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I
Dr.: João Leal Amado
Bibliografia: João Leal Amado, Contrato de Trabalho
2. Ainda que o contrato de trabalho seja um negócio jurídico de Direito Privado, o CC remete
a respe9va disciplina para “legislação especial”. Compreende-se que assim seja. Por um
lado, a força de trabalho é uma qualidade inseparável da pessoa do trabalhador, o que
supõe um profundo envolvimento da pessoa deste na execução daquele contrato.
Consequentemente, ao alienar a disponibilidade da sua força de trabalho, o trabalhador
aliena-se, de algum modo, de si próprio. O trabalhador tem como que “duas vidas”, a vida
do trabalho e a vida fora do trabalho. Ora, isto impõe que o Direito, não obstante apreenda
a relação laboral como uma relação patrimonial de troca trabalho-salário, e sujeite tal
relações a um regime especial rela9vamente ao regime comum das relações patrimoniais
(Direito das Obrigações).
Por outro lado, a relação de trabalho é uma relação profundamente inigualitária, pois o
trabalhador, a mais de, em regra, carecer dos rendimentos do trabalho para sa9sfazer as
suas necessidades essenciais (dependência económica), fica sujeito à autoridade de
direção do empregador em tudo o que diz respeito à execução do trabalho (subordinação
jurídica). Ora, este desequilíbrio estrutural da relação de trabalho não pode ser ignorado,
nem deve ser menosprezado pelo Direito.
Importa sublinhar que contrato de trabalho não se define por aquilo que se promete fazer,
isto é, pelo 9po de a9vidade em questão, mas sim pelo modo como se promete fazer, isto é, pela
circunstância de essa a9vidade ser prestada sob a autoridade e direção do empregador. Ora, assim
sendo, compreende-se que tanto o operário têx9l como o jornalista, o professor como o advogado, o
motorista como o cozinheiro, possam assumir as vestes de trabalhador subordinado por conta de
outrem, sendo des9natários das normas laborais.
Para poder sobreviver, o Direito do Trabalho tem de moldar-se às diversas realidades que visa
organizar e disciplinar, pelo que, sendo estas diversificadas, diversificado dever ser também este ramo
do Direito. Assim, mesmo que na base esteja sempre um contrato de trabalho, as legislações serão
sempre diferentes e próprias, dependendo do trabalho que e prestado.
Assim, podemos dizer que: “o Direito do Trabalho é o conjunto das normas jurídicas, de origem
estadual e convencional, que visam regular, com vista à sua normalização, as relações individuais e
cole9vas que têm como seu elemento unificante e desencadeante o trabalho assalariado.” – segundo
Jorge Leite.
Se compararmos a noção dada pelo CT com a noção constante do CC, de 1966, verificamos que
se regista algumas diferenças, julgadas, no entanto, pouco significa9vas.
À parte disso, se analisarmos a noção legal de Contrato de Trabalho concluímos que o mesmo
é cons9tuído essencialmente por três elementos: a Prestação de Trabalho, a Retribuição e a
Subordinação
Jurídica
1. Prestação de Trabalho: Traduz-se numa prestação, de facto posi9vo, sendo que
qualquer a9vidade humana, desde que lícita e apta a corresponder a um interesse
do credor digno de proteção legal, pode cons9tuir objeto deste contrato (Art. 398º
do CC e Art. 115º do CT). A obrigação do trabalhador traduz-se no exercício de uma
determinada a9vidade, isto é, no dispêndio de um certo conjunto de energias
fsicas e psíquicas ao serviço e em benefcio do empregador.
• Contrato oneroso: Não se carateriza por qualquer animus donandi (intenção de dar, doar),
inexistente aqui qualquer espírito de liberdade.
O contrato oneroso implica vantagens e sacrifcios para ambas as partes (para o trabalhador,
a vantagem consistente na perceção do salário supõe o correspondente sacrifcio em matéria
de dispêndio de energias fsicas e psíquicas em favor do empregador, bem como o sujeitar-se
a uma situação de hétero-disponibilidade pessoal). Nota: Dizer que é oneroso não significa
que é pago.
Diz-se que o verdadeiro critério dis9n9vo reside, na (in)existência de subordinação jurídica entre
as partes da relação: se esta exis9r, aí teremos um contrato de trabalho; se esta não exis9r, aí
teremos uma qualquer modalidade do contrato de prestação de serviços.
Só que nem assim os problemas qualifica9vos desaparecem. Este problema de definição torna-
se ainda mais difcil se nos lembrarmos que a subordinação jurídica é uma noção de geometria
variável, comportando uma extensa escala grada9va, ao passo que no contrato de prestação de
serviços não deixa de haver espaço para a emissão de algumas instruções genéricas por parte do
credor da prestação.
Um exemplo disto são os chamados “recibos verdes”, que traduzem uma simulação rela9va sobre
a natureza do negócio com o obje9vo de evitar a aplicação da legislação laboral. Resulta de uma
alteração de 9po negocial correspondente ao negócio disfarçado ou oculto (o contrato de trabalho).
E tratar-se-á de uma simulação fraudulenta, dada que o intuito é o de contornar a lei laboral. É um
acordo simulatório no qual naturalmente, o trabalhador também par9cipa, mas o qual normalmente,
lhe é imposto pelo empregador como condição sine qua non (coação) para proceder à respe9va
admissão na empresa.
CaraterísEcas:
• A a9vidade seja realizada em local pertencente ao seu beneficiário ou por ele determinado,
ou seja, temos que estar perante a situação em que o trabalhador se desloca para espaço
alheio;
• Seja paga, com determinada periodicidade, uma quan9a certa ao prestador da a9vidade,
como contrapar9da da mesma, ou seja, tem que haver um salário garan9do;
A lei acaba por selecionar um determinado conjunto de elementos indiciários, considerando-se que
a verificação de pelo menos duas caracterís9cas bastará para a inferência da subordinação jurídica.
Doravante, provando o prestador da a9vidade que, in casu, se verificam algumas daquelas
caracterís9cas, a lei presume que há contrato de trabalho, cabendo à en9dade contratante fazer prova
em contrário.
Tratando-se de uma presunção ilidível (Art. 350º do CC), que admite prova em contrário, nada
impede o beneficiário da a9vidade de ilidir essa presunção, demonstrando que, a despeito de se
verificarem aquelas circunstâncias enunciadas no Art. 12º/1 do CT, as partes não celebraram qualquer
Em suma, este disfarce formal das relações laborais é levado a cabo por empregadores, que visam
sobretudo sujeitá-las à disciplina do contrato de prestação de serviços. Esta tendência para se
camuflar a existência do contrato de trabalho como contrato de prestação de serviços decorre, em
primeiro lugar, das maiores restri9vidades e onerosidades financeiras, para a en9dade patronal, na
legislação que é aplicada ao contrato de trabalho. E em segundo lugar, do facto de num contrato de
trabalho o trabalhador ter liberdade quase ilimitada para se desvincular do contrato, enquanto que o
empregador tem fortes limitações ao despedimento. Isto não se coloca numa relação de prestação
de serviços, onde o credor da prestação pode dispensar os serviços do prestador de uma forma
francamente facilitada.
No seio dos IRCT avulta a figura da convenção cole9va, nas suas três modalidades: (Art. 2º,
nº 3 do CT, baseando-se s dis9nção no critério da en9dade empregadora signatária).
1. Contrato cole9vo;
2. Acordo cole9vo;
3. Acordo de empresa;
A Convenção ColeEva de Trabalho (Arts. 1º e 2º do CT) é, pode dizer-se, o IRCT nuclear, em torno do
qual todos os outros giram e em função do qual todos os outros se compreendem.
Na verdade, a convenção cole9va de trabalho afirma-se hoje como uma das principais fontes de
Direito do Trabalho, salientando os autores o caráter pioneiro da contratação cole9va rela9vamente
à legislação estadual.
A convenção cole9va apresenta-se, então com uma faceta negocial, pois resulta de um acordo
celebrado entre os empregadores e os trabalhadores, mas apresenta igualmente uma importante
faceta norma9va, através da qual ocorre a determinação cole9va das condições de trabalho.
Fontes Estaduais
2. A CRP como “fonte das fontes”, isto é, como “norma primária sobre a produção de
normas”. Neste ponto, deve-se chamar à atenção para a reserva rela9va de
competência legisla9va da Assembleia da República em matéria de “direitos,
liberdades e garan9as” (incluindo as dos trabalhadores) pelo que estas matérias
apenas poderão ser reguladas através de decreto-lei governamental em caso de
prévia autorização da AR, e nos precisos termos de u9lização. Isto é assim porque
a lei de autorização legisla9va não se pode limitar a passar um «cheque em
branco» ao Governo, antes deve definir o objeto, o sen9do, a extensão e a duração
da autorização, a qual pode ser prorrogada (Art. 165º, nº2 CRP). Sem tal
autorização, só a AR poderá legislar neste domínio. Porém, fora do campo
delimitado pelos direitos, liberdades e garan9as dos trabalhadores já existe uma
competência legisla9va concorrente entre o parlamento e o governo em matéria
laboral;
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3. Os trabalhadores gozam do direito fundamental par9cipação na elaboração da
legislação do trabalho, através das comissões de trabalhadores (Art. 54º, nº5, d) da
CRP) e das associações sindicais (Art. 56º, nº2, a) da CRP). A violação deste direito
implica a incons9tucionalidade da correspondente legislação do trabalho, pois a
par9cipação é um pressuposto indispensável para a legi9midade procedimental da
normação aprovada. Não se trata de conceder aos trabalhadores um direito de
voto ou qualquer direito de veto, mas antes de reforçar a democra9cidade do
processo legisla9vo, chamando os des9natários das normas a discu9rem e
pronunciarem sobre elas antes da sua respe9va aprovação.
Fontes Internacionais
As fontes internacionais são fontes que criam normas de índole internacional rela9vamente ao
trabalho, como por exemplo a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
No plano supranacional, assume um crescente relevo a União Europeia, quer ao nível do chamado
“direito comunitário originário ou primário” (Direito dos Tratados), quer ao nível do “direito
comunitário derivado ou secundário” (direito dos órgãos comunitários). A União Europeia também
produz as suas normas e diferentemente da OIT, as normas que a União Europeia implanta vigoram
apenas na ordem interna.
Consiste numa relação com vocação para perdurar no tempo, relação esta que preenche, por
completo, a “vida laboral” do cidadão-trabalhador, existe uma relação bilateral em que o trabalhador
presta a respe9va a9vidade em prol de um único sujeito bem definido, que o remunera e que
conforma a sua conduta emi9ndo as correspondentes ordens e instruções, e é ainda uma relação que
se desenvolve num quadro empresarial (fábrica, estabelecimento comercial, etc.).
Não devemos, porém, confundir estas diferentes modalidades, e suas especificidades, com a
figura dos contratos de trabalho com regime especial (Art. 9º do CT), aos quais o CT não se aplica,
antes os diplomas especiais.
Com efeito, o contrato a prazo parece hoje consis9r num sonho para os empregadores (o
contrato a prazo como instrumento privilegiado de gestão, como instrumento de flexibilização
juslaboral), na exata medida em que o mesmo surge como um pesadelo para os trabalhadores (o
Sob a epígrafe “Segurança no Emprego”, lê-se no Art. 53º da CRP que “é garan9da aos
trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por
mo9vos polí9cos ou ideológicos”. Trata-se de um dos primeiros dos direitos, liberdades e garan9as
dos trabalhadores consagrados na nossa Lei Fundamental.
Diz-se que existe uma situação de liberdade condicional rela9vamente à contratação a termo.
Com isto, deixamos implícito que a nossa lei estabelece requisitos de verificação obrigatória para que
seja validamente celebrado um contrato de trabalho a termo:
1. Requisitos de ordem material: Prendem-se com o 9po e o elenco de situações
legi9madoras da contratação a termo.
2. Requisitos de ordem formal: Obriga à adequada documentação deste negócio
jurídico.
Assim, a lei delimita um círculo dentro do qual admite a contratação a prazo. O não
cumprimento de qualquer destes requisitos terá, em princípio, o mesmo efeito:
recondução do contrato ao modelo standard, considerando-se que aquele será um
negócio jurídico sem termo, de duração indeterminada (Art. 147º, nº1, a) e b) do
CT).
1. Requisitos Materiais:
Art. 140º, nº1 do CT: “o contrato de trabalho a termo resolu9vo só pode ser
celebrado para sa9sfação de necessidade temporária da empresa e pelo período
estritamente necessário à sa9sfação dessa necessidade”.
Este sistema de cláusula geral, estabelecendo a admissibilidade de
aprazamento do contrato de trabalho na sa9sfação de necessidades temporárias da
empresa, vem a ser complementado pelo nº2 do aludido ar9go, através de uma
enumeração exemplifica9va daquilo que se entende por “necessidade temporária da
empresa”:
Ou seja, para além das situações clássicas, em que o contrato de trabalho surge
como instrumento privilegiado de sa9sfação de necessidades temporárias, a nossa
ordem jurídica perspe9va esta modalidade contratual como um instrumento de
dinamização do inves9mento empresarial (al. a)) e como uma medida de fomento do
emprego (al. b)), em ambos os casos dando luz verde para se recorrer ao contrato a
termo tendo em vista a sa9sfação de necessidades permanentes de trabalho.
O Doutor Leal Amado diz que é indiscuivel que este Art. 140º do CT ilustra, de forma cabal,
as tensões que atualmente assolam o Direito do Trabalho. Um direito em que a lógica “social”,
clássica, que pauta os dois primeiros números do ar9go – o emprego deve ser estável –, se confronta
com uma lógica “económica”, pós-moderna – o emprego, ainda que precário é preferível ao
desemprego.
2. Requisitos Formais:
São necessários, ainda, requisitos de ordem formal para que tal contrato
precário seja validamente celebrado.
Art. 141º, nº1 do CT: “O contrato de trabalho a termo está sujeito a forma
escrita e deve conter:
a) Iden9ficação, assinaturas e domicílio ou sede das partes;
b) A9vidade do trabalhador e correspondente retribuição;
c) Local e período normal de trabalho;
d) Data de início do trabalho;
e) Indicação do termo es9pulado e do respe9vo
mo9vo jus9fica9vo;
f) Datas de celebração do contrato e, sendo a termo certo, da respe9va
cessação.”
Termo Certo
Quando as partes aceitam um negócio jurídico com uma cláusula de termo resolu9vo certo,
significa que a cessação desse mesmo negócio fica colocada na dependência de um evento futuro
duplamente certo: sabe-se que ele irá ocorrer e sabe-se a data em que ele irá ocorrer. Em sede de
contrato de trabalho, é esta a modalidade mais difundida de contrato a termo.
As partes celebram o contrato e es9pulam, por exemplo, que o mesmo terá a duração de 6 meses
ou de 1 ano. Ou celebram o contrato, dispondo que ele terminará num determinado dia.
b) Segundo o Art. 148º. nº2 do CT, o contrato só poderá ser celebrado por
prazo inferior a 6 meses nas situações previstas nas als. a) a g) do nº 2
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1º Turma
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do Art. 140º do CT, caso em que a respe9va duração não poderá ser
inferior à prevista para a tarefa ou serviço a realizar. Logo, se o
fundamento da contratação a termo certo for o da al. h) do nº 2 do Art.
140º do CT, ou se for o nº 4 do mesmo ar9go, ou ainda se o contrato se
basear, tão-só, na cláusula geral do nº 1, em todos estes casos
encontrará aplicação limite mínimo de 6 meses de duração (Art. 148º,
nº2 do CT). E sendo esta norma violada, o contrato considerar-se-á
celebrado pelo prazo de 6 meses, contanto que corresponda à
sa9sfação das necessidades temporárias da empresa (Art. 148º, nº3 do
CT);
Deve-se, no entanto, fazer ainda umas três notas suplementares quanto a este
mecanismo de renovação do contrato de trabalho a termo certo:
a) A regra da renovação automá9ca possui um caráter suple9vo, pois a
caducidade poderá operar automa9camente, desde que tal se encontre
previsto no contrato. Com efeito, Art. 149º, nº1 do CT dispõe que “as partes
podem acordar que o contrato de trabalho a termo certo não fica sujeito a
renovação.” Neste caso, dirse-ia que a regra civilista da caducidade
automá9ca se aplicaria e o contrato ex9nguir-se-á pelo simples decurso do
prazo.
Termo Incerto:
Se o contrato a termo é admi9do pelo nosso ordenamento jus-laboral com algumas reservas,
pode dizer-se que essas reservas se adensam quando se trata do contrato a termo incerto. Aqui, o
trabalhador vêse colocado numa situação de maior instabilidade, visto que, ao contrário do que
sucede no contrato a prazo certo, as partes não preveem com exa9dão a data em que o contrato se
irá ex9nguir. O termo incerto carateriza-se, justamente, por ser um evento certo quando à sua
verificação, mas incerto quanto à data em que a mesma irá ocorrer.
Trabalho Temporário
Este esquema contratual aipico em que se traduz este fenómeno liga três sujeitos (o trabalhador
temporário, a empresa de trabalho temporário e a empresa u9lizadora) através de dois negócios
jurídicos diferentes:
1. O contrato de trabalho celebrado entre uma empresa de trabalho temporário e o
trabalhador, pela qual este se obriga, mediante retribuição daquela, a prestar
temporariamente a sua a9vidade a u9lizadores, mantendo o vínculo jurídico-laboral à
empresa de trabalho temporário;
2. O contrato de u9lização de trabalho temporário, contrato de prestação de serviço
celebrado entre um u9lizador e uma empresa de trabalho temporário, pelo qual esta
Este esquema contratual aipico tem vindo a crescer. E logo surgem os problemas que se coloca
ao ordenamento jurídico-laboral, pois, de algum modo, a posição contratual do empregador
desmembra-se em duas:
1. A da empresa de trabalho temporário (que contrata, remunera e exerce o poder
disciplinar sobre o trabalhador)
2. A da empresa u9lizadora (que incorpora, durante algum tempo, um trabalhador que
não contratou, exercendo sobre ele os poderes de direção e autoridade que
9picamente assistem à en9dade empregadora).
Quanto às relações contratuais entre as três en9dades referidas, convém notar que o
contrato que liga o trabalhador temporário à empresa de trabalho temporário pode, mas não tem
de ser, um contrato a termo. A expressão “trabalho temporário” pode revelar-se enganadora. Ela
serve para transmi9r a ideia de que o trabalhador se obriga a prestar temporariamente a sua
a9vidade a u9lizadores. Mas, segundo a lei, o vínculo contratual daquele tanto poderá ter um
caráter precário – “contrato de trabalho temporário” (Art. 172º a) do CT). – como estável –
“contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência” (Art. 172º b) do CT).
Pelo caráter mul9funcional que o contrato de trabalho a tempo parcial permite, não espanta
que o nosso legislador dedique especial atenção na sua disciplina e fá-lo nos Arts. 150º a 156º do CT,
definindo trabalho a tempo parcial como aquele “que corresponda a um período normal de trabalho
semanal inferior ao pra9cado a tempo completo em situação comparável” (Art. 150, nº1 do CT).
Como se lê Art. 150º, nº3 do CT, a lei admite duas modalidades de trabalho a tempo parcial:
1. Trabalho a tempo parcial verEcal: Trabalha poucos dias, mas muitas horas.
Por ex.: Trabalhador que apenas labora dois dias por semana.
2. Trabalho a tempo parcial horizontal: Trabalha todos os dias, mas poucas
horas. Por ex.: Trabalhador que labora 4 horas diárias, 5 dias por semana.
Tudo dependerá do acordo das partes, que deverá ser reduzido a escrito, sob pena de o contrato
ser considerado como celebrado a tempo completo (Art. 153º, nº 3 do CT).
De resto, a atenção do legislador para com trabalho a tempo parcial é tanta que, não obstante
este remeta, diversas vezes, para a contratação cole9va (Arts. 150º, nº 5, 152º e 154º), nãoo deixa
igualmente de estabelecer um limite infranqueável e sintomá9co: nos termos do Art. 151º do CT, “a
liberdade de celebração de contrato de trabalho a tempo parcial não pode ser excluída por
instrumentos de regulamentação cole9va de trabalho”.
De entre as seis modalidades aipicas de contrato de trabalho previstas no CT, o trabalho a tempo
parcial é o único a que se pode recorrer livremente e sem limites.
Quanto às condições de trabalho aplicáveis aos trabalhadores a tempo parcial, valem as diretrizes
constantes do Art. 154º, nº2 do CT, que se inspiram no necessário respeito pelo princípio da
igualdade, na sua dupla vertente: iden9dade de tratamento para situações iguais (regra da
equivalência ou da equiparação) e diferenciação de tratamento para situações dis9ntas, de acordo
com a medida da diferença (regra da proporcionalidade).
Trabalho intermitente
Trata-se de uma modalidade contratual que poderá ser u9lizada em empresas que exerçam
“a9vidade com descon9nuidade ou intensidade variável” e que se caracteriza pela circunstância da
prestação de trabalho ser “intercalada por um ou mais períodos de ina9vidade” (Art. 157º, nº 1 do
CT).
