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Direito da União Europeia 

Duarte Canau 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Etapas do Processo de Construção Europeia  
 
Fases de Integração Económica: 
- Zona  do  Comércio  Livre  ​(  eliminação  dos  entraves  tradicionais às relações 
comerciais  entre  Estados  e  a  garantia  de  livre  circulação  de  mercadorias nas 
relações entre Estados participantes);  
- União  Aduaneira  (  a  livre  circulação  de  mercadorias  é  alargada  a  todos  os 
produtos  e  a  aplicação  de  uma  pauta  aduaneira  comum  na  relação  com  o 
mundo exterior); 
- Mercado  Comum  (  acrescenta  ainda  a  livre  circulação  de  fatores 
produtivos  como  o  capital  e  mão-de-obra  e  ainda  um  processo  de 
harmonização das legislações nacionais); 
- União  Económica  e  Monetária  (  a  coordenação  das  políticas  económicas 
sociais,  financeiras  e  monetárias,  ainda  a  harmonização  das  legislações 
nacionais, comportando ainda a união monetária );  
 
1.1. Etapa de Transição ( 1958-1968) 
Anteriormente  ao  estabelecimento  da  CECA,  é  importante  estabelecer  um  dos 
mais importantes momentos da integração europeia, a Declaração Schuman: 
No  dia  9  de  Maio  de  1950  é  proferida  a  Declaração  de  Schuman,  vista  como  o 
passo  decisivo  que  pôs  em  marcha  o  processo  de  integração europeia e conduziu à 
criação  da  CECA  (  Comunidade  Europeia  do  Carvão  e  do  Aço).  Na  sala  do 
relógio  do  Quai  d’Orsay,Schuman  anuncia  o  seu  plano  (  concebido  também  por 
Jean  Monnet,  Paul  Reuter,  Etienne  Hirsch  e  Pierre  Uni).  O  seu  plano  repousava 
no  objetivo  imediato  de  reconciliação  franco-alemã,  propondo  a  gestão  em 
comum  do  seu  carvão  e  do  aço,  os  dois  produtos  que  alimentavam  o  esforço  da 
guerra,  sendo  que  Jean  Monnet  idealizava  esta  parte  do  plano  assentava 
principalmente na criação de um grande mercado.  
 
O  seu  outro  objetivo  (  sendo  este  visto  como  mediato),  era  a criação da Federação 
Europeia,  uma  ideia  muito  mais  ambiciosa.  As  condicionantes  expostas  para  esta 
ideia  por  Schuman  incidiam  em  primeiro  lugar,  na  solidariedade de facto entre os 
envolvidos.  
 


Schuman  via  uma  grande  abertura  para  a  adesão  de  outros  Estados  Europeus, 
sendo  que  a  Alemanha  e  França  formariam  a  “  primeira  base  concreta  de  uma 
federação  europeia  indispensável  à  preservação  da  paz”.  Esta  ideia  havia  já  sido 
apreciada  por  ilustres  filósofos  e  visionários,  como  o  já  referido  Vítor  Hugo,  que 
imaginava  os  “  Estados  Unidos  da  Europa”,  pacíficos  e  inspirados  num  ideal 
humanitário.  
 
Para  alcançar  o  plano  delineado  apostar-se-ia  num  caminho  de  integração  dos 
mercados  e  uma  abordagem  setorial  e  progressiva,  em  vez  da vista como “ brusca” 
instituição  de  uma  união  política.  A  Europa  deveria  avançar  em pequenos passos: 
graduais  (  na  tocante  aos  seus  avanços)  e  irreversíveis  (  nos  efeitos  de  integração 
alcançados). 
 
A  declaração  de  Schuman  contém  também  um  novo  conceito  de 
supranacionalidade.  A  ideia  de  supranacionalidade,  não  era  nenhuma  novidade, 
anteriormente  tinha  sido  desenvolvida  por  filósofos  como  Nietzsche  e  escritores 
como  George  Scelle  (que  qualificava  a  Sociedade  de  Nações  como  uma 
organização superestadual).  
Apesar  do  conceito  não  ser  referido  de  modo  concreto,  as  condições  de existência 
e  funcionamento  da  Alta  Autoridade  Nacional,  como  as  de  um  órgão 
supranacional, visto que as suas decisões seriam vinculativas para ambos os países e 
a  composição  assegurada  por  personalidades  independentes.  Veja-se  também  que 
o  artigo  9º  do  Tratado  da  CECA  viria  a  referir  expressamente  a 
supranacionalidade  que  fazia  recair  sobre  os membros da Alta Autoridade o dever 
de  não  praticar  atos  incompatíveis  com  a  “  natureza  supranacional”  das  suas 
funções.  
Schuman  institui  também  um  ingrediente  importante  no  que  toca  à  vinculação 
dos  Estados-membros  pelas  decisões  tomadas  pelos  órgãos  de  autoridade,  sendo 
que  estas  mesmas  decisões  teriam  como  objetivo  uma gestão do interesse comum . 
Outros  ingredientes  para  a  “supranacionalidade”  enunciados  na  Declaração  de 
Schuman  incluíam:  a  participação  dos  Governos  dos  Estados-membros  na 
nomeação  dos  órgãos;  a  instituição  de  mecanismos  de  tutela  jurisdicional  da 
legalidade dos atos adotados pela autoridade comum. 
 


O  antigo  chanceler  da  República  Federal  da  Alemanha,  Konrad  Adenauer 
exprimiu  o  seu  acordo  à  proposta  de  gestão  comum  do  carvão  e  do  aço  mas  foi 
ainda  mais  longe  dizendo  que  este  seria  “  o  ponto  de  partida  para  a  realização  de 
uma  estrutura  federativa  da  Europa”.  Também  os  países  do  BENELUX ( Bélgica, 
Países  Baixos  e  Luxemburgo)  e  a  Itália  aceitaram  o  convite  francês  e  resolveram 
participar  nesta  iniciativa,  a  verdade  é  de  que  desde  o  início  que  a  intenção  de 
Schuman  contemplava  o  pensamento  de  um  espaço  aberto  a  outros  Estados 
Europeus, sendo que este seria o “ ano zero da integração europeia”. 
 
Contudo  em  Junho  de  1950,  iniciou-se  a  Guerra  da  Coreia,  com  os  Estados 
Unidos  a  pressionar  a  Europa  Ocidental,  esta  foi  obrigada  a  tomar  em  conta  o 
problema  da  sua  defesa  face  ao  perigo  resultante  do  expansionismo  ideológico  e 
militar  dos  regimes  comunistas, em especial, a ameaça da URSS. Ainda por mais, a 
França  receava  o renascimento de um exército na República Federal da Alemanha, 
apresentando  o  esboço  da  Comunidade  Europeia  de  Defesa  ,  indo  os  franceses 
mais  longe  anos  mais  tarde  no  auge  desta  ideia  nacionalista,  falando na formação 
de  um  exército europeu. Tudo isto tornou claro que a integração política europeia 
nunca  seria  uma  construção  de  visionários,  intelectuais  e  homens  de  Estado.  O 
desdouro  que  veio  desta  tentativa  em  1954  veio  a  trazer  realismo  e  rigor  ao 
método funcionalista anunciado pela Declaração Schuman.  
Na  altura,  o  cepticismo  causado  por  esta  tentativa  foi  contrariada  pelos  países  do 
BENELUX  e  a  Itália,  que  convocaram  uma  conferência  entre  os  6  países  para 
Messina  em  Junho  de  1955.  Beyen  e  Spaak  (  ministro  holandês  e  belga 
respetivamente), apresentaram uma proposta de “ relançamento europeu” sobre as 
bases  do  desenvolvimento  da  estrutura  orgânica  da  decisão  comum,  a  fusão 
progressiva das economias e a criação e harmonização das políticas sociais. Desfeita 
a  construção  europeia  pela  via  da  integração  política  retoma-se  o  caminho  da 
“solidariedade  de  facto”.  O  relatório  desta  reunião,  o  relatório  de  Spaak  tinha  o 
esquema  das  2  comunidades  e  viria  a  constituir  a  base  das negociações que resulta 
na  assinatura  em  1957  do  Tratado  de  Roma,  que  institui  a  CEE  (  Comunidade 
Económica  Europeia),  que  pretende  o  estabelecimento  de  um  mercado  comum, 
com  regras  a  aplicar  a  todos  os  domínios  da  atividade  económica.  Com  a  criação 
da  CEE,  o  seu  alargamento e aprofundamento, assistimos ao triunfante projeto de 
unidade  europeia,  sem  deixar  de  ser  político  e  visionário,  alimentado  pela  força 
que resulta da unidade sinérgico.  


 
O  primeiro  objetivo  estabelecido  pelo  Tratado  da  CEE  era  a  realização  da  ​união 
aduaneira  (  eliminação  dos  entraves  tradicionais  às  relações  comerciais  entre  os 
Estados  e  a  garantia  da  livre  circulação  de mercadorias nas relações entre Estados). 
Era  também  vista  a  questão  do  Mercado  Comum,  com  regras  que  visavam 
assegurar  a  liberdade  de  circulação  de  mercadorias,  pessoas,  serviços  e  capitais, 
exigindo também um número de políticas comuns ( Agrícola, Pescas e Comercial). 
 
1.2. Etapa da Idade Adulta ( 1969 -1992) 
Quando  Georges  Pompidou  convocou  a  Cimeira  de  Chefes  de  Estado  e  de 
Governo,  isto  após  da  desconfiança  do  seu  antecessor  (  Charles  de Gaulle) sobre a 
concepção  dos  Estados e da existência de instituições supranacionais. Esta Cimeira 
teria  em  vista  3  grandes  questões  da construção europeia e realizou-se em Haia em 
1969: 
i)  Acabamento  ​(  concluir  a  realização  do  Mercado  Comum,  garantindo  o 
financiamento das políticas comuns através de recursos próprios);  
ii)  Aprofundamento  ​(  desenvolvimento  das  políticas  comuns  como  políticas  de 
acompanhamento); 
iii) Alargamento​( abertura das negociações com o Reino Unido);  
 
Membros  Originais  da  CECA ( 1951, Paris) → Bélgica, França, Holanda, Itália, 
Luxemburgo e RFA  
1º Alargamento (1973) → R ​ eino Unido, Irlanda e Dinamarca 
2º Alargamento ( 1981) → G ​ récia 
3º Alargamento ( 1986) → P ​ ortugal e Espanha  
4º Alargamento ( 1995) → Á ​ ustria, Finlândia e Suécia 
5º  Alargamento  (  2004)  →  República  Checa,  Estónia,  Letónia,  Lituânia, 
Polónia, Chipre, Malta, Hungria, Eslovénia, Eslováquia 
6º Alargamento ( 2007) →​Roménia e Bulgária 
 
Com  a  duplicação  dos  seus  Estados  Membros  num  curto  espaço  de  tempo  ( 
justamente  em  relação  à  entrada  de 10 membros num só ano), deu-se a atualização 
da matriz comunitária de integração.  
Isto  deu-se  nomeadamente  através  de  um  processo  de  revisão  de  fundo  dos  3 
tratados  institutivos  das  Comunidades  Europeias,  com  o  AUE  (  Ato  Único 


Europeu)  .  Assim em 1987, surgiram determinadas disposições que aprofundaram 
o projeto de integração comunitária existente : 
- alargou os poderes do Parlamento Europeu; 
- clarificou a função executiva da Comissão; 
- previu a criação do TPI ( Tribunal de Primeira Instância); 
O  AUE  reforçou  as  políticas  comunitárias  e  atribui  novos  poderes  às 
Comunidades  Europeias  com  o  intuito  de  facilitar  a  realização  de  um  verdadeiro 
mercado  interno  (  um  espaço  sem  fronteiras  internas,  no  qual  a  livre  circulação 
das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais).  
O  AUE  previa  ainda  um  modelo  comunitário  de  desenvolvimento  baseado  na 
coesão  económica  e  social,  tendo  como  instrumento  fundamental  a  coordenação 
dos fundos estruturais. 
Consagra  também  uma  forma  de  cooperação  intergovernamental  em  matéria  de 
política  externa  e  exprimia  também  a  vontade  dos  Estados-  Membros  em  criar  e 
pôr em funcionamento a União Europeia. 
 
1.3. A Etapa da Idade Futura ( 1993- 2009) 
No  início  dos  anos  90,  vários  acontecimentos marcaram o mundo nomeadamente 
o  fim  da  Guerra  Fria  e  o  termo  da  “  órbita  soviética”  na  Europa.  Em  1983  o 
Conselho  Europeu  de  Estugarda  chegou  a  uma  acordo  sobre  a  forma  de  uma  “ 
Declaração  Solene  sobre  a  União  Europeia”  que  firmou  um  compromisso  de 
democratizar  e  aprofundar  o  acervo  comunitário.  Depois  da  entrada  em  vigor  da 
AUE,  a  convergência  económica  passou  a  constituir  uma  prioridade  da  agenda 
política europeia, como pressuposto da união política. 
Mais tarde o Plano de Delors ( 1989) preconizava a realização de: 
- União  Monetária  (  como  através  da  liberalização  total  de  movimentos  de 
capitais e integração completa dos mercados bancários); 
- União  Económica  (  garantias  de  um  funcionamento  de  um  grande 
mercado único);  
Em  1993,  entraria  em  vigor  o  ​Tratado  de  Maastricht  ou  (  Tratado  da  União 
Europeia) incorporou as seguintes alterações: 
- criação  da  União  Europeia  e  consagração  do  nome  oficial  “  União 
Europeia”; 
- previsão  de  políticas  de  cooperação  intergovernamental  (  como  o  PESC  ou 
o JAI); 


- reconhecimento de um estatuto de cidadania da União; 
- Reforço  significativo  do  Parlamento  Europeu  e  dos  seus  poderes, 
conseguindo  participar  no  processo  comunitário  de  decisão  em  pé  de 
igualdade com Conselho 
 
Ficou  agendado  no  Tratado  de  Maastricht  para  1996  a  abertura  de  uma  nova 
conferência intergovernamental destinada a “ analisar, de acordo com os objetivos, 
das  disposições  comuns  do  presente  Tratado”.  O  reconhecimento  de  que  seria 
necessário  ir mais longe no processo iniciado de realização de uma “ união cada vez 
mais  estreita  entre  os  povos  da  Europa”.  Assim  o  Tratado  de  Amesterdão  ( 
2/10/1997), consagrou: 
- União  Europeia  e  Cidadania  ​(  com  objetivo  de  aproximar  a  União  do 
cidadão,  também  com  o  aprofundamento  de  políticas  comunitárias 
relacionadas com a coesão económica e social); 
- Liberdade,  Segurança  e  Justiça  (  instituiu  mecanismos  de  decisão 
comunitária  sobre  matérias  de  cooperação  intergovernamental  e  a 
realização  plena  da  livre  circulação  de  pessoas  no  contexto  de  um  espaço 
europeu de liberdade, segurança e justiça ( ELSJ) ; 
- Direitos  Fundamentais  ​(  instituição  de  um  procedimento  de  uma  tutela 
política  que,  no  caso  de  se  verificar  uma  violação  grave  e  persistente  dos 
princípios  da  liberdade,  da  democracia  e  dos  Direitos  Fundamentais, podia 
conduzir à aplicação de sanções ao Estado-Membro infrator); 
Do  ponto  de  vista  político  o  Tratado  limitou-se a aprofundar pressupostos de um 
funcionamento  mais  eficaz  da  União  Europeia.  Do  ponto  de  vista  jurídico, 
alargou  o  âmbito  de  limitação  da  soberania  dos  Estados  às  matérias  do  asilo, 
imigração, vistos e outras relacionadas com a livre circulação de pessoas.  
 
