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Direito da União Europeia

História da UE
A Europa apresentava traços identitários comuns a vários níveis: religião (cristã), cultural (filosofia grega,
humanismo, iluminismo…), língua (latim) e jurídico (direito romano). Durante anos foi alvo de guerras
sangrentas: Guerra dos Trinta Anos, invasões napoleónicas, I guerra Mundial e II Guerra Mundial. Nasce
assim o projeto europeu, com o objetivo de alcançar a paz no solo europeu.
Alguns homens visionários que apoiaram o projeto europeu foram: Winston Churchill, defendeu a criação
dos Estados Unidos da Europa (1949); Robert Schumann, esteve na origem da criação das comunidades
europeias.

Os principais objetivos desta nova entidade:


• Pacificar as relações França-Alemanha, cuja rivalidade estava há 300 anos na origem das
guerras europeias, tendo drasticamente aumentado depois da unificação alemã em 1871.
• Reconstruir economicamente a Europa
• Consolidar a democracia e o Estado de Direito
• Reforçar o poder político face às potências emergentes (USA, URSS, China)

Foi em 1950, na declaração de Schumann que se avançou com a ideia de criação de uma alta autoridade
que colocasse em comum apenas a produção franco-alemã de carvão e aço, ou seja, colocar o carvão e o
aço sobre uma autoridade independente. Assim, a guerra entre estes dois países seria não só
impensável, mas materialmente impossível, porque se tratava de dois importantes recursos
económicos e dada a centralidade destes na esfera militar os EM já não podiam mobilizar os exércitos
sem que os outros soubessem, eliminava-se assim a desconfiança recíproca.

1951 – Tratado de Paris, que institui a comunidade europeia de carvão e aço (CECA)
Os primeiros seis contratantes: RFA, França, Bélgica, Luxemburgo, Itália, Holanda.

Integração funcional: colaboração dos Estados-Membros em matérias concretas (em vez de apostar
numa união política, Estado federal), de tipo económico, criando assim uma solidariedade de factos entre
eles.

Concluindo: A integração funcional permitiu a colaboração entre os Estados vantajosa economicamente,


de maneira a tornar a guerra altamente desvantajosa.

1957 – Tratado de Roma, que instituíram a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade
Europeia da Energia Atómica (CEEA ou Euratom)

CEE – Apesar de perseguir um objetivo político a longo prazo, esta inovadora organização internacional
focava-se essencialmente na esfera económica, dando particular destaque à criação de um mercado
comum.

CEEA ou Euratom – Esta organização era responsável pela coordenação das políticas nacionais em
matéria nuclear. Fora criada com o pressuposto errado de que a energia nuclear se tornaria a base do
desenvolvimento económico.

As reformas posteriores
Os tratados sucessivos invadiram sobretudo em duas áreas: alargamento e aperfeiçoamento e
mudança institucional.

Alargamento (de 6 a 28):


1957 – RFA, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Itália, França.
1973 – Dinamarca, Reino Unido, Irlanda.
1981 – Grécia.
1986 – Portugal e Espanha.
1995 – Áustria, Finlândia, Suécia.
2004 – República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia, Eslováquia, Eslovénia, Malta, Polónia, Chipre, Hungria
2007 – Bulgária e Roménia
2013 - Croácia

Futuras adesões possíveis: Sérvia, Turquia, Monte Negro, Albânia…

Aperfeiçoamento institucional
Vários tratados alteraram o quadro institucional das comunidades europeias e da UE, nomeadamente para
responder aos desafios decorrentes dos alargamentos e das novas funções assumidas.

1986 – Ato Único Europeu


Preparou a implantação do mercado interno. Era necessário eliminar todos os obstáculos tarifários e
burocráticos para a circulação de bens, serviços, capitais e pessoas entre os Estados-Membros.
Adequou o sistema institucional aos novos membros.

1992 – Tratado de Maastricht (Tratado da União Europeia)


Trata-se de uma viragem decisiva na construção europeia, pois criou a União Europeia, assente em três
pilares: - o pilar comunitário (CE, Euratom e CECA); - Cooperação de tipo intergovernamental em matéria
de política externa e segurança comum (PESC); - Cooperação de tipo intergovernamental em matéria
penal (CPJP)

Concluindo: Comunidades europeias, Polícia Externa e de Segurança Comum (PESC), Cooperação


Política em Matéria Judicial e Penal (CPJP)

Outras mudanças importantes:


→ Prepara a União Económica e Monetária;
→ Alarga as atribuições a domínios não económicos;
→ Cria o processo de codecisão, que reforçou o poder de decisão do Parlamento Europeu;

1997 – Tratado de Amsterdão


2001 – Tratado de Nice
(Os dois tinham várias reformas institucionais para novos alargamentos)

2004 – Tratado Constitucional Europeu (TCE)


Este tratado apresentava ambições constitucionais no plano formal e material.
Exemplos:
➢ Adotava-se a bandeira e o hino da UE.
➢ A Carta Europeia dos Direitos Fundamentais da UE tornava-se vinculante para todos os
Estados-Membros.
➢ Diretivas e Regulamentos iam passar a chamar-se leis e leis-quadro.

2007 – Tratado de Lisboa (Tratado reformador)


Para não se perder o trabalho feito pelo TCE, adotou-se um tratado que recuperava algumas das
novidades daquele, rejeitando apenas as mais ousadas e simbólicas.
Mantém em vigor os tratados anteriores alterando-os:
• O Tratado de Roma (ou Tratado da Comunidade Europeia) passou a chamar-se Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia (TFUE);
• A Carta dos Direitos Fundamentais passou a ter a mesma força normativa dos Tratados;
• Os três pilares são eliminados;
• A PESC continua a existir como uma realidade à parte, de tipo intergovernamental. Foi integrada
numa nova realidade chamada Ação Externa da União (Art. 21.º a 46.º, TUE)
A União Europeia é fundada sobre dois tratados (com o mesmo valor, Art. 1º e art. 3º, TUE), mais o tratado
Euratom e a Carta dos Direitos Fundamentais:

o TUE – Princípios gerais;


o TFUE – Aspetos técnicos, mercado comum e várias políticas europeias;
o Tratado que institui a comunidade europeia da energia atómica;
o Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (Art. 6º/1 – tem o mesmo valor dos tratados)

A UE nasce com um fim político: garantir a paz mediante uma federação europeia.

A UE no contexto das organizações internacionais


As comunidades europeias não foram as únicas organizações internacionais criadas a seguir à II Guerra
Mundial. Pensemos por exemplo na NATO, no Conselho da Europa, na ONU, etc…

As organizações internacionais podem ser classificadas de várias formas:


Com base na geografia:
o Universais (Ex: ONU)
o Regionais

Com base nos objetivos:


o Políticos (Ex: Conselho da Europa)
o Económicos (Ex: FMI)
o Militares (Ex: NATO)
o Sociais ou humanísticos (Ex: FAO, OMS)

Com base na estrutura:

o Organizações de cooperação (ou intergovernamentais)


Criam relações horizontais entre entidades soberanas; em consequência disso costumam votar por
unanimidade e as suas decisões dirigem-se apenas aos Estados Partes, não aos cidadãos.
o Organizações internacionais de integração (ou supranacionais)
Exercem parcelas de soberania delegadas pelos Estados; têm vontades próprias, independentes
das dos Estados-Membros. As suas decisões geram direitos e obrigações que valem não somente
para os Estados, como também para os cidadãos.

A UE é uma organização regional, de tipo supranacional, com finalidades variadas. Contudo algumas
áreas ainda funcionam segundo o método intergovernamental porque os EM não quiseram largar a sua
soberania nessas áreas sensíveis, exemplo: relações externas.

Direito Institucional da UE
O estudo das instituições da UE ajuda-nos a compreender a natureza da UE, os seus princípios e o seu
funcionamento. O quadro institucional é bastante complexo, consultar Art. 12.º.

As instituições da UE (Art. 13.º, TUE):


• Instituições político-financeiras
o Parlamento Europeu (PE);
o Conselho Europeu (CE);
o Conselho;
o Comissão Europeia (Comissão);
o Banco Central Europeu (BCE).
• Instituições jurisdicionais
o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE);
o Tribunal de Contas.
O que são as instituições?
As instituições são uma espécie de “órgãos de soberania” de UE. Diferem dos restantes órgãos e agências
da UE, por exemplo: Comité e Economico e Social Europeu, o Banco Europeu de Investimento ou o
Provedor de Justiça Europeu.
Atribuições: Definidas pelos tratados (Art. 13.º/2)

Parlamento Europeu
A UE e o princípio democrático
O TUE eleva a democracia representativa a um dos alicerces da UE (Art. 10.º/1, TUE)
Daí a importância do PE referido em 1ºlugar no elenco do art. 13.º, TUE

Disposições relevantes
• Art. 14.º, TUE;
• Art. 223.º a 234.º, TFUE;
• Regimento PE;

Legitimidade
Único órgão europeu eleito por sufrágio universal e direto (desde 1979)
Representa os cidadãos da UE (Art. 14.º/2, TUE)

Sistema eleitoral
O TFUE prevê a criação de um sistema eleitoral uniforme (Art. 223.º/1, TFUE). No entanto não chegou a
ser criado, todos os EM adotam variantes do sistema proporcional (com exceção dos EM).
A representação dos cidadãos é degressivamente proporcional, significa que quanto maior for a
população de um Estado-Membro, mais cidadãos um deputado deverá representar.
Foi adotado este sistema para que também os Estados-Membros mais pequenos estejam excessivamente
representados.
Quando se realizam as eleições? As eleições realizam-se em todos os Estados-Membros num período
entre quinta-feira e o domingo seguinte.

Composição (Art. 14.º/2, TUE)


Número total de deputados não pode exceder 750 + o presidente.
Limite mínimo por EM: 6
Limite máximo por EM: 96

Capacidade eleitoral ativa e passiva: Em virtude da cidadania europeia, podem eleger e ser eleitos para o
PE tanto os cidadãos do EM onde decorre a eleição, quanto os cidadãos de outros EM que sejam aí
residentes. (Art. 20.º/2/b), TFUE) e Art. 39.º CDFUE)

Mandato dos deputados:


5 anos (Art. 14.º/3, TUE)
Incompatível com o mandato de deputado num parlamento nacional.

