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DIREITO PROCESSUAL PENAL

3º ANO

1. INTRODUÇÃO

No âmbito do estudo em torno do Direito Processual Penal (direito adjectivo), vamos verificar que para este ramo de
Direito Público, a sua essência é organizar os processos através dos quais se aplica o Direito Penal (direito substantivo)
e, se pode debater a responsabilidade criminal de alguém.

Neste sentido, o legislador moçambicano, através do Código Penal ( Lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro), consagra as
condutas que colocam em causa os bens jurídicos penalmente relevantes e do mesmo modo trás sanções devidas. Isto é, a
lei estabelece a previsão e a estatuição, conforme são as normas jurídicas punitivas. Ao ser assim, não basta que exista
uma conduta violadora de direitos e uma sanção legalmente prevista, é sim necessário chamar o Direito Processual Penal
para materializar a pena, através de um conjunto de trâmites legais próprios para o efeito.
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O Processo Penal Moçambicano (Lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro), tal como qualquer outro, fazendo um direito
comparado, detém um objecto próprio e visa uma certa finalidade. No entanto, para que a sua finalidade seja alcançada
é necessário que por um lado se delimite o seu âmbito de actuação, a sua natureza jurídica, a sua função e sem descorrar
as fontes de onde emana o Direito Processual Penal, adiantando desde já que constitui fonte principal desta ciência a
Constituição da República de Moçambique.

Como objectivos especificos o estudante deve ser capaz de:

 Definir o Direito Processual Penal;

 Estabelecer a diferença entre o Direito Processual Penal e o Direito Penal;

 Saber qual é a função do Direito Processual Penal;

 Conhecer o seu objecto, natureza jurídica e o seu fim;

 Compreender os Princípios Gerais do Processo Penal;

 Conhecer os Pressupostos Processuais do D.Processual Penal;

 Distinguir os Sujeitos Processuais

 Tramitar as diversas formas do Processo Penal


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1.1 CONCEITO

Segundo Jorge Figueiredo Dias, (1974) Direito Processual Penal Vol.I Coimbra Editora, o Direito Processual Penal
(direito adjectivo ou formal) pode ser entendido como sendo o ramo do Direito Público que organiza os
procedimentos através dos quais se aplica o Direito Penal (direito substantivo ou material) e se pode debater a
responsabilidade criminal de alguém.

O Direito Substantivo (material) é o que define as relações concretas das pessoas em sociedade e as submete á sua
acção. E o Direito Adjectivo (processual ou formal) consiste nas regras, nos procedimentos do direito processual que
regulam a existência dos processos, bem como o modo destes se iniciarem, se desenvolverem e terminarem.

O exemplo com relação ao Direito Substantivo (material), podemos verificar o artigo 396º C.P. que passo a citar
“incitamento á desobediência colectiva” quem, com intenção de destruir, alterar ou subverter pela violência o
Estado de Direito Constitucionalmente estabelecido, incita em reunião pública ou por qualquer meio de
comunicação com o público, á desobediência colectiva de leis e ordem pública é punido com a pena de prisão de 2
a 8 anos”. Portanto, para se aplicar o Direito Substantivo, primeiro deve entrar em acção o direito adjectivo, que é o
complexo de princípios e normas que constituem o instrumento técnico necessário á aplicação do direito penal.
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O Processo Penal é um ramo de Direito Público por dois motivos a saber:

 A maioria das regras são de natureza imperativa;

 Concretiza valores e interesses constitucionais.

No processo penal, em regra os casos só chegam a julgamento pela decisão de uma entidade pública – o Ministério Público
–ver os artigos 52, 284, 308 e 330, ou pela decisão de um juiz de instrução criminal, nos termos dos artigos 332 e 334
todos do C.P.P.

Um particular não pode levar a alguém ao julgamento. Pode sim desencadear o processo, mas não depende só do particular
levar o caso a julgamento. Isto tem a sua razão, em não querer que o processo penal seja transformado num instrumento de
persseguição pessoal, de vingança privada.

