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Processual
Penal
Frequência
O
direito
processual
penal
é,
em
traços
gerais,
o
conjunto
de
normas
jurídicas
que
possibilita
a
aplicação
do
direito
penal
aos
casos
concretos.
Esta
definição
permite
concluir
que,
apesar
do
direito
penal
ser
independente
do
direito
processual
penal,
existe
entre
eles
uma
unidade
de
sentido,
estando
numa
relação
de
estreita
conexão,
isto
é,
para
conseguir
aplicar
verdadeiramente
as
normas
de
direito
penal
é
necessário
um
processo
que
nos
permite
verificar
de
facto
os
vários
elementos
do
tipo.
O
artigo
2º
do
CPP
diz-‐nos
isto
mesmo:
o
direito
penal
não
se
consegue
efetivar
sem
o
direito
processual
penal
mas
o
direito
processual
penal
também
só
faz
sentido
tendo
o
direito
penal
por
trás.
A
consequência
desta
unidade
de
sentido
não
é
a
inexistência
de
autonomia
destes
ramos
do
direitos,
mas
antes
a
de
que
a
atribuição
de
responsabilidade
penal
apenas
é
possível
quando
feita
através
de
um
processo
penal.
Assim,
aquilo
que
o
processo
penal
vai
fazer
é
encontrar
a
norma
necessária
para
imputar
determinado
crime
a
determinado
agente,
determinando
o
facto
criminal,
o
autor
desse
facto
e
a
consequência
jurídica
do
crime.
O
processo
civil
está
na
disponibilidade
das
partes,
ou
seja,
uma
parte
só
demanda
a
outra
se
quiser.
Contudo,
no
processo
penal
um
sujeito
não
pode
dispor
se
quer
ou
não
ser
julgado
-‐
há
aqui
duas
diferenças:
neste
há
sujeitos
e
não
partes,
para
além
de
que
aqui
não
está
em
causa
a
disponibilidades
das
partes.
Há
muitas
normas
de
processo
penal
que
são
verdadeiras
normas
materiais,
ou
seja,
substantivas
-‐
que
cristalizam
princípios,
por
exemplo.
O
processo
civil
não
nos
tira
a
liberdade
mas
o
processo
penal
fá-‐lo,
por
isso
temos
neste
último
normas
materiais
-‐
por
exemplo,
o
princípio
da
presunção
da
inocência.
O
processo
penal
tem
uma
espécie
de
micro
Constituição
no
artigo
32º
do
CRP,
não
sendo
possível
entender
este
direito
sem
outras
normas
da
CRP
(artigo
27º).
O
mesmo
não
ocorre
com
o
processo
civil,
o
qual
não
está
dependente
da
Constituição.
Postas
as
diferenças
com
o
direito
processual
civil,
importa
entender
que
o
direito
processual
penal
pertence
pois
à
“ciência
do
direito
penal
total
ou
conjunta”
-‐
expressão
de
V.
Liszt
-‐
relacionando-‐se
por
isso
com
a
criminologia
e
a
política
criminal
-‐
o
ponto
6,
alínea
a)
do
preâmbulo
do
CPP
mostra-‐nos
o
próprio
legislador
a
assumir
esta
relação.
Ao
passo
que
o
direito
penal
estabelece
tipos
legais
de
crime,
a
criminologia
é
que
se
vem
preocupar
com
a
sociologia,
distinguindo
os
crimes
bagatelares
e
a
criminalidade
mais
grave;
a
criminologia
aparece
também
associada
à
teoria
da
etiquetagem
(labelling
approach),
a
qual
nos
diz
que
alguém
acusado
de
algum
crime,
ainda
que
seja
inocente,
já
está
socialmente
etiquetado
como
criminoso
(cria-‐se
um
estigma
social
em
torno
destes
sujeitos).
A
vitima,
que
tinha
pouca
importância
no
processo
penal
devido
à
forte
relação
com
a
criminologia,
é
também
hoje
central
neste
ramo
do
direito
devido
a
uma
mudança,
nomeadamente
no
artigo
67º-‐A
do
CPP
(estatuto
da
vítima).
Quanto
à
ligação
com
a
política
criminal,
o
legislador
não
pode
ignorar
que
o
combate
a
determinados
crimes
é
tido
como
prioritário
-‐
por
exemplo:
o
terrorismo
(alínea
i)
do
artigo
1º
do
CPP).
O
objeto
do
processo
penal,
para
o
legislador,
é
o
crime,
o
qual
vem
materialmente
definido
no
alínea
a)
do
artigo
1º
do
CPP.
As
definições,
do
mesmo
artigo,
que
se
seguem
mostram
que
o
código
se
preocupa,
em
especial,
com
determinadas
espécies
de
crime.
Numa
formulação
de
Figueiredo
Dias
baseada
numa
expressão
de
Roxin,
o
processo
penal
“é
a
forma
através
da
qual
as
proposições
de
fins
político-‐criminais
se
vazam
no
modus
da
vigência
jurídica”.
Função
e
âmbito
do
direito
processual
penal
O
processo
penal
tem
um
grande
problema:
é
esquizofrénico
-‐
ele
assume
que
prossegue
finalidades
antinómicas
(que
se
contrariam
entre
si),
pelo
que
as
mesmas
deverão
obedecer
a
um
princípio
de
concordância
prática.
Assim,
o
direito
processual
penal
tem
três
grandes
finalidades:
(1)
a
Descoberta
da
Verdade
Material
e
a
Realização
de
Justiça
-‐
a
descoberta
da
verdade
material
tem
que
ser
feita
inequivocamente
de
forma
justa
no
caso
concreto,
segundo
o
direito
substantivo
e
nos
termos
processualmente
admissíveis
e
válidos
(p.ex:
artigo
126º
do
CPP;
a
Inquisição
institui
um
processo
-‐
faz
a
descoberta
da
verdade
através
da
confissão
mas
fá-‐lo
usando
métodos
pouco
ortodoxos,
ou
seja,
faltava
a
justiça
nesta
descoberta);
(2)
a
Proteção
dos
Direitos
Fundamentais
do
cidadão
perante
o
próprio
Estado
-‐
o
processo
penal
para
cumprir
a
finalidade
da
descoberta
da
verdade
material
assume
a
violação
de
determinados
direitos
fundamentais,
no
entanto,
como
o
faz
conforme
uma
realização
de
justiça,
estabelece
limites
para
estas
violações:
se
estes
limites
forem
ultrapassados
o
juiz
tem
que
intervir
em
nome
da
proteção
dos
direitos
fundamentais
do
cidadão.
Posto
isto,
esta
finalidade
acaba
por
ser
um
pouco
antinómica
com
a
anterior.
Por
exemplo:
escutas
telefónicas
e
buscas
têm
regras
específicas
e
rigorosas
pois,
sem
limites,
violariam
direitos
fundamentais,
nomeadamente
a
intimidade;
(3)
o
Restabelecimento
da
Paz
Jurídica
-‐
está
aqui
em
causa
a
resolução
do
conflito
entre
o
Estado
e
o
agente,
como
forma
a
evitar
retaliações
e
também
a
evitar
uma
ideia
de
justiça
privada,
o
que
permite
dizer
que
o
processo
penal
visa
também
o
princípio
da
proibição
do
direito
de
autodefesa.
Sendo
as
finalidades
antinómicas
não
é
possível
harmonizá-‐las,
no
entanto
elas
terão
que
estar
numa
lógica
de
concordância
prática
(Dr.
Figueiredo
Dias).
Numa
fase
inicial,
em
primeira
linha
estará
a
descoberta
da
verdade,
já
numa
fase
final
ressalta
a
proteção
dos
direitos
fundamentais
dos
cidadãos.
Posto
isto,
a
finalidade
do
processo
penal
vem
a
ser
a
decisão
do
caso
concreto
(esta
é,
aliás,
a
finalidade
primordial
de
qualquer
processo),
sendo
que
nessa
decisão
o
processo
penal
configura
“o
bastião
de
garantia
dos
direitos
fundamentais
e,
transversalmente,
dos
próprios
valores
que
o
direito
penal
visa
proteger:
a
liberdade
e
a
dignidade
da
pessoa
humana”.
O
artigo
32º
do
CRP
tem
como
epígrafe
“garantias
de
processo
criminal”,
não
obstante
isso,
mantém-‐se
a
designação
de
direito
processual
penal
uma
vez
que
ele
consiste
num
sistema
monista
de
penas.
O
âmbito
do
processo
penal
é
relativamente
amplo,
exigindo
que
consideremos
por
um
lado
o
direito
policial
(fase
preliminar
à
investigação
-‐
prevenção)
e
por
outro
lado
a
ocorrência
do
caso
concreto,
seguindo-‐se
a
fase
de
investigação
(quando
atua
verdadeiramente,
ainda
que
tenhamos
que
perceber
que
há
uma
fase
preliminar).
Depois
da
fase
de
investigação
poderá
haver
um
julgamento
e
uma
condenação
(execução
da
pena
-‐
determina
que
haja
a
intervenção
de
outras
entidades
que
não
as
judiciárias,
estando
já
em
causa
o
direito
penitenciário).
Poderá
também
ocorrer
que
se
decidam
questões
de
direito
civil
em
direito
processual
penal,
desde
que
essas
questões
estejam
relacionadas
com
o
facto
concreto
(princípio
da
adesão
-‐
artigo
71º
do
CPP).
Por
exemplo:
num
crime
de
dano
a
indemnização
é
do
âmbito
civil
mas
é
o
juiz
de
processo
penal
que
vai
decidir.
Este
é
um
direito
de
natureza
garantística,
que
comporta
não
só
questões
objetivas
mas
também
materiais.
Assim,
o
direito
processual
penal,
apesar
de
ter
princípios
próprios,
tem
uma
lógica
de
unidade
de
sentido.
Quer
o
direito
penal
quer
o
processual
penal
começam
no
princípio
do
facto.
No
ponto
de
vista
do
objeto,
no
direito
penal
estão
em
causa
regras
que
permitam
manter
a
convivência
em
sociedade,
ao
passo
que
no
direito
processual
penal
está
em
causa
um
processo
de
disciplina
que
tem
em
vista
atingir
o
mesmo
objetivo.
O
direito
processual
penal
ocupa-‐se
com
a
resolução
do
caso
concreto
(o
objeto
é
o
crime
-‐
artigo
1º,
alínea
a)
do
CPP).
Quanto
ao
fim,
no
direito
penal
temos
as
penas
e
no
direito
processual
penal
temos
a
justa
aplicação
ao
caso
concreto
(incluem-‐
se
as
3
finalidades
mencionadas).
O
processo
penal
é
a
face
mais
visível
da
aplicação
da
justiça
em
Portugal,
motivo
pelo
qual
está
sempre
sob
o
escrutínio
público.
Aplicação
da
lei
processual
penal
Neste
ramo
do
direito
considera-‐se
o
processo
de
integração
de
lacunas
-‐
artigo
4º
do
CPP.
São
exemplo
as
normas
de
expediente
que,
em
processo
penal,
não
são
tão
claras
como
noutros
ramos
do
direito.
Esta
norma
diz-‐nos
que
a
lógica
de
integração
é
a
seguinte:
perceber
que
há
uma
lacuna,
ver
se
existem
normas
dentro
do
processo
penal
que
regulem
casos
análogos
(analogia
interna)
e,
só
no
caso
de
não
existirem,
se
recorre
a
normas
compatíveis
do
processo
civil
(analogia
externa)
Em
direito
penal,
pelo
artigo
1º,
nº3
do
CP
e
artigo
29º,
nº1
da
CRP,
a
analogia
é
proibida,
porém,
esta
virá
a
ser
permitida
se
se
revelar
mais
favorável
ao
agente.
Aparentemente,
em
processo
penal
não
há
restrições
à
analogia,
porém
isto
não
é
real.
Pelos
artigos
29º,
nº1
e
32º,
nº1
da
CRP,
há
saber
se
é
possível
aplicar
a
analogia
em
mallem
partem
em
processo
penal
-‐
à
semelhança
daquilo
que
acontece
no
direito
penal,
esta
analogia
que
em
nada
beneficia
o
arguido
é
inconstitucional,
mesmo
que
seja
interna.
Quanto
ao
segundo
passo,
este
consiste
na
analogia
externa
entre
normas
de
processo
penal
que
se
compatibilizem
com
normas
de
processo
civil.