Grupos políticos:
Os deputados não estão agrupados por nacionalidade, mas sim por afinidade e ideologia política, mais
precisamente por grupos políticos multinacionais. Estes podem organizar-se em verdadeiros partidos
políticos europeus (Art. 10.º/4, TUE)

Deliberações do PE
O TFUE (Art. 261.º, TFUE) diz-nos que, salvo disposições em contrário, o PE delibera por maioria dos
votos expressos (não dos deputados eleitos). Quer dizer que deve ser a maioria simples ou relativa
(mais votos a favor do que contra, sem contar as abstenções). O quórum ao invés, é fixado pelo regimento
do PE (1/3 dos deputados).
As competências podem ser tripartidas:
Competência legislativa
Manifesta-se de uma forma bastante diferente do que acontece a nível nacional, pois o PE não dispõe de
poder de iniciativa legislativa e somente excecionalmente legisla sozinho.
As suas atribuições dividem-se em:

❖ Poder de iniciativa legislativa indireta


Em regra, o processo legislativo indireto cabe à Comissão (Art. 17.º/2, TUE).
Todavia, o PE pode solicitar à Comissão a apresentação de uma proposta legislativa (Art.225.º,
TFUE), chama-se a isto poder de iniciativa legislativa direta. Contudo, o art. 225.º, TFUE deixa
claro que a Comissão apesar de ser obrigada a explicar ao PE por que razão não quer exercer a
iniciativa legislativa não é obrigada a aceitá-la, ou aceita ou recusa desde que justifique.
❖ Processo legislativo ordinário
Até ao AUE, o PE tinha uma função meramente consultiva em matéria legislativa. O AUE criou o
processo de cooperação entre PE, Conselho e Comissão: A Comissão apresentava as propostas;
O PE podia propor alterações; Quem decidia em última instância era o Conselho.
Maastricht cria o processo de codecisão: O PE e o Conselho passam a decidir conjuntamente;
O Conselho deixa de ter a última palavra, embora tenha mais poder decisório.
Com Lisboa, passa a chamar-se Processo Legislativo Ordinário, torna-se o procedimento normal,
passa a abarcar numerosas matérias, o PE e o Conselho estão quase sempre em pé de igualdade.
Consiste na adoção de um ato jurídico conjuntamente pelo PE e pelo Conselho, sob proposta da
Comissão (Art. 289.º/1, TFUE)
Os detalhes do processo encontram-se no Art. 294.º, TFUE.
❖ Processo legislativo especial
Nalguns casos específicos, o equilíbrio entre o PE e o Conselho é alterado (Art. 289.º/2, TFUE).
Exemplo: O Conselho legisla sozinho precisando somente da aprovação do PE ou de o consultar.
Quase sempre o equilíbrio é alterado a favor do Conselho.

Ideias a reter:
- O PE nunca legisla sozinho;
- O PE participa quase sempre no procedimento legislativo, por vezes por simples parecer, outras vezes
de forma indireta

Competências políticas e de fiscalização

→ Competências políticas
O PE dispõe de importantes atribuições políticas, resultantes do facto de ser o único órgão eleito.
As competências políticas do PE manifestam-se ao nível das designações e do controlo de outros
órgãos. Estes poderes atingem sobretudo a Comissão, com aspetos que relembram a relação de
confiança entre o PE e o Governo (Art. 17.º/8, TUE – afirma que a Comissão é responsável perante
o PE)
o Eleição do presidente da Comissão: Eleição por maioria absoluta (Art. 17.º/7, par.1, TUE)
o Investidura da Comissão: A Comissão enquanto órgão colegial, é sujeita colegialmente a
um voto de aprovação do PE (Art. 17.º/7, par.3, TUE), só a seguir podendo ser nomeada
pelo Conselho Europeu.
o Demissão da Comissão: O PE pode aprovar uma moção de censura contra a Comissão
(Artº17º, nº8, TUE que remete para o Art. 234.º, TFUE). Deve ser favoravelmente votada
por 2/3 dos votos expressos, desde que superiores à maioria absoluta dos membros. Este
instrumento nunca chegou a ser utilizado, embora a sua utilização já foi discutida várias
vezes pelo PE.
o Poder de nomear Comissões temporárias de inquérito: Para analisar alegações de
infração ou má administração na aplicação do Direito da EU (Art. 226.º, TFUE)
o Poder de eleger o Provedor de Justiça Europeu (o chamado Ombudsman): Art. 288.º,
TFUE
Competências orçamentais (Art. 314º, TFUE)

O Conselho Europeu
Disposições mais relevantes: Art. 15.º, TUE; Art. 235.º, TFUE; Art. 236.º, TFUE
Origem
Os tratados fundadores não previam esta instituição. Em 1974, foi decidido informalmente que os Chefes
de Estado e de Governo dos Estados membros se reunissem em cimeiras periódicas para debater
assuntos particularmente importantes para as comunidades europeias. Em 1992, o Tratado de Maastricht
transformou estas cimeiras num órgão então da UE, denominado Conselho Europeu. O Tratado de Lisboa
veio transformá-lo numa instituição da atual UE, dando-lhe um papel relevante.
Natureza
É o órgão da cúpula da UE, com uma natureza essencialmente política e intergovernamental. Na prática
assume a forma de cimeiras, em que os líderes europeus discutem os assuntos mais importantes relativos
ao futuro da UE.
Funções principais (Art. 15.º/1, TUE)
Impulsionar o desenvolvimento da UE; Definir as suas prioridades e orientações políticas.
Nunca participa no procedimento legislativo, (Artº 15º/1, in fine).

Será o Conselho Europeu que promove e debate, inter alia:


→ A alteração dos tratados ou mudanças de instituições;
→ A entrada de novos membros;
→ O lançamento de novas políticas;
→ A resolução de conflitos entre EM.

Composição (Art. 15.º/2, TUE)


Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-Membros. Devem ser os órgãos que, segundo as
respetivas ordens jurídicas, dirigem a política externa, normalmente, é o Primeiro-Ministro. No entanto, em
alguns países é o Presidente da república (Ex: França).
Outros membros:
o O seu Presidente (mandato incompatível com qualquer mandato nacional – Art. 15.º/6, último
paragrafo);
o Presidente da Comissão;
o Alto Representante da União dos Negócios Estrangeiros e Política de Segurança (ARUNEPS)

Importante: Este órgão limita-se a participar nos trabalhos, sem poder de voto (Art. 15.º/2, par.1, TUE)

Corolários desta composição: O Conselho Europeu não é um órgão imparcial, representa os interesses
dos EM. A sua natureza é quase intergovernamental, reflexos disso no facto de votar por consenso, sob a
forma de unanimidade tácita (Art. 15.º/4, TUE + Art. 235.º/1, par.3), embora haja casos em que se vota por
maioria qualificada ou até maioria simples (Art. 235.º/1, par.2, e 3, TUE)

Reunião
Reúne pelo menos 4 vezes por anos (2 vezes por semestre), Art. 15.º/3

O Conselho
Disposições relevantes: Art. 16.º, TUE; Art. 237.º a 243.º TFUE e Regimento interno.
Natureza:
Instituição composta pelos representantes dos Governos dos Estados-Membros. Representa, portanto,
interesses nacionais (Art. 10.º/2, par.2, TUE). É uma espécie de segunda câmara legislativa embora as
suas funções não se circunscrevam à área legislativa.
Composição (Art. 16.º/2, TUE):
Um representante de cada Estado-Membro ao nível ministerial, com poderes para vincular o Governo do
respetivo Estado-Membro e exercer o direito de voto”
Interpretação desta disposição: “a nível ministerial” entende-se que possa ser qualquer membro do
Governo (isto é, não apenas o Ministro, como também o secretário de estado)
Particularidade desta composição: Em vez de ser fixa, muda conforme a matéria agendada (Art. 16º/6,
TUE). Atualmente existem 10 formações, por exemplo: - Quando se devem debater assuntos económico-
financeiros, estão presentes os Ministros das Finanças dos Estados-Membros (é o chamado Conselho
Ecofin).
Apenas duas composições são referidas expressamente no TUE (Art. 16.º/6, par.2 e 3):

▪ Conselho dos Assuntos gerais: Composição variada no respeito do art. 16.º/2


▪ Conselho dos negócios estrangeiros: Composto pelo Alto Representante e pelos representantes
dos ministérios dos negócios estrangeiros nacionais.

Presidência do Conselho (Art. 16.º/9)


Assegurada pelos representantes dos EM.
Sistema rotativo definido pelo Conselho Europeu (cada presidência dura 6 meses):

➢ Contras: a rotação mínima diminui a eficácia


➢ Prós: os Estados pequenos não ficam excluídos da presidência desta importantíssima instituição

Exceção: O Conselho dos negócios estrangeiros tem uma presidência fixa (Art. 16.º/6, TUE)
Trata-se do Alto representante da União para os Negócios estrangeiros e Política de segurança (Art. 16.º,
TUE)

O Comité dos Representantes Permanentes dos Governos ou COREPER (Art. 16.º/7, TUE)
Este Comité é composto por representantes que cada EM mantém em Bruxelas.
A sua principal função é a de preparar os trabalhos do Conselho. Na realidade, acabam por fazer um
trabalho técnico extremamente importante, chegando mesmo a dividir as propostas legislativas nas que
precisam ser discutidas e nas que podem ser aprovadas sem discussão.
Funções:
O Conselho é a instituição com mais poder na UE.
As suas funções são enunciadas resumidamente no Art. 16.º/1, TUE:
Funções legislativas:
o Indireta (Art. 241.º, TFUE)
o No processo ordinário juntamente com o PE (Art. 289.º/1, TFUE)
o No processo especial, normalmente com mera aprovação ou consulta do PE (Art. 289.º/2, TFUE)

Funções Orçamentais
o Outras funções importantes na definição das políticas da UE, nas relações externas, etc.

Funcionamento: Normalmente as deliberações são por maioria qualificada (Art. 16.º/3). Contudo, há
várias exceções, com base nas quais pode ser exigida por unanimidade (Art. 19.º, TFUE) ou apenas
maioria simples.

A maioria qualificada pode ser adotada pelo Conselho, é muito complexa (Art. 16.º/4, TUE).
Não é aplicada a regra básica “um Estado-Membro, um voto”, dado que os EM passam a ter um peso
diferenciado baseado na população. Ou seja, é uma maioria com ponderação do voto, que confere mais
peso aos EM mais populosos.