O  caminho  das  transformações  estruturais  da  UE,  ficaram  altamente  alterados 
pelo  marco  fundamental  que  foi  o  estabelecimento  da  moeda  única  (  EURO)- 
01/01/1999.  Isto  com  base  nos  critérios  de  convergência  enunciados  no  Tratado 
de  Maastricht,  tendo  sido  aprovado  pelo  Conselho  (  com  a  aderência  de  alguns 
Estados  Membros,  com  outros  a  optarem  por  não  entrar  na moeda única, como o 
caso do Reino Unido), entrando em Vigor em 2001. 


O  ​Tratado  de  Nice​,  aprovado  em  2001  apenas  entrou  em  vigor  em  2003  devido 
aos  processos  internos  de  aprovação1.  O  Tratado  de  Nice  concretiza o objetivo do 
acabamento  da  reforma  institucional  assinalada  pelo  Tratado  de  Amesterdão 
como  necessária  ao  funcionamento  de  uma  UE  com  muitos  mais  Estados 
membros. As suas principais modificações foram:  
 
i) Estrutura Institucional: 
- Parlamento  Europeu  (  fixação  do  número  máximo  de  deputados  e  o 
reforço  dos  poderes  desta  instituição,  mercê  da  extensão  do  âmbito  da 
co-decisão); 
- Comissão  ​(  limitação  do  número  de  membros  e  a  alteração  do 
procedimento  da  nomeação  dos  comissários  e  reforço  dos  poderes  do 
Presidente);  
- Tribunal  da  Justiça  (  garantia  de  composição  igualitária  entre  os  Estados 
-membros e criação de uma secção especial no TIJ);  
ii) Processo de Decisão: 
- Extensão  dos  Procedimentos  por  maioria  qualificada  (  alteradas  no 
sentido de substituir, a exigência pela unanimidade qualificada);  
- Extensão do âmbito do Procedimento de Co-Decisão; 
- Cooperações reforçadas; 
iii) Outras Alterações: 
- Adaptação de Cláusulas em relação aos Direitos Fundamentais; 
- Cooperação judiciária em matéria penal ( criação do EUROJUST); 
 
Mais  tarde  foi  realizado  o  Conselho  Europeu  de  Laeken,  que  previu  uma  nova 
Convenção  -  a  Convenção  sobre  o  Futuro  da  Europa  elaborou  a  Carta  dos 
Direitos  Fundamentais  da  UE.  A  fase  seguinte  desta  Convenção  passou  pela 
discussão  da  feitura  do  anteprojeto  de  um  ​Tratado  que  estabelece  uma 
Constituição  para  a  Europa.  ​A  Constituição  Europeia  (  influenciada  pela 
Convenção  de  Filadélfia),  não  defendia  soluções  muito  diferentes  daquele  que 
viria  a  ser  um  prudente  Tratado  (  Tratado  de  Lisboa).  O  TECE  ,  assinado  em 
Roma  estabeleceu  determinadas  soluções  que  passavam  por  uma  visão  da  Europa 
como  Estado  Federal,  que  acabariam  por  alimentar  vários  Estados-membros  e 
fazer crescer o movimento anti-Constituição. 

1
O caso da Irlanda que fez 2 referendos sobre o mesmo Tratado 


Os  referendos  negativos  em  França  e  na  Holanda  (  2005)  mergulharam  a  Europa 
numa  profunda  crise  política.  Com  o  processo  de  ratificação  em  curso,  tornou-se 
evidente  que  não  iria  existir  futuro  para  a  Constituição  Europeia.  A  ambição 
retórica  de  um  programa  constitucional  para  a  Europa  lançou  os 
Estados-membros  numa  trajetória  perigosa.  A  crise  transformou-se  numa 
oportunidade  de  avaliação  das  soluções  alternativas  guiadas  pela  perspetiva  de 
avatares sem ruptura.  
Assim  com  o  anúncio  do  Conselho  Europeu  do  óbito  da  Constituição  Europeia 
(2007)  ,  os  Estados-membros  invocam  o  objetivo  de  fazer  assentar  a  UE  sobre 
bases comuns renovadas até às eleições do Parlamento em 2009. 
Surge  então  o  Tratado  de  Lisboa,  que  mantendo  em  larga  medida  as  soluções 
vertidas  na  Constituição  Europeia,  assentou  num  processo  de  “ 
desconstitucionalização”,  que  ultrapassa  os  aspectos  relacionados  com  a  nova 
designação e a supressão de disposições de analogia federal. 
Apesar  de  terem  surgidos  novos  problemas  em  relação  à  assinatura  por  parte  de 
determinados  países  (  como  a  Irlanda),  a  crise  financeira  introduziu  um  novo 
elemento  na  equação, a necessidade de elaborar um plano de resgate para a Europa 
e  a  necessidade  de  uma  Europa  Unida  e  politicamente  ativa.  O  Tratado de Lisboa 
é assim assinado no dia 1 de Dezembro de 2009. 
 
 
2. Sistema Institucional da União Europeia 
2.1. Características estruturais do Sistema Institucional 
A  evolução  do  quadro  institucional  (  que  está  traçado  no  art.13º.1  TUE)  da  UE 
foi encaminhada por 2 vetores programáticos: 
- unificação  dos  órgãos  que  conduziria  à  definição  de  um  quadro 
institucional único; 
- necessidade  de  adequar  o  suporte  institucional  ao  incremento  de  poderes  e 
funções  confiados  ao  decisor  eurocumintário  que  levou  à  criação  de  novos 
órgãos; 
 
As demais instituições têm como fonte de legitimidade: 
- legitimidade  democrática  (  o  caso  da  eleição  por  sufrágio  directo  e 
universal do Parlamento Europeu);  


- legitimidade  governamental  (  como  é  o  caso  do  Conselho  que  tem 
representantes dos vários Estados-membro); 
- legitimidade  comunitária  (  A  Comissão  cujos  membros são escolhidos em 
função da sua competência); 
 
A autonomia que caracteriza as demais instituições pode ser: 
- externa  (  resulta  do  grau  de  independência  da  própria  UE  na  sua  relação 
com  os  Estados-membros  e  também  do  regime  associado  às  organizações 
internacionais de privilégios e imunidades); 
- interna  (  envolve  o  poder  de  auto-organização  com  uma  prerrogativa 
inerente de organização de serviços);  
 
Sedes da União Europeia: 
- Bruxelas​( Comissão e Conselho Europeu); 
- Luxemburgo​( Tribunal de Justiça); 
- Estrasburgo​( Parlamento Europeu); 
 
2.2. Princípios Fundamentais de vinculação Institucional  
A  atuação  das  diferentes  instituições,  órgãos  e  organismos rege-se por princípios e 
regras  previstos  no  texto  dos  Tratados  e  de  normas  para a sua aplicação, revelados 
pela  jurisprudência  comunitária.  Um  bloco  de  legalidade  euro  comunitária 
constitui  fundamento  e  limite  para  a  ação  desenvolvida  pelas  estruturas orgânicas 
de  decisão.  Todos  os  princípios  produzem  o  assinalado  efeito  de  conformação  do 
decisor da UE. 
 
- Princípio do Equilíbrio Institucional: 
A  estrutura  da  União  e  a  repartição  de  competências  entre  os  diversos  órgãos que 
não  correspondem  ao  modelo  clássico  da  separação  tripartida  de  poderes.  O 
modelo  da  UE  é  um  que  assenta  na  bipartição  entre  poder  governativo  e  poder 
judicial.  
A  função  legislativa  é  exercida  em  regra  em  sistema  de  co-decisão  (  Parlamento 
Europeu e Conselho). A heterodoxia resulta de 2 princípios construtivos: 
- repartição  horizontal  ​(  poderes  entres  as  diferentes  instituições  de decisão 
política); 
- repartição vertical ​( poderes entre os Estados-membros e a UE); 


 
Este  princípio  está  subentendido  no  13º.2  TUE,  sendo  que  o  TJUE  define  o 
princípio  como  “  cada  órgão  exerce  as  suas  competências  no  respeito  das 
competências  dos  outros  no  quadro  de  um  sistema  de  repartição de competências 
entre  os  diferentes  Órgãos  da  Comunidade  e, no caso de se verificar uma violação. 
No  princípio  do  equilíbrio  institucional  sobreleva  a  ideia  do  respeito  das  relações 
interinstitucionais  (  dinâmica dos poderes). O controlo da legalidade da UE é mais 
exigente,  as  instituições  devem  exercê-lo  de  um  modo  que  não  afete  as 
prerrogativas das restantes instituições. 
 
- Princípio do Respeito pelo acervo comunitário  
Essencialmente  reconduz-se  a  “  ao  tornarem-se  membros  da  UE,  os  Estados 
aceitam  sem  reservas,  os  tratados  e  as  suas  finalidades  políticas,  as  decisões  de 
qualquer  natureza  tomadas  depois  da  entrada  em  vigor  dos  tratados  e  as  opções 
feitas no domínio do desenvolvimento e do reforço das Comunidades”. 
 
- Princípio da Cooperação Leal  
Este  princípio  pode  ser  interpretado  com  uma  exigência  básica  de  “não- 
contradição”,  impondo  coerência  de  atuação, traduzida na obrigação de adoptar o 
comportamento  que  se  mostre  mais  favorável  ao  cumprimento  das  obrigações 
previstas nos Tratados ( 4º.3 TUE). 
 
É  um  princípio  visto  com  um  caráter  bilateral,  que  promove  a  cooperação 
interinstitucional  (  exige  das  instituições  um  comportamento  que  facilite  a 
tomada  de  decisões  e  torne  mais  eficaz  a  atuação  em  ordem  de  garantir  o 
cumprimento do DUE - 13º.2 );  
 
- Princípio da Transparência: 
A  atuação  institucional  segundo  critérios  de  transparência  é  um  princípio  de 
formação  relativamente  recente  no  DUE.  Como  é  explícito  no  Tratado  de 
Maastricht  “  a  transparência  do  processo  decisório  reforça  o  caráter  democrático 
das Instituições e a confiança do público na Administração”.   
 
Subjacente  a  este  princípio  está  o  ​direito  fundamental  de  acesso  aos 
documentos (​ 42º Carta dos Direitos Fundamentais UE). 

10 
 
3. Instituições Políticas  
 
3.1. Parlamento Europeu 
Composição: 
É  composto  pelos  representantes  dos  cidadãos  da  União,  eleitos  por  sufrágio, 
universal,  direto,  livre  e  secreto,  por  um  mandato  de  5  anos  (  14º.2  e  3  UE).  O 
atual  modelo  de  eleição  é  direto  pelos  cidadãos  de  todos os Estados-Membros que 
são, cidadãos da UE ( 20º.1 TFUE).  
O  Parlamento  Europeu  é  composto por 751 deputados, sendo que a composição é 
feita através de 2 critérios diferentes : 
- equidade demográfica​( concretização do princípio representativo);  
- certo equilíbrio entre pequenos e grandes Estados-membros​( 14º.2 UE);  
 
O  art,  14º.2  UE,  na  parte  em  que  estipula  uma  composição  não  superior  750 
deputados  mais  o  Presidente  (  751),  existem  vários  critérios  que  vinculam  o 
Conselho Europeu: 
- representação dos cidadãos é degressivamente proporcional; 
- nenhum  Estado-membro  pode  (  com  independência  do  número  de 
cidadãos) ter mais de 96 lugares e menos 6 lugares.  
 
A  representação  dos  cidadãos  no  Parlamento  Europeu  deve  ser  “ degressivamente 
proporcional”  (  14º.2  UE),  o  que  impõe  que  a  relação  população/  deputados 
deverá  ser  tanto  menos  proporcional  quanto  mais  populosos  forem  os  Estados. 
Trata-se  de  uma  solução  tradicional  para  os  problemas  de  representação 
institucional  dos  Estados-membros  no  seio  da União, com a garantia de uma certa 
equidependência  em  função  da  dimensão  demográfica,  económica  ou  territorial 
dos  países.  A  representação  deve  ter  por  base  número  de  cidadãos  de  um 
Estado-Membro  (  9º  UE  e  20º.1 TFUE), incluindo os que residem no território de 
outros Estados-membros. A questão é qual é o critério determinante: 
- população  (  o  que  favorece  os  Estados-membros  de  acolhimento  de 
imigrantes); 
- nacionalidade  (  o  que  favorecia  Estados-membros,  como  a  Itália  ou 
Portugal com a tradição de emigração); 
 

11 
O  mandato  europeu  é  de  caráter  representativo:  os  deputados  votam 
individualmente  e  não  podem  receber  ordens  nem  estar  vinculados  a  quaisquer 
instruções.  Os  representantes  europeus  gozam  dos  privilégios  e  imunidades 
constantes do Protocolo relativo aos Privilégios e Imunidades da UE.  

Organização e funcionamento: 
Os  deputados  estão  agrupados  por  ideologias  e  afinidades  políticas  e  não  em 
função  da  sua  nacionalidade.  Cada  deputado  só  pode  pertencer  a  um  grupo 
político.  Aos  deputados  é,  contudo  reconhecido  o  direito de não aderir a nenhum 
grupo  político,  desenvolvendo  a  sua  atividade  como  deputados  não-inscritos.  As 
famílias  políticas  mais  importantes  são  o  Partido  Popular  Europeu  (  associado  à 
direita)  e  Aliança  Progressista  Socialistas  e  Democratas  (  associado  ao 
centro-esquerda).  Os  grupos  políticos  podem  ser  considerados  um  embrião  dos 
partidos  políticos  europeus,  mas  no  estádio  atual,  constituem  apenas  formas  de 
coligação de partidos de base nacional.  
 
Competências: 
O artigo 14º UE, tem as principais áreas de atuação do Parlamento Europeu.  
 