Exemplo:
há
uma
enorme
diferença
entre
o
processo
civil
e
o
processo
penal,
a
começar
pelo
primeiro
estar
na
disponibilidade
das
partes;
tanto
num
como
noutro
existem
normas
que
vão
disciplinar
a
produção
de
prova
em
cada
um
dos
processos,
assim
como
existem
regras
que
disciplinam
sobre
quem
recai
o
ónus
da
prova
(no
processo
penal
o
arguido
tem
presunção
de
inocência,
pelo
que
o
ónus
da
prova
cabe
ao
Estado;
no
processo
civil
o
ónus
da
prova
cabe
a
ambas
as
partes)
-‐
mesmo
que
se
encontre
uma
lacuna
no
processo
penal
quanto
ao
ónus
da
prova
não
se
pode
recorrer
às
normas
do
processo
civil
uma
vez
que
estas
não
são
compatíveis,
pelo
que
se
saltaria
de
imediato
para
os
princípios.
Em
último
caso,
recorre-‐se
aos
princípio
gerais
do
processo
penal.
Quanto
à
aplicação
da
lei
processual
penal
no
tempo,
o
artigo
5º,
nº1,
1ª
parte
do
CPP
vem
confirmar
o
princípio
geral
do
código
civil
(artigo
12º,
nº1
do
CC)
de
que
a
lei
dispõe
para
o
futuro.
Para
além
disso,
a
2ª
parte
do
nº1,
do
artigo
5º
do
CPP
vem
dizer
que
aquilo
que
aconteceu
anteriormente
à
nova
lei
continua
válido,
o
que
aliás
deriva
do
princípio
geral
do
artigo
12º,
nº1,
2ª
parte
do
CC
(ressalva-‐se
a
validade
dos
atos
produzidos
ao
abrigo
da
lei
anterior).
Apesar
de
esta
ser
a
regra
geral,
o
artigo
5º,
nº2
do
CPP
expõe
limitações
a
isto,
dizendo
que
a
lei
nova
não
se
aplica
a
processos
pendentes
mas
sim
a
processos
que
já
tenham
sido
iniciados
ao
abrigo
da
nova
lei.
A
alínea
a)
pode
perceber-‐se
através
do
seguinte
exemplo:
imaginemos
que
o
legislador,
instado
pelo
clamor
do
povo,
resolve
limitar
o
direito
ao
recurso
do
arguido
-‐
esta
é
uma
garantia
de
defesa
do
arguido
(artigo
32º,
nº1
da
CRP)
portanto
é
necessário
ver
se
a
lei
nova
vai
ser
mais
prejudicial
para
o
arguido,
pelo
que
se
for
não
se
pode
aplicar
essa
lei
ao
processo
pendente;
é
necessário
aqui
ter
a
perceção
de
que
o
direito
processual
penal
mexe
com
direitos
fundamentais.
Quanto
à
alínea
b)
esta
refere-‐se
a
situações
especificas
em
que
se
faça
uma
reforma
exaustiva
do
código
de
processo
penal
que
altere
a
unidade
dos
vários
atos
do
processo,
impedindo
também
que
a
lei
nova
se
aplique
na
pendência
de
processos.
Este
princípio
vale
para
normas
processuais
penais
que
estão
no
CPP,
porém,
existem
normas
processuais
que
vêm
reguladas
no
CP,
nomeadamente
sobre
a
prescrição.
No
caso
de
haver
alterações
em
normas
materiais
-‐
por
exemplo
quanto
ao
direito
de
queixa:
um
processo
inicia
quando
o
crime
é
dependente
de
queixa
mas
entretanto
se
torna
público
-‐
devem
seguir-‐se
os
princípios
da
lei
penal
no
tempo
(e
NÃO
da
lei
processual
penal).
No
que
toca
à
aplicação
da
lei
processual
penal
no
espaço
vale
o
princípio
da
territorialidade
que
vem,
aliás,
espelhado
no
artigo
6º
do
CPP.
Este
artigo
tem
que
ter
dois
afeiçoamentos:
aplicar-‐se
em
todo
o
território
português
implica
que
a
lei
processual
penal
se
aplique
a
todos
os
intervenientes
processuais
independentemente
da
sua
nacionalidade
(nacionais
e
estrangeiros)
que
se
encontrem
em
território
português.
Quanto
à
aplicação
do
direito
processual
penal
quanto
às
pessoas,
esta
aplica-‐se
a
todos
os
intervenientes
processuais
independentemente
da
sua
nacionalidade
(nacionais
e
estrangeiros)
desde
que
se
encontrem
em
território
português.
Existem,
porém,
isenções
e
limitações:
quem
está
isento
não
é
julgado
a
menos
que
o
Estado
de
onde
essas
pessoas
são
proveniente
levante
a
isenção,
daí
não
se
aplicar
a
lei
processual
penal
portuguesa;
quanto
às
limitações,
estas
não
são
verdadeiras
isenções
pois
só
duram
durante
o
tempo
em
que
as
pessoas
em
causa
exercerem
funções
(PR,
PM,
etc.).
A
antiga
redação
do
artigo
58º,
nº1,
alínea
b)
do
CPP
implicava
que
um
suspeito
fosse
constituído
arguido
sempre
que
se
lhe
quisesse
aplicar
uma
medida
de
coação
ou
de
garantia
patrimonial.
A
nova
redação
da
mesma
alínea
do
artigo
referido,
conduz-‐nos
para
os
nº
3
a
5
do
artigo
192º
do
CPP,
relativos
ao
arresto.
O
arresto,
à
semelhança
da
prisão
preventiva,
é
uma
medida
cautelar
do
processo
penal,
vindo
a
mexer
com
o
núcleo
dos
direitos
fundamentais
do
arguido.
Com
esta
nova
redação,
no
caso
do
arresto,
o
suspeito
pode
só
ser
constituído
arguido
posteriormente
a
ser-‐lhe
aplicada
essa
específica
medida
cautelar
-‐
há
uma
diminuição
das
garantias
do
arguido.
Imaginando
que
temos
um
processo
pendente,
começando
em
Abril
de
2017
e
saindo
a
nova
lei
em
Maio
de
2017,
a
lei
que
se
aplica
é
a
que
estava
em
vigor
anteriormente
(lei
antiga).
Isto
acontece
porque
neste
caso
específico
a
lei
nova
mexe
com
os
direitos
e
garantias
do
arguido
e,
assim
sendo,
funciona
em
mallam
partem.
A
conformação
jurídico-‐constitucional
e
a
sua
estrutura
A
conformação
jurídico-‐constitucional
do
direito
processual
penal
Por
regra,
mesmo
existindo
normas
constitucionais
concretizadas
em
lei
ordinária,
do
ponto
de
vista
do
processo
penal
encontramos
leis
constitucionais
suficientemente
objetivas
ao
ponto
de
poderem
ser
aplicadas
quase
que
de
forma
direta.
No
processo
penal
vemos
como
é
que
o
Estado
no
seu
ius
puniendii
se
assume
perante
os
seus
cidadãos
-‐
este
ramo
do
direito
retrata
o
poder
mais
invasivo
que
o
Estado
possui,
sendo
o
exercício
prático
dos
pilares
constitucionais
do
Estado.
Daí
que
se
diga
que
o
direito
processual
penal
é
direito
constitucional
aplicado.
Assim,
se
tivermos
um
direito
processual
penal
garantístico
isto
significa
que
temos
um
corolário
da
dignidade
da
pessoa
humana
-‐
artigo
1º
da
CRP;
este
princípio,
enquanto
único
valor
absoluto,
é
partilhado
com
o
direito
constitucional.
Existe
também
uma
comunhão
de
objetivos
entre
ambos
os
ordenamentos,
mormente
no
que
diz
respeito
à
proteção
de
direitos
fundamentais
perante
o
Estado,
ainda
que,
em
ambos
os
ordenamentos,
também
esta
finalidade
não
possa
ser
tida
como
absoluta,
na
justa
medida
em
que
amos
contém
limitações
a
tais
direitos.
O
Estado,
no
exercício
do
seu
ius
puniendii,
está
sempre
a
fazer
uma
limitação
de
direitos
fundamentais
da
pessoa
humana
(o
cidadão
comum
não
o
pode
fazer
sem
que
recaia
em
ilegalidades).
Releva
pois
dizer
que,
quando
se
limitam
direitos
fundamentais
há
sempre
que
respeitar
o
princípio
da
proporcionalidade
-‐
artigo
18º,
nº2
da
CRP
-‐
questão
que
se
prende
com
a
própria
força
jurídica.
Poder-‐se-‐á
identificar
o
limite
desta
limitação
de
direitos
no
“núcleo
essencial”
dos
mesmos,
sob
pena
de
ser
já
posto
em
causa
o
princípio
da
dignidade
da
pessoa
humana.
A
liberdade
é
o
pilar
em
que
assenta
a
própria
dignidade
da
pessoa
humana,
pelo
que
pela
lógica
esta
não
se
pode
limitar
-‐
artigo
27º,
nº2
da
CRP.
Porém,
o
nº3
vem
enunciar
várias
exceções,
ou
seja,
casos
em
que
é
permitido
limitar
a
liberdade;
isto
mostra
que
a
Constituição
regula
matéria
processual
penal
com
normas
de
incidência
direta.
No
nº
4
aparece
um
princípio
que
se
prende
com
o
direito
dos
arguidos
serem
informados
de
que
o
são
e
do
porquê
de
o
serem.
Também
o
artigo
28º
da
CRP
aponta
para
determinadas
regras
atinentes
a
fases
do
processo
penal
com
aplicabilidade
direta
no
mesmo.
O
artigo
31º
da
CRP
expõe
o
instituto
do
habeas
corpus
que
se
insurge
contra
ocasiões
em
que
se
prenda
alguém
mediante
circunstâncias
que
não
sejam
legais.
No
que
toca
ao
artigo
32º
da
CRP,
esta
já
não
é
uma
norma
de
incidência
direta
pois
constitui
orientações
genéricas
que
têm
que
orientar
as
normas
concretizadores
do
CPP.
Assim,
há
dois
tipos
de
normas
constitucionais
com
conteúdo
processual
penal:
as
concretas
que
têm
vocação
de
aplicabilidade
direta
e
as
genéricas
que
implicam
uma
concretização
ou
densificação
no
código
de
processo
penal.
Além
destas
normas
processuais
penais,
há
normas
que
não
tendo
conteúdo
processual
penal
também
se
aplicam
ao
processo
em
geral.
O
artigo
20º
da
CRP
é
um
desses
exemplos,
espelhando
um
direito
transversal;
também
o
artigo
202º
da
CRP
tem
refração
no
processo;
o
artigo
207º
da
CRP
expõe
a
possibilidade
de
envolver
o
povo,
através
de
um
tribunal
de
júri,
no
julgamento
e,
portanto,
no
processo
(o
Estado
administra
a
Justiça
em
nome
do
povo).
Há
quem
defenda
que
o
direito
processual
penal
é
uma
espécie
de
subalterno
ao
direito
constitucional.
Assim
como
há
quem
defenda
que
afirmar
que
o
direito
processual
penal
é
direito
constitucional
aplicado
é
uma
perspetiva
reducionista
deste
ramo
do
direito
(Dr.
Faria
Costa).
Aquilo
que
se
compreende
é
que,
verdadeiramente,
não
se
consegue
perceber
ou
valorar
o
processo
penal
se
não
nos
socorrermos
do
direito
constitucional.
Todavia,
não
obstante
a
ligação
umbilical
que
intercede
entre
o
direito
constitucional
e
o
direito
processual
penal,
não
deve
pensar-‐se
que
ambas
as
ordens
jurídicas
não
gozam
de
autonomia,
ou,
de
outro
modo,
que
o
direito
processual
penal
é
um
ramo
do
direito
“colonizado”
pelo
direito
constitucional.
Para
além
da
responsabilidade
penal
individual,
devemos
olhar
ainda
à
responsabilidade
penal
coletiva
-‐
artigo
12º,
nº2
da
CRP.
Há
a
retirar
a
conclusão
de
que,
se
as
pessoas
coletivas
têm
responsabilidade
penal,
podem
também
elas
ser
constituídas
arguidas
num
processo
penal
-‐
ainda
que
as
pessoas
coletivas
não
tenham
os
mesmos
direitos
e
garantias
das
pessoas
singulares/
individuais.
