Você está na página 1de 82

Carolina Batista Veríssimo

Aulas práticas de Direito da União Europeia I – Dr. Eduardo Figueiredo


Carolina Batista Veríssimo – 2021/22

Aula de 13/10/21

Os antecedentes da União Europeia remontam ao pós 2ª guerra mundial. Já antes existia a ideia de
Europa unida, com as mesmas culturas (romano-germânica e judaico-cristã). Houve várias tentativas
de unificar a Europa, criar, portanto, um único império que se prolongasse por todo o continente
europeu, mas não foi bem-sucedido. O mais próximo que tivemos foi o império romano, foi o que se
conseguiu prolongar mais pelo continente europeu.

Só depois da 2ª guerra mundial foi dado os primeiros passos de unir o continente europeu. No final
desta guerra era necessário garantir a paz, e nessa medida foram criadas várias Organizações
Internacionais de várias índoles.

A 1ª OI criada foi a BENELUX que abarcava 3 países: a Bélgica, Luxemburgo e os países baixos
(Holanda). Esta era uma organização de integração económica. O que os estados pretendiam fazer
era eliminar as barreiras aduaneiras. Normalmente quando um país exporta produtos para outro
país, quando os produtos passam a fronteira do outro país têm de ser pagas tarifas aduaneiras. Tal
era um entrave às trocas. O que aconteceu foi que estes 3 países começaram a poder exportar e
importar produtos uns dos outros sem pagar essas tarifas aduaneiras.

Também no plano económico temos a Organização para a Cooperação Económica da Europa


(OECE) e que hoje tem um âmbito mais alargado, quase universal, e conhecemo-la por OCDE.
Inicialmente esta tinha no plano europeu o mesmo objetivo de facilitar as trocas e hoje já tem um
papel mais alargado, nomeadamente na ajuda ao desenvolvimento daqueles países que são países
menos desenvolvidos, economicamente mais frágeis.

No plano da defesa temos também o Tratado de Bruxelas que cria a União Ocidental que mais tarde
se vai chamar União de Europa Ocidental. Este era um Tratado de assistência mútua em que no
fundo os Estados juravam auxiliar-se reciprocamente caso um deles fosse atacado.

No mesmo plano foi criada a NATO para garantir que um conjunto de países se auxiliassem
reciprocamente na defesa.

Ao lado destas várias Organizações temos o Conselho Europeu e o Conselho de União Europeia, que
são instituições da União. O Conselho da Europa é uma OI que tem como principal finalidade a
promoção de democracia e dos direitos humanos e não está dentro da União.

A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) foi criada em 1951 pelo Tratado de Paris. A
CECA foi criada com a finalidade de manutenção da paz (no período da 2ª Guerra Mundial o receio
do conflito se reavivar era muito, decidindo-se colocar os países a cooperar entre si), promoção da
expansão económica e criação de um mercado comum do carvão e do aço. O mercado comum

1
Carolina Batista Veríssimo

abarca a livre circulação destas 2 matérias-primas e, portanto, os países podem importar e exportar
o carvão e o aço sem estarem sujeitos, desde logo, às barreiras aduaneiras referidas acima.

Este Tratado de Paris estabelecia que ao fim de 50 anos caducava. Isso significa que hoje a CECA já
não existe e as competências desta hoje estão na esfera da União Europeia.

A CECA foi criada e surgiu um entusiasmo uma vez que os seus objetivos foram cumpridos com
sucesso. Deste modo, começou-se a pensar alargar o âmbito da integração europeia e, portanto,
criarem-se outras comunidades em outros âmbitos distintos, como a comunidade europeia da
defesa, uma comunidade política europeia, etc. Mas a verdade é que começou se a perceber que a
cooperação em domínios não económicos era muito mais complexa do que nos domínios
económicos e, portanto, esta tentativa de alargar o âmbito de integração saiu um fracasso.

De uma forma resumida, surge a ideia de criar outras duas comunidades. Portanto, já tínhamos a
CECA, e surge a ideia de criar a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Euratom (Comunidade
Europeia de Energia Atómica). Passamos assim a ter 3 comunidades: CECA (Tratado de Paris, 1951),
CEE (Tratado de Roma, 1957) e Comunidade Europeia de Energia Atómica (Tratado de Roma, 1957).
Estes 2 tratados são designados por Tratados fundadores das comunidades.

Estes 2 Tratados não são mais que convenções internacionais. Um grupo de estados, 6, reúnem-se e
decidem celebrar convenções internacionais com determinadas finalidades. E, portanto, todo o
processo de celebração destes tratados estão sujeitos às regras do DIP e as regras da Convenção de
Viena, Direito dos Tratados.

Cada destas comunidades tem as suas instituições. Por ex., a CECA tinha um Conselho, uma Alta
autoridade, uma Assembleia Parlamentar e um Tribunal de Justiça. Quando, em 1957, foi criadas as
outras duas comunidades, a Assembleia Parlamentar (tal como TJ) passam a ser comum às 3, mas
os seus órgãos executivos eram separados. O órgão legislativo era comum à Assembleia
Parlamentar. E o Órgão judicial também era comum.

As finalidades da CEE começam a ser discutidas numa conferência chamada Conferência de


Medicina onde se procurou estimular os Estados a constituir um mercado comum. Este pressupõe a
abolição das tarifas aduaneiras, mas também a livre circulação de fatores de produção:
mercadorias, pessoas e serviços. Nesta altura ainda não existia uma outra liberdade de circulação
que temos hoje, a liberdade de circulação de capitais. O que se pretendeu aqui foi construir um
mercado comum onde circulavam livremente mercadorias, pessoas e serviços.

2
Carolina Batista Veríssimo

A EURATOM vem pretender uma cooperação dos Estados na promoção da energia nuclear, mas
agora para fins pacíficos. Hoje em dia já estamos a ser mais ambiciosos e queremos abolir esta
energia pelo quão destrutiva ela pode ser, mesmo quando utilizada para fins pacíficos.

No fundo podemos dizer que há 3 fases do desenvolvimento da União Europeia. A primeira foi a
Fase das Comunidades, que foi até ao Tratado de Maastricht.

Portugal é um dos países fundadores da UE, não é um dos países fundadores das comunidades,
porque Portugal estava lá quando foi assinado o Tratado de Maastricht.

Por vezes perguntasse nas orais quais dos tratados fundadores (Paris, Roma e por vezes Maastricht
que fundou a união europeia).

Depois do Tratado de Maastricht em que temos as comunidades e a UE entramos na Fase da


Transformação. Esta é uma fase de aprofundamento porque aqui já tínhamos as comunidades e a
UE mas agora era preciso aprofundar. Portanto, a seguir ao Tratado de Maastricht vão seguir-se um
conjunto de Tratados pretendem aprofundar as competências da UE, etc. as fundações já existiam,
era necessário aprofundá-las.

Por fim temos o Tratado de Lisboa que dá origem à Fase da União.

Até aqui as 3 comunidades tinham os seus órgão executivos próprios, mas em 1965 é celebrado o
Tratado de
Fusão que veio unificar esses órgãos executivos. A Assembleia Parlamentar (a que chamamos de
Parlamento Europeu, nome que surge em 1962) já era comum e o TJ também, mas o conselho e a
comissão não eram comuns. Com este tratado passamos a ter a Comissão das comunidades
europeias no conselho das comunidades europeias, comum às 3 comunidades. Isto dá origem ao
Quadro Institucional Único.

A seguir a este Tratado viveu-se um período de um certo marasmo, havia muitas dificuldades em
perceber qual era o futuro deste projeto de integração europeia. Podemos dizer que o grande
impulso foi dado com Cimeira da Aia. Nesta os países juntaram-se e estabeleceram que tinham que
definir um caminho, criar uma direção para este projeto. Então estabelecem 3 prioridades:

• Alargamento
• Aprofundamento
• Acabamento
Umas das principais preocupações na Cimeira foi abrir este projeto de integração a novos países,
até aqui só tínhamos os 6 países fundadores da CEE: RFA (República federal da Alemanha), Itália,
França, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo. A discussão era se por ex. se o alargamento deveria ser
alargado ao reino Unido porque este desde cedo mostrou interesse em juntar-se às comunidade, no
entanto a França opunha-se.

3
Carolina Batista Veríssimo

O aprofundamento traduz-se que até aqui a principal finalidade era a criação de um mercado
comum, mas os países decidiram que isso não bastava, tinha de se harmonizar também as políticas
economias, eliminar barreiras aduaneiras, mas também uniformizar as políticas monetárias, uma
vez que a oscilação da moeda acabava por ser um grande entrave às trocas comerciais. Assim, os
países tinham de se comportar todos mais ou menos da mesma forma no que toca à emissão da
moeda e depois criar a moeda única, o euro. Em 2002 o euro entrou em circulação.

A última prioridade era o acabamento que vem na sequência da ideia de aperfeiçoamento, ou seja,
nos já tínhamos políticas comuns, mas era preciso aprofundá-las. Por ex. a política agrícola comum
estava a ter resultados muito medianos e era necessário aperfeiçoar.

Ainda nesta ideia de mero aperfeiçoamento surge o Ato Único Europeu, celebrando em 1986, ano
em que Portugal entra na comunidade económica europeia e nos trouxe alterações estruturais, mas
sim aperfeiçoamentos do que já existia. Este começa a evidenciar que as comunidades também se
devem preocupar com a democracia, com os direito fundamentais, com o Estado do Direito. As
prioridades deixam de ser exclusivamente de natureza económica para passarem a ser também de
natureza política, social, democrática, etc.

Até aqui nos só tivemos o Conselho das Comunidades Europeias. Esse conselho corresponde àquilo
a que chamamos de Conselho, Conselho de Ministros, ou Conselho da UE. O conselho europeu
durante anos funcionou como uma instância informal e, portanto, traduzia-se num conjunto de
cimeiras levadas a cabo pelos chefes de estado, em cidades diferentes e costumava-se dizer por ex.
conselho europeu de lisboa, porque tinha sido realizado em lisboa, conselho europeu de Dublin,
porque tinha sido realizado em Dublin, etc.

Os acordos de Schengen são criados lateralmente, ou seja, estes são convenções internacionais que
determinam a abolição dos controlos transfronteiriços. O que se pretendia era que uma pessoa
fosse capaz de ir de Portugal até à Alemanha sem ser parado nas fronteias ou pedir visto, etc. assim
era uma verdadeira livre circulação de pessoas pelo espaço europeu.

Este acordo era meramente programático. Apelava aos estados que adotassem medidas para
progressivamente eliminarem os controlos transfronteiriços.

Em 1990 estes acordos passam a constar de uma convenção, que é a Convenção de aplicação do
acordo Schengen, e esta convenção já vai mais longe, não apela apenas aos Estados a adotar as
medidas, mas empoe que os estados executem as medidas adotadas.

Nem todos os países das Comunidades aderiram a estes acordos, como o Reino Unido, se
queríamos ir ao Reino Unido tínhamos de apresentar passaporte (ainda hoje é assim).

O Tratado de Maastricht é um tratado de aprofundamento. Este cria a União Europeia. Ao lado das
comunidades passamos então a ter a União Europeia. É criada a UE como uma quarta unidade.

4
Carolina Batista Veríssimo

1º pilar: era um pilar de consagração e consolidação de todo o edifício do mercado único e de


preparativos para uma união económica cometária. Portanto, era preciso garantir a livre circulação
de pessoas, serviços, mercadorias e capitais. Era preciso adotar políticas comuns e era preciso
começar a dar os primeiros passos na harmonização da política económica e monetária. A CEE passa
a chamar apenas CE, uma vez que se chegou a conclusão de que a Comunidade económica europeia
já não tem só objetivos de natureza económica, tem também objetivos ao nível da integração
política e social. É a partir de 1992 que isso acontece.

2º pilar – PESC e 3º pilar: JAI. Nesta altura a UE funcionava com base numa logica
intergovernamental, isto é, as decisões eram tomadas todas pelos Estados. As decisões que eram
tomadas em matéria de política externa e segurança comum e ao nível da cooperação para a justiça
e assunto internos era tomada essencialmente pelo Conselho, Conselho de ministros ou Conselho
da UE. Maior parte das decisões tinham de ser tomadas por unanimidade, ou seja, todos os estados
tinham de estar de acordo.

Em relação à PESC (política externa e segurança comum) estamos a falar de questões relacionadas
com a defesa, com a relação entre a UE e países que não fazem parte da União. No caso do 3º pilar
da Justiça e assuntos internos temos várias matérias de justiça, desde logo cooperação em matéria
civil e penal, questões relacionadas com asilo, com a emigração, etc.

Ainda hoje a PESC é uma política que está sempre à parte, ou seja, continua a seguir esta lógica
intergovernamental. Vamos perceber que o resto das matérias acabaram por se democratizar,
porque começaram a ser também pelo Parlamento, pelo própria comissão. Agora, a PESC continua a
seguir esta lógica, ou seja, são os Estados que decidem em praticamente tudo em matérias de
política externa e segurança comum e continua a aplicar a unanimidade.

Em relação à União Económica Monetária há várias fases de integração económica. Começamos em


1957 com uma mera União Aduaneira que o objetivo era criar um mercado único que vai sendo
criado ao longo do tempo e agora o objetivo era ir mais longe e criar um União Económica
Monetária. A união aduaneira pressupõe a livre circulação de mercadorias, a eliminação das
barreiras alfandegarias e adoção de algumas políticas comuns. Por fim, a UEM exige a adoção de
políticas monetárias e em última opção a adoção de todos os estados a uma moeda única, utilizada
em todo o espaço económico europeu.

5
Carolina Batista Veríssimo

A consagração da UEM é um processo:

Outra nota que nos demonstra que o Tratado de Maastricht é um tratado de aprofundamento e não
só de acabamento é a criação da figura da cidadania da UE atribuindo se essa cidadania a todas as
pessoas que tenham a nacionalidade de um estado-membro.

Nacionalidade é o vínculo jurídico que liga a pessoa ao Estado, para tal são definidos vários critérios
como o ius sanguinis pelos Estados. A UE não tem competência para determinar os critérios com
base nos quais se adquire a nacionalidade. No entanto, a cidadania é um complexo de direito, é o
conjunto de direito que derivam pelo facto da pessoa ter uma certa nacionalidade.

Com o Tratado de Maastricht aconteceu que uma pessoa com nacionalidade portuguesa já tinha um
certo círculo de direitos, o círculo da cidadania portuguesa que lhe são atribuídos pela CRP. Aqui a
pessoa passa a ter um outro círculo de direito adicionais atribuídos pela cidadania europeia. Assim,
nos temos 1 nacionalidade, mas 2 cidadanias, cidadania do estado e cidadania europeia. Se alguém
não tiver nacionalidade também não vai ter cidadania, o critério é o da nacionalidade.

Tal não quer dizer que a UE não tem uma palavra a dizer. As vezes a UE pressiona os Estados para
eles abrandem um pouco os critérios que utilizam, para facilitar a atribuição da nacionalidade.
Também os alerta para que estes não conferirem a nacionalidade de uma forma tao simples. Por
ex., o caso dos vistos gold, que permitem a atribuição da nacionalidade, ou seja, uma pessoa, por
exemplo, um chines, que faz um grande investimento em Portugal é-lhe conferido um visto gold e
ele rapidamente consegue conferir nacionalidade portuguesa. A UE já veio dizer que é preciso ter
cuidado com isto, pq este cidadão não vai só obter a nacionalidade portuguesa como a cidadania
europeia. Esta pessoa vai poder circular, habitar em Portugal, sendo certo que só um país ganhou
com a aquisição da nacionalidade que foi Portugal, por conta do grande investimento que foi feito
no país.

6
Carolina Batista Veríssimo

Uma vez que cidadania europeia é conferida com base na nacionalidade, um dos princípios mais
essenciais da União Europeia é o Princípio da não discriminação em razão da nacionalidade. Este
princípio é constantemente mobilizado, por exemplo, na liberdade de circulação.

Surgimento do procedimento de codecisão: Em regra, a partir do tratado de Maastricht, o


Parlamento europeu passa a participar ativamente no processo legislativo, antes dominado pelo
Conselho, Conselho de Ministrou ou Conselho da UE. Agora este passa também a ter uma palavra.
Os atos só podem ser adotados se houver um acordo entre o Parlamento e o Conselho.

O Tratado de Amsterdão é um tratado de acabamento, não esta em causa um aprofundamento da


integração europeia, mas sim um aperfeiçoamento da UE. Portanto, o Tratado de Maastricht
refundou toda a estrutura, e agora o Tratado de Amsterdão vai reforçar e aperfeiçoar esses
alicerces. Desde logo, reforçando a cidadania europeia e a vinculação da União e dos seus órgãos
aos direitos fundamentais, nomeadamente os direito fundamentais dos trabalhadores pq se
começou a perceber que não era possível estabelecer uma livre circulação de trabalhadores se não
se garantissem os direitos fundamentais desses trabalhadores. Aprofundam-se os 3 pilares (pag. 13
do PPT 1). Alteração em matéria de repartição de atribuições (pag. 13 tb. Importante para as orais).

O Tratado de Nice (pág. 14 do PPT 1) também traz consigo um conjunto de novidades ao nível do
acabamento. Este traz consigo um documento da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia. Esta é criada em 2000 e tem uma grande particularidade relativamente a outros
documentos que protegem direitos fundamentais e direitos humanos. Por ex., se pensarmos no
Conselho da Europa, já vimos que esta tem como principal doc. a Convenção Europeia dos Direitos
Humanos. Esta Convenção vincula os Estados que fazem parte do Conselho da Europa, sob pena do
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos os condenar (Portugal já foi várias vezes condenado).

Esta Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia que surge com o Tratado de Nice não
vincula diretamente os Estados, vincula a própria União Europeia. Foi a 1ª vez que uma organização
internacional cria um doc. que obriga as suas próprias instituições a respeitar os diretos humanos.
Aqui a prioridade era a própria UE respeitar os direitos fundamentais da pessoa. Muitas vezes os
violadores destes direitos eram as próprias instituições.

Com isto íamos chegar a um apogeu de integração europeia que era a aprovação de uma
Constituição europeia, ou seja, deixamos de ter tratados e passamos a ter uma Constituição. Assim,
fazem-se um conjunto de sugestões, que passam pela ideia da abolição dos pilares e pela criação da
UE como um polo subjetivo único, o que significa que as comunidades seriam absorvidas pela
União, o que faz com que deixe de fazer sentido a existência de pilares.

Isto dá-nos a entender que este projeto queria aproximar-se de toda a lógica estadual. Esta
constituição da UE ia buscar às constituições nacionais muita inspiração.

7
Carolina Batista Veríssimo

Uma das prioridades do projeto Constitucional Europeu era afirmar o princípio do primado do
direito comunitário, que nos diz que todo o direito da UE prevalece sobre o direito nacional,
inclusivamente sobre as próprias Constituições. Assim, este projeto era meio caminho andado para
se instituir um modelo de estado federal na Europa.

A França e a Holanda recusaram tal projeto. Todos os outros estados votaram, o referendo foi
aprovado com exceção da França e da Holanda. Como é preciso unanimidade, a Constituição
Europeia não foi adotada e fracassou.

Segue-se um período de desânimo. Não se sabia bem qual seria o próximo passo a dar. Tivemos que
esperar alguns anos até surgir o Tratado de Lisboa (4º tratado que devemos dominar). Este não é
um mero tratado de acabamento, mas sim de aprofundamento do edifico europeu. Este é assinado
em 2007 e entra em vigor em 2009.

Este apresenta algumas diferenças relativamente ao projeto de tratado constitucional europeu.


