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EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL CABO-VERDIANA _________________________

Samira Morais Da Graça

1 EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL CABO-VERDIANA

2. CONSTITUIÇÃO
2.1) Definição
2.2) Classificação
2.3) Finalidade
2.4) Poder Constituinte: Espécies

3. ESTUDO DA CONSTITUIÇÃO DE CABO VERDE


3.1 Princípios fundamentais
3.2 Direitos e deveres
3.3 Organização do Poder Politico

INTRODUÇÃO

1. EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL CABO-VERDIANA

1.1) Após o 25 de Abril de 1974, foi celebrado um acordo entre o Governo provisório português e o
PAIGC, chamado acordo de Lisboa, de 18 de Dezembro de 1974.
O acordo previa a eleição, por sufrágio directo, universal e secreto, de urna assembleia
representativa do povo de Cabo Verde, dotada de poderes soberanos e constituintes, que teria por
função declarar a independência do estado de Cabo Verde e elaborar a futura Constituição do País.
O acordo previa ainda que as operações conducentes a essa eleição seriam definidas pelos órgãos
de soberania portugueses.

1.2) A 15 de Abril de 1975, foi aprovada, pelo Decreto-lei n.º 203-A/75, a lei eleitoral para a eleição da
Assembleia Representativa, Soberana e Constituinte. Essa lei eleitoral também previa que à
Assembleia competia elaborar e aprovar, por maioria simples dos seus membros, a 1a Constituição
de Cabo Verde, no praz de 90 dias a contar do acesso deste Estado à plenitude das suas
prerrogativas de soberania e independência. (art. 2°, n. °1).

1.3) As eleições vieram a ser realizadas no dia 30 de Junho de 1975, tendo saído vencedor a lista
única patrocinada pelo PAIGC, num ambiente marcado pela supremacia politica, logística e no
terreno, do PAIGC, numa aliança estreita com o próprio MFA em Cabo Verde. E eleita então a
Assembleia Nacional de Cabo Verde.

1.4) A 5 de Julho de 1975, a Assembleia Nacional de Cabo Verde proclama solenemente a República
de Cabo Verde como Nação Independente e Soberana. Juntamente com o “Texto da Proclamação da
Independência de Cabo Verde”, publicado no Boletim Oficial n.º 1, de 5 de Julho de 1975, a
Assembleia Nacional de Cabo Verde aprova também uma Lei sobre a Organização Politica do Estado
(LO.P.E.) e elege, por resolução, um Presidente da República e um Primeiro Ministro. No mesmo dia
era constituído o governo e a Assembleia Nacional passa a chamar-se de Assembleia Nacional
Popular (art. 30 da LOPE).

1.5) É a LOPE, verdadeira constituição provisória, que vem constituir a Lei Fundamental do País até
05 de Setembro de 1980, data da aprovação da Constituição da República de Cavo Verde. Composta
por 23 artigos, assegura a ordenação constitucional de Cabo Verde até 05 de Setembro 1980,
ultrapassando, em quase 5 anos, o período de tempo previsto para a sua vigência.

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Resumindo, a Assembleia Constituinte violou o seu mandato ao ultrapassar os limites temporais e de


competência do seu mandato e, ao não aprovar, na forma e nos termos impostos pelo mandato que
possuía, a constituição da República.

1.6) Em 12 de Fevereiro de 1981 é feita uma ia revisão constitucional. Tal revisão foi imposta. Pelos
acontecimentos que se deram após o Golpe de Estado de 14 de Novembro, na Guiné-Bissau e que
levaram a criação do PAICV. As alterações a constituição tiveram precisamente a ver com a
substituição das referências feitas na Constituição ao PAIGC por outras respeitantes ao PAICV e na
revogação de todas as normas que consubstanciavam o princípio constitucional da unidade Guiné -
Cabo Verde.

1.7) Em 17 de Dezembro de 1988 a ANP procedeu à 2° revisão do texto constitucional, que se limitou
à alguns artigos, com vista a facilitar, posteriormente, a aprovação de um conjunto de diplomas legais
relativos ao investimento estrangeiro, ao desenvolvimento industrial, e à delimitação dos sectores de
propriedade e das actividades económicas.

1.8) Com a lei constitucional n.º 2/111/90 de 29 de Setembro, operou-se urna profunda revisão
constitucional cm Cabo Verde. Realizada após a abertura política de 19 de Fevereiro, a revisão de
1990, procedeu a alteração do art. 40, que consagrava o princípio do partido único, permitindo-se a
livre constituição de partidos políticos. Introduz novo conceito (art. 58 A) que altera profundamente as
competências da ANP, introduz a eleição do Presidente da Republica por sufrágio livre, universal,
directo, igual e secreto dos cidadãos eleitores recenseados no território nacional, confere ao PR
competências novas desde a nomeação do primeiro Ministro às de dissolução da Assembleia, demitir
o Governo e exercer o direito de veto, (art. 68, A), em suma uma profunda revisão) do sistema
político.

