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MÓDULO 7 – CRISES, EMBATES IDEOLÓGICOS E MUTAÇÕES CULTURAIS NA PRIMEIRA METADE

DO SÉCULO XX

UNIDADE 2 – O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30.

2.2- AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS.

 Com o decorrer dos anos 20, um novo sistema de exercício do poder confrontou o demoliberalismo (a
democracia liberal que primava pela defesa dos direitos individuais, garantidos por um estado neutro
assente na separação dos poderes). Movimentos ideológicos e políticos subordinaram o indivíduo a um
Estado omnipotente, esmagador e totalitário.
 A Rússia soviética conheceu o totalitarismo estalinista, que submeteu violentamente os indivíduos ao
Estado e ao chefe em nome da revolução e da construção da sociedade igualitária.

 Já na Itália e depois na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo:


- A Itália, apesar de fazer parte do grupo dos países vencedores da Primeira Guerra Mundial, não
obtivera as compensações territoriais que achava devidas. A crise económica resultante do pós-guerra
era dramática e, em consequência, a agitação social crescia. Esta conjuntura explica que, logo em
1919, surja o movimento fascista (Fasci di Combattimento), tornado Partido Nacional-Fascista em
1921. No ano seguinte, os fascistas, liderados por Benito Mussolini, recebem o poder do próprio rei
após a demonstração do seu poder na Marcha sobre Roma.
- A Alemanha foi a grande derrotada na Primeira Guerra Mundial. À crise económica, marcada pela
inflação galopante e pelos 6 milhões de desempregados, juntou-se a humilhação do Tratado de
Versalhes, considerado pelos alemães como uma imposição – o diktat. Consequentemente, em 1920 é
criado o Partido Nacional-Socialista (Nazional-Sozialist ou Nazi). Em 1923, Hitler tentou um golpe de
Estado (Putsch), em Munique, que fracassou. Porém, os efeitos da grande depressão americana dos
anos 30 desferiram o último golpe na República de Weimar. Em Janeiro de 1933, Hitler foi escolhido
para o cargo de chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha pelo presidente Hindenburg.

 Em Portugal, assiste-se ao derrube da República e à instauração da Ditadura Militar, em 1926, à qual se


seguiu o regime autoritário do Estado Novo, personificado na figura de Salazar.
 Em Espanha, depois de implantada a República, em eleições livres, o fascismo chega ao poder, com o
general Franco, após uma sangrenta guerra civil (1936-39).

2.2.1- OS FASCISMOS, TEORIA E PRÁTICA.

 Nos anos 30, a depressão económica acentuou a crise da democracia liberal. Uma vaga autoritária e
ditatorial submergiu a Europa. Genericamente, designa-se por fascistas as novas experiências políticas
que tiveram no fascismo italiano e no nazismo alemão os grandes paradigmas.

Os princípios fascistas.

 O fascismo define-se pela oposição firme ao liberalismo, à democracia parlamentar e ao


socialismo. Já em 1921, Mussolini vangloriava-se de ser “reacionário, antiparlamentar, antidemocrata,
antiliberal e antissocialista”. A ideologia fascista tinha por base, como tal, os seguintes postulados:
1. Totalitarismo (primado do Estado sobre o indivíduo) – ao invés do liberalismo e da democracia,
que defendem os direitos individuais, o fascismo defende que acima do indivíduo está o interesse da
coletividade, a grandeza da Nação e a supremacia do Estado. O Estado é a suprema e a absoluta
razão de ser das pessoas que abdicam da sua individualidade. Como sentenciou Mussolini, “tudo no
Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”!
2. Antiparlamentarismo – opunha-se ao sufrágio universal e ao regime parlamentar, pois não
acreditava nas capacidades dos cidadãos para escolher os seus governantes. Opunham-se também à
separação dos poderes, base das democracias, porque achava que enfraquecia a Nação e o Estado.
Estes, para serem grandiosos, teriam que ter um Estado centralizado e autoritário. Ao contrário do
sistema pluripartidário, presente nas democracias, o fascismo impunha o partido único.
3. Corporativismo – modelo de organização socioeconómica destinado a promover a colaboração entre
as classes, subordinadas aos interesses do Estado. Para tal, foram criadas as corporações (organismos
que reuniam patrões e operários em corpos profissionais) com vista a eliminar as divisões na sociedade
(luta de classes) geradas pelos sindicatos que, tal como as greves, foram proibidos. Deste modo, o
fascismo opunha-se ao socialismo, pois negava a teoria da luta de classes.
4. Nacionalismo – invocação da Nação como o valor mais importante a defender, pelo que se exalta a
pátria e o seu passado histórico. Princípio da superioridade de um povo que tinha o direito de submeter
os outros à sua vontade.
5. Imperialismo – o nacionalismo exacerbado da ideologia fascista conduziu, em termos de política
internacional, ao expansionismo territorial (evidenciado, nomeadamente, na conquista da Etiópia, em
1935, por Mussolini, e na "teoria do espaço vital" de Hitler).
Anulava-se, assim, o princípio das nacionalidades enunciado no contexto do liberalismo; aboliam-se,
também, as premissas do socialismo, que exortavam à associação dos operários de todo o mundo na
luta contra o capitalismo (internacionalismo proletário).
6. Militarismo – a crença nas virtudes da guerra e no sacrifício individual opõe-se aos ideais liberais,
rejeitados como "mito da felicidade e do progresso indefinido".
7. Culto do chefe – o desdém pelo sistema democrático, considerado por Mussolini "um regime sem rei,
mas que o substitui por numerosos reis", conduziu ao reforço do poder executivo, personificado na
figura de um líder carismático e inquestionado (o Duce na Itália fascista, o Führer na Alemanha nazi),
que encarnava a própria Nação e ao qual se prestava adoração. A separação de poderes, considerada,
nos regimes democráticos, um garante de justiça, deixou de existir (faz depender a força do Estado do
reforço do poder executivo).

