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Direito do Trabalho

Marcella Merabet

RELAÇÃO DE EMPREGO

Conceito: é um contrato, cujo conteúdo mínimo é a lei, possuindo como sujeitos, de um lado, o empregado que
presta serviços e de outro lado o empregador em função de quem os serviços são prestados de forma pessoal,
subordinada, habitual, e mediante salário.

A relação de emprego é um acordo, contrato ajustado entre as partes em que há as normas de ordem pública
(CLT, decretos, instrumentos normativos e etc), tendo como requisito mínimo a lei, o qual possui certas
condições que não podem ser alteradas salvo as situações do art 611-A.

● Quando fizer contrato de trabalho, seja tácito ou expresso, se houver os requisitos contidos no art 3 da
CLT vai gerar uma relação de emprego.

Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de
emprego.

Acordo tácito é aquele presumido, em que os atos da relação de emprego vão acontecendo, em que não foi
pactuado formalmente, mas que existe vínculo.

Toda e qualquer RELAÇÃO DE EMPREGO é uma RELAÇÃO DE TRABALHO. Mas, nem toda
RELAÇÃO DE TRABALHO é uma RELAÇÃO DE EMPREGO.

1. Sujeitos
Os Sujeitos da relação de emprego observam condições mínimas estabelecidas por lei, sendo eles,
empregado e empregador.

● Empregado: É pessoa física que presta serviço de forma subordinada e habitual mediante pagamento.
Jamais será possível ter empregado pessoa jurídica. Definido no art. 3 da CLT. A parte que oferece a
prestação de serviço deve se enquadrar na categoria de pessoa física.

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual
a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de
trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.

● Empregador: pessoa natural ou jurídica que recebe em função dos serviços prestados. Definido no art. 2
e parágrafos da CLT.
Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

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§ 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os
profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras
instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

É a empresa que pode ser individual ou coletiva que assalaria, admite, dirige a prestação pessoal de
serviço, assumindo os riscos da atividade econômica.

Obs* direito constitucional do empregado que foi contratado por comissão protege o direito de receber o
salário mínimo caso não consiga alcançar pelo valor mínimo estabelecido. (Art. 7, VII, CF)

Não é só empresa individual e coletiva que pode ser empregador, também é possível que pessoa natural
seja empregador, uma vez contido os requisitos de relação de emprego, este será equiparado ao
empregador para efeitos de relação de emprego.

Obs* Responsabilidade solidária - a partir do momento que ocorre IDPJ (Incidente de desconsideração
da personalidade jurídica) havendo esse reconhecimento, os sócios respondem solidariamente entre si
independente do limite de capital, uma vez que o empregador assume risco da atividade econômica.

As empresas podem ter personalidade jurídica própria, elas podem ter autonomia, no entanto ao integrar um
grupo econômico haverá responsabilidade solidária, ou seja, qualquer uma das empresas do grupo econômico
pode ser chamada para pagar um débito trabalhista.

§ 2o Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica
própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo
guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis
solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego. (Redação dada pela
Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

Para definir grupo econômico precisa haver interesse e atuação conjunto, uma efetiva comunhão de interesse
junto a identidade dos sócios.

§ 3o Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias, para a
configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e
a atuação conjunta das empresas dele integrantes. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

Obs* responsabilidade subsidiária - vai primeiro chamar para o pagamento a empresa principal, caso esta não tenha como
pagar a obrigação, irá seguir para a empresa secundária, subsidiária. Toda vez que tiver terceirização, a prestadora é a
principal e a tomadora é secundária.

2. Requisitos da Relação de Emprego.


É a partir da definição de empregado que se estabelece os requisitos da relação de emprego. Todos os requisitos
devem existir concomitante. São requisitos de relação de emprego do empregado urbano.

Sendo os requisitos:
➔ Pessoalidade: a prestação de serviço é realizada pessoalmente pelo empregado. Isto é, significa que as
pessoas contratadas não podem ser representadas ou substituídas por conta própria. Em termos gerais,
colaboradores que têm que desempenhar uma função ou tarefa em dada organização não poderão

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atribuir suas atividades a parentes ou a terceiros por vontade ou ordem própria, o serviço deve ser
prestado pessoalmente pelo empregado.

