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Direito da União Europeia

Rafael Cheniaux
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. A ideia de
Europa entre
passado,
presente e
futuro

. Os precursores
intelectuais da
integração:
William Penn
(1693), Abade
de Saint-Pierre
(1712,1729),
Immanuel Kant
(1795), entre
outros...

Vadim Palarciuc, 2010


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• “É o pensamento erudito, olhando longe e


resumindo a trajectoria historica deste solo e
civilisação quasi millenarios que, ao sabôr das
circumstancias, conheceu periodos de unidade e
comum acção (inda nos séculos XVII e XVIII se
podia falar d’uma comunidade intelectual da
Europa), para ao depois se repartir e scindir á la
faveur” (Prof. Doutor Lobo D’Ávila Lima, 1931)
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• “[...] é a observação de plena e flagrante


actualidade que nos diz que [...] do mesmo modo
que o sceptro mundial pertence ás potencias
federativas (n’estas incluindo a federação
oceanica britanica), a Europa, em recuo de
outros e, particularmente, dos Estados
americanos, é trabalhada até ao mal estar e á
ruina pela tendência analytica ou separatista”
(ibid.)
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Os projetos de integração no séc. XX


• O memorando de Briand
(1929)

• O pós-II Guerra: Wiston


Churchill (1946); o
Congresso da Haia
(1948)

• A “declaração Schuman”
(1950)
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Os Tratados de Paris e de Roma e o


nascimento das três Comunidades

• Tratado de Paris (1951) – vigorou até 2002

• Tratado de Roma (1957)

• O “tratado de fusão” (1965)

• O Ato Único Europeu (1986)


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Maastricht e a fase de transformação

• Tratado de Maastricht (1992)

• Tratado de Amsterdão (1997)

• Tratado de Nice (2001)

• A malograda “Constituição Europeia” (2004)


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A União Europeia após Lisboa

• Tratado de Lisboa (2007)

• Absorção da Comunidade Europeia pela União

• Vigência simultânea dos Tratados sobre o


Funcionamento da União Europeia (antigo
Tratado da CE) e da União Europeia

• A Carta dos Direitos Fundamentais da UE


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A natureza jurídica da União Europeia


(breve referência)

• Uma confederação de Estados? Uma organização


internacional (de integração)? Um “objeto político não
identificado”?

• Os constitucionalismos e a União Europeia

• A nota de supranacionalidade
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Princípio da atribuição

• UE desprovida da Kompetenz-Kompetenz

• Consagração: art. 5.º/1/2 TUE

• Indicação da base jurídica (das medidas de


direito derivado)

• Princípio da especialidade das OIs e princípio da


legalidade constitucional
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Princípio das competências


implícitas; cláusula de flexibilidade
• Reconhecimento de poderes não escritos,
logicamente necessários à prossecução das
competências explicitamente atribuídas à UE

• Exemplo: Acórdão AETR (proc. 22/70), 31.3.1971


– princípio do paralelismo de competências

• Artigo 352.º TUE – proposta da Comissão,


decisão do Conselho (unanimidade), aprovação do
PE // Mecanismos do art. 21.º2/3 TFUE
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Princípio da preempção

• No âmbito das concorrências concorrentes

• Preempção da competência da UE – preclusão


da competência dos Estados membros

• Consagração: art. 2.º/2 in fine TUE


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Princípio da subsidiariedade
• No âmbito das competências concorrentes

• Consagração: art. 5.º/3 TUE

• Pressupostos da intervenção da UE: insuficiência da


ação dos Estados e valor acrescentado da atuação da
União

• Papel dos Parlamentos dos EMs: os “cartões amarelo,


laranja e vermelho”

• Protocolo relativo à aplicação dos princípios da


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Princípio da proporcionalidade
• Consagração: art. 5.º/1/4 TUE

• Corolários: Adequação, necessidade e proporcionalidade


em sentido estrito

• “exige que os actos das instituições comunitárias não


ultrapassem os limites do adequado e necessário à
realização dos objetivos legítimos [...] quando exista uma
escolha entre várias medidas adequadas, se deve
recorrer à menos rígida”(Ac. Fedesa e o., proc. C-331/88,
13.11.1990)
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Princípio da cooperação leal


• Consagração: art. 4.º/3 TUE

• Deveres recíprocos de comportamento leal dos


EMs e da União

• Aplicação do princípio às relações das


instituições da UE entre si

• Princípio da boa fé no Direito Internacional e


princípio da lealdade federal (Bundestrue)
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• “funda, por um lado, a impossibilidade de os Estados


actuarem quando tal puder colocar em causa ou tornar
mais onerosas as medidas de intervenção (já adoptadas
ou a adoptar) por parte da União – isto de acordo com
uma leitura ampla da obrigação de cooperação
comunitária, que leva a que os Estados se abstenham de
adoptar certas condutas, mesmo que não previstas nos
Tratados -, e poderia muito bem fundar, por outro, a
obrigação de a União reanalisar os instrumentos de que
lança mão, de modo a definir se a sua actuação não
deveria ceder perante a intervenção dos Estados-
membros.” (Prof.ª Doutora Dulce Lopes, 2008)
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Princípio da cooperação diferenciada

• Geometria variável da União/ uma Europa “à la


carte”?

