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----- DIREITO DO TRABALHO -----

O Direito do Trabalho é um ramo jurídico em que essencialmente o objeto é o trabalho humano. No


entanto, o direito do trabalho não é um direito de todo o trabalho humano.
Desenvolve-se em torno de um contrato – contrato de trabalho – que é o título juridico da liberdade
formal [artigo 47.º CRP]

OBJETO:
O DT possuí seis tipos de objetos que se interligam entre si

1. Trabalho em proveito alheio: como referido, ou seja, o direito de trabalho não é um direito de
todo o trabalho humano, o seu domínio é o dos fenómenos de relação, excluindo as atividades
desenvolvidas por pelos indivíduos para a satisfação imediata de necessidades próprias, contudo,
essas atividades (ex. preparar o almoço) podem ser consideradas de direito de trabalho se forem para
proveito alheiro, para a satisfação imediata de necessidades de outra pessoa)

2. Trabalho livre: o trabalho necessita de ser prestado; afasta-se das atividades forçadas ou
compelidas. A liberdade que está em causa no trabalho livre, é uma liberdade formal (consiste na
possibilidade abstrata de aceitar ou recusar um compromisso de trabalho [artigo 47.º CRP], e de
negociar tais escolhas mediante negócios jurídicos específicos).

3. Trabalho Remunerado: aquele que se realiza mediante uma contrapartida económica fornecida
pelo seu beneficiário direto.

4. Trabalho auto e hétero-organizado: o trabalho livre traduz-se na aplicação de aptidões pessoais;


para a pessoa que o realiza, trata-se de “fazer render” essas aptidões, de as concretizar de modo a
obter, em contrapartida, um benefício económico

5. Trabalho Subordinado: hetero-organizado, dirigido e supervisionado) - Dedica certa atenção a


determinadas formas de trabalho dependente, mas das normas esta apontada aos trabalhos
subordinado

6. Direito do Trabalho e autonomia privada individual: o direito apresenta-se sob o signo da


proteção ao trabalhador e como um conjunto de limitações à autonomia privada individual. Se a
liberdade forma do candidato ao emprego é pressuposto do contrato, como meio de acesso ao
trabalho livre, a liberdade real de estipulação está condicionada. As condições do contrato são
ditadas pelo empregador a quem cabem a iniciativa do processo negocial e depois já na fase de
execução do contrato, a determinação concreta da posição funcional do trabalhador

7. Dimensão coletiva do direito do Trabalho

FUNÇÕES DO DIREITO DO TRABALHO

1. Função compensatória e tutelar – a proteção do contraente débil: existe esta função por conta
da debilidade contratual do trabalhador, consistente na desvalorização da sua vontade real no
processo de formação do contrato, entao a função serve mais corretamente para compensar a
debilidade contratual originária, do plano individual; ou seja, o direito do trabalho tenta compensar o
trabalhador com determinadas normas, isto resulta do facto da relação individual de trabalho ser uma
relação naturalmente desigual, desigual porque ela surge de um dos sujeitos, o empregador, por uma
necessidade imperiosa. O direito do trabalho encara esta relação como um objeto que é necessario
para encarar com especial cuidado do ponto de vista da desigualdade ou desnível das partes.

2. Função Garantística – os direitos fundamentais em ambiente de trabalho: esta função serve para
garantir que os direitos fundamentais que são inerentes á proteção e promoção de dignidade humana
no trabalho sejam concretizados e não abandonados

3. Função Padronizadora – os termos de concorrência das empresas: tem a função de garantir uma
certa padronização das condições de uso da força de trabalho – o direito do trabalho estabelece
padrões

4. Funçao de ajustamento – a compatibilidade entre exigências sociais e condições economicas


básicas -o legislador não pode ignorar uma premissa fundamental. Por tanto se deixarem de poder
evoluir, o emprego é afetado e com ele o perímetro opera o direito do trabalho. O legislador tem a
função de proteger os interesses dos trabalhadores individualmente, mas não pode levar a um ponto
que impeça a evolução normal das empresas.

CONTEÚDO DO DT

1. Relação individual de trabalho: cujos sujeitos são o trabalhador e a entidade empregadora, e


cujo facto deste determinante é o contrato celebrado entre eles

2. Relação entre o empregador e o Estado: cujo conteudo consiste em certo número de deveres que
ao primeiro incumbe observar no desenvolvimento da relaçao individual, deveres inspirados na tutela
dos interesses gerais que relevam do trabalho e cujo cumprimento é fiscalizado pela administraçao
estadual do trabalho sancionado por meios de natureza pública

3. Relação coletiva de trabalho: em que os sujeitos da relação individual aparecem considerados do


ângulo das categorias em que se inserem; destas relações pode, designadamente, resultar a
regulamentação de relações individuais, por via de convenção coletiva.