Tendo em conta o disposto nos Arts. 158º a 160º do CT, afigura- se que o contrato de trabalho
intermitente é genus composto por duas espécies. Em qualquer espécie de contrato de trabalho
intermitente este deverá conter a indicação do número anual de horas de trabalho ou do número
anual de dias de trabalho (Art. 158º, nº1 b) do CT), o que significa que o volume anual de trabalho, o
quantum da prestação laboral, terá de ser programado pelos sujeitos. Haverá casos em que também
o quando da prestação será previamente definido, isto é, em que as partes estabelecem no contrato
o início e o termo de cada período de trabalho (Art. 159º nº 1 (1ª parte) do CT), ao passo que noutros
o quando da prestação já não é antecipadamente definido, obrigando-se o trabalhador a responder
às solicitações da en9dade empregadora (Art. 159º, nº 1 do CT).
Assim sendo, poder-se-á concluir que o trabalho intermitente previsto na nossa lei desdobra-se em
duas submodalidades: o Trabalho Alternado (Primeiro caso) e o Trabalho à Chamada (Segundo caso).
b) Por outro lado, e agora no plano jurídico, acontece ainda que o exercício
dessa outra a9vidade laboral não poderá representar uma violação do
dever de lealdade a que o trabalhador intermitente se encontra vinculado
face ao respe9vo empregador – Art. 160º, nº5 do CT: “durante o período de
ina9vidade, mantêm-se os direitos, deveres e garan9as das partes que não
pressuponham a efe9va prestação de trabalho”.
Assim sendo, não parece que reste grande espaço para esperar que o trabalhador
intermitente aproveite a faculdade concedida pelo nº1 da mesma norma, para se
dedicar a outra a9vidade laboral durante o “período de ina9vidade”.
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1º Turma
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A manutenção, durante o período de ina9vidade, dos direitos, deveres e garan9as das
partes que não pressuponham a efe9va prestação de trabalho (Art. 160º, nº5 do CT),
diz-nos que, no período de ina9vidade laboral o contrato não se ex9ngue, não se
interrompe nem, dir-se-ia, se suspende. Verdadeiramente, ele cumpre-se dessa forma,
a ina9vidade do trabalhador corresponde a um dos seus modos de ser, à normal
execução do contrato. Assim, esta norma prende-se com aspetos como os referentes
aos poderes patronais (poder de direção e poder disciplinar, aquele afetado e este
intacto durante os períodos de ina9vidade) ou à an9guidade do trabalhador (o período
de ina9vidade não deixa de ser computado para este efeito).
Comissão de Serviço
A comissão de serviço consiste numa cláusula acessória que poderá ser oposta ao contrato de
trabalho quando em causa esteja um certo 9po de funções a desempenhar pelo trabalhador,
caraterizadas, todas elas, por uma especial relação de confiança interpessoal.
Cargos que podem ser exercidos em regime de comissão de serviço (Art. 161º do CT):
- Cargos de direção;
- Funções de secretariado;
- Funções cuja natureza suponha também especial relação de confiança em relação a
9tular daqueles cargos e funções de chefia (se tal for previsto pelo IRCT);
Trata-se, necessariamente, de relações marcadas por um par9cular traço fiduciário. Mas, não se
trata de um estatuto reservado, em exclusivo, aos chamados “trabalhadores dirigentes”. Pode haver
trabalhadores que não desempenhem funções dirigentes em regime de comissão de serviço, assim
como trabalhadores dirigentes a que este regime não seja aplicado.
Neste quadro, não é legí9mo recorrer à contratação em regime de comissão de serviço para
o provimento de funções que exorbitem do círculo de situações demarcado pela lei. Caso tal suceda,
a cláusula da comissão de serviço será nula, valendo o contrato como contrato de trabalho ipico,
standard.
Ana Luísa Mar+ns 29
1º Turma
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Quem pode exercer os mencionados cargos em regime de comissão de serviço? (Art. 162º, nº1 do
CT):
b) No segundo caso, pelo contrário, teremos a Comissão de Serviço “sem sen9do amplo”, de
trabalhador “externo”, contratado ex novo para o efeito, já em regime de comissão de
serviço.
O contrato de trabalho em comissão de serviço está sujeito a forma escrita devendo conter a
indicação do cargo ou funções a desempenhar, com menção expressa do regime da comissão de
serviço (Art. 162º, nº3 do CT). A inobservância da forma escrita ou a falta desta menção implicará que
o contrato não se considere em regime de comissão de serviço (Art. 162º, nº 4) do CT.
Ora, como a lei reconhece a ambas as partes a faculdade de denunciar livremente a comissão de
serviço (Art. 163º, nº1 do CT) surge um problema jurídico-cons9tucional: a livre ex9nção da comissão
de serviço por decisão unilateral do empregador, ao implicar a cessação da relação laboral e na
medida em que necessariamente a implique, viola o Princípio da Causalidade do Despedimento, ou
seja, viola a garan9a cons9tucional da segurança no emprego e a proibição dos despedimentos sem
justa causa, colocando, assim, em crise o Art. 53º da CRP.
Ana Luísa Mar+ns 30
1º Turma
2020/2021
Importa sublinhar: não se contesta a faculdade de qualquer das partes pôr temo à comissão de
serviço; tal corresponde à lógica do ins9tuto, mecanismo flexível de prover cargos de especial
confiança, marcado pela ideia de transitoriedade.
O que se contesta, numa ó9ca jurídico-cons9tucional, é que tal ex9nção livre e imo9vada acarrete a
morte da relação laboral, isto é, a perda do emprego para o trabalhador. A comissão de serviço pode
e deve ser transitória, mas o emprego não tem de ser (nem deveria ser) precário.
Daí que, em bom rigor, é necessário fazer uma dis9nção, não só entre comissão de serviço
“interna” e comissão de serviço “externa”, mas ainda, dentro desta comissão de serviço com e sem
garan9a de emprego.
Neste úl9mo caso, aquilo que temos é um trabalhador que pode ser livremente despedido pelo
empregador, através da simples via da denúncia imo9vada da comissão de serviço. E, se esta solução
pode gerar dúvidas quando se trate de cargos de direção, agrava-se ainda mais porque a lei prevê a
aplicabilidade da comissão de serviço para funções de secretariado e para outras que sejam previstas
por IRCT. É certo que nesta hipótese, o trabalhador terá direito a receber uma indemnização conforme
decorre do Art. 164º, nº 1 c) do CT. Mas obviamente, isso não basta para isentar as normas em
questão de um juízo de censura cons9tucional – apesar da opinião do curso ser discordante, o próprio
TC, através do Acórdão nº 338/10, entende que esta figura não sofre de incons9tucionalidade.
Tratando-se, pelo contrário, de uma comissão de serviço “com garan9a de emprego” (comissão
interna, ou externa em que as partes acordam na sobrevivência da relação após o termo da comissão,
ao abrigo do Art. 162º, nº 2 do CT), então a cessação da comissão implicará que o trabalhador se
mantenha ao serviço da empresa, exercendo “a a9vidade desempenhada antes da comissão ou a
correspondente à categoria a que tenha sido promovido ou, ainda, a a9vidade prevista no acordo
referido nas als. c) e d) do Art. 162º” (Art. 164º, nº1 a) do CT). De qualquer modo, se a comissão
terminar por decisão do empregador, o trabalhador poderá optar por “resolver o contrato nos 30 dias
subsequentes àquela decisão, com direito a receber uma indemnização calculada nos termos do Art.
366º” (Art. 164º, nº 1 b) do CT).
Teletrabalho
Cada vez mais trabalhadores vão prestando a sua a9vidade, ainda que em moldes
héteroconformados, fora da empresa, inclusive no próprio domicílio. E este fenómeno tem-se
acentuado nas sociedades pós-industriais em que vivemos, marcadas por um forte progresso
cienifico e tecnológico, através do chamado teletrabalho.
Com o teletrabalho a situação ipica inverte-se, sendo o trabalho que, de algum modo, se desloca
até ao trabalhador. E as novas tecnologias permitem, justamente, vencer a distância, sendo hoje
concebível a existência de uma relação marcada por uma acentuada subordinação jurídica e por um
apertado controlo da prestação por banda do empregador entre dois sujeitos separados por muitos
quilómetros – a chamada Telesubordinação.
Essa a9vidade tanto poderá passar a ser exercida por um trabalhador “ipico” da empresa
(teletrabalho interno) como por um trabalhador admi9do em regime de teletrabalho (teletrabalho
externo).
Importa dis9nguir que, neste úl9mo caso, a liberdade contratual vigora sem embaraços, isto é, o
teletrabalhador pode sê-lo por período determinado ou a itulo defini9vo e as partes poderão, por
mútuo acordo, modificar esse contrato, passando o teletrabalhador a laborar no regime dos demais
trabalhadores da empresa, seja a itulo defini9vo seja por período determinado (Art. 166º, nº6 do
CT). Já no primeiro caso, a lei mostra-se mais cautelosa quanto à faculdade de as partes modificarem
o contrato de trabalho, convertendo-o num contrato para prestação subordinada de teletrabalho,
dado que não permite que tal modificação opere a itulo defini9vo, estabelecendo, antes, como
limite máximo o período inicial de três anos, decerto por uma questão de prudência, desta forma
permi9ndo que o teletrabalhador retome a prestação “normal” de trabalho caso alguma das partes
assim o deseje no termo do prazo acordado (Art. 167º, nº1 do CT). Acresce que este acordo
modifica9vo poderá ainda ser denunciado por qualquer dos sujeitos, durante os primeiros 30 dias da
sua execução (Art. 167º, nº 2 do CT). O que, uma vez mais, prova que a lei encara com mais reserva a
passagem do trabalho ipico para o teletrabalho do que a hipótese inversa.
“A capacidade para celebrar contrato de trabalho regula-se nos termos gerais do direito e pelo
disposto neste Código” (Art. 13º do CT).
Sabe-se que a capacidade jurídica, ou capacidade de gozo, consiste na ap9dão para ser 9tular
de determinadas relações jurídicas (Art. 67º do CC). E sabe-se que a capacidade de agir, ou capacidade
de exercício, consiste na ap9dão para atuar juridicamente por ato próprio e exclusivo, isto é, para
atuar pessoal e autonomamente.
O contrato de trabalho não trata apenas de salvaguardar a posição do menor enquanto sujeito
que emite uma determinada declaração de vontade, mas sobretudo de evitar que a execução do
contrato comprometa o normal e saudável desenvolvimento do menor, bem como a sua educação e
adequada formação. Daí que o regime jurídico oscile, em função dos trabalhos a prestar.
2. Regra geral, “a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 anos” (Art.
68º, nº 2 do CT);
3. Todavia, “o menor com idade inferior a 16 anos que tenha concluído a escolaridade
obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de educação pode
prestar trabalhos leves que consistam em tarefas simples e definidas que, pela sua
natureza, pelos esforços fsicos ou mentais exigidos ou pelas condições especificas em
que são realizadas, não sejam susceiveis de o prejudicar no que respeita à integridade
fsica, segurança e saúde, assiduidade escolar, par9cipação em programas de
orientação ou de formação capacidade para beneficiar da instrução ministrada, ou
ainda ao seu desenvolvimento fsico, psíquico, moral, intelectual e cultural” (Art. 68º,
nº 3 do CT);
4. Em sen9do inverso, “os trabalhos que, pela sua natureza ou pelas condições em que
são prestados, sejam prejudiciais ao desenvolvimento fsico, psíquico e moral dos
menores são proibidos ou condicionados por legislação específica” (Art. 72º, nº 2 do
CT ).
O Art. 70º do CT, ins9tui um sistema gradualista a que acima se fez alusão. Assim é que:
a) O contrato celebrado diretamente com o menor que não tenha completado 16 anos de idade
(“trabalhos leves”), ou não tenha concluído a escolaridade obrigatória ou não esteja
matriculado e a frequentar o nível secundário só é válido mediante autorização escrita dos
seus representantes legais (Art. 70º, nº 2 do CT);
b) O contrato de trabalho celebrado por menor que tenha completado 16 anos de idade e tenha
concluído a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário
de educação é válido, salvo oposição escrita dos seus representantes legais (Art. 70º, nº 1 do
CT).
Nos casos do nº 1 a lei basta-se com uma omissão dos representantes (a não oposição) para a
respe9va validade. Nos casos do nº 2, pelo contrário, a lei exige um ato posi9vo dos representes legais
do menor (autorização) para que o contrato de trabalho por este celebrado seja válido.
Para o curso, isto significa que, nos casos do nº 2, o menor carece de capacidade negocial de
exercício para celebrar o contrato de trabalho, visto que ele, embora atue pessoalmente e por ato
próprio, não atua exclusiva e autonomamente. Ele carece da autorização dos seus representantes,
sem a qual o contrato não será válido – o que implica que nos deparamos com um esquema aipico
do suprimento da incapacidade de exercício dos menores, através do ins9tuto da assistência e não
da representação legal.
Com efeito, e ao contrário do que é ipico da representação legal enquanto forma de suprimento
da incapacidade, aqui o representante legal não se subs9tui ao menor na atuação jurídica, celebrando
ele mesmo o contrato em lugar, nome e no interesse deste. Aqui, quem celebra o contrato é o próprio
menor, mediante a permissão dos representantes legais.
No que toca à capacidade para receber retribuição devida pelo seu trabalho, a lei determina
que, em princípio, o menor dispõe da mesma, “salvo oposição escrita dos seus representantes legais”
(Art. 70º, nº 3 do CT). Ou seja, a lei parece permi9r que os representantes, por um lado,
autorizem/não se oponham à celebração do contrato pelo menor, mas já se venham opor a que este,
prestado que seja o trabalho, receba a correspondente retribuição. O curso não nutre especial
simpa9a pela referida norma. O menor a trabalhar e os representantes legais a receberem a
contrapar9da do trabalho daquele, eis um quadro, que julga-se, conviria rever.
O contrato de trabalho não é definido por aquilo que se faz, mas sim pelo modo como se faz.
Com efeito, qualquer a9vidade humana desde que lícita e apta para a sa9sfação de um interesse do
credor digno de tutela jurídica, pode cons9tuir objeto deste contrato.
Valem para o contrato de trabalho os requisitos gerais do objeto negocial, enunciadas pelo Art.
280º do CC: o objeto fsica e legalmente possível, conforme a lei, determinável, conforme à ordem
pública e não ofensivo aos bons costumes.
Embora o Art. 25º, nº1 do CT afirme que o empregador não pode pra9car qualquer
discriminação direta ou indireta, em razão dos fatores referidos no nº 1 do Art. 24º do CT, Art. 25º,
nº2 do CT não deixa de esclarecer, prudentemente, que “não cons9tui discriminação o
comportamento baseado em fator de discriminação que cons9tua um requisito jus9ficável e
determinante para o exercício da a9vidade profissional, em virtude da natureza da a9vidade em causa
ou do contexto da sua execução, devendo o obje9vo ser legí9mo e o requisito proporcional”. (pense-
se, por exemplo, no domínio de uma certa língua, imprescindível para o exercício de algumas
profissões).
Acrescente-se, de resto, que a lei revela abertura para algumas diferenças de tratamento
baseadas na idade “que sejam necessárias e apropriadas à realização de um obje9vo legí9mo,
designadamente de polí9ca de emprego, mercado de trabalho ou formação profissional” (Art. 25º,
nº3 do CT) matéria esta muito sensível, pela crescente tendência para a discriminação dos candidatos
a trabalhadores seniores. Talvez por isso, o nº 4 do Art. 25º do CT determina que as disposições legais
ou de IRCT que estabeleçam tais diferenciações “devem ser avaliadas periodicamente e revistas se
deixarem de se jus9ficar”.
Já com o princípio da não discriminação o que se pretende é que se trate de modo igual o que é
diferente, por se entender que a diferença é totalmente irrelevante para os efeitos 9dos em conta” –
Jorge Leite.
Pelo exposto, há que reconhecer que entre os princípios da liberdade contratual e da não
discriminação se estabelece, por vezes, uma relação de forte tensão. Sobretudo quando as empresas
obedecem a uma outra lei superior, a lei do mercado: é que, nos nossos dias, a lei do mercado parece
ditar o emprego precário para os jovens e dificuldade extrema de obter emprego para os mais velhos.
É certo que, desde sempre, o papel do Direito do Trabalho tem consis9do em colocar limites ao livre
jogo do mercado, mas também é inegável que as prá9cas discriminatórias em razão da idade são
muito difceis de combater, sobretudo numa sociedade como a portuguesa – uma sociedade cada vez
mais idosa, mas, crescentemente marcada pelo fascínio da eterna juventude.
Ainda que esta disposição legal se limite a mime9zar o Art. 227º do CC, o certo é que, em
sede laboral, a fase pré-contratual assume uma delicadeza especialmente par9cular, em virtude da
disparidade de poder entre os sujeitos e da posição de extrema vulnerabilidade em que,
normalmente, o candidato a trabalhador se encontra.
O empregador não pode colocar este 9po de questões. Mas a pergunta é: E se o fizer? E se o
empregador violar estas restrições? Quid Juris?
Com efeito, só por extrema ingenuidade se ignorará que o silêncio, nestes casos,
comprometerá irremediavelmente as hipóteses de emprego do candidato. Na ó9ca do curso, julga-
se que, neste 9po de casos, o único meio susceivel de preservar a possibilidade de acesso ao
emprego e de prevenir prá9cas discriminatórias consiste em o trabalhador não se calar, antes dando
ao empregador a resposta que ache que ele pretende ouvir (e assim, eventualmente, men9ndo).
Prá9ca contrária à boa fé? Comportamento doloso do candidato? Pensamos que não. A boa fé não
manda responder com verdade a quem coloca questões ilegí9mas e imper9nentes. Quando o
candidato ou o trabalhador responde com men9ra a uma questão que não tem relevância para a
prestação da a9vidade, não há aqui dolo, nem a nulidade do contrato, não havendo assim qualquer
9po de consequência para o trabalhador.
Este direito à men9ra só exis9rá em face a questões ilícitas. Se o candidato a trabalhador não
responder com verdade a perguntas legí9mas e per9nentes, sujeitar-se-á às devidas consequências,
Confirmando a regra estabelecida para os negócios jurídicos em geral (Art. 129º do CC),
também no domínio do contrato de trabalho vigora o princípio da liberdade de forma. Este não é, por
isso, um negócio solene, antes bastando, para que seja validamente cons9tuído, o encontro de
vontades entre os respe9vos sujeitos, vontades que se ajustam “na sua comum pretensão de produzir
resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte”.
Apesar de voluntária, a redução a escrito do contrato de trabalho acarreta conhecidas vantagens, seja
por permi9r uma maior ponderação das partes, seja por resultar numa formulação mais precisa da
vontade dos sujeitos, facilitando a respe9va prova.
De todo o modo, se a regra geral é, neste campo, a da consensualidade, o certo é que existem
numerosas situações em que a lei do trabalho se afasta da regra, sujeitando as declarações negociais
a forma escrita.
Quando a lei exige a forma escrita para determinado contrato de trabalho, será que a inobservância
daquela implica, em princípio, a nulidade do contrato (Art. 220º do CC)?
Não, nem sempre. Com efeito, boa parte das situações em que a lei do trabalho exige a
redução do contrato a forma escrita, reconduz-se às chamadas situações dos “contratos de trabalho
aipicos”. Assim, compreende-se que a inobservância da forma escrita determine a recondução do
contrato ao modelo standard. Porém, há casos em que a inobservância da forma escrita determina a
invalidade do contrato de trabalho (pense-se, por exemplo, no caso dos pra9cantes despor9vos
profissionais).
Período Experimental
Regime Jurídico
É a primeira fase do ciclo vital do contrato, fase em que o vínculo jurídico-laboral revela ainda
uma grande fragilidade, apresentado escassa consistência e sendo facilmente dissolúvel por qualquer
das partes.
O período experimental funciona, na verdade, como uma figura cautelar, possibilitando uma
cer9ficação mútua: o empregador cer9fica-se de que o trabalhador possui as ap9dões laborais
necessárias para o completo desempenho das funções ajustadas; e o trabalhador cer9fica-se de que
as condições de realização da sua a9vidade profissional são as esperadas. Compreende-se por isso
que, em princípio, durante o período experimental qualquer das partes possa denunciar o contrato
sem aviso prévio, e sem necessidade de invocação de justa causa, não havendo lugar a qualquer
indemnização (Art. 114º, nº 1 do CT).
É certo que o Art. 114º, nº2 do CT obriga o empregador a conceder ao trabalhador um aviso
prévio de 7 dias, caso decida denunciar o contrato depois de o período experimental já ter durado
mais de 60 dias. E, no caso de tal período já ter durado mais de 120 dias, o aviso prévio deverá ser 15
dias (nº3). Convém notar, em todo o caso, que a inobservância do aviso prévio apenas sujeita o
empregador ao pagamento da retribuição correspondente ao período em falta, nos termos do nº 4
daquele ar9go.