• Cláusulas opting in

• Cláusulas opting out


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As cooperações reforçadas

• Consagração: arts. 20.º TUE; 326º e ss. TFUE

• Autorização pelo Conselho, sob proposta da


Comissão, após aprovação pelo PE (regra) –
cláusula barreira: ao menos 9 participantes

• Possibilidade de adesão posterior

• A cooperação estruturada permanente na PESC


(42.º/6 TUE) (Protocolo n.º 10)
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As derrogações à integração

• Exemplos:

Protocolo n.º 15, relativo a certas disposições


relacionadas com o Reino Unido

Protocolo n.º 18, respeitante à França

Protocolo n.º 32, relativo à aquisição de bens


imóveis na Dinamarca
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Princípio do respeito pelas


identidades nacionais
• Consagração: art. 4.º/2 TUE

• Dever de ponderação das identidades nacionais


nos processos de decisão da UE

• Ex.: Conclusões da Presidência, Conselho


Europeu de 11 e 12 de dezembro de 2008
(Irlanda)/ Declaração 61 (sobre a Cara de
Direitos Fundamentais da UE) (Polónia)
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Princípio da administração indireta


• A execução dos atos juridicamente vinculativos
da União Europeia cabe em primeira linha aos
Estados-membros

• Quase total ausência de poderes de execução


centralizados por parte da União

• Atos de execução pelas instituições da União


(remissão)
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Competências exclusivas da UE
• Consagração: art. 3.º TFUE; 2.º/1 TFUE

• a) União aduaneira; b) Estabelecimento das


regras de concorrência necessárias ao
funcionamento do mercado interno; c) Política
monetária para os Estados-Membros cuja moeda
seja o euro; d) Conservação dos recursos
biológicos do mar, no âmbito da política comum
das pescas; e) Política comercial comum.
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Competências exclusivas dos


Estados
• Exemplos: Domínios da nacionalidade,
fiscalidade direta, organização da segurança
social e do sistema de saúde e defesa da ordem
pública e segurança nacional...

• Devem, não obstante, ser exercidas no respeito


pelo direito da União Europeia
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Competências concorrentes
• Consagração: art. 4.º/1/2 TFUE; 2.º/2TFUE

• a) Mercado interno; b) Política social, no que se refere


aos aspetos definidos no presente Tratado; c) Coesão
económica, social e territorial; d) Agricultura e pescas,
com exceção da conservação dos recursos biológicos do
mar; e) Ambiente; f) Defesa dos consumidores; g)
Transportes; h) Redes transeuropeias; i) Energia; j)
Espaço de liberdade, segurança e justiça;k) Problemas
comuns de segurança em matéria de saúde pública, no
que se refere aos aspetos definidos no presente Tratado
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Tipos particulares de competências

• Competências paralelas: art. 4.º/3/4 TFUE

• Competências de apoio, complementação ou


complemento: art. 6.º TFUE

• Método aberto de coordenação : art. 5.º TFUE


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A estrutura institucional da UE
• Representação e participação democrática

• Pluralidade de fontes de legitimidade

• Contraponto órgãos-instituições

• Separação e interdependência de poderes


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O Parlamento Europeu
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• Evolução histórica

• Designação: Assembleia-->Parlamento Europeu

• Eleição (atualmente: sufrágio universal, direto


livre e secreto, para um mandato de 5 anos):
14.º/3 TUE
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• Organização (plenário e comissões)

• Grupos políticos e partidos políticos no âmbito


europeu

• Deputados: a representação degressivamente


proporcional dos cidadãos da UE
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Composição para a legislatura


2024-2029 (705--->720)
Bélgica 22 (+1) Letónia 9 (+1)
Bulgária 17 Lituânia 11
República Checa 21 Luxemburgo 6
Dinamarca 15 (+1) Hungria 21
Malta 6
Alemanha 96
Países Baixos 31 (+2)
Estónia 7 Áustria 20 (+1)
Irlanda 14 (+1) Polónia 53 (+1)
Grécia 21 Portugal 21 (=)
Espanha 61 (+2) Roménia 33
França 81 (+2) Eslovénia 9 (+1)
Croácia 12 Eslováquia 15 (+1)
Finlândia 15 (+1)
Itália 76
Suécia 21
Chipre 6
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Presidente do Parlamento Europeu


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Funções do Parlamento Europeu


• Poder legislativo (não exclusivo)

