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Duarte Canau
1. Etapas do Processo de Construção Europeia
Fases de Integração Económica:
- Zona do Comércio Livre ( eliminação dos entraves tradicionais às relações
comerciais entre Estados e a garantia de livre circulação de mercadorias nas
relações entre Estados participantes);
- União Aduaneira ( a livre circulação de mercadorias é alargada a todos os
produtos e a aplicação de uma pauta aduaneira comum na relação com o
mundo exterior);
- Mercado Comum ( acrescenta ainda a livre circulação de fatores
produtivos como o capital e mão-de-obra e ainda um processo de
harmonização das legislações nacionais);
- União Económica e Monetária ( a coordenação das políticas económicas
sociais, financeiras e monetárias, ainda a harmonização das legislações
nacionais, comportando ainda a união monetária );
1.1. Etapa de Transição ( 1958-1968)
Anteriormente ao estabelecimento da CECA, é importante estabelecer um dos
mais importantes momentos da integração europeia, a Declaração Schuman:
No dia 9 de Maio de 1950 é proferida a Declaração de Schuman, vista como o
passo decisivo que pôs em marcha o processo de integração europeia e conduziu à
criação da CECA ( Comunidade Europeia do Carvão e do Aço). Na sala do
relógio do Quai d’Orsay,Schuman anuncia o seu plano ( concebido também por
Jean Monnet, Paul Reuter, Etienne Hirsch e Pierre Uni). O seu plano repousava
no objetivo imediato de reconciliação franco-alemã, propondo a gestão em
comum do seu carvão e do aço, os dois produtos que alimentavam o esforço da
guerra, sendo que Jean Monnet idealizava esta parte do plano assentava
principalmente na criação de um grande mercado.
O seu outro objetivo ( sendo este visto como mediato), era a criação da Federação
Europeia, uma ideia muito mais ambiciosa. As condicionantes expostas para esta
ideia por Schuman incidiam em primeiro lugar, na solidariedade de facto entre os
envolvidos.
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Schuman via uma grande abertura para a adesão de outros Estados Europeus,
sendo que a Alemanha e França formariam a “ primeira base concreta de uma
federação europeia indispensável à preservação da paz”. Esta ideia havia já sido
apreciada por ilustres filósofos e visionários, como o já referido Vítor Hugo, que
imaginava os “ Estados Unidos da Europa”, pacíficos e inspirados num ideal
humanitário.
Para alcançar o plano delineado apostar-se-ia num caminho de integração dos
mercados e uma abordagem setorial e progressiva, em vez da vista como “ brusca”
instituição de uma união política. A Europa deveria avançar em pequenos passos:
graduais ( na tocante aos seus avanços) e irreversíveis ( nos efeitos de integração
alcançados).
A declaração de Schuman contém também um novo conceito de
supranacionalidade. A ideia de supranacionalidade, não era nenhuma novidade,
anteriormente tinha sido desenvolvida por filósofos como Nietzsche e escritores
como George Scelle (que qualificava a Sociedade de Nações como uma
organização superestadual).
Apesar do conceito não ser referido de modo concreto, as condições de existência
e funcionamento da Alta Autoridade Nacional, como as de um órgão
supranacional, visto que as suas decisões seriam vinculativas para ambos os países e
a composição assegurada por personalidades independentes. Veja-se também que
o artigo 9º do Tratado da CECA viria a referir expressamente a
supranacionalidade que fazia recair sobre os membros da Alta Autoridade o dever
de não praticar atos incompatíveis com a “ natureza supranacional” das suas
funções.
Schuman institui também um ingrediente importante no que toca à vinculação
dos Estados-membros pelas decisões tomadas pelos órgãos de autoridade, sendo
que estas mesmas decisões teriam como objetivo uma gestão do interesse comum .
Outros ingredientes para a “supranacionalidade” enunciados na Declaração de
Schuman incluíam: a participação dos Governos dos Estados-membros na
nomeação dos órgãos; a instituição de mecanismos de tutela jurisdicional da
legalidade dos atos adotados pela autoridade comum.
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O antigo chanceler da República Federal da Alemanha, Konrad Adenauer
exprimiu o seu acordo à proposta de gestão comum do carvão e do aço mas foi
ainda mais longe dizendo que este seria “ o ponto de partida para a realização de
uma estrutura federativa da Europa”. Também os países do BENELUX ( Bélgica,
Países Baixos e Luxemburgo) e a Itália aceitaram o convite francês e resolveram
participar nesta iniciativa, a verdade é de que desde o início que a intenção de
Schuman contemplava o pensamento de um espaço aberto a outros Estados
Europeus, sendo que este seria o “ ano zero da integração europeia”.
Contudo em Junho de 1950, iniciou-se a Guerra da Coreia, com os Estados
Unidos a pressionar a Europa Ocidental, esta foi obrigada a tomar em conta o
problema da sua defesa face ao perigo resultante do expansionismo ideológico e
militar dos regimes comunistas, em especial, a ameaça da URSS. Ainda por mais, a
França receava o renascimento de um exército na República Federal da Alemanha,
apresentando o esboço da Comunidade Europeia de Defesa , indo os franceses
mais longe anos mais tarde no auge desta ideia nacionalista, falando na formação
de um exército europeu. Tudo isto tornou claro que a integração política europeia
nunca seria uma construção de visionários, intelectuais e homens de Estado. O
desdouro que veio desta tentativa em 1954 veio a trazer realismo e rigor ao
método funcionalista anunciado pela Declaração Schuman.
Na altura, o cepticismo causado por esta tentativa foi contrariada pelos países do
BENELUX e a Itália, que convocaram uma conferência entre os 6 países para
Messina em Junho de 1955. Beyen e Spaak ( ministro holandês e belga
respetivamente), apresentaram uma proposta de “ relançamento europeu” sobre as
bases do desenvolvimento da estrutura orgânica da decisão comum, a fusão
progressiva das economias e a criação e harmonização das políticas sociais. Desfeita
a construção europeia pela via da integração política retoma-se o caminho da
“solidariedade de facto”. O relatório desta reunião, o relatório de Spaak tinha o
esquema das 2 comunidades e viria a constituir a base das negociações que resulta
na assinatura em 1957 do Tratado de Roma, que institui a CEE ( Comunidade
Económica Europeia), que pretende o estabelecimento de um mercado comum,
com regras a aplicar a todos os domínios da atividade económica. Com a criação
da CEE, o seu alargamento e aprofundamento, assistimos ao triunfante projeto de
unidade europeia, sem deixar de ser político e visionário, alimentado pela força
que resulta da unidade sinérgico.
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O primeiro objetivo estabelecido pelo Tratado da CEE era a realização da união
aduaneira ( eliminação dos entraves tradicionais às relações comerciais entre os
Estados e a garantia da livre circulação de mercadorias nas relações entre Estados).
Era também vista a questão do Mercado Comum, com regras que visavam
assegurar a liberdade de circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais,
exigindo também um número de políticas comuns ( Agrícola, Pescas e Comercial).
1.2. Etapa da Idade Adulta ( 1969 -1992)
Quando Georges Pompidou convocou a Cimeira de Chefes de Estado e de
Governo, isto após da desconfiança do seu antecessor ( Charles de Gaulle) sobre a
concepção dos Estados e da existência de instituições supranacionais. Esta Cimeira
teria em vista 3 grandes questões da construção europeia e realizou-se em Haia em
1969:
i) Acabamento ( concluir a realização do Mercado Comum, garantindo o
financiamento das políticas comuns através de recursos próprios);
ii) Aprofundamento ( desenvolvimento das políticas comuns como políticas de
acompanhamento);
iii) Alargamento( abertura das negociações com o Reino Unido);
Membros Originais da CECA ( 1951, Paris) → Bélgica, França, Holanda, Itália,
Luxemburgo e RFA
1º Alargamento (1973) → R eino Unido, Irlanda e Dinamarca
2º Alargamento ( 1981) → G récia
3º Alargamento ( 1986) → P ortugal e Espanha
4º Alargamento ( 1995) → Á ustria, Finlândia e Suécia
5º Alargamento ( 2004) → República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia,
Polónia, Chipre, Malta, Hungria, Eslovénia, Eslováquia
6º Alargamento ( 2007) →Roménia e Bulgária
Com a duplicação dos seus Estados Membros num curto espaço de tempo (
justamente em relação à entrada de 10 membros num só ano), deu-se a atualização
da matriz comunitária de integração.
Isto deu-se nomeadamente através de um processo de revisão de fundo dos 3
tratados institutivos das Comunidades Europeias, com o AUE ( Ato Único
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Europeu) . Assim em 1987, surgiram determinadas disposições que aprofundaram
o projeto de integração comunitária existente :
- alargou os poderes do Parlamento Europeu;
- clarificou a função executiva da Comissão;
- previu a criação do TPI ( Tribunal de Primeira Instância);
O AUE reforçou as políticas comunitárias e atribui novos poderes às
Comunidades Europeias com o intuito de facilitar a realização de um verdadeiro
mercado interno ( um espaço sem fronteiras internas, no qual a livre circulação
das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais).
O AUE previa ainda um modelo comunitário de desenvolvimento baseado na
coesão económica e social, tendo como instrumento fundamental a coordenação
dos fundos estruturais.
Consagra também uma forma de cooperação intergovernamental em matéria de
política externa e exprimia também a vontade dos Estados- Membros em criar e
pôr em funcionamento a União Europeia.
1.3. A Etapa da Idade Futura ( 1993- 2009)
No início dos anos 90, vários acontecimentos marcaram o mundo nomeadamente
o fim da Guerra Fria e o termo da “ órbita soviética” na Europa. Em 1983 o
Conselho Europeu de Estugarda chegou a uma acordo sobre a forma de uma “
Declaração Solene sobre a União Europeia” que firmou um compromisso de
democratizar e aprofundar o acervo comunitário. Depois da entrada em vigor da
AUE, a convergência económica passou a constituir uma prioridade da agenda
política europeia, como pressuposto da união política.
