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Direito da União

Europeia
1. Génese e Evolução da Integração Europeia- Das Comunidades à União
A União Europeia atual é sujeito jurídico, um ente suscetível de ser titular de direitos e obrigações, de ser
titular de relações jurídicas e de entrar em relações jurídicas com outras pessoas para o Direito. O Direito da
União Europeia é uma ordem jurídica que diz respeito às normas e ao funcionamento da União Europeia.

A ideia de unificação europeia tem um longo caminho. Há algumas experiências tidas como percursoras
desta unificação que remontam ao império romano. Elementos comuns a estes múltiplos povos que
contribuíram para a formação da identidade cultural:

 Matriz civilizacional greco-romana e germânica;

 Matriz judaico-cristã;

 Evolução cultural europeia veio desenvolver-se a partir da idade moderna com o universalismo,
ciência e racionalismo.

Ou seja, há um conjunto de elementos comuns que marcam a identidade cultural de todos os povos e
Estados que permitem uma compreensão mútua entre eles, o que facilita um projeto de integração europeia.
Isto sem o prejuízo da diversidade e da pluralidade de povos assente numa linguagem própria, território
próprio, identidade nacional encontrando reflexos nos tratados. Temos um substrato identitário que ascende
a uma matriz cultural comum e temos também uma diversidade assente no desenvolvimento político dos
Estados nacionais que se afirma na idade moderna.

Houve várias propostas e tentativas de unificação política. Uma delas foi a protagonizada por Vítor Hugo, os
Estados Unidos da Europa baseado no quadro de valores civilizacionais do Ocidente. Outra tentativa de
unificação foi os projetos Napoleónicos (processo unilateral). O projeto atual revela tensões permanentes de
perspetiva diferentes: intergovernamentais/supranacionais ou federais

A concretização destas ideias vai ter lugar no século XX, apresentada por representantes dos Estados
Europeus junto a Organizações Internacionais. É após a 1ª Guerra Mundial que surgem movimentos de
unificação europeia. A proposta é apresentada no quadro da SDN, em 1930, pelo Ministro dos Negócios
Estrangeiros francês que propõe que seja criada uma União Europeia em que existiria uma união aduaneira
e um mercado comum e essa União iria desenvolver-se através de órgãos próprios, políticas comuns que
iriam garantir e contribuir para o desenvolvimento económico e a paz na Europa. Contudo, esta proposta
acabou por se dissolver.

No final da década de 30 temos o eclodir da 2ª Guerra Mundial. A própria guerra criara algum ambiente de
comunhão entre os Estados do Ocidente Europeu, havendo movimentos de resistência que cooperam entre si
e desenvolveram laços importantes. Estava comprovado que era necessário um projeto de aproximação dos
Estados Europeus para garantir que a guerra não se repetiria bem como estava reconhecido o estado de total
destruição das finanças europeias, que apenas um projeto comum conseguiria resolver. Esta destruição vem
a ser resolvida com a ajuda dos norte-americanos através do Plano Marshall.
Neste os americanos impuseram como condição aos europeus que fizessem uma gestão comum dos projetos
a apoiar, ou seja, não deu apoios individualizados aos Estados, obrigando a que se criasse uma organização
ad hoc, em que todos, consensualmente, acordaram as condições de utilização desse apoio financeiro.

2. Fases de Desenvolvimento

 Fase de Criação: 1951-1957


Esta fase inicia-se com o Tratado Ceca (projeto que pretende ser um projeto europeu, aberto a outros
Estados para além daqueles que o iniciaram, desde que partilhem os mesmos objetivos e valores). A CECA
instituiu, nos setores económicos abrangidos, um mercado comum, o que significa que havia liberdade na
circulação dos produtos abrangidos entre os Estados que faziam parte do Tratado, isto é, eram abolidos os
direitos aduaneiros e outras restrições a essa livre circulação.

Estabeleceu-se uma política externa em relação a esses mesmos setores e, portanto, havia uma política
comum relativa às importações e exportações, instituída neste quadro da CECA. Uma vez que há nestes
setores uma tendência natural para a formação de oligopólios, eles eram sujeitos a uma política comum
orientadora que condicionava a exploração destes mesmos setores.

A CECA foi um sucesso na instituição do mercado comum do aço e do carvão. Apesar desse sucesso, releva
algumas dificuldades que têm a ver com o facto de não haver uma política comum de transportes e de se
tratar de uma integração setorial e, dessa forma, há uma desarticulação com outros setores económicos.
Neste sentido, sucede-se, por parte dos responsáveis, a iniciativa de avançar ainda mais o processo de
integração europeia e avançar em novos setores. Dada a relação direta deste setor com a indústria do
armamento, pensou-se que seria necessário avançar na defesa, ou seja, numa política de defesa para garantir
alguma unidade e capacidade autónoma à Europa Ocidental.

Avança a iniciativa, lançada pelos franceses, de criar uma comunidade europeia de defesa, isto é, criar
uma comunidade com uma estrutura institucional semelhante à CECA, mas com uma integração militar
adicional, com a criação de um exército de forças militares integradas sob um comando comum que depois
se articularia com o comando militar da NATO. Isto permitiria integrar a Alemanha Federal e ao mesmo
tempo conter a ameaça que poderia representar para a comunidade. Este projeto foi bem recebido pelos
membros e iniciaram-se as negociações.

Seria ainda necessário legitimar politicamente esta comunidade de defesa europeia, e isto faz-se através da
criação de uma comunidade política europeia. Prevê-se, assim, que em vez de uma alta autoridade como a
da CECA, haja um executivo comum de competência de natureza político-europeia. Em França, dá-se uma
alteração do espetro político com a ascensão da perspetiva de feição gaulista. A ascensão desta orientação
política é contrária a qualquer processo de federalização europeia e até à via já instituída na CECA de
supranacionalidade. De Gaulle era europeísta, da Europa das Nações em que prevaleciam os Estados e na
qual o papel fundamental seria reservado aos governos dos Estados e não a uma alta autoridade
independente destes. Assim, todo o ambiente político francês condenou os projetos desenvolvidos ao seu
fracasso. Dá-se o insucesso da Comunidade Europeia da Defesa e da Comunidade Política Europeia. Vive-se
um ambiente marcado pelo término da guerra da Coreia e da morte de Stallin. Esse desanuviamento faz
diminuir a pressão no espaço europeu ocidental e abandonaram-se 2 projetos. Desta forma, o gradualismo
teria de dar passos mais lentos, mas porventura mais sólidos.

Em 1955, relançou-se o processo de integração europeia através de uma integração em outros setores
económicos. As negociações elegerem dois novos setores: política de transportes (que antes era visto como
um obstáculo à exploração de todas as potencialidades do mercado comum) e o setor da exploração
energética do átomo, um setor novo que a Europa queria acompanhar. Avançam as negociações que
pretendem alargar o mercado comum aos setores da economia. Isso vem a ser concluído através de 2
tratados, assinados em Roma em 1957, Tratado da Comunidade Económica Europeia e Tratado da
Comunidade Europeia da Energia Atómica.

 Tratado da Comunidade Económica Europeia- CEE

A CEE é um sujeito jurídico que é formado por 6 Estados e tem instituições próprias previstas no Tratado:
Conselho de Ministros, Comissão e mais duas instituições comuns com a CECA, a Assembleia Parlamentar,
de função consultiva e o Tribunal de Justiça. Diferenças entre a alta autoridade da CECA e a Comissão da
CEE:

Na substância a CEE é uma organização de integração económica geral (não setorial como a CECA),
abrangendo todos os setores económicos, excluindo-se os que dizem respeito à produção, distribuição e
comercialização de armamento. A CEE tem outros traços distintivos e o equilíbrio entre as instituições é
diferente entre as duas: na CEE, prevalece o Conselho de Ministros e não a Comissão (corresponde à alta
autoridade na CECA) nas decisões políticas e atos jurídicos que concretizam essas decisões. A CEE tem
poder executivo de fixar agenda, poder de iniciativa, mas as decisões políticas e atos jurídicos que as
concretizam são da competência do Conselho de Ministros onde tem até representantes dos governos dos
Estados. Assistimos assim a uma modificação que aponta mais para o intergovernamentalismo do que a
CECA antes tinha.

 TRATADO DA COMUNIDADE EUROPEIA DA ENERGIA ATÓMICA:


EURATOM/CEEA

A exploração pacífica da energia atómica, pelas suas especificidades, vem a ser integrada numa organização
específica internacional formada pelos mesmos 6 Estados, com órgãos semelhantes (semelhantes, não
iguais) aos da CECA. Esta comunidade é um sujeito jurídico autónomo que integra os mesmos membros da
CECA. Este tratado é assinado em 1957 e entra em vigor em 1958. O projeto foi pensado para evoluir em
modo progressivo. Este carácter progressivo evolui de acordo com um binómio que condicionava essa
evolução. Às vezes de um modo mutuamente construtivo e outras vezes com alguma alternância e
contradição entre alargamento (aberto a novos Estados europeus que seguissem a matriz e os valores do
projeto) e aprofundamento (expansão das políticas abrangidas) do processo de integração europeia.

 Fase de Consolidação: 1958-1970


Esta fase inicia-se com a construção das duas novas comunidades europeias: CEE e EURATOM. Esta é a
fase que decorre principalmente na década de 60 e caracteriza-se por ser de grande sucesso económico. O
Tratado da Comunidade Económica Europeia previa que o mercado comum do carvão e do aço fosse
estendido à generalidade dos setores económicos e previa que tal se concretizasse em 3 fases que
terminariam em 1970. Findas essas etapas teríamos um espaço livre de circulação de mercadorias em que
não havia direitos aduaneiros nem restrições quantitativas entre os Estados Membros e já haveria uma
pauta aduaneira comum com o exterior nas relações comerciais para o exterior deste espaço e ainda se
desenvolveria uma política comercial comum. Isto passou por algumas etapas:

 1958-1962: obrigação de os Estados preservarem, não modificarem a situação aduaneira que


vigorava em 1958. Os Estados obrigavam-se a não aumentar os direitos aduaneiros nem restrições
quantitativas
 1962-1965: redução progressiva dos direitos aduaneiros entre os Estados Membros, a par também
com as medidas necessárias para instituir a pauta aduaneira comum face ao exterior

 1966-1969: esta fase seria aquela em que se teria concluído essa realização interna de liberalização e
externa de uniformização. Dado o sucesso que teve lugar, houve uma antecipação do mercado
comum. Em 1968, aboliu-se os direitos aduaneiros e estabeleceu-se uma pauta aduaneira comum
face ao exterior.

Este processo de integração contribui para o progresso económico, para a melhoria das economias dos
Estados Membros e das condições dos seus cidadãos. A verdade é que foi uma época marcada por crises
como a “crise da cadeira vazia” de 1965. Tratou-se de uma crise política que se traduziu numa
modificação, em termos das perspetivas dos Estados Membros, em relação à integração europeia,
nomeadamente por parte da França. Em 1965 estavam em discussão os aspetos fundamentais relativos à
construção da PAC, setor especialmente importante para os franceses e na qual estes entendiam que tinham
interesses que podiam ser postos em risco com determinadas propostas da comissão. A França via as
propostas da CEE como entraves aos seus próprios planos. Assim, o representante da FR, numa reunião do
Conselho, onde teriam de ser tomadas decisões relativas a essas propostas, abandona o lugar no Conselho.
No quadro da CEE, o Conselho é o órgão de decisão fundamental e era necessária a presença da FR para a
tomada de decisões. Todo um semestre de estagnação, sem decisões políticas tomadas.

