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A RELAÇÃO INDIVIDUAL DE TRABALHO

• Preliminares. Relação de trabalho e Contrato de Trabalho


• A noção legal de contrato de Trabalho
– Elementos Caracterizadores
– Distinção do contrato de trabalho e figuras afins:
• Importância da distinção e dificuldades operatórias
• Contrato de trabalho e contrato de prestação de serviços (mandato,
empreitada e depósito)
• Contrato de trabalho e contrato de sociedade
• Contrato de trabalho e contrato de agência
• A determinação da subordinação
• As presunções de existência de um contrato de trabalho
• As situações equiparadas ao trabalho juridicamente subordinado

A noção legal de contrato de Trabalho
• O Direito do Trabalho tem o seu campo de actuação delimitado pela situação
de trabalho subordinado.
• O regime jurídico do contrato individual de trabalho consagrado no art. 26º/1º
do CL, vem dizer que contrato de trabalho “é a convenção pela qual uma
pessoa se obriga,, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra
pessoa, sob a autoridade e direcção desta mediante retribuição.”

Elementos Estruturantes
• Os elementos fundamentais do contrato de trabalho subordinado são quatro:
a)Objecto do contrato;
b)Sujeitos do contrato;
c)Retribuição
d)Subordinação jurídica

Objecto do contrato
• O objecto do contrato é a actividade do trabalhador – art. 1149º do C C e art.
26º CL. Este elemento consiste na natureza da prestação a que se obriga o
trabalhador.
• Trata-se de uma prestação de actividade, ou de meios, que consiste em fazer
algo, que é a aplicação ou exteriorização da força do trabalho, tornada
disponível para a outra parte através deste negócio.

• O objecto do contrato de trabalho é uma actividade. Contudo, podem surgir
situações de inactividade do trabalhador, sem que exista incumprimento do
contrato por parte deste.
Ex. – por factos ligados à empresa – quando numa loja, durante todo o
dia ninguém aparece para comprar – a situação do trabalhador não estar ocupado não
lhe pode ser tributável, porque resulta de factos ligados à própria empresa.

Outros exemplos surgem em contratos cujo objectivo não é definido por
referência a uma actividade concreta, ou em contratos de trabalho
subordinado de pessoas incumbidas de fazer a vigilância de locais – nada têm
que fazer, salvo quando surjam situações anormais.

Daqui se pode concluir que o objecto do contrato é uma actividade no sentido
de manter a disponibilidade do factor trabalho a favor de outrem, e onde os
resultados inerentes dessa actividade são alheios ou externos ao objecto do
contrato.

Sujeitos do contrato
• Sujeitos do contrato de trabalho são o trabalhador e a entidade patronal.
• O trabalhador é aquele que, por um contrato de trabalho subordinado coloca a
sua força de trabalho na disposição de outrem, mediante uma retribuição.
• A posição do trabalhador é normalmente ocupada por uma pessoa singular.
• No entanto esta posição não é totalmente aceite pela doutrina. Existem
autores, como o Prof. Menezes Cordeiro, que entendem que nada nos diz que
a posição do trabalhador deva ser ocupada apenas e só por uma pessoa
singular, admitindo que o possa ser por uma pessoa colectiva.
• Isto porque a subordinação jurídica e a obediência requeridas pelo Direito do
Trabalho, não são posições psicológicas, mas sim posições jurídicas. Como tal
nada impede que uma pessoa colectiva as venha a ocupar.
• Apesar de correcta do ponto de vista da lógica jurídica, esta posição suscita
enormes dificuldades em termos práticos. Dificuldades que se prendem com o
facto de uma grande parte das disposições do CL, não poderem ser aplicáveis
ao trabalhador enquanto pessoa colectiva – porque foram elaboradas tendo
em vista a posição do trabalhador ocupada única e exclusivamente por uma
pessoa singular.
• Ex. como aplicar o regime de faltas a uma pessoa colectiva?
• A entidade patronal é a pessoa individual ou colectiva que, por contrato,
adquire o poder de dispor da força de trabalho de outrem, no âmbito de uma
empresa, ou não, mediante o pagamento de uma retribuição.
• O modo como surge a relação de trabalho difere consoante estejamos perante
uma entidade patronal pessoa singular, ou pessoa colectiva.
• A entidade patronal é também designada como entidade empregadora ou
como empregador, com vista a significar “o dador de trabalho”.
A Retribuição
• A retribuição é essencial para a existência de um contrato de trabalho
subordinado.
• Esta faz parte da própria noção de contrato de trabalho, quer no art.1149º do
CC, quer no art. 26º CL.
• Ao Direito do Trabalho não interessam as relações pelas quais alguém presta
trabalho a título gratuito ou sem qualquer contrapartida de carácter
económico.
A Subordinação jurídica
• A subordinação jurídica consiste numa relação de dependência necessária da
conduta pessoal do trabalhador na execução do contrato, face às ordens,
regras ou orientações ditadas pelo empregador, dentro dos limites do mesmo
contrato e das normas que o regem.
• Esta subordinação, enquanto elemento inerente ao contrato de trabalho,
suscita algumas dificuldades, porque:
• não tem de transparecer em cada momento do contrato. Para que ela exista
basta que o seu titular tenha o direito de fiscalizar e de orientar a conduta do
trabalhador. Basta que exista o estado de dependência potencial do
trabalhador face ao empregador.
• admite vários graus, que variam segundo a actividade técnico-laboral do
trabalhador e também segundo o nível de diligência deste. À medida que o
trabalhador se torna mais intelectual é menos nítida a sua subordinação
jurídica.
• Na generalidade dos contratos de trabalho subordinado existe dependência
económica. A dependência económica pode existir em situações em que não
haja subordinação jurídica – caso dos contratos de prestação de serviços.
Distinção/Diferenças entre Contrato de Trabalho subordinado e figuras afins
Importância da distinção e dificuldades operatórias.

