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Aula 2

Objectivos da aula:
 Discente conheça o conceito do Direito Processual Penal de modo a distingui-lo
de outras disciplinas jurídicas.
 Conheça o âmbito, a natureza e o objecto do Direito Processual Penal.
 Direito de Processual Penal como densificação (conformação) das normas
constitucionais.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.


ANTUNES, Maria João, Direito Processual Penal, Almedina, 2016.
Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.
SILVA, Germano Marques da, Curso de Processo Penal, III, 2.ª Edição, Verbo.
SILVA, Germano Marques da, "Curso de Processo Penal", Vol. II, Verbo, 2011.
SILVA, Germano Marques da, “Direito Processual Penal Português”, Vol. III,
Universidade Católica Editora, 2014.
CARVALHO, Paula Marques, Manual prático de processo penal, 3.ª Edição, Almedina,
2007.

1. Noções Gerais do Processo Penal


a) Conceito.

Não é unânime, como sempre acontece em Direito, o conceito de Processo


Penal. Havendo vários conceitos todos criticáveis. Pelo que o discente pode adoptar
qualquer dos conceitos doutrinários. Aliás, como diz MIRANDA, o estudo universitário
assenta na liberdade, no espírito crítico e no confronto de ideias.
Contudo, e apenas a título exemplificativo, o Prof. Figueiredo Dias define
formalmente o direito de processo penal como o conjunto das normas
jurídicas que orientam e disciplinam o processo penal.

b) Direito Penal Substantivo e Direito Penal Adjectivo.


Há quem diga, como Cavaleiro de Ferreira, que o Direito Processual Penal
constitui, em certo sentido, uma parte do direito penal. Chegando a dizer que o direito
processual e o direito substantivo penal forma uma unidade (direito penal total),
derivada da função específica que a esta extensa região do Direito compete: só através
do direito processual logra o direito substantivo, ao aplicar-se aos casos reais da vida, a
realização ou concretização para que originariamente tende.
O direito penal tem como função proteger os bens e valores essenciais da vida
em comunidade, através de prevenção de lesões que sejam de recear no futuro (função
preventiva) e da punição de lesões que tiveram já lugar (função repressiva).
Da ideia do direito penal total extrai-se os três sectores: direito penal
substantivo ou material (1); direito processual penal ou adjectivo ou ainda
formal (2) e direito de execução das penas ou direito penitenciário (3).
1. Direito Penal Substantivo ou material estabelece por forma geral e
abstracta, quais os factos (acções, condutas, comportamentos) que devem ser
considerados crimes e quais as penas que lhes correspondem.
2. Direito Processual Penal ou adjectivo ou formal é a concretização
do direito penal substantivo (complemento) com vista a disciplinar a investigação e
esclarecimento do crime concreto e permita a aplicação da consequência jurídica àquele
que, com a sua conduta, realizou um tipo de crime. Dito de outro modo, o direito
processual penal fixa as condições e os termos do movimento processual destinados a
averiguar se um certo agente praticou um certo facto e qual é a reacção que lhe deve
corresponder. Ou seja, existe uma relação mútua de complementaridade funcional
(artigo 1.o do novel CPP). Atenção, instrumentalidade não significa falta de autonomia
como ciência jurídica.
3. O direito de execução das penas (direito penitenciário) é de índole
inteiramente administrativa. Realização concreta da reacção criminal imposta
(exequibilidade da sentença). Noutros locais até há tribunais de execução de penas.
Moçambique, com a última reforma, instituiu os tribunais de execução das penas.
Atenção: para se saber se um instituto é do direito substantivo ou adjectivo
dever-se-á analisar a cada problema concreto (caso a caso) e não em generalizações
(teorias gerais, que não são aplicáveis nos dois ramos).

c) Âmbito do Direito Processual Penal.


Âmbito também significa o objecto da disciplina jurídica, isto é, aquilo a que ela
se propõe regular, as suas finalidades.
Ter em atenção que o mesmo facto (conduta) pode ser analisado (protegido)
pelo direito cível, penal e administrativo. Por exemplo, o pedido por perdas e danos em
resultado de um facto criminal (sistema de adesão). Também existe o sistema de
alternatividade ou de opção. Para além do sistema da obrigatoriedade de adesão
(sistema de dependência processual absoluta do pedido civil). Não se esquecer de
infracções disciplinares e fiscais.
Então o âmbito do processo penal abrange todas as questões que têm por
objecto a comprovação em concreto do crime ou infracção penal no sentido amplo
(próprias contravenções).
Também não se esquecer do âmbito de aplicação espacial (princípio da
territorialidade), que comporta certas excepções, citar normas dos artigos 45.º e ss do
CPP (antigo), actuais artigos 23.º e ss do C.P.P. Quer dizer actos processuais de um
estado terceiro não são obrigatórios na ordem interna moçambicana, ressalvando o
auxílio jurídico interestadual em matéria penal (artigo 271.º do C.P.P). Portanto, o
direito processual penal moçambicano aplica-se a todos indivíduos que tenham
praticado infracção criminal dentro do território nacional, independentemente de ser
estrangeiro.
Âmbito de aplicação temporal (artigo 12.º do CC)
Ter em atenção ao direito transitório (artigos 3.º, 4.º, 5.º e 6.º da Lei que
aprova o C.P.P). E recorrer a lei que não limite ou agrave o direito de defesa.

d) Objecto (fim) do Processo Penal.


É a realização do direito penal substantivo.
Alguns autores, como J. Goldshmidt, defendem que o fim do processo penal ou
civil é a obtenção de uma sentença com força de caso julgado.
Outros alegam que o fim do processo penal, posição seguida por alguma
jurisprudência portuguesa, só pode ser a descoberta da verdade e a realização da
justiça.
Para outros é a segurança jurídica. Todas posições criticáveis.
Pelo que avança-se uma posição eclética, o processo visa lograr uma decisão de
modo processualmente admissível e válido; justa segundo o direito substantivo; e
tornar seguro e estável o direito declarado. A função do direito processual penal
cumpre-se na decisão.

e) Natureza Jurídica do Processo Penal.


Tal como o Direito Penal, também o Direito Processual Penal constitui uma parte
do direito público; não só porque, como em todo o direito processual, nele intervém
sempre o Estado no exercício de uma das suas funções, a função jurisdicional, mas
sobretudo porque a perseguição e condenação dos criminosos é, matéria exclusiva da
colectividade estatal (Estado). Há uma relação entre o Estado e o indivíduo, e posição
deste na comunidade (posição situacional).
Conclui-se que o processo penal tem uma natureza e uma estrutura publícistica.
Pode se chegar a tal conclusão socorrendo-se aos princípios que o enformam.
Por exemplo, não há repartição de ónus de prova; casos há em que o ofendido não
pode dispor do processo.
f) Direito Processual Penal como parte do Direito Público
É exclusiva, modernamente, nem sempre foi, a tarefa do Estado de investigar,
esclarecer, perseguir e sentenciar os crimes cometidos dentro da sua jurisdição. É o
reverso do princípio da exclusão da auto defesa ou do monopólio estadual da função
jurisdicional. Lembram-se das outras cadeiras que é proibido fazer justiça por próprias,
salvo limitadas excepções?

Tal como o Direito Penal, também o Direito Processual Penal constitui uma parte
do direito público; não só porque, como em todo o direito processual, nele intervém
sempre o Estado no exercício de uma das suas funções, a função jurisdicional, mas
sobretudo porque a perseguição e condenação dos criminosos é, matéria exclusiva da
colectividade estatal (Estado). Há uma relação entre o Estado e o indivíduo, e posição
deste na comunidade (posição situacional).

4. Direito Processual Penal e sua conformação com a Constituição


Afirma H. Henkel o direito processual penal é verdadeiro direito constitucional
aplicado.
Veja-se, a regulamentação ordinária, não deve eliminar o núcleo essencial dos
direitos. Tais sejam, estrito controlo judicial da actividade de todos os órgãos do
Estado; proibição das jurisdições de excepção (juiz legal ou natural); proibição de
provas obtidas com violação da autonomia ética da pessoa e por fim, a aplicação e
interpretação dos preceitos legais deve se fazer a partir da constituição e de acordo
com ela. Ver os respectivos artigos na CRM sob pena de inconstitucionalidade material
[artigos 2, n.os 3 e 4; 3; 38; 40; 41; 42; 43; 56; 57; 59;60; 61; 62; 64; 65; 66; 68; 71,
72; 134; 212; 214; 215; 217; 218, n.o 2; 219; 223, n.o 6].
Princípios:
Nulla poena sine processu (sine judicio)
Actividade e função do juiz.
Publicidade da audiência.
Inviolabilidade do direito a defesa e da tutela da liberdade pessoal.
Estado de Direito.
Aula 4
Objectivos da aula:
Discente conheça:
As fontes do Direito Processual Penal.
O âmbito de aplicação do Direito Processual Penal.
A interpretação e a integração de lacunas no Direito Processual Penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.
Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, CC.
Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

2. Fontes do Direito Processual Penal Moçambicano.

Ter em atenção o artigo 1.º do CC

Fontes de direito são modos prescritos para a sua manifestação. Mais aonde
podemos encontrar matéria que fala do processo penal?

 Fonte imediata e material

Quando falamos de fontes imediatas queremos nos referir as leis e outras


normas jurídicas. Pelo contrário, são fontes materiais os vários princípios que enforma o
Direito de Processo Penal, artigo 12.º do CPP.

 Fontes imediatas
 Fontes legislativas e internacionais

Nas fontes imediatas (formais) temos desde logo o (1) “Direito Constitucional do
Processo Penal”. A Constituição da República de Moçambique é instrumento por
excelência e de hierarquia superior do Direito do Processo Penal (ler os artigos 43, 56,
57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71.).

(2) Código de Processo Penal novel.

(3) Ao lado destes há muita legislação extravagante que regula os diversos


âmbitos particulares do Direito Processual Penal. Com o novo Código houve
condensação (ver artigo 2.º da Lei n. o 25/2019, de 26 de Dezembro - e que aprova o
C.P.P).

(4) Os tratados internacionais (fonte: artigos 17, 18, 42 e 43 do texto


constitucional).

 Fonte doutrinária e jurisprudencial.

Há também o chamado direito judicial, criado por via jurisprudencial (não em


sentido formal), mas tem a função criadora do direito. Visto que peca por não ter uma
obrigatoriedade geral. Só a jurisprudência vive factos concretos e particulares da vida
(um homicídio é diferente do outro).

Aqui assume problema a questão de assento, artigo 2.º do CC. Até de


constitucionalidade duvidosa.

O Conselho Constitucional tem nos brindado com vários acórdãos que declaram
várias normas do ancien CPP inconstitucionais, com força obrigatória, e como tais,
inaplicáveis.

Como fonte material do DPP temos a doutrina que compete a construção


dogmática jurídico-processual penal. Exige-se uma certa racionalidade e um critério de
validade.

 Outras fontes
Há despachos, circulares e ofícios que dão linhas de orientação (TS e
Procuradoria-Geral da República).

O costume (só serve quando para contextualizar certos procedimentos, dar exemplo
de assinar as actas, a indumentária, a configuração do tribunal).

3. Aplicação da lei processual penal


 Âmbito da aplicação temporal da Lei Processual Penal.

Dispõe para o futuro, artigo 12.º do CC e artigos 3.º e 9.º da Lei n. o 25/2019, de
26 de Dezembro - e que aprova o C.P.P. É assim porque o princípio da legalidade só
tem incidência substantiva e não processual. Posição criticada por Dias. Lembrar o
direito transitório, artigo 6.º da Lei n.o 25/2019, de 26 de Dezembro.

 Âmbito Material.

O âmbito de aplicação material do DPP coincide com os limites da jurisdição


moçambicana em matéria penal (artigo 10.º do C.P.P).

Vigora o princípio da territorialidade (artigos 23.º - 35.º do CPP), sem excluir o


auxílio judicial (tratados – 271.º a 276.º do C.P.P). [excepção quando se aplica o Direito
Substantivo moçambicano, vg extradição artigo 67 do texto constitucional moçambicano
e 56.º do CP].

Através do artigo 80.º do CPP o legislador moçambicano inspirou-se no sistema


de adesão da acção civil à acção penal, com possibilidade de se juntar o sistema de
alternatividade ou de opção, até ao ponto de estabelecer o princípio da
obrigatoriedade de adesão (sistema de dependência processual absoluta do pedido
civil).
Atenção a reparação de perdas e danos em processo penal tem natureza
especificamente penal (com a revisão legislativa passou a acção de natureza cível, ver
artigos 82.º a 94.º do C.P.P).

 Âmbito pessoal.

O DPP aplica-se a todas as pessoas encontradas no território nacional [dentro


das fronteiras do Estado moçambicano] [artigo 35 da CRM]. No entanto, há restrições:
a) isenções fundadas em preceitos de direito internacional (extraterritorialidade),
atingem chefes de Estado e outros, b) ligadas ao direito constitucional moçambicano
(verdadeiros pressupostos=obstáculos=processuais) e c) garantia administrativa,
segundo a qual é necessária autorização para o procedimento criminal instaurado
contra certas autoridades em razão de actos funcionais. Duvidosa constitucionalidade
(António Muchanga caso, deputados em exercício de funções, membros das
assembleias provinciais, entre outros).

Vg. Artigos 154 (actual 153); 174 (actual 173); 176, n.º 2 (actual 175, n. o 2); 211
(actual 210) do texto constitucional moçambicano.

4. Interpretação e integração da lei processual penal.

É o problema de todo o Direito como saber científico (metodologia e epistemologia).


Não é questão particular do DPP [artigo 9.º do CC].

Ter sempre o fim1 do processo e o princípio da interpretação conforme a


Constituição.

 Analogia.

Alguns defendem que não há nada de novo.

1
Este assume, em conformidade, a ideia-mestra segundo a qual o processo penal tem por fim a
realização de justiça no caso, por meios processualmente admissíveis e por forma a assegurar a paz
jurídica dos cidadãos.
Outros defendem que não é aplicável em respeito ao princípio da legalidade. Não
se esquecer que o processo tem o seu próprio fim2.

Artigo 11.º do CC.

 Lacunas e sua integração.

O artigo 12.º do C.P.P indica tríplice caminho para o processo integrativo:

Analogia (não deve haver desfavorecimento do arguido).


Regras do processo civil que harmonizam com o processo penal e
Princípios gerais do Direito Processual Penal.

Revisão da complementaridade: ler os artigos 62.º, n. o 2 do novel C.P. e 1.º e


22.º do C.P.P

Aula 3
Objectivos da aula:
 Discente conheça os princípios que enformam o Direito Processual Penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.


Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

5. Fontes materiais do DPP


5.1. Princípios Gerais do Processo Penal.

2
Op cit.
Princípios Gerais do Direito – Preceitos gerais e abstractos de direito que
decorrem do próprio fundamento da legislação positiva, constituindo os pressupostos
lógicos necessários das normas legislativas. (Importância: é o nosso farol para
interpretação e integração de lacunas, cfr artigo 12 do novel C.P.P).

a) Princípios relativos à promoção processual.


 Da oficialidade.

