminuição da
pena (um terço a dois terços) irá variar conforme a celeridade com que ocorreu o
arrependimento e a voluntariedade deste ato. O quadro abaixo pode ajudar vocês na
compreensão dos institutos da tentativa, da desistência voluntária, do arrependimento eficaz
e do arrependimento posterior:

CRIME IMPOSSÍVEL

Nos termos do Código Penal:

Artigo 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. (Redação dada pela Lei número
7.209, de 11.7.1984). Como podemos perceber, o crime Impossível guarda semelhanças com a
tentativa, entretanto, com ela não se confunde.

Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execução do crime, mas por circunstâncias
alheias à sua vontade o resultado não se consuma (artigo 14, inciso dois do Código de Processo
Civil).

Você sabia que o crime impossível, diferentemente do que ocorre na tentativa, embora o
agente inicie a execução do delito, JAMAIS o crime se consumaria, em hipótese nenhuma, ou
pelo fato de que o meio utilizado é completamente ineficaz ou porque o objeto material do
crime é impróprio para aquele crime?

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria. Marcelo chega, à surdina,
de noite, e percebendo que Maria dorme no sofá, desfere contra ela 10 facadas no peito. No
entanto, no laudo pericial se descobre que Maria já estava morta, em razão de um mal súbito
que sofrera horas antes.

Nesse caso, o crime é impossível, pois o objeto material (a sogra, Maria) não era uma pessoa,
mas um cadáver. Logo, não há como se praticar o crime de homicídio em face de um cadáver.

No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua sogra a tiros e, surpreenda-a
na servidão que dá acesso a casa. Entretanto, quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que,
na verdade, foi enganado pelo vendedor, que o vendeu uma arma de brinquedo.

Nesse último caso o crime é impossível, pois o meio utilizado por Marcelo é completamente
ineficaz para causar a morte da vítima.

Em ambos os casos temos hipótese de crime impossível. Na verdade, o crime impossível é uma
espécie de tentativa, com a circunstância de que jamais poderá se tornar consumação, face à
impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, não se pode punir a tentativa nestes
casos, eis que não houve lesão ou sequer exposição à lesão do bem jurídico tutelado, não
bastando para a punição do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um mínimo de
desvalor do resultado.

A ineficácia do meio ou e impropriedade do objeto devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em


nenhuma hipótese, considerando aquelas circunstâncias, o crime poderia se consumar. Assim,
se Márcio atira em José, com intenção de matá-lo, mas o crime não se consuma porque José
usava um colete e prova de balas, não ha crime impossível, pois o crime poderia se consumar.

Como o CÓDIGO PENAL previu a impossibilidade de punição da tentativa inidônea (crime


impossível), diz-se que o Código Penal adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime
impossível.
CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO

Sargento, você saberia dizer qual a diferença entre crime doloso e crime culposo?

O dolo e a culpa são o que se pode chamar de elementos subjetivos do tipo penal,
transportados da culpabilidade para o fato típico (conduta). Assim, a conduta (no finalismo)
não é mais apenas objetiva, sinônimo de ação humana, mas sim a ação humana dirigida a um
fim (ilícito ou não).

Crime Doloso

O dolo é o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre e consciente, de praticar o


crime (dolo direto), ou a assunção do risco produzido pela conduta (dolo eventual). Nos
termos do artigo 18 do Código Penal:

Artigo 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei número 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso
(Incluído pela Lei número 7.209, de 11.7.1984)

Inciso um - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;


(Incluído pela Lei número 7.209, de 11.7.1984).

O dolo direto, que é o elemento subjetivo clássico do crime, é composto pela consciência de
que a conduta pode lesar um bem jurídico mais a vontade de lesar este bem jurídico. Esses
dois elementos (consciência + vontade) formam o que se chama de dolo natural.

Em épocas passadas, quando se entendia que o dolo pertencia à culpabilidade, a esses dois
elementos (consciência e vontade) era acrescido mais um elemento, que era a consciência da
ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo. Assim, para que o dolo ficasse caracterizado era
necessário comprovar que o agente teve não só a vontade livre e consciente de alcançar o
resultado, mas também comprovar que o agente sabia que sua conduta era contrária ao
Direito.

Atualmente, com a transposição do dolo e da culpa para o fato típico (em razão da teoria
finalista), os elementos normativos do dolo ficaram na culpabilidade, de maneira que a
chamada “consciência da ilicitude da conduta” não mais é analisada dentro do dolo em si, mas
na culpabilidade. Para definir, portanto, se o fato constitui uma conduta dolosa não é
necessário, hoje, saber se o agente tinha consciência de que sua conduta era contrária ao
Direito, o que só será analisado na culpabilidade.

Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo é natural e no causalismo o dolo é
normativo.

O dolo direto pode ser, ainda, de segundo grau, ou de consequências necessárias. Neste o
agente não deseja a produção do resultado, mas aceita o resultado como consequência
necessária dos meios empregados.

A “consciência da ilicitude”, inclusive, pode ser real (quando o agente sabe que sua conduta é
contrária ao direito) ou meramente potencial (quando, apesar de não saber que sua conduta é
contrária ao Direito, tinha condições intelectuais para ter este conhecimento).

EXEMPLO: Imagine o caso de alguém que, querendo matar certo executivo, coloca uma bomba
no avião em que este se encontra. Ora, nesse caso, o agente age com dolo de primeiro grau
em face da vítima pretendida, pois quer sua morte, e dolo de segundo grau em relação aos
demais ocupantes do avião, pois é certo que também morrerão, embora este não seja o
objetivo do agente.
Há, ainda, o que a Doutrina chama de dolo indireto. O dolo indireto se dividem dolo eventual e
dolo alternativo.

O dolo eventual consiste na consciência de que a conduta pode gerar um resultado criminoso,
mais a assunção desse risco, mesmo diante da probabilidade de sito dar errado, Tratasse de
hipótese na qual o agente não tem vontade de produzir o resultado criminoso, mas analisando
as circunstâncias, sabe que este resultado pode ocorrer e não se importa, age da mesma
maneira.

EXEMPLO – Imagine que Renato, dono de um sítio, e apreciador da prática do tiro esportivo,
decida levantar sábado pela manhã e praticar tiro no seu terreno, mesmo sabendo que as
balas possuem longo alcance e que há casas na vizinhança. Renato até não quer que ninguém
seja atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e não se importa, pratica a conduta assim
mesmo. Nesse caso, se Renato atingir alguém, causando-lhe lesões ou mesmo a morte, estará
praticando homicídio doloso por dolo eventual no dolo alternativo o agente pratica a conduta
sem pretender alcançar um resultado específico, estabelecendo para si mesmo que qualquer
dos resultados possíveis é válido.

EXEMPLO – José atira uma pedra em Maria, querendo matá-la ou lesiona-la, tanto faz. Ou seja,
José não possui a intenção especifica de matar, mas também não possui a intenção especifica
de lesionar. O que José, pretende, apenas, é causar dano a Maria.

O dolo pode ser, ainda:

➢ Dolo genérico – Atualmente, com o finalismo, passou a ser chamado simplesmente de dolo,
que é, basicamente, a vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem nenhuma
outra finalidade.

➢ Dolo específico, ou especial fim de agir – Em contraposição ao dolo genérico, nesse caso o
agente não quer somente praticar a conduta típica, mas o faz por alguma razão especial, com
alguma finalidade específica. É o caso do crime de injúria, por exemplo, no qual o agente deve
não só praticar a conduta, mas deve fazê-lo com a intenção de ofender a honra subjetiva da
vítima.

➢ Dolo direto de primeiro grau – Trata-se do dolo comum, aquele no qual o agente tem à
vontade direcionada para a produção do resultado, como no caso do homicida que procura
sua vítima e a mata com disparos de arma de fogo.

➢ Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae – Ocorre quando o agente, acreditando
ter alcançado seu objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas depois se
constata que esta última foi a que efetivamente causou o resultado.

Trata-se de erro na relação de causalidade, pois embora o agente tenha conseguido alcançar a
finalidade proposta, somente o alcançou através de outro meio, que não tinha direcionado
para isso. Exemplo: Imagine a mãe que, querendo matar o próprio filho de cinco anos, o
estrangula e, com medo de ser descoberta, o joga num rio.

Posteriormente a criança é encontrada e se descobre que a vítima morreu por afogamento.


Nesse caso, embora a mãe não tenha querido matar o filho afogado, mas por
estrangulamento, isso é irrelevante penalmente, importando apenas o fato de que a mãe
alcançou o fim pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio, devendo, pois,
responder por homicídio consumado.

➢ Dolo antecedente, atual e subsequente – O dolo antecedente é o que se dá antes do início


da execução da conduta. O dolo atual é o que está presente enquanto o agente se mantém
exercendo a conduta, e o dolo subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a
conduta com uma finalidade lícita, altera seu ânimo, passando a agir de forma ilícita. Esse
último caso é o que ocorre no caso, por exemplo, do crime de apropriação indébita (artigo 168
do Código Penal), no qual o agente recebe o bem de boa-fé, obrigando-se devolvê-lo, mas,
posteriormente, muda de ideia e não devolve o bem nas condições ajustadas, passando a agir
de maneira ilícita.

Crime Culposo

Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu objetivo, ou assumiu o risco de
sua ocorrência, embora não fosse originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a
conduta do agente é destinada a um determinado fim (que pode ser lícito ou não), tal qual no
dolo eventual, mas pela violação a um dever de cuidado, o agente acaba por lesar um bem
jurídico de terceiro, cometendo crime culposo.

A violação ao dever objetivo de cuidado pode se dar de três maneiras:

➢ Negligência – O agente deixa de tomar todas as cautelas necessárias para que sua conduta
não venha a lesar o bem jurídico de terceiro. É o famoso relapso. Aqui o agente deixa de fazer
algo que deveria;

➢ Imprudência – É o caso do afoito, daquele que pratica atos temerários, que não se
coadunam com a prudência que se deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que
a prudência não recomenda;

➢ Imperícia – Decorre do desconhecimento de uma regra técnica profissional. Assim, se o


médico, após fazer todos os exames necessários, dá diagnóstico errado, concedendo alto ao
paciente e este vem a óbito em decorrência da alta concedida, não há negligência, pois, o
profissional médico adotou todos os cuidados necessários, mas em decorrência de sua falta de
conhecimento técnico, não conseguiu verificar qual o problema do paciente, o que acabou por
ocasionar seu falecimento;

A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado praticado pelo agente,


embora o desvalor da conduta seja menor, pois não deriva de uma deliberada ação contrária
ao direito.

O CÓDIGO PENAL prevê o crime culposo em seu artigo 18, inciso dois:

Artigo 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei número 7.209, de 11.7.1984) Crime culposo
(Incluído pela Lei número 7.209, de 11.7.1984);

Inciso dois - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência
ou imperícia. (Incluído pela Lei número 7.209, de 11.7.1984).

O crime culposo é composto de:

➢ Uma conduta voluntária – Dirigida a um fim lícito, ou quando ilícito, não é destinada à
produção do resultado ocorrido.

➢ A violação a um dever objetivo de cuidado – Que pode se dar por negligência, imprudência
ou imperícia.

➢ Um resultado naturalístico involuntário – O resultado produzido não foi querido pelo


agente (salvo na culpa imprópria).

➢ Nexo causal – Relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o resultado ocorrido
no mundo fático.
➢ Tipicidade – O fato deve estar previsto com o crime. Em regra, os crimes só podem ser
praticados na forma dolosa, só podendo ser punidos a título de culpa quando a lei
expressamente determinar. Essa é a regra do paragrafo único do artigo 18 do Código Penal:

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei número 7.209, de
11.7.1984).

➢ Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser previsível mediante um esforço


intelectual razoável. É chamada previsibilidade do homem médio. Assim, se uma pessoa
comum, de inteligência mediana, seria capaz de prever aquele resultado, está presente este
requisito. Se o resultado não for previsível objetivamente, o fato é um indiferente penal. Por
exemplo: Se Mário, nas dunas de Natal, dá um chute em João, a fim de causar-lhe lesões leves,
e João vem a cair e bater com a cabeça sobre um motor de Bugre que estava enterrado sob a
areia, vindo a falecer, Mário não responde por homicídio culposo, pois seria inimaginável a
qualquer pessoa prever que naquele local a vítima poderia bater com a cabeça em algo
daquele tipo e vir a falecer. A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades.

➢ Culpa consciente e inconsciente – Na culpa consciente, o agente prevê o resultado como


possível, mas acredita que este não irá ocorrer. Na culpa inconsciente (ex ignorantia), o agente
não prevê que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se aproxima muito do dolo
eventual, pois em ambos o agente prevê o resultado e mesmo assim age. Entretanto, a
diferença é que, enquanto no dolo eventual o agente assume o risco de produzi-lo, não se
importando com a sua ocorrência, na culpa consciente o agente não assume o risco de
produzir o resultado, pois acredita, sinceramente, que ele não ocorrerá.