Mais tarde o Plano de Delors ( 1989) preconizava a realização de:
- União Monetária ( como através da liberalização total de movimentos de
capitais e integração completa dos mercados bancários);
- União Económica ( garantias de um funcionamento de um grande
mercado único);
Em 1993, entraria em vigor o Tratado de Maastricht ou ( Tratado da União
Europeia) incorporou as seguintes alterações:
- criação da União Europeia e consagração do nome oficial “ União
Europeia”;
- previsão de políticas de cooperação intergovernamental ( como o PESC ou
o JAI);
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- reconhecimento de um estatuto de cidadania da União;
- Reforço significativo do Parlamento Europeu e dos seus poderes,
conseguindo participar no processo comunitário de decisão em pé de
igualdade com Conselho
Ficou agendado no Tratado de Maastricht para 1996 a abertura de uma nova
conferência intergovernamental destinada a “ analisar, de acordo com os objetivos,
das disposições comuns do presente Tratado”. O reconhecimento de que seria
necessário ir mais longe no processo iniciado de realização de uma “ união cada vez
mais estreita entre os povos da Europa”. Assim o Tratado de Amesterdão (
2/10/1997), consagrou:
- União Europeia e Cidadania ( com objetivo de aproximar a União do
cidadão, também com o aprofundamento de políticas comunitárias
relacionadas com a coesão económica e social);
- Liberdade, Segurança e Justiça ( instituiu mecanismos de decisão
comunitária sobre matérias de cooperação intergovernamental e a
realização plena da livre circulação de pessoas no contexto de um espaço
europeu de liberdade, segurança e justiça ( ELSJ) ;
- Direitos Fundamentais ( instituição de um procedimento de uma tutela
política que, no caso de se verificar uma violação grave e persistente dos
princípios da liberdade, da democracia e dos Direitos Fundamentais, podia
conduzir à aplicação de sanções ao Estado-Membro infrator);
Do ponto de vista político o Tratado limitou-se a aprofundar pressupostos de um
funcionamento mais eficaz da União Europeia. Do ponto de vista jurídico,
alargou o âmbito de limitação da soberania dos Estados às matérias do asilo,
imigração, vistos e outras relacionadas com a livre circulação de pessoas.
O caminho das transformações estruturais da UE, ficaram altamente alterados
pelo marco fundamental que foi o estabelecimento da moeda única ( EURO)-
01/01/1999. Isto com base nos critérios de convergência enunciados no Tratado
de Maastricht, tendo sido aprovado pelo Conselho ( com a aderência de alguns
Estados Membros, com outros a optarem por não entrar na moeda única, como o
caso do Reino Unido), entrando em Vigor em 2001.
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O Tratado de Nice, aprovado em 2001 apenas entrou em vigor em 2003 devido
aos processos internos de aprovação1. O Tratado de Nice concretiza o objetivo do
acabamento da reforma institucional assinalada pelo Tratado de Amesterdão
como necessária ao funcionamento de uma UE com muitos mais Estados
membros. As suas principais modificações foram:
i) Estrutura Institucional:
- Parlamento Europeu ( fixação do número máximo de deputados e o
reforço dos poderes desta instituição, mercê da extensão do âmbito da
co-decisão);
- Comissão ( limitação do número de membros e a alteração do
procedimento da nomeação dos comissários e reforço dos poderes do
Presidente);
- Tribunal da Justiça ( garantia de composição igualitária entre os Estados
-membros e criação de uma secção especial no TIJ);
ii) Processo de Decisão:
- Extensão dos Procedimentos por maioria qualificada ( alteradas no
sentido de substituir, a exigência pela unanimidade qualificada);
- Extensão do âmbito do Procedimento de Co-Decisão;
- Cooperações reforçadas;
iii) Outras Alterações:
- Adaptação de Cláusulas em relação aos Direitos Fundamentais;
- Cooperação judiciária em matéria penal ( criação do EUROJUST);
Mais tarde foi realizado o Conselho Europeu de Laeken, que previu uma nova
Convenção - a Convenção sobre o Futuro da Europa elaborou a Carta dos
Direitos Fundamentais da UE. A fase seguinte desta Convenção passou pela
discussão da feitura do anteprojeto de um Tratado que estabelece uma
Constituição para a Europa. A Constituição Europeia ( influenciada pela
Convenção de Filadélfia), não defendia soluções muito diferentes daquele que
viria a ser um prudente Tratado ( Tratado de Lisboa). O TECE , assinado em
Roma estabeleceu determinadas soluções que passavam por uma visão da Europa
como Estado Federal, que acabariam por alimentar vários Estados-membros e
fazer crescer o movimento anti-Constituição.
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O caso da Irlanda que fez 2 referendos sobre o mesmo Tratado
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Os referendos negativos em França e na Holanda ( 2005) mergulharam a Europa
numa profunda crise política. Com o processo de ratificação em curso, tornou-se
evidente que não iria existir futuro para a Constituição Europeia. A ambição
retórica de um programa constitucional para a Europa lançou os
Estados-membros numa trajetória perigosa. A crise transformou-se numa
oportunidade de avaliação das soluções alternativas guiadas pela perspetiva de
avatares sem ruptura.
Assim com o anúncio do Conselho Europeu do óbito da Constituição Europeia
(2007) , os Estados-membros invocam o objetivo de fazer assentar a UE sobre
bases comuns renovadas até às eleições do Parlamento em 2009.
Surge então o Tratado de Lisboa, que mantendo em larga medida as soluções
vertidas na Constituição Europeia, assentou num processo de “
desconstitucionalização”, que ultrapassa os aspectos relacionados com a nova
designação e a supressão de disposições de analogia federal.
Apesar de terem surgidos novos problemas em relação à assinatura por parte de
determinados países ( como a Irlanda), a crise financeira introduziu um novo
elemento na equação, a necessidade de elaborar um plano de resgate para a Europa
e a necessidade de uma Europa Unida e politicamente ativa. O Tratado de Lisboa
é assim assinado no dia 1 de Dezembro de 2009.
2. Sistema Institucional da União Europeia
2.1. Características estruturais do Sistema Institucional
A evolução do quadro institucional ( que está traçado no art.13º.1 TUE) da UE
foi encaminhada por 2 vetores programáticos:
- unificação dos órgãos que conduziria à definição de um quadro
institucional único;
- necessidade de adequar o suporte institucional ao incremento de poderes e
funções confiados ao decisor eurocumintário que levou à criação de novos
órgãos;
As demais instituições têm como fonte de legitimidade:
- legitimidade democrática ( o caso da eleição por sufrágio directo e
universal do Parlamento Europeu);
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- legitimidade governamental ( como é o caso do Conselho que tem
representantes dos vários Estados-membro);
- legitimidade comunitária ( A Comissão cujos membros são escolhidos em
função da sua competência);
A autonomia que caracteriza as demais instituições pode ser:
- externa ( resulta do grau de independência da própria UE na sua relação
com os Estados-membros e também do regime associado às organizações
internacionais de privilégios e imunidades);
- interna ( envolve o poder de auto-organização com uma prerrogativa
inerente de organização de serviços);
Sedes da União Europeia:
- Bruxelas( Comissão e Conselho Europeu);
- Luxemburgo( Tribunal de Justiça);
- Estrasburgo( Parlamento Europeu);
2.2. Princípios Fundamentais de vinculação Institucional
A atuação das diferentes instituições, órgãos e organismos rege-se por princípios e
regras previstos no texto dos Tratados e de normas para a sua aplicação, revelados
pela jurisprudência comunitária. Um bloco de legalidade euro comunitária
constitui fundamento e limite para a ação desenvolvida pelas estruturas orgânicas
de decisão. Todos os princípios produzem o assinalado efeito de conformação do
decisor da UE.
- Princípio do Equilíbrio Institucional:
A estrutura da União e a repartição de competências entre os diversos órgãos que
não correspondem ao modelo clássico da separação tripartida de poderes. O
modelo da UE é um que assenta na bipartição entre poder governativo e poder
judicial.
A função legislativa é exercida em regra em sistema de co-decisão ( Parlamento
Europeu e Conselho). A heterodoxia resulta de 2 princípios construtivos:
- repartição horizontal ( poderes entres as diferentes instituições de decisão
política);
- repartição vertical ( poderes entre os Estados-membros e a UE);
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Este princípio está subentendido no 13º.2 TUE, sendo que o TJUE define o
princípio como “ cada órgão exerce as suas competências no respeito das
competências dos outros no quadro de um sistema de repartição de competências
entre os diferentes Órgãos da Comunidade e, no caso de se verificar uma violação.
No princípio do equilíbrio institucional sobreleva a ideia do respeito das relações
interinstitucionais ( dinâmica dos poderes). O controlo da legalidade da UE é mais
exigente, as instituições devem exercê-lo de um modo que não afete as
prerrogativas das restantes instituições.
- Princípio do Respeito pelo acervo comunitário
Essencialmente reconduz-se a “ ao tornarem-se membros da UE, os Estados
aceitam sem reservas, os tratados e as suas finalidades políticas, as decisões de
qualquer natureza tomadas depois da entrada em vigor dos tratados e as opções
feitas no domínio do desenvolvimento e do reforço das Comunidades”.
- Princípio da Cooperação Leal
Este princípio pode ser interpretado com uma exigência básica de “não-
contradição”, impondo coerência de atuação, traduzida na obrigação de adoptar o
comportamento que se mostre mais favorável ao cumprimento das obrigações
previstas nos Tratados ( 4º.3 TUE).
É um princípio visto com um caráter bilateral, que promove a cooperação
interinstitucional ( exige das instituições um comportamento que facilite a
tomada de decisões e torne mais eficaz a atuação em ordem de garantir o
cumprimento do DUE - 13º.2 );
- Princípio da Transparência:
A atuação institucional segundo critérios de transparência é um princípio de
formação relativamente recente no DUE. Como é explícito no Tratado de
Maastricht “ a transparência do processo decisório reforça o caráter democrático
das Instituições e a confiança do público na Administração”.
Subjacente a este princípio está o direito fundamental de acesso aos
documentos ( 42º Carta dos Direitos Fundamentais UE).
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3. Instituições Políticas
3.1. Parlamento Europeu
Composição:
É composto pelos representantes dos cidadãos da União, eleitos por sufrágio,
universal, direto, livre e secreto, por um mandato de 5 anos ( 14º.2 e 3 UE). O
atual modelo de eleição é direto pelos cidadãos de todos os Estados-Membros que
são, cidadãos da UE ( 20º.1 TFUE).
