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Teoria do Direito

Fontes do Direito- TOMO 2


REALE, MIGUEL. CAPÍTULOS XII, XIII E XIV - FONTES DO DIREITO
GUSMÃO, Paulo Dourado de. CAPÍTULOS IX A XIII

TD– Gabriella Beltrame


Fonte estatal: Lei lato sensu ou sentido amplo
• O Direito positivo, como normas jurídicas escritas, oriundo de atos estatais, é o centro
de atenção do Direito (NUNES, 2016). A lei é a forma moderna de produção do Direito
positivo (NADER, 2021). E o conjunto de normas jurídicas emanadas pelo Estado, por
meio de seus vários órgãos, denomina-se legislação (NUNES, 2016).
• CRFB, art. 5º, II: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”.
• Escritas;
• Autoridades (legalmente) competentes;
• Procedimentos (legalmente) definidos;
• Gerais e abstratas.
Todo procedimento formal que cria deveres e obrigações exigíveis pelas instituições
oficiais.
• Decretos, portarias, Medidas Provisórias...
TD– Gabriella Beltrame
Processo Legislativo na CF 1988
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I-emendas à Constituição;
II -leis complementares;
III -leis ordinárias;
IV -leis delegadas; Espécies Legislativas
V -medidas provisórias; Infraconstitucionais
VI -decretos legislativos;
VII -resoluções.

• Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação,


alteração e consolidação das leis. – LC 95/98 e LC 107/2001.

TD– Gabriella Beltrame


Fontes formais estatais: normas infraconstitucionais
A legislação que é o processo pelo qual um ou vários órgãos estatais formulam e
promulgam normas jurídicas de observância geral. A atividade legiferante, é tida,
portanto, como a fonte primacial do direito.
Entendendo-se a lei em sentido amplo, abrange todos os atos normativos contidos no
processo legislativo (CF, art. 59, I a VII), que são:
• A norma constitucional, sobrepondo-se a todas as demais normas integrantes do
ordenamento jurídico.
• Emenda constitucional: A EC, altera o próprio texto constitucional e é discutida e votada em
dois turnos, em cada Casa do Congresso, e será aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado,
três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).
• A lei complementar, alusiva à estrutura estatal ou aos serviços do Estado, constituindo as leis
de organização básica, cuja matéria está prevista na Constituição e, para sua existência,
exige-se o quórum qualificado do art. 69 da Constituição Federal, ou seja, a maioria absoluta
nas duas Casas do Congresso Nacional, para que não seja fruto de uma minoria.
• A lei ordinária, editada pelo Poder Legislativo da União, Estados e Municípios, no campo de
suas competências constitucionais, com a sanção do chefe do Executivo.