Quanto
a
esta
diferença
de
direitos,
o
tribunal
constitucional
entendeu,
por
exemplo,
que
o
domicilio
das
pessoas
singulares
não
é
equiparável
à
sede
das
pessoas
coletivas;
assim,
as
regras
relativas
às
buscas
domiciliárias
nunca
podem
ser
aplicadas
às
pessoas
coletivas.
A
estrutura
do
processo
penal
1.
A
estrutura
inquisitória
Do
ponto
de
vista
do
processo
penal
a
Inquisição
foi
essencial
pois
introduziu
a
lógica
da
descoberta
da
verdade
material.
Contudo,
como
estrutura
de
Estado
esta
lógica
oriunda
do
Santo
Ofício
da
Inquisição
(século
XIII)
acabou
por
só
se
consolidar
nos
séculos
XVII
e
XVIII..
A
estrutura
inquisitória
era
caracterizada
por
ser
uma
só
pessoa
a
investigar,
acusar
e
julgar
-‐
há
aqui
a
ideia
de
predomínio
do
interesse
do
Estado
no
processo
penal,
sendo
o
arguido
visto
como
um
mero
objeto
do
processo.
Assim,
torna-‐se
claro
que
nesta
estrutura
não
são
tidos
em
conta
direitos
ou
garantias
do
arguido,
o
que
conduz
invariavelmente
a
abusos
de
poder
e
a
uma
condução
parcial
do
processo,
o
que
aliás
se
retira
do
facto
de
todos
os
poderes
confluírem
na
pessoa
do
juiz
o
qual
não
tem
independência
face
ao
poder
político.
2.
A
estrutura
acusatória
A
estrutura
acusatória
surge
numa
lógica
de
combate
aos
abusos
de
poder
por
parte
do
Estado
e
na
sequência
do
ideário
liberal
do
Estado
(Iluminismo).
Aqui
começa
a
entender-‐se
o
arguido
como
parte
do
processo
e
não
como
um
objeto
-‐
o
arguido
passa
a
ter
um
amplo
direito
de
defesa,
com
integral
respeito
pelo
princípio
do
contraditório
e
da
presunção
da
inocência
do
acusado
(até
à
condenação).
Isto
significa
que
o
processo
penal,
através
da
estrutura
acusatória,
acaba
por
se
tornar
semelhante
ao
que
hoje
se
conhece
do
processo
civil,
estando
garantidos
princípios
como
os
da
igualdade
de
armas
ou
da
autorresponsabilidade
probatória
das
partes;
a
vantagem
deste
desenvolvimento
é
de
que
ideias
como
o
princípio
do
inquisitório
começam
a
surgir
no
processo.
Para
além
disso,
uma
outra
consequência
foi
a
cisão
entre
a
entidade
que
acusa
(e
investiga)
e
aquela
que
julga.
3.
A
estrutura
mista
Em
finais
do
século
XIX
e
primeira
metade
do
século
XX
começaram
a
surgir
modelos
ditatoriais
que
alteraram
esta
estrutura.
Aí
havia
aquilo
que
se
pode
chamar
de
estrutura
mista
-‐
por
exemplo:
em
Portugal
era
reconhecido
o
princípio
da
acusação
no
sentido
de
que
era
o
Ministério
Público
que
acusava,
porém
esse
princípio
era
moldado
para
uma
noção
de
acusação
formal
uma
vez
que
o
juiz
podia
imiscuir-‐se
na
investigação
e
julgar
a
final
(não
havia
uma
verdadeira
segregação
das
duas
entidades).
Esta
estrutura
mista
do
Código
de
1929
implicou
um
aumento
da
importância
da
verdade
histórica,
o
que
levou
a
um
declínio
dos
direitos
do
arguido
e
garantias
dos
arguidos
em
relação
ao
Estado.
Apesar
desta
estrutura
ter
sido
um
retrocesso,
teve
algo
positivo:
eliminou
a
igualdade
de
armas,
ou
seja,
o
arguido
deixou
de
ter
que
se
defender,
coisa
que
acontecia
na
estrutura
acusatória
pura
(em
boa
verdade
aqui
havia
um
dever
defesa
pois
se
o
arguido
não
se
defendesse
era
condenado
certamente)
à
quem
acusa
é
quem
tem
que
apresentar
prova.
Os
princípios
em
processo
penal
apresentam
uma
importância
teórica
e
de
aplicação
prática,
ou
seja,
servem
para
integrar
as
próprias
normas
de
processo
penal.
Os
princípios
gerais
de
processo
penal
devem
organizar-‐se
segundo
uma
visão
quadripartida
(a
organização
quanto
aos
vetores
e
não
quanto
às
fases
denota
que
há
princípios
que
podem
ser
aplicados
em
mais
do
que
uma
fase;
o
Dr.
Figueiredo
Dias
faz
esta
organização).
A
acusação
(artigo
32º,
nº5
da
CRP
-‐
estatui
que
o
processo
penal
tem
estrutura
acusatória)
diz-‐nos,
no
fundo,
que
a
entidade
que
investiga/
acusa
deve
ser
distinta
da
entidade
que
julga,
como
forma
a
garantir
a
objetividade
e
a
imparcialidade
da
decisão
judicial.
A
acusação
incorpora
um
objeto
constituído
por
diferentes
factos,
objeto
esse
que
significa
a
proibição
ne
bis
in
idem
(artigo
29º,
nº5
da
CRP;
ninguém
pode
ser
julgado
mais
que
uma
vez
pelo
mesmo
facto),
significando
ao
mesmo
tempo
uma
limitação
do
poder
de
conhecer
do
juiz
(não
pode
julgar
por
algo
que
não
é
objeto
do
processo).
Isto
resulta
não
apenas
deste
mas
de
um
conjunto
de
princípios,
nomeadamente
do
princípio
da
legalidade.
Este
princípio
impõe
ainda
uma
vinculação
temática,
ou
seja,
a
partir
de
uma
perspetiva
substancial,
dele
deriva,
também,
o
princípio
da
identidade
do
objeto.
Este
último
significa
que
o
objeto
do
processo
se
fixa
a
partir
do
momento
da
acusação
do
MP
ou
do
particular.
De
acordo
com
o
contraditório
(artigo
32º,
nº5
da
CRP),
toda
a
prossecução
processual
deve
cumprir-‐se
de
forma
a
fazer
ressaltar
as
razões
de
acusação
e
da
defesa.
Decorre
ainda
deste
princípio
que
deve
ser
sempre
dada
a
possibilidade
às
partes
de
serem
ouvidas
-‐
cada
um
dos
sujeitos
processuais
tem
oportunidade
de
ser
ouvido
quanto
a
tudo
o
que
releve
no
processo,
pelo
que
sem
isto
não
podem
ver
tomada
uma
decisão
que
afete
a
sua
esfera
jurídica.
Isto
significa
que,
ainda
que
não
exista
uma
lógica
de
igualdade
de
armas,
o
Estado
e
o
arguido
igualam-‐se
quanto
à
possibilidade
de
dizerem
de
sua
justiça;
todos
podem
aduzir
razões
na
dinâmica
processual.
Este
princípio
encontra
reflexo
em
todas
as
fases
processuais,
em
crescendo;
ou
seja,
é
mais
intenso
consoante
as
fases
vão
avançando
(instrução
-‐
artigo
289º,
nº1;
298º
e
301º,
nº2
do
CPP;
julgamento
-‐
artigo
327º
do
CPP).
Quanto
ao
arguido,
este
princípio
também
se
manifesta
-‐
artigo
61º,
nº1,
alíneas
a)
e
b)
do
CPP.
O
mesmo
se
passa
com
a
vítima:
artigo
69º,
nº2
do
CPP.
A
celeridade
e
concentração
funcionam
em
conjunto:
há
uma
lógica
de
concentrar
todos
os
termos
e
atos
do
processo
no
menor
espaço
de
tempo
possível.
A
exigência
da
celeridade
acaba
por
resultar
da
própria
CRP,
designadamente
do
artigo
32º,
nº2,
2ª
parte:
o
arguido
deve
ser
julgado
no
mais
curto
prazo
pois
a
própria
duração
do
processo
penal
é
uma
espécie
de
castigo,
no
sentido
de
que
é
socialmente
penoso
para
o
arguido
(a
morosidade
acaba
por
ser
uma
pena
processual
e
por
enfraquecer
as
garantias
do
processo);
também
o
ofendido
e
o
próprio
Estado
têm
interesse
numa
justiça
que
não
se
arraste,
por
forma
a
permitir
a
realização
dos
fins
do
direito
e
das
próprias
sanções
penais.
A
propósito
do
julgamento
encontramos
um
afloramento
deste
princípio
no
artigo
328º,
nº1
do
CPP,
havendo
aqui
uma
articulação
com
os
princípios
da
oralidade
e
da
imediação.
A
ideia
fundamental,
neste
particular,
é
a
de
que
a
audiência
deve
ser
contínua,
apenas
se
interrompendo
em
razão
do
estritamente
necessário
(artigo
328º,
nº
2
do
CPP).
O
princípio
da
livre
apreciação
da
prova
-‐
artigo
127º
do
CPP
-‐
significa
que
o
legislador
prescinde
do
sistema
de
prova
legal
(quando
é
a
lei
que
define
o
valor
de
determinada
prova),
permitindo
que
o
juiz
questione
até
as
provas
que
à
partida
seriam
inquestionáveis
(por
exemplo:
a
confissão
não
faz
prova
plena),
ou
seja,
há
uma
abertura
à
experiência
e
à
livre
convicção
do
julgador.
Este
princípio
traz
uma
enorme
responsabilidade
para
o
julgador
que
se
traduz
com
o
correlativo
dever
absoluto
de
fundamentar
as
razões
da
formação
da
sua
convicção,
com
o
objetivo
de
evitar
arbitrariedade
e
de
controlar
a
validade
das
razões
aduzidas
-‐
o
juiz
fundamenta
até
a
matéria
de
facto.
Acresce
ao
facto
de
a
apreciação
ser
susceptível
de
controlo,
que
a
valoração
da
prova
deve
ser
feita
de
acordo
com
o
dever
de
perseguir
a
realização
de
justiça
e
a
descoberta
da
verdade
material.
Tudo
isto
se
relaciona
com
o
princípio
in
dubio
pro
reo
(deriva
da
presunção
de
inocência)
-‐
artigo
32º,
nº2
da
CRP
-‐
no
sentido
de
que
havendo
dúvidas
evidentes
quanto
à
culpa
apesar
de
toda
a
prova
produzida,
o
juiz
não
vai
proceder
à
condenação.
Assim,
a
dúvida
que
fique
aquém
da
razoável
deverá
ser
valorada
de
forma
favorável
ao
arguido,
tanto
mais
que
este
se
presume
inocente
até
ao
trânsito
em
julgado
da
sentença
de
condenação.
Este
princípio
funciona
em
relação
à
matéria
de
facto
(relativa
ao
crime
e
à
sanção
que
lhe
corresponde)
e
não
em
relação
à
matéria
de
direito;
apesar
disso,
se
o
juiz
condenar
violando
o
princípio
in
dubio
pro
reo
estamos
perante
uma
questão
de
matéria
de
direito.
à
Quanto
à
forma:
refiram-‐se
os
princípios:
da
publicidade
e
da
oralidade
e
da
imediação.
O
princípio
da
publicidade
na
administração
da
justiça,
conquista
liberal
já
defendida
por
Beccaria,
permite
que
se
proteja
o
povo
dos
abusos
de
poder
que
poderiam
surgir.
Este
princípio
resulta
de
lógicas
constitucionais
(artigo
206º
da
CRP)
mas
está
presente
no
artigo
86º
do
CPP:
antes
de
2007
havia
segredo
de
justiça
na
fase
de
inquérito
e
publicidade
nas
restantes
fases
do
processo
(instrução
e
julgamento),
porém,
atualmente
a
regra
é
de
que
o
princípio
da
publicidade
se
aplica
desde
o
começo
do
processo
(para
haver
segredo
de
justiça
na
fase
de
inquérito
é
necessário
que
se
peça).
Em
termos
amplos,
o
princípio
da
publicidade
da
audiência
significa,
por
um
lado,
que
as
audiências
devem
ser
abertas
ao
público
e,
por
outro
lado,
que
as
audiências
podem
ser
relatadas
publicamente.
