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A União Europeia

Caracterização Geral

Luísa Verdelho Alves


mlalves@iscap.ipp.pt
Nota prévia

• A União Europeia deu origem a um novo sistema jurídico na esfera


internacional
• Portugal é membro da União Europeia. Assim, em Portugal, para além do
Direito português, também se aplica o Direito da União Europeia.
• Como veremos nas próximas aulas, do Direito da União Europeia resultam
direitos e obrigações não apenas para os Estados, mas também para os
particulares (cidadãos e empresas). Que o mesmo é dizer: o Direito da
União Europeia tem por sujeitos não apenas os Estados, mas também os
particulares.
• Antes de entrar mais fundo no sistema jurídico da UE, importa proceder a
uma caracterização geral da União Europeia. É este o objectivo das notas
que se seguem. No final, formulo algumas perguntas, para aferir a
compreensão dos tópicos abordados.
Génese da União Europeia

A origem União Europeia remonta aos anos 50 do século XX. Seis


Estados Europeus criaram três organizações internacionais.
• Tratado de Paris (1951)
Instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA)
Estabelecia um período de vigência de 50 anos
Tendo entrado em vigor em 1952, cessou vigência em 2002
• Tratados de Roma (1957)
Instituíram a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a
Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA)

Estes tratados têm vigência ilimitada


Ainda estão em vigor, mas já foram modificados por diversas vezes,
quer em sede de revisão, quer em resultado da adesão de novos
Estados-membros
A dimensão material da Integração Europeia

• As Comunidades Europeias foram as primeiras organizações


supranacionais

• Actualmente, outras organizações internacionais seguem um


modelo de integração
Para dar alguns exemplos:
• EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), 1960
• ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), 1967
• MERCOSUL (Mercado Comum do Sul, bloco comercial sul-
americano), 1991
• NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), 1994
• O elemento determinante no conceito de integração consiste na
limitação voluntária da soberania. Assim se distingue a integração
da mera cooperação entre Estados no plano internacional.

• É costume distinguir várias fases no processo de integração: Zona


de Comércio Livre; União aduaneira; Mercado comum; União
económica; União monetária e União política.
Estádios do processo de Integração

• Zona de comércio livre


Os Estados participantes eliminam as barreiras alfandegárias e comerciais
em relação aos países membros. No entanto, cada Estado-membro
mantém soberania para definir tarifas alfandegárias e políticas comerciais
em relação a países terceiros.
• União aduaneira
Adopção de uma pauta aduaneira comum. Os Estados participantes
perdem soberania para definir uma política comercial em relação a países
terceiros.
• Mercado comum
Livre circulação de todos outros factores de produção: livre circulação de
mercadorias, pessoas, serviços, capital e pagamentos.
• União Económica e União Monetária
Coordenação de políticas económicas e orçamentais, uma política
monetária comum e uma moeda comum, o euro.
• União Política
Integração em áreas não económicas.
Evolução do processo de integração

• Objectivos iniciais das Comunidades Europeias:


Uma união aduaneira e um mercado comum
• Evolução: As sucessivas revisões dos Tratados e o aprofundamento da
integração europeia:
- Tratado de Lisboa, assinado pelos Estados-Membros da UE em 13 de
dezembro de 2007, e entrou em vigor em 1 de dezembro de 2009,
- Tratado de Nice (2001)
- Tratado de Amsterdão (1997)
- Tratado de Maastricht (1992)
- Ato Único Europeu (1987)

A integração europeia começou com uma união aduaneira, mas hoje já


inclui elementos de uma união política

Porém, nem todos os Estados estão no mesmo nível de integração.


Há diferenciação na integração europeia. Por exemplo, a união monetária
não abrange todos os Estados.
A dimensão subjectiva da Integração Europeia
Os Estados-membros da União Europeia
(Artigo 52.º T UE e Artigo 355.º TFUE)

• Os Estados fundadores das Comunidades Europeias

• Cronologia dos alargamentos


- Adesão da Croácia (2013)
- Adesão da Bulgária e da Roménia (2005)
- Adesão da Estónia, Eslovénia, Eslováquia, Chipre, Hungria, Lituânia, Letónia, Malta, Polónia e
República Checa (2003)
- Adesão da Áustria, Finlândia e Suécia (1994)
- Adesão de Espanha e Portugal (1985)
- Adesão da Grécia (1979)
- Adesão da Dinamarca da Irlanda e do Reino Unido (1972)

• A saída do Reino Unido (31.01.2020)

• O Estado actual do processo de alargamento da UE


- Candidatos: Albânia, Macedónia, Montenegro, Turquia, Sérvia, Moldova
- Potenciais candidatos: Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Geórgia
https://neighbourhood-enlargement.ec.europa.eu/enlargement-policy_en
Aquisição da qualidade de Estado-membro da União
Europeia

• Critérios de elegibilidade
Quem pode pedir para aderir à UE?
- Artigo 49.º T UE e Artigo 2.º T UE
- Conclusões do Conselho Europeu de Copenhaga
de 21-22 de Junho 1993

• Processo de adesão
A quem cabe a decisão sobre a adesão de um novo Estado-
membro?
- Artigo 49.º T UE
Aquisição da qualidade de Estado-membro da União
Europeia (artigo 49.º TUE)

