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30 de dezembro de 1899

Direito da União Europeia


Prof. Eduardo Paz Ferreira

Mafalda Maló
Faculdade direito de lisboa
Universidade de Direito
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
A SPETOS G ERAIS DA U NIÃO E UROPEIA

1. A NATUREZA JURÍDICA DA UNIÃO EUROPEIA


1.1. AS VÁRIAS TESES
(a) A Tese da Organização Internacional (Supranacional): uma associação de
Estados, constituída por tratado, que prossegue fins comuns, através de órgãos
próprios e com personalidade jurídica.
(b) A Tese Confederal: a definição da EU residiria numa confederação – a
confederação seria uma associação de estados, constituída por tratado, na qual se
criam órgãos coletivas para exercerem determinadas atribuições.
a. Problemas: a atribuição de matérias da EU é mais vasta; a união possui
uma estrutura institucional bastante mais desenvolvida; o domínio dos
Estados é muito menor; na EU existe um sistema eficaz de controlo
jurisdicional (não existe em confederações).
(c) A Tese Federal: seria reconduzir a EU ao federalismo – sendo o problema
primordial o facto de o federalismo se reconduzir, a nível histórica, a fenómenos
estatais que, por isso, se afastam, significativamente, do fenómeno europeu.
(d) A Tese da Entidade Sui Generis: parte da doutrina que, perante as dificuldades,
reconduz a União ao seu carater específico e inovador – sendo esta uma tese pouco
explicativa.
(e) União de Estados e Cidadãos: a União é atualmente caracterizada por três aspetos
essenciais – a união em si (nas suas demais vertentes), os Estados (que,
voluntariamente, submetem a sua soberania e, em algumas matérias, atribuem
competências exclusivas e partilhadas à União) e os cidadãos (que se refletem, não
apenas, na participação nas instituições, mas também na livre circulação, aspeto
fundamental da União, e ainda nos próprios direitos e na proteção que adquirem em
virtude da adesão do Estado Membro – adquirindo o estatuto de cidadãos
europeus).

2. A PERSONALIDADE JURÍDICA DA UNIÃO EUROPEIA


Inicialmente, não se reconhecia personalidade jurídica à União Europeia: reconhecia-se, por
conseguinte, conforme se verá adiante, a existência de três pilares – as Comunidades Europeias (um
pilar) e as politicas intergovernamentais (dois pilares – a PESC e CJAI).
No entanto, com o Tratado de Lisboa, veio finalmente a consagrar-se a personalidade
jurídica da União Europeia – artigo 47º TUE.
Assim, a União goza, atualmente, dos direitos e prerrogativas inerentes à subjetividade
internacional. Tem capacidade para celebrar tratados internacionais – no entanto, devido à
complexidade, é comum a participação lado a lado com os Estados membros. Goza, igualmente, de
direito de participação em Organizações Internacionais. Para além disto, a União é suscetível de ser
responsabilizada por violações que lhe sejam imputáveis. No entanto, posta a complexidade da
União e da repartição de competências, há direito que perdem importância: o direito de legação, o
direito de reclamação internacional.
3. OS TRÊS PILARES DA UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia surgiu enquanto estrutura tripartida, a que o Tratado de Maastricht faz
alusão: assentava, em termos gerais, em três pilares – um pilar, das Comunidades Europeias
(Eurotom, Comunidade Económica Europeia e a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço); dois
pilares intergovernamentais. O pilar das Comunidades pressupunha, desde logo, um método mais
comunitário: maior participação do Parlamento e da Comissão, regras de maior qualidade, controlo
jurisdicional. Os dois pilares intergovernamentais, a PESC (Política Externa e de Segurança
Comum) e CJAI (Cooperação Policial e Judiciária em Matéria Penal), pautavam-se por método mais
intergovernamentais, em que a Comissão e o Parlamento estariam praticamente afastados da decisão,
cabendo quase por exclusivo a decisão ao Conselho Europeu e/ou ao Conselho, por unanimidade ou
consenso, não exercendo o TJUE qualquer controlo jurisdicional.
Com o Tratado de Amsterdão tentou-se: emancipação da União Europeia (ganhando
existência própria) e maior aproximação dos pilares intergovernamentais ao pilar comunitário.
Assim sendo, procedendo a modificações nos dois pilares, o Tratado de Amsterdão estabeleceu um
percurso no sentido da unidade, da coerência, da uniformização dos procedimentos, dos mecanismos
e das instituições.
A tendência de Amsterdão foi seguida pelo Tratado de Nice e ficou formalmente
concretizada pelo Tratado de Lisboa: consubstancia-se, hoje, uma estrutura unitária. Assim, a
União Europeia, que veio suceder às Comunidades e aos pilares, passa a deter personalidade jurídica
expressamente prevista pelo Tratado. Note-se, porém, que há, ainda, regimes específicos em relação
à PESC, que não foram absolutamente uniformizados.

4. OS VALORES DA UNIÃO
(1). A dignidade humana: artigo 2º- TUE.
(2). A liberdade: inspira alguns objetivos da União (mercado interno, abolição à circulação, no
domínio da concorrência, na própria defesa dos direitos).
(3). A democracia: previsto nos artigos 9º a 12º, pressupõe uma sociedade aberta e ativa, em
que o poder política não se deve considerar vinculado a determinadas pessoas, mas antes
permitir a participação crítica de todos os cidadãos no processo político em condições de
igualdade.
(4). A igualdade: que se consubstancia na não descriminação, mormente, em função da
nacionalidade, de sexo, de raça, etc. O seu âmbito de aplicação tem vindo a ser
sucessivamente alargado, pela jurisprudência e pelas sucessivas revisões. Vem mencionado
em vários artigos: 3º/3, TUE; 157º, TFUE, 19º, TFUE, 9º TUE e 10º TFUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
E VOLUÇÃO G ERAL DO Q UADRO DA U NIÃO E UROPEIA

1. DA CRIAÇÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS ATÉ AO ATO


ÚNICO EUROPEU
As ideias de um projeto europeu já remontam à época anterior à II Guerra Mundial: Saint
Pierre, autor francês, pode ser destacado como um dos percursores do projeto federal limitado à
Europa, no qual os soberanos estabeleceriam uma Sociedade Europeia, criariam um Congresso ou
Sendo Perpétuo com representantes permanentes.
Com a emergência da I Guerra Mundial, surgiram várias propostas de congregação dos
povos europeus numa Europa unida.
Apesar das várias propostas, o sucesso só veio a verificar-se no pós II Guerra Mundial,
com o discurso de Churchill e o Congresso de Haia (19 de setembro de 1946). Este discurso
mobilizou os europeístas de vários Estados que, sob o impulso do United Europe Movement, no final
de 1947, criaram um Comité Internacional de Cooperação – esta nova instituição convocou um
congresso, em Haia (1948, com o objetivo de discutir a unidade da Europa). Neste confrontam-se
duas teses:
 Tese federalista: instituição imediata de uma federação política.
 Tese unionista: defesa de contactos intergovernamentais.
Apesar de não resultar, do congresso, uma tese definida, resultou: a convocação de uma
Assembleia Europeia constituída por parlamentos nacionais e a criação de um Comité para a
Europa Unida. O congresso só viu os seus verdadeiros efeitos anos mais tarde, após a derrota
eleitoral de Churchill no Reino Unido, não pela via federalista, mas pela via da cooperação
intergovernamental – que acaba por ser afirmas no plano económico, da defesa e o política.
Destaque-se, como avanço, a criação do Plano Marshall (Plano para a Recuperação
Económica da Europa): procurou, não apenas, responder à ameaça da guerra fria como também aos
riscos decorrentes da situação de ruína económica em que a Europa se encontrava, depois da II
Guerra Mundial.
Outras manifestações a destacar:
 Plano económico: criação da OECE (1948), depois transformada em OCDE (1960
– alargada aos EUA e ao Canadá), que tinha como objetivos o relançamento
económico, a eliminação das restrições quantitativas ao comércio e a instituição de
uma União Europeia de Pagamentos (definindo taxas de conversão da moeda).
 Âmbito da defesa: os propósitos de defesa resultaram da ameaça da ex-URSS (no
contexto da Guerra Fria); o marco mais importante foi a criação da NATO/OTAN,
pelo Tratado de Washington (1949), que veio a integrar os EUA e o Canadá.
 Plano político: instituição de um sistema de cooperação intergovernamental, o
Conselho da Europa (1949), que seria integrado por Bélgica, França, Holanda,
Luxemburgo, Reino Unido, Dinamarca, Irlanda, Itália, Noruega e Suécia (assinado
em Londres) – é uma instituição com o objetivo primordial de garantir os direitos
humanos e a democracia (a maior realização do CE é a Convenção Europeia dos
Direitos do Homem).

1.1. A CRIAÇÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS


Em 1950, Robert Schumann propõe uma colocação do conjunto da produção franco-alemã
de carvão e de aço, sob o controlo de uma alta autoridade comum (organização aberta à participação
de outros países da Europa) – ficando conhecida como a Declaração de Schuman, foi acolhida
favoravelmente por 5 governos (alemão, italiano, belga, holandês e luxemburguês). Apesar do
fracasso inicial, acabou por funcionar como grande impulso para a integração Europeia – levou à
criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (o primeiro momento da criação das
Comunidades Europeia).
Inicialmente, a CECA tinha objetivos políticos, económicos e sociais (visava, em termos
gerais, a expensão económica, a reconstrução da Europa do pós-guerra e a manutenção paz), sendo
composta por vários órgãos: uma alta autoridade, a assembleia, o conselho e o Tribunal. Através
desta entidade, os estados abdicaram de poderes a favor de uma entidade comum em setores da sua
economia.

1.2. O TRATADO CEE E A EUROTOM


A proposta de criação do Tratado CEE e do Eurotom surgiram em 1956 - em Março de 1957
foram assinados, em Roma, três Tratados: o Tratado institutivo da CEE, o Tratado instituto da CEEA
e o Tratado relativo a instituições comuns, que entrariam em vigor a 1 de 1958.
O Tratado CEE estabelecia objetivos que afetavam, essencialmente, o núcleo da soberania
dos Estados membros, que se resumem a: paz, bases de desenvolvimento económico, progresso
económico e social e melhoria constante das condições de vida e de emprego dos povos da Europa.
Para a prossecução destes objetivos, foram criados vários órgãos: o Conselho, a Comissão, a
Assembleia Parlamentar e o Tribunal de Justiça. Este Tratado tinha uma vigência ilimitada, que,
aliás, hoje se confirma – esta vigência ilimitada não prejudica, no entanto, a possibilidade de revisão,
que se veio a verificar.

1.3. A CRIAÇÃO DA EFTA


O Reino Unido, apesar de lhe ter associado os primórdios da integração europeia –
relembre-se, o discurso de Churchill -, ficou de fora da construção europeia e, em 1958, decidiu
impulsionar a criação de uma zona de comércio livre entre ele e mais seis Estados europeia – a
Noruega, a Suécia, a Áustria, a Suíça, a Dinamarca e Portugal. Assim, em 1969 foi assinada, em
Estocolmo, a Convenção que criou a EFTA, que entrou em vigor em 1960 – o plano de ação desta
organização está associado à área económica.
A EFTA é uma organização europeia fundada a 4 de Janeiro de 1960 na cidade de
Estocolmo, Suécia, pelo Reino Unido, Portugal, Dinamarca, Noruega, Suíça, Áustria e Suécia. Em
1970 foi admitida a Islândia e o Liechtenstein, em 1991. Na atualidade, a EFTA é apenas constituída
por quatro países: Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia.
Só em 1961, com o enfraquecimento da Commonwealth (organização intergovernamental
britânica), se dá a adesão do Reino Unido às Comunidades Europeias – a qual é vetada pela França,
pelo General de Gaulle em 1963.

1.4. AS CRISES POLÍTICAS


Insurge-se, perante o veto da França, uma crise política. No entanto, a maior das crises dá-
se, efetivamente, em 1965: são formuladas três propostas, pela Comissão, com vista à instituição do
mercado comum. Estas, pretendiam-se discutidas: no entanto, a França recusou a primeira e
comprometeu a viabilidade das demais – perante este fracasso, a França recusa-se a participar nas
reuniões do Conselho (1965), iniciando a sua política da cadeira vazia.
Acresça-se, em 1967, um novo pedido de adesão do Reino Unido que, sendo novamente
vetado pela França, gerou o isolamento francês em matéria de política europeia.
A crise só veio a ser resolvida com a Cimeira de Haia de 1969 – de entre as decisões
relevantes, é de destacar a concretização da União Económica e Monetária e de criação de recursos
próprios.

1.5. O PRIMEIRO ALARGAMENTO: REINO UNIDO, IRLANDA E


DINAMARCA
Na sequência da Cimeira de Haia foi tomada a decisão de adesão de três candidatos: Reino
Unido, Irlanda, Dinamarca e Noruega, em 1970 – a assinatura apenas se verificou em 1972. No
entanto, na sequência de um referendo interno, a Noruega não veio a ratificar o Tratado, pelo que a
partir de 1 de Janeiro de 1973, as Comunidades passaram a ser compostas por nove Estados-
membros.

1.6. A UNIÃO MONETÁRIA E ECONÓMICA


Apesar de o plano não ter vingado na Cimeira de Haia, em fevereiro de 1971, os Seis
Estados decidiram realizar a união económica e monetária em três etapas, até 1980. Apesar do
fracasso, o Presidente da Comissão, Roy Jenkins, em 1977, propôs a criação de um sistema
Monetário Europeu, que foi aprovado pelo Conselho Europeu de Bruxelas – entrou em vigor em
1979.

1.7. O ATO ÚNICO EUROPEU


Em 1981 dá-se um segundo alargamento das Comunidades, à Grécia. E, anteriormente, em
1977, já Portugal e Espanha haviam formulado o seu pedido de adesão. Depois de um longo período
de negociação, acabaram também por aderir, em 1985, entrando em vigor, o Tratado de adesão,
apenas a 1 de Janeiro de 1986.
Para além deste alargamento, foram também relevantes as várias propostas de revisão dos
Tratados. Foi determinante, para o avanço do processo de nova revisão a publicação do livro Branco
- a Comissão, por iniciativa do seu presidente, Jacques Delors, publica um Livro Branco em que
identifica 279 medidas legislativas necessárias para a realização do mercado interno. Em
meados dos anos 80, as Comunidades Europeias confrontavam-se com vários problemas que
careciam de solução, sob pena de não se conseguir responder aos desafios económicos e sociais que
se enfrentavam. Cabe salientar:
1. Paralisia institucional.
2. Parlamento reclamava maior participação no procedimento legislativo.
3. Era necessário reformular a política agrícola comum.
4. Os sucessivos alargamentos haviam proporcionado uma maior heterogeneidade.
5. A União Económica Monetária em curso era incompatível com o Tratado de Roma.
Para responder a estes problemas, foram introduzidas alterações nos Tratados, processadas
pelo Ato Único Europeu e que se concretizaram em vários domínios:
 Respeito pela democracia, Estado de direito e direitos fundamentais.
 Sistema institucional.
 Mercado interno (regras de maioria, competências e na organização dos tribunais).
 Novas politicas comuns e de coesão económica e social.
 Alargamento das atribuições externas da comunidade.
 Cooperação política europeia.