Em causa está saber a quem compete a iniciativa ou o impulso processual,


portanto, o impulso de investigar a infracção, e quem compete também a decisão de
submeter ou não o infractor a julgamento?
Tem-se que considerar que tal iniciativa é tarefa estatal e ela é realizada
oficiosamente, em certos casos mesmo à margem da vontade e da actuação dos
particulares.
Em determinado tipo de crime, o Estado age oficiosamente: não necessita da
participação, ou do impulso particular, para que se desencadeie todo o processo de
investigação, com vistas a determinar quem foram os agentes e a decisão de os
submeter ou não a julgamento. O exercício da acção penal compete ao Ministério
Público – princípio da oficialidade (artigo 52 do novel C.P.P).
Desde a notícia do crime que é dada ao Ministério Público, até ao julgamento,
tudo se vai desenvolver oficiosamente, através de órgãos ou entidades em que o
Estado, detentor do poder soberano de investigar, de esclarecer determinados factos
praticados pelos agentes e de sentenciar. Quer-se dizer, que se impede, se proíbe,
a actuação de particulares na investigação dos factos que constituem crime.
É nisto que se traduz o princípio da oficialidade, é o carácter público da
promoção processual.
Há limitações ao princípio da oficialidade:
a) Crimes particulares:
São constituídos por infracções de pequena gravidade, de infracções que, não se
relacionando com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a
pessoa visada e a comunidade em si própria não se sente lesada, e por conseguinte,
não sente necessidade de reagir.
Deixa-se ao particular que tome a iniciativa de dar conhecimento, e depois ele
próprio, se quiser, que deduza acusação.
Se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal, dá
conhecimento ao Ministério Público e tem de declarar que se quer constituir
assistente, mas não é ele que vai fazer a instrução, quem o faz é o Ministério Público.
Depois há um imposto a ser pago, só depois o juiz de instrução profere o despacho
admitindo o indivíduo como assistente (artigo 56 do novel C.P.P).
Simplesmente, depois de submeter o arguido ou não a julgamento, através da
dedução de acusação, essa decisão última pertence ao particular, se ele não o fizer o
processo é arquivado (artigo 57 do novel C.P.P).
b) Crimes semi-públicos:
Aqui a comunidade já se sente lesada, sente que os seus valores fundamentais
foram violados. No entanto, põe acima dos valores comunitários os valores individuais
que foram infringidos, que foram violados, porque entende que a reacção contra essa
infracção depende da vítima, do ofendido.
Se o ofendido entende que não deve queixar-se, então a comunidade também
não o faz, mas se o fizer, a partir do momento em que o ofendido se queixou, então o
Estado assume nos seus ombros todo o processo, sem mais intervenção do ofendido: já
não se torna necessário ele constituir-se assistente e deduzir acusação particular
(artigos 55.º; 76.º; 77.º; 78.º; 79.º; 289.º n.o 4; 330.º do novel C.P.P).
A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular (artigo 287.º do
C.P.P). Se ele quiser queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime público,
como se a comunidade se sentisse violada. O Estado assume todo o processo, desde a
instrução até ao julgamento.
A queixa, a constituição de assistente, e a dedução de acusação por particular,
são momentos distintos.
Artigos 52 e ss do CPP.

Revisão da aula anterior.

A acção penal é pública (artigo 5 do CPP).

Mas há condições para a procedibilidade (é necessário):

Termos usados pela lei (queixa, denúncia ou participação) = crime semi-público


= denúncia.

Termos usados pela lei (querela, acusação ou requerimento particular) = crime


particular = acusação particular. Deve declarar que deseja constituir-se em assistente.
Há imposto e despacho. Para além disso, tem de acusar.

No silêncio (crime público).

Lembrar que, o CP está dividido em Livros, títulos, capítulos e secções. Então,


para melhor segurança tem de verificar toda a extensão do capítulo ou secção.

Exemplos: 170; 171, n.o 2; 177, n.os 2 e 3; 179, n.o 3 e 223 do CP.

 Da Acusação

Com a adopção deste princípio, pretende-se assegurar o carácter isento,


objectivo, imparcial e independente da decisão judicial.
Com o processo penal pretende-se atingir uma determinada finalidade 3, e essa
finalidade será atingida com objectividade, com imparcialidade e mediante um órgão
independente (artigos 15.º; 19.º; 53.º; 59.º n. o 1; 284.º; 308.º; 312.º; 313.º; 314.º;
336.º; 353.º; 354.º; 357.º do novel C.P.P).

3
Este assume, em conformidade, a ideia-mestra segundo a qual o processo penal tem por fim a
realização de justiça no caso, por meios processualmente admissíveis e por forma a assegurar a paz
jurídica dos cidadãos.
Para que isto seja assim, torna-se necessário que a entidade julgadora não possa
ter também funções de investigação e da acusação da infracção, por conseguinte:
- O Ministério Público investiga e acusa (artigos 307.º a 331.º do novel C.P.P);
- O Juiz de instrução aceita a acusação ou não ou ainda abre audiência preliminar
ou debate preliminar. Por fim, pronuncia ou não pronuncia (19.º; 332.º a 356.º
do novel C.P.P).
- O juiz de julgamento julga, aprecia a conduta do arguido (artigos 357.º a 450.º
do novel C.P.P).
Ao lado desta distinção entre entidade julgadora e entidade acusadora há que
estipular e postular um princípio de igualdade de “armas” entre a acusação e defesa.
Ambos devem ter mesmos direitos e os mesmos poderes.
Mas o Ministério Público tem mais poderes, tem uma máquina investigatória ao
seu dispor. Esta igualdade de direitos só será relevante nas fases seguintes à instrução,
na fase de audiência preliminar (quando houver) e na fase de julgamento. Nesta fase o
Ministério Público e o arguido têm os mesmos direitos, está assegurado pelo princípio
do acusatório (artigos 358.º, n.o 3; 360.º, n.o 2; 372.º, 375.º, n.o 1; 388.º, n.o 5; 390.º,
n.o 2; 393.º, n.o 4; 394.º; 395.º; 405.º; 466.º, n. os 3, 4 e 5; 467.º; 468.º e 471.º do
C.P.P).
Se ambos têm os mesmos direitos e os mesmos poderes, então ambos
participam na realização do direito, na administração da justiça. É uma chamada
participação constitutiva dos sujeitos processuais afectados na decisão do caso em
apreço, ambos contribuem na definição do direito ao caso:
- O Ministério Público acusando, imputando ao arguido à prática de determinados
factos;
- O arguido defendendo-se, se o quiser fazer, impugnando, contestando, trazendo
justificações para a sua prática.
Key words: Investigar e instruir. Diferenças.

b) Princípios relativos à prossecução processual


 Da investigação (objectividade e não oportunidade)
O objecto do processo não é disponível. Não pode o MP, sob algum pretexto,
recusar de investigar uma notícia criminal [artigo 4, n.º 1, als. a) e c) da Lei n.º
22/2007, de 1 de Agosto].
 Da contraditoriedade e audiência.
É um dever imposto ao julgador de, perante qualquer assunto que tenha que
discutir, tem de ouvir as várias razões das partes (defesa e acusação). É também
chamado de princípio de direito de audiência. Só se concretiza com a presença do
arguido em todos os actos. Ter acesso aos argumentos, opiniões e conclusões da outra
parte, para conseguir manifestar as suas (cross examination). (artigos 5.º; 347.º, n.o 2;
358.º, n.o 3; 360.º, n.o 2; 372.º, 375.º, n.o 1; 388.º, n.o 5; 390.º, n.o 2; 393.º, n.o 4;
394.º; 395.º; 405.º; 466.º, n. os 3, 4 e 5; 467.º; 468.º e 471.º do novel C.P.P).
complementar ao princípio do acusatório.
 Da Suficiência e das questões prejudiciais

No processo penal vão-se resolver todas as questões que interessam à decisão


daquela causa (artigo 13.º do novel CPP).
Atribui-se ao juiz penal a competência para conhecer de todas as questões. Mas
por vezes os juízes deparam-se com determinadas questões no processo penal que, ou
porque têm um objecto diferente, ou porque têm uma natureza distinta da questão
principal a resolver no processo penal, ou ainda porque se revelam de uma
complexidade extrema, a sua resolução terá de ser decidida noutro Tribunal.
Estas questões que condicionam e por vezes, limitam o conhecimento do juiz
penal são aquilo a que se chama: questões prejudiciais em processo penal
(artigo 14 do novel C.P.P).
Questões de natureza civil, duas teses:
a) Tese do conhecimento obrigatório: o juiz penal é obrigado a conhecer
todas as questões; bem ou mal, o juiz penal tem delas conhecer. Em processo penal, o
juiz deve conhecer de tudo.
b) Tese da devolução obrigatória: sempre que aparece uma questão
prejudicial, há que devolvê-la para o Tribunal competente.
c) Tese ecléctica ou intermediária ou tese da devolução facultativa:
Há questões que pelo seu relevo, pela sua complexidade ou pela especialidade
de que se revestem, impõem que a sua decisão seja tomada por um Tribunal mais
qualificado para o seu conhecimento
Concede-se um certo poder discricionário quanto à devolução ou não devolução
da questão prejudicial para outro Tribunal.
É a tese da devolução facultativa, que é uma tese intermediária: o juiz
analisa a questão e se entender que não se sente à vontade para a resolver em
conformidade, devolve-a para o Tribunal que considere competente para a resolver
(artigo 14.º, n.o 1 do novel CPP).

Requisitos para a devolução de uma questão prejudicial surgida em


processo penal (artigo 14.º, n.os 1 e 2 do novel CPP)
a) Requisitos de natureza substancial
Que esta questão seja de resolução necessária para se conhecer da infracção
penal. Isto é torna-se necessário conhecer da questão prejudicial para se prosseguir a
acção penal – necessidade.
Entende-se pois que a questão de natureza não penal seja importante para a
decisão da causa em processo penal, isto é, que a questão prejudicial implique o
conhecimento de um elemento constitutivo da infracção. Mas não um elemento
qualquer: tem que ser um elemento de tal modo relevante que possa decidir sobre a
absolvição ou a condenação do arguido, não basta uma mera circunstância atenuante.
Outro requisito – conveniência da sua resolução em processo penal – é
que essa questão possa ser resolvida convenientemente no processo penal. Isto é, o
Tribunal penal só deverá deixar de ordenar a devolução quando no processo penal tiver
prova segura de todos os elementos da infracção.
Por conseguinte, conjugando com o primeiro requisito (da necessidade), ou
decide pela absolvição ou pela condenação, isto é, o Tribunal já tem elementos estão
dependentes do conhecimento da questão prejudicial e ela pode resolver-se
convenientemente no processo penal. Então, deve ser devolvida.
b) Requisitos de natureza formal
A questão só pode resolvida após o termo da instrução preparatória. O Ministério
Público conhece a infracção, para determinar quem foram os seus agentes e outros
meios de prova.
Legitimidade para a suspensão do processo (artigo 14.º, n.o 3 do CPP).
A legitimidade para a suspensão é oficiosa ou pode ser requerida pelo Ministério
Público, pelo assistente ou até pelo próprio arguido. São estes os sujeitos processuais
com legitimidade para se pronunciarem sobre a suspensão ou, eventualmente, a
requerem, o regime está previsto no artigo 14.º, n. o 3 do novel CPP.

Limites ao conhecimento de questão de natureza civil


a) Caso julgado
O Tribunal penal não pode decidir uma questão prejudicial se esta já está
definitivamente resolvida, se já há um caso julgado sobre a questão. Requerer a
decisão apenas.
b) Litispendência
Se a questão está a ser resolvida noutro Tribunal, se já está uma acção pendente
não vai agora o Tribunal Penal pedir a outro que a resolva. Aguarda, em princípio, que
seja decidida a questão no Tribunal competente.
São estas as questões que se levantam à chamada suficiência do processo
penal. Ao falarmos da suficiência do processo penal diz-se que o processo se
suspende.
Princípio da concentração, tudo se deve resolver em processo penal;
Princípio da imediação, o juiz penal toma conhecimento directo com o
facto na própria audiência.
 Da concentração.
Importância: evitar o arrastamento da fase da audiência, manipulação da
prova. Tem a memória dos factos.
Este princípio impõe que o conjunto de actos processuais que constituem a
audiência se pratique de forma mais possível concentrada no tempo. É corolário do
princípio da continuidade da audiência (artigos 2.º; 350.º; 373.º do novel CPP).

c) Princípios relativos à prova


 Da Verdade material.

Ou da investigação. É contraposto do princípio dispositivo (dispor do objecto do


processo), da contradição ou da discussão.

Em processo penal o objecto do processo é indisponível, o que conduz a


impossibilidade de desistência da acusação pública (MP) e de acordos eficazes entre a
acusação e a defesa (atenção as medidas alternativas a prisão, artigos 88 e se do CP).
E mais. Independentemente das contribuições das partes será o tribunal a investigar
até ao limite de cada facto. Sobre as partes não impende qualquer ónus de afirmar,
contradizer e impugnar. Da omissão ou silêncio em relação a qualquer facto não pode,
por si só, retirar-se qualquer conclusão probatória. [artigos 3.º, n.o 2; 59.º; 69.º, n.o 1
al c); 385.º; 388.º, n.o 1 in fine e 390.º, n.o 1 in fine do CPP)].

 Da livre apreciação da prova.


É o contraposto da prova legal (conjunto de regras predeterminadas do valor a
atribuir as provas). É o sistema de livre prova (artigos 157.º; 400.º; 409.º, n. o 3 do
novel C.P.P).
Não deve ser confundida (livre convicção) com uma convicção subjectiva,
emocional e imotivável. Deve ser exteriorizada mostrando aos interessados do bom
fundamento da decisão. Ver, artigo 653.º, n.º 2 do CPP aplicável por remissão do artigo
12.º do novel CPP; 8.º; 107.º, n.o 4; 409.º, n.o 3; 413.º, n.o 2 do novel C.P.P.
 Do in dúbio pro reo (artigo 3.º do novel C.P.P)
Este princípio tem que ver com a matéria de facto e não de direito. É corolário do
princípio da verdade material e do princípio da presunção de inocência. Ou seja, não
havendo ónus (encargo) de prova, qualquer situação investigada até ao limite ainda
encerrar dúvida há-de ser valorada em favor do arguido (visto que é presumido como
inocente).

d) Princípio relativo à forma

 Da publicidade (artigos 96.º; 97.º; 98.º; 100.º; 365.º do novel


C.P.P)

O princípio da publicidade implica que à audiência possa assistir qualquer


indivíduo e que sejam admissíveis relatos públicos da mesma.

Excepto quando puser em causa a dignidade, moral ou ordem pública (factos


concretos). Ex. crimes sexuais.

Importância: visa eliminar quaisquer desconfianças sobre a independência e


imparcialidade com que é administrada a justiça penal. É uma forma de fiscalização
pública.

Artigos 65, n.º 2 da CRM e 96.º; 97.º; 98.º; 100.º; 365.º do novel C.P.P.

Aula 5

Objectivos da aula:
 Discente conheça os principais modelos ou sistemas vigentes do processo
penal.
 Estrutura do processo penal moçambicano.
Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o
dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.
1. Modelos ou sistemas vigentes do processo penal.

SGA.

Na senda dos sujeitos processuais a que ver como estes estão configurados quanto a
sua actuação.

Conceito de parte e os modelos estruturais do processo penal.

Na doutrina discute-se se o processo penal é de partes? Parece pergunta


retórica. No entanto, com implicações teórico-dogmáticas profundas.

Então o que se entende por parte, em termos técnicos?

No conceito substantivo de parte, seriam os titulares da relação jurídica


substantiva que no processo se discute. Doutrina do processo civil, artigo 26.º do C.P.C.