O Parlamento Europeu é composto por 751 deputados, sendo que a composição é
feita através de 2 critérios diferentes :
- equidade demográfica( concretização do princípio representativo);
- certo equilíbrio entre pequenos e grandes Estados-membros( 14º.2 UE);
O art, 14º.2 UE, na parte em que estipula uma composição não superior 750
deputados mais o Presidente ( 751), existem vários critérios que vinculam o
Conselho Europeu:
- representação dos cidadãos é degressivamente proporcional;
- nenhum Estado-membro pode ( com independência do número de
cidadãos) ter mais de 96 lugares e menos 6 lugares.
A representação dos cidadãos no Parlamento Europeu deve ser “ degressivamente
proporcional” ( 14º.2 UE), o que impõe que a relação população/ deputados
deverá ser tanto menos proporcional quanto mais populosos forem os Estados.
Trata-se de uma solução tradicional para os problemas de representação
institucional dos Estados-membros no seio da União, com a garantia de uma certa
equidependência em função da dimensão demográfica, económica ou territorial
dos países. A representação deve ter por base número de cidadãos de um
Estado-Membro ( 9º UE e 20º.1 TFUE), incluindo os que residem no território de
outros Estados-membros. A questão é qual é o critério determinante:
- população ( o que favorece os Estados-membros de acolhimento de
imigrantes);
- nacionalidade ( o que favorecia Estados-membros, como a Itália ou
Portugal com a tradição de emigração);
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O mandato europeu é de caráter representativo: os deputados votam
individualmente e não podem receber ordens nem estar vinculados a quaisquer
instruções. Os representantes europeus gozam dos privilégios e imunidades
constantes do Protocolo relativo aos Privilégios e Imunidades da UE.
Organização e funcionamento:
Os deputados estão agrupados por ideologias e afinidades políticas e não em
função da sua nacionalidade. Cada deputado só pode pertencer a um grupo
político. Aos deputados é, contudo reconhecido o direito de não aderir a nenhum
grupo político, desenvolvendo a sua atividade como deputados não-inscritos. As
famílias políticas mais importantes são o Partido Popular Europeu ( associado à
direita) e Aliança Progressista Socialistas e Democratas ( associado ao
centro-esquerda). Os grupos políticos podem ser considerados um embrião dos
partidos políticos europeus, mas no estádio atual, constituem apenas formas de
coligação de partidos de base nacional.
Competências:
O artigo 14º UE, tem as principais áreas de atuação do Parlamento Europeu.
→ Poderes de Controlo Político:
- Participação na nomeação dos membros de outras instituições e órgãos
i) Nomeação da Comissão ( 17º7 UE- o candidato proposto pelo Conselho
Europeu é “eleito pelo Parlamento Europeu por maioria dos membros que o
compõem”).
ii)Nomeação do Provedor de Justiça ( 228º.2 TFUE);
- Moção de Censura ( 234º TFUE);
- Questões e Debates ( 230º TFUE);
- Direito de Petição e Inquérito ( 226º e 227º TFUE);
→ Poderes Orçamentais - o Parlamento está convertido numa instituição de
decisão orçamental e no exercício dos seus poderes pode:
i) alterar o projeto de orçamento ( 314º.4.c TFUE);
ii) declarar verificada a aprovação do orçamento ( 314º.4.a TFUE);
iii) rejeitar a aprovação do projeto comum ( 314º.7.b TFUE);
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→ Poderes de Decisão no Processo Normativo ( órgão da tríade institucional
responsável pelo processo comunitário de decisão normativa):
i) participação do Parlamento Europeu no processo legislativo ( 289º.1 TFUE);
ii) participação do Parlamento no processo de execução das normas ( 291º TFUE);
iii) participação do Parlamento no processo de vinculação internacional da UE (
218º.6.a TFUE);
iv) poder de aprovação prévia ( o Parlamento Europeu dispõe de um poder de veto
sobre um leque significativo de matérias de elevada densidade política);
3.2. Conselho Europeu
Conselho Europeu
- Bases jurídicas: artigo 15º TUE; artigos 235º -236º TFUE
- Origem:
Das cimeiras intergovernamentais ao estatuto de superinstituição no quadro do
Tratado de Lisboa (marca indelével de uma opção dos Estados membro pelo
modelo de pendor intergovernamentalista no sistema de governação da UE,
em detrimento, sobretudo, do estatuto da Comissão e da dimensão
integracionista ou supranacional do governo da União)
- Natureza jurídica: instituição da União (v. artigo 13.o, n.o 1, TUE) de direcção
política;
- Composição:
Chefes de Estado ou de Governo (no caso de Portugal, e com
base na CRP, é o PM enquanto responsável pela condução da política externa
do País – v. artigo 191.o, n.o 1, al. b; e artigo 201.o, n.o 1, al. c), CRP), o
Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão (v. artigo 15.o,
n.o 2, TUE). O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros
e a Política de Segurança (ARU) participa nos trabalhos. O Presidente do
Conselho Europeu e o Presidente da Comissão não têm direito de voto (v.
artigo 235.o, n.o 1, TFUE). A presença de ministros e de um membro da
Comissão depende de decisão dos membros do Conselho Europeu “quando
a ordem de trabalhos o exija”, ou seja, quando a discussão exige uma
assessoria técnica
- Presidência:
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O Conselho Europeu adquiriu com o Tratado de Lisboa uma
presidência permanente que substitui o anterior formato das presidências
semestrais e rotativas que apenas se mantém para o Conselho (de Ministros).
O Presidente é eleito pela instituição por maioria qualificada, por um
mandato de dois anos e meio, renovável uma vez (v. artigo 15.o, n.o 5, TUE).
Actualmente, exerce esta função o belga Charles Michel. Uma espécie de
Presidente da União, a sua relevância política e visibilidade no complicado
tabuleiro de xadrez que é a estrutura institucional de direcção política da
União depende de vários factores, uns objectivos outros subjectivos
- Organização e funcionamento:
Reúne duas vezes por semestre, salvo situação que justifique uma reunião
extraordinária do Conselho Europeu
- Regra de deliberação: consenso, diferente de unanimidade porque dispensa
a votação por parte dos altos representantes dos EM ( 15º .4TUE), salvo previsão
pelos Tratados em sentido contrário (v.g. artigo 235º 3, TFUE; artigo 17º. 7, TUE;
artigo 50.º3, TUE)
- Competências:
O Conselho Europeu é responsável pelos impulsos necessários ao
desenvolvimento e à definição das orientações e prioridades políticas gerais da
União (v. artigo 15.o, n.o 1). Ou seja, esta instituição é o motor da acção política
da União, não podendo exercer a função legislativa que, na relação com esta
actividade específica de indirizzo político, surge como uma função de
concretização (v. artigo 15.o, n.o 1, in fine, TUE). Na qualidade de instituição de
missão exclusivamente política, o Conselho Europeu exerce um vasto conjunto de
poderes e prerrogativas que podemos agrupar em torno de duas funções
principais:
- Estatutária: no sentido em que o Conselho Europeu pode decidir sobre o
estatuto jurídico da União, adoptando decisões que alteram a Parte III do
TFUE ou que substituem a exigência da unanimidade pela regra da maioria
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qualificada ( artigo 48.º 7, TFUE). Por outro lado, o Conselho Europeu
intervém, de modo direto e decisivo, na escolha das lideranças europeias
- Impulsão política:
Manifesta-se, em especial, no domínio da governação económica (v. artigo 121.o,
n.o 2, TFUE) e das relações externas da União (v. artigo 22.o, n.o 1, TUE).
- Tipologia dos actos do Conselho Europeu:
Assumem a forma de declarações, resoluções, orientações, decisões atípicas,
porque distintas das decisões na acepção do artigo 288º TFUE (Conselho Europeu
não adopta regulamentos nem directivas);
3.3. Conselho da União Europeia
Composição:
Os Tratados da UE identificam este órgão central do sistema institucional da UE
como o “ Conselho” ( 15º.TUE e 237º- 243º TFUE). Para evitar confusºoes com o
Conselho Europeu passou a ser conhecido pela referência à sua composição como
Conselho de Ministros.
Cabe a cada Estado-membro a escolha do seu representante a qual pode recair
sobre qualquer membro do Governo ( ex: ministro - 16º.2 UE).
Na eventualidade de um Estado-membro não estar representado por um membro
do Governo, pode ( nos termos do 239º TFUE), delegar noutro Estado-membro o
exercício do direito de voto, desde que esteja representado a nível ministerial.
As formações mais relevantes que este pode tomar consoante as matérias em
discussão incluem:
- Conselho dos Assuntos Gerais;
- Conselho dos Negócios Estrangeiros;
- ECOFIN
Organização e Funcionamento:
- Presidência:
O artigo 16º.9 UE, determina que a presidência das formações do COnselho é
assegurada pelos representantes dos Estados-membros no Conselho, com base no
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sistema de rotação igualitária ( 236º.b TFUE), as regras aplicáveis ao exercício da
Presidência do Conselho.
O formato triangular da Presidência do Conselho permite uma articulação mais
eficiente e previsível das atividades do Conselho, especialmente no domínio
legislativo e definição da política externa. A Presidência deve privilegiar a
formação de consensos e formular propostas que possam superar ou mesmo
prevenir bloqueios. Não está, contudo, reduzida a um dever de neutralidade
política. No quadro de objetivos da União que são múltiplos, há que definir uma
estratégia, divulgá-la e atuar de modo a alcançar um adequado grau de realização
do programa.
- COREPER:
É composto pelos representantes permanentes dos GOvernos dos
Estados-membros em Bruxelas e desempenha a função de preparar os trabalhos do
Conselho e de exercer mandatos que este lhe confia ( 240º.1 TFUE). è o
COREPER que assegura uma ligação constante entre os GOvernos dos
Estados-Membros e a Comissão, a propósito dos projetos e iniciativas desta
instituição. A instituição pode ser dividida em:
- COREPER II ( constituído pelos chefes das representações permanentes
que prepara os trabalhos sobre matérias de maior relevo político);
- COREPER I ( composto pelos representantes permanentes adjuntos que
prepara os trabalhos das restantes formações do Conselho em que é
dominante a componente técnica das propostas em discussão);
- Secretário-Geral:
O COnselho é assistido por um órgão de natureza burocrática chamado
Secretariado- Geral, colocado sob a dependência de um Secretário-Geral que é
nomeado pelo Conselho por maioria qualificada ( 240º.2 TFUE).Ao
Secretariado-Geral compete:
- elaboração do projeto de ata das reuniões do Conselho;
- publicação dos atos no Jornal Oficial;
- elaboração de um projeto de despesas do Conselho;
- Função de depositário de acordos e convenções internacionais;
16
- Regras de Deliberação:
i) Maioria de Simples: o Conselho delibera por maioria dos membros que o
compõem ( 238º.1 TFUE). O ato considera-se aprovado quando reúne o voto
favorável da maioria dos Estados-membros que integram o Conselho ( 14/27). Se
o Conselho estiver em reunião em reunião com o quórum mínimo em virtude (
TFUE 239º), de todos os Estados-membros presentes terão de votar a favor ou
fazê-lo em nome do Estado representado.
ii) Maioria Qualificada: é alcançada através de um modelo de ponderação do
peso relativo dos Estados-membros, que participem no processo deliberativo com
um número variável de votos ( depender também do número de Estados-membros
favorável à deliberação e da respetiva expressão demográfica).