1.8. ACORDOS DE SCHENGEN


Em 1985, foi assinado, por cinco Estados, o acordo Schengen: Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, França e Alemanha. Mais tarde, aderiram outros Estados: Itália (1990), Portugal e Espanha
(1991), Grécia (1992, Áustria (1995), Dinamarca, Finlândia e Suécia (1996). O acordo tinha como
objetivo colmatar a dificuldade em chegar a um consenso em relação à abolição das fronteiras
internas. Já em 1990, os Estados-membros da Comunidade, com exceção do Reino Unido e da
Irlanda, assinaram a convenção de aplicação do acordo de Schengen – que visava abolir
definitivamente os controlos das fronteiras internas da Comunidade.
Ao conjunto destes dois tratados dá-se o nome de acervo de Schengen.

2. DA CRIAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA AO TRATADO DE NICE


2.1. O TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA – OU TRATADO DE MAASTRICHT
O Ato Único Europeu revelou-se impulsionador para uma nova etapa de integração – a
união económica e monetária. As novas exigências dessa integração exigiam uma revisão dos
Tratados, respondendo às necessidades de novas políticas e dos meios financeiros para a sua
realização.
Depois de criado um Comité, que estudaria o método de integração da UEM, em 1989 foi
apresentado um relatório, que previa a integração em três etapas: previam a criação de uma
verdadeira UEM, sob a responsabilidade de um Sistema Europeu de Banco Centrais.
Paralelamente, dada a conjuntura mundial – queda do muro de Berlim, unificação alemã,
desagregação da URSS e a Guerra do Golfo –, os novos desafios impuseram às Comunidades a
necessidade de reequacionarem a sua posição. Ressurgiu, por conseguinte, a ideia de União Política
– o Governo Belga chegou, inclusive, a propor três ideias: melhoria do funcionamento institucional,
reforço da legitimidade democrática e desenvolvimento da dimensão externa da Comunidade.
Em 1990, 12 de Abril, verificou-se um impulso decisivo para a revisão alargada dos
Tratados: o Chanceler Kohl e o Presidente Mitterand, propunham o reforço da legitimidade, a maior
eficácia dos órgãos comunitários, a unidade e coerência de ações e a definição e implementação de
uma política externa e de segurança comuns.
Chegou-se a acordo, em Maastricht, em 1991, com alterações: legitimidade democratica
(reforço da participação do Parlamento, associação do PE à nomeação de membros da comissão,
reforço do papel das entidades regionais e locais); a PESC (definição de interesses e de um quadro
institucional comum); a cidadania (participação dos cidadãos nas eleições para o PE e locais do
Estado, liberdade de circulação das pessoas e proteção fora de fronteiras); alargamento das
atribuições em certas matérias (social, económica, meio ambiente, saúde, investigação); eficácia
(clarificação do papel do CE, reforço da regra da maioria qualificada e competências de execução).
O Tratado foi aprovado em 1992, só entrando em vigor em 1993.
Do conteúdo Tratado de Maastricht, ou Tratado da União Europeia, podemos distinguir
alguns aspetos essenciais:
 criação da EU (estrutura tripartida, com duas bases – PESC, politica externa e de
segurança comum; CJAI, mercado sem fronteiras internas, à circulação de
mercadorias, pessoas, serviços e capitais);
 reforço do papel do cidadão na União (criação de cidadania, proteção de direitos
fundamentais, reforço do papel do parlamento Europeu);
 novas atribuições à comunidade (em especial, em matéria de UEM);
 princípio da subsidiariedade – mencionado no preambulo;
 modificações no quadro institucional;
 consagração da flexibilidade e da diferenciação.

2.2. O TRATADO DE AMSTERDÃO


O Tratado de Maastricht, tendo sido encarado como fase transitória, teria fixado um prazo
para a sua revisão – devia ser convocada em 1996. Note-se que, em 1994, ter-se-á verificado uma
adesão: da Áustria, Finlândia, Suécia.
Após várias negociações, em 1997 (só entrando em vigor em 1999), foi assinado o Tratado
de Amsterdão, consolidando várias alterações: consolidação da EU, reforço do papel do cidadão,
reforma institucional, atribuição de novas tarefas à EU (alterações na repartição de atribuições EU-
EM), desenvolvimento dos pricipios da subsidiariedade e da proporcionalidade; consagração do
princípio da flexibilidade; suspensão dos direitos de um Estado-membro (meio para sancionar os
Estados).

2.3. O TRATADO DE NICE


O Tratado de Nice foi aprovado em 2000, assinado em 2001 – só entrando em vigor em
2003, em virtude de um processo de adesão da Irlanda (no seguimento de um primeiro referendo de
resultado negativo). A revisão, operada pelo Tratado de Nice, ocorreu durante o período de
implementação da moeda única – o Euro. Esta nova zona de união monetária – a Zona Euro – foi
integrada por onze Estados-membros (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França,
Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal – a que posteriormente se juntaram a Grécia, a
Eslovénia, o Chipre e a Malta e a Eslováquia).
Quanto às reformas introduzidas:
 Reforma institucional: nas demais instituições, mormente, uma reforme
jurisdicional.
 Cooperações reforçadas
 Suspensão dos direitos de um Estado-membro
 Algumas políticas: politica comercial comum, social, de ambiente e à cooperação
económica, financeira e técnica com países terceiros.
 Alterações no terceiro pilar.

2.4. A CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA


A Carta dos Direitos Fundamentais enquadra-se no contexto de afirmação de direitos das
pessoas, por parte da União Europeia. O objetivo da Carta foi tornar visíveis os direitos já existentes
que constituíssem património comum dos europeus, aumentando a segurança jurídica e a
consequente proteção – não visava, portanto, a criação de direitos novos.
Inicialmente, haver-se-ia pretendido conceder à Carta carater vinculativo – no entanto, o
consenso não foi possível neste tema – faria parte do soft law. Com a entrada em vigor do Tratado de
Lisboa, no entanto, a CDFUE ganhou força jurídica vinculativa: apesar disso, nada impediu que, até
à entrada em vigor do TL, as normas fossem invocadas por certos atores institucionais.

3. A REFUNDAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA – TECE AO TRATADO


DE LISBOA
O TECE foi o Tratado que estabeleceu uma Constituição para a Europa, tendo sido, o
primeiro projeto, adotado por consenso e aprovado em 2003. O texto do Tratado, TECE, no entanto,
foi assinado apenas em 2004, em Roma. Problematicamente, foi posta em questão a compatibilidade
deste com várias Constituições nacionais: foram, inclusive, realizados vários referendos nacionais
em relação ao TECE. Depois de sucessivos referendos negativos, suspendeu-se o processo de
ratificação.

3.1. A CIG 2007 E A APROVAÇÃO DO TRATADO DE LISBOA


Em 2007 foi organizada uma convenção intergovernamental, convocada pela presidência
portuguesa, que se seguiu à presidência alemã, que iniciou os seus trabalhos em julho. Depois de
resolvidos problemas que foram surgindo, o Tratado de Lisboa foi assinado em Lisboa, em 2007.
Apesar de tudo, a ratificação do Tratado de Lisboa não foi isenta de vicissitudes:
nomeadamente, na própria ratificação pela Irlanda e pela República Checa.

3.2. OS DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES RELATIVOS À UEM


Posteriormente à aprovação do Tratado de Lisboa, já se levantavam vozes no sentido de uma
nova alteração: com base no artigo 48º/6 do TUE, foi adotada a Decisão do Conselho Europeu, que
alterava o artigo 136º do TFUE, adianto-lhe o nº3 – respeita a um mecanismo de estabilidade para os
Estados-membros cuja moeda seja o euro (poderia ser acionado para salvaguardar a estabilidade da
área do euro). O mecanismo de Estabilidade está pensado para lidar com situações de risco para a
estabilidade financeira da área do euro no seu todo.

4. CRONOLOGIA – SINTETIZAÇÃO
ANO (ENTRADA EM
TRATADO - DESIGNAÇÃO TIPO – CONTEÚDO
VIGOR)

Inspirado na Doutrina
(conjunto de práticas do
Governo dos EUA – procurava
conter o comunismo) de
Truman foi o principal plano
1947 Plano Marshall
dos Estados Unidos para a
reconstrução dos países
aliados da Europa nos anos
seguintes à Segunda Guerra
Mundial.

É uma organização
internacional de 34 países que
aceitam os princípios da
Criação da OEDE (atualmente,
democracia representativa e da
desde 1961, OCDE –
economia de livre mercado.
1948 Organização para a
Originalmente, foi pensada
Cooperação e o
enquanto apoio ao Plano
Desenvolvimento Económico)
Marshall, de reconstrução da
Europa do pós II Guerra
Mundial.

1949 Criação da NATO – Aliança militar baseada no


Organização do Atlântico Tratado do Atlântico Norte. É
Norte. composta por 28 países:
Albânia, Bélgica, Bulgária,
Canadá, Croácia, República
Checa, Dinamarca, Estónia,
França, Alemanha, Grécia,
Hungria, Islândia, Itália,
Letônia, Lituânia,
Luxemburgo, Países Baixos,
Noruega, Polónia, Portugal,
Roménia, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Turquia,
Reino Unido, Estados Unidos.

Não pertence à União


Europeia. Os principais
1949 Conselho da Europa objetivos são: proteção dos
direitos fundamentais e do
princípio democrático.

Criação da Comunidade
Tratado de Paris - Criação da Económica do Carvão e do
1952 (1951) CECA. Vigência apenas até Aço, sendo os principais
2002. inspiradores – Robert
Schumann e Jean Monnet.

Iria coordenar as forças


armadas de toda a Europa, na
sequência duma proposta dos
Estados Unidos no sentido do
rearmamento da Alemanha
Tratado de Paris – Criação da Ocidental. Esta instituição
1952 (1951) Comunidade Europeia de nunca foi ratificada, devido a
defesa um voto contrário da maioria
gaulista no parlamento
francês, que temia assim
perder a sua soberania; a
iniciativa foi abandonada em
Agosto de 1954.
Tratado CEE (ou de Roma):
Criação da Comunidade
instituição de um mercado
Económica Europeia e da
comum (união aduaneira +
1957 algumas politicas comuns +
Eurotom (Comunidade
Económica da Energia
livre circulação, embora com
Atómica)
algumas restrições)

Tratado Institutivo:
Luxemburgo, Holanda,
1957 Alemanha, Bélgica, França e Europa dos 6.
República Federal Alemã
(atual, Alemanha).

Criação de uma Zona de


Comércio Livre, sob impulso
Criação da EFTA (Zona de
1960 Comércio Livre)
do Reino Unido, que não qui
integrar o projeto europeu –
inicialmente.

Tratado de Adesão do Reino


1973 Unido, Irlanda e Dinamarca
Europa dos 9.

Impulso fundamental para a


Criação do Sistema Monetário
1979 Europeu.
criação da União Económica e
Monetária.
1981 Tratado de Adesão da Grécia Europa dos 10.

O primeiro acordo de
Schengen foi assinado spor
cinco países membros da
1º Acordo de Schengen (é uma
Comunidade Europeia:
convenção entre países
França, Alemanha e os
europeus sobre uma política de
1985 abertura das fronteiras e livre
Benelux (união económica
entre Bélgica, Países Baixos e
circulação de pessoas entre os
Luxemburgo, países que já
países signatários).
tinham um acordo de livre
circulação de pessoas desde
1960)

Tratado de Adesão de Portugal


1986 e Espanha
Europa dos 12.

Ato Único Europeu:


Revisão dos Tratados, sendo
instituição de um mercado
Jacques Delors, Presidente da
interno (união aduaneira +
1987 políticas comuns + livre
Comissão Europeia entre 1985
e 1994, o principal
circulação dos fatores de
impulsionador do AUE.
produção)

1 de Julho de 1990 - 31 de
1º Fase da implementação da
1990 União Económica e Monetária
Dezembro de 1993: início da
livre circulação de capitais

Criou, verdadeiramente, o
Tratado de Maastricht ou mercado interno, eliminando
1993 (1992) Tratado da União Europeia todas as fronteiras.
Implementou a UEM.

1 de Janeiro de 1994 - 31 de
2º Fase da implementação da Dezembro de 1998: transição e
1994 União Económica e Monetária ajustes das políticas
económicas e monetárias

Tratado de Adesão da Suécia,


1995 Finlândia e Áustria
Europa dos 15.

1997 (1999) Tratado de Amsterdão. Revisão dos Tratados

1 de Janeiro de 1999 - 1 de
Julho de 2002: fixação das
2º Fase da implementação da taxas de câmbio, entrada em
1999 União Económica e Monetária funcionamento Banco Central
Europeu (BCE) e introdução
da moeda única, o Euro.

Carta dos Direitos É um documento que contém


2000 Fundamentais da União disposições sobre os direitos
humanos, proclamado pelo
Parlamento Europeu, pelo
Conselho da União Europeia e
Europeia
pela Comissão Europeia. Com
o Tratado de Lisboa, ganhou
força vinculativa

Revisão dos Tratados: durante


2000 (2003) Tratado de Nice. a fase de implementação da
moeda única (euro).

Tratado de Adesão de 10
países (Estónia, Letónia,
2004 Lituânia, Polónia, República Europa dos 25.
Checa, Eslováquia, Eslovénia,
Hungria, Chipre e Malta).

Tratado de Adesão da
2007 Roménia e Bulgária.
Europa dos 27.

Revisão dos Tratados: altera o


Tratado da União Europeia
(Maastricht) e o Tratado das
Tratado de Lisboa (ou Tratado
Comunidades Europeias
2007 Reformador) – criação da
(renomeado de Tratado sobre
UNIÃO.
o Funcionamento da União
Europeia). Eliminação da
divisão em 3 pilares.

2013 Tratado de Adesão da Croácia Europa dos 28.

Brexit (Referendo no sentido


2016 da saída do Reino Unido da Europa dos 27.
União Europeia)

Membros da EU: França,


Alemanha, Luxemburgo,
Bélgica, Holanda, Itália,
Irlanda, Dinamarca, Grécia,
Portugal, Espanha, Suécia,
2017 Europa dos 27. Finlândia, Áustria, Roménia,
Bulgária, Estónia, Letónia,
Lituânia, Polónia, República
Checa, Eslováquia, Eslovénia,
Hungria, Chipre e Malta,
Croácia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
A S F ONTES DE D IREITO DA U NIÃO E UROPEIA

1. ASPETOS GERAIS
O Direito da União Europeia é caracterizado pela sua singularidade, uma vez que não existe
nenhum outro modelo paralelo no Direito Internacional nem nos demais sistemas de Direito dos
Estados Membros. A complexidade, que inicialmente era escassa, com o desenvolvimento da União
veio a aumentar, especialmente após a entrada em vigor do Tratado de Maastricht.
O sistema anterior ao Tratado de Lisboa era, contudo, alvo de numerosas críticas, como:
falta de hierarquia de normas e de atos da União; falta de correspondência entre os diferente atos e
normas e as diversas funções dos órgãos da EU. O Tratado de Lisboa procurou abandonar o sistema
tripartido da União e estabelecer uma hierarquia de normas e atos, através da distinção entre atos
legislativos e atos não legislativos.