Sendo um ramo de direito público também se tornam diminutos os casos em que um particular pode levar a alguém a
julgamento penal. Mesmo quando isto acontece, nos crimes particulares, a acusação particular não passa de uma acusação
subsidiária á acusação do Ministério Público. Vide nº 2 do artigo 330 do C.P.P.
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1.1.1 RELAÇÃO ENTRE DIREITO PENAL E O DIREITO PROCESSUAL PENAL

Por razões pedagógicas e cientificas, separou-se o Direito Penal do Direito Processual Penal. Porém, estes são
indissociáveis. Por um lado, é o Direito Penal Substantivo que é aplicado no âmbito do Processo Penal. Por outro lado, o
próprio direito penal substantivo necessita do direito processual penal para se efectivar na sua plenitude.

Jorge Figueiredo Dias, defende que o Direito Penal e o Direito Processual Penal estão numa relação de
complementaridade, uma é essencial para as funcionalidades da outra.

O Direito Penal Substantivo, estabelece por forma geral e abstracta quais os factos que devem ser considerados crimes e,
quais são as penas que lhes corresponde. Este contém a tipificação do ilicito e da culpa de cada crime e nas suas estatuições
a consequência jurídica que se liga á realização do tipo. Porém, a concretização do Direito Penal Substantivo exige uma
regulamentação complementar que discipline a investigaçãoe esclarecimento do crime em concreto e permitir a aplicação da
consequência jurídica.

Esta regulamentação complementar é constituida pelo Direito Processual Penal (direito adjectivo) que, implica a afixação
dfas condições e dos termos do movimento processual destinados a averiguar a existência de um crime, determinar os seus
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agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem á decisão sobre a acusação, vide artigo 307
C.P.P. Significa isto que o Direito Processual Penal visa a materialização do Direito Penal, aqui encontra-se a
instrumentalidade estritamente funcional daquele perante este. Lembrando que o Processo Penal é autónimo relativamente
ao Direito Penal.

Para terminar esta abordagem podemos ver o artigo 1º do C.P.P. que passo a citar “ Exigências de Processo” Nenhuma pena
ou medida de segurança pode ser aplicada sem haver um processo em que se prova a exisência da infracção e a
responsabilidade criminal do acusado, em conformidade com as regras definidas no Código de Processo Penal.

Finalizando, temos as garantias substantivas e processuais: O legislador contempla garantias substantivas como garantias
processuais porque existe a relação entre o Direito Substantivo e o Direito Processual (adjectivo). Temos como garantia
processual a presunção de inocência artigo 3, principio de contraditório artigo 5, o principio de Juiz Natural artigo 16.

1.1.2 DIFERENÇA ENTRE DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

Jorge Figueiredo Dias (D.P.P.) 1ª edição, coimbra editora, 2004, defende que o Direito Penal na sua essência cumpre uma
função especifica de protecção dos bens fundamentais de uma comunidade, que directamente se prendem com a livre
realização da personalidade ética do Homem e cuja violação constitui crime. E por sua vez, o Direito Processual Penal pode
ser entendido como sendo o conjunto de normas que concretizam a execução das penas do Direito Penal. Assi sendo, as
normas do direito criminal só se aplicam com o concurso do Direito Processual Penal.
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1.1.3 OBJECTO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

A estrutura do Sistema Processual Penal vigente em Moçambique é basicamente acusatório, mas integrado por um
principio de investigação. Isto significa que o Tribunal só possa intervir quando solicitado por uma acusação formulada por
entidade diversa ou distinta e independente (neste caso trata-se do Ministério Público) e que o conteúdo da acusação
delimita a própria actividade processual do Tribunal. Existe uma identidade essencial entre o conteúdo da acusação, a
pronúncia e a sentença final, que constitui importante garantia para o arguido, na medida em que só terá de defender-se do
que é acusado e pronunciado e só pelo que é acusado e pronunciado poderá ser julgado.

Disto resulta que a sentença final, só pode condenar o arguido por factos constantes do despacho de pronúncia ou equivante.
Lembrando que que o processo penal subordina-se ao principio do contraditório, artigo 5º do C.P.P.

1.1.4 FUNÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

A função essencial do Direito Processual Penal cumpre-se na decisão judicial de saber se foi praticado um crime e, em caso
afirmativo qual é a consequência jurídica que daí deriva. De referir que, o Direito Processual Penal (direito adjectivo) é o
conjunto ou complexo de princípios e normas que constituem o unstrumento técnico necessário à aplicação do Direito Penal
(direito substantivo).
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1.1.5 FIM DO DIREITO PROCESSO PENAL

O Direito Processual Penal visa essencialmente a aplicação do Direito Penal substantivo aos casos concretos. Essa função
instrumental que lhe é caracteristico exprime-se de forma simples e impõe como fim a prosseguir a ideia de realização da
justiça, que só é possivel obter com a descoberta da verdade material e o restabelecimento da paz jurídica violada.