➢ Culpa própria e culpa imprópria – A culpa própria é aquela na qual o agente NÃO QUER O
RESULTADO criminoso. É a culpa propriamente dita. Pode ser consciente, quando o agente
prevê o resultado como possível, ou inconsciente, quando não há essa previsão. Na culpa
imprópria, o agente quer o resultado, mas, por erro inescusável, acredita que o está fazendo
amparado por uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade.

Exemplo: Júlio, dirigindo seu veículo, avança o sinal vermelho e colide com o veículo de Carlos,
que vinha na contramão. Ambos agiram com culpa e causaram-se lesões corporais. Nesse caso,
ambos respondem pelo crime de lesões corporais, um em face do outro.

CRIME PRETERDOLOSO

Agora que você já sabe o que crime doloso e culposo. Vamos aprender o que é crime
preterdoloso?

Há ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O crime preterdoloso ocorre


quando o agente, com vontade de praticar determinado crime (dolo), acaba por praticar crime
mais grave, não com dolo, mas por culpa. Um exemplo clássico é o crime de lesão corporal
seguida de morte, previsto no artigo 129, paragrafo terceiro do Código Penal. Nesse crime o
agente provoca lesões corporais na vítima, mediante conduta dolosa. No entanto, em razão de
sua imprudência na execução (excesso), acabou por provocar a morte da vítima, que era um
resultado não pretendido (culpa).

A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do crime qualificado pelo resultado.


Para a Doutrina, o crime qualificado pelo resultado é um gênero, do qual o crime preterdoloso
é espécie. Um crime qualificado pelo resultado é aquele no qual, ocorrendo determinado
resultado, teremos a aplicação de uma circunstância qualificadora. Aqui é irrelevante se o
resultado que qualifica o crime é doloso ou culposo. No delito preterdoloso, o resultado que
qualifica o crime é, necessariamente, culposo. Ou seja, há dolo na conduta inicial e culpa em
relação ao resultado que efetivamente ocorre.

EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a intenção apenas de lesioná-la (dolo de praticar o
crime de lesão corporal). Contudo, em razão da força empregada por Mariana, Luciana cai e
bate com a cabeça no chão, vindo a falecer. Mariana fica chocada, pois de maneira alguma
pretendia a morte de Luciana. Nesse caso, Mariana praticou o crime de lesão corporal seguida
de morte, que é um crime preterdoloso (dolo na conduta inicial, mas resultado obtido a título
de culpa sem intenção).

TEORIA DO ERRO

Erro, em Direito Penal, corresponde a uma falsa representação da realidade, que tanto pode
incidir sobre situação fática prevista como elementar ou circunstância do crime (erro de tipo),
bem como sobre a ilicitude da conduta (erro de proibição). Desta forma, a pessoa a qual
subtrai coisa de outra, acreditando ser sua - não sabe que subtrai coisa alheia - ou quando
alguém, por exemplo, tem maconha em casa, na crença de que esta constitui outra substância,
inócua (exemplo: esterco), encontra-se em erro de tipo (artigo 20 do Código Penal); contudo,
se souber da natureza da substância, a qual mantém por acreditar, equivocadamente, que o
depósito não é proibido, incide no erro de proibição (artigo 21, do Código Penal).

Vejamos as espécies de erro:

➢ Erro sobre elemento constitutivo do tipo (Código Penal, artigo 20, caput): "O erro sobre
elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei". Tal erro pode referir-se a uma situação de fato. Exemplo: o
caçador atira em uma pessoa, pensando tratar-se de um animal perigoso.

➢ Descriminantes putativas (Código Penal, artigo 20, paragrafo primeiro): "É isento de pena
quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima". Trata-se do erro de tipo inevitável (invencível ou escusável)
e, sendo assim, exclui a punição por dolo ou por culpa. O fato, portanto, é atípico. Importante
lembrar que: "Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo." (Código Penal, artigo 20, paragrafo primeiro, parte final).

• É o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se levanta e avista um vulto,


determinando sua imediata parada. Como o vulto continua, o pai dispara três tiros de arma de
fogo contra a vítima, acreditando estar agindo em legítima defesa de sua família. No entanto,
ao verificar a vítima, percebe que o vulto era seu filho de dezesseis anos que havia saído
escondido para assistir a um show de Rock no qual havia sido proibido de ir. Nesse caso,
embora o crime seja naturalmente doloso (pois o agente quis o resultado), por questões de
política criminal o Código determina que lhe seja aplicado a pena correspondente à
modalidade culposa.

Nos termos do artigo 20, paragrafo primeiro do Código Penal:

Artigo 20 (...) Paragrafo primeiro - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há
isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
(Redação dada pela Lei número 7.209, de 11.7.1984).

➢ Erro sobre a pessoa (artigo 20, paragrafo terceiro, Código Penal): "O erro quanto à pessoa
contra a qual o crime é praticado não isenta depena. Não se consideram, neste caso, as
condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
crime. Ocorre quando, por exemplo, o agente mata A pensando tratar-se de B, fato que não
altera a figura típica do homicídio.

➢ Erro sobre a ilicitude do fato (artigo 21, Código Penal): "O desconhecimento da lei é
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá
diminuí-la de um sexto a um terço.

Código Penal, artigo 20, Parágrafo único: “Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou
atingir essa consciência".

CAUSAS DE EXCLUSÃO DO FATO TÍPICO

Haverá exclusão do fato típico sempre que estiver ausente algum de seus elementos. As
principais hipóteses são:

Coação física irresistível: A coação física irresistível (também chamada de vis absoluta) exclui a
CONDUTA, por ausência completa de vontade do agente coagido. Logo, acaba por excluir o
fato típico. Não confundir com a coação MORAL irresistível, que exclui a culpabilidade.

Exemplo: José pega Maria à força e, segurando seu braço, faz com que Maria esfaqueie Joana,
que está dormindo. Neste caso, Maria não teve conduta, pois não teve dolo ou culpa. Maria
não escolheu esfaquear, foi coagida fisicamente a fazer isso.

Erro de tipo inevitável: No erro de tipo inevitável o agente pratica o fato típico por incidir em
erro sobre um de seus elementos. Quando o erro é inevitável (qualquer pessoa naquelas
circunstâncias cometeria o erro), o agente não responde por crime algum (afasta-se o dolo e a
culpa).

Exemplo: José pega o celular que está em cima do balcão da loja e vai embora, acreditando ser
o seu celular. Todavia, quando chega em casa, vê que pegou o celular de outra pessoa, pois
confundiu com o seu. Neste caso, José praticou, em tese, o crime de furto (artigo 155 do
Código Penal). Todavia, como houve erro inevitável sobre um dos elementos do tipo (o
elemento “coisa alheia”, já que José acreditava que a coisa era sua), José não responderá por
crime algum.

Sonambulismo e atos reflexos: Nas hipóteses de sonambulismo e de atos reflexos também se


afasta o fato típico, pois em ambos os casos o agente não tem controle sobre sua ação ou
omissão, ou seja, temos a exteriorização física do ato, sem que haja dolo ou culpa.

Exemplo: José dá um susto em Ricardo, que acaba mexendo os braços repentinamente e


acerta uma cotovelada em Paula. Neste caso, Ricardo não responde por crime de lesão
corporal pois não teve dolo ou culpa.

Insignificância e adequação social da conduta: Tanto na hipótese de insignificância da conduta


(ausência de ofensa significativa ao bem jurídico protegido pela norma) quanto na hipótese de
adequação social da conduta (tolerância).

ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)

Você sabia que a antijuridicidade é um dos requisitos do crime e que se constitui na relação de
contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico?

Não basta, para a ocorrência de um crime, que o fato seja típico (previsto em lei). É necessário
também que seja antijurídico, ou seja, contrário à lei penal, que viole bens jurídicos protegidos
pelo ordenamento jurídico, portanto, a antijuridicidade (ou ilicitude) é a condição de
contrariedade da conduta perante o Direito.
Estando presente o primeiro elemento (fato típico), presume-se presente a ilicitude, devendo
o acusado comprovar a existência de uma causa de exclusão da ilicitude. Percebam, assim, que
uma das funções do fato típico é gerar uma presunção de ilicitude da conduta, que pode ser
desconstituída diante da presença de uma das causas de exclusão da ilicitude.

As causas de exclusão da ilicitude podem ser:

➢ Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime. Estão previstas na parte
geral do Código Penal, em seu artigo 23;

➢ Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes, não se aplicando a
outros. Por exemplo: Furto de coisas comum, previsto no artigo 156, parágrafo segundo. Nesse
caso, o fato de a coisa furtada ser comum retira a ilicitude da conduta. Porém, só nesse crime.
As causas genéricas de exclusão da ilicitude são:

a) estado de necessidade;

b) legítima defesa;

c) exercício regular de um direito;

d) estrito cumprimento do dever legal.

Entretanto, a Doutrina majoritária e a Jurisprudência entendem que existem causas


supralegais de exclusão da ilicitude (não previstas na lei, mas que decorrem da lógica, como o
consentimento do ofendido nos crimes contra bens disponíveis).

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE

Além de típico, para ser considerado crime o fato deve ser também antijurídico. O artigo 23 do
Código Penal dispõe que não há crime quando o agente pratica o fato nos seguintes casos:

Está previsto no artigo 24 do Código Penal:

Artigo 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que estabelece que o bem jurídico
protegido deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado, afastando-se em ambos os casos a
ilicitude da conduta.

Estado de necessidade: o agente pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.

EXEMPLO: Marcos e João estão num avião que está caindo. Só há uma mochila com
paraquedas. Marcos agride João até causar-lhe a morte, a fim de que o paraquedas seja seu e
ele possa se salvar. Nesse caso, o bem jurídico que Marcos buscou preservar (vida) é de igual
valor ao bem sacrificado (Vida de João). Assim, Marcos não cometeu crime, pois agiu coberto
por uma excludente de ilicitude, que é o estado de necessidade.

Os requisitos para a configuração do estado de necessidade são basicamente dois:

a) a existência de uma situação de perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiros;

b) o fato necessitado (conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para salvar o
próprio ou do terceiro).
Entretanto, a situação de perigo deve:

➢ Não ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja, se foi ele mesmo quem deu
causa, não poderá sacrificar o direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu).

EXEMPLO: O agente provoca ao naufrágio de um navio e, para se salvar, mata um terceiro, a


fim de ficar com o último colete disponível. Nesse caso, embora os bens sejam de igual valor, a
situação de perigo foi criada pelo próprio agente, logo, ele não estará agindo em estado de
necessidade.

Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não permite o estado de necessidade
diante de um perigo futuro, ainda que iminente;

A situação de perigo deve estar expondo a risco de lesão um bem jurídico do próprio agente
ou de um terceiro. O agente não pode ter o dever jurídico enfrentar o perigo.

Ser conhecida pelo agente – O agente deve saber que está agindo em estado de necessidade
(elemento subjetivo).

Quanto à conduta do agente, ela deve ser:

➢ Inevitável – O bem jurídico protegido só seria salvo daquela maneira. Não havia outra
forma de salvar o bem jurídico.

➢ Proporcional – O agente deve sacrificar apenas bens jurídicos de menor ou igual valor ao
que pretende proteger.

O estado de necessidade pode ser:

➢ Agressivo – Quando para salvar seu bem jurídico o agente sacrifica bem jurídico de um
terceiro que não provocou a situação de perigo.

➢ Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de quem ocasionou a situação de


perigo.

Pode ser ainda:

➢ Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe;

➢ Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato, apenas na imaginação do


agente. Imaginemos que no caso do colete salva-vidas, ao invés de ser o último, existisse ainda
uma sala repleta deles. Assim, a situação de perigo apenas passou pela cabeça do agente, não
sendo a realidade, pois havia mais coletes. Nesse caso, o agente incorreu em erro, que se for
um erro escusável (o agente não tinha como saber da existência dos outros coletes), excluirá a
imputação do delito.

LEGÍTIMA DEFESA Você já ouviu falar em legítima defesa? Sabe o que é? Vamos aprender?

Nos termos do artigo 25 do Código Penal: Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem.

Com o advento da Lei número 13.964 de 2019, o chamado pacote ante crime, foi inserido na
legislação penal comum o parágrafo único no artigo 25, que versa sobre a legítima defesa.
Insta ressaltar, que o referido acréscimo não trará nenhuma mudança naquilo que já fora
pacificado na doutrina, ou seja, o que o parágrafo único nos traz é apenas um exemplo daquilo
que se revela no caput do artigo 25, quando na defesa de outrem repele injusta agressão
moderadamente e usando os meios necessários.

Artigo 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo
único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em
banco Bradesco observa um homem saindo desta agência com arma empunho apontando na
direção de Paulo poderá este repelir essa agressão iminente, pois ainda que não tenha
acontecido, não se pode exigir que Paulo aguardasse que este homem não identificado
comece a efetuar os disparos.

➢ Contra direito próprio ou alheio – A agressão injusta pode estar acontecendo ou prestes a
acontecer contra direito do próprio agente ou de um terceiro. Assim, se homem saindo desta
agência bancária acima mencionada com arma em punho apontando na direção de uma
pessoa qualquer, Paulo poderá repelir essa agressão iminente contra terceiros, sargento Paulo,
não estará cometendo crime, pois agiu em legítima defesa da integridade física de terceiro.