TD– Gabriella Beltrame


Fontes formais estatais: normas infraconstitucionais
• A lei delegada, que, estando no mesmo plano da lei ordinária, como pondera Michel Temer, deriva de
exceção ao princípio do art. 2º da Constituição Federal. A lei delegada é elaborada e editada pelo
Presidente da República (delegação externa corporis-CD/1988, art. 68, §2º), por Comissão do Congresso
Nacional ou de qualquer de suas Casas (delegação interna corporis-CF/1988, art. 68), em razão de
permissão do Poder Legislativo e nos limites postos por este.
• As medidas provisórias, que estão no mesmo escalão hierárquico da lei ordinária, embora não sejam leis.
São normas expedidas pelo Presidente da República, no exercício de competência constitucional (CF, art.
84, XXVI) em caso de relevância do interesse público e urgência.
• O decreto legislativo é norma aprovada por maioria simples pelo Congresso, sobre matéria de sua
exclusiva competência (CF, art. 49), como ratificação de tratados e convenções internacionais e de
convênios interestaduais, julgamento de contas do Presidente da República etc.
• As resoluções do Senado, que têm força de lei ordinária, por serem deliberações de uma das Câmaras, do
Poder Legislativo ou do próprio Congresso Nacional sobre assuntos do seu peculiar interesse, como
questões concernentes à licença ou perda de cargo por deputado ou senador, à fixação de subsídios, à
determinação de limites máximos das alíquotas do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de
Mercadorias aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação (CF, art. 155, II, e § 2º,
IV), por proposta de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos senadores.
Fontes formais estatais: normas infralegais
Temos as normas jurídicas secundárias, que • As circulares consistem em normas jurídicas
consistem em normas subordinadas à lei, em que visam ordenar de maneira uniforme o
atos de hierarquia inferior à lei, que às vezes, serviço administrativo.
lhes dá eficácia, pois se reportam, implícita ou • As portarias são normas gerais que o órgão
explicitamente, a ela, e que compreendem: superior (desde o Ministério até uma simples
• Os decretos regulamentares, que são normas repartição pública) edita para serem
jurídicas gerais, abstratas e impessoais observadas por seus subalternos. Veiculam
estabelecidas pelo Poder Executivo da União, dos comandos administrativos gerais e especiais,
Estados ou Municípios, para desenvolver uma lei, servindo ainda para designar funcionários
especificando suas disposições, facilitando sua para o exercício de funções menores, para
execução ou aplicação. abrir sindicâncias e inaugurar procedimentos
• As instruções ministeriais, previstas na administrativos.
Constituição Federal, art. 87, parágrafo único, II, • As ordens de serviço, que constituem
expedidas pelos Ministros de Estado para estipulações concretas para um certo tipo de
promover a execução de leis, decretos e serviço a ser executado por um ou mais
regulamentos atinentes às atividades de sua agentes credenciados para isso.
pasta.

TD– Gabriella Beltrame


Exemplo de decreto (norma infralegal)
DECRETO Nº 10.977, DE 23 DE FEVEREIRO DE 2022
Regulamenta a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, para estabelecer os procedimentos e os requisitos para a
expedição da Carteira de Identidade por órgãos de identificação dos Estados e do Distrito Federal, e a Lei nº 9.454, de 7
de abril de 1997, para estabelecer o Serviço de Identificação do Cidadão como o Sistema Nacional de Registro de
Identificação Civil.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,caput, incisos IV e VI, alínea
"a", da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, na Lei nº 9.049, de
18 de maio de 1995, na Lei nº 9.454, de 7 de abril de 1997, e na Lei nº 13.444, de 11 de maio de 2017,
D E C R E T A:
Âmbito de aplicação
Art. 1º Este Decreto regulamenta:
I - a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, para estabelecer os procedimentos e os requisitos para a
expedição da Carteira de Identidade por órgãos de identificação dos Estados e do Distrito Federal; e
II - a Lei nº 9.454, de 7 de abril de 1997, para estabelecer o Serviço de Identificação do Cidadão como o
Sistema Nacional de Registro de Identificação Civil.
https://in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.977-de-23-de-fevereiro-de-2022-382332304
Fonte estatal: Lei stricto sensu ou sentido estrito)
Norma jurídica escrita emanada de poder competente.
 Lei – latim légere = ler. Lei é texto escrito, feito para ser lido
Produto conjunto do Poder Legislativo e Executivo (sanção), por decisão
majoritária.
• Caráter geral e abstrato
• Prospectivas (regras para o futuro)
• Leis não devem retroagir (segurança jurídica)
Processo de elaboração previsto na Constituição.

