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Andressa Gois 
Professor Carlos Ratis  
Email: ​carlosratis@uol.com.br 
 
❏ 1ª avaliação Peso 4 
❏ 2ª avaliação Peso 6 
+ Fichamentos = 1 ponto 
➔ RESUMO - Supremocracia - Oscar Vilhena  
➔ RESUMO - A assembleia constituinte - Daniel Sarmento 
➔ RESUMO  -  Teoria  da  Constituição  e  Direito  Constitucional  -  Manoel 
Jorge e Silva & Neto 
➔ RESUMO - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CAP. I ao IV 
➔ Dirley da Cunha Júnior   
➔ RESUMO  -  CONTROLE  DE  CONSTITUCIONALIDADE  CAP.  V  e  VI  - 
Dirley da Cunha Júnior   

Bibliografia recomendada 
1. Curso de Direito Constitucional ​- Manuel jorge 
2. Direito Constitucional​ - Dirley da Cunha e Jose Afonso da Silva  
 
1ª AVALIAÇÃO 
 
PODER CONSTITUINTE 
Poder de criar, fundar, dar início a uma nova ordem constitucional 
Segundo  ​Georges  Burdeau​,  são  caracteres  essenciais  do  poder 
constituinte  a  inicialidade​,  a  ​autonomia  e  a  ​incondicionalidade​.  Isto  é,  a 
inicialidade  à  vista  de  não  existir  outro  poder  acima  do poder constituinte, 
a  autonomia,  em  razão  de  caber  ao  seu  titular  decidir  acerca  do  seu  valor 
jurídico  conforme  a  estrutura  do  Estado,  e  por  fim,  a  incondicionalidade, 
pois não se subordina a qualquer regra de forma.  
Quando  é  exercido,  a Constituição anterior é revogada, e seus efeitos 
são  relevantes  para  todo  o  ordenamento,  a  exemplo  da  Constituição 
Federal  de  1988,  em  que  todas  as  normas  incompatíveis  com  o  texto 
constitucional  foram  revogadas  e  as  normas  compatíveis  foram 
imediatamente recepcionadas. 
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Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
O  fenômeno  da  ​recepção  constitucional  é  relevante  porque  garante 
a manutenção da vigência de normas compatíveis com a Constituição. 
No Brasil, o poder constituinte foi ​exercido ao menos 8 vezes. 
Legalidade 
correspondência  real  dos  valores  jurídicos,  objeto  de  positivação 
constitucional, com as aspirações de um povo. 
 
★ Titularidade 
Titular do poder constituinte, detentor do poder político.  
Na  Constituição  de  88  foi  o  povo,  mas  nem  sempre  é  o  povo, 
pode  ser  um  déspota,  um  grupo  revolucionário,  uma  junta  militar, 
oligarquia, etc.  
Em  um  Estado  democrático,  a  titularidade  do  povo  fica 
explícita  inclusive  na  Constituição.  A  CF  de  88  assegura  logo  no  ​Art. 
1º  Parágrafo  Único​:  Todo  o  poder  emana  do  povo,  que o exerce por 
meio  de  representantes  eleitos  ou  diretamente,  nos  termos  desta 
Constituição. 
Portanto,  quando  a  titularidade  é  conferida  ao  povo,  o 
exercício do poder constituinte é conferido àqueles eleitos pelo povo.  
 
★ Modalidades/Espécies 
 
1.  Originário  (ou  de  1º  grau)​:  Ilimitado,  inalienável  e  incondicionado. 
Acima da Constituição. 
2. Derivado (ou de 2º grau)​: limitado, subordinado e condicionado.  
 
2.1  Poder  reformador​:  Poder  de  reforma  constitucional.  Poder 
de  alterar  e  atualizar  a  CF  através  de  emendas  (alterações  pontuais, 
especificamente  em  alguns  artigos)  e  revisões  (grande  alteração, 
pensada  coletivamente  como  uma  atualização).  No  Brasil,  as 
emendas  estão  tão  banalizadas  que  não  faz  sentido  fazer  uma 
revisão constitucional.  
 
2.2  Poder  decorrente​:  Poder exercido pelos estados-membros 
na  elaboração  de  suas  constituições  estaduais.  Um  Estado  federal  é 
baseado  na  divisão  espacial  do  poder,  isto  é,  na  possibilidade  de 
coexistência  de  órgão  central  e  unidades  autônomas.  O 
reconhecimento  da  autonomia  dos  estados-membros  (unidades 
autônomas) se dá por meio da constituição estadual. 
PS.  Os  municípios  não  exercem  poder  decorrente.  Eles  não  tem 
constituição, mas sim um conjunto de leis orgânicas.  
 
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★ Material e Formal 
Dicotomia entre a ideia e a realização. 
Fala-se  ainda  de  poder  constituinte  material  e  formal. 
Logicamente,  o  material  precede  o  formal,  pois  é  como  se a idéia de 
Direito  precedesse  a  regra  de  Direito.  Sendo  assim,  o  material  trata 
da  opção política fundamentada e formal é a realização/formalização 
dessa  ideia,  através  da  criação  de  um  conjunto  de  normas  às  quais 
se atribui a força de Constituição. 
 
★ Limites do poder constituinte 
 
- Limites  supranacionais:  ​Normas  internacionais  em  que  o  Brasil  é 
signatário, em especial as relativas aos direitos humanos.  
 
- Limites  metajurídicos:  Limitações  impostas  pelos  costumes, 
tradições,  língua  e  histórias  do  povo  na  elaboração  de  uma 
Constituição.  Ex:  Na  criação  do  novo  ordenamento,  certas  coisas 
nunca  poderão  ser  modificadas,  tal  como  determinados  costumes  e 
a língua.  
 
★ Poder constituinte inato e adquirido 
Como uma analogia a poder constituinte originário e derivado. 
Entre  poder  constituinte  inato  e  poder  constituinte  adquirido  é  possível 
estabelecer  importantes  conexões:  o  poder  constituinte  inato  é  tido  como 
energia  materializada  no  elemento  fundador  e  apta  a  determinar  o 
aparecimento  da  criatura  política  coletiva,  bem  como  sujeito  ou  órgão 
constituinte  que  conduz.  Já  o  poder  constituinte  adquirido  é  como  uma 
fase  posterior,  derivado  da  espécie  inata.  Seu  papel  é  promover 
modificações pontuais no texto constitucional. 
 
★ Usurpação do Poder Constituinte  
  Será  que  o  poder  constituinte  é  sempre  exercido  por  aqueles  que 
têm legitimidade de o fazê-lo? 
O  caso  exposto  como  exemplo é o da Constituição Federal de 1988. A carta 
de  67  sofreu  inúmeras  emendas,  e  a  última  tratou  como  seria  o  processo 
de  discussão  da  próxima  Constituição Federal, foi dito que seria eleita uma 
assembléia  constituinte  dos  deputados  constituintes  para  propor  uma 
emenda  à  constituição  federal.  Mas,  em  05/10/2003  o  ministro  Nelson 
Jobim,  declarou  que  25  artigos  da  atual  Constituição  não  seguiu  o  rito  da 
emenda  26.  Simplesmente  o  texto  foi  encaminhado  e  promulgado,  sem 
discussão.  Por  exemplo,  o  artigo  que  diz  que  os  3  poderes são harmônicos 
e  independente  entre  si,  o  artigo  que  fala  que  poderá  o  sujeito  ser 
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Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
candidato  a  vereador  a  partir  dos  18  anos, nenhum deles teve seu rito para 
compor  a  constituição  respeitado.  Desse  modo,  a  usurpação  do  poder 
constituinte  ocorreu  no  momento  que  terceiros  exerceram  o  poder 
constituinte sem autorização e legitimidade, usurpando o poder.   
  
LIMITES AO PODER REFORMADOR 
Como  já  dito,  o  poder  reformador  é o poder de reforma constitucional, isto 
é,  poder  de  alterar  ou  reformar  a  Constituição  por  meio  de  emendas  e 
revisões. 
São eles:  
- Limites materiais - Cláusulas pétreas 
- Limites formais/procedimentais 
- Limites circunstanciais 
- Limites temporais 
 
★ Limites materiais 
São as cláusulas pétreas 
As  cláusulas  pétreas  são  considerados  os  valores  mais  importantes 
do ordenamento. O artigo 60 inciso 4° da CF legisla sobre:  
 
Art.  60,  §  4º  da  CF/88  “Não  será  objeto  de  deliberação  a  proposta 
de  emenda  tendente  a  abolir  (a  PEC)  I – ​a forma federativa do Estado​; II – 
o  ​voto  direto​,  ​secreto,  universal  e  periódico​;  III  –  ​a  separação  dos  poderes​; 
IV – os direitos e garantias individuais.  
 
1. Forma federativa de Estado.  
2. Voto secreto, direto e periódico. (não diz nada sobre obrigatório) 
3. Separação dos poderes. 
4. Direitos e garantias individuais. 
  
★ Limites formas/procedimentais 
Quem e como propor uma PEC 
 
Somente  podem  propor  PEC’s:  o  chefe  do  executivo  (presidente),  ⅓  da 
câmara  e  do  senado,  ⅗  ou mais da metade das assembleias legislativas das 
27 unidades federativas, com maioria simples em cada.  
Ps​. Iniciativa popular não propõe PEC. 
 
★ Limites circunstanciais 
Impossibilidade  de  propor  PEC  nas  circunstâncias  de  intervenção 
federal, estado de defesa e estado de sítio. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Art.  60°  §  1:  A  Constituição  não  poderá  ser  emendada  na 
vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. 
Entende-se  que  diante  de  tanta instabilidade, não seria razoável permitir o 
congresso alterar a Constituição. 
 
★ Limites temporais 
Limitações temporais para emendas constitucionais. 
Sobre limitações temporais: 
Art.  3º  do  ADCT​:  “A  revisão  constitucional  será  realizada  após  cinco  anos, 
contados  da  promulgação  da  Constituição,  pelo  voto  da  maioria  absoluta 
dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. 
Não  houve  limitações  temporais  quanto  a  emendas  constitucionais, 
apenas  na  constituição  imperial  de  1824.  ​Atualmente  não  existe  revisão 
constitucional​. A menos que exista uma PEC que venha possibilitar. 
 
SENTIDOS DE UMA CONSTITUIÇÃO 
Importância de uma Constituição para seu povo. 
 
➔ Sentido sociológico 
Ferdinand Lassale 
Em  acepção  sociológica,  Lassale  dizia  que  a  constituição  é  a  soma 
dos fatores reais do poder. Lassale dizia que quanto maior a distância 
entre  a  constituição  escrita  e  a  constituição  social,  mais  propenso  o 
estado  estava  para  o exercício do poder constituinte. Lassale traz um 
pensamento  que  a  constituição  é  o  terceiro  estamento, que é aquilo 
que  as  pessoas  querem,  e  não  aquilo  que  é  imposto.  Desse  modo 
para a constituição ser validada necessita da aceitação popular. 
 
➔ Sentido político 
Carl Schimitt 
Em acepção política, Schimitt afirma que ​a  constituição  seria  a  decisão 
política  fundamental  de  um  povo,  como  um  projeto  de  futuro  do 
próprio  estado.  Foi  ele  que  trouxe  a  conceituação  de  normas 
materiais  e  normas  formais,  a  ideia  é  que dentro da constituição nos 
deparamos  com  normas  que  não  são  tão  relevantes  para  o  estado e 
ao  lado  delas  teriam  as  normas  formais, cujo o assunto diz respeito a 
matérias  relevantes  ao  estado,  como  a  organização  dos  poderes,  do 
estado  e  direitos  e  garantias  fundamentais.  Ele  foi  defensor  do 
sentido  político  por  que  a  constituição  seria  a  decisão  política 
fundamental de um povo. 
 
➔ Sentido Jurídico 
Andressa Gois 
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Professor Carlos Rátis 
Hans Kelsen 
O  sentido  da  constituição  para  Kelsen,  é  que  a  constituição  é  o 
fundamento  de  validade  para  todo o ordenamento jurídico, então as 
normas  incompatíveis com a constituição deveriam ser colocadas de 
lado.  
 
➔ Sentido Ideal 
Paulo Bonavides  
Para  Bonavides  o  sentido  ideal  é  a  junção  dos  demais  sentidos.  O 
sentido  deve  ser  sociológico,  político  e  jurídico  ao  mesmo  tempo, 
onde  o  povo  deve  viver  a  constituição.  Mas,  não  podemos  admitir  o 
uso  abusivo  do  poder  reformador.  A  força  normativa  da constituição 
é  o  respeito  do  povo  pela  constituição.  O  pensamento  é  pela 
contenção  do  uso  exagerado  do  poder  reformador,  então  a 
constituição  deve  ser  reconhecida  e  protegida  pelo  próprio  povo, 
viver em uma cultura constitucional é a ideia de Bonavides. 
 
PARTES DA CONSTITUIÇÃO 
 
★ Preâmbulo 
É  a primeira parte da Constituição, representa o início de tudo. Nesse 
início,  são  postos  os  objetivos  e  princípios  propostos.  O  preâmbulo 
tem  a  intenção  de  resolver  conflitos,  mas  não  serve  para  fins  de 
controle  de  constitucionalidade.  Apesar  de  importante,  não  é  uma 
norma  de repetição obrigatória, isto é, as constituições estaduais não 
precisam  repetir  o  texto  preambular,  pode  estar  presente  ou  não,  e 
se houver não precisa ser igual ao da CF. 
 