No Tratado CEE, em 1966, previa-se que as decisões do Conselho seguissem a regra prevista nos tratados:
maioria qualificada e não unanimidade. É por receio desta situação que leva a FR a tomar uma decisão ainda
mais radical. Aquelas questões que eram para si sensíveis podiam chegar à 3ª fase, ser objeto de uma
deliberação contra a sua vontade e que iam vincular a FR contra a vontade manifestada na deliberação. A
França apresenta queixas quanto á realização do mercado comum e diz que não pode aceitar que decisões a
vinculem, sem ela aceitar. Entende, desta forma, um excesso de protagonismo da comissão no âmbito das
políticas comunitárias, nomeadamente que esta não debatia suficientemente com as administrações nacionais
as propostas que apresentava, não tendo em conta devidamente os interesses e problemas que as
administrações nacionais teriam. Uma outra queixa levantada teve a ver com a salvaguarda de interesses
vitais, sendo que esses não deveriam ser objeto de deliberação por maioria qualificada e que a posição de um
Estado Membro, neste caso do Estado Francês, fosse obliterada por decisão de maioria qualificada.

Estas queixas vão ter uma resposta que vai ter lugar nos Acordos de Luxemburgo. Em 1966, chega-se a um
entendimento relativamente a essas queixas: estabelecer a prática, por parte da Comissão, de obrigação de
escutar os representantes dos Estados antes de as propostas chegarem às reuniões do Conselho para decisão,
feito pelo COREPER (organismo de representação dos Governos juntos da UE). Aqui é dado um papel
especial aos representantes dos Estados do COREPER: debruçarem, analisarem, discutirem e votarem as
propostas da comissão que vão ser depois objeto de deliberação nas reuniões dos Ministros no CM. Isso
permite à comissão afinar as suas propostas de modo a conseguir alcançar um maior consenso e que o CM
consiga deliberar com maior agilidade. Esta prática acontece até aos dias de hoje consagrado no tratado no
artigo 240º. Permite agilizar as decisões porque, quando as propostas, depois deste trabalho preparatório,
feito com representantes de Estados do COREPER, chegam ao CM, são deliberadas sem votação no
conselho. Há maior rapidez em conseguir surtir efeitos de que o CM delibere sem debate.

Os Acordos de Luxemburgo também chegaram a outro consenso relativo á defesa dos interesses vitais dos
Estados. Quando numa reunião do CM, em que se discuta determinada matéria proposta, um Estado alegue
que essa questão, afeta um interesse vital da sua política nacional, a proposta não será objeto de deliberação
e continuar-se-á a discutir até que se alcance uma solução. Essa solução poderá passar pelo consenso dos
Estados ou que não coloque em causa as regras do tratado, nomeadamente, regras de votação. O
entendimento dos franceses era que se teria de alcançar um consenso. Os restantes Estados não têm esse
entendimento. Até hoje, todos os Estados já fizeram uso deste acordo relativo ao interesse vital.
Entendimento no sentido que este acordo terá tido o seu papel político, mas não pode pôr em causa o avanço
da integração europeia e das regras do tratado. As regras só podem ser modificadas através de uma
modificação dos próprios tratados de acordo com o procedimento neles próprios previstos. Os acordos de
Luxemburgo são acordos de natureza política, sem valor vinculativo, valem na medida em que os
representantes dos Estados, consensualmente, aceitam que essa vontade política possa prevalecer. Mas se
houver um Estado que entenda que se devem seguir as regras dos tratados, isso acontecerá visto que os
acordos não podem afastar as regras do tratado.

Nesta fase é ainda possível observar uma federalização jurídica, protagonizada principalmente pelo
Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Em 1968 com o mercado comum há liberdade de
circulação de mercadorias, pauta aduaneira externa, medidas fundamentais para garantir as restantes
liberdades de circulação como a liberdade de circulação de trabalhadores, liberdade de prestação de serviços,
liberdade de estabelecimento para as empresas e profissionais liberais obedecendo sempre ao princípio de
não discriminação em função da nacionalidade.
Esta federalização deveu-se, em muito, ao Tribunal de Justiça. Na sedimentação da ordem jurídica
comunitária que permite, nos dias de hoje, dizer que esta é uma ordem jurídica a par das dos outros
Estados, com características federais nítidas. Não é federação da União Europeia. Mesmo no quadro
jurídico, temos nuances que não nos permite fazer uma correspondência direta com o sistema federal
americano. Tendencialmente, a construção tem uma inspiração federal.
 Caso “MERONI”: perspetiva de consolidação institucional na UE. Em 1958, no âmbito do Tratado
da CECA, a Comissão deseja mandatar uma entidade externa para desempenhar determinadas
competências suas no âmbito da gestão dos setores do carvão e do aço. O TIJ declarou que a
Comissão não poderia alterar as condições de exercício das suas funções, a não ser através de uma
modificação do próprio Tratado. Isto é relevante para garantir o respeito pelas competências que o
Tratado previa para a Comissão.

 “Van Gend & Loos”: alteração no regime pautal que a Holanda tinha em 1958- A Holanda fez uma
reclassificação pautal que veio alterar a taxa. A empresa Van Gend e Loos contesta uma norma
nacional holandesa (que pretende afastar, alegando para isso, uma disposição do Tratado), norma
essa que previa um aumento das taxas aduaneiras para um determinado produto. O caso chega ao TJ
e os governos dos vários países alegam que o DI não pode ser invocado por os tratados terem como
sujeitos os Estados e não os particulares. Na interpretação que faz, o TJ chega à conclusão que o
Tratado da CEE “é mais do que um acordo meramente gerador de obrigações recíprocas entre
os Estados contraentes”, pois os Estados limitam a favor da Comunidade, que constitui uma
nova ordem jurídica, os seus direitos soberanos cujos sujeitos são, para além dos Estados
Membros, os seus nacionais. Logo, o Direito Comunitário não só impõe obrigações aos
particulares, como lhes atribui direitos, sendo eles livres de invocarem esses direitos nas instâncias
judiciais nacionais. Afirma-se, com este acórdão, pela primeira vez, o princípio do efeito direto das
normas de Direito Comunitário originário e derivado, criadoras, para os particulares, de direitos
subjetivos tutelados pelos órgãos jurisdicionais nacionais. Para ter efeito direto, a norma comunitária
deve ser prescrita (clara e precisa), suficiente (não requerer quaisquer medidas complementares) e
não estar sujeita a condições.

O tribunal de Justiça admite que a Ordem Jurídica Comunitária é uma nova OJ diferente do tal Direito
Internacional Comum, pois esta OJ não vincula apenas os Estados, tendo sido construída para os cidadãos,
da qual os cidadãos tomam parte, através da representação nas organizações civis (sindicatos, entidades
patronais). É uma OJ que não diz respeito meramente aos Estados. O mercado comum não é do interesse dos
Estados, mas sim dos cidadãos, pois destina-se a eles. Visa construir um espaço onde os europeus possuem
um conjunto de prerrogativas.

Os particulares podem invocar normas do tratado desde que preencham determinadas condições para
garantir e exigir dos Estados o respeito pelos direitos e interesses que essas normas tutelam- princípio do
efeito direto. Traduz-se na faculdade que tem um particular, desde que se possa considerar destinatário da
norma em causa, para se fazer prevalecer dessa norma e exigir judicialmente, se necessário, o
reconhecimento e a efetivação dos direitos consagrados por essa mesma norma. Compreende, por exemplo,
o direito a que não lhe fosse aplicada qualquer disposição que se pudesse traduzir no agravamento da sua
situação fiscal. Não pode ser qualquer norma, mas sim uma norma que preveja a concessão de um direito
suficientemente individualizado na esfera jurídica do particular. A norma tem de ser prescritiva, suficiente e
incondicional.

 “Costa/Enel”: princípio do primado: Itália consagrava um regime de dualismo em relação ao DI.


Uma norma interna, desde que posterior a um tratado internacional, afastava a aplicação do DI, pelo
que prevalece o direito interno. O TJ, invocando vários argumentos, consagra que nenhuma norma
do DUE pode ser confrontada na sua aplicação com qualquer norma interna, seja ela superior ou
inferior ao direito ordinário, posterior ou anterior. As normas da UE prevalecem sobre as normas
nacionais. Daqui resulta que a norma nacional deverá ser afastada da sua aplicação (princípio do
primado: as normas da União Europeia prevalecem sobre o Direito nacional. Em caso de conflito
entre duas normas, uma de direito interno e outra de direito da união, prevalece a norma de DUE O
primado é absoluto e incondicional).

 Fase de Desenvolvimento: 1970-1993


 O relançamento da Cimeira de Haia (1969):

As Comunidades atravessavam, efetivamente, uma crise no final da década de 60, que só foi ultrapassada
em 1969, na Cimeira de Haia. No plano económico, há uma orientação na economia internacional que se
afirma a partir da década de 60, tendo acolhimento na década de 80. Nesta década, a integração europeia,
com o entusiasmo do neoliberalismo, corresponde a um novo ideário de liberdade económica, de
competitividade pela concorrência.

Já na década de 70 há sinais de estabilização das relações internacionais. As primeiras eleições para o


Parlamento Europeu por sufrágio direto universal tomam lugar em 1979. A partir daí, os membros do
Parlamento Europeu passam a poder afirmar-se como representantes europeus, tendo um mandato para fazer
promover os objetivos europeus. Vimos um desinteresse progressivo dos europeus pelas eleições europeias.

Os alargamentos- 1973 (Reino Unido, Dinamarca e Irlanda); 1981 (Grécia); 1986 (Portugal e Espanha).
Estes alargamentos têm um objetivo de estabilizar o espaço europeu e de consolidar as democracias
europeias, através da integração num espaço de desenvolvimento e de liberdade.

Há também um aprofundamento, sendo que a cimeira de Haia refere essa necessidade. Uma das vias era a
instituição de uma união económica e monetária, mas há dificuldades de tirar partido de todas as
virtualidades do mercado comum por haverem moedas diferentes. Com uma política monetária comum,
deixava de haver todos os custos associados á oscilação, conversão e mudanças cambiais, e dava-se à
economia europeia uma dimensão monetária internacional com essa política monetária comum. É verdade
que a década de 70 vai ser marcada por uma “euroesclerose” e, por isso, fala-se no aprofundamento discreto.
Este aprofundamento é feito por via de medidas concretas e também da ação do tribunal, mas a verdade é
que a Cimeira de Haia que tinha propugnado um avanço decisivo, não vem ter lugar porque a década de 70 é
marcada por vários choques e crises, nomeadamente choques petrolíferos, guerras que causam instabilidade
internacional e fazem escalar o preço do petróleo.

Ato único Europeu (1987): o desígnio do mercado interno; a incipiente “Cooperação Política Europeia”; a
agilização da harmonização legislativa e o “new approach”. Este assume como o primeiro tratado de
revisão dos tratados fundadores. Tem alguns elementos que potenciaram uma nova euforia europeia.
Surge, como protagonista, Jacques Delors.

Esta revisão afigura-se de grande importância e procura ultrapassar a paralisia institucional vivida, reforçar o
princípio da democracia através do aumento dos poderes do Parlamento Europeu, reformar a PAC, que
absorvia percentagens muito elevadas do orçamento comunitário, proceder à homogeneização das
comunidades que se tinha perdido com os sucessivos alargamentos e, por fim, conceder à união económica e
monetária os instrumentos jurídicos necessários à sua evolução, já que o Tratado de Roma não os possuía. A
maioria dos avanços que têm lugar no quadro deste projeto não surgem espontaneamente; são antes
processos que se vão formando e ganhando alguma consciência de bastidores e por vias diversas ao longo do
tempo, que têm grande dificuldade em concretizar-se, implementando-se muitas vezes, muitos anos após a
ideia original. O projeto tem que ser relançado, sendo esta uma convicção que no inicio da década de 80 é
afirmada pelos vários protagonistas.