➢ Reação proporcional – O agente deve repelir a injusta agressão utilizando moderadamente


dos meios necessários.

➢ Conhecimento da situação justificante – O agente deve saber que está agindo em legítima
defesa, ou seja, deve conhecer a situação justificante e agir com intenção de defesa (animus
defendendi).

Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age em legítima defesa, mas em
estado de necessidade, pois os atos dos animais não podem ser considerados injustos.

Entretanto, se o animal estiver sendo utilizado como instrumento de um crime (dono


determina ao cão bravo que morda a vítima), o agente poderá agir em legítima defesa.
Entretanto, a legítima defesa estará ocorrendo em face do dono (lesão ao seu patrimônio, o
cachorro), e não em face do animal.

Com relação às agressões praticadas por inimputável, a Doutrina se divide, mas a maioria
entende que nesse caso há legítima defesa, e não estado de necessidade.

Na legítima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de necessidade, o agredido (que


age em legítima defesa) não é obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A lei permite que
o agredido revide e se proteja, ainda que lhe seja possível.

A reação do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os meios utilizados por ele
devem ser suficientes e necessários a repelir a agressão injusta.

Vejamos:

Sargento Paulo, em discussão de trânsito com outro motorista amis alto e mais forte que Paulo
e dadas as condições físicas dos dois e se sentindo ameaçado pois o outro motorista ameaça
de agredi-lo e de forma a repelir a injusta agressão, saca sua pistola e o e desfere 05 tiros no
peito do outro motorista, provocando sua morte.

Neste caso, Sargento Paulo não pode alegar legítima defesa, eis que sua reação não foi
proporcional, já que não utilizou moderadamente dos meios necessários.

A legítima defesa pode ser:

➢ Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como infração penal. Assim, se A
agride B e este, em legítima defesa, agride A, está cometendo lesões corporais (artigo 129),
mas não há crime, em razão da presença da causa excludente da ilicitude. Outro exemplo:
Policial que atira em um criminoso armado que está na iminência de matar ou lesionar o
policial ou terceiro.

➢ Defensiva – O agente se limita a se defender, não atacando nenhum bem jurídico do


agressor.

➢ Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico.

➢ De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a outra pessoa.

➢ Real – Quando a agressão a iminência dela acontece, de fato, no mundo real.

➢ Putativa – Quando a agressão é fruto da sua imaginação e falsamente a vítima acredita que
sofrerá um disparo de arma de fogo, como por exemplo pessoa que falsamente pensa que está
sendo assaltado por um criminoso usando uma arma de fogo ,porém, trata-se de réplica de
arma de fogo apontada para sua cabeça e acreditando que sua vida está em risco desfere um
golpe de faca no agressor matando-o, na verdade, esta pessoa está protegido e não
responderá pelo crime pelo fenômeno da legítima defesa putativa.

A legítima defesa não é presumida. Aquele que a alega deve provar sua ocorrência, pois, como
estudamos, a existência do fato típico tem o condão de fazer presumir a ilicitude da conduta,
cabendo ao acusado provar a existência de uma das causas de exclusão da ilicitude.

Caso o agredido erre ao revidar a agressão e atinge pessoa que não tem relação com a
agressão (erro sobre a pessoa), continuará amparado pela excludente de ilicitude, pois o crime
se considera praticado contra a pessoa visada, não contra a efetivamente atingida.

Temos também a legitima defesa com erro na execução, multo comum nos dias de atuais em
que o policial adentra em comunidades, ou mesmo nas ruas e ao se deparar com marginais
armados, efetua disparo para reprimir a injusta agressão atual ou iminente, atinge pessoa que
não era criminosa, que estava na linha de fogo ou próximo aos marginais.

No caso de legítima defesa de terceiro, duas hipóteses podem ocorrer:

➢ O bem do terceiro que está sendo lesado é disponível (bens materiais, etc.) – Nesse caso, o
terceiro deve concordar com que o agente atue em seu favor.

➢ O bem do terceiro é indisponível (Vida, por exemplo) – Nesse caso, o agente poderá repelir
esta agressão ainda que o terceiro não concorde com esta atitude, poiso bem agredido é um
bem de caráter indisponível.

Vocês devem ficar atentos a alguns pontos:

➢ Não cabe legítima defesa real em face de legítima defesa real, pois se o primeiro age em
legítima defesa real, sua agressão não é injusta, o que impossibilita reação em legítima defesa.

➢ Cabe legítima defesa real em face de legítima defesa putativa. Assim, se A pensa estar
sendo ameaçado por B e o agride (legítima defesa putativa), B poderá agir em legítima defesa
real. Isto porque a atitude de A não é justa, logo, é uma agressão injusta, de forma que B
poderá se valer da legítima defesa (A até pode não ser punido por sua conduta, mas isso se
dará pela exclusão da culpabilidade em razão da legítima defesa putativa).

➢ Sempre caberá legítima defesa em face de conduta que esteja acobertada apenas por causa
de exclusão da culpabilidade (pois nesse caso a agressão é típica e ilícita, embora não
culpável).
➢ NUNCA haverá possibilidade de legítima defesa real em face de qualquer causa de exclusão
da ilicitude real.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Sargento, você já ouviu alguém dizer que “o policial agiu no estrito cumprimento do seu dever
legal”? Sabe por que isso ocorre? Vamos aprender?

Nos termos do artigo 23, inciso três do Código Penal:

Artigo 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

Inciso três - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato típico, mas o faz em cumprimento
a um dever previsto em lei. Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pública. Se
alguém comete crime, eventuais lesões corporais praticadas pelo policial (quando da
perseguição) não são consideradas ilícitas, pois embora tenha sido provocada lesão corporal
(prevista no artigo 129 do Código Penal), o policial agiu no estrito cumprimento do seu dever
legal.

CUIDADOI Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por ferir ou matar um suspeito, ele
não age no estrito cumprimento do dever legal, mas em legítima defesa. Isso porque o policial
só pode atirar contra alguém em Legítima Defesa.

Estrito cumprimento do dever legal: consiste na existência de um dever proveniente de lei que
obriga o agente a determinada conduta Exemplo: policial prende em flagrante delito.

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

O Código Penal prevê essa excludente da ilicitude também no artigo 23, inciso três:

Artigo 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (...)

Inciso três - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

O exercício regular de direito ocorre quando o agente age dentro dos limites autorizadores
pelo ordenamento jurídico.

EXEMPLO: lesão corporal decorrente de violência desportiva.

Dessa forma, quem age no legítimo exercício de um direito seu não poderá estar cometendo
crime, pois a ordem jurídica deve ser harmônica, de forma que uma conduta que é
considerada um direito da pessoa, não pode ser considerada crime, por questões lógicas.

Trata-se de preservar a coerência do sistema, mas o direito deve estar previsto em lei? Sim! A
Doutrina majoritária entende que os direitos derivados dos costumes locais não podem ser
invocados como causas de exclusão da ilicitude.

EXEMPLO: A mãe descobre que o filho, de 12 anos, aprontou na escola e resolve colocar o
garoto de castigo, trancado no quarto por 8 horas. Neste caso, a mãe não responde pelo crime
de cárcere privado (artigo 148 do Código Penal), pois tem o direito de agir assim, dever que
decorre de seu poder familiar sobre a criança. Não há “estrito cumprimento do dever legal”,
pois a mãe não tinha o dever de fazer isso (poderia optar por perdoar o filho, dar outro tipo de
castigo, etc.).

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
O consentimento do ofendido não está expressamente previsto no Código Penal como causa
de exclusão da ilicitude. Todavia, a Doutrina é pacífica ao sustentar que o consentimento do
ofendido pode, a depender do caso, afastar a ilicitude da conduta, funcionando como causa
supralegal (não prevista na Lei) de exclusão da ilicitude.

EXEMPLO: José e Paulo combinam de fazer manobras arriscadas numa moto, estando Paulo na
garupa e José guiando a motocicleta. Neste caso, se José perder a direção e causar lesões
culposas em Paulo, não haverá crime, eis que o consentimento de Paulo em relação à conduta
arriscada de José afasta a ilicitude da conduta.

A Doutrina elenca alguns requisitos para que o consentimento do ofendido possa ser
considerado causa supralegal de exclusão da ilicitude:

➢ O consentimento deve ser válido – O consentimento deve ser prestado por pessoa capaz,
mentalmente sã e livre de vícios (coação, fraude, etc.).

➢ O bem jurídico deve ser próprio e disponível – Assim, não há que se falar em consentimento
do ofendido quando o bem jurídico pertence a outra pessoa ou é indisponível como, por
exemplo, a vida.

➢ O consentimento deve ser prévio ou concomitante à conduta – O consentimento do


ofendido após a prática da conduta não afasta a ilicitude.

EXCESSO PUNÍVEL O excesso punível é o exercício irregular de uma causa excludente da


ilicitude, seja porque não há mais a circunstância que permitia seu exercício (cessou os
motivos para agir no estrito cumprimento do dever legal, ou seja, porque o meio utilizado não
é proporcional). No primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso
intensivo. Nesses casos, a lei prevê que aquele que se exceder responderá pelos danos que
causar artigo 23, parágrafo único do Código Penal:

Artigo 23 (...)

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.

Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o policial que, após prender o
ladrão, começa a desferir socos em seu rosto, não estará agindo amparado pelo estrito
cumprimento do dever legal, pois está se excedendo.

IMPUTABILIDADE

Chama-se imputabilidade a capacidade de o agente entender o caráter ilícito do fato ou de


determinar-se, de acordo com esse entendimento. Consequentemente, denomina-se
inimputabilidade a incapacidade de o agente entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se, de acordo com esse entendimento, seja em virtude de doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto (menor idade penal) ou retardado, seja em virtude de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, conforme estabelecem os
artigos 26, 27 e 28 do Código Penal.

CONCURSO DE PESSOAS

Normalmente, o crime é praticado por uma única pessoa. Contudo, pode ser praticado por
duas ou mais. Assim sendo, o Código Penal utiliza o termo concurso de pessoas, adotando a
teoria unitária ou monista, segundo a qual, no concurso, existe um só crime, em que todos os
participantes respondem por ele.
Entende-se por concurso de pessoas a reunião de vários agentes concorrendo de forma
relevante para realização do mesmo evento criminoso agindo todos com identidade de
propósitos. A Cooperação pode ocorrer em fases diversas desde o planejamento até a
consumação do delito e em intensidade variável, razão pela qual é valorada de acordo com a
contribuição de cada um dos agentes para o sucesso da ação criminosa.

O artigo 29 do Código Penal estatui: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide
nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Além disso, a lei penal distingue
coautoria de participação (parágrafo primeiro, artigo 29, Código Penal).

Ocorre a coautoria quando várias pessoas realizam a conduta principal do tipo penal, ou seja,
há diversos executores. Por sua vez, existe a participação quando o sujeito concorre de
qualquer modo para a prática da conduta típica, não realizando atos executórios do crime. O
sujeito, chamado partícipe, realiza atos diversos daqueles praticados pelo autor, não
cometendo a conduta descrita pelo preceito primário da norma. Pratica, entretanto, atividade
- induz, instiga ou presta auxílio - que contribui para a realização do delito.

Autor, portanto, é quem executa o núcleo da conduta típica.

Exemplo: aquele que mata, rouba etc.

Já partícipe, é quem concorre de qualquer modo para a realização do crime, praticando atos
diversos dos do autor.

Exemplos: ele vigia a rua, enquanto o autor furta bens do interior da casa; ele empresta a arma
para o autor matar a vítima etc.

A participação pode ser, portanto, moral ou material.

Existe a participação moral quando o agente induz ou instiga o autor principal à prática do
crime. Ocorre a participação material quando o agente auxilia, de algum modo, o autor
principal na prática do crime.

REQUISITOS DO CONCURSO PESSOAS

a)Presença de dois ou mais agentes;

b) Nexo de causalidade material entre as condutas realizadas e o resultado obtido;

c) Não há necessidade de ajuste prévio entre os agentes, mas deve haver vontade de obtenção
do resultado (vínculo de natureza psicológica). Ou seja, mesmo que os agentes não se
conheçam pode haver o concurso de pessoas se existente a vontade de obtenção do mesmo
resultado. Tal hipótese admite ainda a autoria sucessiva. Exemplo: empregada deixa a porta da
casa aberta, permitindo que o ladrão subtraia os bens do imóvel. Enquanto isso, uma outra
pessoa, ao ver os fatos, resolve dele aderir retirando também as coisas da casa;

d) Reconhecimento da prática do mesmo delito para todos os agentes;

e) Existência de atipicidade e antijuridicidade, já que se o fato não é punível para um dos


coautores, também não será para os demais.

PARTE ESPECIAL - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Sargento, você saberia dizer quais são os crimes contra avida? Vamos aprender?