1.9) Na base desta Constituição se realizam as primeiras eleições pluralistas e democráticas no pais
a 13 de Janeiro de 1991, através da qual se forma uma nova Assembleia Nacional que irá aprovar a
Constituição de 1992.

1.10) …

2. CONSTITUIÇÃO

2.1) Definição

É a lei maior ou a norma de ordem superior de um estado, que dispõe sobre a sua
organização e as garantias e direitos individuais do cidadão, dentre outros temas considerados de
maior relevância pelo contexto da sociedade em que é elaborada.

Todo país politicamente organizado possui uma constituição que estabelece direitos
fundamentais do ser humano, além de fundamentos e objectivos do Estado, forma e regime de
governo, sistema político e eleitoral, estrutura e organização dos poderes.

Nos tempos actuais, os Estados democráticos possuem constituições democráticas, assim


consideradas às promulgadas pelo poder constituinte, que se origina e emana tão-somente do povo,
que é a única fonte legítima da soberania. “É a lei maior ou a norma de ordem superior de um estado”

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Para alcançarmos o exacto sentido desta definição, precisamos entender duas ideias a que a
definição se refere:

a) Ideia de Estado - O Estado é o uma associação de mulheres e homens que vivem num território
próprio, politicamente organizados sob um governo soberano.

Três são os elementos que constituem o Estado:


- Território;
- População;
- Governo soberano;

O território ou solo é o pedaço de chão no qual o Estado se organiza.


A população ou povo é o conteúdo humano do Estado, é o conjunto de pessoas que vivem
nele. Quando um povo tem um mesmo passado histórico e um certo conjunto de interesses e
inspirações comuns, sobretudo tudo o desejo de tornar-se independente ou de manter-se
independente, diz-se que é uma Nação.

O terceiro elemento do Estado é o governo soberano ou soberania. Diz-se um governo é


soberano quando possui personalidade internacional e quando dispõe do poder máximo dentro de
seu território.

b) Ideia de Lei Maior de um Estado - A segunda ideia é a de Lei Maior. A Constituição é a lei maior de
um Estado. Isto significa dizer que ela tem força superior às outras. Todas as leis têm de conformar-
se com a Constituição. O próprio governante esta por ela vinculado, não a podendo alterar ou
modificar unilateralmente (porque a constituição é o fundamento do seu poder).

Em suma é a Lei Fundamental de um estado.

2.2) Classificação:

- Quanto à forma

1. Escritas: as constituições, em regra, são escritas.

2. Consuetudinária - a constituição não existe como documento formai. Tem por base a tradição e o
costume legal. O exemplo clássico é o sistema britânico, onde a jurisprudência exerce grande
influência e as leis raramente descem a detalhes, sendo, por vezes, “lacónicas”. E o sistema
conhecido como common Iaw. (vide anexo 02)

3. Dogmáticas: assumem dogmas e os dogmas estão no documento formal.


Ex.: Direito à liberdade. Não pode existir no Direito Cabo-verdiano uma lei que se contraponha à
liberdade.

- Quanto à mutabilidade

A mutabilidade de uma Constituição refere-se à susceptibilidade de ser ou não reformada e a


rigidez ou não, dos procedimentos legislativos necessários sua reforma.

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1. Imutável ou inalterável - É a Constituição que não admite alteração no seu conteúdo após a sua
publicação.

2.Parcialmentc imutável - É a Constituição que não permite a alteração de uma parte de seus
dispositivos, denominados cláusulas pétreas. Estas cláusulas não serão objecto de alteração ou
abolição.

Ex.: Art. 285° da CR

3. Rígida - Exige procedimentos legislativos especiais (mais rigorosos, mais difíceis e mais
complexos) .tra sua alteração ou reforma.

4. Semi-rígida - Este tipo de Constituição reserva a rigidez para uma parcela de seus dispositivos,
sendo os demais considerados flexíveis.

5. Flexível - Constituições flexíveis são aquelas em que o procedimento legislativo a ser seguido para
emendá-la é o mesmo aplicado à legislação ordinária.

- Quanto à origem

1. Promulgada ou democrática – É aquela elaborada por uma Assembleia Constituinte formada por
representantes do povo.

2. Outorgada – É redigida e imposta pelo poder governante, normalmente monarcas absolutistas,


ditadores e juntas golpistas.

- Quanto à extensão

1. Sintética, sucinta – Constituição de menor extensão. Normalmente se limita a estabelecer apenas


princípios gerais. Parte da doutrina tem considerado como sintéticas aquelas Constituições com
menos de 100 artigos.

2. Analítica, prolixa – É a que aborda detalhes que, na visão de muitos doutrinadores, poderiam ser
abordados por lei ordinárias. Costuma superar os 100 artigos. E o caso da Constituição brasileira.

- Quanto à ideologia

1 Ecléctica – Abre espaço a mais de uma ideologia.

2 Ortodoxa – Segue apenas uma ideologia.

2.3) Finalidade

As Constituições modernas costumam ter as seguintes finalidades:

1) Organizar o Estado;
2) Limitar os poderes do Estado cm face das pessoas e dos grupos intermediários;
3) Definir as directrizes da vida económica e social.