→ Poderes de Controlo Político: 
- Participação na nomeação dos membros de outras instituições e órgãos 
i)  Nomeação  da  Comissão  (  17º7  UE-  o  candidato  proposto  pelo  Conselho 
Europeu  é  “eleito  pelo  Parlamento  Europeu  por  maioria  dos  membros  que  o 
compõem”).  
ii)​Nomeação do Provedor de Justiça ( 228º.2 TFUE); 
- Moção de Censura ( 234º TFUE); 
- Questões e Debates ( 230º TFUE);  
- Direito de Petição e Inquérito ( 226º e 227º TFUE);  
 
→  Poderes  Orçamentais  -  o  Parlamento  está  convertido  numa  instituição  de 
decisão orçamental e no exercício dos seus poderes pode: 
i) alterar o projeto de orçamento ( 314º.4.c TFUE); 
ii) declarar verificada a aprovação do orçamento ( 314º.4.a TFUE); 
iii) rejeitar a aprovação do projeto comum ( 314º.7.b TFUE);  
 

12 
→  Poderes  de  Decisão  no  Processo  Normativo  ​(  órgão  da  tríade  institucional 
responsável pelo processo comunitário de decisão normativa): 
i) participação do Parlamento Europeu no processo legislativo ( 289º.1 TFUE); 
ii) participação do Parlamento no processo de execução das normas ( 291º TFUE); 
iii)  participação  do  Parlamento  no  processo  de  vinculação  internacional  da  UE  ( 
218º.6.a TFUE); 
iv)  poder de aprovação prévia ( o Parlamento Europeu dispõe de um poder de veto 
sobre um leque significativo de matérias de elevada densidade política);  
 
3.2. Conselho Europeu  
Conselho Europeu 
- Bases jurídicas: a​rtigo 15º TUE; artigos 235º -236º TFUE 
- Origem: 
Das  cimeiras  intergovernamentais  ao  estatuto  de  superinstituição  no  quadro  do 
Tratado de Lisboa (marca indelével de uma opção dos Estados membro pelo 
modelo de pendor intergovernamentalista no sistema de governação da UE, 
em detrimento, sobretudo, do estatuto da Comissão e da dimensão 
integracionista ou supranacional do governo da União) 
 
-  Natureza  jurídica:  instituição da União (v. artigo 13.o, n.o 1, TUE) de direcção 
política; 
- Composição: 
Chefes de Estado ou de Governo ​(no caso de Portugal, e com 
base na CRP, é o PM enquanto responsável pela condução da política externa 
do País – v. artigo 191.o, n.o 1, al. b; e artigo 201.o, n.o 1, al. c), CRP), o 
Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão (v. artigo 15.o, 
n.o 2, TUE)​. O ​ Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros 
e a Política de Segurança​ (ARU) ​participa nos trabalhos. O ​ Presidente do 
Conselho Europeu e o Presidente da Comissão ​não têm direito de voto (v. 
artigo 235.o, n.o 1, TFUE). A presença de ministros e de um membro da 
Comissão depende de decisão dos membros do Conselho Europeu “quando 
a ordem de trabalhos o exija”, ou seja, quando a discussão exige uma 
assessoria técnica 
 
- Presidência:  

13 
O Conselho Europeu adquiriu com o Tratado de Lisboa uma 
presidência permanente que substitui o anterior formato das presidências 
semestrais e rotativas que apenas se mantém para o Conselho (de Ministros). 
O Presidente é eleito pela instituição por maioria qualificada, por um 
mandato de dois anos e meio, renovável uma vez (v. artigo 15.o, n.o 5, TUE). 
Actualmente, exerce esta função o belga Charles Michel. Uma espécie de 
Presidente da União, a sua relevância política e visibilidade no complicado 
tabuleiro de xadrez que é a estrutura institucional de direcção política da 
União depende de vários factores, uns objectivos outros subjectivos 
 
- Organização e funcionamento:  
 
Reúne  duas  vezes  por  semestre,  salvo  situação  que  justifique  uma  reunião 
extraordinária do Conselho Europeu 
- Regra de deliberação: c​onsenso, diferente de unanimidade porque dispensa 
a  votação  por  parte  dos  altos  representantes  dos  EM  (  15º  .4TUE),  salvo  previsão 
pelos Tratados em sentido contrário (v.g. artigo 235º 3, TFUE; artigo 17º. 7, TUE; 
artigo 50.º3, TUE) 
 
 
 
- Competências:  
O  Conselho  Europeu  é  responsável  pelos  impulsos  necessários  ao 
desenvolvimento  e  à  definição  das  orientações  e  prioridades  políticas  gerais  da 
União  (v.  artigo  15.o,  n.o  1).  Ou  seja,  esta  instituição  é  o  motor  da  acção  política 
da  União,  não  podendo  exercer  a  função  legislativa  que,  na  relação  com  esta 
actividade  específica  de  indirizzo  político,  surge  como  uma  função  de 
concretização  (v.  artigo  15.o,  n.o  1,  in  fine,  TUE).  Na  qualidade  de instituição de 
missão  exclusivamente  política,  o  Conselho  Europeu exerce um vasto conjunto de 
poderes  e  prerrogativas  que  podemos  agrupar  em  torno  de  duas  funções 
principais: 
 
-   Estatutária:  no  sentido  em  que  o  Conselho  Europeu  pode  decidir  sobre o 
estatuto  jurídico  da  União,  adoptando  decisões  que  alteram  a  Parte  III  do 
TFUE  ou  que  substituem  a exigência da unanimidade pela regra da maioria 

14 
qualificada  (  artigo  48.º  7,  TFUE)​.  ​Por  outro  lado,  o  Conselho  Europeu 
intervém, de modo direto e decisivo, na escolha das lideranças europeias  
 
- Impulsão política:  
Manifesta-se,  em  especial,  no  domínio  da  governação  económica  (v.  artigo  121.o, 
n.o 2, TFUE) e das relações externas da União (v. artigo 22.o, n.o 1, TUE).  
 
- Tipologia dos actos do Conselho Europeu: 
Assumem  a  forma  de  declarações,  resoluções,  orientações,  decisões  atípicas, 
porque  distintas das decisões na acepção do artigo 288º TFUE (Conselho Europeu 
não adopta regulamentos nem directivas); 
 
3.3. Conselho da União Europeia  
Composição:  
Os  Tratados  da  UE  identificam  este  órgão  central  do  sistema  institucional  da  UE 
como  o  “  Conselho”  (  15º.TUE  e  237º- 243º TFUE). Para evitar confusºoes com o 
Conselho  Europeu  passou  a  ser  conhecido  pela  referência  à sua composição como 
Conselho de Ministros.  
Cabe  a  cada  Estado-membro  a  escolha  do  seu  representante  a  qual  pode  recair 
sobre qualquer membro do Governo ( ex: ministro - 16º.2 UE). 
Na  eventualidade  de  um  Estado-membro  não  estar  representado por um membro 
do  Governo,  pode  (  nos  termos do 239º TFUE), delegar noutro Estado-membro o 
exercício do direito de voto, desde que esteja representado a nível ministerial. 
 
As  formações  mais  relevantes  que  este  pode  tomar  consoante  as  matérias  em 
discussão incluem: 
- Conselho dos Assuntos Gerais; 
- Conselho dos Negócios Estrangeiros; 
- ECOFIN 
 
Organização e Funcionamento: 
- Presidência: 
O  artigo  16º.9  UE,  determina  que  a  presidência  das  formações  do  COnselho  é 
assegurada  pelos  representantes  dos  Estados-membros  no  Conselho,  com  base  no 

15 
sistema  de  rotação  igualitária  (  236º.b  TFUE),  as  regras  aplicáveis  ao  exercício  da 
Presidência do Conselho. 
 
O  formato  triangular  da  Presidência  do  Conselho  permite  uma  articulação  mais 
eficiente  e  previsível  das  atividades  do  Conselho,  especialmente  no  domínio 
legislativo  e  definição  da  política  externa.  A  Presidência  deve  privilegiar  a 
formação  de  consensos  e  formular  propostas  que  possam  superar  ou  mesmo 
prevenir  bloqueios.  Não  está,  contudo,  reduzida  a  um  dever  de  neutralidade 
política.  No  quadro  de  objetivos  da  União  que  são  múltiplos,  há  que  definir uma 
estratégia,  divulgá-la  e  atuar  de  modo  a  alcançar  um  adequado  grau  de  realização 
do programa. 
 
- COREPER: 
É  composto  pelos  representantes  permanentes  dos  GOvernos  dos 
Estados-membros  em  Bruxelas e desempenha a função de preparar os trabalhos do 
Conselho  e  de  exercer  mandatos  que  este  lhe  confia  (  240º.1  TFUE).  è  o 
COREPER  que  assegura  uma  ligação  constante  entre  os  GOvernos  dos 
Estados-Membros  e  a  Comissão,  a  propósito  dos  projetos  e  iniciativas  desta 
instituição. A instituição pode ser dividida em:  
- COREPER  II  (  constituído  pelos  chefes  das  representações  permanentes 
que prepara os trabalhos sobre matérias de maior relevo político); 
- COREPER  I  (  composto  pelos  representantes  permanentes  adjuntos  que 
prepara  os  trabalhos  das  restantes  formações  do  Conselho  em  que  é 
dominante a componente técnica das propostas em discussão);  
 
- Secretário-Geral: 
O  COnselho  é  assistido  por  um  órgão  de  natureza  burocrática  chamado 
Secretariado-  Geral,  colocado  sob  a  dependência  de  um  Secretário-Geral  que  é 
nomeado  pelo  Conselho  por  maioria  qualificada  (  240º.2  TFUE).Ao 
Secretariado-Geral compete: 
- elaboração do projeto de ata das reuniões do Conselho;  
- publicação dos atos no Jornal Oficial; 
- elaboração de um projeto de despesas do Conselho; 
- Função de depositário de acordos e convenções internacionais; 
 

16 
- Regras de Deliberação:  
i)  Maioria  de  Simples:  o  Conselho  delibera  por  maioria  dos  membros  que  o 
compõem  (  238º.1  TFUE).  O  ato  considera-se  aprovado  quando  reúne  o  voto 
favorável  da  maioria  dos  Estados-membros  que  integram  o  Conselho  (  14/27).  Se 
o  Conselho  estiver  em  reunião  em  reunião  com  o  quórum  mínimo  em  virtude  ( 
TFUE  239º),  de  todos  os  Estados-membros  presentes  terão  de  votar  a  favor  ou 
fazê-lo em nome do Estado representado.  
 
ii)  Maioria  Qualificada:  é  alcançada  através  de  um  modelo  de  ponderação  do 
peso  relativo  dos  Estados-membros,  que  participem  no  processo  deliberativo com 
um  número variável de votos ( depender também do número de Estados-membros 
favorável à deliberação e da respetiva expressão demográfica).  
 
Num  total  de  345  votos  distribuídos  pelos  27  Estados-membros  a  minoria  de 
bloqueio precisa de reunir 91 votos: 
- o  voto  contra  dos  4  grandes  chega  para  bloquear ( Alemanha, França, Itália 
e Reino Unido); 
- o  voto  reunido  dos  11  pequenos  estados-membros está longe da minoria de 
bloqueio; 
- os  10  estados-membros  de  média  dimensão  conseguem  impedir  a 
deliberação ( é aqui que se inclui Portugal) 
O cálculo da maioria qualificada pode ser feita através da seguinte maneira: 
1- ​Começar pela regra, vertida no art. 16º.4 UE; 
2-  Relacionar  a  solução  que  ficou  consagrada  com  os  seus  antecedentes  ( 
nomeadamente,  o  Estado.  membro)  que  fez  a  proposta  porque  a  fez,  quais  os 
Estados-membros que apoiaram ou a ela se opuseram.  
3- ​Simples Frações e Percentagens; 
 
iii)  Unanimidade  :  ​é  imposta  para  as  decisões  sobre  matéria  de  particular 
sensibilidade  política  ou  decisões  de  incidência  estrutural  e  “  constituinte”  .  A 
unanimidade  reflete,  de  modo  direto,  o  exercício  da  soberania  e  concretiza  o 
princípio  da  igualdade  dos  Estados-membros no processo de formação da vontade 
da  União.  O  direito  de  veto  pode  ser  exercido  por  qualquer  Estado-membro,  de 
acordo  com  um  princípio  fundacional  de  soberania  (  por  exemplo  a  política  da 
fiscalidade).  

17 
 
Competências: 
- Poderes  de  decisão  (  16º.1  UE):  no  âmbito  da  função  legislativa  e 
orçamentária,  no  tocante  à  função  orçamental  não  existem  reservas  sobre  a 
caracterização da competência do Conselho; 
- Poderes  de  Vinculação  Internacional  :  ​os  tratados reservam ao COnselho 
um  verdadeiro  poder  subordinante  em  matéria  de vinculação internacional 
Europeia 
1) na  fase  de  negociação:  o  Conselho  autoriza  a  abertura  das  negociações  e 
controla o seu desenrolar sob a forma de diretrizes ( 218º.2 e 3 TFUE); 
2) na  fase  da  assinatura:  o  Conselho  adopta  a  decisão  que  autoriza  assinatura 
do acordo ( 218º.5 TFUE); 
3) na  fase  da  conclusão:  o  Conselho  adopta  a  decisão  de celebração, precedida 
nos casos previstos de aprovação pelo Parlamento Europeu ( 218º.6 TFUE);  
 
- Poderes de Execução​( 24º e 26º UE); 
- Poderes  de  Coordenação ​( 16º.1 UE): a função primordial  desdobra-se em 
2  planos:  plano  das  políticas  da  UE  ;  plano  das  políticas  definidas  pelos 
Estados-membros;  
 
 
3.4. Comissão Europeia:  
Composição: 
A  Comissão  é  composta  por  27  Membros  (  1  nacional  por  cada  EM),  o  art.  17º.3 
UE,  traça  aquele  que  deve  ser o perfil do candidato a comissário e o 245º TFUE os 
deveres  de  função  de  um  membro  da  Comissão,  sendo  que  o  mandato  de 
comissário  tem  a  duração  de  5  anos  (  17.3  UE).  De  acordo  com o 17º.7 existem as 
seguintes fases de nomeação da COmissão: 
 
1-​Escolha do Presidente;  
2-​Escolha dos restantes membros da Comissão; 
3-​Voto de aprovação parlamentar; 
4-  Nomeação  (  compete  ao  Conselho  Europeu,  depois  da  aprovação  pelo 
Parlamento,  deliberando  por  maioria  qualificada,  a  nomeação  definitiva  da 
Comissão); 

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O  artigo  246º  TFUE  enumera  as  causas  de  cessação  individual  das  funções  de 
comissário  e  existe  ainda  a  possibilidade  de  destituição  coletiva  da  COmissão  na 
sequência da votação de uma moção de censura ( 234º TFUE).   
 
Organização e funcionamento: 
O  princípio  da  colegialidade  significa  que  todas  as  decisões  adoptadas  são 
imputadas  à  Comissão  no  seu  conjunto  e  são  assumidas  coletivamente  por  todos 
os seus membros. 
 
No  plano  político,  a  colegialidade  da  Comissão  implica  uma  responsabilidade 
coletiva, especialmente perante o Parlamento Europeu ( 17º.8 UE). 
 
Competências: 
O  art.  17º.1  UE,  confia à Comissão com o objetivo de promover “ o interesse geral 
da União”, Há que destacar também a competência: 
 
- de  iniciativa:  o  art.  17º.2  TUE,  estabelece  o  exclusivo  da  iniciativa 
legislativa  da  Comissão.  O  poder  de  iniciativa  da  Comissão  em  sede  de 
processo  legislativo  reveste  um  particular  significado  político.  O  Tratado 
instituiu  mecanismos  de  garantia  deste  monopólio  de iniciativa: em caso de 
algum,  o  Conselho  ou  o  Parlamento  podem-se  substituir  à  Comissão  na 
elaboração  de  um  proposta  de  ato;  o  Conselho  só  pode  alterar  uma 
proposta da Comissão por unanimidade ( 293º.1 TFUE); 
 
- de  controlo:  a  Comissão  é  a  “guardiã  dos  Tratados”,  porque,  como 
estabelece o art. 17º.1 TUE; 
- de  execução:  identificada  como  o  Executivo,  a  Comissão  é  o  órgão  titular 
da  competência  genérica  de  aprovação  das  normas  de  execução.  A 
competência-regra  de  adopção  de  atos  de  execução  pertence  aos  Estados- 
membros  (  291º.1  TFUE  e  4º.3  TUE).  Numa  aplicação  do  princípio  da 
subsidiariedade,  o  291º.2  TFUE  limita  a  competência  de  execução  da 
Comissão; 

19 
- de  relações  externas:  ​regula  o  processo  de  vinculação  internacional, 
podendo  recomendar  a  abertura  de  negociações  que  conduzirá  depois  com 
base nas diretrizes ( 218 TFUE);  
- de  representação:  ao  abrigo  do  335º  TFUE,  o  seu  poder  tradicional  de 
representação  da  UE  nas  ordens  jurídicas  dos  Estados-membros, mas com a 
limitação,  explicitada  pelo  Tratado  de  Lisboa  decorre  dos  poderes 
específicas de representação;  
 
3.5. Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)  

-  ​Bases  jurídicas​:  ​artigo  19º  TUE;  artigos  251.º  a  281.o  TFUE;  1  instituição,  2 
tribunais; 

- Estrutura → uma instituição 2 tribunais 


- Tribunal de Justiça  
- Composição: O TJ é composto por um juiz por cada EM (27) e assistido  
por 11 advogados-gerais ( art. 252º TFUE); 
- Tribunal Geral  
 
- Composição: P
​ elo menos por 1 juiz por cada EM ( 19º.2 TUE);  
 

- Natureza da jurisdição: 

O  TJUE  tem  por  missão  garantir  o  “​respeito  do  direito  na  interpretação  e  aplicação 
dos  Tratados​”  (  artigo  19.o,  n.o  1,  TUE).  A  sua  jurisdição  é  exercida  como:  1)  de 
atribuição;  2)  obrigatória;  3)  exclusiva  e  4)  no  caso  do  TJ,  última  instância.  O  que 
significa: 

-  Todas  as  instituições  da  União,  incluindo  o  TJUE,  estão  limitados  pelo 
princípio  da  competência  por  atribuição  (v.  artigo  13.o,  n.o  1,  TUE).  O 
sistema  judicial  da  UE  é,  por  consequência,  um  sistema  descentralizado  e 
plural,  com  fundamento  no  artigo  274.o  TFUE,  cabendo,  por  outro  lado, aos 

20 
EM  garantir  a  tutela  jurisdicional  efectiva  através  da  criação  das  vias  judiciais 
necessárias (v. artigo 19º.1 e 2 TUE).  