2. AS FONTES DE DIREITO IMEDIATAS

2.1. O DIREITO ORIGINÁRIO


O Direito Originário da União, que é parâmetro de validade de todas as regras da EU, é
constituído por: Tratados Institutivos (das Comunidades Europeias e, agora, da União Europeia) e
todos aqueles que procederem a alterações. O último expoente é o Tratado de Lisboa. Paralelamente,
inserem-se ainda: decisões que complementaram os tratados; Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia, à qual é reconhecida o mesmo valor jurídico dos Tratados (artigo 6º/1, TUE).
Tenha-se os três tratados originários:
1. Tratado da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (1951) – Tratado de Roma: a
validade expirou em 2002.
2. Tratado da Comunidade Económica Europeia (1957) – Tratado de Roma: foi
substituído pelo Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (2007 –
Tratado de Lisboa).
3. Tratado da Comunidade Europeia da Energia Atómica (1957) – Tratado de Roma.
Claro está que os Tratados Institutivos acima mencionados foram sofrendo, ao longo da
evolução da união, diversas alterações – com e sem observância do procedimento previsto. As mais
importantes:
 Ato Único Europeu (1986).
 Tratado de Maastricht (1992).
 Tratado de Amsterdão (1997).
 Tratado de Nice (2001).
 Tratado de Lisboa (2007) – mais tarde, Tratado sobre o Funcionamento da União
Europeia.
O Tratado de Lisboa veio a revelar-se uma inovação: pergunta-se se não simbolizou a
vitória daqueles que defendem que a União se deve fundar em dois tratados – um que tivesse as
bases (Tratado da União Europeia – características de um tratado-base, com regras fundamentais da
União, como competências, objetivos, atribuições, instituições, adesão, revisão, cooperação) e outro
que as desenvolvesse (Tratado do Funcionamento da União Europeia). Têm o mesmo valor jurídico
(artigo 1º/3ª parte, TUE). Podemos concluir, assim: a União Europeia funda-se em dois tratados,
nenhum é autossuficiente e integram-se em função da anterior estrutura e não em função de bases e
desenvolvimento.
Para além do já mencionado, é ainda de integrar no Direito Originário os Tratados de
adesão:
1. Tratado de Adesão do Reino Unido, Irlanda e Dinamarca (1972-73). Europa dos 9.
2. Tratado de Adesão da Grécia (1979-81). Europa dos 10.
3. Tratado de Adesão de Portugal e Espanha (1985-86). Europa dos 12.
4. Tratado de Adesão da Áustria, Finlândia e Suécia (1994-1995). Europa dos 15.
5. Tratado de Adesão do Chipre, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia,
República Checa, Eslováquia e Eslovénia (2004). Europa dos 25.
6. Tratado de Adesão da Bulgária e da Roménia (2007). Europa dos 27.
7. Tratado de Adesão da Croácia (2013). Europa dos 28.
8. Nos próximos dois anos, uma possível diminuição. Europa dos 27, com a saída do
Reino Unido.

2.1.1. ÂMBITO DE APLICAÇÃO DOS TRATADOS


Ora, o TUE e o TFUE constituem o fundamento, o critério e o limite das atribuições
normativas da União Europeia: situam-se, portanto, no topo da hierarquia.
Estes tratados dispõem de uma aplicação temporal ilimitada, conforme prevê o TUE (artigo
53º) e o TFUE e (artigo 356º), o que não garante uma vigência contudo eterna. A nível, por outro
lado, territorial: são aplicáveis aos Estados-membros (artigo 52º, TUE). Apesar disso, estão previstas
regras específicas para determinados territórios (entre os quais, Açores e Madeira) e aprovadas
normas de Direito Derivado que excluem a aplicação a certos territórios. As discrepâncias resultam,
evidentemente, da adesão dos vários países às diferentes “iniciativas” europeias.

2.1.2. REVISÃO DOS TRATADOS


O processo de revisão (artigo 48º, TUE) destina-se a possibilitar modificações em qualquer
parte dos tratados, podendo revistar uma revisão global ou uma revisão específica.
As etapas são três: transnacional, internacional e interna. O poder de iniciativa é partilhado
pelos Governos dos Estados-membros, pelo Presidente (ultrapassando os défices a nível de
legitimidade democrática) e pela Comissão. Ao Conselho Europeu, por conseguinte, cabe analisar as
propostas de revisão.
Chegando-se à conclusão de que a revisão se deve realizar, deve seguir um de dois métodos:
o convencional ou o intergovernamental – o Conselho Europeu convoca uma convenção composta
por representantes de Parlamentos nacionais, chefes de Estado ou Governo dos Estados-membros, do
PE e da Comissão.
Em oposição, o artigo 48º prevê, também, processos de revisão simplificados: que procuram
a desnecessidade da convocação da convenção ou do CIG.

2.2. OS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO


Os Princípios Gerais de Direito assumem um papel especialmente importante em cada
ordenamento jurídico – especialmente em termos conceptuais e filosóficos. A jurisprudência do
Tribunal de Justiça da União Europeia tem aplicado várias categorias de princípios, que se
distinguem entre si.
Ora, o Tribunal recorre aos princípios gerais não só como parâmetro de legalidade, mas
também para integrar lacunas, do Direito Originário e do Direito Derivado, e, ainda, quando analisa
a conformidade de medidas nacionais com o Direito da União Europeia.
Quanto à natureza destes princípios, podemos distinguir princípios estabelecidos em normas
constitutivas da União, como sejam: princípio do respeito pela dignidade da pessoa humana,
princípio da liberdade, principio da igualdade, princípio da democracia, princípio do Estado de
Direito Democrático e o princípio da proteção dos direitos fundamentais. Para além destes, podemos
ainda reconhecer outros: principio da solidariedade, principio da subsidiariedade, princípio da
proporcionalidade, princípio das competências de atribuição, princípio da livre circulação de
mercadorias e pessoas e princípio da precaução.
Em termos gerais, estes princípios têm como fontes de inspiração: o Direito Internacional
Público, o Direito Interno dos Estados-Membros e o próprio sistema comunitário, ligado às suas
exigências de funcionamento.

2.3. O DIREITO DERIVADO DA UNIÃO EUROPEIA


Os Tratados Institutivos conferem às instituições e aos órgãos da Comunidade poderes para
criarem um conjunto de atos e normas – a esse conjunto designa-se de Direito Derivado.
Anteriormente, no artigo 249º do TCE, estaria incorporado um elenco de atos de Direito
Derivado, que, apesar de tudo, não era exaustivo: estariam previstas diretivas, regulamentos,
decisões, pareceres e recomendações (sem prejuízo de outras fontes apresentarem terminologias
diferentes). Paralelamente, os órgãos comunitários foram emanando vários atos atípicos – o que
explica a não taxatividade do artigo.
A complexidade destas fontes aumentou com a criação da União Europeia pelo Tratado de
Maastricht, assente em três pilares, que previam uma tipologia de normas e atos específicos muito
diversa. Por isso, foi neste quadro que se defenderam ideias de simplificação do Direito Derivado –
ainda antes do Tratado de Lisboa. Do projeto do TECE, sobre o Futuro da Europa, surge uma nova
nomenclatura, que distingue atos legislativos de não legislativos, procurando adequar a União,
essencialmente ao Princípio da Separação de Poderes.
 Atos legislativos: lei europeia e lei quadro-europeia.
 Atos não legislativos: regulamento europeu, decisão europeia e as recomendações
e pareceres (que teriam efeito vinculativo).
Apesar da inovação, estas alterações acabaram por não se tornar efetivas: algumas, apesar de
tudo, passaram para o Tratado de Lisboa. Aliás, de acordo com o novo artigo 288º do Tratado de
Lisboa, prevê-se que para exercerem as competências da União, as instituições adotam
regulamentos, diretivas, decisões, recomendações e pareceres.

2.3.1. O REGIME COMUM DOS ATOS DE DIREITO DERIVADO


1. A natureza de um ato não depende da sua qualificação, mas sim do seu conteúdo.
2. Existe um princípio de presunção de legalidade a favor das normas e dos atos da União
Europeia.
3. Existe um dever de fundamentação em relação a todos os atos jurídicos da União Europeia
(base jurídica, propostas, iniciativa, recomendações, pedidos ou pareceres obrigatoriamente
obtidos por força do Tratado);
4. Os atos legislativos são publicados no jornal Oficial da União Europeia.
5. A entrada em vigor dependeria, sempre, do tipo de ato em causa (mas, em princípio,
corresponde à data prevista nos mesmos).

2.3.2. REGULAMENTO
De acordo com o artigo 288º do TFUF, o regulamento tem caráter geral, é obrigatório em
todos os seus elementos e diretamente aplicável em todos os Estados-membros. É, assim, o
instrumento normativo que mais se assemelha à lei, a nível interno, em virtude da generalidade,
abstração e eficácia erga omnes. A obrigatoriedade em relação a todos os seus elementos significa
que os regulamentos não são passíveis de ser aplicados de forma incompleta.
Dentro dos regulamentos, é possível distinguir regulamentos de base – de hierarquia
superior – e regulamentos de execução – que executam os primeiros, logo, de hierarquia inferior e
subordinados àqueles. Por fim, ainda de distinguir uma outra categoria: regulamentos internos das
instituições e dos órgãos da União. Em função da aprovação, o regulamento poderá ter natureza
legislativa ou natureza não legislativa.
2.3.3. DIRETIVA
Nos termos do artigo 288º, TFUF, a diretiva vincula o Estado membro destinatário quanto
ao resultado a alcançar, deixando, no entanto, às instancias nacionais a competência quanto à forma
e quanto aos meios. Como o regulamento, mediante o processo de elaboração, poderá assumir
natureza legislativa ou natureza não legislativa.
A particularidade, quando comparada com o regulamento, é que apenas é vinculativa quanto
ao resultado a alcançar, deixando aos Estados-membros a possibilidade de escolha quanto à forma e
quanto aos meios. Os destinatários apenas podem ser Estados-membros, não sendo, por isso,
diretamente aplicável a indivíduos – apenas o poderá ser, quando transposta para o Direito Interno,
sendo aplicável aos particulares a norma interna.
A transposição para o Direito Interno é obrigatória e exigido um prazo específico: o
incumprimento determina desproteção e desigualdade de circunstâncias a aplicar aos cidadãos dos
Estados (o incumprimento é imputável ao Estado).

2.3.4. DECISÃO
Nos termos do artigo 288º, TFUF, a decisão é obrigatória para todos os Estados membros –
e apenas o será para alguns Estados-membros quando seja devidamente mencionada na mesma.

2.3.5. RECOMENDAÇÕES E PARECERES


O artigo 288º, do TFUF, refere-se às recomendações e aos pareceres como atos não
vinculativos – apenas exercem, por isso, uma função orientadora. Por forma a distinguir as figuras: a
recomendação sugere um determinado comportamento ao destinatário e adota-se por iniciativa do
seu autor; o parecer expressa uma opinião de um órgão com respeito a uma situação e emite-se por
iniciativa de outro órgão, no âmbito de um processo de formação de um ato vinculativo como
pressuposto processual.

2.3.6. ATOS NÃO PREVISTOS


Em geral, para além dos previstos no artigo 288º do TFUF, os órgãos e instituições da União
Europeia emitem outros atos sem quaisquer previsões legais, como sejam: as resoluções, as
conclusões, os programas de ação, as comunicações e os códigos de conduta.

2.4. O DIREITO INTERNACIONAL


A União Europeia encontra-se vinculada ao Direito Internacional, quer seja o Direito
consuetudinário geral, quer seja acordos internacional nos quais é parte, sozinha ou em conjunto com
os seus Estados-membros.
Quanto ao Direito Internacional Geral/Comum, é de notar que os tribunais europeus
reconhecem a sua vinculatividade para a União Europeia – inclusive, as regras da CVDT (da qual a
União não faz parte). Por outro lado, recentemente, o TG (anterior TPI) reconheceu a subordinação
da União europeia à Carta das Nações Unidas, não podendo conduzir a quaisquer violações de
obrigações que se reportem aos Estados membros.
Quanto ao Direito Convencional Internacional, é logo relevante mencionar os acordos de
que a União é parte – com terceiros Estados, Organizações Internacionais -, ficando vinculada com
os seus Estados-membros (artigo 216º/2, TFUF). Ainda, outras figuras também vinculativas: acordos
mistos, que se baseiam em competências partilhadas e os acordos pré-união (entre Estados membros
com terceiros Estados, antes da criação da Comunidade).

3. A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO


EUROPEIA
A Jurisprudência do Tribunal da União Europeia assume um papel extremamente
importante: o carater vago dos tratados e a rigidez relativa das regras de revisão, levaram o tribunal a
interpretar, desenvolver e aprofundar os Tratados. Este trabalho expressivo gerou contribuições
decisivas para a elaboração progressiva da Ordem Jurídica das Comunidades europeias – são
exemplo os princípios fundamentais do Direito da União Europeia.
Por força do princípio da cooperação leal, os Estados membros estão vinculados a
interpretar uma norma de acordo com uma interpretação anterior já feita pelo tribunal constitucional
– é como se fosse um precedente.
Quanto aos métodos de interpretação do TJUE, podem distinguir-se quatro métodos de
interpretação:
 Interpretação em função da intenção dos autores da norma: método
subjetivista, deixando pouca margem para a criação jurisprudencial; desempenhou
um papel secundários, uma vez que os trabalhos preparatórios dos atos legislativos
só foram conhecidos mais tarde.
 Interpretação textual: o juiz parte do texto para resolver as dificuldades,
recorrendo ao contexto, interpretação gramatical, efeito útil e confronto entre as
varias versões linguísticas.
 Interpretação teleológica ou funcional: o juiz baseia-se nos objetivos dos textos,
que pode interpretar livremente, de acordo com a evolução política, social e
económica – a sua importância é salientada pela evolução constante e progressiva
das comunidades.
 Interpretação sistemática: apelo ao contexto em que as disposições se inserem,
podendo abranger o sistema geral dos tratados.
Conclusões a retirar: o TJ privilegia o método objetivista e a interpretação extensiva,
embora aceite que as exceções e derrogações às normas da União devem ser interpretadas
restritivamente.

4. FONTES MEDIATAS DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA


4.1. O COSTUME
A inserção do costume nas fontes de direito não é inequívoca: não há referência nos
Tratados Institutivos, nem nos Tratados atualmente em vigor. No entanto, já ocorreu que a doutrina
fundamentasse no costume certas práticas de órgãos. Ainda assim, não há consenso, nem houve, até
ao momento, pronúncia do Tribunal.

4.2. A DOUTRINA
A doutrina é constituída pela opinião dos jurisconsultos, dispondo de uma função crítica,
podendo influenciar as opções do legislador da União, quer seja constituinte, quer seja ordinário. A
particularidade é que é abundante – embora nem sempre prime pela qualidade.
O que importa, realmente, é aquilo que é adotado pelos tribunais – a doutrina só tem peso e
relevância para as discussões particulares e sempre em tom critico, no sentido de o direito deveria
ser assim.
5. A HIERARQUIA DAS FONTES DE DIREITO DA UNIÃO
EUROPEIA
1. Tratado da União Europeia, o Tratado do Funcionamento da União Europeia e Carta dos
Direitos Fundamentais da União Europeia: fundamento de todo o Direito da União
Europeia.
2. Os restantes Tratados que integram o Direito Originários: prevalecem sobre o restante
Direito da União Europeia.
3. Os atos adotados pelas instituições e pelos órgãos da União devem respeitar (estão
subordinados) todo o Direito Originário, bem como os princípios gerais da União Europeia.
4. Quando ao Direito Derivado:
a. Regulamentos de execução subordinam-se aos regulamentos de base.
b. As diretivas de execução subordinam-se às diretivas de base.
c. Os atos que se fundamentam em delegação de poderes devem respeitar os atos que
conferem delegação.
5. Princípios gerais de Direito: divergências.
a. Teriam valor jurídico inferior aos Tratados e ao Direito Originário em geral.
b. Seriam dotados de hierarquia superior em relação ao Direito Derivado e em relação
ao Direito Internacional (ainda mais, quando relativos a direitos fundamentais).
6. Direito Originário prevalece sobre os acordos de que a União é parte, o que resulta do
possível controlo preventivo dos mesmos (artigo 218º/11, TFUF) e da admissibilidade do
controlo jurisdicional sucessivo pela via de atos de conclusão e aplicação.
7. Os acordos prevalecem sobre Direito Derivado – vinculam Estados-membros e instituições
da União (artigo 216º/2, TFUF).