★ Parte Dogmática 
Compreende  9  títulos  e  250  artigos,  entre  os  títulos  está  presente  o 
de  direitos  e  garantias  fundamentais,  organização  do  Estado  e 
organização dos poderes. 
Não  existe  hierarquia  formal,  mas  sim  material,  pois  os  direitos  e 
garantias fundamentais estão ao início da constituição 
 
★ ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
A  finalidade  do  ADCT  é  estabelecer  regras  de  transição  entre  o 
antigo  ordenamento  jurídico  e  o  novo,  instituído  pela  manifestação 
do  poder  constituinte  originário,  providenciando  a  acomodação  e  a 
transição do antigo e do novo. 
 
CARACTERÍSTICAS DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Andressa Gois 
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Professor Carlos Rátis 
 
Constituição  Brasileira  de  1824:  A  primeira constituição, a constituição do 
império.  Outorgada.  Trazia  o  catolicismo  como  religião  oficial  do  império, 
adotava  direito  ao  voto  somente  para  homens  de  posses.  Priorizava  a 
organização  do  Estado  em  detrimento  aos  direitos  individuais  (só 
apareciam no último artigo). Estabeleceu o poder moderador.  
 
Constituição  Brasileira  de  1891​:  A  constituição  da  república.Extinguiu  o 
poder  moderador  adotado  em  1824  e  fortaleceu  a  tripartição  dos  poderes. 
Tornou  o  Estado  Laico,  adotou  o  federalismo  e  o  republicanismo.  O  voto 
era  permitido  para  homens  maiores  de  21  anos.  Promulgada  por  Dedoro 
da Fonseca.  
 
Constituição  Brasileira  de  1934​:  Constituição  do  bem-estar  social, 
implementação dos direitos da família e da saúde, curta vigência.  
 
Constituição  Brasileira  de  1937​:  Outorgada  por  Vargas  quando  ele  deu 
um  golpe  em  seu  governo  e  estabeleceu  o  Estado  Novo.  Foi  uma 
Constituição  de  inspiração  fascista,  com  cunho  autoritário/ditador,  que 
instituia censura e pena de morte.  
 
Constituição Brasileira de 1946​: Instituiu voto feminino e direito a greve.  
 
Constituição  Brasileira  de  1988​:  A  mais  recente  e  em  vigor,  tida  como 
Constituição  cidadã,  por  ter  tido  ampla  participação  popular  em  suas 
discussões, coloca os direitos e garantias individuais em primeiro plano.  
 
APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Eficácia 
 
- Social = ​ Reflexo das normas da sociedade 
- Jurídica = ​ Cumprimento da lei/norma escrita. 
 
Aplicabilidade 
 
- Imediata  =  Aplicabilidade  imediata  de  efeito  integral,  sem  depender 
de outras regras posteriores. 
- Mediata  =  Dependem  da  ação  do  poder  legislativo  para  produzir 
efeitos.  
- Contida  =  Aplicabilidade  imediata,  mas  que  poderá  sofrer  limitação 
por norma infraconstitucional 
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- Limitada  =  Aplicabilidade  mediata,  exigindo  a  criação  de  normas 
posteriores para fazer efeito.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2ª AVALIAÇÃO 
 
Tópicos do quadro:  
1) Controle de const de normas constitucionais; 
2) Princípios que regem o CC; 
3) Histórico do CC nas Constituições; 
4) Controle austríaco e norte-americano; 
5) Controle de normas federais, estaduais e municipais; 
6) Características da ADI, ADC e ADPF; 
7) Federalismo brasileiro e norte-americano; 
8) Organização político-adm do Estado brasileiro. 
 
● Controle de constitucionalidade 
O  controle  de  constitucionalidade  é  um  mecanismo  de  correção  do 
ordenamento  jurídico,  consistindo  em  um  sistema  de  verificação  da 
conformidade de um ato em relação à Constituição. 
 
PARA QUE SERVE? 
Não  é  exclusivo  do  judiciário  e  serve  para  assegurar  a 
segurança  jurídica.  As  normas  incompatíveis  devem  ser 
afastadas.  Ao  ser  afastadas,  as  normas  não  deixam  de  existir, 
mas perdem sua eficácia, seu poder de ação. 
 
É  POSSÍVEL  CONTROLE  DE  CONSTITUCIONALIDADE  DA 
PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO? 
Sim,  pois  a  Constituição  passa  por  adições,  emendas,  e 
justamente  essas  emendas  podem  sofrer  controle  de 
constitucionalidade.  Ou  seja,  poder  reformador  pode  passar 
pelo CC, poder originário não. 
 
A inconstitucionalidade pode ser por:  
★ Ação​: Contrariedade à Constituição. 
- Material​:  Atinge  algum  princípio,  postulado  ou  paradigma 
consagrado pela Constituição.  
- Formal​:  Atinge  um  procedimento.  Inconstitucionalidade  em 
relação a competência.  
 
★ Omissão: ​Alguns dispositivos da Constituição não tem eficácia plena. 
Isto  é,  dependem  de  legislações  infraconstitucionais  para  que 
atinjam  o  efeito  desejado.  Ex:  Se  a  Constituição  outorga  que  seja 
regulamentado  dispositivo  infraconstitucional  e  o  legislativo  não  o 
fizer, isso é uma inconstitucionalidade.  
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CLASSIFICAÇÃO:  
Há  o  controle  preventivo  e  o  controle  repressivo.  O 
controle  preventivo  normalmente  é  feito  pelo  legislativo  e 
executivo,  e  o  repressivo  pelo  judiciário,  não  implicando 
necessariamente em ser assim.  
 
❏ Quanto ao momento:  
 
-  Preventivo:  ​Exercido  antes  do  aperfeiçoamento 
do  ato.  Ex:  antes  de  virar  lei,  uma  lei  é  um  projeto 
de  lei.  Normalmente  quem  faz  esse  controle 
preventivo são as Comissões de Justiça. 
PS:  O  chefe  do  executivo  (presidente)  tem  poder 
de  veto,  em  até  15  dias  úteis.  Caso  o  texto 
normativo  seja  vetado  pelo  presidente,  terá 
chance  de  retornar  as  casas  legislativas para sofrer 
ajustes  e  ser  submetida  ao  crivo  novamente.  O 
veto  não  necessariamente  é  por 
inconstitucionalidade,  pode  ser  por  pressão 
pública também  
 
-  Repressivo​:  Exercido  após  o  aperfeiçoamento  do 
ato. Normalmente pelo Poder Judiciário. 
 
❏ Quanto ao número de órgãos:  
-  Difuso:  ​Aquele  realizado  por  qualquer  juiz  ou 
tribunal.  Ocorre  quando  qualquer  indivíduo 
ingresse  com  uma  ação  contra  uma  lei  abusiva, 
logo,  a  ação  de  inconstitucionalidade  é  restrita 
somente  a  aquele  caso,  só  tendo  efeito  entre  as 
parte  (inter  partes).  Ex  tunc  (desde  a  origem) 
(TEORIA DA NULIDADE). 
+ Toda  e  qualquer  pessoa  pode  provocar  o 
exercício do controle difuso.  
+ Em  primeira  instância  a  deliberação  é  pelo 
juiz  da  própria  causa.  Em  segunda  instância 
o  quórum  é  pela  maioria  dos  membros  de 
uma corte.  
 
+ Princípio  da  Cláusula  de  Reserva  do 
Plenário  (art.  97)​:  toda  vez  que  uma  Corte 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
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julgar  inconstitucional  uma  norma,  ela  tem 
que  o  fazer  por  meio  de  seu  órgão  especial 
ou por meio de seu pleno ou do plenário.  
 
Quando  um  processo  vai  pra  segunda 
instância,  quem  julga  é  um  ​órgão 
fracionário​,  uma  câmara  formada  por 
poucos  desembargadores  ou  ministros.  Mas, 
para  julgamento  da  inconstitucionalidade  é 
preciso que o plenário inteiro seja convocado 
ou  para  o  órgão  especial  do  Tribunal  que 
julga  isso,  caso  exista.  Ou  seja,  um  órgão 
fracionário NÃO POSSUI COMPETÊNCIA para 
julgar  inconstitucionalidade  de  leis  ou  atos 
normativos. 
Exceções:  quando  o  próprio  pleno  ou  órgão 
especial  já  tiver  se  manifestado  sobre  a 
inconstitucionalidade  da  lei  ou  ato 
normativo  ou  se  o  Supremo Tribunal Federal 
já o tiver julgado inconstitucional.  
Cuidado:  Órgão  fracionário  pode  julgar  a 
CONSTITUCIONALIDADE,  mas  não  pode 
julgar a INCONSTITUCIONALIDADE 
 
-  Concentrado:  Aquele  realizado  somente  por  um 
órgão.  No  caso  do  Brasil,  o  Supremo,  com 
resultado  com  efeitos  vinculantes,  isto  é,  afetando 
a  norma  de  modo  geral,  esvaziando  a  sua 
eficiência em qualquer caso.  
+ Julgado  por  um  único  Tribunal:  em  regra,  o 
STF.  Mas  há  alguns  poucos  casos  em  que  o 
Superior  Tribunal  de Justiça (STJ) julga ações 
decontrole concentrado. (excepcionalidades)  
 
+ Quem  pode  provocar?  (Art.  103  -  CF/88) 
Presidente  da  República,  Mesa  do  Senado 
Federal,  a  Mesa da Câmara dos Deputados, a 
Mesa  de  Assembleia  Legislativa  ou  da 
Câmara  Legislativa  do  DF,  o  Governador  de 
Estado  ou  do  DF.  o  Procurador  Geral  da 
República,  o  Conselho  Federal  da  OAB, 
partido  político  com  representação  no 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Congresso  Nacional,  confederação  sindical 
ou entidade de classe de âmbito Nacional; 
 
❏ Quanto a posição da questão constitucional:  
-  Abstrato  ou  Direto:  ​Não-baseada  em  um  caso 
concreto. Não necessariamente envolvendo partes. 
Pergunta-se  apenas  ao  órgão  responsável  pelo 
controle  se  determinada  lei  ou  ato  normativo  é  ou 
não  é  constitucional.  Exercido  de  modo 
concentrado.  
-  Concreto  ou  Incidental:  ​Com  partes,  baseada  em 
caso  concreto.  Em  meio  a  um  litígio,  surge  a 
questão  de  constitucionalidade  como  uma  das 
causas  da  petição.  Exercido,  em  geral,  de  modo 
difuso.  
 
Controle de constitucionalidade x Controle de legalidade 
Se  um  gestor  aplicou  a  lei  A  ao  invés  da  lei  B,  isto  é  ilegal  e  não 
inconstitucional.  O  controle  de  constitucionalidade  ocorre  quando  a 
constituição é parâmetro, para fins de controle.  
Ps​:  Tem  poder  de  constituição  também  os  tratados  que  o  Brasil  é 
signatário.  
 
Presunção de Constitucionalidade 
Subtende-se  que  as  normas  que  foram  feitas  já  foram  feitas respeitando a 
constituição  e  a  hierarquização  devida  dentro  do  ordenamento.  Sendo 
assim,  o  controle  de  constitucionalidade  só  deveria  entrar  em  cena  em 
casos excepcionais.  
 
Efeitos do controle de constitucionalidade 
➢ Ex  tunc​:  Tudo  que  aconteceu  com  aquela  norma  terá  que  ser 
desfeito desde que declarada inconstitucional. Terá retroatividade. 
➢ Ex  nunc:  Terá  efeitos  dali  para  frente,  o  que  foi  feito  anteriormente 
não  será  afetado.  Não  terá  retroatividade.  Quorum  de  ⅔  com  razão 
em interesse social.  
 
ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade 
Objeto​:  leis  e  atos  normativos  federais,  estaduais  ou 
distritais pós Constituição de 1988. 
Objetivo​: declarar a norma inconstitucional 
Competência​: Só o STF 
 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
 
 
Existem dois tipos de legitimados: universais e especiais 
- Universais​:  Podem  ingressar  no  judiciário 
para  tratar  sobre  quaisquer  assuntos.  São 
eles:  Presidente  da  Republica,  Mesa  do  STF, 
Mesa  da  CF,  Procuradoria  geral da república, 
conselho  federal  da  OAB  (único  conselho 
profissional  a ser legitimado como universal), 
partido  político  com  representação  no 
Congresso Nacional 
- Especiais​:  Devem  demonstrar  interesse  de 
agir,  e  que  aquela  demanda  afeta  sua 
realidade.  
 