- Uma​ jurisdição obrigatória​, e não facultativa; 

- ​Jurisdição  exclusiva​,  ​uma  garantia  que  resulta  do  artigo  344º  TFUE  e, 
excluindo  o  recurso  aos  tribunais  internacionais  de  tribunais  arbitrais  como 
alternativa  ao  TJUE,  traduz  o  compromisso  firme  dos  EM  em  relação  à 
especificidade  da  União  como  modelo  associativo  de  integração  entre  Estados 
e em relação à autonomia do Direito da União Europeia; 

-  ​Jurisdição  de  última  instância​,  já  que  as  decisões  proferidas  pelo  TJ 
(acórdãos  e  despachos)  não são passíveis de recurso, salvo as situações previstas 
de recurso extraordinário; 

Competências: 

Os  Tratados  reconhecem  ao  TJUE  competências  muito  amplas  de  controlo 
jurisdicional  e  que  o  Juiz  da  União  interpretou  como  um mandato para instituir um 
sistema completo e coerente de vias de recurso: 

- recursos  e  ações  interpostos  por  um  EM,  por  uma  instituição  ou  por  um 
particular; 
- processo das questões prejudiciais; 
- outras vias de direito; 

Fogem à competência do TJUE: 

- a  competência  de controlo no âmbito do PESC ( salvo nos casos vistos no 275º 
TFUE);  
- o escrutínio do Espaço de liberdade, segurança; 

3.6. O Banco Central Europeu 

A  disciplina  jurídica  conta  do  artigo  13º.1  e  3  do  TUE  e  ainda  dos  artigo 282º- 284º 
TFUE.  O  BCE  goza  de  personalidade  jurídica  (  282º.3  TFUE),  coloca  o  BCE  como 
instituição  da  União,  o  que  coloca  a  na  situação  única  de  instituição  dotada  de 
personalidade jurídica ( 13º.1 TUE).  

O  artigo  127º.2  TFUE  destaca  a  manutenção  da  estabilidade  dos  preços  como 
objetivo  primordial.  O  travejamento  da  política  monetária  comum  é  formado  pelos 

21 
seguintes  princípios  orientadores:  preços  estáveis,  finanças  públicas  e  condições 
monetárias  sólidas  e  balança  de  pagamentos  sustentável  (  119º.3  TFUE).  Como 
principais funções temos: 

- definir e executar a política monetária da União; 


- definir  e  conduzir  uma  política  cambial  única  e  gerir  as  reservas  cambiais 
oficiais dos Estados-membros ( 127º.2 TFUE); 
- deter  e  gerir  as  reservas  cambiais  oficiais  dos  Estados-membros  (  127º.2 
TFUE); 
- promover o bom funcionamento dos sistemas de pagament ( 127º.2 TFUE); 

Poderes: 

- Dirigir orientações e instruções aos bancos centrais nacionais; 


- Decisões ​Suis Generis; 
- Outras medidas vistas como necessárias; 

O  estatuto  de  independência  do  BCE  (  130º  TFUE  e  artigo  282º  TUFE  282º.3 
TFUE), com manifestações em 5 áreas principais: 

- independência  institucional  (  envolve  a  personalidade  jurídica  a  capacidade 


de  decisão  própria  e  o  dever  de  não  seguir  instruções  externas,  das  instruções 
da União, dos Governos dos Estados-Membros); 
- independência operacional​( o exercício autónomo dos seus poderes); 
- independência  pessoal  ​(  garantida  pela  duração do mandato dos membros da 
Comissão  Executiva,  pelo  seu  caráter não renovável, pela natureza excepcional 
das causas de destituição); 
- independência  financeira  ​(obtenção e gestão de recursos próprios, pelo que o 
seu financiamento não depende do Orçamento da União); 
- independência da Gestão interna; 

3.7. Tribunal de Contas 

O  Tribunal  é  composto  por  um  nacional  de  cada  Estado-membro  (  285º.1.  TFUE + 
286º.1 TFUE). 

O Tribunal exerce competências: 

- controlo de contas: 

22 
i)  Função  de  controlo  financeiro  ​-  abrange a fiscalização da totalidade das receitas e 
despesas da União ( 287º.1 TFUE); 

ii)  O  controlo  pelo  Tribunal  é  externo  e  o  controlo  ​interno  ​é  feito  ​a  posteriori​, 
porque incide sobre as contas; 

- tipo consultiva: 

i) função consultiva: exercida por outras instituições sob a forma dos pareceres pode 
ser  obrigatória  (  322º  TFUE  e  325º.4  TFUE),  sobre  medidas  de  prevenção  ou 
facultativa ( 287º.4 TFUE); 

3.8. Órgãos Criados pelos órgãos:  

- O  Alto  Representante  da  União  para  os  Negócios  Estrangeiros  e  a  Política  de 
Segurança; 
- O Provedor de Justiça Europeu ( 228º TFUE) ; 
- O Comité Económico e Social ( 300º.2 TFUE); 
- Comité das Regiões; 

4. Os Procedimentos de decisão da União Europeia  

Os  procedimentos  de  tomada  de  decisão,  instituições,  órgãos  da  União  apresentam 
características  singulares  que  os  distinguem  pela  ausência  de  um  princípio  claro  de 
separação  de  funções  e  pela  amplitude  material  das  suas  atribuições,  cujo  exercício  é 
assegurado através de um conjunto vasto e complexo de procedimentos.   

Existe  todavia,  uma  diferenciação  a  ser  retida  entre  a  função  normativa  primária  e  a 
função  normativa  secundária  (  ou  função  executiva).A  prática  institucional 
consagrou  esta  distinção  funcional ao adotar a nomenclatura relativa aos atos de base 
( regulamentos, diretivas) e aos atos de execução ( decisões). 

A  função  normativa  primária  correspondente  à  adopção  de  atos  normativos  de 


conteúdo  inovatório  à  função  legislativa  da  União Europeia exercida sob a forma  do 
procedimento  legislativo  ordinário  (  289º.1  TFUE)  e  dos  procedimentos  legislativos 
especiais  (  289º.2  TFUE).  os  procedimentos  de  decisão  existem  na  medida  em  que 
estejam previstos nos tratados - princípio da tipicidade.  

4.1. Procedimento Legislativo Ordinário 

23 
O regime está previsto no artigo 294º TFUE: 

i) Proposta da Comissão:​nos termos do artigo 17º.2 TUE, a proposta deve ser : 

- fundamentada  com  justificação  suficiente  sobre a necessidade de legislar sobre 


a matéria ( princípio da subsidiariedade - 5º.3 TUE);; 
- adequação  das  medidas  propostas  e  do  próprio tipo de ato jurídico a adoptar ( 
princípio da proporcionalidade - 5º.4 TUE); 

Quando  os  tratados  não  determinem  o  tipo  de  ato  a  adoptar  compete  à  Comissão  a 
escolha  do  tipo  de  ato ( 296º TFUE). A Comissão está ainda limitada pelo critério do 
travão orçamental ( 310º.4 TFUE). 

ii)  Primeira  Leitura  :  a  Comissão  submete  a  sua  proposta  de  apreciação  ao 
Parlamento  Europeu  e  ao  COnselho  (  294º.2  TFUE).  Ao  Parlamento  Europeu 
compete  fazer  a  primeira  leitura  e  estabelecer  uma  posição  que  é  transmitida  ao 
Conselho ( 294º.3 TFUE). 

- se o Parlamento não introduzir qualquer alteração, o Conselho aprovar o ato; 


- se  o  Parlamento  Europeu  introduzir  emendas  o  Conselho  pode  também 
aprovar o ato ( mas só por unanimidade - 293º.1 TFUE);  
- se  o  Conselho  não  aprovar  a  posição  do  Parlamento,  adopta  a  sua  posição  em 
primeira leitura e transmite ao Parlamento Europeu ( 294º.5 TFUE);  

iii)  Segunda  Leitura:  no  prazo  de  3  meses  (  294º.7  e  14  TFUE),  o  Parlamento 
Europeu pode: 

- aprovar  a  posição  do  Conselho  por  maioria  dos  votos  expressos  ( 231º TFUE) 
ou aprovação tácita; 
- rejeitar a posição do Conselho, por maioria dos membros que o compõe; 
- propor emendas à posição do Conselho;  

iv)  Conciliação  e  Terceira  Leitura:  durante  seis  semanas  prorrogáveis  por  mais  2 
semanas  (  294º  12  e  14  TFUE),  o  Comitê  trabalha  o objetivo de chegar a um projeto 
comum.  

24 
No  caso  de  aprovação  do  projeto,  Parlamento  e  Conselho  dispõem  cada  1  do  prazo 
de 6 semanas a contar desta adopção para adoptar o ato em causa.  

O  ato legislativo adotado requer a assinatura do Presidente do Parlamento Europeu e 
do Presidente do Conselho ( 297º.1 TFUE).  

4.2. Procedimento de Adopção de Normas de Execução  

O  artigo  291º.1  TFUE,  impõe  aos  Estados  membros  o  dever  de  tomar  todas  as 
medidas  de  direito interno necessárias à execução dos atos juridicamente vinculativos 
da  União.  A  União  só dispõe de competências de execução nos termos definidos pelo 
artigo 291º.2 TFUE. 

O  artigo  291º.3  TFUE, estipula que as regras e princípios aplicáveis ao procedimento 


de  execução  sejam  definidos  previamente  através  de  regulamentos.  Há  que  ver 
também um regime baseado unicamente em 2 procedimentos:  

- procedimento  de  exame  (  seguido  para  a  aprovação  de  medidas  de  execução 
em domínios considerados mais importantes); 
- procedimento  consultivo  ​(  aplica-se  como  regra  nos  restantes  domínios,  o 
comité  adopta  uma  parecer  por  maioria  simples,  que  a  Comissão  deve  ter  em 
conta ao adoptar as medidas);  

4.3. Procedimento de celebração de acordos internacionais 

Dotada  de  personalidade  jurídica  (  47º.  TUE),  a  UE  pode  celebrar  acordos 
internacionais  com  Estados  terceiros  ou  organizações  internacionais  (  3º.2  TUE  + 
216º.2  TFUE).  O  artigo  217º  TFUE  específica  a  competência  de  vinculação 
internacional  ,  enquanto  que  o  artigo  218º  TFUE  estabelece  os  procedimentos  de 
vinculação  internacional  ,  mas  a  competência  relativa  à  celebração  dos  acordos 
internacionais deve resultar de outras disposições dos Tratados.  

i)  Fase  da  Negociação:  ​o  início  formal  das  negociações  depende  de  autorização  do 
Conselho  concedida  sob  recomendação  da  COmissão.  O  Conselho  delibera  por 
maioria  qualificada,  salvo  em  relação  a  matérias  reguladas  por  acordos  cuja 
celebração exija unanimidade; 

25 
ii)  Fase  da  Assinatura:  ​concluídas  as  negociações,  ao  Conselho  sob  proposta  do 
negociador,  decidir  sobre  a  assinatura  do  acordo  e  a  sua  eventual  aplicação  a  título 
provisório;  

iii)  Fase  de  Conclusão:  ​o  artigo  218º.6  TFUE  investe  claramente  o  Conselho  do 
poder  de  decisão:  sobre  a  assinatura,  no  caso  de  acordos  sob  a  forma  simplificada. 
Não  é  especificado  todavia  a  forma  jurídica  do  ato  de  aprovação  mas,  em  regra  é 
adoptada  uma  decisão  e  o  artigo  218º.7  admite  um  procedimento  simplificado  de 
revisão  do  acordo  celebrado,  concluído  por  decisão  do  próprio  negociador.  O 
Conselho delibera por maioria ( salvo nos casos presentes do 218º.8 YFUE). 

→  Participação  do  Parlamento  Europeu:  o  artigo  218º.10  TFUE  garante  ao 


Parlamento  Europeu  o  direito  a  ser  imediata  e  plenamente  informado  em  todas  as 
fases da celebração. 

→  Intervenção  do  Tribunal  de  Justiça:  a  pedido  do  Parlamento  Europeu,  do 
Conselho,  da Comissão ou de qualquer Estado-membro, o Tribunal pode ser instado 
a pronunciar-se sobre a forma de parecer ( 218º.11 TFUE).  

5.  A  Proteção  dos  Direitos  Fundamentais  e  a  Articulação  entre  a  Ordem 


Jurídica dos Estados- Membros 

5.1. O princípio da competência de atribuição  

A  amplitude  dos  poderes  da  UE  está  subordinada  ao  chamado  princípio  da 
competência  de  atribuição,  cujo  sentido  é  o  de  limitar  a  sua  atuação  aos  fins  e  aos 
meios  jurídicos  de  ação  enunciados  pelas  disposições  dos  Tratados  Institutivos, 
consagrado  no  artigo  5º  do  TUE  2.  No  âmbito  das  relações  entre  a  UE  e  os 
Estados-Membros  o  princípio  da  competência  resulta  do  princípio  da  especialidade 
dos fins, assentado também a definição normativa de competência 3. 

2
​Vide​ o artigo 2º 4 º parágrafo entendido no sentido de tornar o princípio aplicável em toda a extensão das 
competências da UE.  
3
​Pierre Pescatore ​- o princípio não estaria refletido nos tratados, representaria antes o resultado de uma leitura 
apriorística do sistema de competências.  

26 
O  princípio das competências atribuída s inibe a União e as COmunidades Europeias 
de determinar as suas próprias atribuições e poderes. A União não tem “ competência 
da  competência”.  A  prerrogativa  constituinte  continua a residir na esfera da vontade 
soberana do Estados-Membros.  

Em  relação  à  operatividade  da competência do âmbito comunitário de relevância dos 


direitos  fundamentais.  No  Acórdão  Grant​,  a  situação  alegada  de  discriminação  em 
razão  da  orientação  sexual,  depois  de  recordar  o  dever  de  observância  dos  direitos 
fundamentais enquanto princípios gerais de Direito ressalvou que “ estes direitos não 
podem  por  si  próprios  ter  por efeito alargar o âmbito de aplicação das disposições do 
Tratado para além das competências da Comunidade ( 51º CDFUE)  

A natureza da competência da UE sobre direitos fundamentais: 

- competência  expressa:  proteção  dos  direitos  não  constitui,  em  si,  um  título 
atributivo de competências em favor das Comunidades Europeias; 
- competência  não  autónoma  :  impõe-se  em  matéria  de  direitos  fundamentais 
como  consequência  necessária  do  princípio  contratualista  e  da  sua  concreta 
aplicação  sob  a  forma  da  delegação  de poderes dos Estados-membros em favor 
das Comunidades Europeias; 
- competência  política:  ​no  sentido  de  legitimar  o  seu  exercício  em  relação  a 
quaisquer  direitos,  com  o  objetivo  de  prevenir  ou  sancionar  a  sua  violação 
pelos Estados;  

5.2. O princípio da subsidiariedade 

No  princípio  da  subsidiariedade  sublinha-se  o  compromisso  de  garantir  o  “  respeito 


pelos  sistemas  nacionais  consagrados  e  pela  organização  e  funcionamento  dos 
sistemas  jurídicos  dos  Estados-  membros”.  A  inscrição  do  princípio  da 
subsidiariedade  nas  cláusulas  europeias”  como  com  a  CRP  (  7º.6).  O  conceito  de 
subsidiariedade  ostenta  uma  característica  peculiar  alai  a  opacidade  do  sentido  à 
evidência  do  princípio  em  si.  A  subsidiariedade  é,  um  princípio elementar da arte de 
“  bem  governar”.  Constitui  uma  diretriz  de boa governação que postula a tomada de 
decisão  que  garanta  o  melhor  resultado  avaliado  pela  eficiência  e  racionalidade  da 
gestão dos meios em função dos fins propostos.  