Assim, as principais modificações que o Ato único Europeu introduziu foram:

 Reforço do respeito pela democracia, pelo Estado de Direito e pelos Direitos Fundamentais

 Reformas institucionais, com o intuito de agilizar a tomada de decisões

 Reforço do mercado interno

 Introdução de novas políticas comuns e de coesão económica e social

 Alargamento das atribuições externas das Comunidades

 Reforço da cooperação política entre os Estados Membros

Avança muito rapidamente com iniciativas de necessidades de aprofundamento- os projetos da união


económica e monetária “adormecidos” desde a década de 70, fazem-se avançar.

Em 1984, o PE aprova numa resolução um texto de um novo tratado que redundava todos os anteriores- o
tratado da UE, que dava uma orientação federal às Comunidades Europeias, em que a política externa, as
políticas macroeconómicas e de comércio seriam comuns e o poder das instituições seria reforçado.
Também conhecido como Projeto Spinelli

Os Estados não aceitaram este projeto, por ser demasiado ambicioso, pois tinha uma feição federal. Não
avançou, mas refez o caminho para a necessidade de avançar- com um menos ambicioso.

O ATO ÚNICO EUROPEU ENTROU EM VIGOR EM 1987. É muito limitado, com apenas 33 artigos.
Estabelecia um quadro de coordenação entre os responsáveis políticos nacionais para dar uma voz unida à
Europa, nas questões de índole internacional. Durante a segunda metade de 80, temos o desenvolvimento
das relações entre a União Soviética e os EUA- Perestroika. A europa no meio não tinha qualquer orientação
política comum, não tinha uma voz forte o suficiente para se expressar no plano internacional- tem que criar
uma cooperação comum. Neste sentido vai avançar a política externa de segurança comum.

Beneficiaram do contexto de neoliberalização que se vivia na época. Havia, formalmente, liberdade de


circulação de trabalhadores para a prestação de serviços, mas se era assim no papel, havia muito a ser feito
para que efetivamente se garantisse não haver obstáculos a restringir as tais liberdades de circulação. No que
concerne ás mercadorias, o desmantelamento dos direitos aduaneiros não foi suficiente para garantir a
circulação de bens.

Coube à jurisprudência do Tribunal ir tratando dessas matérias e desmantelando, condenando os Estados a


eliminar esse tipo de medidas que tinham internamente, uma vez que eram contrárias ao mercado comum.
Era necessário alterar o Tratado- todas as medidas de harmonização que sejam necessárias para eliminar este
tipo de obstáculos devem ser agilizadas. O mercado interno é também um espaço de liberdade económica
com quatro liberdades, mas pressupõe que não há qualquer tipo de barreiras à circulação. A tónica é
colocada não nas barreiras alfandegárias, mas que resultam da regulamentação dessa matéria.
Simbolicamente, manifestava-se pelo abolir das barreiras físicas- as fronteiras. Pretendia-se, com o Ato, o
desmantelamento das barreiras, que as pessoas e as mercadorias circulassem pelo território europeu, como
circulam dentro de um Estado, sem enfrentar qualquer tipo de obstáculo.

Acórdão Cassis de Dijon (1979): a Alemanha proíbe a venda de bebidas brancas de baixo teor alcoólico.
Uma empresa alemã pretende importar o licor francês Cassis de Dijon, mas vê-se impedida de o
comercializar, contestando a decisão em tribunal, alegando de que se tratava de uma discriminação e de
uma restrição quantitativa (contrária ao conceito de mercado interno), proibidas à luz dos tratados,
sendo a questão reenviada para o Tribunal de Justiça. Este pronuncia-se, afirmando que não existia
fundamento válido para impedir as bebidas alcoólicas, legalmente produzidas e comercializadas em outros
Estados-Membros, sejam introduzidas em qualquer outro Estado-Membro, estabelecendo o princípio do
reconhecimento mútuo que elimina, em grande parte, a necessidade de harmonização legislativa.

Este projeto tomou lugar entre 1987 e 1992, através de mais de 300 diretivas que foram organizadas para
eliminar toda a panóplia de barreiras que pudessem haver.

Fase de Refundação I: 1993-2003


O Ato único europeu não concretizou as reformas que foram sendo necessárias com o decorrer do tempo.
Foram vários os Estados que na década de 90 se aproximaram das Comunidades:

 Num primeiro momento, os Estados economicamente desenvolvidos da EFTA assim, em 1995, num
“alargamento fácil” aderem a Finlândia, Áustria e a Suécia, atendendo ao desenvolvimento
económico, político e social destes Estados e á partilha dos mesmos valores

 Numa segunda fase, as democracias recém-nascidas dos países de leste manifestaram interesse pelo
projeto europeu

Em 1990, convocam-se duas conferências intergovernamentais que se ocupariam, uma, da união económica
e monetária e, outra, da união política da Europa comunitária. O culminar destas conferências resultou na
assinatura, em 1992, para entrar em vigor um ano depois, do Tratado da União Europeia (TUE) ou
Tratado de Maastricht

Este tratado tem, assim, como primeiro grande objetivo, a criação da União Europeia, consolidando o pilar
político da integração e operando um aprofundamento das comunidades. A UE que resulta de Maastricht é
uma entidade sui generis (do seu próprio género) não especificada (coexiste com as comunidades já
existentes, ao invés de as substituir ou absorver.) As Comunidades mantêm, assim, as atribuições que tinham
anteriormente, ao passo que à UE cabem domínios particulares, como a política externa e de segurança
comum (PESC) e a cooperação em assuntos internos e de justiça (CAIJ). Tais domínios repousam na
intergovernamentalidade, o que faz com que as decisões sejam tomadas por unanimidade. A atividade de
todas as políticas e Comunidades é articulada por órgãos comuns aos 3 pilares e pela subsunção de todos aos
mesmos princípios fundamentais: respeito pela identidade nacional dos Estados e pela dignidade da pessoa
humana.

Com Maastricht a integração económica da Comunidade foi reforçada através da União Económica e
Monetária (UEM, que é caracterizada por ser um mercado comum dotado de uma moeda única), último
patamar desta integração. A par deste facto, o Parlamento Europeu passou a ter poderes legislativos, vendo
também reforçados os seus poderes de controlo. No entanto, há uma prevalência quase absoluta do
Conselho. Cria-se, igualmente, o instituto da cidadania europeia. O Tratado da União Europeia não
pretendeu ser a resposta aos desafios internos e externos à UE. Este tinha um carácter transitório
reconhecido no próprio texto do Tratado pela Cláusula N, que determinava a realização de uma conferência
intergovernamental em 1996, na qual resultou, em 1997, na assinatura do Tratado de Amsterdão, que entrou
em vigor em 1999. O objetivo deste tratado era o de aperfeiçoar o Tratado de Maastricht, ficando porém, por
fazer a grande reforma institucional necessária ao posterior alargamento.

A principal inovação introduzida pelo Tratado de Amesterdão foi o conceito de integração diferenciada.
Passa a permitir-se que a UE se desenvolva de forma diferenciada, através dos mecanismos da cooperação
reforçada, regime jurídico pelo qual certos Estados-Membros podem estabelecer entre si regimes
diferenciados de aprofundamento distintos do regime regra. O que importa é que todos os Estados que
queiram e possam, integram esta cooperação reforçada. A cooperação reforçada é, por isso, um
procedimento através do qual um mínimo de 9 países da UE é autorizada a instituir uma integração ou
cooperação avançada numa determinada área no âmbito das estruturas da UE, sem a participação dos
restantes países da mesma. Desta forma, podem avançar com ritmos e/ou objetivos diferentes dos países que
se encontram fora das áreas de cooperação reforçada. O procedimento tem por objetivo superar a paralisia,
ou seja, uma situação em que uma proposta é bloqueada por um país ou por um pequeno grupo de países que
não pretendem participar na iniciativa.

A reforma institucional essencial ao alargamento que não foi observada pelo Tratado de Amesterdão, foi
preconizada pelo Tratado de Nice, assinado em 2001 e que começou a vigorar a partir de 2003. Assim,
alterou-se a composição da Comissão e a maioria qualificada do Conselho. Elaborou-se, também, a Carta
dos Direitos Fundamentais da União Europeia proclamada, na altura, sem valor jurídico vinculativo, mas
seguida de um compromisso das instituições europeias de, no exercício das suas competências, seguirem as
orientações por ela expressas. É largamente utlizada no fundamento e interpretação das decisões e normas.

Finalmente, em 2004, 2007 e 2013, dá-se o grande alargamento aos Países da Europa Central e Oriental,
chegando à Europa dos 28. Em 2016, o Reino Unido submeteu-se a um referendo interno sobre a sua
permanência na União (Brexit), referendo esse que ditou a saída do Reino Unido da UE.

Refundação II- 2003-2009


Pensava-se que o Tratado de Nice seria o último passo antes de se atingir a federalização europeia, tanto que
a expressão “adquirido comunitário ou acervo” parece negar o retrocesso do processo de integração. No
entanto, uma série de novos desafio não deixa claro qual o futuro da UE, especialmente quando os cidadãos
são chamados em múltiplas ocasiões a pronunciar-se sobre a integração europeia e que têm demonstrado
alguma incerteza. Na Conferência intergovernamental em 2004 tinha como principal objetivo, definido já
em 2000 na CIG de onde resultou o Tratado de Nice, o de “aprovar na União um texto constitucional”. Para
tal, foi convocada uma “Convenção” constituída por representantes dos vários órgãos constitucionais dos
governos e dos parlamentos dos Estados-Membros, que rapidamente se autodenomina de “Convenção
Constitucional”. Em 2003, esta convenção apresenta ao Parlamento Europeu o projeto de Tratado que
institui a Constituição ou simplesmente Constituição Europeia, que será discutido na supra referida
CIG/2004.

Este Tratado introduzia as seguintes inovações:

 Primado do direito da União Europeia face aos direitos internos;

 A União Europeia assume-se como polo subjetivo único, revogando os tratados anteriores;

 Estabelecem-se uma série de símbolos próprios da União

 Expõem-se um catálogo de direitos fundamentais;

 Prevê-se o direito de secessão;

No entanto, este projeto malogrou com a não ratificação pela França e pela Holanda, que submeteram a
referendo interno a questão da Constituição Europeia, referendo esse que obteve resposta negativa. Tal facto
obrigou os chefes de Estado a que colocassem de parte tal projeto. Após o sucedido, a UE entrou num
período de reflexão. É na sequência deste período que, em 2007, se assinou o Tratado de Lisboa, que
começou a vigorar em 2009. Tal tratado é um sucedâneo ou um tratado de continuidade face ao projeto da
Constituição Europeia.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A CONSTITUIÇÃO EUROPEIA E O TRATADO DE LISBOA:

 Ao contrário da Constituição Europeia, o Tratado de Lisboa não revoga os tratados anteriores, apenas
procedendo a uma alteração formal da sua denominação: o Tratado de Maastricht passa a designar-se
por Tratado da União Europeia e o Tratado de Roma que institui a CEE passa a denominar-se
Tratado sobre o Funcionamento da UE

 O termo comunidade é substituído por União

 Exclui-se a referencia ao primado da União

 Não se pretende estabelecer uma constituição em sentido formal, fazendo-se assim uma exclusão às
referencias aos símbolos da UE

 É atribuído o mesmo valor jurídico dos Tratados à Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia

O Tratado de Lisboa é, assim, de extraordinária importância, uma vez que unifica os pilares sob a União
Europeia, com o fim da CEE, mas mantendo a CEEA/Euratom

Refundação III- atualmente


Superação das contradições e insuficiências da UEM: missão impossível?