Quórum:  maioria  absoluta  dos  membros  do  STF. 
De 11 ministros, ao menos 6. 
Decisão  opera  efeitos  erga  omnes​:  vale  para  todas 
as pessoas em Território Nacional. 
Efeito  vinculante​:  a  decisão  vincula  todo  o 
judiciário  e  toda  a  administração  pública  federal. 
Ninguém  pode  contrariar  o  STF  na  ADIN,  menos  o 
poder Legislativo. 
Teoria da Nulidade (efeitos ex tunc) 
 
ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão:  
Acontece  quando  há  a  falta  de  medida  reguladora  de  dispositivo 
constitucional de eficácia limitada. Âmbito federal.  
Objeto:  falta  de  lei  ou  ato  normativo  que 
regulamenta  dispositivo  constitucional  de  eficácia 
limitada 
Sanável por duas ações distintas: 
- Em controle difuso: mandado de injunção.  
- Em controle concentrado: ADIN por omissão 
Competência​: STF 
Efeito  mandamental​:  uma  vez  reconhecida  ADIN 
por  omissão,  o  STF  expede  um  ofício  ao  órgão 
administrativo  ou  legislativo  competente  para 
edição  da  lei  ou  do  ato  normativo  que  não 
regulamentou  o  dispositivo  de  eficácia  limitada, 
em  um  prazo  razoável,  os  órgãos  têm  a  obrigação 
de  editar  a  lei  ou  o  ato  normativo  que  está 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
faltando.  Órgão  Administrativo:  (30  dias  ou  prazo 
razoável) 
 
ADC/ADCON (Ação declaratória de constitucionalidade) 
 
Objeto​:  ​leis  e  atos  normativos  federais,  estaduais  ou  distritais 
pós  Constituição  de  1988  que  sejam  alvo  frequente  de  debate. 
Criada  por  conta  do  excesso  de  medidas  provisória,  além  da 
necessidade de viabilização de pacificação entre os tribunais.  
Objetivo​: Declarar a norma inconstitucional  
Competência​: Só o STF. 
Legitimados​: os mesmos da ADI. 
Efeito erga omnes 
Efeito  Vinculante  ao  judiciário  e  à  administração  pública​.  Não 
vincula o legislativo 
Em  regra  os  efeitos  são  ex  tunc​,  mas  com  a  possibilidade  da 
modulação dos efeitos temporais (ex nunc ou pro futuro).  
 
PS​.  Por  serem  muito  parecidas,  a  ADI  e a ADC, possuem ​Efeito dúplice das 
ações  ou  caráter  ambivalente das ações​: A procedência da ADIN significa a 
improcedência da ADC e vice-versa.  
 
ADPF (Arguição de descumprimento de preceito fundamental) 
Objeto​:  Leis  e  atos  normativos  federais,  estaduais 
ou  distritais  ,  mesmo  antes  da  Constituição  de 
1988,  que  simplesmente  ofendam  ou  ofereçam 
risco a algum preceito fundamental 
PS.  (Os  preceitos  fundamentais  seriam  como 
normas  constitucionais  materiais,  ou  seja,  aquelas 
que  tratam  sobre  a  organização  dos  poderes,  a 
organização  do  estado,  os  direitos  e  as  garantias 
fundamentais.  Nem  toda  e  qualquer  norma  seria 
um preceito fundamental).  
Legitimados​: Os mesmos 
Erga omnes 
Efeito Vinculante 
Mais ampla de todas 
Princípio  da  subsidiariedade​:  quando  não  couber 
nada,  cabe  ADPF.  Se  for  possível  ADI,  não  será 
possível ADPF.  
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Em  regra  os  efeitos  são  ex  tunc,  mas  com  a 
possibilidade  da  modulação  dos  efeitos  temporais 
(ex nunc ou pro futuro) 
 
● Parte histórica 
 
CONTROLE AUSTRÍACO = 1920 - Áustria 
A  ideia  de  Kelsen  é  que  apenas  um  juiz  pode  declarar  a 
inconstitucionalidade  de  uma norma. Deveria haver uma norma superior a 
dos  juízes  para  nortear acerca do controle de constitucionalidade. Para ele, 
a  corte  constitucional,  com  o  objetivo único de realizar o controle. Logo, na 
Áustria,  o  controle  é  concentrado,  na  figura  da  corte  constitucional,  com 
ministros por mandato.  
 
CONTROLE NORTE-AMERICANO = 1803 
O  caso  Marbury  na  corte  americana.  Marbury  foi  um  juiz  nomeado  no 
governo  Thomas  Jefferson,  mas  antes  que  tomasse  posse,  um  novo 
presidente  entrou  e  não  o  empossou.  Marbury  entrou  com  um  mandado 
de  segurança  para  garantir  a  sua  nomeação,  tendo  sido  coberto  em  sua 
demanda  pela  suprema  corte, mas a lei infraconstitucional alegada por ele 
seria  considerada  inconstitucional.  O  juiz  John  Marshall chega a conclusão 
que  por  se  tratar  de  conflito  de  normas,  prevalecerá  a  hierarquicamente 
superior.  
 
NO BRASIL  
Constituição  de  1824​:  O  controle  não  existiu  junto  com  a  primeira 
constituição,  pois  existia  o  poder  moderador  e  forte  presença  do  Dogma 
da  Supremacia  do  Parlamento  Inglês,  que  colocava  o  legislativo  em 
posição  de  superioridade,  tirando  a  autonomia  do  judiciário.  Ex:  Art.  15  da 
Carta  Imperial,  que  assegurou  o  direito de fazer leis, interpretar, suspender 
ou revogar. 
 
Constituição  de  1891​:  Quando  o  controle  surgiu  no  Brasil,  por 
influência  da  doutrina  americana  (a  Constituição  de  1891  facultou  recurso 
para  o  Supremo  Tribunal  Federal,  "quando  se  questionar  sobre  a  validade 
ou  a  aplicação  de  tratados  e  leis federais, e a decisão do tribunal do Estado 
for contra ela. art. 59). Surgiu sob forma de controle difuso. 
 
Constituição  de  1934​:  Toda  vez  que  o  STF  declara  uma  norma 
inconstitucional,  ele  declara  um  ofício  comunicando ao senado e o senado 
reconhecendo  a  competência  do  STF  passa  a  transpassar  essa  decisão  ao 
ordenamento. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
- Cláusula  de  reserva  de  plenária:  O  senado,  em  1934 é responsável de 
criar  esta cláusula, que indica que a decisão de inconstitucionalidade 
por  um  tribunal  necessitará  do  voto  da  maioria  absoluta  do plenário 
ou do órgão especial.  
 
A  súmula  vinculante  nº10  indica  que  ainda  que  não  haja  declaração  de 
inconstitucionalidade,  se  a  norma  for  afastada  deverá  ser  respeitada  essa 
reserva de plenária. Além disso, uma vez declarada a inconstitucionalidade, 
a turma não deveria submeter a questão uma segunda vez.  
 
Representação  interventiva:  A  União  não  pode  intervir  nos  estados,  pois 
são esferas distintas. Os estados não podem intervir nos municípios.  
Existem  alguns  princípios  que  entendem  ser  necessárias  essas 
intervenções.  
 
Constituição de 1937: Polaca.  
+ Vargas  cria  a  possibilidade  de  que  através  do  voto  de  ⅔  nas  duas 
casas  legislativas,  a  norma  considerada  inconstitucional  pelo 
Supremo  Tribunal  tivesse  sua  constitucionalidade  confirmada.  Ou 
seja,  enfraqueceu  o  exercício  do  controle  de  constitucionalidade, 
mostrando autoritarismo.  
 
Constituição de 1946:  
+ Acaba com o autoritarismo da polaca, de 1937, retorna com o sistema 
da de 1934.  
+ Surge  o  controle  de  constitucionalidade  concentrada,  por  meio  da 
emenda  16/1965,  e  então  o  controle  de  constitucionalidade  passa  a 
ser misto e concentrado.  
+ Apenas  o  Procurador  da  República  poderia  propor  o  controle  de 
constitucionalidade. 
+ Modelo  misto  de  controle  de  constitucionalidade, que combinava os 
sistemas  difuso-incidental,  de competência dos juízes e tribunais, e o 
concentrado-principal,  de  competência  do  Supremo  Tribunal 
Federal 
 
Constituição de 1988: 
+ Quebra  do  monopólio  da  Ação  Direta  de  Constitucionalidade  (ADI)  - 
O  controle  poderia  ser  proposto  por  todos,  não  somente  pelos 
procuradores gerais da república.  
+ Manteve o método difuso-incidental e concentrado-principal. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
+ Ampliou  o  modelo  concentrado-principal:  Incluiu  a  Ação  Direta  de 
Constitucionalidade  por  omissão  (além  da  por  ação,  já  existente)  e 
incluiu a Ação Declaratória de Constitucionalidade. 
 
● Organização do Estado 
 
- Sistema  federativo​:  Não  se  admite  hierarquia  entre  os  membros. 
Conhecido como federativo de 3 voltas (união de estados membros e 
municípios.  O  DF  como  sue  generes).  Os  entes  federativos  devem 
possuir autonomia legislativa, administrativa e financeira. 
 
- Território​:  Os  entes  federativos  são  autônomos,  mas  não  soberanos, 
os  entes  não  podem  atentar  contra  a  soberania  interna  ou  externa 
do pais.  
Art.  18.  A  organização  político-administrativa  da  República 
Federativa  do  Brasil  compreende  a  União,  os  Estados,  o  Distrito 
Federal  e  os  Municípios,  todos  autônomos,  nos  termos  desta 
Constituição. 
§ 1º - Brasília é a Capital Federal. 
§  2º  -  Os  Territórios  Federais  integram  a  União,  e  sua  criação, 
transformação  em  Estado  ou  reintegração  ao  Estado  de  origem 
serão reguladas em lei complementar 
 
- Estados:  
Titulo  III  Das  organizacoes  dos  estados  -  art.  18.  p.  3  18§  3º  -  Os 
Estados  podem  incorporar-se  entre  si,  subdividir-se  ou 
desmembrar-se  para  se  anexarem  a  outros,  ou  formarem  novos 
Estados  ou  Territórios  Federais,  mediante  aprovação  da  população 
diretamente  interessada,  através  de  plebiscito,  e  do  Congresso 
Nacional, por lei complementar. 
 
- Municípios:  
“O art. 18, p 4 da CF deve ser estudado em dois períodos: 
a)  De  5  de  outubro  de  88  até  a  promulgação  da  emenda 
constitucional 15 
de 12/09/1996 quando eram exigidos apenas dois requisitos para a 
criação  de  novos  municípios.  Quais  sejam:  a  realização  de  plebiscito 
com  a  população  interessada  e  a  aprovação  de  lei  estadual.  ” 
Milhares de municípios foram criados com isso. 
b)  Da  emenda  15  aos  dias  atuais  foram  trazidos  3 requisitos, são eles: 
lei  complementar  federal  estabelecendo  prazo  para  criação, 
aprovação mediante plebiscito, estudo de viabilidade municipal. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
RESUMOS:  
 