Num total de 345 votos distribuídos pelos 27 Estados-membros a minoria de
bloqueio precisa de reunir 91 votos:
- o voto contra dos 4 grandes chega para bloquear ( Alemanha, França, Itália
e Reino Unido);
- o voto reunido dos 11 pequenos estados-membros está longe da minoria de
bloqueio;
- os 10 estados-membros de média dimensão conseguem impedir a
deliberação ( é aqui que se inclui Portugal)
O cálculo da maioria qualificada pode ser feita através da seguinte maneira:
1- Começar pela regra, vertida no art. 16º.4 UE;
2- Relacionar a solução que ficou consagrada com os seus antecedentes (
nomeadamente, o Estado. membro) que fez a proposta porque a fez, quais os
Estados-membros que apoiaram ou a ela se opuseram.
3- Simples Frações e Percentagens;
iii) Unanimidade : é imposta para as decisões sobre matéria de particular
sensibilidade política ou decisões de incidência estrutural e “ constituinte” . A
unanimidade reflete, de modo direto, o exercício da soberania e concretiza o
princípio da igualdade dos Estados-membros no processo de formação da vontade
da União. O direito de veto pode ser exercido por qualquer Estado-membro, de
acordo com um princípio fundacional de soberania ( por exemplo a política da
fiscalidade).
17
Competências:
- Poderes de decisão ( 16º.1 UE): no âmbito da função legislativa e
orçamentária, no tocante à função orçamental não existem reservas sobre a
caracterização da competência do Conselho;
- Poderes de Vinculação Internacional : os tratados reservam ao COnselho
um verdadeiro poder subordinante em matéria de vinculação internacional
Europeia
1) na fase de negociação: o Conselho autoriza a abertura das negociações e
controla o seu desenrolar sob a forma de diretrizes ( 218º.2 e 3 TFUE);
2) na fase da assinatura: o Conselho adopta a decisão que autoriza assinatura
do acordo ( 218º.5 TFUE);
3) na fase da conclusão: o Conselho adopta a decisão de celebração, precedida
nos casos previstos de aprovação pelo Parlamento Europeu ( 218º.6 TFUE);
- Poderes de Execução( 24º e 26º UE);
- Poderes de Coordenação ( 16º.1 UE): a função primordial desdobra-se em
2 planos: plano das políticas da UE ; plano das políticas definidas pelos
Estados-membros;
3.4. Comissão Europeia:
Composição:
A Comissão é composta por 27 Membros ( 1 nacional por cada EM), o art. 17º.3
UE, traça aquele que deve ser o perfil do candidato a comissário e o 245º TFUE os
deveres de função de um membro da Comissão, sendo que o mandato de
comissário tem a duração de 5 anos ( 17.3 UE). De acordo com o 17º.7 existem as
seguintes fases de nomeação da COmissão:
1-Escolha do Presidente;
2-Escolha dos restantes membros da Comissão;
3-Voto de aprovação parlamentar;
4- Nomeação ( compete ao Conselho Europeu, depois da aprovação pelo
Parlamento, deliberando por maioria qualificada, a nomeação definitiva da
Comissão);
18
O artigo 246º TFUE enumera as causas de cessação individual das funções de
comissário e existe ainda a possibilidade de destituição coletiva da COmissão na
sequência da votação de uma moção de censura ( 234º TFUE).
Organização e funcionamento:
O princípio da colegialidade significa que todas as decisões adoptadas são
imputadas à Comissão no seu conjunto e são assumidas coletivamente por todos
os seus membros.
No plano político, a colegialidade da Comissão implica uma responsabilidade
coletiva, especialmente perante o Parlamento Europeu ( 17º.8 UE).
Competências:
O art. 17º.1 UE, confia à Comissão com o objetivo de promover “ o interesse geral
da União”, Há que destacar também a competência:
- de iniciativa: o art. 17º.2 TUE, estabelece o exclusivo da iniciativa
legislativa da Comissão. O poder de iniciativa da Comissão em sede de
processo legislativo reveste um particular significado político. O Tratado
instituiu mecanismos de garantia deste monopólio de iniciativa: em caso de
algum, o Conselho ou o Parlamento podem-se substituir à Comissão na
elaboração de um proposta de ato; o Conselho só pode alterar uma
proposta da Comissão por unanimidade ( 293º.1 TFUE);
- de controlo: a Comissão é a “guardiã dos Tratados”, porque, como
estabelece o art. 17º.1 TUE;
- de execução: identificada como o Executivo, a Comissão é o órgão titular
da competência genérica de aprovação das normas de execução. A
competência-regra de adopção de atos de execução pertence aos Estados-
membros ( 291º.1 TFUE e 4º.3 TUE). Numa aplicação do princípio da
subsidiariedade, o 291º.2 TFUE limita a competência de execução da
Comissão;
19
- de relações externas: regula o processo de vinculação internacional,
podendo recomendar a abertura de negociações que conduzirá depois com
base nas diretrizes ( 218 TFUE);
- de representação: ao abrigo do 335º TFUE, o seu poder tradicional de
representação da UE nas ordens jurídicas dos Estados-membros, mas com a
limitação, explicitada pelo Tratado de Lisboa decorre dos poderes
específicas de representação;
3.5. Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
- Bases jurídicas: artigo 19º TUE; artigos 251.º a 281.o TFUE; 1 instituição, 2
tribunais;
- Natureza da jurisdição:
O TJUE tem por missão garantir o “respeito do direito na interpretação e aplicação
dos Tratados” ( artigo 19.o, n.o 1, TUE). A sua jurisdição é exercida como: 1) de
atribuição; 2) obrigatória; 3) exclusiva e 4) no caso do TJ, última instância. O que
significa:
- Todas as instituições da União, incluindo o TJUE, estão limitados pelo
princípio da competência por atribuição (v. artigo 13.o, n.o 1, TUE). O
sistema judicial da UE é, por consequência, um sistema descentralizado e
plural, com fundamento no artigo 274.o TFUE, cabendo, por outro lado, aos
20
EM garantir a tutela jurisdicional efectiva através da criação das vias judiciais
necessárias (v. artigo 19º.1 e 2 TUE).
- Jurisdição exclusiva, uma garantia que resulta do artigo 344º TFUE e,
excluindo o recurso aos tribunais internacionais de tribunais arbitrais como
alternativa ao TJUE, traduz o compromisso firme dos EM em relação à
especificidade da União como modelo associativo de integração entre Estados
e em relação à autonomia do Direito da União Europeia;
- Jurisdição de última instância, já que as decisões proferidas pelo TJ
(acórdãos e despachos) não são passíveis de recurso, salvo as situações previstas
de recurso extraordinário;
Competências:
Os Tratados reconhecem ao TJUE competências muito amplas de controlo
jurisdicional e que o Juiz da União interpretou como um mandato para instituir um
sistema completo e coerente de vias de recurso:
- recursos e ações interpostos por um EM, por uma instituição ou por um
particular;
- processo das questões prejudiciais;
- outras vias de direito;
- a competência de controlo no âmbito do PESC ( salvo nos casos vistos no 275º
TFUE);
- o escrutínio do Espaço de liberdade, segurança;
A disciplina jurídica conta do artigo 13º.1 e 3 do TUE e ainda dos artigo 282º- 284º
TFUE. O BCE goza de personalidade jurídica ( 282º.3 TFUE), coloca o BCE como
instituição da União, o que coloca a na situação única de instituição dotada de
personalidade jurídica ( 13º.1 TUE).
O artigo 127º.2 TFUE destaca a manutenção da estabilidade dos preços como
objetivo primordial. O travejamento da política monetária comum é formado pelos
21
seguintes princípios orientadores: preços estáveis, finanças públicas e condições
monetárias sólidas e balança de pagamentos sustentável ( 119º.3 TFUE). Como
principais funções temos:
Poderes:
O estatuto de independência do BCE ( 130º TFUE e artigo 282º TUFE 282º.3
TFUE), com manifestações em 5 áreas principais:
O Tribunal é composto por um nacional de cada Estado-membro ( 285º.1. TFUE +
286º.1 TFUE).
- controlo de contas:
22
i) Função de controlo financeiro - abrange a fiscalização da totalidade das receitas e
despesas da União ( 287º.1 TFUE);
ii) O controlo pelo Tribunal é externo e o controlo interno é feito a posteriori,
porque incide sobre as contas;
- tipo consultiva:
i) função consultiva: exercida por outras instituições sob a forma dos pareceres pode
ser obrigatória ( 322º TFUE e 325º.4 TFUE), sobre medidas de prevenção ou
facultativa ( 287º.4 TFUE);
- O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança;
- O Provedor de Justiça Europeu ( 228º TFUE) ;
- O Comité Económico e Social ( 300º.2 TFUE);
- Comité das Regiões;
Os procedimentos de tomada de decisão, instituições, órgãos da União apresentam
características singulares que os distinguem pela ausência de um princípio claro de
separação de funções e pela amplitude material das suas atribuições, cujo exercício é
assegurado através de um conjunto vasto e complexo de procedimentos.
Existe todavia, uma diferenciação a ser retida entre a função normativa primária e a
função normativa secundária ( ou função executiva).A prática institucional
consagrou esta distinção funcional ao adotar a nomenclatura relativa aos atos de base
( regulamentos, diretivas) e aos atos de execução ( decisões).