Conceito
O Título um da Parte Especial do Código Penal cuida somente dos crimes contra a pessoa e
está dividido em seis capítulos: “Dos crimes contra a vida”; “Das lesões corporais”; “Da
periclitação da vida e da saúde”; “Da rixa”; “Dos crimes contra a honra”; e “Dos crimes contra
a liberdade individual”.

É um dos mais relevantes objetos da tutela penal. Não a protege o Estado apenas por obséquio
ao indivíduo, mas, principalmente, por exigência de indeclinável interesse público ou atinente
a elementares condições da vida em sociedade. Pode-se dizer que, à parte os que ofendem ou
fazem periclitar os interesses específicos do Estado, todos os crimes constituem, em última
análise, lesão ou perigo de lesão contra a pessoa.

Não é para atender a uma diferenciação essencial que os crimes particularmente chamados
contra a pessoa ocupam setor autônomo entre as espécies de delito. A distinção classificadora
justifica-se apenas porque tais crimes são os que mais imediatamente afetam a pessoa. Os
bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam estão intimamente consubstanciados
com a personalidade humana. Tais são: a vida, a integridade corporal, a honra e a liberdade.

Dos Crimes Contra A Vida

O Código Penal tipifica os seguintes crimes contra a vida:

Um – homicídio, artigo 121;

Dois – induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, artigo 122;

Três – infanticídio, artigo 123;

Quatro – aborto, artigo 124 a 128.

HOMICÍDIO

Você saberia definir o conceito de homicídio?

Homicídio é a morte de um ser humano provocada por outro Ser humano. É a eliminação da
vida de uma pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência. Todos os
direitos partem do direito de viver, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos bens é o bem
vida. O homicídio tem a primazia entre os crimes mais graves, pois é o atentado contra a fonte
mesma da ordem e segurança geral, sabendo-se que todos os bens públicos e privados, todas
as instituições se fundam sobre o respeito à existência dos indivíduos que compõem o
agregado social.

Conceitos

Objeto Jurídico

Objeto jurídico do crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido pela norma penal. A
disposição dos títulos e capítulos da Parte Especial do Código Penal obedece a um critério que
leva em consideração o objeto jurídico do crime, colocando-se em primeiro lugar os bens
jurídicos mais importantes: vida, integridade corporal honra, patrimônio etc. Desse modo, a
Parte Especial do Código Penal é inaugurada com o delito de homicídio, que tem por objeto
jurídico a vida humana extrauterina, ou seja, o objeto jurídico é o direito à vida, sendo certo
que o ataque à vida intrauterina é incriminado pelos tipos de aborto (artigos 124 a 126).

Objeto Material
Genericamente, objeto material de um crime é a pessoa ou coisa sobre as quais recai a
conduta. É o objeto da ação, interesse protegido pela lei penal. Assim, o objeto material do
homicídio é a pessoa sobre quem recai a ação ou omissão.

Crime Material

O delito de homicídio classifica-se como crime material, que é aquele que se consuma com a
produção do resultado naturalístico. O tipo descreve conduta e resultado (naturalístico), sendo
certo que o resultado morte da vítima há de se vincular pelo nexo causal à conduta do agente.

Sujeito Ativo

Sujeito ativo da conduta típica é qualquer ser humano que pratica a figura típica descrita na
lei, isolada ou conjuntamente com outros autores. O conceito abrange não só aquele que
pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como também o partícipe, que é aquele que,
sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado.
Trata-se de crime comum, que pode ser cometido por qualquer pessoa.

Sujeito Passivo

É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. Pode ser direto ou imediato, quando for à
pessoa que sofre diretamente a agressão (sujeito passivo material), ou indireto ou mediato,
pois o Estado (sujeito passivo formal) é sempre atingido em seus interesses, qualquer que seja
a infração praticada, visto que a ordem pública e a paz social violada. No caso do delito de
homicídio, o sujeito passivo é qualquer pessoa com vida, não exigindo nenhum requisito
especial.

Nesse contexto, vale o registro de algumas terminologias relacionadas ao sujeito passivo no


delito de homicídio, quais sejam feticídio (supressão da vida do feto); parricídio (filho que mata
o pai); fratricídio (irmão que mata irmão); uxoricídio (morte da mulher pelo cônjuge);
feminicídio (morte da mulher, independentemente do motivo e das circunstâncias);
feminicídio (homicídio praticado contra a mulher em razão de sua condição do sexo feminino).

Homicídio Simples

Artigo 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena.

Homicídio Privilegiado – causa de diminuição de pena

Parágrafo primeiro Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Homicídio Qualificado

Parágrafo Segundo Se o homicídio é cometido:

1 – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

2 – Por motivo fútil;

3 – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum;

4 – À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne


impossível a defesa do ofendido;

5 – Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:


Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio

6 – Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

7 – Contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição.

8 – Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Parágrafo Segundo – A Considerasse que há razões de condição de sexo feminino quando o


crime envolve:

1 – Violência doméstica e familiar;

2 – Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Homicídio Culposo

Parágrafo Terceiro – Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena

Parágrafo Quarto - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime
resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos.

Parágrafo Quinto – Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena,
se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária.

Parágrafo Sexto – A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio.

Parágrafo Sétimo – A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado:

Inciso Um – Durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

Inciso Dois – Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental;

Inciso Três – Na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;

Inciso Quatro – Em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos
Um, Dois e Três do caput do artigo 22 da Lei número 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Formas de Homicídios
O Código Penal distingue várias modalidades de homicídio: homicídio simples (artigo 121,
caput), homicídio privilegiado (parágrafo primeiro), homicídio qualificado (parágrafo segundo)
e homicídio culposo (parágrafo terceiro), Homicídio simples doloso (caput): Constitui o tipo
básico fundamental, é o que contém os componentes essenciais do crime.

Homicídio privilegiado (parágrafo primeiro): Tendo em conta circunstâncias de caráter


subjetivo, o legislador cuidou de dar tratamento diverso ao homicídio cujos motivos
determinantes conduziriam a uma menor reprovação moral do agente. Para tanto, inseriu essa
causa de diminuição de pena, que possui fator de redução estabelecido em quantidade
variável (um sexto a um terço).

Homicídio qualificado (parágrafo segundo): Em face de certas circunstâncias agravantes que


demonstram maior grau de criminalidade da conduta do agente, o legislador criou o tipo
qualificado, que nada mais é que um tipo derivado do homicídio simples, com novos limites,
mínimo e máximo, de pena (reclusão, de 12 a 30 anos).

Homicídio culposo (parágrafo terceiro: Constitui a modalidade culposa do delito de homicídio.


Diz-se o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência
ou imperícia (Código Penal, artigo 18, inciso dois).

Causa de aumento de pena (parágrafo quarto, sexto e sétimo): O parágrafo quarto contém
causas de aumento de pena aplicáveis respectivamente às modalidades culposa e dolosa do
delito de homicídio; o parágrafo sexto contém causa de aumento de pena para as situações
em que o homicídio é praticado em atividade típica de grupo de extermínio; o parágrafo
sétimo contém as causas de aumento para o feminicídio, que é o homicídio qualificado
praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (artigo 121, parágrafo
segundo, inciso cinco, Código Penal).

Homicídio simples (artigo 121, caput): É a figura prevista no caput do artigo 121 do Código
Penal, caracterizada pelo simples ato de matar alguém, com a intenção de produzir a morte ou
assumindo o risco de fazê-lo. Conforme já dissemos acima, o homicídio simples constitui o tipo
básico fundamental. Ele contém os componentes essenciais do crime. O alcance deste tipo
penal é determinado por exclusão, ou seja, constituí homicídio simples aquele que não é
privilegiado (artigo 121, parágrafo primeiro) ou qualificado (artigo 121, parágrafo segundo).

COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR

Por força do artigo 483 do Código Processual Penal é do Tribunal do Júri: “Os quesitos serão
formulados na seguinte ordem, indagando sobre:

Inciso um – a materialidade do fato;

Inciso dois – a autoria ou participação;

Inciso três – se o acusado deve ser absolvido;

Inciso quatro – se existe causa de diminuição alegada pela defesa;

Inciso cinco– se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas


na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação”.

O homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio é causa de aumento de pena


do tipo penal do homicídio (Código Penal, artigo 121, parágrafo sexto). Por isso deve ser
indagado ao Conselho de Sentença se o homicídio foi ou não praticado nesses moldes. Com
efeito, o cometimento do crime em atividade típica de grupo de extermínio sujeita o autor a
novos limites de pena Infanticídio O infanticídio está previsto no artigo 123 do Código Penal, e
é a eliminação da vida do próprio filho, recém-nascido (acabou de nascer) ou nascente (está
nascendo), praticada pela mãe, durante o parto ou logo após, mas sob influência do estado
puerperal.

Artigo 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

O referido artigo protege a vida extrauterina. Protege tanto a vida do recém-nascido (neonato)
quanto do que está nascendo (nascente). O sujeito ativo é a genitora do neonato ou nascente.
Trata-se de crime próprio (especial), porque exige especial atributo do sujeito ativo: ser mãe
da pequena vítima sob a influência doestado puerperal.

Bem jurídico, a vida humana, Sujeito ativo, somente a mãe, Sujeito passivo, o ser humano
nascente ou recém-nascido, Tipo objetivo: matar, sob influência doestado puerperal, o próprio
filho, durante o parto ou logo após.

Estado puerperal: Puerpério é o período que vai do deslocamento e da expulsão da placenta


até a volta do organismo materno as condições pré-gravídicas. Sua duração é variável. A
mulher, mentalmente sadia, mas abalada pela dor física do fenómeno obstétrico, fatigada,
enervada, sacudida pela emoção, vem a sofrer um colapso do senso moral uma liberação de
impulsos maldosos, chegando a matar o próprio filho.

Aborto

Você sabia que o aborto é a interrupção da gravidez fisiológica, com a consequente morte do
ovo, embrião ou feto, com ou sem a expulsão do concepto?

Tipo penal (artigo 124): provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque.
Pena: detenção, de um a três anos.

Bem jurídico: Vida humana intrauterina;

Sujeito ativo: A própria gestante, nas demais modalidades, qualquer pessoa;

Sujeito passivo: O ser humano em formação. No aborto não consentido e no aborto


qualificado pelo resultado, a gestante também poderá figurar como vítima do delito;

Tipo objetivo: Provocar aborto - morte do nascituro no útero materno ou fora deste pelas
manobras abortivas ou pelo estágio de sua evolução.

LESÃO CORPORAL

Conceito

É resultado de atentado bem-sucedido à integridade corporal ou a saúde do ser humano,


excluído o próprio autor da lesão. O crime pode ser praticado por ação ou omissão. Debilitação
da saúde como todo ou do funcionamento de algum órgão ou sistema do corpo humano,
inclusive se o resultado for o agravamento de circunstância previamente existente. Também
pode ser qualquer alteração anatômica que não tenha expressado autorização da pessoa que
vai sofrer a alteração, que vão desde tatuagens a amputações, passando por todas as
alterações físicas provocadas pela ação ou omissão maliciosa de outrem, que pode ter
utilizado meios diretos ou indiretos para gerar o dano.
Para caracterizar a lesão corporal é necessário que esteja configurada a alteração física,
mesmo que apenas temporária, sendo que sensações como desconforto ou dor física não são
consideradas como formas de lesão corporal.

Artigo 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave

Parágrafo primeiro Se resulta:

Inciso um – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

Inciso dois – perigo de vida;

Inciso três – debilidade permanente de membro, sentido ou função;

Inciso quatro – aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Em que pese o código penal brasileiro não mencionar lesão de natureza gravíssima nem leve,
tradicionalmente no Direito usa-se como lesões corporais gravíssimas aquelas que tem maior
potencial lesivo e que, portanto, implicam penalidades mais severas.

Lesão corporal de natureza gravíssima

Parágrafo 2° Se resulta:

Inciso um - Incapacidade permanente para o trabalho;

Inciso dois - enfermidade incurável;

Inciso três - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

Inciso quatro - deformidade permanente;

Inciso cinco - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte.

Parágrafo 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o


resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Bem jurídico: Incolumidade física e psíquica do ser humano.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

Sujeito passivo: Qualquer ser humano vivo, a partir do início do parto.

Tipo objetivo: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Lesão corporal é a


alteração prejudicial, anatômica ou funcional, física ou psíquica, local ou generalizada,
produzida, por qualquer meio, no organismo alheio.

Lesão corporal seguida de morte: se dá ofensa à integridade corporal ou à saúde resulta morte
e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo. É um misto de dolo (antecedente) e culpa (consequente).
Lesão corporal culposa: a produção do resultado material externo (ofensa à integridade
corporal ou à saúde de outrem), não querido pelo agente, decorre da inobservância de dever
objetivo de cuidado.

Violência doméstica: se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro ou com quem conviva ou tenha convivido o agressor ou, ainda, prevalecendo-
se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.

Lesão Corporal contra Agentes de Segurança Pública e seus Familiares: A Lei número 13.142 de
2015, alterou o código penal para incluir como causa de aumento de pena de um terço a dois
terços a lesão corporal praticada contra “autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição”.