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2.4) Poder constituinte / Poder de revisão

Poder Constituinte - aquele poder capaz de criar, modificar ou implementar normas de força
constitucional.

Nos Estados democráticos, a titularidade do poder constituinte pertence ao povo, pois o


Estado decorre da soberania popular. Em razão da sua titularidade pertencer ao povo, o poder
constituinte é permanente, isto é, não se esgota no acto do seu exercício, visto que o povo não pode
perder o direito de querer e de mudar à sua vontade.

Embora na actualidade haja um consenso teórico em afirmar ser o povo o titular do poder
constituinte, o seu exercício nem sempre tem-se realizado democraticamente.

Assim, embora legitimamente o poder constituinte pertença sempre ao povo, temos duas
formas distintas para o seu exercício: outorga e assembleia constituinte.

A outorga é o estabelecimento da Constituição pelo próprio detentor do poder, sem a


participação popular. E acto unilateral do governante, que auto limita o seu poder e impõe as regras
constitucionais ao povo. Resulta então uma Constituição Outorgada.

A assembleia constituinte é a forma típica de exercício do poder constituinte, em que o povo,


seu legítimo titular, democraticamente, outorga poderes aos seus representantes especialmente
eleitos para a elaboração da Constituição. Povo, através dos seus representantes, a impõe à
autoridade que governa.
Resulta dai a Constituição Promulgada.

Revisão

Na constituição de Cabo Verde, o Titulo III da Parte VI é dedicado a questão da revisão da


Constituição. Dos artigos 283° e 285°, se conclui que a Constituição é rígida pois exige para a sua
modificação um processo agravado em relação ao processo de formação das leis ordinárias e
parcialmente mutável, pois impõe limites ao poder de revisão.

Todavia, ao contrário do que muitas vezes se afirmar, não é a exigência de um processo de


revisão estabelecedor de exigências específicas para a modificação da Constituição que caracteriza a
sua rigidez. Esse carácter deve procurar-se antes em sede do poder constituinte. As normas de
revisão não são o fundamento da rigidez da Constituição e sim os meios de revelação da escolha
feita pelo poder constituinte. Esta escolha impedindo a livre modificação da Constituição pelo
legislador ordinário (constituição flexível), considera-se uma garantia da própria Constituição. O
processo agravado da revisão é, por sua vez, um instrumento dessa garantia — a rigidez
constitucional é um limite absoluto ao poder de revisão, assegurando, desta forma, a relativa
estabilidade da constituição.

De onde se infere uma superioridade da função constituinte em relação à função de revisão,


exigindo aquele solidariedade entre os princípios fundamentais da Constituição e as ideias
constitucionais consagradas pelo poder de revisão. Em suma, o poder de revisão da Constituição
baseia-se na própria constituição. art.º 281º

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Espécies de poder constituinte

A doutrina costuma distinguir as seguintes espécies de poder constituinte: poder constituinte


originário e poder constituinte derivado (este tendo como espécies o poder reformador e o
decorrente.)

O poder constituinte originário (também denominado genuíno ou próprio) é o poder de


elaborar uma constituição. Não encontra limites no direito positivo anterior, não deve obediência a
nenhuma regra jurídica preexistente. Assim, podemos caracterizar o poder constituinte originário
como inicial, permanente, absoluto, soberano, ilimitado, incondicionado e inalienável.

O poder constituinte derivado (também denominado reformador, secundário) é o poder de


reforma, que permite a mudança da Constituição, adaptando-a a novas necessidades, sem que para
tanto seja preciso recorrer ao poder constituinte originário.

É um poder derivado (porque instituído pelo poder constituinte originário), subordinado


(porque se encontra limitado pelas normas estabelecidas pela própria Constituição, as quais não
poderá contrariar, sob pena de inconstitucionalidade) e condicionado (porque o seu modo de agir
deve seguir as regras previamente estabelecidas pela própria Constituição).

Essas Limitações ao poder constituinte derivado são comumente classificadas em três


grandes grupos: limitações temporais, limitações circunstancias e limitações materiais.

As limitações temporais consistem na vedação, por determinado lapso temporal, de


alterabilidade das normas constitucionais. A Constituição insere norma proibitiva de reforma de seus
dispositivos por um prazo determinado.

Exemplo: Revisão ordinária de 5 em 5 anos.

As limitações circunstanciais evitam modificações na Constituição cm certas ocasiões


anormais e excepcionais do país, em que possa estar ameaçada a livre manifestação do órgão
reformador. Busca-se afastar eventual perturbação à liberdade e à independência dos órgãos
incumbidos da reforma. A actual Constituição consagra tais limitações, ao vedar a revisão na vigência
de estado de sítio e de emergência.

As limitações materiais excluem determinadas matérias ou conteúdo da possibilidade de


reforma, visando a assegurar a integridade da Constituição, impedindo que eventuais reformas
provoquem a sua destruição ou impliquem profunda mudança de sua identidade. Art. 285°. Tais
limitações podem ser explícitas ou implícitas.