A destrinça fundamental entre o trabalho subordinado e o trabalho autónomo,


situada no plano dos conceitos operatórios, reflecte-a a lei na conformação de
correspondentes tipos de contratos por ela definidos em termos que já supõem um
critério (o legal) de demarcação dos dois campos e, portanto, de delimitação do
âmbito do Direito do Trabalho.
• O tipo de contrato especificamente destinado a cobrir o trabalho subordinado
é o contrato de trabalho. Ele aparece definido no art. 1149º CC (contrato de
trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade
e direcção desta).
• Limita-se o legislador civil a acrescentar, art. 1150º CC (O contrato de trabalho
está sujeito a legislação especial), que ficará sujeito a regime especial.
• Logo depois, no art. 1151º CC, introduz-se com efeito a noção do “contrato de
prestação de serviços”, nestes termos: “aquele em que uma das partes se
obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou
manual, com ou sem retribuição”.
Contrato de trabalho e contrato de prestação de serviços (mandato, empreitada e
depósito)
• 1) Contrato de trabalho (trabalho subordinado) – art. 1149º CC, Contrato de
prestação de serviços (trabalho autónomo) – art. 1151º CC
• A diferença entre estas figuras resulta de - actividade e resultado
• O 1º tem por objecto a actividade em si - os resultados a que essa actividade
possa conduzir são totalmente alheios ao objecto do contrato. No 2º o seu
objecto é a prossecução de um resultado. Os meios e a actividade necessária
para a manutenção desse resultado não fazem parte do objecto do contrato.
• Mesmo que, por força de um contrato de prestação de serviços, o prestador se
obrigue a utilizar determinados meios e a desenvolver determinada actividade,
estes seriam externos ao contrato.
• Aqui o desenvolvimento de determinada actividade resultaria do acordo das
partes e não da posição de autoridade do credor da prestação perante o
prestador.

• O contrato de prestação de serviços pode revestir três modalidades:
• contrato de Mandato – art. 1154º CC – tem por objecto a prática de um ou
mais actos jurídicos por conta de outrem. Presume-se que tal contrato seja
gratuito, a menos que a prática de tais actos seja própria da posição do
mandatário.
• O que caracteriza este contrato é a natureza dos actos a praticar – jurídicos e
não materiais.
• A procuração é o instrumento do contrato de mandato e com ela ocorre
a  formalização da representação.
• Nota: quando estamos perante um contrato de trabalho que tenha por objecto
a prática de actos jurídicos, deve atender-se ao facto de tais actos serem ou
não praticados ao abrigo da existência de uma relação de subordinação
jurídica. Não o sendo estaremos perante um contrato de prestação de serviços.
• contrato de depósito – art. 1182º CC – contrato pelo qual alguém entrega a
outrem uma coisa móvel ou imóvel, para que depois esta a restitua quando lhe
for pedida.
• Contrato de Empreitada – contrato pelo qual alguém se compromete a prestar
um resultado ou a realizar uma obra a outrem, mediante retribuição.
• Tem por objecto determinado resultado ou obra. A remuneração é feita em
função do resultado – se fosse feita em função do tempo estaríamos perante
um contrato de trabalho subordinado.
• O prestador desenvolve a sua actividade perante uma “clientela aberta” e não
perante uma única entidade, como sucede no contrato de trabalho.
• Actualmente, apesar de formalmente autónomos (cont. prest. Serv) são
materialmente muito próximos dos contratos de trabalho subordinado, dada a
dependência económica, que se traduz pela existência de duas características:
- o facto da retribuição ser o único ou principal meio de subsistência do
trabalhador;
- o facto do trabalhador estar integrado num processo produtivo
inteiramente dominado por outro.

