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Aqui mais do que qualquer outro ramo da ciência jurídica, as relações entre o direito substantivo e
o direito adjetivo formam uma unidade tal que, em regra, o primeiro não pode realizar-se
plenamente sem o segundo. Na verdade, e de modo diverso do que sucede, por exemplo, com o
direito civil, que na maioria dos casos se realiza e se aplica espontaneamente, por livre vontade dos
interessados, o direito penal não é de aplicação voluntária, só é efetiva por via de uma atividade
processual. Por isso, o artigo 1º CPP dispõe que “a todo o crime ou contravenção corresponde uma
ação penal, que será exercida nos termos deste código”.
Há assim uma relação de instrumentalidade necessária entre o direito processual penal e o direito
penal substantivo que os distingue da conexão também existente entre os demais ramos do direito
e os respetivos processos. Isto resulta do facto de ser, por meio do direito penal, globalmente
considerado, que o Estado cumpre a importante função de proteger os valores fundamentais da
sociedade humana, entre os quais sobressaem o direito à vida, integridade física e psíquica,
liberdade sexual, a propriedade individual ou coletiva, a ordem pública entre outras, função que se
expressa no dever de administrar e realizar a justiça penal. É o que se designa por jus puniendi ou
monopólio estadual da justiça jurisdicional.
Feitas estas considerações podemos definir o direito penal como o conjunto de princípios e
normas codificadas ou constantes de diplomas avulsos que consagram os pressupostos gerais da
punição que preveem as condutas puníveis e estabelecem as penas e os respetivos regimes, ao
passo que o direito processual penal constitui um conjunto de normas codificadas que permitem a
realização de atos, com obediência a determinadas formalidades, praticados e ordenados pelo
tribunal (pois é à função jurisdicional que está assegurado o dever de realização da justiça penal
nos termos do artigo 202º CRP) e outras autoridades judiciais competentes com vista à descoberta
dos factos constitutivos da prática do crime e dos seus agentes, para que o tribunal possa proferir
decisão sobre a aplicação ou não de uma determinada sanção ao arguido.
Apesar destas mútuas influências, o certo é que não deixa de existir uma clara autonomia entre o
direito penal e o direito processual penal, resultante, desde logo, da diversidade do respetivo objeto:
o primeiro tem a ver diretamente com a ordenação da vida em sociedade, qualificando de forma
geral e abstrata, os comportamentos humanos em função dos valores jurídicos que considera
fundamentais para a comunidade e prescrevendo sanções para quem violar esses valores, o segundo
visa assegurar que os atos tendentes à decisão sobre a prática de um crime e a aplicação da pena ao
respetivo agente se realizem com absoluto respeito pelos princípios da justiça.
O artigo 1º, alínea f) CPP define alteração substancial dos factos como “aquela que tiver por efeito a
imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções
aplicáveis”. Assim, o primeiro requisito é que ocorra uma modificação dos factos, considerando-se
“facto” o acontecimento ou ocorrência, passada ou presente, suscetível de prova. Depois, é
necessário que a modificação ocorra em factos relevantes para a imputação de um crime ou para a
agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis. A alínea a) do artigo 1º CPP define “crime”
como “o conjunto de pressupostos de que depende a aplicação ao agente de uma pena ou de uma
medida de segurança criminais. O Acórdão TRC 12/04/2018, a este propósito, refere que o crime
que para este efeito releva é o crime diverso, entendido não como diferente tipo legal em sentido
substantivo, mas no sentido de facto diferente, situado para além dos limites do “pedaço de vida”
que constitui o objeto do processo e, portanto, um crime novo. A autonomia dos critérios
estabelecidos no artigo 1º, alínea f) CPP determina que não deixa de ser crime diverso o que, face à
alteração dos factos, passa a ser punido com sanção menos grave. Por sua vez, a alteração não
substancial dos factos define-se por exclusão de partes, comungando desta qualidade toda a
alteração de factos que, não sendo substancial, tenha relevo para a decisão da causa (artigo 358º,
nº1 CPP).
A disciplina da alteração substancial dos factos encontra-se fixada no artigo 359º CPP. Existindo
acordo entre o Ministério Público, o arguido e o assistente quanto à continuação do julgamento pelos
novos factos, e não determinando estes a incompetência do tribunal, prossegue o julgamento,
devendo esses factos novos serem considerados para efeitos de condenação (artigo 359º, nº3 CPP).
Não existindo acordo, os novos factos não podem ser considerados pelo tribunal para efeitos de
condenação, nem implica a extinção da instância (artigo 359º, nº1 CPP). Quando tal sucede, quando
não existe acordo, ou os novos factos são autonomizáveis em relação ao objeto do processo e a
comunicação da alteração substancial dos factos ao Ministério Público vale como denúncia para o
respetivo procedimento (artigo 359º, nº2 CPP), ou não são autonomizáveis, situação em que, porque
não podem ser considerados para efeitos de condenação, se tornam irrelevantes.
A disciplina da alteração não substancial dos factos encontra-se fixada no artigo 358º CPP e consiste,
basicamente, na sua comunicação ao arguido e na concessão do tempo estritamente necessário para
a preparação da defesa, considerada em toda a sua amplitude.
Tribunal;
Ministério Público;
Assistente;
Estes constituem sujeitos processuais
Arguido;
Defensor;
Partes Civis;
Órgãos e Autoridades de Polícia Criminal;
Ofendido;
Suspeito;
Testemunha;
Perito;
Assim, enquanto que os participantes processuais praticam atos singulares cujo conteúdo processual
se esgota na própria atividade, os sujeitos processuais são titulares de direitos autónomos de
conformação da concreta tramitação do processo como um todo, em vista da sua decisão final. Deste
modo, o que distingue, em sentido estrito, os sujeitos processuais dos participantes processuais é o
poder que os primeiros têm de nos termos da lei, moldar o processo em conformidade com os seus
atos (chamado poder de conformação processual).
(1) TRIBUNAL
Do princípio do juiz natural na formulação que lhe é atribuída pelo artigo 32º, nº9 CRP, cabe à lei
definir a competência do tribunal ou do juiz, de harmonia com o artigo 165º, nº1 alínea p) CRP, onde
se dispõe que é da competência exclusiva da Assembleia da República, salvo autorização ao Governo,
legislar sobre a competência dos tribunais. Deste princípio do juiz natural decorre ainda a proibição
de criação de tribunais especiais ou da atribuição de competências a um tribunal ou a um juiz distinto
do que era competente segundo a lei anterior. Desta forma se garante que a administração da justa
penal não sofre interferências políticas.
