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Direito

Constitucional I
Prof. Dr. Solano Santos
Poder Constituinte
Conceito e titularidade

• Conceito: é o poder de elaborar (no caso do originário) ou de


atualizar (no caso do derivado) uma Constituição.

• Titularidade: contemporaneamente a doutrina atribui a titularidade


do poder constituinte ao povo. Tal preceituação é atribuída ao clérigo
Joseph Sieyès que durante o período da Revolução Francesa defendeu
em seu livro “O que é o Terceiro Estado” que o poder de criar a
constituição pertencia à nação.
Poder Constituinte Originário

• Conceito: é aquele que instaura, cria, uma ordem jurídica que é


independente de qualquer outra. Portanto, ele é responsável por criar
um novo Estado do ponto de vista jurídico (e até histórico). Isso se
deve aos rompimentos revolucionários que modificam o Estado. Por
exemplo, o Estado brasileiro de 1988 do ponto de vista histórico e
geográfico é o mesmo, juridicamente, entretanto, é outro diferente
do estabelecido pela Constituição de 1969.
Subdivisão do P. C. Originário

A. Histórico: é o que cria um novo Estado “do nada”.

B. Revolucionário: é o que sucede o histórico, rompendo a ordem


antes em vigor.
Características do P. C. Originário

1. Inicial: ele instaura, cria, uma nova ordem jurídica. Esta nova ordem
é diferente da ordem jurídica anterior;

2. Autônomo: ele age autonomamente, isto é, aquele que o exerce,


uma assembleia constituinte, por exemplo, o faz de maneira
independente ao criar a nova constituição;
4. Ilimitado juridicamente: significa que não existe norma jurídica que
o limite em sua criação; Essa característica é considerada por alguns
autores como sinônimo da anterior.

5. Incondicionado: significa que não existe um protocolo para se


manifestar (pode ser uma revolução, poder ser por convenção...);
5. Poder de fato e poder político: significa que deriva da realidade
como uma “energia ou força social” que possui natureza pré-
jurídica, isto é, é uma força que não se legitima em uma ordem
normativa, mas em um poder (ou força) real (a força de armas, ou a
força de milhares de pessoas que se dispõem a lutar, por exemplo);

6. Permanente: tem correlação com a ideia de que pode se manifestar


sempre que a liberdade humana (liberdade de um povo) requerer a
mudança de uma estrutura ou ordem que a oprime ou não
representa mais um ideal, por exemplo.
Poder Constituinte Derivado
• Como vimos anteriormente, somente o poder constituinte originário
é capaz de criar uma nova ordem jurídica, uma nova Constituição.
Isso porque ele é um “poder de fato” e assim possui natureza pré-
jurídica.

• Ora, se a Constituição é a norma fundamental de um Estado, isto é, se


ela regula a forma de composição e funcionamento do Estado – tanto
criando quanto limitando a atuação de todas as entidades que cria –,
ela também deverá conter mecanismos de atualização de seu próprio
texto. Estando a constituição no ponto mais alto do ordenamento
jurídico, uma vez que é ela própria que o funda, não existirá norma
que regule sua atualização a não ser ela própria.
• As constituições de sistema rígido tendem a uma relativa estabilidade
de seu texto, buscando garantir segurança jurídica e solidez as
instituições que criaram.

• No século XVIII a imutabilidade constitucional era uma utopia de


certos iluministas. Acreditavam que era possível criar uma
constituição que seria ideal, que não necessitaria de ser modificada.
Uma ideia um tanto ingênua, uma vez que a vida humana é feita de
constantes mudança, movimento ou renovação. Assim, criar uma
constituição irreformável (imutável) seria “condenar” as reformas
necessárias, as soluções das crises, a saídas como a revolução ou até
mesmo a golpes de Estado, vedando a possibilidade de reformas por
meios pacíficos.
Conceito
• O Poder Constituinte Derivado, como o próprio nome indica, nasce do
poder constituinte originário, portanto, é um poder instituído ou
constituído, que têm por objetivo alterar a obra do poder que o
constituiu.

• Em outras palavras, o Poder Constituinte Originário, ao criar a


Constituição, também prevê mecanismos para alterá-la. Portanto, o
poder constituinte derivado não é nada mais do que a competência
(poder) atribuído a um órgão para atualizar o texto constitucional à
realidade social, política ou econômica, sempre em constante
mudança.
Características

1. Poder jurídico: se no poder constituinte originário sua natureza é


pré-jurídica, uma vez que cria o ordenamento jurídico, a natureza
do poder derivado será jurídica, posto que foi criado como parte do
ordenamento e visa alterar as normas da constituição.

2. Limitado: o poder de modificar a Constituição possui uma série de


restrições, ou limitações ao poder de emendar (cláusulas pétreas
explícitas e implícitas).
3. Condicionado: pois deve observar fielmente as regras previstas na
constituição quanto a sua manifestação, por exemplo, no que diz
respeito aos procedimentos de reforma do texto constitucional.