Elites e enquadramento das massas.

 Ao contrário da democracia liberal, que defende a igualdade entre os homens e o respectivo acesso à
governação, o fascismo parte do princípio que os homens não são iguais, a desigualdade é útil e fecunda
e o governo deve competir apenas aos melhores, às elites.
 A chefiá-las estava um homem elevado à categoria de herói, apresentado como um ser providencial
(trazido pelo destino) capaz de resolver todos os problemas. A ideia de representatividade popular foi
substituída pela ideia do governo dos "melhores", uma aristocracia liderada pelo chefe incontestado a
quem todos tinham de prestar adoração: Mussolini era designado por "Duce" e Hitler por "Führer"
(expressões que significam "o chefe").
 Mas as elites não incluíam apenas os chefes. Eram compostas pela raça dominante (para Hitler era a
raça ariana), pelos membros do partido, pelas milícias, pelo exército, pelos homens de forma geral.

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- Consideradas cidadãs inferiores, às mulheres nazis, por exemplo, estava destinada a vida no lar e a
subordinação ao marido; os seus ideais resumiam-se aos três K – Kinder, Küche, Kirche (crianças,
cozinha, igreja);
- Quer a Alemanha, quer a Itália empenharam-se em políticas natalistas, pelo que tomaram medidas a
favor de famílias numerosas e enalteceram a mulher procriadora que se realizava cumprindo o dever
“natural” e “sagrado” da maternidade.

 Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado respeito das
massas, cabendo-lhes veicular a ideologia dominante, assegurar o cumprimento estrito da ordem, manter
a Nação submissa.

 O enquadramento, isto é, a obediência cega das massas obcecou a prática fascista, totalmente
avessa a qualquer manifestação de vontade individual e de espírito crítico. Um dos veículos primordiais da
difusão da ideologia fascista foi a propaganda política minuciosamente planeada para levar as
populações a aceitar os valores fascistas (como o culto do chefe, a disciplina, o auto controlo, a guerra).
 A arregimentação de italianos e alemães começava logo nos primeiros anos com a integração das
crianças em organizações juvenis e prosseguia na idade adulta. Contava-se, para efeito, com diversas
organizações de enquadramento de massas:
1. Organizações juvenis: na Itália, depois de passarem por sucessivos escalões de formação (“Filhos
da Loba” a partir dos 4; “Balillas” dos 8 aos 14 e “Vanguardas” depois dos 14), os jovens entravam aos
18 anos nas Juventudes Fascistas. Na Alemanha, integravam as Juventudes Hitlerianas, onde se
formavam as consciências, predispondo-as ao autoritarismo.