➔ Habitualidade: Diz respeito à frequência em que o serviço é prestado, a habitualidade advém da


necessidade da prestação do serviço. É uma habitualidade contínua, isso não significa dizer que deve
trabalhar todos os dias. . Assim, as atividades precisam ser executadas de forma constante, regular e
habitual.

➔ Subordinação: existe a subordinação:


- Técnica: conhecimentos específicos que o empregado possui
- Econômica: há dependência econômica de emprego
- Jurídica: caracterizada pelo controle por parte do empregador da atividade desenvolvida pelo
empregado. Trata-se da relação jurídica entre partes em que o empregador possui poder de
mando sob o empregado, o empregado está submetido ao poder empregatício como um todo.A
imprescindível é a subordinação jurídica, ainda que não tenha a técnica e nem a econômica
haverá vínculo de emprego.

Obs*O Colegiado da 4ª Turma do TST destacou que, para a configuração da subordinação


jurídica e, por conseguinte, da relação de emprego, “é necessário que estejam presentes na
relação todos os elementos que compõe o poder hierárquico (poder de mando) do empregador,
quais sejam: os poderes diretivos, fiscalizatório, regular e disciplinar”.

➔ Onerosidade: é o pagamento, o salário do empregado. Assim, os profissionais não trabalham de forma


gratuita, mas sim com base em um pagamento como forma de recompensa.
*compreende-se que o trabalho voluntário também não caracteriza vínculo empregatício em
virtude de seu caráter não remuneratório.

● Reforma trabalhista permitiu contratar trabalhadores autônomos. O autônomo possui a autonomia, não
haverá os requisitos da relação de emprego do art. 3 da CLT, logo, não haverá subordinação jurídica.

Art. 442-B. A contratação do autônomo, cumpridas por este todas as formalidades legais, com ou sem
exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado prevista no art. 3o desta
Consolidação. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

No entanto, existe uma subordinação estrutural (estrutura da empresa) que dita organizações dentro da
empresa, mas como o prestador autônomo possui a própria autonomia na prestação de serviço (escolhe
horário de trabalho, forma de trabalho). A subordinação estrutural não gera vínculo empregatício.

O estabelecimento de regras de procedimento na execução de serviços não se confunde com poder


diretivo do empregador, não tendo o condão de caracterizar subordinação jurídica

Conforme 4ª Turma do TST subordinação estrutural “se expressa pela inserção do trabalhador na
dinâmica do tomador de seus serviços, independentemente de receber (ou não) suas ordens diretas, mas
acolhendo, estruturalmente, sua dinâmica de organização e funcionamento”

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● Sucessão (Art. 10, 10-a, 448, 448-A)
O sucessor responde pelos débitos passados, presentes e futuros. A sucessão é quando ocorre uma
alteração de sócio ou uma alteração de estrutura jurídica.

Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por
seus empregados.

Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade
relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois
de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência:
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

I - a empresa devedora; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)


II - os sócios atuais; e (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)
III - os sócios retirantes. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)
Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficar
comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato.
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

Até o limite de 2 anos, depois de averbação da sucessão, o antigo sócio (sócio retirante) terá responsabilidade
subsidiária, observada a ordem contida no art. 10-A. Responderá solidariamente somente quando comprovado
que alteração na empresa foi uma fraude.

Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos
de trabalho dos respectivos empregados.

Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448
desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar
comprovada fraude na transferência. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

● Toda relação de emprego corresponde a um contrato de trabalho, entretanto, nem todo contrato de
trabalho corresponde a uma relação de emprego. Com base nisso, todo empregado é um trabalhador,
porém, nem todo trabalhador é empregado.

Quando se fala, portanto, em relação de trabalho, inclui-se a relação de emprego, a relação do trabalho
autônomo, eventual, avulso, voluntário, estágio.

*Avulso: a CF, o art 7, XXXIV. O trabalhador avulso não é empregado, na verdade ele é um contrato especial.
Ainda assim, a CF garante igualdade de direitos do empregado ao trabalhador avulso.