23
O regime está previsto no artigo 294º TFUE:
Quando os tratados não determinem o tipo de ato a adoptar compete à Comissão a
escolha do tipo de ato ( 296º TFUE). A Comissão está ainda limitada pelo critério do
travão orçamental ( 310º.4 TFUE).
ii) Primeira Leitura : a Comissão submete a sua proposta de apreciação ao
Parlamento Europeu e ao COnselho ( 294º.2 TFUE). Ao Parlamento Europeu
compete fazer a primeira leitura e estabelecer uma posição que é transmitida ao
Conselho ( 294º.3 TFUE).
iii) Segunda Leitura: no prazo de 3 meses ( 294º.7 e 14 TFUE), o Parlamento
Europeu pode:
- aprovar a posição do Conselho por maioria dos votos expressos ( 231º TFUE)
ou aprovação tácita;
- rejeitar a posição do Conselho, por maioria dos membros que o compõe;
- propor emendas à posição do Conselho;
iv) Conciliação e Terceira Leitura: durante seis semanas prorrogáveis por mais 2
semanas ( 294º 12 e 14 TFUE), o Comitê trabalha o objetivo de chegar a um projeto
comum.
24
No caso de aprovação do projeto, Parlamento e Conselho dispõem cada 1 do prazo
de 6 semanas a contar desta adopção para adoptar o ato em causa.
O ato legislativo adotado requer a assinatura do Presidente do Parlamento Europeu e
do Presidente do Conselho ( 297º.1 TFUE).
O artigo 291º.1 TFUE, impõe aos Estados membros o dever de tomar todas as
medidas de direito interno necessárias à execução dos atos juridicamente vinculativos
da União. A União só dispõe de competências de execução nos termos definidos pelo
artigo 291º.2 TFUE.
- procedimento de exame ( seguido para a aprovação de medidas de execução
em domínios considerados mais importantes);
- procedimento consultivo ( aplica-se como regra nos restantes domínios, o
comité adopta uma parecer por maioria simples, que a Comissão deve ter em
conta ao adoptar as medidas);
Dotada de personalidade jurídica ( 47º. TUE), a UE pode celebrar acordos
internacionais com Estados terceiros ou organizações internacionais ( 3º.2 TUE +
216º.2 TFUE). O artigo 217º TFUE específica a competência de vinculação
internacional , enquanto que o artigo 218º TFUE estabelece os procedimentos de
vinculação internacional , mas a competência relativa à celebração dos acordos
internacionais deve resultar de outras disposições dos Tratados.
i) Fase da Negociação: o início formal das negociações depende de autorização do
Conselho concedida sob recomendação da COmissão. O Conselho delibera por
maioria qualificada, salvo em relação a matérias reguladas por acordos cuja
celebração exija unanimidade;
25
ii) Fase da Assinatura: concluídas as negociações, ao Conselho sob proposta do
negociador, decidir sobre a assinatura do acordo e a sua eventual aplicação a título
provisório;
iii) Fase de Conclusão: o artigo 218º.6 TFUE investe claramente o Conselho do
poder de decisão: sobre a assinatura, no caso de acordos sob a forma simplificada.
Não é especificado todavia a forma jurídica do ato de aprovação mas, em regra é
adoptada uma decisão e o artigo 218º.7 admite um procedimento simplificado de
revisão do acordo celebrado, concluído por decisão do próprio negociador. O
Conselho delibera por maioria ( salvo nos casos presentes do 218º.8 YFUE).
→ Intervenção do Tribunal de Justiça: a pedido do Parlamento Europeu, do
Conselho, da Comissão ou de qualquer Estado-membro, o Tribunal pode ser instado
a pronunciar-se sobre a forma de parecer ( 218º.11 TFUE).
A amplitude dos poderes da UE está subordinada ao chamado princípio da
competência de atribuição, cujo sentido é o de limitar a sua atuação aos fins e aos
meios jurídicos de ação enunciados pelas disposições dos Tratados Institutivos,
consagrado no artigo 5º do TUE 2. No âmbito das relações entre a UE e os
Estados-Membros o princípio da competência resulta do princípio da especialidade
dos fins, assentado também a definição normativa de competência 3.
2
Vide o artigo 2º 4 º parágrafo entendido no sentido de tornar o princípio aplicável em toda a extensão das
competências da UE.
3
Pierre Pescatore - o princípio não estaria refletido nos tratados, representaria antes o resultado de uma leitura
apriorística do sistema de competências.
26
O princípio das competências atribuída s inibe a União e as COmunidades Europeias
de determinar as suas próprias atribuições e poderes. A União não tem “ competência
da competência”. A prerrogativa constituinte continua a residir na esfera da vontade
soberana do Estados-Membros.
- competência expressa: proteção dos direitos não constitui, em si, um título
atributivo de competências em favor das Comunidades Europeias;
- competência não autónoma : impõe-se em matéria de direitos fundamentais
como consequência necessária do princípio contratualista e da sua concreta
aplicação sob a forma da delegação de poderes dos Estados-membros em favor
das Comunidades Europeias;
- competência política: no sentido de legitimar o seu exercício em relação a
quaisquer direitos, com o objetivo de prevenir ou sancionar a sua violação
pelos Estados;
27
A subsidiariedade é uma espécie de “ rule of reason” ( 5º 2º parágrafo TUE). No
âmbito das competências partilhadas a subsidiariedade envolve uma apreciação sobre
a verificação cumulativa do critério:
i) os objetivos da ação prevista não puderem ser suficientemente realizados pelos
Estados-membros;
ii) devido à dimensão ( efeitos da ação prevista puderem tais objetivos ser melhor
alcançados a nível comunitário);
O princípio da subsidiariedade funciona como critério preventivo de antinomias ao
fundamentar a preferência pela norma, que garanta o mais adequado nível de proteç
( 53º CDFUE).
Em relação aos patamares superiores de decisão a subsidiariedade pode funcionar
tanto:
A respeito do estatuto dos direitos na ordem jurídica comunitária, nomeadamente
saber a que e como compete a sua promoção e concretização. Revela-se insuficiente
um tal exercício da retórica dos direitos quando desacompanhado de uma dinâmica
própria de política social, cuja ausência é patente na remissão feita pelas disposições
da Carta para as “ legislações e práticas nacionais”. Tendo em conta a dimensão
transnacional dos obstáculos à realização dos valores da igualdade e da solidariedade
28
( desemprego, imigração ilegal), a remissão pura e simples para as políticas e para as
legislações nacionais, uma opção política contrária ao princípio da subsidiariedade. A
UE tem a obrigação de assumir a garantia aos seus cidadãos a satisfação de
determinadas aspirações de bem-estar social.
Um conflito que opõe o desígnio economicista de, por exigências d mercado e livre
circulação, abolir todas as barreiras à prestação de serviços no espaço comunitário,
tendo por base a legislação do Estado-membro e a preocupação em não subverter as
legislações nacionais de proteção dos direitos dos trabalhadores em vigor no
Estado-membro onde se realiza a prestação. Neste Acórdão Rush, conclui-se pela
aplicação da igualdade de tratamento entre trabalhadores nacionais e deslocados no
quadro de uma prestação de serviços, de acordo com a legislação aplicável no Estado
da realização da prestação ( aplicar o estatuto mais favorável).
Este já foi considerado o princípio jurídico mais importante no domínio do direito
econômico do do mercado comum.
Por proporcionalidade entende-se a exigência de atuação dos poderes públicos que
seja necessária e adequada à realização do objetivo selecionado. Trata-se de uma
noção que permite a valoração de um certo resultado por referência ao fim/ interesse
público que o exercício de uma qualquer forma de autoridade pública, a nível da
definição inovadora de critérios de regulação comunitária, mas também a nível da
aplicação de um tal quadro normativo. Do ponto de vista funcional, o objetivo é o de
proibição do excesso.
Para determinar o grau de adequação dos meios aos fins, o juízo sobre a
proporcionalidade desenvolve-se em 3 fases:
ii) n
ecessidade do meio;
O controlo jurisdicional com base no princípio da proporcionalidade desdobra-se em
3 planos:
29
i) ação comunitária restritiva de um direito atribuído pelo Tratado ao particular e
por este invocado
No Ac. Hauer estando em causa, a proibição por regulamento comunitário de
plantio de novas vinhas, o procedimento de análise começou por identificar o
objetivo visado pelo regulamento contestado, passou à determinação de uma relação
de adequação razoável entre as medidas previstas e o objetivo enunciado, concluindo
pela ausência de 1 intervenção “ desmedida e intolerável” sobre as prerrogativas do
proprietário.
No Ac. SCK e FNK, o TPI na qualidade de juiz, decidiu reduzir o montante da
coima aplicada que excedia em valor a totalidade do volume de negócios que a
empresa multada tinha movimentado no período em causa.
iii) Impugnação da medida comunitária por iniciativa dos Estados- membros ou das
instituições comunitárias
O princípio do primado da norma comunitária sobre a norma interna, no entanto
coloca-se a questão, onde pára o primado?
Segundo o Acórdão Costa c. Enel, em que confrontado com a tese avançada pelo
Governo italiano segundo a qual o tribunal nacional estaria obrigado a lei interna. O
primado não pressupõe uma relação típica de infra e supra-ordenação entre normas.
O primado não vale como exigência de prevalência hierárquica. A norma
comunitária prevalece sobre a norma interna não por que lhe seja superior mas
porque é materialmente competente para regular o litígio concreto. A relação entre o
Direito Comunitário e os Direitos dos Estados-Membros constrói-se com base no
30
princípio da competência atribuída e por referência ao princípio da colaboração ou
da complementaridade funcional entre ordenamentos.
As normas comunitárias gozam de prioridade aplicativa em relação às normas
internas contrárias enquanto correspondam ao exercício legítimo de uma
competência que os Tratados consagram.
A operatividade do primado como critério de resolução de conflitos inter normativos
não interfere com a validade da norma interna desalojada pela norma comunitária. O
primado como imposição comunitária envolve para os Estados-membros uma
obrigação de resultado que consiste na garantia de aplicação da norma comunitária
em qualquer situação de litígio. A norma interna contrária é neutralizada na sua
eficácia reguladora, mas o primado não afeta a sua validade. A Constituição funciona
em relação ao primado com um duplo efeito:
A verdadeira “cláusula europeia” da Constituição Portuguesa, no sentido que lhe
atribuímos de cláusula de aceitação de limitações à soberania encontra-se previsto no
artigo 7º.6 CRP.