Desde logo, o Tratado de Lisboa não revoga os tratados anteriores, isto significa que o Tratado da UE
corresponde ao nosso tratado de Maastricht, o Tratado sobre o Funcionamento da UE corresponde
ao tratado de Roma, reformado por Lisboa.

Toda a terminologia constitucional desapareceu.

Não se colocou expressamente no Tratado de Lisboa o Princípio do Primado, este existe, apenas não
está escrito. É um princípio afirmado jurisprudencialmente.

O tribunal de justiça da UE aproveita as decisões judiciais para criar direito da União Europeia.

O acórdão Costa Enel é o acórdão que estabelece o primado do direito da UE, em que o TJ vem dizer
que o direito da UE prevalece perante o direito nacional. Tal não está nos tratados, com medo de
que isso pudesse ser um símbolo que estaríamos a avançar para um estado federal.

Apesar de tudo, este Tratado de Lisboa acaba por ser uma “constituição disfarçada” porque os
elementos essenciais mantiveram-se ou inalterados ou simplesmente lhe mudamos o nome, para
que os Estados não ficassem perturbados.

Aula de 20/10/21

Qual a natureza da União Europeia?


A primeira coisa a notar é que a União Europeia é um sujeito de Direito Internacional. Tal se deve ao
facto de esta ter sido criada com base em Tratados que são convenções internacionais.

Inicialmente, a União Europeia não tinha personalidade jurídica, ou seja, esta não podia ser titular
de direitos nem de obrigações. Acontece que, com o tempo a UE passou a ver reconhecida essa

8
Carolina Batista Veríssimo

mesma pessoalidade jurídica, de tal forma que hoje os tratados indicam de forma expressa que a
União Europeia é dotada de personalidade jurídica, o que significa que ela pode ser titular de um
conjunto de direitos e pode contrair um conjunto de obrigações, nomeadamente no plano
internacional.

Portanto, os sujeitos de direito internacional clássicos que conhecemos são os Estados e as OI, e
agora temos a UE, sendo que esta pode ser incluída nas OI. A UE, apesar de tudo, não é um OI como
as outras, tem algumas particularidades que a afasta das OI clássicas.

Desde o Tratado de Lisboa, em que as comunidades e os pilares desapareceram e tudo passou a


estar concentrado na tal figura una, que é a UE, a verdade é que conseguimos perceber que a UE
passa a ter mais poderes à escala jurídica internacional. Basta pensarmos, por ex., que a convenção
sobre os direitos da pessoa com deficiência é uma convenção da ONU, foi assinada por todos os
estados que atualmente compõe a UE, mas também foi assinada pela própria UE. Ou seja, a UE
passa a ser um sujeito autónomo, por ex., na ONU Portugal tem uma cadeira (tal como os outros
Estados membro), tal como a UE que também tem a sua própria cadeira. Portanto, a UE também vai
ter uma estrutura institucional própria, autónoma e densa, e que em grande medida se assemelha à
estrutura de um Estado.

A UE é qualificada como uma OI. Isto por 2 razões:

• Esta tem um carácter de organização


• Tem uma natureza internacional (foi criada por tratados, tratados que são atos de direito
internacional)

A estrutura da UE é estável, prolongada no tempo, duradoura e tem autonomia relativamente aos


próprios estados. Esta não se confunde com o conjunto de estado que a compõe. Tem uma
identidade própria.

Ver PPT: A Doutrina encontra várias classificações para as OI. Por vezes classifica-as com base:

1. No seu âmbito geográfico:


• Gerais: ONU
• Regionais (UE)
• Locais (limitada a pouquíssimos estados)

2. No âmbito das finalidades (enumeradas no PPT 2 – 2º slide)

3. No âmbito da sua abertura: A UE é uma organização aberta uma vez que permite e entrada
e saída de Estados. Ver art. 49º para a entrada e art. 50º para a saída do Tratado da UE
(descrição do procedimento)

4. No âmbito da sua estrutura jurídica: A UE parece que é indubitavelmente uma OI, mas é
necessário distinguir entre as Organizações Intergovernamentais e as Organizações de
Integração.
9
Carolina Batista Veríssimo

As 1ª podemos dizer que a figura dos estados-membros continua a prevalecer relativamente


à figura da OI, ou seja, a OI tem uma estrutura institucional muito simples, muitas vezes até
com atribuições bastante limitadas, as suas competências também são muito restritas e,
portanto, no fundo, a OI é apenas utilizada como um instrumento pelos estados para
proceder a um conjunto de fins que são comuns.
Nas 2ª a figura da OI (neste caso da UE) vai de alguma forma adquirir proeminência
relativamente à figura dos estados-membros. Então nestas organizações de integração
vamos encontrar competência muito amplas, e aqui as competências já abarcam um leque
de matérias muito superior, por outro lado, a estrutura institucional também é muito mais
complexa, muito mais densa, e por fim as decisões tomadas pelos estados (a vontade dos
estados) não se sobrepõe de maneira absoluta à vontade da Organização. A Comissão vai
apresentar propostas legislativas e os Estados comprometem-se depois a aplicar essa
legislação na sua ordem jurídica, ou seja, os Estados ambrem mão da sua soberania (diz por
exemplo que deixa de legislar tudo o que há para legislar sobre direito do ambiente) e passa
a UE a fazê-lo e depois o estado irá aplicar aquelas normas no sua OJ.

Vamos ainda deparar-nos com outras propostas doutrinais. Há quem diga que a UE é um Estado,
uma vez que tem características estaduais. Por outro lado, esta tem alguma competência que lhe
são exclusivas, os estados perderam totalmente a possibilidade de legislar sobre certas matérias. A
UE também atribuiu um leque de direitos próprio a todos os cidadãos da UE.

As competências exclusivas da UE foram-lhe atribuídas pelos estados. São estes que determinam
quais as competências que esta pode prosseguir. Como é que estes o fazem? Através dos tratados.
Isto significa que a UE não é um estado, porque o estado tem aquilo a que nós chamamos a
competência das competências: o estado pode determinar quais são as suas próprias competências,
ao contrário da União Europeia, daí não ser um estado.

De facto, a UE não é um Estado, mas sim uma confederação de Estados. Uma confederação de
estados é uma associação de um conjunto de estados que vão criar órgãos coletivos que
prosseguem determinadas atribuições. Uma confederação que conhecemos é a confederação
helvética. Nas confederações esses órgãos comuns são órgãos praticamente de gestão, ou seja,
realizam a gestão de determinados aspetos políticos, administrativos, etc, mas não têm a amplitude
de competências que a UE tem. Assim, se compararmos a UE relativamente às confederações que
existem reparamos que a UE já não é uma confederação, já foi muito mais longe.

A UE hoje é um estado federal atípico ou imperfeito, ou seja, estamos a caminho de um estado


federal, mas ainda não estamos lá.

Quais são as características da União que a aproximam de um Estado federal? Desde logo trata-se
de uma união de entidades políticas autónomas, os Estados membros. Estes que são estados
soberanos, mas que, exatamente como acontece num estado federal, abrem mão da sua soberania
e transferem-na para uma entidade que é supranacional. O mesmo acontece com os estados

10
Carolina Batista Veríssimo

federados. Importante reparar como na UE passamos a ter um governo de dois níveis, exatamente o
mesmo que acontece num estado federal.

O princípio do primado (todo o direito da UE deve prevalecer sobre o direito nacional) também
aproxima a UE de um estado federal, uma vez que num estado federal, todas as decisões tomadas
no plano federal também vão prevalecer sobre todas as decisões que sejam tomadas no plano dos
estado federados.

A UE ainda não chegou ao nível do estado federal porque:

• Não tem a competência das competências, o estado federal tem o poder de definir as suas
próprias competências, a união não, como vimos acima.
• Ainda existem matérias em que a vontade dos estados continua a prevalecer sobre a
vontade da OI.
• A UE, ao contrário do estado federal ainda não tem recursos financeiros endógenos.
• Art. 50º do tratado da UE: num estado federal não se prevê a possibilidade de saída. Por ex.,
se o Texas quisesse sair dos EUA não lhe era reconhecida essa possibilidade. Na UE já é
permitida a saída (caso do Reino Unido).
• Primado do Direito da União Europeia: Nunca nos podemos esquecer que este não está em
nenhum tratado.

O Dr. Gorjão Henriques entende que a UE é uma OI supranacional ou de integração. O Dr. Jonatas
Machado destaca muito a ideia de que a UE evoluiu de uma comunidade meramente económica
para uma comunidade que visa à prossecução de um projeto humanitário fundado em valores e no
direito.

A ordem jurídica da UE é uma ordem que compreende 4 características fundamentais:

• Ordem jurídica atípica e autónoma: distinguisse da ordem jurídica internacional e da ordem


jurídica nacional, tal significa que nos estamos a estudar DUE como disciplina autónoma
porque não podemos confundir esta nem com o direito internacional nem com o direito
constitucional. A ordem jurídica da UE é uma ordem intermédia porque está entre o direito
internacional e o direito constitucional.
• Uniforme e integração: Uniforme porque o conteúdo das normas de direito da união
europeia é tendencialmente igual em todos os estados-membros.

O direito europeu é o direito de todas as OI de natureza europeia e, portanto, vamos incluir não só
união como por ex, a OCDE, e outras organizações que laboram no plano europeu.

Inicialmente era mais correto esta cadeira chamar-se direito comunitário porque praticamente toda
a legislação era emanada pelas comunidades e especificamente pela comunidade económica
europeia que depois passou a chamar se apenas comunidade europeia.

11
Carolina Batista Veríssimo

Como vimos, esta ideia de primado do DUE não foi aceite de forma leve por todos os estados.
Encontramos, desde logo, o Tribunal Constitucional Alemão que sempre demonstrou muitas
resistências relativamente a reconhecer o primado do direito do DUE sob o direito nacional.

Relativamente à CRP é importante destacar o art. 8º/4 que diz que “As disposições dos tratados que
regem a União Europeia e as normas emanadas das suas instituições, no exercício das respetivas
competências, são aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos pelo direito da União, com
respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático”. Com este artigo
chegamos à conclusão de que a CRP foi uma constituição extremamente amiga do DUE, porque
reconhece o princípio do primado.

Será que a CRP verdadeiramente abriu as suas portas ao princípio do primado? Há duas exigências
para que este princípio funcione:

• A UE tem de estar a exercer competências próprias, ou seja, se esta estiver a invadir a


competência dos estados não há princípio do primado
• É necessário que esse ato respeite o núcleo essencial da CRP
Podemos deparar-nos com uma situação em que Portugal rejeita x ato porque aquele desrespeita
direitos fundamentais da nossa constituição.

Apesar de tudo, o Tribunal Constitucional português tem uma posição muito moderada e aberta
relativamente ao princípio da primado. Este vem dizer que se algum dia surgirem duvidas se um ato
de DUE viola ou não princípios fundamentais do estado de direito democrático, o TC vai questionar
a interpretação da norma ao TJ e se tal interpretação violar os princípios fundamentais então ela
não pode ser aplicada. No fundo, veio abrir a porta ao diálogo. Se assim for a norma é invalida.

Este mecanismo que permite a tribunais nacionais fazer perguntas ao TJ chamamos de reenvio
prejudicial.

Princípios gerais de reconhecimento da UE com os Estados-Membro


Vamos agora perceber quais os princípios que regulamentam o modo como a UE se relaciona com
os estados.

Um princípio fulcral é o Princípio da Cooperação Leal: este no fundo vem nos dizer que a UE e os
estadosmembros devem cooperar entre si na persecução naqueles que são os fins essenciais, os fins
fundamentais, de toda a construção europeia e dos próprios tratados. Tal exige uma cooperação dos
estados com a União, entre os estados-membros e entre os próprios órgãos da UE. Chamamos-lhe
cooperação recíproca porque todos devem cooperar com todos.

Este princípio tem 2 conteúdos essenciais. Um positivo e outro negativo:

• O negativo: os estados e as instituições devem abster-se de levar a cabo todo o tipo de atos
que possam colocar em causa a persecução daquilo que esta definido nos tratados

12
Carolina Batista Veríssimo

• O positivo: os estados, sempre que necessário, devem adotar medidas que sejam aptas a
prosseguir os fins que estão estabelecidos nos tratados.

Isto não é mais do que uma manifestação da boa-fé nas relações entre a UE e os Estados.

Este é um princípio fundamental porque se for questionado qual o princípio que está na base da
ideia de primado de DUE é este P. da Cooperação Leal. Ou sejam todo o DUE deve prevalecer sobre
o direito nacional porque os estados se comprometeram a cooperar com a UE de forma leal na
persecução dos fins dos tratados. Se os estados não reconhecessem esse primado do DUE estariam
a por em causa a persecução dos fins dos tratados.

Outro princípio importante é o Princípio do Acervo da União: Este acervo é o adquirido


comunitário. A UE já atingiu um certo nível de profundidade democrática, política, social,
económica, etc. No fundo, este nível de profundidade não deve ser alterado, não se deve adulterar
a natureza da UE como uma comunidade de valores e de direito. Isto tem consequência no plano
jurídico e no plano político.

• No plano jurídico, os estados devem respeitar a legislação da UE, sejam os tratados ou os


atos jurídicos de direito privado
• No plano político, os estados devem ficar vinculados pelas decisões que sejam todas pelas
instituições da União, nomeadamente pelo Conselho

No fundo os estados devem respeitar a construção jurídica que é a UE e não devem atentar contra a
sua essência. Apesar disso, estamos conscientes de que a aplicação cega do DUE também pode
prejudicar os estados. Nomeadamente a sua identidade nacional. Então surge o Princípio pelo
respeito pela identidade nacional. Isto significa que os estados em certas matérias e verificadas
determinadas condições, podem afastar o DUE para proteger valores que estão estritamente
nacionais e que são fundamentais.

A proteção destes valores tem de ser feita de acordo com princípios fundamentais. Sempre que no
Direito Constitucional nós tínhamos um conflito entre dois valores, nos mobiliávamos vários
princípios para chegar à solução mais adequada e que permitisse uma conjugação dos interesses
em causa, analisando as vantagens e os custos de cada uma das soluções. Isto remete-nos
diretamente para o Princípio da Proporcionalidade.

Por exemplo, houve uma vez uma estado que recusou aceitar mercadorias de outro estados, que no
caso eram bonecas insufláveis para fins lúdico-festivos, uma vez que tal atentava diretamente contra
a moralidade publica. Portanto, o estado estava a invocar valores nacionais para afastar o DUE.
Neste caso, esta pretensão não foi bem-sucedida porque o TJ concluiu que o próprio estado
produzia aquelas bonecas, no fundo estava a apenas a proteger a própria indústria. Não estavam
em causa os valores nacionais.

Estes 3 princípios são os princípios básicos.

13
Carolina Batista Veríssimo

Outros princípios que estão relacionados com a delimitação de competências, o exercício de


competências e a repartição de competências.

O 1º princípio visa determinar quais é que são as competências que são atribuídas à UE. Os
estadosmembros têm determinado conjunto de competências, sendo que parte dessas
competências passam a ser atribuídas à União. O princípio das atribuições, o princípio da
especialidade de competências ou o princípio das atribuições limitadas, visa definir o espetro de
competências que os estados visam atribuir à UE. Depois de saber se a União tem competências, e
necessário saber se ela pode exercer essas competências. Em regra, a competência é dos estados,
ou seja, a União só pode atuar se provar que a sua atuação é licita à luz do Princípio da
Subsidiariedade e à luz do Princípio da Proporcionalidade. Uma vez que tenhamos provados que
esta tem competências e as pode exercer, é preciso perceber quem é que dentro da União exerce a
competência e então temos o Princípio da competência orgânica limitada e o princípio do equilíbrio
ou da paridade institucional.

Num caso prático, a primeira coisa que devemos fazer é perceber quais são os tipos de
competências que existem:

Estas competências vão estar definidas nos Tratados. Mas há um tipo de competências que os
estados não se são ao trabalho de definir: as Competências Exclusivas dos Estados-Membros. Essas
são residuais no sentido de que todas as competências que não forem exclusivas da União
partilhadas paralelas de coordenação e complementação vão ser competências exclusivas dos
Estados.

Princípio das Atribuições Limitadas (art. 5º/1/2 TUE): A UE só prossegue competências que lhe
tenham sido atribuídas pelos Estados. Os estados têm a competência das competências, e eles
abrem mão de parte das suas competências em favor da UE para que esta possa atuar em
determinadas matérias.

À partida a UE não pode criar novas competências, essas não podem ser presumidas (têm de ser
atribuídas à União pelos Estados de forma expressa) e a União não pode extravasar as competências
que lhe foram atribuídas, sob pena do seu ato ser inválido.

As bases jurídicas são as normas que estão nos tratados, essencialmente no TFUE, e que atribuem à
União competência para legislar em determinada matéria. E a primeira coisa que o .. da União tem
que fazer é referir a base jurídica que confere à UE competência para legislar. Se por exemplo uma

14
Carolina Batista Veríssimo

diretiva europeia não referirem a norma dos tratados que confere à União competência para legislar
naquela matéria, esse ato é inválido, mesmo que a União tenha competência.

Competências exclusivas da UE: os estados só podem legislar sobre estas matérias numa
inoperância radical das instituições da União. Imaginemos que a União ignorava x competência, aí
os estados podiam legislar sobre ela. Portanto, as competências exclusivas da União são exercidas
somente pelas instituições da UE. Isso não impede porem que os estados possam ser autorizados
pela União a intervir neste domínio. Claro que depois os estados vão ter de respeitar os limites
estabelecidos pelas instituições da União.

Caso as instituições não autorizem os estados a legislar sobre aquelas matérias só elas as podem
legislar, e ao estado cabe apenas uma competência executiva, os estados só a podem aplicar.

Hoje em dia, essas competências são:

• Nacionalidade
• Fiscalidade direta
• Defesa da ordem publica
• Segurança nacional
Os estados, embora tenham liberdade para exercer estas competências, têm sempre que fazê-lo de
acordo com o Princípio da Cooperação Leal, respeitando o direito da União Europeia.

Competências Partilhadas ou Concorrentes (art. 4º/2 TFUE)

São competências em que quer a UE quer os estados vão poder prosseguir.

Os estados têm a competência regra, ou seja, à partida são os estados que exercem as
competências partilhadas ou concorrentes. A UE só pode legislar quando a verifique a observância
do Princípio da subsidiariedade e do Princípio da Proporcionalidade.

Quer os estados quer a união vão ter de respeitar os fins estabelecidos pelos tratados, ou seja,
mesmo que sejam os estados a estabelecer competências partilhadas ou concorrentes têm de
respeitar o DUE à luz do princípio da cooperação leal.

A preempção: a partir do momento em que a União Europeia legislou funciona o Princípio da


Preempção, ou seja, nas matérias em que a União interveio, os estados deixam de poder intervir. Se
a UE continuar a legislar, os estados vão ficar com um espaço de intervenção cada vez mais limitado,
justamente porque esta competência que era inicialmente dos estados, vai passar a ser da
competência da UE por força do princípio da preempção.

O princípio da preempção vincula os estados. São estes que ficam obrigados a não invadir a esfera
de competências que passou a ser da União.

15
Carolina Batista Veríssimo

Qual a diferença entre as competências partilhadas ou concorrentes e as competências paralelas? É


que não primeiras vale a ideia de preempção, nas paralelas não. Ou seja, as paralelas, o facto da
União atuar não inibe os estados de atuar naquela matéria, e portanto, no 1 caso vale o principio da
preempção, no outro este principio não vale.