As limitações materiais explícitas correspondem àquelas matérias que o constituinte definiu


expressamente na Constituição como inalteráveis. O próprio poder constituinte originário faz constar
na sua obra um núcleo imodificável. Tais limitações inserem-se, pois, expressamente, no texto
constitucional e são conhecidas por “cláusulas pétreas”.

As limitações materiais implícitas são aquelas matérias que, apesar dc fl() inscridas no texto
constitucional, estão implicitamente fora do alcance do poder dc rcorma, sob pena dc implicar a
ruptura da ordem constitucional. Isso porque, caso pudessem ser modificadas pelo poder constituinte

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derivado, de nada adiantaria a previsão expressa das demais limitações. São apontadas pela
doutrina três importantes limitações materiais implícitas, a saber:

- a titularidade do poder constituinte originário, pois uma reforma constitucional não pode mudar o
titular do poder que cria o próprio poder re formador;

- a titoii;tdade do poder constituirc derivado, pois sua um despautério que o legislador ordinário
estabelecesse novo titular de um poder derivado só da vontade do constituinte originário; e

- o processo da própria reforma constitucional, senão poderiam restar fraudadas as limitações


xplícitas impostas pelo constituinte originário.

3. ESTUDO DA CONSTITUIÇÃO DE CABO VERDE

3.1 Princípios fundamentais

Não basta, ao operador do direito conhecer os princípios; fundamental, é saber para que eles servem,
qual a função dos princípios.

Sabe-se que os princípios, ao lado das regras, são normas jurídicas2. Os princípios, porém, exercem
dentro do sistema normativo um papel diferente dos das regras. Estas, por descreverem fatos
hipotéticos, possuem a nítida função dc regular, directa ou indirectatiiente, s• relações jurídicas que
se eiquadrem nas molduras úpicas por elas descritas. Não é assim com os princípios, que são
normas generalíssimas dentro do sistema.

Na realidade, os princípios são “multifuncionais” (CANOTILHO), sendo que podem ser-lhes


apontadas as seguintes funções:

a) função fundamentadora - excrcc a importante função de fundamentar a ordem jurídica em que se


insere, fazendo com que todas as relações jurídicas que adetitram ao sistema busquem flOS
princípios constitucionais “a fonte das estruturas e instituições jurídicas

Portanto, os princípios são as ideias básicas que servem dc fundanwnto ao direito


I)aí a itnport5ncia dc seu conhecimento para a interpretação do direito e elemento integrador das
lacunas legais.

E importante salientar que os princípios, enquanto ftirfdamcntos vinculantes dc 43 conduta, pautam


não somente a acção do legislador constituído, mas de também do administrador, do juiz e de todos
as pessoas (físicas e jurídicas, públicas e privadas) que compõe a sociedade política.

b função orientadora d interpretação — talvez, empiricamente, a função 1)recípua dos princípios sej’,
justamente, a de sir de bússola ao intérprete do direito. “O ponto dc partka do intérprete ha que ser
sempre os princípi s constitucionais, que são o conjunto dc normas que espelham a ideologia da
Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito dc forma sumária, os princípios
constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte com fundamcnto ou qualificações essenciais
da ordem jurídica que institui”.

A função orientadora da interpretação desenvolvida pelos princípios “decorre logicamente de sua


função fundamentadora do direito. Realmente, se as leis são informadas ou fundamentadas nos

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princípios, então devem scr interpretadas dc acordo com os mesmos, porque são eles que dão
sentido às regras. Qprincípios scivem jois, dc guia e orientação na busca dc sentido e alcancç çlas
normas [regras]”.
Consequência directa desta função dos princípios constitucionais, é a constatação dc que não são os
princípios constitucionais que se movem no âmbito da lei, mas a lei que sc move no âmbito dos
princípios.

Assim, na lição de CARLOS ARI SANDFELD:

a) É incorrecta a interpvctação da regra, quando dela derivar contradição, explícita ou velada, com os
princípios;
b) Quando a regra admitir logicamente mais de uma interpretação, prevalece a que melhor se afinar
com os princípios;

c) Quando a regra tiver sido redigida dc modo tal que resulte mais extensa ou mais restrita que o
princípio, justifica-se a interpretação extensiva ou restritiva, respectivamente, para calibrar o alcance
da regra com o princípio.”

d) Agora, quanto à integração jurídica, diz: “Na ausência de regra específica para regular dada
situação (isto é, cm caso dc lacuna), a regra faltante deve ser construída dc modo a realizar
concretamente a solução indicada pelos princípios.”

Percebeu-se que a lei (regra), como norma genérica e abstracta, pode, na casuística, levar à injustiça
flagrante. Aos princípios, pois, cabe a importante função dc guiar o juiz, muitas VeZeS contra o
próprio texto da lei, na formulação da decisão justa ao caso concreto. O juiz cria o direito, quer
queiram quer não. E nessa actividade dc criação do direito ao caso concreto, os olhos do juiz devem
estar voltados para os princípios constitucionais.