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Crime de Perigo

Com a rubrica “Da periclitação da vida e da saúde” o Código Penal contempla diversos crimes
de perigo, quais sejam: perigo de contágio venéreo (artigo 130), perigo de contágio de
moléstia grave (artigo 131), perigo para a vida ou saúde de outrem (artigo 132), abandono de
incapaz (artigo 133), exposição ou abandono de recém-nascido (artigo 134), omissão de
socorro (artigo 135), condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (artigo
135-A), maus-tratos (artigo 136). Encontram-se sistematizados neste capítulo por
diferenciarem-se dos demais crimes quanto ao elemento subjetivo e objetivo.

Perigo de Contágio Venéreo

Artigo 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio
de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de
três meses a um ano, ou multa.

Parágrafo primeiro – Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena de reclusão, de um a


quatro anos, e multa.

Parágrafo segundo – Somente se procede mediante representação.

Sob a epígrafe “Perigo de contágio venéreo” o Código Penal disciplina o primeiro crime de
perigo individual. Busca o legislador, por intermédio dessa criminalização, evitar e sancionar o
contágio e a consequente propagação de doenças venéreas sexualmente transmissíveis, pois
coloca em risco a saúde do indivíduo e de todo o meio social. Segundo a Exposição de Motivos
do Código Penal, “a doença venérea é uma lesão corporal e de consequências gravíssimas”.

Perigo de Contágio de Moléstia Grave

Artigo 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio.

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Objeto Jurídico

Tutela o Código Penal, através do crime “perigo de contágio de moléstia grave”, a saúde e a
incolumidade física das pessoas.
A ação nuclear do tipo é praticar ato capaz de produzir o contágio de moléstia grave. Ao
contrário do artigo 130, o tipo penal não exige a prática de relações sexuais ou atos libidinosos
como meios de transmitir a moléstia.

Trata-se, aqui, de crime de ação livre. A contaminação pode dar-se por diversos meios: beijo,
instrumentos, injeções, nada impedindo, contudo, que a transmissão também se dê mediante
relações sexuais ou atos libidinosos, desde que a moléstia não seja venérea.

Pode caracterizar a conduta não só o emprego de meios diretos, como o contato físico, mas
também indiretos, como o uso de utensílios pessoais previamente infectados. A contaminação
de moléstia venérea grave e realizada por outro meio que não o ato sexual configura o delito
em tela.

Abandono de Incapaz

Artigo 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:

Pena – detenção, de seis meses a três anos.

Parágrafo primeiro – Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão, de um a cinco anos.

Parágrafo segundo – Se resulta a morte:

Pena – reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena.

Parágrafo terceiro – As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:

Inciso um – se o abandono ocorre em lugar ermo;

Inciso dois – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da


vítima.

Inciso três – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei número 10.741, de
2003).

Exposição ou abandono de recém-nascido:

Artigo 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena -
detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo primeiro – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – detenção, de um a três anos.

Parágrafo segundo – Se resulta a morte:

Pena – detenção, de dois a seis anos.

O crime de abandono de incapaz e o crime de exposição ou abandono de recém-nascido


(Código Penal, artigo 134) foram previstos em tipos autônomos. Segundo a doutrina, o artigo
133 prevê o tipo básico, fundamental, ao passo que o artigo 134, uma figura privilegiada, em
decorrência da previsão do “motivo de honra”. O crime de abandono de incapaz é um crime
de perigo concreto em decorrência do próprio verbo empregado na figura criminosa, qual seja,
abandonar, o que exige um risco efetivo, real.
Objeto Jurídico

É o interesse relativo a segurança do indivíduo, que, por si, não se pode defender ou proteger,
preservando sua incolumidade física”.

Elementos do Tipo

Abandonar significa deixar a vítima sem assistência, ao desamparo. O Crime pode realizar-se
mediante uma conduta comissiva, por exemplo, conduzir um incapaz até uma floresta,
abandonando-o; como também por uma conduta omissiva, por exemplo, babá que abandona
o emprego, deixando as crianças, que estavam sob a sua assistência, à própria sorte. Não basta
para a configuração do crime o simples abandono do incapaz; o abandono deve criar uma
situação de perigo concreto para a vítima, incumbindo ao juiz analisar em cada caso a efetiva
situação de perigo.

Sujeito Ativo

Esse crime somente pode ser cometido por aquele que tenha o indivíduo sob o seu cuidado,
guarda, vigilância ou autoridade. O crime é próprio, exigindo a descrição típica que exiba o
agente especial vinculação com o sujeito passivo, vinculação esta inserida no dever de
assistência que o primeiro tem em relação ao segundo. O dever de assistência pode decorrer
de lei, de um contrato, ou de um fato (lícito ou mesmo ilícito).

Exemplo: O enfermeiro que cuida de pessoa portadora de doença grave. Guarda é a


assistência duradoura.

Exemplo: menores sob a guarda dos pais. Vigilância é a assistência acauteladora.

➢ Sujeito Passivo

Qualquer pessoa que se encontre sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade do sujeito
ativo e por qualquer motivo seja incapaz de defender-se dos riscos advindos do abandono. A
incapacidade não é a civil, podendo ser corporal ou mental, durável ou temporária. Pode
também ser absoluta (inerente à condição da vítima, uma criança, um ancião, um alucinado,
um cego) ou relativa (decorrente do lugar, do tempo, das circunstâncias do abandono da
vítima, deixada à própria sorte enquanto embriagada, enferma, amarrada).

DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia

Tipo penal (artigo 138): Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.
Pena: reclusão, de seis meses a dois anos, e multa.

Na calúnia irrogada contra os mortos, são sujeitos passivos seus cônjuges, ascendentes,
descendentes ou irmãos.

A falsidade exigida pode referir-se tanto ao próprio fato como à sua autoria. O fato imputado
deve ser definido como crime e ser determinado. Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa
a imputação, a propala, propaga, espalha ou divulga - a torna pública ou notória (artigo 138,
parágrafo primeiro do Código Penal).

Admitem-se vários meios de execução (palavras, escritos, desenhos, gestos etc.). É prescindível
que a imputação ocorra na presença do ofendido. É punível a calúnia contra os mortos (artigo
138, parágrafo segundo do Código Penal).

Difamação
Tipo penal (artigo 139): difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Pena:
detenção, de três meses a um ano, e multa.

a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;

b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a


intenção de difamar;

c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que


preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e terceira hipótese, responde pela
difamação quem lhe dá publicidade (artigo 142, parágrafo único do Código Penal).

Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da difamação, fica


isento de pena (artigo 143 do Código Penal). A retratação - completa e incondicional - pode ser
feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a publicação da
sentença, extinguindo a punibilidade (artigo. 107, Inciso sexto do Código Penal).

Pedido de explicações: se, de referências, alusões ou frases, se infere difamação, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (artigo 144 do Código Penal).

Injúria

Tipo penal (artigo 140): injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro.

Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa.

BEM JURÍDICO: A honra.

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa.

SUJEITO PASSIVO: Apenas as pessoas físicas, inclusive os inimputáveis, se podem perceber o


caráter ultrajante da palavra ou do gesto que lhe são endereçados. Não é punível a injúria
contra os mortos.

TIPO OBJETIVO: Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro. Consiste na


atribuição genérica de qualidades negativas ou de fatos vagos e indeterminados. Prescinde da
falsidade a imputação feita. Admitem-se vários meios de execução (palavras, gestos, escritos,
canções, imagens, caricaturas etc.).

SUJEITO PASSIVO: Presença desnecessária.

TIPO SUBJETIVO: Dolo, direto ou eventual, e o propósito de ofender - elemento subjetivo


especial do tipo.

Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da ofensa pela vítima. A tentativa,


neste caso, é admissível, em tese.

Perdão judicial: cabível o perdão judicial quando o ofendido, de forma reprovável provocou,
diretamente, a injúria ou no caso de retorsão imediata que consista em outra injúria (artigo
140, parágrafo primeiro do Código Penal).

Injúrias real e qualificada (discriminatória): a injúria real consiste em violência ou vias de fato
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (artigo 140,
parágrafo segundo do Código Penal). De outro lado, constata-se a injúria discriminatória pela
utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de pessoa
idosa ou portadora de deficiência (artigo 140, parágrafo terceiro do Código Penal).
Exclusão do crime: não constituem injúria, pela exclusão da tipicidade (artigo 142 do Código
Penal):

a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;

b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a


intenção de injuriar;

c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que


preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e terceira hipótese, responde pela
injúria quem lhe dá publicidade (artigo 142, parágrafo único do Código Penal).

Retratação e pedido de explicações: a retratação é inadmissível em se tratando de crime de


injúria. Se de referências, alusões ou frases se infere injúria, quem se julga ofendido pode
pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa (artigo 144 do Código Penal).

Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação, utilizando-se de


meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos
meios em que se praticou a ofensa (artigo 143. Parágrafo único).

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Constrangimento Ilegal

Tipo penal (artigo 146): constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça ou depois de
lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a
lei permite ou a fazer o que ela não manda.

Pena: detenção, de três meses a um ano, ou multa.

A coação ilegítima pode ser realizada, através de violência (física), grave ameaça (violência
moral) ou qualquer outro meio idôneo a diminuir a capacidade de resistência da vítima
(hipnose, ingestão de álcool, drogas etc.). Não há crime (exclusão da ilicitude) na intervenção
médica ou cirúrgica realizada sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal,
se justificada por iminente perigo de vida ou na coação exercida para impedir suicídio (artigo
146, parágrafo terceiro do Código Penal).

Ameaça

Tipo penal (artigo 147): ameaçar alguém - por palavra falada, texto escrito, gesto ou qualquer
outro meio simbólico - de causar-lhe mal injusto e grave.

Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa.

Perseguição

Tipo penal (artigo 147-A): Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-
lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena:
Reclusão de seis meses a dois anos, e multa.

Parágrafo primeiro - A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

Inciso um – contra criança, adolescente ou idoso;

Inciso dois – Contra mulher por razões de condições de sexo feminino, nos termos do
parágrafo segundo – A do artigo121 deste Código;
Inciso três- mediante recurso de 2 (duas) ou com emprego de arma.

Parágrafo segundo – As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízos das correspondentes à
violência;

Parágrafo terceiro – somente se procede mediante representação.

Maus Tratos

Tipo penal (artigo 136): expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda
ou vigilância, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando- a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Pena: reclusão, de dois meses
a um ano, ou multa.

Parágrafo primeiro – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. Pena: detenção, de
um a quatro anos.

Parágrafo segundo – Se resulta a morte. Pena: reclusão, de quatro a doze anos.

Parágrafo terceiro – Aumenta-se a pena em um terço, se o crime é praticado contra pessoa


menor.

Sequestro e Cárcere Privado

Tipo penal (artigo 148): privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere
privado. Pena: reclusão, de um a três anos.

Bem jurídico: Liberdade.

Sujeito Ativo: Qualquer Pessoa.

Sujeito Passivo: Qualquer Pessoa, mesmo que não disponha da possibilidade de locomover-se
por si mesmo.

Tipo Objetivo: Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado.

Você certamente já ouviu falar em sequestro? Sabe o que é? Vamos entender como este crime
ocorre?

O sequestro é o gênero do qual o cárcere privado é espécie. Enquanto neste a privação de


liberdade é feita em qualquer recinto fechado, naquele a vítima é detida em local aberto, do
qual não é possível sair. Perfaz-se o delito, mesmo que a liberdade de locomoção esteja
limitada a determinado espaço. Desnecessário que a vítima reste, absolutamente,
impossibilitada de retirar-se do local em que se encontra, bastando que não possa fazê-lo sem
grave risco pessoal. Admitem-se vários meios de execução, desde que idôneos à restrição da
capacidade de locomoção da vítima.

O artigo 149-A elenca o crime de Tráfico de Pessoas, crime grave que o Brasil assumiu o
compromisso de combater.

Tipo Penal (Artigo 149). Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou
acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade.

Pena: reclusão de 04 a 08 anos e multa.

Esse crime possui um especial fim de agir que está previsto nos incisos do caput, vejamos:

Inciso um – Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo.


Inciso dois – Submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo.

Inciso três – Submetê-la a qualquer tipo de servidão.

Inciso quatro – Adoção ilegal, ou

Inciso cinco – Exploração sexual.

Temos as causas de aumento de pena previstas no parágrafo primeiro do artigo 149-A,


vejamos: parágrafo primeiro A pena é aumentada de um terço até a metade se:

Inciso um – o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las;

Inciso dois – o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência;

Inciso três – o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de


hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou

Inciso quatro – a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. E uma causa
de diminuição prevista no parágrafo segundo.

Parágrafo segundo – A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não
integrar organização criminosa.

DOS CRIMES DE VIOLAÇÃO DE DOMICILIO

Violação De Domicílio

Tipo penal (artigo 150): entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.
Pena: detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo primeiro - Se o crime for cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o
emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas. Pena: reclusão, de seis meses
a dois anos, além da pena correspondente à violência.