Contrato de trabalho e o Contrato de sociedade – 977º CC


• Parece não existir qualquer possibilidade de confundir estes dois tipos de
contrato. Sucede porém que a noção de sociedade admite a possibilidade do
sócio entrar com capital ou com trabalho (sócios de indústria) – caso em que
podem surgir algumas situações de conflito. Ex. alguém entra para uma
sociedade e a sua prestação vai ser o seu trabalho como gerente. Poderá aqui
falar-se de contrato de trabalho? Entende o Prof. Pedro Romano Martinez que
não, porque o sócio gerente não pode dar ordens a si próprio nem estar sujeito
a um poder de direcção que também lhe pertence.
• A questão coloca-se sobretudo ao nível de sócios de indústria que não ocupem
cargos de gerência, participando na empresa com uma outra actividade não
ligada a funções de administração ou gestão. Não seria justo privar tais
trabalhadores da protecção conferida pela existência de um contrato de
trabalho.
• Porque considerá-los meros sócios, deixá-los-ia sujeitos aos mecanismos de
exclusão de sócios previstos no Código das Sociedades Comerciais, em que a
protecção é muito menor.
• Tais situações devem contudo ser analisadas caso a caso, partindo do
pressuposto que não existe qualquer incompatibilidade em cumular as duas
situações–sócio de indústria e trabalhador da mesma empresa.
Contrato de trabalho e Contrato de agência
• Há um contrato de agência sempre que o “agente” se compromete para com
outrem, o “principal”, a promover negócios, a promover a celebração de
contratos- tem em vista a promoção negocial. Não é o agente que vai celebrar
os contratos.
• No contrato de agência a remuneração é determinada em função dos negócios
que tenham sido celebrados. Situação semelhante se verifica com um vendedor
de uma empresa em que, parte da sua retribuição é flexível, em função das
comissões de vendas que lhe são atribuídas.
• A forma de distinguir estas duas figuras assenta na existência ou não de
subordinação jurídica. Não existindo, estaremos perante a figura do agente. No
caso contrário será um verdadeiro trabalhador da empresa.
Determinação da Subordinação
• Sendo a subordinação definida (pelo art. 26º CL) por referência à “autoridade e
direcção” do empregador, nem assim fica o julgador munido de instrumentos
suficientes e seguros para a qualificação dos casos concretos.
• Às vezes a “autoridade e direcção” do empregador se apresenta como meros
elementos potenciais (indícios)
O critério básico que diferencia o trabalho subordinado do trabalho autónomo é a
existência, ou não, de subordinação jurídica que se manifesta pela existência de uma
série de indícios:
• respeitantes ao momento organizatório do trabalho:
• vinculação ou não a um horário de trabalho;
• vinculação ou não à disciplina da empresa;
• prestação ou não da actividade no local definido pelo empregador;
• com carácter meramente local;
• o trabalhador estar sujeito ao regime de segurança social próprio do
trabalhador subordinado;
• a sujeição do trabalhador ao regime fiscal próprio do trabalho subordinado;
• utilização de instrumentos de trabalho fornecidos pelo empregador.
OBS: Os indícios têm um carácter relativo, porque também num contrato de prestação
de serviços os instrumentos de trabalho podem ser do empregador e não do
prestador.
As presunções de existência de um contrato de trabalho (33º/2 CL)
• A presunção prevista no número anterior pode ser ilidida mediante prova em
contrário.(33º/3 CL)
• Contratos equiparados: Os contratos equiparados aos de trabalho vêm
previstos no art. 26º/2º do CL. São formalmente autónomos, porque neles não
existe subordinação jurídica. São verdadeiros contratos de prestação de
serviços, mas com uma especificidade que se traduz no facto de neles haver
dependência económica. Ex: contrato de trabalho ao domicílio e o tele-
trabalho.

Contratos de trabalho excluídos do âmbito de aplicação directa do CL
• Existem verdadeiros contratos de trabalho subordinado aos quais não é
aplicável o regime constante da CL. Contudo não deixam de ser abrangidos pelo
Direito do Trabalho. São contratos de trabalho especiais que carecem de
regulamentação adequada às suas particularidades:
• Exs: Trabalho Doméstico (286º), Trabalho Portuário (309º), Trabalho Marítimo
(325º).

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