À luz do nosso ordenamento jurídico, o período experimental consiste num elemento natural
do contrato, não carecendo de ser es9pulado para exis9r, antes carecendo de ser expressamente
excluído (por escrito) para não nascer, juntamente com o contrato (Art. 111º, nº 3 do CT).
O período experimental começa a contar-se a par9r do início da execução contrato, não sendo
9dos em conta, os dias de faltas, ainda que jus9ficadas, de licença e de dispensa, bem como os
períodos de suspensão do contrato (Art. 113º, nº 2 do CT).
O período experimental traduz-se, na verdade, num ins9tuto que coloca o trabalhador numa
posição de extrema vulnerabilidade, visto que nesse período, vigora a regra do despedimento livre.
O curso responde: não. Mas, o período experimental não será incons9tucional, mas é
inegável que ele se encontra colocado no limiar da incons9tucionalidade.
Num tal sistema, o empregador corre um risco rela9vamente elevado sempre que contrata
alguém – o risco de errar na escolha. Por isso, o ordenamento jus-laboral concede ao empregador
algum tempo para testar o trabalhador recém-contratado, para avaliar o seu desempenho
profissional, para ver como é que este se insere no novo ambiente de trabalho. Caso o trabalhador
não supere este teste, então, segundo a lei, o empregador poderá despedi-lo, sem necessidade de
mo9var a sua decisão ou de lhe pagar qualquer indemnização. Esta é, claramente a função central
desempenhada por este ins9tuto jurídico. O único requisito é que o empregador realize um aviso
prévio (Art. 114º do CT). Se esta questão do aviso prévio não for cumprida, o empregador terá de
pagar os dias em falta de aviso prévio (Art. 114º, nº4 do CT).
Durante quanto tempo poderá o ordenamento jurídico tolerar esta situação de extrema
vulnerabilidade e de acentuada precariedade do trabalhador?
O Empregador e a Empresa
Empresa e Direito do Trabalho
Como já foi referido anteriormente, o sistema legal procura concentrar esforços na salvaguarda
do emprego do trabalhador, com o intuito de garan9r que a transmissão da unidade económica não
implica a ex9nção do respe9vo contrato. Assim, verificada a transmissão, o trabalhador conserva o
emprego, ainda que a en9dade empregadora mude.
Porém, surge uma dúvida: A transmissão do contrato é uma regra que se impõe a todos os
intervenientes, inclusive ao trabalhador?
Em 2018, surgiu uma solução que pode ser exercida pelos trabalhadores, que consiste no direito
de oposição (Art. 286º-A do CT). Ao exercer este direito de oposição, a solução deixa de ser a
transmissão, e o trabalhador con9nua a manter o vínculo contratual com o transmitente. No entanto,
este direito de oposição, que é concedido aos trabalhadores, não é livre, veja-se no Art. 286º-A, nº1
do CT: “O trabalhador pode exercer o direito de oposição à transmissão da posição do empregador
no seu contrato de trabalho em caso de transmissão, cessação ou reversão de empresa ou
estabelecimento, ou de parte de empresa ou estabelecimento que cons9tua uma unidade
económica, quando aquela possa causar-lhe prejuízo sério, nomeadamente por manifesta falta de
solvabilidade ou situação financeira difcil do adquirente ou, ainda, se a políEca de organização do
trabalho deste não lhe merecer confiança”. Ou seja, para que este direito a oposição possa ser
invocado, o trabalhador tem de fazê-lo de forma escrita, tem de indicar qual dos fundamentos está a
invocar e tem, ainda, um prazo para o fazer (Art. 286º-A, nº3 do CT).
Porém, caso o empregador não disponha de outro negócio ocorre a caducidade do contrato de
trabalho. Consta no Art. 343º, al. b) do CT que: “O contrato de trabalho caduca nos termos gerais,
nomeadamente: Por impossibilidade superveniente, absoluta e defini9va, de o trabalhador prestar o
seu trabalho ou de o empregador o receber”.
Existe ainda outra solução para esta questão. A subs9tuição do empregador que decorre da
transmissão do estabelecimento ou empresa cons9tui, em si mesma e por si só, uma modificação
substancial do contrato de trabalho, que habilitará o trabalhador a resolver o contrato com justa
causa, ao abrigo do Art. 394º, nº 3 b) do CT. Trata-se, afinal, de dar expressão a princípios tão
fundamentais como são os da liberdade de trabalho, da liberdade contratual, da liberdade de o
trabalhador escolher para a pessoa em proveito de quem e às ordens de quem se compromete a
realizar a sua a9vidade profissional.
O respeito devido à dignidade do trabalhador enquanto pessoa implica que este possa opor-se,
rompendo, de imediato, a ligação contratual e assim fazendo abortar a transmissão do vínculo laboral
para o adquirente do estabelecimento. (Art. 286º-A do CT)
Assim, a cedência consiste num contrato através do qual uma en9dade empregadora cede
provisoriamente a uma outra, determinado trabalhador, conservando, no entanto, o vínculo jurídico-
laboral que com ele mantém e, daí, a sua qualidade de empregador.
Trata-se de uma figura a que se recorre, com par9cular frequência, no âmbito dos grupos
empresariais, consis9ndo num instrumento privilegiado para enquadrar as situações de mobilidade
interempresarial, sendo certo que a lei exige que se preencham determinados requisitos para que tal
cedência seja admi9da (Art. 129º, nº1 + Art. 289º, nº1 do CT):
a) Que o trabalhador esteja vinculado ao empregador cedente por um contrato sem termo;
b) Que a cedência ocorra entre sociedades coligadas em relação societária de par9cipações
recíprocas, de domínio ou de grupo, ou entre empregadores que tenham estruturas
organiza9vas comuns;
c) Que o trabalhador manifeste a sua vontade em ser cedido;
d) Que a duração de cedência não exceda um ano, renovável por iguais períodos até ao
máximo de cinco anos;
Diz-se então que o contrato de cedência é trilateral, uma vez que é necessário o consen9mento
das três partes envolventes no mesmo.
O ordenamento jurídico tem vindo a distanciar-se cada vez mais do mito da uniformidade de
estatuto do trabalhador subordinado, sendo cada vez mais exaltadas as ideias de diversidade
norma9va e de pluralidade de estatutos laborais.
O fator empresarial não tem deixado de dar o seu contributo para este processo de diversificação
norma9va, fazendo com que o Direito do Trabalho module as suas normas em função da dimensão
da empresa, enquadrando dis9ntamente as relações de trabalho consoante estas se desenvolvam em
ambiente de pequena, média ou grande empresa.
• Dilema dimensional
O Direito do Trabalho terá de fazer o seu caminho entre a sensibilidade e o bom senso. Isto é, as
normas do Direito do Trabalho deverão ter em conta a dimensão da empresa na qual o trabalho é
prestado (diferenciando o tratamento se e quando tal se jus9ficar), mas essas mesmas normas não
poderão violar o princípio cons9tucional da igualdade, introduzindo diferenciações discriminatórias
entre trabalhadores e assim criando “trabalhadores de segunda”.
Não se pode ignorar que ao Estado compete, por expressa incumbência cons9tucional, incen9var
a a9vidade empresarial, em par9cular das pequenas e médias empresas (Art. 86º, nº1 da CRP). Além
de que, o Tratado sobre o funcionamento da União Europeia estabelece que as dire9vas comunitárias
Porém, não significa que as ideias de tutela das microempresas e de promoção do emprego
possam funcionar como uma espécie de “salvo-conduto juslaboral”, que permita todo e qualquer
tratamento diferenciado para os respe9vos trabalhadores.
A relação laboral analisa-se numa relação de poder, na qual o trabalhador surge como sujeito
juridicamente subordinado e adstrito ao dever de obediência rela9vamente às ordens e instruções
do empregador.
Estamos aqui perante um genuíno poder puni9vo privado, através do qual um dos
sujeitos do contrato de trabalho pode cas9gar o outro contraente, caso entenda que
este cometeu uma qualquer infração disciplinar. A infração disciplinar consiste no
comportamento posi9vo ou nega9vo (a9vo ou omissivo), tem também de ser um
comportamento culposo (dolo ou negligencia), e tem ainda que corresponder a uma
violação dos deveres do trabalhador (Art. 121º do CT) Não há processo disciplinar, sem
a prá9ca de uma prévia infração disciplinar.
O trabalhador não é, apenas, um ser laborioso e produ9vo, alguém que se dedica a cumprir
escrupulosamente as múl9plas obrigações emergentes do contrato de trabalho. Antes e mais do que
trabalhador, ele é uma pessoa e um cidadão.
Ora, assim sendo, pergunta-se: Até onde vão os poderes empresariais neste domínio?
Alguns exemplos: pode o empregador u9lizar meios de vigilância à distância no local de trabalho,
com a finalidade de fiscalizar e controlar o desempenho profissional do trabalhador? Goza o
trabalhador de privacidade e confidencialidade rela9vamente ao conteúdo das mensagens que
envie e receba através do correio eletrónico da empresa? Pode o empregado monitorizar a navegação
feita na internet pelo trabalhador durante o período de trabalho e/ou nos intervalos de descanso?
O que temos aqui, quase sempre, é um problema de conflito de direitos (dir-se-ia: o conflito entre
a liberdade de empresa e a liberdade na empresa), a reclamar uma cuidada e laboriosa tarefa de
concordância prá9ca entre eles, de acordo com o princípio da proporcionalidade, na sua tríplice
dimensão (conformidade ou adequação, exigibilidade ou necessidade, proporcionalidade em sen9do
estrito). Nesta matéria, assis9mos, em suma, a uma dialé9ca aplicação/modulação, vale dizer:
a) A tutela da situação pessoal do trabalhador e a salvaguarda da chamada “cidadania na
empresa” pressupõe a aplicação/eficácia dos direitos fundamentais da pessoa humana no
âmbito da relação de trabalho;
Dito isto, resta saber como se alcança o equilíbrio desejado entre os direitos do trabalhador e os
interesses do empregador. O CT dispõe nos seus Arts. 14º a 22º (rela9vos, justamente, aos chamados
“direitos de personalidade”) alguns critérios que permitem chegar a um equilíbrio sobre estas
questões.
• O assédio no trabalho
Ora, um espaço com estas caraterís9cas cons9tui um palco privilegiado para os múl9plos e
diversificados fenómenos que integram o chamado “assédio moral” ou mobbing.
O assédio cons9tui, ainda hoje, um conceito juridicamente fluído e impreciso, podendo traduzir-
se em comportamentos muito diversificados. O assédio pode ser ver9cal ou horizontal:
1. Assédio verEcal: O assediante será, o próprio empregador ou um superior hierárquico do
trabalhador;
2. Assédio horizontal: O assédio ocorre entre trabalhadores onde existe uma relação
hierárquica paritária;
O assédio pode ser, ou não, intencional. Se o assédio for não discriminatório cabe ao próprio
trabalhador o ónus da prova (Arts. 342º, nº1 do CC e 25º, nº5 do CT)
O esvaziamento de funções do trabalhador, a sua colocação “na prateleira”, pode cons9tuir um dos
múl9plos comportamentos capazes de integrarem o conceito, juridicamente fluído e impreciso do
assédio ou mobbing – esta situação é par9cularmente aguda no âmbito do Direito do Desporto.
O CT define o assédio no Art. 29.º, nº2 e o nº 3 acrescenta o que cons9tui assédio sexual (“O
comportamento indesejado de caráter sexual, sob forma verbal, não verbal ou fsica, com o obje9vo
ou efeito referido no número anterior.”). Como se deve imaginar, muitas vezes, a um 9po de assédio
surge outro.
Quanto às possíveis consequências do assédio laboral (moral ou sexual), cumpre notar que:
a) A prá9ca de assédio confere ao trabalhador lesado o direito a ser indemnizado pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais sofridos nos termos gerais do direito (Art. 29º, nº4 do CT);
b) A prá9ca de assédio cons9tui contraordenação muito grave (Art.29º, nº5 do CT), pela qual
responde o empregador (Art. 551º, nº1 do CT);
d) A prá9ca de assédio pelo empregador cons9tuirá justa causa de resolução do contrato por
inicia9va do trabalhador, o mesmo sucedendo na hipótese de o empregador vir a revelar-
se conivente com o assédio promovido por um trabalhador em relação a outro (pense-se
“Cabe às partes determinar por acordo a a9vidade para que o trabalhador é contratado” (Art.
115º, nº1 do CT). Eis o chamado princípio da contratualidade do objeto. Como foi dito, aquando da
celebração do contrato de trabalho as partes devem acordar num conjunto de tarefas ou serviços
concretamente definidos ou individualizáveis, sob pena de eventual nulidade do contrato por
indeterminabilidade do objeto (Art. 280º do CC). Normalmente, o trabalhador é contratado para
exercer um 9po genérico de a9vidade, a que corresponde determinada categoria profissional ou
norma9va, compe9ndo à convenção cole9va (ou, talvez, ao regulamento interno) a definição das
várias tarefas ou funções que a integram. Daí que o nº2 daquele Art. 115º acrescenta que “a
determinação a que se refere o número anterior pode ser feita por remissão para categoria de IRCT
ou de regulamento interno de empresa”.
Acontece que as categorias constantes das CCT foram-se mul9plicando. Assim, a necessidade
de flexibilizar a gestão de mão-de-obra e o discurso da polivalência funcional acabaram por levar o
legislador a desmen9r o princípio da contratualidade do objeto do contrato de trabalho. Com efeito,
o Art. 118º, nº 2 do CT, logo adverte o intérprete: “A a9vidade contratada, ainda que determinada
por remissão para categoria profissional de instrumento de regulamentação cole9va de trabalho ou
regulamento interno de empresa, compreende as funções que lhe sejam afins ou funcionalmente
ligadas, para as quais o trabalhador tenha qualificação adequada e que não impliquem desvalorização
profissional.”. Ou seja, o legislador como que “corrige” ou “completa” as partes, assim se assis9ndo a
uma autên9ca redefinição ou reconfiguração legal do objeto do contrato de trabalho. Desta forma,
a categoria torna-se insuficiente em ordem à iden9ficação e delimitação do objeto contratual, a
categoria funciona como mero ponto de par9da para avaliar o referido objeto. A categoria converte-
A mobilidade funcional
Consagra-se, por sua vez, no Art. 118º, nº 1 do CT, o chamado princípio da invariabilidade da
prestação. É um princípio do desempenho de funções correspondentes à a9vidade para que se foi
contratado, ainda que tal a9vidade tenha sido automa9camente “alargada” pela lei.
Significa isto que a proteção legal aprovada àquela “a9vidade contratada” impede, em absoluto,
que ao trabalhador venha a ser exigido o desempenho de função que dela exorbitem?
Não. A lei atende, às exigências da flexibilidade empresarial, as quais reclama do trabalhador que
este seja “funcionalmente móvel”. Daí que Art. 120º, nº1 do CT estabeleça que o “empregador pode,
quando o interesse da empresa o exija, encarregar o trabalhador de exercer temporariamente
funções não compreendidas na a9vidade contratada, desde que tal não implique modificação
substancial da posição do trabalhador”.
Trata-se, no fundo, de uma alteração transitória de funções que, em princípio, não interfere na
a9vidade contratada. Por isso mesmo, o trabalhador não adquire a categoria correspondente às
funções temporariamente desempenhadas (Art. 120º, nº 5 do CT).
O trabalhador, por seu turno, ao celebrar este contrato, obriga-se a laborar sob a autoridade
e direção do empregador, em certo tempo e em certo lugar, sendo facto que, é em função desse
mesmo lugar que o trabalhador vai organizar a sua vida extraprofissional.
Sendo embora um conceito rela9vo ou elás9co, podendo ser dotado de uma amplitude ou
extensão variáveis, o certo é que, ainda assim, não poderá verificar-se uma total indeterminação do
local de trabalho, pois a situação de heterodisponibilidade do trabalhador tem de resultar, de algum
modo, espacialmente delimitada pelo contrato.
Com efeito, o trabalhador não se poderá obrigar a prestar toda e qualquer a9vidade, em todo
e qualquer lugar, sob a autoridade e direção do empregador. A exigência de determinação ou
determinabilidade do objeto do contrato de trabalho é incontornável, quer quanto ao 9po de funções
desempenhadas, quer quanto ao lugar de execução das mesmas.
De acordo com o disposto, no próprio Art. 280º do CC, o trabalhador comprometer-se-á, por
conseguinte, a prestar ao empregador uma a9vidade funcional, temporal e espacialmente delimitada
ou balizada, sob pena de, não o fazendo, acabar por se ver colocado numa posição próxima da servil.
3. Pacta sunt servanda, vale dizer, o contrato deverá ser pontualmente cumprido, não
podendo modificar-se por vontade unilateral de qualquer dos contraentes (Art. 406º,
nº1 do CC).
Nas palavras de Júlio Gomes, “o princípio de que os contratos devem ser pontualmente
cumpridos tem aqui como corolário que a en9dade patronal não pode, em princípio, transferir o
trabalhador sem o seu acordo.”
Note-se, em todo o caso, que o “local contratualmente definido”, coincidirá, em regra, com a
área da empresa, estabelecimento ou unidade produ9va que o trabalhador labore. É, nas palavras de
Menezes Cordeiro, o local de trabalho potencial, onde o empregador exercerá o seu poder de
direção, concre9zando o chamado local de trabalho efeEvo. Vale dizer, o local de trabalho potencial
resulta de es9pulação contratual, ao passo que o local de trabalho efeEvo resulta da direção patronal.
Art. 194º, nº1 do CT: O empregador pode transferir o trabalhador para outro local de trabalho,
temporária ou defini9vamente, nas seguintes situações:
a) “Em caso de mudança ou ex9nção, total ou parcial, do estabelecimento onde aquele presta
serviço”
(transferência coleEva);
b) “Quando outro mo9vo do interesse da empresa o exija e a transferência não implique prejuízo
sério para o trabalhador” (transferência individual);
De resto, este preceito estabelece que, no caso de transferência definiEva, o trabalhador poderá
resolver o contrato se 9ver prejuízo sério, abrangendo tanto a hipótese de transferência individual
como de transferência cole9va.
O que significa que, confrontado com uma ordem de transferência individual que lhe irá causar
prejuízo sério, o trabalhador poderá recusar-se a obedecer à ordem, seja no sen9do de con9nuar a
trabalhar no mesmo local, seja no sen9do de resolver o contrato com efeitos imediatos e com direito
a compensação.
A discrepância quanto ao prazo requerido (8 ou 30 dias) é compreensível, uma vez que, uma
transferência defini9va implica mudanças mais profundas na vida do trabalhador do que uma mera
transferência temporária.
Por seu turno, o nº 4 do Art. 194º do CT prescreve que “o empregador deve custear as despesas
do trabalhador decorrentes do acréscimo dos custos de deslocação e da mudança de residência ou,
em caso de transferência temporária de alojamento” Note-se que, tendo em conta o disposto nos nº
2 e 6 deste ar9go, o regime constante do nº 4 parece possuir um caráter “cole9vo-disposi9vo”, vale
dizer, poderá ser livremente afastado por IRCT, mas já não poderá ser afastado, em sen9do menos
favorável para o trabalhador, através de contrato individual de trabalho.
No que às cláusulas de mobilidade diz respeito, não parece, por exemplo, que as partes
possam limitar-se a convencionar que a en9dade patronal ficará com as mãos livres para fixar o lugar
de trabalho, sendo-lhe legí9mo, a todo o momento e por qualquer razão, transferir o trabalhador
para qualquer outro local. Julga-se, aliás, que semelhante cláusula levantaria problemas, desde logo,
ao nível de uma insuficiente determinação ou determinabilidade do objeto da prestação laboral.
Esta caducidade das cláusulas de mobilidade, caso não sejam a9vadas pelo empregador
durante o período de dois anos, traduz-se numa solução bem-intencionada e que se compreende: é
que o trabalhador pode aceitar essa cláusula enquanto ainda é jovem, sem grandes responsabilidades
familiares, mas não é razoável que, 10 ou 15 anos depois, quando a sua idade é outra e as suas
responsabilidades familiares também se alteraram, ela possa ser transferido para outro local ao
abrigo de semelhante cláusula.
O curso teme, no entanto, que esta tutela da caducidade ao fim de dois anos, se torne num
expediente perverso, pois, na prá9ca, ela incen9vará o empregador a fazer uso de tal cláusula de
mobilidade, a a9vá-la e a transferir o trabalhador, apenas em ordem a evitar que a mesma caduque.
A alterna9va consis9rá na celebração de novo acordo entre as partes, com o mesmo conteúdo, perto
do final de cada período de dois anos.