Na relação individual estao envolvidos interesses meramente individuais e privadas; nas relações
entre empregador e o Estado, envolvidos interesses públicos; nas relações coletiva de trabalho
envolvidos interesses coletivos, de classe, de categoria profissional ou de ramo de atividade
económica

----- FONTES -----


FONTES EM SENTIDO ESTRITO E EM SENTIDO LATO: NOÇÃO

1. Fontes e Factos Reguladores


A aceção técnico-jurídica trata-se dos modos de produção e revelação de normas jurídicas, ou seja,
dos instrumentos pelos quais essas normas são estabelecidas e expostas ao conhecimento público.

ESPÉCIES DE FONTES

Existem tipos de fontes comuns á generalidade dos ramos de Direito, a lei é um deles. Neste ramo de
Direito há pelo menos um tipo privativo de fonte: a convenção coletiva.
Podem-se distinguir no DT fontes heterónomas e fontes autónomas

1. Fontes heterónomas: são intervenções externas na definição das condições de trabalho e aspetos
conexos, ou seja, na composição dos interesses de empregadores e trabalhadores

2. Fontes autónomas: constituem formas de autorregulação de interesses, ou seja, exprimem


soluções de equilibrio ditadas pelos próprios titulares daqueles, os trabalhadores e os empregadores,
coletivamente organizados ou não

Há ainda outros dois tipos de fonte ligada ao DT

3. Fontes internacionais: resultam do estabelecimento de relações internacionais, no ambito de


organizações existentes ou fora dele.

4. Fontes Internas: produto de mecanismos inteiramente regulados pelo ordenamento juridico


internos de cada país

CONTRATO DE TRABALHO

AS DUAS DEFINIÇÕES DO CONTRATO DE TRABALHO


Tanto o artigo 11.º do CT e o artigo 1154.º CC oferecem uma noção de trabalho. Como foi referido, o
direito de trabalho tem o seu campo de atuaçao delimitado pela situação de trabalho subordinado.
Trata-se então de um contrato individual de trabalho ou contrato de trabalho

“Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade destas”
– artigo 11.º CT

“Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua
atividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direção desta” – artigo 1152.º CC

No artigo 1152.º CC há uma diferenciação no que diz respeito á noção de contrato de trabalho. No
lugar da expressão “no ambito de organização e sob a autoridade destas” figura uma outra: “sob a
autoridade e direção desta” havendo uma pluralidade de empregadores [artigo 101.º CT], mas para
além disso, salienta-se a substituição da ideia de “autoridade” pela de “ambito de organização”, e
esta ideia aponta para o domínio do poder de organização do trabalho que integra a típica posição
patronal no contrato de trabalho, e que a omissão da ideia de “autoridade” pretendeu refletir a
desvalorização da existencia ou inexistência de atos diretivos na caracterização das situações que
podem enquadrar-se na noção de contrato de trabalho.

Em suma, o contrato é sempre oneroso e sinalagmático (em que existem obrigações assumidas pelos
contraentes, obrigações essas que se condicionam reprocidamente) e possui um trabalhador e
empregador

- O trabalhador tem de ser sempre pessoa singular (não estamos perante um contrato de
trabalho se o sujeito não for pessoa singular). Mas há distintos regimes de trabalhador (tutela
do trabalhador progenitor; tutela do trabalhador menor; tutela do trabalhador cuidador). Tem
sempre de receber uma retribuição e prestar a sua atividade. A atividade é o objeto do
contrato de trabalho. (artigo 115.º e ss CT)
- Do lado do empregador pode ser um ou vários, a lei permite a pluralidade do empregador
[artigo 105.º CT]. Na questão da insolvência há artigos que tratam dessa situação. Se o
empregador singular morrer o contrato pode estar sujeito à cessação; se o empregador for
pessoa coletiva. Tipo de empregador [artigo 100.º CT] – microempresa; pequena empresa;
média empresa; grande empresa;

OBJETO DO CONTRATO:

- ATIVIDADE

1. Atividade e disponibilidade:
- Atividade: consiste na natureza da prestação a que obriga o trabalhador. Trata-se de uma prestação
de atividade, que se concretiza em fazer algo que é justamente a aplicação ou exteriorização da força
de trabalho tornada disponível, para a outra parte, por este negócio.

