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1 de novembro de 2017
Resumo: Apresenta-se este artigo com o propó sito de auxiliar o leitor quanto ao Poder
Constituinte no que tange a Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil, sua concepçã o,
bem como classificaçõ es à luz da doutrina.
Abstract: This article is presented with the purpose of assisting the reader with regard to
the Constituent Power with regard to the Constitution of the Federative Republic of Brazil,
its conception, as well as classifications in the light of doctrine.
Sumário: 1. Espécies de Poder Constituinte; 1.1. Poder Constituinte Originá rio; 1.2. Poder
Constituinte Derivado; 1.2.1 Poder Constituinte Derivado Reformador; 1.2.1.1. Limites
Procedimentais quanto à iniciativa de Proposta Emenda Constitucional; 1.2.1.2. Limites
Procedimentais quanto a votaçã o de Proposta de Emenda Constitucional; 1.2.1.3. Limites
Procedimentais quanto a promulgaçã o de Proposta de Emenda Constitucional; 1.2.1.4.
Limites Circunstanciais; 1.2.1.5. Limites Temporais; 1.2.1.6. Limites Materiais; 1.2.2. Poder
Constituinte Derivado Decorrente; 1.2.3. Poder Constituinte Derivado Revisor; 1.3. Poder
Constituinte Difuso; 1.4. Poder Constituinte Supranacional; 2. Consideraçõ es finais;
Referências.
Introdução
A concepçã o de Poder Constituinte surge no século XVIII, esboçada por Emmanuel Sieyès,
meses antes da Revoluçã o Francesa distribuíra, em forma de panfleto, um manifesto
intitulado “Qu’est-ce que le Térs É taf”, traduzindo para nossa língua materna, “O que é o
Terceiro Estado?”.
A França, neste período, apresentava uma sociedade dividida em três Estado. O primeiro e
o segundo Estados, formados pelo clero e pela nobreza, os quais eram detentores do poder,
comandando as decisõ es políticas, através do autoritarismo, que regiam todo o País. O
terceiro Estado, formado pela maioria esmagadora da populaçã o francesa, era composto
pela burguesia, proletariado e desempregados.
A teoria deflagrada por Sieyès, é a reinvindicaçã o dos membros do terceiro Estado contra o
absolutismo exercido pelo clero e pela nobreza. O documento redigido por Sieyès expõ e a
necessidade de restauraçã o do poder político da França baseada na vontade da Naçã o.
O Poder Constituinte institui uma nova ordem. Eis que se dá a convocaçã o de Assembleia
Nacional Constituinte para elaboraçã o de Direitos Francesa. Destarte, de acordo com
documento pactuado pela naçã o, surge a Constituiçã o.
Desta feita, temos que o Poder Constituinte é a vontade soberana de um povo, tendo
organizadas suas diretrizes políticas e sociais. Portanto, a titularidade do Poder
Constituinte, na concepçã o de Sieyès, pertence ao povo, visto que, decorre da soberania
popular, que expressam suas vontades através de seus representantes.
Por fim, com brilhantismo Manoel Gonçalves Ferreira Filho observa: “o povo pode ser
reconhecido como titular do Poder Constituinte, mas jamais quem o exerce. É ele um titular
passivo, ao qual se imputa uma vontade constituinte sempre manifestada pela elite”.[1] Eis a
distinçã o entre quem possui a titularidade do Poder Constituinte e quem realmente o
exerce.
“O titular seria o povo. Exercente é aquele que, em nome do povo, implanta o Estado, edita a
Constituição. Esse exercício pode dar-se por vias diversas: a) pela eleição de representantes
populares que integram “uma Assembléia Constituinte”; ou b) pela revolução, quando um
grupo exerce aquele poder sem manifestação direta do agrupamento humano.”[2]
Por seu turno, o Poder Constituinte Derivado possui sua subdivisã o classificada em:
reformador; decorrente; e revisor. Abordaremos detalhadamente cada espécie e suas
subdivisõ es, quando houver, no transcorrer deste trabalho.
O Poder Constituinte Originá rio, também denominado genuíno, de primeiro grau, inicial ou
inaugural. Ocorre pelo rompimento por completo de determinada ordem jurídica existente
e instaurar uma nova ordem jurídica no Estado, instaurando uma nova Constituiçã o, ou,
também, pode dar-se pela elaboraçã o de uma primeira constituiçã o. Como bem sintetiza
Flá via Bahia: “É o poder criador, é o poder institucionalizador de uma Constituição
central.”[3]
Destarte, o Poder Constituinte Originá rio, caracteriza-se por ser inicial, ilimitado,
autô nomo e incondicionado.
A característica de inicial se dá , visto que, ocorre a elaboraçã o de uma nova ordem jurídica,
exercida através da nova Constituiçã o.
Devido ao rompimento da ordem jurídica anterior, surgem as características que o tornam
ilimitado e autô nomo, já que, nã o está limitado pela ordem jurídica anterior e tampouco
limitar-se pelos direitos anteriormente positivados.