* Ao dessas duas funçõës básicas podemos enurnejar outras, quais a “dc qualificar, juridicamente, a
própria re:tiidade a que se r’frm, indicando qual a posição que os agentes jurídicos devem tomar cm
relação a ela, ou seja, apontado o rumo que deve seguir a regulamentação da realidade, dc modo a
não contravir aos valores contidos no princípio” e, tratan&’-se de princípio inserido na Constituição, a
de revogar as nornias anteriores e invalidar as posteriores que lhes sejam irredutivelmente
inco:npatíveis”.

Diz-se, assim, que os princípios têm eficácia negativa, entende-se que decisões, regras, ou mesmo,
subprincípios que se contraponham a princípios serão inválidos, por contraste normativo”.

Ademais, serve o princípio como limite de atuação do jurista. Explica-se: no mesmo passo em que
funciona como vector de interpretação, o princípio tem como função limitar a vontade subjectiva do
aplicador do direito, vale dizer, os princípios estabelecem balizamentos dentro dos quais o jurista
exercitará sua criatividade, seu senso do razoável e sua capacidade de fazer a justiça dc) CS()
concreto.

Assim, é correcto dizer que os princípios podem ser vislumbrados cm distintas dimensões:
fundamentadora, interpretativa, intcgrativa e limitativa (Trabucchi e Bobbio).

Para finalizar

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O impacto revolucionário das novas tecnologias - internet correio electrónico, telefone celular,
computadores portáteis, fax, soflware - e dos mais modernos meios dc comunicação - TV a cabo, via
satélite, vidcoconfcrêflcia, etc. - parece ser
iicompatíveI com a segurança jurídica, que é a razão dc ser do ordenamento e quiçá do próprio direito
cm sua essência.

E é nesse cenário que surgc a importância maior dos princípios constitucionais:

servir justamente para dar o forte para onde o interprete deve seguir nessa difícil actividade dc
adaptação do direito às novas situações jurídicas que vão surgindo num planeta globalizado
completamente diferente de tudo pic já existiu.

1 ) de facto, OS princípios, cm relação às regras, têm uma grande ‘antagem: a abertura. Ou seja, OS
princípios São capazes dc captarem às mudanças da realidade.

3.2 Direitos, deveres e Garantias fundamentais

Ligeiro histórico

O CÓDIGO DE HAMURA3I constitui primeiro código escrito de leis dc que se tem noticia. Esse cdigo,
gravado nur:. 3tela dc basalto flC() por vnlta do século XV1II a. C., foi encontrado cm Susa entre 1901
c1902 e hoje esta no museu do Louvre, em Paris.

Defendia basicamente a vida e o direito de propriedade; mas também contempiava a honra, .i


dignidade, a família e a supremacia das leis cm r(!Lção aos governantes. E embora contivesse
dispositivos que continuam aceitos até hoje, fundava-se sobretudo no principio dc talião: “olho por
olho, dente por dente”. Previa portanto castigos desumanos como o afogamento, o empalamento e o
arrancamento da língua e dc outras partes do corpo, por exemplo.

À partir desse primeiro código, instituições sociais como a religião e a democracia, ou concepções
como a filosofia, contribuíram para humanizar os sistemas legais. Assim é que os gregos defenderam
a existência dc um Direito Natural anterior e superior às leis escritas, e os romanos editaram a Lei das
Doze Tábuas, considerada no mundo ocidental como sendo o primeiro conjunto de leis
consagradoras da liberdade, da propriedade e da protecção aos direitos dos cidadãos.

Bem mais tarde, a junção dos princípios religiosos do cristianismo com os ideais libertários da
Rcvplução Francesa deram origem à Declaração Universal dos Direitos do Homem, assiNa4a cm
Paris e,a 10/12/1948. Ela representa a ptimeiia tentativa da humanidade c estabelecer parâmetros
humanitários válidos universalmente para todos os homens, independentes dc raça, sexo, poder,
lingua, crença, opinião política, etc., e foi adoptada e proclamada pela Resolução no. 217 da
Organização das Nações Unidas.

O filósofo italiano Norberto BOBBIO sustenta entretanto que não existem quaisquer “Direitos
Naturais” ou “Fundamentais” aos quais o homem faça jus por sua simples condição de ser humano.
Defende antes que os Direitos Humanos são conquistas resultantes de longas e por vezes
sangrentas lutas dos homens contra as várias formas de opressão; conquistas estas legitimadas
depois pelos legisladores, pelos trll)unais e pelos juristas. Bobbio defende também que a cada direito
conquistado corresponde a perda dc poder de um determinado Segmento da suojiedade que se
mantinha naquela posiÇ() pelo exercício da opressáo. \SSim é o direito à liberdade religiosa implicou

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na perda do poder da Igreja dc impor a sua fé e o enfraquecimento do Absolutismo permitiu a


transformação dos súditos cm cidadãos, que lutaram pela protecção dos seus direitos dc cidadania.
Daí se conclui que os Direitos Humanos são conquistas da civilização; e que portanto uma sociedade
é tanto mais civilizada quanto mais os Direitos Humanos são nela protegidos e respeitados.