Competências de Coordenação e Complementação

Estas estão no art. 7º TRUE. O que está em causa é uma coordenação na atividade da união e dos
estados e uma complementação da atividade dos estados por parte da união em determinadas
matérias.

Princípio da Subsidiariedade (art. 5º/3 TUE) – Vincula a União Europeia

Este vale em todas as competências com exceção das competências exclusivas da UE e dos estados.
Este princípio determina que à partida que quem atua são os estados, a UE só vai puder atuar com
respeito pelo princípio da subsidiariedade, isto é, com respeito a dois pressupostos cumulativos:

• Falta de eficiência dos estados-membros, os estados não estão a ser eficientes na


prossecução daquela competência
• A União, ao intervir, tem de acarretar um valor acrescentado, ou seja, se a União intervir e se
a sua eficiência for a mesma que a dos estados, então são os estados que atuam, mas se a
União provar que consegue ser mais eficiente que os estados, então ela poderá atuar.

É a União que tem que provar que os estados não estão a ser eficiente e que a sua atuação acarreta
um valor acrescentado.

Como é que é controlado este princípio?

• Controlo político. Esse controlo é levado a cabo antes da União atuar e por isso lhe
chamamos o controlo ex ante e cabe aos parlamentos nacionais. Ou seja, quando a união
pretende atuar em determinada matéria vai ser que notificar os parlamentos nacionais e
dizer que pretende intervir naquele matéria especifica. E os parlamentos devem imitir um
parecer para avaliarem se os argumentos que a União mobiliza para dizer que os estados
não estão a ser suficientemente eficientes. Os parlamentos vão analisar estes argumentos e
vão ter que se prenunciar, e se 1/3 dos parlamentos se pronunciar no sentido de entender
que os estados estão a ser suficientemente eficientes, a União tem que analisar este projeto,
ou seja, a União vai ter de reforçar os seus argumentos para provar que os estados não são
eficientes e que a sua atuação pode acarretar um valor acrescentado;

16
Carolina Batista Veríssimo

• Controlo ex post: controlo que vale depois da união atuar. Os estados entendem que a
União atua numa competência em que os estados são suficientemente eficientes ou que
então a atuação da união não acarretou nenhum valor acrescentado. Devem dirigir-se ao
TJUE e pedir a anulação daquele ato, invocando o princípio da subsidiariedade.

Princípio da proporcionalidade (art. 5º/4 TUE)

Este princípio também vale em todas as competências exclusivas. Ele implica a realização de 3
testes: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.

A adequação significa que a intervenção da UE, através de determinado ato jurídico, tem que ser
apta para a persecução do fim, aquele ato jurídico tem que ser eficaz.

A necessidade determina que a UE deve usar os meios menos restritivos para a soberania dos
estados.

A proporcionalidade em sentido estrito visa evitar todas as medidas comunitárias que possam ter
mais custos do que benefícios.

Caso prático: Recentemente, a UE adotou um regulamento que confere a Comissão Europeia


competência para proceder ao licenciamento de unidades industriais, exigindo determinado nível
de eficácia energética e a implementação crescente do uso de energia renováveis. A Câmara
Municipal de Lisboa entende que esta competência não pode ser exercida pela União, mas sim
pelas autoridades nacionais. Quid Iuris?

Resolução:

Primeiramente, a UE só tem competência nas matérias que lhes sejam conferidas pelos Estados
através dos tratados – Princípio das Atribuições Limitadas.

Seguidamente, temos de ir procurar a norma do tratado que atribuiu à UE competência para legislar
sobre esta matéria. Chamamos a essas normas de bases jurídicas. Vamos ao índice do Tratado de
Lisboa e no título 21 (a energia), que está na página 139, no art. 194º/1/c). Esta é a nossa base
jurídica. Se a UE quiser atuar de forma licita vai ter de indicar este artigo mal dê início à sua
regulamentação. Portanto, podemos concluir que a UE tem competência.

Agora, temos de ver se a UE pode exercer. Para isso precisamos de saber se a competência é
exclusiva, competente ou paralela. Então recorremos ao art. 4º do TFUE. Este artigo refere-se às
competências partilhadas, isto significa que a competência é partilhada entre os Estados e a União.
À partida, quando assim é, quem atua são os Estados. Portanto, a UE só pode atuar se respeitar dois
princípios: Proporcionalidade e Subsidiariedade.

17
Carolina Batista Veríssimo

O princípio da Subsidiariedade exige a verificação de 2 requisitos: a atuação de estados não pode


ser eficiente, pelo menos suficientemente eficiente, e a atuação da união tem de acarretar um valor
acrescentado (art. 2º/2 TFUE).

Em relação ao princípio da proporcionalidade, a atuação tem que ser adequada, necessária e


proporcional em sentido estrito. Aqui poderíamos questionar a questão da necessidade.

Aula de 3/11/2021

Princípio da Cooperação Diferenciada (breve referência): Este princípio divide-se em dois domínios:
o 1º da Cooperação reforçada e o 2º das Derrogações à cooperação. No fundo, um domínio aponta
na direção do aprofundamento da cooperação e o outra aponta para o relaxamento dessa mesma
cooperação.

Porque é que este princípio é importante? Porque já vimos que uma das grandes notas da União é
de que a União é um edifício constituído por países que andam a velocidades diferentes. Temos
países que têm uma grande capacidade económica, política, etc., outros que têm uma capacidade
mais modesta.

Com esta noção, os Tratados previram a necessidade de criar mecanismos de cooperação


diferenciada, ou seja, alguns mecanismos em que um conjunto de Estados se reúnem para cooperar
de forma mais profunda em determinada matéria, e um conjunto de mecanismos que permitem
aos Estados afastar-se de uma cooperação que à partida deveria ser comum, mas o estado vai
decidir manter-se à sua margem, por entender que aquela política não lhe é favorável ou que não
lhe interessa politicamente naquele momento, ou até porque entende que não tem capacidade
para acompanhar essa mesma politica.

Ora, o 1º nível é o da Cooperação Reforçada: Esta cooperação reforçada foi aprofundada pelo
Tratado de Lisboa, e traduz-se na possibilidade de um conjunto de Estados-membros iniciar uma
cooperação mais profunda em determinada matéria, e, portanto, eles reúnem-se dentro das
condições estabelecidas pelos Tratados para aprofundar determinada matéria ou política, para
prosseguir ou levar mais longe determinados objetivos fixados pelos Tratados.

Esta cooperação reforçada é uma cooperação entre alguns estados, ou seja, os próprios estados é
que vão optar por juntar-se à cooperação reforçada ou não.

Para que se crie uma Cooperação Reforçada temos de ter, no mínimo, 9 estados (1/3) e é o próprio
Conselho que vai adotar a Cooperação Reforçada (verificado o mínimo de estados possível).

Existe um conjunto de procedimentos que devem ser respeitados que constam no art. 329º do TFUE
(matéria irrelevante). Existe também um conjunto de limites materiais, no sentido que são
substanciais:

18
Carolina Batista Veríssimo

1. As cooperações reforçadas nunca podem debruçar-se sobre competências que sejam


competências exclusivas da União, e, portanto, os Estados só podem construir uma
Cooperação reforçada em matérias por ex. de competência partilhada, paralela,
complementar, mas nunca de competência exclusiva da UE;
2. Deve respeitar-se o Princípio das Atribuições, ou seja, respeitar-se a delimitação e repartição
de competências entre a União e os Estados;
3. A Cooperação Reforçada nunca pode ser levada a cabo contra aquilo que está nos Tratados e
os seus objetivos essências, ou seja, nunca pode pôr em causa o mercado comum, a coesão
económica, social e territorial da União;
4. É necessário respeitar os direitos e obrigações de Estados-membros não participantes;
5. A Cooperação Reforçada não pode distorcer a concorrência e não pode criar discriminações
no comércio dos Estados-membros. Os tratados dizem que podem cooperar de forma mais
profunda em x matéria, mas é preciso assegurar que o mercado comum é único e que as
regras fundamentais de funcionamento do mercado comum e da concorrência do mercado
comum não vão ser afetadas por esta cooperação reforçada.

Portanto, de forma resumida, a Cooperação Reforçada é um mecanismo que permite a um pequeno


número de Estados (no mínimo 9) reunir-se para cooperar mais profundamente em determinada
matéria. Portanto, levar o processo de integração mais longe, sem que isso possa pôr em causa a
própria União, os objetivos definidos nos tratados e o próprio mercado comum.

Em relação ao mecanismo inverso, temos as Derrogações à aplicação de normas da UE. Ou seja, são
normas emanadas no quadro da União que deviam valer para todos os Estados, mas há uma série
de Estados que decidem manter-se à margem dessas mesmas normas, ou seja, não aceitam aquele
passo de integração. Por ex., no caso da política monetária, sabemos que o último passo da UEM
era a adoção de uma moeda única, o euro, e este efetivamente começou a circular em particamente
em todos os países da União, mas houve países que não aderiram ao euro. Esses países utilizaram,
no fundo, o poder de derrogação à aplicação de normas da UE, ou seja, eles vieram derrogar as
normas que determinavam a adoção de uma moeda única.

Esta é uma lógica opting out, cada estado vai decidir se quer sair, porque à partida ele vai ser
afetado por aquela medida/politica, mas ele tem o poder de optar por manter-se à margem.

Estas Derrogações podem ser feitas de diversas formas:

• Podem ser voluntárias, ou seja, é o próprio estado que pede, ou no momento em que adere
à UE ou posteriormente, que aquela política não lhe seja aplicável, ou seja aplicável
parcialmente, mas não na sua totalidade;
• Podem ser obrigatórias, são aplicadas automaticamente. Por vezes os Tratados têm
requisitos que os Estados têm que cumprir para que aquelas normas lhe possam ser
aplicadas. Se o Estado não cumprir que aqueles objetivos, ele vai ser mantido de fora até
que os tenha;

19
Carolina Batista Veríssimo

• Podem ser temporárias ou permanentes. Por vezes, o Estado não quer que aquela politica
se lhe aplique porque naquele momento não tem condições para isso, mas isso não significa
que daqui a uns anos não tenha, e portanto, pode estabelecer uma derrogação temporária à
aplicação das normas da União. É temporária porque existe um prazo que é definido pelo
Estado (a x norma não se vai aplicar durante x anos), e sabe-se que ao fim do tempo as
normas passam a ser aplicadas àquele estado.
Também há derrogações permanentes. Estas não têm um prazo, o que não significa que ao
fim de por ex., 10 anos o Estado venha a aceitar ser abrangido por aquelas normas. Não é,
necessariamente, uma derrogação “para sempre”, simplesmente o Estado não avançou um
prazo.

Na aula passados vimos o Princípio da Delimitação de Competências (delimita as competências da


União) e os Princípios relativos ao exercício das competências (por vezes a União tem competências,
mas não significa que ela as possa exercer).

Repartição de Competências

Este princípio determina quem, de que forma, e de acordo com que procedimento cada uma das
competências supra devem ser exercidas.

1. Princípio da competência orgânica limitada: Este princípio diz-nos que a UE vai ter
de exercer a competência de acordo com determinadas indicações. Qual o procedimento
utilizado? Vamos encontrar isso nos Tratados (art. 13º/2 TFUE), nas bases jurídicas (normas
dos tratados que atribuem competência a união para legislar sobre x matéria).
• Princípio da tipicidade orgânica: Estas bases jurídicas não se limitam a atribuir essa
competência, definem também como ela deve ser exercida. Esta é a ideia de
Tipicidade Orgânica, ou seja, por vezes os Tratados identificam qual a instituição e
órgão que deve exercer aquela competência. Portanto, a base jurídica vai identificar
quem é que, dentro da UE, vai prosseguir aquela competência. A isto chamamos de
Tipicidade Orgânica. Se tal for violado estamos perante uma invalidade do ato.
• Princípio da tipicidade procedimental: Por vezes, os Tratados identificam qual é o
procedimento que deve ser utilizado (se é o procedimento legislativo ordinário,
especial, etc.?). Se tal for violado estamos perante uma ilegalidade procedimental do
ato.
• Princípio da tipicidade de forma: Por vezes não podemos adotar indistintamente um
regulamento ou uma diretiva, são os Tratados que nos indicam qual é o tipo de ato
que necessariamente temos que adotar. Exigência de observância de uma forma
específica. Se tal for violado estamos perante uma ilegalidade formal do ato.

20
Carolina Batista Veríssimo

O art. 177º do TFUE é um caso onde estão estas 3 dimensões do Princípio da Competência Orgânica
Limitada.

Quando a norma não nos diz qual é o forma, o procedimento, aí temos de recorrer às regras gerais,
quando a norma o identifica temos de cumprir exatamente o que lá está, sob pena do ato emanado
ser inválido.

2. Princípio do equilíbrio ou da paridade institucional: Este princípio está relacionado


com a ideia de separação de poderes, ou seja, dentro da UE existe também em certa medida
uma separação de poderes tripartida entre poder executivo, legislativo e judicial da seguinte
forma:

O início da procedimento legislativo é sempre da comissão, é ela que tem sempre a


iniciativa. Esta apresenta propostas que depois vão ser discutidas pelo Conselho e pelo
Parlamento. O poder executivo tem como principal instituição a Comissão, mas depois
também surgem o Conselho, o Conselho Europeu e, em última instância, os Estados-
membros (quem aplica o DUE). O poder judicial são os Tribunais.
Existe uma separação de poderes no seio da União, agora é preciso garantir que estas várias
instituições têm exatamente a mesma dignidade institucional, e, portanto, o Princípio do
equilíbrio ou da paridade institucional é um princípio que nos diz que a Comissão tem
exatamente a mesma dignidade que o Parlamento, que o Conselho ou que o Conselho
Europeu, nenhuma instituição vai prevalecer sobre outra. Tal não significa que não existam
mecanismos de controlo recíproco. Por ex., há alguma instituição que pode demitir a
Comissão? Sim, o Parlamento Europeu, através das Moções de Censura. O parlamento pode
aprovar uma moção de censura e assim demitir a Comissão, mas tal não significa que o
Parlamente tenha uma dignidade institucional superior à Comissão.

Integração de lacunas: Por vezes existem situações em que não existe regulamentação naquela
matéria, e é preciso resolver essas situações, e para tal existem 3 meios essenciais que se chamam
meios de integração de lacunas à luz do DUE.

O primeiro meio de integração de lacunas é o chamado Princípio dos poderes implícitos: a maior
parte das competências são atribuídas à União, não podemos presumir competências, ou seja, ou
essas competências foram atribuídas à UE de forma expressa ou, à partida, não as podemos

21
Carolina Batista Veríssimo

presumir. Esta é a regra básica. Mas rapidamente se percebeu que esta regra básica não pode ser
entendida de uma forma absoluta, ou seja, se nós entendermos de uma forma demasiado rígida,
podemos estar a comprometer a persecução dos objetivos dos Tratados. Portanto, este princípio foi
sendo desenvolvido pela doutrina e que permite que a União atue em atividades que lhe são muito
próximas nos seus domínios de atuação, no sentido de que ela tem competência expressa para
atuar em x matéria, mas pode ser preciso que, para ela prosseguir aquela competência tenha que
atuar em zonas circundantes, ou seja, a persecução daquela competência que lhe foi expressamente
atribuída pode ficar dependente de que a UE atue em zonas limítrofes que não tenham sido
abrangidas por essa competência expressa.

Por ex., o Acórdão Ceu aberto que vem dizer que a UE para prosseguir determinadas competências
a nível interno tem que ter também competências a nível externo. Ou seja, a UE, para construir um
mercado comum internamente tem de ter também competências no plano externo, competências
relativamente a Estados terceiros, relativamente a Estados que não fazem parte da União. Mas
acontecia que os Tratados só atribuíam à União a competência para atuar internamente e, portanto,
para atuar relativamente a Estadosmembros da União. A doutrina dos poderes implícitos veio dizer
que para a União prosseguir os objetivos que foram fixados nos Tratados no plano interno, ela
precisa de ter competências no plano externo, e se ela precisa de ter competências no plano
externo essas competências são implícitas, porque ela nunca vai conseguir prosseguir as
competências no plano interno se não as tiver também no plano externo. Portanto, se os Tratados
dizem que a União tem que, no plano interno, concretizar o mercado único, garantir por ex. a
concorrência, implicitamente devemos compreender que ela também tem competência
relativamente a estados terceiros da União, relativamente aos tais estados que estão no plano
externo. Se assim não fosse ela nunca ia conseguir cumprir o tal objetivo que os tratados lhe fixaram
ainda que o tivessem feito apenas no plano interno.

Outra lógica que, normalmente, vem muito associada a esta ideia de poderes implícitos é aquela
ideia de princípio da efetividade, ou seja, se nós queremos garantir que a união prossiga com os
seus objetivos de forma efetiva, nós temos que lhe reconhecer poderes para isso. E esses poderes
as vezes podem não ter sido reconhecidos de forma expressa. Por ex., se nós queremos que a
Comissão seja um órgão guardião dos tratados e da legalidade do seio da União nós temos de lhe
reconhecer competências para isso. Por ex., uma competência que não era reconhecida à Comissão
era a possibilidade de adotar medidas cautelares, ou sejam medidas que vão ser adotas antes de
uma suspeita de violação do DUE, mas ainda não existe uma comprovação dessa violação, mas
vamos adotar esta medida para evitar que esse perigo de violação de direitos se possa transformar
numa violação efetiva. A Comissão não tinha competência para adotar medidas cautelares, ou seja,
ela atuava apenas já depois da violação ocorrer, mas o Princípio dos poderes implícitos veio-lhe
reconhecer essa mesma competência. Isto tudo para lhe permitir a prossecução dos objetivos que
foram fixados pelos tratados.

Resumindo, os poderes implícitos significam, no fundo, que se a União Europeia tem que prosseguir
determinadas competências é preciso que lhe sejam reconhecidos os poderes para que ela exerça
essas competências efetivamente. E se essas poderes não lhe foram conferidos expressamente, nós

22
Carolina Batista Veríssimo

podemos, pelo menos, extrai-los de forma implícita quando estes poderes sejam necessários para a
prossecução dessa mesma competência, porque se não forem necessários não podemos presumi-
los, aí deixam de ser implícitos.

Outro meio de integração de lacunas é a chamada Unidade de sentido dos Tratados. O Tratado da
UE corresponde ao Tratado de Maastricht, e o TFUE corresponde ao Tratado de Roma. Continuamos
a ter vários tratados. É verdade que esses tratados se complementam, mas não significa que não
possam existir lacunas, ou seja, que nos olhemos para um tratado e percebamos que há uma
determinada matéria que não está regulada e que deveria estar. Podemos desenvolver uma
solução, procurando a Unidade de sentido entre os tratados, ou seja, vamos fazer uma leitura
sistemática dos tratados e perceber quais é que são as soluções que se enquadrariam tendo em
conta a lógica comum associada a esses vários tratados. Portanto, se há uma matéria que não está
regulada num tratado, vamos poder olhar para os outros tratados, desde logo para ver se essa
matéria está lá regulada e, se estiver, aplicá-la de forma analógica, ou então perceber qual a direção
na qual esses tratados apontam para daí extrair uma solução, que vai ser extraída a partir da tal
Unidade de sentido dos Tratados.