Tutela jurídica deduzida contra o Estado. Nesse entendimento, haveria o Estado


(M.oP.o) e o arguido, diante do juiz.

Discussão ultrapassada na doutrina actual.

Então temos o conceito processual de parte, são aqueles sujeitos processuais


que discutem a causa e esperam do juiz uma apreciação e decisão do mérito dela.

Não é dever do M.oP.o obter condenações (não tem interesse próprio). O mesmo
pode se dizer do arguido não tem dever de defesa, mas sim, direito de defesa.
Atenção: estamos a falar de crimes públicos. E não semi-públicos ou particulares.

Então, o processo penal não é de partes (sentido formal = contraposição de


interesses).

Toda a teorização visa se saber qual é a estrutura do processo penal?

Na história são dois os modelos estruturais:


 Processo inquisitório e

 Processo acusatório puro (exemplo clássico do direito processual


penal inglês).

O primeiro, logo a primeira, se vê que não é de partes, visto que os poderes


concentra-se nas mãos do Juiz (não existindo, nem se quer o acusador).

Vantagem: o juiz conhece melhor os contornos do processo (desde o seu início).

Desvantagem: impossibilidade psicológica de preservar a imparcialidade de


julgamento; independência judicial face aos poderes do Estado.

Pelo contrário o puro processual de partes o interesse público de perseguição e


punição de infracções penais é encabeçado pelo representante da acusação (entidade
pública ou privada) e o interesse do arguido na absolvição é encabeçado pelo defensor.

O processo é uma discussão (luta ou duelo) de partes perante um árbitro com


olhar imparcial (também chamada célere impassibilidade e passividade do julgador
britânico). Até colher as provas é das partes. Cabe lhe apenas a função de garantir o
formalismo para que as partes não se furtem do jogo limpo. Depois tem apoio de
jurados para decidir a matéria de facto (questão de culpa).

Não se visa a verdade material, mas a garantia da liberdade do arguido e os seus


direitos individuais.
Numa situação destas facilmente há a disponibilidade do objecto do processo
(tanto o acusador pode retirar a acusação e a defesa confessar a culpa). Há também a
situação considerada “chocante” para os que não conhecem bem o sistema de negócios
extraprocessuais entre as partes sobre a culpa e a responsabilidade do arguido.
2. Estrutura fundamental do processo penal em Moçambique.

É inegável que o M.oP.o tem uma posição supraordenada em relação ao arguido.

Tem o aparato investigatório e coactivo (buscas, apreensões e impor a prisão do


arguido). Para contrapor isto, temos o direito de defesa (em todas as fases). Mas
mesmo assim, na fase de instrução preparatória, não estão em pé de igualdade. No
julgamento sim.

O M.oP.o não tem qualquer poder de parte, como no processo civil. A partir do
momento que o feito é metido em tribunal a acusação não pode ser retirada (princípio
da imutabilidade). Para além de que o tribunal não está vinculado ao pedido do M. oP.o
(é livre), não existe o princípio do pedido (não condenar para além do pedido ou do que
é pedido).

Conclui-se, em princípio, que o processo penal não é de partes. O M. oP.o


investiga, não só para fundamentar a acusação, mas também, para inocentar. Até
recorre, mesmo se conformando com a decisão.

O processo penal moçambicano é basicamente acusatório e simplesmente


integrado por um princípio de investigação (ler o preâmbulo, os artigos 2.º, 3.º, 4.º,
5.º, 6.º, 7.º, 16.º, 17.º, 19.º, 52.º, 53.º, 59.º, 60.º, 68.º, 69.º, 96.º, 97.º, 134.º,
135.º, 136.º, 155.º, 156.º, 365.º, 366.º, 370.º, 371.º, 372.º, 385.º, 389.º, 400.º,
403.º, 404.º, 409.º, 410.º, 411.º, entre outros do C.P.P.).

O sistema acusatório predominou até o sec. XII

O sistema inquisitório vigorou nos séculos XVIII e XIX.


Para aprofundamento dos tipos ou sistemas estruturantes do processo penal.

Durante toda a história da justiça penal houve três tipos de sistemas processuais
que vigoraram: o sistema inquisitório, o acusatório e o misto. O sistema inquisitório
é considerado pela doutrina o mais injusto, e não poderia ser diferente. Em tal sistema,
as figuras do juiz e do acusador confundem-se e não há limites para os métodos
utilizados para a obtenção da rainha das provas: a confissão. Frederico Marques o
descreve muito bem: “impregnado de autoritarismo, o sistema inquisitivo, na fase
histórica em que foi aplicado, constituiu instrumento de iniquidade e injustiças. Nele
não se respeitavam os direitos do acusado, seu status dignitatis e sua incolumidade
física. Empregando a tortura, para obter a confissão do réu (que era a rainha das
provas); desconhecendo os direitos mais elementares do acusado, para poder
defender-se, o sistema inquisitivo, marcado pela violência e pelo arbítrio, constitui, na
história da Justiça Penal, uma fase triste, negra e ignominiosa lembrança”. No processo
inquisitivo, além da confusão entre investigador, acusador e julgador, o juiz poderia ex
officio prover todo o impulso processual, inclusive produzir provas. Não se falava em
contraditório. O procedimento era secreto e escrito e vigia a regra do cárcere
preventivo e da incomunicabilidade do acusado. O sistema acusatório vigorou durante
quase toda a Antiguidade grega e romana, bem como na Idade Média nos domínios do
direito Germano e sem solução de continuidade, no direito Inglês, como nos informa
Frederico Marques. Começou a entrar em declínio no século XIII, quando o sistema
inquisitório passou a ganhar espaço, somente retornando na modernidade. Tem como
características a separação entre os órgãos de acusação, defesa e julgamento; há a
adopção do princípio da publicidade no procedimento investigatório, o procedimento é
oral e tem carácter contraditório, vige a igualdade entre juiz, defesa e acusação e a
liberdade do réu é a regra até sentença condenatória irrevogável. O sistema acusatório
acabou por adoptar o princípio da acusação penal ex officio, entretanto, o órgão
responsável pela acusação não é o juiz, e nunca o Judiciário. Actualmente, esse órgão é
o Ministério Público, criado originariamente na França e exportado para outras nações.
Por sistema misto alguns definem o que possui configurações tanto do inquisitório
quanto do acusatório, em especial, permite a consideração de provas realizadas sem o
contraditório, bem como a participação do juiz na sua produção.

Reducionista. Ver qual é o maior pendor/informador das


características.

Continuando com o tema dos sujeitos processuais temos (artigos 15.º a 51.º):

SGA

O estudante aprendeu sobre os princípios estruturantes e os sistemas do


processo penal. Sabe-se que no processo penal moçambicano podemos
surpreender características do inquisitório e do acusatório, concluindo-se
que estamos diante de sistema misto, enformado pelo princípio da acusação
ou de investigação. Como consequência, há sujeitos processuais com funções
distintas e um arguido, sujeito de direitos e deveres. No final, o discente deve
ser capaz de conhecer os sujeitos que intervêm no processo penal e os seus
papéis.

Objectivos da aula:
 Discente conheça os principais sujeitos do processo penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.
3. Sujeitos processuais
Nas aulas anteriores dissemos que em processo penal vigora o princípio da
oficialidade. Ou seja, a tarefa de receber denúncias, investigar factos criminosos,
persegui-los e julgá-los é da exclusiva competência do Estado.

Pergunta de partida: O que é Estado? Como actua?

Para que o processo penal possa ser posto em actividade exige-se a actuação de
indivíduos e entidades [garantia institucional].

Define-se como participantes processuais todas as pessoas e entidades que,


investidas nas mais diversas funções, actuam juridicamente no processo e para as
quais, por isso, nascem daquele diferentes direitos e obrigações.

Mesmo que o objecto do processo penal seja tendencialmente indisponível


(subtraída da vontade de quem nele intervém) não significa que certos participantes
processuais não possam condicionar e conformar concretamente a tramitação do
processo penal. Eg. a falta de uma testemunha que presenciou um atropelamento.

Pelo que só são sujeitos processuais aqueles participantes a quem competem


direitos e deveres processuais autónomos (das suas próprias decisões, podem
determinar, dentro de certos limites, a concreta tramitação do processo).

Nesta ordem, são sujeitos processuais, conforme a parte segunda, livro I:


 Os tribunais (artigos 15.º a 51.º);

 O M.oP.o (artigos 52.º a 60.º);

 Outros órgãos encarregues pela instrução (SERNIC, GCCC, PRM) e


titulares da própria acusação (artigos 61.º a 64.º).

 O arguido e seu defensor (artigos 65.º a 75.º);

 O ofendido e os assistentes (artigos 76.º a 94.º);


Simples participantes (testemunhas, os declarantes, os peritos, os intérpretes,
entre outros).

Atenção, para alguma doutrina não há razão para a diferenciação na


denominação visto não ter reflexos práticos na lei (não tem nenhum interesse prático).

Para nós tem interesse didáctico (sistematização do nosso estudo). Tem a ver
com a posição jurídica. Eg. Para ser chamado de marido é porque há obrigações e
direitos.
4. Os tribunais penais

SGA

O discente ouve, várias vezes, da existência de tribunais. Mas não sabe distinguir se
existem diferentes tribunais, como estão organizados e como se apura as suas
competências. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as características dos
tribunais, qual é a sua função? O que distingue juizes de procuradores?

1. Organização dos tribunais judiciais


 Organização judiciária (artigo 29 da LOJ) e 18.º do C.P.P.
O tema tem mais que ver com o Direito Judiciário e não ao processo penal.
Perceber a ideia do Juiz natural (proibição de jurisdição de excepção).
TS (secção criminal e plenário).
TSR (Maputo, Beira e Nampula e Secções de Recurso em alguns Tribunais de
Província).
TJP [secções criminais (Instrução, da Causa e de Execução de penas), artigo
19.º do C.P.P e em segunda instância].
TJD.
 O Juiz Penal: Funções e características

ARTIGO 133 - Órgãos de soberania


São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia

da República, o Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional.

ARTIGO 134 - Separação e interdependência

Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação e interdependência de


poderes consagrados na Constituição e devem obediência à Constituição e às leis.

Artigo 1 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto.

Para garantir a sua concretização:

ARTIGO 217 - Independência dos juízes

1. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem


obediência à lei. (um conceito que vai muito além - material, espiritual, económico e
social)

2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade.

3. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados ou


demitidos, senão nos casos previstos na lei.

ARTIGO 218 - Responsabilidade

1. Os juízes respondem civil, criminal e disciplinarmente por actos praticados no


exercício das suas funções apenas nos casos especialmente previstos na lei.

2. O afastamento de um juiz de carreira da função judicial só pode ocorrer nos termos


legalmente estabelecidos.

Mais artigo 10 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto.


 Competências do tribunal em matéria penal.
Há uma sobreposição do tema com os critérios da fixação da competência dos
tribunais em matéria penal (critério da gravidade do crime, do flagrante delito e de
julgamento imediato).

 Princípio do Juiz Natural (artigo 16.º do C.P.P)

ARTIGO 223 - Espécies

1. Na República de Moçambique existem os seguintes tribunais:

a) o Tribunal Supremo;

b) o Tribunal Administrativo;

c) os tribunais judiciais.

2. Podem existir tribunais administrativos, de trabalho, fiscais,

aduaneiros, marítimos, arbitrais e comunitários.

3. A competência, organização e funcionamento dos tribunais referidos nos


números anteriores são estabelecidos por lei, que pode prever a existência
de um escalão de tribunais entre os tribunais provinciais e o Tribunal
Supremo.

4. Os tribunais judiciais são tribunais comuns em matéria civil e criminal e


exercem jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens
jurisdicionais.

5. Na primeira instância, pode haver tribunais com competência específica e tribunais


especializados para o julgamento de matérias determinadas.

6. Sem prejuízo do disposto quanto aos tribunais militares, é proibida a


existência de tribunais com competência exclusiva para o julgamento de
certas categorias de crimes.
Artigos 36 e 37 da LOJ, 15.º e 18.º do C.P.P

 Espécies de competências.

Material (artigo 222, n.o 4 da CRM e 33 da LOJ), mesma espécie.

Territorial (artigo 23.º do CPP, locus deliti, excepções 24.º, 25.º e 26.º
e 35 da LOJ):
 Locus delicti;

 Doutrina do evento (resultado)

 Doutrina da execução;

 Princípio da prevenção da jurisdição (artigos 25.º e 31.º do CPP).

 Posição eclética, artigo 25.º do CPP.

 Ope legis, artigo 28.º do CPP.4

4
Define-se conexão como a relação que intercede entre vários processos pendentes
que se encontrem na mesma fase, ou se vão instaurar, relação essa que poderá levar à
unificação ou apensação dos vários processos, sem que seja de atender às normas
sobre a competência material ou territorial ?[22]. Nunca há conexão em relação a
processos que se encontrem em fases distintas: se um se encontra na fase de instrução
e outro na fase de acusação, não é possível haver conexão; se um se encontra na fase
de instrução e outro em fase de julgamento, também não; se um se encontra na fase
de julgamento e outro na fase de recurso, também não. Portanto, só não se atende à
competência material ou territorial do Tribunal. Para haver conexão (arts. 28.º segs.
CPP), torna-se necessário:

- Que o mesmo agente tenha cometido vários crimes;


 Ope judicis, artigo 28.º, n.o 1 al c) do CPP

Funcional:
 Graus (recursos)

 Fases (JIC, da Causa e de execução de penas).

 Órgãos (juízes eleitos, colegial).

Atenção quanto a prorrogação de competências (material ou territorial), artigo


29.º do CPP..

Artigo 25 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto (récuo).

- Que o mesmo crime tenha sido cometido por vários agentes em


comparticipação; ou

- Que vários agentes tenham cometido diversos crimes em comparticipação;

- E destinando-se uns a continuar ou a ocultar os outros.

Requisitos para a existência da conexão

Tem de haver dois ou mais Tribunais competentes para julgar o caso.

Tem que haver dois ou mais processos distintos, quer sejam distintos sobre o
ponto de vista formal, quer mesmo quanto ao objecto específico ?[23].

Tem de haver derrogação da regra geral da competência do Tribunal, isto é, um


dos Tribunais tem de ceder em relação ao outro: ele é competente porque o crime foi
cometido na sua área, ou é competente materialmente porque é o Tribunal colectivo ou
porque é o Tribunal singular que deve julgar aquele crime, mas outro é também
competente. Há uma derrogação da competência de um dos Tribunais.

Os processos têm que se encontrar todos na mesma fase – instrução e


julgamento. No recurso não há conexão.
Importância: artigos 36.º a 36.º do C.P.P.

Para aprofundamentos ler a Lei n. o 24/2007, de 20 de Agosto – Lei da


Organização Judiciária, revista sucessivamente pelas Leis n. os 24/2014, de 23 de
Setembro e 11/2018, de 3 de Outubro.

Quanto a incompetência. Atitude do julgador. Se for em razão da matéria


absolve (falta de tipicidade). Se for em razão do território ou funcional remete-se ao
tribunal competente (artigo 145 do CPP).

O Ministério Público

SGA

O discente ouve, várias vezes, da existência do M. oP.o. Mas nunca viu o edíficio aonde
funciona. No final, deverá ser capaz de distiguir se existem diferenças entre o M. oP.o e
os tribunais e a procuradoria da república, como está organizado e como se apura as
suas competências. O que distingue juizes de procuradores?