Conselho da Europa
É uma organização internacional do tipo intergovernamental, criada em 1949, sediada em Estrasburgo,
com 47 membros.
Objetivos:
Promoção no espaço Europeu dos direitos humanos, da democracia, do Estado de Direito.
O Conselho da Europa é conhecido por ter adotado a Convenção Europeia dos Diretos do Homem
(CEDH), cuja implementação é assegurada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH)

Comissão Europeia
Disposições relevantes: Art. 17.º, TUE; Art. 244.º a 250.º, TUE; Regimento próprio
Visão geral
É a instituição que persegue o interesse geral (ou o bem comum) da UE (Art. 17.º/1, TUE). É independente
dos EM ou de interesses privados.
É um órgão de natureza essencialmente executiva. Zela pela aplicação dos tratados e dos demais atos
normativos da UE (Art. 17.º/1, TUE) (é chamada guardiã dos tratados).
Daí que se justifique alguma semelhança comum Governo Estadual.
Composição
A regra tradicional seguia o critério “tantos comissários quantos EM (Art. 17.º/4, TUE). Contudo, estava
previsto que, a partir de 2014, se adotasse uma versão mais reduzida da Comissão (Art. 17.º/5, TUE),
baseada no pressuposto de que os comissários não representam os interesses dos EM. Contudo, diante
da insistência de alguns EM o Conselho Europeu, utilizando o poder que lhe é concedido no art. 17.º/5, in
fine, decidiu manter a composição tradicional.
Eleição do presidente da Comissão
Trata-se de uma questão importante uma vez que os poderes do Presidente têm aumentado nas últimas
reformas. Atualmente, são elencados no Art. 17.º/6.
Nos termos do Art. 17.º/7, par.1, TUE, o presidente é proposto pelo Conselho Europeu por maioria
qualificada, tendo em conta os resultados eleitorais para o PE. A seguir, preciso de ser eleito pelo PE por
maioria dos seus membros (isto é, por maioria absoluta)
❖ Observação nº1: O tratado de Lisboa introduziu a cláusula “tendo em conta os resultados
eleitorais”. Trata-se de um reforço do princípio democrático. Ao votarmos para o PE, estamos
indiretamente a escolher o Presidente da Comissão, que será da mesma cor política da maioria do
PE.
❖ Observação nº2: À margem dos tratados, o PE tem tentado reforçar a eleição indireta do
Presidente da Comissão através do processo dos spitzenkandidaten (“cabeças de lista” em
alemão), ou seja, antes das eleições europeias o PE informa o Conselho Europeu que só irá
aceitar que lhe seja proposto como presidente da comissão um dos cabeças de lista às eleições
europeias.

Em 2019, o processo do spitzenkandidatem foi descartado quando se tornou claro que nenhum dos
cabeças de lista reunia consenso suficiente no Conselho Europeu e no Parlamento Europeu.

E quanto aos outros comissários? (Art. 17.º/7, par.2, TUE)


Lista adotada pelo Conselho, de comum acordo com o Presidente eleito. Devem ser pessoas competentes
com garantias de independência e empenhadas na construção da Europa (Art. 17.º/3, par.2, TUE).
Cada uma delas apresenta-se diante do PE para discursar e responder a perguntas (Art. 118.º/1,
Regimento PE) – “O Presidente, após consulta do Presidente eleito da Comissão, convidará os candidatos
indigitados pelo Presidente eleito pela Comissão e pelo Conselho para vários cargos de comissários a
comparecerem perante as diferentes comissões parlamentares, consoante os seus prováveis domínios de
atividade. Estas audições serão públicas.”
Finalmente a Comissão é colegialmente sujeita a um voto de aprovação do PE (Art. 17.º/7, par.3, TUE). Se
aprovada pelo PE, ainda deve ser nomeada pelo Conselho Europeu que deliberará por maioria qualificada.
Contudo, parece que a nomeação pelo CE não passa de uma ratificação da decisão do PE.

Apreciação geral
É um procedimento complexo partilhado, que envolve todas as instituições europeias do tipo político. O
protagonismo do PE neste processo tenciona aumentar a legitimidade democrática indireta da Comissão.
A natureza da Comissão revela-se no estatuto dos Comissários (Art. 245.º, TFUE)
• Dever de independência e isenção
• Exclusividade (quase total) de funções
• Inamovibilidade (dos EM não os poderem remover)

Funções: Como poderemos ver no Art. 17.º, nº1 e noutros artigos são numerosos por isso veremos as
principais.
→ Funções de iniciativa legislativa (Art. 17.º/2, TUE)
Exceto nalguns casos, é a entidade que apresenta propostas legislativas, para serem enviadas ao
Conselho e ao PE. Cada comissário apresenta propostas relacionadas com o seu pelouro. Para tal,
conta com o apoio de uma ou mais Direções-Gerais e demais serviços administrativos.
→ Várias competências executivas e administrativas (Art. 17.º/1, TUE)
Adota atos normativos não legislativos (os atos delegados (Art. 290.º, TFUE) e os atos de
execução (Art. 291.º, TFUE), que estudaremos mais à frente);
Executa o orçamento (Art. 317.º, TFUE);
Gere os programas da UE e o Fundo Social Europeu.
→ Função de fiscalização do cumprimento do Direito da UE
A CE é comumente apelidada de guardiã dos tratados ou até, nas palavras do professor X “cão de
guarda dos tratados” como veremos, esta função é visível sobretudo no contencioso da UE e em
matéria de concorrência e auxílios de Estado.
Síntese do Quando-Institucional:

Banco Central Europeu


É uma instituição que atua no âmbito da política económica e monetária da União Europeia.
Principais funções:
▪ Estabilidade dos preços (manter a inflação nos 2%)
▪ Gerir a política monetária da Eurozona e supervisionar o sistema financeiro

Disposições relevantes: Art. 127º a 133º, TUE; Art. 282º a 284º, TFUE

O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias


Premissa terminológica
O Art. 13.º/1, TUE fala em Tribunal de Justiça da União Europeia. Na realidade não existe um tribunal
chamado TJUE. Pelo contrário, há vários tribunais desdobrados em três níveis separados e autónomos:
▪ Tribunal de Justiça (TJ)
▪ Tribunal Geral (TG)
▪ Tribunal Especial (TE)

Em suma, como afirma Fausto de Quadros, TJUE é apenas o rótulo que abarca estes três níveis
judiciários.
Na realidade, quando nos referimos ao sistema judicial da UE não nos podemos esquecer dos tribunais
nacionais dos Estados-Membros. Estes também devem aplicar o Direito da UE (Art. 19.º/1, par.2, TUE).
São frequentemente chamados pela doutrina de tribunais comuns do Direito da UE.
Em síntese:
• Sistema judicial da UE em sentido estrito: TJUE = TJ + TG + TE
• Sistema judicial da UE em sentido amplo: TJUE = TJ + TG + TE + Tribunais Nacionais

Importância do TJUE: Como salienta Fausto de Quadros os tratados da União Europeia são tratados-
quadro, ou seja, deixam margem de manobra interpretativa ao juiz, de modo a permitir a adaptação das
decisões tendo em conta a teleologia (finalidade) dos Tratados (isto é, a progressiva integração europeia).
Vários princípios fundamentais do DUE devem-se ao TJUE, exemplos:

➢ Princípio do Primados;
➢ Princípio do Efeito Direto

Disposições mais relevantes: Art. 19.º, TUE; Art. 251.ª e ss., TFUE; Estatuto do TJUE

Natureza
Trata-se de um verdadeiro poder judicial. Sem um sistema judicial, a UE não poderia ser uma verdadeira
comunidade de Direito a atuar mediante instrumentos jurídicos.

Composição (Art. 19.º/2):


Juízes (um por cada EM) decidem e administram a justiça em nome do TJ; Advogados-Gerais, a sua
função é descrita no Art. 252.º/2, TFUE.
CUIDADO: Não são advogados no sentido português do termo, nem procuradores. Devem apresentar
conclusões fundamentadas sobre as causas submetidas ao TJ, não representando os interesses de
ninguém (nem os da UE). Devem agir com total imparcialidade.

Função do Tribunal de Justiça (TJ):


De um ponto de vista geral, garantir o respeito do Direito na interpretação e aplicação dos Tratados (Art.
19.º/1,TUE).Na realidade a suas competências são muito vastas e variadas.

Função do Tribunal Geral (TG):


Foi criado em 1988 com o AUE e inicialmente chamava-se tribunal de primeira instância;
Na realidade, a sua relação com o TJ é mais complexo do que um tribunal de primeira instância.
Assim, por vezes atua como um tribunal de primeira instância (Art. 256.º/1, TFUE). Outras vezes, é uma
instância de recurso, por exemplo:
o Das decisões dos tribunais especializados;
o Das decisões de outros órgãos (por exemplo: Decisões do Instituto da Propriedade Intelectual da
União Europeia)

Função do Tribunal Especializado (TE):


Podem ser criados pelo PE e pelo Conselho para matérias específicas (Art. 257º/1, TFUE). Só houve um,
o Tribunal da Função Pública, que, porém, foi extinto em 2016.

Tribunal de contas
Função principal: Fiscalização das contas da UE.

Disposições relevantes: Art. 285º a 287º, TFUE

Adoção dos atos normativos na EU


A adoção de atos jurídicos por parte de qualquer entidade é feita mediante procedimentos decisórios
específicos. Vejamos quais são os procedimentos normativos na UE.

1- Procedimento legislativo (Ordinário ou Especial), para adoção de atos legislativos.


2- Procedimentos não legislativo, para a adoção de atos não legislativos (atos delegados ou atos de
execução).
No entanto, há algumas considerações válidas para ambos os procedimentos, que elencaremos de
seguida.

Art. 296.º/2 – Os atos jurídicos da EU


→ Carecem sempre de fundamentação;
→ Devem referir atos preparatórios referidos no artigo acima referido.
→ Devem ser publicados no Jornal Oficial da União Europeia: - Os atos legislativos da UE (Art.297º,
nº1, par.3);
→ Os atos legislativos indicados (Art. 297º/2, par.2)
→ Entrarão em vigor na data fixada ou, na ausência desta, observando um vacatio legis de 20 dias
(Art. 297º/1, par.3)

1 – Procedimento legislativo
Neste âmbito, a grande dicotomia é entre o procedimento ordinário e o procedimento especial.

Procedimento legislativo ordinário (Art. 289.º/1): A Comissão faz a proposta. O PE e o Conselho


adotam conjuntamente a decisão.
Atos que podem ser adotados mediante este procedimento (Art. 294.º):
▪ Regulamento (legislativo)
▪ Diretiva (legislativa)
▪ Decisão (legislativa)

Procedimento legislativo especial (Art. 289.º/2)


Apelidado de procedimento legislativo especial os casos em que um Regulamento, uma Diretiva, uma
Decisão são adotados por apenas uma instituição (PE ou Conselho) com mera participação (aprovação ou
consulta) do outro (Conselho ou PE).

A proposta deste ato legislativo vem sempre da Comissão?


Há casos específicos em que o poder de iniciativa é atribuído a entidades diferentes da Comissão. Ver Art.
289.º/4 que concretiza a disposição geral do Art. 17.º/2, TUE.
Exemplo: As medidas em matéria penal e de cooperação policial podem ser adotadas por iniciativa de ¼
dos EM como referente o Art. 76.º, TFUE.