Sendo os tribunais no seu conjunto, e cada um dos juízes de per si, órgãos de soberania e pertencendo
só a eles a função jurisdicional, tem por força concluir-se que a independência material dos tribunais,
reforçada pela independência pessoal (subjetiva), dos juízes que os formam, é condição
irrenunciável de toda a verdadeira jurisprudência. Através da independência dos juízes asseguram-
se os fundamentos de uma atuação livre dos tribunais perante pressões que se lhes dirijam do
exterior. Mas isto não basta para que fique do mesmo passo preservada a objetividade de um
julgamento, é ainda necessário que para além da segurança geral, não permitir que se ponha em
dúvida a imparcialidade dos juízes, não em fase de pressões exteriores, mas em virtude de especiais
relações que os liguem a um caso concreto que devam julgar. O artigo 6º, nº1 da Convenção Europeia
dos Direitos do Homem estabelece garantias das quais resulta a imparcialidade enquanto elemento
constitutivo e essencial da noção de Tribunal. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem vindo
a desenvolver jurisprudência concretizadora do conceito de “tribunal imparcial” que assenta numa
dupla ordem de considerações, isto é, numa perspetiva subjetiva, relativamente à convicção e ao
pensamento do juiz numa dada situação concreta, não podendo o tribunal manifestar
subjetivamente qualquer preconceito, sendo que a imparcialidade pessoal do juiz se deve presumir
até prova em contrário. Numa perspetiva objetiva da imparcialidade exige que seja assegurado que
o tribunal ofereça garantias suficientes para excluir, a este respeito, qualquer dúvida legitima. Os
fundamentos de dúvida sobre a imparcialidade de um juiz podem conduzir à impossibilidade de o
juiz exercer a sua função num processo, a qual deve ser declarada independentemente de qualquer
objeção suscitada pelos participantes processuais (impedimentos- artigo 39º CPP) ou podem dar aos
sujeitos processuais a possibilidade de recusarem a intervenção do juiz (suspeições). Também o
próprio juiz pode pedir ao tribunal imediatamente superior que o escuse de intervir quando se
verificarem as condições indicadas nos nºs 1 e 2 do artigo 43º CPP (ou seja, o juiz não pode declarar-
se voluntariamente suspeito, mas pode pedir ao tribunal superior que o escuse de intervir- artigo 43º,
nº4 CPP). Nos termos do artigo 43º, nº1 CPP, a intervenção de um juiz no processo penal pode ser
recusada quando correr o risco de ser considerada suspeita, por existir motivo sério e grave,
adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade. Ou seja, o que releva não é tanto o facto
de o juiz conseguir ou não manter a sua imparcialidade, mas defendê-lo da suspeita de não a
conservar, não dando azo a qualquer dúvida, reforçando, deste modo, a confiança da comunidade
nas decisões dos seus magistrados. O que significa que o que é decisivo não é determinar se o juiz
se encontra realmente impedido de se comportar com imparcialidade, mas se existe o perigo de a
sua intervenção no processo ser encarada com desconfiança e suspeita pela comunidade.
Nos termos do artigo 40º CPP (“impedimentos por participação em processo”) nenhum juiz pode
intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão, relativos a processo em que tiver aplicado
medida de coação (prevista nos artigos 200º a 202º), presidido ao debate instrutório, participado em
julgamento anterior, proferido ou participado em decisão de recurso anterior, recusado o
arquivamento por dispensa de pena ou a suspensão provisória do processo. Sobre isto importa notar
que o Acórdão TC nº129/2007 referiu que a prática de atos isolados durante o inquérito não
constitui, em princípio, causa de quebra objetiva da imparcialidade do juiz, determinante do seu
impedimento no julgamento. Dessa forma, julgou inconstitucional a norma do artigo 40º CPP,
quando interpretada no sentido de permitir a intervenção simultânea, no julgamento, de juiz que,
findo o primeiro interrogatório judicial do arguido detido, decretou a sua prisão preventiva (artigo
202º CPP) e de juiz que, no decorrer do inquérito manteve a prisão preventiva e, posteriormente,
indeferiu o pedido da sua revogação. Assim como também refere o Acórdão TC nº297/2003 as
intervenções processuais do julgador na fase de inquérito não o convertem em órgão de acusação,
nem pela sua frequência, intensidade ou relevância, o conduzem a pré-juízos ou pré-compreensões
sobre a culpabilidade dos arguidos que firam a sua objetividade e isenção.
Além da competência para interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa (artigo 53º,
nº2 alínea d) e 401º, nº1 alínea a) CPP), compete ainda ao ministério público receber as denúncias,
as queixas e as participações e apreciar o seguimento a dar-lhes, dirigir o inquérito, deduzir acusação
e sustentá-la efetivamente na instrução e no julgamento e ainda promover a execução das penas e
medidas de segurança (artigo 53º, nº2 alínea e) e 469º CPP)
Desde o momento em que uma pessoa adquire a qualidade de arguido, é-lhe assegurado o exercício
de direitos e deveres processuais nos termos especificados na lei. O artigo 60º CPP dispõe sobre a
posição processual do arguido com um conteúdo que vai ao encontro de um processo penal de
estrutura acusatória, onde o arguido assume um papel de sujeito processual.
Note-se que arguido não é o mesmo que suspeito. O suspeito é a pessoa relativamente à qual
existem indícios de que cometeu ou se prepara para cometer um crime ou que nele participou. O
arguido é um suspeito, mas para o suspeito ser arguido é necessário ser constituído como tal no
processo penal, constituição essa que depende de dedução ou requerida instrução no processo penal
conforme dispõe o artigo 57º, nº1 CPP. Nos termos do nº3 do mesmo artigo deve o suspeito/acusado
ser constituído como arguido o que exige a comunicação oral ou por escrito, sendo
correspondentemente aplicável o disposto no artigo 58º, nºs 2 a 6 CPP. A não constituição de arguido
nos casos em que é obrigatória (artigo 58º, nº1 e 272º, nº1 CPP), constitui nulidade, dependente de
arguição, nos termos do 120º, nº2 alínea d).
O direito de defesa constitui uma categoria aberta, a qual devem ser imputados, desde logo, os
direitos que são reconhecidos ao arguido em cumprimento do princípio do contraditório, o direito
de estar presente em todos os atos processuais que diretamente lhe disserem respeito (artigo 61º,
nº1 alínea a) CPP), o direito de ser ouvido pelo Tribunal ou pelo JIC, o direito de intervir oferecendo
provas e requerendo diligências que se lhe afigurem necessárias e o direito às últimas declarações.
Devem ainda ser imputados a esta categoria, o direito de ser informado dos factos que lhe são
imputados antes de prestar declarações perante qualquer entidade, direito de constituir advogado
ou solicitar a nomeação de um defensor, de ser assistido por defensor em todos os atos processuais
em que participar e, quando detido, comunicar, mesmo em privado com ele, de ser informado dos
direitos que lhe assistem, de não ser condenado por factos que não alterem substancialmente os
descritos na acusação ou pronúncia sem previamente lhe ser dada a possibilidade de deles se
defender etc.
(4) DEFENSOR
O direito de escolher defensor e ser por ele assistido em todos os atos do processo constitui uma das
garantias de defesa do arguido que o processo criminal assegura de acordo com o artigo 32º, nº3
primeira parte CPP. O artigo 20º, nº1 CRP complementa este preceito ao determinar que a justiça
penal não pode ser denegada por insuficiência de meios económicos, o que é assegurado pela Lei
nº34/2004 sobre o acesso ao direito e aos tribunais especificamente no que se refere à proteção
jurídica em processo penal.
Ao defensor não deve caber uma mera representação dos interesses do arguido, mas antes o papel
de órgão de administração da justiça que atua no exercício exclusivo dos interesses da defesa. Há,
desta forma, atos em que a assistência do defensor é obrigatória, o que faz dele um sujeito do
processo penal e não um mero participante (os casos em que é obrigatória a assistência do defensor
estão consagrados no artigo 64º CPP). A não comparência do defensor nos casos em que a lei exige
a respetiva comparência constitui nulidade insanável (artigo 119º, alínea e) CPP), sendo que, da
conjugação dos artigos 330º e 67º CPP, resulta que na situação de não comparência do defensor à
audiência de julgamento o procedimento regra consiste na imediata substituição do faltoso por
defensor nomeado para o ato, com vista a assegurar de forma pronta e eficaz a salvaguarda das
garantias de defesa do arguido.