M.oP.o (artigos 52 a 60 do C.P.P e 233 a 239 da CRM).

Estabelece o artigo 233, n.o 1 do texto constitucional moçambicano que o M. oP.o


constitui uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao Procurador-
Geral da República. No exercício das funções, os magistrados e os agentes do M. oP.o
estão sujeitos aos critérios de legalidade, objectividade, isenção e exclusiva sujeição às
directivas e ordens previstas na lei.

Desta norma retira-se que o M. oP.o é uma magistratura hierarquicamente


organizada.

Artigo 235
Ao M.oP.o compete representar o Estado junto dos tribunais e defender os interesses
que a lei determina, controlar a legalidade, os prazos das detenções, dirigir a instrução
preparatória dos processo-crime, exercer a acção penal e assegurar a defesa jurídica
dos menores, ausentes e incapazes.

Essas normas têm a sua concretização no C.P.P e na LOMP

O Ministério Público não poderá ser visto como uma verdadeira parte em sentido
formal, isto é, ele não tem como finalidade pura e exclusiva obter a condenação do
arguido na medida em que5[17] toda a sua actuação é conduzida sob critérios de estrita
objectividade. O Ministério Público não poderá ser uma verdadeira parte em processo
penal, só o seria se ele pudesse dispor do processo e sempre pretendesse o custo obter
uma condenação.

É característico de um sistema acusatório a existência de uma identidade


investigadora e acusadora e de uma entidade julgadora.

Com a criação do Ministério Público visa-se obter a estrutura acusatória do


processo penal, na medida em que se obtém (ou pretende obter-se) a separação entre
a entidade a quem compete presidir e dirigir a instrução e elabora a acusação.

A instrução, tem como finalidade investigar a existência de um crime, determinar


quem foram os seus agentes e a responsabilidade que lhes cabe. Finda a instrução,
cabe ao Ministério Público, também sempre que havendo indícios suficientes da prática
de um crime e determinados que sejam os seus agentes, deduzir acusação.

Portanto, compete ao Ministério Público não só a promoção do processo e a


direcção da instrução, como também elaborar a acusação, tem-se aqui uma entidade
investigadora e acusadora.

5[17]
Art. 53.º in fine CPP
Entre o Ministério Público e o Tribunal há uma separação funcional e
institucional. No entanto, estão estritamente correlacionadas.

A actuação do Ministério Público no processo penal não se deixa conduzir por


critérios de discricionariedade e oportunidade, como é característico da administração
pública, mas antes segundo critérios de objectividade e em obediência estrita ao
princípio da legalidade.

O Ministério Público é um órgão autónomo da administração da justiça, exerce as


suas actividades independentemente, não está vinculado a qualquer poder 6[24], exerce a
sua actividade de forma autónoma (art. 53.º CPP).

Critérios de estrita objectividade

Compete ao Ministério Público investigar e trazer para o processo tudo o que


possa demonstrar a culpabilidade do arguido, mas também lhe compete carrear para o
processo todos os indícios que possam conduzir à minoração da pena do arguido, ou
inclusivamente à prova da sua inocência.

O Ministério Público deve ser isento, imparcial na sua investigação e na dedução


da acusação. Daí que se aplique também ao Ministério Público todo o sistema de
impedimento e suspeições relativo aos juízes (artigos 43.º a 51.º CPP ex-vi 60.º do
C.P.P). Mas o pedido de escusa não é feito ao Tribunal, mas ao seu superior
hierárquico.

Para aprofundamentos ler a Lei n.º 4/2017, de 18 de Janeiro, altera a Lei n.º
22/2007, de 1 de Agosto, Lei Orgânica do Ministério Público e que aprova o Estatuto
dos Magistrados do Ministério Público e revoga as Leis n.º s 22/2007, de 1 de Agosto;
8/2009, de 11 de Março e 14/2012, de 8 de Fevereiro.

6[24]
Poder executivo, judicial, legislativo.
Outras instituições auxiliares.

SGA

O discente ouve, várias vezes, do SERNIC. Mas não sabe se há diferença com a Polícia
da República de Moçambique (PRM). No final, o discente deve ser capaz de conhecer as
características do SERNIC. O que lhe distingue da PRM e qual é a sua função?

Relembrar que a todos é lhe imposto o dever de colaborar na administração da


justiça penal.

Quanto aos órgãos de polícia criminal (artigo 61.º e ss do CPP) têm por
função coadjuvar as autoridades judiciárias com vista à realização das finalidades do
processo.

Temos o SERNIC (artigos 61 a 63 do CPP).

Para aprofundamento ver a Lei n.º 2/2017, de 9 de Janeiro, Cria o Serviço


Nacional de Investigação Criminal, abreviadamente designado por SERNIC e Decreto n. o
22/2018, de 5 de Maio – Aprova o Estatuto do Pessoal do Serviço Nacional de
Investigação Criminal (SERNIC).

Polícia da República de Moçambique (artigo 64 do CPP).

Artigo 253

1. A PRM, em colaboração com outras instituições do estado, tem como


função garantir a lei e a ordem, a salvaguarda da segurança de pessoas e bens, a
tranquilidade pública, o respeito pelo Estado de Direito Democrático e a observância
estrita dos direitos e liberdades dos cidadãos.
2. A Polícia é apartidária.
3. No exercício das suas funções a Polícia obedece a lei e serve com isenção
e imparcilaidade os didadãos e as instituições públicas e privadas.
Esta concepção constitucional da polícia é iminentemente de amigo do cidadão.

Para aprofundar ver a Lei n.o 16/2013, de 12 de Agosto – Aprova a Lei da Polícia
de Moçambique e revoga as Leis n. os 5/88, de 27 de Agosto e 19/92, de 31 de
Dezembro.

Sumário: continuação do estudo dos sujeitos processuais


6. Conceito e constituição do arguido

7. Defensor do arguido.

8. Defesa em processo penal

 Função jurídica e em processo penal

 Admissibilidade e obrigatoriedade da defesa.

 A defesa e a pessoa do defensor.

 Conceito e exercício da função de defesa.

Nos noticiários e nas conversas o estudante ouve frequentemente as pessoas a falar de


suspeitos, criminosos, condenados, delinquentes, arguidos, malfeitores, etc. A pergunta
é: qual é a diferença? Quando é que alguém é suspeito, arguido, réu ou condenado? No
final o estudante dever capaz de distinguir estas realidades.

1. Conceito e constituição do arguido (artigos 65 a 69 do C.P.P; 59,


60, 62, 64, 65, 66 e 69 dos do texto constitucional).

É considerado de suspeito aquele relativamente ao qual exista indício de que


cometeu ou se prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou se prepara
para participar (artigo 65.º, n. o 1 do C.P.P). Estamos diante de uma evolução do antigo
arguido [aquele sobre quem recai forte suspeita de ter perpetrado uma infracção, cuja
existência esteja suficientemente comprovada (artigo 251.º do antigo CPP). Conjugar
com o artigo 291.º, 1.º, al b) e 2.º, § 1.º do antigo CPP] para suspeito.

Por sua vez, assume a qualidade de arguido aquele contra quem for deduzida
acusação ou requerida audiência preliminar num processo penal (artigo 65.º, n. o 2 do
C.P.P). Portanto, só depois de reunidos elementos fortes de indiciação é que alguém
(incluindo pessoas colectivas) adquire a qualidade de arguido (artigo 158.º do C.P.P). E
esta qualidade conserva-se durante todo o decurso do processo. Ou seja, já não há
diferenciação de suspeito, arguido, réu e condenado (artigo 65.º, n. o 4 do C.P.P).

Outra inovação encontra-se patente no artigo 66.º do C.P.P. Onde se prevê a


obrigatoriedade de constituição em arguido quando reunidos certos pressupostos de
facto; ou sejam:
i. Havendo instrução em curso contra pessoa determinada e esta prestar
declarações perante qualquer autoridade judiciária (artigo 17.º) ou órgão de polícia
criminal (artigos 61.º e ss).

ii. Tenha de ser aplicada a qualquer pessoa uma medida de coacção ou de


garantia patrimonial (artigos 232.º e ss).

iii. Um suspeito for detido (artigos 297.º a 304.º)

iv. For levantado auto de notícia que dê uma pessoa como agente de um
crime e aquele lhe for comunicado (artigos 109.º, 122.º, 123.º e 124.º, 286.º, 442.º).

Ora, a constituição de uma pessoa em arguido, em processo penal, acarreta


efeitos de maior importância, afastando-se o regime dos outros intervenientes
processuais. Exigindo-se um formalismo complexo e maiores garantias (artigos 68.º,
69.º, 70.º a 75.º, 377.º do C.P.P).

Por exemplo, não se exige a presença de advogados para testemunhas e


declarantes, diferentemente do arguido (7.º, 163.º, 164.º, 172.º, 179.º, 391.º, 392.º,
393.º ou admissibilidade da sua presença, 377.º). Não está vinculado ao dever da
verdade.

Arguido: requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o 1 al a) e


n.os 2 e 3 do C.P.P].

Prazos: 5 dias, 8 dias e 30 dias (artigos 325.º, n. o 2; 330.º, n.o 3; 333.º, n.o 1 do
C.P.P).

A evitar:

Confundir a constituição em arguido com o início do processo penal. Basta ter


conhecimento do crime deve inicial a investigação (instrução preparatória), mesmo
contra desconhecidos. É que primeiro deve ser comprovada a existência do crime e não
como se faz erroneamente. Até recusa investigar, porque não temos arguido preso.
Vide artigos 65.º, n.o 2; 243.º e 245.º do CPP.

De tal sorte que não se confunde com o suspeito (65.º, n. o 1). Porque as
garantias de ser arguido são maiores do que o suspeito; este pode requerer que seja
constituído em arguido (artigo 67.º, n.o 2 do CPP).

Antes da aprovação do novo C.P.P do arguido também se distinguia,


conceitualmente, o réu: é arguido, mas pronunciado (foi solenemente chamado à
responsabilidade perante a comunidade jurídica através da acusação aceite ou recebida
pelo juiz. Tal diferenciação porém tem apenas efeitos formais e académicos. Não é de
lei. Visto que em termos de substância nada se altera quanto as garantias processuais.
Ambos são sujeitos processuais.

Diferente do condenado e absolvido (sentença transitada em julgado).

Há um velho adágio “diz-me como tratas o arguido, dir-te-ei o processo penal


que tens e o Estado que o instituiu.”
Porque alguns chegam a dizer que o Estado defende mais os delinquentes do
que os ofendidos (percepção). Linchamentos.

Há situações em que é mero objecto do processo. Visando, com ele, a obtenção


de confissão – Sistema Inquisitório.

Ser sujeito é participar conscientemente na declaração do direito no caso


concreto.

É verdade que o arguido pode ser sujeito de medidas coactivas, ou servir de


meio de prova. Mas, tem de ser com base na sua livre expressão de personalidade
(sem extorsão, nem auto incriminação).

O arguido não é objecto do processo (investigam-se os factos, esses sim, é que


são objecto da instrução e processo, artigo 388.º, 389.º e 69.º.

Aula 9

Objectivos da aula:
 Discente conheça quando é que alguém é considerado de arguido.
 Quais as garantias do arguido.
 Atitudes do juiz, depois de lhe ser presente o arguido.
 Quais as finalidades das medidas coactivas.
 Quando é que existe a prisão preventiva.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.
9. Prisão preventiva e outras medidas privativas da liberdade.
 Conceito e constituição do arguido (revisão e aprofundamento).
Arguido é uma qualidade que se adquire ao longo do processo. Com a dedução
da acusação ou com o requerimento da abertura da audiência preliminar, artigo 65.º,
n.o 2 do C.P.P. E conserva-se durante todo o decurso dos autos, n. o 4 do citado artigo.

Ora, a constituição7 de uma pessoa ou indivíduo em arguido, em processo penal,


acarreta efeitos de maior importância, afastando-se o regime dos outros intervenientes
processuais (como suspeito, artigo 65.º, n.o 1 do C.P.P. e testemunhas 101.º).
Pode ser obrigatoriamente constituído em arguido reunidos os pressupostos
previstos pelo artigo 66.º do C.P.P.
Exigindo-se um formalismo complexo e maiores garantias. Vide artigos 67.º,
68.º, 69.º, 70.º a 75.º, 175.º, 297.º, n. o 2 do C.P.P. Por exemplo, não se exige a
presença de advogados para testemunhas e declarantes, diferentemente do arguido
[68.º, 69.º, 70.º, 71.º e 72.º, 135.º, al c); 175.º, n. o 2; 177º, n.os 2 e 3; ou
admissibilidade da sua presença, artigo 163.º do CPP]. Não está vinculado ao dever da
verdade (artigo 174.º, n.o 4; 179.º, n.o 2 do C.P.P).

Evitar:
Dizer que o Processo Penal e Código Penal são Magnas cartas de protecção de
delinquentes ou criminosos.
Confundir a constituição em arguido com o início do processo penal. Basta ter
conhecimento do crime deve inicial a investigação (instrução preparatória), mesmo
contra desconhecidos. É que primeiro deve ser comprovada a existência do crime e não
como se faz erroneamente. Até recusa investigar, porque não temos arguido preso.

7
Artigo 66.o, n.o 2 do CPP comunicação oral ou por escrito de que deve
considerar-se como arguido, enunciando-se-lhe os direitos e deveres.
Consequência, inexistência das declarações.
De tal sorte que não se confunde com o suspeito (65.º, n. o 1 e 67.º, n.o 2 do
C.P.P). Porque as garantias de ser arguido são maiores do que o suspeito; este pode
requerer que seja constituído em arguido.
Do arguido também se distingue conceitualmente o réu (no antigo CPP): é
arguido, mas pronunciado (foi solenemente chamado à responsabilidade perante a
comunidade jurídica através da acusação aceite ou recebida pelo juiz. Tal diferenciação
porém tem apenas efeitos formais e académicos. Não é de lei. Visto que em termos de
substância nada se altera quanto as garantias processuais. Ambos são sujeitos
processuais. Agora a qualidade de arguido mantém-se, artigo 65.º, n. o 4 do C.P.P.
Diferente do condenado e absolvido (sentença transitada em julgado).
Há um velho adágio “diz-me como tratas o arguido, dir-te-ei o processo penal
que tens e o Estado que o instituiu.”
Porque alguns chegam a dizer que o Estado defende mais os delinquentes do
que os ofendidos (percepção). Linchamentos.
Há situações em que é mero objecto do processo. Visando, com ele, a obtenção
de confissão.
Ser sujeito é participar conscientemente na declaração do direito no caso
concreto.
É verdade que o arguido pode ser sujeito de medidas coactivas, ou servir de
meio de prova. Mas, tem de ser com base na sua livre expressão de personalidade
(sem extorsão, nem auto incriminação – artigo 174.º, n. o 1 do C.P.P).

2. Defensor do arguido (artigos 70 a 75 do CPP e 65, n. o 1 do texto


constitucional)

SGA

O discente ouve, várias vezes, da defesa no processo penal. Mas não sabe se há
diferença com o mandatário judicial (advogado). Se no processo penal há procuração
forense. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as características do direito a
defesa no processo penal e como se manifesta. O que lhe distingue o advogado cível e
qual é a sua função?
2.1. Função jurídica e em processo penal

Não é no sentido de representação (nos direitos e interesses do arguido). Visto


que não é representante judiciário do arguido.