NÃO CONFUNDIR: Uma coisa é o poder de iniciativa legislativa indireta que, não obriga a Comissão a
apresentar uma proposta e diz respeito a qualquer assunto; Outra é a atribuição de um poder de iniciativa
legislativa a sujeitos diferentes da Comissão , que existe apenas em casos excecionais previstos pelos
Tratados.

A ordem jurídica da UE
Depois de analisada a dimensão institucional da UE (as instituições e os procedimentos decisórios),
vamos agora analisar a sua ordem jurídica, destacando: as suas fontes e os seus princípios.

As fontes do Direito da UE
O que são as fontes do Direito da UE?
Os modos de criação e revelação das normas que compõem este ramo de Direito.

O DUE tem 5 tipos de fontes:


• Direito Originário (Tratados);
• Princípios Gerais do Direito;
• Direito Derivados (Regulamentos, diretivas…);
• Acordos Internacionais;
• Outras fontes, algumas delas soft law (jurisprudência, doutrina, atos atípicos, etc.).
Direito Originário [Grab your reader’s attention with a great O Direto Originário é “o
Direito criado pelos Ema quote from the document or use this space través dos tratados
internacionais, constituído pelas normas que criaram a
to emphasize a key point. To place this text
União Europeia, conferindo- lhe as suas atribuições e
box anywhere on the page, just drag it.]
regulando a sua organização…” – M.G-H. É
costume falar de Tratados como a Constituição da UE,
uma vez que desempenham funções parecidas.
Os Tratados englobam:
1. Tratados Fundadores (Tratado de Paris + Tratado de Roma)
2. Tratados Modificadores (AUE, Maastricht, Amsterdão, Nice, Lisboa)
3. Tratados de Adesão (celebrados entre os EM e os Estados candidatos)
4. Demais atos modificativos (Ex: Protocolos e Anexos, ex. VI do Art. 51.º, TUE)
5. Carta dos Direitos Fundamentais da UE (ex. VI do Art. 6.º/1, TUE)

Ocupam o 1º lugar na pirâmide das Fontes:


Art. 263.º, TFUE: O TJUE tem o poder de anular os atos de Direito Derivados que violam os tratados.

Art. 218.º/11, TFUE: Não pode ser celebrado um acordo internacional que o TJ considere violar os
Tratados.

Em suma, o Direito Originário é o parâmetro de validade dos acordos internacionais e do Direito Derivado
da UE, assim como a CRP é do Direito Infraconstitucional.

Princípios Gerais do Direito (2º lugar na pirâmide)


Embora por vezes sejam reconhecidos nos Tratados, as mais das vezes estes princípios gerais foram
reconhecidos pelos tribunais da UE.
Podem ter várias origens tais como:
→ Direito Internacional Público (Ex: Princípio da Boa fé na execução dos Tratados)
→ Tradições Constitucionais Comuns em vários EM (ver por ex.: Art. 6º/3, TUE)
→ O próprio Direito da UE (Ex: Princípio da não discriminação em razão da nacionalidade)

Direito Derivado (ou secundário) da UE (3º lugar na pirâmide)


Trata-se dos atos jurídicos adotados por órgãos da UE que caracterizam, desenvolvem e aplicam os
Tratados.
Artigos relevantes: Art. 288.º e seguintes, TFUE
Art. 288.º/1, TFUE
5 tipos:

▪ Regulamentos
▪ Diretivas Atos vinculativos
▪ Decisões
▪ Recomendações Atos não vinculativos
▪ Pareceres

Os atos legislativos dividem-se em:


1. Atos legislativos;
2. Atos não legislativos, que inclui: Atos delegados e atos de execução.

Assim os Regulamentos, as Diretivas e as Decisões podem assumir três modalidades: legislativos,


delegados e de execução.
Relação hierárquica:
1º - Regulamentos/Diretivas/Decisões legislativas
2º - Regulamentos/Diretivas/Decisões delegadas
3º - Regulamentos/Diretivas/Decisões execução

1. Atos legislativos (Art. 289.º/3, TFUE)


Atos jurídicos adotados através de:
- Processo legislativo ordinário (Art. 289.º/1)
- Processo legislativo especial (Art. 289.º/2)

Os atos jurídicos adotados através deste procedimento assumem a forma de: regulamento, diretiva,
decisão.
Em suma, o que conta não é o tipo de ato ou o seu conteúdo, mas sim o facto de ter sido adotado por
procedimento legislativo.

2. Atos delegados (Art. 290.º/1, TFUE)


O artigo referido elenca uma série de requisitos cumulativos para que se possa falar de ato delegado:
→ Deve haver uma delegação por ato legislativo
→ A delegação é a favor da Comissão Europeia
→ São atos de alcance geral
→ Devem alterar ou completar elementos não essenciais do ato legislativo

A delegação de poderes deve ter certos requisitos (Art. 290.º/2 e 3)


Devem ser delimitados no ato legislativo:

❖ Os objetivos
❖ O conteúdo
❖ O âmbito de aplicação
❖ O período de vigência

3. Os atos executivos (Art. 291.º, TFUE)


A execução dos atos vinculativos da UE é confiada, à partida aos EM. No entanto, quando forem
necessárias condições uniformes de execução, os EM podem conferir competências executivas à
Comissão, que adotaria assim atos executivos.
Concluindo: Os atos delegados e os atos de execução estão sujeitos a um princípio forma de tipicidade
formal, isto é, devem conter no cabeçalho a expressão “delegado” (Art. 290.º/3, TFUE) ou de “execução”
(Art. /4, TFUE)

Os atos de Direito Derivado em especial


Atos vinculativos
Regulamentos (Art. 288º/2):

o Caráter geral: Dentro do seu âmbito de aplicação, se aplicam a sujeitos indeterminados (todos os
EM, todas as pessoas físicas, todas as empresas…)
o Caráter obrigatório: Quer dizer que deve ser atacado na sua totalidade. Não permite uma pick-
and-choose-application por parte dos EM
o Aplicabilidade Direta: Os regulamentos adquirem a eficácia nos EM sem precisarem de medidas
nacionais de receção ou de incorporação, isto é, são dotados de autossuficiência normativa (self-
excuting).
Diretivas (Art. 288º/3)

o Os destinatários diretos são apenas os EM: Todos os EM como destinatários diretos ou


imediatos, significa que não gozam de aplicabilidade direta, ou seja, para vigorarem precisam de
medidas que as incorporem nas ordens jurídicas dos EM.
o Obrigam quanto ao resultado: Significa que fixam objetivos a alcançar dentro de um prazo fixado,
deixando, porém, alguma margem de manobra aos EM em matéria de forma e método para
alcançar estes resultados.
o Carecem de transposição: Entende-se por transposição o conjunto dos atos e medidas que o EM
deve adotar para alcançar o fim estabelecido na Diretiva.

A transposição permite que os EM tenham alguma margem de liberdade, que lhe permite adaptar a
diretiva ao seu contexto social, jurídico e económico.

Transposição para o Direito Português (Art. 112.º/8, CRP)


A transposição das Diretivas Comunitárias para a Ordem Jurídica Interna deve assumir a forma de Lei ou
Decreto-Lei.

E se o Estado não traspuser a Diretiva no prazo previsto ou transpuser de modo errado ou insuficiente?

o Várias consequências:
o Possível abertura contra o Estado faltoso de um processo de incumprimento junto do TJUE
(Art. 258º a 260º, TFUE)
o Devido à sua escassa eficácia, o TJ criou outra “sanção” para o Estado faltoso.
É possível propor uma ação de responsabilidade civil extracontratual com o Estado em falta
nos seus próprios tribunais nacionais (Caso Francovich v.Italy, 1991)

Caso Francovich v.Italy, 1991


A Itália não tinha transposto uma diretiva relativa aos direitos dos trabalhadores assalariados em caso de
insolvência do empregador (atual Direitiva 2008/94/CE).
O Senhor Francovich e outros trabalhadores italianos que não tinham recebido nada quando as empresas
em que trabalhavam tinham sido liquidadas, decidem recorrer ao TJUE alegando que o Estado Italiano
devia responsabilizar-se pelos danos que eles tinham sofrido devido à falta de transposição da Diretiva.

O TJ decidiu que o Estado italiano se deveria responsabilizar pelos danos causados aos particulares por
não ter transposto a Diretiva em tempo útil.
O TJ exigiu 3 condições:

o O resultado prescrito pela Diretiva deve implicar a atribuição de direitos a favor dos particulares.
o O conteúdo desses direitos deve poder ser identificado com base nas disposições da Diretiva
o Deve haver um nexo de causalidade entre a violação da obrigação que incumbe ao Estado e
prejuízo sofrido pelas pessoas lesadas

Findo o prazo, se não tiver sido transposta, a Diretiva passa a gozar de efeito direto, ou seja, poderá ser
invocada pelos particulares contra o Estado para fazer valer um direito contido na Diretiva.

Decisões (Art. 288.º, par.4, TFUE)


▪ Obrigatórias em todos os elementos
▪ Obriga apenas os destinatários que designar

Em regra geral, são atos concretos e individuais, que aplicam o DUE a casos específicos, por isso, serem
vistas como atos da EU materialmente administrativos.
Podem dirigir-se aos EM ou a pessoas físicas e coletivas (particulares, empresas, etc.)
Contudo, podem também não designar os destinatários, assumindo, neste caso, uma dimensão mais
geral.
Quando se utiliza a decisão?
Por vezes, os Tratados impõem que se recorra a este ato normativo. Exemplos:
- Para medidas restritivas da liberdade de circulação de capitais (Art. 65.º/4 , TFUE)
- Na política de concorrência (Art. 105.º/2; Art. 108.º/3, etc.)
- Nas questões relativas ao défice orçamental e à dúvida pública (Art. 126.º)

Atos não vinculativos:


Recomendações (Art. 285.º, par.5, TFUE)
Convidam o destinatário a assumir um determinado comportamento (efeito persuasivo).

Pareceres
Podem ser emitidos pelas instituições ou por outros órgãos das regiões (Ex: Comité das Regiões ou
Comité Económico Social Europeu)
Apesar de não serem vinculativos, ambos tem repercussões a nível jurídico-político.
Os atos vinculativos devem referir as recomendações e os pareceres previstos pelos Tratados, sob pena
falta de fundamentação (Art. 296º, par.2, TFUE).
As recomendações acabam por ter certo peso sobre os destinatários, como o seu desrespeito pode levar à
adoção de um ato vinculativo.