No sistema penal português a pessoa que sofre um crime, dependendo de determinados requisitos,
pode assumir a figura de ofendido, assistente, lesado ou vítima.
Nos termos do artigo 32º, nº7 CRP “o ofendido tem o direito de intervir no processo, nos termos da
lei”. Ofendido, nos termos do artigo 113º, nº1 CP e 68º, nº1 alínea a) CPP é o titular dos interesses
que a lei especialmente quis proteger com a incriminação. No caso dos crimes semipúblicos e crimes
particulares cabe ao ofendido exercer, desde logo, o direito de queixa e, se quiser, desistir da mesma.
Por sua vez, podem constituir-se como assistentes no processo penal (além das pessoas e entidades
a quem as leis especiais conferirem esse direito), as pessoas indicadas no artigo 68º CPP, entre elas
os ofendidos maiores de 16 anos e qualquer pessoa nos crimes indicados no artigo 68º, nº1 alínea e)
CPP. No caso de o ofendido ter morrido sem ter renunciado à queixa, o cônjuge sobrevivido não
separado judicialmente de pessoas e bens ou a pessoa de outro ou do mesmo sexo, que com o
ofendido vivesse em condições análogas às dos cônjuges, os descendentes e adotados, ascendentes
e adotantes ou, na falta deles, irmãos e seus descendentes. Como resulta do artigo 69º CPP, a posição
processual do assistente é a de colaborar do Ministério Público, a cuja atividade subordina a sua
intervenção no processo, salvas as exceções previstas na lei. A sua colaboração e subordinação ao
Ministério Público referem-se aos interesses em jogo, tendo em atenção a natureza pública do
processo penal que não é um processo de partes. Deste modo, compete ao assistente:
▪ Pode recorrer das decisões que o afetam, mesmo que o Ministério Público (MP) não o tenha
feito, dispondo para o efeito de acesso aos elementos processuais imprescindíveis, sem
prejuízo de ser aplicável segredo de justiça
4. TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM
➔ Crimes Semipúblicos: são os crimes cujo procedimento penal depende de queixa (artigo 178º,
nº1 e 2 Código Penal, ou seja, estamos perante um crime semipúblico quando o artigo do
Código Penal refere que o procedimento criminal depende de queixa, como por exemplo o
crime de ofensas à integridade física por negligência- artigo 148º CP; crime de ameaças-
artigo 153º CP; crime de furto- artigo 203º CP etc.). Constitui uma limitação ao princípio da
oficialidade na medida em que é necessário que o ofendido ou outras pessoas (artigo 113º
CP) deem conhecimento do facto ao Ministério Público para que este promova o processo
(artigo 49º, nº1 e 2 CPP). Cabe depois ao Ministério Público encerrar o inquérito arquivando-
o ou deduzindo acusação (artigo 276º CPP). O titular do direito de queixa pode desistir da
mesma até à publicação da sentença de primeira instância, desde que não haja oposição do
arguido (artigo 116º, nº2 CP e 51º CPP).
Vale ainda para a fase de inquérito o princípio da legalidade (artigo 219º CRP) nos termos do qual
sempre que adquirir a notícia de crime, o Ministério Público está obrigado a promover o processo
(abrir o inquérito) e sempre que recolher no inquérito, indícios suficientes da prática do crime e de
quem foram os seus agentes, a deduzir acusação (artigo 262º, nº2 e 283º, nº1 CPP). O princípio da
legalidade comporta algumas limitações:
O processo de mediação penal não pode ultrapassar os 3 meses (apesar de ser possível pedir
prorrogação do prazo para 5 meses). Se durante esse período se concluir que não é possível obter
acordo de mediação, o mediador comunica tal facto ao Ministério Público e o processo é conduzido
para o processo normal. Se houver acordo, ele é reduzido a escrito e o seu teor é transmitido ao
Ministério Público. O acordo de mediação penal equivale, para o ofendido à desistência de queixa e
para o arguido à não oposição da desistência de queixa. Se o acordo de mediação não for cumprido,
o ofendido pode, no prazo de 1 mês a contar do conhecimento desse incumprimento, renovar a
queixa, sendo reaberto o inquérito (artigo 5º, nº4 da Lei nº21/2007), O acordo de mediação é fixado
livremente pelas partes (artigo 6º Lei nº21/2007) com os limites constantes do nº2 do mesmo artigo.
Qual é a duração máxima do inquérito? O inquérito deve terminar por despacho do Ministério
Público (arquivando-o, suspendendo o processo provisoriamente ou deduzindo acusação) nos prazos
máximos de 6 meses (se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação) ou
de 8 meses (se não houver esses casos) a contar do momento em que correr contra pessoa
determinada ou da data da sua constituição como arguido. O prazo estabelecido de 6 meses no caso
de serem aplicadas ao arguido medidas de coação (prisão preventiva e obrigação de permanência na
habitação) compreende-se na medida em que vale até ao trânsito em julgado da decisão, o princípio
do in dúbio pro reo, ou seja, pretende-se que o processo se desenrole por forma a não prejudicar a
liberdade da pessoa a quem foram aplicadas as respetivas medidas, sob pena de estarem a ser
aplicadas a uma pessoa inocente.
Adquirida a notícia do crime e aberto o inquérito tem lugar um conjunto de diligências que visam
investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e
descobrir e recolher provas em ordem à decisão sobre a acusação, a qual é depois comprovada (caso
haja) na fase facultativa de instrução. Assim, para a recolha de prova valem os chamados meios
processuais: os meios de obtenção de prova e os meios de prova.
Os meios de prova são os meios utilizados pelas partes no processo para o convencimento do juiz,
nomeadamente: a prova testemunhal; as declarações do arguido; as declarações do assistente;
declarações das partes civis; prova por reconhecimento; reconstituição do facto; prova pericial e a
prova documental (artigos 128º a 170º CPP).
Os meios de obtenção de prova são os meios que objetivam adquirir a prova em si, servindo de
instrumentos para o seu alcance, nomeadamente: as revistas; as buscas; apreensões; escutas
telefónicas (artigos 179º a 190º CPP).
➔ Exames (artigos 171º-173º CPP): é por meio de exames das pessoas, dos lugares e das coisas
que se inspecionam os vestígios que possa ter deixado o crime e todos os indícios
relativamente ao modo e ao lugar onde foi praticado, às pessoas que o cometeram ou sobre
as quais foi cometido. Os exames podem ter lugar por iniciativa própria dos órgãos de polícia
criminal (artigo 55º, nº2; 171º, nº4, 173º e 249º, nº2 alínea a) CPP).
➔ Revistas e Buscas (artigos 174º-177º CPP): as revistas têm como objeto as pessoas e têm
lugar quando houver indícios de que alguém oculta na sua pessoa, quaisquer objetos
relacionados com o crime ou que possa servir de prova. As revistas são ordenadas por
despacho da autoridade judiciária competente (lembre-se a este propósito que nos termos do
artigo 1º alínea b) CPP são autoridades judiciárias o juiz, o juiz de instrução e o Ministério
Público). Nos termos do artigo 174º, nº5 CPP podem ser efetuadas por órgão de polícia
criminal (sem autorização ou despacho da autoridade judiciária competente), as revistas em
casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando haja fundados
indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou a integridade de
qualquer pessoa, em que os visados consintam, desde que o consentimento prestado fique
documentado ou aquando de detenção em flagrante delito a que corresponda pena de
prisão. A realização da revista é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao Juiz de
Instrução e por este apreciada em ordem à sua validação (artigos 118º, nº1 e 174º, nº6 CPP).