 Pacto Euro + mecanismo MAC entre 23 estados membros


 O FEEF e o seu sucessor mecanismo europeu de estabilidade, de 2012, vincula apenas os estados
membros do euro

 Six-Pack (regulamento 1175/2011 que modifica o regulamento 1466/97- enquadramento mais severo
às políticas públicas nacionais

 Two-Pack para a eurozona

 Tratado sobre a estabilidade, coordenação e governação na União Económica e Monetária de 2012

 União bancária

 O pilar europeu dos direitos sociais visa reforçar a dimensão de reforço da resiliência social, pode
passar por direitos já consagrados, mas permitindo uma articulação entre eles que conduza a uma
harmonização

 O semestre europeu

Tudo isto se consegue resolver impondo critérios financeiros rigorosos que vão disciplinar aqueles Estados
mais desobedientes. Contudo, tal não funcionou devidamente. O primeiro Estado a violar os princípios da
política económica comunitária fora a Alemanha

 O AVANÇO DA PCSD

A estratégia de Segurança Europeia de 2003: alteração do quadro da segurança internacional, com o


problema do terrorismo, com o 11 de setembro. Os Estados do leste europeu são Estados que têm sérias
dificuldades em relação a qualquer projeto ou iniciativa para uma política de defesa comum, pois eles olham
para os EUA como sendo o seu detentor e causador de distúrbio

A PCSD prevista no Tratado de Lisboa: A UE disponibiliza, através dos exércitos dos Estados, maior
para garantir aquele quadro de paz, para irem para o terreno e manter a estabilidade numa dada região, em
áreas como África e Bósnia. Primeiro avanço no sentido de reforço destas capacidades.

A cooperação estruturada permanente (PESCO): prevista no artigo 42º TUE. Pode ser feita
individualmente ou a partir de estruturas comuns. A nossa segurança é tão débil que não temos um sistema
de interseção de satélite comum; é um projeto que anda há anos a ser desenvolvido, de modo a obter uma
independência dos norte americanos- projeto Galileo. A diferença reside no poder político-militar

3. UNIÃO EUROPEIA- INSPIRAÇÃO IDENTITÁRIA E VALORES

O Tratado de Lisboa constitui a realidade jurídica que condiciona, vigora e determina a União Europeia e o
seu regime corrente. Que realidade é esta juridicamente?

Temos uma entidade jurídica com personalidade jurídica internacional, criada por Estados através de
tratados internacionais, com uma missão de prosseguir determinados objetivos que se concretizam em
competências conferidas aos órgãos, que estão previstos e regulados nos tratados. Encontra-se definido
aquilo que é o alcance das competências conferidas, os princípios e os termos da relação entre a União e o
Estado-Membro; aproximar-se-ia da tal realidade federal estadual. A própria realidade das competências
atribuídas, a relação com os Estados, os poderes conferidos às instituições, também, em grande medida, se
foram desenvolvendo, muito à imagem de realidades federais. Sobretudo do ponto de vista do
desenvolvimento dos princípios fundamentais, seja o primado ou o efeito direto, o que vemos ressoar é a
jurisprudência do Tribunal Norte-Americano

ALTA AUTORIDADE: autoridade supranacional- é de salientar a sua independência; obrigação para os


Estados-Membros no sentido em que a sua ação seria desenvolvida independentemente dos Estados que o
nomearam. Pretende promover os interesses comuns. Ganha um sentido próprio, que assenta no
reconhecimento de que as suas competências estão à mercê de interesses próprios, que não se confundem
com os interesses dos Estados, sendo superiores aos mesmos. Há alguns elementos do funcionamento da UE
que reforçam esta independência e autonomia dos interesses e objetivos a salvaguardar, como o facto das
deliberações serem tomadas por maioria qualificada em regra: os Estados não têm uma palavra definida,
individualmente, sobre a prossecução e definição dos objetivos. Quando são tomadas as decisões, o valor da
população das nações é todo o mesmo. A UE tem um âmbito de ação que é bastante extenso. Verifica-se
extensão e intensidade do exercício das competências. Com a sua atribuição, os Estados ficam impedidos de
exercer competências naquela matéria.

Neofuncionalismo: Ernest Haas, em 1950. Vem propor uma reforma da proposta funcionalista de Mitany.
Não há um automatismo desse esvaziamento do poder do Estado; é necessário criar condições para tal, que
assentam não só na composição, mas sobretudo nos termos das deliberações dos órgãos. Os órgãos dessas
OI’s são dotados de competências efetivas, podendo exercê-las de modo autónomo, sem estarem
dependentes do assentimento dos Estados. Temos que ter deliberações vinculativas para todos, mas tomadas
por maioria, e não por unanimidade. As comunidades europeias inspiram-se no modelo neofuncionalista.
Nós vamos fazer a Europa, não de uma vez só, mas criando solidariedades de facto progressivamente
(Declaração Shuman) começando com a CECA.

Temos uma alta autoridade, que toma as decisões por maioria; um Conselho de Ministros que confere tal
legitimidade política e um Tribunal com competência compulsória. Tal ia permitir, a prazo, contruir uma
federação.

Os Estados vão sendo esvaziados de competências, integrando-se na sua ordem jurídica as definições
determinadas a nível internacional, de forma a garantir a paz internacional. As Nações Unidas têm
garantindo a paz, mas não tem impedido que os Estados se continuem a manter como o centro do poder
internacionalmente. Na crise da cadeia vazia, esta teoria perde valor, vemos afirmar-se a soberania dos
Estados na sua conceção mais tradicional- o Estado diz que não aceita decisões por maioria qualificada
contra os seus interesses vitais. Ressurgem teorias intergovernamentalistas, inspiradas no realismo
internacional.

A UE não é uma realidade axiologicamente neutra, ao contrário de outras organizações internacionais que,
do ponto de vista identitário, não têm um quadro de valores que inspire e fundamente a sua existência

Nas versões originárias dos Tratados, não se encontrava qualquer referência aos valores subjacentes às
comunidades- o que não é sinónimo de ausência de base axiológica. Os valores que atualmente fundam a UE
sempre estiveram subjacentes à integração europeia. No Tratado de Lisboa, temos uma série de previsões
que determinam quais os valores pelos quais se pauta a UE, além de serem valores identitários da UE,
salienta-se o facto de se considerar que são também valores dos Estados Membros. Os Estados, quando
participam deste projeto e aderem ao mesmo, subscrevem e vinculam-se a estes valores.

 VALORES

 Inspiração identitária;
 Respeito pela dignidade humana, liberdade, a igualdade, a democracia

 Respeito pelos direitos humanos, direitos fundamentais

Os últimos dois valores enunciados não só são valores da UE, como são universais. A UE pauta-se por estes
valores, não apenas na sua esfera interna, mas também os tem presentes no âmbito das relações externas,
considerando que são válidos internacionalmente. São valores para toda a humanidade. Indivisibilidade dos
direitos- não há direitos com um estatuto privilegiado, direitos com um maior estatuto, porquanto outros são
de menor estatuto, podendo ser reduzidos.

A importância destes valores do artigo 2º concretiza-se em 2 dimensões:

 Na adesão: o artigo 49º que regula a adesão de novos Estados-Membros, determina a obrigatoriedade
do respeito por estes valores e respetiva demonstração pelos Estados candidatos. Isto garante-se
porque a adesão é o procedimento que tem todo um acompanhamento que é levado a cabo pela
Comissão, de acordo com o mandato do Conselho; só quando a comissão entende que estão reunidas
estas condições, pode a adesão vir a concretizar-se, sendo necessário um parecer da Comissão que
garanta que está conseguido o respeito por estes valores

 Artigo 7º: exige-se que os Estados Membros não venham a incorrer num risco manifestado de uma
violação séria destes valores ou que não tenham já recorrido à violação dos mesmos. Foi introduzido
no Tratado de Amesterdão, particularmente para os Estados de Leste

União europeia- inspiração identitária e valores


Objetivos: não se confundem, mas relacionam-se com o quadro de valores.

Estão presentes esses valores no quadro de desenvolvimento objetivo. A UE não é uma entidade de fins
gerais, mas sim uma entidade de fins especiais, semelhantemente ao que acontece com as organizações
internacionais, pelo que está condicionada pelos objetivos que estão consagrados nos tratados constitutivos.
Na verdade, o aprofundamento e a extensão desses objetivos ao longo das várias décadas terá de ser feito de
forma explicita através dos tratados, que os Estados Membros tenham realizado, seja por uma via endógena,
interna, pelas instituições.

É IMPORTANTE PERCEBER O ALCANCE DESSES OBJETIVOS:

 MEDIATOS:

Artigo 3º/1 TUE (“promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos”)

 São objetivos que estão presentes desde o inicio, como aquilo que é a missão política fundamental da
UE, mais do que jurídica;

 Os tratados foram sempre alargando o âmbito de aplicação da União Europeia- novos objetivos.
Novas funções

 Preâmbulo do Tratado sobre FUE- a paz, a promoção dos valores e o bem-estar dos seus povos;

 A UE é um instrumento ao serviço daquelas finalidades últimas- desempenha um papel crucial pelo


relevo e importância que tem, e deve continuar a ter nas relações europeias
 Aproxima as relações económicas e os próprios povos europeus. Vamos vendo o alargamento das
competências para novos domínios, mas também o aprofundamento, pela via de previsão das
competências que, partilhadas, passam a ser exclusivas

 Cobrem a generalidade dos vários setores possíveis das relações económico-sociais e das relações
jurídicas.

 Acervo comunitário- este é um projeto de aprofundamento sucessivo, desenvolvendo-se assente


naquilo que foi realizado, todo um conjunto de normas jurídicas que concretizam e desenvolvem
determinadas competências e objetivos dos tratados-

 Spillover- processo desenvolvido progressivamente através de políticas concretas, mas que se vão
aprofundando a outros domínios

 Neofuncionalismo- condições institucionais que permitem que o spillover continue, e não fique
bloqueado.

 IMEDIATOS:

Objetivo Global: preâmbulo TUE, artigo 1º, 2º do TUE, preâmbulo do TFUE (“criação
de uma União cada vez mais estreita entre os povos da Europa”), o estatuto especial
acordado para o Reino Unido

 Estatuto especial para o Reino Unido: na perspetiva de realização do referendo que teve lugar em
2016, o RU negociou com os parceiros um acordo que foi aprovado por todos no Conselho Europeu,.
Um acordo que efetivamente previa um conjunto de medidas especiais que iam conferir ao Reino
Unido um estatuto diverso, em vários domínios. Naquele acordo que tinha sido celebrado para
apaziguar ao ceticismo britânico, previa-se que o RU não ficava vinculado ao princípio da união cada
vez mais estreita aos povos da Europa: o RU enquanto Estado-Membro não partilhava esse desígnio
de aprofundamento sucessivo e não retrocesso “acervo comunitário”.

 Aprofundamento sucessivo: concretizam e desenvolvem determinadas competências, em que não há


redução do acervo, não há retrocesso; todos os Estados que aderem se vinculam ao acervo
comunitário. Implica a aceitação de todo o património jurídico, que se substancia num património
político- vinculam-se a todo o direito da união, tal como ele foi desenvolvido anteriormente pelos
Estados já membros. Não pode aderir de modo diferenciado- aceita-se todo, ou não se adere. Não há
especificidades.