Os Princípios da ordem jurídica europeia


Para concluir a parte normativa, precisamos agora de analisar alguns princípios chave da UE.
Apesar de haver muitos, limitar-nos-emos a alguns que caracterizam as relações entre o Direito da UE e
os Direitos dos EM

Princípio da especialidade (ou da atribuição) das competências


Defende que a UE só pode exercer as competências que os EM lhe tenham atribuído expressamente nos
Tratados para alcançar os seus objetivos.
A competências que não sejam atribuídas à UE pertencem aos EM. (Art. 5º/1 e 2, TUE)

Divisão das competências:


▪ Atribuições exclusivas da EU (art. 3.º, TFUE)
▪ Atribuições concorrentes, que podem ser partilhadas (art. 4.º, TFUE) ou complementares (Art. 5.º e
6.º, TFUE)
▪ Atribuições exclusivas dos Estados (art. 4.º/2, in fine, TUE)

CUIDADO: Na prática, a EU tem conseguido, por vezes, alargar as suas competências através dos
mecanismos do 352.º, TFUE.

Art. 5.º/1
Delimitação das competências: Princípio da Atribuição
Exercício das competências concorrentes: princípio da subsidiariedade e princípio da proporcionalidade

Princípio da Subsidiariedade (Art. 5.º/1 e 3)


A UE poderá agir, desde que se verifiquem cumulativamente 2 condições:
▪ Insuficiência da ação do Estado (Art. 5º/3, TUE (I Parte))
▪ Maior eficácia da ação da UE (Art. 5/3, TUE (in fine))

Regra → Intervenção dos Estados


Exceção → Intervenção da EU

Então, quem tem o ónus de provar que se encontram preenchidas as duas conduções suprarreferidas?
R: A própria UE, na fundamentação do ato normativo.
E se um ato legislativo da UE violar este princípio?
Os parlamentos nacionais podem:

➢ Dirigir um parecer fundamentado aos Presidentes do PE, do Conselho e da Comissão em


relação a um projeto de ato legislativo. (Art. 6º, Protocolo)
➢ Impor um recurso de anulação de um ato legislativo junto do TJUE com fundamento em
violação do princípio da subsidiariedade (Art. 8º, Protocolo)

Princípio da proporcionalidade (Art. 5.º/4)


Cada ato jurídico público deve:
▪ Ser adequado para o fim prosseguido;
▪ Ser necessário para aquele fim (isto é, o menos oneroso diante as várias opções suscetíveis de
alcançar aquele fim)
▪ Gerar inconvenientes não desproporcionados em relação às vantagens (justa medida)

Em suma, este princípio sublinha que a atuação da UE deve confinar-se ao que for necessário, de maneira
a limitar o menos possível a atuação dos Estados-Membros.

Subprincípios do Princípio da Efetividade

O princípio do Efeito direto do Direito da UE


Aplicabilidade direta do Direito da UE:
Regulamentos (Art. 288º, TFUE)
Decisões
Quando não se destinam somente aos EM
Estes atos normativos podem ser invocados imediatamente perante as instâncias nacionais que aplicam o
Direito (AP dos tribunais) – que é essencialmente relevante quando conferem direitos aos particulares

Atos da UE sem aplicabilidade direta, que se dirigem aos Estados e pressupõem a sua cooperação:
❖ Disposições dos Tratados
❖ Diretivas
❖ Decisões dirigidas ao EM

Para estes casos, o TJ elaborou a teoria do chamado efeito direto em que os particulares podem invocar
os direitos subjetivos conferidos por esses atos perante os órgãos nacionais aplicação do Direito, mesmo
que estes atos ainda careçam de transposição.

O efeito direto é sujeito a três condições:


1. A norma deve ser clara (Não suscitar dúvidas)
2. Deve ser incondicional (Não estar sujeita a exceções ou reservas)
3. Deve ser precisa (Não deve precisar de uma norma nacional que a complete)

O efeito direto aplica-se sobretudo às Diretivas.


Nesse caso o efeito direto representa uma espécie de sanção pelo facto de o Estado não ter
transposto a diretiva ou a ter transposto de forma errada.
Particularidades:
1. A Diretiva ganha efeito direto se não for transposta dentro do prazo ou se for transposta de forma
incorreta
2. Proibição do efeito direto inverso, isto é, de os EM invocarem o conteúdo das Diretivas não transpostas
contra os particulares
Exemplo: O EM não pode aplicar sanções numa diretiva que transpôs
O Estado só pode socorrer-se dos prazos de prescrição estabelecidos na Diretiva em relação aos direitos
nela garantidos a partir da data de transposição.
Princípio do Primado do Direito da UE sobre o Direito Estadual
O que acontece quando uma norma de DUE colide com um ato nacional?

Efeitos decorrentes do primado:


Efeito obrigatório do primado
O juiz nacional deve optar por aplicar as normas europeias, declarando ineficazes (e não inválidas) as
normas nacionais contrastantes.
Efeito bloqueador do Primado
O legislador deve abster-se de aprovar novos atos legislativos incompatíveis com o Direito da UE

Exceção importante: Se a norma nacional em contraste for mais favorável aos direitos fundamentais,
então continuará a aplicar-se.

Introdução à integração económica europeia


Integração económica: 5 estádios possíveis (de acordo com o húngaro Bela Balassa)

➢ Zona de comércio livre (ZCL)


➢ União Aduaneira
➢ Mercado Interno
➢ União económica
➢ União económica e monetária

Zona de Comércio Livre (ZCL)


Baseia-se na livre circulação das mercadorias, isto é, supressão das restrições quantitativas ou
imposições aduaneiras entre os Estados que dela fazem parte.
A ZCL nunca foi uma opção ao nível europeu, devido às duas óbvias limitações. Uma ZCL cria uma
integração meramente interna, uma vez que não impede que cada Estado adote a sua própria pauta
aduaneira em relação a países terceiros, o que leva a:
• Desvios no tráfego;
• Impossibilidade dos países terceiros circularem livremente dentro da zona.

União Aduaneira
À criação de uma ZCL, adiciona a criação de uma pauta aduaneira comum em relação a países
terceiros, permite assim a livre circulação das mercadorias em geral (isto é, dos EM ou importadas de
países terceiros).
Concluindo, a União Aduaneira faz com que os Estados adotem uma política comercial comum, entre si
e com os países terceiros. Assim, facilita o comércio, sobretudo por reduzir a burocracia e as dificuldades
ligadas ao controlo da origem dos produtos.

Mercado Interno
Além da livre circulação de mercadorias (União Aduaneira), há uma livre circulação dos demais fatores
de produção: pessoas, serviços e capitais.
É o elemento central na integração económica europeia. (Art. 26.º/2, TFUE)

União Económica
Exige também:
o A harmonização das legislações nacionais em domínios económicos
o A coordenação das políticas económicas, financeiras e monetárias e eventualmente com uma
autoridade comum.

Exemplos: Os vários Estados empenham-se em respeitar os mesmos padrões em matéria de tutela dos
consumidores, concorrência, transparência financeira, ajudas estatais a empresas em crise, etc., criando
entidades fiscalizadoras e sancionadoras.
União Económica e Monetária
▪ Criação de uma entidade comum aos EM que gere a política monetária (normalmente com uma
moeda única).
▪ Análise custo-benefício da integração económica.

Possíveis benefícios:
→ Alargamento do mercado;
→ Concertação das políticas económicas;
→ Incentivos para que os Estados imitem o sistema económico mais avançado;
→ Resolução de problemas cambiais (se houver também união monetária)
→ Intensificação da concorrência, e daí: - Menores custos para os consumidores; - Melhor qualidade
dos produtos.

Possíveis desvantagens:
→ Concorrência económica selvagem, com o risco de desaguar numa espécie de darwinismo
económico;
→ Resistência das populações, ressurgimento de visões nacionalistas ou políticas protecionistas.
→ Mercado interno ≠ Espaço económico europeu

Mercado Interno

A livre circulação de mercadorias


Disposições normativas mais relevantes: Art. 28º a 37º, TFUE
A livre circulação de mercadorias é uma das pedras angulares do projeto europeu. A sua importância não
se confina à esfera económica, uma vez que o comércio é um poderoso instrumento para aproximar
pessoas e Estados.

O que se entende por mercadoria? Art.38º, TFUE, incluí os produtos agrícolas.


O TJ deixou claro que todos os produtos agrícolas, industriais, artesanais, artísticos, etc. são
mercadorias. Ficam excluídos apenas os capitais e os meios de pagamentos sujeitos a uma liberdade
própria.

A livre circulação na UE é realizada mediante a remoção tanto de barreiras financeiras quanto de não
financeiras ao comércio. Comecemos pela remoção das primeiras, analisando o conceito chave de União
Aduaneira, cuja definição se encontra no Art. 28.º/1, TFUE.

A remoção das barreiras financeiras


Nos termos do Art. 28º/1, TFUE, a União Aduaneira compreende dos elementos:
▪ Uma pauta aduaneira comum com países terceiros (dimensão externa)
▪ A proibição de direitos aduaneiros e encargos de efeito equivalente entre os EM (dimensão interna)

As duas categorias de entraves financeiros internos à livre circulação de mercadorias:


- Direitos aduaneiros
- Encargos de efeito equivalente

Direitos aduaneiros: Imposições pecuniárias que incidem sobre a importação e exportação de produtos.
Podem assumir duas modalidades:
- Ad. valorem: Percentagem do valor aduaneiro das mercadorias
- Específicos: São determinados com base, por exemplo, na quantidade e não no valor (100 euros por
cada tonelada de milho)
Encargos de efeito equivalente: O TJ definiu-os como quaisquer encargos pecuniários, ou seja, qual for
a sua denominação ou finalidade, que incidam sobre mercadorias nacionais ou estrangeiras pelo mero
facto de estas transporem uma fronteira, não podendo porém ser considerados direitos aduaneiros em
sentido estrito.

Exemplo: No caso 24/68, Comissão v. Itália, o TJ estatuiu que a Itália estava a violar os Tratados ao impor
um encargo pecuniário sobre os bens exportados para outros EM, mesmo que este encargo só servisse
para finalidades estatísticas relativas ao comércio nacional. Segundo o TJ, este encargo era proibido,
independentemente da sua finalidade ou do destino dado à quantia cobrada.

Exceções: Segundo o TJ, apenas serão permitidos encargos resultantes de serviços opcionais prestados
pelos EM (ex: fornecimento de armazéns refrigerados para guardar as mercadorias) ou de inspeções
sanitárias obrigatórias à luz do Direito da UE.

Contudo, há uma terceira categoria de entraves proibidos, o Art. 30º, in fine, TFUE adiciona a
proibição de direitos aduaneiros de natureza fiscal, cuja descrição se encontra no Art. 110º, TFUE.