As buscas têm como objeto os locais e são ordenadas quando houver indícios de que, em
lugar reservado ou não livremente acessível ou público, se encontram objetos relacionados
com um crime ou que possam servir de prova. As buscas são ordenadas ou autorizadas por
despacho de autoridade judiciária competente, devendo esta sempre que possível presidir à
diligência (artigo 174º, nº3 CPP). Tal como referido no Acórdão TC nº114/95 a intervenção
do juiz é exigida no caso das buscas domiciliárias pela preocupação de controlar a legalidade
e garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, no caso, a inviolabilidade do domicílio,
qualificando-se a autorização judicial como uma intervenção garantística. A finalidade da
intervenção judicial é assegurar a garantia de um controlo preventivo através de uma
instância independente e neutral que leve também em consideração os interesses do titular
do direito fundamental restringido pela medida. Assim, i juiz deve fazer uma apreciação
própria da medida solicitada, em ordem a conter a restrição do direito fundamental dentro
dos limites razoáveis, assegurando-se de que se encontram reunidos os pressupostos
constitucionais e legais para a sua realização. Significa isto e tal como defendido por
Figueiredo Dias que, em processo penal, as medidas adotadas têm de ser idóneas e
necessárias para alcançar os fins do processo e que a intromissão nos direitos delas
decorrentes não seja desproporcionada relativamente à importância do caso e à força dos
indícios existentes.
➔ Apreensões (artigos 178º-186º CPP): incidem sobre objetos que tiverem servido ou
estiverem destinados a servir a prática de um crime, assim como todos os objetos que tiverem
sido deixados pelo agente no local do crime ou quaisquer outros suscetíveis de servir a prova
(artigo 178º, nº1 CPP). São autorizadas, ordenadas ou validadas por despacho da autoridade
judiciária
MEIOS DE PROVA
➔ Prova Testemunhal (artigos 128º-139º CPP): tem como objeto os factos de que a testemunha
tenha conhecimento direto e que constituam objeto da prova. A testemunha poderá ser
inquirida sobre factos relativos à personalidade e ao carácter do arguido, bem como às suas
condições pessoais e condutas anteriores, tendo em vista a determinação da pena ou da
medida de segurança e a prova dos elementos constitutivos do crime. De acordo com os
artigos 91º, nº1 e nº3 primeira parte, 131º, nº1, 132º, nº1 CPP e 360º CP, a testemunha tem
o dever de testemunhar e de responder com verdade às perguntas que lhe forem dirigidas,
sob pena de incorrer em responsabilidade penal. Em regra, não serve como meio de prova o
depoimento que resultar do que se ouviu dizer a pessoas determinadas e não é admissível
como depoimento a reprodução de vozes públicas e convicções pessoais (artigos 129º e 130º
CPP).
➔ Declarações do Arguido (artigos 140º-143º CPP): importa distinguir aquelas que se reportam
à sua identidade das que se refere aos factos imputados e ao conteúdo das declarações que
acerca deles prestar. Quanto às primeiras (que incluem o nome, filiação, freguesia, concelho
de naturalidade, data de nascimento) impende sobre o arguido o dever de responder com
veracidade feitas pela entidade competente, sob pena de incorrer em responsabilidade penal
(artigos 61º, nº3 alínea b), 141º, nº3 e 342º CPP e 359º, nº2 CP). Quanto às declarações sobre
os factos que lhe forem imputados e ao conteúdo das declarações que acerca deles prestar,
o arguido pode (1) negar tais factos (2) confessar os factos (3) remeter-se ao silêncio. Quanto
à confissão (2) nos termos do artigo 344º CPP, esta depende do carácter livre, integral e sem
reservas e ainda da gravidade do crime confessado. Dos nºs 2 e 3 do artigo mencionado
resulta que a confissão livre, integral e sem reservas quanto a crime punível com pena de
prisão não superior a 5 anos implica a renúncia à produção de prova relativa aos factos
imputados e consequente consideração como provados, a passagem imediata às alegações
orais e à determinação da sanção aplicável e a redução da taxa de justiça em metade (artigos
341º, 360º e 369º CPP). Quanto ao silêncio (3) este constitui o respeito pela decisão de
vontades do arguido o que implica que lhe seja reconhecido o direito ao silêncio
relativamente às perguntas que lhe sejam feitas quanto aos factos que lhe são imputados e
ao conteúdo das declarações que acerca deles prestar e aos seus antecedentes criminais. Este
direito ao silêncio encontra-se consagrado no artigo 61º, nº1, alínea c); 343º, nº1 e 345º, nº1
CPP, estabelecendo estes dois últimos a a proibição da valoração contra o arguido, isto é, o
silêncio não o pode desfavorecer
➔ Declarações tomadas ao assistente ou às partes civis (artigo 145º): são feitas a requerimento
seu ou do arguido ou sempre que a autoridade judiciária entenda conveniente. Este meio de
prova, apesar de sujeito a regime da prestação da prova testemunhal não se confunde com
ela: o assistente está impedido de depor como testemunha (artigo 133º, nº1 alínea b) CPP)
➔ Prova por Acareação (artigo 146º CPP): entre coarguidos, entre arguido e o assistente, entre
testemunhas ou entre elas, o arguido e o assistente sempre que houver contradição entre as
suas declarações e a diligência se afigurar útil para a descoberta da verdade
➔ Prova por reconhecimento de pessoas (artigos 147º-149º CPP): solicitando-se à pessoa que
deva fazer a identificação que a descreva, com indicação de todos os pormenores de que se
recorda, perguntando-se de seguida se já a tinha visto antes e em que condições
➔ Prova Documental (artigos 164º-170º CPP): é admissível prova por documento, entendendo-
se por tal a declaração, sinal ou notação corporizada em escrito ou qualquer outro meio
técnico, nos termos da lei penal. A junção de prova documental é feita por requerimento, não
podendo juntar-se documento que tiver declaração anónima.
É o artigo 55º CPP que determina que “compete aos órgãos de polícia criminal coadjuvar as
autoridades judiciárias com vista à realização das finalidades do processo e que compete em especial
aos órgãos de polícia criminal, mesmo por iniciativa própria, colher notícia dos crimes e impedir
quando possível as consequências, descobrir os seus agentes e levar a cabo atos necessários e
urgentes destinados a assegurar os meios de prova”. Encontra-se implícito o auxílio dos órgãos de
polícia criminal (definição prevista no artigo 1º, alínea c) CPP) para com o Ministério Público no
exercício das funções processuais, designadamente na investigação criminal, conduzida no
inquérito, atuando sob a direta orientação do Ministério Público e na sua dependência funcional
(artigos 56º e 263º CPP). Por norma, para que as diligências de prevenção e investigação criminal
sejam levadas a cabo pela polícia, exige-se uma delegação de competência prévia feita pelo
Ministério Público ou por um Juiz. No entanto, a polícia pode praticar algumas diligências sem
autorização prévia ainda que algumas delas devam ser validadas posteriormente por uma autoridade
judiciária (Juiz, Juiz de Instrução ou Ministério Público). Uma dessas medidas é a comunicação da
notícia do crime (artigo 248º CPP e 272º CRP). Sempre que tomem conhecimento da ocorrência de
um crime, os órgãos de polícia criminal devem transmiti-la ao Ministério Público o mais rapidamente
possível. Também têm competência para praticar atos necessários e urgentes para assegurar os
meios de prova (nomeadamente examinando vestígios de um crime), e para identificar suspeitos
(artigo 250º CPP) que se encontrem em lugares públicos, abertos ao público ou sujeitos a vigilância
policial.