- A educação fascista era completada pela escola, através de professores subservientes ao regime, ao
qual prestavam juramento, e de manuais escolares impregnados dos princípios fascistas.
2. Partido único: a filiação no Partido Nacional-Fascista de Itália ou no Partido Nazi na Alemanha
conferia a esse cidadão um estatuto superior e o acesso facilitado a cargos públicos e militares de
responsabilidade.
3. Frente do Trabalho Nacional-Socialista e as corporações italianas: destinavam-se a integrar a
classe trabalhadora sob a vigilância do Estado, de maneira a impossibilitar a contestação social
(substituíram os sindicatos livres, entretanto proibidos).
4. Organizações recreativas e culturais: a Dopolavoro ("depois do trabalho") na Itália e a Kraft durch
Freude ("arte pela alegria") na Alemanha, encarregavam-se de estender a função doutrinal fascista aos
tempos livres com atividades recreativas e culturais.
5. Manifestações: cuidadosamente encenadas, integravam, geralmente, discursos inflamados dos
líderes, paradas militares, estandartes e uniformes, de maneira a tirar o maior partido do efeito da
concentração de multidões.
6. Ministérios da Propaganda: os modos de influenciar a opinião pública foram cuidadosamente
estudados. Nos estados fascistas, a propaganda era entregue a ministérios específicos que tinham a
incumbência de louvar (nos jornais, na rádio, no cinema e até em altifalantes colocados em locais
públicos) o sistema fascista e, simultaneamente, de perseguir e punir todos os opositores.

- O Ministério da Imprensa e da Propaganda, em Itália, e, principalmente, o Ministério da Cultura e da


Propaganda, na Alemanha, exerceram uma verdadeira ditadura inteletual (censura, autos de fé onde
se queimavam as obras dos autores proibidos, perseguições a inteletuais judeus…).

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O culto da força e da violência e a negação dos direitos individuais.

 A ideologia fascista defendia a violência, nomeadamente a guerra, justificando-a como o meio de


preparar o género humano para suportar sacrifícios e, deste modo, aperfeiçoar-se (é através da guerra
que os povos mostram a sua coragem e superioridade – “a paz é nociva porque domestica os instintos
brutais da natureza humana”). A violência foi utilizada pelos fascistas para chegarem e para se manterem
no poder. Ela traduziu-se, nomeadamente, pelas seguintes organizações:
1. Milícias: na Itália e na Alemanha, foram criados grupos armados ao serviço da perseguição política.
- Na Itália, os esquadristas (camisas negras) lideravam ataques a sindicatos e a partidos políticos de
esquerda, cujos chefes eram espancados e mesmo assassinados; em 1923 são reconhecidos
oficialmente como milícias armadas do PNF, passando a designar-se por Milícia Voluntária para a
Segurança Nacional.
- Na Alemanha, em 1921 e 1923, respetivamente, o Partido Nazi criou as Secções de Assalto (S.A.) e
as Secções de Segurança (S.S.), temidas pela sua brutalidade (as S.S. chacinaram as S.A. na "noite
das facas longas", em 1934).

2. Polícias políticas: na Itália, foi criada, em 1925, a OVRA (Organização de Vigilância e Repressão do
Antifascismo) e na Alemanha, foi criada, em 1933, a Gestapo (Geheime Staatspolizei), com o intuito de
reprimir toda a oposição ao regime.

3. Campos de concentração: criados, na Alemanha, logo em 1933, eram locais onde as vítimas do
nazismo eram sujeitas a trabalhos forçados, a tortura e ao assassínio em câmaras de gás.

A violência racista nazi e as perseguições antissemitas

 O desrespeito do nazismo pelos direitos humanos atingiu os cumes do horror com a violência do
seu racismo.
 Hitler, no seu livro Mein Kampf (A Minha Luta), tentou justificar o racismo através de uma pseudo-
cientificidade baseada na teoria evolucionista de Darwin – a doutrina da superioridade da raça ariana, que
tinha nos alemães os seus mais puros representantes (a História era concebida como uma luta de raças
entre os povos fundadores, transmissores e destruidores de cultura, sendo os arianos a raça superior –
não possui qualquer fundamento científico).
 Na prática, esta teoria serviu de justificação à perseguição/eliminação dos povos inferiores, entre os
quais se destacam, principalmente, os judeus, mas também os ciganos, eslavos, homossexuais, pessoas
portadoras de deficiência mental ou física, opositores políticos, em suma, todos os que apresentassem
diferenças em relação ao arianismo.

- O antissemitismo (ódio aos judeus) não foi inventado por Hitler, pois em várias épocas da História,
os judeus foram perseguidos e estigmatizados. Porém, Hitler aproveitou o preconceito geral contra os
judeus para instigar a população alemã ao racismo.
 Em nome do apuramento físico e mental da raça ariana, os nazis promoveram o eugenismo,
aplicando as leis da genética na reprodução humana. Para além da “seleção” de alemães (altos e
robustos, louros e de olhos azuis), fomentou-se o casamento entre os arianos e procedeu-se à
eliminação dos alemães “degenerados” (deficientes mentais, doentes incuráveis e velhos
incapacitados) através da eutanásia.