Dimensão externa
Por pauta aduaneira comum entende-se uma fronteira comum para todos os produtos produzidos fora da
UE. Para um exportador de um país terceiro, torna-se irrelevante exportar para Portugal ou para outro EM
uma vez que será sujeito ao pagamento dos mesmos encargos.

À luz disso, as mercadorias abrangidas pelo mercado interno serão: Art. 28º/2, TFUE:
o Os produtos originários dos EM
o E também os produtos de países terceiros legalmente importados por um EM (ou “em livre prática”)

A noção de produto em livre prática é definida no Art. 29º, TFUE. Trata-se de produtos que foram
desalfandegados em qualquer EM, contra o pagamento dos direitos aduaneiros eventualmente exigíveis
na pauta aduaneira comum, e que não tenham beneficiado do draubaque.

O que é o “draubaque” referido no art. 29º?


Este estranho neologismo, criado do inglês darw back, se refere a um mecanismo de reembolso de
direitos aduaneiros, aplicável “quando um bem é importado para ser sujeito a modificação e ulterior
exportação”.
Exemplo: Importo matérias primas, pago direitos aduaneiros no ato de desalfandegamento, transformo-as
num produto transformado, reexporto o produto, posso exigir o reembolso dos direitos aduaneiros pagos
aquando da importação das matérias primas.

Para que serve?


Para incentivar as exportações e para evitar a dupla tributação
Estes produtos reexportados não estarão em livre prática. Se quiser reimportar um carro, tenho de pagar
direitos aduaneiros.

A remoção das barreiras não financeiras


A remoção de direitos aduaneiros, encargos de efeito equivalente e impostos discriminatórios não
consegue, por si só, garantir o livre comércio no seio da EU.
Os EM ainda podem recorrer a outras restrições, porventura até mais eficazes.
Trata-se das barreiras não financeiras, previstas pelos art. 34.º e 35.º.

Restrições quantitativas: Trata-se da proibição total ou da contingentação (estabelecimento de quotas)


das mercadorias passiveis de serem importadas ou exportadas. Dado o seu caráter tão evidente,
atualmente nenhum EM recorre a medidas deste tipo.
Medidas de efeito equivalente às restrições quantitativas: Trata-se de um dos conceitos mais
complexos do Direito da EU. Dado o seu caracter vago, coube à jurisprudência do TJUE definir este
conceito, o que tem feito numerosos casos judiciais. Combinando a Diretiva 70/50/CEE e a jurisprudência
do TJ, podemos defini-las como: medidas imputáveis ao Estado (disposições legislativas ou
regulamentares, práticas administrativas, atos de pressão, estímulos e incitamentos) que tornem, direta
ou indiretamente, as importações mais difíceis ou onerosas, favorecendo assim os produtos nacionais.

As medidas de efeito equivalente podem assumir duas modalidades:


Medidas discriminatórias: Aplicam-se apenas aos produtos importados ou exportados.
Medidas não discriminatórias: Aplicam-se a todos os produtos (nacionais ou estrangeiros), mas
essencialmente afetam os segundos.

Medidas discriminatórias
São medidas estatais que:
❖ Exigem licenças de importação;
❖ Imponham controlos fronteiriços para os produtos importados;
❖ Concedam incentivos fiscais aos produtores nacionais;
❖ Tornem mais cara a publicidade para os produtores estrangeiros;
❖ Exijam procedimento burocráticos mais pesados para os carros importados.

Claramente, medidas deste género discriminam produtos importados, favorecendo o escoamento da


produção nacional.

Medidas não discriminatórias


São medidas estatais que exigem que os produtos estrangeiros possuam requisitos técnicos pensados
para os produtos nacionais, dificultando assim o escoamento de produtos estrangeiros de qualidade igual
ou superior fabricados seguindo normas técnicas diferentes. Por vezes, este problema é solucionado pela
UE através da aprovação de legislação que produza uma harmonização técnica. Trata-se de diretivas que
uniformizam as condições de segurança, saúde e proteção do ambiente de certos produtos. Os fabricantes
dos produtos que cumprem estes requisitos podem apor nos seus produtos a marcação CE.
Contudo, dadas as dificuldades em aprovar legislação deste tipo, a UE tem atuado de outra forma: Através
do princípio do reconhecimento mútuo, como por exemplo no Caso Cassis de Dijon.
Admitem exceções, chamadas medidas de salvaguarda, Art. 36º.

Pessoas
A livre circulação de pessoas
Esta liberdade nasce como liberdade das pessoas trabalhadoras e, portanto, ligada à criação do mercado
interno. O seu regime jurídico encontrava-se sobretudo no Regulamento (CEE) nº1612/68
No entanto, a partir da década de 80, começou a emergir, antes jurisprudencialmente e depois mediante
três diretivas em 1990, o direito de circulação de pessoas economicamente não ativas.
O TUE reforçou esta liberdade introduzindo o conceito de cidadania europeia.
Vejamos como é atualmente conhecida a liberdade de circulação dos cidadãos europeus não
ativos.

Disposições normativas relevantes: Art. 20º/2/a), TFUE; Art. 21º, TFUE; Art. 45º, CDFUE; Diretiva
nº2004/38/CE (Regula o direito de livre circulação e residência dos cidadãos da UE e dos membros das
famílias no território nacional. Foi transposta em Portugal através da Lei nº37/2006)
Art. 6º da Diretiva nº2004/38/CE – Direito de residência até 3 meses:

Quanto à residência por mais de 3 meses, o Art. 7º explica que o cidadão de um EM pode residir
noutro EM desde que:

• Exerça uma atividade assalariada ou não assalariada no Estado Membro de acolhimento;


• Disponha de recursos suficientes para si próprio e para os membros da sua família… e de uma
cobertura extensa de seguro da doença no Estado-Membro de acolhimento;
• Esteja inscrito num estabelecimento de ensino público ou privado… e disponha de uma cobertura
extensa de seguro de doença no Estado-Membro de acolhimento, e garanta à autoridade nacional
competente, por meio de declaração ou outros meios à sua escolha, que dispõe de recursos
financeiros suficientes para si próprio e para os membros da família
• Seja membro da família que acompanha ou reúne a um cidadão da União que preencha as
condições que se referem nas alíneas a), b) ou c).

Acordo de Schengen (1985)


Facilitou o exercício da liberdade de circulação ao eliminar os controlos aduaneiros e policiais.
Cuidado: Nem todos os EM aderiram; por outro lado, aderiram países terceiros (Noruega, Suíça, Islândia e
Listenstaine)

E se eu viajar para um país que não pertença ao espaço Schengen?


Por exemplo: Roménia
Em virtude dos tratados posso circular simplesmente mediante bilhete de identidade. Haverá controlos
fronteiriços, mas deverão ser mínimos.

Livre circulação dos trabalhadores


Disposições normativas: - Art. 45º a 48º, TFUE; - Regulamento nº492/2011 (correspondente com
alterações, ao antigo regulamento (CEE) nº 1612/68); - Diretiva 2004/38 (transposta pela Lei nº37/2006); -
Vários acórdãos do TJ

É esta faceta da liberdade de circulação das pessoas que mais interessa ao Mercado Interno. Além disso,
esta liberdade existe desde o Tratado de Roma e tem um mais amplo conteúdo muito mais amplo.

Âmbito pessoal desta liberdade


Não é dito expressamente, mas pelo contexto se compreende que estes artigos se referem
exclusivamente aos trabalhadores assalariados. Além disso, pela interpretação e devido a outros acordos
internacionais, ficou claro que estes trabalhadores são apenas cidadãos dos EM.

Qual a noção de trabalhador adotada?


Para evitar normas nacionais protecionistas, esta noção foi definida pela própria UE.
No caso de Walrave (1979), emergiu que se trata de um sujeito humano que exerceu, exerce ou pretende
exercer atividade económica assalariada noutro EM. Não interessa o tipo de vínculo (permanente,
precário) nem o nível de remuneração.
Âmbito material desta liberdade
Como se vê no Art. 45.º, a liberdade de circulação dos trabalhadores tem mais do que uma dimensão (cf.
MOTA DE CAMPOS, pp.561 e seguintes)

Direito de deslocação – Art. 45.º/3/b)


Direito de saída
Deixar livremente o território nacional.
O EM de origem não pode exigir visto de saída ou outro documento além do BI ou passaporte válidos (Art.
5º, da Diretiva 38/2004 e Art. 5º da Lei nº37/2006)

Direito de entrada
Entrar no território do EM que pretende trabalhar.
O EM de origem não pode exigir visto de entrada ou outro documento além do BI ou passaporte válidos
(Art. 4º, da Diretiva 38/2004 e Art.º4º da Lei nº37/2006)

E a família do trabalhador?
Os familiares do trabalhador migrante, nacional de um EM, têm o direito de se instalarem com o
trabalhador no EM em que esteja a trabalhar (Art. 2.º e 3.º da Diretiva 2004/38/CE)

Direito de residência – Art. 45.º/3/c)


Significa que os estrangeiros comunitários podem aceder à condição de residentes do EM em que
trabalham, o que é feito solicitando um documento legal que ateste esta qualidade.
Como funciona em Portugal? (Art. 14º, Lei nº37º/2006)
Deve solicitar-se junto das Camaras Municipais o Certificado de Registos de cidadão da UE (validade 5
anos):
É exigido:
→ Passaporte ou BI válidos
→ Declaração sob compromisso de honra, de que se exerce uma atividade profissional subordinada
ou independente de Portugal

Contudo, reparem: Como já vimos, o direito de residência já não é necessariamente ligado à condição de
trabalhador, uma vez que é possível obter o registo também se simplesmente demonstrar:
- que dispõe de recursos suficientes;
- que está inscrito num estabelecimento de ensino;
- que acompanha um familiar
Exemplo: Estudantes internacionais; reformados

Direito de permanência - Art. 45.º/3/d), TFUE


Significa que o trabalhador não pode ser obrigado a deixar o país se perder o emprego ou se aposentar,
por exemplo.

Liberdade de responder a ofertas de emprego – Art. 45º/3/a), TFUE


Além destas liberdades aplica-se nesse âmbito o princípio geral – Art. 18º , TFUE
É o princípio da igualdade de tratamento (ou de não discriminação em razão da nacionalidade), que
vale para o emprego (acesso, despedimento, etc.), a remuneração e as demais condições de trabalho –
Art. 45º/2

Caso Bosman (1995) , que proibiu as cláusulas de nacionalidade no futebol:


Recentemente a Diretiva 2014/54/EU reforçou as garantias dos trabalhadores já previstas pelo
Regulamento nº492/2011
Aplica-se a vários âmbitos:
a) Acesso ao emprego;
b) Condições de emprego e de trabalho;
c) Acesso a regalias sociais e a benefícios fiscais;
d) Filiação em organizações sindicais e elegibilidade para órgãos representativos dos trabalhadores;
Foi transposta pela Lei nº27/2017.