Sobre a especial tutela conferida, neste domínio, aos representantes dos trabalhadores, veja-
se o disposto no Art. 411º, nº1 do CT, em cujo se lê que “o trabalhador membro de estrutura de
representação cole9va dos trabalhadores não pode ser transferido de local de trabalho sem o seu
acordo, salvo quando tal resultar de ex9nção ou mudança total ou parcial do estabelecimento onde
presta serviço”. Tendo em conta o que acima se escreve sobre o regime geral da mobilidade geográfica
dos trabalhadores, logo se conclui o alcance da tutela reforçada concedida, nesta matéria, aos
representantes dos trabalhadores: em sede de transferência individual, a prerroga9va patronal de
transferir trabalhador, contanto que tal transferência não lhe cause prejuízo sério, não existe. Assim
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sendo, ainda que não haja prejuízo sério, quando se trate de um representante dos trabalhadores a
respe9va transferência individual sempre carecerá do seu acordo, por força do Art. 411º, nº1 do CT.
E justamente porque estes inconvenientes não existem nas hipóteses de transferência cole9va, a
especial tutela dos representantes dos trabalhadores em matéria de modificação do local de trabalho
já não é aplicada.
Em suma, o Art. 411º, nº1 do CT, do mesmo passo que circunscreve a tutela reforçada dos
representantes dos trabalhadores às hipóteses de transferência individual, consagra, quanto a estas
hipóteses, a garan9a da inamovibilidade em toda a sua extensão. Em qualquer caso, haja ou não
prejuízo sério, o trabalhador poderá opor-se à transferência desejada pela sua en9dade
empregadora. Esta transferência jamais lhe poderá ser imposta, mas apenas proposta pelo
empregador, e só com aprovação do trabalhadorrepresentante poderá vir a ocorrer.
QUID IURIS se um determinado trabalhador aceita a inclusão de uma cláusula de mobilidade no seu
contrato de trabalho, aquando da celebração do contrato, e, mais tarde, vem a ser eleito para
desempenhar funções numa qualquer estrutura de representação cole9va? Poderá o empregador
transferir este trabalhador para outro local de trabalho, baseando-se naquela es9pulação contratual
e prescindindo do consen9mento (atual) do trabalhador-representante?
Para o curso impõe-se uma resposta nega9va. Quando eleito representante dos
trabalhadores, o trabalhador torna-se mais do que uma simples parte do contrato. Ele representa
uma cole9vidade de trabalhadores. Caso se permi9sse à en9dade empregadora transferir o
trabalhador de local de trabalho, prescindindo do seu acordo e apoiando essa decisão na cláusula de
mobilidade inicialmente estabelecida, isso autorizaria o empregador a fazer, justamente, aquilo que
a lei quer evitar: usar a transferência como mecanismo persecutório/retaliatório e como meio de
desenquadrar o trabalhador do cole9vo que representa. Ou seja, a cláusula de mobilidade geográfica
não pode ser a9vada enquanto o trabalhador exerce funções de representação dos outros
trabalhadores. Ela é, de certa forma, suspensa.
O atual CT inovou em matéria de transferência de local de trabalho, dado que veio prever e
regular uma hipótese em que o trabalhador terá o direito de ser transferido para outro local de
trabalho. Trata-se da hipótese recortada pelo Art. 195º, nº1 do CT: “o trabalhador ví9ma de violência
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1º Turma
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domés9ca tem direito a ser transferido, temporária ou defini9vamente, a seu pedido, para outro
estabelecimento da empresa, verificadas as seguintes condições:
a) Apresentação de queixa-crime;
b) Saída da casa de morada de família no momento em que se efe9ve a transferência.”
Nesta situação, como se lê no nº2 do mesmo ar9go, “em situação prevista no número anterior,
o empregador apenas pode adiar a transferência com fundamento em exigências imperiosas ligadas
ao funcionamento da empresa ou serviço, ou até que exista posto de trabalho compaivel disponível”.
Atendendo à razão de ser do ar9go, compreende-se que, nos casos em que o empregador se
baseie no Art. 195º, nº2 do CT em ordem a adiar a transferência requerida pelo trabalhador, este
tenha direito a suspender o contrato de imediato, até que a transferência ocorra (Art. 195º, nº3,
confirmado pelo Art. 296, nº2 b) do CT). De resto, o CT concede ao trabalhador ví9ma de violência
domés9ca a possibilidade de suspender o contrato de trabalho, mesmo quando não exista outro
estabelecimento da empresa para o qual possa ser transferido (Art. 296º, nº2 a) do CT).
3. A resolução do contrato com justa causa subje9va, ao abrigo do Art. 394º, nº2 do CT;
Quando celebra um contrato de trabalho, o trabalhador, podemos dizê-lo, vende parte do seu
tempo.
Compreende-se, por isso, que o OJ se preocupe com esse tempo cedido, com determinar que
tempo será esse e quanto tempo será esse. A este propósito, devemos começar pela CRP: todos os
trabalhadores têm direito “ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao
descanso semanal e a férias periódicas pagas” (Art. 59º, nº1 d) da CRP), e o nº 2, al. b) do mesmo
ar9go acrescenta incumbir ao Estado “a fixação, a nível nacional, dos limites da duração do trabalho”.
Trata-se, aliás, de preocupações que acompanham o Direito do Trabalho desde a sua génese:
limitar o tempo de trabalho, tutelar a saúde, garan9r períodos de repouso para o trabalhador,
salvaguardar a sua autodisponibilidade, enfim, criar e preservar a própria noção de tempo livre.
Nesta matéria, a lei assenta no binómio tempo de trabalho/período de descanso, sendo certo
que o tempo de trabalho compreende dois módulos diferentes: o tempo de trabalho efeEvo (Art.
197º, nº1 do CT) e os períodos de inaEvidade equiparados a tempo de trabalho (os intervalos e
interrupções previstas no Art. 197º, nº2 do CT). Por sua vez, aquele tempo de trabalho efe9vo
corresponde, não apenas ao desempenho da prestação (“período durante o qual o trabalhador exerce
a sua a9vidade”), mas também ao tempo de disponibilidade para o trabalho (“ou permanece adstrito
à realização da prestação”). O período de descanso é recortado nega9vamente pela lei, consis9ndo,
nos termos do Art. 199º do CT, em todo aquele que não seja tempo de trabalho.
Depois de esclarecer o que se entende por tempo de trabalho e por período de descanso, a
lei procede à organização da dimensão temporal da prestação recorrendo a um conjunto de conceitos
operatórios básicos, dos quais cumpre destacar os dois que se seguem:
• Período normal de trabalho (Art. 198º do CT): Tempo de trabalho que o trabalhador se obriga
a prestar, medido em número de horas por dia e por semana (o quantum da prestação, a
determinação do volume de trabalho);
• Horário de trabalho (Art. 200º do CT): Determinação das horas de início e termo do período
normal de trabalho diário e do intervalo de descanso, bem como do descanso semanal (o
quando da prestação, a distribuição das horas que compõem o período normal de trabalho
ao longo do dia).
A fixação, em concreto, do período normal de trabalho cabe às partes, mas, em princípio, esse
período não poderá exceder oito horas por dia e quarenta horas semanais, segundo o Art. 203º, nº1
do CT.
O banco de horas foi introduzido pelo CT de 2009, na sua redação original, permi9ndo que
este mecanismo fosse gerado e moldado mediante instrumento de regulamentação cole9va (Art.
208º do CC). Só a autonomia cole9va poderia, pois, dar vida a este mecanismo.
Podemos ainda falar da existência de um “banco de horas grupal” (Art. 208º-B do CT) em que
dispensa o próprio acordo do trabalhador, caso se verifiquem determinados requisitos, na linha do
disposto em matéria de adaptabilidade grupal (Art. 206º do CT)
No que diz respeito à alteração do horário de trabalho, a lei manda aplicar o disposto sobre a sua
elaboração, com as especificidades constantes do Art. 217º do CT. Assim sendo:
b) Essa alteração deve ser precedida de consulta aos trabalhadores envolvidos e à respe9va
estrutura representa9va;
c) A alteração deve ser afixada na empresa com antecedência de sete dias rela9vamente ao
início da sua aplicação, ou três dias em caso de microempresa;
d) Não poderá ser unilateralmente alterado o horário que tenha sido individualmente
acordado;
Nos termos do Art. 232º, nº1 do CT, “o trabalhador tem direito a, pelo menos, um dia descanso por
semana” (descanso semanal obrigatório). Esse dia de descanso semanal coincidirá, em regra, com o
Domingo, mas, tendo em conta que a nova economia funciona 24h sobre 7 dias por semana, a lei não
deixa de prever diversos casos em que o descanso semanal pode deixar de ser gozado ao Domingo
(nº 2 do mesmo ar9go). Acresce que, por IRCT ou por contrato de trabalho individual, pode ser
ins9tuído um período de descanso semanal complementar, coninuo ou desconinuo (nº 3 do mesmo
preceito), geralmente ao Sábado.
Acontece que nem todos os trabalhadores dispõem de um horário de trabalho. Com efeito, o Art.
218º, nº1 do CT prevê que, por acordo escrito, poderá ser isento de horário de trabalho o trabalhador
que se encontre numa das seguintes situações:
a) Exercício de cargo de administração ou direção, ou de funções de confiança,
fiscalização ou apoio a 9tular desses cargos;
Neste quadro situacional, as partes poderão acordar numa das seguintes modalidades de
isenção de horário, previstas no Art. 219º do CT:
a) Isenção total: Sem sujeição aos limites máximos do período normal de trabalho (esta é, a
modalidade suple9va, como resulta do disposto no nº2 do mesmo ar9go);
O trabalhador isento de horário não ganha, antes perde, autodisponibilidade: é que o horário
baliza a situação de heterodisponibilidade do trabalhador, o qual sabe que, fora desse horário não
terá de se sujeitar ao poder dire9vo do empregador e prestar-lhe a correspondente a9vidade laboral.
Daí que a lei só admita a isenção num círculo rela9vamente limitado de situações prevendo o direito
a uma retribuição específica para o trabalhador isento de horários, em contrapar9da da
disponibilidade acrescida que lhe é exigida (Art. 265º do CT).
- Não exis9ndo termo, qualquer deles o poderá fazer cessar a todo tempo, contando que o
comunique à outra parte com a antecedência exigida pelo princípio da boa-fé.
Em todo o caso, esta é uma matéria em que importa ter em atenção as “proteções
discriminatórias”. Com efeito, até há poucos anos, as normas jus-laborais proibiam o trabalho noturno
das mulheres na indústria. Tal proibição, apesar de se inspirar numa preocupação protetora, tendiam
a reproduzir determinados estereó9pos sociais. Foi a aplicação do direito comunitário, com o seu
entendimento exigente do princípio da igualdade e da não discriminação em função do sexo, que pôs
termo a este 9po de normas discriminatoriamente tutelares.
Quanto ao trabalho suplementar, o mesmo encontra-se regulado nos Arts. 226º a 231º do CT,
com os seus efeitos retribu9vos a serem previstos no Art. 268º do CT. Destacam-se as seguintes notas
do respe9vo regime jurídico:
• Noção (Art. 226º do CT): Em princípio, considera-se trabalho suplementar todo aquele que é
prestado fora do horário de trabalho. Tratar-se-á, pois, de situações em que se verifica um
desvio em relação ao programa normal de a9vidade do trabalhador;
• Caráter excecional (Art. 227º, nº1 e 2 do CT): A lei consagra, ainda 9midamente, o caráter
excecional deste 9po de trabalho, visto que o mesmo apenas poderá ser prestado em dois
9pos de situações: quando a empresa tenha de fazer face a acréscimo eventual e transitório
de trabalho e não se jus9fique para tal a admissão de trabalhador (nº 1, critério da
necessidade) e em caso de força maior ou quando seja indispensável para prevenir ou reparar
prejuízo grave para a empresa ou para a sua viabilidade (nº 2, critério de indispensabilidade).
Estas são as situações em que a lei admite o recurso ao trabalho suplementar, quer o mesmo seja
unilateralmente decidido pelo empregador, quer haja acordo do trabalhador. Porém, não basta o
simples acordo do trabalhador para legi9mar o recurso a este 9po de trabalho, uma vez que, para
além de estar em jogo direitos fundamentais do trabalhador, estão também presentes interesses
gerais, supraindividuais (razões económicas e de polí9ca de emprego). Isto, claro, sem prejuízo de o
trabalho suplementar prestado contra a lei não isentar o empregador dos efeitos correspondentes
face ao trabalhador, seja em matéria de descanso compensatório, seja em matéria de majoração
remuneratória.
• Caráter obrigatório (Art. 227º, nº3 do CT): Preenchidos os requisitos jus9fica9vos, a lei
estabelece que “o trabalhador é obrigado a realizar a prestação de trabalho suplementar,
salvo quando, havendo mo9vos atendíveis, expressamente solicite a sua dispensa”. A letra da
lei é suficientemente ambígua para deixar a dúvida sobre se, afinal, basta que o trabalhador
invoque e prove a existência de mo9vo atendível para se poder escusar, licitamente, à
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1º Turma
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prestação de trabalho suplementar, ou se, pelo contrário, o acento tónico deve ser colocado
na dispensa a conceder pelo empregador, o qual seria juiz da atendibilidade do mo9vo
invocado.
Estes efeitos, ao mesmo tempo que desincen9vam o empregador de recorrer a esse 9po de
trabalho, es9mulam o trabalhador a prestá-lo. Talvez por isso, a lei esclarece que só será exigível o
pagamento de trabalho suplementar “cuja prestação tenha sido prévia e expressamente
determinada, ou realizada de modo a não ser previsível a oposição do empregador” (Art. 268º, nº2
do CT). O trabalhador não goza, portanto, de qualquer “direito a prestar trabalho suplementar”.
Feriados
Feriados são dias em que, pelo seu especial significado, se comemoram determinados
acontecimentos com projeção nacional (ou, em certos casos, local). Ora, nos termos do Art. 236º, nº1
do CT, nos “dias considerados como feriado obrigatório, têm de encerrar ou suspender a laboração
todas as a9vidades que não sejam permi9das aos domingos”. Daí que, reflexamente, os respe9vos
trabalhadores fiquem isentos do dever de prestar trabalho. E, conforme o Art. 269º, nº1 do CT “o
trabalhador tem direito à retribuição correspondente a feriado, sem que o empregador a possa
compensar com trabalho suplementar”.
A lei diz-nos quais são os feriados obrigatórios no Art. 234º, nº1 do CT, mas, acrescenta que,
“mediante legislação específica, determinados feriados obrigatórios podem ser observados na
segunda-feira da semana subsequente” (nº 3 do Art. 234º).
Além dos feriados obrigatórios, a lei admite que sejam observados, a itulo faculta9vo, mais
dois dias por ano (em princípio, a terça-feira de Carnaval e o feriado municipal da localidade), desde
que tal se encontre previsto em IRCT ou no contrato de trabalho (Art. 235º do CT). Note-se que os
feriados consagrados na lei (nos Arts. 234º e 235º do CT) são-no a itulo absolutamente impera9vo,
visto que as fontes inferiores não poderão estabelecer feriados diferentes desses (Art. 236º, nº2 do
CT).
As férias analisam- se, por um lado, num tempo de recuperação de energias e, por outro, num
tempo de autodisponibilidade do trabalhador-pessoa. Como se lê no Art. 237º, nº4 do CT, “o direito
a férias deve ser exercido de modo a proporcionar ao trabalhador a recuperação fsica e psíquica,
condições de disponibilidade pessoal, integração na vida familiar e par9cipação social e cultural”.
O trabalhador tem direito, em cada ano civil, a um período de férias retribuídas, que em regra
se vence no dia 1 de Janeiro (Art. 237º, nº1). E o nº 2, desse mesmo ar9go, acrescenta que o direito
a férias, em regra, se remonta ao trabalho prestado no ano civil anterior, mas não está condicionado
à assiduidade ou efe9vidade de serviço.
No entanto, existem duas hipóteses em que as faltas podem influenciar a duração das férias:
1. Imaginemos que um trabalhador dá um X número de faltas injus9ficadas e o
empregador aplica-lhe um processo disciplinar, tendo como sanção a perda de dias de
férias (Art. 328º, nº1 d) do CT);
Como as férias consistem numa rutura drás9ca com o quo9diano laboral e extralaboral, isso
irá gerar, inevitavelmente, um acréscimo de despesas para o trabalhador e respe9va família
(deslocação, alojamento, etc.). Em ordem a possibilitar que o trabalhador enfrente este previsível
aumento de gastos, o nº 2 do Art. 264º do CT, determina que, além da retribuição de férias prevista
no nº 1, o trabalhador terá, igualmente, direito a auferir um subsídio de férias.
O preceito vigente prevê que o montante deste subsídio compreende a “retribuição base outras
prestações retribu9vas que sejam contrapar9da do modo específico da execução do trabalho”.
O CT tenta auxiliar o intérprete quanto à noção de “retribuição base”, no seu Art. 262º, nº2
a) do CT: “prestação correspondente à a9vidade do trabalhador no período normal de trabalho”.
Mas o que deverá entender-se pelas tais “outras prestações retribuEvas que sejam
contrapar9da do modo espeífico da execução do trabalho”?
• Diuturnidades: prestação de natureza retribu9va a que o trabalhador tenha como direito
com fundamento na an9guidade;
• Subsídio por trabalho noturno ou em regime de turnos;
• Subsídio de risco;
• Subsídio de isolamento; • Subsídio de toxicidade;
• Etc.
No nosso exemplo, supondo que o contrato de trabalho se ex9nguiu, por qualquer mo9vo,
em Abril de 2020, isso implicará que o trabalhador deva auferir a retribuição e o subsídio
correspondentes às férias vencidas no dia 1 de Janeiro de 2020, férias que o trabalhador não chegou
a gozar (Art. 245º, nº1 a) do CT), bem como um montante proporcional ao tempo de serviço prestado
em 2020, pois a par9r do dia 1 de Janeiro começou a formar-se um novo direito a férias, que se
venceria plenamente a 1 de Janeiro de 2021, mas que se vence antecipada e parcialmente aquando
da ex9nção do vínculo laboral em Abril de 2020 (nº 1, al. b) do mesmo preceito).
Diz o CT, no Art. 241º, nº1 que: “O período de férias é marcado por acordo entre o empregador
e o trabalhador”. Mas, na falta de acordo, quem marca as férias é o empregador, após audição da
estrutura representa9va dos trabalhadores (nº 2). Porém, neste caso a lei estabelece alguns marcos
temporais que o empregador deverá respeitar: o de marcar o período de férias entre 1 de maio e 31
de outubro. Só assim não será se o IRCT ou o parecer dos representantes dos trabalhadores admi9r
época diferente, ou caso se trate de uma microempresa (Art. 241º, nº3 do CT).
Os períodos de férias mais pretendidos devem ser repar9dos, sempre que possível,
beneficiando alternadamente os trabalhadores em função dos períodos gozados nos dois anos
anteriores (nº 6).
Tendo os cônjuges e as pessoas que vivam em união de facto ou economia comum, que
laborem na mesma empresa, existe um direito a gozar férias simultaneamente, salvo se houver
prejuízo grave para a empresa (nº 7).
Tendo o período de férias sido marcado nos moldes supra descritos, a verdade é que o período
de férias poderá ser alterado, seja por moEvos relaEvos à empresa (Art. 243º do CT), seja por moEvos
relaEvos ao trabalhador (Art. 244º do CT).
Nesta matéria, a solução que tem gerado maior polémica doutrinal é a que concede ao
empregador a faculdade unilateral de alterar a marcação das férias, determinando que o respe9vo
gozo tenha lugar imediatamente antes da cessação, nos casos em que a cessação do contrato de
trabalho esteja sujeita a aviso prévio (Arts. 241º, nº5 e 243º, nº3 do CT). No essencial, trata-se, das
situações de denúncia do contrato por inicia9va do trabalhador e dos casos de despedimento por
razões obje9vas, em que o empregador poderá antecipar as férias do trabalhador, o que lhe permi9rá
fazer algumas economias, ainda que à custa do trabalhador. Dir-se-á, com razão, que durante o
período de aviso prévio a produ9vidade do trabalhador tende a ser afetada.
O ano da contratação
Para evitar este 9po de situações, a lei introduz um importante desvio à regra segundo a qual
as férias se vencem, apenas, no dia 1 de Janeiro. Assim, nos termos do Art. 239º, nº1 do CT, “no ano
da admissão, o trabalhador tem direito a dois dias úteis de férias por cada mês de duração do
contrato, até 20 dias, cujo gozo pode ter lugar após seis meses completos de execução do contrato”.
E o nº 2 acrescenta que, “no caso de o ano civil terminar antes de decorrido o prazo referido no
número anterior, as férias são gozadas até 30 de Junho do ano subsequente” – Regime especial do
direito às primeiras férias.