31
- recorte substantivo ( “ respeito pelos princípios fundamentais do Estado de
Direito Democrático”, abrange os direitos fundamentais na sua dimensão
substantiva e processual);
- recorte procedimental ( prende-se com a aceitação das limitações de
soberania; a atribuição de poderes aos órgãos das União com vista ao seu
exercício em cooperação , reveste a forma do tratado internacional - 161º.i
CRP);
Esta nova cláusula constitucional, o artigo 8º.4 CRP é um exemplo infeliz de
iniciativa constituinte inoportuna, quanto ao conteúdo, não podemos deixar de
assinalar a sua redundância no concerto das demais disposições europeias da CRP.
Quando está em causa a aplicação de uma norma de direitos fundamentais, o
princípio do primado só pode ser questionado nas suas consequências se a proteção
oferecida pela norma comunitária competente for inferior à proteção prometida pela
norma interna. A regra na teoria geral dos direitos fundamentais, postula a
preferência pela cláusula normativa de direitos que assegure, na esfera jurídica do
destinatário, a proteção mais elevada dos interesses e expectativas gerados pelo
reconhecimento do direito subjetivo em causa.
Na sua função típica de critério de resolução de conflitos internormativos, o
primado é convocado para da norma interna, ainda que de grau constitucional. O
sistema fontes em matéria de direitos fundamentais:
A tutela dos direitos fundamentais foi construído com base nesta tripla referência, “
tripla normativo europeu” e no plano processual da aplicação.
O primado é um critério de superação de um conflito de uma identificado entre
duas ou mais normas materialmente competentes para dirimir um litígio concreto.
32
Um critério operativo subsidiário. A idoneidade do primado como meio de garantir
a prioridade aplicativa da norma comunitária:
i) verificação do princípio da competência em ordem a determinar se o litígio
concreto relva ou não do âmbito de aplicação do DUE;
ii) exercício hermenêutico, de concordância prática dos preceitos colocados em rota
de colisão4
O art. 53º CEDH não é um obstáculo a 1 proteção mais elevada dos direitos
eventualmente proporcionada pelas normas de fonte interna. Este artigo define a
preferência pelo nível mais elevado de proteção, através de 1 enunciação clara
inspirada. As reservas opostas ao sentido do artigo 53º, seriam:
- que o mesmo é contrário ao princípio da autonomia do DUE, pondo em causa
o funcionamento do sistema comunitário;
- por razões de técnica e de tutela judicial seria uma disposição de aplicação
impossível ao condicionar a relação da preferência da norma mais favorável à
verificação do critério de competência, lançaria o intérprete da delimitação do
âmbito objetivo de aplicação da norma;
O artigo 53º da CDFUE ( princípio geral de preferência pela norma de proteção mais
favorável tem o objetivo subjacente de evitar que a Carta empobreça ou debilite o
nível atingido de proteção dos direitos.
Para a professora Maria Luísa Duarte, a norma comum que é aplicável é aquela que
garante, no caso concreto, uma proteção mais ampla ou mais favorável ao direito
subjetivo invocado. Contudo levantar-se-ião 2 problemas:
- decisão sobre o que perante 1 litígio concreto e numa situação de colisão de
direitos, se deva considerar a norma mais favorável;
4
Gomes Canotilho:Impõe-se o recurso à interpretação conforme da(s) norma(s) em causa com o seu sistema pátrio,
conjugando com o exercício da conciliação prática, de regimes jurídicos de princípios e valores antagônicos)
33
- decisão impõe a interpretação de normas e a avaliação de padrões jurídicos de
origem diferente;
O TJCE tem sido acusado de preferir o padrão mínimo comum, ao qual reconhece
prioridade sobre os padrões nacionais.
No Ac. Omega, havia uma alegada desconformidade comunitária de 1 decreto das
autoridades da cidade de Colónia que proibiu a utilização pela empresa “ Omega” de
34
um jogo de simulação de homicídio. Na fundamentação da proibição, as autoridades
alegaram razões de ordem pública. Objeto de recurso judicial, o decreto foi
confirmado na sua adequação ao princípio constitucional da proteção da dignidade
humana, mas o Tribunal Federal ALemão entendeu como necessária a apreciação do
TJCE.
O TJCE age sobre o respeito dos direitos fundamentais, incluindo o princípio da
dignidade da pessoa humana, constituindo um interesse legítimo susceptível de
justificar, uma restrição às obrigações impostas pelo direito comunitário. SObre a
proporcionalidade da medida de proibição, o TJCE formulou: “ a este respeito, não é
indispensável que a medida restritiva adoptada pelas autoridades de um
Estado-Membro corresponda a 1 concepção partilhada pela totalidade dos
Estados-membros no que respeita às modalidades de proteção do direito
fundamental/ interesse legítimo em causa”. O TJCE admite expressamente, a
compatibildiade comunitária de 1 proibição de exploração comercial de jogos de
divertimento que envolvem simulações de atos de violência contra pessoas.
A prevalência da concepção constitucional sobre o âmbito de proteção de 1 direito
fundamental não depende da sua natureza de padrão de referência partilhado por
todos ou pela maioria dos Estados-membros. O propósito jurisprudencial nestes
casos não é de “comunitarizar” o padrão nacional de proteção dos direitos
fundamentais, mas o de atender a este padrão como critério legítimo de restrição às
normas comunitárias ( desde que observadas as exigências inerentes ao teste da
proporcionalidade).
A norma interna contrária deve ser desaplicada e, por força do princípio da leal
cooperação (v. artigo 4.o, n.o 3, TUE), os órgãos nacionais competentes estão
obrigados a promover a sua revogação ou alteração de modo a eliminar a
incompatibilidade detectada com o Direito da União Europeia. O princípio do
primado não se repercute directamente na validade ou invalidade da norma interna
contrária. Esta norma não pode, todavia, ser aplicada, devendo ser removida do
35
ordenamento interno, sob pena de o EM em causa ser demandado perante o TJ por
acusação de incumprimento (258º TFUE), sujeitando-se,se reiterar na vigência da
norma contrária, à aplicação de sanções pecuniárias pesadas (260º TFUE).
Neste sentido, o princípio do primado não é absoluto nem é incondicional. Por um
lado, existem limites à prevalência da norma eurocomunitária, o que aconteceria, por
exemplo, se uma directiva comunitária no domínio do espaço de liberdade,
segurança justiça (artigos 67.º e segs., TFUE), viesse a impor aos EM a criação de
tribunais especiais para o julgamento de crimes de terrorismo de incidência
transfronteiriça, com fundamento no artigo 83º1 TFUE. Uma iniciativa de
harmonização das legislações nacionais que violaria, de modo flagrante, o princípio
do juiz natural, arrimo estrutural do Estado de direito, e, directamente, a proibição
do artigo 209 º 4, CRP. O princípio da competência por atribuição é um limite
inerente ao primado. A norma euro comunitária prevalece na medida em que
traduza o exercício de uma competência atribuída pelos Tratados.
No Ac. Honeywell, 2010, foram definidos dois critérios complementares: o TC
alemão invoca o direito de se pronunciar sobre a compatibilidade de uma norma ou
acto jurídico da União com o princípio da competência por atribuição e,
eventualmente, declarar a sua inaplicabilidade na ordem jurídica alemã, mas
condiciona o veredicto de ultra vires aos casos em que haja uma transgressão
manifesta dos limites da competência e só depois de ter sido dada a oportunidade ao
TJ para se pronunciar, ao abrigo do processo das questões prejudiciais (267º. TFUE).
O Direito Comunitário constitui um quadro normativo gerador de direitos e de
obrigações para os Estados-membros e para os particulares.
36
No Ac. Van Gend en Loos, o TJCE tomou posição sobre o âmbito da projeção
subjetiva das disposições dos Tratados, afiando a noção de efeito direito em torno de
3 elementos fundamentais:
ii) reconhecimento aos particulares de direitos subjetivos ( susceptíveis de serem
invocados junto dos tribunais nacionais);
iii) obrigação específica de garantir o exercício dos direitos individuais( para os
tribunais nacionais);
No Ac. Van Gend en Loos, o TJCE explicitou o fundamento jurídico do efeito
direto “ a Comunidade como ordem jurídica internacional, a favor da qual os
Estados limitaram os seus direitos soberanos e cujos efeitos são não só os
Estados-membros mas também os seus nacionais. Por conseguinte, o direito
comunitário, independentemente da legislação dos Estados-membros, tal como
impõe obrigações aos particulares também lhes atribui direitos que entram na sua
esfera jurídica”.
Por força de jurisprudência constante o TJCE conseguiu impor a eficácia direta
como princípio geral de modo que a norma comunitária tem como destinatários
potenciais todas as pessoas sob jurisdição dos Estados-Membros.
37
- efeito direto limitado ( cria apenas direitos subjetivos, não funciona como
fonte autônoma de deveres para os particulares);
- efeitos plenos ( quando a diretiva inibem o titular de fazer valer os direitos
juntos aos tribunais contra outro particular);
Segundo a professora Maria Luísa Duarte, a pluralidade de fontes do sistema euro
comunitário de direitos fundamentais não pode, constituir um obstáculo que se
interponha entre a norma e o potencial titular dos direitos. Em relação aos direitos
previstos em instrumentos internacionais ou tradições constitucionais ( pelos 6º.2
TUE), considera-se igualmente, a exigência da eficácia imediata como fundamento
da sua inovação.
Isto esteve na base do Ac. Mangold, o TJCE concedendo que a diretiva em causa não
estabelecia uma obrigação imperativa para os Estados-membros de proibição de
discriminação em razão da idade, descobriu este princípio. Porque se trata de 1
princípio geral, o respeito da proibição de discriminação em razão “ não pode,
enquanto tal, depender do termo do prazo concedido aos Estados-membros para
transporem uma diretiva”. O princípio da não discriminação em razão da idade
concentra uma força jurídica própria e imediata que não depende do processo de
adaptação do direito interno em cumprimento da obrigação de transposição. O
TJCE explícita “ cabe ao órgão jurisdicional nacional, ao qual foi submetido um
litígio no quadro das suas competências, a proteção jurídica que para os particulares
decorre do direito comunitário e garantir o pleno efeito deste, não aplicando todas as
disposições da lei nacional eventualmente contrárias.
A parte mais visível do princípio da eficácia direta é o da adstrição do juiz nacional
enunciada no final deste acórdão. O princípio da eficácia direta alimenta deveres:
- a garantia da aplicação imediata das normas de direitos fundamentais vincula
também o decisor comunitário ( instituições e órgãos devem abster-se de
tomar medidas susceptíveis de violar os direitos e individuais e revogação das
leis nacionais contrárias). O fundamento jurídico é o princípio da cooperação (
4º.3 TUE).