Algumas situações específicas que, por vezes, podem justificar algumas restrições ao acesso ao
emprego noutro EM:
1. Reconhecimento de qualificações ou certificações
As profissões liberais (médico, jornalista, solicitador, etc.) costumam ser regulamentadas. Daí o problema
de reconhecimento dos títulos académicos ou de habilitação profissional exigidos legalmente, algo
extremamente relevante também para a livre prestação de serviços
Principal fonte normativa: Diretiva de 2005/35/CE, transposta para a ordem nacional pela Lei nº9/2009
Trata-se de um regime bastante complexo, sintetizando: Antes de tudo opera-se uma distinção entre
prestação de serviços temporária – é suficiente apresentar uma declaração preliminar à autoridade
competente do EM de destino. No entanto, nalguns casos esta poderá exigir uma verificação das
qualificações (ou seja, há uma presunção de suficiência das formações, salvo disposto em contrário)
Estabelecimento do profissional noutro EM: neste caso, é exigido o reconhecimento do título profissional.
Quanto ao reconhecimento:
Geralmente é automático (princípio do reconhecimento mútuo) , desde que sejam respeitados requisitos
mínimos, cuja ausência poderá justificar que o EM exija um estágio ou uma prova de aferição dos
conhecimentos. No entanto, algumas profissões particularmente delicadas (médico, enfermeiro,
veterinário, arquiteto, etc.) possuem um regime especial

2. Domínio da língua oficial


O Art. 3º do Regulamento nº492/2011 aceita que sejam exigidos conhecimentos linguísticos necessários
pela natureza do emprego. O TJ especificou que devem ser exigências adequadas e proporcionais.

Acordo de Groener (1989):

Empregos na Administração Pública


Art. 45º/4 – Estes empregos estão sujeitos a um regime próprio

- Mas o que entende o Art. 45º por Administração Pública?


Os tratados não dão uma resposta. Não podendo ser uma noção deixada à discricionariedade dos EM o
TJ elaborou um conceito através dos vários acórdãos

Conceito funcional e não institucional


Significa que não interessa a natureza da relação laboral, mas a das funções exercidas. Em particular,
estas devem envolver o exercício da autoridade pública e a prossecução dos interesses gerais do Estado (
ver Caso Anker, 2003)
Exemplos:
Áreas reservadas aos nacionais:
Serviços da justiça;
Forças policiais;
Forças armadas;
Diplomacia;
Áreas abertas aos cidadãos dos EM:
Profissionais de saúde;
Farmacêuticos
Arquitetos
Engenheiros
Atividades docentes
Técnicos superiores na AP

Porque é que o princípio igual tratamento é tão importante?


Para evitar o chamado “social dumping” , ou seja:
“ aceitação de condições menos vantajosas que as dos nacionais por cidadãos de outros EM”

Trata-se de um fenómeno grave e real – social dumping

E os EM podem fazer social dumping com os trabalhadores dos países terceiros?


NÃO – Art. 15º CDFUE que contém a cláusula de equiparação

Reservas à liberdade de circulação das pessoas: Os EM não aceitaram a liberdade de circulação das
pessoas de forma absoluta

Art. 45º/3, TFUE


A livre circulação dos trabalhadores pode ser limitada por razões de:
- Ordem pública;
- Segurança pública;
- Saúde pública

Contudo, uma vez que se trata de noções ambíguas suscetíveis de restringir um direito fundamental, o TJ
declarou que devem ser interpretadas restritivamente.

Para evitar abusos interveio a Diretiva 2004/38/CE:


- Delimita o significado das três noções suprarreferidas
- Define as garantias processuais relativas à sua aplicação

Repara! O TJ, em vários acórdãos, realçou que numerosos direitos associados à livre circulação dos
trabalhadores gozam do efeito direto.

A livre circulação de pessoas


Embora não emerja tão claramente do nome, esta liberdade tem a ver com a circulação de trabalhadores
por conta própria devendo distinguir-se em:
- Liberdade de estabelecimento – Art. 49º a 55º, TFUE
- Liberdade de prestação de serviços- Art. 56º a 62º, TFUE

Confirma J.Machado (p.344), no fundo continuamos na liberdade de circulação de pessoas, só que neste
caso não são nem trabalhadores assalariados, nem pessoas economicamente não ativas, mas sim:
- Pessoas que se deslocam para outro EM para se estabelecerem por conta própria;
- Pessoas que se deslocam para outro EM para prestarem serviços, embora permanecendo
estabelecidas no seu país
O que se entende por liberdade de estabelecimento? – Art. 49º/1 e 2, TFUE
Antes de tudo olhemos para o âmbito subjetivo desta liberdade:
- Não se confina apenas às pessoas singulares. De facto, abrange também pessoas coletivas (e, de entre
elas não se restringe às sociedades), em virtude da equiparação efetuada pelo Art. 54º/1 e 2, TFUE

Em que consiste esta liberdade?


Exercício pelas pessoas singulares e coletivas de um EM de atividades não assalariadas noutro EM com
carácter de estabilidade e por um período de tempo indefinido.
Em suma, o elemento-chave desta liberdade, que a distingue de liberdade de prevenção de serviços é o
caracter duradouro da atividade a exercer, como resulta do Art. 57º ,par. 3, TFUE e da jurisprudência do
TJUE.

Concretamente, os nacionais de um EM poderão estabelecer-se noutro EM de duas formas:


- Exercendo uma atividade a título individual (Ex: como comerciante a título individual)
- Ou criando neste uma sociedade nova ou, como diz o Art. 49º, 1 “agências sucursais ou filiais” ligadas
à empresa mãe sediada no EM de origem

O Art. 49º proíbe:


-Tanto discriminações no EM de acolhimento (dificuldades à entrada)
-Quanto obstáculos à estabelecimento dos próprios nacionais noutro EM (obstáculos à saída)

Restrições:
O Art. 51º, exclui atividades que estejam ligadas, mesmo ocasionalmente, ao exercício da autoridade
pública.
O TJ interpreta restritivamente esta cláusula. Já disse que não se aplica à profissão de advogado (caso
Reyners, 1974), revisor oficial de contas (Caso Thijssen, 1933) ou agentes de segurança (caso
Comissão/Espanha, 1998)

Passemos agora à liberdade de prestação de serviços, em que consiste?


Com base nessa liberdade, os cidadãos de um EM podem prestar/receber prestações de serviços noutro
EM, sem discriminações.

O que se entende por “serviços”?


O Art. 57º/1, TFUE dá-nos uma definição residual e, a seguir, nº2, fornece um elenco explicativo.
Repara: Por vezes quem se desloca não é o prestador de serviços, mas o serviço em si.

Âmbito subjetivo
Também neste caso, a liberdade aproveita tanto às pessoas particulares quanto às coletivas - Art. 62º,
TFUE.

1) Onde acaba a liberdade de circulação dos trabalhadores (assalariados) e começa a de circulação


de serviços?
Imaginemos o caso do médico:
- Se pretender exercer uma atividade assalariada noutro EM: Art. 45º
- Se pretender exercer atividade profissional por conta própria, suportando o risco económico da sua
atividade, aplicam-se-lhe os - Art. 49º ou 56º

2) E qual é a diferença entre a liberdade de estabelecimento e a prestação de serviços?


Segundo a jurisprudência do TJUE, a diferença residirá no caracter transitório ou estável e contínuo da
atividade.
Repara: Embora relevantes, nem a instalação noutro EM de um gabinete/escritório, nem a duração da
prestação serão elementos determinantes nesta qualificação.
Imaginemos uma situação ligada a uma empresa da construção civil:
- Se a empresa ganhar um concurso e construir no Chipre uma ponte, está a prestar um serviço, mesmo
que a obra demore anos e seja preciso criar um escritório em Portugal;
- Se decidir criar uma sociedade no Chipre ou uma sucursal ligada à empresa mãe em Portugal, e a partir
do Chipre angariar novos clientes, entramos no campo da liberdade de estabelecimento. A empresa
participa de modo estável na vida económica de Portugal.

Podemos delimitar as duas liberdades de forma teórica e rígida?


NÃO!! Como escreve Freire citando os casos de Gebhard (1995) e Schintzer (2003), a distinção deve ser
feita casuisticamente, tendo em conta os seguintes fatores:
-Duração
-Regularidade
-Periodicidade
-Continuidade

Porque é que é importante distinguir os âmbitos destas duas liberdades?


Porque os regimes jurídicos diferem!

Livre circulação de capitais


Disposições relevantes: Art.º64º e seguintes

O Art. 63º efetua uma destrinça importante:


- Liberalização dos pagamentos transfronteiriços
- Liberdade de circulação de capitais

Esta liberdade tem um conteúdo maior do que as demais. De facto o Art.º63º, 1 e 2 estende-se também
aos países terceiros, como forma de responder à crescente globalização da nossa economia, promover o
Euro como moeda internacional, atrair os investimentos internacionais.

a) Liberalização dos pagamentos transfronteiriços – Art. 63º/2


Como explica Mota de Campos, não se trata somente de mais uma liberalização mas sim de uma
condição para efetivação das liberdades anteriormente estudadas!
Exemplo: - O exportador de mercadorias pretende receber o valor dos bens que exportou para outro EM,
sem estar sujeito a entraves de qualquer tipo; - O trabalhador migrante quer enviar para o seu país a parte
do salário que consegue economizar, para ajudar a família; - O empresário de outro EM poderá querer
repatriar os lucros

b) Liberalização dos movimentos de capitais – Art. 63º/1, TFUE


O TFUE não nos dá uma definição, mas o anexo I da Diretiva 88/361/CEE nos dá uma ajuda, ao fornecer
uma lista indicativa de operações consideradas como movimento de capitais.
Exemplos: - Investimentos diretos: investimentos sob a forma de participações que conferem a
possibilidade de participar na gestação e no controlo da empresa. –Investimentos da carteira: Aquisição
de títulos no mercado de capitais com mero intuito de realizar uma aplicação financeira (sem pretender
influenciar a gestão da empresa)

O conteúdo desta liberdade foi especificado pelo TJ


Por exemplo, afirmou repetidas vezes que os EM não podem impedir ou limitar a aquisição de ações nas
empresas ou dissuadir os investidores dos outros EM.