6. AS RELAÇÕES ENTRE O DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA E OS


DIREITOS INTERNOS DOS ESTADOS-MEMBROS
6.1. O PRINCÍPIO DA A DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
O Princípio da Autonomia do Direito da União Europeia vem, desde muito cedo, a ser
invocado e afirmado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia – referência a acórdão Costa
ENEL.
Esta autonomia, em termos materiais, consubstancia-se em:
1. Sistema de fontes próprio.
2. Quadro institucional independente.
3. Sistema de fiscalização judicial eficaz.
4. Princípios específicos.
5. Especificidade dos objetivos do Tratado.

6.2. O PRINCÍPIO DO PRIMADO DO DIREITO DA UNIÃO SOBRE O DIREITO


ESTADUAL
O princípio do primado do direito da União Europeia é um dos princípios que mais
polémica causa: precisamente, pela diversidade de conceções, que distam a posição dos Estados-
membros em relação ao TIJ. Resulta, pois, da existência, no mesmo espaço jurídico, de dois
ordenamentos distintos potencialmente aplicáveis aos mesmos casos – surgem, desta concorrência,
conflitos entre normas provenientes da ordem jurídica nacional e da ordem jurídica europeia, o que
resulta na necessidade de criar critérios de hierarquia das normas.

6.2.1. O PRINCÍPIO DO PRIMADO NA ÓTICA DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA


Apesar de não existir, no Tratado, quaisquer referências expressas à supremacia do Direito
da União Europeia sobre os Direitos nacionais, ao longo dos anos, o Tribunal de Justiça tem
reiterado a prevalência do primeiro. Apesar dos inúmeros acórdãos fundamentais, a respeito do tema,
saliente-se três:
1. Acórdão Costa ENEL: a submissão à soberania da EU implica uma transferência
definitiva dos seus direitos soberanos, o que resulta em primado da União Europeia.
2. Acórdão Internationale Handelsgesellschaft: em caso de violação de direitos
fundamentais, tal como formulados na Constituição do Estado-membro, e de
violação dos princípios da estrutura constitucional nacional não afetam a validade
de um ato da Comunidade nem os seus efeitos sobre o território nacional.
a. Doutrina – teoria da inexistência: a norma jurídica interna contrária ao
Direito Comunitário seria a inexistência. O tribunal discordou (caso
In.Go.Ge’90 srl).
3. Acórdão Simmenthal: inaplicabilidade da norma nacional contrária à norma
comunitária.
O acórdão Krzystof Filipiak veio, em acréscimo, introduzir um aspeto interessante e
fundamental: na lógica do primado do Direito da União Europeia, cabe aos tribunais nacionais
assegurar o principio e a soberania do direito comunitário – note-se a importância do mecanismo das
questões prejudiciais (artigo 267º do TFUE).
Pergunta-se, no entanto, de onde deve ser retirado o princípio do primado do direito da
União Europeia:
1. Da natureza específica da Ordem Jurídica Comunitária.
2. Do principio da não descriminação em razão da nacionalidade (artigo 18º TFUE),
que seria posto em causa se cada Estado pudesse afastar unilateralmente o Direito
da União Europeia.
3. Do carater obrigatório e diretamente aplicável dos regulamentos (288º TFUE).
Quanto à amplitude da aplicabilidade do princípio: abrange não só o Direito Originário,
como todas as fontes de Direito da União Europeia – Direito Derivado e Direito Internacional, que
vinculam a União Europeia.
Com o Tratado de Lisboa, obteve-se um avanço importante: apesar de não haver nenhuma
norma expressa que consagre o principio do primado, ele inclui uma Declaração da Conferência
sobre o primado do Direito Comunitário.

6.2.2. AS CONSEQUÊNCIAS DO PRINCÍPIO DO PRIMADO


Na sequência da afirmação do princípio do primado, o TJ impôs vários deveres aos
Estados-membros (cabendo, tanto aos tribunais, como às entidades administrativas):
1. A não aplicação do Direito nacional incompatível.
2. A interpretação conforme do Direito da União Europeia com o Direito
Comunitário.
3. A supressão ou a reparação das consequências de um ato nacional contrário ao
Direito da EU.
4. O controlo jurisdicional efetivo da aplicação do Direito da EU.
5. Os Estados-membros devem fazer respeitas as regras comunitárias pelos seus
nacionais.
6.2.3. O PRINCÍPIO DO PRIMADO NA ÓTICA DOS ESTADOS-MEMBROS
A primazia absoluta do direito da União Europeia não é aceite, na sua totalidade, pelos
Estados membros. Podem estruturar-se, desde logo, o principal ponto de divergência:
1. Fundamento: de acordo com os Estados-membros, o fundamento do princípio da
primazia do Direito da União Europeia não residiria nos Tratados, mas nas
clausulas europeias previstas nas Constituições nacionais (relembre-se, artigo 8º/4
da CRP), que verdadeiramente expressão a limitação da soberania dos Estados.
A consequência é que se compreenda, dada a inserção da clausula na Constituição, o facto
de os Estados-membros entenderem que podem fiscalizar o Direito da União Europeia.
A respeito desta temática, relembre-se três casos emblemáticos, de Estados Membros:
 Itália – caso Frontini (1973): o Direito Comunitário pode derrogar certas
disposições constitucionais, com exceção das que incluem princípios fundamentais
ou direitos inalienáveis das pessoas.
o Caso Granital (1984): os tribunais podem não aplicar normas nacionais,
que não seriam invalidadas, apenas deixariam de se aplicar.
o Caso Fragd (1989): o TC italiano de vcide que pode controlar a
consistência de regras individuais de Direito Comunitário com os
princípios fundamentais da Constituição, quando estivessem em causa
direitos humanos.
 Alemanha – caso Solange I (1974): a transferência de poderes para as
Comunidades não podeia resultar na aceitação de legislação comunitária que
violasse a estrutura essencial da Lei Fundamental, logo, o Tribunal seria
competente para apreciar a validade dessa legislação.
o Caso Solange II (1086): não é necessário fiscalizar a constitucionalidade
das normas da União Europeia, enquanto o TJ assegurasse o respeito pelos
direitos fundamentais.
 França: o Direito da União Europeia prevalece sobre o Direito nacional, exceto se
conflituar com a identidade constitucional francesa.
o O tribunal admitiu, ainda, o primado Direito Comunitário Derivado
(direta): quando a diretiva não deixa nenhuma margem de liberdade ao
legislador nacional.
o O tribunal considerou-se incompetente para fiscalizar a
inconstitucionalidade de uma lei francesa que se limite a transpor a diretiva
comunitária para o Direito Interno, por considerar que esta competência
pertence em exclusivo ao juiz comunitário.

6.2.4. O CASO DE PORTUGAL


A Constituição Portuguesa, no artigo 8º, prevê a receção do Direito Internacional na Ordem
Jurídica interna – em concreto, a receção do Direito da União Europeia vem prevista no artigo 8º/4:
As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas
emanadas das suas instituições, no exercício das respetivas competências, são
aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos pelo Direito da União, com
respeito pelos princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático.
De notar, que, de acordo com a os Profs. Gomes Canotilho e Vital Moreira: o artigo
localiza uma regra de colisão entre o Direito da União e o direito interno no plano do direito
constitucional português, podendo dizer-se que a aceitação do primado da ordem jurídica da União
resulta de uma decisão constituinte do povo português, formalizada numa lei de revisão nos termos
constitucionalmente previstos. Note-se, ainda, em acréscimo, que a prevalência do DUE não
determina a invalidade da norma interna, apenas a sua não aplicação ao caso concreto, conforme
resulta da jurisprudência do TJ.
A complexidade da questão é grande, no entanto, não há grandes pronuncias dos organismos
portugueses: conforme saliente a Professora Ana Guerra Martins, o Tribunal Constitucional
Português ainda não foi verdadeiramente confrontado com a questão do primado do Direito da União
Europeia sobre o Direito Português.

6.3. O PRINCÍPIO DA APLICABILIDADE DIRETA E DO EFEITO DIRETO NO


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
Baseia-se no principio da aplicação descentralizada do Direito da União Europeia: são
as administrações e os tribunais nacionais que aplicam o Direito da União Europeia – a EU tem
capacidade para produzir normas que, por força da aplicabilidade direta e do efeito direito, são
suscetíveis de ser invocadas nos tribunais nacionais, podendo inclusivamente afastar as normas
nacionais contrárias.

6.3.1. EFEITO DIRETO


O efeito direto é a suscetibilidade de invocação de uma norma da União, por parte daquele a
quem essa norma confere direitos ou obrigações, num tribunal nacional ou perante qualquer
autoridade pública, quer essa norma tenha sido implementada, quer não, por parte do Estado-
membro em causa. Opera ao nível da invocabilidade.
Ora, o tratado estabelece que os regulamentos têm aplicabilidade direta, mas não estabelece
nada em relação as diretivas e aos tratados. Que sentido faria a imposição de uma obrigação ao
Estado e os particulares lesados não poderem invocar essa obrigação em tribunal?
Ao estabelecer uma obrigação para os estados membros, o tratado ou diretiva está a
estabelecer um direito reflexo dos particulares - se se puder depreender (a norma tem de ser clara,
precisa e incondicional - no caso das diretivas, o prazo de transposição é também pressuposto) que
há um direito reflexo do particular, essa norma é passível de ser invocada - seria contra o principio
do efeito útil que não pudesse a norma ser invocada pelo particular lesado.
Assim, se é verdade que para os regulamentos, o TIJ reconheceu um efeito direto horizontal
e vertical; para as diretivas, em contrapartida, apenas reconhece o efeito direto vertical (estas
normas não podem ser invocadas contra outros particulares, apenas contra o Estado).
Para suprimir esta insuficiência que resulta da falta de efeito direto horizontal, a
jurisprudência do Tribunal de Justiça Europeu desenvolveu três mecanismos:
 Teoria da interpretação conforme - CASO?
o Não se pode fazer uma interpretação contra legem do direito nacional -
deve ser interpretada conforme o Direito da União Europeia (obrigação
de interpretação conforme)
 Responsabilidade extracontratual do Estado – CASO?
o A principal consequência de falta de efeito direto horizontal é perda da
proteção jurídica dos direitos - não pode ser invocada contra outros
particulares.
o A falta de transposição da norma vai criar danos na esfera jurídica do
particular.
o Os indivíduos têm direito a responsabilizar o Estado pelos danos
decorrentes: provar o facto, a ilicitude a culpa, o dano, o nexo de
causalidade e a quantificação dos danos (um mecanismo de
responsabilidade extracontratual).
o Normas aplicáveis: jurisprudência própria do TJUE, em relação à
responsabilidade extracontratual, que engloba requisitos autónomos.
Estas normas levaram alguns Estados, como Portugal, a alterar as
regras da responsabilidade extracontratual do Estado (harmonizando os
problemas e as soluções).
 Teoria ampla do conceito de Estado - CASO?
o O que é o Estado? o conceito de Estado tem sido desenvolvido pelo
TJUE através de um conceito funcional.
o O que abrange? A administração central indireta e direta, a
administração descentralizada, as entidades administrativas
independentes e todas formas de descentralização politica e
administrativa.
o Até uma empresa privada pode ser considerada Estado: basta que, na
matéria em causa, esteja a aturar com poderes de ius imperium
(contrato de concessão).

6.3.1. APLICABILIDADE DIRETA


A aplicabilidade direta é a suscetibilidade de aplicação de um ato ou norma da União, sem
necessidade de transposição por parte do Estado. Opera ao nível da aplicação da norma.
A aplicabilidade direta funda-se no artigo 288º do TFUE, ao estabelecer que o regulamento
é diretamente aplicável – assim como as decisões, apesar não virem mencionadas.

6.4. O PRINCÍPIO DA TUTELA JUDICIAL EFETIVA


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
Instituições de Direito da União Europeia

1. INSTITUIÇÕES
 7 instituições - artigo 13º: seguem princípios no seu funcionamento

 Princípio da competência de atribuição: artigo 4º, determina que a União só tem os poderes que
lhe foram expressamente atribuídos pelos tratados - os restantes pertencem, deste modo, à esfera
dos Estados membros. Evitar a usurpação de poderes e direitos dos cidadãos dos Estados
membros, garantindo que muitas das principais matérias estejam no âmbito dos Estados (ordem
pública, segurança nacional - da exclusiva responsabilidade dos Estados).

 Reserva da segurança nacional: cada vez mais difícil garantir que a segurança seja
assegurada pelos Estados membros, perguntando-se se estas questões não deveriam ser
assegurados pela União Europeia.

 Principio da cooperação leal: assistem-se, os Estados membros e a União Europeia,


mutuamente.

 Princípio do equilíbrio institucional.

 Princípio da coerência institucional.

 Princípio democrático.

 Triângulo institucional da União Europeia: Comissão Europeia, Conselho da União Europeia e o


Parlamento Europeu - onde se desenrola o processo legislativo da União Europeia.

 Processo legislativo ordinário - 289º: comissão apresenta da proposta (situações excecionais);


aprovado pelo Conselho da União Europeia e pelo Parlamento Europeu.

 3 instituições intervêm: tripla legitimidade.

 Parlamento Europeu (artigo 14º):

 Presidente atual: Antonio Tajani (italiano).

 Artigo 14º/3, TUE: os membros do Parlamento são eleitos por sufrágio universal, direto e secreto.
É composto por representantes dos cidadãos da UE, sendo a legitimidade proveniente dos seus
cidadãos da União. O mandato é de 5 anos. No máximo de 750 deputados + Presidente.

 Portugal tem 21 deputados -


http://www.parleurop.pt/pt/os_seus_deputados/deputados_eleitos.html;

 Competências:

 Função legislativa (juntamente com o Conselho): o Tratado da União Europeia reforçou


os poderes do Parlamento Europeu, a nível da função legislativa, através da inclusão do
procedimento de decisão conjunta do Parlamento e do Conselho (procedimento
legislativo ordinário); nos procedimentos legislativos especiais, o Parlamento tem um
papel variável (consulta ou aprovação).

 Acordos internacionais: tem competência de aprovação de vários acordos


internacionais (exemplo: alargamentos).

 Função orçamental: idêntica à do Conselho (artigo 314º); debate a política monetária,


em auxilio ao banco central europeu; aprovar o orçamento juntamente com o conselho

 Exerce funções de controlo político (fiscalização política): fiscalizar o Conselho e a


Comissão; aprovar uma moção de censura, por maioria de dois terços - em caso de
aprovação, os membros da Comissão devem demitir-se coletivamente das funções,
assim como o Alto Representante dos Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
A comissão é politicamente responsável perante o Parlamento; pode organizar
comissões de inquérito e exige-se à apresentação, ao Parlamento, de relatórios e
informações por parte de outros órgãos. Tem competência para eleger o Presidente da
Comissão e o Provedor de Justiça.

 Fiscalização da comissão, que é politicamente responsável perante o


Parlamento Europeu (17/8 TUE).