 Além deste alcance, havia desde o inicio um alcance interno: perspetiva de que não poderia haver
inversão de marcha, o processo implica extensão e desenvolvimento e numa redução das
competências atribuídas à UE
SERÁ POSSÍVEL EQUACIONAR PARA OS RESTANTES ESTADOS MEMBROS UMA
DESVINCULAÇÃO SEMELHANTE?
Não, era exclusivamente para o Reino Unido (no entanto, tendo ficado definido que o mesmo irá sair, a
questão já não se coloca)

Quando na UE são adotadas regras- diretivas, regulamentos- no EEE são adotadas igualmente. O comité do
EEC- o conselho de ministros, num processo de revisão autónomo- tornar o Direito da União Europeia,
Direito do Espaço Económico Europeu.
Será que os Estados não estarão já impedidos de rever os tratados no sentido de reduzir as competências
comunitárias á época? Não podiam os Estados vir a eliminar o acervo comunitário? Há uma progressividade
definitiva. Não haveria hipótese de eliminar competências que tivessem sido atribuídas às comunidades- o
acervo estava definitivamente consolidado. O Tratado de Lisboa veio a dar uma resposta positiva, normativa
vigente- a resposta não é nesse sentido. A referência ao acervo comunitário desaparece. Não obstante, no seu
artigo 48º reguça-se a revisão dos tratados- pode ser no sentido de conferir competências, aprofundá-las ou
até reduzi-las. Logo, o acervo não é definitivo.

A integração europeia tem toda uma complexidade que à primeira vista não é visível. O regime que
encontramos molda-se segundo quadro federais- é uma entidade suis generis, reconhecendo-se o seu carácter
específico e ao mesmo tempo inovador no âmbito das relações internacionais, bem como a incapacidade de
se enquadrar nas categorias dogmáticas tradicionais.

OBJETIVOS SETORIAIS PRINCIPAIS:

 Espaço de liberdade, segurança e justiça: espaço onde os europeus podem viver como vivem no seu
espaço acional, de origem- podem circular livremente sem estarem sujeitos a constrangimentos; não
podem ser sujeitos a restrições à deslocação; se pretenderem residir, não podem ser sujeitos a
restrições igualmente- princípio da não discriminação

 Mercado interno: artigo 3º/3 TUE; Parte III, Título I TFUE (artigo 26º e 27º)

 União Económica e Monetária: artigo 3º/4 TUE; Parte III, Título VIII TFUE (artigo 119º-144º)

 PESC: artigo 3º/5 TUE; Título V TUE (artigos 21º; 46º)

 Cidadania da União- Preâmbulo TUE; Parte II TFUE (artigos 20º e 25º)

 Coesão económica, social e territorial- artigo 3º/2 TUE; Parte III, Título XVIII TFUE (artigos 174º-
178º)

Princípios Fundamentais da União Europeia


 PRINCÍPIOS RELATIVOS Á RELAÇÃO ENTRE A UNIÃO E OS ESTADOS-MEMBROS

o Princípio do respeito pela identidade nacional: “refletida nas estruturas políticas e constitucionais fundamentais
de cada um deles, incluindo no que se refere á autonomia local e regional”- artigo 4º/2 TUE, identidade política
e jurídica. Dimensões:

 Respeito pelas funções essenciais do Estado (integridade territorial, ordem pública, segurança
nacional- artigos 346º e 347º TFUE);

 As tradições constitucionais comuns-artigo 6º TUE- a constituição Irlandesa; manifestação das


preocupações do povo irlandês em relação ao Tratado de Lisboa

 Reconhecimento das línguas oficiais dos Estados-Membros- artigo 55º TUE- artigo 342º TFUE

 O reconhecimento de competências próprias dos Estados Membros- artigo 165º/1 TFUE

o Princípio do respeito pela diversidade cultural e linguística dos povos europeus: artigo 55º TUE; artigo 342º
TFUE.
 A UE tem uma obrigação de não afetar essas competências nacionais através do exercício de
competências próprias

 Consagrado na carta dos direitos fundamentais- princípio do respeito pela diversidade cultural- artigo
17º (a propósito da cidadania) e artigos 165º e 167º (refere-se à dimensão cultural das competências)

 A UE não pode adotar atos de harmonização legislativa em matéria de educação e política cultural.
Apenas pode apoiar os Estados. A cultura é uma competência própria dos Estados

 Apoio à promoção da cultura: património cultural dos Estados, Europeu, mas sempre programas de
apoio financeiro, administrativo

 A revisão dos tratados operada em Lisboa manteve o princípio do respeito pela riqueza da diversidade
cultural e linguística europeias, bem como pelo desenvolvimento do património cultural europeu

 Artigo 36º TFUE: prevê a proteção do património cultural e histórico. Regra que tem efeito
direto, proíbe os Estados de adotar qualquer medida de restrição quantitativa na matéria do
mercado comum

 Artigo 207º, nº4/a: a celebração de acordos comerciais de política externa com Estados
terceiros está sujeito a maioria qualificada. No entanto, quando falamos de acordos que
tenham um objeto que incida sobre produtos com uma substância cultural- audiovisuais,
programas televisivos- estes acordos têm que ser adotados por unanimidade

Jurisprudência relativa à proteção da língua nacional e o confronto com os direitos e princípios do Direito Comunitário:

 Acórdão sobre o registo civil da Lituânia (C-391/09): uma cidadã da Lituânia casa com um cidadão polaco, pelo
que pretende alterar o seu nome no registo civil lituano. A sua pretensão é indeferida, dado que a legislação da
Lituânia não permite a utilização de caracteres cirílicos nas certidões do registo civil. É invocado o princípio da
igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou étnica. Porém, o TFUE afirma
que prevalece o princípio da identidade nacional e que, portanto, os Estados podem limitar as fórmulas
linguísticas usadas nos seus registos civis

 Acórdão Garcia Avelho (C-148/02): em Espanha, a tradição diz que o apelido das crianças é constituído pelo
primeiro apelido do pai e, de seguida, pelo último apelido da mãe. Isto entra em conflito com o CC belga, que
estabelece que o último apelido de uma criança deve ser o último apelido do pai. Garcia Avello, de
nacionalidade espanhola, casa com uma cidadã belga e pretende que os seus descendentes, com dupla
nacionalidade, sejam registados na Bélgica de acordo com a tradição espanhola. A sua pretensão é recusada
pelo governo belga, que alega a defesa da identidade nacional. Contudo, o TJ decide em sentido oposto,
afirmando que não é legitimo que um Estado-Membro “recuse dar seguimento favorável a um pedido de
alteração de apelido de crianças residentes nesse Estado-Membro e que disponham de dupla nacionalidade
desse mesmo Estado e de outro Estado-Membro, quando o referido pedido tenha por objetivo que as crianças
possam usar o apelido de que se seriam titulares ao abrigo do direito e da tradição do segundo Estado-
Membro”

 Acórdão Sayn-Wittgenstein (C- 208/09): uma cidadã austríaca residente na Alemanha adquire, na Alemanha,
um titulo nobiliárquico. Por uma decisão do tribunal constitucional austríaco num processo análogo, é
informada de que verá o seu nome retificado no registo civil austríaco. Em causa está a proibição que a
constituição da Áustria faz á utilização de títulos nobiliárquicos, invocando-se razões de ordem pública
atinentes ao princípio republicano que orienta o regime político austríaco, tratando-se, pois, de saber se deve o
direito comunitário respeitar a identidade nacional do Estado. Por seu turno, a cidadã alega que vê posto em
causa o seu direito de livre circulação e de livre prestação de serviços. A decisão do TJ vai no sentido de
considerar que o direito da UE “não se opõe a que as autoridades de um Estado-Membro possam recusar
reconhecer o apelido de um nacional desse Estado quando este apelido engloba um título nobiliárquico que
não é admitido no primeiro Estado-Membro por força do seu direito constitucional”

o Princípio da cooperação leal no cumprimento das missões do Tratado- artigo 4º/3 TUE; 197 e 291º TFUE;

 Princípio da fidelidade federal- inspira-se diretamente numa disposição similar existente na Constituição
alemã. Significa que há um dever de lealdade, colaboração e desenvolvimento das competências
recíprocas.

 O artigo 4º foi modificado para lhe dar uma segunda dimensão que não estava especificamente prevista,
que agora é o artigo 4º/3 do TFUE

 Este princípio fora densificado pelo tribunal através da jurisprudência. Surge, normalmente, associado ao
princípio do primado, que é uma decorrência lógica do princípio da cooperação leal. Os Estados têm
obrigação de adotar todas as medidas indispensáveis para garantir o cumprimento das normas do Tratado,
do direito da UE. Implica abstenção, quando afete objetivamente a realização dos objetivos do tratado;
implica adoção e aplicação das normas do Tratado

 Nesta relação de obrigação vertical: ascendente dos Estados para a UE (artigo 291º), há uma competência
que é, simultaneamente um dever e um direito. Perante a adoção de um ato legislativo da UE-
regulamento- que necessite de atos regulamentares, de natureza normativa, à luz do artigo 291º/1, tal é a
competência dos Estados.

 Existe uma ideia de comunhão de interesses que fundamenta os vínculos de solidariedade da União e dos
seus Estados Membros e vice-versa, assim como entre os Estados-Membros entre si. Vincula os EM e a
União os EM entre si e as instituições entre si. Este princípio é a manifestação da coesão e da comunhão
entre os Estados e os povos da Europa.

 A UE e os EM respeitam-se a assistem-se mutuamente no cumprimento das missões decorrentes dos


Tratados, comprometendo-se os EM a adotar todas as medida gerais ou específicas adequadas para
garantir a execução das obrigações decorrentes dos Tratados ou dos atos das instituições da União, bem
como facilitar à União o cumprimento dos objetivos constantes dos Tratados e abster-se de adotar
quaisquer medidas que ponham em causa esses objetivos.

 Este princípio tem dois conteúdos- conteúdo positivo (na medida em que os Estados devem tomar as
medidas necessárias ao cumprimento da missão da União) e um conteúdo negativo (pois devem-se abster
de praticar atos que ponham em perigo a aplicação dos Tratados)

 Artigo 197º- não estava inicialmente previsto no artigo 4º. A UE está vinculada a um princípio de lealdade
para com os Estados, oferecendo meios de apoio para que estes possam desempenhar a sua função na
efetivação do Direito da UE “A União pode apoiar os esforços dos Estados membros para melhorar a sua
capacidade administrativa…”- refere uma obrigação para as instituições cooperarem em sede
administrativa com as administrações dos EM, dando apoio e formação. No processo de pré-adesão, uma
das mais importantes dimensões é o apoio à formação das administrações dos EM, mantendo-se ao longo
do tempo com programas específicos.

 Máquina de Bruxelas: a burocracia de Bruxelas tem desde funcionários a agentes destacados pelos
Estados, contando com a Administração Central e toda a panóplia de agências independentes- falamos de
cerca de 30000 mil pessoas. A dimensão é absolutamente insignificante para as competências de que
estamos a falar, que têm de ter alcance em todo o território. Entendeu-se que deveria ser descentralizada.
Tem vindo a crescer, mas essencialmente depende dos Estados-simultaneamente administração pública
europeia e dos Estados

o Princípio da coesão económica, social e territorial (8 e 9 do preâmbulo TUE; artigo 3º/3 TUE; 2,3,5 do
preâmbulo do TFUE; artigo 27º TFUE- artigos 174º-178º TFUE)

 Política partilhada complementar (artigos 174º-175º TFUE), desenvolvida sobretudo através do apoio
financeiro estrutural em especial o Fundo de Coesão para o ambiente e redes transeuropeias (art.177
TFUE)

 Linhas de ação- apoio ao desenvolvimento e ajustamento estrutural de regiões menos desenvolvidas;


apoio à reconversão das regiões em declínio

 Fundos: FSE (mais antigo- existia já na CECA e tem como objetivo apoiar a reconversão dos
trabalhadores, para que em condições de maior crises tenham capacidade de se adaptarem); FEDER
(missão específica de apoiar projetos para que possam ter uma incidência estrutural)¸FEOGA (e os
apoios à agricultura durante muito tempo levavam metade do orçamento da UE ; Fundos de Coesão
(para todos os aspetos em particular, apoio a iniciativas e projetos que tenham uma incidência
positiva no ambiente; as redes transeuropeias, sejam as físicas, sejam as de energia. Não tem
havido grande desenvolvimento aí)

 Política partilhada complementar de apoio às regiões mais desfavorecidas e atrasadas

o Princípio da subsidiariedade- artigo 1º, parágrafo 2 TUE; artigo 5º/3 TUE, protocolo relativo aos princípios da
subsidiariedade e proporcionalidade

 As decisões devem ser tomadas ao nível mais próximo do possível dos cidadãos, junto da realidade
na qual vão incidir. Desse pressuposto conclui-se que o nível mais próximo serão os Estados- estão
mais próximos da realidade territorial; tal tem uma dimensão de reconhecimento também das
competências regionais e locais

 Foi introduzido no Ato único Europeu no âmbito da política ambiental.