Figure-se a hipótese do trabalhador que é admi9do no dia 1 de Agosto: por força daquele nº 1,
ele terá direito a 10 dias úteis de férias, mas, como o respe9vo gozo só pode ter lugar após seis meses
de execução do contrato, as mesmas transitarão para o ano seguinte, nos termos do nº2. Sucede que,
entretanto, se vence outro direito a férias, pelo que o trabalhador, nesse ano, poderia desfrutar de
um período demasiado generoso de férias (in casu, 10+22). Daí que o nº 3 estabeleça o princípio
Registe-se que o regime consagrado Art. 239º, nº1 e 2 do CT vale também na hipótese de
terminar o impedimento prolongado do trabalhador que se tenha iniciado em ano anterior, por força
do disposto no nº6. Se, no ano em que se iniciou, aquele impedimento 9ver determinado a
impossibilidade de gozo das férias já vencidas, aplicar-se-á o nº 3 do Art. 244º do CT (o trabalhador
terá direito à retribuição correspondente ao período de férias não gozado ou ao gozo do mesmo até
30 de Abril do ano seguinte e, em qualquer caso, ao respe9vo subsídio). E, se o contrato cessar após
o impedimento prolongado do trabalhador, a norma aplicável será o Art. 245º, nº4 do CT (o
trabalhador terá direito à retribuição e ao subsídio de férias correspondentes ao tempo de serviço
prestado no ano de início da suspensão).
Dado o elevado calibre dos valores envolvidos na matéria das férias, compreende-se que o
ordenamento jurídico rodeie o correspondente direito de uma par9cular tutela. Assim é que:
• Em princípio, o direito a férias é irrenunciável, não podendo o seu gozo ser subs9tuído
por qualquer compensação, económica ou outra, ainda que com o acordo do trabalhador (Art.
237º, nº3 do CT);
• A violação do direito a férias é punida com severidade, visto que, caso o empregador
obste culposamente ao gozo das férias, “o trabalhador tem direito a compensação no valor
triplo da retribuição correspondente ao período em falta, que deve ser gozado até 30 de Abril
do ano civil subsequente” (Art. 246º do CT);
• Segundo o Art. 247º, nº1 do CT, “o trabalhador não pode exercer durante as férias
qualquer outra a9vidade remunerada, salvo quando já a exerça cumula9vamente ou o
empregador o autorize”. A lei procura, assim, evitar que a teleologia das férias seja posta em
causa pelo trabalhador. Dir-se-ia que o trabalhador, durante as férias, pode fazer o que bem
entender, salvo dedicar-se a qualquer outra a9vidade remunerada, sob pena de perder a
retribuição e o subsídio de férias, bem como de responder disciplinarmente perante o
empregador (Art. 247º, nº2 do CT);
A disciplina jurídica das faltas ao trabalho cons9tui um desafio permanente para o legislador,
pois nesta matéria regista-se uma forte tensão entre os impera9vos de caráter económico e as
exigências de cariz social. É este equilíbrio delicado que o legislador deve tentar alcançar.
Como alcançar este equilíbrio? Através da previsão de dois grandes 9pos de faltas: as
jusEficadas e as injusEficadas. De acordo com o Art. 249º, nº1 do CT, a falta poderá ser jus9ficada ou
injus9ficada. O nº 2 do mesmo ar9go diz-nos que faltas poderão ser jus9ficadas, concluindo o nº 3
que qualquer falta não prevista no nº 2 será considerada injus9ficada. Existe, pois, um catálogo
taxa9vo de mo9vos jus9fica9vos para faltar ao trabalho.
Neste ponto, o regime jurídico das faltas mostra-se, por conseguinte, mais duro na forma do que
na substância. Assim, se a comparência do trabalhador significa assiduidade, a sua ausência não
equivale, necessariamente a uma violação deste dever. A falta só será jus9ficada se a ausência for
tempes9vamente comunicada ao empregador, com a indicação do mo9vo jus9fica9vo, nos termos
do Art. 253º do CT. E o empregador poderá, nos termos do Art. 254º do CT, exigir a prova do facto
invocado para a jus9ficação da falta.
Por força do Art. 250º do CT, as disposições legais rela9vas aos mo9vos jus9fica9vos de faltas e à
sua duração possuem um caráter absolutamente impera9vo, não podendo ser afastadas por IRCT ou
por CTI. Vale dizer, as partes não podem, por exemplo, conceder ao trabalhador o direito de faltar no
dia do seu aniversário. Tal cláusula será nula, à luz deste Art. 250º do CT. Mas isto, claro, não impede
que o empregador autorize ou aprove essas faltas, o que as tornará jus9ficadas ao abrigo da al. j) do
nº2 do Art. 249º do CT. As partes também não poderão, por exemplo, aumentar o número de faltas
jus9ficadas que o trabalhador poderá dar por mo9vo de luto, nos termos do Art. 251º do CT.
A natureza jurídica das faltas ao trabalho oscila, portanto, entre o exercício de um direito, quando
se trate de uma falta jus9ficada, e o incumprimento contratual, quando a ausência seja injus9ficada.
Daí que, em princípio, a falta jus9ficada não afete qualquer direito do trabalhador, como se lê no Art.
255º, nº1 do CT. Mas é claro que esta afirmação do legislador tem de ser diversificada, porque o
mesmo preceito prevê diversas hipóteses em que a falta, apesar de jus9ficada, determina a perda
retribuição (nº 2).
“Considera-se retribuição a prestação a que, nos termos do contrato, das normas que o regem
ou dos usos, o trabalhador tem direito em contrapar9da do seu trabalho”, lê- se no Art. 258º, nº1 do
CT.
A afirmação legal de se que considera retribuição aquilo a que o trabalhador tem direito “em
contrapar9da do seu trabalho” terá, no entanto, de ser encarada com as devidas cautelas, visto que
é fácil apresentar exemplos em que o dever de pagar a retribuição não corresponde ao trabalho
efe9vamente prestado, como por exemplo: férias (Art. 264º do CT), feriados (Art. 269º do CT),
algumas faltas jus9ficadas (Art. 255º do CT), etc., os quais cons9tuiriam outras tantas exceções ao
sinalagma trabalho-retribuição.
O Art. 258º, nº2 do CT dá conta da grande complexidade assumida pelo salário, nele se
dis9nguindo a chamada “retribuição base” de todo um conjunto de prestações complementares e
acessórias, tais como diuturnidades, subsídios de risco, de penosidades, de toxicidade, de
alojamento, de alimentação, de transporte, de turno, de férias, de Natal, etc.
De todo o modo, e como facilmente se conclui, a nossa lei procura evitar que a parte não
pecuniária da retribuição assuma proporções demasiado vastas. De facto, foram estabelecidas
algumas limitações a este respeito, designadamente exigindo-se que as prestações não pecuniárias
se des9nem á sa9sfação das necessidades pessoais do trabalhador ou da respe9va família (Art. 259º,
nº1 do CT - parte inicial), não lhes podendo ser atribuídos valor superior ao corrente da região (Art.
Como se vê, temos aqui várias disposições tendentes a limitar o pagamento da retribuição em
prestações diferentes do dinheiro. Com efeito, só o pagamento em dinheiro preserva a liberdade de
escolha dos seus consumos por parte do trabalhador.
Qualificação
Nas palavras de Bernardo Xavier, “há que ter o maior cuidado com uma polí9ca patronal de
relações de trabalho assente no disfarce de atribuições remuneratórias com outro itulo ou com
diverso invólucro (reves9mento)”. Polí9ca patronal, esta, que pode ser ditada pelas mais variadas
razões, desde mo9vos de ordem fiscal até à finalidade de possibilitar ao empregador a supressão, no
futuro desta ou daquela atribuição patrimonial, caso as circunstâncias assim o recomendem.
Resulta do princípio plasmado no Art. 258º, nº1 do CT, que só se considera retribuição aquilo
a que o trabalhador tem direito em contrapar9da do seu trabalho. A retribuição analisa-se, portanto,
numa obrigação a cargo do empregador, numa prestação juridicamente devida ao trabalhador. Em
conformidade, as als. b) e c) do nº1 do Art. 260º do CT, excluem do conceito de retribuição as
gra9ficações ou prestações concedidas pelo empregador a itulo de recompensa ou prémio, na
medida em que tais atribuições patrimoniais sejam marcadas por um espírito de liberalidade, não
exis9ndo qualquer prévia vinculação patronal ao respe9vo pagamento.
O nome u9lizado pelas partes (gra9ficação, prémio, recompensa, etc.) para iden9ficarem estas
atribuições patrimoniais não basta, porém, para as descaracterizar enquanto elemento integrante da
retribuição do trabalhador, sempre que tais atribuições patrimoniais lhe sejam juridicamente devidas,
assumindo caráter vincula9vo para o empregador. Disso mesmo se ocupa o nº 3 do Art. 260º do CT,
esclarecendo que as gra9ficações e prémios podem ser retribuição, desde que sejam devidas ao
trabalhador por força do contrato, das normas legais ou convencionais que o regem, dos usos laborais,
etc.
A obrigação retribu9va recai sobre o empregador, pelo que quaisquer gra9ficações concedidas
ao trabalhador por terceiros, por exemplo: “gorjetas”, ainda que correspondam a uma parcela não
negligenciável do rendimento daquele, não integram a retribuição do trabalhador. A retribuição
consiste numa prestação obrigatória a cargo do empregado. Se a prestação em causa não é
juridicamente obrigatória ou não é efetuada pelo empregador, então, não estaremos perante uma
prestação de natureza retribu9va.
Modalidades
“A retribuição pode ser certa, variável ou mista, sendo esta cons9tuída por uma parte certa e
outra variável” (Art. 261º, nº1 do CT). E é sabido que o critério dis9n9vo destas várias modalidades
de retribuição radica na respe9va unidade de cálculo ou de medida.
Todavia, e ao invés daquilo que sucede quando estamos perante a retribuição certa, o
resultado da a9vidade desenvolvida pelo trabalhador assume extrema importância em sede de
retribuição variável, não tanto para apurar se o trabalhador cumpriu ou não as suas obrigações, mas
sim para determinar o montante da contrapar9da patrimonial devida pela en9dade empregador.
Assim, na hipótese de retribuição variável, o trabalhador não deixa de cumprir o contrato caso não
a9nja os resultados pretendidos, mas o certo é que o seu inêxito acaba por se repercu9r
nega9vamente em sede remuneratória.
Em qualquer caso, é óbvio que a retribuição certa, calculada em função do tempo, é a mais
segura para o trabalhador, visto que torna a sua posição menos dependente do inêxito da empresa e
das flutuações do mercado, assim, atenuando, de algum modo, o poder patronal.
A retribuição variável, pelo contrário, embora possa invocar a seu crédito o argumento do
incen9vo à produ9vidade, tem inconvenientes conhecidos: provoca ritmos de trabalho desumanos;
es9mula a compe9ção, por vezes não saudável, entre trabalhadores; etc.
Perante este quadro de interesses contrapostos, vê-se com bons olhos a chamada retribuição
mista, possivelmente por se traduzir num compromisso aceitável entre a necessidade de contribuir
para a elevação dos níveis de produ9vidade e a tutela de uma certa segurança para o trabalhador.
O Art. 262º, nº1 do CT estabelece que, “quando disposição legal, convencional ou contratual
não disponha em contrário, a base de cálculo de prestação complementar ou acessória é cons9tuída
pela retribuição base e diuturnidades”.
Ao fixar uma base de cálculo para o apuramento das prestações complementares e acessórias
devidas ao trabalhador, este disposi9vo legal traduz-se numa resposta às dificuldades resultantes da
rela9vidade da própria noção de retribuição.
Ora, esta norma entende por retribuição base a prestação “correspondente à a9vidade do
trabalhador no período normal de trabalho”. A formulação legal parece pouco esclarecedora,
deixando de fora aquilo que, para Jorge Leite, cons9tui o cerne da retribuição base: o seu caráter de
“contrapar9da da prestação standard”, isto é, de contrapar9da da prestação laboral realizada em
condições consideradas normais ou comuns.
Assim, segundo Jorge Leite, deve entender-se por retribuição base “a prestação que de acordo
com o critério das partes, da lei, do IRC ou dos usos, é devida ao trabalhador com determinada
categoria profissional pelo trabalho de um dado período realizado em condições consideradas
normais ou comuns para o respe9vo setor ou profissão”.
No que diz respeito à determinação do valor da retribuição, importa atender aos seguintes
parâmetros norma9vos:
1. “É garan9da aos trabalhadores uma retribuição mínima mensal, seja qual for a modalidade
pra9cada, cujo valor é determinando anualmente por legislação específica, ouvida a Comissão
Permanente da Concertação Social” (Art. 273º, nº1, do CT). Este preceito legisla9vo situa-se
na linha do disposto no Art. 59º, nº2 a) da CRP.
Qualquer cláusula convencional ou contratual que fique aquém deste valor mínimo
será nula, por violar uma disposição de natureza rela9vamente impera9va.
O que este princípio proíbe não é a diferenciação salarial, mas sim a discriminação
salarial, ou seja, a diferenciação injus9ficada, baseada, por exemplo, em fatores como o sexo
e a raça.
O modo como pode ser paga a retribuição encontra-se regulado no Art. 276º do CT, norma
esta que revela um dos mais importantes atributos do salário: o seu caráter intrinsecamente
patrimonial, mas não necessariamente (apenas tendencialmente) pecuniário. Na verdade, de acordo
com o nº 1 deste ar9go, “a retribuição é sa9sfeita em dinheiro ou, estando acordado, em prestações
não pecuniárias, nos termos do Art. 259º”, prestações estas que, como é óbvio, não sendo pecuniárias
não deixam de assumir um caráter patrimonial, e que por isso mesmo são reduiveis a um equivalente
pecuniário. Aliás, como já vimos, o Art. 258º, nº2 do CT refere poder a retribuição compreender
prestações em dinheiro ou em espécie.
No que à obrigação retribu9va diz respeito, é ponto pacífico que cabe ao empregador fazer a
prova do respe9vo cumprimento. Para tal efeito, é admissível qualquer meio de prova, porém,
também aqui se confirma a tese de que o melhor meio de prova do cumprimento é representado
pela quitação. Na verdade, a en9dade empregadora pode exigir a quitação do trabalhador, nos termos
gerais do Direito con9dos no Art. 786º, nº1 do CC, podendo ainda recusar-se a cumprir enquanto a
quitação não for dada (nº 2 do mesmo ar9go).
Esta é uma matéria em que a singularidade da dívida salarial se vem a revelar em toda a sua
extensão:
o ordenamento juslaboral obriga, com efeito, à passagem de um “recibo” aquando do pagamento da
retribuição. O documento a que alude o Art. 276º, nº3 do CT não se traduz numa qualquer quitação,
não visa facilitar a prova do cumprimento ao devedor-empregador, mas, ao invés, consiste numa
obrigação estabelecida no interesse do credor-trabalhador, visando permi9r-lhe um controlo a
posteriori sobre os seus créditos e respe9va (in)sa9sfação.
Nada disto invalida o que se escreveu supra, isto é, que o empregador pode, pagando o salário,
exigir a quitação. Esta quitação será, aliás, normalmente dada mediante a assinatura, pelo
trabalhador, do duplicado do documento previsto nº nº 3 do Art. 276º do CT, assim se cons9tuindo
um documento par9cular que prova o recebimento, pelo credor, das importâncias nele anunciadas.
Estamos perante uma norma suple9va, porém, ainda assim, os interesses dos trabalhadores
não são descurados pela lei, pois esta não se desinteressa totalmente da situação na hipótese de as
partes es9pularem um outro local para o pagamento do salário: o nº 2 do Art. 277º do CT prescreve
que, “caso a retribuição deva ser paga em lugar diverso do local de trabalho, o tempo que o
trabalhador gastar para receber a retribuição considerar-se tempo de trabalho”.
Quanto à matéria do tempo do cumprimento, regulada no Art. 278º do CT, é sabido que o
contrato de trabalho apresenta como uma das suas caraterís9cas mais relevantes a de ser um
contrato de execução sucessiva. A obrigação retribu9va insere-se, assim, na categoria das chamadas
obrigações duradouras, mais concretamente na sua modalidade das obrigações periódicas ou
reiteradas. Significa isto que o tempo se revela um fator de extrema importância no tocante à
conformação global da prestação do empregador, influenciando decisivamente o respe9vo conteúdo.
Esta influência faz-se sen9r a dois níveis:
1. Por um lado, de acordo com o Art. 261º do CT, o tempo traduz-se na unidade de cálculo
da retribuição certa;
2. Por outro lado, nos termos do Art. 278º, nº1 do CT, o tempo funciona também como
unidade de vencimento da retribuição;
E, tal como sucede em matéria de lugar do cumprimento, também aqui a lei demonstra grande
flexibilidade, admi9ndo diversa es9pulação das partes e a relevância dos usos, bem como indicando
como possíveis unidades de vencimento tanto a semana, como a quinzena, como ainda o mês.
A referida maleabilidade legal tem, contudo, limites, não afetando esta afirmação: a obrigação
retribu9va há-de vencer-se sempre “por períodos certos e iguais” (exigência ineliminável).
uma data predeterminada para o respe9vo cumprimento (Art. 805º, nº1 e 2 al. a) do CC). Nos termos
do Art. 278º, nº4 do CT, o montante da retribuição deve estar à disposição do trabalhador na data do
vencimento ou em dia ú9l anterior, pelo que o empregador ficará cons9tuído em mora se o
trabalhador, por facto que não lhe seja imputável, não puder dispor do montante da retribuição na
data do vencimento (nº 5 do mesmo preceito legal).
Nos termos do disposto no Art. 337º, nº1 do CT, “o crédito de empregador ou de trabalhador
emergente de contrato de trabalho, da sua violação ou cessação prescreve decorrido um ano a par9r
do dia seguinte àquele em que cessou o contrato de trabalho”.
No que concerne ao curso da prescrição, cabe dizer que, regra geral, o seu início dá-se quando
o direito puder ser exercido, conforme determina o Art. 306º, nº1 do CC. Em princípio, para que o
prazo da prescrição comece a correr torna-se necessário, mas também suficiente, que a dívida seja
exigível, que a obrigação vença.
O respe9vo início pode, no entanto, ser impedido por determinados mo9vos, isto é, pelas
chamadas suspensivas da prescrição. De facto, o CC prevê, entre os Arts. 318º a 322º, diversas causas
da suspensão da prescrição, causas essas que, dir-se-ia, “adormecem” esta úl9ma. Consiste tal
suspensão em não se contar para o efeito da prescrição do tempo decorrido enquanto durarem certos
factos ou situações. Fala-se em suspensão do curso quando ela impede o início ou o curso da
prescrição e em suspensão do termo quando ela impede que tempo da prescrição se complete.
Após estas ideias sumárias, sobre o ins9tuo da prescrição, cumpre analisar o disposto do Art.
337º, nº1 CT, que logo nos revela que:
1. Não existe um regime específico de prescrição para os créditos do trabalhador (salariais
ou não), pois o ar9go estabelece um tratamento uniforme para todos os créditos oriundos
da relação de trabalho, independentemente do seu 9tular ser o trabalhador ou o
empregador;
2. A nota alimentar possuída pelo direito ao salário não implica respe9va imprescri9bilidade,
visto que a lei não declara o crédito salarial isento de prescrição (por exemplo: Art. 298º,
nº1 do CC);
Como é evidente, as ponderosas razões que solicitam uma disciplina especial para a
prescrição dos créditos do trabalhador não estão presentes na hipótese do 9tular dos
créditos resultantes do contrato de trabalho ser o empregador. Não se vislumbra, por isso,
fundamento válido para submeter a tratamento uniforme todos os créditos oriundos da
relação laboral, independentemente de pertencerem ao trabalhador ou ao empregador,
como faz o ar9go. Tratar-se-á, porventura, de uma questão de “mera simetria”.
O que fica escrito é, segundo se pensa, suficiente para sustentar a bondade da ideia central
ver9da no Art. 337º, nº1 do CT. Contudo, tal não significa, que esta disposição legal seja insusceivel
de reparos:
A solução defendida por Leal Amado para esta situação seria a de uma maior dilatação
do prazo prescricional (por exemplo: de cinco anos, à imagem do estabelecido no Art. 310º
do CC), conjugado com uma suspensão do termo (mediante a qual a prescrição apenas se
pudesse completar, por hipótese, um ano após a cessação do contrato).
Importa, ainda, dis9nguir as várias modalidades de suspensão do contrato previstas pelo CT:
a este respeito, decorre do Art. 295º que a suspensão do contrato de trabalho poderá fundamentar-
se na impossibilidade temporária da prestação de trabalho por facto rela9vo ao trabalhador
(suspensão individual) ou por facto rela9vo ao empregador (suspensão coleEva). Também o acordo
entre as partes poderá originar a suspensão do vínculo (suspensão consensual). E o CT prevê ainda
uma hipótese, algo aipica, de suspensão do contrato por iniciaEva do trabalhador, fundada na falta
de pagamento pontual da respe9va retribuição.
2. Que este impedimento se prolongue por mais de um mês (se o impedimento durar
menos de um mês, terá aplicação o regime das faltas ao trabalho - Art. 249º, nº 2 d)
do CT);
Ana Luísa Mar+ns 89
1º Turma
2020/2021
3. O facto gerador de impedimento não deverá ser imputável ao trabalhador. A doutrina
entende que este requisito de não imputabilidade se prende com uma relação de
equivalência entre a não imputabilidade e a não voluntariedade, isto é, que o
impedimento de prestar trabalho surja como uma consequência não desejada pelo
trabalhador, como uma consequência involuntária;
O contrato suspender-se-á se sa9sfazer este triplo teste: ser temporário (não defini9vo), ser
prolongado (superior a um mês) e ser involuntário (contrário à vontade do trabalhador).