No processo penal não há partes.

Os seus poderes não provém da procuração forense ou nos poderes


representativos. Mas sim do poder-dever que a lei lhe confere. Não depende da
vontade ou instruções do arguido. Vg o de obter uma absolvição a todo o custo.

Colabora com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do direito, em


favor do arguido.

Não é o opositor do MP, nem do Juiz.

Tem como deveres:

 Protecção;

 Favorecimento processual;

 Verdade favorável ao arguido e

 Sigilo.
2.2. Admissibilidade e obrigatoriedade da defesa.

Artigos 70.º e ss do e 72.º CPP.

Outra pergunta: quem chama o defensor a assumir a defesa? Se for o arguido


então estamos perante constituição de advogado (artigo 70.º, n. os 1 e 6). Se for o
tribunal, o M.oP.o, ou polícia criminal então estamos diante de nomeação de defensor
oficioso (artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP).
Princípio liberdade de escolha (artigo 70.º, n. os 1 e 6). Na sua ausência há defesa
obrigatória (artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP).

Importância da distinção: se for voluntária só pode ser por advogados e


advogados estagiários; tratando-se de defensor nomeado, pode ser por advogados,
advogados estagiários, técnicos e assistente jurídicos, e na sua falta por pessoa idónea,
artigo 70.º, n.os 2, 3, 4 e 5 do CPP.

2.3. A defesa e a pessoa do defensor.

Artigo 35 do texto constitucional.

Direito de ampla defesa (65 do texto constitucional)

Como se manifesta [artigo 69.º, n.o 1 als d) a h) e n.o 2]?


i. Direito de audiência;

ii. Direito de presença (dar a mais ampla possibilidade de tomar posição, a


todo o momento); ter conhecimento de tudo que se passa, para deste modo refutar o
que for possível; quase a fase secreta em que se recolhe provas sem a presença do
arguido. Compreende-se porque será alvo de produção pública de provas.

iii. Direito de assistência do defensor (direito de ser esclarecido


minuciosamente por indivíduo da sua confiança e conhecimentos jurídicos necessários);

iv. Direito de interposição de recursos (decisões desfavoráveis). Limitação


contida no artigo 647, § 4.º do CPP.

2.4. Conceito e exercício da função de defesa.

Tem de existir uma relação de confiança.

Deveres e direitos do defensor:


i. Prestar ao arguido o mais completo e esclarecedor conselho jurídico de
que for capaz.

ii. Fazer as suas próprias averiguações complementares.

iii. O direito de presença (na audiência de julgamento, na instrução


contraditória, na instrução preparatória).

iv. O direito de consulta dos autos e de exame dos objectos de prova.

v. Direito de comunicar, oralmente e por escrito, com o arguido.

3. Assistente (artigos 76 a 94).

SGA

O discente ouve, várias vezes, do ofendido e do assistente. Mas não sabe se há


diferença. No final, o discente deve ser capaz de conhecer as características do
ofendido e do assistente. O que lhes distingue e qual é a sua função?

Assistente8[18], é o ofendido que, quando quer intervir no processo, adquire


essa qualidade, desde que reúna determinados requisitos. Se o não fizer, está lá o
Ministério Público que defenderá mas se ele quiser também intervir e colaborar no
processo, adquire a qualidade de assistente.

Relembrar as limitações ao princípio da oficialidade:


a) Crimes particulares:

São constituídos por infracções de pequena gravidade, de infracções que, não se


relacionando com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a
pessoa visada e a comunidade em si própria não se sente lesada, e por conseguinte,
não sente necessidade de reagir.

8[18]
Poderá existir ou não.
Deixa-se ao particular que tome a iniciativa de dar conhecimento, e depois ele
próprio, se quiser, que deduza acusação.

Se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal, dá


conhecimento ao Ministério Público e tem de declarar que se quer constituir
assistente, mas não é ele que vai fazer a instrução, quem o faz é o Ministério Público.
Depois há um imposto a ser pago, só depois o juiz de instrução profere o despacho
admitindo o indivíduo como assistente (artigo 56 do novel C.P.P).

Simplesmente, depois de submeter o arguido ou não a julgamento, através da


dedução de acusação, essa decisão última pertence ao particular, se ele não o fizer o
processo é arquivado (artigo 57 do novel C.P.P).
b) Crimes semi-públicos:

Aqui a comunidade já se sente lesada, sente que os seus valores fundamentais


foram violados. No entanto, põe acima dos valores comunitários os valores individuais
que foram infringidos, que foram violados, porque entende que a reacção contra essa
infracção depende da vítima, do ofendido.

Se o ofendido entende que não deve queixar-se, então a comunidade também


não o faz, mas se o fizer, a partir do momento em que o ofendido se queixou, então o
Estado assume nos seus ombros todo o processo, sem mais intervenção do ofendido: já
não se torna necessário ele constituir-se assistente e deduzir acusação particular
(artigos 55.º; 76.º; 77.º; 78.º; 79.º; 289.º n.o 4; 330.º do novel C.P.P).

A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular (artigo 287.º do


C.P.P). Se ele quiser queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime público,
como se a comunidade se sentisse violada. O Estado assume todo o processo, desde a
instrução até ao julgamento.

A queixa, a constituição de assistente, e a dedução de acusação por particular,


são momentos distintos.
Artigos 52 e ss do CPP.

Assistente: deduzir a sua acusação particular (artigos 325.º; 330.º, n. o 2 do


C.P.P) ou requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o 1 al b) e n.os 2 e
3 do C.P.P] ou ainda suscitar a intervenção do superior hierárquico do procurador
(artigo 325.º, n.o 2 do C.P.P).

Aprofundar a leitura da Lei n.o 15/2012, de 14 de Agosto – Lei que estabelece


mecanismos de protecção dos direitos e interesses das vítimas, denunciantes,
testemunhas, declarantes ou peritos em processo penal, e cria o Gabinete Central de
Protecção à Vítima.

Partes civis (artigos 80.º a 94.º do C.P.P)

O discente sempre se questionou se se pode pedir uma indemnização, em resultado da


prática de um acto qualificado como crime. No final, o discente deve ser capaz de
conhecer as características da indemnização em processo penal, quem a pode pedir e
até que altura?

O lesado sofre danos indirectamente com o crime: ele não é a vítima directa do
crime.

Quando a pessoa é só lesada ou mesmo quando é assistente, a indemnização


cível só será atribuída se for requerida. E tem de ser requerida no processo penal.

A figura do lesado está directamente relacionada com o pedido de indemnização


cível.

Mas uma vez que o ofendido é ao mesmo tempo lesado, quando o ofendido se
constitui assistente tem igualmente legitimidade para formular um pedido de
indemnização civil.
Quanto a este pedido, estabelece a lei que, ele é deduzido obrigatoriamente no
processo penal, a não ser que a lei, em casos tipificados, permita que seja o Tribunal
civil (artigo 80.º CPP, excepção do artigo 82.º CPP).

Que razão levou o legislador a tornar obrigatória a dedução do pedido de


indemnização no processo penal (artigo 80.º CPP)?

Em princípio, haveria uma economia de tempo, porque o processo penal devia


ser mais rápido.

Uma outra razão é a de que o ofendido economiza dinheiro, porque o processo


penal é mais barato.

Depois, outra razão é o aproveitamento das provas carreadas para o processo


pelo Ministério Público, consagradas com elementos de prova que são produzidos na
própria audiência de julgamento, principalmente as declarações do ofendido.

Uma razão de ordem geral é a prevenção geral da criminalidade.

O princípio da obrigatoriedade da dedução do pedido de indemnização civil em


processo penal apenas é válido em toda a sua plenitude nos crimes públicos, embora
com as limitações do artigo 81.º, n.o 1 al c) e n.o 2 do CPP.

Para os crimes particulares e para os crimes semi-públicos, vigora o princípio da


opção. Mas opção com estas consequências: é que se o ofendido ou o assistente
quiserem optar pelo processo civil, isso equivale a uma renúncia ao prosseguimento do
processo penal, artigo 81.º, n.o 2 do CPP.

O pedido de indemnização é de natureza exclusivamente civil. Não há


indemnizações de ordem penal.

Vigora o princípio da necessidade, na medida em que o pedido de indemnização


é deduzido pelo lesado (artigo 82.º CPP). Quer isto dizer que só haverá atribuição de
uma indemnização se a mesmo for requerida.
Legitimidade para intervir no pedido de indemnização (artigo 82.º
CPP).

Do lado passivo, tem-se duas pessoas:

- O arguido, o infractor contra quem é imputada a prática de um crime: ele será


responsável pelo pagamento da indemnização;

- Pode haver também um responsável meramente civil, que é a pessoa singular


ou colectiva que está obrigada ao ressarcimento do dano que é ocasionado pelo crime
(seguradoras ou comitentes).

O lesado, se quer intervir no processo, se quer formular um pedido de


indemnização, ou requerer ao Ministério Público que o represente ou faz-se representar
por advogado (artigos 85.º e 86.º do CPP).

Quanto à legitimidade activa, essencialmente pertence ao lesado. Mas poderá


pertencer também a uma parte civil. Neste conceito cabem não só as pessoas
singulares, como também as pessoas colectivas.

A posição do lesado no processo restringe-se ao exercício dos poderes de


sustentação e da prova em matéria cível quanto ao pedido de indemnização.

O lesado pode exercer o seu direito, a partir da sua intervenção no processo, ou


a partir do momento em que as autoridades judiciárias lhe comuniquem esses direitos.

É-lhe comunicado esses direitos quando, num processo penal o Ministério Público
ou o juiz se aperceber que há alguém que foi afectado pela prática do crime, isto é, que
sofreu danos ocasionados pelo crime, deve notificá-lo e informá-lo de que tem um
direito a ser indemnizado pelos prejuízos sofridos (artigo 84.º CPP) – dever de
informação.
O arguido pode contestar o pedido de indemnização. Daqui, não decorre
nenhuma consequência, na medida em que a falta de contestação não implica a
condenação no pedido de indemnização.

Natureza do pedido de indemnização civil.

O pedido de indemnização cível é exclusivamente civil. O que se pretende é


obter uma compensação, um ressarcimento pelos danos sofridos, com a aplicação das
normas de Direito Civil substantivo, no que respeita à formulação e à atribuição dessa
indemnização.

Também, a decisão penal que conhecer do pedido de indemnização civil constitui


caso julgado, isto é, não se pode formular o pedido de indemnização no processo penal
e depois, porque não se ficou satisfeito, formular novo pedido no Tribunal civil, forma-
se caso julgado mesmo no que diz respeito à matéria civil em processo penal.

Há legitimidade activa e passiva:

-A legitimidade activa pertence ao lesado e, eventualmente, a terceiro;

-A legitimidade passiva, pertence ao arguido e também, se o houver, a um


responsável meramente civil:

O arguido é chamado directamente ao processo;

O responsável meramente civil poderá ser demandado ou poderá ele próprio


fazer a sua intervenção porque, nomeadamente se houver um direito de regresso
contra o arguido, tem interesse em discutir se houve ou não houve causas de exclusão
da sua responsabilidade.

É obrigatório a formulação do pedido de indemnização no processo penal,


quando isso não acontecer, o Tribunal não conhece desse pedido.

Formulação do pedido de indemnização


Rege esta matéria o artigo 86.º CPP. Neste artigo tem-se que ter bem presente
quem formula o pedido de indemnização: se é o Ministério Público, se é o assistente, ou
se é o lesado.

Quando formulado pelo Ministério Público o pedido de indemnização é deduzido


na acusação.

Isto quer dizer que o lesado deve fornecer ao Ministério Público os elementos de
facto que fundamentam o seu pedido antes do termo da instrução, isto é, antes do
Ministério Público formular a acusação.

Quando formulado pelo assistente o pedido de indemnização é deduzido na


acusação ou no prazo em que esta deva ser formulada.

Esta alternativa aplica-se aos crimes públicos e semi-públicos, em que o


assistente pode não acusar, pode pura e simplesmente fazer sua a acusação a do
Ministério Público, ou seja, pode aderir à acusação do Ministério Público. Tem cinco dias
após a notificação da acusação do Ministério Público, o assistente também pode deduzir
acusação (artigo 330.º, n.os 2 e 3 CPP).

Nos crimes particulares o pedido deve ser formulado na acusação.

Se o assistente não deduzir acusação então deve, nesses cinco dias, formular o
pedido de indemnização, sob pena de o mesmo depois não ser conhecido.

Se não houver acusação não há prosseguimento do processo penal nos crimes


particulares, em que é obrigatória a acusação por parte do assistente. Portanto, quando
ele deduz a acusação formula também o pedido de indemnização, na mesma peça
processual.

O artigo 85.º do CPP, refere-se ao pedido de indemnização feito pelo lesado, que
intervém no processo através de advogado.
Quando à data do despacho de pronúncia ou da data do julgamento ainda não
são conhecidos os danos, então poder-se-á deixar a formulação do pedido para uma
execução de sentença.

*** * ***

Aula 10

Objectivos da aula:
 Atitudes do juiz, depois de lhe ser presente o arguido.
 Quais as finalidades das medidas coactivas.
 Quando é que existe a prisão preventiva.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

Artigo 55

(Liberdade de residência e de circulação)

1. Todos os cidadãos têm o direito de fixar residência em qualquer parte do território


nacional.
2. Todos os cidadãos são livres de circular no interior e para exterior do território
nacional, excepto os judicialmente privados desse direito.
Artigo 59

(Direito à liberdade e à segurança)

1. Na República de Moçambique, todos têm direito à segurança, e ninguém pode


ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei.

2. Os arguidos gozam da presunção de inocência até decisão judicial definitiva.

3. Nenhum cidadão pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo
crime, nem ser punido com pena não prevista na lei ou com pena mais grave do que
a estabelecida na lei no momento da prática da infracção criminal.

Artigo 60

(Aplicação da lei criminal)

1. Ninguém pode ser condenado por acto não qualificado como crime no
momento da sua prática.

2. A lei penal só se aplica retroactivamente quando disso resultar beneficio ao


arguido.

Artigo 61

(Limites das penas e das medidas de segurança)

1. São proibidas penas e medidas de segurança privativas ou restritivas da liberdade


com carácter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida.

2. As penas não são transmissíveis.


3. Nenhuma pena implica a perda de quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos,
nem priva o condenado dos seus direitos fundamentais, salva as limitações inerentes ao
sentido da condenação e às exigências específicas da respectiva execução.

Artigo 64

(Prisão preventiva)

1. A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na lei, que fixa os respectivos
prazos.

2. O cidadão sob prisão preventiva deve ser apresentado no prazo fixado na lei à
decisão de autoridade judicial, que é a única competente para decidir sobre a validação
e a manutenção da prisão.

3. Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada imediatamente e de forma


compreensível das razões da sua prisão ou de detenção e dos seus direitos.

4. A decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida de privação da liberdade


deve ser logo comunicada a parente ou pessoa da confiança do detido, por estes
indicados.

Artigo 65

(Princípios do processo criminal)

1. O direito à defesa e a julgamento em processo criminal é inviolável e é garantido a


todo o arguido.

2. As audiências de julgamento em processo criminal são públicas, salvo quando a


salvaguarda da intimidade pessoal, familiar, social ou da moral, ou ponderosas razões
de segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a exclusão ou restrição
de publicidade.
3. São nulas todas as provas obtidas mediante tortura, coacção, ofensa da integridade
física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações.