Em
termos
processuais
penais,
a
audiência
de
julgamento
é
pública,
sob
pena
de
nulidade
insanável
(artigo
321º,
nº
1
do
CPP),
como,
em
geral,
é
público
o
processo
penal
(artigo
86º,
nº
1
do
CPP).
A
publicidade
do
processo
implica
as
consequências
expostas
no
artigo
86º,
nº6
do
CPP:
assistência,
pelo
público
em
geral,
à
realização
do
debate
instrutório
e
dos
atos
processuais
na
fase
de
julgamento;
narração
dos
atos
processuais
ou
reprodução
dos
seus
termos
pelos
meios
de
comunicação
social;
consulta
do
auto
e
obtenção
de
cópias,
extratos
e
certidões
de
quaisquer
partes
dele
(artigo
90º
do
CPP).
Este
princípio
pode
ser
restringido
para
salvaguardar
a
dignidade
das
pessoas,
a
moral
pública
ou,
ainda,
para
garantir
o
normal
funcionamento
da
audiência.
O
principio
da
oralidade
e
da
imediação
(também
aplicado
à
prova),
exposto
no
artigo
96º
do
CPP,
diz-‐nos
que
se
privilegia
o
contacto
direto
ou,
por
outras
palavras,
que
os
atos
processuais
se
devem
processar
sob
forma
oral.
Contudo,
este
princípio
não
determina
a
completa
exclusão
da
escrita,
significando
antes
que
se
tem
em
vista
a
forma
oral
de
atingir
a
decisão;
resulta
ainda
deste
princípio
que
a
utilização
de
apontamentos
escritos
tenha
de
ser
autorizada
(artigo
96º,
nº2
do
CPP).
Aqui
aparece
também
a
imediação,
relevando
dizer
a
esse
respeito
que,
especialmente
do
ponto
de
vista
do
julgador,
é
fundamental
que
haja
uma
perceção
pessoal
daquilo
que
se
está
a
dizer,
devendo
ter-‐se
contacto
direto
desde
logo
com
a
prova,
daí
não
ser
permitida
a
leitura
de
declarações
resultantes
de
audiências
anteriores.
Por
outras
palavras,
este
princípio
traduz
a
necessidade
de
existência
de
uma
proximidade
comunicante
entre
a
entidade
que
julga
e
os
participantes
no
processo.
Os
sujeitos
do
processo
Conceitos
fundamentais
É
neste
âmbito
que
percebemos
quem
é
que
pode
fazer
o
quê
no
âmbito
do
processo.
No
processo
penal
participam
diferentes
pessoas,
intervindo
no
processo
a
títulos
diversos
e
com
poderes
distintos.
Todavia,
nem
todas
as
pessoas
que
participam
no
processo
são
sujeitos
processuais
-‐
estes
são
titulares
de
direitos
autónomos
de
conformação
da
concreta
tramitação
processual,
em
vista
da
sua
decisão
final.
Esses
poderes
tanto
podem
ser
de
decisão
(p.ex:
são
os
sujeitos
que
decidem
se
o
processo
corre
com
ou
sem
fase
de
instrução),
como
de
intervenção
(iniciativa
-‐
p.ex:
iniciativa
de
apresentar
um
meio
de
prova
complementar).
Neste
sentido,
os
sujeitos
processuais
possíveis
são:
o
Tribunal
(artigos
8º
a
47º
do
CPP),
o
Ministério
Público
(artigos
48º
a
56º
do
CPP),
o
arguido
e
seu
defensor
(artigos
57º
a
67º
do
CPP)
e
o
assistente;
as
partes
civis
(artigos
71º
a
84º
do
CPP)
correm
paralelamente
ao
processo
penal,
sendo
formalmente
considerados
sujeitos
mas
materialmente
considerados
meros
intervenientes
(pelo
artigo
71º
do
CPP).
Isto
significa
que
peritos,
testemunhas,
funcionários
judiciais,
órgãos
de
polícia
e
as
demais
pessoas
que
possam
intervir
no
processo
não
são
sujeitos
processuais
mas
sim
participantes
processuais.
Há
aquilo
que
se
pode
designar
de
figura
híbrida
no
CPP,
nomeadamente
no
artigo
67º-‐A
do
CPP
-‐
trata-‐se
da
vítima.
Esta
figura
vem
clarificar
que
assistente,
ofendido
e
vítima
são
tudo
coisas
distintas.
O
tribunal
A
organização
judiciária
No
sentido
etimológico,
jurisdição
significa
“dizer
o
direito”.
Hoje,
a
jurisdição
dos
tribunais
é
um
conceito
mais
processualista
que
refere
a
atividade
de
administração
de
justiça
penal
exercida
pelos
tribunais.
A
função
jurisdicional,
enquanto
função
soberana
de
administração
de
justiça,
vê
os
seus
princípios
fundamentais
consagra
dos
na
CRP.
A
este
propósito,
o
princípio
da
independência
dos
tribunais
(artigo
203º
da
CRP)
tem
duas
dimensões:
(1)
os
tribunais
são
independentes
relativamente
aos
restantes
poderes
públicos
e
(2)
os
tribunais
não
respondem
pelas
suas
decisões
desde
que
estas
sejam
legais
(lógica
de
irresponsabilidade
dos
tribunais
-‐
artigo
216º,
nº2
da
CRP)
-‐
só
haverá
independência
havendo
imparcialidade.
O
artigo
32º,
nº9
da
CRP
(tem
também
impacto
do
ponto
de
vista
das
convenções
-‐
artigo
6º
da
CEDH)
-‐
princípio
do
juiz
natural
ou
legal
-‐
diz-‐nos
que
não
podem
ser
criados
tribunais
ad
hoc
desvirtuando
os
tribunais
que
seriam
competentes
à
data
da
prática
dos
factos;
também
não
pode
ser
atribuída
competência
a
um
tribunal
diferente
daquele
legalmente
competente
à
data
do
crime.
Pretende-‐se
evitar
a
designação
arbitrária
de
um
tribunal
para
um
caso
concreto
(pois
o
julgamento
não
deve
ser
visto
como
um
castigo);
este
princípio
assenta
fundamentalmente
numa
lógica
de
legalidade.
Deste
princípio
decorre
ainda
que
cabe
à
lei
definir
a
competência
do
tribunal
ou
do
juiz,
de
harmonia
com
o
artigo
165º,
nº1,
alínea
p)
da
CRP,
onde
se
dispõe
que
é
da
exclusiva
competência
da
AR
,
salvo
autorização
ao
Governo,
legislar
sobre
competência
dos
tribunais.
A
Lei
da
Organização
do
Sistema
Judiciário
(Lei
nº
62/2013,
de
26
de
Agosto)
diz-‐nos
também
que
quem
tem
competência
para
julgar
matéria
penal
são
os
tribunais
comuns,
ou
seja,
os
tribunais
judiciais
(artigo
8º
do
CPP,
artigo
211º,
nº1
da
CRP
e
artigos
40º
e
80º
da
LOSJ).
Nos
artigos
10º
e
ss.
do
CPP
temos
uma
série
de
normas
relativas
à
competência
desses
tribunais
comuns:
estas
regras
visam
a
concretização
do
próprio
princípio
do
juiz
natural,
da
exigência
da
determinabilidade,
do
princípio
da
fixação
de
competência,
visando
ainda
perceber
qual
a
competência
geral
do
tribunal
(as
regras
de
distribuição
interna
de
processos
também
têm
que
ser
perceptíveis).
Assim,
a
lei
atribui
a
competência
de
um
tribunal
em
função
de
diversos
critérios:
competência
territorial
(critérios
de
conexão
geográfica
em
razão
do
lugar),
competência
funcional
(critério
da
competência
específica
em
razão
da
fase
do
processo)
e
competência
matérias
(critério
da
matéria
objeto
do
processo).
Competência
territorial
A
competência
territorial
vem
regulado
nos
artigos
19º
a
23º
do
CPP,
tendo
um
princípio
geral
que
admite
exceções,
sendo
complementado
também
com
regras
especiais.
O
artigo
19º,
nº1
do
CPP
define
a
regra
geral:
é
competente
o
tribunal
do
lugar
da
consumação
(conceito
formal
de
consumação,
equivalente
a
resultado)
-‐
por
exemplo:
se
A
está
em
Aveiro
e
dá
um
estalo
a
B
que
está
em
Espinho,
o
tribunal
competente
é
o
de
Espinho.
O
artigo
19º,
nº2
do
CPP
comporta
uma
exceção
à
regra
geral
(crime
de
sangue
-‐
crimes
que
compreendam
como
elemento
do
tipo
a
morte
de
uma
pessoa):
o
tribunal
competente
é
o
do
lugar
da
ação
-‐
por
exemplo:
num
crime
de
resultado
temos
sempre
que
distinguir
entre
o
lugar
de
ação
e
o
lugar
de
resultado
(=
consumação)
à
se
A
está
em
Aveiro
e
dispara
mortalmente
sobre
B
que
está
em
Espinho,
o
tribunal
competente
é
o
de
Aveiro
(lugar
de
ação).
O
artigo
19º,
nº3
do
CPP
é
uma
regra
especial
e
refere-‐se
a
crimes
habituais,
permanentes
ou
duradouros
-‐
por
exemplo:
sequestro;
considera-‐se
como
lugar
da
consumação
o
lugar
onde
se
tiver
praticado
o
último
ato
ou
onde
tiver
cessado
a
consumação.
O
artigo
19º,
nº4
do
CPP
diz
respeito
à
tentativa,
sendo
que
aqui
o
tribunal
competente
é
o
do
lugar
em
que
o
último
ato
de
execução
foi
praticado;
pelo
artigo
21º
do
CP
a
regra
geral
é
a
de
que
os
atos
preparatórios
não
são
puníveis
mas
caso
o
sejam,
o
tribunal
competente
será
o
do
último
ato
de
preparação.
O
artigo
19º
do
CPP
pode
associar-‐se
ao
artigo
4º,
nº1,
alínea
a)
do
CP
-‐
aplicação
do
princípio
da
territorialidade.
Todavia,
existem
as
seguintes
regras
especiais
para
os
seguintes
casos:
o
artigo
20º
do
CPP
pode
associar-‐se
ao
artigo
4º,
nº1,
alínea
b)
do
CP
para
regular
os
casos
dos
crimes
cometidos
a
bordo
de
navio
ou
aeronave
com
pavilhão
português;
o
artigo
21º
do
CPP
expõe
outra
regra
especial
que
respeita
ao
facto
de
a
localização
ser
duvidosa:
o
tribunal
competente
será
o
que
primeiro
tiver
conhecimento
do
crime;
o
artigo
22º
do
CPP
respeita
aos
crimes
cometidos
no
estrangeiro
e
associa-‐se
ao
artigo
5º
do
CP.
O
artigo
23º
do
CPP
diz-‐nos
que
se
o
ofendido,
assistente
ou
parte
civil
for
magistrado
no
tribunal
que
pela
regra
geral
seria
competente,
então
a
competência
territorial
é
transferida
para
o
tribunal
idêntico
mais
próximo.
Isto
acontece
porque
para
os
tribunais
gozarem
de
irresponsabilidade
têm
que
ser
imparciais.
Por
exemplo:
imaginemos
que
uma
procuradora
é
ofendida
num
crime
de
assédio
sexual
que
tem
lugar
no
Porto,
onde
ela
exerce
funções
à
ainda
que
pelo
artigo
19º,
nº1
do
CPP
o
tribunal
competente
fosse
aquele
em
que
ela
exerce
funções,
pelo
artigo
23º
do
CPP
o
processo
tem
que
ser
transferido
para
o
tribunal
mais
próximo.
Competência
funcional
A
competência
funcional
é
regulada
no
CPP
no
contexto
de
funções
ou
fases
específicas.
O
JIC
tem
a
função
de
realização
de
todos
os
atos
até
à
remessa
do
processo
para
julgamento;
caso
haja
instrução
(fase
facultativa),
ele
será
juiz
de
instrução
-‐
o
artigo
17º
do
CPP
expõe
a
sua
competência
funcional.
Nunca
pode
outro
tribunal
ou
juiz
(de
julgamento)
exercer
esta
função.
Importa
ainda
salientar
a
competência
funcional
do
Tribunal
de
Execução
das
Penas
(artigo
18º
do
CPP).