No contrato de trabalho o que está em causa é a própria atividade do trabalhador, que a outra parte
organiza e dirige no sentido de um resultado, o qual está por seu turno fora do contrato; assim o
trabalhador que tenha cumprido a sua prestação não pode ser responsabilizado pela frustração
do resultado pretendido.

Contudo, a atividade do trabalhador que preenche o objeto do contrato não esgota a realidade.
Em certas situaçoes, o trabalhador cumpre a sua obrigação contratual embora esteja inativo. Na
prática das relações laborais, são frequentes descontinuidades mais ou menos longas na atividade do
trabalhador, sem que deixe de observar o comportamento contratualmente devido.
Em primeiro, existem situações em que o próprio objeto do contrato aparece definido sem referência
imediata a uma concreta atividade.
Outra situação caracteriza-se pela inatividade pura que se compreende os casos de inexecução do
trabalho estipulado por causa ligada à empresa. A lei prevê expressamente essa possibilidade,
contando como tempo de trabalho as interrupções de atividade dessa espécie [artigo 197.º n. º2 al. c
CT]. Ex.: Um estabelecimento encerra por dois dias para limpeza e arranjo das montras, trabalhos
que ocuparão apenas alguns dos seus empregados; os outros ficarão sem prestar serviço efetivo
durante aquele período.

- Disponibilidade: Aquilo que o trabalhador se obriga é a colocar e manter a sua força de trabalho
disponível pela e a entidade patronal, em certos termos e dentro de certos limites qualitativos e
quantitativos enquanto o contrato vigorar.

2. Atividade versus resultado


Quando a lei aponta a atividade do trabalhador como objeto do contrato está apenas a estabelecer o
contraponto com a definição do artigo 1154.º CC que coloca o acento tónico no resultado da
atividade. Isto significa que – atividade, não o resultado – o especial modo de concretização da força
laboral que interessa diretamente ao contrato de trabalho. Consequentemente, a referenciação do
vínculo à atividade indica que o trabalhador não suporta o risco da eventual frustração do resultado
pretendido pela contraparte.
3. A prática de atos jurídicos:
A atividade visada no contrato de trabalho pode ser parcial ou totalmente constituída pela prática de
atos jurídicos, em nome ou por contra do empregador. É o que ocorre com os advogados que
exercem funções no quadro do serviço de contencioso de uma empresa.
Ex.: a empregada doméstica que adquire géneros num supermercado para a casa onde trabalha, são
trabalhadores em cujas funções se integra a conclusão de negócios jurídicos em nome e por conta dos
seus empregadores – artigo 115.º n. º3 CT

4. A relevancia da finalidade
O trabalhador não se obriga apenas a dispender mecanicamente certa «quantidade» de energia. Ele
deve colocar e manter sob o domínio do empregador a disponibilidade da sua força do trabalho.
A prestação de trabalho é instrumental em relação aos fins da entidade patronal: é a finalidade (o
resultado previsto e desejado pelo empregador e que constituo a sua motivação negocial) que confere
sentido, forma e limites – como objeto de uma obrigação – á atividade comprometida pelo
trabalhador.
Por outro lado, o fim da atividade só é relevante se e na medida em que for ou puder ser conhecido
pelo trabalhador

5. A diligência devida
A relevancia do fim da atividade comprometida pelo trabalhador manifesta-se no elemento da
diligencia que integra o comportamento por ele devido com base no contrato. Ele fica obrigado a
«realizar o trabalho com zelo e diligência» [artigo 128.º n. º1 al. c CT]

A diligência pode genericamente definir-se como «o grau de esforço exigível para determinar e
executar a conduta que representa o cumprimento de um dever»
Relativamente à prestação de trabalho, a diligência da aptidão técnico-lateral do trabalhador para
aquele e com objetivo imediato visado.
Perante estas circunstâncias que se determina a diligência requerida pelo cumprimento da obrigação
do trabalhador.

SUJEITO: O TRABALHADOR E A ENTIDADE EMPREGADORA


- Trabalhador: apenas aquele que, por contrato, coloca a sua força de trabalho à disposição de
outrem, mediante retribuição
- Entidade Patronal: é a pessoa individual ou coletiva que, por contrato, adquire o poder de dispor
da força de trabalho de outrem, no âmbito de uma empresa ou não, mediante o pagamento de uma
retribuição.