Formas qualificadas: comina-se pena de detenção, de seis meses a dois anos, além da pena
correspondente à violência, se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com
o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas (artigo 150, parágrafo
primeiro do Código Penal).

Revogado parágrafo segundo, do artigo 150 do Código Penal, Lei número 13.869 de 2019.

A expressão casa compreende qualquer compartimento habitado; aposento ocupado de


habitação coletiva ou compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade (artigo 150, parágrafo quarto do Código Penal). Não se compreendem na expressão
casa hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto abertas - salvo o
aposento ocupado -, e tampouco taverna, casa de jogos e outras locações do mesmo gênero
(artigo150, parágrafo quinto do Código Penal).

Dependências são locais incorporados funcionalmente a casa (pátios, jardins, garagens, adegas
etc.). O consentimento da vítima exclui a tipicidade da conduta.
É lícita a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências (artigo 150,
parágrafo terceiro do Código Penal):

1) Durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência;

2) A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na
iminência de o ser.

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Furto

Tipo penal (artigo 155): subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Pena: reclusão, de
um a quatro anos, e multa.

Parágrafo primeiro A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso


noturno.

Parágrafo terceiro Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.

BEM JURÍDICO: É variável, segundo a indicação na doutrina:

a) Só a propriedade.

b) Posse propriedade.

c) Propriedade, posse e detenção.

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, salvo o proprietário.

SUJEITO PASSIVO: O proprietário ou o possuidor ou, ainda, o detentor.

TIPO OBJETIVO: A conduta de subtrair (tirar, retirar de alguém) pode ser direta ou mesmo
indireta.

TIPO SUBJETIVO: Dolo (vontade livre a consciente de subtrair).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Consuma-se quando a coisa é retirada da esfera de


disponibilidade da vítima e fica em poder tranquilo, mesmo que passageiro, do agente. A
tentativa é admissível.

Furto qualificado (artigo 155, parágrafo 4º): a pena do furto passa a ser de 2 a 8 anos de
reclusão, e multa, se o crime é praticado:

Inciso um – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

Inciso dois – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

Inciso três – com emprego de chave falsa;

Inciso quatro – mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Parágrafo quarto-A. – A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver


emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei
número 13.654, de 2018).

Parágrafo quarto-B. – A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto


mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou
não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído
pela Lei número 14.155, de 2021).

Parágrafo 4º-C. – A pena prevista no parágrafo quarto-B deste artigo, considerada a relevância
do resultado gravoso: (Incluído pela Lei número 14.155, de 2021).

Inciso – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei número 14.155, de
2021).

Inciso dois – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou
vulnerável. (Incluído pela Lei número 14.155, de 2021).

a) Furto privilegiado (artigo 155, parágrafo segundo): sendo primário o criminoso (não
são precisos bons antecedentes) e de pequeno valor a coisa furtada (até um salário
mínimo), o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um
a dois terços ou aplicar somente multa.

Confiança: para incidir a qualificadora, a vítima deve depositar, por algum motivo, especial
confiança no agente (amizade, parentesco, relações profissionais etc.), o qual dela se aproveita
de alguma forma.

Mediante fraude: emprego de artifício, meio enganoso usado pelo agente capaz de reduzir a
vigilância da vítima e permitir a subtração do bem (engodo, insídia etc.).

a) Escalada, ou seja, utilização de via anormal para adentrar no local onde o furto será
realizado. Exige-se emprego de algum instrumento, como corda ou escada, ou de esforço para
adentrar no local.

b) Destreza: trata-se da habilidade física ou manual que permite ao agente subtrair bens sem
que a vítima perceba.

c) Chave falsa: seu emprego dá-se com a utilização de instrumento capaz de abrir uma
fechadura sem arrombá-la, como grampos, tesouras, michas, chaves de fenda - englobando,
inclusive, cópia da chave verdadeira obtida por meios fortuitos ou criminosos.

d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas: não é preciso que todos os agentes estejam
no local da subtração.

Artigo 155 – parágrafo quinto: A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração
for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.

Artigo 155 – parágrafo sexto: A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local
da subtração. (Incluído pela Lei número 13.330, de 2016).

Furto de Coisa Comum

Tipo penal (artigo 156): subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem,
coisa comum a quem legitimamente a detém. Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, ou multa.

Roubo

O roubo é a subtração de bem alheio mediante emprego de violência, grave ameaça à pessoa
ou ao meio que diminua a condição de defesa do ofendido.
Artigo 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Parágrafo primeiro – Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro.

Parágrafo segundo – A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei
número 13.654, de 2018).

Inciso um – Revogado pela Lei número 13.654 de 2018;

Inciso dois – se há o concurso de duas ou mais pessoas;

Inciso três – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância;

Inciso quatro – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei número 9.426, de 1996);

Inciso cinco – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído
pela Lei número 9.426, de 1996);

Inciso seis – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou


isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei número
13.654, de 2018);

Inciso sete – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
(Incluído pela Lei número 13.964, de 2019).

Parágrafo segundo-A. – A pena aumenta-se de dois terços: (Incluído pela Lei número 13.654,
de 2018).

Inciso um – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela
Lei número 13.654, de 2018).

Inciso dois – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo


ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei número 13.654, de 2018).

Parágrafo segundo-B. – Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de


fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
(Incluído pela Lei número 13.964, de 2019).

Parágrafo terceiro – Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei número 13.654, de 2018).

Roubo Próprio

Tipo penal (artigo 157, caput): subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência.

Consumação e tentativa: há duas correntes:

a) Consuma-se no exato instante em que o agente se apodera do bem. (Bitencourt, Cezar


Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume 3. São Paulo: Saraiva, 2009, página 88).

b) O objeto subtraído deve sair da esfera de disponibilidade e vigilância da vítima.


Porém a Jurisprudência pacificou o tema com a edição da Súmula número 582 do Supremo
Tribunal de Justiça, consumando o roubo, no exato momento em que a posse do bem passa
para o criminoso.

Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à
perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada". A tentativa é admissível.

Concurso de crimes:

a) O agente emprega grave ameaça ou violência contra duas pessoas, mas subtrai objeto de só
uma, ou seja, há crime único;

b) O sujeito, no mesmo contexto fático, subtrai bens de várias pessoas, comete tantos crimes
quantos forem os patrimônios lesados, em concurso formal;

c) O sujeito se utiliza de violência ou grave ameaça contra uma pessoa, mas leva bens de
outras, os quais estavam em seu poder, respondendo por vários roubos, caso tivesse
conhecimento da diversidade de proprietários.

Roubo Impróprio

Conceito (artigo 157, parágrafo primeiro do Código Penal): quando o agente, "logo depois de
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro."

Características:

a) A violência ou grave ameaça é empregada depois da subtração do bem, mas antes da


consumação do furto;

b) O intuito é o de garantir a detenção da coisa ou a impunidade pelo crime.

Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que é praticada a violência ou grave


ameaça.

Tentativa: há duas correntes:

a) inadmissível (Damásio).

b) admite-se a tentativa (Mirabete).

Majorado ou agravado: roubo com causa de aumento de pena (artigo 157, parágrafo
segundo).

Natureza jurídica: trata-se de causas de aumento de pena e não de qualificadoras:

Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma: abrange tanto a arma própria
(aparato com destinação específica de matar ou ferir) quanto à imprópria (instrumento que
tem finalidade diversa, mas pode ser utilizado para matar ou lesionar);

A Lei número 13.964 de 2019 passou a prever mais uma majorante, que incide no caso de
emprego de arma branca.

b) Se há concurso de duas ou mais pessoas: não se exige a presença de todos no local do


crime;

Roubo Qualificado
Roubo qualificado por lesão corporal grave (artigo 157, parágrafo terceiro, primeira parte): a
incidência desta qualificadora importa na imposição da pena de reclusão de 7 a 15 anos e
multa. Latrocínio (artigo 157, parágrafo terceiro, parte final): o roubo seguido de morte (ou
latrocínio) encontra- se na lista do artigo primeiro, inciso dois, da Lei número 8.072 de 1990,
ou seja, trata-se de crime hediondo.

Extorsão

Você sabe o que é extorsão? Vamos aprender?

Tipo penal (artigo 158): constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa.

Observações:

a) Constranger significa forçar, compelir, coagir mediante violência ou grave ameaça.

b) Utiliza meios executórios idênticos aos do roubo, exceto pela violência imprópria.

c) Pressupõe intenção de obter indevida vantagem econômica.

Extorsão Mediante Sequestro

Bem jurídico: o patrimônio e, secundariamente, a liberdade de locomoção, a integridade física


e a vida.

Sujeito Passivo: qualquer pessoa, englobando tanto a vítima do sequestro como a da extorsão.

Crime Hediondo: a extorsão mediante sequestro, em qualquer de suas formas, simples ou


qualificada, é crime hediondo.

Consumação e tentativa: ocorre com a restrição da liberdade por tempo juridicamente


relevante (crime formal). A tentativa é admissível.

Tipo penal (artigo 159): sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.

Pena: reclusão, de 8 a 15 anos.

Observações:

a) Sequestrar: privar a liberdade por tempo juridicamente relevante.

b) Objeto material: a pessoa.

Pressupõe obtenção de vantagem indevida como condição ou preço do resgate (elemento


subjetivo específico).

Qualificadora (parágrafo doze): eleva os limites abstratos do tipo fundamental para reclusão
de 12 a 20 anos, nas seguintes hipóteses:

a) Se o sequestro dura mais do que 24 horas (artigo 159, parágrafo primeiro, primeira figura).

b) Se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos (artigo 159, parágrafo primeiro,


segunda figura).

c) Se o crime é cometido por quadrilha ou bando (artigo 159, parágrafo primeiro, terceira
figura). A aplicação dessa qualificadora impede o reconhecimento do crime autônomo de
quadrilha ou bando (artigo 288, CÓDIGO PENAL), pena de caracterização de bis in idem (duplo
agravamento pelo mesmo fato).

Qualificadoras (parágrafos segundo e terceiro): a pena passa a ser de reclusão de 16


(dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, e de
reclusão de 24 a 30 anos, se resulta morte.

Delação premiada e eficaz (parágrafo quarto): se o crime é cometido em concurso, o


concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua
pena reduzida de um a dois terços. Não fica excluída a aplicação dos institutos da Lei número
9.807 de 1999 aos réus colaboradores na extorsão mediante sequestro, inclusive no tocante
ao perdão judicial, conforme artigo treze, da referida lei.

Apropriação Indébita

Tipo penal (artigo 168, do CÓDIGO PENAL): apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a
posse ou a detenção.

Bem jurídico: a propriedade e posse de coisas móveis.

Consumação e tentativa: exige inversão do ânimo da posse.

Observações:

Para a configuração do crime são exigidos os seguintes requisitos:

1) Posse ou detenção lícitas e desvigiadas.

2) Boa-fé ao ingressar na posse ou detenção do bem.

3) Inversão do ânimo da posse. A tentativa é admissível (em se tratando de negativa de


restituição, não há como caracterizar a tentativa).

Apropriação de Coisa Achada

Tipo penal (artigo 169, parágrafo único, inciso dois do CÓDIGO PENAL): achar coisa alheia
perdida e dela se apropriar, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze dias.

Estelionato

Você certamente já ouviu falar em estelionato? Sabe como funciona esse crime? Que tal
aprender?

Tipo penal (artigo 171, do CÓDIGO PENAL): obter, para si ou para outrem, vantagem indevida,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou
qualquer meio fraudulento.

Observações:

a) Requisitos fundamentais: a vítima ser induzida ou mantida em erro e o agente se utilizar,


como meio executório, de fraude, por meio de algum artifício (emprego de algum aparato
material ou disfarce), ardil (conversa enganosa) ou outro meio fraudulento (o silêncio, a
mentira etc.);

b) Exige-se meio de execução apto a enganar alguém;

c) Pressupõe intenção de obter vantagem ilícita para si ou para outrem;


Se a vantagem for lícita, há exercício arbitrário das próprias razões (artigo 345, CÓDIGO
PENAL);

a) É preciso haver uma vítima determinada (ou determinado grupo de pessoas).

Consumação e tentativa: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita e do efetivo prejuízo


alheio (resultado duplo). A tentativa é admissível.

STJ, Súmula 17: "Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
por este absorvido".

Fraude eletrônica

Parágrafo segundo-A. – A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude


é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a
erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico
fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei número
14.155, de 2021).

Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei número 14.155, de 2021).

Parágrafo quarto – A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido
contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela
Lei número 14.155, de 2021) parágrafo 5º Somente se procede mediante representação, salvo
se a vítima for: (Incluído pela Lei número 13.964, de 2019).

Inciso um – a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei número 13.964, de
2019).

Inciso dois – criança ou adolescente; (Incluído pela Lei número 13.964, de 2019).

Inciso três – pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei número 13.964, de 2019).

Inciso quatro – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei número
13.964 de 2019).