Art. 7 XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e
o trabalhador avulso

*Estágio: o estágio não forma vínculo de emprego, no entanto, quando preenchidos os requisitos da relação de
emprego haverá vínculo de relação de emprego.

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Cabe ressaltar que após a EC 45/04, em função da nova redação conferida ao Art. 114 da CF/88, passou a
justiça do trabalho a ter competência para processar e julgar qualquer relação de trabalho e não só a relação de
emprego. Logo, o poder judiciário passa a ter competência para analisar os conflitos decorrentes da relação de
trabalho.

Obs* Súmula 363 - Ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente é de competência da
justiça comum. Antes era justiça do trabalho.

● Natureza Jurídica da Relação de Emprego


- Teoria Contratualista: é a mais aceita pelos doutrinadores. A essência repousa na existência de um
contrato. A vontade das partes é a causa essencial de sua constituição. (Art. 442 e 443)

*Art. 442 e 443 - trata do acordo, o acordo é por meio da vontade das partes.
*Art 452-A - O contrato de trabalho intermitente.

- Teoria Anticontratualista: nega a natureza contratual, negando a manifestação da vontade do empregado.


Esta teoria não progrediu uma vez que desconsidera a manifestação da vontade das partes, essencial ao
contrato de trabalho.

● Denominação do contrato de trabalho (Art. 442 e 443)


Contrato individual de trabalho é o ajuste, tácito ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por
prazo determinado ou indeterminado.A pessoa física presta serviço habitual, subordinada, pessoal e
onerosa a uma pessoa física ou jurídica.

Ajuste tácito: o vínculo surge de forma espontânea, com a prática de atos que levam a caracterização do
trabalho habitual, subordinado e remunerado.

Ajuste expresso: ocorre quando temos a exteriorização da vontade das partes, que pode ser verbal (através de
palavras) ou escrito (documento).

Prazo indeterminado: é a regra geral, as partes não estipulam termo final da vigência quando da contratação.

Prazo determinado: quando da sua celebração as partes previamente fixam o prazo para seu término. (art. 443,
parag. 1)

Art. 443, § 1º - Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de
termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento
suscetível de previsão aproximada. (Parágrafo único renumerado pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)

● Características do contrato de trabalho


São características concomitantes, ou seja, precisa haver todos os requisitos. Trata-se do contrato de relação de
emprego.

1 – Bilateral: significa a presença de dois sujeitos: empregado e empregador.

2 - Consensual: vontade das partes

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3 - Sinalagmático: O direito e obrigações são recíprocas. As prestações devem ser equivalentes.

4 - Oneroso: pagamento (salário). O fato de ganhar menos que o mínimo não significa que não há relação de
emprego de modo que poderá ingressar com ação pedindo o complemento.

5 - Comutativo – na medida em que a prestação a ser recebida por qualquer das partes é conhecida no momento
da celebração. A prestação de serviço é ajustada no início do contrato, ou seja, vai definir a função, as folgas,
repouso semanal, se há acordo coletivo, horário de trabalho, uniforme e etc.

6 - intuitu personae: o contrato é personalíssimo na pessoa do contrato, ou seja, empregado não substitui por
outro.

7 - Trato sucessivo ou de execução continuada: regra geral o contrato prolonga-se no tempo. A prestação de
serviço se dá de forma sucessiva, ai desenvolvendo a prestação de serviço conforme a necessidade.

8 – Subordinação: subordinação jurídica, dependência.

● Súmula 205 TST - Foi cancelada. Responsabilidade solidário - Integrante do grupo econômico que
não participou da relação processual (desde a fase de conhecimento) como reclamado e que portanto,
não consta no título executivo judicial como devedor, não pode ser sujeito passivo na execução. Assim,
o entendimento antigo era que o Integrante do grupo econômico só o ia responder solidariamente se ele
fizesse parte da relação processual e constasse do título executivo judicial (a sentença)

Como a súmula foi cancelada, o entendimento atual é de que pode-se chamar a qualquer tempo o
grupo econômico na execução, só não é mais obrigado a quando ingressar com a ação colocar o grupo
no polo passivo. Entende-se que não há obrigatoriedade que o grupo econômico faça parte da relação
processual para chamar a responsabilidade solidária.

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