2.NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

O Professor Jorge Figueiredo, afirma que para melhor compreendermos a natureza jurídica do Direito Processual Penal é
necessário estabelecermos uma comparação entre o processo penal e o processo civil, quer por se tratar de dois tipos
processuais inteiramente submetidos ao domínio da actividade jurisdicional, quer porque, por força da Lei nº 25/2019, de 26
de Dezembro, no seu artigo 12, o processo civil funciona como direito subsidiário relativamente ao processo penal.Vejamos,
pois, alguns traços diferenciadores destes dois tipos de processo:

Enquanto no Processo Civil se dirimem conflitos de interesses particulares, tutelados pelo direito privado, no Processo
Penal está em causa a justiça de pretensão punitiva do Estado, derivada de um crime, isto é, da violação de interesses
fundamentais da ordem jurídica, tutelados pelo Direito Público;
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O Processo Civil não é forçosamente chamado a intervir para que, através da decisão judicial, se concretize uma relação do
direito privado, na generalidade dos casos, a realização concreta do direito privado tem lugar independentemente do
processo, ao passo que no Processo Penal é pressuposto necessárioda realização do Direito Penal Substantivo, a
submissão do agente de um ilicito criminal ás sanções previstas na Lei só pode realizar-se por via de um processo e
consequentemente de uma decisão jurisdicional;

No Processo Civil tem plena aplicação do princípio da disponibilidade do objecto processual das partes, pois, estas gozam
da faculdade de fazerem valer no processo as suas pretensões ou de renunciarem a elas, já no Processo Penal o objecto do
processo é indisponível pelos sujeitos processuais, pois de outra forma seria impossivel satisfazer o interesse da
comunidade e do próprio Estado em esclarecer os crimes e punir os seus responsáveis;

Destes três principais elementos de distinção entre o Processo Civil e o processo penal, resultam outras diferenças que
importa salientar: em Processo Penal, contrariamente ao que sucede no Processo Civil, não domina o princípio de auto
responsabilidade das partes em matéria de prova e, por consequência, é inexigível o ônus de prova, contradizer e impugnar;
em processo penal, o juiz goza de uma ampla discricionalidade na apreciação dos factos que constituem obecto do processo,
por força do principio de investigação ou da verdade material, o que não acontece no processo civil entre as partes, não
existe no processo penal, uma verdadeira contraposição de interesses, pois, como veremos na altura devida, o Ministerio
Público não actua no sentido de obter a condenação do arguido a qualquer preço, mas está como o próprio defensor obrigado
a um dever de objectividade; contraposição de interesses existem sim, entre as partes no processo civil;
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Considerando as diferenças acima elencadas, podemos afirmar com certeza que o Direito Processual Penal
Moçambicano é ramo do Direito Público. E é Direito Público porque a prevenção e repressão da criminalidade,
através da administração da justiça penal, constitui tarefa exclusiva do Estado, que a realiza no exercicio de uma das
suas funções essenciais, a função jurisdicional.

2.1 FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

a) A Constituição da República de Moçambique

A Constituição da República, Lei fundamental e hierarquicamente superior é a primeira fonte do Direito Processual Penal.
Nela, contém preceitos respeitantes aos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos que são directamente
aplicáveis, vinculando entidades públicas e privadas.

Especial referência deve ser feita aos seguintes dispositivos constituicionais como fontes do nosso direito: igualdade dos
cidadãos perante a Lei - artigo 35 CRM; direito á vida e integridade física artigo 40 CRM; o capítulo IV reporta a garantia
dos direitos e liberdades, destacando-se os artigos 73 a 81, entre outros, no capítulo V, referente aos Tribunais, são
disposições relevantes para a matéria em questão os artigos 232 a 222.