O
artigo
11º,
nº3,
alínea
c)
do
CPP
expõe
uma
função
específica
do
Supremo
Tribunal
de
Justiça
que
é
a
de
uniformizar
a
jurisprudência.
Também
o
artigo
12º,
nº3,
alínea
c)
do
CPP
expõe
uma
função
funcional
específica
das
relações
que
é
a
de
julgar
processos
judiciais
de
extradição.
Competência
material
Em
termos
de
competência
material
há
duas
linhas
no
que
toca
à
delimitação
da
competência:
a
qualidade
do
arguido
e
a
natureza
do
processo
(é
mais
importante
pois
é
mais
geral).
Quanto
à
natureza
dos
arguidos,
o
PR
ou
o
PM
só
podem
ser
julgados
enquanto
tais
por
crimes
cometidos
no
exercício
das
suas
funções
-‐
o
tribunal
competente
é
o
Supremo
Tribunal
de
Justiça
(artigo
11º,
nº3,
alínea
a)
do
CPP).
Para
além
disso,
juízes
e
procuradores
são
julgados
pelos
tribunais
da
relação
-‐
artigo
12º,
nº3,
alínea
a)
do
CPP.
A
natureza
do
processo
pode
ter
que
ver
com
o
tipo
de
crime
e
com
a
moldura
penal
abstrata
atinente
ao
crime
em
causa.
Quando
falamos
em
competência
material,
falamos
em
competência
própria
do
tribunal
de
júri,
coletivo
(três
juízes)
ou
singular.
O
artigo
13º
do
CPP
respeita
ao
tribunal
de
júri
e
diz-‐nos,
no
seu
nº1,
quais
os
crimes
da
competência
deste
tribunal:
crimes
contra
a
integridade
cultural
e
das
pessoas
(artigo
236º
e
ss.
do
CP)
e
crimes
contra
a
segurança
do
Estado
(artigo
308º
e
ss.
do
CP).
O
tribunal
de
júri,
para
existir,
tem
que
ser
requerida
a
sua
intervenção,
pelo
que
caso
não
tenha
sido,
então
o
tribunal
competente
passa
a
ser
o
coletivo
(artigo
13º,
nº2
do
CPP);
o
legislador
acrescenta
no
mesmo
nº2
que
para
poder
ser
requerida
a
intervenção
do
tribunal
de
júri
os
crimes
têm
que
cumprir
o
requisito
abstrato
de
a
moldura
penal
abstrata
ser
superior
a
8
anos
(contudo,
a
causa
não
pode
pertencer
materialmente
ao
tribunal
singular).
O
artigo
14º
do
CPP
respeita
ao
tribunal
coletivo
apontando-‐lhe
competência
para
julgar
os
crimes
específicas
sobre
os
quais
o
tribunal
de
júri
tem
competência
material
quando
ninguém
requeira
esse
mesmo
tribunal
(nº1)
e
acrescenta
a
competência
para
julgar
crimes
dolosos
(e
não
negligentes)
que
tenham
a
morte
como
elemento
do
tipo
mesmo
que
a
moldura
penal
abstrata
não
seja
de
5
ou
mais
anos
(o
critério
qualitativo
prevalece
sobre
o
quantitativo;
nº2,
alínea
a)
e
artigo
19º,
nº2).
Por
fim,
o
nº2,
alínea
b)
acrescenta
o
requisito
abstrato
de
a
moldura
penal
abstrata
ter
que
ser
superior
a
5
anos
(ainda
que
estes
anos
apenas
se
alcancem
através
do
cúmulo
jurídico).
O
artigo
16º
do
CPP
diz
respeito
ao
tribunal
singular,
atribuindo-‐lhe
a
competência
para
julgar
dos
crimes
contra
a
autoridade
pública
(artigos
347º
e
ss.
do
CP)
e
aqueles
que
tenham
moldura
penal
abstrata
igual
ou
inferior
a
5
anos.
Estas
regras
respeitam
o
princípio
fundamental
que
rege
a
aferição
de
competência
-‐
principio
do
juiz
natural.
Porém,
o
legislador
aceita
alguns
afloramentos
de
soluções
de
oportunidade,
nomeadamente
no
contexto
da
competência:
artigo
16º,
nº3
do
CPP
(deve
ser
compreendido
em
articulação
com
o
artigo
14º,
nº2,
alínea
b)
do
CPP).
Este
artigo
implica
que
o
MP
pode
negociar
a
medida
da
pena,
entendendo
que
casuisticamente
não
deve
ser
aplicada
pena
superior
a
5
anos,
pelo
é
o
MP
que
define
em
concreto
qual
o
tribunal
competente
-‐
o
tribunal
singular.
Por
exemplo:
segundo
o
princípio
do
juiz
natural
um
crime
de
roubo
é
julgado
num
tribunal
coletivo
mas
por
este
artigo
o
MP
tem
flexibilidade
para
mexer
com
a
medida
da
pena
em
concreto,
passando
a
ser
competente
o
tribunal
singular.
Em
síntese:
1)
Crimes
específicos
dos
artigos
236º
e
ss.
e
308º
do
Código
Penal
quando
não
seja
à
A
requerimento,
requerido
Tribunal
de
1)
Crimes
específicos
sendo
que
para
Júri
-‐
artigo
14º,
nº1
dos
artigos
347º
a
requerer
tem
que
do
CPP;
358º
do
Código
Penal
cumprir
um
dos
dois
2)
Crimes
de
sangue
-‐
artigo
16º,
nº2,
seguintes
requisitos:
dolosos
-‐
artigo
14º,
alínea
a)
do
CPP;
nº2,
alínea
a)
e
19º,
2)
Crimes
com
uma
1)
Crimes
específicos
nº2
do
CPP;
moldura
penal
Competência
dos
artigos
236º
e
ss.
3)
Crimes
com
uma
abstrata
igual
ou
material
e
308º
do
Código
moldura
penal
inferior
a
5
anos
-‐
Penal
-‐
artigo
13º,
nº1
abstrata
superior
a
5
artigo
16º,
nº2,
alínea
do
CPP;
anos
(ainda
que
por
b)
do
CPP;
2)
Crimes
com
uma
cúmulo
jurídico)
-‐
3)
Crimes
com
uma
moldura
penal
artigo
14º,
nº2,
alínea
pena
concreta
até
5
abstrata
superior
a
8
b)
do
CPP.
anos
-‐
artigo
16º,
nº3
anos
-‐
artigo
13º,
nº2
4)
Competência
do
CPP;
do
CPP.
material
especifica
4)
Artigo
137º
do
CP.
quanto
aos
crimes
de
terrorismo
e
criminalidade
altamente
organizada
-‐
artigo
207º
da
CRP.
Competência
por
conexão
As
regras
de
competência
analisada
até
aqui
partem
do
princípio
geral
de
que
existe
apenas
um
tribunal
competente
ou
que
a
cada
crime
corresponde
um
processo.
Todavia,
pode
existir
uma
pluralidade
de
crimes,
sendo
este
principio
geral
infletido
em
virtude
das
vantagens
de
uma
tramitação
conjunta.
Pode
dizer-‐se
que
“a
competência
por
conexão
é
um
regime
de
atribuição
de
competência
em
caso
de
pluralidade
de
processos
que
favorece
a
concentração
das
competências
distribuídas
(hipotética
ou
efetivamente)
por
vários
tribunais
penais
num
só
tribunal
(artigos
24º
a
28º
do
CPP),
implicando
essa
concentração
uma
unificação
de
processos
(artigo
29º
do
CPP).
Quer
exista
uma
pluralidade
de
crimes,
de
agentes
ou
ambos
é
necessário
decidir
que
tribunal
é
que
vai
julgar
o
processo.
Por
razões
de
prova
e
de
celeridade
processual,
o
CPP
estabelece
regras
imperativas
quanto
a
isto:
sempre
que
se
verifique
conexão
ela
é
obrigatória.
Pelo
artigo
24º,
nº1
do
CPP
sabemos
quais
os
casos
de
conexão,
podendo
apontar
3
grupos:
à
Situação
em
que
pode
existir
uma
ligação
subjetiva
entre
os
vários
crimes
(nº
1,
alíneas
a),
b)
e
d))
-‐
p.ex:
A
dispara,
a
bala
bate
num
objeto
e
acerta
no
peito
de
B:
com
uma
ação
existiram
dois
crimes,
um
de
dano
e
um
de
homicídio;
A
mata
B
e
oculta
o
cadáver
OU
A
assalta
um
banco
e
na
fuga
dispara
acabando
por
atingir
uma
pessoa
mortalmente;
exemplos
anteriores
mas
com
maior
número
de
agentes;
à
Situação
em
que
pode
existir
uma
ligação
objetiva
entre
os
agentes
(nº
1,
alínea
c));
à
Situação
em
que
pode
existir
uma
ligação
objetiva
e
subjetiva
em
simultâneo
(nº
1,
alínea
e)).
Apesar
da
conexão
ser
imperativa
mediantes
um
dos
referidos
pressupostos
de
ligação
entre
crimes
ou
agentes,
há
dois
requisitos
que
têm
que
estar
reunidos:
pluralidade
de
tribunais
competentes
e
tramitação
concomitante
(não
se
pode
juntar
um
processo
que
está
na
fase
de
inquérito
a
outro
que
está
na
fase
de
julgamento
-‐
artigo
24º,
nº2
do
CPP).
As
vantagens
principais
da
conexão
prendem-‐se
com
a
celeridade,
a
economia
probatória
e
ainda
com
a
facilidade
da
descoberta
da
verdade
material.
Para
além
disso,
a
conexão
de
processos
evita
a
contradição
de
julgados.
Para
o
próprio
direito
de
defesa
do
arguido
a
conexão
de
processos
é
vantajosa,
uma
vez
que
se
evita
a
duplicação
de
obtenção
de
prova
(e
da
sua
valoração)
e
se
favorece
a
posição
do
arguido
em
termos
da
sua
defesa.
O
artigo
27º
do
CPP
diz-‐nos
qual
o
tribunal
materialmente
competente
em
caso
de
conexão:
é
sempre
o
tribunal
mais
elevado
em
termos
de
espécie
ou
de
hierarquia.
O
artigo
28º
do
CPP
aparece
no
caso
de
o
artigo
27º
não
conseguir
determinar
qual
o
tribunal
competente,
apontando
três
critérios
distintos
(sucessivos
e
não
cumulativos)
para
tal:
a)
tribunal
competente
para
o
crime
com
pena
mais
grave,
b)
tribunal
a
cuja
ordem
o
arguido
estiver
preso
ou
tribunal
em
que
estiverem
mais
arguidos
presos
e
c)
o
tribunal
onde
primeiro
tiver
havido
noticia
do
crime.
A
conexão
implica
ainda
a
existência
de
um
processo
único
-‐
artigo
29º,
nº1
do
CPP.
Não
obstante
a
conexão
ser
imperativa,
assume-‐se
a
separação
de
processos
quando
haja
um
interesse
ponderoso
ou
atendível,
o
retardamento
excessivo
do
julgamento
de
um
dos
arguidos
ou
a
conexão
quando
a
conexão
represente
um
risco
grave
para
a
pretensão
punitiva
do
Estado;
o
artigo
30º
do
CPP
respeita
à
separação
de
processos,
que
pode
acontecer
de
uma
de
duas
formas:
por
decisão
do
próprio
tribunal
(oficiosamente
-‐
nº1)
ou
a
requerimento
de
algum
ou
alguns
dos
arguidos
(nº2).
Declaração
de
incompetência
O
artigo
119º,
alínea
e)
do
CPP
diz-‐nos
que
a
violação
das
regras
de
competência
do
tribunal
constitui
nulidade
insanável
que
pode
ser
suscitada
até
ao
trânsito
em
julgado
da
decisão
final
(artigo
32º,
nº1
do
CPP);
ressalva
que
em
caso
de
incompetência
territorial
a
nulidade
continua
insanável
mas
tem
um
limite
temporal
para
ser
declarada
(artigo
32º,
nº2
do
CPP).