Podem ainda, em certos casos de criminalidade grave, urgência ou risco de violência, revistar
suspeitos e realizar buscas a locais (exceto a domicílios), sem autorização prévia, diligências que
devem ser imediatamente comunicadas ao juiz de instrução e por ele validadas, sob pena de
nulidade. Podem igualmente obter dados relativos à localização celular de uma pessoa, quando for
necessário para afastar perigo de vida ou de ofensa á integridade física, devendo também esta
diligência ser logo comunicada ao juiz.
DETENÇÃO
A detenção é a primeira privação da liberdade que um arguido pode sofrer num processo criminal e
vem prevista no artigo 27º, nº3 alíneas a); b); f) CRP. A detenção é uma medida cautelar aplicada
normalmente logo no início do processo, tendo uma duração pequena visando garantir a presença
do arguido num ato em específico. A detenção não deve ser confundida com a prisão preventiva. A
prisão preventiva é uma medida de coação aplicada ao arguido durante o processo, visando uma
duração maior e, por isso, o seu efeito de evitar a fuga do arguido ou a repetição do crime estende-
se durante o processo.
A detenção é feita para assegurar a presença do detido no tribunal, a qual pode ter por objetivo,
nomeadamente, o julgamento no caso de processo sumário (de pequena criminalidade) como
disposto no artigo 254º, nº1 alínea a) e 381º CPP, o primeiro interrogatório pelo juiz (artigo 254º,
nº1, alínea a) e 141º, nº2 CPP) ou a aplicação ou execução de uma medida de coação (254º, nº1
alínea b) e 116º, nº2 CPP).
Para ser deita a pessoa tem de se constituir como arguida? Em princípio sim. A pessoa deverá ser
constituída arguida antes de ser detida, podendo sê-lo imediatamente antes. No entanto, tal não
acontecerá nos casos em que a prévia constituição de arguido coloque em causa a eficácia da
detenção, sendo feita imediatamente depois. A constituição como arguido é feita através da
comunicação, oral ou escrita, à pessoa visada de que a partir daquele momento se deve considerar
arguida num processo penal e da indicação dos seus direitos e deveres processuais.
Importa notar que a detenção pode ser em flagrante delito e fora de flagrante delito. A detenção
em flagrante delito é aquela feita quando se presencia um crime a ser cometido ou a acabar de ser
cometido. A detenção em flagrante delito pode ser feita nos casos em que estiver em causa um crime
punível com pena de prisão. A detenção em flagrante delito pode ser feita pelo juiz ou pelo Ministério
Público, pela polícia ou por qualquer pessoa caso não seja possível obter em tempo útil a ajuda da
autoridade pública. Caso se trate de um crime que, para existir processo penal, tem de ser feita
queixa pela vítima (crime semipúblico), a detenção só se mantém se a seguir a ela for feita essa
queixa, a qual deverá ficar registada em auto elaborado pelo tribunal ou pela polícia. Caso se trate
de crime que, para existir, é necessária acusação particular pela vítima (crime particular), não existe
detenção, mas apenas a identificação do infrator. A detenção fora de flagrante delito é a detenção
feita por mandado do juiz ou do Ministério Público e ainda, em certos casos, pela polícia, para
acautelar uma situação em específico. A detenção fora de flagrante delito pode ser ordenada pelo
juiz sempre que:
▪ Existam razões para crer que a pessoa não se apresentaria voluntariamente no Tribunal no
prazo que lhe fosse fixado
▪ Exista fuga ou perigo de fuga e só a detenção o evite
A detenção fora de flagrante delito pode ser ordenada pelo Ministério Público nas mesmas
circunstâncias em que pode ser ordenada pelo juiz, desde que se trate de um caso em que é
admissível aplicar a prisão preventiva, ou seja, tem de se tratar de um caso mais grave em que seria
aplicável a mais danosa medida de coação (prisão preventiva).
Quanto tempo pode uma pessoa ficar detida? A legislação penal determina que a detenção é feita
elo tempo estritamente necessário, sem nunca ultrapassar as 48 horas (artigo 254º, nº1 alínea a) CPP
e 28º, nº1 CRP). No entanto, quando a detenção tem por finalidade assegurar a presença do detido
perante autoridade judiciária em ato processual, a privação da liberdade não pode exceder as 24
horas (artigo 254º, nº1 alínea b) CPP). O juiz, o procurador do Ministério Público ou o agente/guarda
deverão proceder à imediata libertação do detido se a pessoa detida não era a visada; a detenção foi
feita ilegalmente (fora dos casos previstos na lei), a detenção se tiver tornado desnecessária.
MEDIDAS DE COAÇÃO
As medidas de coação estão reguladas nos artigos 196º ss CPP. No momento em que é praticado um
crime, poder-se-á, desde logo, atuar mediante a detenção do suspeito do crime. Mas que garantias
temos durante o processo penal? Como é que é garantido que, durante o processo, o arguido não
se ausenta para parte incerta ou que comparece às diligências processuais?
As medidas de coação estão, como se disse, previstas no CPP e trata-se de um conjunto de obrigações
impostas ao arguido durante o processo penal que condicionam a sua liberdade. As medidas de
coação visam garantir o contacto com o arguido, evitando assim o perigo de fuga, a não repetição da
atividade criminosa e a produção de determinados efeitos processuais.
Para serem aplicadas, as medidas de coação terão de se revelar necessárias, adequadas e
proporcionais ao caso concreto, ou seja, tem de existir fuga ou perigo de fuga, perigo de perturbação
da investigação, nomeadamente, a ocultação de prova, ou perigo de o arguido continuar a atividade
criminosa ou perturbar gravemente a ordem e tranquilidade públicas. No entanto, o termo de
identidade e residência (TIR) será sempre aplicado. As medidas de coação são aplicadas na fase de
inquérito em que o suspeito do crime já foi constituído arguido no processo, mas que ainda não se
encontra provado que é o autor do crime.
Nos termos do artigo 194º, nº1 CPP, à exceção do TIR, as medidas de coação e de garantia patrimonial
são aplicadas por despacho do juiz, durante o inquérito e a requerimento do Ministério Público e
depois do inquérito mesmo oficiosamente ouvido o Ministério Público. A aplicação é precedida,
sempre que possível e conveniente de audição do arguido e pode ter lugar no ato do primeiro
interrogatório judicial (artigo 194º, nº3 CPP), significando que a lei impõe a audição do arguido, antes
da aplicação de uma medida de coação ou de garantia patrimonial sempre que possível ou
conveniente. Note-se que quando está em liberdade, o interrogatório é feito pelo Ministério Público,
nos termos do artigo 118º CPP, uma vez que não tendo havido interrogatório judicial aquando da sua
detenção não pode haver interrogatório judicial posterior pelo Juiz de Instrução, mas apenas pelo
Ministério Público, sendo que para a aplicação de uma medida de coação não é necessário
interrogatório judicial.
As medidas de coação podem ser revogadas por despacho do juiz se tiverem sido ilegalmente
impostas ou se as circunstâncias que justificaram a sua aplicação deixarem de existir. No entanto,
isso não impede que voltem a ser aplicadas se tal se justificar. Relativamente às medidas mais
gravosas (prisão preventiva e prisão domiciliária) serão revistas pelo menos de 3 em 3 meses pelo
Juiz, que decidirá pela sua manutenção ou não. Para além disso, pode haver lugar a substituição das
medidas de coação, por outras menos gravosas, por iniciativa do próprio juiz ou mediante
requerimento do arguido ou do Ministério Público (ex.: A prisão preventiva poderá ser substituída
pela obrigação de permanência na habitação).