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Leis em sentido estrito
• Lei Complementar (LC)
• Maioria absoluta: mais da metade dos membros
• 513D/2= 256,5 (257)
• 81S/2= 40,5 (41)
• Matérias designadas na Constituição
• VIDE: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/leis-
complementares-1/todas-as-leis-complementares-1
• Lei Ordinária (LO)
• Maioria simples: mais da metade dos presentes, estando presente mais de
metade dos membros
• 257 presentes/2=128,5 (129)
• Matérias reguláveis por lei, não reservadas a lei complementar
• VIDE: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/leis-
ordinarias
TD– Gabriella Beltrame
Quando designa a si própria como ‘pura’ teoria do Direito, isto significa que ela se propõe
garantir um conhecimento apenas dirigido ao Direito e excluir deste conhecimento tudo
quanto não pertença ao seu objeto, tudo quanto não se possa, rigorosamente, determinar
como Direito. Isto quer dizer que ela pretende libertar a ciência jurídica de todos os
elementos que lhe são estranhos. Esse é o seu princípio metodológico fundamental. Isto
parece-nos algo de per si evidente. Porém, um relance de olhos sobre a ciência jurídica
tradicional, tal como se desenvolveu no decurso dos sécs. XIX e XX, mostra claramente
quão longe ela está de satisfazer à exigência da pureza. De um lado inteiramente acrítico, a
jurisprudência tem-se confundido com a psicologia e a sociologia, com a ética e a teoria
política. (KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p. 06)
Considerando-se o excerto apresentado e o pensamento de seu autor julgue a assertiva.
Comporta a teoria de Kelsen uma validação da norma jurídica inferior pela norma
jurídica superior, não cabendo, uma validação externa, de cunho sociológico.

a) Certo
b) Errado
Fonte Formal Estatal do Direito: Jurisprudência
• Latim jurisprudentia – jus (Direito) e prudentia (sabedoria) = direito aplicado com
sabedoria.
• São orientações uniformes que se extraem das reiteradas decisões dos tribunais num
mesmo sentido, numa mesma direção interpretativa.
• Em regra, não vincula o juiz, mas costuma dar-lhe importantes subsídios na solução de
cada caso.
• É o conjunto uniforme e reiterado de decisões judiciais (julgados), ou seja, de soluções
contidas nas decisões dos tribunais sobre determinadas matérias.
• A jurisprudência constitui um costume judiciário que se forma pela prática dos
tribunais. (REALE, 2011)
• PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO: CRFB-Art. 5°XXXV - a lei não excluirá
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
• Art. 140 do CPC: O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
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Jurisprudência no CPC (Código de Processo Civil)
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.
Fontes Infraestatais do Direito: Jurisprudência
• Os Tribunais que compõem o Judiciário brasileiro editam Súmulas, que
representam a interpretação oficial do Direito segundo estas Cortes.
• A súmula é, portanto, uma síntese do entendimento jurídico a respeito de
determinados temas a partir de reiteradas decisões sobre mesma matéria.
• Há, na tradição de civil law, uma discussão histórica acerca da possibilidade de se
considerar a jurisprudência como fonte formal do Direito. No entanto, cada vez mais o
Brasil tem acolhido a força obrigatória de determinadas decisões judiciais. É o caso dos
recursos especiais repetitivos e do regime da repercussão geral no recurso extraordinário
(que também dispõe de uma técnica de julgamento de casos repetitivos), situações
disciplinadas pelos artigos 1.035 a 1.040 do Novo CPC (Código de Processo Civil).

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EXEMPLO DE SÚMULA DO TST (Tribunal Superior do
Trabalho)
Súmula nº 460 do TST
VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA PROVA - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e
03.06.2016
É do empregador o ônus de comprovar que o empregado não satisfaz os requisitos
indispensáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda fazer uso do benefício.