Lei número 13.964, de 24 de dezembro de 2019, (Pacote anticrime) introduziu o parágrafo


quinto ao artigo cento e setenta e um do Código Penal, que, portanto, se aplica ao estelionato
e a todas as modalidades equiparadas (como a defraudação de penhor). Traz o dispositivo
hipóteses em que a ação penal passa a ser pública incondicionada:

parágrafo quinto – Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:

Inciso um – a Administração Pública, direta ou indireta;

Inciso dois – criança ou adolescente;

Inciso três – pessoa com deficiência mental; ou

Inciso quatro – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Portanto, a regra é a ação penal pública condicionada à representação. A ação penal passa a
ser incondicionada se o delito for praticado contra a Administração Pública, direta ou indireta;
contra criança ou adolescente; contra pessoa com deficiência mental; contra maior de 70
(setenta) anos de idade ou contra incapaz.

Receptação
Tipo penal (artigo180, caput, do CÓDIGO PENAL): adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para
que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou oculte.

Receptação dolosa simples própria: artigo 180, caput, primeira parte, do CÓDIGO PENAL.
Observações:

a) Trata-se de tipo misto alternativo. Assim, o agente que adquire e, posteriormente, oculta o
bem receptado, comete uma só infração penal (a incursão em mais de uma ação nuclear,
entretanto, tem reflexos na dosagem da pena);

b) Ocorrendo várias aquisições sucessivas do bem, respondem por receptação todos aqueles
que o adquirirem sabendo de sua origem criminosa;

c) Se o agente estiver em dúvida quanto ao fato de o bem ser produto de crime, pode-se
cogitar de receptação culposa (artigo 180 parágrafo terceiro do CÓDIGO PENAL);

d) É irrelevante ser o autor do crime anterior desconhecido ou isento de pena (artigo 180
parágrafo quarto, do CÓDIGO PENAL);

e) A receptação simples é crime comum (qualquer pessoa pode praticá-lo), mas a qualificada é
crime próprio, pois exige uma qualidade especial do sujeito ativo: ser comerciante ou
industrial, ainda que de fato ou clandestino.

Consumação e tentativa: consuma-se com a aquisição, o recebimento, a ocultação, o


transporte ou a condução, sem necessidade de qualquer outro resultado. A tentativa: é
admissível.

Receptação dolosa simples imprópria: artigo 180, caput, parte final, do CÓDIGO PENAL.
Observações:

a) A receptação dolosa simples imprópria consubstancia-se no ato de influir para que terceiro
de boa-fé adquira, receba ou oculte o bem que o agente sabe ser produto de crime.

b) Quem furta carro e depois influi para que terceiro de boa-fé o adquira responde apenas
pelo furto, sendo considerado post factum impunível a disposição de coisa alheia como própria
e, da mesma forma, a receptação imprópria.

Consumação e tentativa: consuma-se com o mero ato de influir para que terceiro de boa-fé
adquira, receba ou oculte o bem (crime formal). A tentativa é inadmissível.

Causa de aumento de pena: (artigo 180 parágrafo sexto do CÓDIGO PENAL): "Tratando-se de
bens ou instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo
aplica-se em dobro".

Receptação qualificada Tipo penal (artigo 180, parágrafo primeiro do CÓDIGO PENAL):
adquirir, receber, ocultar, ter em depósito, conduzir, transportar, montar, desmontar,
remontar, vender ou expor à venda ou de qualquer forma utilizar, no exercício de atividade
comercial ou industrial, coisa que (a pessoa) deve saber ser produto de crime.

Observações:

a) Exige-se fato cometido no exercício de atividade comercial ou industrial, assim considerada


toda e qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência
(artigo 180, parágrafo segundo do CÓDIGO PENAL);
b) O agente deve saber ser o objeto produto de crime;

c) Não se deve confundir o artigo 180, parágrafo primeiro, do CÓDIGO PENAL com o artigo
334, parágrafo primeiro, do CÓDIGO PENAL (conduta equiparada a contrabando ou
descaminho), que se dá quando o sujeito "adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos".

Receptação culposa

Tipo penal (artigo 180, parágrafo terceiro, do CÓDIGO PENAL): "Adquirir ou receber coisa que,
por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso".

O tipo do artigo 180, parágrafo sexto, elenca a receptação de bens públicos, forma grave que
fez o legislador colocar a causa de aumento de pena, dobrando a pena para o agente que
recepta esses bens.

Parágrafo sexto: Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal,


de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no
caput deste artigo.

Já o artigo 180-A, introduzido pela Lei número 13.330 de2016, trouxe uma novidade, a
receptação de semovente, vejamos:

Tipo penal: Artigo 180-A. – Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito
ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro Tipo penal (artigo 213): constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Pena de reclusão de seis a dez anos.

Parágrafo primeiro – Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é


menor de dezoito ou maior de catorze anos. Pena de reclusão de oito a doze anos.

Na primeira figura, o constrangimento visa à conjunção carnal (coito vagínico), sendo


indiferente que a penetração seja completa ou que haja ejaculação.

Na segunda figura, o constrangimento visa praticar ou obrigar a vítima a permitir que com ela
se pratique "outro ato libidinoso" (diverso da conjunção carnal), compreendendo-se, aqui, o
sexo anal, oral, a masturbação etc.

Estupro de Vulnerável Tipo Penal (artigo 217- A, do CÓDIGO PENAL): ter conjunção carnal ou
praticar outro ato libidinoso com menor de catorze anos:

Parágrafo primeiro – Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Parágrafo terceiro – Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave.


Parágrafo quarto – Se da conduta resulta morte.

SÚMULA 593 do Supremo Tribunal de Justiça: O crime de estupro de vulnerável configura com
a conjunção ou prática de ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos, sendo irrelevante o
eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou
existência de relacionamento amoroso com o agente.

Observações:

Figura equiparada (Parágrafo primeiro): equiparam-se às condutas do caput as de quem


pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa, de qualquer idade, que:

a) Não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, em virtude de enfermidade ou


deficiência mental. É necessário que o agente tenha conhecimento da enfermidade ou
deficiência mental da vítima, e que, em virtude dela, lhe falte discernimento para o ato sexual.
É imprescindível, igualmente, a existência de laudo pericial médico que comprove a
enfermidade ou a deficiência mental da vítima, a ponto de comprometer-lhe o discernimento.

b) Por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Embora a lei se refira a "qualquer
outra causa", é necessário haver prova segura da completa impossibilidade de a vítima
oferecer resistência, como no caso de ela estar sedada ou anestesiada em clínica ou hospital. É
indiferente ter sido o próprio agente o responsável pela causa que levou à impossibilidade de
resistência do ofendido.

Figura qualificada por lesão grave (Parágrafo terceiro): havendo lesão corporal grave (artigo
129, Parágrafos primeiro e segundo), o estupro de vulnerável é qualificado. Figura qualificada
pela morte (Parágrafo quarto): ocorrendo o resultado morte, o estupro de vulnerável é
qualificado.

DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

Incêndio

Artigo 250 – Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena.

Parágrafo primeiro – As penas aumentam-se de um terço:

Inciso um – se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito


próprio ou alheio;

Inciso dois – se o incêndio é:

a) em casa habitada ou destinada a habitação;

b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;

c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;

d) em estação ferroviária ou aeródromo;

e) em estaleiro, fábrica ou oficina;

f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;

g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;

h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.


Parágrafo – Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos.

Objeto Jurídico: Tutela-se a incolumidade pública, consiste em causar incêndio, isto é,


provocar combustão (por intermédio do fogo, gás inflamável e etc.) de forma que sua
propagação exponha a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de um número
indeterminado de pessoas, uma vez que se trata de crime de perigo comum e não individual;
do contrário, poderá configurar-se, por exemplo, o crime de dano qualificado, em face do
direito individual atingido (Código Penal, artigo 163, parágrafo único, inciso dois).

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa pode praticar esse crime, inclusive o proprietário da coisa
incendiada.

Sujeito Passivo: É a coletividade.

Explosão

Artigo 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante
explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos
análogos:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

Parágrafo primeiro - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Aumento de pena.

Parágrafo segundo - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses


previstas no Parágrafo primeiro, Inciso um, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer
das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.

Modalidade culposa

Parágrafo terceiro - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos


análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção,
de três meses a um ano.

Objeto jurídico: Assim como no crime antecedente, tutela-se mais uma vez a incolumidade
pública.

Elementos do tipo: Consubstancia-se no verbo expor a perigo. Difere, contudo, do crime de


incêndio quanto ao meio de execução, pois aqui a exposição pode ser praticada mediante
explosão (estourar), arremesso (lançar a distância) ou colocação (pôr em algum lugar) de
engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.

Sujeito ativo: Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.

Sujeito Passivo: Cuida-se de crime de perigo comum. Sujeito passivo é, portanto, a coletividade
em geral.

Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante

Artigo 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de
gás tóxico ou asfixiante:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade Culposa


Parágrafo único – Se o crime é culposo:

Pena – detenção, de três meses a um ano.

Objeto jurídico: Protege-se a incolumidade pública.

Elementos do tipo: Consiste em expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de


outrem. O meio de execução é que difere dos demais crimes de perigo comum, pois o que for
utilizado pode atingir indeterminado número de pessoas ou coisas. Por razões óbvias, esta
agravante não se aplica aos crimes de perigo comum, por integrá-los.

Sujeito ativo: Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.

Sujeito Passivo: Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em
geral.

Fabricação, Fornecimento, Aquisição Posse ou Transporte de Explosivos ou Gás Tóxico, ou


Asfixiante.

Artigo 253 – Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade,
substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua
fabricação:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Objeto jurídico: Protege-se a incolumidade pública.

Sujeito Ativo: Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo.

Sujeito Passivo: Por se tratar de crime de perigo comum, sujeito passivo é a coletividade em
geral.

Apologia de Crime ou Criminoso

Você saberia identificar a apologia de crime ou criminoso?

Tipo penal (artigo 287, do código penal): Fazer publicamente apologia de fato criminoso ou de
autor de crime.

Bem jurídico: A proteção da paz pública e da tranquilidade social.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

Sujeito passivo: A coletividade.

Consumação: A consumação ocorre com a apologia pública. A tentativa é admissível, salvo na


forma oral.

A conduta típica consiste em fazer apologia - publicamente - ao crime ou ao criminoso. O que


significa elogiar, exaltar, enaltecer (Excluem-se as contravenções penais). A simples opinião ou
manifestação de solidariedade, ainda que veemente, não se confunde com a apologia de fato
criminoso.

Trata-se de crime doloso, que pode ser praticado por qualquer meio: oral, escrito, gestos,
atitudes etc.

Associação Criminosa
A reunião entre os componentes da associação criminosa deve ser estável e permanente, com
a finalidade específica de cometer crimes, ou seja, é necessário que exista o dolo de
planejamento, a divisão de trabalho e organicidade.

Não se deve confundir o crime de associação criminosa com o simples concurso de agentes,
que consiste na reunião eventual de duas ou mais pessoas para a prática do delito.

Trata-se de crime doloso, autônomo, possui existência própria, independentemente dos


demais delitos que possam ter sido praticados por seus integrantes, exigindo-se o fim
específico de se cometer crimes.

O legislador acrescentou o delito de Constituição de Milícia Privada, previsto agora no artigo


288-A do Código Penal.

TIPO PENAL: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos
neste Código.

Pena: Reclusão de 04 (quatro) a 08 (oito) anos.

O bem jurídico é o mesmo da Associação criminosa, a paz pública e a tranquilidade social.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Sargento, você sabe quais são os crimes praticados por funcionário público contra a
administração em geral? Vamos aprender?

Peculato

Tipo penal (artigo 312): apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desvia-lo em
proveito próprio ou alheio.

Bem jurídico: A tutela da administração pública e do patrimônio.

Sujeito ativo: O peculato é crime próprio. Somente o funcionário público pode pratica-lo
(artigo 327 do Código Penal). O particular que, de qualquer forma, concorrer para o crime,
estará nele incurso por força do disposto no artigo 30 do mesmo Código Penal.

Sujeito Passivo: O Estado por se tratar de crime contra a Administração.

Observação: o caput do artigo 312 contempla duas modalidades de peculato. Na primeira


parte, peculato-apropriação; na segunda parte, peculato-desvio. Essas duas modalidades de
peculato caracterizam o chamado peculato próprio.

Conduta típica: no artigo 312, caput, primeira parte, vem expressa pelo verbo flexionado
apropriar-se, que significa apossar-se, apoderar-se, tomar para si. Trata-se da modalidade de
peculato-apropriação, semelhante ao tipo penal da apropriação indébita, com a diferença de
sujeito ativo.

Já no artigo 312, caput, segunda parte, a lei pune também a modalidade de peculato desvio,
em que o funcionário público, embora sem o ânimo de apossamento definitivo da coisa,
emprega-a de forma diversa da sua destinação, de maneira a obter benefício próprio ou
alheio, devolvendo-a, após.

É certo que a lei tutela não apenas os bens públicos, mas também aqueles pertencentes aos
particulares que estejam sob a guarda, vigilância, custódia etc. da Administração.
Peculato-furto

Tipo penal (artigo 312, parágrafo primeiro do Código Penal): vem expresso pelo verbo subtrair,
que significa tirar, suprimir, assenhorear-se; e pelo verbo concorrer, que significa cooperar,
contribuir.