4. Nenhuma causa pode ser retirada ao tribunal cuja competência se encontra


estabelecida em lei anterior, salvo nos casos especialmente previstos na lei.

Artigo 66

(Habeas corpus)

1. Em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito a recorrer à providência


do habeas corpus.

2. A providência de habeas corpus é interposta perante o tribunal, que sobre ela decide
no prazo máximo de oito dias.

Prisão preventiva e outras medidas privativas da liberdade


 Fins da prisão preventiva.
Artigo 67.º, n.o 2 do CP. Artigos 232.º, n.o 1; 234.º; 245.º do C.P.P
As medidas coactivas, porque estamos diante de um sujeito, só poderão ter lugar
em um âmbito rigorosa e expressamente delimitado pela lei. Corolário:
As medidas coactivas só devem ser utilizadas quando absolutamente
necessárias (princípio da necessidade).
Nos termos previstos pela lei (princípio da legalidade ou da tipicidade). Só
se aplicam quando não possa ser substituída, sem inconvenientes graves para a
prossecução do interesse processual que visa realizar, por outra medida menos gravosa
para a liberdade do arguido (princípio da subsidiariedade).

A prisão preventivai não é uma condenação antecipada, mas sim, uma medida
cautelar. E o que pretende acautelar ou prevenir? Visa, dentre outras, por um lado,
assegurar a aplicação da lei penal (evitar que, diante da possível fuga do suspeito, pelo
temor da condenação, venha a ser frustrada a futura execução da sanção punitiva), e
por outro, a garantia da ordem pública (exemplaridade, no sentido de imediata reacção
ao delito, que tem como efeito satisfazer o premente sentimento de justiça da
sociedade em geral).

Dito de outro modo, as medidas de coacção visam responder a necessidades


processuais de natureza cautelar, tendo em vista a existência de determinados perigos,
em ordem a assegurar o bom andamento do processo e o efeito útil da decisão. Daí
extrai-se que sendo de índole processual e tendo natureza meramente cautelar, não
visam satisfazer as finalidades (retributivas e/ou preventivas) das penas ou das
medidas de segurança. Com frequência as finalidades das medidas de coacção,
mormente da medida de prisão preventiva, são confundidas com as finalidades das
penas. As medidas de coacção não são penas antecipadas e não visam satisfazer
necessidades de natureza substantiva. Os tribunais devem manter-se imunes a algumas
reacções emocionais veiculadas pela comunicação social, perante a não aplicação da
medida de prisão preventiva em alguns casos de crimes considerados graves, diz Dr.
Jorge Gonçalves.
 Quando pode ser autorizada a prisão (detenção) preventiva.

Em flagrante delito, artigos 232.º, n.o 1; 299.º e 298.º do CPP; 67.º do C.P.

Fora do flagrante delito, artigos 300.º a 304.º do C.P.P.


i
Aconselham os entendidos. A prisão preventiva pode ser injusta, por não
fundar em elementos robustos ou confiada ao prudente arbítrio de Juiz, mas é
necessária para a paz social (interesse público). É um mal, porém, um mal
necessário que tem como finalidade evitar um mal maior. E mais adiante diz,
acreditamos que o erro apontado a esta figura, o inconveniente, está no ser
humano, nas atitudes deste e não no instituto da mesma. In Karina Melissa
Cabral, Prisão Preventiva: um mal necessário.
 Formalidades imediatas no caso de prisão preventiva.
Artigos 232.º a 236.º; 297.º, n. os 1 e 2; 298.º, n.os 2, 3 e 4; 421.º e 175.º do
CPP.
O juiz é alheio a esta fase pré-processual, salvo no que respeita a decisões sobre
a prisão preventiva ou à aplicação provisória de medidas de segurança, porque essas
são do domínio da “quase jurisdição” (porque relativas à fiscalização do cumprimento
dos preceitos legais que permitem a detenção sem culpa formada ou a aplicação de
outras medidas restritas da liberdade individual).
 Prazos da prisão preventiva sem culpa formada.

Artigos 256.º a 261.º do C.P.P. artigo 60.º do C.P.


 Requerimento para apresentação judicial e “habeas corpus” como garantia
da liberdade provisória.

262.º a 268.º do CPP.

Prisão preventiva vs princípio da presunção de inocência


(constitucionalidade). Trabalhos em grupo.

Itinerário:

Formas de processo penal (para saber se há ou não


instrução).
Bases do processo penal (averiguação ou
investigação criminal).
Prisão preventiva e outras medidas privativas da
liberdade.
Prisão preventiva vs princípio da presunção de
inocência (constitucionalidade).
Atitudes do juiz, depois de lhe ser presente o arguido.
Remédios contra a prisão ilegal ou irregular.
Prazos da prisão preventiva sem culpa formada.
Instrução preparatória (novo CPP) com reforço do
papel do Juiz de Instrução Criminal.
Acusação em processo penal (novo CPP).
Posição do juiz face a acusação (novo CPP) com
reforço do papel do Juiz de Instrução Criminal.
Do julgamento.

Aula 10

Sumário: formas de processo penal

Objectivos da aula:
 Discente conheça as formas de processo penal.
 Critérios de determinação de formas de processo penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

10. Formas do processo penal moçambicano


Temos o processo comum e o processo especial.
É especial o que se aplica nos casos expressamente previstos pela lei, artigo
305.º do CPP.
a) Critérios para a determinação das formas de processo e
momentos da fixação de formas de processo.
Temos dois critérios para a fixação das formas de processo penal: quantitativo
(tem que ver com a moldura penal abstracta aplicável ao crime) e qualitativo (a
qualidade do ilícito e não a pena aplicável: contravenções ou transgressões).
Artigos 306.º; contrário sensu do artigo 420.º do CPP.
b) Formas de processo especial.
Artigo 306.º do CPP e 420.º do C.P.P.
 Sumário [artigos 420.º a 430.º do CPP – maior ou igual a 1 ano a menor
ou igual a 5 anos de prisão]. Deve ser detenção em flagrante delito, mpa maior de um
ano e menor ou igual a cinco anos; deve ser procedida pela autoridade judiciária (17.º
do C.P.P) ou entidade policial (SERNIC e PRM) e a audiência se iniciar no máximo de 48
horas ou, nos casos indicados no artigo 425.º, de 5 dias após a detenção. Natureza
contravencional, n.o 2 quando detidos em flagrante delito. Se não for possível, de forma
fundamentada, o M.oP.o relega a forma comum, libertando o arguido mediante TIR ou
ordena a apresentação ao JIC para a aplicação de medidas de coacção ou garantia
patrimonial, artigo 421.º, n.os 3 e 4 do C.P.P.
 Sumaríssimo [artigos 431.º a 435.º do C.P.P – 3 dias a 1 ano de prisão
ou multa] Critério quantitativo.
 Por difamação, calúnia e injúrias [segue a forma comum – instrução –
com as especificações dos artigos 436.º a 440.º do C.P.P.] – critério qualitativo.
 Transgressões [artigos 441.º a 450.º do C.P.P]. Critério qualitativo
independemente da moldura penal abstracta – artigo 441.º do C.P.P. artigo 14.º do
C.P].
c) Comum
Pena superior a 5 anos de prisão ou no caso de impossibilidade de julgamento
em 48 horas ou 5 dias (pedido de adiamento, pelo arguido, por falta de testemunhas,
assistente ou arguido, pedido do M. oP.o ou oficioso de diligências para a descoberta da
verdade material) nos crimes puníveis de 3 dias a 5 anos, com decisão fundamentada
do M.oP.o.

Fora de flagrante delito.


Pena de prisão maior é actualmente igual a acima de 2 anos.
Pena de prisão equivale a 3 dias a 2 anos. Artigo 4 da Lei n. o 24/2019, de 24 de
Dezembro, Lei que aprova o Código Penal.

Aula 11

Módulo: Bases do processo penal (averiguação ou investigação criminal)

Objectivos da aula:
 Conhecer como inicia a acção penal.
 Conhecer os elementos que devem constar no auto.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.

Grupo alvo: estudantes do quarto ano do Curso de Direito da UCM - Tete

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

Perguntas de partida: Como inicia um processo penal?

Como é que o M.ºP.º tem conhecimento de que houve um acto considerado


crime?

É verdade que, os magistrados do M.ºP.º ou agentes da polícia não são


curandeiros (adivinhos).

Resposta de base.
O M.ºP.º exerce a acção penal oficialmente (para tal, e por exemplo, recebe
todos os jornais gratuitamente) ou mediante denúncia [artigos 52.º; 59.º, n. o 2 al a);
284.º do C.P.P].

Como é feita a denúncia?

Qualquer um que tiver notícia de qualquer infracção penal poderá participá-la


(artigo 287.º do C.P.P):
 Ao juiz do local em que foi cometida;
 Ao magistrado do M.ºP.º;
 Aos órgãos do SERNIC e da polícia (vale como denúncia ao M.ºP.º).

Nota:
 É obrigatória a denúncia pelas autoridades policiais, sempre que tiverem
conhecimento de um crime e aos funcionários públicos quanto às infracções por eles
presenciadas (artigo 285.º do C.P.P).
 Ver a lei substantiva. Pois, se a lei fizer depender a participação a certas
pessoas, só e somente estas podem participar (semi-públicos e particulares).

Como se faz a participação?


 Se for ao M.º.P.º tem de ser escrita ou verbal e assinada pelo participante
ou outrem a seu rogo, e sem outras formalidades – artigo 289.º do C.P.P - (a reforma
da administração pública, prevê o reconhecimento das assinaturas pelas instituições,
artigo 53 do Regulamento que aprova as Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública, aprovado pelo Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro).
 Se for ao juiz ou outra entidade, para além do acima, pode ser verbal e
reduzida a auto pelo escrivão, depois de reconhecida a identidade do participante, que
deverá assinar o auto, declarando-se a razão porque o não assina, se não souber ou
não puder fazê-lo. Artigo 289.º, n.os 2 e 3 do CPP
 Se forem outras autoridades (polícias) devem receber as participações ou
mandar reduzir a auto as participações verbais. Artigos 288.º e 289.º, n. os 2 e 3 do CPP.
 Nas instituições públicas, sempre que houver a prática de um crime
público, deve-se enviar ofícios ao M.ºP.º para iniciar com a acção penal. Ou pode-se
levantar o auto e prender o delinquente. Artigo 285.º, n. o 1 al b) e 298.º, n.o 1 al b) do
CPP.
 Nas audiências, contacto com os autos, o M.ºP.º deve instaurar o
respectivo processo sempre que estiver diante de um acto criminoso. Artigo 368.º, al e)
do CPP.

Elementos que devem constar de um auto, indicando as circunstâncias da


infracção que tiver conhecimento, seus agentes, nomes, moradas e profissões das
testemunhas (105.º; 286.º; 289.º do CPP):
 Descrever os factos que constituem o crime;
 Identidade do infractor (nome, estado, profissão, naturalidade e
residência);
 Identidade do ofendido (nome, estado, profissão, naturalidade e
residência);
 Identidade da autoridade ou funcionário público que a presenciou (nome,
a qualidade e residência);
 Identidade das testemunhas, pelo menos duas, (nome, estado, profissão,
naturalidade e residência ou outros sinais que os possam identificar);
 Assinaturas (autoridade que o levantou ou mandou levantar, testemunhas,
se for possível, infractor, se quiser);
 Se deseja constituir-se em assistente (sendo obrigatória nos crimes
particulares, artigo 289.º, n.o 4 do C.P.P).

Artigos 286.º, n.o 3; 288.º; 290.º do CPP.


Fora disso - 286.º, corpo do C.P.P e 442.º do C.P.P - estaremos diante de auto
de denúncia.

Destino dos autos.

Se for requerida instrução (forma comum e por difamação, calúnia e injúrias),


esta inicia, artigos 307.º a 322.º; 436.º do C.P.P.

Se for sumária, sumaríssima e transgressões remete ao Tribunal para efeitos de


julgamento imediato, artigos 420.º; 421.º; 431.º; 445.º, n. o 2 do C.P.P.

Se não for requerida, aguarde-se pelo pagamento voluntário de multa, se for a


pena (artigo 444.º do C.P.P); prescrito o prazo estabelecido pela lei para o efeito,
remete-se ao tribunal. Artigo 445.º, n.o 2 do C.P.P.

Nenhum funcionário pode anular um auto de notícia ou declará-lo sem efeitos


(artigo 450.º do CPP). (dar exemplo, dos avisos de multa da PT e do CMCT). Há os que
se atrevem a rasgar os autos.

O juiz, nas transgressões, pode devolver a autoridade que levantou ou mandou


levantar o auto quando o mesmo não satisfaz os requisitos legais para o regularize ou
inicie com a instrução, artigo 445.º, n.º 1 do C.P.P. Eg. Falta do nome do motorista,
residência, matrícula do veículo, a norma infringida, etc.

Força probatória do auto de notícia (artigos 109.º, n. o 1 e 442.º, n.o 1


do CPP).
 Os autos de notícia levantados ou mandados levantar por um juiz, fazem
fé em juízo (em qualquer fase do processo), até prova em contrário. Mas, mesmo aqui
o juiz é livre de mandar proceder quaisquer diligências com vista a descoberta da
verdade material 445.º, n.º 1 do C.P.P).
 Se foram presenciados por outras autoridades, só fazem fé se a forma do
processo for de transgressões, sumária e sumaríssima (artigos 109.º, n.o 1 e 442.º, n.o
1 do CPP). Se se impor instrução, mesmo nestas formas, deixa de fazer fé.

Aula 12

Módulo: Bases do processo penal (averiguação ou investigação criminal)

Módulo: Instrução preparatória (novo CPP) com reforço do papel do Juiz de


Instrução Criminal

Objectivos da aula:
 Conhecer como se obtêm as provas indiciárias e quais são.
 Conhecer como se faz a respectiva recolha.
 Conhecer como se procede a investigação de um facto criminoso.
 Conhecer os meios para a obtenção de provas em processo penal.
 Conhecer as provas admitidas em processo penal.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia-a-dia do discente.

Grupo alvo: estudantes do quarto ano do Curso de Direito da UCM - Tete


Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

Perguntas de partida: Como se obtém provas da existência de um crime e se


se apura os seus autores?

É verdade que, os magistrados do M.ºP.º ou agentes da polícia não são


curandeiros (adivinhos).

Instrução preparatória

Notas: só há instrução na forma comum, sumária (se não houver


julgamento imediato) e por difamação, calúnia e injúrias.

O fim a que se destina o processo penal é a resolução de uma lide de natureza


penal, consistente no exercício pelo Estado do jus puniendi contra o infractor da norma
de carácter penal.
 Características da instrução preparatória.

A instrução dos processos-crime é secreta, inquisitória e dirigida por uma


autoridade administrativa (fase pré-processual), o M.ºP.º, artigos 236 da CRM; 4, n.º 1,
al c) da Lei n.º 22/2007, de 1 de Agosto e 59.º, n. o 2 al b); 308.º; 309.º, 312.º do
C.P.P.

O juiz só intervém para evitar excessos (juiz da paz), garantir que direitos
fundamentais não sejam grosseiramente violados. Eg Direito a liberdade e dignidade
humana, inviolabilidade do domicílio, das comunicações e da vida privada, artigos 313.º
e 314.º do C.P.P.