Conheça mais: https://www.tst.jus.br/web/guest/sumulas

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EXEMPLO DE SÚMULA DO TJMG
• Enunciado 71
• Órgão Julgador: Órgão Especial
• Data do Julgamento:28/08/19
• Data da Publicação/Fonte: DJe de 16/10/2019, 23/10/2019, 30/10/2019
• Enunciado: Compete a juiz cível o processamento e o julgamento de ações reguladas pelo
Estatuto do Idoso, na ausência de vara especializada na comarca ou de juiz expressamente
designado pela Corregedoria-Geral de Justiça.
• Referência Legislativa: Constituição da República de 1988, artigo 230;
• Código de Processo Civil de 2015, artigo 66;
• Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), artigo 45;
• Lei Complementar Estadual nº 59, de 18 de janeiro de 2001, artigos 57, 58, 59, 60 e 62, ”c”.
• https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/jurisprudencia/consulta-de-jurisprudencia/enunciado-
71.htm#.ZFDy63bMK5c
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EXEMPLO DE SÚMULA DO TJMG
• Enunciado nº 81
• Órgão Julgador: Órgão Especial, Projeto de Súmula 1.0000.21.092370-2/000
• Data do Julgamento:25/08/21
• Data da Publicação/Fonte: DJe de 25/11/2021, 02/12/2021 e 09/12/2021.
• Enunciado: A existência de convenção de arbitragem afasta a jurisdição estatal para
solução de conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis decorrentes do contrato
firmado entre as partes, exceto nas ações que envolvam relação de consumo.

• Referência Legislativa: Lei Federal nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo


Civil) - artigo 3º, § 1º, 337, inciso X, e 485, VII;
Lei Federal nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem) - artigos 4°, 8°, §
único, 19, 20 e 33;

• https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/jurisprudencia/consulta-de-
jurisprudencia/enunciado-n-81.htm#.ZFDzvnbMK5c
Jurisprudência: Súmulas vinculantes
• A Súmula vinculante é uma inovação introduzida pela Emenda Constitucional- EC
n.º 45/04
• De acordo com esse instituto, o "Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por
provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas
federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento,
na forma estabelecida em lei" (CF, art. 103-A, instituído pela EC 45/04).
Por este instituto, a decisão do Supremo, obrigatoriamente, deve ser obedecida
pelos tribunais e juízes, assim como pelos agentes do Poder Executivo, em caráter
cogente (obrigatório).

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Exemplo de súmula vinculante
• SÚMULA VINCULANTE 5 (2008)
• A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição.
• SÚMULA VINCULANTE 11 (2008)
• Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

• http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumulaVincula
nte

TD– Gabriella Beltrame


Fontes Infraestatais: Jurisprudência
• “Entendimento judicial sobre uma matéria”
• Decisão isolada – fonte entre as partes.
• Uso argumentativo, mas não vinculante
• “Jurisprudência” – entendimento reiterado
• Uso argumentativo, mas não vinculante
• Alto grau de persuasão
• Súmula – formalização de teses aceitas por um tribunal (CPC. Art. 926)
• Não vinculantes, mas “pontos de referência”
• Não aplicação: “ônus argumentativo” (CPC art. 489, VI)
• Repercussão Geral vide:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=465224
• Súmula vinculante – STF (Pleno), matérias constitucionais, vinculando juízes de
instâncias inferiores e Administração Pública
TD– Gabriella Beltrame
Fontes Infraestatais do Direito: Costume
• O costume, no sentido jurídico, é a fonte mais antiga do Direito.
• Surge de maneira lenta e espontânea.
• Pode ser definido como a regra de conduta usualmente observada em um
meio social por ser considerada juridicamente obrigatória e necessária.
• Cessa a vigência do costume com o desuso ou com a regulamentação de
sua matéria por lei.
É a forma de expressão do direito decorrente da prática reiterada e
constante de certo ato, com a sua convicção de sua necessidade jurídica.
(Maria Helena Diniz, Introdução ao Estudo do Direito).

TD– Gabriella Beltrame


Costume no Decreto-Lei 4.657/1942
• Artigo 4º do Decreto Lei 4.657/1942 (“Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro” (LINDB), ou a antiga “Lei de Introdução ao Código Civil” – LICC) :
•Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
• No aspecto formal, o costume é considerado apenas como fonte subsidiária do
Direito em nossa tradição. Isso quer dizer que ele somente será aplicado
quando não houver lei que discipline a questão. E, mais do que isso, que o
costume não pode ser aplicado contra a lei (o que se chama de costume
contra legem).