• Não tem a iniciativa legislativa na UE (exceção:


289.º/4 TFUE)

• Papel relevante nos processos legislativos


(ordinário e especial)

• Poder consultivo
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• Regra de deliberação: maioria dos votos


expressos; quórum de 1/3 dos deputados ao PE

• Regras especiais para matérias de grande


sensibilidade - ex.: 2/3 dos votos expressos e
maioria dos deputados eleitos para a aprovação
de moção de censura à Comissão (234.º/ TFUE)
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• Poderes orçamentais

• Poderes de controlo político (tripla dependência


da Comissão ante o PE – genética, funcional e
extintiva); de designação e destituição do
Provedor de Justiça; de interpelação, audição e
inquérito; e de intentar ações ante o TJ, como
recorrente privilegiado, e de solicitar-lhe a
emissão de pareceres
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O Conselho da União Europeia


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• Composição (representantes dos EMS a nível


ministerial)

• Formações: Assuntos Gerais (236.º TFUE),


Conselho dos Negócios Estrangeiros...

• Presidência: julho de 2023 a dezembro de 2023:


Suécia – Espanha - Bélgica
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• Poderes de coordenação (121.º TFUE)


(4.º/3/5/6 TUE) (16.º/1 TUE)

• Poder de controlo (requerente privilegiado


perante o TJUE)

• Poder de gestão de recursos humanos (243.º,


336.º TFUE)
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• Poder legislativo

• Poderes de execução (limitados)

• Poder orçamental

• Poder de vinculação internacional da UE


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• A) Fase de negociação: Autoriza a abertura das


negociações, controla o seu desenrolar mediante
diretrizes para o negociador (218.º-2-3-4 TFUE)

• B) Fase da assinatura: Decisão que autoriza a


assinatura do acordo (218.º-5 TFUE)

• C) Fase da conclusão: Decisão de celebração


(eventualmente, após aprovação do PE) (218.º-6
TFUE)
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• Nos casos previstos: Um Estado, um voto


(maioria simples) – 238.º/1 TFUE
• Perda da relevância da regra de unanimidade
(vide 238.º/4 TFUE)
• A regra: Maioria qualificada – 238.º/2 TFUE –
pelo menos 55% dos membros do Conselho,
num mínimo de 15, e 65% da população da
União [Minoria de bloqueio – ao menos 4
membros, representativos de mais de 35% da
população]
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Caso 1
Suponha que, numa reunião do Conselho, os representantes de 21
EMs votaram a favor de uma proposta de Regulamento, embasada no
art. 215.º TFUE, para a proibição de difusão na União de quaisquer
conteúdos da “RT-Balkan”, “nomeadamente através da sua
transmissão ou distribuição por fornecedores de serviços Internet,
plataformas ou aplicações de partilha de vídeos na Internet, quer
novos, quer pré-instalados.”
Suponha ainda que a Alemanha (representado 19% da população da
UE), a Itália (com 13% da população) e todos os 4 Estados do “Grupo
de Visigrado” (com 14% da população) hajam votado contra a
proposta.
A deliberação foi adotada?
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O Conselho Europeu
• Evolução histórica

• Composição

• Deliberações: em regra mediante consenso


(15.º/4 TUE), mas situações em que delibera por
maioria qualificada (aplicam-se as regras
previstas para o Conselho) ou simples, ou em
que o que se exige é a unanimidade
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• Não exerce função legislativa (15.º/1/último


período TUE)

• Poderes de direção política

• Poderes decisórios e de alteração dos Tratados

• Poderes de nomeação (Presidente do BCE,


ARUNEPS)
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Presidente do Conselho Europeu


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Alto Representante da União para


os negócios estrangeiros e a
política de segurança
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A Comissão Europeia

• Composição: 27 membros, incluindo o


Presidente e o Alto Representante da União para
os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança (17.º-4 TUE)

• Deliberações tomadas por maioria dos membros


(250.º TFUE)
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• Poder de iniciativa legislativa

• Poderes normativos

• Poderes de execução (limitados)

• Poder orçamental
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• Poder de vinculação internacional da UE

• Função de representação da UE nas ordens


jurídicas dos EMS (335.º TFUE) e no plano
externo (17.º/1 TUE)

• Poderes de controlo (Comissão como “guardiã


dos Tratados”)
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Presidente da Comissão Europeia


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• Nome proposto pelo Conselho Europeu, após as eleições para o PE e


tendo em conta os seus resultados, deliberando por maioria
qualificada.

• Eleição pelo PE, por maioria de votos

• Restantes membros da Comissão: escolhidos, de comum acordo


com o Presidente eleito, pelo Conselho a partir de uma lista de
indivíduos propostos pelos EMs

• Voto de aprovação do PE sobre o colégio formado pelo Presidente,


ARUNEPS e Comissários

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