A maior parte das constitulçocs modernas, espelham-se na l)cclaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU. Ias isto no significa dizer que as sociedades que se regem por cartas magnas que
rezam pel(s noncs da Declaração Universal de 1948 sejam ncccssariamcrte sociedades dcmoráticas
dc fato, vivendo m’m legítimo Estado dc Direito. Muito pelo contrário, o que se observa é que os
Direitos Humanos só são protegidos, respeitados e efectivados verdadeiramente nas sociedades
onde os cidadãos permanecem vigilantes e participantes, sen delegar ape s ao Estado a protecção e
a aplicação desses dircit.’ s. Isto significa dizer que a cidadania é uma via de mão dupla onde os
cidadãG têm direitos, pois que os conquistaram. Mas também têm Deveres cm relação aos scus
semelhantes, entre os quais o de permanecerem vigilantes e participantes, construindo
conscientemente sua história individual e colectiva, numa perspectiva que considere inclusive as
gerações futuras.

Conceito e Características

O conjunto dos Direitos Humanos Fundamentais visa garantir ao ser humano, entre outros, o respeito
ao seu direito à vida, à liberdade, à igualdade e à dignidade; bem como ao pleno desenvolvimento da
sua personalidade. Eles garantem a não ingerência do estado na esfera individual e consagram a
dignidade humana. Sua protecção cvc ser reconhecida positivamente pelos ordenamentos jurídicos
nacionais e intcrnaciôpais.

As principais características dos direitos fundamentais são:

Imprescritibilidade: os direitos humanos fundamentais não se perdem pelo decurso de prazo. Eles
são permanentes;

• Inalienabilidade: nao se transterem ae uma para outra pessoa os direitos fundamentais, seja
gratuitamente, seja mediante pagamento;

• Irrenunciabilidade: os direitos humanos fundamentais não são tcnuflCiáVCiS. Não se pode exigir de
ninguém que renuncie à vida (não se pode pedir a um doente terminal que aceite a eutanásia, por
exemplo) ou à liberdade não se pode pedir a alguém que vá para a priSão no lugar de outro) cm favor
dc outra pCSS( l.

• Inviolabilidade: nenhuma lei infraconstitticional, nem nenhuma iilae pode desrespeitar os direitos
fundamentais de outrem, SOl) pena dc fcsponsal)ihzaçao) civil, administrativa e criminal;
• Universalidade: OS direitos fundamentais aplicam-se a todos OS indivíduos, independentemente de
sua nacionalidade, SeXO, raça, credo OU COnVICÇãO político-filosófica;
• Efectividade: o Poder Público deve actuar dc modo a garantir a efectivação dos direitos e garantias
fundamentais, usando indusive mecanismos coercitivos quando necessário; porque esses direitos
não se satisfazem com o simples reconhecimento abstrato Intriependência: várias previsões
constitucionais e infraconstitucionais não podem se chocar com os direitos fundan’. rtais. Muito I)Cl0
contrário, devem se relacionar entre si dc modo a atingirem suas finalidades;

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Complementaridade: os direitos humanos fundamentais nao devem ser interpretados isoladamente,


mas sim de forma conjunta, com a finalidade da sua plena realização.
As Sucessivas Gerações Dos Direitos Fundamentais
Baseando-se na ordem histórico-cronológiCa do seu surgimento, vários autores estabelecem
sucessivas gerações para os Direitos Humanos, que podemos resumir da seguinte forma:

1. Seriam da primeira geração OS Direitos da Liberdade: liberdade religiosa, liberdade politica,


liberdades civis clássicas como o direito à vida, à segurança, etc.

2. I)c segunda geração seriam os Direitos da Igualdade: protecção do trabalho contra o desemprego;
direito de instrução contra o analfabetismo; assistência para a invalidez e a velhice; direito à saúde,
ao lazer e à cultura, etc.

3. De terceira gciação seriam os Direitos da Fraternidade, ciue englobam o direito a um meio


ambienteS tequilibrado, a uma saudável qualidade de vida, ao progresso, etc.

4. Dc quarta geração seriam os Direitos da Responsabilidade: promoção e manutenção da Paz,


promoção e manutenção da Autodeterminação dos Povos, promoção da Etica da Vida defendida pela
Bioética, etc.;

• Garantias Fundamentais

Garantias constitucionais são cláusulas inseridas nas constituições visando protegê-las de qualquer
violação. Como espécie destas temos aquelas pertinentes ao processo. São portanto, as garantias
constitucionais do OCCSSO que têm, segundo a professora Ada Pcllcgrini Grinovcr, carácter
asseCuratórlo. Visam tutelar, garantir, o cxrruíci) dc outros direitos, sendo deles um instrumento. Isto
é, as vantatcflS a nhui(Ias às partes fl() processo, considerando cada uma individualmente, não têm

P° único fim tutelar os interesses dc cada uma delas, mas sim um interesse maior, que é o da
sociedade em ter um “devido processo legaV’. Essas garantias satisfazem, portanto, o interesse
social em obter justiça sendo, efltàO, falha uma visão unilateral a respeito do assunto.