SUPREMOCRACIA - Oscar Vilhena Filho 
 
Este  texto  de  Oscar  Vilhena  Filho faz uma análise sobre o novo papel 
do  Supremo  Tribunal  Federal,  o  aumento  de  sua  visibilidade  – 
principalmente  sobre  o  público  leigo  -  destacando  os  impactos nos outros 
poderes, na política e na vida dos brasileiros. 
Apesar  de  ser  um  fenômeno  que  não  é  restrito  ao  Brasil,  é  por  aqui 
que  nota-se  com  mais  força  a  ampliação  da  esfera  de  autoridade  dos 
tribunais  em  detrimento  aos  parlamentos.  Para  alguns  analistas,  isso  se 
deve  a  expansão do mercado, para outros, uma decorrência da retração do 
sistema  representativo  e  de  sua incapacidade de cumprir as promessas de 
justiça  e  igualdade.  Nesse  sentido,  coloca-se  o  Supremo  como  um 
guardião  último  dos  ideais  democráticos,  endeusando  e  escondendo  as 
mazelas de se ter muito poder e funções em uma única instituição. 
É  interessante  se  referir  ao  Supremo  Tribunal  Federal  como 
supremocracia,  pois  além  do  acúmulo  de  funções  (tribunal  constitucional, 
órgão  de  cúpula  do  poder  judiciário,  foro  especializado,  etc),  o  Supremo 
possui  uma  autoridade  com  relação  aos  demais  poderes  e  as  demais 
instâncias  do  judiciário,  ou  seja,  amplia  seu  poder  de  atuação  e  governa 
jurisdicionalmente  o  Poder  Judiciário  no  Brasil.  Supremo  no  sentido  mais 
literal  da  palavra,  chega  a  atuar  como  uma  espécie  de  poder  moderador, 
legitimando/validando  decisões  de  outros  órgãos,  substituindo  escolhas 
majoritárias  e  dando  a  palavra  final  em  pautas  de  seu  interesse  (mas  não 
necessariamente da sua competência). 
Através  da  Constituição  de  1988,  a  figura  do  Supremo  foi  colocada 
como  heroína  protetora  das  regras  constitucionais,  além  de  alguns  casos, 
criadora  de  regras. Essa parte de criação de regras a faz acumular exercício 
de  autoridade,  pois  essa  função  deveria  ser  somente  do  legislativo,  cuja 
função  é  obtida  por  votos  representativos,  conservando  o  princípio 
democrático. 
Há  diversas  razões  de  ordem  política  e  histórica  que  levaram  o 
constituinte  a  elaborar  uma  Constituição  tão  minuciosa  e  ampla,  e  como 
consequência,  uma  grande  necessidade  de  protegê-la,  haja  vista a grande 
esfera  de  tensão  constitucional.  Como  já  citado,  o  Supremo  Tribunal 
Federal  ficou  imcumbido  dessa  função  e  acumulou  esta  a  outras  da  sua 
competência,  tornando-a  uma  super  instituição,  variando  desde  a 
resolução  de  pequenas  causas  políticas  até  a  revisão  de  decisões 
majoritárias. 
Com  o  envolvimento  de  muito  poder,  é  inevitável  que  este  não  se 
associe  a  política,  tornando-o  um  co-autor  do  constituinte  originário, 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
opinador  importante  de  pautas  relativas  aos  direitos  fundamentais  e 
também  às  relativas  às  funções  políticas.  Ao  tomar  decisões  de  natureza 
política,  e  não  apenas  exercer a autoridade de preservar regras, o Supremo 
passará  a  ser  cobrado  pelas  consequências  de  seus  atos,  sem  que  haja 
mecanismos institucionais para que essas cobranças sejam feitas. 
Há  que  se  pensar  também  no  impacto  da  publicidade  sobre  a 
atuação  dos  ministros,  visto  que  o  Supremo  delibera  em  público,  com 
televisionamento  de  suas  audiências.  Como  importantes  em  suas 
posições,  os  ministros  utilizam-se  disso  para  realizarem  discursos  e 
movimentarem a política através de seus pontos de vista. 
O  autor  entende  que  não  há  muito  o  que  julgar  se  este  fenômeno é 
positivo  ou  negativo,  mas  que  tais  pontos  –  especialmente  os  “abusivos”  a 
nossa  democracia  –  devem  ser  vistos  e  discutidos.  Qual  seria  a  exata 
posição  do  Supremo  Tribunal  Federal  em  nosso  sistema  político  hoje? 
Quais  impactos  causará  este  fenômeno  se  assim  permanecer?  É  preciso 
uma  racionalização  de  sua  jurisdição  e  uma  lapidação  de  seu  processo 
deliberativo,  de  forma  a  restringir  as  tensões  políticas  inerentes  ao 
exercício de uma jurisdição constitucional como a brasileira. 
  Medidas  como  a  redistribuição  das  competências  do  Supremo; 
modificação  em  sua  dinâmica  e  coesão,  no  sentido  de  tornar  11  votos  (dos 
ministros)  algo  discutido  e  colegiado,  não  apenas  uma  somatória  de 
opiniões  distintas;  transparência  na  construção  de  sua  agenda  e 
diminuição  do  ativismo  tornará  decisões  mais  íntegras  e  diminuiria  a 
vulnerabilização  da  autoridade  do  Supremo,  tirando-o  da  posição  de 
“ultima  palavra”  em  todas  as  pautas,  para  a  posição  de  mais  um 
importante integrante do poder judiciário no Brasil.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DE 1987/88 E A EXPERIÊNCIA 
BRASILEIRA SOB A CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
Este  texto,  capítulo  integrante  de  uma  obra,  busca  examinar  os 
antecedentes,  dinâmicas  de  funcionamento  da  Assembleia  Constituinte 
de  1987/88,  as  características  centrais  da  Constituição  e  os  impactos  sobre 
as relações políticas e sociais até os dias de hoje. 
O  movimento  que  resultou  na  convocação  da  Assembleia  Nacional 
Constituinte  só  se  tornou  viável  no  contexto  da  crise  da  ditadura  militar  e 
da  lenta  transição  para  o  período  democrático.  Essa  transição  não  foi 
liderada  pelos  setores  mais  radicais  da  sociedade  e  do  segmento  político, 
mas  por  uma  coalizão  formada  entre  as  forças  moderadas  que  davam 
suporte  ao  governo  militar  e  os  setores  moderados  da  oposição,  tratou-se, 
portanto, de mudanças negociadas, sem uso da violência. 
A  pauta  já  tinha  sido  apresentada  antes  em  manifestos  anteriores, 
como  o  “Carta  de  Recife”  em  1971,  mas  só  apareceu  de  maneira  mais 
consistente  a  partir  de  1977,  quando  a  convocação  foi  aprovada  por 
unanimidade.  Como  forma  de  pressionar  o  início  dos  processos,  a 
campanha  conhecida  como  “Diretas  já”  mobilizou  intensamente  a 
sociedade,  pois  colocava  em  evidência  a  urgência  da  instauração  de  uma 
nova ordem jurídico-política. 
Em  1985,  formou-se  uma  chapa  cujo  objetivo  era  a  Assembleia 
Constituinte,  conhecida  como  Aliança  Democrática.  Nesse  período  foi 
enviado  ao  Legislativo  a  Proposta  de  Emenda  Constitucional  n° 43. Apesar 
de  ter  havido  conflitos  referentes  a  quais  políticos  estariam  aptos  a 
participar  (eleitos  em  1982  ou  só  os  de  1986,  uma  comissão  especial  ou 
todos  os  presentes  na  época),  a  situação  foi  resolvida,  chegando  ao  dia  1° 
de  fevereiro  de  1987  composta  por  559 membros – 487 deputados federais 
e  72  senadores.  Dentre  os  constituintes,  todos  os  deputados  federais  e  49 
dos  senadores  haviam  sido  eleitos  no  pleito  ocorrido  em  1986.  Os  demais 
23 senadores tinham sido eleitos no pleito de 1982). 
A  Assembleia  durou  um  longo  período,  de  cerca  de  20  meses,  em 
que  se  discutia  e  temia  que  a  presença  de  partidos  mais  fortes  fosse 
crucial em posicionamentos na Constituição, o que não aconteceu. 
Os  trabalhos  da  Constituinte  envolveram  eleição  de  presidente 
(vitória  de  Ulysses  Guimarães),  definição de um Regimento Interno (que se 
estendeu  por  2  meses),  subdivisão  em  comissões, alocação nas funções de 
presidente  e  relator  nessas  comissões  (que  representou  importância  para 
acordo de lideranças), e por fim, a sistematização. 
As  subcomissões  tinham  por  objetivo  esmiuçar  as  comissões  e 
abranger  todos  os  tópicos,  sendo  o  mais  democrática  e  inclusiva  possível. 
Muito  por  conta  disso,  era  obrigação,  segundo o regulamento, a realização 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
de  audiências  públicas  –  cerca  de 5 à 8 – em caravanas pelo Brasil, a fim de 
facilitar a participação dos diversos grupos sociais. 
Iniciado  o  processo  de  sistematização,  as  tensões  políticas  ficaram 
evidentes,  e,  portanto,  aprovar  pautas  se  tornou  mais  difícil.  Entretanto, 
questões  importantes  foram discutidas, tais como duração do mandato de 
presidente,  adoção  ou  não  do  sistema  parlamentarista,  reformas  e  regras 
sobre  propriedade  e  livre-iniciativa.  Por  conta  deste  clima  de  inquietude, 
houve reforma no Regimento. 
Grupos  que  não  conseguiram  aprovar  suas  pautas  e  obter 
representatividade  durante  as  comissões  tentaram deslegitimar a força da 
Constituição  em  elaboração.  Em  26  de  julho  de  1988 – véspera do início do 
2º  turno  –  ocorre  um  incidente  em  que  José  Sarney  (derrotado  na  eleição 
de  presidente  da  Constituinte)  vai  à  público  dizer  que  “há  receio  de  que 
alguns  dos  seus  artigos  desencorajem  a  produção, afastem capitais, sejam 
adversos  à  iniciativa  privada  e  terminem  por  induzir  o  ócio  e  a 
improdutividade..  (…) Os brasileiros receiam que a Constituição torne o país 
ingovernável”,  após  o  ataque  público,  o  presidente  da  Assembleia 
Constituinte  em  seu  direito  de  resposta  também  foi  a  público,  mas 
defendendo  brilhantemente:  “  A  governabilidade  está  no  social.  A  fome,  a 
miséria,  a  ignorância,  a  doença  inassistida  são  ingovernáveis.  A  justiça 
social  é  negação  do  governo  e  condenação  do  governo..  (…)  Repito,  esta 
será  a  Constituição  Cidadã.  Porque  recuperará  como  cidadãos  milhões  de 
brasileiros..  (…)  Viva  a  Constituição  de  1988!  Viva a vida que ela vai defender 
e semear!” 
Com  os  trâmites  da  Assembleia  chegando  ao  fim,  em  22  de 
setembro  de  1988  ocorreu  a  derradeira  votação  da  Assembleia  Nacional 
Constituinte,  que  apreciou  o  texto  final  da  constituição  de  1988.  Todos  os 
líderes  partidários  se  manifestaram  a  favor  da  aprovação  da  nova 
Constituição,  exceto  o  presidente  do  PT  (Partido  dos  Trabalhadores),  Luiz 
Inácio  Lula  da  Silva,  pois  este  considerava-a  conservadora  demais.  Então, 
em  5  de  outubro  de  1988,  em clima de comoção, a Constituição de 1988 foi 
finalmente promulgada. 
Como  traços  essenciais  da  Constituição de 1988 podemos destacar o 
coroamento  do  processo  de  transição  do  regime  autoritário  em  direção  a 
democracia e a participação popular direta na política brasileira, tendo sido 
incluídas  122  emendas  populares  com  ampla  participação  dos  cidadãos.  A 
Constituição  é  ao  mesmo  tempo  longa-analítica  –  com  muito 
detalhamento  em  determinadas  matérias  -,  quanto  compromissória,  em 
que  não  há  uma  ideologia  política  pura  e  ortodoxa  a  frente,  sendo 
resultado  então  de  um  compromisso  entre  as  diversas  forças  e  grupos  de 
interesse. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Ela  também  é  pragmática  (ou  dirigente),  pois  não  se  contenta  em 
organizar  o  Estado  e  elencar  direitos  negativos  para  limitar  o exercício dos 
poderes  estatais.  Vai  muito  além  disso,  prevendo  direitos  positivos  e 
estabelecendo  metas,  objetivos,  programas  e  tarefas  a  serem  perseguidos 
pelo Estado e pela sociedade. 
É  importante  salientar  dos  valores  fundamentais  nos  quais  a 
Constituição  se  baseia  e  busca  proteger,  como  um  “horizonte  de  sentido” 
que  deve  inspirar  e  condicionar  a  ação  das  forças  políticas.  Ela  já  começa 
com  os  direitos  fundamentais,  antes  mesmo  de  falar  sobre  a  Estrutura  do 
Estado,  deixando  claro  a  prioridade  dos  direitos  fundamentais  sobre  as 
demais regras, protegendo-as como pétreas explícitas. 
Quanto  à  democracia,  regime  de  governo,  divisão  de  poderes  e 
atribuição  de  autonomias,  a  CF  é  avançada  e  possui  caráter  de 
independência.  Em  favor  da  democracia  estabeleceu  o  sufrágio  direto, 
secreto,  universal  e  periódico  para  todos  os  cargos  eletivos,  manteve  a 
Justiça  Eleitoral  ativa  e  forte  e  garantiu  com  vigor  liberdades  individuais  e 
de  expressão;  Em  decisão  ao  regime  de  governo,  presidencialista, instituiu 
a  eleição  direta,  em  dois  turnos  de  votação  e  chapas  duplas;  Quanto  a 
divisão  de  poderes,  reforçou  o  Legislativo  na  esfera  de  produção  de 
normas,  reduziu  as  hipóteses de legislativa privativa do Chefe do Executivo 
e  ampliou  o  poder  de  emenda  parlamentar  ás leis; Por fim, no que tange a 
atribuição  de  autonomias  e  seu  caráter  independente,  reforçou  o 
federalismo  exprimindo  autonomia  maior  aos  municípios, 
descentralizando administrativa e financeiramente. 
Após  o  furor  da  promulgação,  alguns  anos  depois  surgiu  a  hipótese 
de  realizar  uma  revisão  constitucional.  A  partir  de  janeiro  de  1993, 
organizaram-se  três  fronts  de  campanha,  envolvendo  parlamentares  e 
organizações  da  sociedade  civil,  muito  em  interesse  discutir  o  sistema  de 
governo.  Após  um plebiscito sem representatividade e ampla participação, 
a  revisão  constitucional  revelou-se  um  fiasco,  com  a  aprovação  de 
pouquíssimas  mudanças  no  texto  magno.  Foi  uma  junção  de  articulação 
fraca com crises do período. 
Posteriormente,  ao  longo  dos  anos,  o  ritmo  de  emendas 
constitucionais  se  manteve  razoável,  com  mudanças  em  reformas 
administrativas,  reforma  da  previdência  de  1998,  Lei  da  Responsabilidade 
Fiscal,  emendas  que  alteraram  responsabilidades  e  atribuições  dos 
poderes, dentre outras mudanças importantes. 
Após  30  anos  de  promulgação  da  Constituição  Cidadã,  é  possível 
perceber  que  o  Brasil  tem  vivido  um período de normalidade institucional, 
as  crises  políticas  têm  se  resolvido  em  si  mesmas  e  as  instituições 
constitucionais  têm  funcionado  regularmente.  A CF é hoje encarada como 
uma  autêntica  norma  jurídica,  e  não  mera  enunciação  de  princípios 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
retóricos,  e  tem  sido  cada  vez  mais  frequentemente  invocada  na  Justiça, 
contra os atos ou omissões institucionais dos poderes majoritários. 
Sem  dúvidas  existem  diversos  problemas no Brasil e não há próximo 
(nem  aspiração)  à  perfeição,  entretanto  isso  não  deve  impedir  o 
reconhecimento  do  significativo  avanço  sob  a  égide  da  Constituição  de 
1988.   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E O DIREITO CONSTITUCIONAL 
Manoel Jorge e Silva Neto  
 