- As autoridades administrativas dos Estados-membros estão diretamente
envolvidas na missão de garantir a plena eficácia das normas comunitárias5.
5
Sem prejuízo do princípio da separação de poderes, deve admitir-se uma interpretação flexibilizadora de um princípio
estrito de legalidade administrativa, favorável à prevalência da norma atributiva de direitos subjetivos
38
Para simplificar podemos assumir que a pré compreensão do TJ é favorável ao
reconhecimento da eficácia direta, desde que verificados certos requisitos relativos à
norma (e não ao acto jurídico que a aloja). A norma em causa deve ser:
- clara e precisa
No que toca à forma como a norma enuncia os direitos individuais, para o TJ será
suficiente verificar que a norma reconhece direitos aos particulares que envolvem
obrigações para os Estados, ainda que estes disponham de uma certa margem de
apreciação na escolha dos meios jurídicos de garantia de tais direitos ( A c. Lombard).
- incondicional
i) exclui da eficácia direta as normas cuja aplicação interna fica dependente do
exercício de uma competência discricionária, legislativa ou administrativa, por parte
dos EM;
ii) no caso específico das directivas, a incondicionalidade só se verifica depois de
esgotado o prazo de transposição.
No caso de directivas cujo prazo de transposição ainda não se esgotou, importa
clarificar:
- Pelo Ac. Wallonie, os EM devem abster-se enquanto decorre o prazo de
transposição de adoptar disposições susceptíveis de comprometer seriamente a
realização do resultado prescrito por essa directiva , os particulares não se podem
valer dos direitos previstos na directiva, mas podem, por invocação do princípio do
primado e do princípio da cooperação leal, opor-se à legislação interna que foi
adoptada em sentido contrário ao regime previsto na directiva;
- Ac. Mangold e Seda (relação entre directiva e um princípio geral de direito da
União). O particular pode invocar direitos resultantes da directiva, ainda que não
transposta, se for possível demonstrar que tais direitos tem a sua origem em
39
princípios gerais de direito, no que respeito ao direito à não discriminação (
nomeadamente em razão de idade)
Conjunto de regras e princípios que, vertidos nos Tratados institutivos e outros
instrumentos jurídicos de valor jurídico-formal equivalente ( 51º TUE) , formam no
seu conjunto o estatuto jurídico fundamental da União Europeia. Do ponto de vista
do critério da hierarquia, a ordem jurídica euro comunitária é uma estrutura
escalonada, no topo da qual, com força subordinante e autoridade legitimadora, se
encontra o Direito
• Âmbito territorial ( art. 52º TUE / art. 355º TFUE / art.349º TFUE, com
particular relevância para as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, regiões
ultraperiféricas que beneficiam de um estatuto de aplicação adaptada do Direito da
União em função das suas especificidades de ordem geográfica e económica);
• Âmbito material: uma expressão que se repete amiúde no texto dos Tratados é a
referência “âmbito de aplicação dos Tratados” como critério de delimitação da sua
relevância conformadora (18º.1, TFUE, sobre o princípio da não discriminação em
razão da nacionalidade). O âmbito de matérias abrangidas pelos Tratados resulta do
que neles está definido (princípio da competência por atribuição, artigo 5º, n.º 1 e 2,
TUE), incluindo a possibilidade de alargar a competência material da União por via
do artigo 352º TFUE.
• Âmbito subjectivo: os Tratados reconhecem aos cidadãos nacionais dos EM o
estatuto diferenciado de “cidadãos da União” ( 18º e 25º TFUE);
40
- Eficácia dos Tratados: distinção clássica que opõe tratado-lei, que regula de modo
preciso direitos e deveres das partes contratantes, a tratado- quadro, que define um
enquadramento geral a desenvolver por actos de aplicação, não parece que se adeque
ao conteúdo dos actuais Tratados, respectivamente o TFUE e o TUE.
ii) P
rocedimentos especiais ou simplificados de revisão
Visto como o conjunto de actos jurídicos, normativos e não normativos, adoptados
pelas instituições, órgãos e organismos da União Europeia nos Tratados coexistem
duas nomenclaturas de actos:
1) actos tipificados pelo artigo 288º TFUE, disposição que se mantém inalterada
41
desde a entrada em vigor do primeiro Tratado de Roma, salvo uma adaptação
cirúrgica do conceito de decisão, e que especifica regulamento, directiva, decisão,
recomendação e parecer;
6.2.1.Regulamento
6.2.2. Diretiva
Vista como um instrumento de harmonização das legislações nacionais, a directiva
tem os EM como destinatários diretos e formais, porque os vincula em relação ao
resultado a alcançar (obrigação de resultado), reconhecendo-lhes uma autonomia
relativa quanto à forma e aos meios para realizar os objectivos inscritos no programa
harmonizador da directiva.
A directiva, ao contrário do regulamento, não tem efeito directo. Os EM estão
sempre obrigados a proceder à sua transposição para o direito interno, nos termos
definidos pela sua Constituição ( 112.º 2 CRP). A autonomia na escolha dos
procedimentos e meios de transposição não pode pôr em causa a obrigação de uma
transposição completa, eficaz e dentro do prazo previsto na directiva.
42
A directiva acabou por evoluir para um formato muito diferente, com directivas de
conteúdo e de efeito muito próximo do conteúdo e efeito dos regulamentos. Nesta
evolução transparece a confluência de dois factores:-, - a aprovação pelo decisor da
União de directivas de conteúdo cada vez mais detalhado;
-a jurisprudência do TJ sobre o efeito directo das directivas que, verificados certos
requisitos, reconhece aos particulares o direito de as invocar como fonte directa de
direitos no quadro de um litígio em que são partes perante os tribunais nacionais e,
eventualmente, perante as administrações nacionais.
Esta jurisprudência, encetada com o Ac. Van Duyn, culminou numa verdadeira
transformação da natureza da directiva, de acto formalmente dirigido aos EM e fonte
de obrigação para o decisor nacional para um acto que tem, afinal, os particulares
como destinatários materiais que a podem invocar em seu benefício enquanto fonte
de direitos. Com esta metamorfose, a directiva, tal como o regulamento, é um acto de
alcance abstracto e geral.
6.2.3.Decisão
É obrigatória em todos os seus elementos e pode ou não designar destinatários. No
caso de identificar o(s) destinatário(s) só é vinculativa para este e funciona como um
acto equivalente ao acto administrativo no direito interno. Aplicável em domínios
como o dos auxílios de Estado, com decisões da Comissão dirigidas aos EM (108º.2,
TFUE) e do Direito da Concorrência, também com decisões da Comissão que
podem impor multas e adstrições às empresas por violação das regras da sã
concorrência [103º.2 a), TFUE].
6.2.4.Recomendações e pareceres
Actos não vinculativos. As recomendações são adoptadas por iniciativa das
instituições, órgão ou organismo que as formula. Os pareceres são emitidos a pedido,
dirigido ao TJ (218º. 11 TFUE) ou a instituições, órgãos ou organismos de natureza
não judicial, normalmente integrados num procedimento decisório como
formalidade essencial [242º TFUE]. Não sendo vinculativo, o parecer, quando
previsto como exigência procedimental, é necessário e a sua omissão é geradora de
ilegalidade do acto adoptado, passível de impugnação por violação de formalidade
43
essencial [ 263º 2. TFUE; 267º b) TFUE; 277ºTFUE].
a) Actos legislativos – são, nos termos do artigo 289.º 3, TFUE,os actos jurídicos
adoptados através do procedimento legislativo, ordinário ou especial. Sempre que a
base jurídica remete para o procedimento legislativo ordinário (114º. 1, TFUE) ou
para o procedimento legislativo especial ( 86º 1, TFUE) as medidas aprovadas tomam
a forma de acto legislativo (regulamento, directiva ou decisão).Se o acto for aprovado
por via de um procedimento não legislativo o acto resultante será necessariamente
não legislativo, mesmo que, no plano substantivo, possa ter características de um acto
da função normativa primária ( 103º.1 TFUE e 109º TFUE);
b) Actos delegados: actos não legislativos da função normativa: têm alcance geral e
visam completar ou alterar elementos não essenciais do acto legislativo.O acto
delegado, ao contrário do acto de execução não se limita a dar aplicação à norma
legislativa, porque serve para aprovar um regime que completa e pode mesmo alterar
aspectos previstos no acto legislativo de base;
c) Actos de execução: actos adoptados no quadro do artigo 291.º 3 e 4, TFUE,
destinados a dar execução aos actos juridicamente vinculativos da União, susceptíveis
de alcance geral ou de incidência individual;
Maria Luísa Duarte → o acto de execução, independentemente de se chamar
regulamento ou decisão, é passível de constituir um acto da função regulamentar ou
um acto da função administrativa não normativa, dependendo de ter ou não alcance
geral.
- Dever de fundamentação: (296º TFUE) que se exige mais ou menos desenvolvida
dependendo da natureza do acto e do âmbito de margem de livre apreciação que
assiste ao órgão decisor. O requisito da fundamentação visa, em especial, dar a
conhecer aos destinatários do acto as razões que estiveram na base da sua adopção
44
pelo decisor da União,
- Publicação / notificação: os actos legislativos e não legislativos são publicados no
Jornal Oficial da União Europeia e entram em vigor na data por eles fixado ou na
ausência desta, decorrido o prazo de vacatio legis, no 20º dia seguinte da sua
publicação. As diretivas e as decisões que indiquem destinatário são comunicadas aos
respectivos destinatários e a produção de efeitos conta-se a partir da data da
notificação ( 297º.2 TFUE).
6.3. Outros princípios de função complementar para a garantia eficácia plena do
DUE
O princípio da interpretação, em particular, na Interpretação da Constituição, é uma
manifestação ou concretização do elemento sistemático da interpretação jurídica. Foi
visto no Ac. Pfeiffer que a interpretação conforme o Direito Nacional , “é inerente
ao sistema do Tratado, na medida em que permite ao juiz nacional assegurar, no
âmbito das suas competências, a plena eficácia do direito da União”.