TD– Gabriella Beltrame


Fontes Infraestatais do Direito: Costume
É a norma jurídica que não faz parte da legislação. É criado espontaneamente
pela sociedade, sendo produzido por uma prática geral, constante e reiterada.
• “a norma jurídica que resulta de uma prática geral constante e prolongada,
observada com a convicção de que é juridicamente obrigatória” (Montoro,
1995).
• “a regra de conduta criada espontaneamente pela consciência comum do
povo, que a observa por modo constante e uniforme, e sob a convicção de
corresponder a uma necessidade jurídica” (Sandoval, 1999).
FCC - JE TJSC/TJ SC/2015
Deste modo, quando surge no seu logrador um animal alheio, cuja marca conhece, o
restitui de pronto. No caso contrário, conserva o intruso, tratando-o como aos demais.
Mas não o leva à feira anual, nem o aplica em trabalho algum; deixa-o morrer de velho.
Não lhe pertence. Se é uma vaca e dá cria, ferra a esta com o mesmo sinal desconhecido,
que reproduz com perfeição admirável; e assim pratica com tôda a descendência
daquela. De quatro em quatro bezerros, porém, separa um, para si. É a sua paga.
Estabelece com o patrão desconhecido o mesmo convênio que tem com o outro. E
cumpre estritamente, sem juízes e sem testemunhas, o estranho contrato, que ninguém
escreveu ou sugeriu. Sucede muitas vêzes ser decifrada, afinal, uma marca sòmente
depois de muitos anos, e o criador feliz receber, ao invés da peça única que lhe fugira e
da qual se deslembrara, uma ponta de gado, todos os produtos dela. Parece fantasia
êste fato, vulgar, entretanto, nos sertões.
(Euclides da Cunha – Os sertões. 27. ed. Editôra Universidade de Brasília, 1963, p. 101).
O texto acima, sobre o vaqueiro, identifica:
a) espécie de lei local, de cujo teor ou vigência o juiz pode exigir comprovação.
b) a analogia, como um meio de integração do Direito.
c) um princípio geral de direito, aplicável aos contratos verbais.
d) o uso ou costume como fonte ou forma de expressão do Direito.
Espécies de Costumes
CONTRA LEGEM É o costume que é contrário à norma jurídica.
Por opor-se à lei, a priori, não têm admissibilidade em
nosso Direito.
SECUNDUM A própria norma jurídica prevê que em certas ocasiões
LEGEM será regulamentada segundo os costumes
PRAETER LEGEM É utilizável quando a lei for omissa para preencher a
lacuna existente. Este último; é o costume considerado
como supletivo do direito.

TD– Gabriella Beltrame


Principais diferenças: costume e norma
jurídica
COSTUME NORMA JURÍDICA
É espontâneo Emanada do Estado, através de um
processo próprio de elaboração
Expressa-se oralmente Expressa-se, predominantemente, por
fórmula escrita

A aplicação do costume varia conforme o ramo do Direito. Em Direito


empresarial, o costume tem considerável importância. No Direito Penal, o
costume, com força de lei, é radicalmente proibido. Segundo o Código Penal,
não há crime sem lei anterior que o defina. Dessa maneira, ninguém pode ser
criminalmente condenado por ter desrespeitado apenas um costume.

TD– Gabriella Beltrame


Exemplo de costume reconhecido
• O costume secundum legem está previsto na lei, que reconhece sua
eficácia obrigatória. No nosso direito tal é o caso do:
• art. 597 do Código Civil que dita: “A retribuição pagar-se-á depois de prestado o
serviço, se, por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em
prestações” e
• art. 615 do Código Civil que afirma: “Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o
costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o
empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras
técnicas em trabalhos de tal natureza”.
• É óbvio que nesses casos o preceito costumeiro não se encontra contido na lei civil,
mas é por ela admitido.
Exemplo de costume reconhecido
LEI Nº 5.889, DE 8 DE JUNHO DE 1973.