Ora, a instrução inicial do processo penal só pode ser eficaz se for cercada de
certos cuidados, o principal dos quais é o segredo das investigações. Principalmente aos
suspeitos. Dar a conhecer a estes todas as diligências praticadas, seria fornecer-lhes os
meios de, com facilidade, despistarem as mais hábeis investigações; admiti-los a
participarem e intervir na produção de provas, quer requerendo diligências, quer
mesmo só assistindo e fiscalizando as que o instrutor entendesse praticar, seria as mais
das vezes frustrar o êxito dessas diligências. Resumindo: não há contraditório na
instrução preparatória in Boletim do Ministério da Ivstiça, Instrução contraditória,
conceito e função, pag. 12.

 Meios de prova e fins de prova (artigos 155.º a 231.º do C.P.P).

Definem-se meios de prova como os meios materiais de que se lança mão para
a demonstração da veracidade de determinado facto. O fim da prova é a
demonstração da verdade em relação a existência de um facto ou coisa, no sentido
mais amplo.

Assim, e com relação aos meios de prova utilizados para reproduzi-la, a prova
pode ser pessoal ou real, conforme os meios usados sejam respectivamente pessoas
ou coisas. A prova é pessoal quando resulta da actividade de uma pessoa, como são
os depoimentos das testemunhas. A prova é real quando emana da observação ou da
própria existência nos autos da coisa em si, como é o caso dos documentos ou dos
instrumentos utilizados na prática do delito.

Prova pode ser entendida, no âmbito do processo penal, sob três significados
distintos:

a) Referindo-se à actividade probatória em si, como meio de demonstração


de um facto que vai influir na convicção do julgador. Neste sentido a definição de
TORNAGHI, "conjunto de actos praticados pelas partes, terceiros (testemunhas, peritos)
e até pelo juiz, para averiguar a verdade e formar a convicção desse último (julgador)".
No mesmo sentido AMARAL SANTOS, "é a soma dos factos produtores de convicção
dentro do processo". É o sentido a que se refere o Código Civil quando diz, no artigo
341.º, que "as provas têm por função a demonstração da realidade dos factos".
b) Como resultado dessa actividade probatória, que é o sentido expresso nos
artigos 157.º do CPP e 655.º do CPC: "salvo quando a lei dispuser diferentemente, a
prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da autoridade
competente".
c) Como se referindo aos meios de prova, em si, que é o sentido dos artigos
523.º, n.o 1 do CPC 156.º, n. o 1 do CPP – "as provas são requeridas com os articulados"
e – "são admissíveis provas que não forem proibidas por lei".

Objecto da prova (artigo 155.º do C.P.P) são "os factos que devem ser
provados; em princípio são todos os factos juridicamente relevantes no processo ". Ou,
no dizer de FREDERICO MARQUES, " a coisa, facto, acontecimento ou circunstância que
deva ser demonstrada no processo". Trata-se, portanto, de tudo o que possa, de
alguma maneira, influenciar na reconstituição do facto delituoso e na demonstração de
circunstâncias pessoais do agente. CAVALEIRO DE FERREIRA faz menção à natureza
diversa dos factos probandos, bem como a alguns critérios em referência aos quais se
pode estabelecer uma classificação:

a) Quanto à sua relevância, podem ser principais e acessórios, desde que sejam
propriamente condicionantes da decisão a ser proferida ou se refiram simplesmente à
eficácia probatória dos meios de prova (por exemplo, a idoneidade dos peritos, a falta
de impedimento de uma testemunha);

b) Quanto ao âmbito de sua verificação, podem se produzir interiormente e


exteriormente, conforme digam respeito à vida psíquica do agente (pensamentos,
motivos, intenção, erro) ou se verifiquem no mundo exterior;

c) Quanto ao efeito jurídico que condicionam, podem ser constitutivos,


impeditivos, modificativos ou extintivos do direito alegado (ou da responsabilidade
penal do agente), que acarretam diferentes soluções na questão relacionada ao ônus
da prova, mesmo no sentido mais restrito que tal questão assume no âmbito do
processo penal.
Importante notar que não se confundem as expressões objecto da prova e
objecto de prova. A primeira expressão refere-se aos factos ou circunstâncias
directamente relacionadas ao facto em apuração, ou mesmo aqueles com base nos
quais se possa inferir a existência de factos que sejam objecto da apuração, enquanto
que a segunda expressão refere-se às coisas passíveis, em tese, de serem provadas
(isto é, de serem objectos de prova): os factos em si.

MALATESTA elenca como espécies de prova indireta a presunção e o indício.


Define presunção como sendo "a afirmação da ligação ordinária de uma qualidade a um
sujeito", seja este sujeito homem ou coisa, podendo ser absoluta ( jures et de jure) ou
relativa (júris tantum), conforme admita ou não prova em contrário.

Portanto, se se presume uma coisa, toma-se como verdadeiro um facto,


independente de prova, funcionando o raciocínio da seguinte maneira: geralmente tal
facto está ligado a tal outro por uma relação de causalidade, dependência ou outra
qualquer (por exemplo, a paternidade do marido, na constância do casamento); logo,
se aconteceu o primeiro facto, deve provavelmente ter acontecido também o segundo,
o que se pode aceitar independente de prova. Continuando no exemplo: geralmente, na
constância do casamento a mulher gera/tem filhos do próprio marido. Portanto, se a
mulher casada gera/tem um filho, presume-se que seu marido seja o pai da criança.

Já indício, na definição expressa do Código de Processo Penal Brasileiro, é a


"circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o facto, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias " (artigo 239). Nosso
artigo 158.º do C.P.P. De grande utilização no processo penal, onde nem sempre a
prova directa é possível de obter-se dadas as circunstâncias do delito ou de sua prática,
na prova indiciária deduz-se o desconhecido (o facto probando) do conhecido (o
indício), àluz do princípio da causalidade. Uma vez que tal raciocínio é falível, adverte
CAVALEIRO DE FERREIRA que a prova indiciária é tanto mais frágil quanto mais
numerosas forem as ilações intermediárias entre o indício e a conclusão, ou quanto
menor for o número de factos indiciantes sobre que se baseia a ilação.
 Buscas e apreensões.

Artigo 56 da CRM

(Princípios gerais)

1. Os direitos e liberdades individuais são directamente aplicáveis, vinculam as


entidades públicas e privadas, são garantidos pelo Estado e devem ser exercidos no
quadro da Constituição e das leis.

2. O exercício dos direitos e liberdades pode ser limitado em razão da salvaguarda de


outros direitos ou interesses protegidos pela Constituição.

3. A lei só pode limitar os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente


previstos na Constituição.

4. As restrições legais dos direitos e das liberdades devem revestir carácter geral e
abstracto e não podem ter efeito retroactivo.

Artigo 65 da CRM
(Princípios do processo criminal)
1. O direito à defesa e a julgamento em processo criminal é inviolável e é garantido a
todo o arguido.
2. As audiências de julgamento em processo criminal são públicas, salvo quando a
salvaguarda da intimidade pessoal, familiar, social ou da moral, ou ponderosas razões
de segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a exclusão ou restrição
de publicidade.
3. São nulas todas as provas obtidas mediante tortura, coacção, ofensa da integridade
física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações.
4. Nenhuma causa pode ser retirada ao tribunal cuja competência se encontra
estabelecida em lei anterior, salvo nos casos especialmente previstos na lei.

Artigo 68 da CRM

(Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)

1. O domicílio e a correspondência ou outro meio de comunicação privada são


invioláveis, salvo nos casos especialmente previstos na lei.

2. A entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade só pode ser ordenada pela
autoridade judicial competente, nos casos e segundo as formas especialmente previstas
na lei.

3. Ninguém deve entrar durante a noite no domicílio de qualquer pessoa sem o seu
consentimento.

Artigo 71 da CRM

(Utilização da informática)

1. É proibida a utilização de meios informáticos para registo e tratamento de dados


individualmente identificáveis relativos às convicções políticas, filosóficas ou ideológicas,
à fé religiosa, à filiação partidária ou sindical e à vida privada.

2. A lei regula a protecção de dados pessoais constantes de registos informáticos, as


condições de acesso aos bancos de dados, de constituição e utilização por autoridades
públicas e entidades privadas destes bancos de dados ou de suportes informáticos.

3. Não é permitido o acesso a arquivos, ficheiros e registos informáticos ou de bancos


de dados para conhecimento de dados pessoais relativos a terceiros, nem a
transferência de dados pessoais de um para outro ficheiro informático pertencente a
distintos serviços ou instituições, salvo nos casos estabelecidos na lei ou por decisão
judicial.

4. Todas as pessoas têm o direito de aceder aos dados coligidos que lhes digam
respeito e de obter a respectiva rectificação.

Das normas a vermelho claramente notamos que direitos fundamentais


contendem com as buscas.

O Código de Processo Penal Moçambicano distingue meios de prova dos meios


de obtenção da prova, regulando ambas matérias respectivamente no livro III,
títulos I e II e Título III. MARQUES DA SILVA diz referir-se a expressão meios de
obtenção da prova à "actividade de recolha dos meios de prova", acrescentando que
esta actividade pode, em princípio, ter lugar em qualquer fase processual.

Eg As escutas não são meios de provas, mas sim meios de obtenção da prova.
Enquadrando-se, as buscas e apreensões, nos meios de obtenção de provas.

Os delinquentes procuram normalmente evitar a existência de qualquer prova,


donde a impossibilidade de excluir da instrução qualquer meio probatório, mimeo
apontamentos do Dr. Rafael Sebastião.

 Competências para ordenar as buscas e a sua execução.

É competência exclusiva do poder judicial, artigos 313.º e 314.º do CPP. Visto


que contende com os direitos fundamentais, tais sejam, o da inviolabilidade do
domicílio e da correspondência, artigo 68 da CRM, e do direito de propriedade, artigo
82 da CRM. Ver mais as normas constitucionais transcritas acima.

 A prova testemunhal.

É uma prova pessoal admitida, artigos 159.º a 173.º do CPP.


 Dever de comparência [artigos 163.º, al a), sob pena de 132.º, n. os 1 e 2
do C.P.P]; atenção o artigo 376.º do C.P.P.
 Dever de depor [artigos 101.º, n.o 4; 163.º, al b); e 172.º do C.P.P.]
 Dever de prestar juramento ou compromisso de honra (dever da verdade)
artigos 101.º, n.os 1 e 3; 163.º, als b) e d) do CPP. Excepto artigos 179.º do C.P.P.
 Forma, artigos 165.º e 171.º do CPP.
 Pode pedir uma indemnização (164.º, n.o 1, al d) e 413.º, n.º 4 do CPP).
 A prova documental.

Ver os artigos 199.º a 205.º do CPP. É assente que não há livre convicção, artigo
204.º diferente 157.º e 400.º do CPP.

 Também são admitidas provas circunstanciais – artigos 180.º; 181.º a


183.º; 184.º; 185.º a 198.º do C.P.P - ( vg. a marca do sapato, ADN do arguido, passou
o dia a discutir com a vítima, sempre prometeu fazer mal, único que sabia da existência
de dinheiro, etc). Razão. Os delinquentes procuram normalmente evitar a existência de
qualquer prova, donde a impossibilidade de excluir da instrução qualquer meio
probatório, mimeo apontamentos do Dr. Rafael Sebastião.O criminoso age quase
sempre na esperança de não ser descoberto e de ficar impune.

Notas importantes:

 Provas, no verdadeiro sentido, são as produzidas publicamente pelo


tribunal – da leitura dos artigos 307.º, n.o 1; 385.º; 386.º; 405.º, n.o 1 do C.P.P.
 O arguido não é objecto do processo (investigam-se os factos, esses sim,
é que são objecto da instrução e processo). Ver artigos 68.º; 69.º; 155.º; 156.º; 174.º;
175.º, n.os 4 e 5; 388.º; 389.º e 390.º do C.P.P.
 Meios de produção de provas e provas.
 Primeiro apurar o que aconteceu, para depois procurar quem foi o seu
autor (pode correr em simultâneo). Ver os elementos constitutivos do crime. Por
exemplo: houve morte. Esta pode ser natural, violenta ou acidental. Então o que vamos
procurar? Princípio da delimitação do objecto de estudo e da exclusão de partes.
 Inviolabilidade do direito de propriedade e do domicílio. Direitos
fundamentais. Por isso, a sua agressão só pode ser autorizada por um juiz (evitar
excessos do Estado, auto limitação).
 A aplicação da lei penal está condicionada a verificação dos factos.
 Demonstrar a realidade de um facto é alcançar um juízo de certeza (não
certeza matemática). Juízo histórico e juízo lógico. Verdade material e verdade lógica do
silogismo. O António comeu cinco quilos de fogo. Na lógica formal está correcto. Na
lógica material tal não é humanamente imaginável.
 Por uma razão de economia processual e sobretudo para poupar aos
arguidos cuja culpabilidade não seja verosímil, aos incómodos e vexame do julgamento
final, com toda a publicidade, exige-se que o tribunal se pronuncie sobre aquela
verosimilhança, antes da abertura do julgamento final, in Boletim do Ministério da
Ivstiça, Instrução contraditória, conceito e função, pag. 11.
 Em certos actos processuais a lei não exige a prova dos factos, mas a sua
verosimilhança ou até uma fundada suspeita, é o caso da instrução. Pelo que não
estamos a falar de prova, no verdadeiro sentido, mas sim de provas que sirvam para
fundamentar o juízo de suspeita. Essa ideia retira-se do facto de que o que “está
provado, não carece de mais prova.” Pelo que prova que serve para decidir é a que é
produzida na audiência pública (julgo julgamento).
 Boa regra e legal: investigar para prender e não o contrário. A prisão não
faz parte da investigação mas visa evitar certos perigos (fuga, continuação de mesmas
práticas, ameaçar as vítimas ou destruir os meios de prova). Estamos no âmbito do
interesse público e superior de ver a justiça penal feita, e bem feita.
 Direito Probatório, chamam alguns tratadistas.
 Não há prova específica para cada ponto.
 O que não conseguiu por circunstâncias independentes da sua vontade
(querer).
 A lição da vida. Pactuaram, entre si,
 O caso julgado, num processo, faz lei entre as partes envolvidas.

Aula 16

Módulo: Acusação em processo penal (novo CPP)

Objectivos da aula:
 Conhecer como se deduz uma acusação.
 Conhecer qual é o posicionamento do M.ºP.º depois de encerrada a instrução
dos autos.
 Conhecer os elementos que devem constar no despacho de acusação ou de
abstenção.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Grupo alvo: estudantes do quarto ano do Curso de Direito da UCM - Tete

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

Acusação em processo penal

Relembrar só há acusação em processo comum (por difamação, injúria e


calúnia). Enquanto nos restantes a remessa dos autos ao tribunal para efeitos de
julgamento equivale a acusação.

Quando é que se considera encerrada a instrução (aula anterior – artigos 307.º e


ss do C.P.P)?
Artigo 323.º do C.P.P

 Com arguidos detidos ou sob obrigação de permanência na habitação – 6 (seis)


meses
 Sem arguidos detidos – 8 (oito) meses.

O que se faz? Artigo 322.º, n.o 3 do C.P.P.

Concluída a instrução os autos ficam a guarda do M. oP.o ou remetidos ao Juiz


competente (JIC para a abertura de audiência preliminar e juiz de julgamento para o
julgamento sumário).