Objeto material: é a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, podendo ser dinheiro
(moeda metálica ou papel-moeda de circulação no país), valor (título, documento ou efeito
que representa dinheiro ou mercadoria) ou qualquer outro bem móvel, público ou particular.
Em tempo: o conceito de bem móvel é retirado do Direito Civil.

Consumação e tentativa: consuma-se o delito com a efetiva subtração ou concorrência para a


subtração da coisa. A tentativa é admissível. O delito, na modalidade peculato- apropriação,
com a efetiva apropriação pelo funcionário público, ou seja, no momento em que age como se
fosse dono da coisa, e na modalidade peculato-desvio, com o efetivo desvio,
independentemente da obtenção de proveito próprio ou alheio. A tentativa é admissível.

Tipo subjetivo: dolo. Admite-se a modalidade culposa (artigo 312, parágrafo segundo).

Trata-se da modalidade chamada de peculato-furto, semelhante ao tipo penal do furto, com a


diferença de sujeito ativo.

Nesse tipo de peculato, o agente não tem a posse ou detenção da coisa, subtraindo-a,
entretanto, ou concorrendo para que seja subtraída, valendo-se das facilidades que o cargo lhe
proporciona.

É necessário que a subtração ou a concorrência para a subtração se dê em proveito próprio ou


alheio.

Peculato culposo (artigo 312, parágrafo segundo)

Nessa modalidade de crime, o funcionário público concorre, culposamente, para o crime de


outrem, ou seja, age com negligência, imprudência ou imperícia e permite que haja
apropriação, subtração ou utilização da coisa.

Consumação e tentativa: é necessário que se estabeleça relação entre a concorrência culposa


do agente com a ação dolosa de outrem, evidenciando que o primeiro tenha dado ensejo à
prática do último. A tentativa é inadmissível.

Reparação do dano no peculato culposo: o parágrafo terceiro do artigo 312 do Código Penal
prevê um caso de extinção da punibilidade e um caso de atenuação da pena que se aplicam
exclusivamente ao peculato culposo.

Peculato mediante erro de outrem (artigo 313)

O peculato mediante erro de outrem é crime previsto no artigo 313 do Código Penal, tendo
como objetividade jurídica a tutela da Administração Pública e do patrimônio público.

A coisa deve ter vindo ao poder do funcionário público por meio de erro de outrem, ou seja,
de forma espontânea e equivocada.

É imprescindível que a entrega do bem ao funcionário tenha sido feita ao sujeito ativo em
razão do cargo que ocupa junto à Administração Pública, e que o erro tenha relação com o seu
exercício.

Concussão
Tipo penal (artigo 316, do Código Penal): exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida.

Artigo 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função,
ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei número 13.964,
de 2019 do Pacote anticrime).

Bem Jurídico: A tutela da Administração.

Sujeito Ativo: Somente o funcionário público (artigo 327 do Código Penal), ainda que fora da
função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela (crime próprio) O particular pode ser
classificado como tal aquele que exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
empresa prestadora de serviço contratada ou empresa prestadora de serviço conveniada.

Sujeito Passivo: O Estado e secundariamente o particular ou funcionário vítima da ação.

A conduta típica vem expressa pelo verbo exigir, que significa ordenar, intimar, impor como
obrigação.

Objeto material: vantagem indevida, ou seja, vantagem ilícita, ilegal, não autorizada por lei,
expressa por dinheiro ou qualquer outra utilidade, de ordem patrimonial ou não.

Trata-se de crime doloso.

Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência da vantagem indevida,


independentemente de sua efetiva percepção. A tentativa é admissível, desde que a exigência
não seja verbal.

Corrupção Passiva

Tipo penal (artigo 317, do CÓDIGO PENAL): solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta
ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Parágrafo primeiro – A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional.

Parágrafo segundo – Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.

Bem Jurídico: A proteção da Administração.

Sujeito Ativo: O funcionário público, tratando-se de crime.

Sujeito Passivo: O Estado e secundariamente o particular eventualmente.

A conduta típica vem expressa pelos verbos solicitar (que significa pedir, requerer), receber
(que significa tomar, obter) e aceitar (que significa anuir, consentir no recebimento).

Corrupção passiva qualificada: o Parágrafo primeiro do artigo 317 do Código Penal trata da
corrupção passiva qualificada, que ocorre quando o funcionário público retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional, em consequência de
vantagem ou promessa.
Nesses casos, o exaurimento do delito implica a imposição de pena mais severa, que será
aumentada de um terço.

Corrupção passiva privilegiada (artigo 317, Parágrafo segundo): ocorre essa modalidade
quando o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.

Nesse outro caso, o funcionário não negocia o ato funcional em troca de vantagem, mas,
antes, deixa de cumprir com seu dever funcional, para atender um pedido de terceiro,
influente ou não.

É necessário que haja pedido ou influência de outrem, e que o sujeito ativo atue por essa
motivação.

Consumação: opera-se com a efetiva omissão ou o retardamento do ato de ofício. Não admite
a forma tentada.

Prevaricação

Tipo penal (artigo 319): retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Artigo 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Bem jurídico: A proteção da Administração Pública.

Sujeito Ativo: Somente o funcionário público (artigo 327 do Código Penal). É crime próprio.

Sujeito Passivo: O Estado e secundariamente o particular eventualmente lesado.

Tentativa: Consuma-se com o retardamento, a omissão ou a realização do ato de ofício. A


tentativa modalidade de conduta e realização, a tentativa é admissível.

A conduta típica vem expressa de três formas:

a) Retardar ato de ofício, o que significa protelar, procrastinar, atrasar o ato que deve executar
(conduta omissiva).

b) Deixar de praticar ato de ofício, o que significa omitir-se na realização do ato que deveria
executar (conduta omissiva).

c) Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, que significa executar o ato de ofício
de maneira irregular, ilegal (conduta comissiva).

Advocacia Administrativa

Artigo 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração


pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

Trata-se de crime em que o funcionário público se vale dessa condição, isto é, do fácil acesso
aos colegas, pertencente à mesma repartição ou não, para advogar, favorecer interesse alheio
privado. Tal conduta, obviamente, afeta o normal desempenho do cargo público, o qual deve
estar a serviço do Estado e não de interesses alheios particulares. Tutela-se, dessa forma, o
funcionamento regular da Administração Pública e a moralidade administrativa.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Você sabe quais são os crimes praticados por particulares contra a administração em geral?
Vamos conhecer como ocorre esse crime?

Resistência

Tipo penal (artigo 329): opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-la ou a quem lhe esteja prestando auxílio.

Artigo 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

Parágrafo primeiro - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos.

Parágrafo segundo - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.

Concurso: o parágrafo segundo do artigo 329 do CÓDIGO PENAL prevê o concurso material de
crimes entre a resistência e a violência física, que podem ser lesão corporal ou homicídio.

A conduta típica vem caracterizada pela oposição ao ato funcional, mediante violência física ou
ameaça a funcionário. Não é necessário que a ameaça seja grave, podendo ser oral ou escrita.
Deve o funcionário estar executando um ato legal, ou seja, que se revista das formalidades
impostas por lei, emanado da autoridade competente.

Caso a oposição do agente se dê contra ato ilegal da autoridade, não haverá crime.

Desobediência Tipo penal (artigo 330): desobedecer à ordem legal de funcionário público.

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

A conduta típica vem expressa pelo verbo desobedecer, que significa descumprir, não acatar,
desatender, e pode ser omissiva ou comissiva; porém, é imprescindível que o destinatário da
ordem tenha o dever jurídico de acatá-la. Trata-se de crime doloso.

Desacato

Tipo penal: (artigo 331, do CÓDIGO PENAL): Desacatar funcionário público no exercício da
função ou em razão dela.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

BEM JURÍDICO: A proteção à Administração Pública, no que diz respeito à dignidade e ao


decoro devido a seus agentes no exercício de suas funções.

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, inclusive o funcionário público fora do exercício de suas
funções.

SUJEITO PASSIVO: O Estado e, secundariamente, o funcionário que sofre o desacato.


CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Consuma-se com o efetivo ato de ofensa. A tentativa não é
admissível.

A conduta típica vem expressa pelo verbo desacatar, que significa desrespeitar, desprestigiar,
ofender, humilhar o funcionário público no exercício da sua função.

O delito pode ser cometido por meio de gestos, palavras, gritos, vias de fato, ameaça etc.

Trata-se de crime formal, pois independe de o funcionário público sentir-se ofendido,


bastando que a conduta possa agredir sua honra profissional. É crime doloso, pois deve
abranger o conhecimento da qualidade de funcionário público do sujeito passivo.

Tráfico de Influência

Tipo penal (artigo 332, do CÓDIGO PENAL): solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função.

A conduta típica vem expressa pelos verbos solicitar (pedir, rogar, requerer), exigir (ordenar,
impor, intimar), cobrar (pedir pagamento) e obter (alcançar, conseguir).

O delito envolve uma modalidade de fraude em que o sujeito ativo solicita, exige, cobra ou
obtém a vantagem ou a promessa dela a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
público no exercício da função. Tratando-se, portanto, de crime doloso.

Corrupção Ativa

Tipo penal (artigo 333, CÓDIGO PENAL): oferecer ou prometer vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Pena:
reclusão de dois a doze anos e multa.

Bem Jurídico: Proteção a Administração Pública, no que tange ao seu prestígio e à normalidade
de seu funcionamento.

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, inclusive o funcionário público que não esteja no exercício da
função.

Sujeito Passivo: O Estado.

Corrupção Ativa, Corrupção qualificada: O parágrafo único do artigo 333 do Código Penal
prevê a corrupção ativa qualificada, que ocorre quando, em razão da vantagem ou promessa,
o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Exemplo: “Pratica o delito de corrupção ativa quem oferece certa importância em dinheiro a
funcionário incumbido da fiscalização do trânsito com o propósito de levá-lo a omitir o ato de
autuação pela falta cometida" (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - TJRS - RT,
569/376).

Trata-se de crime doloso, sendo necessário que o agente tenha conhecimento de ser indevida
a vantagem que é dirigida a funcionário público; é um crime formal, pois independe de o
funcionário público aceitar ou não realizar a conduta almejada pelo agente. Além disso, o
crime se consuma no momento em que o funcionário toma conhecimento da oferta ou
promessa.

A tentativa só é admissível se a oferta ou promessa for feita por escrito.


CONCLUSÃO

De todos os ramos da grande árvore jurídica, o Direito Penal é aquele que protege os valores
mais preciosos e significativos para a convivência social. Quais são esses valores? São por
exemplo, a vida, a saúde, a honra, a liberdade, a paz pública. Em razão de relevante
importância desses valores, quando alguém pratica um homicídio não compete aos parentes
ou amigos da vítima punir o autor do delito. A maioria dos crimes tem caráter público e não
privado. Ofende a todos, isto é, à sociedade e não exclusivamente a vítima. Portanto, compete
ao Estado - Juiz, como representante da sociedade, o direito e o dever de punir os infratores
da Lei penal.

O conjunto dos profissionais chamados de “operadores do direito” não se limitam aos juízes,
promotores, advogados e aos agentes das polícias judiciárias, mas, também, aos policiais
militares.

Uma vez que, o policial militar, em qualquer nível hierárquico, opera constantemente o direito
no desempenho de sua atividade profissional, cuja principal ferramenta de trabalho é
exatamente a aplicação das normas legais, objetivando alcançar o fiel cumprimento da lei e o
"fazer cumprir a lei" em defesa da sociedade, para a preservação da ordem pública.

O conhecimento jurídico é imprescindível para o policial militar não incidir em práticas de atos
arbitrários, que consistem em posicionamentos antagônicos à prática de atos discricionários, o
policial militar deve ter a noção exata dos contornos legais da discricionariedade. Destarte, não
existe outra forma senão estudar as leis, conhecer a doutrina e, ainda, tomar contato com a
jurisprudência, como faz um bom operador do direito.

Diante disto, é importante que ele receba uma boa formação técnico-jurídica para que se sinta
preparado e, consequentemente, encontre-se seguro ao tomar decisões, sob o peso da
responsabilidade de quem representa o próprio Estado e, nessa condição, é o primeiro
normalmente a tomar contato com situação de conflito, adotando providências imediatas e
indispensáveis para o restabelecimento da ordem pública.

A formação jurídica nos cursos de formação do policial militar se justifica no reconhecimento


da efetiva operação do direito que se processa na relação direta com a população, em tempo
real, fora dos cartórios dos fóruns, das salas de audiência e longe dos gabinetes dos estudiosos
do direito, das salas de aula e mesmo das sedes dos distritos policiais.

Portanto, considerando a atuação do policial militar como gestor de conflitos sociais e agente
garantidor da lei, que age preventiva e ostensivamente contra a ocorrência de infrações
penais, sabendo quando, como e quando agir no estrito cumprimento da lei faz-se necessário
o conhecimento do Direito Penal.

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