Este
último
artigo
aparece
como
uma
limitação
à
regra
geral
do
nº1
-‐
a
incompetência
pode
ser
conhecida
e
declarada
a
todo
o
tempo
até
ao
trânsito
em
julgado;
o
nº2
vem
dizer
que,
estando
em
causa
incompetência
territorial,
se
houver
instrução
(fase
facultativa)
o
limite
é
o
debate
instrutório
(alínea
a))
e
se
não
houver
instrução
o
limite
é
o
início
da
audiência
(alínea
b
))
à
se
não
for
declarada
até
estes
momentos
o
tribunal
territorialmente
incompetente
pode
proferir
decisão
final
e
não
é
admitido
o
recurso
à
decisão
com
base
no
argumento
da
incompetência
do
tribunal,
uma
vez
que
o
vício
considerar-‐se-‐á
sanado.
Isto
denota
uma
diferença
qualitativa
entre
as
competências
territorial
e
a
material/
funcional
-‐
se
o
único
problema
se
prender
com
a
incompetência
territorial
é
preferível
deixar
o
processo
seguir.
A
declaração
de
incompetência
comporta
alguns
efeitos
mas
não
determina
a
anulação
de
todos
os
atos
praticados
pelo
tribunal
incompetente,
apenas
daqueles
que
não
se
teriam
praticado
se
o
processo
tivesse
corrido
perante
o
tribunal
competente
-‐
artigo
33º,
nº1
do
CPP
(aproveitamento
de
atos
processuais
baseado
numa
ideia
de
economia
processual).
Pelo
artigo
33º,
nº2
do
CPP
o
tribunal
incompetente
está
apto
a
praticar
os
atos
processuais
urgentes
-‐
a
necessidade
de
cumprir
prazos
imperativos
obriga
a
que
tenha
que
ser
o
tribunal
incompetente
a
praticar
esses
atos
processuais
e
não
se
possa
esperar
pela
transferência
do
processo
para
o
tribunal
competente.
Sendo
o
processo
remetido
para
o
tribunal
competente
na
sequência
da
declaração
de
incompetência,
ocorre
a
respetiva
anulação
e
repetição
dos
atos
correspondentes
(artigo
33º,
nº1,
do
CPP).
O
artigo
33º,
nº4
do
CPP
aponta
para
o
aproveitamento
máximo
dos
atos
praticados
pelo
tribunal
competente
enquanto
princípio
geral.
Impedimentos,
recusas
e
escusas
O
princípio
da
independência
judicial
significa
independência
em
face
dos
restantes
poderes
do
Estado,
de
quaisquer
grupos
da
vida
pública
da
administração
judicial
e
dos
outros
tribunais
e
implica
uma
exigência
de
imparcialidade.
Esta
exigência
justifica
que
a
promoção
processual
ocorra
segundo
os
ditames
do
principio
da
acusação
e
que
haja
uma
previsão
suficientemente
ampla
de
suspeições
do
juiz
(impedimentos,
recusas
e
escusas).
Assim,
face
à
importância
da
imparcialidade
do
julgador,
o
CPP
estabelece
um
regime
taxativo
de
impedimentos
nos
seus
artigos
39º
e
40º.
O
artigo
39º
do
CPP
expõe
impedimentos
do
juiz
participar
no
processo
de
ordem
de
qualidade
pessoal
ou
de
ligação
familiar
(parentesco,
afinidade
ou
análogas
às
dos
cônjuges).
O
nº1,
alínea
c)
do
artigo
39º
aponta
ainda
para
quando
o
juiz
tenha
intervindo
num
processo
de
tal
forma
que
tenha
conhecimento
a
mais
e
que
haja
suspeição
de
parcialidade.
O
artigo
40º
do
CPP
relaciona-‐se
com
uma
presunção
de
parcialidade
por
intervenção
em
violação
da
incompetência
jurisdicional
-‐
o
juiz
de
instrução
não
pode
ser
o
juiz
de
julgamento.
O
artigo
41º
do
CPP
diz
que
o
juiz
deve
determinar
a
sua
impossibilidade
de
ser
julgador
(o
principio
geral
é
o
de
que
a
declaração
de
impedimento
deve
ser
oficiosa
-‐
nº1),
podendo
também
o
impedimento
ser
requerido
pelo
MP
ou
pelo
arguido
(nº2).
O
nº3
acrescenta
que
os
atos
praticados
por
juiz
impedido
são
nulos.
A
recusa
é
o
MP
ou
o
arguido
terem
suspeita,
por
motivo
sério
e
grave,
de
que
naquele
caso
o
juiz
não
vai
ser
imparcial
(a
pedido);
escusa
é
o
próprio
juiz
que
não
crê
na
sua
imparcialidade
(por
iniciativa
própria)
à
artigo
43º
do
CPP.
O
Ministério
Público
Conceito
e
natureza
O
Ministério
Público
é,
de
grosso
modo,
um
órgão
de
administração
da
justiça
penal
-‐
artigos
219º,
nº1
do
CRP
e
48º
do
CPP.
O
MP
tem
estatuto
próprio
e
goza
de
autonomia
(artigo
219º,
nº2
do
CRP),
ou
seja,
é
um
órgão
que
não
obedece
ao
poder
executivo
(é
uma
magistratura
mas
não
integra
o
poder
judicial
-‐
não
pode
ser
ordenada
na
clássica
divisão
de
poderes
-‐
antes
sendo
uma
autoridade
judiciária
-‐
artigo
1º,
alínea
b)
do
CPP).
Assim,
a
autonomia
do
MP
deriva
dos
princípios
da
legalidade
e
da
objetividade
(artigo
2º,
nº2
do
Estatuto
do
MP).
Na
sua
organização
há
uma
estrutura
hierárquica
e
tudo
isto
deriva
do
artigo
76º
do
EMP:
Procuradoria-‐Geral
da
República
(artigo
10º
do
EMP),
Procuradorias-‐gerais
distritais
(artigo
55º
do
EMP)
e
Procuradorias
da
República
(artigo
60º
do
EMP).
São
agentes
do
MP,
nos
termos
do
artigo
8º
do
EMP,
o
Procurador-‐Geral
da
República,
o
Vice-‐Procurador-‐Geral
da
República,
os
procuradores-‐gerais
adjuntos,
os
procuradores
da
República
e
os
procuradores-‐
adjuntos.
Função
e
estatuto
processual
Em
termos
de
competências
-‐
artigo
3º
do
EMP
-‐
é
de
salientar
o
exercício
da
ação
penal
orientada
pelo
principio
da
legalidade
(artigo
3º,
nº1,
alínea
c)
do
EMP)
e
a
direção
da
investigação
criminal,
ainda
que
realizada
por
outras
entidades
(artigo
3º,
nº1,
alínea
h)
do
EMP).
O
artigo
53º
do
CPP
diz-‐nos
qual
a
sua
posição
e
as
suas
atribuições.
Não
existe
qualquer
relação
hierárquica
entre
o
MP
e
o
tribunal
pois
estas
são
magistraturas
independentes
-‐
isto
comprova-‐se
pelo
facto
de
o
juiz
não
ter
qualquer
influencia
no
poder
do
MP
acusar
ou
não
e
é
realçado
pelo
impedimento
constante
da
alínea
c),
do
nº1
do
artigo
39º
do
CPP.
Todavia,
considerando
a
estrutura
do
processo
penal,
entende-‐se
que
o
estatuto
processual,
assim
como
a
natureza
do
MP,
garantem
a
estrutura
acusatória
e,
por
outro
lado,
asseguram
a
separação
entre
a
fase
de
inquérito
(investigação)
e
a
fase
de
instrução.
Legitimidade
de
atuação
do
Ministério
Público
O
MP,
enquanto
órgão,
vê
a
sua
atuação
pautada
por
diversos
princípios
fundamentais,
como
o
princípio
da
hierarquia,
os
princípios
da
legalidade
e
da
atuação
objetiva,
o
princípio
da
autonomia
orgânica
e
o
princípio
da
imparcialidade.
Todavia,
a
legitimidade
de
atuação
do
MP
no
processo
penal
decorre
ou
encontra-‐se
na
dependência
da
natureza
processual
dos
crimes
(crimes
públicos,
semipúblicos
e
particulares).
Neste
sentido,
resulta
do
disposto
no
artigo
48º
do
CPP
que
a
legitimidade
para
promover
o
processo
penal
se
encontra
restrita
nos
casos
dos
artigo
49º
a
52º
do
CPP.
Em
termos
muito
sucintos
pode
dizer-‐se
que
públicos
são
aqueles
crimes
em
relação
aos
quais
a
lei
penal
não
estabelece
qualquer
dependência
do
exercício
do
direito
de
queixa,
ou
seja,
a
prossecução
daquele
crime
não
depende
de
qualquer
manifestação
de
vontade
de
que
seja
instaurado
o
procedimento
-‐
artigo
48º
do
CPP.
Pelos
artigo
49º,
nº1
do
CPP
e
113º,
nº5
do
CP,
quando
se
trate
de
um
crime
semipúblico,
o
MP
está
dependente
de
queixa
do
ofendido
ou
das
pessoas
para
tanto
legitimadas
para
promover
o
processo;
se
houver
desistência
de
queixa
cessa
a
intervenção
do
MP
(artigo
51º,
nº1
do
CPP).
No
caso
dos
crimes
particulares,
o
procedimento
criminal,
além
de
depender
de
queixa,
depende
ainda,
nos
termos
do
artigo
50º,
nº
1
do
CPP,
da
constituição
de
assistente
e
da
dedução
de
acusação
por
parte
do
titular
do
direito
de
acusação
particular,
daí
afirmar-‐se
como
verdadeira
exceção
ao
princípio
da
oficialidade,
uma
vez
que,
é
o
assistente
que
decide,
no
final
do
inquérito,
sobre
a
dedução
de
acusação.
Nos
termos
do
nº
4
do
artigo
285º
do
CPP,
deduzida
acusação
particular
pelo
assistente,
o
MP
poderá,
apenas,
acusar
pelos
mesmos
factos
(ou
parte
deles)
e,
no
caso
de
acusar
por
outros
factos,
estes
não
poderão
significar
uma
alteração
substancial
dos
factos
da
acusação
do
assistente.
O
artigo
52º,
nº1
do
CPP
diz-‐nos
que
no
caso
de
concurso
entre
um
crime
público
e
um
crime
semipúblico
o
MP
deve
promover
imediatamente
os
processos
em
que
tenha
legitimidade
(crime
público)
e
notificar
quem
tem
legitimidade
para
apresentar
queixa
sobre
o
crime
semipúblico.
Nos
termos
do
artigo
119º,
alínea
b)
do
CPP,
a
falta
de
legitimidade
do
MP
para
a
promoção
do
processo
(crimes
semipúblicos
e
particulares)
constitui
nulidade
insanável.
O
Ministério
Público
e
os
órgãos
de
polícia
criminal
Os
OPC
(artigo
1º,
alínea
c)
do
CPP),
enquanto
entidades
e
agentes
policiais
a
quem
caiba
levar
a
cabo
quaisquer
atos
ordenados
por
uma
autoridade
judiciária
ou
ordenados
pelo
CPP,
coadjuvam
o
MP
com
vista
à
obtenção
da
própria
finalidade
do
processo;
isto
não
implica
uma
subordinação
dos
OPC
ao
MP.
Assim,
os
OPC
atuam
sob
direta
orientação
e
na
dependência
funcional
do
MP
(artigo
263º,
nº
2
do
CPP),
o
que
os
torna
meros
participantes
processuais.
Os
atos
de
competência
própria
dos
OPC
aparecem
nos
artigos
248º
e
ss.
do
CPP,
estando
dependentes
de
validação
de
autoridade
judiciária
(MP,
particularmente).
Compete-‐lhes
colher
notícia
dos
crimes
e
impedir
as
suas
consequências,
descobrir
os
agentes,
levar
a
cabo
os
atos
necessários
e
urgentes
destinados
a
assegurar
os
meios
de
prova
e
proceder
à
constituição
de
arguido
e
sujeitá-‐lo
a
termo
de
identidade
e
residência.
Esta
lógica
de
coadjuvação
está
também
presente
no
inquérito,
como
aliás
demostra
o
artigo
263º,
nº1
do
CPP
(os
OPC
têm
um
período
de
10
dias
para
informar
o
MP).
Por
um
lado,
o
MP
é
uma
entidade
fundamental
à
administração
de
justiça
e,
por
outro
lado,
é
também
uma
entidade
administrativa
-‐
isto
implica
que
tenha
proximidade
do
poder
executivo
e
do
judicial.
Para
além
disso,
está
também
ligado
à
atividade
policial.