27 
A  subsidiariedade  é  uma  espécie  de  “  rule  of  reason”  (  5º  2º  parágrafo  TUE).  No 
âmbito  das  competências partilhadas a subsidiariedade envolve uma apreciação sobre 
a verificação cumulativa do critério: 

- da insuficiência da atuação nacional; 

A competência nacional enquanto regra só deve ser afastada se: 

i)  os  objetivos  da  ação  prevista  não  puderem  ser  suficientemente  realizados  pelos 
Estados-membros; 

ii)  ​devido  à  dimensão  (  efeitos  da  ação  prevista  puderem  tais  objetivos  ser  melhor 
alcançados a nível comunitário);  

- eficiência acrescida da atuação comunitária;  

O  funcionamento  do  sistema  da  proteção  comunitária  dos  direitos  fundamentais  é 


devedor  do  princípio  da  subsidiariedade.  A  concreta  projeção  do  princípio  da 
subsidiariedade  no  campo  dos  direitos  fundamentais  pode  ser  identificada  nas 
seguintes funções: 

- revelação de normas de direitos fundamentais: 

O  princípio  da  subsidiariedade  funciona  como  critério  preventivo  de  antinomias  ao 
fundamentar  a  preferência  pela  norma,  que  garanta  o mais adequado nível de proteç 
( 53º CDFUE). 

Em  relação  aos  patamares  superiores  de  decisão  a  subsidiariedade  pode  funcionar 
tanto: 

- efeito descentralizador​(a limitar a sua ação);  


- efeito  centralizador  (reclamar  a  atuação  supletiva  em  relação  aos  poderes  ou 
meios insuficientes colocados ao jusante do sistema); 

A  respeito  do  estatuto  dos  direitos  na  ordem  jurídica  comunitária,  nomeadamente 
saber  a  que  e  como  compete  a  sua  promoção  e  concretização.  Revela-se  insuficiente 
um  tal  exercício  da  retórica  dos  direitos  quando  desacompanhado  de  uma  dinâmica 
própria  de  política  social,  cuja  ausência  é  patente  na  remissão  feita  pelas  disposições 
da  Carta  para  as  “  legislações  e  práticas  nacionais”.  Tendo  em  conta  a  dimensão 
transnacional  dos  obstáculos  à  realização  dos  valores  da  igualdade  e  da  solidariedade 

28 
(  desemprego,  imigração  ilegal),  a  remissão  pura  e  simples  para  as  políticas  e  para  as 
legislações  nacionais, uma opção política contrária ao princípio da subsidiariedade. A 
UE  tem  a  obrigação  de  assumir  a  garantia  aos  seus  cidadãos  a  satisfação  de 
determinadas aspirações de bem-estar social.  

Um  conflito  que  opõe  o  desígnio  economicista  de,  por  exigências  d  mercado  e  livre 
circulação,  abolir  todas  as  barreiras  à  prestação  de  serviços  no  espaço  comunitário, 
tendo  por  base  a  legislação  do  Estado-membro  e  a  preocupação  em  não  subverter  as 
legislações  nacionais  de  proteção  dos  direitos  dos  trabalhadores  em  vigor  no 
Estado-membro  onde  se  realiza  a  prestação.  Neste  ​Acórdão  Rush​,  conclui-se  pela 
aplicação  da  igualdade  de  tratamento  entre  trabalhadores  nacionais  e  deslocados  no 
quadro  de  uma  prestação  de  serviços,  de  acordo  com  a  legislação aplicável no Estado 
da realização da prestação ( aplicar o estatuto mais favorável). 

5.3. O princípio da proporcionalidade 

Este  já  foi  considerado  o  princípio  jurídico  mais  importante  no  domínio  do  direito 
econômico do do mercado comum.  

Por  proporcionalidade  entende-se  a  exigência  de  atuação  dos  poderes  públicos  que 
seja  necessária  e  adequada  à  realização  do  objetivo  selecionado.  Trata-se  de  uma 
noção  que  permite  a  valoração  de um certo resultado por referência ao fim/ interesse 
público  que  o  exercício  de  uma  qualquer  forma  de  autoridade  pública,  a  nível  da 
definição  inovadora  de  critérios  de  regulação  comunitária,  mas  também  a  nível  da 
aplicação  de um tal quadro normativo. Do ponto de vista funcional, o objetivo é o de 
proibição do excesso.  

Para  determinar  o  grau  de  adequação  dos  meios  aos  fins,  o  juízo  sobre  a 
proporcionalidade desenvolve-se em 3 fases: 

i)​aptidão/ idoneidade do meio adoptado; 

ii) n
​ ecessidade do meio; 

iii) r​elação de equilíbrio entre o meio utilizado e o fim proposto; 

O  controlo jurisdicional com base no princípio da proporcionalidade desdobra-se em 
3 planos: 

- parâmetro da legalidade de atos e omissões: 

29 
i)  ação  comunitária  restritiva  de  um  direito  atribuído  pelo  Tratado  ao  particular  e 
por este invocado  

No  Ac.  Hauer  ​estando  em  causa,  a  proibição  por  regulamento  comunitário  de 
plantio  de  novas  vinhas,  o  procedimento  de  análise  começou  por  identificar  o 
objetivo  visado  pelo  regulamento  contestado,  passou  à  determinação  de  uma relação 
de  adequação  razoável  entre  as  medidas  previstas e o objetivo enunciado, concluindo 
pela  ausência  de  1  intervenção  “  desmedida  e  intolerável”  sobre  as  prerrogativas  do 
proprietário. 

ii)​Sanções administrativas aplicadas aos particulares  

No  ​Ac.  SCK  e  FNK​,  o  TPI  na  qualidade  de  juiz,  decidiu  reduzir  o  montante  da 
coima  aplicada  que  excedia  em  valor  a  totalidade  do  volume  de  negócios  que  a 
empresa multada tinha movimentado no período em causa. 

iii)  Impugnação  da  medida  comunitária  por  iniciativa  dos  Estados-  membros  ou  das 
instituições comunitárias 

- parâmetro  de  compatibilidade  comunitária  das  medidas  adoptadas  pelas 


autoridades nacionais 
- como  critério  limitativo  da  intensidade  com  que  os  podere  comunitários  são 
exercidos pelas instituições e pelos órgãos comunitários 

5.4. O princípio do primado 

O  princípio  do  primado  da  norma  comunitária  sobre  a  norma  interna,  no  entanto 
coloca-se a questão, onde pára o primado? 

Segundo  o  ​Acórdão  Costa  c.  Enel​,  em  que  confrontado  com  a  tese  avançada  pelo 
Governo  italiano  segundo  a  qual  o  tribunal nacional estaria obrigado a lei interna. O 
primado  não  pressupõe  uma  relação  típica  de  infra  e  supra-ordenação  entre normas. 
O  primado  não  vale  como  exigência  de  prevalência  hierárquica.  A  norma 
comunitária  prevalece  sobre  a  norma  interna  não  por  que  lhe  seja  superior  mas 
porque  é  materialmente  competente para regular o litígio concreto. A relação entre o 
Direito  Comunitário  e  os  Direitos  dos  Estados-Membros  constrói-se  com  base  no 

30 
princípio  da  competência  atribuída  e  por  referência  ao  princípio  da  colaboração  ou 
da complementaridade funcional entre ordenamentos.  

Para  o  Juiz  comunitário,  a  eventual  antinomia  entre  norma  comunitária  e  norma 


interna  é  resolvida através da prioridade aplicativa da primeira enquanto a segunda, é 
preterida como critério de resolução do critério de resolução do litígio concreto.  

As  normas  comunitárias  gozam  de  prioridade  aplicativa  em  relação  às  normas 
internas  contrárias  enquanto  correspondam  ao  exercício  legítimo  de  uma 
competência que os Tratados consagram.  

A operatividade do primado como critério de resolução de conflitos inter normativos 
não  interfere  com a validade da norma interna desalojada pela norma comunitária. O 
primado  como  imposição  comunitária  envolve  para  os  Estados-membros  uma 
obrigação  de  resultado  que  consiste  na  garantia  de  aplicação  da  norma  comunitária 
em  qualquer  situação  de  litígio.  A  norma  interna  contrária  é  neutralizada  na  sua 
eficácia  reguladora, mas o primado não afeta a sua validade. A Constituição funciona 
em relação ao primado com um duplo efeito: 

- efeito  habilitador  (  relativo  à  atribuição  de  competências  necessárias  à 


construção da união europeia); 
- efeito  limitador  (  o  âmbito  de  habilitação  não  pode  extravasar  os  limites 
imanentes à garantia do Estado de Direito);  

A  questão  controvertida  do  primado  supraconstitucional  analisada  à  luz  do 


compromisso  do  Estado  de  Direito,  não  se  trata  da  preservação  do  texto 
constitucional  no  topo  da  pirâmide  normativa  interna.  A  geometria  constitucional 
libertou-se  da  visão  Kelseniana  para  dar  lugar  à  relação  aberta e plural entre sistemas 
jurídicos.  O  risco  que  o  primado  da  norma  comunitária  pode  representar  para  a 
tradicional  função  paramétrica  e  legitimadora  da  Constituição.  Esse  risco 
relaciona-se  com  o tipo de derrogação constitucional, isto é com a natureza da norma 
constitucional desaplicada e com a extensão do desvio ao padrão constitucional.  

A  verdadeira  “cláusula  europeia”  da  Constituição  Portuguesa,  no  sentido  que  lhe 
atribuímos  de  cláusula  de  aceitação  de  limitações à soberania encontra-se previsto no 
artigo 7º.6 CRP.  

Este artigo prevê limites ao âmbito da vinculação europeia do Estado Português: 

31 
- recorte  substantivo  ​(  “  respeito  pelos  princípios  fundamentais  do  Estado  de 
Direito  Democrático”,  abrange  os  direitos  fundamentais  na  sua  dimensão 
substantiva e processual); 
- recorte  procedimental  (  prende-se  com  a  aceitação  das  limitações  de 
soberania;  a  atribuição  de  poderes  aos  órgãos  das  União  com  vista  ao  seu 
exercício  em  cooperação  ,  reveste  a  forma  do  tratado  internacional  -  161º.i 
CRP);  

Esta  nova  cláusula  constitucional,  o  artigo  8º.4  CRP  é  um  exemplo  infeliz  de 
iniciativa  constituinte  inoportuna,  quanto  ao  conteúdo,  não  podemos  deixar  de 
assinalar a sua redundância no concerto das demais disposições europeias da CRP.  

Quando  está  em  causa  a  aplicação  de  uma  norma  de  direitos  fundamentais,  o 
princípio  do  primado  só  pode  ser  questionado  nas  suas  consequências  se  a  proteção 
oferecida  pela  norma comunitária competente for inferior à proteção prometida pela 
norma  interna.  A  regra  na  teoria  geral  dos  direitos  fundamentais,  postula  a 
preferência  pela  cláusula  normativa  de  direitos  que  assegure,  na  esfera  jurídica  do 
destinatário,  a  proteção  mais  elevada  dos  interesses  e  expectativas  gerados  pelo 
reconhecimento do direito subjetivo em causa. 

Na  sua  função  típica  de  critério  de  resolução  de  conflitos  internormativos,  o 
primado  é  convocado  para  da  norma  interna,  ainda  que  de  grau  constitucional.  O 
sistema fontes em matéria de direitos fundamentais: 

- pluralidade  de  fontes,  organizada  em  torno  de  três  matrizes 


jurídico-institucionais - constitucional, europeia e comunitária. 
- equivalência  axiomática  e  jurídica  dos  direitos  revelados  por  qualquer  uma 
destas fontes - 6º.1 TUE; 
- a  equivalência  entre  direitos,  aceite  como  princípio  não  resolve,  eventuais 
conflitos  entre regimes jurídicos que definem de modo  diferente o espectro de 
proteção associado a um determinado direito; 
 

A  tutela  dos  direitos  fundamentais  foi  construído  com  base  nesta  tripla referência, “ 
tripla normativo europeu” e no plano processual da aplicação. 

  O  primado  é  um  critério  de  superação  de  um  conflito  de  uma  identificado  entre 
duas  ou  mais  normas  materialmente  competentes  para  dirimir  um  litígio  concreto. 

32 
Um  critério  operativo  subsidiário.  A  idoneidade  do  primado  como  meio  de  garantir 
a prioridade aplicativa da norma comunitária: 

i)  verificação  do  princípio  da  competência  em  ordem  a  determinar  se  o  litígio 
concreto relva ou não do âmbito de aplicação do DUE; 

ii)  exercício  hermenêutico,  de  concordância  prática  dos  preceitos  colocados  em  rota 
de colisão4  

Do  art.  8º.1  TUE  ​ex  vi 16º.1 e 2 TUE, podemos extrair 1 princípio de harmonização 


do  regime  constitucional  com  o  Direito  Internacional  que  tem  como  objetivo  a 
proteção  mais  favorável  ou  mais  elevada  dos  direitos  fundamentais,  seja  na  fase  da 
revelação  dos  direitos  seja  na  fase  de  interpretação  dos  direitos  formal  e 
materialmente constitucionais.  

O  art.  53º  CEDH  não  é  um  obstáculo  a  1  proteção  mais  elevada  dos  direitos 
eventualmente  proporcionada  pelas  normas  de  fonte  interna.  Este  artigo  define  a 
preferência  pelo  nível  mais  elevado  de  proteção,  através  de  1  enunciação  clara 
inspirada. As reservas opostas ao sentido do artigo 53º, seriam: 

- que  o  mesmo é contrário ao princípio da autonomia do DUE, pondo em causa 
o funcionamento do sistema comunitário; 
- por  razões  de  técnica  e  de  tutela  judicial  seria  uma  disposição  de  aplicação 
impossível  ao  condicionar  a  relação  da  preferência  da  norma  mais  favorável  à 
verificação  do  critério  de  competência,  lançaria  o intérprete da delimitação do 
âmbito objetivo de aplicação da norma; 

O  artigo  53º da CDFUE ( princípio geral de preferência pela norma de proteção mais 
favorável  tem  o  objetivo  subjacente  de  evitar  que  a  Carta  empobreça  ou  debilite  o 
nível atingido de proteção dos direitos. 

Para  a  professora  Maria  Luísa  Duarte,  a  norma  comum  que  é  aplicável  é  aquela  que 
garante,  no  caso  concreto,  uma  proteção  mais  ampla  ou  mais  favorável  ao  direito 
subjetivo invocado. Contudo levantar-se-ião 2 problemas:   

- decisão  sobre  o  que  perante  1  litígio  concreto  e  numa  situação  de  colisão  de 
direitos, se deva considerar a norma mais favorável; 

4
Gomes Canotilho:​​Impõe-se o recurso à interpretação conforme da(s) norma(s) em causa com o seu sistema pátrio, 
conjugando com o exercício da conciliação prática, de regimes jurídicos de princípios e valores antagônicos) 

33 
- decisão  impõe  a  interpretação  de  normas  e  a  avaliação  de  padrões  jurídicos  de 
origem diferente;  

O  TJCE  tem  sido  acusado  de  preferir  o  padrão  mínimo  comum,  ao  qual  reconhece 
prioridade sobre os padrões nacionais.  