A  Constituição  é  o  estatuto  fundador  da  sociedade  política,  e, 
portanto,  evidencia-se  a  necessidade  de  uma  teoria  que  se  proponha  a 
examinar  o  fenômeno  do  constitucionalismo  e  todos  os  desdobramentos 
que  cercam  a  análise  dessa  realidade.  A  Teoria  da  Constituição,  ou  Teoria 
Constitucional  desempenha o insubstituível papel de oferecer os conceitos 
básicos  sobre  a  Constituição,  o  que  servirá  de  auxílio  para  o  exame  das 
normas constitucionais concretas. 
As  normas  constitucionais  são  as  primeiras  em  um  sistema  positivo 
(pois  antes  delas  só  havia  o  direito  natural)  e  devem  estar  afinadas  a 
fatores políticos, sociais, culturais e econômicos.  
A  impossibilidade  de  convergência  doutrinária  para  tratamento 
uniforme  do  conteúdo  da  Teoria  da  Constituição  decorre  da  diversidade 
dos  problemas  constitucionais  atuais,  e,  logicamente,  das  respostas 
oferecidas  pelos  estudiosos,  que  não  são  semelhantes.  Entre  esses 
problemas,  é  possível  classificar  em  problemas  de  referência  (atrelamento 
a  concepção  individualista),  problemas  de  reflexividade  (impossibilidade 
de  o  Estado  e  o  sistema  constitucional  gerarem  um  quadro  de  respostas 
que  atenda  adequadamente  ao  conjunto  cada  vez  mais  complexo  e 
crescente  de  emergências  sociais),  os  problemas  de  reinvenção  do 
território  e  os  problemas  de  risco  (risco  de  catástrofes,  risco 
social/econômico de um país, etc). 
O  Direito  Constitucional  se  propõe  a  investigar  o  fenômeno  da 
constituição,  domínio  da  ciência  do  direito  que  se  ocupa  do  estudo  das 
normas  fundamentais  organizatórias  do  Estado.  Manuel  García-Pelayo 
divide  o  direito  constitucional  em  três  espécies:  direito  constitucional 
especial/positivo/particular  (disciplina  da  ciência  do  direito  cujo  objeto  é  a 
interpretação,  sistematização  e  crítica  de  normas  jurídico-constitucionais 
vigentes  em  um  Estado),  direito  constitucional  comparado  (estudo  das 
normas  jurídico-constitucionais  de  vários  Estados,  com  a  preocupação  de 
assinalar  os  traços  distintivos  e  semelhantes existentes entre eles) e direito 
constitucional  geral  (apresenta  uma  série  de  princípios,  conceitos  e 
instituições  que  podem  ser  encontrados  nos  vários  sistemas  do  direito 
positivo a fim de sistematizá-los numa visão unitária.  
Poder  Constituinte  é  a  competência,  capacidade  ou  energia  para 
constituir,  dar  constituição  organizacional  ao  Estado,  tendo  por 
características,  segundo  Burdeau,  a  inicialidade,  a  autonomia  e  a 
incondicionalidade.  A  legitimidade  do  poder  constituinte  baseia-se  na 
lógica  de  harmonia  e  respeito  hierárquico  num  sistema  normativo,  e, 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
portanto,  a  legitimidade  de  uma  Constituição  não  pode  ser  contestada 
referindo-se ao seu nascimento segundo quaisquer preceitos jurídicos. 
A  Formulação  Teórica  de  Sieyés  busca,  fora  do  sistema  positivo,  um 
direito  público  subjetivo  inalienável  do  povo  de  autoconstituição.  Para  ele, 
o Terceiro Estado era representado pelo povo, este suportando todo o ônus 
dos  piores  trabalhos,  enquanto  a  nobreza  ocupava-se de todos os bônus, e 
então  como  fundamento  de  reivindicações,  Sieyés  dividiu  entre  poder 
constituinte  e  poderes  constituídos,  descrevendo  também  fases  para 
evolução de uma comunidade política.  
Deve-se  distinguir  a  titularidade  e  o  exercício  do  poder  constituinte. 
“Todo  poder  emana  do  povo”,  diz  o  parágrafo  único  do  artigo  primeiro  da 
CF,  completando-se  com  “por  meio  de  representantes  eleitos  ou 
diretamente,  nos  termos  desta  Constituição.  Logo,  a  titularidade  do  poder 
está no povo e o exercício cabe os seus representantes.  
No  que  se  refere  a  poder  constituinte  material  e  formal:  Poder 
constituinte  material  precede  o  formal,  pois  a  ideia  de  direito  precede  a 
regra  de  direito,  o  valor  comanda  a  norma,  a  opção  política  fundamenta  a 
forma  que  elege  para  agir  sobre  os  fatos.  O  poder  constituinte  formal  é  o 
poder  de  decretação  de  normas  com  a  forma  e  força  jurídica  próprias  das 
formas constitucionais, parte escrita normativa.  
Entre  poder  constituinte  inato  e  poder  constituinte  adquirido  é 
possível  estabelecer  importantes  conexões:  o  poder  constituinte  inato  é 
tido  como  energia  materializada  no  elemento  fundador  e  apta  a 
determinar  o  aparecimento  da  criatura  política  coletiva, bem como sujeito 
ou  órgão  constituinte  que  conduz.  Já  o  poder  constituinte  adquirido  é 
como  uma  fase  posterior,  derivado  da espécie inata. Seu papel é promover 
modificações pontuais no texto constitucional.  
Existem  limitações  ao  poder  de  reforma,  tais  como  limitações 
processuais,  circunstanciais,  materiais  e  temporais.  Processuais:  também 
conhecidas  como  procedimentais,  são  aquelas  relativas  a  iniciativa  para 
proposta  de  emenda;  circunstanciais  são  aquelas  que  se  relacionam  a 
impossibilidade  de  propor  emendas  em casos de estado de sítio/defesa ou 
intervenção  federal  (essas  situações  representam  momento  anormal  na 
vida  política  do país, e mudanças na Constituição pressupõem ponderação 
e  equilíbrio);  materiais  são  as  explícitas  no  inciso  quarto  do  artigo  60  que 
configuram  autênticas  cláusulas  de  intocabilidade,  ou  seja,  cláusulas 
pétreas;  temporais  dizem  respeito  ao  período  de  tempo  a  ser  observado 
pelo constituinte entre a promulgação do texto e alteração de emendas. 
A  mutação  constitucional  pode  traduzir-se  em  apenas  uma  frase:  o 
estado  é  processo.  O  estado  renova  seus  fins  e  valores  conforme  os 
indivíduos  que  o  compõe  e  o  imaginário  social,  portanto,  transformações 
sociais  significam  mutações  constitucionais.  Não  há  uniformidade  na 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
nomenclatura,  tendo  alguns  que  optam  pelo  termo  transição 
constitucional  ou  mesmo  vicissitude  constitucional.  As  decisões  judiciais, 
os  usos  e  costumes,  as  interferências  de  grupos  de  pressão  ou  de 
interesses  podem  conduzir  alterações,  de  fato, da realidade constitucional, 
que  se  processam  lentamente,  sem  que  se  modifique  a  norma.  Quando  o 
corpo  legislativo  resiste,  é  possível  que  haja  mutação,  mas  esta  é 
considerada  inconstitucional,  alterando  o  comando  da  norma  sem 
modificar  a  letra,  criando  “válvulas  de  escape”  para  o  legislador  deixar  de 
fazer algo que a constituição o obrigou a realizar.  
A  palavra  constituição  tem  acepção  ampla,  mas  de  modo  geral,  a 
constituição  é  a  forma  específica  e  inimitável  assumida  pela  unidade 
estatal.  A  ideia  de Constituição na qualidade de instrumento de ordenação 
do  Estado  apenas  exterioriza  uma  face  do  fenômeno.  Para  facilitar  o 
entendimento,  é  possível  interpretar  a  etimologia  da  palavra  sob  os 
aspectos jurídicos, sociológicos e políticos.  
Em  acepção  sociológica,  convém  chamar  de  sociologismo  jurídico, 
que  indica  uma  concepção  científica  e  uma  atitude  mental  que  de 
maneira  mais  ou  menos  intensa  e  extensa  relativiza a política, o Direito e a 
cultura  a  situações  sociais,  envolvendo  os  aspectos  da  realidade  social  (é 
como  se  o  exercício  do  poder  fosse  o  instrumento  real  e  a  constituição  o 
instrumento formal, valendo-se dessa consonância para a legitimidade) 
Em  acepção  política,  Carl  Schmitt  explica  o  decisionismo  político, 
que  promove  distinção  entre  constituição  e  lei  constitucional.  Para  ele,  há 
quatro  conceitos  de  constituição:  1.  absoluto  (constituição  como  todo 
unitário),  2.relativo  (constituição  como  pluralidade  de  leis  particulares,  3. 
positivo  (constituição  como  decisão  de  conjunto  sobre  o  modo e forma da 
unidade  política),  4.ideal  (constituição  como  resultado da identidade entre 
o  seu  conteúdo  e  as  aspirações  dos  grupos  políticos dominantes. O que se 
tornou  mais  conhecido  foi  o  positivo,  que  promove  a  divisão  entre 
constituição  e  lei  constitucional  (Constituição  é  o  produto  da  decisão 
política  fundamental,  a  estabelecer  a  forma  de  estado,  de  governo,  os 
órgãos  do  poder  e  os  direitos  e  garantias  constitucionais.  Atém-se  Carl 
Schmitt  ao  princípio  da  exclusão,  ou  seja,  toda  matéria  que  não  resulte  da 
“decisão  política  fundamental”  promanada  de  um  poder  constituinte  é 
considerada uma lei constitucional.  
Em  acepção  jurídica,  Hans  Kelsen  explica  que não necessita recorrer 
a  política,  sociologia  ou  nenhuma  outra  esfera.  Para  ele,  a  conceituação 
restrita  á  esfera  puramente  jurídica  é  o  bastante.  Em  dois planos distintos, 
há  o  lógico-jurídico  e  o  jurídico-positivo.  O  lógico-jurídico  significa  a  ideia 
aceita  pelos  destinatários  dos  comandos  constitucionais  de  que  devem 
conduzir-se  de  acordo  com  as  prescrições  enunciadas  no  texto  formal, 
escrito.  A  norma  posta  (constituição  jurídico-positiva),  de  existência  visível, 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
material,  encontra  seu  fundamento  de  validade  na  norma  hipotética 
fundamental  (constituição  lógico  jurídica),  invisível  e  imaterial, 
compreendida  no  comando  genérico  e,  naturalmente,  aceito  consistente 
na obediência a tudo quanto está na constituição. 
A  concepção  de  constituição  total  é  adotada  por  Gomes  Canotilho, 
pois  para  ele,  a  constituição  não  deve  ser  estudada  isoladamente.  Pelo 
contrário,  ela  conexiona-se  com  outras  categorias  políticas  e  conjuntos 
sociais  (Estado,  sistema  político,  sistema  jurídico,  ordenamento, 
instituição).  A  plurissignificatividade  do  conceito  de  constituição  conduz  à 
constatação  de  que  “todos  os  países  possuem,  possuíram  sempre,  em 
todos  os  momentos  da  sua  história,  uma  constituição  real  e  efetiva”.  Esse 
conceito  de  Constituição  Total,  reúne,  numa  perspectiva unitária, aspectos 
econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos, afirma Dirley da Cunha Jr.  
É  importante  observar  o  aspecto  histórico  associado  a  classificação 
das  constituições.  Os  diversos  tipos  de  estados,  ao  longo  das  eras  , 
adequaram-se aos tipos de sociedade e suas contingências. 
Como  forma  de  classificação  das  constituições,  há as formas: quanto 
ao  conteúdo,  à  forma,  a  estabilidade,  a  origem,  ao  modo  de  elaboração,  á 
ideologia  e  a  extensão.  Quanto  ao  conteúdo,  podem  ser  materiais  e 
formais,  as  materiais  são  aquelas  que  disciplinam  exclusivamente  temas 
vinculados  à  organização  do  estado  e  aos  direitos  e  garantias 
fundamentais,  enquanto  as  formais  são  as  constituições  que  inserem 
dispositivos  que  não  guardam  relação  com  o  referido  núcleo  totalmente 
constitucional;  Quanto  à  forma  existem  as  escritas  e  as  não-escritas 
(costumes  e  jurisprudência);  Quanto  à  origem  existem  as  populares  (com 
apoio  popular)  e  as  outorgadas  (impostas);  quanto  á  estabilidade  existem 
as  rígidas  (processo  legislativo  solene  e  rigoroso  para  mudança  de  regras), 
super-rígidas  (imodificáveis),  flexíveis  (mudança  de  normas  com  processo 
igual  ao  de  fazer  normas)  e  semirígidas  (meio  termo  entre  a  rigidez  e  a 
flexibilidade); quanto à elaboração, há as dogmáticas (as regras estão todas 
inseridas  em  um  documento oficial, redigido de forma a todos cumprirem, 
como  uma  constituição)  e  as  históricas  (decorrentes  de  usos  e  costumes 
do  processo  de  evolução  histórico);  Quanto  à  ideologia  são  as  ortodoxas 
(elaboradas  em  entendimento  a  uma  ideologia  única)  e  ecléticas  (várias 
ideologias  se  respeitando);  Por  fim,  quanto  à  extensão,  podem  ser 
sintéticas  (enunciam  princípios  gerais,  restritos  apenas  a  disciplina  de 
organização  de  estado  e  limitação  de  poder),  enquanto  as  analíticas  são 
mais  abrangentes.  A  constituição  brasileira  de  1988  é  unitextual, dirigente, 
compromissória,  ideológico-programática,  formal,  popular,  rígida  e 
super-rígida, eclética e analítica. 
Acerca  dos  elementos  das  constituições,  há  cinco  categorias  de 
elementos,  em  razão  de  sua  natureza,  função  ou  finalidade:  Normas 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
constitucionais  orgânicas  (estruturação  do  Estado  e  Poder);  normas 
constitucionais  de  limitação  (direitos  e  garantias  fundamentais  para  o 
indivíduo  e  limitantes  do  Estado);  normas  de  estabilização  constitucional 
(consagram  enunciados  normativos  criados  para  resolver  conflitos 
constitucionais  e  defender  a  constituição);  normas  constitucionais  de 
aplicabilidade  (dispositivos  relacionados  a  aplicabilidade  das  normas 
constitucionais);  por  fim,  normas  constitucionais  socioideológicas 
(compromisso  das  constituições  contemporâneas  com  a  busca  por  uma 
sociedade menos desigual, através das normas de direito social.  
Quanto  à  estrutura,  compreende-se  o  preâmbulo,  o  corpo  e  as 
disposições constitucionais transitórias.  
É  preciso  destacar  a  importância  da  história  do  constitucionalismo. 
Primeiramente,  a  palavra  constitucionalismo  pode  ter  vários  significados, 
pode-se  referir  ao  movimento político-social para limitar o poder arbitrário, 
ou  uma  imposição  para  cartas  constitucionais  escritas,  ou  mesmo  os 
propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas 
diversas  sociedades.  A  acepção  mais  assertiva  é  a  de  que 
constitucionalismo marca o caráter limitativo do poder.  
A  racionalização  do  poder,  através  do  fenômeno  ​rationalization 
povoir​, consistia simplesmente na tentativa de fixar o exercício do poder ao 
racionalismo  da  época,  determinando  importantes  consequências  no 
plano  constitucional,  entre  as  quais  a  tripartição  das funções do estado e a 
consolidação dos direitos individuais.  
Os direitos sociais são direitos públicos subjetivos dirigidos contra o estado, 
a  determinar  a  exigibilidade  de  prestações  no  que  se  refere  à  educação, 
saúde,  alimentação,  trabalho,  moradia,  lazer,  segurança  e  previdência 
social.  
O  Neoconstitucionalismo  é  uma  tendência  destinada  a  consolidar 
nova  concepção  da  norma  jurídica,  sustentando  máxima  efetividade  das 
normas constitucionais, entendendo o direito como transformador social. 
Panconstitucionalismo  é  uma  tendência  a  pensar  que  somente  os 
valores  presentes  na  constituição  devem  ser  aceitos  como  valores 
legítimos na sociedade, inibindo outras formas de pessoas.  
O  Transconstitucionalismo  como  tendência  jurídica  visa  viabilizar  o 
entrelaçamento  entre  ordens  jurídicas  distintas,  por  meio  do  aprendizado 
recíproco  e  intercâmbio  criativo,  protegendo  os  direitos  humanos.  O 
Metaconstitucionalismo  é  a  ideia  do  surgimento  de  uma  ordem  jurídica 
comunitária,  compartilhada  diante  da  multiplicação  de  blocos 
econômicos.  
 