 Fiscalização do Conselho

 Possibilidade de constituir comissões de inquérito temporárias (226 TFUE).

 Destinatário de relatórios e informações de outros órgãos da união.

 Proceder a debates de política geral e votar em resoluções sobre qualquer


questões da atualidade.

 Controlo da atividade do Europol e do Eurojust (88/2 + 85/1 TFUE)

 Participa na revisão dos Tratados.

 Designam membros de outros órgãos:

 Presidente da Comissão: tem como base as eleições para o PE - o


candidato é proposto pelo Conselho Europeu (deliberando por
maioria qualificada) e aprovado por maioria dos membros do PE
(se não se reunir esta maioria - deve o conselho apresentar um novo
membro - 17/7 TUE).

 Provedor de Justiça: 228/1.

 Funções consultivas.

 Relação com Parlamentos nacionais: regem esta relação os princípios da subsidariedade


e da proporcionalidade.

 Direito de auto-organização (232 TFUE): funciona em sessões plenárias (algumas em Bruxelas,


outras em Estrasburgo - durante uma semana) e em comissões parlamentares. Elege, de entre os
seus membros, o seu Presidente e a Mesa.

 Artigo 14/4: eleve de entre os seus membros o presidente e a mesa.

 3 sedes: Estrasburgo, Luxemburgo e Bruxelas.

 Conselho Europeu (artigo 15º):

 Não estava previsto nos Tratados iniciais - órgão mais recente. Começou a funcionar

 É composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-membros (França, por exemplo,
seria o Presidente da República), juntando-lhes o seu Presidente (artigo 15º/6), bem como o
Presidente da Comissão. O Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança participar igualmente nos trabalhos.

 Periodicidade de reunião, de 3 em 3 meses (duas vezes por semestre) - por convocação do seu
presidente. Podem, ainda, ser realizadas reuniões extraordinárias.

 Difere do Conselho da Europa (instituição autónoma da União Europeia) e do Conselho da União


Europeia (Conselho de Ministros, e não de chefes de Estado ou de Governo).

 Conselho da União Europeia: forma tradicional, composta por vários ministros; a


maioria das reuniões é em Bruxelas; reune sob diferentes formações - presididas por um
Estado Membro de forma rotativa;

 Presidente: eleito por maioria qualificada; o mandato tem a duração de dois anos e meio e pode
ser renovado uma vez; pode o Conselho Europeu por termo ao mandato por maioria qualificada
(artigo 15/5 TFUE); as suas funções estão previstas no artigo 15/6 TFUE.

 Decisões: por consenso, salvo disposição em contrário (15/4); está prevista maioria qualificada
para decisão acerca da lista das formações do conselho e para a sua presidência (artigo 236,
TFUE).

 Competências:
 Decide sobre o desenvolvimento, as orientações gerais e as prioridades políticas da
União.

 Não exerce a função legislativa - podendo, no entanto, ter de agir em vez do Conselho
(artigos 48º, 82º, 83º, 87º/3 do TFUE).

 Trata de questões complexas e sensíveis que não podem ser resolvidas a nível inferior -
problemas mais graves. Razão pela qual foi criado.

 Define a política externa e de segurança comum.

 Nomeia e designa cargos, como a presidência do próprio Conselho.

 Conselho da União Europeia (artigo 16º):

 É composto por vários ministros, com poderes para vincular o Governo do Estado-membro de
que provêm e para exercer o direito de voto. É assim, composto por 28 membros.

 A composição depende da ordem do dia (artigo 16º/6): o Conselho reune-se em


diferentes formações, cuja lista é adoptada com base no artigo 236º do TFUE.
Atualmente, existem 10 formações.

 Proeminência, dos Tratados, aos:

 Conselho dos Assuntos Gerais: assegura a coerência dos diferentes trabalhos


das diferentes formações do conselho e prepara as reuniões do CE.

 Conselho dos Negócios Estrangeiros: elabora a ação externa da União.

 O Conselho reune-se por convocatória do Presidente, por iniciativa deste, de um dos seus
membros ou da Comissão. Normalmente está presente o ministro dos Negócios Estrangeiros.

 Existem Conselhos especializados.

 Os órgãos de preparação da decisão são o COREPER (artigo 240 - representantes


permanentes), grupos de peritos e os vários comitês.

 As reuniões são divididas em duas partes: deliberações sobre atos legislativos (públicas
- princípio da transparência) e as atividades não legislativas.

 Votação: a regra geral é a maioria qualificada, nos termos do artigo 16/3 do TUE. Em
alguns casos exige-se unanimidade e noutros maioria simples. Ver protocolo n36.

 A maioria das reuniões é em Bruxelas.

 Competências:

 Função legislativa e orçamental, em conjunto com o Parlamento: aprovar atos


legislativos e aprovar o orçamentos (16/1).

 Tem competencias a respeito do alargamento das competências das instituições da


União.

 Funções de definição e coordenação em conformidade com as condições estabelecidas


nos Tratados.

 Papel primordial na PESC: elaboração da PESC e adoção de decisões necessárias a


definição e execução dessa política, ok base nas orientações e linhas estratégicas
definidas pelo CÊ (26/2).

 Importante intervenção no domínio da coordenação das políticas económicas e sociais


dos Estados membros que fazem parte da zona Euro.

 Comissão (Europeia) (artigo 17º):

 É constituída por um conjunto de comissários representantes de cada Estado membro, tem um


presidente (Luxemburgo) e um órgão executivo (paralelo a um governo nacional). Ao todo, é
composta por 28 membros (um nacional de cada Estado) - incluindo o Presidente e o Alto
Representante da União parados Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. Os membros são
escolhidos em função da sua competência geral e do empenhamento europeu, de dentre
personalidades que ofereçam as garantias de independência (artigo 17/3 + 17/7/2 e 3 parte).

 O mandato tem a duração de 5 anos.


 Os membros são independentes em relação aos interesses privados, aos outros órgãos e
aos Estados membros. Não podem ser destituídos pelo Conselho nem pelos Governos.

 O Presidente tem de ser nomeado pelo Parlamento Europeu, sendo proposto pelo C3

 Funciona de modo colegial, seguindo as orientações do Presidente;

 É politicamente responsável perante o Parlamento, podendo, por ele, ser demitida.

 Mandato e responsabilidade: tem duração de 5 anos (17/3); a demissão pode ser voluntária ou
compulsiva (246); pode ser aprovada uma moção de censura pelo PÉ (234); pode haver demissão
pelo TJ de membro a pedido do Conselho e da Comissão (247)

 A Comissão é responsável perante o PE (17/8).

 Competências:

 Presidente: artigo 17/6 - define as orientações para o exercício da comissão;


organização interna da comissão;

 Tradicionalmente a grande função: guardiã dos Tratados, zela, em conjunto com o


TJUE, a aplicação do direito da União Europeia - exerce funções de coordenação,
execução e gestão em conformidade com as condições estabelecidas nos Tratados.

 Executa o orçamento e gere os programas (gere políticas europeias, os fundos europeus,


controla as despesas, sujeitas a verificação pelo Tribunal de Contes, fere as atividades e
os orçamentos anuais).

 Tem um poder normativo, que poderá ser autónomo, podendo elaborar novos atos
legislativos e não legislativos, bem como assegurar a execução dos membros.

 Dispõe de uma competência de iniciativa legislativa, perante o Conselho e o


Parlamento (em que matérias: destinadas a proteger interesses da união europeia e dos
seus cidadãos; mais eficientemente tratadas pela União Europeia do que a nível
nacional) - a pedido ti Pé ou própria (17/2).

 Tem competência para resolver questões técnicas em matérias específicas, criar debates
públicos e executar livros brancos.

 Representa a União Europeia a nível internacional e negoceia acordos comerciais em


nome da União Europeia;

 Pode adotar pareceres e recomendações.

 É composta por vários serviços e direcções (correspondem às direcções gerais que compõem um
Governo nacional.
 Tribuna de Justiça da União Europeia (artigo 19º):

 É composto por: Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral, sendo o primeiro superior - ambos têm
sede no Luxemburgo.

 Tribunal de Justiça: é composto por um juiz de cada Estado-membro (19º/2). Os juizes


são escolhidos por condições de independência (253º e 19º). De comum acordo pelos
estados membros - a lista terá de ser apreciada por comité, de forma não vinculativa. A
comissão é renovada de 3 em 3 anos (253º).

 Tribunal Geral: artigo 256º. Composto por 1 juiz de cada Estado-membro e tem vindo a
sofrer um processo de alargamento - os estados-membros estão a poder obter 2 juizes. 4
formações: plenário e formação (5, 3 ou 1 juiz).

 252: existem 8 advogados gerais - e 28 Estados membros. Não é um juiz - é uma


personalidade que trabalha no tribunal, trabalha de forma independente e é chamado a
dar uma opinião sobre processos que lhe sejam colocados, antes do tribunal decidir. Na
maioria dos casos, as conclusões apresentadas pelos advogados gerais são prosseguidas
pelos tribunais.

 Os juizes cessam as suas funções quando são substituídos, falecem ou são


demitidos.

 Presidente: mandato de 3 anos. Eleito por maioria absoluta e por voto secreto (253/3).
 Não é responsável pela aplicação do Direito da União Europeia - quem é responsável é o Juiz
Nacional (que tem essa competência). O Juiz nacional é competente para aplicar o Direito da
União - porque faz parte do ordenamento jurídico português (lei ou decreto-lei está sujeito ao
Direito da União Europeia e o juiz poderá declarar a ilegalidade destes - não carece de ser o
tribunal de justiça da união europeia).

 Tribunal Geral vs Tribunal de Justiça:

 Competência do Tribunal Geral: 256º

 A designação faz-se de acordo com o 255º

 Mandato é 6 anos, mas metade dos juizes são substituídos de 3 em 3 anos.

 Competências: garantir o respeito do Direito na interpretação e aplicação dos Tratados (267º).

 Mecanismo do Review Judicial (reenvio pré-judicial): a questão da interpretação; o


Tribunal interpreta e esclarece as duvidas sobre interpretação; reenvia a interpretação,
por forma a que o Tribunal Nacional possa decidir sobre a matéria. Artigo 19º/3/b).

 Reveste a forma de acordao ou sentença. Como é colegial, é acórdão.

 Atua como um Tribunal Constitucional.

 Três tipos de competência:

 Competência com os Juízes Nacionais:

 Competência jurisdicional a título preventivo: processo consultivo.

 Controlo jurisdicional a título sucessivo: dos atos da União Europeia e dos


atos dos Estados-membros.

 Competência arbitral.

 Partes que podem recorrer: instituições da União Europeia; estados membros da União
Europeia; pessoas singulares ou coletivas.

 O Tribunal poderá ser chamado a dar pareceres sobre opções da União Europeia.

 251º: reune-se em seção, grande seção e tribunal pleno. A divisão de matarias é feita em função
da sua complexidade.

 Normalmente, o tribunal segue a regra do precedente - passível de ser verificado em acordãos.

 Banco Central Europeu (282º e ss.):

 Sede em Frankfurt e responsável pela união monetária.

 Tem como objetivo assegurar (282º/2). SE-BC: manutenção da estabilidade dos preços - controlar
a inflação. Problema: nalguns casos a inflação pode ser positiva, reduzir a divida pública -
limitativo da política económica e monetária da União Europeia.

 Tem personalidade jurídica:

 Diferente do Banco Europeu de Investimento: conceder empréstimos, a projetos específicos


estruturantes da União Europeia (artigo 309º). Sede no Luxemburgo.

 Tribunal de Contas (Artigos 285º a 288º):

 Tem sede no Luxemburgo.

 É composto por um juiz de cada Estado-membro.

 Criado na década de 70.

 Tribunal de Contas nacional tem competencias jurisdicionais. Tribunal de Contas da UE não


tem.

 Tem como função, 287º/1, examinar as contas e as despesas (porque a UE tem um orçamento
próprio)

 287º/3º parágrafo: fiscalizar as receitas e a aplicação de dinheiros da UE; poderá


solicitar a colaboração do tribunal de contas português.
 Passou a ser considerado como instituição, com o Tratado de Lisboa.

 Outras instituições consultivas:

 Comité Económico e Social (artigos 300º e ss.): é composto por representantes dos diferentes
setores da vida económica e social; poderá ter, no máximo, 350 membros, com um mandato de 5
anos, renovável.

 Competência: meramente consultiva.

 Comité das Regiões (artigos 300º, 305º e 307º): é composto por representantes das autarquias
regionais e locais que sejam quer titulares de um mandato eleitoral a nível regional ou local, quer
politicamente responsáveis perante uma assembleia eleita; poderá ter, no máximo, 350 membros,
com um mandato de 5 anos, renovável.

 Competência: tem competência consultiva, que é, muitas vezes, obrigatória - podendo


emitir pareceres por iniciativa própria.

 Provedor de Justiça (artigo 228º): exerce as funções com total independência, sendo eleito pelo
Parlamento Europeu;

 Competência: receber queixas apresentadas por qualquer cidadãos da União ou


qualquer pessoa singular ou coletiva com residência ou sede estatuária num estado-
membro.

 Agências independentes: são entidades com personalidade jurídica e independência em relação às


instituições da União, têm autonomia financeira e são-lhes atribuídos poderes de natureza técnica,
científica ou de gestão específica.

 Poderão ser de três tipos: agencias e organismos descentralizados; agencias de


execução; agencias e organismos da Eurotom.

 Atualmente existem 6 agências.

 Agência de execução da Rede Transeuropeia de Transportes.

 Agencia de execução para a Competitividade e a Inovação.

 Agencia de execução para a Investigação.

 Agência de execução para a Saúde e os Consumidores.

 Agência de execução relativa à Educação, ao Audio-visual e à Cultura.

 Agência executiva do Conselho Europeu de Investigação.


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
A S A TRIBUIÇÕES DA U NIÃO E UROPEIA

1. PRINCÍPIOS GERAIS DE RELACIONAMENTO DA UNIÃO


EUROPEIA COM OS SEUS ESTADOS-MEMBROS
1.1. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO LEAL
O princípio da cooperação leal, ou principio da solidariedade, integra os princípios
essenciais do Direito da União Europeia desde o inicio do processo de integração europeia.
Conforme esclarece Ana Guerra Martins, deve ser entendido como uma manifestação de um
princípio mais vasto: o principio da boa fé. Atualmente, encontra-se previsto no artigo 4º/3 do
TFUE.
Em termos gerais, podemos distinguir-lhe alguns traços:
 Dimensão positiva: os Estados membros devem tomar as medidas necessárias ao
cumprimento da missão da União e devem assistir-se mutuamente.
 Dimensão negativa: os Estados membros devem abster-se de praticar atos que
ponham em perigo a aplicação dos tratados.
A importância deste principio é fundamental, repercutindo-se nas mais diversas formas de
atuação da União Europeia:
 No domínio externo: a cooperação leal deve ver-se cumprida entre os Estados-
membros e a União.
 No domínio interno: a cooperação leal deve ver-se cumprida entre as próprias
instituições europeias.

1.2. PRINCÍPIO DO ACERVO DA UNIÃO


O princípio do acervo da União surgiu na sequência dos sucessivos alargamentos das
Comunidades Europeias, e, apesar de não se encontrar consagrado explicitamente nos Tratados,
poderá ser retirado do artigo 1º/3ª parte.
Em termos gerais, consubstancia-se em:
 Dimensão jurídica: os Estados membros que aderiram à União Europeia devem
respeitar, na integra, o seu Direito.
 Dimensão política: os Estados membros que aderiram à União Europeia devem
respeita, na integra, as decisões politicas tomadas até ao momento.