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 A barbárie contra os judeus, principal alvo do racismo nazi, manifestou-se rápida e persistentemente,
passando por várias etapas:
- 1933 – Boicote das lojas de judeus; estes não podiam exercer profissões liberais ou no funcionalismo
público; apenas um número restrito de judeus podia frequentar o ensino universitário;
- 1935 – As Leis de Nuremberga, para a “proteção do sangue e da honra alemães”, impediam o
casamento e as relações sexuais entre judeus e arianos e privavam os alemães de origem judaica do
direito à nacionalidade;
- 1938 – As empresas judaicas foram encerradas e os seus bens foram confiscados. Na chamada
“Noite de Cristal” (de 9 para 10 de Novembro), os nazis desencadearam um pogrom (perseguição) em
que foram destruídas sinagogas e lojas judaicas, tendo sido exigido o pagamento dos estragos à
comunidade judaica. Os judeus foram proibidos de exercer qualquer profissão e de frequentar lugares
públicos, sendo obrigados a usar uma estrela amarela (estrela de David) para serem imediatamente
identificados;
- 1940 – Os judeus foram obrigados a viver em guetos – bairros separados do resto da população e
com uma área insuficiente (por exemplo, o gueto de Varsóvia, na Polónia);

- 1939-1945 – Durante a 2ª Guerra Mundial, os nazis seguiram uma política de genocídio (extermínio
em massa), designada por "solução final do problema judaico" (Conferência de Wannsee, 1942),
que causou a morte de cerca de 6 milhões de judeus. Pela dimensão das atrocidades cometidas nos
campos de concentração, este genocídio ficou conhecido por Holocausto ou Shoah (catástrofe, em
hebraico).
 A teoria de que a “raça ariana” precisaria de mais espaço para se desenvolver conduziu, por outro lado,
ao expansionismo agressivo nazi, sob o nome de "teoria do espaço vital" (Lebensraum): os alemães
arianos seriam reunidos sob o império nazi - o 3° Reich.

A autarcia como modelo económico.

 Em Itália e na Alemanha, os fascistas subiram ao poder, em grande medida, devido à grave crise
económica da Europa do pós-guerra agravada, posteriormente, pela Grande Depressão. Mussolini e Hitler
propunham-se resolver os problemas da hiperinflação, do desemprego, da destruição material.
 O modelo económico seguido em ambos os países foi a autarcia, uma política económica fortemente
intervencionista e nacionalista (como é próprio dos regimes totalitários), que visava atingir um ideal de
autossuficiência.

 Na Itália:

- A economia foi controlada pelo enquadramento de todas as atividades em corporações, o que


facilitou uma certa planificação económica (aquisição de matérias-primas, volume de produção,
tabelamento de preços e salários).
- Realizaram-se grandes batalhas de produção exaltadas pela propaganda. Destacam-se a “batalha da
lira” (1927), que procurava a estabilização da moeda, a “batalha do trigo” (1925), que visava o aumento
da produção deste cereal, e a “batalha da bonificação”, para recuperação e povoamento das terras
pantanosas.
- O comércio e o setor industrial passaram também por um forte controlo do Estado, já nos anos 30,
com a subida dos direitos alfandegários e o controlo do volume das exportações e importações (1934), e
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com o lançamento de programas de industrialização (criação, em 1931 e 1933, do Instituto Imobiliário
Itálico e do Instituto para a Reconstrução Industrial que permitiu ao Estado financiar as empresas em
dificuldades).

 Na Alemanha:
- Alguns grandes capitalistas aderiram ao nazismo de maneira a obter encomendas do Estado. Graças a
essa injeção de capitais, Hitler fomentou uma política de construção de obras públicas (auto-estradas,
pontes, linhas férreas, arroteamentos) e procedeu ao rearmamento do país, desrespeitando as cláusulas
do Tratado de Versalhes, o que permitiu reabsorver quase a totalidade dos 6 milhões de desempregados
e desenvolver os setores da siderurgia, química, electricidade, mecânica e aeronáutica.

 No entanto, a recuperação económica tão apregoada teve enormes custos humanos:

- a população foi sujeita a grandes sacrifícios, quer em trabalho, quer em impostos, quer em rigorosos
racionamentos;
- o combate ao desemprego foi bem sucedido à custa do afastamento e genocídio de milhões de judeus
e da utilização da população ativa na economia de guerra e no exército (a Wehrmacht integrava 13
milhões de soldados, na década de 30 do século XX, na Alemanha);
- a extração de matérias-primas foi conseguida através da colonização italiana (caso da conquista da
Etiópia, em 1934-35) ou do imperialismo hitleriano (conquistas no âmbito da teoria do espaço vital).