Encerrada a instrução preparatória o M.ºP.º pode tomar as seguintes posições:

a) Dedução da acusação, artigo 323.º, n.o 1 do C.P.P;


b) Abstém-se de acusar, artigos 323.º, n.o 1 e 327.º do C.P.P
(ordenando o arquivamento dos autos ou aguardar a produção de melhor
prova).
c) Suspende provisoriamente o processo, artigo 328.º e 329.º,
ambos do C.P.P.
a) Se entende que há prova bastante dos elementos da infracção, seus
agentes e correspondente responsabilização, deduzirá acusação, tomando posição
sobre a situação do arguido (liberdade provisória ou não), artigos 330.º e 331.º, ambos
do C.P.P.
b) Se entende que, o tipo legal de crime dispensa da pena, com anuência do
assistente se existir, decide pelo arquivamento. Ver também o artigo 327.º do CPP.
c) Se entende não haver prova bastante do crime e seus agentes ou se
conclui pela inexistência de crime, abstém-se de acusar e ordena que os autos fiquem a
aguardar a melhor prova ou se arquivem, ordenando a notificação do denunciante.
Artigo 324.º do C.P.P.
 Dedução da acusação e sua representação em juízo.

A acusação é deduzida logo que é finda a instrução, artigos 322.º, n. o 3; 330.º e


331.º do CPP.

Quanto a forma é livre.

Noutras formas: simples promoção de julgamento.

 Abstenção de acusação
Artigos 324.º a 322.º do CPP.
 Arquivamento em caso de dispensa da pena

Artigo 327.º do C.P.P.

 Suspensão provisória do processo

Artigos 328.º e 329.º ambos do C.P.P.

Qual é possível atitude do arguido e o assistente diante da acusação?

Depois de notificados da acusação ou do arquivamento podem:

Assistente: deduzir a sua acusação particular (artigos 325.º; 330.º, n. o 2 do


C.P.P) ou requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o 1 al b) e n.os 2 e
3 do C.P.P] ou ainda suscitar a intervenção do superior hierárquico do procurador
(artigo 325.º, n.o 2 do C.P.P).

Arguido: requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n. o 1 al a) e


n.os 2 e 3 do C.P.P].
Prazos: 5 dias, 8 dias e 30 dias (artigos 325.º, n. o 2; 330.º, n.o 3; 333.º, n.o 1 do
CPP.

Aula 17
Objectivos da aula:
 Conhecer qual é o posicionamento do juiz de instrução criminal depois do
recebimento da acusação deduzida pelo M.oP.o.
 Conhecer como se deduz uma pronúncia ou de não pronúncia.
 Conhecer os elementos que devem constar no despacho de pronúncia e
não pronúncia.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Grupo alvo: estudantes do quarto ano do Curso de Direito da UCM - Tete

Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.
17. Posição do juiz face a acusação (novo CPP) com reforço do papel
do Juiz de Instrução Criminal
 Ordenar diligências complementares (audiência preliminar e debate
preliminar).
 Despacho de pronúncia ou não pronúncia.

No novo C.P.P está patente a presença reforçada do juiz de instrução criminal


(no sentido de existência de tribunal especializado), artigos 6.º da Lei n. o 25/2019, de
26 de Dezembro – aprova o C.P.P; 19.º; 57.º, n. o 2; 175.º; 176.º; 313.º; 314.º; 332.º -
356.o do C.P.P.

Com ele aparecem duas novas fases processuais, embora interligadas: audiência
preliminar e debate preliminar.
Nota importante: essa fase só e somente existe na forma comum e é de
carácter facultativo, cfr artigos 2.º, n.o 3 e 332.º, n.o 2, ambos do C.P.P.

Então, qual é a natureza jurídica da audiência preliminar e do debate preliminar.

Hipóteses:
 É análise à acusação deduzida pelo M.oP.o?
 É um pré-julgamento do feito?
 É meio de defesa do arguido?
 É recurso judicial do assistente ou quem tem poderes como tal?

Pelo fim – função – a audiência preliminar tem por finalidade obter uma decisão
de submissão ou não da causa a julgamento, através da comprovação da decisão de
deduzir acusação ou arquivar os autos, artigo 332.º, n. o 1 do C.P.P. Perguntaremos: é
um recurso do arguido ou assistente; ou ainda, uma fiscalização dos actos do M. oP.o
(artigo 325.º do C.P.P)?

Pela leitura do conteúdo do requerimento para a sua abertura, artigo 333.º, n. o 2


do C.P.P, temos:
i. A motivação de facto e de direito para a discordância com à acusação ou
não acusação.

ii. Indicar actos a praticar pelo juiz de instrução criminal e os factos que se
pretende provar.

iii. Indicar os meios de prova que não tenham sido considerados na


instrução.
Poder-se-ia confundir com a instrução contraditória 9, no antigo Código; que
visava fundamentalmente para o arguido enfraquecer os elementos da acusação, e para
o M.oP.o, complementar os elementos indiciadores.

Quanto ao âmbito, a audiência preliminar compreende o conjunto de actos que o


juiz de instrução criminal entende levar a cabo, sem limitação; retira-se da leitura
conjugada dos artigos 334.º, n.o 2; 335.º, n.o 1; 336.º; 337.º; 338.º; e 342.º do C.P.P.

A fase de audiência preliminar é facultativa na medida em que só se realiza a


pedido de indivíduos com legitimidade para o efeito (arguido e assistente), artigos
332.º, n.o 2; 333.º; 343.º, n.o 1 do C.P.P.

Terminada a fase da audiência preliminar (conjunto de diligências que podem ser


delegadas, para a sua efectivação, ao SERNIC – artigo 336.º do C.P.P) seguir-se-á a
fase do debate preliminar, que é oral e contraditório, no qual podem participar o M. oP.o,
o arguido, o defensor, o assistente e o seu representante, artigos 335.º, 343.º e 344.º
do C.P.P.

Qual é a finalidade do debate preliminar? Permitir uma discussão perante o juiz


de instrução, por forma oral e contraditória, sobre se, do decurso da instrução e da
audiência preliminar, resultaram indicíos de facto e elementos de direito suficientes
para justificar a submissão do arguido ao julgamento, artigo 344.º do C.P.P.

O debate preliminar é contínuo, cfr artigos 350.º e 373.º do C.P.P. No entanto,


se houver alteração substancial da acusação ou do requerimento para a abertura da
audiência preliminar, o M.oP.o abre obrigatoriamente a instrução quanto a esses factos,

9
Com finalidade de se dar maior celeridade aos processos-crime deixou, pela
Lei n.º 9/92, de 6 de Maio, de ser obrigatória, em processo de querela, a
realização da instrução contraditória. Só tendo lugar somente quando
requerida pelo M.ºP.º para esclarecer e completar a prova indiciária da
acusação, ou pelo arguido, para sugerir diligências destinadas a ilidir ou
enfraquecer aquela prova e a preparar a sua defesa; o Juiz poderá
oficiosamente ordenar a abertura da instrução contraditória sempre que julgue
necessário realizar diligências complementares de prova, antes de receber ou
rejeitar a acusação.
artigo 349.º, n.os 2 e 3 do C.P.P. Dada a liberdade concedida o juiz pode
aleatoriamente, voltar a audiência preliminar.

Conclui-se que é um meio de defesa para o arguido enfraquecer a acusação do


M.oP.o e para apontar deficiências do mesmo despacho por parte do assistente, artigo
333.º, n.o 1 al b) do C.P.P.

Prazos de duração da audiência preliminar


 Arguido preso ou sob obrigação de permanência na habitação a duração
máxima é de 2 (dois) meses, ou 3 (três) meses quando estivermos diante de caso de
terrorismo ou criminalidade violenta ou altamente organizada, artigos 256.º, n. o 2 e
352.º, n.os 1 e 2 do C.P.P.

 Arguido não preso ou não sob obrigação de permanência na habitação a


duração máxima é de 4 (quatro) meses, cfr artigo 352.º, n. o 1 do C.P.P.

Findo o prazo ou encerrado o debate preliminar o juiz de instrução criminal


profere, ditando para a acta, o despacho de pronúncia ou não pronúncia, artigo 353.º,
n.o 1 do C.P.P podendo fundamentar pela remissão para as razões de facto e de direito
enunciadas na acusação ou no requerimento de abertura da audiência preliminar.

Ou dada a complexidade das questões a resolver ordena que os autos lhe sejam
conclusos a fim de proferir o despacho, no prazo de 10 (dez) dias, de pronúncia ou não
pronúncia, marcando a data para a sua leitura, artigo 353.º, n. o 2 do C.P.P.

O despacho de pronúncia e não pronúncia inicia pelo conhecimento das


nulidades e outras questões prévias ou incidentais de que possa conhecer, artigo 354.º,
n.o 3 do C.P.P.

Noção e finalidade
“Stricto sensu”, a pronúncia é despacho subsequente à acusação do M.ºP.º, em
que o Juiz – apreciado e classificado o processo e conhecidas as várias questões prévias
– descreve de forma precisa, todos os factos indiciariamente arrolados e
potencialmente operantes para a decisão de mérito da causa. Justifica-se que assim
seja pela gravidade e vexame que sempre implica sujeitar alguém a um julgamento
criminal, por isso, a intervenção judicial garante ao arguido que tal só sucederá quando
houver um motivo sério para tal. Para além da função da garantia, é pelo despacho de
pronúncia que se determina os precisos termos da acusação, do objecto do processo, e,
consequentemente, é ele que delimita os poderes cognitivos e decisórios do Tribunal 10.

Arguidas nulidades, prazo de 8 (oito), o arguido pode recorrer sobre o despacho


que os desconsiderar, artigo 356.º, n.o 2 do C.P.P. Mas não o pode fazer em relação ao
despacho de pronúncia pelos factos constantes da acusação do M. oP.o, artigos 356.º, n.o
2; 451.º e 452.º, n.o 1 al f) do C.P.P.

Do julgamento

Terminada essa fase os autos são remetidos ao tribunal competente para efeitos
de julgamento, artigo 356.º, n.o 1 do C.P.P.

Qual é a atitude do juiz de julgamento ou da causa?

Artigos 356.º e 357.º do C.P.C.

Procede ao saneamento dos autos


 Marcando a data de produção de provas (artigos 357.º, n. o 1 e 358.º do
C.P.P).

10
Quer dizer o poder de cognição do Tribunal na sentença não pode estender-se
a factos que não constem da acusação e da pronúncia. [cfr artigos 384.º, n. o
4; 403.º; 404.º; 413.º, n.o 1 al c) do CP], obedecendo a necessidade de
assegurar a defesa do arguido, que não é justo seja colhido de surpresa no
julgamento por uma acusação que não esperava, por factos com que não contava
o que, por isso, não pode contestar a tempo. Princípio da vinculação
temática.
 Rejeitando a acusação por ser manifestamente infundada (artigo 357.º,
n.os 2 e 3 do C.P.P).

Marcada a data de produção de provas e notificada ao arguido; este pode 11: em


10 (dez) dias apresentar, querendo (ónus), a contestação, acompanhada do rol de
testemunhas, dos documentos de suporte da defesa, e da indicação de peritos e de
consultores técnicos. Se não apresentar a contestação pode o fazer na audiência
conquanto apresente antes no prazo de 10 (dez) dias o rol de testemunhas e da
indicação de peritos e de consultores técnicos, artigo 359.º do C.P.P.
Nota: não pronúncia é diferente de despronúncia..

Aula 18

18. O Juiz da Causa

 O julgamento e seus princípios (oralidade e interrogatório dos


sujeitos e intervenientes processuais)

Objectivos da aula:
 Conhecer os princípios que orientam a audiência de produção de provas.

Metodologia: expositiva e interactiva. Relacionamento, através de exemplos, com o


dia a dia do discente.

Grupo alvo: estudantes do quarto ano do Curso de Direito da UCM - Tete

11
Não há recurso, cfr artigo 452.o, n.o 1 al g) do C.P.P.
Material didáctico: CRM, CPP, CP, Manuais de Processo Penal, Lei n.º 24/2007, de 20
de Agosto.

Clássicos jurídicos, Jorge de Figueiredo Dias, Direito Processual Penal, 1.a edição,
Reimpressão 1974, Coimbra Editora, 2004.

O julgamento e seus princípios (oralidade e interrogatório dos sujeitos e


intervenientes processuais).

Princípio do contraditório.

Dever de o juiz, perante qualquer assunto que tenha que discutir, ouvir as várias
razões da acusação e da defesa. Artigos 368.º, al f); 372.º; e 385.º, n. o 2 do CPP.

Princípio da concentração.

Continuidade nas audiências. Impõe que o conjunto de actos processuais que


constituem a audiência se pratique de forma o mais possível concentrada no tempo.
Artigo 373.º do CPP. Ter memória dos factos e evitar a manipulação da prova.

Princípio da imediação.

Contacto pessoal entre o juiz e os diversos meios de prova. A convicção do


tribunal deve basear-se na prova produzida e examinada na audiência. Artigos 386.º;
400.º; 401.º; 408.º do C.P.P.

Princípio da oralidade.

Associada a imediação temos a oralidade. Maior contacto entre o julgador e as


provas. Avaliar a credibilidade visual. Um contacto com a pessoa é diferente de relato
escrito. Artigos 106.º; 386.º; 390.º a 399.º; 400.º; 401.º; 408.º do C.P.P.
Princípio da identidade do juiz.

Dos dois princípios resulta a necessidade de os juízes que participam na


audiência serem os mesmos do princípio ao fim e também serem eles que decidem dos
factos considerados e não provados. Artigos 16.º; 407.º, n. o 1 al b); 409.º, n.o 2 do
C.P.P.

Princípio da publicidade.

Implica que à audiência possa assistir qualquer cidadão e que sejam admissíveis
relatos públicos da mesma. É meio de eliminar quaisquer desconfianças sobre a
independência e imparcialidade com que é administrada a justiça penal. Artigos 65, n.º
2 da CRM; 96.º; 97.º; 98.º; 365.º e 407.º do CPP.

Princípio da vinculação temática

Princípio da aquisição processual ou da preclusão

Deliberação e sentença

Finda a produção de provas, feitas as alegações orais e dada a oportunidade


para o arguido palavras em sua defesa, os juízes deliberam por acórdão.
Fundamentando a sua convicção. Por fim o juiz prolata a sua sentença que conterá os
elementos patentes nos artigos 8.º, 413.º, 414.º a 419.º do C.P.P e é lida
publicamente, logo após o encerramento ou dentro de 10 (dez) dias.

Recurso penal

Não se conformando com a sentença e ou outras decisões interlocutórias o


M.oP.o, o arguido, o assistente, parte civil ou aquele que tiver sido condenado podem
recorrer, artigos 451.º e 453.º do C.P.P. Relembrar que há recurso obrigatório por parte
do M.oP.o das decisões que apliquem pena de prisão efectiva igual ou superior de 10
(dez) anos, artigo 454.º do C.P.P.
Prazos para a interposição do recurso.

20 (vinte) dias, em processo comum e 8 (oito) dias no processo especial, artigo


466.º do C.P.P. Com o requerimento deverá fazer-se acompanhar de alegações e
conclusões do recurso, artigos 466.º, n.os 3, 4 e 5 e 467.º, ambos do C.P.P.

As outras partes contra-interessadas com a decisão apresentam suas respostas


em 8 (oito) dias. Findo o prazo o juiz profere o despacho de admissão ou não
admissão, artigo 470.º do C.P.P. Das decisões interlocutórias pode sustentar ou reparar
a decisão, artigo 469.º do C.P.P.

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