b) O Código de Processo Penal


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O Código de Processo Penal vigente é, sem dúvidas uma das mais importantes fontes doDireito Processual Penal. Aprovado
pela Lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, o novo Código de Processo Penal, no seu artigo 19, atribue competências ao Juiz
de Instrução Criminal onde passa a exercer as funções jurisdicionais relativas á instrução, dirigir a audiência preliminar e
decidir quanto á pronúncia. Ainda neste mesmo artigo no seu nº 2, diz que, não pode proceder ao julgamento do arguido o
juiz que, no processo respectivo, tenha contra ele, proferido despacho de pronuncia, dando mais ênfase á descoberta da
verdade material como fim essencial do Direito Processual Penal.

c) Fontes Legislativas Internacionais

Os textos jurídicos internacionais são fonte do direito processual penal, na medida em que vigoram na ordem jurídica
interna, nos termos do artigo 18 da CRM, são alguns textos mais significativos:

- A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de Dezembro de 1948;

- O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e respectivo protocolo facul;

- A Carta Africana dos Direito do Homem e dos Povos, de Junho de 1981;


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-A Convênção contra tortura e outras formas de tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante, de 26 de Junho de
1987 e mais…

d) Fontes Doutrinárias (interpretação de quem estuda a lei)

A doutrina não é fonte em sentido formal mas tem um papel de relevo na construção da dogmática jurídico do processo
Penal na sua busca incessante de soluções justa e adequadas para concretos problemas da vida comunitária.

e) Fonte Jurisprudencial ( interpretação feita pelo aplicador da Lei)

A jurisprudencia não é fonte imediata do direito, mas tem a função “criadora” do direito, não querendo de forma alguma
colocar esta ao mesmo nivel de obrigatoriedade geral da própria Lei.

3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

O Processo Penal Moçambicano rege-se por uma “estrutura basicamente acusatória, integrada por um princípio de
investigação”. Enquanto direito constitucional aplicado, o processo penal conta entre as suas finalidades a da administração
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da justiça, busca da verdade material, restabelecimento da paz jurídica violada e tutela de direitos individuais. Entre esses
direitos, constitucionalmente protegidos, contam-se o da dignidade da pessoa humana, inviolabilidade da reserva da vida
privada, acesso ao direito e garantias de defesa, da presunção de inocência (até ao trânsito em julgado de sentença
condenatória), os quais se conformam as soluções legais da lei processual penal ordinária. Na decorrência de tal quadro
constitucional, podem sinalizar-se como princípios fundamentais do Processo Penal Moçambicano, o princípio da
legalidade processual (oficialidade), da estrutura acusatória e contraditório, da verdade material, da livre apreciação
da prova e do princípio in dubio pro reo.

3.1 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE, LEGALIDADE PROCESSUAL OU OFICIOSIDADE

A promoção processual dos crimes levanta-se em tarefa fundamental dos Estados modernos. Pelo que o carácter público da
acção penal e o monopólio estadual da perseguição dos agentes de infracções conduziu á ideia de que a notícia de um crime
dá sempre lugar á abertura de um processo crime. Tal reserva oficiosa do exercício da acção penal- normalmente a cargo do
Ministério Público (MP), vide artigo 52 C.P.P, ainda coadjuvado pelos òrgãos Auxiliares nomeadamente: Serviço Nacional
de Investigação Criminal (SERNIC), artigo 61 do C.P.P e Polícia da República de Moçambique (PRM), artigo 64 do C.P.P,
sofre algumas limitações, em atenção á existência de outros interesses ( da vítima, da relativa danosidade social, etc) que
sugerem a exigência de verificação de certos pressupostos processuais (condições de procedibilidade). É o que sucede com
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os crimes semi-públicos, vide o artigo 55 C.P.P e os crimes particulares, artigo 56 do C.P.P, os quais demandam um impulso
inicial do ofendido ou do lesado para que o Ministério Público esteja dotado de legitimidade para abertura do processo penal
e a respectiva promoção.

Nos termos do preceituado no artigo 53 do C.P.P, o Ministério Público, no exercício das suas funções, está sujeito aos
critérios de legalidade, objectividade, isenção e exclusiva sujeição às directivas e ordens previstas na lei. Mesmo no
momento do encerramento do inquérito, a apreciação da prova não se traduz num exercício arbitrário da faculdade que lhe
assiste, antes necessita de observar um critério de alta probabilidade de condenação, para legitimar o exercício da acção
penal (acusação). Por sua vez, a prova em processo penal visa demonstrar a realidade dos factos. A verdade processual
reconduz-se ao resultado da prova, equivalente à convicção de que certo enunciado do facto é justificada e racionalmente
acetável. E, ainda, a verdade material corresponde a uma verdade processualmente válida e cujo escrutínio não reside,
exclusivamente, na disponibilidade dos sujeitos processuais mas também no poder-dever do Tribunal de a prosseguir e
esgrimir à luz da liberdade de apreciação e de certos parâmetros de mediação legal.