No  ​Ac.  Schmidberger​,  o  litígio  opunha  1  associação  ambientalista  austríaca  a  uma 


empresa  alemã  de  transportes  rodoviários.  A  1ª,  promoveu  1  manifestação  na 
auto-estrada  de  Brenner  ( 1 dos principais itinerários que liga o Norte de Itália ao Sul 
da  Alemanha),  que  envolveu  a  interrupção  total  de  circulação  durante  30  horas, 
como  forma  de  protesto  contra  a  poluição.  A  2ª,  proprietária  de  veículos  pesados, 
sofreu  avultados  prejuízos  em  resultado  da  manifestação e processou o Governo, por 
não  ter  providenciado  a  aplicação das regras comunitárias relativas à garantia da livre 
circulação  de  mercadorias.  O  TJCE  começou  por  considerar  que  o  comportamento 
das  autoridades  austríacas  de  não  proibir  a  manifestação  constituiu  um  entrave  ao 
comércio intracomunitário ( incompatível com o 34º TUE). 

Invocando  a  doutrina  sobre  o  estatuto  jurídico  dos  direitos  fundamentais  como 


princípios  gerais  de  direito  comunitário,  o  TJCE  construiu  o  seu  raciocínio  da 
seguinte forma:  

1) A  proteção  dos  direitos  fundamentais  constituiu  um  interesse  legítimo 


susceptível  de  justificar  uma  restrição  às  obrigações  impostas  pelo  Direito 
Comunitário  (  mesmo  que  esteja  em  causa  uma  liberdade  fundamental, como 
a livre circulação de mercadorias); 
2) São  equivalentes  na  respetiva  imperatividade  os  direitos  fundamentais 
previstos no CEDH ou garantidos pela Constituição de um Estado- membro;  
3) A  solução  do  caso  concreto  convoca  o  método  da  “  conciliação  necessária  das 
exigências  de  proteção  dos  direitos  fundamentais  na  Comunidade  com  as 
exigências decorrentes de 1 liberdade fundamental consagrada pelo Tratado”; 
4) Na  determinação  de  1  justo  equilíbrio  entre  os  interesses  em  presença,  as 
autoridades  nacionais  “  dispõem  de  1  amplo  poder  de apreciação” cabendo ao 
Juiz a verificação da natureza proporcional das restrições pressupostas;  

No  ​Ac.  Omega​,  havia  uma  alegada  desconformidade  comunitária  de  1  decreto  das 
autoridades  da  cidade  de  Colónia  que  proibiu a utilização pela empresa “ Omega” de 

34 
um  jogo  de  simulação  de  homicídio. Na fundamentação da proibição, as autoridades 
alegaram  razões  de  ordem  pública.  Objeto  de  recurso  judicial,  o  decreto  foi 
confirmado  na  sua  adequação  ao  princípio  constitucional  da  proteção  da  dignidade 
humana,  mas  o  Tribunal  Federal  ALemão  entendeu como necessária a apreciação do 
TJCE.  

O  TJCE  age  sobre  o  respeito  dos  direitos  fundamentais,  incluindo  o  princípio  da 
dignidade  da  pessoa  humana,  constituindo  um  interesse  legítimo  susceptível  de 
justificar,  uma  restrição  às  obrigações  impostas  pelo  direito  comunitário.  SObre  a 
proporcionalidade  da  medida de proibição, o TJCE formulou: “ a este respeito, não é 
indispensável  que  a  medida  restritiva  adoptada  pelas  autoridades  de  um 
Estado-Membro  corresponda  a  1  concepção  partilhada  pela  totalidade  dos 
Estados-membros  no  que  respeita  às  modalidades  de  proteção  do  direito 
fundamental/  interesse  legítimo  em  causa”.  O  TJCE  admite  expressamente,  a 
compatibildiade  comunitária  de  1  proibição  de  exploração  comercial  de  jogos  de 
divertimento que envolvem simulações de atos de violência contra pessoas. 

A  prevalência  da  concepção  constitucional  sobre  o  âmbito  de  proteção  de  1  direito 
fundamental  não  depende  da  sua  natureza  de  padrão  de  referência  partilhado  por 
todos  ou  pela  maioria  dos  Estados-membros.  O  propósito  jurisprudencial  nestes 
casos  não  é  de  “comunitarizar”  o  padrão  nacional  de  proteção  dos  direitos 
fundamentais,  mas  o  de  atender  a  este  padrão  como  critério  legítimo  de  restrição  às 
normas  comunitárias  (  desde  que  observadas  as  exigências  inerentes  ao  teste  da 
proporcionalidade).  

No  ​Ac.  Simmenthal​,  outro  dos  acórdãos  históricos  sobre  o  princípio do primado, o 


TJ,  ao  tratar  das  consequências  do  primado  como  critério  de  superação  de  um 
conflito  entre  norma  euro  comunitária  e  norma  interna,  epilogou  que  a  norma 
interna  contrária  é “inaplicável de pleno direito, desde o momento da sua entrada em 
vigor”. 

A  norma  interna  contrária  deve  ser  desaplicada  e,  por  força  do  princípio  da  leal 
cooperação  (v.  artigo  4.o,  n.o  3,  TUE),  os  órgãos  nacionais  competentes  estão 
obrigados  a  promover  a  sua  revogação  ou  alteração  de  modo  a  eliminar  a 
incompatibilidade  detectada  com  o  Direito  da  União  Europeia.  O  princípio  do 
primado  não  se  repercute  directamente  na  validade  ou  invalidade  da  norma  interna 
contrária.  Esta  norma  não  pode,  todavia,  ser  aplicada,  devendo  ser  removida  do 

35 
ordenamento  interno,  sob  pena  de  o  EM  em  causa  ser  demandado  perante  o  TJ  por 
acusação  de  incumprimento  (258º  TFUE),  sujeitando-se,se  reiterar  na  vigência  da 
norma contrária, à aplicação de sanções pecuniárias pesadas (260º TFUE). 

No  ​Ac.  Melki  ​acrescente-se o dever, por parte do juiz do litígio concreto para, por si, 


garantir  a  aplicação  da  norma  euro  comunitária.  No  ​Ac.  Mecanarte  ​suscitado  por 
um  tribunal  português  que  formulou  uma  questão  específica  sobre  se  o  desvalor  da 
norma  interna  contrária  ao  Direito  Derivado  se  traduziria  ou  não  numa 
inconstitucionalidade,  o  que,  nos  termos  do  artigo  280º  1.a),  e  3  CRP,  tornaria 
obrigatório  o recurso para o TC. Assim, mesmo que se verifiquem os pressupostos de 
recurso  obrigatório  para  o  TC,  tal  não  afecta  a  liberdade  decisória  do  juiz  da  causa, 
incluindo a de não aplicar a norma interna por violar o Direito da União. 

Neste  sentido,  o  princípio  do  primado  não  é  absoluto  nem  é  incondicional.  Por  um 
lado,  existem  limites  à prevalência da norma eurocomunitária, o que aconteceria, por 
exemplo,  se  uma  directiva  comunitária  no  domínio  do  espaço  de  liberdade, 
segurança  justiça  (artigos  67.º  e  segs.,  TFUE),  viesse  a  impor  aos  EM  a  criação  de 
tribunais  especiais  para  o  julgamento  de  crimes  de  terrorismo  de  incidência 
transfronteiriça,  com  fundamento  no  artigo  83º1  TFUE.  Uma  iniciativa  de 
harmonização  das  legislações  nacionais  que  violaria,  de  modo  flagrante,  o  princípio 
do  juiz  natural,  arrimo  estrutural  do  Estado  de  direito,  e,  directamente,  a  proibição 
do  artigo  209  º  4,  CRP.  O  princípio  da  competência  por  atribuição  é  um  limite 
inerente  ao  primado.  A  norma  euro  comunitária  prevalece  na  medida  em  que 
traduza o exercício de uma competência atribuída pelos Tratados. 

No  Ac.  Honeywell,  2010,  foram  definidos  dois  critérios  complementares:  o  TC 
alemão  invoca  o  direito  de  se  pronunciar  sobre  a  compatibilidade  de  uma  norma  ou 
acto  jurídico  da  União  com  o  princípio  da  competência  por  atribuição  e, 
eventualmente,  declarar  a  sua  inaplicabilidade  na  ordem  jurídica  alemã,  mas 
condiciona  o  veredicto  de  ultra  vires  aos  casos  em  que  haja  uma  transgressão 
manifesta  dos  limites  da  competência  e  só  depois  de  ter  sido dada a oportunidade ao 
TJ para se pronunciar, ao abrigo do processo das questões prejudiciais (267º. TFUE). 

5.5. O princípio da eficácia direta 

O  Direito  Comunitário  constitui  um  quadro  normativo  gerador  de  direitos  e  de 
obrigações para os Estados-membros e para os particulares. 

36 
No  ​Ac.  ​Van  Gend  en  Loos​,  o  TJCE  tomou  posição  sobre  o  âmbito  da  projeção 
subjetiva  das  disposições  dos  Tratados,  afiando  a noção de efeito direito em torno de 
3 elementos fundamentais: 

i)  ​aplicação  direta/  imediata  nas  ordens  jurídicas dos Estados-membros ( sob a forma 


de obrigação que impende sobre as autoridades nacionais); 

ii)  reconhecimento  aos  particulares  de  direitos  subjetivos  (  susceptíveis  de  serem 
invocados junto dos tribunais nacionais); 

iii)  obrigação  específica  de  garantir  o  exercício  dos  direitos  individuais(  para  os 
tribunais nacionais); 

Identifica-se  sob  a  designação  eficácia  direta  uma  característica  da  norma 


comunitária  atributiva  de  direitos  subjetivos  que  proporciona  ao  respetivo  titular  o 
seu  exercício,  incluindo  a  garantia  judicial,  independentemente  da  existência  de 
legislação  interna  concretizadora  contrária.  A  eficácia  direta  da  norma  comunitária 
de  direitos  fundamentais  é  1  manifestação  do  princípio  constitucional  da  aplicação 
imediata dos direitos, liberdades e garantias ( 18º.1 CRP).  

No  ​Ac.  ​Van  Gend  en  Loos​,  o  TJCE  explicitou  o  fundamento  jurídico  do  efeito 
direto  “  a  Comunidade  como  ordem  jurídica  internacional,  a  favor  da  qual  os 
Estados  limitaram  os  seus  direitos  soberanos  e  cujos  efeitos  são  não  só  os 
Estados-membros  mas  também  os  seus  nacionais.  Por  conseguinte,  o  direito 
comunitário,  independentemente  da  legislação  dos  Estados-membros,  tal  como 
impõe  obrigações  aos  particulares  também  lhes  atribui  direitos  que  entram  na  sua 
esfera jurídica”.  

Por  força  de  jurisprudência  constante  o  TJCE  conseguiu  impor  a  eficácia  direta 
como  princípio  geral  de  modo  que  a  norma  comunitária  tem  como  destinatários 
potenciais todas as pessoas sob jurisdição dos Estados-Membros. 

A  norma  comunitária  plena  e  imediatamente  eficaz  é  fonte  direta  de  direitos  e 


obrigações para os particulares. A norma é aplicável às: 

- efeito direto horizontal​( relações entre particulares); 


- efeito  direto  vertical  (  relações  entre  os  particulares  e  os  poderes  públicos, 
nacionais ou comunitários); 

37 
- efeito  direto  limitado  (  cria  apenas  direitos  subjetivos,  não  funciona  como 
fonte autônoma de deveres para os particulares); 
- efeitos  plenos  (  quando  a  diretiva  inibem  o  titular  de  fazer  valer  os  direitos 
juntos aos tribunais contra outro particular);  

Segundo  a  ​professora  Maria  Luísa  Duarte,  a  pluralidade  de  fontes  do  sistema  euro 
comunitário  de  direitos  fundamentais  não  pode,  constituir  um  obstáculo  que  se 
interponha  entre  a  norma  e  o  potencial  titular  dos  direitos.  Em  relação  aos  direitos 
previstos  em  instrumentos  internacionais  ou  tradições  constitucionais  (  pelos  6º.2 
TUE),  considera-se  igualmente,  a  exigência  da  eficácia  imediata  como  fundamento 
da sua inovação. 

Isto  esteve na base do ​Ac. Mangold​, o TJCE concedendo que a diretiva em causa não 
estabelecia  uma  obrigação  imperativa  para  os  Estados-membros  de  proibição  de 
discriminação  em  razão  da  idade,  descobriu  este  princípio.  Porque  se  trata  de  1 
princípio  geral,  o  respeito  da  proibição  de  discriminação  em  razão  “  não  pode, 
enquanto  tal,  depender  do  termo  do  prazo  concedido  aos  Estados-membros  para 
transporem  uma  diretiva”.  O  princípio  da  não  discriminação  em  razão  da  idade 
concentra  uma  força  jurídica  própria  e  imediata  que  não  depende  do  processo  de 
adaptação  do  direito  interno  em  cumprimento  da  obrigação  de  transposição.  O 
TJCE  explícita  “  cabe  ao  órgão  jurisdicional  nacional,  ao  qual  foi  submetido  um 
litígio  no  quadro  das  suas  competências,  a  proteção  jurídica  que  para  os particulares 
decorre  do  direito comunitário e garantir o pleno efeito deste, não aplicando todas as 
disposições da lei nacional eventualmente contrárias. 

A  parte  mais  visível  do  princípio  da  eficácia  direta  é  o  da  adstrição  do  juiz  nacional 
enunciada no final deste acórdão. O princípio da eficácia direta alimenta deveres:  

- a  garantia  da  aplicação  imediata  das  normas  de  direitos  fundamentais  vincula 
também  o  decisor  comunitário  (  instituições  e  órgãos  devem  abster-se  de 
tomar  medidas  susceptíveis  de  violar  os  direitos  e  individuais  e  revogação  das 
leis nacionais contrárias). O fundamento jurídico é o princípio da cooperação ( 
4º.3 TUE).  
- As  autoridades  administrativas  dos  Estados-membros  estão  diretamente 
envolvidas na missão de garantir a plena eficácia das normas comunitárias5. 

5
​Sem prejuízo do princípio da separação de poderes, deve admitir-se uma interpretação flexibilizadora de um princípio 
estrito de legalidade administrativa, favorável à prevalência da norma atributiva de direitos subjetivos 

38 
Para  simplificar  podemos  assumir  que  a  pré  compreensão  do  TJ  é  favorável  ao 
reconhecimento  da  eficácia  direta,  desde  que  verificados  certos  requisitos  relativos  à 
norma (e não ao acto jurídico que a aloja). A norma em causa deve ser: 

- clara e precisa 

No  que  toca  à  forma  como  a  norma  enuncia  os  direitos  individuais,  para  o  TJ  será 
suficiente  verificar  que  a  norma  reconhece  direitos  aos  particulares  que  envolvem 
obrigações  para  os  Estados,  ainda  que  estes  disponham  de  uma  certa  margem  de 
apreciação na escolha dos meios jurídicos de garantia de tais direitos ( A ​ c. Lombard​).  

- incondicional 

Apresenta um duplo alcance: 

i)  exclui  da  eficácia  direta  as  normas  cuja  aplicação  interna  fica  dependente  do 
exercício  de  uma  competência  discricionária,  legislativa  ou  administrativa,  por  parte 
dos EM; 

ii)  no  caso  específico  das  directivas,  a  incondicionalidade  só  se  verifica  depois  de 
esgotado o prazo de transposição. 