“Qualquer Estado europeu que respeite os valores referidos no artigo 2.o e


esteja empenhado em promovê-los pode pedir para se tornar membro da
União.
O Parlamento Europeu e os Parlamentos nacionais são informados desse
pedido. O Estado requerente dirige o seu pedido ao Conselho, que se
pronuncia por unanimidade, após ter consultado a Comissão e após
aprovação do Parlamento Europeu, que se pronunciará por maioria dos
membros que o compõem. São tidos em conta os critérios de elegibilidade
aprovados pelo Conselho Europeu.
As condições de admissão e as adaptações dos Tratados em que se funda a
União, decorrentes dessa admissão, serão objecto de acordo entre os
Estados-Membros e o Estado peticionário. Esse acordo será submetido à
ratificação de todos os Estados Contratantes, de acordo com as respectivas
normas constitucionais.”
Aquisição da qualidade de Estado-membro da União
Europeia (artigo 2.º TUE)

“A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da


liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito
pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a
minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade
caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a
solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.”
Aquisição da qualidade de Estado-membro da União
Europeia (Critérios de Copenhaga)

O Conselho Europeu de Copenhaga de 21-22 de Junho 1993


determinou as exigências a serem satisfeitas pelos Estados
candidatos à adesão.
De acordo com os "critérios de Copenhaga", “a adesão exige que o
país candidato disponha de instituições estáveis, democracia,
garantindo o Estado de Direito, os direitos humanos, o respeito e a
protecção das minorias, a existência de uma economia de mercado,
bem como a capacidade para fazer face à pressão concorrencial e
às forças de mercado dentro da União Europeia. Também é
pressuposto da adesão a capacidade do candidato para assumir as
obrigações decorrentes da adesão incluindo a adesão aos
objectivos de união política, económica e monetária.
A capacidade da União para absorver novos membros, mantendo
simultaneamente a dinâmica da integração europeia, é também
uma consideração importante tanto no interesse geral da União
como no dos países candidatos.”
Saída da União Europeia
(Artigo 50.º T UE)

“1. Qualquer Estado-Membro pode decidir, em conformidade com as respectivas


normas constitucionais, retirar-se da União.
2. Qualquer Estado-Membro que decida retirar-se da União notifica a sua intenção ao
Conselho Europeu. Em função das orientações do Conselho Europeu, a União
negocia e celebra com esse Estado um acordo que estabeleça as condições da sua
saída, tendo em conta o quadro das suas futuras relações com a União. Esse acordo
é negociado nos termos do n.º 3 do artigo 218.º do Tratado sobre o Funcionamento
da União Europeia. O acordo é celebrado em nome da União pelo Conselho,
deliberando por maioria qualificada, após aprovação do Parlamento Europeu.
3. Os Tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a partir da data de entrada
em vigor do acordo de saída ou, na falta deste, dois anos após a notificação referida
no n.º 2, a menos que o
Conselho Europeu, com o acordo do Estado-Membro em causa, decida, por
unanimidade, prorrogar esse prazo.
(…)
5. Se um Estado que se tenha retirado da União voltar a pedir a adesão, é aplicável a
esse pedido o processo referido no artigo 49.º.”
Leitura sumária do artigo 50.º TUE

Partindo de uma interpretação a contrario do n.º 1 do artigo 50.º,


concluímos: este preceito prevê uma saída voluntária, mediante
uma simples notificação
O preceito prevê igualmente o procedimento a seguir quanto à
celebração de um acordo que enquadre a relação futura entre a
União e esse Estado (v. artigo 50.º, n.º 2, segunda parte, e n.º 3)
E determina que, se um Estado que se tenha retirado da União
pretender voltar a aderir à União, terá de passar pelo processo de
adesão previsto no artigo 49.º
Mas pode colocar-se a questão:
E se um Estado-membro da União deixar de respeitar os valores em
que se funda a União (democracia, respeito pelos direitos
fundamentais…). A resposta encontra-se no artigo 7.º TUE, que se
transcreve a seguir.
Suspensão de direitos resultantes da qualidade de membro
(Artigo 7.º T UE)

• Artigo 7.º, n.º 1: existência de um risco manifesto de violação grave dos


valores referidos no artigo 2.º por parte de um Estado-Membro.
O Conselho pode dirigir recomendações a esse Estado-membro.
• Artigo 7.º, n.º 2: existência de uma violação grave e persistente, por parte
de um Estado-Membro, dos valores referidos no artigo 2.o
A verificação cabe ao Conselho Europeu que delibera por unanimidade, sob
proposta de um terço dos Estados-membros ou da Comissão Europeia, e
após aprovação do Parlamento Europeu.
• Artigo 7.º, n.º 3: “Se tiver sido verificada a existência da violação a que se
refere o n.o 2, o Conselho, deliberando por maioria qualificada, pode
decidir suspender alguns dos direitos decorrentes da aplicação dos Tratados
ao Estado-membro em causa, incluindo o direito de voto do representante
do Governo desse Estado-Membro no Conselho.”
Perguntas para aferir a compreensão dos tópicos abordados

• Os Tratados em que se funda a União prevêem a expulsão de um


Estado-membro?
• O pedido de adesão da Turquia à União foi aceite em 2004. Que
etapas têm ainda de se cumprir para que a Turquia se torne
membro da União?
• A Escócia pode pedir para se tornar membro da União?
Perguntas para aferir a compreensão dos tópicos abordados

Estão a decorrer negociações sobre as futuras relações comerciais


entre a UE e o Reino Unido. Um dos requisitos impostos pela UE é
o de que não haja uma fronteira física entre as duas Irlandas.

1) Se o futuro Tratado estabelecer uma Zona de Comércio Livre, é


possível garantir esse objectivo?
2) E se o Tratado estabelecer uma União Aduaneira entre a UE e o
Reino Unido? Será possível ao Reino Unido manter sua soberania
para definir a sua própria política comercial em relação a países
terceiros? Por exemplo, poderá o Reino Unido assinar um acordo
de livre comércio com os Estados Unidos?

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