Hoje em dia este meio não é utilizado porque o tratado que instituiu a CECA, o Tratado de Paris, já
não está em vigor, era um tratado que caducou (tinha uma vigência de 50 anos) e já não o podemos
utilizar para integrar lacunas de outros tratados. Por outro lado, com o Tratado de Lisboa
verificamos a fusão da comunidade europeia com a união europeia, e passamos a ter o TUE e o
TFUE que são tratados relativamente complementares e não existem muitas lacunas que um tratado
possa ajudar a suprimir. Quanto muito, podemos utilizar este dois tratados para integrar lacunas do
tratado da EURATON, no entanto, nos dias de hoje, esse tratado tem uma importância cada vez mais
limitada e portanto é muito pouco provável que seja preciso integrar lacunas.

Este meio foi importante numa fase inicial.

Por fim, é importante mencionar ainda a Cláusula de Flexibilidade (art. 352º TFUE). Há 4 exigências
para que esta cláusula possa ser ativada:

• É preciso que se considere que a ação da União é necessária no quadro das políticas
definidas pelos Tratados, ou seja, os tratados definem as políticas;
• É preciso que se chegue à conclusão de que a atuação da União é necessária para atingir os
objetivos que os tratados visam atingir relativamente a essa mesma política;
• O tratado não pode ter atribuído expressamente à UE poderes para que ela mesma prossiga
esses objetivos, porque senão não existia lacuna;
• Essa competência não existe nem expressa nem implicitamente, ou seja, nós já tentamos
mobilizar a tal ideia de poderes implícitos e chegamos à ideia de que não podemos utilizar
esse meio de integração de lacunas para resolver o nosso problema porque o poder nem
sequer foi implicitamente atribuído à União.
23
Carolina Batista Veríssimo

Este meio de integração de lacunas é um meio muito poderoso (e difícil de mobilizar). Ele permite-
nos alargar os poderes da União sem que esses poderes sem expressos ou sequer implícitos.

Qual o meio natural para o alargamento das poderes da UE? Através de uma revisão dos tratados,
porque aí os estados-membros vão poder atribuir à União mais competências.

Esta cláusula permite alargar os poderes da União sem uma reviso dos tratados, daí ser um
mecanismo poderoso.

Esta cláusula deve ser ativada pela Comissão. Portanto, a primeira coisa que a Comissão faz é dizer
que a União europeia precisa daquele poder para prosseguir o objetivo x daquela política e os
tratados não lhe conferem esse poder nem explicita nem implicitamente e, portanto, ativamos esta
cláusula. Ao ativar esta cláusula, é preciso alertar os parlamentos nacionais, e, portanto, todos os
estados-membros vão ser alertados desta intenção de alargar os poderes da União.

Depois, a primeira coisa que os Parlamentos nacionais fazem é controlar a subsidiariedade, ou seja,
analisar a competência e perceber que tipo de competência é aquela e depois analisar se realmente
a UE pode exercer aquela competência. Para que a União a possa exercer a União tem de ter
provado que os Estados são ineficientes e que ela pode acarretar um valor acrescentado naquela
matéria. Depois, é preciso que haja uma aprovação desta proposta pelo Parlamento Europeu, e,
portanto, este vota e tem de a aprovar para que ela possa ser utilizada. Por fim, o Conselho adota
por unanimidade as medidas necessárias, o que significa que não nos interessa o interesse da
maioria dos estados, interessa sim o interesse de todos os estados.

(Limite: este art. 352º nunca pode ser utilizado em matérias de política externa e de segurança
comum).

Os tratados e o TJUE já vieram estabelecer alguns requisitos que servem de limites à mobilização da
cláusula de flexibilidade:

• Respeitar os princípio das atribuições, ou seja, é certo que os tratados não consagraram
poderes para a União, mas têm que ter consagrado o objetivo. Se o tratado não conferir à
União aquele objetivo, aquele fim, a UE não pode ativar esta cláusula;
• Tem de se respeitar a constituição comunitárias, os princípios básicos que regem toda a UE;
• É preciso respeitar o princípio da subsidiariedade, de tal forma que os parlamentos nacionais
têm de ser modificados e fazem esse controlo;
• Podemos utilizar esta cláusula para dar saltos quantitativos, mas não qualitativos. Isto esta
relacionado com o 1º ponto, ou seja, nos podemos utilizar a cláusula de flexibilidade para
dar mais poderes à União, no sentido de uma maior quantidade de poderes, mas não
podemos utilizá-la para alargar as áreas de intervenção da União, os objetivos e políticas têm
de estar fixados.

Instituições europeias – O Quadro Institucional Único


24
Carolina Batista Veríssimo

Primeiramente é preciso perceber a diferença entre instituição e órgão:

Parlamento europeu
Este é o órgão representativo dos cidadãos da UE, e é o único órgão que é eleito diretamente pelos
cidadãos. Quem são os cidadãos da UE? São os nacionais dos estados-membro da UE. Os interesses
representados pelos Parlamento europeus são os interesses dos cidadãos europeus.

Este é sediado em Estrasburgo, mas funciona entre Estrasburgo, Bruxelas e o Luxemburgo.

Bases do seu regime jurídico: art. 14º TUE e arts. 223º e ss do TFUE.

História: Na altura em que foram criadas as comunidades, cada uma tinha as suas próprias
instituições.
Apesar de tudo, desde o início, houve 2 instituições que sempre foram partilhadas: a Assembleia
Parlamentar e o Tribunal. Portanto, o Parlamento Europeu surge como “Assembleia Parlamentar”
que já era partilhada pelas 3 comunidades (CEE, CECA e EURATON). Ela era constituída por
deputados, sendo que esses deputados eram escolhidos entre os deputados dos estados-membros
(ainda não havia eleição por sufrágio direto e universal). O Parlamento Europeu nasce dessa fusão
entre as várias Assembleias e em 1962 deixa de se chamar Assembleia Parlamentar para passar a
chamar-se Parlamento Europeu.

As eleições para o Parlamento Europeu só vão ter lugar em 1979. Em 1976 passamos a ter o sufrágio
direito e universal. Mas as primeiras eleições só foram realizadas em 1979.

A partir daí o Parlamento Europeu foi vendo reforçados os seus poderes e hoje é uma instituição
central, quer no controlo da atividade de outras instituições, quer na própria construção do
ordenamento jurídico europeu, tem grandes poderes legislativos que reparte com o Conselho.

25
Carolina Batista Veríssimo

O Parlamento Europeu é o rosto da democracia na europa porque nas outras instituições não há
eleições, só há eleições no Parlamento e porque encontramos uma mini representação daquilo que
são os povos europeus, quer nas suas culturas, políticas, etc.:

Composição do Parlamento:

Presidente: Atual é David Maria Sassoli (já faleceu este ano em janeiro de 2022) e as suas
competências são:

Deputados: Estes são eleitos de acordo com uma lógica de proporcionalidade degressiva, que
significa que cada estado vai ter um número de deputados no parlamento consoante o número de
cidadãos europeus, ou seja, o país mais populoso da União é a Alemanha, isso significa que esta vai
ter um maior número de deputados que Portugal. A distribuição dos lugares é feita de acordo com
limiares mínimos e máximos, para evitar q um estado grande possa ter um número de deputados
desproporcional relativamente ao número de deputados que os outros estados têm. Nenhum
Estado pode ter menos que 6 deputados (limiar mínimo) e mais que 96 (limiar máximo).

26
Carolina Batista Veríssimo

Os deputados vão sentar-se de acordo com os grupos políticos e não por estados. Pode haver casos
em que um deputado não esteja inscrito em nenhum grupo político e, portanto, é um deputado não
inscrito.

Aula de 10/11/21

Mesa: É composta por 1 presidente, 14 vice-presidentes e 5 questores (encarregues da gestão de


tarefas administrativas e financeiras relacionadas diretamente com os deputados. No seio da Mesa
têm a qualidade de consultores).

A maior parte do trabalho no PE é desenvolvidos nas Comissões (temos 20 Comissões). Cada uma
destas Comissões vai ser composta por um x número de deputados, sendo que pode oscilar entre os
25 e os 81 deputados em cada uma das Comissões.

Cada uma das Comissões vai ter uma estrutura que praticamente também replica a estrutura do PE
no seu todo, ou seja, vai existir um Presidente da Comissão, uma Mesa da Comissão, um
Secretariado que auxilia os trabalhos da Comissão.

Porque é que a maior parte dos trabalho são levados a cabo em Comissão antes demais? Porque os
705 deputados que compõem o PE têm formações muito diversas e é natural que se apresentarmos
uma proposta de orçamente aos 705 deputados, uns vão perceber muito daquela proposto e outros
nada.

Portanto, os deputados que vão fazer parte de cada uma destas Comissões são os deputados que
têm uma formação especializada na matéria que irá ser tratada naquela Comissão. Depois no
plenário apenas de vai proceder à aprovação, por vezes a discussão de aspetos concretos, mas
normalmente apenas as votações.

Estas Comissões têm um papel muito significativo. Por ex., ao nível da aprovação do orçamento a
primeira entidade do PE que olha para a proposta de orçamento apresentada pela Comissão é
justamente a Comissão dos orçamentos.

27
Carolina Batista Veríssimo

As delegações atuam essencialmente para o plano externo. Estas estabelecem a ponte do PE com
outros Parlamentos, desde logo com outras Assembleias. Tal permite que o PE não seja apenas uma
instituição como um âmbito interno, esta vai prosseguir determinadas finalidades externamente,
nomeadamente com a promoção da democracia, da paz, de valores fundamentais, etc. Promover,
portanto, os valores europeus fora da UE.

Funcionamento do PE: Este realiza uma sessão anual publica, na 2ª terça-feira de março, mas esta
não é a única reunião. Mas são realizadas mais sessões, sessões extraordinárias, a pedido dos
deputados, do Conselho e da Comissão. Aqui estamos de falar de sessões plenárias. A maior parte
do trabalho é feito em Comissões.

O PE, à semelhança da nossa Assembleia da República, tem que aprovar um regimento, que é uma
espécie de regulamento interno que vai determinar quais são as normas que regem o
funcionamento do PE, como as normas relativas ao modo como é feita a votação. Estas normas vão
estar consagradas no Regimento do PE, que em cada legislatura (5 em 5 anos) é aprovado.

A maior parte dos atos emanados do PE são publicados no jornal oficial da UE, uma espécie de
Diário da República ao nível da UE.

Modo de deliberação do PE: Antes de mais é preciso distinguir quórum constitutivo e quórum
deliberativo.

• Quórum constitutivo: Quórum necessário para que o órgão colegial possa funcionar, e,
portanto, entende-se que o PE só está em funcionalmente quando estão presentes 1/3 dos
deputados.
• Quórum deliberativo: Número mínimo de deputados que têm de estar presentes para que
possam ser tomadas decisões. Obtenção da maioria absoluta dos votos expressos.

Há várias maneiras de votação dentro do PE. Podemos ter a maneira mais tradicional que é a do
dedo ou a da mão no ar, podemos ter o voto eletrónico e o escrutínio secreto em determinadas
matérias muito especificas. Atualmente o voto mais utilizado é o eletrónico. Por vezes a maioria
absoluta não basta, por vezes os tratados exigem uma dupla maioria, que pode implicar a maior dos
votos expressos com a maioria do deputados eleitos presentes, pode implicar 2/3 dos votos
expressos com a maioria dos deputados eleitos presentes e pode implicar uma maioria de 3/5 dos
votos expressos com a maioria dos deputados presentes. Isto significa que têm de estar presentes
metade dos 705 deputados, e que, dentro dos que vão votar, pelo menos 3/5, 2/3 ou a maioria tem
que votar a favor.

Competências do PE:

Competência legislativa: Esta não é exercida de forma autónoma, o PE vai exercê-la em conjunto
com o Conselho. Apesar disso, a Comissão tem o monopólio da iniciativa legislativa, é ela que tem

28
Carolina Batista Veríssimo

de apresentar as propostas. Há um conjunto de identidades que pode pedir à Comissão que


apresente propostas, como o Conselho, cidadãos da UE (pelo menos 1 milhão), e até mesmo o PE.

Caso o PE peça à Comissão que apresente uma proposta, esta vai estar obrigada a apresentar essa
proposta? Não, mas ela tem de justificar o porquê de não o fazer. Tal demonstra a existência de
dependência funcional entre a Comissão e o Parlamento, mas especificamente da Comissão
relativamente ao Parlamento. É o chamado vínculo de dependência funcional (obrigação da
justificação).

Competência consultiva. Muitas das vezes o PE tem de ser consultado por outras instituições antes
que elas possam efetuar determinados atos.

Competência ao nível orçamental: Esta é exercida em conjunto com o Conselho. Mais uma vez o PE
exerce uma competência lado a lado com o Conselho. É preciso sempre que estas duas instituições
cheguem a um acordo. A iniciativa aqui parte da Comissão, é esta também que tem o dever de
apresentar uma proposta de Orçamento.

Processo orçamental da UE: Tudo começa com uma proposta por parte da Comissão, sendo que
essa proposta depois vai ser analisada pelo conselho e pelo PE (Comissão dos Orçamentos). No
fundo, o Conselho tem de adotar uma posição, ou seja, tem de dizer se concorda ou não com a
proposta, e o mesmo tem de ocorrer com o próprio PE. O PE quando analisa a proposta da
Comissão, já vai ter a chamada posição do Conselho, ou seja, já vai receber em conjunto com a
proposta da Comissão a opinião que o Conselho emitiu relativamente àquela mesma proposta.
Portanto, o PE ou aprova a posição do Conselho, ou se não aprovar é necessário que ele apresenta a
sua própria posição. E vai iniciar-se um diálogo entre o Conselho e o PE para se tentar chegar a uma
posição comum.

Por vezes, existem divergências entre o Conselho e o PE, não se está a conseguir chegar a um
acordo, e é preciso convocar o chamado comité de conciliação. Vai então nomear-se este comité
que vai ser composto pelo mesmo número de membro do Conselho e pelo mesmo número de
membros do PE, são 27 membros de Conselho e 27 representantes do Parlamento. Estes vão ter 21
dias para discutir nesse comité e tentar chegar um acordo. Se não houver acordo, a proposta cai por
terra e a Comissão vai ter de apresentar nova proposta, se houver acordo podemos considerar que
a proposta poderá ser adotada.

Competência eletiva e de nomeação: O PE participa, desde logo, na nomeação do Presidente e da


Mesa. Alem disso, participa na eleição do provedor de justiça da UE. O PE elege o Presidente da
Comissão e tem de aprovar o colégio de comissários (conjunto de comissários que compõem a
Comissão). Portanto, num primeiro momento o PE elege o Presidente, num segundo momento ele
tem de dar um voto de confiança ao colégio de comissários. Isto revela uma segundo dependência

29
Carolina Batista Veríssimo

da Comissão relativamente ao Parlamento que é chamada uma Dependência Genética, ou seja,


sem Parlamento não há Comissão. Não há porque a eleição do presidente a Comissão depende
diretamente do PE e é este também que vai aprovar a lista de comissários. Sem PE não há Comissão,
o que nos demonstra uma segunda dependência.

Competências de controlo e fiscalização: O PE tem poderes de supervisão e controlo de outras


instituições europeias, da utilização do orçamento da UE e da correta aplicação da legislação
comunitária. Tais competências expressam os princípios da separação e controlo recíproco dos
poderes, da jurisprudência e da legalidade de toda a atuação dos órgãos da UE.

• Dever de informação: o qual se manifesta, por ex., na obrigação de apresentação pelas


várias instituições e órgãos de um relatório anual ao PE; no dever de informação regular
sobre questões políticas (como sucede relativamente ao ARUNEPS); ou na declaração do
Tribunal de Contas sobre a fiscalidade das contas;
• Interpelação e audição: Visa a clarificação da atuação das diferentes instituições e órgãos.
Decorre do princípio da coordenação legal. Fala-se, a este propósito, de um dependência
funcional Comissão-PE;
• Apreciação das petições dos cidadãos: o direito de petição junto do PE está consagrado no
art. 20º/2/d) TFUE. Nos termos do art. 227º TFUE, este direito pertence não apenas a
cidadãos, mas também a pessoas físicas e coletivas residentes ou sediadas num Estado-
membro;
• Publicidade: Esta é a regra na atividade parlamentar. Manifesta-se na obrigatoriedade da
publicação das atas (art. 232º TFUE), na discussão do relatório geral anual que a Comissão
apresenta ao PE (art. 233º TFUE) e na votação das moções de censura à Comissão (art. 234º
TFUE).
• Poder de Inquérito: são semelhantes ao que acontece nos parlamentos nacionais, ou seja, o
PE pode constituir comissões de inquérito, que são, no fundo, comissões temporárias, para
investigar uma determinada situação (interna ou externa ao PE). Estas comissões têm
poderes que normalmente não cabem ao órgão legislativo, este normalmente não tem
função de investigação, de apuramento de factos, isso cabe muitas das vezes aos órgãos de
polícia criminal, em última instância aos próprios tribunais. Então, estas comissões permitem
aos deputados controlar situações de má gestão administrativa tendo alguns poderes de
investigação. O PE pode nomear comissões parlamentares de inquérito, por foto favorável
de 1/4 dos seus membros (art. 226º TFUE). Estas Comissões são temporárias, extinguindo-se
com a apresentação do respetivo relatório.
Estas Comissões não substituem a atividade dos tribunais, elas servem como meio de
controlo relativamente a determinados aspetos;
• Moções de censura: Para aprovar uma moção de censura tem que reunir pelo menos, como
já vimos, 2/3 dos deputados, sendo que têm de estar presentes a maioria dos deputados em
efetividade de funções e esta moção vai ter um efeito muito específico: conduzir à demissão
em bloco da Comissão. Não podemos utilizar uma moção de censura para demitir um
30
Carolina Batista Veríssimo

comissário ou dois, utilizamos sim para demitir em bloco, de forma coletiva. Assim que é
aprovada a moção de censura, a comissão é dissolvida no seu todo. É por isso que se fala de
uma terceira dependência da Comissão face ao PE, que é uma dependência extintiva, ou
seja, o PE tem o poder de extinguir a Comissão.

Conselho Europeu
O Conselho Europeu representa os interesses dos estados-membros, e, portanto, é preciso fazermos
uma distinção: nunca confundir Conselho Europeu, Conselho e Conselho da Europa.

Este é uma instituição de direção política, está no vértice da própria União, é o Conselho Europeu
que vai definir as prioridades políticas da UE. Tem a função de direção política da UE e participa na
gestão da União Económica e Monetária (art. 15º/1 TUE).

Sendo uma instituição vértice, que define essas prioridades políticas, quem é que compõe esta
instituição? Os representantes máximos dos estados e da própria União.

O Conselho Europeu é constituído por:

• Presidente do Conselho Europeu; (1)


• Chefes de Estado (presidentes da república) ou Governo dos Estados-Membros da UE
(1º ministros); (27)
• Presidente da Comissão; (1)
• Nele ainda participa o ARUNEPS, mas sem ser membro pleno direto.
Cada estado define quem é que vai às reuniões de Conselho Europeu normalmente por via da sua
própria legislação interna, consoante a repartição de competências entre primeiro-ministro e
presidente da república.

O Conselho Europeu é composto por 30 membros.

O Conselho Europeu não é uma instituição igual às outras no que toca à sua história. Nós já
encontrávamos uma Assembleia Parlamentar nos primórdios das comunidades, já tinhas um
Conselho, uma Comissão, um Tribunal, mas não tínhamos um Conselho Europeu.

Como surge o CE? Inicialmente o CE era um conjunto de reuniões informais que eram feitas pelos
vários chefes de Estado ou de Governo dos Estados e onde se discutiam questões políticas
(prioridades das comunidades, prioridades da UE, etc.), eram cimeiras.