 
 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CAP. I ao IV 
Dirley da Cunha Júnior   
 
Lassale  sustenta,  certeiramente,  que  todos  os  Estados  possuem  e 
sempre  possuíram  uma  Constituição,  a  única  diferença  a  salientar  é  que 
atualmente  elas  são  costumeiramente  escritas  em  papel.  Entretanto,  a 
idéia  de  Constituição  precede  ao  próprio  constitucionalismo,  entendido 
este  como  um  movimento  político-constitucional  que  pregava  a 
necessidade  da  elaboração  de  Constituições  escritas  que  regulassem  o 
fenômeno  político  e  o  exercício  do  poder,  em  benefício  de  um  regime  de 
liberdades  públicas.  O  constitucionalismo,  contudo,  tem  origens  históricas 
que variam de tempo e espaço.  
O  constitucionalismo,  portanto,  deve  ser  visto  como  uma  aspiração 
de  uma  Constituição  escrita,  que  assegurasse  a separação de Poderes e os 
direitos  fundamentais,  como  modo  de  se  opor  ao  poder  absoluto,  próprio 
da primeira forma de Estado 
É  importante,  ademais,  não  perder  de  vista  a  distinção, 
frequentemente  lembrada,  entre  o  constitucionalismo  antigo  e  o 
constitucionalismo  moderno.  Segundo  Canotilho,  numa  acepção 
histórico-descritiva:  Designa,  assim,  de  constitucionalismo  antigo  todo  o 
esquema  de  organização  político-jurídica  que  precedeu  o 
constitucionalismo  moderno,  como  o  constitucionalismo  grego  e  o 
constitucionalismo romano. 
No  constitucionalismo  antigo,  a  noção  de  Constituição  é 
extremamente  restrita,  uma  vez  que  era  concebida  como  um  texto  não 
escrito,  que  visava  tão  só  à  organização  política  de  velhos  Estados  e  a 
limitar  alguns  órgãos  do  poder  estatal  (Executivo  e  Judiciário)  com  o 
reconhecimento  de  certos  direitos  fundamentais,  cuja  garantia  se  cingia 
no  esperado  respeito  espontâneo  do  governante,  uma  vez  que  inexistia 
sanção contra o príncipe que desrespeitasse os direitos de seus súditos. 
A  origem  formal  do  constitucionalismo  moderno  está  ligada  às 
Constituições  escritas  e  rígidas  dos  Estados  Unidos  da  América,  de  1787,  e 
da  França,  de  1791,  apresentando  dois  traços  marcantes:  organização  do 
Estado  e  limitação  do  poder  estatal,  por  meio  da  previsão  de  Direitos  e 
Garantias  Fundamentais.  Já  no  constitucionalismo  moderno,  a  noção  de 
Constituição  envolve  uma  força  capaz de limitar e vincular todos os órgãos 
do poder político. 
Enfim,  o  constitucionalismo  moderno  legitimou  o  aparecimento  da 
chamada  constituição  moderna,  entendida  como  “a  ordenação 
sistemática  e  racional  da  comunidade  política  através  de  um  documento 
escrito  no  qual  se  declaram  as  liberdades  e os direitos e se fixam os limites 
do  poder  político”.  Assim,  no  constitucionalismo  moderno,  a  Constituição 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
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deixa  de  ser  concebida  como  simples  manifesto  político  para  ser 
compreendida  como  uma  norma  jurídica  fundamental  e  suprema, 
elaborada  para  exercer  dupla  função:  garantia  do existente e programa ou 
linha de direção para o futuro. 
Todas  as  normas  constitucionais  das  Constituições  rígidas, 
independentemente  de  seu  conteúdo,  têm  estrutura  e  natureza  de 
normas  jurídicas,  ou  seja,  são  normas  providas  de  juridicidade,  que 
encerram  um  imperativo,  vale  dizer,  uma  obrigatoriedade  de  um 
comportamento.  São,  pois,  verdadeiras  normas  jurídicas.  É  certo,  porém, 
que  a  Constituição  brasileira,  como  a  maioria  das  Constituições 
contemporâneas,  contém  normas  de  diversos  tipos,  função  e  natureza,  de 
modo  que  algumas  são dotadas de maior eficácia que outras. Mas isso não 
significa,  no  entanto,  que haja em seu texto normas não-jurídicas. Todas as 
normas  constitucionais,  sem  exceção,  mesmo  as  permissivas,  são  dotadas 
de  imperatividade,  por  determinarem  uma  conduta  positiva  ou  uma 
omissão,  de  cuja  realização  são  obrigadas  todas  as  pessoas  e  órgãos  às 
quais elas se dirigem.  
Enfim,  todas  as  normas  jurídicas  caracterizam-se  por  serem 
imperativas.  Todavia,  na  hipótese  particular  das  normas  constitucionais,  a 
imperatividade  assume  uma  feição  peculiar,  qual  seja,  a  da  sua 
supremacia em face às demais normas do sistema jurídico.  Assim,  a 
Constituição,  além  de  imperativa  como  toda  norma  jurídica,  é 
particularmente  suprema,  ostentando  posição  de  proeminência  em 
relação  às  demais  normas,  que  a  ela  deverão  se conformar, seja quanto ao 
modo  de  sua  elaboração  (conformação  formal),  seja  quanto  à  matéria  de 
que  tratam  (conformação  material).  Essa  supremacia  da  Constituição  (ou 
sua  imperatividade  reforçada  e  superlativa)  em  face  às  demais  entidades 
normativas  advém,  naturalmente,  da  soberania  da  fonte  que a produziu: o 
poder  constituinte  originário,  circunstância  que a distingue, sobremaneira, 
das  outras  normas  do  sistema  jurídico,  que  são  postas  pelos  poderes 
constituídos.  Para  além  disso,  ainda  vigora  na  doutrina  a  idéia  de  que  a 
Constituição  é  suprema  em  razão  da  natureza  de suas normas, na medida 
em que estas. 
A  supremacia  da  Constituição,  sem  dúvida,  é  tributária  da  idéia  de 
superioridade  do  poder  constituinte  sobre  todas  as  instituições  jurídicas  e 
políticas  vigentes  no  Estado,  de  sorte  que  uma  Constituição  haure  o 
fundamento  de  sua  supremacia  na  própria  supremacia  do  poder  que  a 
originou.  Isso  faz  com  que  o  produto  do  exercício  deste  poder,  a 
Constituição,  esteja  situado  no  topo  do  ordenamento  jurídico,  servindo  de 
fundamento  de  validade  a  todas  as  demais  normas  refletem  a  real 
estrutura  da  organização  do  poder  político  de  determinado  Estado,  que 
elas retratam e disciplinam. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Assim,  “o  poder  absoluto  exercido  pelo  Estado,  sem  quaisquer 
restrições  e  controles,  inviabiliza,  numa  comunidade  estatal  concreta,  a 
prática  efetiva  das  liberdades  e  o  exercício  dos  direitos  e  garantias 
individuais  ou  coletivos.  E  preciso  respeitar,  de  modo  incondicional,  os 
parâmetros  de  atuação  delineados  no  texto  constitucional.  Uma 
Constituição  escrita  não  configura  mera  peça  jurídica,  nem  é  simples 
escritura  de  normatividade  e  nem  pode  caracterizar  um  irrelevante 
acidente  histórico  na  vida  dos  povos  e  das  nações.  Todos  os  atos  estatais 
que  repugnem  a  Constituição  expõem-se  à  censura  jurídica  dos Tribunais, 
especialmente porque são ínitos, nulos e desvestidos de qualquer validade. 
A  Constituição  não  pode  submeter-se  à  vontade  dos  poderes  constituídos 
e  nem  ao  império  dos  fatos  e  das  circunstâncias.  A  supremacia  de  que ela 
se  reveste  —  enquanto  for  respeitada  —  constituirá a garantia mais efetiva 
de  que  os  direitos  e  as liberdades não serão jamais ofendidos. Ao Supremo 
Tribunal  Federal  incumbe  a  tarefa,  magna  e  eminente,  de  velar  por  que 
essa realidade não seja desfigurada. 
Um  ordenamento jurídico só pode ser concebido como um conjunto 
de  normas.  Vale  dizer,  é  condição  de  existência  de  uma  ordem  jurídica  a 
concorrência  de  normas.  Não  obstante  a  pluralidade  de  normas  jurídicas 
que  abrange,  o  ordenamento  constitui  uma  unidade,  quer  porque  suas 
normas  nascem  de  mesma  fonte  (ordenamento  simples),  quer  porque 
suas  normas,  ainda  que  nascidas  de  fontes  distintas,  têm  o  mesmo 
fundamento  de  validade  (ordenamento  complexo).  É  a  Constituição, 
portanto,  como  fonte  máxima  de  produção  de  todo  o  Direito  e  último 
fundamento  de  validade  das  normas  jurídicas,  que  confere  unidade  e 
caráter  sistemático  ao  ordenamento  jurídico.  Mas  ela  própria  representa 
uma  unidade  normativa,  enquanto  ordem  unitária  da  vida  política e social 
da  ossatura  estatal.  Isso implica em afirmar que toda Constituição deve ser 
compreendida  como  uma  unidade  e  como  um  sistema  que  privilegia 
determinados valores. 
Todas  as  normas  constitucionais,  portanto,  independentemente  de 
sua  categoria,  seja  material  ou  formal,  princípio  ou  regra,  programática ou 
não,  têm  idêntica  hierarquia  formal-normativa  e  exercem  a  mesma  força 
normativa  ante  a  realidade  à  qual  se  dirigem.  A  única  ressalva  que 
necessariamente  se  deve  fazer  -  o  que  será feito ao diante - diz respeito ao 
grau  (maior  ou  menor)  de  eficácia  imediata  que  a  norma  constitucional 
está  capacitada  a  produzir.  A  unidade  normativa  da  Constituição  é 
importante,  na  medida  em  que  o  descumprimento  de  uma  norma 
constitucional  põe  em  perigo  a  própria  unidade  do  texto  magno.  Assim,  a 
garantia  da  supremacia  de  uma  norma  constitucional  proporciona  a 
garantia da própria Constituição. 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Como  já  sublinhado,  a  supremacia  da  Constituição  -  enquanto 
princípio  jurídico  que  atribui  à  Constituição  uma  força  subordinante  e  a 
eleva  à  condição  de  legitimidade  e  validade  de  todas  as  normas  jurídicas 
positivadas  em  um  dado  Estado  -  é  a  base  de  sustentação  do  próprio 
Estado  Democrático  de  Direito,  seja  porque  assegura  o  respeito  à  ordem 
jurídica,  seja  porque  proporciona  a  efetivação  dos  valores  sociais.  Mas essa 
supremacia  constitucional  restaria  comprometida  se  não  existisse  um 
sistema  que  pudesse  garanti-la  e,  em  conseqüência,  manter  a 
superioridade  e  força normativa da Consituição, afastando toda e qualquer 
antinomia  que  venha  agredir  os  preceitos  constitucionais.  É  nesse 
contexto  que  avulta  a  importância  do  controle  de  constitucionalidade 
como  um  mecanismo  de  garantia  da  supremacia  das  normas 
constitucionais delineado pelo próprio texto constitucional. 
O  controle  da  constitucionalidade  dos  atos  normativos  requer  a 
existência  de  uma  Constituição  formal  e  escrita.  Quer  dizer,  demanda  um 
conjunto  normativo  de  princípios  e  regras  escritas,  plasmados  num  texto 
jurídico  supremo.  A  chamada  Constituição  costumeira  ou  histórica  (não 
escrita),  por  ser  juridicamente  uma constituição flexível,, não dispõe de um 
controle  de  constitucionalidade,  já  que,  nos  países  que  a  adotam,  vige  o 
princípio  da  supremacia  do  parlamento,  não  se  aceitando  a  fiscalização 
dos atos dele decorrentes. 
Um  dos  maiores  óbices  ao  reconhecimento  do  controle  judicial  de 
constitucionalidade das leis é a invocada falta de legitimidade democrática 
dos  juizes,  que  não  são  eleitos  nem  representam,  conseqüentemente,  a 
vontade  popular.  Esse  obstáculo  é  freqüentemente  levantado  sob  o 
argumento  de  que  não  é  admissível  que  juizes  não  eleitos  pelo  voto 
popular,  possam  controlar  e  invalidar  leis  elaboradas  por  um  Poder 
Legislativo  eleito  para  tal  e  aplicadas  por  um  Poder  Executivo  também 
eleito.  Para  estes  autores,  a  atuação  dos  juízes  no  controle  de 
constitucionalidade das leis. 
O  regime  democrático  e  a  necessidade  de  defesa  e  realização  dos 
direitos  fundamentais  -  premissas  básicas  do  Estado  Democrático  de 
Direito  -  têm  exigido  dos  órgãos  da  justiça  constitucional  uma  atuação 
mais  ativa na efetivação e no desenvolvimento das normas constitucionais, 
máxime  em  face de omissões estatais lesivas a direitos fundamentais. Aqui 
reside,  sem  dúvida,  a  melhor  das  justificativas  da  legitimidade  da  justiça 
constitucional  e  do  controle  judicial  de  constitucionalidade,  como 
instrumento  de  efetivo  controle  das  ações  e  omissões  do  poder  público. 
Evidentemente  que,  quando  o  juiz  deixa  de  aplicar  uma  lei  ordinária,  por 
considerá-la  inconstitucional,  ele  não  mais  faz  do  que  aplicar  a  própria 
Constituição,  que  representa  a  vontade  “autêntica”  e  soberana  do  povo, 
expressa de modo mais elevado.  
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Dito  d’outro  modo, o juiz constitucional, quando realiza o controle de 
constitucionalidade  das  leis,  atua  de  forma  a  fazer  sobrepor  a  vontade  do 
legislador  constituinte,  expressa  na  Constituição,  à  vontade  do  legislador 
ordinário.  A  idéia  que  subjaz  à  justiça  constitucional  é  a  de  que  a  vontade 
da  maioria  constituinte  incorporada  na  Constituição  (que  é  a  vontade 
soberana  e  autêntica  do  povo)  sempre  prevaleça  sobre  a  vontade  da 
maioria ordinária ou governante de cada momento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CAP. V e VI 
Dirley da Cunha Júnior   
 
