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INTRODUÇÃO

A principal diferença entre um contrato de trabalho e um contrato de


prestação de serviços tem como base dois aspetos fundamentais: o objeto do
contrato e a relação entre as partes:

O objeto do contrato: é nele que reside o fundamento do contrato, ou o


que resultará dele, ou seja, a prestação de trabalho propriamente dito (contrato
de trabalho) ou a simples consecução de um resultado acordado (prestação de
serviços);

A relação entre as partes, que poderá ser direcionada de forma


subordinada (um trabalhador realiza um trabalho para a entidade patronal no
caso do contrato de trabalho) ou independente (no caso da prestação de
serviços). É este aspeto que permite avaliar em última instância se um contrato
é considerado um contrato de trabalho ou se é considerado um contrato de
prestação de serviços, consoante for de índole subordinada ou autónoma.

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FINANCEIRAMENTE, QUAL A DIFERENÇA ENTRE CONTRATO DE
TRABALHO E CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS?

Numa actividade profissional com contrato de trabalho o indivíduo tem o


dever de prestar uma atividade laboral a uma ou mais pessoas, de uma forma
subordinada, ou seja, sob a autoridade e direção destas. Já o contrato de
prestação de serviços é aquele em que uma das partes tem o dever de
fornecer à outra o produto do seu trabalho intelectual ou manual,
independentemente de haver ou não uma relação de autoridade ou direção.

Resumidamente, o principal elemento diferenciador entre um contrato de


trabalho de um contrato de prestação de serviços reside na existência de
autoridade (no caso de contrato de trabalho) ou na ausência dela (no caso do
contrato de prestação de serviços).

Por outras palavras, um contrato de trabalho é automaticamente


considerado como tal nas situações em que se verifique que o trabalhador
tenha uma relação de dependência do beneficiário, se encontre inserido na sua
estrutura organizativa, ou execute um trabalho sob as suas ordens, diretivas e
instruções.

Exemplos de contratos de prestação de serviços

Este tipo de contratos usa-se em atividades ou setores caraterizados


pelo trabalho por projetos, como por exemplo, o setor artístico, alguns serviços
pessoais e/ou de consultoria, e trabalhos de índole esporádica, como serviços
domésticos, de apoio ao domicílio, obras, entre outros.

Para se entender melhor em que consiste um contrato de prestação de


serviços, comparativamente com um contrato de trabalho, nada melhor do que
recorrer a exemplos.

Um contrato de prestação de serviços pressupõe, por norma, que o


trabalhador passe recibos verdes (caso existe uma retribuição pelo seu
trabalho), como trabalhador independente, de forma pontual, a qualquer
entidade a quem preste um determinado serviço.

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Essa entidade não exerce o mesmo poder que uma entidade patronal
exerce quando está em causa um contrato de trabalho, celebrado entre si e um
trabalhador ou um grupo de trabalhadores. As férias e regalias semelhantes
dependem do que surge estipulado no contrato de prestação de serviços.

O Código do Trabalho (CT) define, no seu art. 11.º, o contrato de


trabalho como "aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e
sob a autoridade destas".

Diferentemente, o contrato de prestação de serviços é “aquele em que


uma das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu
trabalho intelectual ou manual, com ou sem retribuição” (art. 1154.º do Código
Civil).

Prima facie, ressalta uma diferença fundamental: na prestação de


serviços existe uma obrigação de resultado, sendo totalmente indiferente ao
credor da prestação o modus faciendi, ao passo que, no contrato de trabalho, o
trabalhador obriga-se a prestar a sua atividade laboral, durante um período de
tempo, sob a orientação e fiscalização de uma entidade patronal.

O art. 12.º do CT, por sua vez, estabelece um conjunto de indícios, não
cumulativos, que constituem uma presunção de existência de contrato de
trabalho:

a) A atividade realizada em local pertencente ao seu beneficiário ou por ele


determinado;

b) Os equipamentos e instrumentos de trabalho utilizados pertençam ao


beneficiário da atividade;

c) Horas de início e de termo da prestação, determinadas pelo beneficiário da


atividade;

d) Pagamento, com determinada periodicidade, de quantia certa ao prestador


de atividade, como contrapartida;

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e) O desempenho de funções de direção ou chefia na estrutura orgânica da
empresa.

Em harmonia com a doutrina corrente, a característica essencial que


permite identificar um contrato de trabalho é a subordinação jurídica, traduzida
no facto de o trabalhador se encontrar na sua atividade sob as ordens, direção
e fiscalização do dador de trabalho.

Como ensina Monteiro Fernandes (Direito do Trabalho, 10.ª Edição,


Almedina, Coimbra, 1998, pág. 121), a subordinação jurídica consiste numa:

“Relação de dependência necessária da conduta pessoal do trabalhador na


execução do contrato face às ordens, regras ou orientações ditadas pelo
empregador, dentro dos limites do mesmo contrato e das normas que o
regem”.

Na senda deste entendimento, a propósito do Código do Trabalho, Albino


Mendes Baptista esclarece que:

“Existem diferentes graus de subordinação, há formas de trabalho


subordinado em que a prestação é efectuada com grande autonomia, em que
não existem propriamente ordens específicas, mais ou menos genéricas, mas
um quadro potencial da sua presença. Ora, o intérprete, máxime o julgador,
tem de estar atento à crescente complexidade das relações de trabalho,
nomeadamente não perdendo nunca de vista a existência de formas aparentes
de autonomia.” (Qualificação Contratual e Presunção de Laboralidade, Estudos
sobre o Código do Trabalho, Coimbra Editora, 2004, pág. 60).

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CONCLUSÃO

Depois da pesquisa feita pelo grupo, concluímos que a distinção entre


contrato de trabalho e contrato de prestação de serviços revela-se duplamente
fundamental: por um lado, permite diferenciar o trabalho prestado de forma
efetivamente independente de situações marginais que, não obstante a
designação adotada, têm muitas vezes como único propósito furtar-se à
aplicação da regulamentação laboral; por outro lado, porque a classificação
fraudulenta de um contrato de prestação de serviços omite também deveres
elementares de índole fiscal e contributiva para com o Estado.

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