Em 1973, na Cimeira de Copenhaga, definiu-se que estas cimeiras deveriam passar a ser realizadas
de uma forma recorrente, ou seja, até esta data eram realizadas de uma forma relativamente
instável. No ano seguinte, em 1974, em Paris, decidiu-se que elas deviam ser realizadas anualmente.

31
Carolina Batista Veríssimo

Só com o Ato Único Europeu em 1977 é que, pela primeira vez, o CE é mencionado numa norma dos
Tratados (mas ainda não era uma instituição, apenas o mencionavam).

Em 1992, com o Tratado de Maastricht, atribui-se o estatuto forma de órgão ao CE. Com o Tratado
de Lisboa ele é levado ao estatuto de instituição da UE. Como instituição, o CE não é assim tao
antigo (desde 2009).

Muita gente criticou a elevação do CE a instituição porque entendiam que já existia uma instituição
no seio da UE que representava os interesses dos Estados, o Conselho. Tal era reforçar o poder dos
estadosmembros na UE. No entanto, tal foi a vante.

Com o Tratado de Lisboa surgiu o Presidente do CE que foi criado com o objetivo de criar uma
imagem da UE para o exterior, ou seja, como internamente nos temos o nosso PR, quem representa
a República Portuguesa para o exterior, desejava-se também na EU criar uma imagem que fosse o
rosto da União para o exterior.

Apesar disto, a representação não é a principal função do PCE. Na verdade, ele é substituído na
representação externa por outros membros. Aqui temos de fazer a distinção entre a matéria de
política externa e de segurança comum e aqui o representante externo da União é o alto
representante (um dos vice-presidentes da Comissão) e em todas as outras matérias sempre que for
preciso representar externamente a União, quem representa efetivamente a União não é o PCE é o
presidente da Comissão. O
PCE é uma figura, a maior parte das vezes, simbólica. Não significa que ele não tenha uma função
importante, mas essa função fica muito aquém das expectativas que existiam quando esta figura foi
criada em Lisboa.

Então, neste momento, as funções do PCE (art. 15º TUE) são:

O PCE não tem direito de voto no CE, este não tem poderes efetivos, é uma figura de mediação.

O CE reúne duas vezes por semestre e os membros do CE podem ser assistidos, os chefes de estado
ou chefes de governo podem ser assistidos por um ministro, no caso do PCE pode ser assistido por
um comissário.

Modo de deliberação (modo como são tomadas as decisões): A regra é a regra do consenso. Qual a
diferença entre o consenso e a unanimidade? A unanimidade é algo quase instantâneo, sentido de

32
Carolina Batista Veríssimo

que é realizada uma votação e ou essa votação reúne votos favoráveis por parte de todos os
membros ou então não pode ser adotada por unanimidade. O consenso não é uma mera votação,
remete-nos para um processo de diálogo entre as partes, implica cedências mútuas. No entanto, os
Tratados, nas normas bases jurídicas, podem muitas vezes consagrar exceções a esta regra, podem
dizer que para adotar x decisão o CE tem de decidir por unanimidade e aqui há uma
particularidades. É que nas decisões do CE que tenham sido tomadas por unanimidade, a abstenção
tem uma natureza meramente construtiva, que significa que, se há 20 Estados que votaram a favor
e 7 que se abstiveram, a unanimidade está conseguida, porque a abstenção é tida como vota a
favor, que significa que para que um Estado possa impedir a adoção de uma decisão que tem que
ser tomada por unanimidade, ele tem que votar contra.

Noutros casos exige-se a maioria qualificada ou uma maioria simples.

Quando a base jurídica nada refere, a regra é o consenso.

Os atos emanadas pelo PE, sendo esta uma instituição de direção política também são atos de
natureza política, não têm, por vezes, um valor verdadeiramente jurídico.

É importante referir que muitas vezes estas decisões não sujeitas ao princípio da publicidade, noa
têm que ser publicadas, ao contrário da maior parte dos atos do parlamento.

Não obsta que estas decisões não possam ter efeitos jurídicos externos, ou sejam produzir efeitos
jurídicos relativamente a outras instituições, ou relativamente a estados ou indivíduos. Nessa
medida, podemos admitir que alguns dessas atos poderão ser depois impugnados junto do TJ.

Competências do CE:

• Função de direção política: fornece os impulsos necessários ao desenvolvimento da União e


à definição das suas orientação políticas gerais. O mesmo não exercer o função legislativa
(art. 15º/1/3 TUE), mas este poder de direção confere-lhe um poder material de iniciativa,
que compensa o quase exclusivo poder de iniciativa da Comissão. Digno de nota é ainda a
identificação dos interesses estratégicos da UE e o estabelecimento dos objetivos e
orientações no domínio do PESC (art. 26º TUE).
• Poder de decisão e emissão de orientações políticas gerais: tem capacidade para produzir
decisões jurídicas vinculativas, destacando-se os casos em que este prevê, através de
cláusulas-ponte, que certas decisões da competência do Conselho passam a ser remetidas
para o Conselho Europeu (ex.: art. 31º/2 TUE). Algo parecido ocorre no procedimento
legislativo ordinário, nos termos dos arts. 82º/3 e 83º/3 TFUE.
• Função de nomeação: nomeia e destitui o ARUNEPS (art. 18º/1 TUE), bem como o
Presidente, os Vice-presidentes e os Vogais da Comissão Executiva do BCE (art. 283º TFUE).
Designa o número de membros da Comissão, propõe o nome do Presidente da Comissão e
nomeia a mesma.
• Função de alteração dos Tratados: no que toca ao processo de revisão ordinário, decide por
maioria simples a análise das alterações propostas ou a não convocação de uma Convenção,

33
Carolina Batista Veríssimo

se estas não o justificarem (art. 48º/2/3 TUE). No processo de revisão simplificado, assume
um papel central (art.
48º/6 TUE).

Conselho, Conselho de Ministros ou Conselho da UE


Tanto o Conselho Europeu como o Conselho representam interesses dos Estados.

Quem compõem o Conselho? Ministros, daí o nome.

O Conselho é uma instituição muito particular porque é uma instituição que funciona com base em
formações. O Conselho é uma espécie de grande instituição que vai ser constituída por formações
distintas (10):

Estas 10 formações são designadas de Conselhos. Por ex., ao Conselho do Ambiente quem vai?
Ministros do Ambiente.

Vai sempre um representante dos Estados ao nível ministerial, mas não é sempre o mesmo, não
existe um membro dentro do Governo que é nomeado especificamente par ir às reuniões do
Conselho.

Modo de organização e funcionamento do Conselho: Em regra, vão sempre ministros, mas não
significa que não possam ir outros membros, como secretários de Estado (entre nós tal é possível).
Os tratados exigem que o membro que vai às reuniões do Conselho tenha poderes para vincular o
Governo porque no Conselho os Estados vinculam-se, e, portanto, é preciso que o membro que vai
representar o Governo português tenha poderes para vincular o Governo português e exercer o seu
direito de voto (art. 16º/2 TUE).

34
Carolina Batista Veríssimo

Portanto, cada uma das formações do Governo vai reunir os ministros daquela pasta de cada um
dos Estados-Membros.

A presidência das formações do Conselho é rotativa, ou seja, existe uma lista de países (países
membros da União) que está pré-definida e de 6 em 6 meses a presidência vai ser transferida para
outro países de forma rotativa consoante essa mesma lista. Por ex., no início deste ano (2021), de
janeiro a junho, a presidência do Conselho esteve em Portugal. Em junho rodou e foi atribuída a
outro país. O facto de a presidência estar atribuída a Portugal não significa que Portugal vá nomear
uma pessoa que se vai tornar presidente do Conselho durante aqueles 6 meses. Significa que, nas
reuniões do Conselho, que vão ser realizadas naqueles 6 meses é sempre o membro representante
do Estado português que preside à reuniam.

Por ex., vamos imaginar que no espaço desses 6 meses em que Portugal presidiu o Conselho se vai
realizar uma reunião do Conselho do Ambiente. Quem preside à reunião do Conselho do Ambiente
é o Ministro do Ambiente português.

Outra exceção ocorre dentro do EUROGRUPO que é uma subformação do Conselho da Economia e
Finanças, aquilo a que nos genericamente chamamos de ECOFIN (Conselho da Economia e
Finanças). Dentro desse Conselho nós temos o EUROGRUPO.

Qual a diferença entre o EUROGRUPO e o ECOFIN? O primeiro é composto pelos ministros da


economia e das finanças dos estados que aderiram ao euro, o segundo vai ser composto por todos
os ministros da economia e finanças da UE, vai abarcar todos os estados, mesmo os que não
aderiram à moeda única. No ECOFIN a presidência é uma presidência fixa, sendo que este é eleito
pelos ministros das Finanças que compõem o EUROGRUPO, ou seja, dos estados-membros que
aderiram ao euro.

As reuniões do Conselho são públicas e, portanto, quando são discutidas determinadas propostas
as reuniões vão ser públicas para quem quiser assistir.

O Conselho é apoiado por mais de 150 grupos de trabalho e comités. Estes vão recebendo as
propostas que chegam ao Conselho, eles recebem todas as propostas e começam a debatê-las,
fazem uma 1ª filtragem. Portanto, há propostas que vão descartar e outras que vão enviar para o
Comité dos representantes permanentes dos Estados (COREPER). Este é um comité constituído por
representantes do Estados que estão permanentemente a trabalhar junto do Conselho para
preparar os trabalhos do Conselho. É um órgão que auxilia o conselho definindo, desde logo, quais
os assuntos a discutir em cada uma das reuniões.

O COREPER vai analisar essas propostas e vai dividi-las por dois pontos da sua ordem de trabalho.
No 1º ponto da sua ordem de trabalhos vão introduzir aquelas matérias relativamente às quais foi
possível chegar a um acordo sem debate, ou seja, relativamente às quais existia um consenso
generalizado. No 2º ponto estão as matérias mais sensíveis, as matérias relativamente às quais não
existe um consenso e, a partir daqui o COREPER terá 3 possibilidades:

• Tentar discutir essas questões e tentar ele próprio chegar a um acordo

35
Carolina Batista Veríssimo

• Enviar essas propostas de volta para os grupos de trabalho para que estes as analisem e
introduzam eventuais alterações e as voltem a enviar para o COREPER num momento
posterior
• Eles entendem que não devem nem enviar a proposta para trás nem têm de ser eles a
decidir e então aí vão remeter a questão para o Conselho para que seja este a decidir

O COREPER, depois de fazer esta análise das propostas que já tinham sido filtradas pelo grupo de
trabalhos, vai definir aquela que é a ordem de trabalho do Conselho, e vai então definir as matérias
do ponto A, matérias que já foram concluídas e debatidas e já houve consenso no COREPER, assim
este vai colocá-las no ponto A para que os ministros cheguem e façam uma votação para aprovar
formalmente a medida sem debate (aqui a medida já foi pré-aprovada pelo COREPER). As matérias
do ponto B são as matérias que o COREPER não conseguir chegar a um consenso relativamente a
elas e vai ter que as debater, matéria que vão exigir que os ministros discutam entre si qual a
solução a adotar.

Além de tudo isto, é preciso considerar ainda a posição do Conselho dos Assuntos Gerais, ou seja,
dentro das 10 formações do conselho, há um conselho a que nós chamamos o conselho dos
assuntos gerais. Esse conselho não tem nenhuma matéria especifica, serve para tentar garantir
alguma coerência na atuação das 10 formações do Conselho. Ele tenta garantir que as decisões
tomadas, por ex., no conselho da energia não vão contra as decisões tomadas no conselho do
ambiente.

Modo de deliberação: Em regra, o modo de deliberação do Conselho é a chamada Maioria


qualificada. Naturalmente também aqui há exceções, e, portanto, há casos em que a base jurídica
vai dizer que não basta a maioria qualificada e que, por vezes, é preciso a unanimidade. Na
unanimidade, nestes casos, todos os estados têm mesmo de votar a favor. Noutros casos, a base
jurídica determina que basta a maioria simples (votar mais estados a favor do que os que votaram
contra).

Cláusulas associadas às bases jurídicas:

1. Cláusulas passerelle: permitem-nos, de alguma forma, facilitar a adoção daquela decisão.


Ou seja, uma decisão que teria de ser, à partida, tomada por unanimidade, vai poder, em certas
condições ser tomada por maioria qualificada. Estamos aqui a facilitar a adoção daquela decisão;

2. Cláusulas de travagem de emergência: Cláusula em que o ponto é tão sensível e está a ser
tão difícil de aprovar a matéria no Conselho, que este vai suspender os seus trabalhos e remeter a
matéria para o Conselho Europeu. E vão deixar que sejam os membros do CE a debater a matéria e
a decidi-la, uma vez que não se está a conseguir chegar a um acordo.

36
Carolina Batista Veríssimo

Como se forma a Maioria Qualificada? Este é o modo regra de deliberação do Conselho e a maneira
como o CE deve votar sempre que os tratados estabeleçam como regra, como modo de deliberação,
a maioria qualificada.

Até 31 de outubro de 2014 nós tínhamos uma solução que hoje não é a solução que temos. No
fundo, até esta data cada estado-membro tinha um x número de votos no Conselho, no fundo não
valia a regra 1 estado 1 voto. Por ex., a Alemanha tinha 29 votos (ver quadro abaixo). Portanto, a
maioria qualificado era conseguida quando existissem 255 votos a favor. O primeiro passo era ver
quais os países que tinham votado a favor, fazer a soma dos votos correspondentes e analisar se
essa soma ultrapassava os 255 votos a favor. Como segundo passo, tínhamos de concluir que mais
de metade dos estados tinha votado a favor. E o terceiro passo, os estados que votaram a favor
tinham de corresponder a 62% da população total da UE. Significa que tínhamos de analisar a
densidade populacional de cada um dos estados, e tínhamos que concluir que os estados que
tinham votado a favor representavam, no mínimo, essa percentagem.

Entretanto as coisas alteraram-se. Não se alteraram de forma imediata porque ainda houve um
período de transição, ou seja, até março de 2017, embora já estivessem em vigor estas regras, os
estados podiam pedir no Conselho que se aplicassem as regras anteriores, ou seja, que se
aplicassem as regras que valiam até 1 de novembro de 2014. Na prática podemos dizer que até
2017 não eram adotadas estas regras, mas sim as anteriores (descritas no paragrafo anterior),
embora elas supostamente só iriam valer até ao dia 1 de novembro de 2014.

O que mudou? Se não regras anteriores cada estado tinha um x de votos, agora passa a ser adotada
a regra 1 estado 1 voto, e assim temos exatamente o mesmo peso para todos os Estados.

Quando exista lugar a uma proposta da Comissão ou do ARUNEPS a maioria qualificada pressupõe
então:

• 55% dos membros do Conselho tenham votado a favor. Isso corresponde a, pelo menos, 15
dos 27 membros;
• Esses votos têm de corresponder a, pelo menos, 65% da população da UE, ou seja, os 15
estados que votaram a favor, analisada a sua densidade populacional têm que abarcar 65%
da população da UE

37
Carolina Batista Veríssimo

(art. 16º/4) – cláusula demográfica. Esta cláusula serve para garantir uma verdadeira
representatividade dessa mesma decisão. Se os 15 estados que votaram a favor forem os
estados mais pequenos, é muito possível que aquela decisão não seja representativa da
vontade da maioria da população da União, porque os maiores estados não votaram a favor
(devem estar estados grandes e pequenos, não apenas os mais pequenos).

Estas regras preveem a possibilidade de ser criada uma minoria de bloqueio, ou seja, uma minoria
que vai impedir que a decisão seja tomada. Essa minoria é constituída, no mínimo, por 4 estados-
membros que têm de representar, pelo menos, 35% da população da UE. Só nestas condições é que
esta minoria pode impedir que a decisão seja tomada.

Se não estiverem presentes todos os estados-membros do Conselho, temos que aplicar estas regras
considerando apenas os Estados participantes. Deve corresponder sempre a 65% da população dos
Estados presentes. Temos sempre de fazer uma readaptação quando não estejam presentes todos
os Estados.

Quando não haja lugar a uma proposta por parte da Comissão e seja preciso adotar um
determinado ato/decisão, as regras são mais exigentes: pressupõem-se que 72% dos membros do
Conselho votem a favor, o que corresponde, pelo menos a 20 dos 27 estados-membros e estes terão
que representar, no mínimo, 65% da população da UE. Aqui o que se dificulta é a maioria. Isto
aplica-se poucas vezes sendo que, na maioria das vezes, há sempre uma proposta da Comissão.

Ao contrário do que acontece noutros casos, aqui a abstenção conta como um voto contra, e,
portanto, se há abstenção é voto contra, não há abstenção construtiva.

As regras de votação nem sempre são estas. Há ainda duas grandes exceções.

Acordos do Luxemburgo: estes acordos surgem num episódio que é a chamada Crise da Cadeira
Vazia. O que estava em causa, nesta altura, era saber se as Comunidades se deviam estender ao
Reino Unido, ou seja, se havia de haver um alargamento das comunidades a outros países e naquele
caso concreto estava em causa a extensão ao Reino Unido. A França sempre se opôs à entrada do
Reino Unido nas Comunidades e isto gerou grandes tenções no seio das reuniões do Conselho. Esta
chegou mesmo a abandonar as reuniões do Conselho, daí a designação “Crise da Cadeira Vazia”,
cadeira essa da França.

Esta crise resolveu-se criando-se um acordo, conhecido pelos Acordos do Luxemburgo. Estes dizem
que, em regra, a votação era feita por maioria qualificada, mas se o estado invocar interesses vitais,
ou seja, se um estado vier dizer que x decisão o afeta de uma forma brutal então ela não pode ser
votada por maioria qualificada uma vez que estão em causa interesses vitais do próprio estado.
Então, o estado pede que a decisão deixe de ser tomada pela regra (maioria qualificada) e passa a
ser exigida unanimidade para que aquela decisão possa ser tomada.

O efeito deste acordos foi de paralisação praticamente durante duas décadas do Conselho, uma vez
que os Estados por tudo e por nada invocavam os Acordos do Luxemburgo e diziam que estavam em

38
Carolina Batista Veríssimo

causa interesses vitais dos seus estados, levando a que a decisão fosse tomada por unanimidade.
Naturalmente, sendo tomada por unanimidade, o próprio estado vota contra e não há decisão e
assim o Conselho não conseguia trabalhar.

Compromissos de loannina (1992): Estes também surgem no decurso do alargamento da própria


União, ou seja, aqui já estávamos a falar de um alargamento da União para 15 Estados. Acontecia
que quando as Comunidades eram compostas apenas por 12 Estados, os estados maiores (que na
altura tinham mais votos que os outros – tabela acima) tinham um grande poder no Conselho
porque bastava o Reino Unido e por ex., a Alemanha se juntassem para constituir uma minoria de
bloqueio e impedir que uma decisão pudesse ser adotada. Portanto, o Reino Unido preocupou-se
com o alargamento das Comunidades de 12 para 15 estados porque esse alargamento significaria
que deixava de ser preciso apenas o reino unido e outro estado juntarem-se para constituírem uma
minoria de bloqueio e passavam a depender de um 3º estado para se juntar a eles para poder
bloquear o funcionamento do Conselho. Tal foi preocupante porque significava perder um grande
poder e sujeitar-se a ter que aceitar muitas decisões que eram tomadas por estados mais pequenos
porque eles não conseguiam formar uma minoria de bloqueio,

Portanto, com esta preocupação do Reino Unido, este começou permanentemente a vetar a adesão
de novos estados a União. E nós sabemos que esta adesão pressupõe que todos os estados votem a
favor da entrada desse estado.