Arguido
O
artigo
1º,
alínea
e)
do
CPP
define
suspeito
mas
não
define
arguido,
o
que
supõe
que
à
constituição
de
arguido
se
liga
o
reconhecimento
do
estatuto
de
sujeito
processual.
Não
estando
definido
no
artigo
1º
acaba
por
resultar
daquilo
que
vem
nos
artigos
57º
e
ss.
do
CPP;
em
termos
materiais
o
arguido
é
um
sujeito
que
tem
um
estatuto
complexo
integrado
por
direitos
e
deveres
processuais,
acrescendo
a
isto
o
exposto
no
nº1
do
artigo
57º
do
CPP
-‐
assume
a
qualidade
de
arguido
todo
aquele
contra
quem
for
deduzida
acusação
ou
requerida
instrução
num
processo
penal.
Se
o
arguido
é
aquele
que
criou
o
conflito
entre
ele
mesmo
e
o
Estado
é
também
aquele
que
merece
uma
mais
ampla
panóplia
de
direitos
e
garantias.
O
artigo
61º
do
CPP
expões
os
direitos
e
deveres
do
arguido,
os
quais
não
delimitam
em
exclusivo
aquilo
que
é
a
posição
processual
do
arguido.
Este
tem
também,
por
exemplo,
o
direito
de
arguir
nulidades.
O
arguido
apresenta
um
estatuto
processual
complexo,
pelo
que
o
legislador
nem
se
afigura
a
definir
o
arguido
antes
definindo
suspeito
-‐
isto
denota
que
as
duas
noções
não
se
confundem.
A
qualidade
de
arguido
pelo
artigo
57º,
nº1
do
CPP
era
como
que
automática
mas,
hoje,
exige-‐
se
sempre
uma
comunicação
que
se
depreende
do
artigo
57º,
nº3
e
58º
do
CPP.
Antes
de
1998,
ou
seja,
quando
a
aquisição
da
qualidade
de
arguido
era
sempre
automática,
não
se
exigia
aquilo
que
consta
do
artigo
58º,
nº2
do
CPP.
Antes
considerava-‐se
que
a
mera
dedução
de
acusação
era
suficiente
para
a
constituição
de
arguido
mas
hoje,
mesmo
que
esta
exista,
é
necessária
a
comunicação,
oral
ou
por
escrito,
feita
ao
visado
por
uma
autoridade
judiciária
ou
um
órgão
de
polícia
criminal,
de
que
a
partir
desse
momento
aquele
deve
considerar-‐se
arguido
num
processo
penal.
É
ainda
necessária
a
indicação
e,
se
necessário,
explicação
dos
direitos
e
deveres
processuais
referidos
no
artigo
61º
do
CPP
que,
por
essa
razão,
passam
a
caber-‐lhe.
Isto
significa
que
o
legislador
tem
vindo
a
adotar
uma
perspetiva
cada
vez
mais
garantística
e
estabelece
uma
consequência
para
a
situação
em
que
esta
formalidade
não
seja
observada
-‐
artigo
58º,
nº5
do
CPP:
quando
omitidas
as
formalidades
da
constituição
de
arguido
considera-‐se
que
quando
este
fornece
declarações
essas
não
podem
utilizar-‐se
como
prova
(trata-‐se
de
uma
proibição
de
valoração
da
prova).
Por
outo
lado,
a
não
constituição
de
arguido
nos
casos
em
que
é
obrigatória
constitui
nulidade,
dependente
de
arguição,
segundo
o
disposto
no
artigo
120º,
nº2,
alínea
d)
do
CPP,
por
se
tratar
de
ato
legalmente
obrigatório.
O
CPC
define
a
capacidade
judiciária
como
a
capacidade
de
estar
por
si
só
em
juízo;
embora
o
CPP
não
o
diga,
permite
concluí-‐lo.
A
capacidade
judiciária
depende
pois
do
reconhecimento
da
mesma
pelo
CP,
pelo
que,
por
exemplo,
os
menores
de
16
anos
não
podem
estar
num
juízo
processual
penal.
Em
termos
de
personalidade
judiciária,
também
há
a
considerar
as
pessoas
coletivas
-‐
artigo
11º,
nº2
do
CP.
A
constituição
de
arguido
acontece
mediante,
fundamentalmente,
duas
situações:
dedução
de
acusação
ou
quando
a
pessoa
é
pronunciada
(abertura
de
instrução;
isto
significa
que
a
fase
de
inquérito
pode
decorrer
contra
um
agente
indeterminado
ou
contra
um
mero
suspeito)
-‐
artigo
57º,
nº1
do
CPP.
O
legislador
não
aguarda
pela
pronuncia,
antecipando
o
efeito
automático
da
constituição
para
a
abertura
de
instrução
como
forma
a
que
a
pessoa,
já
enquanto
arguido,
tenha
amplos
direitos
de
defesa.
Pode
ainda
dar-‐se
a
constituição
como
arguido
aquando
da
ocorrência
de
um
facto
que
está
previsto
na
lei
que
tenha
a
consequência
da
constituição
de
arguido
-‐
artigo
58º,
nº1
do
CPP.
Para
além
do
disposto
neste
artigo,
há
outro
facto
que
obriga
à
constituição
como
arguido
-‐
artigo
59º,
nº1
do
CPP
-‐
por
exemplo:
alguém
é
meramente
suspeito
de
ter
colaborado
num
crime,
tendo
nessa
qualidade
que
prestar
declarações;
durante
o
cumprimento
desse
dever
de
prestar
declarações
pode
tornar-‐se
evidente
que
a
pessoa
praticou
ela
mesma
o
crime,
ou
seja,
quando
passam
a
haver
fundadas
suspeitas
a
pessoa
tem
que
se
constituir
como
arguido
obrigatoriamente,
uma
vez
que
uma
pessoa
não
pode
ser
obrigada
a
autoincriminar-‐se
(esta
ideia
corresponde
ao
princípio
da
não
autoincriminação).
O
direito
do
arguido
à
não
autoincriminação,
surgido
no
contexto
restrito
das
declarações
do
arguido,
lança
hoje
novas
interrogações
quanto
ao
seu
âmbito
de
aplicação,
continuando
a
discutir-‐se
uma
sua
fundamentação
substantiva
ou
mesmo
mais
adjetiva.
Neste
sentido,
o
TC
entendeu
que
o
direito
à
não
autoincriminação
não
abrange
o
uso,
em
processo
penal,
de
elementos
que
se
tenham
obtido
do
arguido
por
meio
de
poderes
coercivos,
mas
que
existam
independentemente
da
vontade
do
sujeito.
Por
fim,
a
vontade
do
próprio
também
dita
a
constituição
como
arguido
-‐
artigo
59º,
nº1
do
CPP.
O
arguido
só
deixa
de
o
ser
no
trânsito
em
julgado,
ou
seja,
só
passa
de
arguido
a
condenado
ou
a
absolvido.
Assim,
até
em
fase
recursória
o
arguido
usufrui
da
presunção
de
inocência.
Neste
sentido,
o
estatuto
processual
do
arguido
alicerça-‐se
em
três
pilares:
o
direito
de
defesa,
o
princípio
da
presunção
de
inocência
até
ao
trânsito
em
julgado
da
sentença
de
condenação
e
o
principio
do
respeito
pela
decisão
de
vontade
do
próprio
(à
implicação
do
princípio
da
presunção
de
inocência;
isto
nota-‐se,
desde
logo,
na
constituição
voluntária
do
arguido;
são
exemplos:
o
arguido
só
presta
declarações
quando
quer,
só
opta
pela
abertura
de
instrução
se
quiser,
etc.).
O
direito
de
defesa
constitui
uma
“categoria
aberta”
à
qual
devem
ser
imputados,
desde
logo,
os
direitos
que
são
reconhecidos
ao
arguido
em
cumprimento
do
princípio
do
contraditório:
o
artigo
61º
do
CPP
apresenta,
desde
logo,
o
direito
a
estar
presente
em
todos
os
atos
processuais
que
diretamente
lhe
digam
respeito
-‐
nº1,
alínea
a);
o
direito
de
ser
ouvido
pelo
tribunal
ou
pelo
JIC
sempre
que
ele
deva
tomar
qualquer
decisão
que
pessoalmente
o
afete
(alínea
b)
=
direito
de
audiência);
o
direito
amplo,
chamado
de
direito
de
intervenção
que
consiste
em
poder
intervir
oferecendo
provas
e
requerendo
as
diligências
que
se
lhe
afigurarem
necessárias
-‐
presente
na
alínea
g)
embora
se
estenda
à
alínea
h);
o
direito
às
ultimas
declarações
(artigo
361º,
nº1
do
CPP).
Ainda
no
âmbito
do
artigo
61º,
nº1
do
CPP,
as
alínea
c)
e
h)
atribuem-‐lhe
o
direito
de
informação
e
as
alíneas
e)
e
f)
dispõe
quanto
ao
direito
de
constituir
advogado
ou
solicitar
nomeação
de
um
defensor.
O
arguido
tem
também
o
direito,
por
exemplo,
de
requerer
a
separação
de
processos
(artigo
30º
do
CPP),
o
segredo
de
justiça,
etc.
Apesar
de
todos
estes
direitos,
o
arguido
também
está
sujeito
a
uma
série
de
deveres
processuais
-‐
artigo
61º
do
CPP.
Acontece
que
o
arguido
não
deixa
nunca
de
ser
objeto
no
processo
na
justa
medida
em
que
é
tratado
como
um
meio
de
prova,
tanto
ao
prestar
declarações
como
ao
sujeitar-‐se
a
diligências
de
prova
(p.ex:
revista,
recolha
de
vestígios
de
pólvora,
etc.
-‐
artigo
61º,
nº3,
alínea
d)
do
CPP).
Em
virtude
do
direito
ao
silencio
o
arguido
só
tem
que
responder
com
verdade
relativamente
à
sua
identificação
-‐
questão
de
lealdade
processual;
antigamente
exigia-‐se
ainda
esta
verdade
quanto
aos
antecedentes
criminais,
o
que
mudou
por
se
considerar
intrusivo
e
irrelevante
(vem
no
processo).
O
arguido
tem
ainda
uma
obrigação
de
comparência,
o
qual
se
contrapõe
ao
direito
de
presença
(manifesta-‐se
em
diligências
que
não
obrigam
à
comparência
mas
que
o
arguido
quer,
ainda
assim,
estar
presente).
Ainda
quanto
à
qualidade
de
arguido,
é
correlativo
o
dever
ao
termo
de
identidade
e
residência.
Em
síntese:
Defensor
O
defensor,
apresentado
no
artigo
62º
do
CPP,
é
considerado
um
sujeito
processual
mas
não
tem
poderes
próprios
no
contexto
da
possibilidade
de
contradita
ou
de
apresentação
de
prova.
Isto
é,
o
defensor
só
é
considerado
sujeito
processual
por
assistir
o
arguido
em
toda
e
qualquer
fase
do
processo,
havendo
mesmo
casos
e
fases
em
que
esta
assistência
por
advogado
é
obrigatória
(artigo
32º,
nº3
da
CRP).
Ao
defensor
não
deve
caber
uma
mera
representação
do
arguido
mas
sim
o
papel
de
órgão
de
administração
da
justiça
que
atua
no
exclusivo
interesse
da
defesa,
daí
que
existam
atos
em
que
a
assistência
do
defensor
é
obrigatória
por
lei.
Contudo,
um
arguido
não
tem
que
constituir
defensor
se
se
achar
capaz
de
se
defender
a
si
mesmo;
o
defensor
poderá
ser
um
advogado
ou
um
defensor
nomeado,
podendo
o
arguido
constituir
advogado
em
qualquer
altura
do
processo
(exige-‐se
que
a
defesa
seja
técnica)
-‐
artigo
62º,
nº1
do
CPP.
O
artigo
63º,
nº1
do
CPP
mostra
que
a
lei
reconhece
ao
defensor
os
direitos
que
reconhece
ao
arguido,
exercendo
esses
direitos
em
nome
deste
último.
As
conversas
entre
arguido
e
defensor
não
podem
ser
alvo
de
escutas,
tendo
o
direito
reciproco
a
ver
as
suas
comunicações
a
serem
ressalvadas/
protegidas
no
seu
teor
-‐
artigo
187º,
nº5
do
CPP.