3.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Jorge Figueiredo Dias (D.P.P.) 1ª edição, coimbra editora, 2004, associa o princípio do contraditório à “oportunidade
conferida a todo participante processual de ter acção, através da sua audição pelo tribunal, no decurso do processo”.
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Por outro lado, o princípio do acusatório, vide artigo 5 do C.P.P, implica que ao arguido seja dado a conhecer as imputações
que lhe são feitas, por forma a poder reagir às mesmas nos termos do artigo 333 do C.P.P.

3.3 PRINCÍPIO DA INVESTIGAÇÃO OU DA “VERDADE MATERIAL”

Por sua vez, o princípio da investigação (também dito inquisitório) ou da verdade material contrapõe-se ao princípio
dispositivo ou de contradição. Se este último princípio parte da concepção segundo a qual o processo se situa no âmbito da
disponibilidade das partes, como um duelo entre as partes sob a arbitragem do Juiz, distante e passivo, a quem é indiferente
quanto ao resultado. Já o princípio da investigação ou da “verdade material” postula que o objecto do processo seja
indisponível ( logo, com impossibilidade de desistência da acusação pública ou transação com a defesa). Por outro lado, nos
termos do princípio em apreço caberá ao Tribunal investigar, independentemente das contribuições dadas pelas partes, o
facto submetido ao julgamento. A estrutura acusatória conduz a que a instauração do processo e a delimitação do seu objecto
não caiba ao tribunal mas não impede que vigore o princípio da investigação, ou (também) a iniciativa probatória caiba ao
tribunal.

Significa também, em certa dimensão do princípio da investigação ou da “verdade material”, que sobre os intervenientes não
impede qualquer ónus (o Ministério Público pode requerer e o juiz pode também oficiosamente ordenar quaisquer
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diligências que se julguem indipensáveis para o descobrimento da verdade, mesmo quando a acção penal depender da
acusação particular.

3.4 PRINCÍPIO DA LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA

A prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente, conforme dispõe o artigo
157 do C.P.P. Jorge Figueiredo Dias, salienta que não pode confundir-se a livre convicção do juiz com uma convicção
puramente subjectiva, emocional e, portanto, imotivável.

Na verdade, se “ a verdade que se procura é uma verdade prático-jurídica e se, por outro lado, uma das funções primaciais de
toda sentença é a de convencer os interessados do bom fundamento da decisão, a decisão do juiz há-de ser, é certo, uma
convicção pessoal. Até porque nela desempenha um papel de relevo não só a actividade puramente cognitiva mas também
elementos racionalmente não explicáveis.

O principio da livre apreciação da prova, implica um sistema de fundamentação das decisões, vide atigo 8 do C.P.P, em
matéria de facto ao exigir-se uma “ exposição tanto quanto possivel completa, ainda que sucinta, dos motivos de facto e de
direito que fundamentam a decisão.
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3.5 PRINCÍPIO “ IN DUBIO PRO REO”

Para que se estabeleça validamente uma dimensão consolidade de “prova suficiente” é necessário que, também na
prossecução da actividade processual, se tenha verficado algumas condições básicas. Antes demais, no plano da direcção do
inquérito, é imperioso que o Ministério Público tenha levado a cabo um domínio efectivo (não mero domínio virtual) do
processo, por outro lado, importa que se tenha procedido à realização exaustiva da investigação (diligências possíveis, úteis
e suficientes) quer no sentido da verificação da imputação objectiva e subjectiva do delito quer no sentido da exclusão do
crime ou da autoria do suspeito, é ainda necessário que as diligências de prova e demais actos processuais tenham sido
realizadas com observância dos direitos fundamentais, dos princípios processuais, das regras e das proibições de prova, para
esteja garantida a utilizabilidade da prova, delimitando-se o “efeito dominó” das provas diferentes ( mas derivadas de provas
proibidas) face às provas independentes, sem conexão fáctica com as proibidas. A convicção deve formar-se como resultado
final de operações sequenciais de análise do puzzle indiciário; apreciação de cada elemento da prova; individualmente
considerado; análisa diferenciada dos diversos meios e ponderação global.