Direito Processual da UE ou Contencioso Comunitário


Fontes normativas: - Art. 19º, TUE; Art. 251º a 281º, TFUE; - Estatuto do Tribunal de Justiça da União
Europeia; - Regulamento do Processo do Tribunal de Justiça
Introdução ao sistema judicial da UE
O princípio da efetividade do Direito da UE não seria respeitado se a UE dispusesse apenas de poder
legislativo e executivo.
É necessário também o poder jurisdicional, mediante o qual o Direito da UE recebe proteção
Em particular, vimos que este poder tem aperfeiçoado a ordem jurídica europeia, suprimindo as lacunas
dos tratados e criando princípios importantes (Ex: princípio do primado, princípio do efeito direto)

O sistema judicial da UE desdobra-se em:


- Tribunal da Justiça
- Tribunal Geral
- Tribunais Especializados (atualmente não há nenhum)
- Tribunais Nacionais (quando aplicam o DUE)

O TJUE é um verdadeiro órgão jurisdicional que funciona de diferentes maneiras:


1) Como tribunal constitucional
Fiscalizando a conformidade do Direito Derivado da UE e dos comportamentos dos EM com os tratados,
entendidos estes com a Constituição da UE em sentido material

2) Como tribunal administrativo


Impondo à UE o dever de respeitar a legalidade, o que faz sobretudo através de dois meios contenciosos (
o recurso de anulação e ação por omissão)

3) Como tribunal internacional


Resolvendo os litígios entre EM , como se pode ver no Arts. 273º e 259º, TFUE

4) Como tribunal civil


Julgando da responsabilidade civil extracontratual da UE por ações ou omissões ilícitas imputáveis aos
órgãos ou agentes

5) Como tribunal político


Podendo, inter alia, demitir os membro da Comissão Europeia – Art. 245º/2, TFUE ou o Provedor de
Justiça – Art. 288º/2, par. 2, TFUE

6) Como tribunal uniformizador


Interpretando de forma homogénea os tratados e os demais atos normativos da UE, auxiliando jurisdições
nacionais, o que ocorre sobretudo através do reenvio prejudicial – Art. 267º, TFUE

Contudo, reparem: a sua ingerência nos EM é muito limitada uma vez que:
- Não é de forma alguma um tribunal de recurso das decisões dos tribunais nacionais;
- Não pode anular os atos dos EM, sejam eles legislativos, regulamentares, etc.

Em suma:
Não podemos reconduzir o TJUE nem os Tribunais Nacionais, nem um tribunal federal (Ex: o US Supreme
Court), nem aos tribunais internacionais (Tribunal Europeu dos Direitos do Homem; Tribunal Internacional
da Justiça; Tribunal Penal Internacional)

Organização do sistema judicial da UE


Composição do TJ- Art. 19º/2, TUE
Juízes (um por cada EM)
Decidem e administram a justiça em nome do TJ.
Advogados-gerais
A sua função é descrita no Art. 252º/2, TFUE
Cuidado: Não são advogados no sentido português do termo, nem procuradores. Devem apresentar
conclusões fundamentadas sobre as causas submetidas ao TJ, não representando os interesses de
ninguém (nem os da UE). Devem agir com total imparcialidade.
Na realidade a sua função é extremamente importante.
Estudos mostram que as decisões do TJUE seguem muitas vezes soluções apresentadas pelos
advogados-gerais.

Tribunal Geral
Foi criado em 1988, com o AUE, e inicialmente chamava-se Tribunal de Primeira Instância. Na realidade, a
sua relação com o TJ é mais complexa.
Por vezes atua como tribunal de primeira instância – Art. 256º/1, TFUE , outras vezes é uma instância de
recurso:
- Das decisões dos tribunais especializados
- Das decisões de outros órgãos (exemplo, decisões do Instituto da Propriedade Intelectual da União
Europeia)

Tribunais Especializados
Podem ser criados pelo PE e pelo Conselho para matérias específicas – Art. 257/1, TFUE
Só houve um, o Tribunal da Função Pública, extinto em 2016

As competências do TJ
Jurisdição contenciosa:
1) Ação por incumprimento
2) Recurso de anulação
3) Exceção da ilegalidade
4) Recurso por omissão
5) Ação por indemnização

Recursos diretos (a ação é proposta diretamente junto do TJUE)

Jurisdição não contenciosa (ou consultiva):


1) Reenvio prejudicial
Recurso indireto ( a ação é proposta diante do juiz nacional e só é sucessivamente levada diante do TJUE)

Jurisdição contenciosa
A UE dispõe de vários meios processuais para resolver conflitos, que podem ocorrer entre:
- As instituições e os órgãos da EU
- Os EM
- Os EM e a UE
- Os particulares e a UE

Ação por incumprimento


Quando um EM viola as obrigações decorrentes do Direito da UE, pode ser sancionado a nível interno, em
processos instaurados pelos particulares. Contudo, também existe um meio por contencioso europeu: a
ação por incumprimento, regulada nos Arts. 258º a 260º, TFUE.

Trata-se de um meio particularmente importante, de facto, se os EM violassem livremente o Direito da UE,


a própria existência desta organização ficaria em risco. A obrigação de os EM respeitarem as normas
europeias advém explicitamente do princípio de cooperação leal – Art. 4º/3 TUE

Vejamos os sujeitos ativos e passivos, e o objeto destes meios processuais:


Demandantes – Legitimidade processual ativa
A Comissão – Art. 258º, TFUE, faz sentido que seja esta instituição, dado o seu papel de guardiã dos
Tratados e do DUE em geral – Art. 17º/1, TUE
Um Estado-Membro – Art. 259º, TFUE

CUIDADO: Os Arts. 258º e 259º mostram claramente que a ação por incumprimento não pode ser
exercida pelos particulares. Estes dispõem de meios processuais a nível nacional (Ex: invocar o efeito
direto ou intentar uma ação de responsabilidade extracontratual contra o Estado)
Contudo, os particulares podem sempre apresentar queixa à Comissão, descrevendo a alegada infração
imputável ao EM. A Comissão não fica obrigada a agir, mantendo a possibilidade de decidir
discricionariamente, tendo em conta os interesses em jogo.

Em relação aos EM:


Tratando-se de uma situação delicada, muito raramente os EM chegam a recorrer diretamente a este meio
contra outro EM, preferindo simplesmente informar a Comissão. Outras vezes a Comissão antecipa-se ou
substitui-se a eles

Demandados – Legitimidade processual passiva


Um Estado-Membro (entendido em sentido amplo)
Objeto do processo: averiguar se houve incumprimento imputável ao EM das obrigações decorrentes do
Direito da UE

CUIDADO: A fórmula “obrigações que lhe incumbem por força dos tratados” – Art. 258º e 259º, TFUE deve
ser interpretada extensivamente. Compreende todo o Direito da UE.
O que se entende por incumprimento?
Semelhantemente ao que ocorre noutros ramos do Direito (Direito Civil, Direito Penal, etc.) , pode ser por
incumprimento por ação ou omissão.

Incumprimento por ação (modalidades)


→ Adoção na ordem interna de um ato jurídico
→ Adoção de um comportamento por parte do Estado
(ações materiais, atuação administrativa, práticas internas)

Incumprimento por omissão (modalidades)


- Recusa em adotar na ordem interna medidas jurídicas impostas pelo DUE;
- Recusa em adotar na ordem interna ações materiais impostas pelo DUE;
- Não impedir práticas lesivas do mercado interno imputáveis a particulares;
- Não acatamento das decisões do TJUE.
Tramitação processual básica, 2 fases:
1- Fase administrativa (ou pré-contenciosa)
2- Fase judicial

Uma vez que muito raramente os EM são demandantes neste processo, analisaremos apenas a
tramitação em que a Comissão é demandante.

Fase administrativa ou pré-contenciosa:


- A ação por incumprimento é muito grave e pode causar ressentimento no EM atingido. Por este motivo,
antes de desencadear o processo judicial propriamente dito, existe uma fase em que a Comissão averigua
a existência da infração e tenta resolver a situação amigavelmente.

O que acontece nesta fase pré-contenciosa? – Art. 258º/1, TFUE


Á margem dos Tratados afirmou-se esta prática: A Comissão envia ao EM por carta uma notificação por
incumprimento, através da qual delimita a questão e pede explicações acerca do alegado incumprimento,
fixando um prazo. A seguir, o EM apresenta as suas observações.
A Comissão aprecia as razões contidas nas observações dos EM e, se não chegar a acordo, emite um
parecer fundamentado sobre o assunto, cuja função é convidar o EM a eliminar a situação de
incumprimento.

Se o EM não proceder em conformidade com o parecer no prazo fixado por este a Comissão pode (é
uma faculdade, não uma obrigação!) recorrer ao TJ

Repara! Sendo um assunto particularmente sério, só recorrerá se a conduta ofender seriamente os


direitos de terceiros ou o DUE

Fase judicial:
É sempre diante do TJ, nunca diante do TG.
- Como podemos saber, se o art. 258º fala simplesmente em “Tribunal de Justiça da União Europeia”?
R: Está na definição da competência do Tribunal Geral – Art. 256º, TFUE

O regulamento de processo do TJ mostra que a tramitação do processo diante do TJ segue um


modelo bastante tradicional:
- Fase escrita: Troca dos articulados entre as partes (petição inicial; contestação; eventual réplica e
tréplica)
- Diligências de instrução (para produção de provas)
- Fase oral: julgamento
- Conclusões do Advogado-Geral
- Acórdão do Tribunal

O que o TJ faz?
Limita-se a averiguar o incumprimento, condenando ou absolvendo o EM – Art. 260º/1
No entanto, uma vez que o Tribunal de Justiça não é um tribunal federal, a sentença tem efeitos
meramente declarativos, não podendo anular atos nacionais ou obrigar o EM a adotar determinados
comportamentos.
Se o EM for condenado: Este EM deverá tomas “as medidas necessárias à execução do acórdão do
Tribunal” – Art. 260º, 1 par.1, in fine, TFUE)
E se o EM decidir ignorar a sentença do TJ?
Começa um segundo processo por incumprimento – Art.º260º, 2, TFUE
Como afirmado pelo próprio TJ , desta vez trata-se de um processo especial de execução dos acórdãos do
Tribunal de Justiça, ou seja, um processo executivo, de caracter simplificado em relação ao processo
principal.
O que se faz neste 2ºProcesso? – Art. 260º/2, TFUE
- A Comissão é demandante
- O EM pode apresentar as suas observações
- Após isso a Comissão pede ao TJ que condene o EM ao pagamento de: - Uma quantia fixa; - Uma
sanção pecuniária compulsória (isto é, de tipo progressivo)

E se EM se recusar a pagar?
Não há mais nada a fazer. A UE não é um Estado Federal logo não pode, por exemplo, penhorar bens
dos EM para executar a sentença. Contudo, é altamente improvável que algum dia se chegue a uma
situação tão extremada.

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