Numa primeira leitura, o CT parece inclinar-se nesse sen9do, mas a verdade é que, para que o
contrato seja suspenso ao abrigo do nº 1 do Art. 296º do CT, é necessário que o impedimento do
trabalhador seja involuntário. Ora, se tal requisito se mostrava sa9sfeito quando o serviço militar era
obrigatório, já não se mostra preenchido na hipótese de o serviço militar ser voluntário. Neste caso,
a prestação de serviço militar cons9tui uma opção para o trabalhador, pelo que, se do livre exercício
de tal opção pelo trabalhador resulta uma impossibilidade transitória de prestar trabalho, tal
impossibilidade ser-lhe-á imputável;
Segundo o Art. 296º, nº5 do CT: “o impedimento temporário por facto imputável ao
trabalhador determina a suspensão do contrato de trabalho nos casos previstos na lei”. Trata-se, nesta
hipótese, da suspensão do contrato em virtude de um impedimento voluntário do trabalhador,
através do qual se visa proteger outros direitos fundamentais cujo exercício se mostra incompaivel
com a normal execução da prestação de trabalho.
O contrato de trabalho pode, também, suspender-se por facto rela9vo ao empregador, seja
porque se verifique uma impossibilidade temporária deste receber a prestação de trabalho (Art. 294º,
nº1 do CT), seja porque tal se mostre necessário para assegurar a viabilidade da empresa e a
manutenção dos postos de trabalho, em situação de crise empresarial (nº 2, al. a), do mesmo ar9go).
Nos termos do Art. 298º, nº1 CT: o empregador poderá suspender os contratos de trabalho
“por mo9vos de mercado, estruturais ou tecnológicos, catástrofes ou outras ocorrências que tenham
afetado gravemente a a9vidade normal da empresa, desde que tal medida seja indispensável para
assegurar a viabilidade da empresa e a manutenção dos postos de trabalho”.
Caso isto aconteça, o empregador deverá comunicar a sua intenção de suspender a prestação
de trabalho à estrutura representa9va dos trabalhadores ou, na sua falta, a cada trabalhador a
abranger, disponibilizando, para consulta, os documentos em que suporta a alegação de situação de
crise empresarial, designadamente de natureza contabilís9ca e financeira (Art. 299º do CT). Em
seguida, o empregador deverá abrir uma fase de informações e de negociação entre as partes, com
vista à obtenção de um acordo sobre a matéria (Art. 300º do CT).
É o empregador quem decreta o lay-off, ainda que esta seja uma decisão vinculada, pois só
pode ser tomada, nos termos da lei: “indispensável para assegurar a viabilidade da empresa e a
manutenção dos postos de trabalho” (Art. 298º, nº1 do CT).
Não basta que ocorra uma crise grave na empresa, é ainda necessário que o lay-off seja o
instrumento adequado para assegurar a recuperação da mesma. Tal medida deve ser acompanhada
e fiscalizada pelo serviço com competência inspe9va do ministério responsável pela área laboral. Este
serviço poderá pôr termo à suspensão dos contratos, por inicia9va própria ou a requerimento de
qualquer interessado.
2. Terá direito a receber 100% da retribuição, se o encerramento for causado por facto imputável
ao empregador ou a mo9vo do interesse deste (encerramento para obras de remodelação,
para subs9tuição ou reparação de equipamentos, por delitos contra a saúde pública ou por
violação de normas sobre a segurança no trabalho, etc.);
De qualquer modo, o Art. 309º, nº2 do CT manda subtrair ao valor da retribuição “o que o
trabalhador receba no período em causa por outra a9vidade que tenha passado a exercer por efeito
do encerramento”. Diga-se que esta subtração não deixa de desincen9var fortemente o trabalhador
suspenso de se dedicar a uma outra a9vidade produ9va.
O relaxamento do vínculo contratual pode também acontecer com base no mútuo acordo das
partes. Será o caso, em princípio, da licença sem retribuição, bem como da chamada “pré-reforma”.
A suspensão contratual pode cessar por qualquer das vias previstas no Art. 327º do CT:
1. Por atuação patronal (pagamento integral das retribuições dívida e juros de mora);
2. Por acordo entre as partes (tendente à regularização das retribuições em dívida e
juros de mora);
3. Por vontade do trabalhador (comunicando ao empregador e ao serviço com
competência inspe9va que põe termo à suspensão a par9r de determinada data);
A este propósito, o nosso marco cons9tucional fornece indicações incontornáveis, pois os Arts.
47º e 51º da CRP consagram, respe9vamente, os princípios estruturantes da liberdade de trabalho e
profissão e da segurança no emprego. Os princípios cons9tucionais em apreço apontam, assim, para
uma ní9da diferenciação de regimes, consoante a inicia9va de rutura contratual parta do empregador
(despedimento) ou do trabalhador (demissão). Ainda que, insistamos, que não haja aqui valores
absolutos, pois a estabilidade não significa inamovibilidade (o trabalhador pode perder o emprego
contra a sua vontade), assim como a liberdade não implica luz verde para uma rutura contratual
inopinada por parte do trabalhador (este pode ter de aguardar para se desvincular licitamente).
São quatro as formas de cessação do contrato de trabalho, previstas no Art. 340º do CT. Com
efeito, este ex9nguir-se-á:
1. Por vontade do empregador (despedimento);
2. Por vontade do trabalhador (demissão);
3. Por vontade de ambos os sujeitos (revogação);
4. Pela verificação de certo evento superveniente a que a lei atribui esse efeito
(caducidade);
Segundo o Art. 343º do CT: “o contrato de trabalho caduca nos termos gerais, nomeadamente:
1. Verificando-se o seu termo;
2. Por impossibilidade superveniente, absoluta e defini9va, de o trabalhador prestar o seu
trabalho ou de o empregador o receber;
3. Com a reforma do trabalhador, por velhice ou invalidez”.
O contrato a termo (Art. 344º e 345º do CT), dir-se-ia, “nasce para caducar”: se tudo correr
de acordo com o previsto aquando da celebração do contrato, este caducará quando se verificar o
respe9vo termo final ou resolu9vo. Mas, como é óbvio, a caducidade não é figura exclusiva do
contrato a termo. Um contrato sem termo, também se poderá ex9nguir por via da caducidade. E, de
resto, o próprio contrato a prazo também poderá caducar antes de se verificar o termo resolu9vo.
Com efeito, a lei estabelece que o contrato de trabalho caducará “por impossibilidade
superveniente, absoluta e definiEva” (Art. 343º b) do CT), seja de o trabalhador prestar o seu
trabalho, seja de o empregador o receber.
1. Superveniente: se a impossibilidade for originária o contrato será nulo (Art. 401º do CC);
2. DefiniEva: se a impossibilidade for temporária, isso poderá implicar a aplicação do regime
da suspensão do contrato;
3. Absoluta: requisito algo redundante, visto que se a impossibilidade não for absoluta, mas
rela9va é porque não se tratará de uma impossibilidade, mas de uma mera dificuldade
ou onerosidade da prestação;
A situação que melhor ilustra a hipótese prevista na alínea b) do Art. 343º do CT será a morte
do trabalhador. Com efeito, se a morte do trabalhador determina a caducidade do respe9vo contrato,
devido, precisamente, ao caráter intrinsecamente pessoal da obrigação assumida por aquele, já a
morte do empregador não implicará semelhante efeito ex9n9vo. Assim, se o empregador em nome
individual falecer, mas se os seus sucessores con9nuarem a a9vidade para que o trabalhador se
encontre contratado, ou caso se verifique a transmissão da empresa, o contrato manter-se-á em vigor,
registando-se apenas uma mudança subje9va do mesmo (Art. 346º, nº1 do CT). E também assim será
no caso da ex9nção da pessoa cole9va empregadora, como refere o nº 2 do preceito.
Nos termos do Art. 343.º c) do CT, o contrato de trabalho caduca com “a reforma do
trabalhador, por velhice ou invalidez”. A reforma surge como uma das causas de caducidade do
contrato de trabalho.
Quid juris se o trabalhador envelhece sem desencadear o seu processo de reforma? A resposta
encontrase no nº 3 do Art. 348º, segundo o qual o regime dos números 1 e 2, dirigido para o
trabalhador que se reforma por velhice e permaneça ao serviço, é também aplicável “a contrato de
trabalho de trabalhador que a9nja 70 anos de idade sem ter havido reforma”. Tenha ou não
consciência disso, o trabalhador que a9nja 70 anos de idade passa a ter um contrato que se
transforma num contrato a prazo.
A disciplina jurídica constante do Art. 348º do CT suscita uma outra questão. Pergunta-se: e se o
trabalhador, já reformado ou com 70 anos de idade ou mais, celebrar um contrato de trabalho com
outro empregador? Será este contrato, forçosamente, um contrato a termo, sujeito às especificidades
do nº2 do Art. 348º do CT? O ponto suscita dúvidas, mas, para Leal Amado, nem a letra nem a raGo
do preceito legal permitem aplicar a respe9va estatuição à contratação de um trabalhador reformado
ou com mais de 70 anos, pois as situações, até na ó9ca do risco empresarial, não são idên9cas nos
dois casos.
“O empregador e o trabalhador podem fazer cessar o contrato de trabalho por acordo” (Art. 349.º,
nº1 do CT). Com efeito, a qualquer momento, em qualquer modalidade de contrato de trabalho, por
qualquer razão e sem necessidade de apresentação de qualquer mo9vo para rutura, o empregador e
o trabalhador podem proceder à revogação bilateral do vínculo jurídico-laboral.
Tudo isto explica que, na prá9ca, a proposta de acordo revogatório provenha, sistema9camente,
do empregador, e que o interesse em alcançar tal acordo seja, quase invariavelmente, do empregador.
A exigência de forma escrita formulada pelo nº 2 do Art. 349º do CT, existe para facilitar a prova
do acordo de cessação. Esta exigência da forma escrita tem em vista a proteção do trabalhador e da
própria estabilidade do vínculo laboral, procurando assegurar que a sua vontade se forma de modo
livre, esclarecido e ponderado.
Por isso a lei exige que o acordo revogatório conste de um documento escrito, ou seja, exige-se
uma solenidade superior àquela que, em regra, é exigida para a própria celebração do contrato de
trabalho. A inobservância da forma escrita implicará a nulidade do acordo revogatório, nos termos
gerais do Art. 220º do CC.
Os efeitos ex9n9vos do acordo revogatório poderão ser imediatos, isto é, coincidir com a data da
celebração da rescisão, mas também poderão ser adiados para momento posterior, caso em que o
acordo revogatório será aplicado um termo suspensivo. Na verdade, o nº 3 do Art 349º do CT
dis9ngue com clareza ambos os momentos, exigindo que o documento mencione expressamente a
data da celebração do acordo e a de início da produção de efeitos.
No documento escrito poderão ser previstos outros efeitos, para além da ex9nção do vínculo
contratual. As partes poderão, por exemplo, estabelecer um pacto de não concorrência (Art. 136º,
nº2 a) do CT), assim como poderão (é o que normalmente sucede) prever o pagamento ao
trabalhador de uma compensação pecuniária, pelo fim do contrato ou pela perda do emprego, bem
como os termos em que esta compensação deverá ser paga. Ponto é, em qualquer caso, que os efeitos
previstos pelas partes não contrariem o disposto na lei, conforme ressalva o nº 4 do Art. 349º do CT.
Sendo estabelecida uma compensação pecuniária global para o trabalhador, “presume-se que
esta inclui os créditos vencidos à data da cessação do contrato ou exigíveis em virtude desta”. Trata-
se, pois, de uma presunção legal que opera em benefcio do empregador. Na ausência desta
disposição legal, o estabelecimento de uma compensação pecuniária para o trabalhador em nada
interferiria com o pagamento dos restantes créditos que lhe fossem devidos por força do contrato
(salários em atraso, pagamento de horas suplementares, etc.) ou da sua cessação (retribuição e
subsídio de férias, etc.). A compensação pecuniária seria um extra, algo que acresceria àquilo que o
trabalhador teria direito a receber em função do contrato e/ou respe9va cessação.
É certo que:
a) A presunção legal só opera caso as partes estabeleçam uma compensação de natureza global,
pelo que nada as impede de esclarecer a compensação de x, sem prejuízo dos créditos de y e
z;
c) Por outro lado, o trabalhador apanhado de surpresa pela presunção legal pode lançar mão do
direito potesta9vo previsto no Art. 350º do CT (cessação do acordo de revogação), desfazendo
o negócio ex9n9vo do contrato – o chamado direito de arrependimento.
Ao trabalhador deverá ser admi9da a prova de que, apesar de ter sido estabelecida uma
compensação pecuniária de natureza global, as partes não pretenderam incluir nesta os demais
créditos emergentes do contrato de trabalho ou da sua cessação.
O Art. 350º do CT concede ao trabalhador o direito potesta9vo de fazer cessar os efeitos do acordo
revogatório. A atribuição deste direito ao trabalhador parece associar-se a uma dupla ordem de
razões: 1. Em primeiro lugar, tenta garan9r que o trabalhador não se precipite, isto é, que pondere
devidamente sobre as consequências do acordo revogatório, gozando de um prazo razoável para se
arrepender e desfazer o acordo da cessação do contrato de trabalho;
Nos termos da lei, os efeitos do acordo revogatório poderão cessar por inicia9va do trabalhador
“até ao sé9mo dia seguinte à data da respe9va celebração”, mediante comunicação escrita dirigida à
en9dade empregadora (Art. 350º, nº1 do CT). Porém, se tal não for possível, esta comunicação terá
de ser feita através de carta com aviso de receção, no dia ú9l subsequente ao fim desse prazo (Art.
350º, nº2 do CT).
Pergunta-se: a par9r de que momento se conta o prazo para exercer este direito? A par9r da data
da celebração do acordo ou a par9r da data do começo da produção de efeitos?
Se a letra da lei parece inequívoca (“até ao sé9mo dia seguinte à data da respe9va celebração”),
devemos atentar à razão do preceito legal: por um lado, o obje9vo de garan9r uma adequada
ponderação por parte do trabalhador exige a distanciação deste rela9vamente ao ambiente de
trabalho e à sua subtração à presença; o obje9vo de combater o “despedimento dissimulado” seria,
por seu turno, facilmente frustrado por semelhante interpretação literal. Por tudo isto, Leal Amado
interpreta que, ao estabelecer que o trabalhador poderá exercer o seu “direito de arrependimento”
até ao sé9mo dia seguinte à data da celebração do acordo revogatório, a lei terá, porventura, tomado
que a data da celebração do acordo revogatório é coincidente com a data da produção de efeitos. Em
suma, e pelas razões expostas, julga-se (ainda com dúvidas) que o prazo para o trabalhador exercer
este direito potesta9vo deverá ser contado a par9r do dia seguinte à data da produção de efeitos do
acordo revogatório, independentemente de esta ser coincidente com a data da sua celebração ou
não.
“É proibido o despedimento sem justa causa ou por mo9vos polí9cos ou ideológicos”, lê-se no
Art. 338º do CT), na sequência do disposto no Art. 54º da CRP.
Em termos simples, dir-se-á que o despedimento com justa causa se traduz na sanção disciplinar
máxima susceivel de ser aplicada ao trabalhador. “Cons9tui justa causa de despedimento o
comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, torne imediata e
pra9camente impossível a subsistência da relação de trabalho” (Art. 351º, nº1 do CT). A justa causa
de despedimento assume, portanto, um caráter de infração disciplinar.
As diversas condutas descritas nas várias alíneas do nº 2 do Art. 351º possibilitam uma certa
concre9zação ou densificação da justa causa de despedimento, muito embora deva sublinhar-se que
a verificação de alguma dessas condutas não é condição necessária (dado que a enumeração é
meramente exemplifica9va), nem é condição suficiente (visto que tais alíneas cons9tuem
“proposições jurídicas incompletas”, contendo uma referência implícita à norma geral do nº 1 para a
existência de justa causa.
Esta traduz-se num comportamento censurável do trabalhador, numa qualquer ação ou omissão
que lhe seja imputável a itulo de culpa (não se exige dolo, ainda que a negligência deva ser grosseira)
e que viole deveres de natureza laboral (Art. 128º do CT), quando esse comportamento seja de tal
modo grave, em si mesmo e nos seus efeitos, que torne a situação insustentável, sendo inexigível ao
empregador que lhe responda de modo menos drás9co.
Na apreciação da justa causa, deve atender-se no quadro de gestão da empresa, ao grau de lesão
dos interesses do empregador, ao caráter das relações entre as partes ou entre o trabalhador e os
seus companheiros às demais circunstâncias que no caso sejam relevantes (Art. 351º, nº3 do CT). De
todo o modo, o juízo sempre será casuís9co, guiado por uma ideia de proporcionalidade e de jus9ça
individualizante.
• Os deveres do trabalhador
b) Dever de diligência (Art. 128º, nº1 c) do CT): O trabalhador deve “realizar o trabalho com zelo
e diligência”. Trata-se de um dever que se prende com o modo de cumprimento da prestação
principal, significando que trabalhador deverá realizar a prestação com atenção, com esforço
e com o cuidado exigível a um trabalhador normal. Assim, desinteresse repe9do pelo
cumprimento, com a diligência devida, de obrigações inerentes ao exercício do cargo ou posto
de trabalho a que está afeto (Art. 351º, nº2 d) do CT) está na lista de condutas passíveis de
cons9tuir justa causa de despedimento;
c) Dever de assiduidade e pontualidade (Art. 128º, nº1 b) do CT): Trata-se de deveres que
recortam em termos geográficos e temporais, a situação de heterodisponibilidade do
trabalhador. Porém, é certo que, a mera ausência do trabalhador não significa por si só, a
violação do dever de assiduidade (por exemplo: poderá tratar-se de uma falta jus9ficada). As
faltas injus9ficadas, bem como as falsas declarações rela9vas à jus9ficação de faltas, poderão
cons9tuir justa causa de despedimento (Art. 351º, nº2 f) e g) do CT);
d) Dever de lealdade (Art. 128º, nº1 f) do CT), o dever de lealdade tem um conteúdo bastante
ambíguo. O dever de lealdade, manifesta-se hoje, basicamente, nos deveres de não
concorrência e de sigilo profissional, sendo expressão da boa fé contratual e significando que
o trabalhador não deverá aproveitar-se da posição funcional que ocupa na empresa em
detrimento do empregador (desviando a sua clientela, revelando segredos à concorrência,
etc.). A violação de tais deveres poderá, nos termos gerais, jus9ficar o despedimento do
trabalhador por justa causa devido a lesão de interesses patrimoniais sérios da empresa (Art.
351º, nº2 e) do CT).
Não se deve confundir dever de não concorrência com pacto de não concorrência. Este
úl9mo é um pacto celebrado entre as partes, em ordem a limitar a a9vidade do trabalhador
durante um certo período de tempo subsequente à cessação do contrato (Art. 136º do CT). O
dever de não concorrência não apresenta qualquer obstáculo ao pluriemprego, tal obstáculo
exis9rá, apenas, se for clausulado o chamado pacto de exclusividade.
e) Dever de respeito, urbanidade e probidade (Art. 128º, nº1 a) do CT): O dever de respeito,
urbanidade e probidade, trata-se de um dever que opera em múl9plas direções (empregador,
colegas e terceiros), o que, em certos casos, pode suscitar problemas de conflito de deveres,
sendo certo que a sua violação pode convocar a aplicação de diversas alíneas do Art. 351º,
nº1 do CT (violação de direitos e garan9as de trabalhadores da empresa, provocação repe9da
de conflitos com estes, prá9ca de violências fsicas, injúrias ou outras ofensas, etc.);
g) Dever de produEvidade (Art. 128º, nº1 h) e m) do CT): Recai sobre o trabalhador o dever de
“promover ou executar atos tendentes à melhoria da produ9vidade da empresa”. As
“reduções anormais de produ9vidade” só poderão ser alvo de censura se forem provenientes
de uma conduta culposa do trabalhador. Caso tal baixa de produ9vidade se fique a dever, por
exemplo, à perda de capacidade fsica ou técnico-profissional derivada do avanço da idade,
essa diminuição não será susceivel de uma qualquer punição disciplinar.
A questão acima formulada mostra-se, à primeira vista, algo paradoxal, isto se aceitarmos o
dogma da separação radical entre a vida profissional e vida pessoal do trabalhador: nesta ó9ca, o
espaço-tempo profissional surge como espaço-tempo de heterodisponibilidade, ao passo que
espaço-tempo de autodisponibilidade surge como espaço-tempo de liberdade pessoal.
O dogma da separação radical entre vida profissional e vida pessoal não pode, contudo, ser aceite,
pois não existem muros insuperáveis nesta matéria, pelo que o supramencionado corte absoluto
entre vida pessoal e vida profissional é simplista e desacertado.