É possível recorrer da aplicação das medidas de coação? O arguido ou o Ministério Público podem
recorrer das decisões do juiz que aplicam, substituem ou mantêm a medida de coação e o recurso é
julgado no prazo de 30 dias. No caso de prisão (domiciliária ou preventiva), ilegal, o arguido ou
qualquer cidadão no uso dos seus poderes políticos, pode ainda usar de uma providência “habeas
corpus” que consiste numa petição dirigida ao Supremo Tribunal de Justiça para a libertação do
preso, fundamentada na ilegalidade daquela prisão
Qual a duração das medidas de coação? O termo de identidade e residência (TIR), mantêm-se até
ao final do cumprimento da pena (se existir) ou pelo menos até ao final do processo penal e a caução
dura o tempo que for necessária. Relativamente às restantes medidas, a duração máxima é
determinada consoante a fase do processo em que se esteja de acordo com a lei. Que medidas de
coação existem?
➔ Obrigação de apresentação periódica: vem prevista no artigo 198º CPP e consiste no dever
de o arguido se apresentar no tribunal ou na polícia em dias e horas preestabelecidos. A
obrigação de apresentação periódica pode ser aplicada aos casos em que o crime seja punível
com pena de prisão de máximo superior a 6 meses.
➔ Prisão preventiva: prevista no artigo 202º CPP. A prisão preventiva é a medida de coação
mais gravosa, razão pela qual a sua aplicação se pautará de acordo com o princípio da
subsidiariedade, isto é, esta medida deverá apenas ser aplicada quando as demais medidas,
mesmo a obrigação de permanência na habitação, se revelem insuficientes ou inadequadas
ao caso concreto. A prisão preventiva, como todas as medidas de coação, é aplicada durante
o processo penal, em altura em que o arguido ainda não foi condenado. Ao contrário das
outras medidas esta só pode ser aplicada pelo juiz aos arguidos sobre os quais existam fortes
suspeitas de que tenham praticado o crime e que esse crime seja punível com pena de prisão
máxima superior a 5 anos, corresponda a criminalidade violenta, isto é, a condutas que
dolosamente se dirigem contra a vida, integridade física, liberdade pessoal e liberdade e
autodeterminação sexual ou a prática de crime doloso de terrorismo ou que corresponda a
criminalidade altamente organizada punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos.
Encontra-se consagrado no artigo 191º CPP um princípio estrito de legalidade que prevê que a
liberdade das pessoas só pode ser limitada, total ou parcialmente, em função de exigências
processuais de natureza cautelar, pelas medidas de coação de garantia patrimonial. Ou seja, não
pode existir nenhuma medida de coação que não esteja prevista na lei. A liberdade das pessoas,
mesmo quando posa e deva ser coartada por exigências de ordem processual de natureza cautelar,
só o poderá ser, desde que respeite as medidas de coação e de garantia patrimonial determinadas e
previstas na lei e cuja aplicação ao caso concreto exige uma profunda análise da realidade e um
ajustamento às necessidades preventivas de cada situação.
Acima de tudo, há que salvaguardar os Direitos Fundamentais dos cidadãos consagrados na CRP, mas
sem colocar em segundo plano os interesses que decorrem de uma investigação criminal, no âmbito
da qual, o arguido poderá ser sujeito à aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial. De
acordo com o artigo 192º CPP “a aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial depende
da prévia constituição como arguido nos termos do artigo 58º da pessoa que delas for objeto”. As
medidas de coação são inerentes à condição de arguido e, como tal, merecem aplicação na
sequência da constituição do sujeito como tal. Ao princípio da legalidade associam-se os princípios
da necessidade, proporcionalidade e adequação consagrados no artigo 193º CPP, segundo o qual as
medidas de coação só devem ser utilizadas quando absolutamente necessárias, sempre dentro do
quadro legal previsto, dando-se prioridade às menos gravosas, desde que da sua aplicação não
resultem inconvenientes graves para a prossecução do interesse processual em causa. Quanto ao
princípio da proporcionalidade (proibição do excesso), consiste em estabelecer um justo equilíbrio
entre a gravidade da medida e a da pena que venha a ser previsivelmente aplicada. A adequação
exige que haja o mínimo possível de prejuízos para os direitos fundamentais do arguido e que a
medida a escolher deve ser a mais ajustada às exigências cautelares requeridas pelo caso concreto.
De referir, ainda, o princípio da subsidiariedade, segundo o qual a medida de prisão preventiva, como
a mais grave da escala, só em última instância será autorizada a ser aplicada, ou seja, quando as
demais forem julgadas inadequadas ou insuficientes para a situação concreta.
O artigo 204º CPP estabelece os requisitos gerais de aplicação das medidas de coação, aos quais
subjaz o princípio da necessidade. Assim, nenhuma medida de coação, à exceção da prevista no artigo
196º CPP pode ser aplicada em concreto se não verificar, no momento da aplicação: fuga ou perigo
de fuga; perigo de perturbação do decurso do inquérito ou da instrução do processo; perigo em razão
da natureza e das circunstâncias do crime ou da personalidade do arguido de que este continua a
atividade criminosa ou perturbe gravemente a ordem e a tranquilidade públicas.
MEDIDAS DE GARANTIA PATRIMONIAL
O CPP prevê duas medidas de garantia patrimonial nos artigos 227º e 228º, nomeadamente, a caução
económica e o arresto preventivo. A caução económica (artigo 227º, nº4 CPP), distinta e autónoma
relativamente à medida de coação (caução) prevista no artigo 197º CPP. De acordo com o artigo
228º, nº1 CPP, o arresto preventivo pode ser decretado enquanto medida de garantia patrimonial
autónoma e enquanto medida de garantia patrimonial subsidiária da caução económica.
Ambas as medidas servem para acautelar o fundado receio de que faltem ou diminuam
substancialmente as garantias de pagamento da pena pecuniária, das custas do processo ou de
qualquer outra dívida para com o Estado relacionadas com o crime, bem como para acautelar o
fundado receio de que faltem ou diminuam substancialmente as garantias de pagamento da
indemnização ou de outras obrigações civis derivadas do crime.
O que se pode fazer se for denunciante, for notificado do arquivamento do inquérito e não
concordar com a decisão? Se não for assistente, deve ser requerida a constituição formal como tal
e, uma vez assistido por advogado, pode ser requerida a abertura de instrução, fazendo assim intervir
um juiz de instrução, a fim de serem reapreciados os fundamentos do despacho de arquivamento do
processo. Se já tiver sido constituído como assistente, pode ser requerida a abertura de instrução, o
que só pode ser feito no prazo de 20 dias a cintar da notificação do despacho de arquivamento. Pode
ainda, se dispuser de novos elementos que invalidem os fundamentos invocados pelo Ministério
Público no despacho de arquivamento, solicitar a reabertura do inquérito.
Esta é uma fase facultativa do processo penal, que tem lugar após o encerramento do inquérito, se
o assistente ou o arguido pedirem a sua abertura por não concordarem com a decisão do Ministério
Público (decisão de acusação ou de arquivamento) tal como dispõe o artigo 286º, nº1 e 2 e 287º, nº1
CPP.