Como se resolveu esta situação para permitir o alargamento da comunidade a outros estados?
Formalizaram-se estes compromissos, os tais Compromissos de loannina. E estes compromissos
diziam que apesar de haver um alargamento da União, vamos continuar a admitir que as minorias
de bloqueio podem ser criadas por 2 estados de grandes dimensões, e, portanto, continuaram a
admitir que basta, por ex., o Reino Unido e a Alemanha juntarem para poderem bloquear a tomada
de uma decisão no seio do Conselho.

Este compromisso de loannina manteve-se durante bastante tempo, embora foi perdendo a sua
força inicial, mas hoje ele tem dois afloramentos no Tratado de Lisboa, ou seja, há duas normas no
Tratado de Lisboa que nos remetem diretamente para este tipo de compromissos. (Importante
lembrar que nem os Acordos de Luxemburgo nem estes compromissos constavam formalmente nos
tratados, eram meras decisões do Conselho.).

• Afloramento indireto: Ideia de que até 2017, embora se devessem aplicar as regras novas que já
devia valer desde 1 de novembro de 2014, os estados podiam pedir que fossem aplicadas as
regras anteriores. Tal facilitava que os estados maiores pudessem fazer prevalecer a sua vontade
relativamente aos estados pequenos. As regras novas já não favoreciam os maiores Estados.
• Afloramento direto:
o 2014-2017: Um grupo de Estados que reúna 75% do número de Estados ou da
população necessários à minoria de bloqueio (3 Estados ou 26% da população) pode
impedir a decisão.

39
Carolina Batista Veríssimo

o Após 2017: Basta 55% do número de Estados ou da população necessários à minoria


de bloqueio (3 estados ou 20% da população) para se impedir a tomada da decisão.

Isto estabelece precisamente uma exceção à regra que vimos anteriormente que era a regra de 4
Estados e 35% da população da União para uma minoria de bloqueio. Os tratados admitem que, em
certas situações, esta minoria seja constituída por 3 Estados ou por 20% da população
correspondente à União. Facilita-se, portanto, aqui a adoção de uma minoria de bloqueio,
nomeadamente pelos países mais populosos porque são esse que, juntando-se, facilmente
correspondem a 20% da população. Mesmo que os outros países votem a favor a decisão não vai
poder ser tomada porque eles são suficientes para constituir uma minoria de bloqueio (afloramento
direto). 3 estados pequenos nunca vão ter 20% da população.

Aula de 17/11/2021

Até aqui já estudamos as regras aplicáveis à maioria qualificada (método regra de deliberação do
Conselho).

Há uma exceção clara a essas regras que são as matérias relativas a PESC (política externa e
segurança comum), graças ao princípio da autonomia da PESC (art 24º TUE). Anteriormente foi dito
que a PESC ainda se continua a reger por uma lógica intergovernamental, ou seja, são os estados
que decidem e os estados devem decidir por unanimidade (art. 31º TUE). Portanto nas matérias de
PESC, por ex., matérias de asilo ou emigração, são matérias que os estados adotam atos por
unanimidade.

Neste caso a abstenção não impede a tomada da decisão por unanimidade e, à semelhança do que
foi visto com CE, também aqui a unanimidade é construtiva. O que importa é que não exista
nenhum país a votar contra.

Existem algumas exceções a esta regra da unanimidade no âmbito da PESC (art. 31º/2 TUE):

• Decisões do Conselho que executem determinações do Conselho Europeu;


• Decisões tomadas sobre propostas do ARUNEPS e na sequência de um pedido do Conselho
Europeu;
• Nomeação de representantes da UE para matérias específicas (art. 33º TUE).
Basicamente quando a questão já foi discutida pelo CE a um auto nível, não se exige uma
unanimidade do Conselho, basta uma maioria. No entanto, os estados podem opor-se que uma x
decisão em concreto seja por maioria.

Em situações de bloqueio, em situações que existe tenção e não se consegue decidir nada impede
que se remeta a questão para o CE (cláusulas de travagem de emergência).

Competências do Conselho:

40
Carolina Batista Veríssimo

Se a principal função do Conselho é coordenar essas políticas, a sua função de coordenação é uma
função importante. Portanto, o CE define as prioridades políticas, os caminho que deve ser seguido,
o Conselho vai concretizar essas prioridades políticas ajudando a coordenar as várias políticas dos
Estados-membros nas mais variadas matérias.

Comissão Europeia
Esta instituição representa os interesses da própria UE. Isto é importante uma vez que a UE tem
interesses próprios que não se limitam ao somatório dos interesses dos Estados.

Por esses interesses serem representados pela Comissão, diz-se que esta é a guardiã da ordem na
União, é a guardiã dos Tratados, porque se a Comissão representa os interesses da União, vai ter um
conjunto de poderes de controlo sobre a atividade das instituições (art. 17º/1 TUE), sobre a
atividade dos próprios Estados. Esta vai ter uma função de vigilante no cumprimento do DUE e vai

41
Carolina Batista Veríssimo

ter muita legitimidade em todos os processos junto do TJUE, para identificada uma situação de
violação, pedir a intervenção do pedir-lhe para se corrigir essa mesma violação.

O mandato da Comissão é de 5 anos. Este incide com o mandato do PE, ou seja, a eleição dos
membros da Comissão inicia-se no momento em que são realizadas as eleições para o PE.

A sede da Comissão é em Bruxelas (Bélgica).

Esta é a atual Comissão. A frente temos a Presidente da Comissão e atras o Colégio de Comissários.
Cada comissário terá uma pasta e irá trabalhar naquela matéria concreta. Um dos vice-presidentes
da Comissão é sempre o Alto representante da União para os NEPS.

Presidente da Comissão:

Desde 2014, o CE passou a estar obrigado a ter em conta os resultados das eleições para o PE. Ou
seja, ocorrem as eleições para o PE, dessas eleições para o PE algum grupo político vai sair vencedor
e é desse grupo que vai sair o/a presidente da Comissão. É mais ou menos isto que acontece
internamente.

Isto foi um avanço importante porque reforçou a legitimidade democrática da Comissão, mesmo
que seja uma legitimidade democrática indireta (nós não votamos no presidente da Comissão), ao
votarmos para as eleições para o PE indiretamente estamos a eleger também o Presidente da
Comissão.

Portanto, o CE apresenta a proposta de candidato (nome do candidato) e depois esse nome é


sujeito a um escrutínio por parte de PE, tendo este que o eleger por maioria dos membros que o
compõem. Se essa maioria não foi conseguida, há lugar a repetição do processo com um novo
candidato (art. 17º/7 TUE).

42
Carolina Batista Veríssimo

Competências do/a presidente: Art. 17º/6 TUE.

ARUNEPS (Alto representante):

Esta é a segunda pessoa a ser eleita.

43
Carolina Batista Veríssimo

Colégio de Comissário:

Nomeação dos Comissário: O presidente da Comissão começa por entregar uma lista de candidatos
e vai entregá-la ao Conselho que, em comum acordo com o Presidente, adota essa mesma lista. Os
tratados dizem que essas personalidades são escolhidas exclusivamente entre os nacionais dos
Estados-membros, com base em critérios de competência geral (currículo), do empenhamento
europeu e independência (art. 17º/3 e 7 TUE).

Portanto, o Conselho adota esta lista de personalidades, sendo que depois esta vai ser sujeito ao tal
voto de confiança por parte do PE. Neste voto de confiança que o PE vai ter de dar ao colégio de
comissário, nós incluímos não só os comissários, mas também ao Alto representante.

Depois desse voto o CE vai nomear os membros da Comissão, deliberando aqui por maioria
qualificada.

Resumindo, o Conselho adota a lista em conjunto com Presidente, O PE vai ter que aprovar essa lista
e depois é o CE que vai ter que nomear essa comissão por maioria qualificada. É um processo
demorado e que envolve várias instituições.

Independência da Comissão:

44
Carolina Batista Veríssimo

Cessação de funções: Meios de cessação de funções por parte da CE:

Funcionamento da Comissão: (semelhante ao de um Governo) – Breve referência

Relação entre a Comissão e os Estados-Membros:

A principal função da Comissão é executar o DUE de forma direta, mas não o faz sozinha, é também
feito pelos Estados-Membros. Por isso é que se refere um Princípio da Administração indireta da
UE, ou seja, a aplicação do DUE é levado a cabo em primeira linha pela Comissão e em segunda
linha pelos EstadosMembros. Estes até são quem aplicam o DUE em maior parte dos casos.

A Comissão funciona dividida em direções gerias. Estas são uma espécie de ministérios, e, portanto,
cada comissário vai encabeçar uma direção geral. Estas direções gerais têm uma série de
funcionários e são auxiliadas por um conjunto diversificado de serviços e organismos.

45
Carolina Batista Veríssimo

Competências da Comissão:

Função de iniciativa: Esta é importante porque já vimos que no processo legislativo existe uma
tríade. Ou seja, nos vamos ter a Comissão com um papel de apresentar propostas, sendo que estas
vão ser discutidas pelo Conselho e pelo PE e só serão aprovadas quando exista um consenso entre
estas duas instituições.

Nada impede que a Comissão possa ser convidada a apresentar propostas pelo Conselho, pelo PE ou
até por um conjunto de cidadãos da UE (iniciativa da cidadania). Até 2009 (Tratado de Lisboa) houve
6 iniciativas de cidadania.

Porque é que as propostas têm de ser apresentadas por parte da Comissão? Estas têm de refletir o
interesse da UE, e a Comissão é a única instituição que representa diretamente esses interesses.

A iniciativa da Comissão deve ser expressamente prevista: arts. 26º, 42º, 43º, 74º, 107º, 114º do
TFUE, etc.

Este poder de iniciativa é exercido em articulação com os demais Estados, instituições e órgãos da UE (art.
289º/4 TFUE). Os poderes de iniciativa da Comissão estão sujeitos ao princípio da atribuição das
competências, da subsidiariedade, da proporcionalidade e do financiamento. Esta função está
intimamente ligada com a garantia de coerência da ação interna e externa da União (art. 21º/3,
22º/2, 24º e 27º/3 do TUE).

46
Carolina Batista Veríssimo

Tribunal de Justiça
O TJUE reparte-se em 3 tribunais:

• O Tribunal de Justiça em sentido estrito (Tribunal supremo no âmbito da União)


• O Tribunal Geral (Tribunal de 1ª Instância)
Este tribunal foi criado porque o TJ estava a ficar absolutamente cheio com processos, era
necessário libertar este tribunal, passando o TG a tratar os processos menos complexos e
significativos.
Por outro lado, ao libertar o TJ permitiria que este pudesse exercer melhor e de forma mais
rápida a sua função (interpretação e aplicação do DUE).
• Tribunais especializados (até hoje só tivemos 1 – Tribunal da função publica.
Hoje não temos nenhum)

Os tratados preveem estes 3, mas, na prática, só temos os 2 primeiros.

Jurisdição do TJUE:

47
Carolina Batista Veríssimo

Todos os Tribunais são, em certa medida, tribunais da UE porque a última palavra caiba sempre ao
TJ, todos os Tribunais (nomeadamente os nacionais), estão encarregues de aplicar o DUE.

Composição do TJUE:

Funções do TJUE:

Juízes do TJUE:

Os advogados-gerais:
48
Carolina Batista Veríssimo

Estes advogados gerias também funcionam junto do próprio TJ e as regras para a sua a sua indicação
são mais ou menos as mesmas regras que valem para a nomeação dos juízes. Em todos os casos,
antes dos juízes tomarem uma decisão, é emanada uma opinião por um advogado geral. Este vai
indicar qual é que seria o sentido da sua decisão, ou seja, o advogado geral analisa os factos, a
matéria de direito, e indica uma solução/conclusão para o caso (art. 252º TFUE). Essa solução é
preliminar e meramente indicativa porque depois ela vai ser apreciada pelos juízes do TJ e estes não
vão ficar vinculados a esta conclusão.

No fundo, o AG tem funções importantíssimas: A primeira grande justificação para a existência dos
AG prende-se com o facto de que, dentro do TJ, há regra de funcionamento muito estritas, desde
logo, por ex., não existe no TJ a figura dos votos de vencido, essas figuras existem, em regra, sempre
a decisão é tomado por 2 ou mais juízes. Portanto, havendo 3 juízes, eles têm que votar, 2 podem
estar de acordo e 1 não estar (decisão e tomada por maioria). O que não está de acordo, em regra,
tem sempre a possibilidade de criar um voto de vencido em que vai explicar o porquê de não estar
de acordo. Isto não existe no TJ! Isto porque o TJ tem de tomar as suas decisões por unanimidade
para garantir força a essas decisões.

O problema de as decisões serem sempre tomadas por unanimidade é que, na verdade, nunca
ficamos a saber quem votou a favor e quem votou contra daquela decisão. Quem é que assegura
então este contraditório? O AG. É este que vai propor uma 1ª solução, se o Tribunal seguir essa
solução, a opinião do AG e do Tribunal juntam-se e isto garante uma grande legitimidade à solução.
No entanto, imaginando que o AG propõe uma solução e os juízes propõem outra. Isto cria para os
juízes uma obrigação de aprofundarem os seus argumentos e tentarem legitimar a sua decisão pela
força da sua própria fundamentação. Nestes casos, o AG serve de entidade que exerce o
contraditório, que mostra uma outra visão daquele caso.

Esta ideia de que as decisões devem ser tomadas por unanimidade é levada tao ao extremo, que
nas reuniões do TJ nem sequer os tradutores podem estar presentes, mais ninguém pode estar
presente no momento da votação a não ser os juízes, para que não se saiba quem votou a favor e
quem votou contra (princípio do segredo – art. 2º do ETJUE).

Tribunal Geral:

Este é um tribunal de 1ª instância.

49
Carolina Batista Veríssimo

Tribunais Nacionais:

Reenvio prejudicial: Mecanismo que permite a um Tribunal Nacional colocar uma questão ao TJUE
relativamente à aplicação de normas de DUE. Caso o Tribunal Nacional esteja com dificuldades em
interpretar a norma de um regulamento europeu que tem que aplicar, pode utilizar este mecanismo
para pedir ao TJUE que explicite o sentido daquela mesma norma.

O reenvio pode ser de interpretação ou de validade. No interpretação questiona-se a maneira como


a norma deve ser interpretada. No segunda caso questiona-se a validade daquela norma.

Faz sentido pedir ao TJ para ajudar a interpretar uma norma de um tratado, mas não faz sentido
pedirmos ao TJ analise a validade de uma norma de um tratado, uma vez que a validade das normas
da UE é aferida com base nos tratados, e, portanto, não podemos pedir ao TJ que avalie se a norma
do tratado é válida.

Banco Central Europeu


O BCE tem um papel fundamental ao novel da integração económica e ao nível da política
monetária.

Tem a sua sede em Frankfurt, na Alemanha.

Tem personalidade jurídica, sendo independente no exercício dos seus poderes e na gestão das suas
finanças.

50
Carolina Batista Veríssimo

Tribunal de Contas

51
Carolina Batista Veríssimo

Órgãos Consultivos

Os órgãos têm essencialmente uma função consultiva, ou seja, estes órgãos, muitas vezes, vão ter
de ser consultados pelas Instituições sempre que estas estejam a exercer as suas próprias
competências. Por ex., há casos em que o PE e o Conselho só vão poder decidir sobre a adoção de
um ato depois de terem consultado o Comité Económico e Social e o Comité das Regiões (os que
têm mais relevância) ou outros Comités.

Comité Económico e Social


Este preocupa-se essencialmente com a representação dos trabalhadores, ou seja, quem vai fazer
parte do CES? Pessoas que fazem parte dos sindicatos, representantes dos trabalhadores, de todos
os países membro. (326). Representam não só os interesses dos trabalhadores como os interesses
dos empregadores, outros grupos de interesse que pode ter alguma agenda nesta matéria,
relativamente às condições laborais, económicas, sociais.

Eles vão fazer parte deste Comité que vai emitir um conjunto de recomendações/pareceres que têm
de ter sidas em conta pelo Conselho e pelo PE, assegurando, assim, uma maior participação dos
cidadãos na União.

Este Comité mantém contacto com os conselho económicos e sociais regionais e nacionais da União,
partilhando informação e discutindo questões de interesse comum.

52
Carolina Batista Veríssimo

Comité das Regiões

Provedor de Justiça Europeu – Emily O`Reilly (atual PJE)


Este vai analisar situações de má administração no seio da União. Vamos imaginar que eu cidadãos
europeu, ou até uma pessoa (singular ou coletiva) que não seja cidadã europeia, mas que se
relacione com uma instituição da União, entende que aquela instituição da União violou direitos
fundamentais e não cumpriu com as normas a que estava obrigado. Eu posso apresentar uma
queixa ao PJE.

Este vai iniciar uma investigação independente junto daquela instituição para perceber se realmente
houve ou não houve uma situação de má administração.

Depois de realizada a investigação, o PJUE não tem poderes condenatórios, ou seja, não pode
condenar a instituição, órgão ou organismo a tomar determinada ação ou exigir uma indeminização.
Este vai emanar uma recomendação que é enviada à instituição, órgão ou organismo em causa, e
que depois é enviada também ao PE uma vez que o PJE é eleito pelo PE (art. 228º TFUE) e ele
responde perante o PE.

A eficácia do PJE não está nos poderes que tem, está na autoridade simbólica que lhe é reconhecida.

53
Carolina Batista Veríssimo

Agências Administrativas Independentes – breve referência

Representação e participação democrática


Agora que vimos todas as Instituições da União percebemos que muitas vezes a critica que é dirigida
à União relativa à sua legitimidade democrática é uma critica que pode ser ponderosa, porque a
maior parte das suas instituições não tem legitimidade democrática direta. A única instituição que
tem é o PE porque é a única instituição que é eleita diretamente pelos cidadãos da União.

De facto, há muita dificuldade por parte dos cidadãos em reconhecer que a União está a atuar nos
seus interesses, é o problema da legitimidade democrática. Nesta medida, a União tem tentado
reforçar os poderes do PE, para que as pessoas possam sentir que têm uma representação mais
efetiva no âmbito da União, por isso é a União tem tentado criar aqueles mecanismos de
participação democrática, como a iniciativa de cidadania.

54
Carolina Batista Veríssimo

Aula de 24/11/21

Fontes de Direito da União Europeia

É importante perceber que todas as fontes que vamos ver têm especificidades e não se confundem
com as fontes internas ou com as fontes no plano jurídico-nacional.

A existências destas fontes, destes procedimentos de produção normativas próprios, são


fundamentais para que o DUE se possa consolidar e para que todo o processo de integração
europeia possa chegar a bom porto. Nunca podemos esquecer aquele que é o princípio reitor desta
unificação europeia: Princípio da Cooperação Leal entre as Instituições da União, entre as
Instituições e os Estados e entre os Estados entre si.

O DUE, à semelhança do que acontece no plano interno, vai conter um conjunto de fontes que são
fontes de direito escrito, outras são apenas fontes de direito não escrito, sendo certo que
encontraremos uma hierarquia própria. Essa hierarquia tem de necessariamente que se repartir
entre 3 tipos de direito: o direito primário, o direito secundário e o direito terciário.

Há ainda uma outra possibilidade de qualificação destas fontes, que é a distinção entre direito
originário e direito derivado.

O Direito Primário constitui parâmetro de validade de todo o DS e de todo o DT. Isto significa que
todo o direito primário ocupa uma posição cimeira na hierarquia das fontes. Todo o Direito
Secundário e Terciário terá de respeitar o Direito Primário.