São elas, então, de extrema importância para a sociedade, dc modo que Ada Pcllegrini Grinovcr, por
exemplo, diz que uma infracção a qualquer uma delas geraria um não-processo. A iniraCÇà() seria,
portanto. uma causa de inexistência d processo. Completando o rciocíni() desta renomada jurista
podemos citar pcvSmefltO do profcsur Kazuo \Vatanabe no sentido dc colocar, no ai: i() do accss.i à
justiça, que a existência das garantias signific. maneira mais ex:. til só o acesso à justiça formal, mas
o acesso a “ordem jurídica justa” dc conotação rnateriq.l.

Tais garantias se manifestam sob a forma dc princípios, fruto dc um desenvolvimento histórico que
cond’ iu a um sistema mais justo dentro das concepções aceitas pela sociedade.

Enunciaremos agora alguns desses princípios, relacionando-os uns com os outros e posteriormente
faremos algumas considerações a respeito.

- Começaremos falando do princípio da legalidade ou da reserva legal, que vem enunciado


juntamente com o da anterioridade, no Código Penal, art. 1°, n.° 1 e na Constituição da República,
art. 31, n.°4. Chama-se da reserva legal, porque somente à lei está reservado o direito dc definir
crimes ou penas. Seu enunciado em latim, atribuído ao criminalista alemão FEUERBACH, reza:

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Samira Morais Da Graça

nuilum crimen, nulia poena sine lege. Guarda relação com o princípio da anterioridade (CR art. 31°,
n.°4) pois, se ele diz que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”, como um crime poderia ser punido se não se encontrasse previsio ( tipificado) na
lei? Esta, para atingi-lo, teria que retroagir. Percebe-se, desta maneira, a relação exististe entre esses
dois princípios.

- Para que o juiz exerça sua função com o máximo de imparcialidade e dê uma solução justa à
contenda é necessário que ele obtenha o máximo de informações possíveis. Para tanto, deve ser
assegurada liberdade às partes para obter e apresentar provas em juízo: este seria o princípio da
ampla defesa. Porém, de nada seria útil e não fossem asseguradas às partes as mesmas
oportunidades de apresentar as provas e de as contradizer. Tudo deve ser feito às claras, ouvindo-se
ambas as partes. Para que isto seja assegurado, existe o princípio do contraditório, que busca a
igualdade entre as partes. Actualmente procura-se no processo estabelecer não só uma igualdade
formal, que já é assegurada por lei (princípio de igualdade perante a lei, art. 23°, CR), mas também
uma igualdade material, função esta pertinente 1() Estado que a desempenha, por exemplo,
fornecendo advogados a picm T1() tem conduções de pagá-los (Assistência Judiciária). Isto é,
diferenças externas são amortizadas a fim dc garantir a todos as mesmas po5sil)ilidId(S de acesso ao
Judicirio. Se OS métodos utilizados pelo Estado são eficazes OU flO, Cabe à Sociologia Jurídica
discutir.

Dc tudo o que foi dito podemos tirar algumas conclusões. Essas garantias, como já se disse, não
visam beneficiar somente as partes, mas acima dc tudo pretendem a consecução de um fim, que é a
justiça. São também uma maneira da própria sociedade se proteger contra o Estado, permitindo a
acço deste dentro dc certos Jrnitcs ou parâmctos estabelecidos, que conduzirão à realizaça() dos
anseios po: eii desejados.

Anexo 01

Direito Constitucional - “O ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e
normas fundamentais do Estado”.

José Afonso da Silva

Direito I’úbll-u

O direito público, corno rcgulaÇã() das relações cidadão-estado e estado - cidadão, ti-ata das
questões relativas ao interesse público e está relacionado com as funções dc justiça legal e de justiça
distributiva.
() direito público, cm vista do princípio da legalidade, admite as fontes subsidiárias de direito, dc modo
exccpck)nal e sempre tendo cm vista a garantia do cidadão cm relação ao Poder.

- direito público e jusLiça legal

A justiça legal, na classificação de Aristóteles, é a que se ocupa dos deveres do cidadão para com o
Estado.

Modernamente, ou seja, a partir da preocupação do pcisamcnto moderno, a fim de se evitar a


exploração do cidadão por parte do Poder, há princípios rígidos a serem obedecidos por esse ramo
do direito, conhecido como direito público.

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Samira Morais Da Graça

O direito público, portanto, deve obedecer, basicamente, o princípio da legalidade e o princípio da


anterioridade, inerente àquele, de maneira que o poder não seja exercido arbitrariamente,
disciplinando-se claramente na lei quais são os deveres do cidadão para com o Estado e, pois, o que
este pode dele exigir.

São espécies de direito público: O Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Penal, o
Direito Penal Militar, o Direito Tributário, o Direito Eleitoral, o Direito Internacional Público e os
diversos direitos proccssuais (civil, penal, do ‘Trabalho etc.)