RETRIBUIÇÃO
É elemento essencial do contrato individual de trabalho que, em troca da disponibilidade da força de
trabalho, seja devida ao trabalhador uma retribuição, normalmente em dinheiro.
O termo retribuição não é o único usado para designar a prestação devida pela entidade patronal –
ex.: salário, ordenado, soldada, vencimento

SUBORDINAÇÃO JURÍDICA
- Subordinação Jurídica: consiste numa relação de dependência necessária da conduta pessoal do
trabalhador na execução do contrato face às ordens, regras ou orientações ditadas pelo empregador,
dentro dos limites do mesmo contrato e das normas que o regem.

No artigo 11.º do CT coloca-se o termo “no âmbito de organização e sob a autoridade desta” –
subordinação jurídica. O trabalhador está inserido no âmbito de uma entidade hetero-organizado e
está sujeito à autoridade desta pessoa que se traduz em vario poderes que o codigo de trabalho atribui
ao empregador nomeadamente:
- Poder de direção: o empregad1or determina o local e o modo que o trabalhador vai exercer.
Não excluindo o facto de t
Dizer-se que a subordinação é jurídica comporta dois significados:
a. que se trata de um elemento reconhecido e mesmo garantido pelo Direito
b. ao lado deste tipo de subordinação, outras formas de dependência podem surgir associadas
à prestação de trabalho.

1. Subordinação Juridica e dependência técnica


Alem das situações em que não ocorrem comportamentos diretivos do empregador, há que
considerar aquelas em que constituem objeto de contrato de trabalho atividades cuja natureza implica
a salvaguarda absoluta da autonomia técnica do trabalhador (ex. um médico)

Segundo o artigo 116.º CT “sujeição à autoridade e direção do empregador não prejudica a


autonomia técnica do trabalhador inerente à atividade prestada”. O contrato de trabalho pressupõe a
autonomia técnica do trabalhador porque a atividade continua a ser orientada, organizada e
controlada pelo empregador, mas há digamos uma certa liberdade para o trabalhador desenvolver a
sua atividade. A autonomia técnica passa por seguir as ordens e instruções do empregador dando ao
trabalhador liberdade de desenvolver a sua atividade.

2. Subordinação Jurídica e dependência económica (a subordinação juridica não se confunde com


dependência económica)

A dependência económica revela dois traços fundamentais

- O facto de quem realiza o trabalho para certo beneficiário, encontrar na retribuição o seu
único ou principal meio de subsistência (há assim uma dependência da economia do
trabalhador perante a do mesmo beneficiário)

- O facto da atividade exercida, ainda em termos de autonomia técnica e jurídica, se inserir


num processo produtivo dominado por outrem (verificando-se pois a dependência sob o ponto
de vista da estrutura do mesmo processo).
Isto pode ocorrer até quando o trabalhador é juridicamente autónomo, exercendo a sua
atividade em estabelecimento próprio – se todo o produto dessa atividade se destina a inserir-
se num processo produtivo mais amplo, promovido e dominado por certa entidade. Ex.: o
alfaiate que, em sua casa, faz exclusivamente casacos e calças para um estabelecimento de
pronto-a-vestir. Existe aqui uma dependência económica sem subordinação jurídica.

A dependência económica traduz-se no facto de os rendimentos auferidos pelo trabalhador e que


constituem a sua forma de subsistir, advêm do seu empregador. Logo o trabalhador será
economicamente dependente do empregador. No contrato de trabalho pode ou não existir
dependência económica. Existirá se o salário for o único rendimento do trabalhador, mas se ele tiver
outras atividades já não.

3. O elemento organizatório da subordinação


Há uma progressiva desvalorização dos comportamentos diretivos na caracterização do trabalho
subordinado.

- Elemento organizatório implica que o prestador de trabalho está adstrito a observar os parâmetros
de organização e funcionamento definidos pelo beneficiário, submetendo-se, nesse sentido, à
autoridade que ele exerce no âmbito da organização de trabalho, ainda que execute a sua atividade
sem, de facto, receber qualquer indicação conformativa que possa corresponder à ideia de “ordens e
instrumentos”.

O elemento-chave de identificação do trabalho subordinado há de encontrar-se no facto de o


trabalhador não agir no seio de uma organização própria, antes se integrar numa organização de
trabalho alheia, dirigida à obtenção de fins igualmente alheios, o que implica, da sua parte, a
submissão às regras que exprimem o poder de organização do empregador – à autoridade deste,
derivada da sua posição na mesma organização

EM SUMA, o contrato de trabalho possui três elementos:


1. Prestação de atividade
2. Retribuição [artigo 258.º CT]
3. Subordinação Jurídica

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