Estatui normas reguladoras do trabalho rural.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 5º Em qualquer trabalho contínuo de duração superior a seis horas, será


obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação observados os
usos e costumes da região, não se computando este intervalo na duração do trabalho.
Entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas
consecutivas para descanso.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm
Exemplo de costume reconhecido
Artigo 445 da Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002Institui o Código Civil.
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no
preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel,
contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.
§ 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo
contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e
oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos
serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais,
aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras
disciplinando a matéria.

TD– Gabriella Beltrame


Exemplo de costume reconhecido
CC - Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer
modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados
e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente
entre os interessados as respectivas despesas.
§ 1º Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de
arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a
ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes
da localidade, a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.
§ 2º As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem
ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários.
§ 3º A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte,
ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário,
que não está obrigado a concorrer para as despesas.

TD– Gabriella Beltrame


Fontes Infraestatais do Direito: Doutrina
• Doutrina- do latim docere- ensinar
• Doutrina são os estudos e teorias desenvolvidos pelos juristas, com o
objetivo de sistematizar e interpretar as normas vigentes e de
conceber novos institutos jurídicos reclamados pelo momento
histórico.
• Para Paulo Nader (2014): Os estudos científicos reveladores do direito
vigente não obrigam os juízes, mas a maioria das decisões judiciais
em sua fundamentação resulta apoiada em determinada obra de
consagrado jurista.

TD– Gabriella Beltrame


Fontes Infraestatais: Doutrina
• Conjunto de investigações e reflexões teóricas e princípios metodicamente
expostos, analisados e sustentados pelos autores, tratadistas, jurisconsultos, no
estudo das leis (Max e Édis, 2017).
• É o conjunto sistemático de teorias sobre o Direito elaborado pelos juristas. É
produto da reflexão e do estudo que os grandes juristas desenvolvem sobre o
Direito (Cotrim, 2008).
• ATENÇÃO: Aprendemos sobre o prisma da doutrina
• Não há definição oficial ou jurídica do que é doutrinador, nem
hierarquia entre eles.

TD– Gabriella Beltrame


TD– Gabriella Beltrame
Fontes Supraestatais do Direito: Tratados
• Tratado é o acordo concluído por escrito entre Estados soberanos,
contendo regras gerais disciplinadoras de suas relações e de seus
posicionamentos a respeito de determinada questão.
• A obrigatoriedade dos tratados funda-se no princípio fundamental do
direito internacional: pacta sunt servanda, segundo o qual os Estados
devem respeitar os pactos por ele estabelecidos.
• Lembrem: CRFB em se art. 5°, § 3º “Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.”

TD– Gabriella Beltrame


Exemplo de convenção internacional
• CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969)
• (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
• Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de
obrigação alimentar.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm

TD– Gabriella Beltrame


Princípios do Direito
• Latim principium = origem, começo, base
• Princípios são proposições básicas que informam as ciências, orientando-as. Para o
Direito, o princípio é seu fundamento, a base que irá informar e orientar as normas
jurídicas.
• Ideias de justiça, liberdade, igualdade, democracia, dignidade, etc.
• Atualmente, os princípios gerais de Direito são, em grande parte, escritos, porque já
foram incorporados ao sistema legal (positivados).
• Todo Princípio geral de Direito escrito (inserido na legislação) é norma jurídica.
Exemplos: princípio da boa-fé, da precaução, da prevenção, do contraditório,
igualdade, legalidade.