Isto
vai
de
encontro
ao
direito
de
o
arguido,
quando
detido,
ter
o
direito
de
comunicar
em
privado
com
o
defensor
(artigo
61º,
nº1,
alínea
f)
do
CPP).
Constitui
ainda
nulidade
qualquer
forma
de
controlo
da
correspondência
entre
o
arguido
e
o
seu
defensor
(artigo
179º,
nº2
do
CPP).
O
artigo
65º
do
CPP
diz
respeito
à
c
de
um
mesmo
defensor
assistir
vários
arguidos.
O
artigo
66º
do
CPP
respeita
aos
casos
em
que
o
defensor
não
foi
escolhido
pelo
arguido,
tendo
o
tribunal
que
cumprir
a
obrigação
de
nomear
um.
Quando
há
nomeação
pelo
tribunal,
o
defensor
(oficioso)
também
pode
ser
dispensado
se
alegar
causa
que
o
tribunal
aceite
como
sendo
justa
-‐
artigo
66º,
nº2
do
CPP;
esta
substituição
por
parte
do
tribunal
também
pode
ocorrer
em
virtude
de
requerimento
do
arguido,
desde
que
haja
causa
justa
(artigo
66º,
nº3
do
CPP).
A
substituição
de
defensor,
regulada
no
artigo
67º
do
CPP,
consiste
no
arguido
já
ter
defensor
mas
este
não
comparecer
num
dos
atos
do
artigo
64º,
nº1
do
CPP,
se
ausentar
ou
recusar
a
defesa,
tendo
que
ser
imediatamente
nomeado
um
outro
defensor.
Se
esta
nomeação
imediata
não
puder
ocorrer,
pode
decidir-‐se
interromper
a
realização
do
ato.
O
defensor
tem
a
possibilidade
de
requerer
medidas
de
prova
que
considere
necessárias,
quer
na
fase
de
inquérito
quer
na
fase
de
instrução.
Assistente
O
assistente
é
também
um
sujeito
do
processo
penal,
estando
consagrado
nos
artigos
68º
a
70º
do
CPP.
Este
será,
em
princípio,
o
ofendido
com
a
infração
penal,
ou
seja,
é
o
titular
dos
interesses
que
a
lei
quis
proteger
com
a
incriminação
-‐
artigo
68º,
nº1,
alínea
a)
do
CPP.
O
titular
do
direito
de
queixa
e
o
assistente
não
são
termos
equivalentes
ou
iguais
pois
nem
em
todos
os
casos
pode
ser
assistente
o
titular
do
direito
de
queixa.
O
artigo
68º,
nº1
do
CPP
faz
uma
enumeração
exaustiva
de
quem
pode
constituir-‐se
assistente
no
processo
penal:
a)
o
ofendido
maior
de
16
anos;
b)
as
pessoas
de
cuja
queixa
ou
acusação
particular
depender
o
procedimento
(nº5
do
artigo
113º
do
CP);
c)
no
caso
de
o
ofendido
ter
morrido
sem
ter
renunciado
à
queixa,
o
cônjuge
ou
a
pessoa
que
vivesse
em
condições
análogas
às
dos
cônjuges,
os
descendentes
e
adotados,
os
ascendentes
e
adotantes,
os
irmãos
e
seus
descendentes
(nº2
do
artigo
113º
do
CP);
d)
no
caso
de
o
ofendido
ser
menor
de
16
anos
ou
por
outro
motivo
incapaz,
o
representante
legal
e,
na
sua
falta,
as
pessoas
indicadas
na
alínea
anterior
(nº4
do
artigo
113º
do
CP);
e)
qualquer
pessoa
nos
crimes
contra
a
paz
e
a
humanidade,
de
tráfico
de
influências,
favorecimento
pessoal
praticado
por
funcionário,
denegação
de
justiça,
prevaricação,
corrupção,
peculato,
participação
económica
em
negócio,
abuso
de
poder
e
fraude
na
obtenção
ou
desvio
de
subsidio
ou
subvenção.
As
pessoas
coletivas
podem,
também
elas,
constituir-‐se
assistentes.
O
MP
quer
pois
representar
os
interesses
do
Estado,
estando
o
assistente
em
linha
com
este
-‐
o
direito
processual
penal
acaba
por
conferir
poderes
ao
assistente
numa
lógica
de
auxilio
ao
MP
(artigo
69º,
nº1
do
CPP).
No
entanto,
se
o
MP
intervir
no
interesse
do
arguido,
aí
o
assistente
já
não
o
acompanha.
De
acrescentar
que
o
assistente
é
sempre
representado
por
advogado,
conforme
consta
do
artigo
70º,
nº1
do
CPP;
isto
vem
a
significar
que
o
assistente
tem
uma
limitação
que
não
encontramos
relativamente
ao
arguido,
pelo
que
este
último
pode
em
algumas
circunstâncias
estar
sozinho
em
juízo.
O
assistente
tem
as
suas
atribuições
no
nº2
do
artigo
69º
do
CPP:
direito
geral
de
intervenção
no
processo;
deduzir
acusação
no
caso
dos
crimes
particulares
ainda
que
o
MP
não
acuse;
interpor
recurso.
No
entanto,
numa
viagem
pelo
CPP
logo
se
percebe
que
o
assistente
é
competente
a
intervir
em
muitos
outros
atos,
podendo
nomear:
o
nº3
do
artigo
7º
do
CPP
confere-‐lhe
o
direito
a
pedir
suspensão
do
processo;
pode
requerer
a
separação
de
processos
-‐
artigo
30º
do
CPP;
pelo
artigo
215º,
nº4
do
CPP
tem
o
direito
a
pronunciar-‐se
sobre
a
excecional
complexidade
do
processo;
o
artigo
107º,
nº6
do
CPP
diz-‐nos
que
tem
a
possibilidade
de
pedir
prorrogação
de
prazos;
o
nº1
do
artigo
108º
do
CPP
permite-‐lhe
pedir
a
aceleração
processual;
tem
ainda
o
direito
de
requerer
o
tribunal
de
júri
-‐
artigo
13º,
nº1
do
CPP;
pelo
artigo
32º,
nº1
do
CPP
percebemos
que
pode
deduzir
incompetência
do
tribunal;
do
artigo
41º,
nº2
do
CPP
retira-‐se
o
direito
a
fazer
declaração
de
impedimento;
pelos
artigos
269º,
nº2
e
268º,
nº2
do
CPP
mostram
que
possui
direitos
específicos
na
fase
de
inquérito;
o
artigo
271º,
nº1
do
CPP
diz-‐nos
que
as
declarações
para
memória
futura
podem
por
ele
ser
requeridas;
pelo
artigo
289º,
nº2
do
CPP
vemos
serem-‐lhe
atribuídos
direitos
respeitantes
à
fase
de
instrução;
o
artigo
346º
do
CPP
espelha
direitos
no
âmbito
da
fase
de
julgamento;
etc.
O
assistente
tem
direitos
de
participação,
em
relação
ao
tribuna,
ao
processo
e
de
sindicância.
Assim,
acaba
por
ter
uma
posição
que
está
embasada
num
leque
muito
variado
de
direitos.
O
nº3
do
artigo
68ª
do
CPP
diz-‐nos
que
o
assistente
pode
intervir
em
qualquer
altura
do
processo,
o
que
tem
como
consequência
que
o
assistente
aceite
aquilo
que
está
para
trás
relativamente
à
sua
constituição.
Os
prazos
em
que
o
assistente
deve
dizer
que
quer
participar
no
processo
penal
vêm
também
expostos
neste
artigo,
havendo
a
realçar
a
este
respeito
que
a
alínea
c)
-‐
permite
que
o
assistente
apresente
requerimento
ao
juiz
no
prazo
para
interposição
de
recurso
da
sentença
-‐
nos
leva
a
questionar
qual
a
utilidade
do
assistente,
sendo
neste
caso
quase
nula,
uma
vez
que
o
assistente
só
vai
poder
interpor
recurso;
o
assistente,
que
deve
ter
uma
participação
constitutiva
na
declaração
do
direito
do
caso,
sendo
a
audiência
de
julgamento
em
1ª
instância
o
melhor
momento
para
esta
declaração,
acaba
por
não
ter
relevância
alguma
no
processo
(isto
representa
uma
descaracterização
da
figura
do
assistente).
Tratando-‐se
de
crime
particular
o
requerimento
tem
que
entrar
em
10
dias
a
contar
da
advertência
que
refere
o
artigo
246º,
nº4
do
CPP.
O
assistente
enquanto
cidadão
deve
ser
respeitado
na
sua
dignidade,
logo
deve
ter
um
direito
de
participação
ativa
no
processo
penal
(embora
não
seja
parte).
Este
não
está
em
situação
de
igualdade
relativamente
ao
arguido
mas
segue
o
princípio
de
equidade.
O
processo
penal
não
existe
para
acautelar
a
posição
do
assistente,
ou
seja,
não
é
um
processo
de
cariz
vitimológico
(se
o
fosse,
o
arguido
começaria
a
ser
tido
como
objeto
do
processo
e
o
processo
começaria
a
ser
um
processo
de
partes,
de
vingança
privada).
Partes
civis
As
partes
civis
(artigo
71º
e
ss.
do
CPP)
têm
alguns
direitos
de
intervenção
no
processo
penal
mas,
materialmente,
não
se
consideram
sujeitos.
A
intervenção
processual
do
ofendido
ou
do
assistente
ocorre
na
“ação
penal”
propriamente
dita.
Já
na
“ação
civil”,
correspondente
ao
pedido
de
indemnização
de
perdas
e
danos
emergentes
da
prática
do
crime,
intervém
o
lesado
(artigo
74º,
nº1
do
CPP).
Resulta
desta
circunstância
que
o
lesado
e
o
ofendido
possam
ser
pessoas
diferentes.
Para
além
do
lesado,
a
pessoa
civilmente
responsável
é
outra
parte
civil
que
intervém
no
processo
penal
-‐
por
exemplo:
A
empurra
B
contra
um
vidro
na
ULP,
vindo
este
a
partir
à
o
ofendido
é
B,
o
lesado
é
a
ULP
e
o
responsável
civil
será
a
seguradora
da
ULP
que
cobrirá
os
custos
do
dano
causado.
Em
virtude
do
princípio
da
adesão
-‐
artigo
71º
do
CPP
-‐
estamos
a
falar
de
uma
verdadeira
ação
civil
que
pode
estar
enxertada
no
processo
penal.
Acontece
que
a
indemnização
de
perdas
e
danos
emergentes
de
crime
é
regulada
pela
lei
civil
mas
o
pedido
correspondente
é
deduzido
pelo
lesado
no
processo
penal
respetivo,
só
o
podendo
ser
em
separado
nos
casos
previstos
na
lei
(artigo
72º
do
CPP
-‐
quebra
excecional
do
princípio
da
adesão).
Pelo
artigo
72º,
nº2
do
CPP
se
o
assistente
pedir
a
indemnização
civil
em
separado
e
previamente
a
um
tribunal
civil,
então
já
não
terá
direito
ao
processo
penal
(há
como
consequência
uma
renúncia
tácita).
A
palavra
“crime”
dos
artigos
71º
e
74º
do
CPP
não
pode
ser
entendida
como
tal
mas
sim
como
“factos
lesivos”,
sob
pena
do
artigo
377º,
nº1
do
CPP
ser
inconstitucional.
O
lesado
tem
uma
série
de
direitos:
direito
a
ser
notificado
da
acusação,
da
pronuncia,
do
dia
da
audiência
de
julgamento,
de
arquivamento
ou
não
pronuncia;
obter
certidões
e
consultar
o
processo.
No
entanto,
resulta
também
do
CPP
que
não
pode
intervir
na
instrução
nem
em
algumas
formas
especiais
do
processo.
Do
artigo
75º,
nº2
do
CPP
resulta
um
dever
de
informação
aos
lesados
da
possibilidade
de
deduzirem
indemnização
civil
em
processo
penal
e
das
formalidades
a
observar,
por
parte
das
autoridades
judiciárias
e
dos
órgãos
de
polícia
criminal.
O
lesado,
no
caso
de
ser
apenas
lesado,
deve
sempre
fazer-‐se
representar
pelo
advogado
-‐
artigo
76º
do
CPP.
Se
o
lesado
for
também
o
ofendido,
então
devem
ser
seguidas
as
regras
de
representação
do
assistente.