4. Derivado: pois é obra instituída pelo poder originário, a fim de


realizar alterações que se façam necessárias com o tempo.
Terminologia
• Vale destacar que, no que diz respeito a terminologia usada pela
doutrina e pelos próprios textos constitucionais, os nome “reforma”,
“emenda” e “revisão” aparecem de maneira indiscriminada.

• Utilizaremos, para diferenciá-los, a fórmula segundo a qual o termo


reforma se refere ao gênero alteração do texto constitucional,
podendo ser utilizado para identificar tanto mudanças pontuais
quanto mudanças extensas. O termo emenda se refere aos processos
de alteração do texto constitucional que estão previstos no corpo
permanente do texto. Já o termo revisão diz respeito as alterações
com possibilidade mais extensas, segundo o rito previsto na parte
transitória do texto constitucional de 1988.
Poder Constituinte Derivado Reformador
(Emendas constitucionais)
• São as reformas decorrentes dos mecanismos de atualização previstos
nos Arts. 59, I, e 60 da CF/88. Existem uma série de restrições ou
limitações a competência de reforma a Constituição via emendas.

➢ Limitações expressas ou explicitas:

1. Materiais: art. 60, § 4º;

2. Circunstanciais: art. 60, § 1º;

3. Formais: art. 60, I ao III e §§ 2º, 3º e 5º.


➢ Limitações implícitas:

1. Impossibilidade de mudar o titular do poder constituinte originário;

2. Impossibilidade de mudar o titular do poder constituinte derivado;

3. Impossibilidade de excluir os limites materiais.


Poder Constituinte Derivado Revisor
(Revisão constitucional)

• Assim como o Poder Constituinte Derivado Reformador o poder


Revisor tem como função modificar a Constituição. Ele também
deriva do Poder Constituinte Originário, pois foi instituído por ele.

• No ordenamento jurídico brasileiro o Poder Constituinte Derivado


Revisor foi previsto de forma transitória, somente podendo se
manifestar uma única vez. Conforme se depreende da leitura do Art.
3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
• A Revisão se diferencia da Reforma (ou a Emenda se diferencia da Revisão)
no sentido de seu procedimento. Diferente da emenda de Reforma para
haver uma emenda de Revisão o procedimento foi simplificado. Sendo
requerido a maioria absoluta dos membros do Congresso, em sessão
unicameral e votação em dois turnos¹, conforme Art. 13 da Resolução da
Revisão Constitucional nº 1 de 1993.

• Após a reunião do Congresso para a Revisão Constitucional ocorrida no ano


de 1994 exauriu a eficácia e esgotou a aplicabilidade dessa forma de
modificação do texto.
______
¹ Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/norma/589229/publicacao/15784462>. Acesso em: 19 ago. 2021.
Poder Constituinte Derivado Decorrente

• Como se sabe o Brasil adotou a forma federativa de organização do


Estado. Isso significa que a federação é constituída pela União, os
Estado-membros, os Municípios e o Distrito Federal.

• O poder constituinte derivado decorrente na verdade nada mais é do


que a competência para que os Estados-membros elaborem suas
próprias constituições.

• Por força do Art. 25, caput da CF/88 os Estados-membro terão suas


próprias constituições. Significa dizer que decorre da Constituição
Federal e do próprio poder que a criou outra competência que
permitirá criar as Constituições dos Estados-membro.
Alcance do poder constituinte decorrente

• Surge uma dúvida muito pertinente das afirmativas anteriores. Ora,


se o Brasil adotou a forma federativa e possui vários entes que
compõe a federação, seria o caso de cada ente federativo ter uma
constituição própria?

• Como já vimos os Estados-membros terão suas próprias


constituições. Assim, resta saber se os Municípios, o Distrito Federal e
os Territórios também terão.
• O DF possui uma forma de organização mista, ora se assemelha a um
Estado-membro, ora se assemelha a um município. Todavia, no que
tange a organização legal a própria Constituição Federal de 1988
cuidou de determinar que o DF deveria observar diretamente os
preceitos desta.

• Isto é, a norma que organiza o DF deve observar diretamente os


mandamentos da CF/88, é o que estabelece o Art. 32, caput. E por
essa razão entende-se que ao DF cabe a criação de uma “verdadeira
constituição”, assim como ocorre com os Estados-membros.
• Os municípios, diversamente do DF deverão observar tanto as normas
constitucionais emanadas pela CF/88, quanto as normas
constitucionais dos Estados-membros em que se encontram.
Conforme o Art. 29, caput da CF/88.

• Por essa razão a doutrina e a jurisprudência concluem que as normas


que regulam o municípios estão sujeitas a observar dois graus de
hierarquia, decorrendo, portanto, da constituição estadual, não
podendo ofender as normas que lhes dão fundamento. Por essa razão
não se poderia falar em constituição municipal, haja vista o poder
decorrente não ser o fundamento de validade direto das normas que
organizam os municípios.
Bibliografia:
• BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional
Contemporâneo. São Paulo: Saraiva.
• BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Malheiros.
• LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo:
Saraiva.
• PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional
descomplicado. Rio de Janeiro: Forense.
• SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São
Paulo: Malheiros.

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