No Ac. Colson e Kamann, em resposta a questões prejudiciais sobre a relevância da
disposição de uma directiva cuja transposição para o direito interno tinha sido
insuficiente, e insusceptível de invocação pelos particulares, o TJ aportou na solução
clássica da interpretação conforme. EM referência à transposição completa e efetiva (
288 º.3 TUFE), considera que o juiz nacional está obrigado “a interpretar o seu
direito nacional à luz do texto e da finalidade da directiva (...)”. Cabe ao juiz nacional
interpretar a lei da transposição, na medida consentida pela margem de apreciação
que o seu direito nacional lhe reconhece, em conformidade com as exigências do
direito comunitário.
Como referido no Ac. Francovich, o TJ questionado por um tribunal nacional sobre
o problema de saber se um Estado-membro pode ser obrigado a reparar os prejuízos
45
causados aos particulares pela não transposição de uma directiva, começa por
esclarecer que o ponto deve ser analisado “à luz do sistema geral do Tratado e dos
princípios fundamentais”.
Inerente ao sistema jurídico da tutela jurisdicional efectiva que suporta a União de
direito, a responsabilidade do Estado-membro por violação da norma
eurocomunitária depende:
ii) concretização do direito à indemnização, é no âmbito do direito nacional de cada
Estado-membro que incumbe ao Estado reparar as consequências do prejuízo
infligido;
Em relação às condições de responsabilidade, o TJ autonomiza 3 condições, em
função do caso concreto de prejuízos causados pela não transposição de 1 diretiva:
i) resultado prescrito pela directiva deve implicar a atribuição de direitos a favor dos
particulares;
ii) o conteúdo de tais direitos deve ser identificado com base nas disposições
relevantes da directiva;
iii) existência de um nexo de causalidade entre a violação da obrigação que impende
sobre o Estado-membro e o prejuízo invocado pelo particular lesado.
O alcance geral do princípio da responsabilidade exclui a imunidade de qualquer
função /órgão do EM, isto tem tem o seu desenvolvimento no Ac. Köbler, sobre a
responsabilidade do Estado-juiz. O entendimento abrangente sobre o direito à
indemnização reclamado pelos particulares, não podia ignorar, a responsabilidade
por facto de lei ou de erro judicial. O TJ entende que o legislador do EM que atua
num domínio em que dispõe de um amplo poder de apreciação, só podendo ser
responsabilizado se preenchidos 3 condições que sujeitam a UE ao dever de
reparação:
i)que a regra de direito violada tenha por objeto conferir direitos aos particulares;
46
ii)que a violação seja suficientemente caracterizada6;
No Ac. Tomásová, ficou claro que a responsabilidade do Estado por exercício da
função jurisdicional depende da violação perpetrada por 1 tribunal nacional que
decide em última instância , se desrespeitou com esta decisão manifestamente o DUE
aplicável, incluindo a violação da obrigação de reenvio. Ao restringir a
responsabilidade extracontratual do Estado-Juiz às decisões proferidas em última
instância, o TJ pressupõe que os EM cumprindo a obrigação inscrita no 19º.1 2º
parágrafo do TUE.
O princípio fundamental da autoridade do caso julgado e o carácter definitivo das
decisões proferidas pelos tribunais supremos não são um obstáculo ao
reconhecimento da responsabilidade do Estado-membro por facto de sentença.
O demandante numa acção de indemnização bem sucedida contra o Estado ganha o
direito à reparação, mas não necessariamente o direito a uma alteração da matéria
julgada na decisão geradora do prejuízo. Impõe-se uma alteração sobre o conteúdo da
6
No processo de verificação dos pressupostos da violação grave e manifesta, compete ao juiz nacional considerar a
relevância de indícios como: i)grau de clareza e precisão da regra violada; ii)margem de apreciação que a regra
consente;iii)caráter intencional ou não do incumprimento; i v)o caráter desculpável do erro de direito; v)
manutenção de práticas nacionais contrárias;
47
jurisprudência do tribunal nacional para casos futuros, eventualmente através de
uma intervenção do legislador no sentido de rever e clarificar o regime jurídico,
material ou processual, que enquadrava a decisão judicial manifestamente contrária
às obrigações comunitárias do EM em causa.( Ac. Comissão c. Itália).
O TJ precisou também que um tribunal supremo está obrigado a suscitar uma
questão prejudicial de interpretação a propósito do sentido controvertido de um
determinado conceito jurídico constante de legislação euro comunitária, sobre o qual
se constata a existência de jurisprudência divergente por parte de instâncias
jurisdicionais inferiores, bem como a ocorrência de dificuldades persistentes de
interpretação do mesmo conceito noutros EM ( Ac. Silva e Brito). A violação da
obrigação de reenvio pelo tribunal que julga em última instância concretiza a
exigência de uma violação suficientemente caracterizada. A obrigação de reenvio visa
tanto o objectivo geral da garantia da uniformidade na interpretação e aplicação do
Direito da União como o objectivo mais específico da protecção dos direitos dos
particulares.
De acordo com o artigo 8.o, n.o 4, as disposições dos tratados que regem a União
Europeia (Direito Primário) e as normas (entenda-se todos os actos jurídicos)
emanadas das suas instituições, no exercício das respectivas competências, são
aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos pelo Direito da União. O artigo
8º. 4 fundamenta a eficácia direta das normas e actos jurídicos da União nas suas
várias dimensões de intersecção com a ordem jurídica portuguesa:
i) a norma euro comunitária prevalece sobre a norma interna em situação de colisão
com a norma interna;
ii) a norma euro comunitária é directamente aplicável, como acontece com o
regulamento (288º.2, TFUE), e passa a vigorar na ordem jurídica portuguesa assim
que se inicia a sua vigência na ordem jurídica da União ( 297º TFUE), com exclusão
de actos internos de recepção ou transposição;
48
deveres para os particulares que a podem invocar junto dos tribunais nacionais no
âmbito de litígios em que são parte;
A verdadeira “cláusula europeia” da Constituição Portuguesa, no sentido que lhe
atribuímos de cláusula de aceitação de limitações à soberania em função dos
objectivos da construção europeia, encontra-se no artigo 7º.6. Existem limites
impostos ao 7º.6 CRP:
i) “respeito pelos princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático e pelo
princípio da subsidiariedade”;
ii) o segundo de recorte procedimental, prende- se com a aceitação das limitações de
soberania; a atribuição de poderes necessários aos órgãos da União, com vista ao seu
exercício em comum ou em cooperação, será convencionada, o que, nos termos do
artigo 161º. i), CRP, exigirá a forma de tratado solene;
Veja-se também que o TUE no seu artigo 4º.2, obriga a União a respeitar a “
identidade nacional” dos EM “ refletida nas estruturas políticas e constitucionais
fundamentais de cada 1 deles”.
Um dos pilares fundamentais do Estado de direito, que o TUE incorpora
expressamente entre os valores que fundamentam a UE (2ºTUE), é o princípio da
tutela jurisdicional efectiva, sendo que o artigo 47º CDFUE positiva o conteúdo
deste mesmo princípio. O artigo 19º.1 TUE tem como missão de garantir “ o respeito
do direito na interpretação e aplicação dos Tratados”. Por força justamente da
natureza imperativa do direito de acesso a um tribunal, o artigo 19º 1 e 2.. TUE, faz
recair sobre os EM a obrigação de estabelecer “as vias de recurso necessárias para
assegurar uma tutela jurisdicional efectiva nos domínios abrangidos pelo direito da
União”.
49
Em matéria de tutela jurisdicional efectiva, a jurisprudência do TJ é marcada pelo
recurso a dois instrumentos que são complementares no desígnio de, alargando ou
fortalecendo o âmbito de jurisdição do TJ, garantir um nível mais elevado de unidade
e coerência na interpretação e aplicação do DUE.
Questão prejudicial – aquela cuja resposta ou resolução é necessária e condiciona,
como etapa prévia ou antecedente, a solução do litígio concreto;
O processo de questões prejudiciais foi habilmente usado pelo Tribunal de Justiça
como o mecanismo por excelência de integração jurídica: a ferramenta multifunções
da construção pretoriana do tecido normativo do qual depende a própria existência
da União Europeia. Esta asserção sobre o muito que foi possível fazer no quadro do
artigo 267º TFUE resulta de:
ii) análise qualitativa, centrada na importância relativa da jurisprudência proferida a
título prejudicial;
Competência:
Juiz nacional pode resolver uma apreciação de validade, ele próprio, dispensando-se
de a submeter ao TJ, se considerar que deve considerar válido o ato, mas, segundo a
jurisprudência do TJUE, é obrigado a proceder ao reenvio sempre que, em seu
entender, a resolução da questão implique a declaração de invalidade do ato em
causa.
→ Só se pode questionar a validade ( vista como a validade formal dos atos) de atos
de direito derivado.
Sempre que no âmbito dos Tratados um tribunal nacional de instância se vir
confrontado com uma questão de interpretação ou de apreciação da validade de um
ato das instituições, esse tribunal pode:
50
- submeter a sua resolução ao TJUE, mediante devolução/ reenvio;
Quando num processo que suba até um tribunal supremo haja lugar à aplicação do
DUE, o tribunal deve:
→ Maria Luísa Duarte: nã o há obrigação de reenvio e sim o dever prudencial de
reenvio;
→ Posição maximalista: todos os tribunais que julgam como última instância
devem suscitar questões;
No Ac. Foto- Frost, o TJUE assumiu que só ele tem a competência de declarar a
invalidade de uma norma de DUE:
i) Juiz nacional tem competência para determinar se a questão é necessária ao
julgamento em causa (existe uma obrigação de reenvio por parte do órgão
jurisdicional nacional);
ii) Se o juiz nacional verificar uma potencial ilegalidade da norma, havendo dúvidas
sobre a validade, o juiz tem obrigatoriamente de colocar a questão se pretender a
invalidade da norma euro comunitária;
9. União de Direito: Instrumentos Específicos de Defesa do Estado de Direito
contra violações graves imputáveis aos EM
- Exigências substantivas:
- Exigências Procedimentais:
i) verificação da existência de um risco manifesto de violação grave dos valores do
artigo 2º ( 7º.1 TUE);
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ii) constatação pelo Conselho Europeu da existência de uma “ violação grave e
persistente por parte de um EM dos valores do 2º ( 7º.2 TUE);;
iv) Aplicação de sanções políticas - suspensão de direitos associados ao estatuto de
EM, incluindo sanções financeiras ou suspensão do direito de voto do representante (
7º.3 TUE);
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