Podemos dizer que todo o Direito Primário acaba por corresponder à constituição da União e tal
como todas as leis ordinárias que têm de respeitar a constituição internamente, também todo o
Direito secundário e terciário tem que respeitar o direito primário.

Aqui que distingue o Direito primário dos outros dois é o facto de que o direito secundário não é
criado pelos estados sob a forma de tratado, ele é criado pela própria União. O mesmo acontece
com o direito terciário.

55
Carolina Batista Veríssimo

Há quem faça uma outra qualificação e divida estas fontes apenas em direito originário e derivado.
O 1º corresponde àquilo a que aqui nós estamos a chamar de Direito Primário e o 2º àquilo a que
estamos a chamar de Direito Secundário e Terciário.

O que distingue Direito Secundário de Direito Terciário? No Direito Secundário estamos a referir-nos
a um conjunto de atos que não só vão ter de respeitar o Direito Primário, mas também do Direito
Secundário. Por ex., uma delegação de competências, ou seja, o Parlamento pode delegar à
Comissão a possibilidade de modificar elementos não essenciais de um ato, que tem de ser sempre
um ato de direito secundário, a verdade é que o ato delegado, emanado pela própria Comissão vai
ser um ato de direito terciário, na medida em que vai ter de respeitar o ato delegante, neste caso o
ato de direito secundário e também todos os atos de direito primário, que como já vimos, são bloco
de constitucionalidade e, portanto, têm de ser necessariamente respeitados que pelo direito
secundário quer pelo direito terciário.

Direito Primário ou Originário

São os estados que criam o Direito primário ou originário, e, portanto, também são eles que podem
modificar esse direito ou pôr-lhe um fim. E é o direito primário ou originário que cria as instituições
da União, nomeadamente o TJ, daí este não poder aferir a validade do ato que o criou, delimitou as
suas competências e que serve de parâmetro de validade para todo o direito derivado.

56
Carolina Batista Veríssimo

Não existe uma hierarquia entre estas fontes. Todas as normas de direito primário ou originário têm
exatamente o mesmo valor.

Tal levanta a questão de que é possível haver desde logo uma situação de conflito entre normas de
direito primário entre si. Podemos depara-nos com situações em que, por ex., um tratado de adesão
contraria o que está disposto num tratado. Por ex., no caso de um estado querer aderir à União,
mas não querer aderir ao euro. O seu tratado de adesão vai determinar a revogação das normas
sobre o TFUE em matéria de política monetária, em relação à moeda única. Podemos ter então uma
situação de conflito entre estas duas normas de direito originário. Uma determina que pode ser
adotada a moeda única, outros tentam derrogar essas mesmas normas e afastá-las.

Como podemos resolver esta situação de conflito? Não existindo uma hierarquia entre fontes de
direito primário ou originário, temos que recorrer às regras gerais que no direito nos permitem
resolver este tipo de conflitos. Essas regras são duas:

1. A norma posterior derroga a norma anterior. Por ex., as normas de um tratado de adesão
celebrado hoje prevalecem relativamente às normas dos outros tratados.

2. As disposições especificas prevalecem sobre as disposições gerias. Ideia de que a lei especial
derroga a lei geral.

Vamos analisar algumas das fontes de direito originário:

Tratados Instituidores e de Revisão

Os tratados institutivos são 3: Tratados de Paris, de Roma e de Maastricht.

Os tratados de revisão: Todos os outros tratados que vimos (Maastricht também). Atualmente os
mais importantes correspondem ao Tratado da União Europeia, ao TFUE e a Carta dos DFUE.

57
Carolina Batista Veríssimo

Estes tratados produzem efeito direito, sendo que este efeito direito tanto pode ser vertical ou
horizontal. Significa que as normas dos tratados tanto podem ser invocadas por um individuo
relativamente ao Estado ou contra os próprios particulares.

Essas normas devem ter um conteúdo claro, preciso e incondicional. Não se vai produzir efeito
direto em que as normas dos tratados não sejam claras, precisas e incondicionais.

O efeito direto visa prosseguir um desidrato muito concreto, que é o de garantir a efetividade do
DUE. Sem efeito direito não é possível assegurar a efetividade do DUE.

Protocolos adicionais, declarações e atos complementares

Estas têm o mesmo valor que os Tratados, embora sirvam essencialmente para interpretar e aplicar
os tratados. Ou seja, o seu papel auxiliar, complementar, na aplicação desses mesmo tratados.

A inclusão destes 3 objetos no bloco de constitucionalidade justifica-se pelo facto da Convenção de


Viena dos Direitos dos Tratados reconhece que a interpretação das Convenções internacionais deve
ser feita por referência aos protocolos adicionais, às declarações e aos atos complementares.

Atos de adesão e condições de admissão

Princípios Gerais de DUE

As regras são extremamente rígidas, seguem uma lógica de tudo ou nada, ou cumprimos a regra ou
violamos a regra. Os princípios já são muito mais flexíveis, sendo que podem ser cumpridos ou
violados em medidas distintas.

Aqui estamos a falar de princípios gerais de direito que de alguma forma fazem parte de uma ordem
de direito natural, na medida em que hoje não podemos reconhecer a existência de um qualquer
Ordenamento jurídico que queira ser válido se não reconhecermos a existências destes princípios.

58
Carolina Batista Veríssimo

Direito Secundário ou Derivado:


Este distingue-se do D. originário porque os criados do direito secundário não são os mesmos que
os criadores de direito originário. O direito secundário é criado pelas instituições, órgãos e
organismos da União de acordo com os Tratados. Nunca esquecer que a criação do direito
secundário é feita de acordo com o direito originário. Se assim não for as normas de direito
secundário são inválidas.

59
Carolina Batista Veríssimo

Os 3 primeiros são juridicamente vinculativos. Dentro destes temos de distinguir os que são atos
legislativos e os que são atos não legislativos. Os que forem atos legislativos seguiram um processo
legislativo ordinário ou especial, se não forem legislativos não seguiram esse processo. Daí a
importância da distinção de atos legislativos de atos não legislativos.

Procedimento de Produção Normativa:

Processo legislativo ordinário


Este processo funciona a partir de uma triangulação básica: A Comissão, PE e Conselho. Esta
triangulação não existe por acaso. Intervém estes 3, todos eles representam interesses diferentes. A
Comissão os interesses da União, o Conselho os interesses dos Estados e o PE os interesses dos
cidadãos da União.

O facto destes 3 instituições participarem no PLO leva-nos à conclusão de que todos os atos de DUE,
de direito derivado aprovados através deste processo, têm de resultar diretamente da confluência
dos interesses destas 3 instituições.

Portanto, o PLO consiste na adoção de um regulamento, diretiva ou decisão pelo Parlamento e pelo
Conselho, normalmente sob iniciativa da Comissão (art. 289º e 294º TFUE).

Como se inicia este processo? Inicia-se através de uma proposta da Comissão (poder de iniciativa).
Este poder de iniciativa deve-se ao facto de se entender que não pode existir nenhuma proposta
legislativa que, de alguma forma, possa pôr em causa aqueles que são os interesses fundamentais
da própria União. Esta é a instituição que representa os interesses da União. Estas propostas devem
sempre assentar numa base jurídica, e esta tem sempre que estar indicada, sob pena do ato ser
inválido.

Este poder de iniciativa pode ser temperado pelo poder de outras instituições apresentarem à
Comissão pedidos para que apresente propostas: Conselho, PE, iniciativa de cidadania (1 milhão).

60
Carolina Batista Veríssimo

Apresentada a proposta, inicia-se a Primeira Leitura. Esta é feita pelo Conselho e pelo PE. Pelo
Conselho vai ser feita pelos Grupos de Trabalho ou pelo COREPER e pelo PE será feita por uma
Comissão especializada em razão da matéria. Após esta leitura vai ser emanada uma posição por
parte do PE que vai ser enviada ao Conselho e se este aprovar a posição do PE então o Processo
Legislativo termina e o ato pode ser adotado. Tal raramente acontece, o mais usual é que não exista
acordo.

Caso não haja acordo, o PE (e a Comissão) vai ser informado das razoes que levaram o Conselho a
não se alinhar com a sua posição.

Passamos assim para uma Segunda Leitura, e, assim sendo, o PE vai ter um prazo de 3 meses para
acolher as razões de desacordo do Conselho, e se concordar com o Conselho e subscrever a sua
posição então o ato é adotado com a formulação que lhe foi dada pelo próprio Conselho. Se o PE
rejeitar a posição do Conselho, então o ato não pode ser adotado, se o PE propuser alterações à
posição do Conselho, então voltamos a entrar numa situação de bloqueio e será necessário
convocar o Comité de Conciliação.

O Comité de Conciliação serve para eliminar este tipo de bloqueios que surgem entre o Conselho e
o PE. Portanto, vamos reunir o mesmo número de membros do Conselho e o mesmo número de
membros do PE e vamos colocá-los a discutir aquela mesma proposta para tentar chegar a um
acordo. Este acordo deve ser alcançado num prazo de 6 semanas, sendo possível que esse prazo
seja prorrogado por mais 2 semanas.

Caso no final do Comité de Conciliação se consiga chegar a um acordo (Terceira Leitura), então o ato
pode ser adotado. Caso não se consiga chegar a um acordo então terá que se iniciar o processo e
apresentar uma nova proposta. Se o ato for adotado seguimos para a parte final do processo
legislativo, que é o da assinatura do ato pelo Presidente do PE e uma assinatura do Presidente do
Conselho. Depois irá dar-se a Publicação do ato no Jornal Oficial da União e depois a entrada em
vigor do ato que se vai verificar ou na data que ela própria fixe ou no vigésimo dia seguinte ao dia
sua publicação (período de Vacatio Legis de 20 dias).

Por vezes observam-se desvios à regra, que se encontram nas bases jurídicas (é nesta que vamos
saber qual o procedimento utilizado para se aprovar determinado ato):

61
Carolina Batista Veríssimo

Este é um processo atribui poderes muito significativos ao PE e ao conselho, reduzindo por ex. o
protagonismo da Comissão. Este processo é demoroso.

Processo legislativo especial


Ao contrário do PLO, o Processo legislativo especial vai apontar para um único órgão. Portanto,
vamos ter o PE como protagonista adotando um ato com auxílio do Conselho ou o Conselho como
protagonista adotando um ato com a ajuda do PE. Se no PLO o PE e o Conselho têm o mesmo
protagonismo, no Processo legislativo especial o protagonismo vai estar ou num ou no outro.

O processo, “procedimento comum de decisão”, começa com uma proposta da Comissão ao


Conselho.
Consoante a base jurídica pode ser preciso que o Conselho antes de decidir faça um pedido de
parecer ao Comité Económico e Social, ao Comité das Regiões ou ao BCE. Portanto, o Conselho
recebe a proposta e remete a proposta para o PE. A partir daqui, também dependendo da base
jurídica, o PE pode passar a ter o poder de emitir um parecer que é um parecer não vinculativo
(procedimento de consulta) ou então pode lhe ser atribuído o poder de aprovar previamente esse
mesmo ato (procedimento de consentimento) e aqui os tratados estão a reconhecer ao PE um
direito de veto sobre aquele mesmo diploma.

Se o PE propuser alterações, essas são enviadas para a Comissão para que a mesma pondere sobre
essas mesmas alterações. Mas, é sempre ao Conselho que cabe, em última instância, adotar o ato. E
se assim é temos de reconhecer que a assinatura deste ato não será feita pelo presidente do PE e do
Conselho, como acontece no PLO, mas sim apenas pelo Presidente do Conselho.

62
Carolina Batista Veríssimo

Processo de vinculação Internacional

Requisitos da entrada em vigor dos atos de Direito Derivado:

No domínio da PESC, se os atos são aprovados apenas pelo Conselho ou pelos CE (art. 24º do TUE),
não seguem nem o processo legislativo ordinário nem o processo legislativo especial. Portanto,
neste domínio exclui-se a adoção de atos legislativos, o que significa que todos os atos aprovados
em matéria de PESC serão atos não legislativos, uma vez que não são aprovados por nenhum dos
processos legislativos vistos acima.

63
Carolina Batista Veríssimo

Agora, vamos ver especificamente cada uma das fontes de Direito Derivado.

Regulamentos
Estes são a primeira fonte mencionada no art. 288º (2º parágrafo).

Características do Regulamento:

Os regulamentos, dadas as suas características, em regra, são atos legislativos (com exceção dos
regulamentos delegados).

64
Carolina Batista Veríssimo

Aula de 8/12/21

Diretivas

As diretivas não gozam de aplicabilidade direta, na medida, em que, por definição, pressupõem
uma mediação estadual na escolha dos meios e da forma para prosseguir os fins estabelecidos.

Transposição: Não gozando de aplicabilidade direta, estas têm de ser transpostas para a ordem
jurídica interna (por força do dever de cooperação leal - art. 4º/3 TFUE), com garantia de respeito
por condições mínimas de publicidade, clareza e certeza em relação às situações jurídicas nelas
reguladas.

65
Carolina Batista Veríssimo

A transposição deve ser correta, completa e com a especificidade, exatidão r clareza requeridas para
que seja satisfeita a exigência de segurança jurídica e assegurando o seu efeito útil.

Estas costumam estabelecer um prazo de transposição, que geralmente é de 2 anos, embora possa
ser maior. Por vezes, admite-se o adiamento parcial da transposição de algumas das suas normas.

O ato de transposição considerado mais adequado é a lei em sentido formal, porém essa solução
não é exigida pelo DUE, o qual estabelece apenas a necessidade de transposição através de lei em
sentido material (que vincule a administração, os tribunais e os particulares). A Comissão deve ser
notificada das medidas adotadas pelo Estado para a transposição direta.

A nossa CRP no art. 112º/8 estabelece que a transposição de diretivas obedece à forma de lei,
decreto-lei e decreto legislativo regional, conforme os casos. A nossa ordem interna é mais
exigente na transposição das diretivas do que o próprio DUE.

Se os objetivos das diretivas já estiverem cumpridos não é necessário a adoção de novos atos de
direito nacional. Não se exige uma transposição expressa. O EM deve notificar a Comissão de
porque é que considera desnecessária a transposição expressa.

Não é possível a transmissão por remissões porque nem todas as diretivas são publicadas em Jornal
OUE, dificultando-se, deste modo, o acesso à mesma.

Há diretivas bastante detalhadas, dificilmente se distinguindo de alguns regulamentos e deixando


aos Estados uma margem de manobra bastante limitada.

Uma vez transposta, a diretiva prevalece sobre todo o direito interno, devendo este ser
interpretado em conformidade com ela, o que significa que o ato legislativo de transposição vê a
sua força normativa reforçada relativamente às demais leis internas, na medida em que a sua
violação pode configurar uma violação de direito da UE, com tudo o que isso implica em sede de
incumprimento e responsabilidade do Estado.

A partir do momento em que a diretiva entra em vigor, esta começa a ser suscetível de transposição
por parte dos vários estados, pudendo fazê-lo em qualquer momento dentro dos 2 anos. Durante o
prazo a diretiva não vincula os estados, mas já produz alguns pré-efeitos que se traduzem naquilo a
que chamamos o Dever de Stand Still, que está consagrado no Acórdão Wallonie, em que o mesmo
vem dizer que o Estado não pode, durante o período de transposição de uma diretiva, aprovar

66
Carolina Batista Veríssimo

legislação que vá contra o estabelecido na própria diretiva. Caso o faça está a violar o Dever de
Stand Still.

Não viola o Dever de Stand Still a aprovação de legislação que signifique uma aproximação dos
objetivos da diretiva, mas não o seu cumprimento. Ex.: Imaginemos que a lei nacional estabelece
que o horário de trabalho semanas era de 52 horas. Entretanto, é emanada uma diretiva que
estabelece que o tempo máximo de trabalho por semana é de 48 horas. Durante o prazo de
transposição o estado português aprova legislação dizendo que o período máximo de horas de
trabalho por semana são de 50 horas. Portanto, a lei portuguesa diz que é de 52, a diretiva diz 48 e,
portanto, o objetivo são as 48 horas. O TJ tem entendido que este comportamento não viola a
cláusula de Stand Still pelo facto de o estado estar a adequar progressivamente a seu legislação à
diretiva. O importante é que no fim do prazo de transposição o estado venho reduzir o horário para
as 48 horas semanais, para ir ao encontro daquilo que está estabelecido na diretiva.

Caso, após os 2 anos, o Estado não transpor a diretiva, este entrará em incumprimento, e ao entrar
em incumprimento o DUE prevê a possibilidade que venha a ser invocado o efeito direto das
diretivas.

Aqui importa não confundir aplicabilidade direta com efeito direito. A 1ª prende se com a questão
de saber se a fonte em causa necessita de ser transposta para o ordenamento jurídico interno (já
vimos que os regulamentos não necessitam, mas as diretivas sim).

O efeito direto responde à questão “será que podemos invocar as normas de um regulamento ou
direta em juízo? Num determinado caso concreto em tribunal?”. No caso dos regulamentos já vimos
que sim, no caso das diretivas é necessário que se verifiquem alguns requisitos: É necessário que
tenha terminado o prazo de transposição da diretiva e que o estado não tenha transposto ou tenha
feito uma transposição incorreta, que equivale à não transposição, e não vamos puder invocar todas
as normas da diretiva, só vamos puder invocar as normas da diretiva que reunirem determinadas
características (claras, precisas e incondicionadas).

Tipos de efeito direto:

1. Efeito direto vertical: Diz respeito àquelas situações em que o particular invoca a norma
diretiva contra o Estado.

2. Efeito direto horizontal: Diz respeito às situações em que o particular invoca a norma
diretiva contra outro particular.

O TJ tem admitido o efeito direto vertical, mas não o horizontal. Isto porque se diz que se o estado
não traspôs a diretiva, o estado está a incumprir o DUE, e ele não pode beneficiar desse mesmo
incumprimento. Se ele não transpôs a diretiva porque noa quer que as normas da mesma sejam
oponíveis, vamos reconhecer o efeito direto, e, no caso de normas claras, precisas e
incondicionadas, vamos permitir que em juízo o particular possa invocar essas normas
relativamente ao Estado, justamente para evitar que este possa beneficiar desse não cumprimento

67
Carolina Batista Veríssimo

de direito comunitário que foi, no fundo, a não transposição da diretiva. A isto chamamos o
Princípio do Estoppel.

Havendo lugar ao efeito direto vertical, o particular pode invocar a norma diretiva contra o estado.
Claro que não existe lugar àquilo a que chamamos o efeito direto vertical inverso, ou seja, não pode
o Estado invocar a norma da diretiva contra o particular. Se o estado quer invocar a norma da
diretiva contra o particular, então que transponha a diretiva para a ordem jurídica interna.

No caso do efeito direto horizontal, temos 2 particulares, e o TJ tem entendido que não pode haver
efeito direto horizontal pelo facto dos particulares não têm culpa no incumprimento do estado ao
não transpor a diretiva.

Há uma jurisprudência do TJ (Acórdão Mangold) que admitiu a invocação do efeito direito horizontal
antes de decorrido o prazo de transposição. Caso muito concreto.

Quando falamos em efeito vertical dizemos que o particular pode invocar a norma da diretiva contra
o
Estado. Mas o que é Estado para estes efeitos? Temos de considerar que o DUE segue um efeito
amplo de Estado. Este são todos os organismos ou entidades sujeitas a autoridade ou controlo do
estado, ou que disponham de poderes exorbitantes face aos que resultam das normas aplicáveis nas
relações entre os particulares. Serão Estado o Ministério, a AP, os Hospitais públicos, todo o tipo de
entidades publicas ou empresas com participação publica.