 Tratado de Maastricht- foi introduzido como uma competência genérica por exigência alemã, fruto das
exigências dos landers alemães. Diretamente, além desta inspiração democrata e cristã, é um
princípio modelado pelo princípio do sistema constitucional alemão. Foi um tratado difícil- foi a
subsidiariedade que o salvou, estando presente no artigo que reuniu mais consenso. Porquê? Porque
tanto os federalistas como os eurocéticos se reviam nele.

 O duplo requisito (a insuficiência dos EM; o valor acrescentado da intervenção da União); fundamentos
e critérios de aferição

 A procedimentalização do princípio com a declaração interinstitucional de 1993; o artigo 2º do


protocolo

 Do controlo estritamente judicial ao duplo controlo (político e judicial- TJ e tribunais nacionais)

 O controlo político preventivo dos parlamentos nacionais (artigo 6º e 7º do Protocolo)


 O controlo judicial do TJ (artigo 8º do Protocolo); a legitimidade processual ativa dos EM “em nome do
seu Parlamento”; a legitimidade processual ativa do Comité das Regiões

 Este é um princípio diretamente inspirado na realidade alemã, com uma longa história política que
remonta à doutrina social da Igreja do século XIX, orientações filosóficas que nos reconduzem para
aquilo que é o personalismo cristão, com uma influência muito notória no quadro das formações
políticas europeias, particularmente da democracia de centro-direita

 Este princípio incide sobre o exercício das atribuições repartidas pela União e os respetivos EM,
devendo estar previamente definida a sua atribuição. Deve ser enquadrado no movimento de
constitucionalização da União, através do qual se dá uma maior participação dos cidadãos no
processo de integração europeia. Visa, essencialmente, aproximar a decisão o mais possível dos
cidadãos.

 Prevê que, nos domínios que não sejam da sua competência exclusiva, a União intervém apenas se e
na medida em que os objetivos da ação encarada não possam ser suficientemente alcançados pelos
EM, tanto ao nível central como ao nível regional ou local devido ás dimensões ou efeitos da ação
considerada serem mais bem alcançados ao nível da União

 A aplicação deste princípio pressupunha uma prévia definição da repartição de atribuições entre as
Comunidades e os EM. Após o apuramento prévio do carácter exclusivo ou concorrente de
determinada atribuição, os órgãos comunitários competentes antes de atuarem tinham a obrigação de
averiguar se a ação que pretendiam levar a cabo preenchia o critério da suficiência dos Estados, pelo
qual se averiguava se os objetivos da ação encarada não podem ser suficientemente realizados pelos
Estados e o critério da maior eficácia da Comunidade, de acordo com a qual se apreciava se os
objetivos da ação encarada, devido à sua dimensão ou aos seus efeitos, não podiam ser melhor
alcançados pela Comunidade.

 Preservação da autonomia e liberdade das pessoas, que a intervenção pública deve fazer
subsidiariamente, quando se exige uma intervenção pública na autonomia das pessoas. As
intervenções das autoridades do Estado devem intervir quando necessário para garantir objetivos
essenciais.

 As decisões devem ser tomadas ao nível mais próximo dos cidadãos, da realidade em que incide.
Aponta para uma prevalência do Estado, mas também, dentro do Estado, do que são as esferas do
poder mais próximas- regiões e poder loca. Orientando, apesar de salvaguardar a autonomia dos
Estados na sua organização política interna, mas fazendo referência à salvaguarda da autonomia
regional e local no interior do próprio Estado

 Âmbito de aplicação- competências não exclusivas (artigo 3º/1 TFUE)- não é aplicável o princípio da
subsidiariedade

 Diz respeito ao exercício das suas competências. Princípio da exercício de competências, e não um
princípio de divisão do exercício de competências. Quando tendo ela competência, deve a UE agir,
exercer essa competência.

Critérios: positivo ¸negativo (artigo 5º/3 TUE)

No âmbito do exercício, este princípio apenas tem relevo no âmbito das competências não exclusivas. São
competências partilhadas pela União e os Estados. Quem deve intervir em cada momento? O princípio da
subsidiariedade dá-nos os critérios que vão presidir. Em domínios como, por exemplo, a política comercial externa, a
união aduaneira ou a política monetária, a gestão dos recursos do mar, estamos a falar de competências exclusivas da
UE. As medidas adotadas não podem ser avaliadas, aferidas na sua validade à luz deste princípio.

Critério Negativo: insuficiência dos Estados para alcançar o objetivo que aquela atribuição/competência determina. Os
Estados, por razões diversas, não serão capazes de dar resposta normativa necessária para alcançar o objetivo que se
pretende promover ou salvaguardar os interesses necessários

Critério Positivo: é necessário que se revele uma efetiva mais-valia da intervenção da UE. A UE não dispõe de meios, o
tipo de ação transcende a própria esfera de intervenção da UE.

Indícios que permitem concluir que a ação não será suficientemente alcançada pelos Estados, e será alcançada
positivamente pela UE- artigo 5º/3:

 A natureza dos efeitos que a ação da UE pode ter e a dimensão da ação que é necessária. Ex.: em matéria
ambiental, ainda que os problemas possam ser locais, o alcance dos efeitos desses problemas locais é muitas
vezes transfronteiriço. Só com respostas que ultrapassem esses fronteiras, com uma resposta global da UE é
que se pode, efetivamente, garantir o alcance dos objetivos

Controlo do Princípio da Subsidiariedade:

 Este princípio foi algo positivamente aceite por todos

 Terá que se provar que, não só os Estados são insuficientes, como a UE poderá apresentar alguma mais-valia
na prossecução dos objetivos, comprovando que os Estados não podem agir suficientemente

 Está sujeita ao controlo comum do Tribunal: artigo 19º TUE + artigo 263º TFUE (prevê o controlo da legalidade
dos atos da UE ). Um ato adotado pelo Conselho que viole o princípio da subsidiariedade, adotado
desrespeitando aqueles requisitos, será invalidado pelo TJ ao abrigo do último artigo

 Princípio de eficiência- o direito não tem uma lógica de eficiência, pelo que não cabe aos tribunais julgar a
eficiência político-económica

Subsidiariedade integrativa: trazer para o interior do processo de decisão os contributos que permitam garantir que as
medidas são as mais adequadas á realidade, trazer os interesses em jogo, podendo, dessa forma, modelar as
decisões de modo a que correspondam de modo mais efetivo às necessidades dos verdadeiros destinatários e
afetados. Perceber a realidade, de modo a que as decisões possam acautelar essa mesma realidade, que passa pela
procedimentalização da garantia de que as medidas são adequadas à realidade.

Tratado de Lisboa: introduziu, para além do controlo judicial (artigo 263º), o controlo político a exercer pelos
Parlamentos nacionais, regulado no protocolo anexo ao Tratado. A melhor forma de fazer o controlo é fazer intervir
aquelas instituições que são os representantes legítimos dos povos europeus e das democracias nacionais, que são os
Parlamentos

QUE CARACTERÍSTICAS TÊM ESTES PRINCÍPIOS? Tendo valor jurídico todos eles- todos encontram uma base no
Tratado, substantivamente do ponto de vista do seu alcance têm uma incidência política e não somente jurídica.

Identidade Constitucional- âmbito jurídico e político (prevenção da própria soberania do Estado). Duplo alcance.
Quando falamos de identidade constitucional, falamos de um princípio com alcance jurídico e político, com a prevenção
da própria natureza e soberania dos Estados. Tendo um alcance político, tal condiciona o alcance jurídico.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA


Princípio da relação entre a ordem jurídica da União e as ordens jurídicas dos Estados-Membros:

 Princípio das competências de atribuição;

 Princípio da autonomia: pretende significar que o ordenamento jurídico da união tem um fundamento autónomo
próprio que é resultado de uma ação conjunta dos Estados, não está dependente destes. É um ordenamento
que surge no quadro da ordem jurídica internacional por força de um tratado celebrado entre Estados. O
alcance normativo do direito da UE resulta dos tratados, tem fontes próprias, órgãos próprios, com
competências definidas pela própria União com objetivos que os tratados preveem, meios próprios de
efetivação e salvaguarda. O direito da união europeia, o seu valor jurídico e alcance não pode ser determinado
e não depende do direito nacional , nem precisa de estar conforme o direito nacional dos Estados. São
ordenamentos que se relacionam, mas que não estão dependentes um do outro, são autónomos um do outro
relativamente aos seus fundamentos e desenvolvimento, ainda que a efetivação do direito da união possa
exigir a participação das instituições nacionais, sejam tribunais nacionais ou da administração pública.

 Princípio da subsidiariedade

 Princípio da imediação: enquanto ordenamento jurídico Autónomo, tem uma projeção normativa no próprio
espaço territorial dos estados membros. A UE embora tenha cidadãos da união europeia, não correspondendo
a noção de povo (enquanto Estado), nem território, embora o seu efeito normativo se projete no território dos
Estados. O direito internacional em geral projeta os seus efeitos normativos no território nos estados mas de
modo indireto (processo de recessão desse direito). Só através da ação de receção é que o DI se torna direito
vigente no espaço jurídico do Estado. No caso da UE não é assim, os tratados estão sujeitos a processo de
ratificação, mas todo o ordenamento jurídico integra o ordenamento do Estado, beneficia dessa natureza de
imediação que lhe permite não estar sujeito a processo de receção interna. Torna-se direito vigente no território
do Estado.