A  legitimidade  da  justiça  constitucional  também  encontra 
justificativa  na  aceitação  de  suas  decisões  pela  opinião  pública,  razão  por 
que  todas  as  suas  manifestações  devem  ser  públicas  e  fundamentadas. 
Não  sem  razão,  já  dizia  Ruy  que  a  “majestade  dos  tribunais  assenta  na 
estima  pública”.  Com  efeito,  como  já  tivemos  a  oportunidade  de  afirmar, 
essa  legitimidade  também  reside  na  consistência  das  decisões  do  Poder 
Judiciário,  que  devem  ser  fundamentadas  e  tomadas  públicas,  a  fim  de 
que  se  possa  assegurar  à  sociedade  que  essas  decisões  não  resultam  de 
caprichos  ou  idiossincrasias  dos  juízes,  mas  sim  de  seus  esforços  em  se 
manterem  fiéis  ao  sentimento  de  eqüidade  e  justiça  da  comunidade. 
Destarte,  a  justiça  constitucional,  ao  elevar  os  valores  fundamentais  de 
uma  Constituição  sobre  os  interesses  ocasionais  dos  grupos  políticos,  ao 
assegurar  a  efetividade  de  toda  a  Constituição,  ao  garantir  o  exercício 
imediato  de  todos  os  direitos  fundamentais,  enfim,  ao  fazer  da 
Constituição  o  elemento  de referência vinculante e obrigatório de todos os 
Poderes,  grupos  e  cidadãos,  é  uma  justiça,  sem  dúvida  alguma,  capaz  de 
gerar  consenso.  Ademais,  o  processo  judicial  que  se  instaura  para  o 
exercício  da  jurisdição  constitucional  torna-se  um  instrumento  de 
participação política e exercício permanente da cidadania. 
Tão  importante  é  a  justiça  constitucional  para  o  respeito  e  a 
efetividade  da  Constituição,  que  a  Lei  Fundamental  de  um  Estado, 
protegida  e assegurada pela justiça constitucional, é capaz de converter-se 
no  campo  comum  do  jogo  das  diferentes forças políticas e na regra básica 
que  define  o  consenso  fundamental  de  uma  sociedade  e  da  qual  esta 
retira  e  mantém  sua  vitalidade  e  desenvolve  suas  virtualidades.  Se  se 
reconhece  a  imperatividade  da  Constituição, certamente se reconhecerá a 
relevância  do  papel  a  ser  desempenhado  pela  justiça  constitucional  e  sua 
imprescindibilidade  na  salvaguarda  dos  preceitos  supremos  da 
Fundamental  Law  e  dos  valores  do  Estado  Democrático  de  Direito.  Por 
essa  razão,  constitui  pressuposto  universal  e  onipresente  de  existência  da 
jurisdição  constitucional  a  supremacia  e  primazia  da  Constituição  sobre 
todo  o sistema jurídico. Sem essa virtude ou força condicionante da Norma 
Fundamental  sobre  as  demais  normas  jurídicas, não Há falar em jurisdição 
constitucional. 
A  justiça  constitucional  é  exatamente  a  guardiã  daquela  vontade 
soberana,  posto  que  criada  por  ela  mesma  para  esse  fim.  Ademais,  os 
direitos  fundamentais,  consagrados  na  Constituição,  impõem,  já 
sublinhamos,  rigorosos  limites  ao  Poder  Legislativo.  Por  essa  razão,  é 
evidente  que  uma  maioria  parlamentar  ocasional  que  os  viola,  longe  de 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
estar  legitimada  pelo  argumento  da  maioria,  está  revelando  verdadeiro 
abuso  de  poder.  Daí  que  a  função  protetora  da  justiça  constitucional, 
frente  a  esse  abuso,  invalidando  os  atos  legislativos  infringentes  dos 
direitos  fundamentais,  é  a  única  possibilidade  eficaz  de  combatê-lo,  pòis 
“no  hay  alternativa  posible  si  se  pretende  una  garantia  efectiva  de  la 
libertad,  que  haga  de  ella  algo  más  que  simple  retórica  dei  documento 
constitucional”.82  Só  a  justiça  constitucional  pode  oferecer  garantias 
eficazes  frente  ao  risco  de  esmagamento  das  minorias  e  da  violação  dos 
direitos  fundamentais,  nos  quais  radica  a  possibilidade  mesma  da 
democracia,  de  tal  sorte  que  “puede  y  debe  hablarse  dei  carácter 
estrictamente  democrático  de  la  jurisdicción  constitucional.Reforça  essa 
idéia  a  existência  de  constituições  pluralistas,  que  têm exigido uma justiça 
constitucional  que,  com  sua  necessária  e  inerente imparcialidade, permita 
o livre desenvolvimento das forças sociais e políticas.  
É  interessante  também  a  posição  de  Dworkinn  a  defesa  da 
legitimidade  da justiça constitucional. Para este autor, é possível conciliar a 
jurisdição  constitucional  com  a  democracia,  “se  pudermos  formular  um 
programa  apolítico  para  decidir  casos  constitucionais”;  Partindo  da 
distinção  que  faz  entre  democracia  majoritária,  fundada  no  princípio  da 
maioria,  e  o  que  designou  de  democracia  constitucional  (constitutional 
democracy),  Dworkin  sustenta  que  a  justiça  constitucional  deve  tomar 
decisões  importantes,  mas  decisões  de  princípios,  e  não  de  política,  ou 
seja,  decisões  acerca  dos  direitos  das  pessoas  no  sistema  constitucional  e 
não  decisões  sobre  como  se  promove  melhor  o  bem-estar  geral.  Estas 
decisões  de  princípios,  segundo  o  autor,  devem  ser  tomadas elaborando e 
aplicando  a  teoria  substantiva  da  representação,  haurida  do  princípio 
básico  de  que  o  governo  deve  tratar  as  pessoas  como  iguais. E ainda, uma 
verdadeira  democracia  é  aquela  onde  todas  as  pessoas  são  tratadas  com 
igual  respeito  e  consideração.  Se  é  certo  que  a  democracia  é  o  governo 
segundo  a  vontade  da  maioria,  não  menos  exato  é  afirmar  que o princípio 
majoritário  não  assegura  o  governo  pelo  povo  senão  quando  todos  os 
membros  da  comunidade  são  concebidos,  e  igualmente  respeitados, 
como agentes morais.  
O  autor  revela  que,  nas  últimas  décadas,  o  povo  norte  americano 
debateu  a  moralidade  da  segregação  racial  e  chegou  a  um  grau  de 
consenso,  no  nível  do  princípio,  que  antes  se  entendia  impossível.  Esse 
debate,  conclui  o  autor,  não  teria  tido  a  importância  que  teve,  não  fosse  o 
fato  e  o  simbolismo  das  decisões  da  Suprema  Corte,  no  exercício  da 
jurisdição  constitucional.  De  ver-se,  assim,  que  a  falta  de 
representatividade  direta  dos  órgãos  incumbidos  da  jurisdição 
constitucional  não  é  obstáculo  ao  reconhecimento  de  sua  legitimidade 
democrática.  
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
Isto  porque,  como  por  tantas  vezes  enfatizado  neste  item  do 
trabalho,  numa  democracia  complexa  de  uma  sociedade  também 
complexa,  pretende-se  assegurar  não  só  o  governo  das  maiorias,  como 
também  o  respeito  às  minorias  e  aos  direitos fundamentais, razão por que 
os  meios  de  controle  devem  ser  exercidos  por  órgãos  estranhos  aos 
próprios  órgãos  representativos  controlados.  Nesse  contexto,  a  jurisdição 
constitucional  apresenta-se  como  um  efetivo  instrumento  de  controle  da 
atividade  dos  poderes  públicos,  exercida  para  proteção  dos  direitos 
fundamentais  e  das  minorias  marginalizadas,  bem  como  para  corrigir  os 
abusos  da  maioria  parlamentar,  objetivando  reconduzir  essa  atividade dos 
poderes públicos aos limites fixados pela Constituição. 
A  jurisdição  constitucional  surgiu  como  uma  garantia  democrática 
de  submissão  do  poder  constituído  à  vontade  soberana  do  povo,  a  partir 
da  qual  se  legitima.  Representa,  sem  dúvida,  uma  garantia  popular  frente 
ao  legislador  arbitrário  que  dita  leis  iníquas  ante  a  dimensão  axiológica da 
Constituição,  ou  que  se omite da prática de leis que seriam condições para 
a efetivação e o desenvolvimento dos valores constitucionais. 
E  se  essa  legitimidade  já  é  manifesta  quando  a  jurisdição 
constitucional  tem  por  objeto  a  invalidação  de  um  ato  positivo  do  poder 
público,  afortiori  ela  se  mostra  evidente  quando a jurisdição constitucional 
precisa  incidir  sobre  as  omissões  do  poder  público.  Com  efeito,  não  se 
justifica  o  tratamento  diferenciado  dispensado  a  esses  dois  tipos  de 
controle  judicial  (da  ação  e  da  omissão  do  poder  público),  já  que,  em 
ambas  as hipóteses, o juiz interfere no âmbito da atividade legislativa, mais 
ainda,  ou  seja,  com  maior  intensidade,  quando  invalida  a  lei  por 
inconstitucionalidade,  pois,  nesse  caso,  o  juiz  estará  superpondo  sua 
interpretação  da  Constituição  à  interpretação  do  legislador,  assegurando 
que  a  lei,  um  ato  positivo  do  Poder Legislativo, é incompatível com a Carta 
Constitucional.  Já  quando  controla  a  omissão  para  supri-la,  o  juiz  apenas 
atua  supletivamente,  agindo  provisória  e  secundariamente  onde  o 
legislador  infrator  não  agiu,  inexistindo,  nesse  caso,  superposição  de 
Poderes.  Assim,  se  a  lei  inconstitucional  deve  ser  invalidada  e  privada  de 
eficácia,  igualmente  deve-se  suprir  as  omissões  inconstitucionais,  máxime 
quando,  por  força  de  um  dever  jurídico  plasmado  na  Constituição,  não 
existe  liberdade  de não normação por parte do poder público, em razão de 
a  omissão  normativa  impedir  o  desfrute  de  um  direito  fundamental 
constitucionalmente  consagrado.  E  isso  é  ainda  mais  verdadeiro  em  um 
Estado  Social,  onde  a  realização  dos  direitos  ditos  fundamentais  à 
prestação  depende  fundamentalmente  da  intervenção  do  poder  público. 
De  todo  o  exposto,  podemos  concluir  que  a  jurisdição  constitucional,  em 
razão  de  sua  importância  para  a  supremacia  constitucional,  para  a 
democracia,  para  as  minorias  e  para  os  direitos  fundamentais,  revela-se 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
como  uma  necessidade  radicada  na  história,  mesma  antiga,  da  civilização 
humana.  Essa  circunstância  nos  remete  a  uma  análise,  ainda  que  breve, 
das matrizes históricas e da evolução do controle de constitucionalidade. 