2.2.2. O ESTALINISMO.

 Após a morte de Lenine, em 1924, gera-se um problema de sucessão entre dois destacados membros
do Partido Comunista: Trotsky, líder carismático da revolução bolchevique, e Estaline, secretário-geral do
partido desde 1922.
 Das duas estratégias propostas, venceu a tese proposta por Estaline que defendia a necessidade de
consolidar a revolução primeiro na URSS, e só depois partir para a sua internacionalização.
 Uma vez no poder, toda a sua ação política foi norteada por dois grandes objetivos: a construção da
sociedade socialista e a transformação da Rússia numa grande potência mundial. Conseguiu-o
através da coletivização dos campos, da planificação económica e do totalitarismo repressivo do Estado.

Coletivização dos campos e planificação económica.

 Em 1928, Estaline abandonou a NEP e reorganizou a economia com base em dois postulados:
1. A coletivização dos campos: a partir de 1929, as terras e o gado foram expropriados aos Kulaks
(pequenos proprietários que tinham beneficiado com a NEP) e integrados em cooperativas de produção,
chamadas Kolkhozes (quintas coletivas cultivadas em comum pelos camponeses das aldeias, nas quais
uma parte da produção era para o Estado e a restante era distribuída pelos camponeses, de acordo com
o seu trabalho) e Sovkhozes (quintas do Estado cultivadas por camponeses assalariados).
- Esta colectivização dos campos era considerada imprescindível ao avanço da indústria, uma vez que
libertaria mão de obra para as fábricas e forneceria alimentos para os operários.
- Contudo, a coletivização das terras encontrou grande resistência por parte dos antigos proprietários
rurais (ex: abatiam o gado em vez de o entregarem às coletividades) que foram violentamente

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reprimidos: três milhões de Kulaks sofreram a execução ou a deportação para a Sibéria
(deskulakização) e igual destino tiveram todos os camponeses que resistiram à nacionalização das
terras e ao seu realojamento forçado.
- Apesar desta oposição, a URSS registou um grande aumento da produção agrícola, especialmente no
que respeita ao trigo, ao algodão e à beterraba para açúcar.

2. A planificação económica: com o objetivo de recuperar o atraso da URSS e tornar o país autónomo
em relação aos países capitalistas, a partir de 1928, a economia passa a ser totalmente controlada
pelo Estado (GOSPLAN) através dos planos quinquenais, que fixavam, de acordo com as
necessidades, as metas de produção a atingir no prazo de 5 anos.
 1º plano quinquenal (1928-32) – Visou o desenvolvimento da indústria pesada (siderurgia, maquinaria
e energia elétrica) e levou ao quase desaparecimento do setor privado da indústria.
 2º plano quinquenal (1933-38) – Deu prioridade à indústria ligeira (têxtil e alimentar).
 3º plano quinquenal (1938-45) – Pretendia desenvolver as indústrias pesada, hidroelétrica e química,
mas foi interrompido em 1941 pela 2ª Grande Guerra.

- Complemento da planificação foi o apelo ao trabalho revolucionário e heroico e o elogio dos


trabalhadores mais produtivos, os “heróis do povo”.
- A planificação surtiu resultados positivos: em 1940, a URSS era o terceiro país mais industrializado do
mundo, com uma produção intensa de carvão, aço, petróleo e eletricidade.

O totalitarismo repressivo do Estado.

 Apesar dos amplos direitos consagrados na Constituição de 1936, o Estado estalinista revelou-se
omnipotente, totalitário e repressivo, controlando toda a sociedade através:
- purgas periódicas no Partido Comunista (por exemplo, aquando dos processos de Moscovo, entre 1936
e 1939);
- criação de uma nova polícia política (a NKVD), altamente repressiva;
- perseguição, deportação para campos de trabalho forçado (Gulag) ou execução dos opositores;
- controlo do poder político, dos órgãos do Estado e dos sindicatos pelo Partido Comunista;
- substituição, no partido, no exército e na administração, dos heróis da revolução de Outubro de 1917
por jovens funcionários do Estado obedientes a Estaline;

- enquadramento dos jovens em organizações estalinistas, como os Pioneiros e as Juventudes


Comunistas;
- controlo da cultura (ex: Realismo Socialista) para glorificara a Nação e exaltar os seus heróis;

- culto da personalidade do chefe, sendo Estaline considerado o “pai dos povos”.


 O regime estalinista tornou-se assim uma ditadura do Partido Comunista, que provocou milhões de
vítimas e criou desigualdades sociais.

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