 Princípio da aplicabilidade direta e do princípio do efeito direto: o princípio da aplicabilidade direta coincide com
o efeito direto, mas podem distinguir-se. Aplicabilidade direta- artigo 288º do TFUE. O regulamento é
diretamente aplicável per si. Vigora no território do Estado e produzirá todos os seus efeitos de imediato. Isto
implica para os Estados a obrigação de adotar medidas necessárias para assegurar a sua aplicação, que se
abstenham alguma medida que possa afetar o regulamento ou tornar ambígua a sua natureza e origem-
proibição de publicar os regulamentos no direito nacional. O princípio do efeito direto tem essencialmente
haver com a efetividade, suscetibilidade de produzir efeitos jurídicos que modifiquem a realidade jurídica de
que resultam direitos ou obrigações para os indivíduos. Dada a natureza do regulamento (geral e obrigatório),
também tem efeito direto, mas pode não ter, nomeadamente por necessitar de condições para a sua aplicação.
Este princípio deve tudo à jurisprudência do tribunal. Para se verificar efeito direto tem de estar verificados os
seguintes pressupostos (1-necessário que a norma em causa seja uma norma prescritiva- a norma tem de
conter um regime jurídico que seja vinculativo, que vise produzir um efeito normativo, instituindo um régie
jurídico que tem objetivo modificar, extinguir uma determinada situação jurídica; 2- tem de ser uma norma
suficiente, de o regime jurídico que ela institui ser apto em si, por si, sem necessidade de qualquer intervenção
posterior, de produzir esse efeito jurídico prescritivo que o regime contido prevê, a norma dispensa qualquer
intervenção implementar; 3- tem de ser incondicional, no sentido de não fazer depender a sua ação de
qualquer facto posterior e portanto do decurso de um determinado prazo, se tal estiver previsto, só depois de
decorrido esse prazo, poderá esse efeito direto vir a produzir-se). NOTA: A diretiva é por definição um ato
através do qual a UE determina um objetivo a alcançar e estabelece um quadro genérico através do qual esse
objetivo se irá alcançar de harmonização legislativa e confere aos Estados um determinado prazo para a
implementação dessa diretiva. Um dos problemas que surge é que os Estados no prazo previsto não adotam
essas medidas de transposição e nessa situação, se a diretiva visava alcançar uma determinada
harmonização esse objetivo não é alcançado por força desta inação ou ação inadequada por parte dos
Estados. Muitas das vezes a diretiva prevê que sejam conferidos a particulares determinados direitos ou
estabelecem um regime que tutela determinados interesses dos particulares. Nesta situação de incumprimento
por parte dos Estados das respetivas obrigações, aqueles que seriam os beneficiários, aqueles que veriam a
sua esfera jurídica integrar o direito ou interesse que o regime jurídico da diretiva previa, não veem esse
resultado alcançado. O que o TJ veio conseguir através do reconhecimento do principio do efeito direto foi
essa tutela, entendendo que quando uma norma de uma diretiva tenha aquelas características mencionadas,
seja prescritiva, suficiente e incondicional, então o particular poderá prevalecer-se dessa disposição/invocar
para exigir o reconhecimento e efetivação do direito que resulta desse regime jurídico ou a tutela de um
interesse que pode traduzir-se no afastamento de obrigação prevista no direito interno e que é contrária ao
regime da diretiva. Muitas vexes as diretivas são exaustivas e acabam por não deixar aos Estados uma
margem efetiva de escolha dos meios e a utilizar para alcançar os objetivos e nessa articulação sendo as
disposições da diretiva, não só prescritivas, mas exaustivas ao ponto de serem suficientes e dispensarem
qualquer ato normativo posterior por parte dos Estados, verificado o último requisito a sua incondicionalidade,
essa norma poderá ser aplicada.

 Princípio do primado: num quadro hierárquico de princípios, este estaria numa posição prioritária. Este
princípio é um que, a par com o princípio do efeito direto e aplicabilidade direta foi também construído pelo TJ,
construído pelo ativismo judicial do tribunal do Luxemburgo porque esse princípio não encontrava nos tratados
fundadores qualquer base literal. Havendo conflitos entre normas, as normas de DUE prevalecem sobre as
normas nacionais. Não é uma questão de hierarquia, a validade de uma ordem não depende da outra. É uma
questão de prevalência em caso de conflito, significa que, verificando-se um conflito entre norma nacional
vigente e norma de DUE vigente, então a norma de DUE prevalece e têm as autoridades nacionais de aplicar a
norma de DUE desaplicando a norma nacional que com ela conflitua. Este princípio não tem base normativa,
está presente na declaração 17º. Um juiz nacional quando num determinado litígio é invocada uma disposição
de DUE por uma das partes com objetivo de afastar uma norma de direito nacional, o juiz nacional está
obrigado a não aplicar a norma nacional. Porém temos de ter em conta o consagrado no artigo 204º CRP.
Dessa forma vamos tendo algumas dificuldades. A primeira situação em que claramente esta situação de
controvérsia surgiu foi Solangel 1974 (expressão que significa enquanto não houver tutela de direitos
fundamentais paralela àquela prevista nas constituições). Tem a ver com conflito em relação a questões de
direitos fundamentais. Ex.: No âmbito da PAC existem regras uniformes aplicáveis a determinados setores de
produção, essas regras estabelecem regras que limitam a produção. O que sucede é que um determinado
agente económico que trabalha num destes setores e pretende desenvolver a sua atividade em determinado
sentido pode ver-se condicionado nessa sua intenção, nomeadamente se não respeitar os limites que estão
previstas nas regras comunitárias. Em que isto tem a ver com os direitos fundamentais? Por exemplo está em
causa o direito de liberdade de empresa e o direito de propriedade. De que forma se resolve este conflito?
Tendo em conta o princípio do primado deverá aplicar-se as regras comunitárias.

1959- caso Stork: primeira vez que no quadro comunitário a questão do eventual conflito com a tutela de
direitos fundamentais se coloca. Estamos no âmbito da CECA e mais uma vez era um mercado comum que
previa limites de produção. Precisamente, uma empresa não satisfeita invoca a liberdade de empresa e vem
então alegar que uma decisão da alta autoridade á época era contrária aos direitos fundamentais de que
beneficia a empresa em causa à luz do direito nacional. Vai impugnar essa decisão junto do TJ. O TJ responde
de uma forma correta, dizendo que as normas das constituições nacionais, sejam elas que tutelam direitos
fundamentais ou não, não são fonte de direito comunitário. Os atos da CECA (naquele caso) tem de respeitar
requisitos de validade, mas são aqueles previstos pelo próprio direito da CECA, a eventual desconformidade
em relação a normas de direito nacional não afeta o direito previsto na CECA
1969: o tribunal inverte a orientação anterior, mais uma vez suscitando-se a questão da incompatibilidade com
a tutela de direitos fundamentais, o TJ vem dizer que na ordem jurídica comunitária também existe uma tutela
de direitos fundamentais, a ordem jurídica comunitária não é alheia à necessidade do respeito pelos direitos
fundamentais

1970: Handels Gesellsheff: neste caso esclarece o sentido anterior. O TJ vai densificar essa tutela através dos
chamados princípios gerais de direito (a tutela dos direitos fundamentais faz-se através do reconhecimento que
na ordem jurídica comunitária, vigoram princípios gerais de direito que se inspiram na tradição constitucional
comum dos EM)

1974: Caso Nold: além da tradição geral comum, os princípios gerais de direito que compreendem direitos
fundamentais também se inspiram nas normas de convenções internacionais de que os EM são parte, em
especial, a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Aqui o tribunal vai encontrar os elementos que
permitem construir princípios próprios que vão ser moldados pelo próprio sistema jurídico comunitário. O
alcance dessa tutela tem de ser coerente com os objetivos dos tratados e não há tutela absoluta de direitos, há
necessariamente que proceder a esse enquadramento e articular com os objetivos fundamentais.

1986: Solange II: o TC alemão vem dizer que à luz do desenvolvimento da tutela de direitos fundamentais,
entendia que nas comunidades europeias se encontravam um regime de proteção de direitos fundamentais era
semelhante ao que vigorava na Alemanha e passaria a abster-se de aferir da compatibilidade das normas
comunitárias com o quadro de normas de direito nacional.

O facto de não existir uma carta que preveja direitos com conteúdo que seja mais acessível era uma falha. E o
primeiro projeto de dotar a comunidade europeia de uma tutela expressa de direitos fundamentais surge na
década de 90. O TJ é chamado a pronunciar-se no parecer 2/94 de 1996- a comissão solicitou ao TJ que se
pronunciasse da competência da comunidade europeia para aderir à convenção europeia dos direitos
humanos e o TJ vem a pronunciar-se negativamente. Aqui o que o TJ, onde baseia a sua argumentação para
concluir com a compatibilidade é o facto de as comunidades europeias não terem como objetivos a proteção
de direitos fundamentais e por essa via e não existindo uma cláusula expressa que conferisse competência
para essa adesão a comunidade europeia não podia aderir à Convenção Europeia dos Direitos Humanos. No
quadro da sua ação para concretizar os seus objetivos, as comunidades estão obrigadas a respeitar direitos
fundamentais. É o próprio Tratado de Lisboa que veio introduzir no Tratado da UE a previsão que é uma
espécie de mandato imperativo, a UE adere à Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Foi um processo
longo e difícil, porque a CEDH vincula 47 Estados, tem uma dimensão e alcance muito maior do que os
Estados da União Europeia.

O processo de integração europeia não deixou de avançar. De cada vez que surge uma crise, eventualmente
dá-se um impulso. Há uma tendência de reticencia de questionamento a este processo. Percebe-se que será
necessário que a EU vai procurando responder às necessidades dos cidadãos.

 Princípio da interpretação conforme: este princípio deverá prevalecer na medida em que seja passível de
utilização e seja possível recorrer a este. O tribunal foi desenvolvendo este princípio no final da década de 80.
A grande maioria dos textos não têm sentido unívoco, são passiveis de interpretações com alcance diverso e
aqueles que estão obrigados a sua aplicação, nomeadamente, os tribunais devem, tendo havendo vários
sentidos, escolher aquele que é conforme/ respeita mais integralmente a constituição. O juiz nacional está
obrigado na sua competência a procurar fazer uma interpretação das disposições nacionais que serão
aplicáveis ao caso de modo conforme ao direito da união europeia, à diretiva que não foi devidamente
implementada. Parte-se do principio que as disposições do DI são passiveis dessa interpretação conforme. Isto
tem limites, nomeadamente esta possibilidade fica vedada se essa interpretação fosse em absoluta contra
legem (não encontrasse na letra da lei nacional, um mínimo de correspondência); outro limite tem haver com
uma situação que se torne para o particular mais gravosa do que aquela que resultaria da aplicação do direito
nacional (esta interpretação conforme não poderá ser efetivada se, da sua utilização, resultar no agravamento
da situação jurídica do particular face ao que seria a aplicação da lei nacional de um modo que não seja
conforme ao DUE), quando estejamos perante uma situação de transitado julgado não pode haver uma nova
ação tendente a reabrir aquele processo para uma nova interpretação á luz da UE que colocasse em causa o
caso transitado em julgado. Fora isto os tribunais nacionais devem procurar uma interpretação das normas
nacionais de modo conforme com o direito da união europeia.

 Princípio da responsabilidade pelo incumprimento: aplicável quando não seja possível fazer valer uma norma
de uma diretiva ao abrigo do princípio do efeito direto. Este princípio da responsabilidade é elaborado de modo
concreto a partir de uma situação de incumprimento da transposição e uma diretiva (caso italiano). Têm de
estar verificados pressupostos: 1- tem de haver um ato imputável ao Estado (pode ser omissão- ausência de
implementação de uma diretiva no prazo previsto ou pode ser uma ação- implementação errada de uma
diretiva); 2- tem que se verificar um dano (esse dano tem de ser sério e terá que ter tradução em valores
pecuniários). Verificados estes pressupostos, o Estado é responsável prelo prejuízo sofrido pelo Particular, o
que não é a mesma coisa que assegurar o direito que a diretiva previa.