- direito pújusdisttiVa

A justiça distributiva é á justiçi social (U politica, ou seja, trata dos deveres do Estado para com o
cidadão, na medida em que é o Estado, modernamente, a instituição que tem o dever de atender os
direitos do cidadão.

Na verdade, essa é a competência essencial do Estado, cuja soberania em relação ao cidadão, só


tem sentido se exercida em nome dos próprios cidadãos.

Anexo 01

E Junção do direito público, portanto, realizar a justiça distributiva, ou distribuir justiça.

E isso se dá, em sentido maior, na economia, com a distribuição ds riquezas sociais, e, em sentido
mais estrito, no âmbito dos direitos processuais, onde o Estado-Juiz vai dizer o direito, OU seja, vai
solucionar os conflitos, restabelecendo a igualdade (eqüidade).

Direito Privado

() direito privado não se rege pelo princípio da lcgaIidde, poiS nilo trata das reiçõe’ estado-cidadão
OU cidadão-estado, fl() havendo, portanto, a prCOCUpaÇa() própria do direito público quanto ao
exercício de poder.

Não caracteriza-se pela legalidade, como se disse, mas, () contrário, prima pela eqüidade, pois, CS()
contrário, haveria uma relação cidadão-estado.

A lei, neSse caso, é uma rcgulalylentaÇá() francamente carente de complelflefltaÇà() pelas (leinais
fontes dc direito.

direito privado e justiça comutativa O direito priv do trata da função de justiça comutativa, ou seja, da
relação de justiça dos cidadãos entre si e que não têm nenhuma conotação dc carácter público, mas,
de interesse apenas dos particulares envolvidos.

Como se disse, é difícil, na verdade, separar as áreas públicas e privadas, quando há uma tendência
de interferência do Estado em todas as actividades sociais.

Pode-se, contudo, e a título didáctico, apontar como sendo de direito privado os seguintes
seguimentos: O Direito Civil, o Direito Comercial e o Direito Internacional Privado.

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Samira Morais Da Graça

O Direito Civil, por exemplo, relaciona-se intimamente com o Direito Notarial, como é o caso do
Direito da Pessoa, com os nascimentos, casamentos e mortes que devem ser registrados ou do
Direito das Obrigações, que exige que a venda e compra de imóveis sejam feitas através de escritura
pública averbada no Registro Imobiliário etc. A partir do momento em que há um direito real, ou seja,
um domínio por parte de alguém, torna-se este uma questão pública com o registro e, portanto, se
não um direito pÚl)liCO cm si, mas intimamcnte ligado a este. E isto sem dizer no Direito das
Obrigações relativo a propriedades públicas, quando relaciona-se claramente om O Direito
Administrativo.

Observe-se, p:r fi, que há muitas denominações para diversas áreas do direito, mas, que, na
realidade, cnsdtucn sub-áreas dessas principais, não havendo necessidade dc indicá-las, até porque
o poder diador, nesse campo, é ilimitado.

Anexo 02

Sistema Constitucional Britânico

O sistema constitucional britânico, hoje, está alicerçado sobre varias leis constitucionais, como a
Magna Carta, o Habeas corpus Act e a Bill of Rilits, não sendo correcta a afirmação de que fl()
existem leis constitucionais escutas naquele paÍS. () que OCOtT( é que neste sistema além das ieis
constitucionais sobre as quais se construiram todo o sistema, de princípios, valores e regras,
convivem normas não escritas, que estabelecem pn)ccdimcntos construídos historicamente e
repctidos durante séculos.

Não se pode esquecer que originou-se, também, na Inglaterra de Crornwcl!, no século dezassete a
ideia de instrumento de governo escrito, que estabelecera as regras para o exercício d 2odem estatal.
Poi:), se cio cido constitucional inglês, pode-se extrair a ideia de urna monarquia parlamentarista, da
curta experiência republicana, no período de Cromwell, surgiu o ideal dc urna república constitucional,
mais tarde levada para as colónias da América 1o Norte, pelos puritanos que se viram obrigados a
sair da Inglaterra, após a restauração da Monarquia com a morte do Lorde Protetor, Cromwcli.

Os Estados Unidos da América do Norte, com sua primeira constituição escrita e codificada,
incorpora a ideia de urna República Federal, pela sua formação histórica, a partir de colónias, que
inicialmcntc, se fazem independentes da Inglaterra, tornando-se Estados soberanos.

O sistema constitucional norte americano COrnl)ifla parte da experiência inglesa, no momento em


que adopta texto sintético, que permite mutações interprel-’ dvas, adoptando ajdcia dc precedentes
constitucionais, cm um direito escrito, porém não muito codificado, partindo dc uma Constituição
escrita e rígida.

Anexo 02

Pode-se concluir que o modelo de Constituição costumeira, não se copia, pois é essencialmente
histórica, criada a partir de varias contingências históricas e culturais, que influenciaram
decididamente na sua evolução e afirmação.

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