TD– Gabriella Beltrame


Princípios Constitucionais na Carta de 1988
“Os princípios são considerados normas jurídicas, ao lado das regras, e podem ser
invocados para controlar a juridicidade da atuação do Estado.” (OLIVEIRA, 2017, p. 33) (...)
Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica. Irradiam-se sobre todo o sistema
jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.” (OLIVEIRA, 2017, p. 59)

Princípios são, por conseguinte, mandados de otimização, que são caracterizados por
poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua
satisfação não depende somente de possibilidades fáticas, mas também de possibilidades
jurídicas (ALEXY. 2017, p.90)

EXEMPLO: Art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988:


“A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...).”
Princípios Constitucionais na Carta de 1988
Noções Gerais sobre Princípios
 Enunciados amplos, vagos e abertos
 Incorporam determinados valores, compreendidos como fundamentais em
dado momento histórico da sociedade;
 Incidem sempre no caso concreto  determinação concreta do alcance
 Podem ser conjugados ou afastados  exercício de ponderação
 Servem de parâmetros às regras jurídicas: fontes interpretativas
 Podem ser “positivados” no ordenamento
 Podem ser princípios expressos e implícitos: ambos têm igual importância

TD– Gabriella Beltrame


Princípios na Constituição Federal
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

TD– Gabriella Beltrame


Fontes Infraestatais: negócios jurídicos ou contratos
Contratos: normas individuais e concretas
• “Normação privada”
• Autonomia da vontade (art. 5°, II da CRFB)
• Formas não proibidas ou não exigidas em lei
• Brocardo: “O contrato é lei entre as partes”
CC, Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
CC, Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor,
se lhe seguir incontinenti a tradição.

TD– Gabriella Beltrame


FONTES MATERIAIS FONTES FORMAIS (no direito federal brasileiro)
Diretas Indiretas
Escritas Não escritas

 Valores sociais  Constituição Costumes Doutrina


 Emenda à Constituição
 Necessidades humanas  Lei no sentido estrito jurídicos
 Elementos culturais  Tratados internacionais Precedentes

 Costumes sociais Medida provisória
Princípios judiciais e
 Decreto legislativo
 Vontade do povo  Resolução gerais do súmula não
 Vontade de certas classes  Decreto e regulamento direito vinculante
 Instrução
sociais  Portaria
 Vontade dos grupos de  Circular Vontade dos
poder  Ordem de serviço particulares
 Decisões do Judiciário (incluindo
súmulas vinculantes, exercício do
poder normativo da justiça de
trabalho e declarações de
inconstitucionalidade)

Tipologia das fontes do Direito. Dimoullis, 2013, p. 187


TD– Gabriella Beltrame
Faculdade de Direito, Programa de Pós-graduação em Direito - Mestrado e Doutorado- UFPR
Questão: no tocante às fontes do Direito:
I. Um dos sentidos possíveis para a expressão fontes do direito é o de que estas representam os
meios pelos quais o Direito se manifesta em um ordenamento jurídico, sendo divididas em
fontes formais e fontes materiais;
II. A lei e os costumes são considerados fontes formais do direito;
III. Dois requisitos são necessários para que um costume se converta em fonte do direito – um de
ordem objetiva ou material (o uso continuado, a percepção concreta de uma prática ou conduta)
e outro de ordem subjetiva ou imaterial (a consciência coletiva da obrigatoriedade desta prática;
IV. De acordo com a teoria monista o Estado e diversos agentes sociais podem produzir o direito.
Assinalar a alternativa correta:
a) Somente a afirmativa I é correta.
b) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
d) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
e) As afirmativas I, II, III e IV são corretas.
Fontes
ALEXY. Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais, 5º ed. São Paulo: Malheiros, 2017.
DINIZ, Maria Helena. Fontes do direito. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes
Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria Geral e
Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André Luiz Freire
(coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 5ª.Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
Introdução ao estudo do Direito. Solange Ferreira de Moura [organizador]. — Rio de Janeiro:
Editora Estácio, 2013.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2002.
XAVIER, Carlos Eduardo Rangel. Introdução ao Estudo do Direito, 2017.

TD– Gabriella Beltrame

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