O  controle  de  constitucionalidade  não  nasceu  de  um  ato  genial  de 
um  só  homem.  Ele  é  resultado  de  um  paulatino  processo  de 
amadurecimento  através  de  séculos  de  história.  Na  Inglaterra  da  primeira 
metade  do  século  XVH,  obviamente  antes  da  Glorious  Revolution  de  1688, 
predominou  a  doutrina  de  Sir  Edward  Coke  ,  que  pregava  a  superioridade 
da  CommonLaw,  em  face  mesmo  do  Rei  e  do  Parlamento.  Segundo  Lord 
Coke  ,  a  supremacia  da  Common  Law  era  garantida  pelos  juízes,  que 
exerciam  uma  autoridade  de  árbitro  entre  o Rei e a Nação. Assim, os juízes 
deveriam  controlar  a  legitimidade  das  leis  votadas  pelo  Parlamento, 
negando  aplicação  àquelas  contrárias  à  Common  Law".  Essa  doutrina 
predominou  na Inglaterra por algumas décadas, de onde se estendeu para 
as  colônias  inglesas  da  América,  onde  foi  acolhida  pelos  tribunais  locais 
que,  nela  baseados,  negavam  aplicação  às  leis  coloniais  consideradas 
incompatíveis  com  as  “Cartas”  outorgadas  pela  Coroa  a  cada  uma  das 
Colônias.  Estas  “Cartas”  ou  “Estatutos  da  Coroa”  funcionavam  como 
verdadeiras  Constituições  das  Colônias,  seja  porque  vinculavam  o  direito 
colonial,  seja  porque  regulavam  as  estruturas  jurídicas  fundamentais  das 
próprias Colônias. 
Enfim,  em  que  pesem  essas  dificuldades  iniciais,  que  foram,  de uma 
forma  e  de outra, superadas, a doutrina de Marshall restou definitivamente 
consagrada,  prevalecendo  nos  EUA,  até  hoje,  a  orientação  fixada  no  lead 
case Marbury v. Madison. Essa orientação, já se disse, mereceu acolhida por 
diversas  Constituições  de  Estados  americanos,  entre  os  quais  o  Brasil,  a 
partir  de  sua  Constituição  de  189L  Contudo,  é  preciso  esclarecer  que  o 
sistema  judicial  norte-americano  do  controle  de  constitucionalidade  das 
leis  e  dos  atos  do  poder  público estava limitado a um controle meramente 
incidental,  exercitável  em  face  de  uma  controvérsia  real e concreta. Assim, 
se  por  um  lado  a.  judicial  review  do  sistema  norte-americano 
consolidou-se  com  a  possibilidade  de  qualquer  juiz  ou  tribunal  declarar  a 
inconstitucionalidade  das  leis  e  dos  atos  do  poder  público  contrastantes 
com  a  Constituição  (diz-se, por isso, que o controle é difuso), por outro lado 
ela  restou  circunscrita  aos  casos  concretos  submetidos  a  julgamento  e, 
mesmo  assim,  desde  que  absolutamente  necessária  para  a  resolução  da 
querela,  ostentando,  nesse  particular,  caráter  prejudicial  (diz-se,  por  isso, 
que  o  controle  é  também  incidental).  De  conseguinte,  no  sistema 
americano  ou  difuso-incidental,  o  controle  de  constitucionalidade  é 
confiado  a  todos  os  órgãos  do  Poder  Judiciário,  em  face  do  qual  cada  juiz 
ou  tribunal  (originariamente  ou  por  meio  de  recurso)  pode  deixar  de 
aplicar,  no  caso  concreto  que  lhe  for  submetido  à  apreciação,  uma 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
determinada  lei  (ou  ato  do  poder  público),  quando  a  considere  eivada  do 
vício  da  inconstitucionalidade.  Desse  modo,  não  cumpre  ao  Poder 
Judiciário  declarar,  em  tese,  a  inconstitucionalidade  de  qualquer  ato  do 
poder  público,  estando  limitado  a  reconhecer  a  inconstitucionalidade  do 
ato  somente  em  face  de  um  caso  concreto,  paralisando  os  seus  efeitos  no 
que tange ao conflito solucionado. 
Posteriormente,  a  Suprema  Corte  atenuou  um  pouco  o  rigor  de  sua 
posição  anterior,  para  admitir  o  controle  de  constitucionalidade  em  sede 
de  ações  declaratórias,  desde  que  presente  uma  controvérsia  real  e  não 
simplesmente  hipotética.  Na  verdade,  o  que  o  Tribunal  fez  não foi mais do 
que  esclarecer  que  é  possível  manejar  qualquer  ação  para  se  provocar  a 
jurisdição  constitucional  dos  juízes,  desde  que  vinculada  a  um  caso 
concreto  ou  a  uma  certa  e  real  controvérsia.  Assim,  as  questões  de 
constitucionalidade  podem  ser  incidentalmente  argüidas  no  curso  d  & 
qualquer tipo de processo e procedimento judiciais.  
Enfim,  o  modelo  norte-americano  da  judicial  review  define-se  como 
um  controle  judicial  de  constitucionalidade  das  leis  e  atos  do  poder 
público  que  qualquer  juiz  e  tribunal,  ante  um  caso  concreto,  pode 
desempenhar.  É  um  controle  judicial,  pois  somente  os  órgãos  do  Poder 
Judiciário  podem  realizá-lo.  É  um  controle  difuso  no  sentido  de  que  todos 
os  órgãos  do  Poder  Judiciário  podem  exercê-lo,  pouco  importando  sua 
natureza  e  grau  de  jurisdição.  E,  finalmente,  é  um  controle  incidental  ou 
indireto  (provocado  por  via  de  exceção  ou  de  defesa),  no  sentido  de  que 
somente  no  curso  de  uma  demanda  concreta,  pressupondo  controvérsia, 
pode  ser  efetivado,  como.  condição  para  a  solução  da  vexata  quaestio. 
Neste  último  sentido,  diz-se  também  que  se  cuida  de  um  controle 
subjetivo,  pois  desenvolvido  em  razão  de  um  conflito  de  interesses 
intersubjetivos,  cuja  finalidade  principal  é  a  defesa  de  um  direito subjetivo 
ou de um interesse legítimo juridicamente protegido de alguém. 
Apesar  de  lógico  e  coerente  com  o  princípio  da  supremacia  da 
Constituição,  e  em  que  pese  haver  assegurado  a  todo  juiz  ou tribunal, seja 
inferior  ou  superior,  estadual  ou  federal,  o  controle  da  constitucionalidade 
das  leis  e  dos  atos  do  poder  público,  o  sistema  americano  da  judicial 
review  não  é  de  todo  imune  a  críticas.  Na  nossa  concepção,  ele  é 
incompleto,  posto  que  limitado  aos  casos  concretos.  E  não  há  como 
ignorarmos que é possível haver leis que, pela dificuldade de serem. 
Até  o  início  do  século  XX,  a  comunidade  jurídica  internacional  só 
conhecia  o  sistema  difuso-incidental  da  judicial  review  do  direito 
norte-americano,  no  qual a jurisdição constitucional foi confiada a todos os 
órgãos  do  Poder  Judiciário,  que  poderiam exercê-la em qualquer processo 
em  curso  posto  a  julgamento  e  por  meio  da  qual  os  juízes  e  tribunais 
deveriam  controlar  a  constitucionalidade  das  leis  e  demais  atos  do  poder 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
público,  deixando  de  aplicá-los  ao  caso  concreto,  quando  os  reputassem 
inconstitucionais.  Esse  sistema,  apesar  de  lógico  e  simples,  não  foi 
adotado,  todavia,  pela  maioria  dos  países  europeus,  que  até  os  albores  do 
século  XX  ainda  não  haviam recepcionado a idéia de justiça constitucional, 
circunstância devida, certamente, a razões históricas. 
Esses  inconvenientes  foram  evitados  nos  Estados  Unidos  e  nos 
demais  países  vinculados  ao  sistema  da  common  law,  em  razão  do 
princípio  do  stare  decisis,  por  força  do  qual  todos  os  órgãos  judiciários 
ficam  vinculados  às  decisões  da  Suprema  Corte.  Essa  “força  dos 
precedentes”  que  caracteriza  o  princípio  em  comento  opera  de  modo  tal 
que  a  declaração  de  inconstitucionalidade  da  lei  acaba  assumindo  uma 
verdadeira  eficácia  erga  omnes,  a  despeito  de  a  decisão  ter  sido  prolata 
num caso concreto. 
É  preciso,  no  entanto,  ressaltar  que  o  sistema  proposto  por K e ls e n 
configura-se  como  uma  função  constitucional que não seria propriamente 
judicial,  senão,  como  explicita  o  próprio  jurista  de  Viena,  de  “legislação 
negativa”.131  Com  efeito,  na  visão  kelseniana  o  Tribunal Constitucional não 
julga  nenhuma  pretensão  concreta,  mas  examina  tão-só  o  problema 
puramente  abstrato  de  compatibilidade  lógica  entre  uma  lei  e  a 
Constituição.  Daí  haver  K  e  ls  e  n  assegurado  que  não  há  nesse  juízo 
puramente  lógico  uma  aplicação  ou  não  aplicação  da  lei  a  um  caso 
concreto,  de  modo  que  não  se  estaria,  em  conseqüência,  diante  de  uma 
verdadeira  atividade  judicial,  que  supõe  sempre  uma  decisão  singular  a 
respeito  de  caso  controvertido.  Se  assim  o  é,  diz  Kelsen  ,  o  Tribunal 
Constitucional  é  um  legislador,  só  que  um  legislador  negativo.  Ambos  os 
órgãos  -  o  fiscalizado  e  o  fiscalizador-  são  legislativos,  só  que  o  Tribunal 
Constitucional  tem  organização  jurisdicional. Em decorrência disso, Kelsen 
sustenta  que,  enquanto  uma  lei  não  for  declarada  inconstitucional  pelo 
Tribunal  Constitucional,  ela  presume-se  válida,  circunstância  que  veda  aos 
juízes  e  tribunais  ordinários  deixar  de  aplicá-las.  Desse  modo,  não  haverá, 
no  sistema  proposto  por  Kelsen  ,  um  vício  de  nulidade  como  ocorre  no 
sistema  difuso,  mas,  sim,  de  mera  anulabilidade,  o  que  implica  em 
emprestar  às  decisões  da  Corte  Constitucional  uma  natureza  meramente 
constitutiva, com eficácia ex nunc, isto é, somente para o futuro. 
Finalmente,  de  referência  ao  aspecto  funcional,  vale  dizer, 
respeitante  aos  efeitos  que  a  decisão  produz,  seja  em  relação  à  lei 
submetida  ao  controle  de  constitucionalidade,  seja  em  relação  ao  caso  no 
qual  a  questão  de  constitucionalidade  tenha  sido  suscitada,  o  sistema 
“austríaco”  de  controle  concentrado  distingue-se  significativamente  do 
sistema  “americano”  de  controle  difuso  porque,  enquanto  neste  os  efeitos 
da  decisão  operam  retroativamente  (ex  tunc) e geram a nulidade absoluta 
Andressa Gois 
Teoria da Constituição e Organização do Estado 2019.1  
Professor Carlos Rátis 
da  lei,  naquele  os  efeitos  da  decisão  perfazem-se  ex  nunc  (efeitos 
prospectivos) e causam apenas a anulabilidade da lei. 
 
 

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