A fase de instrução é uma fase de discussão dos fundamentos da decisão, no decurso da qual, o
assistente e o arguido podem apresentar provas que, por qualquer razão não tenham sido tidas em
conta durante a fase de inquérito (ex.: novas testemunhas; novos documentos). Nesta fase um juiz,
chamado Juiz de Instrução vai analisar as provas recolhidas durante a fase de inquérito, bem como
outras provas que ele entenda obter, ou que lhe sejam apresentadas nesta fase e que considere
relevantes (artigo 288º CPP) (note-se que deve ser rejeitado, por inadmissibilidade legal, o
requerimento do assistente para a abertura de instrução em que se pretende a pronúncia de pessoas
que não foram visadas na investigação levada a cabo no inquérito).
Ou seja, decidindo o Ministério Público pelo arquivamento do processo no inquérito, o assistente,
caso de tal discorde, tem duas vias processuais alternativas e facultativas à sua disposição:
Em regra, o juiz encerra a instrução nos prazos máximos de 2 meses, se houver arguidos presos ou
sob obrigação de permanência na habitação, ou de 4 meses se não os houver (artigo 306º CPP). A
instrução é ainda formada pelo conjunto de atos de instrução, que o juiz entenda levar a cabo e,
obrigatoriamente, por um debate instrutório, oral e contraditório, no qual podem participar o
Ministério Público, o arguido, o defensor, o assistente e o seu advogado. O debate instrutório é
uma diligência que visa permitir discussão perante o juiz sobre a existência de indícios suficientes
para submeter, ou não, o arguido a julgamento (artigo 298º CPP). No final do debate, o JIC decide
se confirma ou não a decisão do Ministério Público na fase de inquérito. Se o JIC decidir arquivar o
processo, o arguido não vai a julgamento (decisão de não pronúncia sendo suscetível de recurso).
Se o JIC decidir acusar o arguido este vai a julgamento (decisão de pronúncia que, em regra, não é
suscetível de recurso). Ou seja, se não concordarem com a decisão do JIC de arquivamento, o
Ministério Público e o assistente podem apresentar recurso para a Relação (artigo 427º CPP). Quer
para requerer a abertura de instrução, quer para participar do debate instrutório, quer para
recorrer da decisão do JIC, a vítima tem de se constituir como assistente. O despacho de pronúncia
e o não pronúncia deve enumerar os factos indiciados e não indiciados. A omissão de falta de
numeração dos factos indiciados, e não indiciados num despacho de não pronúncia traduz numa
nulidade sanável e dependente de arguição.
Note-se ainda que o juiz de instrução está substancial e formalmente limitado, na pronúncia, aos
factos pelo que tenha sido deduzida acusação formal ou que tenham sido descritos no
requerimento do assistente e que este considera que deveriam ser o objeto da acusação por parte
do Ministério Público. No caso de arquivamento do processo pelo Ministério Público, o
requerimento do assistente para a abertura de instrução é que define e limita o respetivo processo,
o seu objeto, constituindo, substancialmente uma acusação alternativa. Não descrevendo (o
assistente) os factos que pretende imputar ao arguido, qualquer decisão que se venha a fazer numa
eventual pronúncia redunda necessariamente numa alteração substancial do requerimento,
estando ferido de nulidade cominada no artigo 309º CPP (nulidade esta que é uma decorrência
necessária do princípio do acusatório consagrado no artigo 32º, nº5 CRP). A este respeito Germano
Marques da Silva refere que o requerimento do assistente não pode, em termos materiais e
funcionais, deixar de revestir o conteúdo de uma acusação alternativa, de onde constem os factos
que se considera indiciados e que integrem o crime, de forma a possibilitar a realização da
instrução, fixando os termos do debate e o exercício do contraditório: o requerimento de abertura
de instrução formulado pelo assistente constitui uma verdadeira acusação, que é a acusação que
o assistente entende que deveria ter sido deduzida pelo Ministério Público (no caso de este ter
decidido pelo arquivamento do processo no final da fase de inquérito). A estrutura acusatória do
processo penal português, garantia de defesa que consubstancia uma concretização no processo
penal de valores inerentes a um Estado de direito democrático, assente no respeito pela dignidade
da pessoa humana, impõe que o objeto do processo seja fixado com o rigor e a precisão adequados
em determinados momentos processuais, entre os quais se conta o momento em que é requerida a
abertura de instrução. Sendo a instrução uma fase facultativa, por via da qual se pretende a
confirmação ou infirmação da decisão final do inquérito, o seu objeto tem de ser definido de um
modo suficientemente rigoroso em ordem a permitir a organização da defesa. Essa definição
abrange, naturalmente, a narração dos factos que fundamentam a aplicação ao arguido de uma
pena, bem como a indicação das disposições legais aplicáveis. Dada a posição do requerimento
para a abertura de instrução pelo assistente, existe uma semelhança substancial entre tal
requerimento e a acusação. Daí que o artigo 287º, nº2 remeta para o artigo 283º, nº3 alíneas b) e c)
CPP, ao prescrever os elementos que devem constar do requerimento para a abertura da instrução.
4.3 JULGAMENTO
Vale para esta fase processual o princípio da investigação (artigo 340º CPP) nos termos do qual, o
tribunal ordena oficiosamente a produção de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe
afigurar necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa. Para que o contacto do juiz e
dos restantes participantes com as provas seja o mais direto possível, todas as provas são
apresentadas na audiência de julgamento (salvo a proibição daqueles que não tiverem sido
produzidas ou examinadas em audiência), ou seja, o arguido é interrogado e as testemunhas são
inquiridas mesmo que já o tenham sido durante a investigação, os peritos podem ser chamados
para prestar esclarecimentos sobre os exames que hajam realizar e os documentos são novamente
apreciados. O primeiro a ser interrogado é o arguido sendo que o mesmo tem direito a não prestar
declarações, uma vez que ninguém pode ser imposto a testemunhar contra si próprio (direito ao
silêncio). Contudo, as declarações por si prestadas em fases anteriores do processo poderão ser
utilizadas e valoradas pelo juiz. Se o arguido confessar os factos dos quais está acusado, o crime
considera-se provado, pelo que, em princípio, já não será necessário apresentas mais provas
passando-se de imediato para as alegações orais (isto se a confissão for integral, livre e sem
reservas) com pena de prisão até 5 anos (artigo 349º, nº2 CPP). Se o arguido não confessar, depois
deste é geralmente ouvida a vítima. A seguir são ouvidas as testemunhas. Todas as declarações
prestadas oralmente no julgamento são gravadas para que, se houver recurso, o tribunal de recurso
possa escutas as gravações. Vale ainda a este propósito o princípio do in dúbio pro reo, de acordo
com o qual o tribunal deve dar como provados todos os factos favoráveis ao arguido, quando fica
aquém da dúvida razoável, apesar de toda a prova produzida (artigo 32º, nº2 CRP), garantindo que
todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação.
O artigo 206º CRP ressalva os casos em que o próprio tribunal decida o contrário em
despacho fundamentado, para salvaguarda da dignidade das pessoas e da moral pública ou
para garantir o normal funcionamento do processo.
Vale ainda para a fase de julgamento o princípio da concentração que aponta para uma
prossecução processual unitária e continuada de todos os termos e atos do processo quer de
um ponto de vista espacial quer de um ponto de vista temporal. Este princípio encontra-se
relacionado com outros, como princípio da oralidade e da imediação, na medida em que se
prevê a concentração espacial da audiência de julgamento, devendo esta decorrer no mesmo
local, como para a concentração temporal, devendo a audiência de julgamento, uma vez
iniciada, decorrer sem interrupções e adiamentos.