Défice de transposição:

O efeito direto é apenas uma das várias consequências que derivam da não transposição da diretiva.
Na verdade, poderá acarretar outras 2 consequências:

1. A não transposição da norma diretiva dentro do prazo constitui fundamento para um


processo de infração contra o Estado, nomeadamente aquilo a que chamamos a ação por
incumprimento. Esta deve ser intentada pela Comissão (art. 258º e ss. TFUE) e tem uma primeira
face que é uma face administrativa, précontenciosa, que decorre junto da própria Comissão, e em
última instância podemos chegar à face contenciosa, ou seja, poderá o caso chegar ao
conhecimento do TJUE.

2. Responsabilidade do Estado. Este poderá vir a ser condenado pelos danos causados pela não
transposição da diretiva em tempo. Aqui já estamos no âmbito da chamada responsabilidade civil
extracontratual do estado por violação do DUE, sendo que estas ações devem ser intentadas junto
dos tribunais nacionais. Uma vez que se prove uma situação de violação de DUE, um dano e um
nexo de causalidade entre a violação e o próprio dano. O resultado desta ação será a fixação pelos
tribunais nacionais de uma indemnização que deve ser paga pelo Estado às próprias entidades
lesadas, abarcando quer os danos patrimoniais quer ou danos não patrimoniais que essas mesmas
entidades tenham sofrido. Sendo o valor fixado com base no grau de desrespeito, o dano causado, a
conduta do lesado, etc.

68
Carolina Batista Veríssimo

Decisões
Estas são atos jurídicos que se dirigem aos Estados ou aos particulares e são em regra concretas e
individuais, embora possam ser gerais. Quando nos referimos ao Estado ou aos particulares
estamos a referir-nos a um Estado em concreto ou a um particular em concreto, ou a um grupo de
estados ou particulares que seja identificável.

Recomendações e Pareceres

As recomendações tendem a ser formuladas pela Comissão, mas também por outras instituições,
órgãos ou organismos (art. 292º TFUE), sendo que visam produzir efeitos para o exterior da UE.

69
Carolina Batista Veríssimo

Os pareceres podem ser emanados por instituições, órgãos ou organismos da União, ou até por
EM`s.

Direito Terciário:
As fontes de DT para além de terem de respeitar o direito primário ou originário, vão ter de
respeitar o próprio direito secundário. As fontes de DT são fontes de natureza não legislativa, o que
significa que a criação desses mesmo atos não segue um processo legislativo ordinário ou qualquer
um dos processos legislativos especiais.

Quer os regulamentos, diretivas ou decisões podem ser atos de direito terciário quando sejam atos
delegados ou atos de execução.

Os atos não legislativos de direito terciário podem ter uma natureza geral e abstrata, o que significa
que não vão indicar destinatários e, nesse caso, apenas precisam das assinaturas do Presidente ou
dos presidentes das instituições que o aprovaram, bem como a publicação no JOUE, ou podem ter
um alcance individual e concreto indicando os destinatários, e, nesse caso, para serem válidos
necessitam apenas da assinatura do Presidente da Instituição que os adotou e a notificação aos
destinatários, produzindo efeitos através do momento em que essa mesma notificação foi levada a
cabo.

70
Carolina Batista Veríssimo

Atos delegados
Estes são adotados com base no art. 290º do TFUE. Um ato delegado pressupõem sempre a
existência de um ato delegante (ato através do qual se procede à delegação de competências). Esse
ato delegante é sempre um ato legislativo, o que significa que é sempre um ato de direito
secundário. Esse ato delegante vai transferir para a comissão o poder de exercer poderes
legislativos, que são poderes de completar ou alterar elementos não essenciais do ato legislativo de
delegação.

Esse ato deve indicar expressamente a sua própria natureza, assim como o ato delegado, ou seja,
por ex., se for um regulamento delegado, esse regulamento vai ter depois que indicar
expressamente a sua natureza (290º) sob pena de ser inválido.

Este ato delegante deve estabelecer um conjunto de dado (reserva material de ato legislativo). Deve
estabelecer os objetivos, o conteúdo, o âmbito de aplicação e período da vigência da delegação de
poderes, o que significa que a delegação de poderes não é levada a cabo eternamente, mas durante
determinado prazo, prazo esse que a Comissão vai utilizar para completar ou alterar os elementos
não essenciais do ato legislativo de delegação, desde que respeitando todos os limites materiais
estabelecidos pelo próprio ato de base.

Delegação legislativa vs Autorização legislativa

Autorização legislativa: Diz respeito às situações em que a AR autoriza o Governo a legislar em


matérias de reserva relativa de competência legislativa.

Delegação legislativa: Ao autorizar a Comissão, os órgãos legislativos vão fixar as condições da


própria delegação. Isso vai acabar por diferenciar a delegação da autorização legislativa, na qual o
Governo acaba por ter uma margem de discricionariedade mais significativa.

71
Carolina Batista Veríssimo

Atos de execução

72
Carolina Batista Veríssimo

Atos atípicos

Regras de ordenação hierárquica:

Princípio de DUE

73
Carolina Batista Veríssimo

Princípio da Efetividade
Este princípio significa que o DUE deve estar dotado de um conjunto de mecanismos que visam
garantir a sua plena aplicação. A plena aplicação deste direito, através das instituições, órgãos e
organismos, através dos próprios estados e mesmo pelos particulares quando chamados a aplicar
DUE.

Isto acaba por criar, para os Estados, um conjunto de obrigações por força do princípio da
cooperação leal, nomeadamente exigindo que os estados aproximem a sua legislação da legislação
do DUE, e não adotando legislação que possa pôr em causa a persecução desses fins estabelecidos
pelos tratados.

Este princípio acaba por se concretizar num conjunto diversificado de outros princípios. Desde logo,
estamos a falar do Princípio do Efeito Direto, mas também do Princípio do Primado, do Princípio da
Interpretação Conforme, do Princípio da Uniformidade da Aplicação, etc.

Princípio do Efeito Direto: Embora as diretivas sejam o principal ato de DUE que pode produzir
efeito direto, não são o único ato que produz efeito direto. Há outras fontes de direito da União que
produz efeito direto.

Efeito direto vertical: possibilidade de um particular invocar a norma contra o estado.

Efeito direto horizontal: diz respeito às situações em que o particular invoca a norma contra um
outro particular.

74
Carolina Batista Veríssimo

Portanto, as normas dos tratados podem ser invocadas diretamente em juízo sempre quando forem
claras, precisas e incondicionadas.

É importante dizer que o efeito direto não se limita às normas de direito originário, mas estende-se
também às normas de direito derivado, quer aos regulamentos, quer às diretivas, quer às decisões.

Relativamente às normas de direito originário há vários tipos de normas que produzem efeito direto
por serem claras, precisas e incondicionais, por ex., as normas que se dirigem diretamente aos
particulares, as normas que se impõem aos Estados obrigações de abstenção ou as normas que
impõem aos estados obrigações de facere.

No caso do efeito direto no âmbito de direito derivado, é necessário referirmos regulamentos,


diretivas e decisões. No caso dos regulamentos, estes têm sempre efeito direto porque estes são
obrigatórios em todos os seus elementos e são diretamente aplicáveis nos países da União (art.
288º TFUE), e, portanto, gozam sempre de efeito direto sendo que este efeito é vertical e horizontal.
No caso das diretivas elas também podem produzir efeito direto, mas têm de se verificar 2
requisitos: a diretiva não tenha sido transposta (ou transposta incorretamente) e a norma da
diretiva tem de ser clara, precisa e incondicionada. As normas da diretiva só produzem efeito
vertical, mas não efeito direito horizontal.

O fundamento para o reconhecimento do efeito direto vertical é o Princípio do Estoppel, ou seja, a


ideia, como já vimos acima, de que o Estado não deve poder prevalecer-se de uma situação de
incumprimento. O estado deve transpor a diretiva. Caso isso não aconteça a diretiva vai poder ser
invocada relativamente a esse mesmo estado para que ele não se possa prevalecer desse mesmo
incumprimento furtando-se a cumprir aquilo que está disposto na diretiva.

Não há lugar a efeito direto inverso, ou seja, o estado noa pode invocar a norma contra o próprio
particular. É o estado que está em incumprimento. Se ele quer aplicar a norma tem de transpor a
diretiva.

O efeito direto é um efeito direito ampliado e, portanto, estado são todas as entidades com podres
de autoridade pública.

O efeito direto horizontal não é reconhecido e o Acórdão Marshall diz nos porquê. Este diz nos que
reconhecer o efeito direto horizontal equivaleria a reconhecer à Comunidade o poder de criar, com
efeito imediato, deveres na esfera jurídica dos particulares quando ela só tem essa competência nas
áreas em que lhe é atribuído o poder de adotar regulamentos.

75
Carolina Batista Veríssimo

Ex.: Imaginemos que um diretiva europeia diz que antes da realização de um projeto de construção
tem de ser feita uma avaliação do impacto ambiental. Eu, particular, vejo que, no terreno ao lado da
minha casa está a ser construído uma fábrica e, preocupado, venho dizer que não foi feita uma
avaliação do impacto ambiental e existe uma diretiva europeia que obriga a realização dessa
avaliação, ao que me respondem que o Estado não transpôs a diretiva. Ora, eu não vou puder
invocar a norma da diretiva contra outro particular, contra o dono da fábrica, mas eu vou puder
invocar a norma da diretiva contra a entidade que deu ao dono da fábrica uma licença para
construir naquela lugar, por ex., a Camara Municipal. Esta vai ficar obrigada a revogar a autorização
que deu e a fazer a tal avaliação de impacto ambiente, e isso significa que se vai ter que revogar a
autorização o particular não vai puder construir a fábrica.

Temos aqui exatamente o mesmo efeito que existiria se houve efeito direto horizontal, mas por via
do efeito triangular.

Também as decisões podem produzir efeito direto naqueles casos em que estabeleçam um
conjunto de obrigações que sejam claras, precisas e incondicionadas. Ou seja, vamos ter que fazer
também uma análise concreta relativamente a cada uma das normas da decisão.

76
Carolina Batista Veríssimo

Quando sejam dirigidas a Estados, as decisões podem carecer da necessária precisão, exigindo
medidas de execução. As únicas exceções são as decisões proibitivas que nesse caso estabelecem
quase sempre obrigações de caracter claro, preciso e incondicionado e por isso vão puder produzir
efeito direto.

É reconhecido aqui também não só o efeito direto vertical como o efeito direto horizontal.

Também os Acordos Internacionais podem produzir efeito direto, aqui o Acórdão Demirel já veio
definir que as normas dos acordos internacionais que sejam claras, precisas e incondicionadas
podem produzir efeito direto nos mesmos termos que os tratados, de acordo com o Acórdão Van
Gend en Loos.

No que toca aos pareceres e recomendações, estes não têm força jurídica vinculativa e por isso não
têm efeito direto.

Aula de 15/12/21

Princípio do Primado do DUE: Este princípio é importante no que diz respeito à efetividade do
próprio
DUE. Se não existisse uma ideia de primado do DUE sobre o direito nacional, acabaria por fazer com
que o DUE fosse um mero direito sem verdadeiro força jurídica vinculativa. Se assim fosse, os
Estados podiam facilmente manipular o DUE, respeitando as normas que lhes fossem favoráveis e
de alguma forma contornando as normas que não lhe são favoráveis. Portanto, este é um dos
princípios que o TJ desde muito cedo veio afirmar no Acórdão Flaminio Costa contra ENEL.

Neste ac. específico, diz-nos o TJ que “resulta do conjunto destes elementos que ao direito
emergente ao Tratado, emanado de uma fonte autónoma, em virtude da sua natureza originária
especifica, não pode ser oposto em juízo em texto interno, qualquer que seja, sem que se perca a
sua natureza comunitária e sem que sejam postos em causa fundamentos jurídicos da própria
comunidade”. Neste caso, estávamos perante uma situação em que uma norma interna contrariava
uma norma do tratado, e veio colocar-se a questão sobre qual norma prevalecia, ao que o TJ
entendeu que era a norma do tratado que deve prevalecer.

Desde este acórdão que o TJ tem entendido que este princípio se aplica a qualquer situação de
conflito normativo, independentemente da natureza das normas. Prevalece sempre a norma
comunitária.

O TJ fundamentou esta sua decisão com base no Princípio da Cooperação leal, ou seja, veio dizer
que para garantir a efetividade do DUE os estados devem colaborar com a União na persecução dos

77
Carolina Batista Veríssimo

fins dos Tratados e, nessa medida, perante uma situação de conflito, devem sempre aplicar de
forma prevalecente a norma de direito comunitário.

Apesar de tudo, este princípio nem sempre foi recebido de forma aberta pelos vários estados. Há
estados onde nunca se chegou a colocar verdadeiramente a problemática de saber se o DUE
prevalece ou não sobre as normas nacionais. Podemos dizer que o princípio do primado é aceite,
mas de uma forma generalizada. Há outros estados onde este processo foi mais custoso.

Em Portugal a aplicação deste princípio sempre foi pacifica, inclusivamente a nossa CRP acaba por
fazer uma referência a este princípio no art. 8º. Este artigo termina dizendo que é preciso que se
respeitem os princípios fundamentais de um estado de direito democrático, ou sejam à partida
reconhecemos o princípio do primado independentemente da norma nacional que está em conflito
com a norma de DUE ser uma norma de natureza constitucional ou uma norma de natureza
infraconstitucional, mas é preciso que a norma de DUE respeite aqueles que são os princípios
fundamentais de um estado de direito democrático. Ou seja, em última instância poderíamos
afastar este princípio caso violasse estes princípios fundamentais.

O nosso tribunal Constitucional diz nos que numa eventual situação de conflito entre uma norma
constitucional e uma norma de DUE, o TC não tomará nenhuma decisão no sentido de noa se
aplicar a norma europeia e aplicar-se a norma nacional sem primeiro recorrer ao TJ para tentar
perceber se aquela norma europeia é valida à luz do DUE. Isto porque a maior parte dos princípios
que caracterizam um estado de direito democrático português estão plasmados no Tratado, e se
uma norma de direito comunitário violar estes princípios essa norma será inválida à luz do DUE.

Em 2004, quando se tentou criar uma Constituição para a Europa, uma das normas que estava
prevista nessa Constituição era uma norma que consagrava o Princípio do Primado de uma forma
expressa. Este foi um dos pontos que levou a França e a Holanda a recusarem a Constituição.

Quando depois se elaborou o Tratado de Lisboa não se chegou a introduzir nenhuma norma que
refletia o Princípio do Primado. Este é hoje um princípio fundamental da ordem jurídica europeia,
mas não consta expressamente de nenhuma norma do Tratado. Apenas se fez uma menção a esse
princípio numa declaração anexa.

Princípio da Uniformidade na Aplicação:

78
Carolina Batista Veríssimo

Nota: Não esquecer que, sendo os Tratados o nosso parâmetro de controlo, o doc. de referência
para saber se as normas de direito secundário são ou noa válidas, não podemos colocar em causa a
validade de uma norma do tratado. A única maneira de se alterar um tratado é levar a cabo uma
revisão. Assim, o TJ não pode avaliar a validade uma norma de direito primário (só de direito
secundário e terciário), apenas a pode interpretar (apenas é possível o reenvio de interpretação,
não o reenvio de validade).

Nunca podemos enviar uma norma de direito nacional ao TJ, este só se pode pronunciar
relativamente às normas de direito comunitário.

Princípio da Interpretação Conforme: Este princípio aplica-se em todas as situações, mas há um


caso que é mais relevante: caso em que uma diretiva não foi transposta (passou o prazo) ou foi
incorretamente e o particular quer invocar uma norma da diretiva contra outro particular, ou seja, o
chamos efeito direto horizontal. O que dissemos é que este não existe no caso das diretivas.

No entanto, o particular via ter acesso a um conjunto de expedientes que podem gerar efeitos
próximos a esse efeito horizontal. Aqui estudámos 3 alternativas para o próprio particular:

1. Responsabilização do estado ou de outras entidades publicas por violação do DUE;

2. Interpretação Conforme;

3. Efeito triangular das diretivas. Este pressupõe sempre a existência de 2 particulares, tem que ser
mediada por uma entidade pública. (explicado acima)

Interpretação Conforme: Também conhecida de efeito indireto. O juíz, no momento em que aplica
direito nacional, deve procurar atribuir a essa norma de direito nacional a interpretação mais
próxima possível com as normas de DUE.

Este princípio também foi criado por TJ no âmbito de um caso conhecido, o caso Marleasing. Aqui, o
juiz deve, de entre os métodos permitidos pelo seu sistema jurídico, dar prioridade ao método

79
Carolina Batista Veríssimo

interpretativo que permita conferir à norma nacional um sentido mais próximo possível com a
norma de DUE. No entanto, há limites para esta atividade do juiz:

Ou seja, nunca pode a Interpretação conforme ser utilizada num sentido menos favorável ao
arguido.

Ex.: Imaginemos que temos uma diretiva europeia que nos diz que, por ano, o trabalhador deverá
ter entre 6 a 10 semanas de férias. A lei nacional portuguesa diz mais ou menos o mesmo, mas diz-
nos que por ano o trabalhador deve ter entre 4 e 8 semanas de ferias a definir pelo empregador.
Vamos imaginar que a Maria trabalha numa empresa privada e quer exigir ao seu empregador que
lhe reconheça pelo menos 6 semanas de ferias. Ela pode invocar a norma diretiva contra o
empregador? Não. A diretiva não foi transposta, a norma é clara, precisa e incondicionada, mas não
há efeito direto horizontal, e portanto, ela não pode invocar a norma contra o empregador porque
estamos a falar de uma relação entre 2 particulares.

Poderia aqui haver efeito triangular? (invocar a norma contra uma autoridade publica?) Não. Esta
relação não é intermediada por nenhuma entidade publica.

Será que a interpretação conforme nos pode ajudar? Sim. A lei nacional vai dar 4-8 e a diretiva das
6-10 semanas. Há um período de sobreposição entre ambas as normas, o período das 6 as 8
semanas. Isso significa que nos conseguimos interpretar à lei nacional à luz da diretiva respeitando
todos estes limites fazendo a interpretação no sentido de que, o mínimo de semanas que podem
ser estabelecidos de férias pelos empregadores é 6, o máximo é 8. Não podemos ir além das 8
porque se assim fosse estávamos a fazer uma interpretação contra legem, estávamos a inventar o
que a lei não diz. Agora, a lei nacional, se não nos dá a liberdade para ir além deste valor dá-nos
liberdade para aumentar o número mínimo que ela já admitia se o empregador estabelecesse as 6
semanas. Isto é uma interpretação possível dentro do conteúdo da lei. Esta é uma interpretação de
direito nacional à luz do DUE, aproximando o máximo possível o conteúdo da norma nacional do
conteúdo da diretiva.

Mas imaginemos que não existia um período de sobreposição. Podíamos fazer uma interpretação
conforme? Não.

80
Carolina Batista Veríssimo

Em última instância teremos sempre a última via de tentar contornar a inexistência de efeito
horizontal:

Responsabilidade Civil dos Estados por Violação do DUE:

No caso de diretivas não transpostas, a violação do DUE é precisamente a não transposição da


diretiva. Se o estado não transpôs a diretiva o estado vai ter de responder pela violação e vai ter de
pagar uma indemnização (fixada no caso concreto) à pessoa lesada.

Estas ações de responsabilidade civil do estado por desrespeito a DUE são intentadas junto dos
tribunais nacionais.

81
Carolina Batista Veríssimo

Revisão dos Tratados

Processos Simplificados de Revisão:

82

Você também pode gostar