No  caso  de  directivas  cujo  prazo  de  transposição  ainda  não  se  esgotou,  importa 
clarificar: 

- a regra é a da insusceptibilidade da sua invocação contenciosa; 

-  Pelo  ​Ac.  Wallonie​,  os  EM  devem  abster-se  enquanto  decorre  o  prazo  de 
transposição  de  adoptar  disposições  susceptíveis  de  comprometer  seriamente  a 
realização  do  resultado  prescrito  por  essa  directiva  ,  os  particulares  não  se  podem 
valer  dos  direitos  previstos  na  directiva,  mas  podem,  por  invocação  do  princípio  do 
primado  e  do  princípio  da  cooperação  leal,  opor-se  à  legislação  interna  que  foi 
adoptada em sentido contrário ao regime previsto na directiva; 

-  ​Ac.  Mangold  e  Seda  ​(relação  entre  directiva  e  um  princípio  geral  de  direito  da 
União).  O  particular  pode  invocar  direitos  resultantes  da  directiva,  ainda  que  não 
transposta,  se  for  possível  demonstrar  que  tais  direitos  tem  a  sua  origem  em 

39 
princípios  gerais  de  direito,  no  que  respeito  ao  direito  à  não  discriminação  ( 
nomeadamente em razão de idade)  

6. Fontes de Direito da UE 

6.1. Direito Primário 

Conjunto  de  regras  e  princípios  que,  vertidos  nos  Tratados  institutivos  e  outros 
instrumentos  jurídicos  de  valor  jurídico-formal  equivalente ( 51º TUE) , formam no 
seu  conjunto  o  estatuto  jurídico  fundamental  da  União  Europeia. Do ponto de vista 
do  critério  da  hierarquia,  a  ordem  jurídica  euro  comunitária  é  uma  estrutura 
escalonada,  no  topo  da  qual,  com  força  subordinante  e  autoridade  legitimadora,  se 
encontra o Direito  

- Âmbito de aplicação dos Tratados:  

•  Âmbito  territorial  (  art.  52º  TUE  /  art.  355º  TFUE  /  art.349º  TFUE,  com 
particular  relevância  para  as  regiões  autónomas  da  Madeira  e  dos  Açores,  regiões 
ultraperiféricas  que  beneficiam  de  um  estatuto  de  aplicação  adaptada  do  Direito  da 
União em função das suas especificidades de ordem geográfica e económica);  

• Âmbito temporal: ​vigência ilimitada ( 53.ºTUE e 356ºTFUE); 

•  Âmbito  material​:  uma  expressão  que  se  repete  amiúde  no  texto  dos  Tratados  é  a 
referência  “​âmbito  de  aplicação  dos  Tratados​”  como  critério  de  delimitação  da  sua 
relevância  conformadora  (18º.1,  TFUE,  sobre  o  princípio  da  não  discriminação  em 
razão  da  nacionalidade).  O  âmbito  de  matérias  abrangidas  pelos  Tratados  resulta  do 
que  neles  está  definido  (princípio  da  competência  por  atribuição,  artigo 5º, n.º 1 e 2, 
TUE),  incluindo  a  possibilidade  de  alargar  a  competência  material  da  União  por  via 
do artigo 352º TFUE.  

•  Âmbito  subjectivo:  os  Tratados  reconhecem  aos  cidadãos  nacionais  dos  EM  o 
estatuto diferenciado de “​cidadãos da União​” ( 18º e 25º TFUE);  

40 
-  Eficácia  dos  Tratados:  distinção clássica que opõe ​tratado-lei​, que regula de modo 
preciso  direitos  e  deveres  das  partes  contratantes,  a  ​tratado-  quadro​,  que  define  um 
enquadramento  geral  a  desenvolver  por  actos  de  aplicação,  não  parece  que  se  adeque 
ao conteúdo dos actuais Tratados, respectivamente o TFUE e o TUE.  

- Procedimentos de revisão dos Tratados (artigo 48º TUE) 

i)Procedimento  ordinário  ou  solene de revisão – ​concebido para garantir aos EM a 


última  palavra sobre a revisão dos Tratados. Quando se diz que “​os EM são os senhores 
dos  Tratados​”,  o  argumento  mais  forte  que  sustenta  uma  tal  afirmação  é o artigo 48º 
TUE.  Por  outro  lado,  ao  colocar  os  EM  em  pé  de  igualdade,  exigindo  a  aprovação  e 
ratificação  por  parte  de  todos  os  EM  ( 48º. 4, TUE), o processo ordinário de revisão é 
a  mais  vívida  manifestação  da  tese  contratualista  ou  pactícia  por  oposição  à  tese 
constitucionalista.  Os  Tratados  são  um  pacto  entre  iguais  que mantêm, na qualidade 
de criadores, o controlo da criatura.  

- Iniciativa –​Governo de qualquer EM, PE, Comissão; projectos de revisão 


submetidos ao Conselho que os envia ao Conselho Europeu e são notificados aos 
parlamentos nacionais (48º. 2); 

- Apreciação –​cabe ao Conselho Europeu decidir pela convocação de uma  

- Convenção​(instância que reúne representantes dos parlamentos nacionais, dos 


Chefes de Estado ou de Governo dos EM, do PE, da Comissão e, se a matéria o exigir, 
o BCE é consultado)- 48º.4; 

- ​Ratificação –​ a vigência do tratado, e a consequente entrada em vigor das alterações, 


exige a ratificação ​por todos os EM ​“e​ m conformidade com as respectivas normas 
constitucionais​” [8º.2 e 161º i) CRP] 

ii) P
​ rocedimentos especiais ou simplificados de revisão 

6.2. Direito Derivado  

Visto  como  o  conjunto  de  actos  jurídicos,  normativos  e  não  normativos,  adoptados 
pelas  instituições,  órgãos  e  organismos  da  União  Europeia  nos  Tratados  coexistem 
duas nomenclaturas de actos:  

1)  actos  tipificados  pelo  artigo  288º  TFUE,  disposição  que  se  mantém  inalterada 

41 
desde  a  entrada  em  vigor  do  primeiro  Tratado  de  Roma,  salvo  uma  adaptação 
cirúrgica  do  conceito  de  decisão,  e  que  especifica  regulamento,  directiva,  decisão, 
recomendação e parecer;  

2)​o Tratado de Lisboa, acrescentou uma outra que distinção entre: 

-​actos legislativos ( 289ºTFUE); 

-​actos delegados ( 290º TFUE); 

- ​actos de execução (291º TFUE)  

Olhando agora para os atos típicos do 288º TFUE, temos:  

6.2.1.Regulamento  

Visto  como  um  acto  normativo  de  alcance  geral  e  abstracto, obrigatório em todos os 


seus  elementos,  directamente  aplicável  em  todos  os  EM  desde  o  momento  da  sua 
entrada  em  vigor.  Instrumento  de  criação  de  direito  uniforme  que  vigora  directa  e 
simultaneamente  nas  ordens  jurídicas  nacionais  sem  necessidade  de  qualquer  acto 
interno  de  transformação  ou  de  recepção.  No  ​Ac.  Variola  foi  peremptório  no 
sentido  de  considerar  medidas  internas  de  recepção  ou  de  incorporação  como 
incompatíveis  com  o atributo da aplicabilidade directa. Fonte potencial de criação de 
direitos  e  de  deveres  para  todos  os  sujeitos  de  direito.  O  regulamento  costuma  ser 
catalogado  como  equivalente  às  leis  do  direito  interno,  mas  o  mais  rigoroso  é 
considerá-lo um instrumento da função normativa 

6.2.2. Diretiva 

Vista  como  um  instrumento  de  harmonização  das  legislações  nacionais,  a  directiva 
tem  os  EM  como  destinatários  diretos  e  formais,  porque  os  vincula  em  relação  ao 
resultado  a  alcançar  (obrigação  de  resultado),  reconhecendo-lhes  uma  autonomia 
relativa  quanto  à  forma  e  aos  meios  para  realizar  os objectivos inscritos no programa 
harmonizador da directiva. 

  A  directiva,  ao  contrário  do  regulamento,  não  tem  efeito  directo.  Os  EM  estão 
sempre  obrigados  a  proceder  à  sua  transposição  para  o  direito  interno,  nos  termos 
definidos  pela  sua  Constituição  (  112.º  2  CRP).  A  autonomia  na  escolha  dos 
procedimentos  e  meios  de  transposição  não  pode  pôr  em  causa  a  obrigação  de  uma 
transposição completa, eficaz e dentro do prazo previsto na directiva.  

42 
A  directiva  acabou  por  evoluir  para  um  formato  muito  diferente,  com  directivas  de 
conteúdo  e  de  efeito  muito  próximo  do  conteúdo  e  efeito  dos  regulamentos.  Nesta 
evolução  transparece  a  confluência  de  dois  factores:-,  -  a  aprovação  pelo  decisor  da 
União de directivas de conteúdo cada vez mais detalhado;  

-a  jurisprudência  do  TJ  sobre  o  efeito  directo  das  directivas  que,  verificados  certos 
requisitos,  reconhece  aos  particulares  o  direito  de  as  invocar  como  fonte  directa  de 
direitos  no  quadro  de  um  litígio  em  que  são  partes  perante  os  tribunais  nacionais  e, 
eventualmente, perante as administrações nacionais.  

Esta  jurisprudência,  encetada  com  o  ​Ac.  Van  Duyn​,  culminou  numa  verdadeira 
transformação  da natureza da directiva, de acto formalmente dirigido aos EM e fonte 
de  obrigação  para  o  decisor  nacional  para  um  acto  que  tem,  afinal,  os  particulares 
como  destinatários  materiais  que  a  podem  invocar  em  seu  benefício  enquanto  fonte 
de direitos. Com esta metamorfose, a directiva, tal como o regulamento, é um acto de 
alcance abstracto e geral.  

6.2.3.​​Decisão 

É  obrigatória  em  todos  os  seus  elementos  e  pode  ou  não  designar  destinatários.  No 
caso  de  identificar  o(s)  destinatário(s)  só  é  vinculativa  para  este  e funciona como um 
acto  equivalente  ao  acto  administrativo  no  direito  interno.  Aplicável  em  domínios 
como  o  dos  auxílios  de  Estado,  com  decisões  da  Comissão  dirigidas  aos  EM  (108º.2, 
TFUE)  e  do  Direito  da  Concorrência,  também  com  decisões  da  Comissão  que 
podem  impor  multas  e  adstrições  às  empresas  por  violação  das  regras  da  sã 
concorrência [103º.2 a), TFUE]. 

6.2.4.Recomendações e pareceres 

Actos  não  vinculativos.  As  recomendações  são  adoptadas  por  iniciativa  das 
instituições,  órgão  ou  organismo  que  as formula. Os pareceres são emitidos a pedido, 
dirigido  ao  TJ  (218º.  11  TFUE)  ou  a  instituições,  órgãos  ou  organismos  de  natureza 
não  judicial,  normalmente  integrados  num  procedimento  decisório  como 
formalidade  essencial  [242º  TFUE].  Não  sendo  vinculativo,  o  parecer,  quando 
previsto  como  exigência  procedimental,  é  necessário  e  a  sua  omissão  é  geradora  de 
ilegalidade  do  acto  adoptado,  passível  de  impugnação  por  violação  de  formalidade 

43 
essencial [ 263º 2. TFUE; 267º b) TFUE; 277ºTFUE]. 

- Em especial, sobre os actos típicos de natureza funcional: 

a)  Actos  legislativos  ​–  são,  nos  termos  do  artigo  289.º  3,  TFUE,os  actos  jurídicos 
adoptados  através  do  procedimento  legislativo,  ordinário  ou  especial.  Sempre  que  a 
base  jurídica  remete  para  o  procedimento  legislativo  ordinário  (114º.  1,  TFUE)  ou 
para  o  procedimento  legislativo especial ( 86º 1, TFUE) as medidas aprovadas tomam 
a  forma  de  acto  legislativo (regulamento, directiva ou decisão).Se o acto for aprovado 
por  via  de  um  procedimento  não  legislativo  o  acto  resultante  será  necessariamente 
não legislativo, mesmo que, no plano substantivo, possa ter características de um acto 
da função normativa primária ( 103º.1 TFUE e 109º TFUE); 

b)  Actos  delegados:  ​actos  não  legislativos  da  função  normativa:  têm  alcance  geral  e 
visam  completar  ou  alterar  elementos  não  essenciais  do  acto  legislativo.O  acto 
delegado,  ao  contrário  do  acto  de  execução  não  se  limita  a  dar  aplicação  à  norma 
legislativa,  porque  serve  para  aprovar  um  regime  que completa e pode mesmo alterar 
aspectos previstos no acto legislativo de base; 

c)  Actos  de  execução:  ​actos  adoptados  no  quadro  do  artigo  291.º  3  e  4,  TFUE, 
destinados  a  dar  execução aos actos juridicamente vinculativos da União, susceptíveis 
de alcance geral ou de incidência individual; 

Maria  Luísa  Duarte  →  ​o  acto  de  execução,  independentemente  de  se  chamar 
regulamento  ou  decisão,  é  passível  de  constituir  um  acto  da  função  regulamentar ou 
um  acto  da  função  administrativa  não  normativa,  dependendo  de  ter ou não alcance 
geral. 

Aspectos fundamentais do regime jurídico comum dos actos euro comunitários: 

-  Presunção  de  legalidade:  ​salvo  a  situação  controvertida  da  inexistência  jurídica,  o 


acto  jurídico  euro  comunitário  produz os seus efeitos jurídicos, ficando a inibição ou 
exclusão  de tais efeitos jurídicos dependente da declaração de nulidade ( 264º  TFUE) 
ou de invalidade [ 267.º al. b), TFUE e 277º TFUE]. 

-  Dever  de  fundamentação:  ​(296º  TFUE)  que  se  exige  mais  ou  menos  desenvolvida 
dependendo  da  natureza  do  acto  e  do  âmbito  de  margem  de  livre  apreciação  que 
assiste  ao  órgão  decisor.  O  requisito  da  fundamentação  visa,  em  especial,  dar  a 
conhecer  aos  destinatários  do  acto  as  razões  que  estiveram  na  base  da  sua  adopção 

44 
pelo decisor da União, 

-  Publicação  /  notificação:  os  actos  legislativos  e  não  legislativos  são  publicados  no 
Jornal  Oficial  da  União  Europeia  e  entram  em  vigor  na  data  por  eles  fixado  ou  na 
ausência  desta,  decorrido  o  prazo  de  ​vacatio  legis​,  no  20º  dia  seguinte  da  sua 
publicação.  As  diretivas  e  as decisões que indiquem destinatário são comunicadas aos 
respectivos  destinatários  e  a  produção  de  efeitos  conta-se  a  partir  da  data  da 
notificação ( 297º.2 TFUE).  

6.3.  Outros princípios de função complementar para a garantia eficácia plena do 
DUE 

- Princípio da interpretação em conformidade com o direito da União 

O  princípio  da interpretação, em particular, na Interpretação da Constituição, é uma 
manifestação  ou  concretização  do elemento sistemático da interpretação jurídica. Foi 
visto  no  ​Ac.  Pfeiffer  que  a  interpretação  conforme  o  Direito  Nacional  ,  “é  inerente 
ao  sistema  do  Tratado,  na  medida  em  que  permite  ao  juiz  nacional  assegurar,  no 
âmbito das suas competências, a plena eficácia do direito da União”. 

No  Ac.  Colson  e  Kamann,  em  resposta  a  questões  prejudiciais  sobre  a  relevância  da 
disposição  de  uma  directiva  cuja  transposição  para  o  direito  interno  tinha  sido 
insuficiente,  e  insusceptível  de  invocação  pelos  particulares,  o  TJ aportou na solução 
clássica  da  interpretação  conforme.  EM  referência à transposição completa e efetiva ( 
288  º.3  TUFE),  considera  que  o  juiz  nacional  está  obrigado  “a  interpretar  o  seu 
direito  nacional  à  luz  do texto e da finalidade da directiva (...)”. Cabe ao juiz nacional 
interpretar  a  lei  da  transposição,  na  medida  consentida  pela  margem  de  apreciação 
que  o  seu  direito  nacional  lhe  reconhece,  em  conformidade  com  as  exigências  do 
direito comunitário. 