1.3. PRINCÍPIO DO RESPEITO DAS IDENTIDADES NACIONAIS


O princípio do respeito das identidades nacionais pretende garantir o respeito pelos
fundamentos últimos que individualizam um Estado em relação aos outros e lhe conferem
especificidade. A ideia base do principio consta do artigo 3º/3/4ª parte e no artigo 4º/2 do Tratado da
União Europeia – pressupõe, assim, o respeito pela identidade cultural e ainda pela identidade
jurídica.

1.4. PRINCÍPIO DA ATRIBUIÇÃO


É um principio fundamental, que consta dos Tratados desde os primórdios do processo de
integração, ainda remontando ao período da Comunidade Económica Europeia. É um principio que,
em termos gerais, incide sobre a repartição de competências entre Estados Membros e a União.
Atualmente, está expressamente consagrado no artigo 5º do Tratado da União Europeia –
pressupõe uma atuação da União dentro dos limites das competências que os Estados membros
tenham atribuído nos Tratados; deduz-se, por exclusão de partes (artigo 5º/2 e 4º/1, TUE) que as
competências não atribuídas à União pertencem aos Estados-membros.

1.5. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE


Ao contrário do princípio da atribuição, que corresponde à repartição de competências, o
principio da subsidiariedade incide sobre o exercício dessas atribuições – terá sempre como
antecedente, assim, o princípio da atribuição, já que só se considera o exercício de determinada
competência, mediante a verificação se que a União tem efetivamente essa competência.
O principio da subsidiariedade encontra-se previsto no artigo 5º/3 do Tratado da União
Europeia, determinando que: nos domínios que não sejam da sua competência exclusiva, a União
intervém apenas se e na medida em que os objetivos da ação encarada não possam ser
suficientemente alcançados pelos Estados-membros, tanto ao nível centra como ao nível regional ou
local, podendo contudo, devido às dimensões ou efeitos da ação considerada, ser mais bem
alcançados ao nível da União. A aplicação deste princípio, nos termos do artigo 5º/3 do TUE, deve
ser efetuada em conformidade com o protocolo relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade
e da proporcionalidade – velando, os Parlamentos nacionais, pela aplicação de acordo com o
processo previsto no Protocolo.
Quanto ao particular, de facto, a grande novidade foi o direito atribuído aos Parlamentos
Nacionais de discordarem do seu Governo e contestarem a aplicação do principio.
Atualmente, é entendido, não apenas como um princípio político, mas também como um
princípio jurídico: é sindicável perante o Tribunal de Justiça da União Europeia, por forma a
apurar-se que entidade seria competente naquele momento. A sindicabilidade em tribunal permite
que o Estado-membro conteste o desrespeito pelo princípio.

1.6. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE


O princípio da proporcionalidade encontra-se expressamente previsto no artigo 5º/5 do TUE
– em virtude do princípio da proporcionalidade, o conteúdo e a forma da ação da União não devem
exceder o necessário para alcançar os objetivos do tratado. Em termos gerais, portanto,
compreende-se que o principio da proporcionalidade implica que a medida em causa deve ser
apropriada e necessária para atingir os seus objetivos.
No que respeita à operabilidade, o principio compreende dois testes: o teste a adequação e
o teste da necessidade. O teste da adequação procura perceber se o meio foi adequado a prosseguir o
fim. O teste da necessidade procura perceber se o meio foi necessário para prosseguir aquele fim.
Por fim, caberá ao tribunal analisar as consequências da decisão e concluir se as mesmas foram ou
não, excessivas, para a prossecução dos fins pretendidos – funciona como um último teste, o da
proporcionalidade em sentido estrito.

1.7. PRINCÍPIO DA FLEXIBILIDADE


O princípio da flexibilidade permite a um ou mais Estados-membros não participarem,
permanente ou temporariamente, em determinadas realizações da União quer por não o quererem
quer por não preencherem os critérios dessa participação. Assume duas formas distintas:
 As clausulas de opt-out para alguns Estados-membros em relação a certas matérias.
 As clausulas de cooperação reforçada.
2. AS ATRIBUIÇÕES DA UNIÃO EUROPEIA E DOS ESTADOS-
MEMBROS
 Competências dos Estados-membros: têm a competência das competências - aquelas que não
sejam conferidas a outra entidade (a nível supranacional ou infranacional). O Estado é o autor
prestigiado.
o Exemplos de matérias fora do domínio da União: políticas fiscais, políticas salariais
e os sistemas de segurança social.
 Competências da União Europeias: as competências estão limitadas pelo principio da
atribuição de competências - a UE só atua nas competências atribuídas.
o Competências Exclusivas (artigo 2º/1): só a União pode atuar.
 Os Estados membros podem atuar se houver uma habilitação pela União ou em
caso de atos de execução.
 Artigo 3ª: elenco de matérias.
o Competências Partilhadas (artigo 2º/2): ambos podem atuar.
 Os Estados membros exercem a sua competência na medida em que a união
não tenha exercido a sua (quando a União atua, os poderes deixam de ser
partilhados e passam a ser exclusivos – há preclusão da competência.
 Objetivos: evitar a discrepância entre a legislação nacional e o direito da união
europeia e garantir o primado do Direito da União Europeia.
 Artigo 4º: elenco de matérias.
o Competência de apoio (artigo 2º/5): tem na sua base uma lógica intergovernamental,
sem que se verifique a substituição da competência dos estados membros em
determinados domínios.;
 Há, assim, limite dos efeitos vinculativos dos atos jurídicos de apoio.
 São matérias em que os estados não consideram ser estritamente necessária a
intervenção da União Europeia e em não estão dispostos a abdicar da
soberania.
 Artigo 6º: elenco de matérias.
o Competência de cooperação (artigo 2º/3): as competências precisam de ser
concretizadas por normas de habilitação específicas da política em causa - artigo 2º/6.
 Artigo 5º: elenco de matérias.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
A C OOPERAÇÃO E NTRE J UÍZES N ACIONAIS E O T RIBUNAL DE
J USTIÇA D A U NIÃO E UROPEIA

1. OS TRIBUNAIS NACIONAIS COMO TRIBUNAIS COMUNS DA EU


A Ordem Jurídica da União Europeia só é verdadeiramente eficaz se beneficiar de uma
sólida garantia jurisdicional: ou seja, se for respeitada por todos os seus destinatários. Esta garantia
foi deixada a cargo de dois intervenientes:
 Tribunal de Justiça da União Europeia
 Tribunais Nacionais: são os aplicadores, por excelência, de uma grande parte das
normas de direito da União Europeia.
Há, por isso, uma aplicação descentralizada do DUE: para não pôr em causa a efetividade e
a uniformidade, o Tribunal de Justiça desenvolveu uma jurisprudência criativa em vários domínios –
respeita à responsabilidade extracontratual dos Estados-membros por incumprimento do Direito da
União e à competência dos tribunais nacionais para decretarem providências cautelares, fundadas no
DUE, com o objetivo de proteger os direitos subjetivos conferidos pela ordem jurídica da União.
Assim, cabe aos tribunais nacionais garantir a aplicação do direito da União Europeia na
ordem jurídica interna dos Estados-membros.

1.1. COOPERAÇÃO ENTRE TRIBUNAL DE JUSTIÇA E TRIBUNAIS


ESTADUAIS
Para garantir a aplicação do DUE, estabelece-se a cooperação entre o Tribunal de Justiça e
os tribunais nacionais: inicialmente, as relações que entre estes se estabelecem foram pensadas como
bilaterais ou horizontais – dado que o TJUE não tem competência para anular ou declarar a nulidade
de uma norma estadual que contrarie uma norma da União Europeia, assim como não foi concebido
como tribunal hierarquicamente superior. Contudo, atualmente, as relações não se concebem
estritamente bilaterais: em determinados aspetos, chegam inclusive a assumir natureza vertical.

1.2. AS QUESTÕES PREJUDICIAIS


Previstas no artigo 267º TFUE, também designado, o instituto, de reenvio prejudicial, este
procedimento pretende resolver situações em que o juiz nacional se vê confrontado com a
necessidade de aplicar uma norma da União e tem dúvidas sobre a interpretação ou validade da
concreta norma ou ato da União Europeia – é um mecanismo essencial para garantir a
uniformidade do DUE.
Para além destas situações, em que é facultativo o reenvio, este poderá assumir natureza
obrigatória: quando o tribunal nacional julga em última instancia e a questão é levantada.
No fundo, é um mecanismo que garante que o Direito comunitário é aplicável da mesma
forma em todos os Estados-membros. Conforme reconhece Ana Guerra Martins, o artigo 267º é uma
manifestação da especificidade da Ordem Jurídica da União.

1.2.1. O O BJETIVO DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS


(a) Garantir a aplicação descentralizada do DUE.
(b) Assegurar a uniformidade de interpretação e aplicação do DUE.
(c) Assegurar a estabilidade do Direito Derivado (apreciação da validade).
(d) Favorecer o desenvolvimento do DUE.
(e) Proteção jurídica dos particulares (ultima esperança de aplicação correta do DUE).
(f) Compensação pelas restrições impostas em sede de recurso de anulação –
impugnação de atos administrativos (artigo 263º - TFUE).

1.2.2. O Â MBITO DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS


A apreciação das questões prejudiciais, ou seja, a competência do TJUE, nos termos do
artigo 267º, incide sobre:
 Interpretação: Tratados (+ anexos e protocolos), atos adotados pelas instituições,
órgãos e organismos da União), todos os atos de Direito Derivado, acordos
internacionais em que a União é parte, decisões dos respetivos órgãos instituídos
por acordo internacional,
 Validade (tanto legalidade interna como externa): é irrelevante a designação do ato
– o relevante é o conteúdo; engloba - atos adotados pelas instituições, órgãos ou
organismos da União, acordos internacionais.
Há fontes de Direito da União Europeia fora da interpretação e apreciação da validade?
Justamente, como a apreciação da conformidade do Direito nacional com o Direito da União
Europeia e as situações puramente internas.

1.2.3. AS QUESTÕES FACULTATIVAS E AS QUESTÕES OBRIGATÓRIAS


O reenvio prejudicial poderá ter na sua base uma questão de natureza faculdade ou uma
questão de natureza obrigatória – conforme resulta da letra do artigo 267º, TFUE.
Quanto às questões de natureza facultativa: estas poderão ser colocadas em qualquer que
seja a fase em que se encontra o processo principal.
Quanto às questões de natureza obrigatória: quando as decisões não sejam suscetíveis de
recurso judicial; o TJUE faz, inclusive uma interpretação, no caso Foto-Frost, alegando a
obrigatoriedade sempre que se trate de uma dúvida de validade. Estão, de acordo com a interpretação
do tribunal, obrigados os órgãos jurisdicionais de acordo com a teoria do litígio concreto: o tribunal
cuja decisão não é suscetível de recurso judicial ordinário – não se reporta, apenas, aos tribunais
supremos (teoria orgânica – apenas tribunais do topo da hierarquia).
Há a notar que o TJ já reconheceu limites a esta obrigatoriedade quando já se haja
pronunciado por questão similar; quando a questão não for pertinente ou séria; quando a norma for
de tal forma evidente.
Em função da obrigatoriedade podem ser descortinadas duas sanções:
1. De acordo com a ordem jurídica da EU: processo por incumprimento (artigos 258º
a 260º, TFUE), que poderia ser acionado pela Comissão ou por qualquer Estado
membro.
a. Alternativo: em acórdãos recentes, o tribunal tem admitido a possibilidade
de responsabilidade do juiz nacional enquanto juiz comum do Direito da
União Europeia.
2. De acordo com o Direito Interno: poderão existir vias jurisdicionais aptas a
sancionar a violação do dever de suscitar questões prejudiciais obrigatórias.
a. Caso português: não se prevê qualquer sanção.

1.2.4. O PEDIDO
1. Não se exige nenhum formalismo: por norma, assume a forma de despacho, em que
se formula a questão e os seus fundamentos.
2. O pedido é da exclusiva competência do juiz nacional.
3. Não poderá haver convenção da restrição da obrigação nem poderão as partes
impedir a questão.
1.2.5. OS PODERES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA
 Acordão Costa C. ENEL: não conhece, o TJ, os mtivos nem os objetivos da questão
prejudicial.
 Pode recusar pedidos/questões que não considere pertinentes (quando não exista
litigio ou quando não haja aplicação do DUE) e não responder em casos que seja
desnecessário suscitar a questão.

1.3. EFEITOS MATERIAIS DO ACÓRDÃO PREJUDICIAL


 Acórdão interpretativo: obrigação do juiz nacional que suscitou a questão, devendo ser
esta a base na solução do litígio principal. Obriga, ainda, todos os juízes nacionais – todas as
instancias nacionais que se ocuparam do litigio.
o Consequências: a interpretação só pode ser posta em causa se posteriormente
houver uma modificação da norma ou das normas que com ela se relacionam e só o
TJ pode alterar a sua interpretação anterior.
 Declaração de validade: o TJ declara que o exame das questões que lhe foram suscitadas
não revela nenhum elemento de natureza a afetar a validade do ato – nada impede que sejam
invocados novos fundamentos de invalidade.
o Consequências: efeitos obrigatórios – o tribunal nacional não poderá recusar a
aplicação do ato ao caso concreto, com fundamento em invalidade, verificando-se o
mesmo em relação aos outros tribunais nacionais (caso Foto-Frost).
 Declaração de invalidade: obriga o juiz que suscitou a questão – este não poderá aplicar
um ato de DUE declarado inválido pelo TJ, salvo se o acórdão dispuser em sentido
contrário.
o Consequências: obriga todo e qualquer tribunal nacional, pois o ato declarado
inválido não deve ser aplicado. Apesar duvido, os tribunais nacionais não ficam
privados de suscitar novamente questões prejudiciais sobre o ato declarado
inválido.

1.4. EFEITOS TEMPORAIS DO ACÓRDÃO PREJUDICIAL


Problema: saber se o acórdão prejudicial se aplica aos factos ou situações que ocorram
antes da data em que este foi proferido.
 Acórdão interpretativo: tem efeito retroativo – a interpretação aplica-se ab initio.
Note-se que estes efeitos retroativos podem ser limitados (conforme já ocorreu, por
fundamento de estabilidade económica e segurança jurídica).
 Declaração de invalidade: tem efeitos retroativos – possibilidade de limitação, por
aplicação analógica do artigo 264º/2/TFUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS, SERVIÇOS,
PESSOAS E CAPITAIS

1. LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS


1.1. ABOLIÇÃO DE TARIFAS E IMPOSTOS À CIRCULAÇÃO INTERNA – E
MEDIDAS DE EFEITO EQUIVALENTE
A livre circulação de mercadorias, a primeira das quatro liberdades fundamentais do
mercado interno, é garantida através da eliminação dos direitos aduaneiros e das restrições
quantitativas, e da proibição de medidas de efeito equivalente. Encontra-se prevista nos artigos 26º e
28º a 37º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.
Pergunta-se: o que entender por encargos de efeito equivalente a direitos aduaneiros –
artigo 28º/1 e artigo 30º? O Tribunal de Justiça da União Europeia considera que qualquer
imposição, independentemente da sua designação ou meio de aplicação, «que aplicada a um produto
importado de um Estado-Membro, mas não a um produto nacional similar, tenha, ao alterar o seu
preço, a mesma incidência restritiva sobre a livre circulação de mercadorias que um direito
aduaneiro», pode ser considerada um encargo de efeito equivalente
Pergunta-se: o que entender por encargos de efeito equivalente a restrições quantitativas
– artigo 34º e 35º, TFUE? No acórdão Dassonville, o Tribunal de Justiça da União Europeia
considera que qualquer regulamentação comercial aplicada pelos Estados- Membros, que é
suscetível de entravar, direta ou indiretamente, efetiva ou potencialmente, o comércio
intracomunitário deve ser considerada medida de efeito equivalente a uma restrição quantitativa

1.2. EXCEÇÕES – RESTRIÇÕES PERMITIDAS


O artigo 36º do TFUE permite aos Estados-Membros adotar medidas de efeito equivalente a
restrições quantitativas, quando essas medidas são justificadas por um interesse geral não-
económico. Os Estados-Membros devem notificar a Comissão das medidas derrogatórias nacionais.
A fim de facilitar a supervisão de tais medidas derrogatórias nacionais, foram introduzidos
procedimentos de intercâmbio de informações e um mecanismo de controlo (como previsto nos
artigos 114.o e 117.o do TFUE

2. LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO DE SERVIÇOS


Como previsto no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia e reforçado pela
jurisprudência do Tribunal de Justiça Europeu, a liberdade de estabelecimento e a liberdade de
prestação de serviços garantem a mobilidade de empresas e profissionais na UE. Encontra-se
prevista nos artigos 26º, 49º a 55º e 56º a 62º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.