 Princípio da efetividade e da equivalência: relacionado com o princípio da cooperação leal (artigo 4º/3 TUE).
Este princípio que tem esta designação, mas é inspirado no princípio da fidelidade federal. Este acaba por se
concretizar no princípio da efetividade- dizem que os EM no quadro das respetivas competências estão
obrigados a assegurar através de instrumentos de direito interno, dos respetivos institutos, respetivas
instituições, a efetivação do direito da união europeia. Obriga os EM a, no âmbito das respetivas
competências, internamente criar condições, para assegurar à aplicação das normas de DUE- está consagrado
no artigo 291º/1 TFUE) este artigo refere-se a uma competência dos Estados para a execução do DUE. O DUE
não dispõe de uma máquina administrativa para a respetiva efetivação. Quando as comunidades foram
criadas, colocaram-se 2 hipóteses- criar uma administração (..) não era politicamente conveniente e não era
viável num ponto de vista de operacionalização e a opção foi seguir o modelo germânico (federalismo
administrativo). A aplicação do DUE é feita pelas administrações dos Estados (todas as medidas de execução
necessárias). O principio da efetividade determina que no exercício desta competência de execução tem
obrigação de adotar as medidas indispensáveis (sejam jurídicas, administrativas ou organizacionais) para
assegurar o DUE. O princípio da equivalência que visa acautelar essa realidade nacional própria e específica e
determina que os EM no cumprimento dessa execução, têm como critério de salvaguarda ultima que assegurar
que cumprem essa obrigação de execução com o mesmo grau de garantia que fazem no direito nacional. Se
no direito nacional relativamente às garantias para cumprimento de determinadas obrigações, o Estado prevê
determinados mecanismos para assegurar o cumprimento dessas disposições, este princípio que tem de fazer
uso das mesmas exigências que coloca relativamente ao direito interno. Se for necessário impor sanções para
o não cumprimento do DUE, elas devem ser efetivas. Por vezes estes dois princípios entram em conflito. Há
estados com estruturas mais débeis, há sempre em concreto que afinar o equilíbrio entre efetividade e
equivalência. O tratado de lisboa prevê a competência da EU para impor a obrigação de sanções relativas ao
incumprimento de normas de DUE. O determinarem a aplicação de sanções não significa que sejam definidas
as sanções em concreto- que deverá ser deixado para o nível interno. Sucede que muitas vezes se pode
verificar que não há articulação harmoniosa entre efetividade e equivalência. Se o estado está obrigado a
garantir a efetividade e de acordo com o da equivalência pode traduzir-se numa não efetividade. Situações em
que pode acontecer esta situação:

Taricco: a EU disponibiliza conjunto de fundos financeiros para apoiar projetos de promoção da competitividade e o
artigo 325º TFUE determina obrigações para os EM relativamente à aplicação desses fundos financeiros de
assegurar que a sua aplicação se faz de acordo com as regras e combater a fraude, utilização abusiva…Foi
havendo situações duvidosas nos Estados e situações essas em que concluiu que detetada a fraude não se
conseguiu corrigir essa mesma fraude. Fruto da aplicação das normas nacionais e princípios nesta matéria, não se
conseguiu reverter essa fraude. O Tribunal vem a condenar as autoridades nacionais que autorizaram essa
utilização fraudulenta, a voltar a reaver esses frutos (o que não se conseguiu fazer). A Itália era um desses Estados
onde a situação abusiva se revelou de forma grave, onde havia esquemas fiscais contrários às normas
comunitárias que depois acabam por não ter essa resposta capaz. Uma outra situação tem a ver com fraude fiscal.
Neste caso era um senhor (parte de uma organização que fazia gestão de ativos e a verdade é que fez parte de
um esquema em que se fazia a fraude através da criação de empresas fantasmas que tinham objetivo a devolução
de IVA. Foi objeto de investigação e conclui-se que houve fraude em carrossel. A lei italiana previa prazos para a
prescrição. Neste género as normas de prescrição eram curtas (prazo curto). No final do processo, quando
efetivamente se procura sancionar o senhor, tinham decorrido os prazos de prescrição e a situação não foi
resolvida, nem com sanção aplicável nem conseguiram reaver as quantias que foram ilicitamente apropriadas. Os
juízes em Itália têm tradição de procurar utilizar o DUE para conseguirem dar resposta a este problema. O que
sucede é que o juiz neste caso, perante esta possibilidade de ao aplicar a legislação italiana, ter como resultado
que aquela situação violadora do DUE ficaria imune. Então coloca ao TJ uma questão sobre essa
incompatibilidade com o DUE, nomeadamente a efetividade articular com o princípio do primado, do efeito direto. O
TJ vai analisar a situação e conclui que sim, que efetivamente o sistema jurídico italiano, não assegure o princípio
da efetividade. Então determina que o principio do efeito direto e primado levaria a aplicar a norma de DUE do
artigo 325º e desaplicar-se a norma nacional de prescrição italiana. O TJ declara que a obrigação do juiz é
desaplicar a norma nacional. Isto deu resultado a doutrina divergente. Juristas constitucionalistas vêm dizer que
estavam a ser postos em causa princípios fundamentais do direito nacional, principio da legalidade e segurança
jurídica. Este caso deu lugar a outro

Caso MAS: primeiro caso em que o TC italiano coloca diretamente questões ao TJ. No outro era um diálogo
indireto, os tribunais nacionais não se dirigiam diretamente ao TJ. Vem dizer que estão em jogo princípios
fundamentais do direito italiano. Questiona que esta decisão e aquilo que é o resultado dessa decisão contende
com estes princípios do respeito pela identidade nacional. O TJ percebe que tem um problema que precisa de
resolver. Veio dizer que o princípio da legalidade e segurança são princípios gerais consagrados no próprio DUE
nomeadamente na Carta de direitos fundamentais, nesta medida a efetividade do DUE está condicionada nestes
princípios. Reforçou o próprio sistema jurídico da UE.

Diretiva relativa aos mecanismos de garantis da utilização dos fundos financeiros da UE: temos aqui um avanço
legislativo que entretanto teve lugar.

 Princípio da confiança mútua: princípio elaborado recentemente no caso Melloni. Este princípio está
pressuposto num outro princípio fundamental do reconhecimento mútuo das regras nacionais (cada Estado
tem as suas regras de fabrico de produtos e na ausência de harmonização na UE essas regras devem
reconhecidas pelos Estados). Este princípio acaba por ser fundamental para assegurar o reconhecimento
mútuo. A partir do Tratado de Maastricht este princípio alargou-se para além de mercadorias e fabrico de
produtos. Se passamos a ter liberdade de circulação de pessoas, temos de acautelar que essa liberdade não
facilita a fuga de pessoas condenadas- mandado de detenção europeu.

….

CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS:

 Partilhadas concorrentes (aplica-se o princípio da preempção enunciado no artigo 2º, nº2 TFUE; artigo 4º/2
TFUE; a elasticidade do domínio nacional das competências (artigo 2º, nº2 TFUE (terceira parte). Protocolo
relativo às competências; Declaração 18

 Partilhadas paralelas: artigo 4º, nº3 e 4 TFUE (não se aplica o princípio da preempção)
 Competências partilhadas de coordenação (artigo 5º- são domínios da competência da União, mas de fronteira
entre o tipo intergovernamental e o tipo comunitário (artigo 2º, nº3 TFUE)

COMPETÊNCIAS PARTILHADAS: todas aquelas que não são exclusivas. Encontramos competências com natureza
distinta. Artigo 4º/2- doutrina designou por competências concorrentes- categoria em que quer os Estados e a União
têm competência. Se temos dois entes competentes em simultâneo há que definir qual deles deve legislar em cada
iniciática que se pretende avançar com regulação e aí temos um segundo principio- princípio da subsidiariedade. Mas
temos ainda depois um outro princípio que decorre deste- quando um dos entes age, não podemos ter os Estados a
legislar posteriormente, procurando estabelecer regras num domínio em que a União já legislou- vale o princípio da
preempção. Outras competências partilhadas de coordenação (aquelas que estão previstas no artigo 2º/3 TFUE; artigo
5º TFUE- competências no quadro do euro com uma intensidade bastante estrita, com regime bastante rigorosos que
se impõe aos Estados.

Regime que não é estrito: Estados comprometem-se a cumprir determinados objetivos, é um compromisso de meios,
demonstram que estão a desenvolver politicas tendentes a alcançar esses objetivos e não resulta nenhuma sanção,
caso esses objetivos não sejam alcançados. A este tipo de coordenação horizontal chama-se mecanismo aberto de
coordenação e é algo que tem sido desenvolvido, seja no âmbito do artigo 5º quer para a politica económica e de
emprego.

As competências complementares de apoio e de coordenação se aproximam do artigo 5º mas com a diferença que
nestas competências a União não tem competências próprias no sentido de ter objetivos seus, de ter missões
especificas a cumprir, mas as competências da União são de apoio, complemento às competências dos Estados. Estes
definem os objetivos no quadro dessas competências, ainda que num processo de coordenação europeu, procurem
que essas competências sejam convergentes entre si e comuns para procurar beneficiar de determinadas boas
práticas de modo a alcançar os objetivos. Competências como cultural, educação- elencadas no artigo 6º TFUE e
nessa matéria a União desenvolve programas de apoio aos Estados nessa matéria, ainda que haja pontualmente, por
exemplo no âmbito da cultura um objetivo que é o salientar/promover aquilo que é o património cultural comum
europeu- aqui temos um objetivo que está para além das políticas culturais nacionais. Isto significa a prevalência da
competência dos Estados. Os estados tendem a fazer convergir os objetivos das suas politicas nacionais com os
programas da União. Matérias como organização do ensino a nível nacional (competência própria dos Estados, neste
sentido a União, por exemplo, não pode definir as condições em que a educação é desenvolvida a nível nacional) isto
sem prejuízo de fruto desse trabalho em comum com objetivo de assegurar aquilo que se pode chamar de
competitividade nestes setores, se tenha desenvolvido a dimensão da coordenação. Processo de Bolonha-
aproximação dos sistemas de ensino superior dos Estados da União Europeia que se desenvolve de um modo
horizontal partindo das próprias instituições de ensino procurando aproximar estes sistemas de modo a assegurar a
facilitação do reconhecimento das habilitações (torna mais ágil e mais fácil a liberdade de circulação de trabalhadores
por reconhecimento dos diplomas) e a promoção da competitividade do ensino superior europeu. este é um processo
que parte das próprias instituições através da sua ação e cooperação. Não temos preempção nem subsidiariedade
(Estados com competência primária e a competência da União como secundárias, de apoio).

Temos de distinguir o domínio de política externa e segurança comum (foi área de ação global e instituída pelo Tratado
de Maastricht e continua a ser exclusivo regulado pelo TUE). A PESC só tem regulado no TFUE uma particular
dimensão- dimensão da cooperação reforçada. Em geral as suas condições objetivas estão regulados no quadro do
Tratado da União Europeia. O que é PESC? A política externa traduz-se no desenvolvimento e projeção exterior, com
exceção da politica comercial e de apoio ao desenvolvimento que estão regulados no TFUE, mas corresponde àquilo
que se designa por hight politicis. Politica externa e de segurança comum- artigos 2º/4 TDUE; artigos 23º- 46º TUE;
artigos 326º-334º TFUE. A politica externa visa dar voz comum à União Europeia no plano internacional. Quais são os
domínios? Todos os domínios que não cabem no âmbito da politica comercial e de apoio e ajuda comunitária. A UE
deve procurar ter uma ação comum e para ter um ação comum deve definir prioridades politicas e estratégias comuns
que podem ter um âmbito geográfico e desenvolver ações coerentes com essa posição como podem ter uma definição
setorial (p.e) a UE tem uma posição comum relativamente ao problema das alterações climáticas. Os seus EM têm
obrigação de desenvolver as suas politicas externas e a respetiva ação de modo coerente com a União. Há alguns
Estados que tem particular obrigação- membros de organizações internacionais de que a União também é parte. Em
especial aqueles que são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Politica externa é
paralela à politica externa dos Estados. Depois a política externa não se traduz apenas nessa definição politica de
prioridades e ações a nível internacional, tem uma dimensão de segurança.

Este desenvolvimento para uma politica defesa concretizou-se na seguinte formula- politica de defesa e de segurança.

…abstenção positiva que permite a adoção de uma decisão da União que vincula a União sem o acordo de um Estado
que vai abster-se mas através da abstenção positiva e não vai ficar vinculado àquela decisão e esta foi a solução
encontrada para ultrapassar objeções.

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