- Princípio  da  cooperação  leal  –  em especial, a competência de execução dos 


Estados-membros 

- O  princípio  da  responsabilidade  extracontratual  dos  Estados-membros 


por violação do Direito da União Europeia 

Como  referido no ​Ac. Francovich​, o TJ questionado por um tribunal nacional sobre 
o  problema  de  saber  se  um  Estado-membro  pode  ser  obrigado  a  reparar  os  prejuízos 

45 
causados  aos  particulares  pela  não  transposição  de  uma  directiva,  começa  por 
esclarecer  que  o  ponto  deve  ser  analisado  “à  luz  do  sistema  geral  do  Tratado  e  dos 
princípios fundamentais”. 

Inerente  ao  sistema  jurídico  da  tutela  jurisdicional  efectiva  que  suporta  a  União  de 
direito,  a  responsabilidade  do  Estado-membro  por  violação  da  norma 
eurocomunitária depende: 

i)  condições,  da natureza da violação tal como caracterizada pelo próprio Tribunal de 


Justiça; 

ii)  concretização  do  direito  à  indemnização,  é  no  âmbito  do  direito  nacional  de cada 
Estado-membro  que  incumbe  ao  Estado  reparar  as  consequências  do  prejuízo 
infligido; 

Em  relação  às  condições  de  responsabilidade,  o  TJ  autonomiza  3  condições,  em 
função do caso concreto de prejuízos causados pela não transposição de 1 diretiva: 

i)  resultado  prescrito  pela  directiva  deve  implicar  a  atribuição  de  direitos  a favor dos 
particulares; 

ii)  o  conteúdo  de  tais  direitos  deve  ser  identificado  com  base  nas  disposições 
relevantes da directiva; 

iii)  ​existência  de  um  nexo  de  causalidade  entre  a  violação  da  obrigação  que  impende 
sobre o Estado-membro e o prejuízo invocado pelo particular lesado. 

O  alcance  geral  do  princípio  da  responsabilidade  exclui  a  imunidade  de  qualquer 
função  /órgão  do  EM,  isto  tem  tem  o  seu  desenvolvimento  no  ​Ac.  Köbler​,  sobre  a 
responsabilidade  do  Estado-juiz.  O  entendimento  abrangente  sobre  o  direito  à 
indemnização  reclamado  pelos  particulares,  não  podia  ignorar,  a  responsabilidade 
por  facto  de  lei  ou  de  erro  judicial.  O  TJ  entende  que  o  legislador  do  EM  que  atua 
num  domínio  em  que  dispõe  de  um  amplo  poder  de  apreciação,  só  podendo  ser 
responsabilizado  se  preenchidos  3  condições  que  sujeitam  a  UE  ao  dever  de 
reparação: 

i)​que a regra de direito violada tenha por objeto conferir direitos aos particulares; 

46 
ii)​que a violação seja suficientemente caracterizada6; 

iii)​que exista nexo de causalidade direto entre a violação e o prejuízo sofrido;  

No  ​Ac.  Tomásová​,  ficou  claro  que  a  responsabilidade  do  Estado  por  exercício  da 
função  jurisdicional  depende  da  violação  perpetrada  por  1  tribunal  nacional  que 
decide  em  última  instância  , se desrespeitou com esta decisão manifestamente o DUE 
aplicável,  incluindo  a  violação  da  obrigação  de  reenvio.  Ao  restringir  a 
responsabilidade  extracontratual  do  Estado-Juiz  às  decisões  proferidas  em  última 
instância,  o  TJ  pressupõe  que  os  EM  cumprindo  a  obrigação  inscrita  no  19º.1  2º 
parágrafo do TUE.  

  Uma  violação  do  direito  da  União  considera-se  suficientemente  caracterizada 


quando  a  jurisdição  nacional  a  quem  compete  interpretar  e  aplicar  a  norma  euro 
comunitária  omite  o  dever de garantir a sua aplicação no litígio concreto, seja porque 
ignora  o caráter prevalecente da norma euro comunitária em causa seja porque rejeita 
ou  mitiga a sua invocabilidade contenciosa como corolário necessário do princípio da 
eficácia directa. 

Existe  violação  suficientemente  caracterizada  quando  o  tribunal  que julga em última 


instância  decide  de  modo  que  contradiz  manifestamente  a  jurisprudência  assente  do 
Tribunal  de  Justiça  sobre  a  matéria,  violação  esta  que  compreende  a  situação 
tipificada  de  abuso  da  teoria  do  acto  claro  em  que  o  tribunal  nacional,  obrigado  a 
suscitar  a  questão  prejudicial  de  interpretação,  opta  por  não  colocar  a  questão 
prejudicial ao TJ ( 267º TFUE), como no A ​ c. CLIFIT. 

O  princípio  fundamental  da  autoridade  do  caso  julgado  e  o  carácter  definitivo  das 
decisões  proferidas  pelos  tribunais  supremos  não  são  um  obstáculo  ao 
reconhecimento da responsabilidade do Estado-membro por facto de sentença. 

O  demandante  numa  acção  de  indemnização  bem  sucedida  contra  o  Estado  ganha  o 
direito  à  reparação,  mas  não  necessariamente  o  direito  a  uma  alteração  da  matéria 
julgada  na  decisão geradora do prejuízo. Impõe-se uma alteração sobre o conteúdo da 

6
​No processo de verificação dos pressupostos da violação grave e manifesta, compete ao juiz nacional considerar a 
relevância de indícios como: ​i)​grau de clareza e precisão da regra violada;​ ii)​margem de apreciação que a regra 
consente;​iii)​caráter intencional ou não do incumprimento; i​ v)​o caráter desculpável do erro de direito;​ v) 
manutenção de práticas nacionais contrárias;  

47 
jurisprudência  do  tribunal  nacional  para  casos  futuros,  eventualmente  através  de 
uma  intervenção  do  legislador  no  sentido  de  rever  e  clarificar  o  regime  jurídico, 
material  ou  processual,  que  enquadrava  a  decisão  judicial  manifestamente  contrária 
às obrigações comunitárias do EM em causa.​( ​Ac. Comissão c. Itália​). 

O  TJ  precisou  também  que  um  tribunal  supremo  está  obrigado  a  suscitar  uma 
questão  prejudicial  de  interpretação  a  propósito  do  sentido  controvertido  de  um 
determinado  conceito  jurídico constante de legislação euro comunitária, sobre o qual 
se  constata  a  existência  de  jurisprudência  divergente  por  parte  de  instâncias 
jurisdicionais  inferiores,  bem  como  a  ocorrência  de  dificuldades  persistentes  de 
interpretação  do  mesmo  conceito  noutros  EM  (  ​Ac.  Silva  e  Brito​).  ​A  violação  da 
obrigação  de  reenvio  pelo  tribunal  que  julga  em  última  instância  concretiza  a 
exigência  de  uma  violação  suficientemente  caracterizada. A obrigação de reenvio visa 
tanto  o  objectivo  geral  da  garantia  da  uniformidade  na  interpretação  e  aplicação  do 
Direito  da  União  como  o  objectivo  mais  específico  da  protecção  dos  direitos  dos 
particulares. 

7.  Constituição  Portuguesa  e  o  grau  de  abertura  à  exigência  da  coabitação 


necessária  entre  o  princípio  do  primado  e  o  respeito  pelos  “  principio 
fundamentais do Estado de Direito democrático” ( 8º.4 CRP) 

De  acordo  com  o  artigo  8.o,  n.o  4,  as  disposições  dos  tratados  que  regem  a  União 
Europeia  (Direito  Primário)  e  as  normas  (entenda-se  todos  os  actos  jurídicos) 
emanadas  das  suas  instituições,  no  exercício  das  respectivas  competências,  são 
aplicáveis  na  ordem  interna,  nos  termos  definidos  pelo  Direito  da  União.  O  artigo 
8º.  4  fundamenta  a  eficácia  direta  das  normas  e  actos  jurídicos  da  União  nas  suas 
várias dimensões de intersecção com a ordem jurídica portuguesa: 

i)  a  norma  euro  comunitária  prevalece  sobre  a  norma  interna  em  situação  de  colisão 
com a norma interna; 

ii)  ​a  norma  euro  comunitária  é  directamente  aplicável,  como  acontece  com  o 
regulamento  (288º.2,  TFUE),  e  passa  a  vigorar  na  ordem  jurídica  portuguesa  assim 
que  se  inicia  a  sua  vigência  na  ordem  jurídica  da  União  (  297º  TFUE),  com  exclusão 
de actos internos de recepção ou transposição; 

iii)  a  norma  eurocomunitária,  verificados  os  pressupostos  da  eficácia  directa, 


designadamente  a  sua  natureza  clara,  precisa  e  incondicional,  é  fonte  de  direitos  e 

48 
deveres  para  os  particulares  que  a  podem  invocar  junto  dos  tribunais  nacionais  no 
âmbito de litígios em que são parte; 

A  verdadeira  “cláusula  europeia”  da  Constituição  Portuguesa,  no  sentido  que  lhe 
atribuímos  de  cláusula  de  aceitação  de  limitações  à  soberania  em  função  dos 
objectivos  da  construção  europeia,  encontra-se  no  artigo  7º.6.  Existem  limites 
impostos ao 7º.6 CRP: 

i)  ​“respeito  pelos  princípios  fundamentais  do  Estado  de  Direito  Democrático  e  pelo 
princípio da subsidiariedade”; 

ii)  ​o  segundo  de  recorte  procedimental,  prende-  se  com  a  aceitação  das  limitações de 
soberania;  a  atribuição  de  poderes  necessários  aos  órgãos  da  União,  com  vista  ao  seu 
exercício  em  comum  ou  em  cooperação,  será  convencionada,  o  que,  nos  termos  do 
artigo 161º. i), CRP, exigirá a forma de tratado solene; 

Veja-se  também  que  o  TUE  no  seu  artigo  4º.2,  obriga  a  União  a  respeitar  a  “ 
identidade  nacional”  dos  EM  “  refletida  nas  estruturas  políticas  e  constitucionais 
fundamentais de cada 1 deles”.  

A Constituição funciona em relação ao primado com um duplo efeito: 

- efeito  habilitador  ​(  relativo  à  atribuição  de  competências  necessárias  à 


construção da UE); 
- efeito  limitador  ​(  o  âmbito  de  habilitação  não  pode  extravasar  os  limites 
imanentes à garantia do Estado de Direito ); 

8. Fundamentos jurídicos de uma União de Direito  

- Princípio da Tutela Jurisdicional Efetiva 

Um  dos  pilares  fundamentais  do  Estado  de  direito,  que  o  TUE  incorpora 
expressamente  entre  os  valores  que  fundamentam  a  UE  (2ºTUE),  é  o  princípio  da 
tutela  jurisdicional  efectiva,  sendo  que  o  artigo  47º  CDFUE  positiva  o  conteúdo 
deste  mesmo  princípio. O artigo 19º.1 TUE tem como missão de garantir “ o respeito 
do  direito  na  interpretação  e  aplicação  dos  Tratados”.  Por  força  justamente  da 
natureza  imperativa  do  direito  de  acesso  a  um  tribunal,  o  artigo  19º  1  e  2.. TUE, faz 
recair  sobre  os  EM  a  obrigação  de  estabelecer  “as  vias  de  recurso  necessárias  para 
assegurar  uma  tutela  jurisdicional  efectiva  nos  domínios  abrangidos  pelo  direito  da 
União”. 

49 
Em  matéria  de  tutela  jurisdicional  efectiva,  a  jurisprudência  do  TJ  é  marcada  pelo 
recurso  a  dois  instrumentos  que  são  complementares  no  desígnio  de,  alargando  ou 
fortalecendo o âmbito de jurisdição do TJ, garantir um nível mais elevado de unidade 
e coerência na interpretação e aplicação do DUE. 

- Processo de questões prejudiciais  

Questão  prejudicial  ​–  aquela  cuja  resposta  ou  resolução  é  necessária  e  condiciona, 
como etapa prévia ou antecedente, a solução do litígio concreto; 

O  processo  de  questões  prejudiciais  foi  habilmente  usado  pelo  Tribunal  de  Justiça 
como  o  mecanismo  por  excelência  de  integração  jurídica:  a  ferramenta multifunções 
da  construção  pretoriana  do  tecido  normativo  do  qual  depende  a  própria  existência 
da  União  Europeia.  Esta  asserção  sobre  o  muito  que  foi  possível  fazer  no  quadro  do 
artigo 267º TFUE resulta de: 

i)​​uma avaliação de ordem quantitativa; 

ii)  ​análise  qualitativa,  centrada  na  importância  relativa  da  jurisprudência  proferida a 
título prejudicial;  

Competência: 

Juiz  nacional  pode  resolver  uma  apreciação  de  validade,  ele  próprio,  dispensando-se 
de  a  submeter  ao  TJ,  se  considerar  que  deve  considerar  válido  o  ato,  mas, segundo a 
jurisprudência  do  TJUE,  é  obrigado  a  proceder  ao  reenvio  sempre  que,  em  seu 
entender,  a  resolução  da  questão  implique  a  declaração  de  invalidade  do  ato  em 
causa. 

Pode qualquer ato da DUE ser sujeito à interpretação? 

→  Só  se  pode  questionar  a  ​validade  (  vista  como  a  validade  formal  dos  atos)  de atos 
de direito derivado.  

Sempre  que  no  âmbito  dos  Tratados  um  tribunal  nacional  de  instância  se  vir 
confrontado  com  uma  questão  de  interpretação  ou  de  apreciação  da  validade  de  um 
ato das instituições, esse tribunal pode: 

- resolver ele próprio a questão; 

50 
- submeter a sua resolução ao TJUE, mediante devolução/ reenvio; 

Quando  num  processo  que  suba  até  um  tribunal  supremo  haja  lugar  à  aplicação  do 
DUE, o tribunal deve: 

- devolver  ao  TJUE  o  julgamento  da  questão  prejudicial  de  interpretação/ 


apreciação de validade  
- Obrigatoriedade de Reenvio: 

→  ​Maria  Luísa  Duarte:  ​nã​ o  há  obrigação  de  reenvio  e  sim  o  dever  prudencial  de 
reenvio; 

→  Posição  maximalista:  todos  os  tribunais  que  julgam  como  última  instância 
devem suscitar questões; 

No  ​Ac.  Foto-  Frost​,  ​o  TJUE  assumiu  que  só  ele  tem  a  competência  de  declarar  a 
invalidade de uma norma de DUE: 

i)  ​Juiz  nacional  tem  competência  para  determinar  se  a  questão  é  necessária  ao 
julgamento  em  causa  (existe  uma  obrigação  de  reenvio  por  parte  do  órgão 
jurisdicional nacional);   

ii)  ​Se  o  juiz  nacional  verificar  uma  potencial  ilegalidade  da  norma,  havendo  dúvidas 
sobre  a  validade,  o  juiz  tem  obrigatoriamente  de  colocar  a  questão  se  pretender  a 
invalidade da norma euro comunitária;  

9.  União  de  Direito:  Instrumentos  Específicos  de  Defesa  do  Estado  de  Direito 
contra violações graves imputáveis aos EM 

O artigo ​7º TUE​( e as sanções políticas) 

- Exigências substantivas: 

i) v​iolação grave e persistente do artigo 2º TUE; 

- Exigências Procedimentais: 

i)  ​verificação  da  existência  de  um  risco  manifesto  de  violação  grave  dos  valores  do 
artigo 2º ( 7º.1 TUE); 

51 
ii)  constatação  pelo  Conselho  Europeu  da  existência  de  uma  “  violação  grave  e 
persistente por parte de um EM dos valores do 2º ( 7º.2 TUE);; 

iii)​Unanimidade e veto ( 354º TFUE);  

iv)  ​Aplicação  de  sanções  políticas  -  suspensão  de  direitos  associados  ao  estatuto  de 
EM,  incluindo sanções financeiras ou suspensão do direito de voto do representante ( 
7º.3 TUE); 

52 
 

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