“[…] se o poder constituinte é a expressão da vontade política da nação, não pode ser
entendido sem a referência aos valores éticos, religiosos, culturais que informam essa mesma
nação e que motivam as suas ações. Por isso, um grupo que se arrogue a condição de
representante do poder constituinte originário, se se dispuser a redigir uma Constituição que
hostilize esses valores dominantes, não haverá de obter o acolhimento de suas regras pela
população, não terá êxito no seu empreendimento revolucionário e não será reconhecido
como poder constituinte originário. Afinal, só é dado falar em atuação do poder constituinte
originário se o grupo que diz representá-lo colher a anuência do povo, ou seja, se vir
ratificada a sua invocada representação popular. Do contrário, estará havendo apenas uma
insurreição, a ser sancionada como delito penal. Quem tenta romper a ordem constitucional
para instaurar outra e não obtém a adesão dos cidadãos não exerce poder constituinte
originário, mas age como rebelde criminoso.”[5]
Vale ressaltar, para fins didá ticos, que a teoria jusnaturalista afirma que o Poder
Constituinte Originá rio nã o é ilimitado, como nos aponta Bernardo Gonçalves Fernandes:
“ele irá guardar limite em cânones do Direito Natural, como a liberdade, igualdade, não
discriminação, ou seja, cânones do "homem em razão de ser homem".[6]
A fim da manifestaçã o de sua vontade, ao Poder Constituinte Originá rio nã o lhe é imposta
forma ou procedimento para realizar a constitucionalizaçã o, eis a natureza de poder
incondicionado.
“[…] o poder constituinte, na teoria de Sieyès, seria um poder inicial, autónomo e omnipotente.
É inicial porque não existe, antes dele, nem de facto nem de direito, qualquer outro poder. É
nele que se situa, por excelência, a vontade do soberano (instância jurídico-política dotada de
autoridade suprema). É um poder autónomo: a ele e só a ele compete decidir se, como e
quando, deve ‘dar-se’ uma constituição à Nação. É um poder omnipotente, incondicionado: o
poder constituinte não está subordinado a qualquer regra de forma ou de fundo”[7]
Cabe destaque ao apontamento posto por Michel Temer, conforme o transcrito: “Já agora,
entretanto, a produção dessa normatividade não é emanação direta da soberania popular,
mas indireta, como também ocorre no caso da formulação da normatividade secundária (leis,
decretos, sentenças judiciais)”.[10]
Por fim, temos definido que o Poder Constituinte Derivado Reformador é a possibilidade de
modificaçã o da Constituiçã o, que se dá através das emendas constitucionais (arts. 59, I e 60
da CF/88), ou seja, de acordo com as normas e limitaçõ es instituídas pelo Poder
Constituinte Originá rio. As emendas constitucionais sã o limitadas de acordo com sua
natureza procedimental, circunstancial, temporal e material.
Em relaçã o as Assembleias Legislativas, se faz necessá rio a adesã o da proposta por maioria
relativa.
Apó s aprovaçã o de Emenda Constitucional pelo Congresso Nacional, esta nã o irá para a
sançã o presidencial.
A Constituiçã o Federal dispõ es em seu art. 60, §1°, quanto aos limites circunstanciais, ou
seja, determinadas circunstancias onde nã o poderá ocorrer o trâ mite de Emenda
Constitucional.
Segundo Pedro Lenza: “Estados têm a capacidade de auto organizar-se, desde que, é claro,
observem as regras que foram estabelecidas pelo poder constituinte originário”.[11]
Destarte, de acordo com art. 25 e no art. 11 do ADCT, na elaboraçã o cabe obediência aos
princípios dispostos na Constituiçã o Federal.
Instituído pelo Poder Constituinte Originá rio, possibilita, apó s 5 anos da promulgaçã o da
Constituiçã o Federal de 1988, uma ú nica revisã o.
O Poder Constituinte Derivado Revisor teve sua limitaçã o disposta nas clá usulas pétreas
(art. 60, §4°, CF/88). Somente seis Emendas Constitucionais de revisã o foram editadas em
(1994), e conforme exposto, nã o há mais possibilidade de revisã o, visto que, o Poder
Constituinte Derivado Revisor teve sua eficá cia exaurida.
2. Considerações finais
O Poder Constituinte pode ser posto em nosso ordenamento jurídico de quatro formas
distintas. O Poder Constituinte Originá rio na formulaçã o de uma nova ordem jurídica,
rompendo com a anterior, como foi o caso da Assembleia Constituinte, e posterior
promulgaçã o da Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil de 1988.
Em relaçã o ao Poder Constituinte Reformador Revisor, por já ter sido praticado a época de
1994, teve sua eficá cia exaurida.
Referências
BAHIA, Flá via. Direito Constitucional. Recife: Armador, 2017.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993.
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. 3ªed. Sã o Paulo. Forense, 2016.
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador. Juspodium,
2017.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O poder constituinte. Sã o Paulo: Saraiva, 1985.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 19ªed. Sã o Paulo. Saraiva, 2015.
MENDES, Gilmar F.; BRANCO, Paulo G. G., Curso de direito constitucional, 5. ed. Sã o Paulo.
Saraiva, 2012.
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 16ªed. Sã o
Paulo. Forense, 2017.
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Sã o Paulo: Malheiros, 2008.
Notas
[1] FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O poder constituinte. Sã o Paulo: Saraiva, 1985. p.
15.
[2] TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Sã o Paulo: Malheiros, 2008. p. 33.
[3] BAHIA, Flá via. Direito Constitucional. Recife: Armador, 2017. p. 26.
[4] TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Sã o Paulo: Malheiros, 2008. p. 36.
[5] G. F. Mendes, I. M. Coelho, P. G. G. Branco, Curso de direito constitucional, 5. ed. Sã o
Paulo. Saraiva, 2012. p. 275.
[6] FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador. Juspodium,
2017. p. 123.
[7] CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993. p. 91.
[8] PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 16ªed.
Sã o Paulo. Forense, 2017. p. 81.
[9] DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. 3ªed. Sã o Paulo. Forense, 2016. p. 54.
[10] TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Sã o Paulo: Malheiros, 2008. p. 37.
[11] LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 19ªed. Sã o Paulo. Saraiva, 2015.
p. 334.
Direito Constitucional
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