Em síntese, conclui-se que não há, nesta matéria, fórmulas simples e mágicas que consigam
resolver todos os problemas: a verdade é que, por um lado, o trabalhador não deixa de ser pessoa-
cidadão no espaçotempo laboral, mas é igualmente verdade que, por outro lado, a pessoa-cidadão
também não deixa de ser trabalhador fora do espaço-tempo laboral. Para se resolver esta questão,
tem, portanto, de se apelar às ideias de razoabilidade, de justa medida e de proporcionalidade.
• O procedimento disciplinar
b) Defesa: Tendo sido acusado, é lógico que ao trabalhador seja reconhecido a faculdade de se
defender. Nos termos do nº 1 do Art. 355º do CT “o trabalhador dispõe de 10 dias úteis para
consultar o processo e responder à nota de culpa, deduzindo por escrito os elementos que
considera relevantes para esclarecer os factos e a sua par9cipação nos mesmos, podendo
juntar documentos e solicitar as diligências probatórias que se mostrem per9nentes para o
esclarecimento da verdade”. Trata-se, de um direito do trabalhador, não de um ónus jurídico
que sobre si recaia, nada impedindo aquele de reservar a sua defesa para as instâncias
judiciais;
A decisão determina a cessação do contrato logo que chega ao poder do trabalhador ou é dele
conhecida ou, ainda, quando só por culpa do trabalhador não foi por ele oportunamente
recebida (Art. 357º, nº7 do CT, que se situa na linha do Art. 224º do CC).
O empregador deve acertar as contas após o despedimento por justa causa. Se este não o
fizer, o trabalhador tem o prazo de 1 ano para reclamar de tais verbas.
Microempresas: Quando se trate de uma microempresa (Art. 100º do CT), a lei simplifica o
procedimento disciplinar, desde logo deixando de neste fazer intervir as estruturas de
representação cole9va dos trabalhadores (Art. 358º, nº1 do CT). Para além disso, os critérios
orientadores da decisão da en9dade empregadora são os que valem nas restantes empresas (nº2
do mesmo ar9go), dispondo esta dos seguintes prazos para proferir a decisão:
1. Se o trabalhador não responder à nota de culpa, 30 dias a contar do termo do prazo para
resposta à mesma;
2. 30 dias a contar da conclusão da úl9ma diligência probatória realizada (Art. 358º, nº3 do
CT);
Importa referir que o procedimento disciplinar (Art. 352º e ss. do CT) é um procedimento interno,
realizado dentro da empresa, não se tratando de um procedimento judicial. É ainda de realçar que,
durante a fase processual, poderá haver uma suspensão preven9va do trabalhador (Art. 354º do CT).
A proibição legal e cons9tucional do despedimento sem justa causa não significa que o nosso OJ
apenas considera lícito o despedimento com justa causa. A par do despedimento com justa causa
(causa subje9va, baseada em factos imputáveis ao trabalhador), a lei admite e regula várias
modalidades de despedimento por causas objeEvas, isto é, por mo9vos da esfera da empresa, por
razões económicas, de índole ges9onária. Essas modalidades de despedimento por causas obje9vas
são três: despedimento cole9vo, o despedimento por ex9nção do posto de trabalho e o
despedimento por inadaptação.
• Despedimento coleEvo
2. Nos cincos dias posteriores à data da comunicação, segue-se uma fase de informações e
negociação “com vista a um acordo sobre a dimensão e efeitos das medidas a aplicar e,
bem assim, de outras medidas que reduzam o número de trabalhadores a despedir” (Art.
361º do CT). Nesta negociação par9cipará o serviço competente do ministério responsável
pela área laboral
(Art. 362º do CT);
3. Caso o despedimento se consome, este deverá ser comunicado, por escrito, a cada
trabalhador abrangido, com a antecedência mínima, rela9vamente à data da cessação, de
15, 30, 60 ou 75 dias, consoante a an9guidade do trabalhador (Art. 363º do CT). Caso o
empregador não observe o prazo mínimo de aviso prévio, o contrato só cessará uma vez
decorrido o período de aviso prévio em falta, devendo o empregador pagar a retribuição
correspondente a esse período (Art. 363º, nº4 do CT). Segundo o Art. 364º do CT, durante
o prazo de aviso prévio, o trabalhador tem direito a um crédito de horas correspondente
a dois dias de trabalho por semana, sem prejuízo da retribuição (um tempo dedicado à
procura de um novo emprego). Mas o trabalhador também poderá denunciar o contrato
durante este aviso prévio, mediante declaração com a antecedência mínima de 3 dias
úteis, mantendo o direito à compensação prevista no Art. 366º do CT (Art. 365º do CT).
O despedimento cole9vo confere aos trabalhadores a9ngidos o direito a uma compensação pela
perda do emprego, calculada nos termos do disposto no Art. 366º do CT. A atual redação do Art. 366º
do CT, estabelece que o trabalhador tem direito a receber uma compensação pecuniária
correspondente a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de an9guidade.
A oferta desta compensação pecuniária ao trabalhador cons9tui uma condição indispensável à
licitude do despedimento, nos termos da Art. 383º c) do CT.
Segundo Art. 366º, nº4 do CT, “presume-se que o trabalhador aceita o despedimento quando
recebe do empregador a totalidade da compensação prevista neste ar9go”. Trata de uma presunção
Antes de mais, colocam-se dúvidas interpreta9vas. Afinal, o que é que o trabalhador pode fazer
para ilidir a presunção? Bastará, para esse efeito, que o trabalhador devolva ao empregador a
totalidade da compensação recebida? Não parece. Mas, ainda que assim se entenda, não se
descor9na fundamento bastante para tal devolução. É que, note-se, o trabalhador sempre receberá
esta compensação, caso o despedimento cole9vo seja lícito. Se o não for, o trabalhador receberá um
montante pecuniário superior ao desta compensação, por força do disposto nos Arts. 389º e 392º do
CT. Assim sendo, Leal Amado demonstra alguma dificuldade em entender a razão dos números 4 e 5
do Art. 366º do CT.
Para que este despedimento possa ter lugar, o Art. 368º, nº1 do CT exige que se verifiquem os
seguintes requisitos:
1. Os mo9vos indicados não sejam devidos a conduta culposa de qualquer das partes (se
houver culpa do trabalhador, isso legi9mará, possivelmente, um despedimento com justa
causa; se houver culpa do empregador, isso inibi-lo-á de desencadear um despedimento
por ex9nção do posto de trabalho que, em úl9ma análise, resultaria de uma conduta
censurável do respe9vo autor);
Verificando-se estes requisitos, mas havendo na secção estrutura equivalente a uma pluralidade
de postos de trabalho de conteúdo funcional idên9co, a lei estabelece uma ordem de prioridades a
observar pelo empregador, para concre9zação do posto de trabalho a ex9nguir, a qual se baseia, em
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grande medida, no elemento da an9guidade do trabalhador (Art. 368º, nº2 do CT). Trata-se de uma
regra que procura garan9r que o despedimento por ex9nção do posto de trabalho radica, realmente,
numa causa obje9va, não sendo esta figura usada como expediente para que o empregador
“desembarace” de um certo e determinado trabalhador. Na mesma linha, note-se ainda que se, nos
três meses anteriores ao início do procedimento para o despedimento, o trabalhador 9ver sido
transferido para o posto de trabalho que venha a ser ex9nto, ele terá direito a ser reafetado ao posto
de trabalho anterior, caso o mesmo ainda exista, com a mesma retribuição base (Art. 368º, nº3 do
CT).
Depois de ter procedido às comunicações previstas no Art. 369º do CT, e após ter decorrido a fase
de informação e consulta, regulada no Art. 370º do CT, o empregador poderá proferir a decisão de
despedimento, por escrito, nos termos do Art. 371º, nº1 e 2 do CT. À imagem do que sucede com o
despedimento cole9vo, este despedimento carece de aviso prévio (Art. 371º, nº3 do CT), gozando o
trabalhador dos mesmos direitos que são concedidos àqueles que sejam abrangidos por um
despedimento cole9vo: crédito de horas e faculdade de denúncia contratual durante o prazo de aviso
prévio, direito a uma compensação pecuniária calculada em função da respe9va retribuição e
an9guidade (Art. 372º do CT).
Quando alguma destas situações for determinada pelo modo de exercício de funções do
trabalhador e torne pra9camente impossível a subsistência da relação de trabalho, verifica-se a
inadaptação do trabalhador.
Também aqui, depois ter procedido às comunicações previstas no Art. 376º do CT, e após ter
decorrido a fase de consultas, regulada no Art. 377º do CT, o empregador poderá proferir a decisão
do despedimento, por escrito, nos termos do Art. 378º, nº1 do CT. E, à imagem do que sucede com o
despedimento cole9vo, este despedimento carece de aviso prévio (Art. 378º, nº2 do CT), gozando o
trabalhador despedido por inadaptação dos mesmos direitos que são concedidos àqueles que sejam
abrangidos por um despedimento cole9vo: crédito de horas e faculdade de denúncia contratual
durante o prazo de aviso prévio, direito a uma compensação pecuniária calculada em função da
respe9va retribuição e an9guidade (Art. 379º do CT).
O CT consagra, nos Arts. 386º a 388º do CT, os meios de reação contra o despedimento
disponíveis para o trabalhador:
1. O trabalhador pode, desde logo, requerer a suspensão preven9va do despedimento, no
prazo de 5 dias úteis, mediante providência cautelar regulada no Código de Processo do
Trabalho (Art. 386º do CT). Nas palavras de Jorge Leite, a suspensão judicial do
despedimento consiste:
• Numa providência cautelar que visa proteger a aparência do direito invocado, no
caso, o direito à segurança do emprego e à perceção regular dos rendimentos do
trabalho;
• Tem como razão determinante evitar, ao menos provisoriamente, os efeitos da
mudança operada com o despedimento, fim que a ação principal não é adequada
a preservar por ser de resolução mais lenta;
• É célere, bastando-se, por isso, com uma averiguação sumária do processo;
• É instrumental ou dependente da ação principal, neste caso da ação de
impugnação de despedimento;
2. Tenha ou não u9lizado a via da providência cautelar, o trabalhador que pretenda combater
um despedimento que considere ilícito terá de intentar a correspondente ação judicial
(Arts. 387º, nº1 e 388º, nº1 do CT);
3. Para esse efeito, o trabalhador dispõe de um prazo de 60 dias (Art. 387º, nº2 do CT), salvo
tratando-se de um despedimento cole9vo, cuja ação de impugnação poderá ser intentada
no prazo de 6 meses (Art. 388º, nº2 do CT).
5. Em caso de apreciação judicial do despedimento com alegação de justa causa (por facto
imputável ao trabalhador), e sem prejuízo da apreciação de vícios formais, o tribunal
deverá sempre pronunciar-se sobre a verificação e origem dos fundamentos invocados
para o despedimento (Art. 387º, nº4 do CT). Este dever de apreciação judicial das questões
de fundo, não se ficando pela forma, compreende-se á luz da figura do “despedimento
irregular”, con9da no nº2 do Art. 389º do CT. Casos há, todavia, em que as falhas
procedimentais implicam a invalidade/ilicitude do despedimento (e não a mera
irregularidade deste). Pense-se, desde logo, noa própria inexistência do procedimento
(Art. 381º c) do CT), bem como nas hipóteses de invalidade do procedimento disciplinar
(Art. 282º, nº2 do CT). O tribunal analisa os fundamentos do despedimento, além da uma
análise da formalidade procedimental do mesmo, para se verificar o grau de ilicitude e,
por via disso, calcular o montante da “indemnização de an9guidade” devida ao
trabalhador (Arts. 391º, nº1 e 392º, nº3 do CT), bem como para fixar uma eventual
indemnização por danos não patrimoniais (Art. 381º, nº1 a) do CT in fine).
• Não ser solicitado o parecer prévio da en9dade competente (Art. 381º d) do CT). Em
caso de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante, ou de trabalhador durante o gozo da
licença parental inicial (Art. 63º, nº1 do CT);
Para além destes fundamentos gerais de ilicitude, a lei prevê causas específicas de ilicitude,
consoante o 9po de despedimento.
No caso de despedimento com justa causa, a respe9va ilicitude pode resultar da circunstância
de já terem decorridos os prazos estabelecidos no Art. 329º do CT, ou de o respe9vo procedimento
disciplinar ser inválido (Art. 382º, nº1 do CT).
• A ilicitude/invalidade do despedimento
Os Arts. 389º a 393º do CT cons9tuem o bloco normaEvo regulador dos efeitos da declaração
judicial da ilicitude do despedimento.
De acordo com o Art. 389º, nº1 a) do CT, também os danos patrimoniais causados pelo
despedimento ilícito deverão ser indemnizados, devendo notar-se que o legislador não se refere aos
chamados “salários intercalares”, isto é, às retribuições devidas ao trabalhador desde a data do
despedimento até ao trânsito em julgado da decisão judicial que o declara ilícito. Com feito, esses
salários intercalares, devidos ao trabalhador em virtude da eliminação retroa9va do despedimento,
deverão ser pagos ao trabalhador por força do Art. 390º do CT. No Art. 389º, nº1 a) do CT, o legislador
prevê que o trabalhador pode ser a9ngido por outros danos patrimoniais: pense-se, por exemplo, nas
gorjetas que o trabalhador deixou de receber por causa do despedimento ilícito. Poderá tratar-se
também de danos patrimoniais indiretos: pensemos, por exemplo, na hipótese de um despedimento
“injurioso”, em que o trabalhador é falsa e publicamente acusado de ser ladrão ou men9roso, o qual,
além dos danos não patrimoniais não resultantes da humilhação sofrida e da ofensa à honra e à boa
reputação, pode ainda causar danos patrimoniais ao trabalhador, por exemplo, dificuldades
acrescidas em arranjar um novo emprego ou para conseguir um emprés9mo bancário.
Mas, o despedimento contra a lei não é só ilícito é também inválido, compreendendo-se, assim,
a tutela reintegratória que consta do Art. 389º, nº1 b) do CT. Assim, o trabalhador objeto de
despedimento ilícito e inválido goza, não só do direito de ser indemnizado por todos os danos que
lhe são causados, mas goza também do direito a ser reintegrado na empresa, sem prejuízo da sua
categoria e an9guidade. Ao declarar o despedimento ilícito, o tribunal priva o despedimento do seu
efeito ex9n9vo da relação laboral, por isso, tendencialmente, vai-se tudo passar como se o
despedimento nunca 9vesse sido proferido pelo empregador. Assim, para além do direito aos salários
intercalares, o trabalhador tem o direito de retomar a sua a9vidade profissional ao abrigo de um
contrato de trabalho que, ao invés daquilo que o empregador pretendia, não foi dissolvido pelo
despedimento (princípio da coercibilidade do vínculo jurídico-laboral). Esta parece ser a solução
mais compaivel com a garan9a cons9tucional da segurança no emprego.
• Os “salários intercalares”
É claro que os salários intercalares serão devidos até ao trânsito em julgado da decisão do tribunal
nas situações-padrão, ou seja, nas situações em que a declaração de invalidade do despedimento
implica a recons9tuição do vínculo jurídico-laboral até à data da referida decisão judicial. Porém, nada
impede que o contrato de trabalho se ex9nga antes da data de trânsito em julgado da decisão, por
ocorrência de outros factos ex9n9vos do mesmo (por exemplo, falecimento ou reforma do
trabalhador despedido). Quando isto acontece, os salários intercalares serão devidos, não até a data
de transição em julgado da decisão, mas sim até à data em que o contrato se ex9nguiu (naqueles
casos exemplifica9vos, por caducidade).
Ao montante dos salários intercalares devem ser feitas as seguintes deduções (Art. 390º, nº2 do
CT):
1. As importâncias que o trabalhador aufira com a cessação do contrato e que não receberia
se não fosse o despedimento (Art. 390º, nº2 a) do CT);
2. A retribuição rela9va ao período desde o despedimento até 30 dias antes da propositura
da ação, se esta não for proposta nos 30 dias subsequentes ao despedimento (Art. 390º,
nº2 b) do CT);
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3. O subsídio de desemprego atribuído ao trabalhador, devendo o empregador entregar essa
quan9a à segurança social (Art. 390º, nº2 c) do CT);
Suscitam-se algumas dúvidas pela redação dada ao Art. 390º, nº2 a) do CT. As dúvidas que surgem
nesta matéria prendem-se com o facto de autores, como o Dr. Leal Amado, considerarem que o
despedimento terá de ser, de acordo com esta nova redação, condição suficiente e necessária dos
rendimentos auferidos pelo trabalhador a deduzir. Esta parte da doutrina entende que não devem
ser aqui integrados rendimentos ob9dos com novo contrato de trabalho, pois o despedimento não é
condição suficiente da celebração de um novo contrato de trabalho (o trabalhador pode não optar
por arranjar um novo emprego). Este preceito aplicar-se-ia apenas nas situações em que se verifica
um forte nexo causal entre despedimentos e novos rendimentos, como seria o caso dos seguros para
cobrir perda involuntária do emprego.
Quanto ao Art. 390º, nº2 c) do CT, o Dr. Leal Amado refere que mereceu fortes aplausos por parte
da doutrina, embora seja evidente as dificuldades, de ordem prá9ca, que se colocam à sua efe9vação.
Daí que o tribunal deva no9ficar a Segurança Social, sob pena de este organismo nunca chegar a ter
conhecimento do sucedido, pois nem o trabalhador nem o empregador terão interesse em fazer tal
comunicação.
No âmbito das deduções que devem fazer parte integrante do Art. 390º, nº2 a) do CT, o Dr. Leal
Amado considera que também a “compensação de ina9vidade” paga ao trabalhador despedido em
cumprimento de um pacto de não concorrência (Art. 136º, nº2 c) do CT), não pode deixar de ser
deduzida no montante dos salários intercalares.
Quanto ao Art. 390º, nº2 b) do CT, este visa pressionar o trabalhador a propor a ação judicial. De
facto, sendo o trabalhador objeto de um despedimento, ele só tem 60 dias para intentar a respe9va
ação de impugnação (Arts. 387º, nº2 e 388º, nº2 do CT). Este preceito configura uma espécie de ónus
jurídico de segundo grau: além do ónus de impugnar tempes9vamente o despedimento, para que o
tribunal possa sindicar a respe9va conformidade legal, sobre o trabalhador recai ainda o ónus
suplementar de propor a ação no prazo de 30 dias para que não fique sujeito a deduções adicionais,
caso o tribunal venha a declarar ilícito tal despedimento. O termo inicial do direito a salários
intercalares coincidirá, portanto, com a data do despedimento, caso o trabalhador o impugne no
máximo de 30 dias, ou, no caso contrário, coincidirá com o 30º dia anterior à data da propositura da
ação.
O empregador deve suportar os custos do despedimento ilícito, mas não os custos derivados da
excessiva morosidade dos tribunais, pelo que em certos casos de “jus9ça tardia”, o Estado deve
assumir esses custos. Com efeito, quando a ação judicial se prolongar por mais de 1 ano, é o Estado
que deve suportar aqueles custos, no entanto, com limitações em três planos:
3. O Estado apenas responde até à decisão em primeira instância, o que significa que a
morosidade subsequente a esta data (podem decorrer anos até o trânsito em julgado)
volta a correr por conta do empregador;
• A reintegração do trabalhador
b) A palavra final compe9rá ao tribunal, sendo certo que ónus da prova recai, aqui,
sobre o empregador. O Art. 392º do CT não esclarece se, em reforço da sua
declaração de oposição, o empregador apenas pode invocar factos posteriores ao
despedimento, ou se, pelo contrário, também factos anteriores ao despedimento
ilícito podem mobilizados pelo empregador para convencer o tribunal de que o
regresso do trabalhador teria efeitos muito prejudiciais para a prossecução da
a9vidade empresarial. De qualquer maneira, parece claro que os factos a invocar
pelo empregador terão de incidir naquilo que jus9fica esta exceção à tutela
reintegratória, persuadindo o tribunal de que, em virtude dos laços pessoais e da
nota fiduciária que caracteriza estas relações de trabalho, não se mantêm
condições relacionais e intersubje9vas para reatar a prestação laboral. O
fundamento invocado pelo empregador terá, então, de ser apreciado pelo tribunal,
o qual será chamado a fazer um juízo de prognose, avaliando se o regresso do
trabalhador seria ou não prejudicial e perturbador do funcionamento da empresa.
O que parece separar a oposição à reintegração das restantes hipóteses (das hipóteses
“normais”) de despedimento patronal é:
2. Neste caso par9cular, a apreciação judicial dos fundamentos invocados pelo empregador
tem sempre lugar (a oposição à reintegração manifesta-se durante o decorrer do processo
judicial) e é efetuada previamente, antes de a rutura do contrato se verificar;
Não se trata, portanto, em rigor, de um caso de resolução judicial do contrato de trabalho, mas
sim de um caso de resolução patronal por via judicial.