Neste caso, o presidente toma as medidas necessárias e legalmente admissíveis para obter a
comparência e a audiência só é adiada se o tribunal considerar que é absolutamente
indispensável para a descoberta da verdade material a sua presença desde o início da
audiência. A declaração de contumácia, regulada no artigo 355º, nº1 CPP perdeu alguma
importância, tornando-se praticamente residual com a Lei nº58/98 sendo que agora só é
aplicável nos casos excecionais em que os arguidos não tenham prestado Termo de Identidade
e Residência, nem tenha sido possível proceder à sua detenção ou prisão preventiva, se
admissível, para proceder à sua notificação na data da audiência.
Os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do
povo. A competência é a medida do poder jurisdicional atribuído a cada tribunal. As regras da
competência destinam-se a determinar o tribunal onde o processo deve ser interposto e o agente
do facto ilícito julgado. Nos termos dos artigos 202º e 29º CRP e 8º CPP, só os tribunais podem
reprimir a violação da legalidade democrática e só os tribunais podem aplicar definitiva e
coercivamente uma pena ou uma medida de segurança. A fixação da competência do Tribunal
Penal tem de ter em atenção 3 tipos de competência:
iii. Critério Subjetivo (agente do crime): são os casos em que os tribunais superiores
vão atuar como tribunais de primeira instância (Tribunais da Relação e STJ), para
conhecer de crimes que sejam praticados por agentes detentores de cargos públicos
ou jurisdicionais de forma a preservar a dignidade destes cargos. Assim, nos termos
do artigo 11º, nº3 CPP, temos a competência do pleno das secções do STJ que julga
os crimes praticados pelo Presidente da República, pelo Primeiro Ministro e pelo
Presidente da Assembleia da República no exercício de funções. Temos ainda a
competência das secções criminais do STJ (artigo 11º, nº4 CPP) que julga crimes
cometidos por juízes do STJ ou juízes das Relações e ainda dos magistrados do
Ministério Público que exerçam funções nesses tribunais. Depois temos a
competência das secções criminais dos Tribunais da Relação que julgam os crimes
cometidos por juízes de direito e procuradores do Ministério Público.
Começamos sempre pelo critério subjetivo e caso esse não seja de aplicar ao caso concreto,
passamos para o critério qualitativo e na falta deste quem decide a competência é o critério
quantitativo. Na determinação da competência material podem ser adotados 2 métodos distintos
(1) método da determinação abstrata da competência a competência decorre imediata e
incondicionalmente das regras legais que ficam a competência dos tribunais pela natureza do crime
por apelo à moldura penal abstrata. Sempre que o legislador recorre a este método aplica-se o
artigo 15º CPP que nos diz que para a da pena são tidas em conta todas as circunstâncias agravadas
e (2) método da determinação concreta da competência a competência material determina-se em
função da pena máxima que previsivelmente virá a ser concretamente aplicada ao caso, havendo
um juízo prévio quanto à pena a aplicar, juízo esse feito pelo Ministério Público.
(2) COMPETÊNCIA FUNCIONAL: o que está em causa é a delimitação da jurisdição penal dos
vários tribunais materialmente competentes para conhecer de certo processo-crime em
função de dois critérios:
II. Critério Funcional por Fases: delimita a competência ao longo das várias fases do
processo penal, isto é, no âmbito da fase de inquérito e da fase de instrução, todas
as funções são da competência do JIC (artigo 17º e 288º CPP),a fase de julgamento é
da competência dos tribunais judiciais, a fase de recurso é da competência dos
tribunais superiores
(3) COMPETÊNCIA TERRITORIAL: a regra para a determinação consta do artigo 19º, nº1 CPP. É
competente para conhecer do crime o tribunal da área da consumação do crime. A escolha
do critério justifica-se pela facilidade da recolha da prova e ainda por se tratar da área onde
é mais necessário reafirmar a vigência contra fáctica da norma. Para conseguirmos
determinar o local da consumação temos que saber se estamos perante um crime de
resultado ou de um crime de mera atividade. No crime de resultado exige-se a ocorrência
de um resultado naturalístico sem o qual não há consumação, mas sim tentativa (ex.: crimes
de homicídio, crimes de furto, crimes de roubo). Nos crimes de resultado o lugar da
consumação corresponde ao lugar da verificação do resultado típico do crime. Já os crimes
de mera atividade são os crimes sem resultado, em que a conduta do agente, por si só
configura crime, independentemente de qualquer alteração do mundo exterior (ex.: invasão
do domicílio, crime de desobediência). Nos crimes de mera atividade o lugar da consumação
corresponde ao lugar onde o agente atuou ou no caso de omissão, no lugar onde devia ter
atuado.
Existe ainda a chamada COMPETÊNCIA POR CONEXÃO prevista nos artigos 24º e ss CPP. O CPP
parte do princípio geral de que a cada crime corresponde um processo para o qual é competente
um tribunal de acordo com as regras de distribuição da competência material, funcional e
territorial. Esta regra admite exceções traduzidas em casos em que são conhecidos e julgados num
só processo vários crimes ou vários agentes. O que está em causa entre a existência desses crimes é
uma ligação que torna conveniente a sua apreciação conjunta (boa economia processual, boa
administração da justiça). Essencialmente são 3 os fundamentos da conexão:
(1) Quando vários crimes tenham sido praticados pelo mesmo agente nos termos do artigo 24º,
nº1 alínea a); b) e 25º CPP. Trata-se de uma conexão pessoal/subjetiva em que a pluralidade
de crimes está relacionada com um agente
(2) Quando vários agentes participam no mesmo crime conforme o disposto no artigo 24º, nº1
alínea c) CPP. Estamos perante situações de coautoria tratando-se de conexões de tipo
material/objetiva em que existe uma pluralidade de infrações e de agentes que praticam o
mesmo crime
(3) Vários crimes praticados por diferentes agentes, mas que mantenham entre si uma ligação
especial conforme o artigo 24º, nº1 alínea d); e)
1. Artigo 24º, nº2 CPP: a conexão só opera até à fase de julgamento. É inadmissível a conexão
na fase de recurso
2. Artigo 24º, nº2 CPP: os processos a conexionar têm que se encontrar na mesma fase
processual
3. Estabelece-se que a conexão só opera quando não seja previsível que origine o
incumprimento dos prazos máximos de duração da instrução (previstos no artigo 306º CPP)
ou quando não seja previsível que da conexão resulte o retardamento excessivo da fase de
instrução ou da audiência de julgamento. Aqui está essencialmente em causa uma
preocupação do legislador com megaprocessos.
4. Artigo 26º CPP: nenhum dos processos pode ser da competência dos tribunais de menores
Havendo conexão, ela pode ser de dois tipos: homogénea e heterogénea. A conexão é homogénea
quando só afeta as regras da competência territorial, na medida em que para todos os crimes
seriam competentes os tribunais da mesma espécie e hierarquia. O que está em causa são
diferentes competências territoriais. Nestes casos a solução é dada pelo artigo 28º CPP que nos diz
que, em regra, é competente para todos os processos o tribunal competente para conhecer do
crime a que couber a pena mais grave. Quanto à conexão heterogénea aqui são competentes para
diferentes processos, tribunais de espécies ou hierarquias distintas (ex.: para um processo é
competente o tribunal singular e para outro é competente o tribunal coletivo). Nestes casos a
solução é dada pelo artigo 27º CPP que estabelece o princípio da prevalência do juiz superior (isto
é, espécie ou hierarquia mais elevada).