Resta dizer que a verificação da “dúvida razoável” sobre determinado facto, equivale a dizer que o mesmo não está
suficientemente indiciado ou provado e não pode ser objecto de acusação.
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Na Lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro (Código de Processo Penal), temos no Título I “Princípios Fundamentais e
Garantias do Processo Penal”, Capítulo I “Disposições Preliminares e Gerais” que constam dos artigos 1º a 8º, 263º e 265º
a turma vai proceder à leitura e interpretação desses princípios. Na Constituição da República de Moçambique, vamos
proceder com a leitura e interpretação do artigo 65º, 66º

4. PRESSUPOSTOS SUBSTANTIVOS E PROCESSUAIS

Existem 2 (dois) tipos de pressupostos a saber: os substantivos e os processuais. Os Pressupostos Substantivos


correspondem à configuração da lei material ( facto típico, ilícito, culposo e punível), relacionando-se com o facto.
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Os Pressupostos Processuais correspondem a tudo aquilo que seja exterior ao facto e se relacione com o processo penal.

Tanto os pressupostos substantivos como os pressupostos processuais têm o mesmo valor constitucional. Do ponto de vista
dogmático podemos distinguí-los, mas constitucionalmente estes são equivalente.

Critério: “Faz parte do elenco de pressupostos Substantivos (materiais), tudo o que integrar o facto ou esteja em conexão
imediata com o facto. Tudo o que seja exterior ao facto, que condicione o processo poderá ser um pressuposto processual.

Por Exemplo: o Crime de Furto ( artigo 270 do C.P), baseia-se numa conduta de subtração de coisa móvel alheia com
ilegitima intenção de apropriação. Tudo isto são pressupostos substantivos.

Este crime exige que seja apresentada uma queixa ou denúncia nos termos do artigo 285 C.P.P, para que o facto seja levado
a julgamento. A queixa ou denúncia é uma manifestação de vontade que ocorre depois do facto, pelo que só pode ser um
pressuposto processual.

5. OS SUJEITOS PROCESSUAIS

O conceito de Sujeitos Processuais tem uma dimensão doutrinária. Para o Professor Jorge Figueiredo Dias a distinção entre
os sujeitos processuais e os demais intervenientes faz se verificando aqueles que têm poderes de decisão.
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No Código de Processo Penal aprovado pela Lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, intervêm várias entidades, órgãos de
aministração da justiça, órgãos e agentes da polícia e particulares, aos quais cabe a prática dos mais diversos actos
processuais, e todos estes são designados de Participantes Processuais.

De entre os participantes processuais distinguem-se:

- Sujeitos do Processo: são os participantes processuais que conduzem activamente o processo, cuja actividade tem função
determinante da decisão final.

Estes são o Juiz, a quem cabe o exercício da jurisdição e o dever de decidir; o Ministério Público, como detentor da acção
penal e acusador; o Assistente que auxilia o ministério Público e acusa; o Arguido, sobre quem recai a acusação e sem a
qual não há julgamento e, o Defensor ao qual cabe o exercício do dever de defender o arguido.

- Meros Participantes do Processo: estes apenas colaboram no processo, não têm faculdades de iniciativa ou de decisão
em relação ao processo.

Estes são os Funcionários Judiciais, que trabalham nas secretarias dos tribunais e das procuradorias e auxiliam nas
auduências; os Agentes da Polícia que auxiliam o Ministério Público nas investigações, apoiam no cumprimento das
decisões judiciais e na manutenção da ordem e tranquilidade nas audiências; as Testemunhas, pessoa que presencia um
factoou ouve falar sobre o mesmo e que pode ajudar na produção da prova; os Peritos que os técnicos ou especialistas numa
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matéria e dão a sua opinião sobre questões que lhe são submetidas pelo juiz; e outros intervenientes ocasionais ( como , por
exemplo, os Declarantes, ofendido).

N.B: Conteúdos por dar até a realização da prova no dia 01 de Abril de 2022.

- Formas e Tramitação do Processo Penal

1- Formas do Processo artigo 305 do C.P.P;

2 - Processos Especiais artigo 306 do C.P.P;

3 – Tramitação do Processo Comum em Primeira Instância artigo 307 do C.P.P.

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