Repare-se, que quase o mesmo acontece quando o trabalhador é alvo de um despedimento ilícito
e impugna judicialmente esse despedimento, mas opta pela “indemnização de an9guidade”. Também
nesta hipótese o contrato termina na sequência da decisão judicial que declara o despedimento ilícito,
mas temse entendido que a causa da ex9nção contratual aqui presente é a resolução por inicia9va
do trabalhador.
• A indemnização de anEguidade
A prá9ca vem demonstrando que na maioria dos casos, o próprio trabalhador despedido acaba
por não pretender o seu reingresso na empresa da qual foi ilicitamente despedido. Compreende-se,
por isso, que a lei preveja uma alterna9va à reintegração, estabelecendo que, em lugar desta, o
trabalhador poderá optar por uma indemnização, cujo montante será fixado pelo tribunal. (Art. 391º,
nº1 do CT).
Quanto ao critério de cálculo desta indemnização de an9guidade, o Art. 391º, nº1 do CT prescreve
que o montante da indemnização será fixado pelo tribunal “entre 15 e 45 dias de retribuição base e
diuturnidades por cada ano completo ou fração de an9guidade”.
Entre o mínimo e o máximo anuais, como deverá o tribunal graduar a indemnização? O Art. 391º,
nº1 do CT estabelece dois fatores de ponderação a que o tribunal deverá atender, combinando-os,
na definição do quantum indemnizatório:
1. Deverá ser levado em conta o valor da retribuição do trabalhador: para um trabalhador
que aufira uma retribuição elevada, o tribunal tenderá a graduar a indemnização “em
baixa”, para um trabalhador que aufira um salário modesto, o tribunal tenderá a modulá-
la em alta;
O Art. 391º, nº2 do CT estabelece ainda que a an9guidade deve ser calculada tendo em conta o
tempo decorrido entre o despedimento até ao trânsito em julgado da decisão judicial. A opção
indemnizatória traduz-se num caso par9cular de resolução contratual por inicia9va do trabalhador,
uma resolução sob condição suspensiva, cujos efeitos ex9n9vos só de produzirão se e quando o
tribunal vier declarar a invalidade do despedimento. Verificada a condição, o contrato ex9ngue-se,
Atentemos ainda que o Art. 391º, nº3 do CT impõe um limite à margem de liberdade de que os
tribunais dispõem na fixação da indemnização. Independentemente da an9guidade do trabalhador,
a indemnização a que ele terá direito não pode ser inferior a 3 meses de retribuição base e
diuturnidades.
Questão interessante com que os tribunais já foram várias vezes confrontados é a de saber se,
ocorrendo um outro facto ex9n9vo da relação jurídico-laboral na pendência da ação judicial do
despedimento, quais são os efeitos? Imaginemos que durante esse tempo o trabalhador morre,
sendo a reintegração impossível, deverá o empregador ser condenado a pagar ao trabalhador (aos
seus herdeiros) aquela indemnização?
A declaração de ilicitude do despedimento que mais tarde venha a ser proferida pelo tribunal
implicará, tão só, reposição do vínculo contratual até à data da morte do trabalhador. Nesta data, o
contrato caduca. Caducando, deixa de fazer sen9do falar na reintegração do trabalhador como
consequência da anulação do respe9vo despedimento. Se é assim, deixa igualmente de fazer sen9do
falar numa opção pela indemnização, pois a opção indemnizatória supõe a possibilidade
reintegratória, se está não exis9r, outro tanto sucederá com aquela. Neste caso não há opção: à data
da sentença o contrato já caducou.
O que se diz rela9vamente à morte do trabalhador, diz-se também quanto a outros factos
ex9n9vos da relação laboral, pense-se na reforma do trabalhador despedido.
Assim, a indemnização subsEtuEva da reintegração surge, porém, no CT, composta por duas
espécies:
1. A espécie tradicional, em que a indemnização resulta de uma opção feita pelo trabalhador;
• Despedimento irregular
Assim, o ponto de par9da obrigatório para que estejamos perante um despedimento irregular é
o de que se trate de um despedimento materialmente jusEficado. Trata-se, portanto, de um
despedimento lícito em que os mo9vos jus9fica9vos foram apreciados e confirmados pelo tribunal
(Art. 387º, nº4 do CT), sendo que os vícios deste despedimento se situam não no plano substan9vo,
mas no plano adje9vo, ou seja, no plano formal.
Quando se verifiquem estas situações, sendo o despedimento válido e lícito (relembre-se que o
despedimento não é ilícito, é meramente irregular), o trabalhador terá apenas direito a metade do
valor indemnizatório que resultaria da aplicação do Art. 391º, nº1 do CT. Ou seja, não haverá lugar ao
pagamento de qualquer outra indemnização, ao pagamento de salários intercalares, à eventual
reintegração do trabalhador, etc. Na definição do valor indemnizatório a ser pago pelo empregador
ao trabalhador despedido, o tribunal atenderá, unicamente, ao critério do valor da retribuição do
trabalhador, isto porque o outro fator atendível, o referente grau de ilicitude do despedimento,
mostra-se de todo imprestável quando estamos a lidar com um despedimento irregular, mas lícito.
O contrato a termo é um contrato nascido para caducar, vale dizer, é um negócio jurídico cuja
causa normal de ex9nção consis9rá na verificação do termo resolu9vo. Nada obsta, no entanto, a
opera9vidade das outras formas de cessação do contrato de trabalho, sobretudo o despedimento
patronal, em sede do contrato a termo, caso em que serão aplicadas as correspondentes regras gerais
(Art. 393º, nº1 do CT).
Quanto aos efeitos de ilicitude do despedimento o princípio é o da aplicação das regras gerais
neste campo, mas o Art. 393º, nº2 do CT introduz algumas alterações de relevo, procurando adaptar
aquelas regras às especificidades resultantes do aprazamento do contrato de trabalho:
1. Por força da Art, 393º, nº2 a) do CT, em caso de despedimento ilícito o empregador será
condenado ao pagamento da indemnização pelos prejuízos causados, tendo o quantum
indemnizatório como limite mínimo o valor dos salários intercalares devidos ao trabalhador
desde a data do despedimento
2. Na linha do que em geral se encontra estabelecido no Art. 393º, nº2 b) do CT, o empregador
que despeça ilicitamente um trabalhador contratado a prazo deverá também ser condenado
a proceder à respe9va reintegração na empresa, sem prejuízo da sua categoria e an9guidade,
mas isto apenas na hipótese de o termo do contrato ocorrer depois do trânsito em julgado da
decisão judicial. Caso o termo ocorra depois da sentença, nada impede o trabalhador de optar,
em subs9tuição da reintegração, por receber a “indemnização de an9guidade” prevista no
Art. 391º do CT, assim como nada impede que na hipótese de o trabalhador ter optado pela
reintegração, o empregador venha a requerer a recusa da reintegração do trabalhador na
empresa, nos termos do Art. 392º do CT. Porém, se o termo do contrato ocorrer antes da
decisão do tribunal, não haverá lugar a reintegração, naturalmente, o contrato cessará então
aquando da verificação do termo, por caducidade, pelo que o empregador, exonerado embora
da obrigação reintegratória e da alterna9va obrigação indemnizatória, deverá, todavia, ser
condenado a pagar ao trabalhador uma compensação pela caducidade do contrato, por força
dos Arts. 344º, nº2 e 345º, nº4 do CT.
Consagra-se Art. 400º, nº1 do CT, o princípio basilar da demissão ad nutum: num OJ em que a
liberdade de trabalho e profissão é cons9tucionalmente reconhecida (Art. 47º da CRP) e perante um
contrato em que o devedor-trabalhador compromete tão intensamente a sua pessoa na execução da
respe9va prestação, compreende-se que ao trabalhador seja reconhecida a faculdade de fazer cessar
o vínculo, por sua inicia9va unilateral, sem necessidade de para o efeito invocar qualquer mo9vo
jus9fica9vo. E este princípio da livre demissão vigora, entre nós, quer rela9vamente aos contratos
indeterminados quer aos contratos a termo.
De qualquer forma, importa sublinhar que a liberdade de demissão do trabalhador não deixa, ainda
assim, de estar subme9da a uma certa compreensão legal. Ou seja, o trabalhador pode, decerto,
matar o vínculo contratual, em ordem a recuperar a sua liberdade pessoal, mas a morte do vínculo,
não deve registar-se de imediato, antes carece de aviso prévio. A lei obriga o trabalhador a anunciar
essa morte com uma certa antecedência, isto é, a lei procura garan9r algum tempo de sobrevivência
ao contrato de trabalho. Em ordem a proteger os legí9mos interesses da en9dade empregadora,
evitando que esta seja surpreendida e prejudicada por uma rutura contratual inopinada, a figura do
aviso prévio surge, então como uma espécie de disposi9vo retardador da relação contratual.
(Recorde-se que, nestes casos, o empregador poderá determinar que o gozo das férias do trabalhador
tenha lugar imediatamente antes da cessação do contrato – Arts. 241º, nº5 e 243º, nº3 do CT)
Atente-se que, apesar de assim o ser definido pela lei, na prá9ca, é frequente as en9dades
empregadoras depois de receberem a comunicação da denúncia pelo trabalhador, dispensarem-no
do cumprimento do aviso prévio. Nestes casos, uma de duas:
1. Ou se trata de um ato unilateral do empregador, caso em que a dispensa não o eximirá de
pagar ao trabalhador a retribuição correspondente ao período de aviso concedido;
2. Ou exis9rá acordo das partes no sen9do de não submeter a denúncia ao termo suspensivo
previsto na lei, caso em que o vínculo contratual terminará de imediato, não ficando o
empregador obrigado a pagar salários para além dessa data;
3. Nos contratos a termo (nº3), o aviso prévio será de 30 dias, salvo se o contrato 9ver
duração inferior a seis meses, nesse caso o aviso prévio terá de ser de 15 dias;
4. Nos contratos a termo incerto (nº4), a regra é a mesma, só que em lugar de se atender à
duração do prazo es9pulado, atender-se-á à duração do contrato já decorrido.
Em princípio, o incumprimento, por parte do trabalhador, do prazo de aviso prévio tem como
consequência o dever de pagar ao empregador uma indemnização de valor igual à retribuição base e
diuturnidade correspondentes ao período de antecedência em falta, de acordo com o disposto no
Art. 401º do CT. A denúncia sem aviso prévio perfila-se, portanto, válida e eficaz, mas irregular: é
válida e eficaz porque produz o efeito ex9n9vo pretendido pelo trabalhador, e é irregular porque
sujeita o seu autor à obrigação de indemnizar a contraparte. Esta indemnização não impede, porém,
que o trabalhador responda civilmente pelos danos causados ao empregador devido à inobservância
do prazo de aviso prévio (Art. 401º do CT), danos estes que são somente os resultantes do
incumprimento do aviso prévio e nunca da rutura do contrato de trabalho.
É importante, ainda, notar que a liberdade de demissão do trabalhador pode ser comprimida
pelo chamado “pacto de permanência” (Art. 137º, nº1 do CT), pacto este em que o trabalhador se
obriga a não denunciar o contrato de trabalho até 3 anos, como compensação pelas despesas do
empregador na sua formação profissional. O trabalhador pode desobrigar-se deste pacto mediante
pagamento do montante correspondente àquelas despesas (Art. 137º, nº2 do CT). Ainda que os danos
causados pelo incumprimento do pacto sejam manifestamente superiores àquelas despesas, o
trabalhador só responderá até esse limite. Note-se, por úl9mo, que a lei não exige a redução a escrito
deste pacto, mas será de toda a conveniência celebrá-lo por escrito, seja para facilitar a prova da
existência da cláusula, seja para evitar as dúvidas quanto ao respe9vo conteúdo.
- A revogação da denúncia
No Art. 402º do CT, a lei concede ao trabalhador a faculdade de proceder à revogação unilateral
da sua declaração demissória. Este “direito de arrependimento”, assenta em duas ordens de ideias:
1. Visa garan9r que o trabalhador pondere devidamente sobre as consequências da sua
declaração, possibilitando-lhe o exercício do chamado direito de arrependimento caso
conclua, dentro de um certo prazo, que aquela foi uma declaração precipitada e não ajustada
aos seus verdadeiros interesses;
Ana Luísa Mar+ns 126
1º Turma
2020/2021
2. Tenta dar resposta ao fenómeno do chamado despedimento dissimulado, ou seja, ao
expediente de o empregador, aquando da celebração do contrato, condicionar a admissão do
trabalhador à assinatura, por este, de uma declaração demissória sem data, assim ficando o
empregador com a possibilidade de, mais tarde, determinar livremente o momento da
cessação do contrato, datando o documento em conformidade.
Assim, o Art. 402º, nº1 do CT determina que o trabalhador pode revogar a denúncia do contrato
até ao 7º dia seguinte à data em que a mesma chegar ao poder do empregador, mediante
comunicação escrita dirigida a este.
Nos termos do Art. 402º do CT, a revogação da declaração ex9n9va do contrato por inicia9va do
trabalhador:
1. Deverá ser efetuada mediante declaração escrita dirigida ao empregador;
2. Poderá ser efetuada até ao sé9mo dia seguinte à data em que a denúncia chegar ao poder do
empregador, sendo que, caso não seja possível assegurar a receção da comunicação, o
trabalhador deverá remetê-la ao empregador, por carta registada com aviso de receção, no
dia ú9l subsequente ao fim desse prazo (Art. 402º, nº2 do CT – Art. 350º, nº2 do CT);
3. Deverá ser acompanhada da entrega ou da colocação à disposição do empregador, por
qualquer forma, da totalidade das compensações pecuniárias que lhe tenham sido pagas em
consequência da cessação do contrato (Art. 402º, nº2 do CT – Art. 350º, nº3 do CT);
No entanto, nos Arts. 400º, nº5 e 395º, nº4 do CT o legislador vem atribuir ao empregador o poder
de exigir que a assinatura do trabalhador, constante do documento que formaliza a sua declaração
demissória, seja objeto de reconhecimento notarial presencial. Embora a lei não preveja um prazo
para esta exigência, entende-se que deverá ser instantânea e imediata, pressupondo-se que a inércia
do empregador após a reação da denúncia se traduz na dispensa da formalidade. Nas situações
previstas no Art. 395º, nº4 do CT, o direito de arrependimento, ainda que as assinaturas tenham sido
reconhecidas, não desaparece (quando o reconhecimento aconteceu num período superior a 60 dias
antes data da cessação do contrato).
De acordo com o Art. 394º, nº1 do CT, ocorrendo justa causa, o trabalhador pode fazer cessar
imediatamente o contrato. A ocorrência de justa causa habilita o trabalhador, a dissolver licitamente
e imediatamente o contrato. A ocorrência de justa causa dispensa o trabalhador do dever de respeitar
o prazo de aviso prévio (Art. 400º do CT), podendo ainda conferir-lhe o direito a uma indemnização
pelos danos sofridos, de acordo com o disposto no Art. 396º do CT.
O Art. 394º, nº2 e 3 do CT procede à dis9nção entre as duas grandes espécies de justa causa de
cessação do contrato por inicia9va do trabalhador:
• Justa causa subjeEva: Comportamentos ilícitos e culposos do empregador (despedimento
indireto), enunciados de forma não taxa9va (meramente exemplifica9vos) consagrados no
Art. 394º, nº2 do CT;
• Justa causa objeEva: Descrita em moldes aparamente taxa9vo, poderá consis9r na prá9ca de
um ato lícito do empregador (alteração substancial e duradoura das condições de trabalho no
exercício de poderes patronais, tal como, por exemplo, alterações no horário de trabalho);
prá9ca de um ato ilícito mas não culposo do empregador (falta não culposa do pagamento
pontual da retribuição); circunstâncias alheias ao empregador e relacionadas com o próprio
trabalhador (necessidade de cumprimento de obrigação legal incompaivel com a
con9nuação do contrato);
Segundo o Art. 394º, nº4 do CT, a justa causa de resolução deverá ser apreciada nos termos do
Art. 351º, nº3 do CT. Esta remissão deve ser entendida com as devidas cautelas, pois a justa causa de
resolução é, logicamente, bem mais ampla do que a justa causa de despedimento. De facto, a justa
causa de despedimento corresponde tão só a infrações disciplinares, enquanto que a justa causa da
resolução abrange um leque bem mais amplo de situações, incluindo questões que em nada se
relacionam com o empregador (recorde-se o disposto no Art. 394º, nº3 a) do CT).
Ocorrendo justa causa, nos termos do Art. 395º, nº1 do CT o trabalhador deve comunicar a
resolução do contrato ao empregador, por escrito, nos 30 dias subsequentes ao conhecimento dos
factos que a jus9ficam. Não é indispensável proceder a uma descrição circunstanciada dos factos,
porém, basta uma indicação sucinta dos mesmos, de modo a permi9r, se necessário, a apreciação
judicial da justa causa invocada pelo trabalhador.
Quanto ao prazo (30 dias subsequentes ao conhecimento dos factos), à par9da, perante um
comportamento do empregador cons9tu9vo de justa causa de resolução do contrato pelo
trabalhador, o trabalhador deve atuar naquele prazo, sob pena de caducidade. Suscitam-se algumas
dificuldades no âmbito da caducidade do comportamento do empregador cons9tu9vo de justa causa.
Há muitos casos em que as violações contratuais do empregador são con9nuadas e só com o tempo
se tornam mais graves, assim, enquanto o comportamento persis9r, o prazo não deve começar a ser
contado, podendo o trabalhador resolver o contrato a todo o tempo. Em matéria de falta de
pagamento, o prazo começa a contar após o período de 60 dias que se exige para que o
comportamento seja culposo.
O valor da indemnização poderá, porém, ser superior ao que resultaria da aplicação do nº1,
“sempre que o trabalhador sofra danos patrimoniais e não patrimoniais de montante mais elevado”
(nº3). Neste âmbito, tanto os danos patrimoniais como os danos não patrimoniais são ressarcíveis,
podendo, por isso, o montante da indemnização ser superior ao que determina o nº1 (Art. 396º, nº3
do CT).
Quando estamos perante um contrato a termo, valem as regras gerais, mas o limite mínimo da
retribuição corresponde às retribuições vincendas (Art. 396º, nº4 do CT), assim se criando um limite
mínimo abaixo do qual a indemnização não poderá descer.
Caberá ao trabalhador fazer a prova dos factos cons9tu9vos da justa causa de resolução do
contrato, em conformidade com o disposto no Art. 342º do CC. Não se provando tal justa causa, a
resolução contratual será considerada ilícita, conferindo ao empregador o direito a uma indemnização
pelos prejuízos causados (Art. 399º do CT).
A justa causa de resolução por inicia9va do trabalhador não se analisa numa condição de validade
da mesma, isto é, ainda que irregular a resolução do contrato pelo trabalhador não será inválida, pelo
que não se coloca o problema da eventual recons9tuição da relação laboral por força de uma
qualquer decisão judicial que declare a ilicitude da resolução.
Se o trabalhador resolver o contrato, invocando justa causa, mas esta não se provar, ou se o
trabalhador denunciar o contrato, independentemente de justa causa, mas sem pré-avisar o
empregador, em qualquer destas hipóteses estaremos perante uma rutura contratual ilícita/irregular,
parecendo que a indemnização a pagar ao empregador deverá ser calculada nos mesmos moldes. A
lei sugere que a indemnização calculada ao abrigo do Art. 399º do CT não poderá ser inferior ao
montante calculado nos termos do Art. 401º do CT, mas pode ser superior.
O abandono do trabalho surge como uma hipótese de rutura ilícita/irregular do contrato por
iniciaEva do trabalhador.
Nos termos do Art. 403º, nº1 do CT, os elementos cons9tu9vos do abandono do trabalho são dois:
a ausência do trabalhador do serviço e tem de ser acompanhada de factos reveladores da intenção
de o não retomar.
Para os casos de ausência prolongada e sem noicias, o Art. 403º, nº2 do CT estabelece uma
presunção rela9va, válida até prova em contrário de abandono do trabalho. Tal presunção legal
verificar-se-á quando a ausência do trabalhador se prolongue durante, pelo menos, 10 dias úteis
seguidos. A conclusão de abandono extrai-se de uma ausência mínima de 10 dias consecu9vos, pelo
que os dias de descanso semanal intercorrentes, os dias de férias ou os feriados não relevam para
este efeito, e mais do que um mo9vo da ausência, basta, para evitar a presunção, que o trabalhador
comunique a ausência.
A presunção de abandono poderá ser ilidida pelo trabalhador, segundo o nº4 “mediante prova de
ocorrência de mo9vo de força maior impedi9vo da comunicação ao empregador da causa da
ausência”.
O abandono vale como denúncia do contrato por inicia9va do trabalhador, mas só o empregador
poderá invocar tal abandono e só após ter sa9sfeito as exigências estabelecidas no Art. 403º, nº3 do
CT: comunicação ao trabalhador dos factos cons9tu9vos do abandono ou da presunção do mesmo,
por carta registada com aviso de receção para a úl9ma morada conhecida deste. Quanto ao momento
em que se verifica a ex9nção do contrato, em caso de abandono, é aquele em que a ausência do
trabalhador teve início.