2.1. CONCEITO DE SERVIÇO, PRESTADOR DE SERVIÇOS E BENEFICIÁRIO


DE SERVIÇO
 Serviço: artigo 57º TFUE - noção muito ampla, situações que não estejam abrangidos pelas
outras liberdades circulatórias.
 Prestador de serviços: Os trabalhadores independentes e os profissionais ou as pessoas
coletivas.
 Beneficiário do Serviço:

2.2. DIREITO PRIMÁRIO DA LIVRE CIRCULAÇÃO DE SERVIÇOS


O direito de estabelecimento inclui o direito de aceder a atividades não assalariadas, como
trabalhador independente, e de criar e gerir empresas, para uma atividade permanente de natureza
estável e contínua, nas mesmas condições que a lei do Estado-Membro de estabelecimento fixar para
os seus nacionais.
A liberdade de prestação de serviços aplica-se a todas as prestações realizadas normalmente
mediante remuneração, na medida em que não sejam reguladas pelas disposições relativas à livre
circulação de mercadorias, de capitais e de pessoas. O prestador do serviço pode, para a execução da
prestação, exercer, a título temporário, a sua atividade no Estado-Membro onde a prestação é
realizada, nas mesmas condições que esse Estado-Membro impõe aos seus próprios cidadãos.
Em conformidade com o TFUE, as disposições relativas à liberdade de estabelecimento e de
prestação de serviços não são aplicáveis às atividades que estejam ligadas ao exercício da autoridade
pública (artigo 51.o do TFUE). Esta exclusão é, contudo, limitada por uma interpretação restritiva:
as exclusões só podem abranger atividades e funções que impliquem o exercício de autoridade; e
uma profissão no seu conjunto só́ pode ser excluída se toda a sua atividade for dedicada ao exercício
de autoridade oficial, ou se a parte que é dedicada ao exercício de autoridade pública for inseparável
da restante. As derrogações permitem aos Estados- Membros excluir do âmbito de aplicação destas
disposições a produção e o comércio de armas, munições e material de guerra (artigo 346.o, nº 1,
alínea b), do TFUE) e manter um regime especial para os estrangeiros por razões de ordem pública,
segurança pública e saúde pública (artigo 52.o, nº 1).

2.3. DIRETIVA BOLKENSTEIN


Neste contexto, a UE aprovou uma "diretiva de serviços", em 2006, também conhecida por
diretiva Bolkenstein (do nome do Comissário europeu responsável pela área do Mercado Interno)
que concretiza o princípio de liberdade de prestação de serviços.
Esta diretiva é essencial para a realização do mercado interno, devido ao seu enorme
potencial de consecução de benefícios para os consumidores e as PME. O objetivo consiste em criar
um mercado único aberto para os serviços na UE, garantindo simultaneamente a qualidade dos
serviços prestados aos consumidores no seio da União.

2.4. A LIBERDADE DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS POR ADVOGADOS


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
AS FASES DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA

1. QUADRO SÍNTESE
As fases da integração são essencialmente relevantes na medida em que, atualmente, são
componentes essenciais dos objetivos da União Europeia (artigos 3º/3 e 4 do TUE).

CONCRETIZA
FASES DE INTEGRAÇÃO CONTEÚDO
ÇÃO

Grupo de dois ou mais territórios aduaneiros


entre os quais os direitos aduaneiros são
ZONA DE COMÉRCIO eliminados para o essencial das trocas
EFTA
LIVRE comerciais relativas aos produtos originários
dos territórios constitutivos da zona (artigo
24º GATT)

Substituição e dois ou mais territórios


aduaneiros por um único território aduaneiro,
Segunda fase da
ou seja, envolve a eliminação de direitos
UNIÃO ADUANEIRA integração
aduaneiros e outras disposições comerciais
económica.
restritivas e a criação de uma pauta aduaneira
comum.

Envolve a fusão dos mercados separados,


Surge com o
abrangendo a livre circulação de factores de
Tratado
produção e o estabelecimento de condições
MERCADO COMUM Institutivo da
normais de concorrência e desenvolvimento
CEE (Tratado de
harmonioso do conjunto das economias. São
Roma).
eliminados os obstáculos as trocas.

Coexiste com a noção de mercado comum.


Alguma doutrina considera que, enquanto
mercado comum se cingia à livre circulação
de factores produtivos, o mercado interno Ato Único
MERCADO INTERNO
caracterizava-se pelo afastamento das Europeu.
barreiras alfandegárias e, especialmente, não
alfandegárias. Eliminação absoluta das
barreiras.
Tratado de
Maastricht (já
UNIÃO ECONÓMICA
referido no
AUE).
Tratado de
Maastricht (já
UNIÃO MONETÁRIA
referido no
AUE).
2. UNIÃO ADUANEIRA E LIVRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS
2.1 UNIÃO ADUANEIRA
A união Aduaneira vem prevista no Tratado sobre o funcionamento da União Europeia,
artigos 28 e 37. Esta União Aduaneira compreende:
 Estabelecimento de uma pauta aduaneira comum: estabelecimento de uma
fronteira Aduaneira comum em relação ao exterior, aos produtos produzidos fora do
território do conjunto dos estados membros.
 Abolição de todos os obstáculos alfandegários à circulação de produtos: as
mercadorias produzidas num dos Estados-Membros deviam poder circular
livremente em todo o território da união aduaneira, sem ser objeto de qualquer
direito aduaneiro ou mesmo de formalidade suplementar.

2.2 LIVRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS


A livre circulação de mercadorias foi realizada progressivamente e, em grande parte, em
virtude da jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia: foi este órgãos jurisdicional que
afirmou princípios essenciais à realização desta liberdade. Alguns exemplos: princípio da ilícita
regulamentação comercial que, atual ou potencialmente, direta ou indiretamente, constitua um
entrave à circulação de mercadorias; princípio do esgotamento de direitos; princípio do
reconhecimento mútuo das legislações.
Em matéria de circulação de mercadorias, pode esclarecer-se:
 Conceito de mercadoria: quaisquer produtos apreciáveis em dinheiro e suscetíveis,
como tais, de ser objeto de transações comerciais (interpretação pelo TJUE).
o Note-se que, nos termos do artigo 28/2: nesta liberdade podemos tanto
englobar produtos originários como produtos não originários (não
provenientes dos Estados-membros), desde que se encontrem, estes
segundos, em livre pratica (artigo 29º - ,escadórios provenientes de um
terceiro países, regularmente importadas e que cumprem as exigências
aduaneiras da Pauta Aduaneira Comum).
o O critério está na base da origem do bem: critério do lugar da última
transformação ou da operação substancial de complemento de fabrico que
conduza a um produto novo e original

2.3 OBSTÁCULOS À LIVRE CIRCULAÇÃO


Obstáculos à livre circulação proibidos: podem subdividir-se em: direitos aduaneiros e
medidas de efeito equivalente (artigos 30 a 32); restrições quantitativas e medidas de efeito
equivalente (artigos 34 e 35).
Quanto aos direitos aduaneiros, estes são entendidos como imposições financeiras
constantes da Pauta Aduaneira de um Estado, exigíveis aquando da realização de operações de
importação e exportação de mercadorias. O Tribunal de Justiça, dada a vagueia do conceito, veio a
definir o que seriam medidas de efeito equivalente: encargo pecuniário, ainda que mínimo,
unilateralmente imposto, quaisquer que sejam a sua designação ou técnica, incidência sobre
mercadorias nacionais ou estrangeiras, comunitárias ou não, em razão do simples facto de
transporem uma fronteira, qualquer que seja o momento da cobrança.
Quanto às restrições quantitativa, estas consistem em obstáculos que resultarem de
contingentes impostos às mercadorias admitidas a entrar ou sair de um Estado-membro, quer sejam
produzidos num Estado-membro, quer se encontrem em livre prática. Já o conceito de medida de
efeito equivalente, no que respeita às restrições quantitativas, trata-se de um caso mais problemático
é bastante debatido; ainda assim, em termos gerais, podemos delimitar: são medidas de efeito
equivalente disposições legislativas, regulamentares, administrativas, ou até de incitamento, que
constituam obstáculo às importações que poderiam ter lugar na sua ausência ou que tornem as
importações mais onerosas ou difíceis que o escoamento da produção nacional.

3. LIVRE CIRCULAÇÃO DE PESSOAS, SERVIÇOS E CAPITAIS


3.1. ESTATUTO DA CIDADANIA
Com a entrada em vigor do Tratado da União Europeia surgiu o conceito de cidadania da
União ou europeia: surge como conceito subjetivamente limitado, não equiparável aos homólogos
conceitos de cidadania. Corresponde, dada a inovação, a um novo status, atribuitivo de novas
possibilidades àqueles que já antes beneficiavam das liberdades de circulação e, em todo o caso, um
signo de supranacionalidade.
Serão, assim, cidadãos da União: aqueles que tenham nacionalidade de um Estado membro
– inclusive, o tribunal de Justiça da EU já veio afirmar que a perda de cidadania nacional, quando
co-envolva a perda de cidadania da União, pode ser objeto de avaliação de conformidade com o
direito da União Europeia, não sendo deixada em exclusivo a Estado.
Em termos práticos, o conceito de cidadania da União vem assumir-se como meio para a
aquisição de direitos novos ou de alargamento/reforço de direitos pré-existentes. Podemos encontra-
los no artigo 20º TFUE:
(a) Direito de circular e permanecer livremente no território dos Estados membros;
(b) Direito de eleger e ser eleitos nas eleições para o Parlamento Europeu, bem como
nas eleições municipais do Estado membro de residência, nas mesmas condições
que os nacionais desse Estado membro.
(c) Direito de, no território de países terceiros em que o Estado membro de que são
nacionais não se encontre representado, beneficiar de proteção das autoridades
diplomáticas e consulares de qualquer Estado membro, nas mesmas condições que
os nacionais desse Estado.
(d) O direito de dirigir petições ao Parlamento Europeu, o direito de recorrer ao
Provedor de Justiça Europeu e o direito de se dirigir às instituições e aos órgãos
consultivos da União numa das línguas dos Tratados e obter uma resposta na
mesma língua.

3.2. ESPAÇO DE LIBERDADE, SEGURANÇA E JUSTIÇA E A CIRCULAÇÃO


DE PESSOAS
O Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça foi introduzido, enquanto conceito autónomo,
pelo Tratado de Amsterdão: o artigo 3º/2 do TUE afirma hoje a autonomia deste espaço, face ao
mercado interno. É entendido como espaço sem fronteiras internas, onde é assegurada, quer a
liberdade de circulação de pessoas, quer a segurança, quer a justiça e o respeito pelos direitos
fundamentais (artigo 67º/1 TFUE). Encontra-se, essencialmente, regulado nos artigos 67º a 89º do
TFUE.
 Liberdade de circulação de pessoas: princípio da liberdade de circulação
incontrolada dentro das fronteiras dos Estados-membros; politica comum em
matéria de asilo, de imigração e de controlo de fronteiras externa; solidariedade
interna, equidade externa e respeito por condições essenciais de soberania nacional
(soberania territorial e monopólio do exercício da autoridade inerente à garantia da
ordem pública e da segurança interna).
3.3 LIVRE CIRCULAÇÃO DE TRABALHADORES
A livre circulação de trabalhadores já vem prevista nos Tratados desde 1957 (Tratado de
Roma), encontrando-se hoje vertida nos artigos 45º a 48º do TFUE. É entendida como liberdade
fundamental constituinte do mercado interno – atributiva, aliás, de direito fundamental (já afirmado
em acórdão pelo TJUE).
(a) Beneficiários: trabalhadores dos Estados-membros (artigo 45º/2, TFUE) – o que é
mesmo que dizer cidadãos da União.
a. Não abrange a livre circulação de nacionais de países estrangeiros, mesmo
que reconhecidas como trabalhadores num determinado Estado-membro.
b. O artigo 46º TFUE procede, no entanto, a um alargamento dos
beneficiários.
c. São igualmente abrangidos, não apenas trabalhadores, mas aqueles que
procurem trabalho e antigos trabalhadores.
d. De acordo com a jurisprudência do TJUE, podemos definir trabalhador:
i. Sujeito humano que exerceu, exerce ou pretende exercer uma
atividade económica.
ii. Circunstância de uma pessoa realizar, durante certo tempo, em
benefício de outro e sob a sua direção, as prestações em
contrapartida das quais recebe uma remuneração.
iii. O trabalho pode ser parcial ou de curta duração.
(b) Conteúdo do Direito de Livre Circulação:
a. Não discriminação em função da nacionalidade: igualdade no que toca ao
emprego, remuneração e demais condições de trabalho
b. Proibição de sujeição dos estrangeiros comunitários a regras especiais de
contratação ou a condições diversas.
c. Não deve depender da obtenção prévia de qualquer documento oficial do
Estado membro de acolhimento – deve, aliás, o acesso ser facilitado.
d. Os familiares dos trabalhadores nacionais beneficiam do mesmo princípio
de equiparação, bem como os filhos, do direito de conclusão dos Estudos
no Estado membro onde os pais exerçam a liberdade de circulação.
(c) Restrições e Exceções à Liberdade de Circulação
a. O âmbito de sujeitos que dispõem desta liberdade de circulação
(beneficiários).
b. A equiparação a cidadãos nacionais (que se consubstancia na não
discriminação em função da nacionalidade) pode ser limitada pela
igualdade material e por interesses públicos relevantes.
c. Exceção: artigo 45º/4 - permissão aos Estados-membros de reserva, para
os seus nacionais, dos empregos na administração pública (Tribunal
Constitucional inclusive já se pronunciou: aí contemplam casos que tenha
na sua base o exercício do poder político, quando estejam em causa
interesses gerais do Estados e das demais entidades públicas).
d. Artigo 45º/3 - a livre circulação pode ser limitada por razões de ordem
pública, segurança pública e saúde pública (conceitos estes que vêm sendo
desenvolvidos por diretivas).

3.4 LIVRE CIRCULAÇÃO DE SERVIÇOS


Já prevista desde os primórdios dos Tratados, a livre circulação de serviços vem hoje
prevista, enquanto componente essencial do mercado interno, no artigo 26º/2 do TFUE. A regulação
encontra-se dividida: direito de estabelecimento (artigos 49º-55º, TFUE); livre prestação de serviços
(artigos 56º a 62º, TFUE).
(a) O Direito de Estabelecimento: está em causa os serviços que impliquem o
estabelecimento.
a. Permissão: permite o exercício de atividades não assalariadas que
apresentem características de estabilidade e permanência.
b. Critério geográfico: quem se estabelece exerce noutro Estado membro a
profissão (não assalariada) de modo pleno e por inteiro.
c. Beneficiários: nacionais dos Estados membros (sejam pessoas singulares,
sejam pessoas coletivas).
d. Conceito de serviço: entendido de modo amplo.
e. Restrições e domínios de exceção:
i. Natureza de certas atividades, ligadas ao exercício de atividades de
autoridade pública – atividades que, só por si, constituam uma
participação direta e específica no exercício de autoridade pública
(estão excluídas as atividades típicas da profissão de advogado).
ii. Artigo 52º: justificação por razões de ordem pública, segurança
pública e saúde pública.
(b) O Livre Prestação de Serviços: pressupõe a livre prestação de serviços em sentido
estrito – encontrando-se regulada nos artigos 56º a 62º.
a. Serviços: prestações realizadas normalmente mediante remuneração, na
medida em que não sejam reguladas pelas disposições relativas à livre
circulação de mercadorias, de capitais e de pessoas.
i. Abrangência: atividade assalariada e atividade independente a
título permanente.
b. Beneficiários: os nacionais dos Estados-membro (sejam pessoas
singulares, sejam pessoas coletivas).
c. Distinção com o direito de estabelecimento: reside no caráter permanente
ou transitório da atividade desenvolvida.
d. Serviços objeto de tratamento específico: artigo 58º.
e. Restrições e domínios de exceção:
i. TJUE: permitem-se as restrições se justificadas pelo interesse
geral, indistintamente aplicáveis (não discriminatórias
formalmente), não pode ser exigida a submissão do país de origem
a regras comparáveis e as medidas se justifiquem à luz do
princípio da especialidade.

3.5 LIVRE CIRCULAÇÃO DE CAPITAIS


Enquanto “quarta” liberdade constitutiva do mercado, integrante do mercado interno,
prevista no artigo 26º/2, a liberdade de circulação de capitais foi a mais tardia, consta, atualmente,
dos artigos 63º a 66º do TFUE.
É um dos domínios da competência partilhada entre os Estados membros da União e a
União europeia: abrange tanto os movimentos de capitais entre Estados membros ou entre estes e
países terceiro, como a proibição de restrições aos pagamentos. A realização formal desta liberdade
completou-se após a entrada em vigor do Tratado de Maastricht e a jurisprudência, inclusive, já
afirmou o efeito direto das normas sobre livre circulação de capitais.
(1). Restrições e Domínios de excepção:
a. Os Estados membros podem manter em vigor restrições que vigorassem
internamente em 31 de Dezembro de 1993 (artigo 64/1, TFUE).
b. Desde que respeitem: princípios do interesse geral, da necessidade, da
proporcionalidade, da não discriminação; para garantir a eficácia dos
controlos fiscais, preservar a coerência do sistema fiscal, preservar o direito
do Estado a exercer a sua competência fiscal, combater atividades ilícitas
(fraude fiscal, tráfico de estupefacientes, terrorismo, branqueamento de
capitais).
c. Em domínios harmonizados, não podem os Estados membros manter em
vigor disposições nacionais que estabeleçam restrições aos movimentos de
capitais.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
DIREITO DA CONCORRÊNCIA

1. IDEIAS PRÉVIAS
A concretização de um mercado interno impôs, naturalmente, a regulação de uma política de
concorrência: por forma a garantir a ideal concretização das várias liberdades, enquanto
fundamentos essenciais para o funcionamento do respetivo mercado interno.

2. NORMAS DE DIREITO DA CONCORRÊNCIA


2.1. A PROIBIÇÃO DE COLIGAÇÕES ANTICONCORRENCIAIS (ARTIGO 101º
TFUE)
Nos termos d artigo 101º/1, do TFUE, a proibição de coligações anticoncorrenciais
pressupõe a verificação do preenchimento cumulativo de requisitos:
(1). Existência de duas ou mais empresas
a. Empresa: entidade económica autónoma ou unidade económica; qualquer
entidade que exerça uma atividade económica, independentemente do seu
estatuto jurídico e do modo de financiamento.
(2). Coligação entre elas, na forma de acordo, decisão de associação de empresas
ou prática concertada.
a. Prática concertada: quando o comportamento das empresas não é
suscetível de justificação economia plausível. Exemplo: fixação de preços;
quotização de mercado.
b. Decisões de associação de empresas: todas as decisões de associação
devem considerar-se abrangidas pelo preceito, exceto quando envolvam
atividades desprovidas de caráter económico e atividades da associação
que não lhe sejam imputáveis, ao Estado.
(3). Afetação do comércio entre os Estados-membros: permite excluir as situações
em que não se verifique a suscetibilidade de afetar o comércio entre os Estados–
membros; apenas ultrapassado este teste se pode configurar a aplicação das regras
de proibição.
a. Critério do Tribunal de Justiça da UE: um acordo deve, com base num
conjunto de elementos objetivos de facto e de direito, permitir vislumbrar
com um grau de probabilidade suficiente que possa exercer uma influência
direta ou indireta, atual ou potencial, sobre as correntes de troca entre os
Estados membros num sentido que possa prejudicar a realização do
objetivo do mercado único entre os Estados membros.
(4). Existência de uma restrição da concorrência que legitime a intervenção da
Administração para a defesa da liberdade de concorrência do mercado.
a. A verificação do pressuposto da restrição da competência determina a
competência da União: não elimina, nem prejudica, contudo, a subsistência
das legislações nacionais de defesa da concorrência; assim como não
impede a aplicação das próprias normas interditivas da União.
Uma das reformas mais importantes em matéria de concorrência foi a abolição do
monopólio da Comissão para a concessão de isenções individuais e a afirmação prática do efeito
direto do artigo 101º/3.
Para que se verifique a isenção, tanto individual como categorial, são:
 O acordo deve contribuir para melhorar a produção ou a distribuição dos produtos
ou serviços, ou para promover o progresso técnico e económico.
 Reservar aos utilizadores uma parte equitativa do lucro dele resultante.
 Apenas impor restrições que se mostrem indispensáveis.
 Não dar às partes a possibilidade de eliminar a concorrência relativamente a uma
parte substancial dos produtos em questão.

2.2. A PROIBIÇÃO DOS ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE (ARTIGO 102º


TFUE)
O direito da União Europeia proíbe, ainda, nos termos do artigo 102º, os abusos de posição
dominante, que pressupõem a verificação de vários pressupostos:
(1). Afetação do comércio entre os Estados-membros: nos mesmos termos que a
proibição anterior.
(2). Existência de uma posição dominante: a existência posição dominante é avaliada
em relação a um mercado relevante;
a. Posição dominante: pode resultar da dependência dos clientes na fase pós-
venda, de um monopólio de facto reforçado por um conjunto de acordo, do
progresso tecnológico, de uma atribuição de direitos exclusivo para
garantia de um serviço de interesse económico geral ou ainda da
titularidade de um direito de propriedade intelectual.
b. A posição dominante por ser individual ou coletiva.
i. Requisitos da posição dominante coletiva: cada membro do
oligopólio dominante deve poder conhecer o comportamento dos
outros membros, a fim de verificar se eles adotam ou não a mesma
linha de ação; a situação de coordenação tácita tem de se manter
no tempo; a reação previsível os concorrentes atuais e potenciais,
bem como dos consumidores não põe em causa os resultados
esperados da linha de ação comum.
c. Verificação da posição dominante: apurar a quota de mercado; a
independência de comportamento relativamente aos outros operadores
económicos no mercado.
(3). Abuso dessa posição dominante.
a. Prática de preços predatórios:
b. Vendas ligadas:
c. Recusa de fornecimento de determinados produtos ou prestações de
serviços.
Quando se verifiquem situações de abuso de posição dominante, pode haver lugar a
sanções: o regulamento n1/2003 prevê a aplicação, pela Comissão, de coimas e sanções pecuniárias
compulsórias (artigos 23º e 24º), em montantes que podem atingir até 10% do volume de negócios
mundial das empresas infratoras. Pode, ainda, verificar-se a imposição de soluções de conduta ou
de soluções de caráter estrutural: as soluções de caráter estrutural só podem ser impostas quando
não houver solução de conduta igualmente eficaz ou quando qualquer solução de conduta
igualmente eficaz for mais onerosa para a empresa do que a solução estrutural.

2.3. CONCENTRAÇÕES DE EMPRESAS


 É uma das formas de atividade reguladora da defesa da concorrência, que visa corrigir as imperfeições do
mercado;

 A prevenção da concentração de empresas tem por objetivo evitar que o mercado relevante seja por falta de
liberdade de concorrência;

 Pretende-se evitar que da concentração de empresas surjam:

 Posições dominantes suscetíveis de entravar a concorrência;

 Redução substancial do nível de concorrência;

 Legislação relevante:

 81º/f) da CRP;

 3º, 101º, 102º e 103º do TUE;

 119º, 120º, 127º e 170º do TFUE;

 Regulamento das Concentrações: Regulamento CE nº139/2004;

AQUISIÇÃO DE EMPRESAS
 A intervenção do direito da concorrência é no sentido de evitar que operações de aquisição de empresas
possam pôr em causa o funcionamento livre do mercado;

 Empresa deve ser entendido em sentido amplo, como qualquer entidade que exerça uma atividade
económica, independentemente do seu estatuto jurídico e do modo de funcionamento, isto é, qualquer
atividade consistente na oferta de bens ou serviços num determinado mercado (neste âmbito, acórdão do
TJUE de 10 de Setembro de 2009);

 Para efeitos de apreciação da concentração, só relevam aspetos derivados das circunstâncias de facto e de
direito existentes no momento da notificação dessa operação.

MODOS DE CONCENTRAR:
 Fusão (3º/1/a) do Regulamento das Concentrações):
 Quando duas empresas deixam de existir enquanto tais e são substituídas por uma nova e única
empresa, ou quando na sequência da fusão apenas uma das empresas subsiste;

 Para permitir este tipo de operações, a Comissão Europeia geralmente impõe a assunção de
compromissos estruturais, com vista a excluir o risco de formação de monopólios;

 União ou junção de facto: modalidade de fusão em que duas empresas formam uma unidade
económica, estabelecendo uma gestão económica comum, partilhando e compensando
mutuamente lucros ou perdas. É uma figura controversa porque pode pôr em causa a existência
de fusão verdadeira no caso concreto;

 Aquisição por controlo (al. b)):


 Forma mais comum de fusão;

 Dá-se quando, por exemplo, por meio de uma troca de ações, uma empresa adquire o controlo de
outra. Implica a possibilidade de exercer, isoladamente ou em conjunto, uma influência
determinante sobre a atividade de uma empresa, nomeadamente:

 Aquisição da totalidade ou de parte do capital social;

 Aquisição de direitos de propriedade, de suso ou de fruição sobre a totalidade ou parte


dos ativos da empresa;

 Aquisição de direitos ou celebração de contratos que confiram uma influência


preponderante na composição ou nas deliberações dos órgãos de uma empresa;

 Não é necessário que esse exercício da influência determinante esteja a acontecer, bastando que
seja possível;

 Não é necessário que a aquisição de participação social de pelo menos 50%, podendo uma
“minoria qualificada” já constituir aquisição por controlo;
 Processo Warber/Lambert/Gillette: Gillette adquire 22% do capital social do seu
principal concorrente. A CE entendeu que isto prejudicava seriamente a concorrência
no mercado;

 Outro aspeto que a CE pretende evitar é a coordenação do comportamento concorrencial de


empresas;

 Criação de uma empresa comum “de pleno exercício” (al. a) do mesmo artigo):
 Quando duas ou mais empresas constituem uma nova empresa que atuará no mercado, podendo
substituir uma ou mais das empresas-mãe;

 As empresas deixam de ser independentes entre si, formando uma empresa comum que
desempenhe de forma duradoura as funções de uma entidade económica autónoma (art. 3º/4,
RC);

 Também designadas full-function joint venture;


 Requisitos para aplicação de normas de concentração:

 Seja controlada conjuntamente por duas ou mais empresas;

 Entendido como influência determinante sobre uma outra empresa,


bloqueando medidas que determinam o seu comportamento empresarial
estratégico;
 Seja constituída de forma duradoura;

 Seja uma entidade económica autónoma;

 Significa que atua diretamente no mercado, p.e., poder vender produtos ou


serviços a terceiros.

A NOTIFICABILIDADE DAS CONCENTRAÇÕES


 Em qualquer caso em que se verifique existir uma concentração, há necessidade de submeter esse negócio à
aprovação das autoridades de defesa da concorrência competentes;

 O Regulamento da Concorrência tem um sistema de controlo prévio: art. 4º/1;

 A Comissão Europeia tem competência exclusiva para a apreciação das operações de concentração
de empresas cobertas pelo DUE (art. 21º/2);

 Só são objeto de controlo as concentrações de dimensão comunitária, determinada no art. 1º/2 do


Regulamento, segundo um triplo critério:

 Cálculo do volume de negócio das empresas em causa (limiar de mais de 5 mil milhões);

 Volume de negócios realizado individualmente por pelo menos duas das empresas (superior a 250
milhões, salvo se cada uma das empresas realizar mais de dois terços do seu volume de negócios
num único Estado membro;

 São relevantes valores inferiores, em determinadas circunstâncias;

 O que não compete à CE por não ser concentrações de dimensão comunitária, é competência das
autoridades da concorrência dos Estados-membros;

 Exceção: 22º do Regulamento e possibilidade do art. 4º/5

 Obrigatoriedade da notificação (art. 4º do Regulamento);


 A notificação suspende a operação (art. 7º);

 Pode ser feita em qualquer momento anterior ou posterior à conclusão do acordo, mas antes da
sua efetivação (4º/1);

 A CE pode aplicar coimas e/ou sanções pecuniárias compulsórias para sancionar o


incumprimento da obrigação de notificação prévia (art. 14º/2/a) e art. 15º/1 do Regulamento);

 A CE tem a obrigação de deliberar em prazo estritos, normalmente 25 dias úteis, sob pena de haver um
deferimento tácito.
AS EXCEÇÕES AO CONTROLO PRÉVIO: AS “NÃO CONCENTRAÇÕES”
 Situações excecionais expressamente previstas no Regulamento em que o legislador considera que não se
dá uma alteração duradoura do controlo sobre a empresa e da estrutura do mercado:

 Aquisições por instituições de crédito de participações em empresa não financeira:

 Desde que adquiridas de forma não duradoura e detidas a título temporário, por prazo
em princípio não superior a um ano e para fins de revenda (art. 3º/5/a) do
Regulamento);

 Aquisição por sociedades financeiras, sob reserva de que o direito de voto não inclua
formas de determinar o comportamento concorrencial da empresa adquirida (art.
3º/5/al. c);

 Aquisição de participações no quadro do processo especial de recuperação de empresas e de


insolvência (art. 3º/5/al. b) do Regulamento);

 Aquisição de participações com funções de mera garantia.

2.4. AUXÍLIOS DE ESTADO

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